Globalização - Implicações Para o Desenvolvimento Sustentável (Ces-1997)

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CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL

GLOBALIZAÇÃO

DOCUMENTOS DE SUPORTE AO PARECER “ GLOBALIZAÇÃO -

IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”

LISBOA, 1997 

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ÍNDICE

O Processo de Globalização: Implicações para Portugal 

Vítor  Corado Simões 3 

A Internacionalização das Empresas Industriais Portuguesas:Caracterização e PerspectivasVítor  Corado Simões 24 

O Investimento Directo Estrangeiro em Portugal Miguel A. T. Coelho 50 

A Indústria Portugal Versus Dragões Asiáticos João  Abel  de  Freitas

 Julieta Estêvão 100 

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O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO:

IMPLICAÇÕES PARA PORTUGAL 

Vítor Corado Simões

Texto elaborado para o Conselho Económico e Social em 12 de Julho de 1996

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SUMÁRIO 

1. Introdução

2. Globalização: Caracterização e Principais Facetas

3. A Globalização das Estratégias Empresariais

4. Portugal e a Globalização

5. Pistas para Análise

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1. INTRODUÇÃO 

O objectivo básico do presente texto é o de introduzir um conjunto de pistas

orientadoras de uma reflexão sobre o impacto da globalização na economia

 portuguesa.

O texto está organizado em quatro partes.

 Na primeira procede-se a uma caracterização sucinta do fenómeno da globalização

e das suas principais dimensões. Serão igualmente abordadas as implicações genéricas

da globalização sobre o papel dos Estados-Nação.

A segunda é dedicada à análise do processo de globalização das estratégias

empresariais. Serão focadas nomeadamente as orientações estratégicas das grandes

empresas multinacionais, os mecanismos de geração e transferência de tecnologia à

escala mundial e a formação de alianças estratégicas, referindo-se de seguida as suas

implicações sobre os fluxos internacionais de comércio e de investimento.

O ponto de situação sobre as consequências da globalização na economia

 portuguesa constitui o tema da terceira parte. Embora se possam identificar casos de

sucesso na internacionalização e uma sensibilização crescente das empresas

 portuguesas para a necessidade da internacionalização, os desenvolvimentos

verificados nos últimos dez anos apontam para o facto de as empresas estrangeiras

terem tido um papel muito mais activo que as empresas domésticas na

internacionalização da economia portuguesa, aproveitando nomeadamente as

oportunidades oferecidas pela integração europeia. Por outro lado, para a generalidade

dos agentes económicos portugueses a globalização foi encarada como algo de

distante e de secundário face aos desafios colocados pelo processo de integração

europeia.

 No capitulo final são apresentados sete temas que nos parecem justificar trabalhos

de investigação aplicados à realidade portuguesa. Os temas seleccionados são os

seguintes: globalização e novas características dos fluxos comerciais; o carácter

sistémico dos fluxos de investimento e o processo de globalização; razões e

tendências de evolução dos desinvestimentos das empresas com capital estrangeiro

em Portugal; o impacto dos investimentos internacionais sobre o emprego emPortugal; oportunidades de inserção das empresas portuguesas em redes de

cooperação transnacionais; globalização, sistema nacional de inovação e investimento

estrangeiro; e relações ibéricas e integração europeia.

2. GLOBALIZAÇÃO: CARACTERIZAÇÃO E PRINCIPAIS FACETAS 

O termo globalização está longe de assumir significado idêntico para todos, o que

gera equívocos e imprecisões. Este facto não é surpreendente tendo em conta a

diversidade de dimensões que o termo pode recobrir, como veremos mais adiante.Torna-se, no entanto, necessário fornecer uma definição do que se entende por  

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globalização e explicitar quais as facetas que mais nos interessam, de modo a facilitar

a compreensão deste texto.

Entendemos globalização como o processo de desenvolvimento das inter-relações

à escala mundial, em que cada país está ligado aos outros através de uma complexa

teia de laços e de acontecimentos, de tal modo que decisões e acções tendo lugarnuma parte do Mundo podem acarretar consequências significativas para indivíduos

ou organizações localizados em áreas distantes1. Este processo foi facilitado pelo

 progresso no domínio das tecnologias dos transportes, das comunicações e dos

sistemas de informação, as quais permitiram a circulação de bens, serviços, pessoas,

capitais e conhecimentos indispensável à aceleração das inter-relações nos campos

cultural, social e económico. Um agente decisivo, mas não exclusivo, da globalização

têm sido as grandes empresas multinacionais2. A sua acção tem-se feito sentir não

apenas na produção e venda de bens e serviços num número crescente de mercados,

mas também no estabelecimento de estratégias à escala planetária e na suaimplementação através de estruturas organizadas e articuladas como verdadeiras redes

mundiais.

Convirá ressalvar, por outro lado, que o grau de envolvimento dos diferentes países

neste processo é substancialmente diferente. Globalização significa  prima facie 

triadização, isto é, inter-relacionamento entre as três grandes áreas desenvolvidas do

Globo - Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. A sua influência sobre os países

em desenvolvimento é variável, desde o envolvimento fortíssimo dos países do Sueste

Asiático à quase omissão da África sub-Saariana.

A globalização da economia e da sociedade comporta diversas dimensões oufacetas relacionadas entre si, das quais destacaremos as seguintes3:

• Globalização Financeira, associada à desregulamentação dos sistemas

financeiros nacionais, à liberalização da circulação de capitais, ao

desenvolvimento de novos serviços e novos mercados financeiros e ao

movimento de fusões e aquisições.

• Globalização da Produção e dos Mercados, através do reforço e integração

das redes mundiais das empresas multinacionais, tanto no plano da

racionalização das actividades produtivas como no da comercialização.

• Globalização da Tecnologia, traduzida designadamente na consolidação de

três grandes pólos de inovação e desenvolvimento tecnológico (Estados

Unidos, Europa Ocidental e Japão) e na tentativa de aproveitamento das

competências específicas existentes em certos países em desenvolvimento, 

1  Esta definição baseou-se fundamentalmente nas propostas de John Dunning (InternationalizingPorter’s Diamond,  Management International Review, Special Issue, 1993/2, p. 8) e de AnthonyMcGrew e Paul Lewis (Globalisation and the Nation States, Polity Press, Cambridge, 1992, cit. in Grupo de Lisboa, Limites à Competição, Europa América, Lisboa, 1994, p. 47)2  O termo empresa multinacional é utilizado aqui na acepção ampla de uma empresa que controla,

coordena e desenvolve actividades geradoras de valor acrescentado em diversos países.

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através da sua integração em redes internacionais; o recente  Livro Verde

 sobre a Inovação4,  publicado pela Comissão Europeia, constitui um

testemunho claro da preocupação da Comissão quanto às debilidades da

Europa face aos desafios colocados pela globalização da tecnologia.

• Globalização das capacidades reguladoras, a qual neste momento não temainda uma expressão muito significativa. No entanto, os acordos do Uruguay

Round que conduziram à formação da Organização Mundial da Comércio

correspondem a um passo significativo naquele sentido; numa outra

 perspectiva, as reuniões periódicas do Grupo dos Sete países mais

industrializados traduzem igualmente uma pretensão de estabelecimento de

regras de harmonização de comportamentos com repercussões em toda a

economia mundial. No último relatório da UNCTAD sobre o investimento

internacional considera-se “quase inevitável que seja elaborado um quadro

orientador de modo a contribuir para a estabilidade,  predictability  etransparência ao nível multilateral”5, sugerindo-se que os elementos desse

quadro se encontram já na Acta Final do Uruguay Round.

• Globalização dos modos de vida e padrões de consumo, expressa numa

significativa aproximação dos desejos, aspirações e padrões de consumo das

 populações, a qual permite o lançamento de marcas, produtos e campanhas

 publicitárias à escala mundial, ainda que com adaptações locais.

• Globalização das percepções e da consciência, resultante da convicção

crescente de que vivemos num universo onde os recursos são finitos e devemser preservados, tanto mais que erros cometidos num determinado momento

e lugar se podem repercutar em todo o planeta, no imediato e/ou no futuro. O

movimento ecológico tem sido, aliás, decisivo para reforçar esta consciência

de cidadãos planetários, a qual não pode ser desligada também da

extraordinária expansão da Internet6. De igual modo, a preocupação com os

direitos humanos tem levado algumas empresas a estabelecer códigos de

comportamento aplicáveis às suas filiais e aos seus subcontratados, como

sucedeu com a Nike e a Reebok, para citar dois exemplos da indústria de

calçado.A globalização constitui um desafio para os Estados Nação, tanto mais que tem

sido acompanhada pela intensificação dos processos de integração regional, mais ou

menos aprofundados, em todos os continentes, desde a América (NAFTA e Mercosur)

3 Esta perspectiva beneficiou da sistematização apresentada in Grupo de Lisboa, Limites à Competição,Europa América, Lisboa, p. 46.4 Comissão Europeia, Green Paper on Innovation, Bruxelas, 19955 United Nations, World Investment Report 1995 - Transnational Corporations and Competitiveness, Nova Iorque, 1995, p. li6 Refira-se, a propósito, que o principal titulo do Financial Times de 10 de Julho passado, respeitava à

 primeira acção on line  desenvolvida pelos sindicatos a nível mundial, utilizando a Internet para

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à Ásia (ASEAN), passando pela Europa. Este desafio é ainda ampliado pelo facto de

as vantagens competitivas se basearem cada vez mais em “activos criados”, baseados

no conhecimento e desenvolvidos no interior das empresas através de mecanismos de

inovação tecnológica e organizacional, e não em recursos naturais. A margem de

manobra dos Estados-Nação, confrontados simultaneamente com o poder das grandesempresas membros de oligopólos mundiais e com a integração regional, é hoje menor

do que há duas décadas.

Contudo, uma análise mais aprofundada do padrão de relações entre as políticas

nacionais e as estratégias empresariais mostra que os Estados continuam a ter um

 papel relevante a desempenhar. A “competitividade” dos Estados depende da sua

capacidade para desenvolver políticas que: (i) confiram às empresas da base

doméstica os recursos e as competências necessárias para concorrerem em mercados

mundializados; e (ii) dinamizem economias de aglomeração susceptíveis de atraírem

investidores externos e de estimular o desenvolvimento de iniciativas empresariaisendógenas. Nesta perspectiva existe uma inter-acção entre os Estados e as empresas

na qual os Estados desempenham um papel decisivo, nomeadamente nos seguintes

 planos: (a) financiamento das infra-estruturas físicas essenciais à circulação de

 pessoas, serviços, bens e informação; (b) financiamento do desenvolvimento de

competências (educação, formação, disseminação da informação, investigação

 básica); (c) fornecimento de incentivos aos esforços empresariais em I&D e na

inovação tecnológica e organizacional; (d) apoio ao desenvolvimento e afirmação

internacional das empresas nacionais e da sua inserção em redes; e (e) promoção de

condições locacionais susceptíveis de atraírem empresas internacionais, gerandomecanismos de relacionamento mutuamente benéficos.

3. A GLOBALIZAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS 

Como se referiu, as empresas multinacionais têm sido protagonistas fundamentais

do processo de globalização. A sua capacidade de desenvolver activos intangíveis –

 por exemplo, nos planos da competência tecnológica, da inovação organizacional e da

gestão da imagem – e de os transferir, articular e explorar internacionalmente constitui

um elemento fulcral para a sua afirmação competitiva e expansão internacional. Poroutro lado, a localização em múltiplos países confere às empresas possibilidades

acrescidas de aproveitamento de oportunidades e de exploração de sinergias, tendo em

conta as vantagens específicas oferecidas por cada país enquanto localização de

investimento. Como refere Cantwell, as empresas multinacionais tornaram-se

“organizadores globais de sistemas económicos, incluindo sistemas de

desenvolvimento tecnológico em diferentes partes do Mundo”7.

 pressionar a Bridgestone no segundo aniversário do despedimento colectivo de ex-trabalhadores da

Firestone na sequência da sua aquisição pela Bridgestone.7 John Cantwell, Technological Innovation and Multinational Corporations, Oxford, Blackwell, 1989, p. 10.

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 Na verdade, a vertente tecnológica tem sido um dos principais eixos da afirmação

internacional das empresas multinacionais, envolvendo designadamente três

movimentos:

• Exploração internacional das competências tecnológicas internas à empresa,

 procurando comercializar os produtos no maior número de mercados possível eestabelecer redes de produção internas e/ou relações de subcontratação de modo a

minimizar os custos globais de concepção e fabrico dos produtos. No sector

automóvel, por exemplo, a articulação do fabrico de componentes, à escala

continental ou mesmo planetária, envolvendo a contribuição de diferentes filiais e de

redes hierarquizadas de fornecedores é hoje uma evidência. As empresas

multinacionais aproveitam, por outro lado, as oportunidades de circulação de

mercadorias oferecidas pela integração regional para especializarem as suas filiais por

 produtos ou por processos, de modo a beneficiar das vantagens específicas de cada

localização. Em alguns países este movimento de racionalização produtiva à escalaregional conduziu ao encerramento de unidades produtivas, com as consequentes

implicações no plano do emprego. Em certos casos, actividades relativamente

secundárias, em termos estratégicos são pura e simplesmente transferidas para países

de mais baixos salários. Assim, a Swissair transferiu, em 1993, a sua contabilidade

 para a sua filial indiana, em Bombaim (cujo capital é detido em 25% por uma empresa

indiana de serviços de consultoria).

• Expansão dos acordos de cooperação – Alguns autores sugerem que o sistema

capitalista entrou numa fase caracterizada pelas alianças entre empresas, as quais se

destinam a fornecer aos parceiros competências para competirem em termos globais8.

A cooperação pode: (a) ser coordenada por uma grande empresa que actua como

 ponto focal de uma rede de fornecedores, frequentemente ligados através de sistemas

telemáticos; (b) ter lugar entre empresas com competências produtivas e/ou

comerciais complementares; ou (c) envolver empresas concorrentes que resolvem

aliar-se, em áreas a montante, de modo a reforçarem as respectivas posições

competitivas. A cooperação assume formas diversas, desde projectos conjuntos de

I&D, investigação sob contrato e licenças cruzadas à produção conjunta e mesmo ao

cruzamento de participações no capital. As razões da cooperação são várias, incluindo

nomeadamente a partilha de custos, a redução de incerteza na concepção e lançamento

de novos produtos, a definição de normas e padrões internacionais, o estabelecimento

de barreiras à entrada de novos concorrentes, a penetração mais rápida e/ou o

alargamento dos mercados e o aproveitamento de sinergias e complementaridades

entre os parceiros. Pode afirmar-se que a cooperação de base tecnológica constitui um

instrumento para os parceiros reforçarem a sua capacidade de internalizar

conhecimentos a uma escala global.

8

  Conferir, entre outros, M. L. Gerlach,  Alliance Capitalism: The Social Organisation of Japanese Business, Oxford, Oxford Press, 1992; e John H. Dunning, Reappraising the Eclectic Paradigm in anAge of Alliance Capitalism, Journal of International Business Studies, Vol. 26 n.º 3, p. 461-491, 1994.

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• Exploração das oportunidades de geração e absorção de tecnologia no plano

internacional – Num mundo onde a liderança tecnológica é tri-polar torna-se

indispensável ter também uma localização múltipla das actividades de investigação e

desenvolvimento tecnológico, designadamente em áreas caracterizadas por elevadas

dinâmicas de inovação. Embora alguns autores sustentem que o grosso da actividadeinovadora das empresas multinacionais está localizada nos seus países de origem e

que esta característica não se tem alterado significativamente, outros consideram que

a parcela de inovações geradas fora dos países de origem tem vindo a aumentar

sistematicamente. Sem pretender tomar uma posição definitiva neste diferendo,

tendemos a perfilhar a segunda perspectiva, basicamente por duas razões. A primeira

decorre do movimento de implantação de filiais de “captação de competências”

efectuada, por exemplo, por empresas coreanas e da Formosa no Silicon Valley com o

objectivo de adquirir conhecimentos e estabelecer relações que lhe permitissem dar

“saltos qualitativos” no domínio da electrónica. A segunda respeita aos novosdesenvolvimentos da gestão transnacional da inovação, procurando estimular os

contributos das diferentes filiais para o lançamento de novos produtos para o mercado

mundial. Esta contribuição múltipla é extremamente facilitada pelo desenvolvimento

dos sistemas de telecomunicações e de transferência electrónica de dados. Por

exemplo, o modelo Ford Mondeo foi concebido por uma equipa integrada de I&D ao

nível da Ford Europa, ligada por redes telemáticas a outros centros de I&D e de

 produção da Ford na Europa e nos Estados Unidos.

 Num momento em que a generalidade dos países procura captar investimento

estrangeiro9

  (na expectativa de que as filiais estrangeiras possam ter um contributo positivo para ultrapassar o problema omnipresente do desemprego e para dinamizar as

exportações, reforçar a capacidade tecnológica e modernizar as práticas

organizacionais e de gestão) convirá reflectir um pouco sobre as implicações dos três

movimentos acima referidos para os países potenciais receptores de investimento

internacional.

Gostaríamos de sublinhar, em termos muito breves, seis pontos que nos parecem da

maior importância:

• Peso crescente do comércio intra-empresa nos fluxos de comércio internacional –

Sendo as redes internas às empresas multinacionais cada vez mais abrangentes econtinuando a tendência para a especialização das filiais, a circulação internacional de

 produtos intra-firma vai assumindo uma importância que não se pode negligenciar. De

acordo com as Nações Unidas, cerca de um terço do comércio mundial tem lugar no

seio das empresas multinacionais. Este peso é ainda mais acentuado se consideramos

também os fluxos comerciais efectuados no interior de redes de sub-contratação

internacional lideradas por aquelas empresas. Consequentemente, as políticas

comerciais estão cada vez mais estreitamente ligadas às políticas de investimento 

9

  Segundo o World Investment Report   de 1995, apenas 5 num total de 373 alterações legislativas eregulamentares efectuadas em mais de 60 países no período 1991-94 não foram no sentido de umamaior liberalização.

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estrangeiro, tornando-se indispensável contemplar especificamente os fluxos intra-

empresa.

• O desenvolvimento de ligações entre as empresas de capital estrangeiro e as

empresas nacionais tem de ser encarado numa perspectiva espacial que

frequentemente ultrapassa as fronteiras - Com a integração regional, os mercadosdomésticos perdem relevo como determinante do investimento. Consequentemente, a

 possibilidade de utilização, pelas autoridades nacionais, de vantagens de mercado

como contrapartida do estabelecimento de ligações entre investidores estrangeiros e as

empresas nacionais (como sucedeu, por exemplo, no caso do projecto Renault) é

fortemente restringida. Além disso, o acordo relativo às TRIM (Trade Related

 Investment Measures) no âmbito do Uruguay Round vem condicionar ainda mais a

 possibilidade de estabelecimento de trade-offs directos entre incentivos e desempenho

do investimento no plano comercial, designadamente da substituição de importações.

 Neste contexto, as ligações entre empresas nacionais e filiais estrangeiras terão de ser promovidas: (1) no quadro de economias de proximidade, estimulando o

desenvolvimento de clusters  já existentes ou a dinamização de novos clusters; e/ou

(2) promovendo a inserção de empresas nacionais, como fornecedores directos, em

redes internacionais de abastecimento de grupos multinacionais. Neste processo,

ligações anteriormente estabelecidas no espaço nacional podem ser um instrumento

importante para credibilizar as empresas domésticas potenciais fornecedoras.

• A atracção de investimento estrangeiro estruturante e criador de elevado valor

acrescentado depende da capacidade dos Estados para promoverem o

desenvolvimento de competências internas adequadas – A importância crescente dos

factores intangíveis e do acesso a recursos humanos qualificados nas decisões de

investimento (especialmente no espaço tríadico) conduz à existência de um “nível

mínimo de congruência” entre as características desejadas do investimento estrangeiro

e as condições de localização oferecidas pelo país receptor. Se tal congruência não

existir, o custo marginal dos incentivos necessários para convencer a empresa

estrangeira a estabelecer-se no país serão bastante superiores aos benefícios marginais

a obter. As possibilidades de cooperação e de transferência de tecnologia são muito

limitadas quando o fosso entre as capacidades da empresa estrangeira e o tecido

 produtivo local é grande, pelo que o investimento estrangeiro tende a assumir um

carácter de enclave, divorciado das empresas locais.

• A duração de vida das unidades produtivas estrangeiras é cada vez mais limitada

 – A evolução tecnológica conjugada com a especificidade das unidades fabris e o

encurtamento do ciclo de vida dos produtos conduz a que a duração de vida das

implantações tipo filial produtiva racionalizada, orientadas para o mercado externo,

seja hoje relativamente limitada, não ultrapassando frequentemente os dez anos.

Consequentemente, a menos que o país continue a configurar-se como uma

localização interessante, surgirão, a mais ou menos breve trecho, desinvestimentos 

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que deverão ser tidos em conta nas análises custo-benefício efectuados na fase de

negociação dos projectos e de atribuição de incentivos.

• Possíveis efeitos de desvio de investimentos resultantes do surgimento de novas

áreas de atracção – Os países do Sueste Asiático, encabeçados pela China, têm vindo

a receber uma fracção crescente do investimento internacional, correspondente a maisde 70% do IDE dirigido aos países em desenvolvimento em 1994. A maioria dos

fluxos tem origem na própria região, enquanto os investimentos oriundos da Europa

são reduzidos (menos 10%). Prevê-se, aliás, que no futuro próximo a tendência

marcante será o reforço do investimento na Ásia, ao passo que a atractividade da

Europa Ocidental continuará a declinar. Simultaneamente, poder-se-á antecipar uma

aceleração do investimento na Europa Central e de Leste, no caso de a transição em

curso se processar com sucesso. A perspectiva deste duplo movimento não poderá

deixar de ser tida em conta pelos países menos desenvolvidos da Europa Ocidental na

formulação das suas políticas de IDE.

• O movimento de expansão dos acordos de cooperação de base tecnológica

concentrou-se quase exclusivamente nos países mais avançados, ao passo que a

 periferia de União Europeia ficou à margem – Com efeito, concentrando a análise nos

acordos de base tecnológica (excluindo as relações de subcontratação da produção e

os acordos de licença uni-direccionais) verifica-se uma acentuada concentração nos

 países tecnologicamente mais desenvolvidos, que dispõem de um número

significativo de multinacionais “de base doméstica”. Segundo J. Hagedoorn e R.

 Narula10, os países da Comunidade podem classificar-se em três grupos: (a) Os

líderes, caracterizados por um nível elevado de alianças tecnológicas (Alemanha,

Reino Unido e França, mas também Itália e Holanda); (b) Os intermédios,

correspondendo a pequenos mercados tecnologicamente sofisticados (Bélgica e

Dinamarca) ou a países grandes tecnologicamente menos avançados (Espanha); e (c)

Os esquecidos, países pequenos, sem multinacionais “próprias” e, em regra,

tecnologicamente menos avançados (Grécia, Irlanda e Portugal, para além do

Luxemburgo), cujas empresas são raramente procuradas como parceiros para o

estabelecimento de alianças de base tecnológica.

4. PORTUGAL E A GLOBALIZAÇÃO 

Da análise do processo de internacionalização da economia portuguesa nos últimos

dez anos podem-se retirar duas conclusões básicas:

•  A integração europeia modelou e “filtrou” o impacto da globalização sobre a

economia portuguesa, pelo que, para Portugal, a globalização acabou por ser  

10  John Hagedoorn e Rajnesh Narula, Choosing Models of Governance for Strategic Technology

Partnering: International and Sectoral Differences, in Krzysztof Obloj, ed, High Speed - Competition ina New Europe, Univ. Varsóvia, Varsóvia, 1994, p. 103. A análise refere-se aos acordos celebrados no período 1980-1993.

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encarada  prima facie como um processo de crescente inter-penetração com

as economias da Comunidade, especialmente da Europa Comunitária.

•  A internacionalização da economia portuguesa foi fundamentalmente uma

internacionalização passiva: as empresas portuguesas, não obstante algumas

excepções, foram menos dinâmicas que as suas concorrentes estrangeiras noaproveitamento das novas condições de expansão internacional.

Estas conclusões carecem, no entanto, de ser melhor explicitadas e desenvolvidas.

Vamos fazê-lo procedendo à identificação das principais forças e actores subjacentes

àquele processo de internacionalização.

A internacionalização da economia portuguesa pode ser considerada como o

resultado de três factores inter-relacionados: a integração europeia, a liberalização do

sistema económico e o processo de globalização. O primeiro foi, a nosso ver, o

 principal. Dele resultaram, por um lado, a obtenção de significativos recursos

financeiros aplicados em programas de modernização das infra-estruturas e de

incentivos aos investimento industrial (especialmente no periodo 1989-92) e, por

outro, um aprofundamento das trocas comerciais com a Comunidade e um boom  –

concentrado no quinquénio 1987-91 – do investimento estrangeiro, especialmente do

 proveniente de outros países da Comunidade.

Pode afirmar-se que o processo de integração correspondeu simultaneamente a um

reforço e a uma diluição dos laços entre Portugal e a economia mundial. Reforço, na

medida em que Portugal se tornou, em príncipio, mais aberto ao Mundo e à inserção

em redes trans-nacionais. Mas também diluição, uma vez que a integração na

Comunidade acabou por funcionar como filtro, um “mediador” da relação entre

Portugal e a economia mundial: a preocupação de aprofundar as ligações com a

Europa acabou por condicionar, e em alguns casos inviabilizar, a manutenção ou o

estabelecimento de laços económicos com espaços extra-Europeus. Bastará olhar para

as estatísticas relativas ao comércio externo e ao investimento internacional.

A globalização não tem sido percepcionada como um desafio relevante pela

maioria dos agentes económicos portugueses. O principal, e mais imediato, desafio

tem sido o da integração europeia, para não falar da integração ibérica. As empresas

 portuguesas têm-se preocupado sobretudo com a concorrência acesa de outrosfabricantes comunitários quer nos mercados europeus, quer no mercado interno. Em

alguns sectores é igualmente sentida a competição de empresas asiáticas e, mais

recentemente, da Europa Central e de Leste. Houve empresas que responderam

ofensivamente, instalando unidades comerciais e procurando criar redes comerciais

em outros países membros, nomeadamente em Espanha; em certos casos, estes

movimentos implicaram a aquisição de empresas sediadas nesses países (como

sucedeu com a Sonae e a Cimpor em Espanha, com a Growella no Reino Unido, com

o Grupo Amorim na Suécia ou com a Autosil em França). Outras tentaram reduzir

custos para se manterem competitivas, ou acabaram por aceitar acordos de sub-contratação para grandes clientes europeus, nomeadamente cadeias de distribuição; 

13

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em muitas ocasiões esta opção acabou por determinar um esmagamento das margens,

acabando a empresa por funcionar como uma “empresa por conta de outrem” – para

usar a feliz expressão de Maria Manuel Marques –, com uma cadeia de valor

truncada. Outras, ainda, olharam para África, muitas vezes com a esperança de

encontrar um refúgio, um espaço onde “quem tem um olho é rei”; as vicissitudes dosmaiores países africanos de expressão portuguesa acabam por frustrar estes intentos.

Em síntese, com excepção de umas poucas empresas com maior envergadura e/ou

com mercados mais diversificados, a globalização foi encarada como algo distante -

especialmente até à conclusão dos acordos do Uruguay Round. O desafio fundamental

estava (e está) na Europa.

As empresas estrangeiras assumiram indubitavelmente a liderança do processo de

internacionalização da economia portuguesa, designadamente através dos

investimentos efectuados no período 1987-91. O seu peso nas exportações

 portuguesas aumentou significativamente, tanto através de exportações directas defiliais como das relações de sub-contratação estabelecidas com fabricantes nacionais;

este ano, registou-se novo “salto” na parcela das empresas de capital estrangeiro em

consequência das exportações da Auto-Europa.

As empresas estrangeiras que investiram em Portugal, e nomeadamente as grandes

multinacionais, encaram, em regra, a globalização de uma forma mais atenta e

empenhada. Algumas delas são mesmo protagonistas desse processo. A  joint-venture 

entre a Ford e a Volkswagen (Auto-Europa) vem na esteira de outros acordos de

cooperação entre as duas empresas em outras regiões (como é o caso do Brasil) e não

 pode ser dissociada da preocupação de responder a rivais globais que já haviamlançado veículos do mesmo tipo, como a Renault ou a Toyota.

Todavia, a decisão de investimento em Portugal – neste caso, como na maioria dos

outros – foi tomada porque o País é membro da União Europeia. Portugal é, pois,

encarado pelos investidores internacionais prima facie como “um lugar na Europa” e

não como uma localização independente, autónoma. Boa parte dos investimentos

estrangeiros em Portugal não foram motivados pela pressão da globalização, mas

 principalmente para tirar partido das vantagens oferecidas por Portugal enquanto

localização no espaço europeu. Pode afirmar-se que a vaga de investimento

estrangeiro observada em 1987-91 foi principalmente devida às novas oportunidadesabertas pela conjugação entre a integração regional e a integração empresarial na

Europa Ocidental.

A globalização não deixa, porém, de estar presente como pano de fundo – e será

 porventura mais evidente a sua influência nas decisões de desinvestimento que nas de

investimento. Por exemplo, o processo de desinvestimento da Renault em Setúbal não

 pode ser desligado da estratégia global da empresa e das suas decisões de localização

às portas da Comunidade (Eslovénia) e na América Latina.

É de sublinhar, aliás, o facto de em 1995, de acordo com elementos recentemente

 publicados pelo Banco de Portugal o valor líquido do investimento português no

14

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exterior ter ultrapassado, pela primeira vez nos últimos trinta anos11, o do

investimento estrangeiro em Portugal: 91 contra 80 milhões de contos,

respectivamente (Quadro 1). O nível extraordinariamente elevado de desinvestimentos

de empresas estrangeiras em Portugal (526 milhões de contos) foi o principal motivo

da inversão do peso relativo dois dois fluxos

12

. Tal nível correspondeu a cerca dequatro vezes o registado em 1994, tendo respeitado sobretudo à indústria

tranformadora (60% do valor total dos desinvestimentos).

O investimento português no exterior em 1995 não chegou a ultrapassar o máximo

registado em 1992 (92 milhões de contos), ano em que se verificou a conjugação de

alguns projectos de grande dimensão. De facto, os valores anuais continuam

dependentes da ocorrência ou não de grandes projectos de investimento que podem

enviesar sensivelmente os resultados. É inquestionável, no entanto, que, após um

 período de interrogações sobre as vantagens de investir no exterior, as empresas

 portuguesas reconhecem cada vez mais a necessidade de se internacionalizarem.Muitas delas defrontam-se, porém, com o problema da dimensão, da inexistência de

massa crítica, não apenas no plano dos recursos financeiros, mas também ao nível dos

recursos humanos e do mix de produtos comercializáveis no exterior.

A União Europeia continua, sem surpresas, a ser o principal destino dos

investimentos, cabendo aos outros países da OCDE apenas 5% e aos PALOP 3%. A

Espanha é, em termos individuais, o mercado preferencial, tendo concentrado cerca de

56% dos investimentos em 1995, cabendo à França o segundo lugar com ligeiramente

mais de 10%. Isto é, a inserção na Europa continua a prevalecer claramente e a

“filtrar” a percepção dos efeitos da globalização.As empresas portuguesas foram lentas a reagir. Muitas continuam a adoptar

atitudes passivas: exportam, mas de facto não vendem nos mercados externos – são os

clientes que compram. Mas o movimento de internacionalização começa a ganhar

alguma velocidade. Há “pontas de lança” que toda a gente conhece:

 – o investimento da Sonae, adquirindo a Tafisa (aglomerados de madeira),

empresa espanhola com investimentos também no Canadá, e planeando a

expansão das suas actividades para a África do Sul e a China;

 –a consolidação da Autosil entre os principais fabricantes europeus de

 baterias, através dos investimentos realizados em França (aquisição da Steco

e criação de uma nova unidade fabril em Brive);

 – a expansão multifacetada do grupo Jerónimo Martins, investindo na Polónia

e no Reino Unido em dois segmentos de negócio sensivelmente diferentes: cash-and-carry  na Polónia e artigos de desporto topo-de-gama  no Reino

Unido (aquisição da Lillywhites);

11  Dizemos trinta anos porque dispomos de estatísticas fiáveis sobre os fluxos de investimentointernacional a partir de 1964. Cremos contudo que o periodo referido poderá ser, sem grande margem

de erro, estendido a todo o pós-guerra.

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 – a implantação aparentemente bem sucedida de três grandes empresas com

capitais públicos em Espanha, duas através de aquisições (Caixa Geral de

Depósitos e Cimpor) e outra através de investimentos de raiz (Petrogal).

Investimento Português noEstrangeiro

Unid: milhões de escudos(1) 

InvestimentoEstrangeiro em

Portugal

Taxa de Cobertura

(%)

Índice deInvestimento

Cruzado (2) 

(1) (2) (3) (4)

1980-82 2441 23282 11 -81

1983-85 7419 73586 10 -82

1986-88 10389 162585 6 -88

1989-91 104981 899005 12 -79

1992-94 156592 697878 22 -63

1995 90900 79900 114 +6

Fonte: Cálculos próprios com base em elementos publicados pelo Banco de Portugal.(1)  Os valores apresentados respeitam a investimentos no capital de empresas, lucros reinvistidos e

empréstimos e suprimentos. A partir de 1993 são também incluídos os fluxos relativos a operações sobre

imóveis.(2) Índice de Investimento Cruzado = (1) – (2) x 100

(1) + (2)

Portugal e os fluxos de Investimento Internacional

Mas existem também outros casos interessantes e menos conhecidos, de empresas

de média dimensão que vêm desenvolvendo processos de internacionalização e de

reforço das ligações com grandes clientes internacionais, procurando passar de

relações de sub-contratação dependente a relações de quase parceria13. A Growella,

empresa de calçado com capitais suiços mas gerida por portugueses,

internacionalizou-se tanto na vertente produtiva como na comercial. Na primeira,

através da implantação de uma unidade fabril em Cabo Verde, destinado ao

acabamento de peles e ao fabrico de calçado para senhora, aproveitando os menores

custos de trabalho. Na segunda, mercê da tomada de posição maioritária no capital de

uma empresa britânica; esta assegura a distribuição de parte dos produtos da Growellano Reino Unido, comercializando-os com a sua própria marca (NeeBee). Uma outra

empresa de calçado, com menor dimensão e capacidade, está neste momento a

implementar um sistema telemático de ligação ao seu principal cliente, o que lhe

 permite acelerar sensivelmente o processo de concepção dos produtos; utilizando um

sistema de CAD transmite os modelos para aprovação do cliente, tornando

dispensável a confecção de protótipos reais.

12  Todos os valores apresentados são provisórios, tanto mais que ainda não dispomos, à data deredacção deste texto, do Relatório do Banco de Portugal relativo a 1995.13

 Os exemplos apresentados a seguir foram todos retirados do nosso trabalho  Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, realizado para a Agência de Inovação e para o Gabinete de Estudos ePlaneamento do Ministério da Economia.

16

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 No sector automóvel, a Arjal é um exemplo de sucesso na relação com os grandes

construtores. Fornecedor directo da Fiat, da Renault, da General Motors (Opel) e da

Auto Europa, a Arjal dispõe de capacidades de concepção e desenvolvimento de

novos produtos. Está também a internacionalizar-se, com a criação de antenas junto

das principais fábricas dos seus clientes, de modo a obter vantagens nos planos daconcepção de produto (maior facilidade de interacção com o cliente) e da logística

(satisfação rápida das encomendas).

Estes exemplos mostram, portanto, que o movimento de internacionalização das

empresas portuguesas vai ganhando corpo, apesar dos problemas defrontados (dos

quais a dimensão e as insuficiências na capacidade de gestão estratégica e na

qualidade dos recursos humanos merecem destaque). Revelam igualmente que a

 projecção externa das empresas portuguesas não pode ser desligada do processo de

investimento estrangeiro em Portugal. Isto significa que os dois movimentos carecem

de ser estudados em conjunto, numa perspectiva sistémica.

5. PISTAS PARA ANÁLISE 

Conjugando as características do processo de globalização com as linhas de força

da internacionalização da economia portuguesa esboçadas nos pontos anteriores, é

 possível identificar um conjunto de aspectos que se nos afiguram interessantes para

 proceder a uma avaliação das implicações da globalização (ou, porventura com maior

rigor, globalização cum integração europeia) sobre a economia portuguesa.

Os aspectos a destacar são, numa primeira aproximação, os seguintes:

1. Globalização e novas características dos fluxos comerciais: o peso do

comércio intra-firma.

2. Globalização e fluxos de investimento: o carácter sistémico dos processos de

investimento.

3. Os desinvestimentos: razões e tendências de evolução.

4. Investimentos internacionais e emprego: o papel dos fluxos de investimento

internacional no panorama do emprego em Portugal.5. Globalização e cooperação inter-empresas: oportunidades de inserção, como

 parceiros, das empresas portuguesas em redes transnacionais.

6. Globalização, sistema nacional de inovação e investimento estrangeiro.

7. Relações Ibéricas, Integração Europeia e Globalização: complementaridade

ou concorrência?

Explicitamos muito sinteticamente os temas propostos.

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5.1. Globalização e Novas Características dos Fluxos Comerciais: O Comércio

 Intra-Firma

Como se referiu, uma parte crescente do comércio internacional é efectuado intra-

empresa. Tal crescimento está associado aos processos de globalização e de

integração regional que conduziram ao declínio das filiais de substituição de

importações viradas para os mercados nacionais e ao crescimento de “filiais

racionalizadas” inseridas em redes de produção internacionais. Portugal não está

imune a este movimento, muito pelo contrário: a maioria dos grandes investimentos

estrangeiros realizados nos últimos anos tem uma acentuada vocação exportadora,

sendo as exportações em regra efectuadas intra-empresa.

Seria, por isso, conveniente reanalisar o comércio externo português nesta

 perspectiva, distinguindo entre as operações intra-empresa e as outras. O interesse desta análise (parcialmente aflorada em trabalhos efectuados, há cerca de quatro anos,

 por Lino Fernandes14) seria tripla:

•  avaliação da contribuição líquida do investimento estrangeiro para a balança

comercial portuguesa

•  identificação das implicações das estratégias empresariais na estrutura

geográfica do comércio externo

•  implicações comerciais do processo de internacionalização das empresas

 portuguesas.

A concretização deste trabalho não é, porém, fácil, tendo em conta as novasrealidades da liberalização dos procedimentos administrativos de recolha de

informação sobre o comércio externo. Implicaria necessariamente a cooperação com o

INE para avaliação das possibilidades de acesso a este tipo de informação (admitindo

que ela esteja disponível), já que a inquirição directa das empresas, mesmo por

amostragem, é uma tarefa condenada ao fracasso.

5.2. Globalização e Fluxos de Investimento: O Carácter Sistémico dos Processos de

 Investimento

Alguns autores, como Luostarinen e Welch15, sustentam que o processo de

internacionalização das empresas começa frequentemente intra-muros, através do

estabelecimento de acordo com empresas estrangeiras para o abastecimento do

mercado interno ( joint-ventures, contratos de licença, por exemplo). Esta

14 Lino Fernandes, O Papel do Investimento Estrangeiro na Evolução do Padrão de Especialização,Lisboa, Departamento Central de Planeamento, 1992; e do mesmo autor,  A Especialização da Economia Portuguesa: Tendências e Perspectivas, Lisboa, Departamento Central de Planeamento,1992.15

 Cfr. Reijo Luostarinen e Lawrence Welch,  International Business Operations, Helsínquia, HalsinkiSchool of Economics, 1990; e também Reijo Luostarinen e Harri Hellman, The Internationalisation Process and Strategies of Finnish Firms, Working Paper, Helsinki School of Economics, 1994.

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internacionalização “em casa” permitiria às empresas aprenderem, tornando-se menos

vulneráveis na sua futura projecção internacional.

Esta perspectiva foi, de algum modo, confirmada por nós para um conjunto

limitado de PME portuguesas. Verificámos que as empresas que “nasceram

internacionais”, devido a ligações especiais com investidores estrangeiros emPortugal, tendem a recorrer com melhores resultados a formas “avançadas” de

operação no exterior. Este facto pode ser interpretado como indicando que a projecção

no exterior é muito mais fácil naquelas empresas em que o “pensar internacional” está

 já interiorizado na cultura da empresa16. Outro exemplo interessante, retirado também

da realidade portuguesa, é o dos grandes grupos de distribuição: começaram todos

como empresas de capital estrangeiro ou formando  joint ventures  com empresas estrangeiras e hoje estão envolvidos em processos activos de internacionalização.

Outra vertente a explorar é a da influência das relações cliente-fornecedor

estabelecidas no mercado interno como instrumento de internacionalização dasempresas portuguesas17. São diversos os casos na indústria automóvel em que

relações geradas no quadro interno vieram a permitir às empresas portuguesas

afirmaram-se como fornecedores directos dos grandes construtores internacionais.

Finalmente, um último eixo de análise respeita à evolução das características e da

estratégia das filiais domiciliadas em Portugal face às novas tendências de gestão

transnacional, de unidades ligadas em rede com maior autonomia e responsabilidade.

Será que as filiais portuguesas dos grupos multinacionais, tradicionalmente passivas e

limitadas às operações de produção e/ou de comercialização (no mercado interno)

estão a assumir papeis mais activos e a ganhar novas competências eresponsabilidades? Seria uma questão interessante a abordar, preferencialmente

através de um estudo de casos.

5.3. Os desinvestimentos: razões e tendências de evolução

Os valores do desinvestimento por parte de empresas com capital estrangeiro estão

a assumir níveis inquietantes: em 1995 tais desinvestimentos quase igualaram o

influxo de IDE (corresponderam, mais precisamente, a 87%).É algo supreendente que estes níveis de desinvestimento estejam a ocorrer agora,

 passados dez anos sobre a adesão de Portugal à então CEE. Até que ponto este

movimento resulta de estratégias globais de reestruturação da produção por empresas

multinacionais? Ou será sobretudo ainda uma consequência do desenvolvimento do

 processo de integração europeia? Qual a influência da atracção exercida pelos países

em transicção da Europa Central e de Leste? Qual o seu impacto sobre o emprego?

Qual a relação entre os desinvestimentos de hoje e os incentivos ao investimento no

 passado?

16 Cfr. Vitor Corado Simões, Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, op. cit., p. 122-123.17 Este aspecto prende-se também com o tema focado adiante em 5.5.

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Pensamos que se torna indispensável responder a estas questões, de forma a

compreender o como, o porquê e as consequências do processo de desinvestimento.

5.4. Investimentos Internacionais e Emprego

Sendo o desemprego uma das principais preocupações da política económica

 portuguesa e sendo a criação de novos empregos um dos objectivos fundamentais da

captação de investimento estrangeiro, torna-se imperioso estudar os efeitos dos fluxos

de investimento internacional sobre o nível e o padrão do emprego em Portugal.

A análise poderia ser desenvolvida ao longo das seguintes vertentes:

•  efeito global dos fluxos de investimento estrangeiro em Portugal sobre o

nível genérico do emprego;

•  padrão de qualificações dos investimentos estrangeiros recentes e acções de

formação desenvolvidas (estamos a caminhar de facto em direcção a um

investimento estrangeiro exigente e qualificante?)

•  critérios de selecção do pessoal

•  gestão dos recursos humanos e actividade sindical

•  localização dos investimentos e oferta de recursos humanos (qual o peso da

qualificação e das infra-estruturas de educação/formação nas decisões de

localização do IDE?).

•  investimentos portugueses no estrangeiro: destroem ou criam empregos no

País?

5.5. Globalização e Cooperação Inter-Empresas

Como vimos, a participação das empresas portuguesas no movimento global de

cooperação de base tecnológica tem sido muitissimo reduzida. Este facto pode ser

interpretado como indicando que as empresas portuguesas não dispõem de atractivos(isto é, de competências tecnológicas) suficientes para serem consideradas como

 parceiros credíveis e interessantes. Além disso, a grande maioria das nossas empresas

não dispõe de massa crítica (nos planos da dimensão e do esforço tecnológico)

indispensável para se envolver naquele movimento. Mesmo no âmbito dos programas

europeus de I&D a participação das empresas portuguesas tem sido muito escassa,

quase nunca assumindo a liderança de projectos.

 Num outro registo, as relações verticais das empresas portuguesas com parceiros

estrangeiros têm sido caracterizadas pela subcontratação assente em baixos custos de

 produção. Em indústrias como o vestuário, o calçado ou a cerâmica muitas empresasestão numa situação de subcontratação dependente, sem capacidade interna de

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concepção dos produtos e sem contactos directos com os clientes finais;

consequentemente, a sua cadeia do valor resume-se quase exclusivamente às

operações, incorporando mão-de-obra pouco qualificada. Torna-se indispensável

analisar as condições que permitem a estas empresas trilhar o estreito e difícil

caminho que as pode conduzir da subcontratação dependente à subcontratação comvalor acrescentado e à quase-parceria. Também aqui a globalização comporta perigos,

inerentes à entrada dos países do Sul e do Leste (Europeu) nos mercados

internacionais de subcontratação, beneficiando de custos de trabalho muito inferiores

aos portugueses.

O desenvolvimento das tecnologias da informação e da telemática vem permitir o

estabelecimento e aprofundamento de redes internacionais baseadas nas economias de ligação através da troca electrónica de dados. O aproveitamento destas possibilidades

exige, porém, níveis de capacidade de gestão, competência técnica e visão estratégica

que não existem ainda num grande número de empresas portuguesas. O exemplo dadoacima, de uma empresa da indústria de calçado, mostra que existem sementes de

mudança e que tais sementes vão medrando...

Outro plano de análise respeita à expansão, no plano internacional, de redes de

fornecimento já constituídas no âmbito nacional com empresas de capital estrangeiro.

Este tópico foi abordado já no ponto 5.2., pelo que nos dispensamos de o desenvolver

aqui.

Finalmente, convirá estudar qual a capacidade de as empresas portuguesas já

razoavelemnte internacionalizadas criarem e articularem elas próprias redes de

cooperação envolvendo parceiros quer em Portugal quer nos países de destino. Nestequadro se pode integrar também o recurso a formas cooperativas, menos exigentes em

recursos financeiros, de expansão internacional, como sejam as  joint ventures, os

contratos de licença e os contratos de  franchising  (cujo êxito depende, no entanto, de

uma análise cuidada das exigências da sua transposição de uns mercados para outros e

um conhecimento aprofundado dos mecanismos básicos do próprio sistema de

 franchising ).

5.6. Globalização, Sistema Nacional de Inovação e Investimento Estrangeiro

A globalização, com a extensão e aprofundamento das redes de produção e de

geração de conhecimentos das grandes empresas multinacionais, poderá conduzir,

segundo alguns autores, a uma certa “dissolução” e desestruturação dos sistemas

nacionais de inovação. Outros – como é o caso de Michael Porter – argumentam que a

importância destes últimos continuará a ser decisiva como “base doméstica” e como

fornecedores de inputs específicos e diferenciados às suas empresas multinacionais.

Por outro lado, com o desenvolvimento da lógica transnacional de articulação em

rede, o relacionamento entre as filiais das empresas multinacionais e o tecido

tecnológico-produtivo de acolhimento tende a ganhar novos contornos. A filial

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estrangeira torna-se frequentemente de “dupla-face”: por um lado articula-se com a

sede e com as outras filiais na rede interna da empresa multinacional; por outro lado,

 procurará potenciar as vantagens específicas da sua localização, ligando-se como

insider  às teias de relações estabelecidas no interior do sistema nacional (ou regional)

de inovação do país onde está domiciliada. Esta articulação será tanto mais desejada pela empresa estrangeira quanto mais sofisticado e avançado for o sistema nacional de

inovação em causa.

A análise das relações entre globalização, investimento estrangeiro e sistema

nacional de inovação cruza-se com outros temas referidos anteriormente (em especial

com 5.2., 5.4. e 5.5.). Tendo presente a importância crescente dos factores intangíveis

na competitividade das empresas (e dos países) e o papel das economias de  proximidade para a troca de conhecimento tácito, este tópico parece-nos da maior

relevância para compreender o papel das filiais estrangeiras como eventuais

instrumentos de transferência de tecnologia e de dinamização das capacidades dasempresas nacionais.

5.7. Relações Ibéricas, Integração Europeia e Globalização: Complementaridade ou

Concorrência?

Uma das principais consequências do processo de integração europeia sobre a

economia portuguesa foi o estabelecimento de um novo quadro de relacionamento

entre Portugal e Espanha. Das tradicionais “costas voltadas” passou-se a uma

articulação estreita entre as duas economias, nos planos financeiro, comercial e doinvestimento. Muitas empresas multinacionais aproveitaram a integração ibérica para

racionalizar e articular os seus investimentos nos dois países. Boa parte dos fluxos

comerciais têm lugar intra-empresa e muitos investimentos provenientes de Espanha

não são, de facto, de origem espanhola, mas resultam antes de uma centralização em

Espanha das decisões estratégicas de actuação no espaço ibérico.

Por outro lado, os investimentos cruzados dispararam. Espanha é

inquestionavelmente o principal destino do investimento português no estrangeiro e

Portugal continua a exercer um razoável poder de atracção sobre as empresas

espanholas, que encaram o nosso país como um mercado privilegiado. Contudo, adimensão e o grau de penetração dos investimentos espanhois em Portugal não têm

 paralelo com os registados pelos investimentos portugueses no país vizinho, apesar de

alguns casos de sucesso já relatados. Como escreveu há tempos um jornalista, os

anemómetros registam um “vento” espanhol e uma “brisa” portuguesa...

As relações ibéricas merecem, por isso, uma análise específica numa dupla

vertente: a integração entre as duas economias e o papel dos investimentos recíprocos;

e o potencial conflito entre os dois países como destino do investimento internacional

e como bases de decisão estratégica. De facto, a lógica do “mercado ibérico” tem

conduzido diversos grupos multinacionais a um down-grading  das suas subsidiáriasem Portugal, as quais passaram a reportar à sua congénere espanhola. Daí que seja

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lícito formular a interrogação em epígrafe: Portugal e Espanha têm uma relação de

complementaridade ou  de concorrência? Ou será antes de concorrência e  de

complementaridade?

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A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS PORTUGUESAS:

CARACTERIZAÇÃO E PERSPECTIVAS 

Vitor  Corado  Simões

*

 

Texto  Elaborado  para o Conselho  Económico e Social  em 14 de  Fevereiro de 1997

* Agradece-se à Associação Industrial Portuguesa, na pessoa do Engº José Bruno, a autorização para

utilizar, ainda antes da sua divulgação, resultados do estudo “Desafios Estratégicos das EmpresasIndustriais Portuguesas num Contexto em Mudança: Papel das Alianças Estratégicas nos Processosde Internacionalização”, efectuado com o apoio do PEDIP II.

24

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Sumário

1. Introdução

2. Grau de Internacionalização e Formas de Operação no Exterior

3. Motivações da Internacionalização

4. Barreiras à Internacionalização 

5. Perfil do Investimento Directo no Exterior

6. Globalização e Internacionalização das Empresas Portuguesas

Uma Reflexão Prospectiva

Anexo 

Metodologia de Inquirição e Características das Empresas Respondentes 

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1. INTRODUÇÃO 

Este texto incide sobre a internacionalização das empresas industriais portuguesas.

Internacionalização é aqui encarada como um processo de envolvimento em negócios

internacionais visando a projecção das empresas no estrangeiro. Até há bem poucointernacionalização era quase sinónimo de exportação. Na última década, porém,

temos assistido a movimentos diversificados de internacionalização, mais ou menos

 bem sucedidos, que ultrapassam os limites da exportação tradicional: contratos de

 franchising , contratos de gestão, fornecimento de projectos industriais, investimentos

directos de natureza comercial, investimentos directos visando o estabelecimento de

unidades industriais ...

Um breve olhar sobre os títulos da Imprensa revela-nos como a internacionalização

 parece ser cada vez mais relevante para as empresas portuguesas. Sem qualquer

 preocupação de exaustividade respigámos uma série de notícias dando conta doreforço da presença das empresas portuguesas em outros países ou da intenção de o

fazer:

 – “No prazo de 5 anos a Cimpor quer produzir no estrangeiro 60 por cento do

cimento” ( Expresso, 18 de Janeiro de 1997)

 – “Espiríto Santo que banco em S. Paulo” ( Expresso, 8 de Fevereiro de 1997)

 – “CIN vai duplicar em Espanha” ( Público, 10 de Janeiro de 1997)

 – “Crisal, Vista Alegre e Cutipol arrancam com loja em Bruxelas” ( Público, 10

de Janeiro de 1997) – “Enatur internacionaliza-se” ( Público, 8 de Janeiro de 1997)

 – “Quintas compra cordoaria no Brasil” ( Público, 31 de Janeiro de 1997)

Esta proliferação de operações torna dificil uma análise global dos contornos do

fenómeno de internacionalização das empresas, tanto mais que faltam estudos

empíricos sobre o tema. O presente trabalho tem, assim, dois objectivos:

 – procurar, com base nos elementos de informação existentes, traçar o perfil da

internacionalização das empresas industriais portuguesas18; e

 – avaliar das implicações do processo de globalização sobre a evolução futura

daquele perfil.

O texto comporta seis capítulos, incluindo esta introdução. Os quatro seguintes

visam responder ao primeiro objectivo referido acima. Partindo dos (poucos) estudos

disponíveis, abordar-se-ão sucessivamente os seguintes tópicos19:

18 A ausência de informação disponível sobre internacionalização das empresas de serviços, levou-nosa não abordar este sector, embora reconheçamos a sua crescente importância.19

 A análise assenta basicamente no trabalho que efectuámos para a Associação Industrial Portuguesa(com o apoio do PEDIP), intitulado “Desafios Estratégicos das Empresas Industriais Portuguesas numContexto em Mudança: Papel das Alianças Estratégicas nos Processos de Internacionalização”. Este

26

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 – grau de internacionalização e formas de operação no exterior;

 – motivações da internacionalização;

 – principais barreiras;

 – investimentos directos: localização e características.

O último capítulo será dedicado ao segundo objectivo. Tentar-se-á designadamentereflectir sobre as implicações que a globalização e a tendência para a crescente

importância do conhecimento como fonte de vantagem competitiva poderão ter sobre

o processo de internacionalização das empresas portuguesas.

2. GRAU DE INTERNACIONALIZAÇÃO E FORMAS DE OPERAÇÃO NO EXTERIOR  

O grau de internacionalização das empresas foi estudado recorrendo a três

indicadores: orientação exportadora (medida através da relação entre exportações evendas totais da empresa); peso do emprego no estrangeiro; e peso do volume de

negócios no estrangeiro.

Relativamente às formas de operação, para além das informações decorrentes dos

indicadores referidos acima, solicitou-se às empresas a sua opinião, numa escala de 1

a 5, quanto à importância de cada um de seis modos de realização de negócios no

estrangeiro: exportação, sub-contratação de fabricação no estrangeiro, investimento

directo de natureza comercial, investimento directo envolvendo unidades produtivas

no estrangeiro, contratos com empresas no estrangeiro (contratos de licença, de

 franchising  ou de gestão, em que a empresa actua como fornecedor de conhecimentostecnológicos, imagem ou know-how de gestão) e fornecimento de unidades “chave-na-

mão”.

Os principais resultados obtidos foram os seguintes:

1) A exportação é, sem dúvida, o principal modo de operação no exterior  

Para a grande maioria das empresas actividade internacional é sinónimo de

exportação. Na verdade, cerca de dois terços das empresas consideraram a exportação

como importante ou muito importante, quando nenhuma das outras formas de

operação atingiu níveis de importância acima dos 16%, como se verifica no Gráfico 1.

trabalho envolveu a realização de um inquérito às 1400 maiores empresas industriais portuguesas. Osresultados apresentados respeitam a um conjunto de 175 empresas respondentes, brevementecaracterizadas em Anexo.

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0

10

20

30

40

50

60

70

   E  x  p  o  r   t  a  ç   ã  o

   U  n   i   d  a   d  e  s   C  o  m  e  r  c   i  a   i  s

   C  o  n   t  r  a   t  o  s   d  e   l   i  c  e  n  ç  a ,

   f  r  a  n  c   h   i  s   i  n  g ,  e   t  c

   U  n   i   d  a   d  e  s   P  r  o   d  u   t   i  v  a  s

   P  r  o   j  e  c   t  o  s   I  n   d  u  s   t  r   i  a   i  s

   S  u   b  -   C  o  n   t  r  a   t  a  ç   ã  o

% Casos classificados como"importante"

ou "muito importante"

 

Gráfico 1 - Importância Atribuída às Formas de Operação no Estrangeiro

Cerca de um terço das empresas inquiridas apresentava uma orientação

exportadora muito marcada, com níveis superiores a 50% das vendas em 1995. Noentanto, o grupo estudado incluía também quase 20% de empresas não exportadoras e

47% com uma orientação exportadora até 10%. Isto é, sem pôr em causa a

importância da exportação, observa-se que entre as maiores empresas portuguesas há

ainda muitas quase exclusivamente viradas para o mercado doméstico.

2) A orientação exportadora está associada ao tipo de indústria 

Foi testada a influência de três factores – tipo de indústria, dimensão e tipo de

empresa (familiar versus não familiar) – sobre a orientação exportadora das empresas.

Constatou-se que apenas o primeiro era relevante. Com efeito, foi possível identificar

um contraste acentuado da orientação exportadora entre dois grupos de indústrias:

 – as dominadas por empresas exportadoras, onde pelo menos metade das

empresas revelam níveis de orientação exportadora acima dos 50%: têxteis,

vestuário, calçado, material de transporte, madeira e cortiça e fabricação de

máquinas e aparelhos eléctricos; e

 – as viradas para o mercado doméstico, onde pelo menos dois terços das empresas

respondentes não exportam ou apenas o fazem marginalmente: alimentação, 

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 bebidas e tabaco; pasta, papel e edição; produtos químicos; borracha e matérias

 plásticas; e metalurgia de base.

3) O investimento directo no exterior apresenta ainda, no computo global, pouco

 significado, mas tem já relevância para algumas empresas 

22 das 175 empresas estudadas declaram dispor de filiais, sobretudo comerciais, no

estrangeiro; por outras palavras, 13% das empresas tinham filiais no estrangeiro. No

total, o número de filiais ascendia a 47, mas a sua distribuição era fortemente

desequilibrada, pois três grandes grupos detinham cerca de 45% daquele número, ao

 passo que 14 empresas tinham apenas uma unidade no estrangeiro.

Em termos globais o peso do emprego no estrangeiro ascendia a 8%. Como se

 pode observar no Gráfico 2, a percentagem de empresas que empregavam mais de 5%

dos efectivos além-fronteiras não chegava a atingir 6%.

1,8%5,3%

3,6%

89,5%

0%

0.1 - 4.9%

5 - 49%

> 50%

 

Gráfico 2 - Peso do emprego no Estrangeiro

O volume de emprego no estrangeiro experimentou, no entanto, um crescimento

excepcional na presente década. Em 1990 as empresas estudadas empregavam menos

de 300 pessoas no estrangeiro, enquanto em 1995 os seus efectivos no exterior

ultrapassavam 3200. Constata-se, pois, que, muito embora o nível global de empregono exterior seja baixo, existe uma tendência de crescimento muito marcada.

Em posição destacada neste processo surgem algumas empresas com forte vocação

internacional. Foram identificadas quatro empresas cujos efectivos no estrangeiro

eram superiores aos existentes em Portugal ou que realizavam mais de metade do seu

volume de negócios nas empresas afiliadas no exterior. É interessante verificar que,

em pelo menos duas delas, foi a “exposição” ao exterior, na dupla perspectiva de

orientação internacional da gestão e de operações anteriores em países estrangeiros,

que lhes permitiu identificar oportunidades de aquisição de empresas de envergadura

significativa, em resultado das quais elevaram consideravelmente os respectivosníveis de internacionalização.

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É natural que o número de empresas nestas condições se venha a expandir

substancialmente nos próximos anos. A consolidação da experiência internacional por

 parte de algumas empresas, aliada a patamares dimensionais relevantes, pode permitir

movimentos de aceleração dos processos de internacionalização, como aquele a que a

Cimpor se propõe: esta empresa, que até 1992 não dispunha de quaisquer afiliadas noestrangeiro, pensa localizar 60% da sua produção fora de Portugal no espaço de 5

anos.

4)  As filiais comerciais prevalecem, em termos de importância relativa, sobre as

 produtivas 

Como se referiu no Gráfico 1, as filiais comerciais foram consideradas

“importantes” ou “muito importantes” por 16% das empresas inquiridas, quando tal

 peso pouco excedeu os 2% para as filiais industriais.A análise das características das unidades estabelecidas no estrangeiro confirma os

resultados apresentados acima. Com efeito, mais de 60% correspondem a filiais

exclusivamente comerciais, havendo muito poucas que se possam considerar como

exclusivamente industriais. Esta constatação vem corroborar genericamente as

conclusões de um estudo realizado no princípio da década para o Ministério da

Indústria e Energia no qual se concluía que o número de filiais industriais era

muitissimo reduzido e que se concentrava nos PALOP20.

A maior importância atribuída, em termos globais, às filiais comerciais não

surpreende. Ela corresponde, na verdade, à fase actual do processo deinternacionalização das empresas portuguesas. O estabelecimento de filiais comerciais

constitui um passo lógico no sentido de potenciar a exportação a partir de Portugal.

Para empresas que já atingiram níveis de exportação consideráveis, a implantação

comercial no exterior permite melhorar o conhecimento dos mercados e reforçar a

 posição competitiva. Aparece, assim, na sequência de um envolvimento nos mercados

através das exportações; como se concluiu no estudo efectuado para o Ministério da

Indústria, o nível de implantação comercial no exterior encontra-se fortemente

correlacionado com o valor absoluto das exportações.

O “salto” das filiais comerciais para as produtivas já é mais complexo, estandoassociado frequentemente à capacidade de gestão, à existência de relações anteriores

nos países de implantação (especialmente em África), a oportunidades de negócio

(especialmente no caso de aquisições) e a estratégias voluntaristas de envolvimento

(e, por vezes, de aprendizagem) internacional. Consequentemente, não estão ao

alcance de todas as empresas. É indispensável dispor de sistemas adequados de gestão

20

  Cfr. Luis Mira Amaral, A Internacionalização das Empresas Portuguesas,  Pequena e Média Empresa, nº 1, 1991. Este estudo refere-se, porém, a um grupo de empresas muito inferior ao queanalisámos (apenas 44 empresas).

30

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e ter atingido patamares minimos de experiência internacional21 para as empresas se

 poderem abalançar com êxito na actividade industrial além-fronteiras – especialmente

em países industrializados.

Consequentemente, no estádio actual de internacionalização das empresas

 portuguesas, o predomínio das filiais comerciais é inevitável. O investimento denatureza comercial é um instrumento indispensável de acumulação de experiência

internacional. Para a grande maioria das empresas, a questão de produzir no

estrangeiro não se coloca, pelo menos no imediato. Como referiremos mais adiante,

Portugal continua a ser a localização industrial por excelência.

5) A dimensão constitui uma condicionante dos processos de investimento no exterior  

Estudos anteriormente efectuados sustentavam que a dimensão influenciava o grau

de internacionalização. Analisando 21 PME industriais, constatámos a existência deuma relação estisticamente significativa entre o grau de envolvimento internacional22 

e a dimensão da empresa. Aí se defendia designadamente que “as dificuldades

defrontadas pelas pequenas empresas ‘desejosas’ de se internacionalizarem ilustra

 bem como a dimensão – e a escassez de recursos humanos na área comercial e de

recursos financeiros – condiciona os passos a dar na trajectória de internacionalização

e o seu sucesso”23.

Ao constatar uma forte correlação entre o valor da exportação e o nível de

implantação no exterior (conceito análogo ao de envolvimento internacional, acima

referido), o estudo efectuado para o Ministério da Indústria confirma também, aindaque indirectamente, o papel da dimensão como condicionante do investimento no

exterior.

O trabalho realizado para a Associação Industrial Portuguesa, embora incidindo à

 partida, sobre as maiores empresas industriais, vem clarificar as relações entre

dimensão e internacionalização. A análise do inquérito permite constatar que:

i) A orientação exportadora é independente da dimensão, mas

ii) A dimensão condiciona os processos de investimento no exterior.

Com efeito, a propensão ao investimento no exterior é claramente superior para as

empresas de maior dimensão (Cfr. Gráfico 3). Cerca de 60% das empresas

respondentes com mais de 500 trabalhadores têm filiais activas no estrangeiro; ao

invés, apenas 4 das 67 empresas com menos de 100 efectivos têm investimentos 

21  A aquisição de experiência internacional pode efectuar-se também no espaço doméstico,nomedamente através das relações estabelecidas com empresas multinacionais aí instaladas (veja-se ocaso da indústria automóvel).22 O grau de envolvimento internacional era definido em função dos modos de operação utilizados pelaempresa em mercados externos: exportação ocasional, exportação dependente, exportação directa, filial

comercial e filial produtiva. Para definições, Cfr. Vitor Corado Simões,  Inovação e Gestão em PME Industriais Portuguesas, GEPEME/Ag. Inovação, Lisboa, 1996, pg. 103.23 Cfr. Vitor Corado Simões, op. cit ., pg. 117.

31

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directos além-fronteiras. É interessante constatar também que as empresas cujas

afiliadas no estrangeiro representam mais de 50% do volume de negócios consolidado

têm volumes globais de emprego superiores a 250 pessoas.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90100

Até 99 100-249 250-499 > 500

Emprego Total

% Empresas

Sem Filiais noEstrangeiro

Com Filiais noEstrangeiro

 

Gráfico 3 - Filiais no Estrangeiro e Dimensão da Empresa

Face ao exposto, parece-nos ser lícito afirmar que a dimensão – nomeadamente em

termos de recursos humanos e financeiros – se apresenta como uma condicionante da

realização de investimentos directos no estrangeiro. Isto não significa, porém, que as

PME não tenham, à partida, possibilidades de implantar filiais no exterior. O que

consideramos fundamental é a existência de uma “massa crítica” interna mínima que

funcione como âncora para as afiliadas e como base de referência organizacional e

centro de interpretação da informação proveniente do estrangeiro.

3. MOTIVAÇÕES DA INTERNACIONALIZAÇÃO 

Existem diversos trabalhos sobre as motivações do comportamento exportador das

empresas, em termos genéricos24, sectoriais25 ou de confronto entre firmas de capitalnacional e estrangeiro26. Todavia, nenhum deles aborda a internacionalização em toda

a sua extensão – ficam-se apenas pela fase introdutória, pela exportação. De facto,

como referem Jarillo e Martinez, para definir estratégias internacionais é preciso ir  

24 Veja-se M. Avelino de Jesus, Estratégias de Exportação das Empresas Portuguesas, Lisboa, ediçãodo autor, 1989; e M. Avelino de Jesus e José Carlos Ribeiro, Factores Explicativos da Propensão paraExportar das Empresas Portuguesas, Estudos de Economia, Vol. XI nº 2, Jan-Mar 1991.25 Mário Lino B. Raposo,  Análise da Internacionalização das Actividades das Empresas: Evidências Empíricas do Sector Têxtil Português, Tese de Doutoramento (não publicada), Un. Beira Interior, 1994.Este estudo, embora encarando a internacionalização de uma forma mais ampla, acaba na sua parte

empírica por se restringir à exportação.26  Joaquim J. Teixeira Ruela,  A Decisão de Exportar - Estudos das Motivações na Exportação das Empresas com Capital Estrangeiro, Tese de Mestrado em Economia (não publicada), ISEG, 1993.

32

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“para além da exportação”27. Ou, nas palavras do Engº A. Sousa Gomes, Presidente

do Conselho de Administração da Cimpor 28: 

“Internacionalizar uma empresa, dar-lhe dimensão adicional e capacidade

operacional internacional, não se limita a um primeiro passo, que é a regra

geral por onde todas as empresas começam, o sector da exportação. Umaempresa exportadora pode vir a ser uma empresa internacional, mas uma

empresa exportadora não é necessariamente internacional”.

Tornava-se necessário, por isso, estudar as motivações da internacionalização das

empresas, entendida como processo amplo, envolvendo diversas formas de actuação

no estrangeiro, incluindo – mas não se restringindo a – a exportação. Para isso foi

incorporada no inquérito uma questão onde se solicitava às empresas a indicação do

grau de importância, uma escala de 1 a 5, de 13 aspectos identificados na literatura

sobre negócios internacionais como potenciais motivações da internacionalização.

Para facilidade de análise e de interpretação, tais motivações foram agregadas em

cinco grandes grupos – endógenas, características dos mercados, relacionais, acesso a

recursos no exterior e incentivos governamentais –, sumariamente apresentados na

Caixa 1.

27  Cfr. José Carlos Jarillo e Jon Martinez,  Estratégia Internacional - Más Allá de la Exportación,

McGarw Hill, Madrid, 1991.28  Cfr. A. Sousa Gomes, Internacionalizar: Oportunidades e Mudanças, in  CEGE,  A Internacionalização das Estratégias Empresariais, CEGE, Lisboa, 1990, pg. 28.

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Tipologia de Motivações da Internacionalização 

 Motivações Endógenas  - Inclui as razões associadas à satisfação de objectivos,estratégicos ou tácticos, da empresa, nomeadamente as seguintes:

- necessidade de crescimento- aproveitamento de capacidade disponível- obtenção de economias de escala- exploração de competências tecnológicas próprias- diversificação de riscos

Características dos Mercados  - Relativas à forma como a empresa percepciona asoportunidades de mercado; inclui dois factores básicos:- limitações do mercado doméstico- percepção de dinamismo dos mercados externos

 Motivações Relacionais  - Corresponde principalmente aos casos em que a empresareage (ou, mais raramente, procura antecipar) movimentos efectuados poroutras empresas com as quais se relaciona:- resposta à actuação de concorrentes- acompanhamento de clientes- abordagem por potenciais clientes ou agentes estrangeiros

 Acesso a Recursos no Exterior  - Relativas a acções que têm como objectivo melhoraras condições de obtenção de determinados recursos; incluidesignadamente- o aproveitamento dos custos dos factores de produção no exterior e- o acesso a conhecimentos tecnológicos

 Incentivos Governamentais  - Corresponde ao papel atribuído aos apoios

 proporcionados pelos Governos, quer português quer dos países deacolhimento, nas decisões empresariais de internacionalização.

Caixa 1 - Motivações de Internacionalização

Conjugando os resultados da inquirição efectuada com os obtidos nos outros

estudos anteriormente referidos, podem-se identificar as seguintes conclusões quanto

às principais razões que conduzem as empresas portuguesas a internacionalizarem-se:

1)  As principais motivações para a internacionalização são de natureza endógena ouestão associadas aos mercados 

 Na verdade, os factores endógenos parecem assumir um papel muito relevante nas

decisões de internacionalização, apresentando todos pontuações superiores a 3. Os

mais importantes são, de acordo, com as respostas obtidas, a necessidade de

crescimento da empresa (com uma pontuação29  de 3.90) e o aproveitamento de

capacidade disponível (3.83). Admite-se que o primeiro é relativamente independente

29

 A pontuação é obtida através da média ponderada das respostas, atribuindo 5 pontos aos casos emque determinada motivação é considerada muito importante, 4 àqueles em que é importante e assimsucessivamente até aos casos em que é considerada sem importância (1 ponto).

34

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do modo de abordagem dos mercados, ao passo que o segundo estará sobretudo

associado à actividade exportadora30. 

Mas os factores de mercado não serão menos relevantes como se verifica no

Gráfico 4. Com efeito, o conjunto destes factores atingiu um  score médio de 3.55,

sendo de destacar o significado das limitações do mercado doméstico comoincitamento à exportação (pontuação de 3.85).

Comparando os resultados por nós obtidos com os dos trabalhos relativos à

exportação, e salvaguardadas as diferenças de metodologia e de objectivos, as

diferenças não são muito significativas31, embora seja possível notar que no nosso

inquérito os factores endógenos têm uma importância ligeiramente superior. Na

verdade, nos trabalhos de M. Avelino de Jesus e de Mário Raposo o primeiro lugar era

sempre ocupado por aspectos relacionados com os mercados.

Crescimen Capac. DisDiversific EconomiasCapac. Te LimitaçõesDinamism Resposta a Acompanh3,9 3,83 2,99 3,11 2,97 3,85 3,25 2,61 2,82

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5

Crescimento

Capac. Disponível

Diversificação de Riscos

Economias de Escala

Capac. Tec. Própria

Limitações Mercado Doméstico

Dinamismo Mercados Externos

Resposta a Concorrentes

Acompanhamento de Clintes

Abordagem por Empr.Estrangeiro

Aprov. Custos de Produção

Acesso a Conhec. Tecnológicos

Incentivos Governamentais

   M  o   t   i  v  a  ç   õ  e  s   d  a   I  n   t  e  r  n

  a  c   i  o  n  a   l   i  z  a  ç   ã  o

Pontuação

Gráfico 4 - Motivações da Internacionalização

Contudo, mais do que a observação das classificações dos diferentes motivos da

internacionalização, importará estudar como motivos de natureza diversa se inter-

relacionam. Isso conduz-nos à segunda conclusão.

30  Importará reconhecer, no entanto, que nos estudos anteriores sobre motivações da exportação, anecessidade de crescimento da empresa vem posicionada nos primeiros lugares: em 3º no trabalho de

M. Avelino de Jesus e em 4º no de Mário Raposo, relativo aos têxteis.31  Esta conclusão não se pode considerar inesperada, tendo em conta que a grande maioria dasempresas respondentes limita a sua actividade internacional à exportação.

35

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2) O binómio necessidade de crescimento da empresa - limitações do mercado

doméstico constitui o principal determinante da internacionalização 

Com efeito, em mais de 40% dos casos aqueles factores são considerados como

“muito importantes”. A internacionalização parece ser, assim, motivada  prima facie  pelo desejo de expandir a actividade da empresa. Face à estreiteza do mercado

 português, os mercados externos surgem como a área preferencial de expansão, tanto

mais que Portugal apresenta vantagens como base de produção industrial e existe a

 percepção de que tais mercados encerram boas oportunidades de negócio.

3) Os restantes grupos de motivações – relacionais, acesso a recursos no exterior e

incentivos governamentais – têm uma importância limitada enquanto

determinantes genéricos da internacionalização 

Todos os factores aí incluídos têm pontuações médias inferiores a 3, com uma

única excepção: a abordagem por parte de empresas estrangeiras (potenciais clientes,

agentes, sub-contratantes, etc). Isto é, em muitos casos, a empresa começa a

desenvolver operações internacionais em resultado, não tanto da iniciativa própria,

mas de contactos estabelecidos por empresas dos países de destino. É certo que a

literatura sugere que frequentemente o arranque de processos de internacionalização

e/ou a penetração em novos mercados decorrentes de abordagens efectuadas por

empresas externas. Contudo, o peso relativamente forte atribuído a este item  não

 pode ser desligado do comentário frequentemente ouvido sobre a exportação portuguesa: “nós não vendemos no exterior; são os outros que nos vêm comprar”.

Estamos em crer que a importância deste factor se acentuaria consideravelmente se o

universo inquirido tivesse sido mais amplo.

É interessante constatar, por outro lado, que, num momento em que a globalização

da concorrência se acentua, é muito escasso o número de empresas portuguesas que

considera o acesso a recursos externos como um factor relevante da

internacionalização. Na verdade, a obtenção de conhecimentos tecnológicos no

exterior e o aproveitamento dos custos dos factores de produção apenas foram

mencionados como importantes ou muito importantes por 18 e 14% das empresasinquiridas, respectivamente.

4. BARREIRAS À INTERNACIONALIZAÇÃO 

Apresentadas sucintamente as principais conclusões relativas às razões que

conduzem as empresas portuguesas a internacionalizarem-se, convirá passar agora à

análise do reverso da medalha – as barreiras à internacionalização defrontadas pelas

empresas.

36

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Também aqui existem referências anteriores, mas restritas à experiência de

exportação32. Sintomaticamente, os trabalhos de M. Avelino de Jesus e de Mário

Raposo chegam a conclusões análogas. As duas principais barreiras à exportação são,

em ambos os casos, a concorrência por parte de empresas estrangeiras e a ausência de

competitividade nos preços.A análise por nós efectuada tinha objectivos diferentes – identificar a percepção

das empresas quanto aos problemas defrontados nos respectivos processos de

internacionalização, e não apenas nas exportações. Por outro lado, inquirimos tanto

empresas exportadoras como não exportadoras. Consequentemente, o elenco de

 potenciais barreiras por nós utilizado é muito mais amplo, não se restringindo aos

obstáculos à exportação.

As empresas inquiridas foram solicitadas a classificar, também numa escala de 1 a

5, a importância atribuída a cada uma de 35 potenciais barreiras à internacionalização.

Para facilitar a análise, estas foram agregadas em quatro grupos – aspectos internos àempresa, relativos aos parceiros, relativos à envolvente portuguesa e relativos à

envolvente externa (designadamente aos mercados abordados e/ou aos países de

investimento), como se mostra na Caixa 2.

As principais conclusões da análise efectuada podem sintetizar-se como segue:

1)  Na opinião das empresas, as principais barreiras à internacionalização são as

relativas à envolvente portuguesa

As dificuldades de internacionalização percepcionadas pelas empresas parecemresultar principalmente de insuficiências na envolvente portuguesa – especialmente as

alegadas insuficiências dos apoios à exportação (pontuação de 3.43) e à cobertura de

riscos internacionais (3.31) –, ao passo que as barreiras de natureza interna à empresa,

as relativas à envolvente externa (com uma significativa excepção) e, sobretudo, as de

índole relacional assumem menor importância.

32 Cfr. M. Avelino de Jesus, op. cit . e Mário Raposo, op. cit . Veja-se também M. Avelino de Jesus,Obstáculos à Exportação das Empresas Portuguesas in CEDE, op. cit .

37

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  Barreiras à Internacionalização 

 Aspectos Internos à Empresa - Dimensão

- Recursos financeiros- Recursos humanos- Mobilidade internacional dos quadros- Dificuldades de adaptação/alargamento da gama de produtos- Conhecimento limitado dos mercados externos- Capacidade de inovação limitada- Dificuldade de identificação de parceiros locais- Dificuldades de coordenação e controlo de gestão

- Dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma unidade no estrangeiro

 Aspectos Relativos aos Parceiros - Insuficiente conhecimento do mercado local

- Pouco empenho na distribuição dos produtos- Pouca preocupação com a qualidade e o serviço pós-venda- Não satisfação das expectativas no domínio tecnológico- Divergências de estratégia- Diferenças de cultura organizacional- Tentativa de utilizar a cooperação apenas em seu benefício

 Aspectos Relativos à Envolvente Portuguesa - Falta de informação sobre oportunidades de negócio- Falta de informação sobre condições de investimento no estrangeiro- Insuficiência dos apoios à exportação- Insuficiência dos apoios ao investimento no estrangeiro

- Insuficiência dos sistemas de cobertura de riscos internacionais- Imagem internacional dos produtos portugueses- Taxa de câmbio do escudo

 Aspectos Relativos à Envolvente Externa (Mercados/Países de Instalação ) - Situação politico-social- Disponibilidade de infra-estruturas- Disponibilidade de trabalhadores qualificados- Fraco dinamismo da procura local- Concorrência muito forte- Dificuldade de estabelecimento de canais de distribuição- Restrições às importações provenientes de Portugal- Dificuldades de acesso a financiamento local- Normas fiscais- Quadro administrativo-legal (incluindo burocracia)

- Diferenças culturais

Caixa 2 - Barreiras à Internacionalização

Tais resultados são algo surpreendentes, quando sabemos que as debilidades de

gestão e de capacidade estratégica e empresarial das firmas portuguesas estão entre as

 principais determinantes das suas insuficientes vantagens competitivas. Como temsido referido por diversos autores, o empresário português tende a privilegiar a

38

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 produção, menosprezando a importância da concepção dos produtos e da

comercialização33.Sem prejuízo de haver casos exemplares de empresas às quais o

que atrás se disse não se aplica, pensamos que os resultados obtidos – ao valorizarem

muito mais os problemas decorrentes da envolvente portuguesa que os internos às

empresas – traduzem uma certa “desculpabilização” por parte das empresas. As principais barreiras são encaradas como externas: a concorrência é muito forte e os

apoios públicos são “insuficientes”. Subjacente às opiniões expressas, parece haver

uma visão do Estado como “almofada”, que deve conceder apoio e cobrir riscos ...

2)  A concorrência externa muito forte é, individualmente, a maior dificuldade na

internacionalização 

Embora, como vimos, os aspectos relativos à envolvente portuguesa se

configurem, em termos globais, como a barreira mais relevante à internacionalização,a concorrência externa muito forte é, de entre as 35 potenciais dificuldades

identificadas, a que recolhe a pontuação mais elevada. Com efeito, 61% das empresas

classificaram tal problema como importante ou muito importante.

A percepção da “concorrência externa” como obstáculo ressaltou também dos

estudos sobre os problemas das empresas exportadoras. A importância atribuída a este

factor pode ser interpretada como traduzindo um sentimento de dificuldade de

afirmação numa arena internacional competitiva. Parece-nos ser lícito afirmar,

fazendo apelo ao quadro teórico do investimento internacional, que as empresas

 portuguesas sentem de forma muito aguda a concorrência internacional por lhesfaltarem, em muitos casos, vantagens específicas indispensáveis à criação de espaço

de manobra e à exploração de factores de diferenciação.

3) Os recursos financeiros são encarados como a mais relevante barreira interna  

 Na verdade, 53% das empresas consideraram a insuficiência de recursos

financeiros como uma condicionante importante ou muito importante dos processos

de internacionalização. Este sentimento de “restrição financeira” está ligado à

estrutura do capital de muitas empresas, “fechado” a capitais alheios à família esuprindo as necessidades através do financiamento bancário, frequentemente por

empréstimos de curto prazo; aliás, as limitações financeiras são mais sentidas pelas

empresas familiares.

A segunda barreira interna respeita às insuficiências de recursos humanos, tanto em

termos genéricos (42% de casos classificados como importante ou muito importante),

como pela dificuldade em encontrar pessoas de confiança para gerir uma unidade no

33 Veja-se, neste mesmo sentido, Ernâni Lopes et al., Relatório Sobre a Politica Industrial em Portugal

nos Anos 90, trabalho elaborado para a Comissão Europeia, Março de 1993, pg. 75 e 106; e MonitorCompany, Construir as Vantagens Competitivas de Portugal , Forum para a Competitividade, Lisboa,1994, por coincidência também na pg 75.

39

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estrangeiro (37%). Estes resultados são interessantes, pois deixam transparecer dois

aspectos. Primeiro, um reconhecimento limitado das deficiências no dominio da

gestão e da falta de quadros qualificados e com experiência internacional. Segundo,

uma consciência relativamente acentuada da importância de confiança pessoal no

 processo de expansão da empresa através de investimentos directos no estrangeiro – oque pode ser interpretado como um indicador da ausência de uma equipa de gestão

sólida e/ou das insuficiências dos sistemas de gestão (e dos mecanismos de controlo

de gestão) existentes.

Os resultados obtidos apontam, pois, para a primazia dada aos aspectos financeiros

relativamente ao capital humano. Estão, aliás, em contradição com as opiniões

expressas por alguns gestores com sólida experiência de negócios internacionais que

argumentam que a qualificação dos recursos humanos é mais importante que a

capacidade financeira34.

Uma referência final a duas outras vertentes das barreiras internas. O conhecimentoreduzido dos mercados externos está entre as principais barreiras internas (3º lugar),

mas com um  score  relativamente baixo (2.77), apenas sendo considerada como

importante ou muito importante por 30% das empresas. Trata-se de um nível algo

surpreendente quando são conhecidas as limitações das empresas portuguesas neste

domínio. A segunda vertente a abordar respeita à inovação: as questões suscitadas a

este respeito (capacidade de inovação limitada, dificuldades de adaptação da gama de

 produtos aos mercados externos) não são julgadas relevantes. Não estaremos perante

uma insuficiente capacidade de auto-avaliação por parte das empresas?

4) A percepção da importância das barreiras varia em função da dimensão e do grau

de internacionalização das empresas

 No que respeita à dimensão, há dois aspectos curiosos a mencionar. O primeiro é a

existência de uma relação em U invertido entre a intensidade das barreiras associadas

aos recursos humanos e finaceiros e a dimensão da empresa. São as empresas de

média dimensão (entre 100 e 500 trabalhadores) as que maior importância atribuem a

tais barreiras como condicionantes da internacionalização. Uma possível explicação é

a de que tais empresas são as que sentem mais os desafios da concorrênciainternacional e a necessidade de recorrer a formas mais sofisticadas de abordagem dos

mercados externos, faltando-lhes no entanto a capacidade humana e financeira para

tal.

O segundo refere-se à existência de uma relação inversa entre a dimensão e a

importância atribuída a algumas barreiras, como é o caso nomeadamente da falta de

informação sobre oportunidades de negócio no estrangeiro, a insuficiência dos apoios  ao investimento no estrangeiro e a dificuldade em encontrar pessoas de confiança para

gerir uma filial no exterior.

34 Cfr. A. Sousa Gomes, art. cit ., pg. 35.

40

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A perspectiva das barreiras defrontadas vai variando à medida que a empresa se

internacionaliza. De um modo geral, a magnitude das barreiras diminui com o

aumento do nível de internacionalização, medido pelo peso dos activos no estrangeiro.

Há, contudo, aspectos cuja importância se reforça: os recursos humanos, as imagens

dos produtos portugueses no estrangeiro e as diferenças culturais. A mensagem no plano da concepção de politicas é clara – importa diferenciar os instrumentos de apoio

utilizados em função do grau de envolvimento internacional das empresas.

5. PERFIL DO INVESTIMENTO DIRECTO NO EXTERIOR  

Já referimos, na secção 2 deste trabalho, que as empresas inquiridas tinham 47

filiais no estrangeiro, as quais desenvolviam, na sua larga maioria, actividades de

natureza comercial. Procuraremos agora ir um pouco mais além na caracterização

daquelas filiais.Da análise efectuada ressaltam quatro traços principais:

1)  Existe uma nítida apetência pela tomada de posições maioritárias 

Das 47 filiais identificadas, apenas 10 (isto é, 21%) são empresas associadas, em

que a posição no capital varia entre 20 e 50%. Os investimentos directos no

estrangeiro, independentemente do tipo de actividades desenvolvidas, parecem

caracterizar-se pela preocupação de controlo, de modo que a empresa investidoratenha o domínio das operações.

Observando a relação entre dimensão da empresa portuguesa e o tipo de filial no

estrangeiro35  constata-se que a propensão ao estabelecimento de filiais minoritárias

(empresas associadas) é superior para as empresas com volumes de negócios mais

 baixos. Esta constatação apontaria, portanto, para a utilização de parceiros constituir

um meio de suprir carências internas, em termos de recursos humanos ou financeiros.

Tal inferência não é, porém, corroborada pelas respostas das empresas àcerca das

razões que determinaram a opção por posições minoritárias. De acordo com aquelas

respostas, a tomada de participação minoritária surge como tolerada, não desejada. Aassociação com parceiros resulta mais de condicionantes relacionais (designadamente

o insuficiente poder negocial para conseguir uma posição maioritária) ou de

imposições legais ou administrativas dos países receptores que da consideração dos

factores positivos associados à cooperação com outras empresas.

Estes resultados devem, no entanto, ser interpretados com alguma reserva, já que

respeitam a um número muito limitado de casos. Gostaríamos de sublinhar, de

qualquer modo, que eles divergem significativamente dos obtidos num estudo sobre a

35

 Consideraram-se dois tipos de filiais - empresas associadas, no caso de a participação detida se situarentre 20 e 50% do capital; e empresas do grupo, quando a firma portuguesa investidora detinha uma posição superior a 50%.

41

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internacionalização das empresas italianas. Estas manifestavam uma preferência

genuína pela cooperação com empresas locais, como meio de garantir maior

flexibilidade estratégica, de conjugar recursos complementares e de adquirir

experiência de actuação no país em causa36.

2) Espanha é a localização preferencial para a realização de investimentos directos 

Confirmando as indicações fornecidas pelas estatísticas relativas ao investimento

directo no exterior 37, a Espanha concentra quase um terço das filiais identificadas. As

unidades instaladas em Espanha são fundamentalmente de natureza comercial. O

objectivo é o de penetrar o mercado espanhol (ou, em muitos casos, faixas regionais),

comercializando produtos fabricados em Portugal. Poderemos afirmar que, embora

numa escala menor, os investimentos portugueses em Espanha são movidos por uma

lógica análoga à que presidiu aos investimentos espanhóis em Portugal ao longo dadécada de oitenta: aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado ibérico,

mantendo a base industrial no país de origem. De facto são poucos os investimentos

industriais, embora seja de admitir alguma tendência para o seu crescimento,

conforme notícias recentemente vindas a público (caso da CIN, por exemplo) deixam

transparecer.

Alargando o raio de visão, constata-se que quase 75% das filiais identificadas se

localizam nos países da União Europeia (Cfr. Gráfico 5). Esta área é considerada,

aliás, como o grande pólo de atracção das empresas inquiridas – mais de metade

considerava o mercado da UE como importante ou muito importante. Para além daEspanha, já referida, também a França e o Reino Unido apresentam algum significado

como locais de investimento. Contudo, a posição destes países, aos quais Portugal se

encontra tradicionalmente ligado por laços económicos e/ou culturais, é sensivelmente

influenciada por decisões tomadas por um pequeno número de empresas.

10,6%

10,6%

23,4%

2,1%

17,0%

6,4%

29,8%Espanha

França

Reino Unido

Outros Países UE

Outros Países Europeus

PALOP

Américas

Gráfico 5 - Localização das filiais no Estrangeiro

36

 Cfr. Fabrizio Onida e Gianfranco Viesti, Italian Multinationals, Croom Helm, 1990.37  De acordo com as estatísticas do Banco de Portugal, cerca de metade do valor líquido doinvestimento directo português no estrangeiro na década de noventa dirigiu-se para Espanha.

42

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Fora da União Europeia, apenas os PALOP se apresentam como destinos

relevantes de investimento, concentrando 17% das filiais; é interessante notar que

quase metade das filiais instaladas nos PALOP se localizam em Moçambique.

Porventura mais importante será constatar que nos mercados emergentes da Europa de

Leste e do Sueste Asiático as empresas estudadas não tinham quaisquer filiais,mostrando como é ainda limitada a geografia do investimento português no

estrangeiro38.

Em síntese, e de acordo com os elementos obtidos, tal geografia parece ser

determinada fundamentalmente pela conjugação de três factores: estrutura dos fluxos

de exportação; proximidade económico-geográfica (onde a integração no espaço da

UE tem um papel relevante); e proximidade histórico-linguística (determinante dos

investimentos nos PALOP).

3) No plano da geração de emprego, porém, Moçambique é a principal localização 

Segundo os resultados do inquérito, Moçambique era o único país onde o emprego

gerado pelas filiais portuguesas excedia 1000 pessoas, representando quase um terço

do total. Dois investimentos com níveis de emprego bastante elevados, em indústrias

tradicionais (alimentar e textil), concentravam a grande maioria dos efectivos das

filiais portuguesas naquele país. A atracção exercida por Moçambique como

localização industrial parece ser, aliás, significativa: com efeito, este país foi

considerado como o destino mais interessante para a instalação de uma filial produtiva

no estrangeiro nos próximos 3 anos, à frente de Espanha. Cerca de 40% dos efectivosno estrangeiro encontravam-se nos PALOP.

O emprego no conjunto dos países da União Europeia ascendia a 57% do total,

manifestando, no entanto, uma fortissima concentração em dois pólos – Espanha e

França. Estes dois países concentravam quase 80% das filiais portuguesas na UE.

4)  A dicotomia investimento comercial na Europa versus investimento industrial em

 África mantém-se válida, embora se note alguma tendência para se tornar menos

nítida 

Os elementos apresentados acima relativamente ao emprego, conjugados com a

análise das características das filiais, mostram que existe um contraste sensível entre o

tipo de unidades instaladas na União Europeia (e, em termos gerais, nos países

desenvolvidos) e nos PALOP. Na verdade, este grupo de países representa apenas

17% das filiais, mas concentra quase 40% do emprego. Isto é, investe-se na Europa

38 O que se disse não significa que não existam filiais nesses países. Sabemos que algumas empresastêm unidades na Hungria, em Hong Kong ou em Singapura, por exemplo. Não deixa de ser

sintomático, no entanto, que nenhuma das 175 empresas estudadas detenha filiais nas zonas referidas.Temos conhecimento, aliás, de que pelo menos uma equacionou a possibilidade de investir na China,não a tendo concretizado por ter considerado demasiado elevado o risco de investimento.

43

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 – A União Europeia é o principal mercado além-fronteiras e continuará a sê-lo:

as expectativas de crescimento dos negócios são aí claramente mais

acentuadas que em qualquer dos outros espaços regionais considerados.

 – Os mercados emergentes da Europa Central e de Leste e da China e Sueste

Asiático parecem estar largamente fora do alcance e dos interesses dasempresas portuguesas. A parcela de empresas que os consideram hoje como

importantes ou muito importantes queda-se bem abaixo dos 10%. Não foram

identificados, entre as 175 empresas estudadas, quaisquer investimentos

directos naquelas áreas.

 – A percepção da concorrência parece também geograficamente limitada: para

quase dois terços das empresas os principais concorrentes são outras

empresas portuguesas; para 45%; empresas europeias não estabelecidas em

Portugal; e para 35%, empresas de países em desenvolvimento.

 – Portugal continua a ser a base de produção por excelência. As perspectivas

de implantação de unidades produtivas no exterior são limitadas,

correspondendo as principais opções a países próximos em termos

linguísticos, históricos ou psicológicos (Moçambique, Espanha, Brasil e

Angola). A lógica não é a de deslocalização da produção numa vertente

estrita de redução de custos, parecendo antes associada à penetração em

mercados percepcionados como próximos e onde os riscos de investimento

são menores.

 – O recurso a alianças internacionais é extremamente reduzido: apenas trêstipos de cooperação (acordos de desenvolvimento de novos produtos ou

componentes com grandes clientes; acordos de troca de know how 

tecnológico, comercial ou de gestão; e contratos de comercialização

recíproca) apresentam níveis de ocorrência superiores a 5%. O grau de

envolvimento das empresas portuguesas em alianças estratégicas é, por

exemplo, claramente inferior ao observado para as empresas finlandesas –  especialmente no que respeita a alianças de natureza comercial40. Se é

verdade que a globalização arrasta a cooperação, as empresas portuguesas

 parecem sentir ainda pouco estes apelos.

O panorama genérico pode caracterizar-se como traduzindo uma visão ainda

limitada do quadro competitivo com que as empresas se defrontam ou, por outras

 palavras, por uma lógica de seguir caminhos já trilhados. Portugal é a localização

 preferencial para produzir. A abordagem dos mercados externos faz-se sobretudo por

exportações e especialmente nos países membros da União Europeia. O

estabelecimento de filiais comerciais efectua-se principalmente em Espanha (o país

40

  Cfr, relativamente à Finlândia, Reijo Luostarinen e Harri Hellman, The Internationalization Processes and Strategies of Finnish Family Firms, Working Paper, Helsinki School of Economics,1994.

45

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mais próximo geograficamente e culturalmente), após a empresa ter atingido uma

experiência razoável de exportação. A instalação de unidades industriais é uma

 possibilidade muito remota para a maioria das empresas, surgindo os países de língua

 portuguesa como alvos interessantes.

Trata-se de um panorama algo “cinzento”. Ele inscreve-se, no entanto, numa lógicade acumulação gradual de capacidades e de “rigidez lateral”41 nas decisões de gestão.

A maioria das empresas actua tradicionalmente através da exportação e não atingiu

ainda os níveis que justificam, no quadro da sua capacidade de gestão, enveredar por

formas mais exigentes e sofisticadas de presença nos mercados. Embora haja alguma

consciência de que o conhecimento dos mercados externos é limitado, a maioria das

empresas não se viu ainda confrontada com forças suficientemente intensas que as

levem a ultrapassar a “rigidez lateral” e a utilizar novas formas de operação nos

mercados externos. Sendo a capacidade estratégica limitada, o desafio competitivo

 percepcionado como intra-europeu e os recursos relativamente escassos, o espaçorelevante para a empresa é a Europa Comunitária. A globalização é encarada como

algo de que se fala, mas ainda relativamente longínquo, apesar das ameaças pontuais

de produtores do Sueste Asiático ou da Europa de Leste.

Mas a “floresta”, a visão do padrão genérico, não pode esconder as “árvores”, o

exemplo de empresas que vão tendo comportamentos diferentes e para as quais a

globalização – com as suas oportunidades e ameaças – já está interiorizada. Da

reflexão efectuada pensamos ser lícito afirmar que as empresas nestas condições são

sobretudo aquelas que:

 – se integram em indústrias onde a concorrência é global, sendo percepcionadas como relevantes ameaças competitivas extra-europeias;

 – actuam como fornecedores directos de empresas que têm estratégias

mundiais (como é o caso da indústria automóvel); ou

 – têm um nível de experiência internacional significativo e multifacetado e/ou

dispõem de equipas de gestão “abertas ao Mundo”;

A existência de relações estreitas com grandes clientes pode permitir às empresas

ultrapassar as limitações inerentes à “rigidez lateral” da decisão e reduzir

substancialmente a percepção do risco do investimento no exterior. Aointernacionalizar-se para seguir clientes as empresas beneficiam do apoio e da criação

de micro-cosmos específicos que atenuam os riscos inerentes a actuar em ambientes

culturais diferentes. A inter-acção estabelecida conduz, por outro lado, a olhar a

globalização de outra forma, através das “lentes” das grandes empresas com quem se

coopera.

41 A noção de “rigidez lateral” foi aplicada à gestão internacional por Reijo Luostarinen. Segundo ele

os gestores sofrem, em regra, de “rigidez lateral”, isto é, evitam enveredar por caminhos ou formas deoperação que envolvam operações no comportamento habitual da empresa. Cfr. Reijo Luostarinen, Internationalization of the Firm, Helsinquia, Helsinki School of Economics, 3ª ed., 1989.

46

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O nível de experiência internacional deve ser encarado numa óptica tri-

dimensional: no espaço (não restrito a um único país), no tempo (acumulação de

experiências de negócio internacional ao longo de vários anos) e no modo (recorrendo

a diversas formas de operação no exterior). Olhando para os casos das empresas

 portuguesas, somos levados a sugerir que, se numa primeira fase, o processo deinternacionalização é (em regra) incremental, existe um patamar de experiência

internacional a partir do qual a lógica incremental deixa de ser válida. Atingindo esse

 patamar, a empresa passa a sentir-se “cidadã do Mundo”, interiorizando a necessidade

de globalização e estando desperta para as oportunidades de negócio que surjam em

localizações geograficamente diversas. Alguns exemplos mostram que certas

empresas portuguesas já atingiram ou estão próximas desse patamar. É o caso da

Efacec (da qual não será alheio o facto de ter “nascido internacional”), da Sonae (com

os investimentos previstos na África do Sul e no Brasil), da Autosil (que, depois dos

significativos investimentos em França, vai estender a sua actividade ao Brasil e àÍndia) ou da própria Cimpor (que, após operações efectuadas ao pé da porta, em

Espanha e Marrocos, vai apostar no Brasil).

Existem, pois, sementes de mudança. Começa a haver empresas portuguesas

capazes de actuarem em termos mundiais, “globalizando-se” elas próprias nos planos

industrial e comercial. Mas estarão elas em condições de explorar todas as

 potencialidades da globalização, designadamente em termos da capacidade de

articular conhecimentos internacionalmente dispersos e de gerir mecanismsos de

aprendizagem à escala mundial?

47

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ANEXO

 Metodologia de Inquirição e Características

das Empresas Respondentes

1. Metodologia

O inquérito postal foi enviado às 1400 maiores empresas industriais portuguesas

satisfazendo as seguintes condições:

 – capital maioritariamente português

 – localização no Continente.

O procedimento de inquirição envolveu três fases principais: contacto inicial,

através de carta capeando o questionário; envio de carta recordatória; e “controle dequalidade” das respostas, implicando em grande parte dos casos o contacto telefónico

com os respondentes, para esclarecer dúvidas e completar pontos não respondidos.

O questionário era relativamente longo, comportando seis partes:

 – informação geral sobre a empresa respondente;

 – experiência genérica de internacionalização;

 – exportações;

 – investimento directo no estrangeiro, incluindo anexos para obtenção de

elementos específicos sobre as principais filiais;

 – cooperação com empresas estrangeiras;

 – perspectivas futuras, especialmente em termos de orientações de mercado,

formas de operação no exterior e deslocalização da produção.

2. Nível de Resposta

Por razões diversas (impossibilidade de contacto, não satisfação das condições básicas de selecção) foram excluídas 39 empresas, pelo que o “universo corrigido” é

de 1361. Destas, obtiveram-se 249 respostas utilizáveis (18%). Contudo, dada a

morosidade do processo de controlo de qualidade, apenas 175 (isto é, 13% do

“universo corrigido”) estão já incluídas na base de dados utilizada para a análise

estatística.

48

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3. Caracterização das Empresas Respondentes

Em termos muito sucintos, as 175 empresas respondentes podem caracterizar-se

como segue:

 – predominância de empresas familiares: 58% das empresas são de natureza

familiar, detendo os membros da família a maioria do capital e a

responsabilidade da gestão;

 – concentração em sectores tradicionais: cerca de 70% das empresas

respondentes encontravam-se nas indústrias tradicionais;

 – volume médio de emprego rondando os 215 efectivos;

 – experiência internacional limitada e considerada, em termos genéricos,

relativamente pouco relevante como fonte de vantagem competitiva; e – orientação estratégica de “meia-aposta”, com um número reduzido de

estratégias de nicho e um peso idêntico atribuído à redução de custos e à

diferenciação dos produtos.

49

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O INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO 

EM PORTUGAL 

 Miguel A. T. Coelho

Texto Elaborado para o Conselho Económico e Social em Março de 1997  

50

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Sumário

1. Introdução

2. O IDE no Período 1986-1995

2.1. Evolução

2.2. Tipologia

2.3. Origem

2.4. Objectivo

2.5. Localização

3. Comportamento das Empresas Nacionais e Estrangeiras: Análise Comparativa.

4. Determinantes do IDE em Portugal

5. Benefícios e Custos Associados ao IDE

6. Portugal face a outros Destinos de IDE

7. Conclusões

Anexos

Bibliografia

51

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1. INTRODUÇÃO

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE)42  é um dos fenómenos mais

significativos da maioria das economias de mercado, e Portugal não é excepção. Um

conjunto importante de multinacionais tem marcado presença em Portugal, particularmente desde a década de 60, quer através da detenção total, quer através da

 participação no capital de algumas empresas.

Essa presença, sendo de grande importância em alguns sectores, é, inclusivamente,

dominante em muitos outros entre os quais se destaca os do equipamento eléctrico,

montagem de automóveis e produtos farmacêuticos.

Simões (1983), identificou 3 fases no envolvimento internacional da economia

 portuguesa, em particular no que toca ao posicionamento de Portugal face ao IDE, a

saber: “Nacionalismo”; “Abertura ao exterior”; e “Período recente”.

A primeira abrange os anos 40 e 50 e caracteriza-se por uma posição dedesconfiança face às entradas de IDE. Essa desconfiança consubstanciou-se nas

 políticas governamentais face ao investimento externo que durante todo este período

foram marcadas pelo condicionamento industrial e pela “lei de nacionalização de

capitais”43. Se associarmos a isto o facto do país não deter significativas vantagens de

localização (país pouco desenvolvido com ausência de infra-estruturas e com um

reduzido mercado potencial interno) não é de estranhar que o investimento durante

este período tenha sido escasso44.

A segunda fase foi marcada pela adesão de Portugal à EFTA em 1959. O fim da

chamada “autarcia económica”45  e consequente alteração do enquadramento sócio- político da economia portuguesa teve um efeito significativo sobre a atractividade de

Portugal como localização do investimento internacional.

O IDE, que atingiu entre 1963 e 1974 um crescimento médio anual da ordem dos

24%, foi orientado sobretudo para as indústrias intensivas na chamada “mão-de-obra

 barata” e vocacionadas para a exportação. No período compreendido entre 1969 e

1974 os principais países investidores (fig.1 e tab.1) foram a RFA (22,7%), os EUA

(16,5%) e o Reino Unido (15,1).

42  Segundo a OCDE o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) é o investimento que envolve umarelação de longo prazo, reflectindo um interesse duradouro, duma entidade residente numa economia(investidor directo) numa entidade residente noutra economia (empresa receptora de investimentodirecto), com o objectivo de exercício de um grau significativo de influência na gestão da empresaresidente nessa outra economia. O investimento directo envolve quer a transacção inicial, quer astransacções subsequentes entre as duas entidades e as suas empresas associadas.43 A “lei de nacionalização de capitais” (Lei n.º1994) publicada em 1943 estipulava que só empresasnacionais, ou seja, empresas em que pelo menos do capital fosse português, poderiam dedicar-se àexploração de serviços públicos, a actividades em regime de exclusivo e às actividades que “fossemconsideradas de interesse fundamental para a defesa do Estado ou para a economia da Nação”.44 Apesar de não termos dados sobre o IDE para este período de análise podemos dizer que a entrada decapitais privados de médio e longo prazo realizadas entre 1950 e 1959 não ultrapassou os $ 7,5 milhões

de dólares.45 Utilizando a expressão de Rosas F. (1987) em O Estado Novo - Das origens ao fim da autarcia1926-1959

52

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FIGURA 1

1969-1974 1975-1979 1980-1985 1986-19950

5

10

15

20

25

30

3540

45

   P  e  r  c  e  n   t  a  g  e  m

1969-1974 1975-1979 1980-1985 1986-1995

EVOLUÇÃO DO IDE POR PAÍS DE ORIGEM

REINO UNIDO

FRANÇA

ESPANHA

 ALEMANHA

EUA

SUIÇA

OUTROS

 

A terceira fase (Período recente) pode ser dividida em três grandes sub-períodos.

Um primeiro, que se inicia em 1975 e termina em 1979. Um segundo que teve início

em 1980 e termina em 1986 com a adesão à Comunidade. Por fim, um terceiro, que

teve início com a adesão e vai até aos nossos dias.

O primeiro sub-período foi caracterizado por um clima de desconfiança dos

investidores estrangeiros em resultado, por um lado, do clima político e sócio-

económico vivido (nacionalizações, espiral inflacionista, descolonização etc.), e por

outro lado, em resultado da crise económica internacional. Os investimentos

realizados durante estes anos tiveram como principal objectivo o fornecimento domercado interno, ou seja, tiveram um carácter de substituição das importações de

forma a fazer face às dificuldades sentidas ao nível da balança de pagamentos. Os

 principais investidores (fig.1) foram a Suíça (20,9%), EUA (17,5%) e RFA (14,3%),

sendo a indústria transformadora (46,6% do IDE do período) o destino privilegiado

desses investimentos (fig.2 e tab.2).

FIGURA 2

1969-1974

1975-1979

1980-1985

1986-1995

0

10

20

30

40

50

   P  e  r  c  e  n   t  a  g  e  m

1969-1974

1975-1979

1980-1985

1986-1995

EVOLUÇÃO DO IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADE

 ECONÓMICAIND STRIASTRANSFORMADORAS

INDÚSTRIASEXTRÁCTIVAS

COMÉRCIO,RESTAURANTES EHOTEISBANCOS E OIF

OUTROS

 

53

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O sub-periodo que teve início em 1980 e terminou em 1986 foi caracterizado por

uma retoma do clima de confiança interno e externo para o investimento. A melhoria

registada na balança de pagamentos conduziu a que o investimento externo retomasse

a sua vocação exportadora, baseada em actividades intensivas em trabalho e

aproveitando os baixos custos salariais e alguns apoios ao investimento. Este sub- período foi ainda caracterizado por um crescimento substancial da importância do

sector financeiro (18,7% do total do IDE) (fig.2) e do Reino Unido como país de

origem do IDE (16%) (fig.1).

Em termos de enquadramento legal, tanto no sub-período 1975-79 como no sub-

 período 1980-85, o investimento directo esteve sujeito a um sistema de autorização

 prévia e discricionária (Decreto lei n.º 239/76 de 6 de Abril). Neste diploma é

reconhecido o interesse do investimento estrangeiro para o desenvolvimento

económico do país que, contudo, deveria ser subordinado às orientações de política

económica. Em 1977 surge uma nova regulamentação (Decreto lei n.º 348/77 de 24 deAgosto) que consolida o regime de autorização discricionária, instituindo ainda duas

modalidades46:

a) Regime geral: que englobava todo o IDE (com excepção de alguns casos

especiais).

 b) Regime contratual: para projectos de investimento de especial interesse para

a economia portuguesa, prevendo incentivos financeiros e fiscais que

assumiam a forma de contrato entre o Estado português e o investidor

estrangeiro.

O terceiro e último sub-período teve início em 1986 com a adesão de Portugal à

CEE. Nesta fase dá-se a expansão definitiva do IDE registando um total acumulado

até 1995 de cerca de 3268 milhões de contos (fig.3 e tab.3).

FIGURA 3

1963-74 1975-79 1980-85 1986-95 1963-950

500000

1000000

1500000

2000000

2500000

3000000

3500000

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e

  e  s  c  u   d  o  s

1963-74 1975-79 1980-85 1986-95 1963-95

INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO REALIZADO(valores acumulados)

 

46 Posteriormente surgiu o Decreto-lei n.º 174/82 de 12 de Maio, que veio introduzir algumas alteraçõesao Decreto-lei n.º348/77 de 24 de Agosto.

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O sector financeiro foi o principal responsável pelo IDE registado com quase 50%

do total do investimento (fig.2), salientando-se ainda, a crescente importância da

Espanha como origem do investimento (fig. 3).

Em termos de enquadramento legal saliente-se o facto do IDE ter estado sujeito a

dois sistemas legais: Sistema de declaração prévia e sistema de registo “à posteriori”.A necessidade de adequar a lei portuguesa às alterações decorrentes do tratado de

adesão às Comunidades conduziu ao surgimento do Decreto-lei n.º 197 - D/86 de 18

de julho47 que introduziu o chamado sistema de declaração prévia no qual é mantida a

divisão entre regime geral e contratual48 e introduzida a distinção entre investimentos

feitos por residentes em Estados-Membros da Comunidades Europeia, os quais eram

sujeitos a uma declaração prévia, que na realidade não passava de uma mera

verificação prévia da legalidade da operação, e investimentos feitos por não residentes

nos Estados da Comunidade Europeia, que eram objecto de avaliação e de negociação

entre o investidor estrangeiro e a entidade competente.O sistema de registo “à posteriori”, consubstanciado no Decreto-lei n.º 321/95 de

28 de Novembro, entrou em vigor em 4 de Dezembro de 1995 e surge em substituição

do anterior sistema de declaração prévia. Para além de permitir a realização do IDE

antes da sua declaração aos organismos correspondentes, consagra na legislação

 portuguesa a recomendação dos organismos internacionais no que toca aos critérios

de definição do IDE, considerando como um dos critérios a detenção de 10% ou mais

do capital de uma empresa por parte de um investidor externo residente noutro país.

Desta forma, esta harmonização conduz a que as estatísticas portuguesas relativas ao

IDE possam respeitar as recomendações internacionais nesse domínio.

47 O Decreto-lei n.º 197 - D/86 de 18 de Julho define operações de investimento estrangeiro como “osactos que têm por objecto, ou de que pode resultar, quanto a uma empresa constituída ou a constituirem Portugal, a criação de laços económicos estáveis e duradouros, de que resulte directa ouindirectamente, imediata ou cumulativamente, a obtenção ou o reforço do efectivo poder de decisão, se praticados por ou com a intervenção de:

a)  pessoas singulares ou colectivas não residentes;b) empresas portuguesas ou estabelecimentos em Portugal que, por via de participação no seu

capital ou por qualquer outro modo, devam considerar-se economicamente ligadas, em primeiro ou sucessivo grau, a indivíduos ou a entidades não residentes”.

Saliente-se que o limite mínimo a partir do qual as operações de investimento estrangeiro eramclassificadas como operações de investimento directo, baseava-se no facto de o conjunto das participações estrangeiras no capital da empresa receptora de investimento ser superior a 20%. Destaforma este Decreto-lei exceptuava do regime de declaração prévia as seguintes operações:

a)  participações de não residentes não superiores a 20% do capital social da empresa portuguesa.

b) Transferência entre não residentes de Estados-Membros da Comunidade, de participaçõesem empresas residentes.

48 O regime contratual (Decreto-regulamentar n.º 17/93, de 1 de Junho, é aplicável aos projectos deinvestimento estrangeiro com especial interesse para a economia nacional, isto é, àqueles que reúnamas seguintes condições:

a) apresentem um valor de investimento igual ou superior a 5 milhões de contos;b) tenham um efeito estruturante no tecido económico nacional, inserindo-se nas políticas de

desenvolvimento sectoriais;c) contribuam de forma relevante para o desenvolvimento e internacionalização da economia

nacional.

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2. O IDE NO PERÍODO 1986-1995

2.1. EVOLUÇÃO

Como referimos anteriormente, com a adesão de Portugal à União Europeia,

verificou-se o grande “salto” quantitativo do investimento directo estrangeiro. Assim,

o IDE, que em 1986 foi de 25 milhões de contos, atingiu em 1995 os 606 milhões de

contos, isto é, cerca de vinte e três vezes mais, sendo o investimento total acumulado

neste período de cerca de 3268 milhões de contos.

Saliente-se, contudo, que este período teve duas fases. Uma primeira, que termina

em 1991, é caracterizada por taxas de crescimento do IDE positivas, atingindo-se em

1991 um valor de IDE de cerca de 509 milhões de contos (fig.4 e tab.4). A segunda

fase tem início em 1992 e é caracterizada por taxas de crescimento de IDE negativas

(à excepção do ano de 1995). 

FIGURA 4

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

0100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e

   E  s  c  u   d  o  s

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO DIRECTODECLARADO E REALIZADO

INVESTIMENTODIRECTOREALIZADO

INVESTIMENTODIRECTO

DECLARADO

 

Esta evolução do IDE teve consequências directas no peso deste no PIB (Produto

Interno Bruto) e na FBCF (Formação bruta de capital fixo). Assim, se em 1986 o IDE

representava 0,5% do PIB, em 1990 esse valor atingia um máximo de 4,6%, vindo

 posteriormente a decrescer até atingir um valor de 2,4%, em 1994 (fig.5 e tab.5). No

que toca ao peso do IDE na FBCF, o comportamento foi em tudo idêntico, passandode 2%, em 1986, para um máximo de 17%, em 1991, tendo decrescido a partir daí até

atingir um valor de 9,7%, em 1994 (fig.5).

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FIGURA 5

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

0

5

10

15

20

   P  e  r  c  e  n   t  a  g  e  m

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

PESO DO IDE NO PIB E NA FBCF (1986 - 1994)

IDE/PIBpm

IDE/FBCF

 

O investimento declarado49  ao ICEP, no âmbito do regime geral, teve um

comportamento em tudo semelhante ao do investimento efectivamente realizado, passando de 24,5 milhões de contos, em 1986, para 672 milhões de contos, em 1992,

ano em que atingiu o seu valor máximo50 (fig.4 e tab.4).

 No que respeita ao grau de realização51 do IDE, temos que entre 1986 e 1992 foi,

em média, de 79,4%, tendo a partir daí atingido valores superiores a 100%, o que

significa que muitos investimentos que tinham sido declarados antes de 1992 só se

vieram a concretizar após esta data.

Analisando agora o comportamento do desinvestimento estrangeiro realizado

verificamos que este teve um crescimento acentuado ao longo do período analisado

(fig. 6 e tab.4). Se em 1986 ele foi de 1,9 milhões de contos, em 1995 esse valor terásido de 526,2 milhões de contos.

49 O investimento declarado é o investimento que foi objecto de declaração prévia ao ICEP, traduzindodesta forma as intenções de investimento. Isto não significa que o investimento se venha a realizar, ouque mesmo que se realize, que venha a ser feito no mesmo ano em que foi declarado. Por outro lado, osvalores do investimento realizado aqui considerados e que entram na rubrica de investimento directo daBalança de Pagamentos, assentam, na sua maioria, nas transferências cambiais associadas àquelasoperações.50  No que se refere ao investimento declarado no âmbito do regime contratual, refira-se que oinvestimento industrial bruto associado ascendeu a mais de 500 milhões de contos, sendo que grande

 parte deste montante respeita ao projecto Ford/Wolkswagen.51 O grau de realização mede o peso do investimento realizado no investimento declarado, num dadoano.

57

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FIGURA 6

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

0

100000

200000

300000

400000

500000600000

700000

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e

   E  s  c  u   d  o  s

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO REALIZADO

INVESTIMENTODIRECTO REALIZADO

DESINVESTIMENTODIRECTO

INVESTIMENTODIRECTO LÍQUIDO

 

Face ao comportamento do desinvestimento estrangeiro, não é de estranhar que oinvestimento líquido tenha registado um comportamento menos dinâmico que o do

investimento bruto realizado52. Assim, a partir de 1990, data em que atingiu um valor

de 386 milhões de contos, o investimento líquido diminuiu tendo atingido um valor de

79,9 milhões de contos, em 1995 (fig.6).

Por fim, a análise do número de investidores (desinvestidores) e de empresas

objecto de investimento (desinvestimento) levam-nos a concluir que entre 1989 e

1992, do lado do investimento, o número de investidores e empresas receptoras de

investimento diminuiu, enquanto do lado do desinvestimento, o número de

desinvestidores e empresas objecto de desinvestimentos cresceu (fig.7 e tab.6).

FIGURA 7

   I   N   V   E   S   T

   O   D   O   R   E

   S

   E   M   P   R   E

   S   A   S

   R   E   C   E   P   T

   O   R   A   S

   D   E   S   I   N   V

   E   S   T   I   D   O

   R   E   S

   E   M   P   R   E

   S   A   S

   O   B   J   E   C   T

   O    D

   E

0

5001000

1500

2000

2500

3000

3500

   I   N   V   E   S   T

   O   D   O   R   E

   S

   E   M   P   R   E

   S   A   S

   R   E   C   E   P   T

   O   R   A   S

   D   E   S   I   N   V

   E   S   T   I   D   O

   R   E   S

   E   M   P   R   E

   S   A   S

   O   B   J   E   C   T

   O    D

   E

NÚMERO DE INVESTIDORES E DE EMPRESAS RECEPTORAS DE INVESTIMENTO (1989 - 1992)

1989

1990

19911992

 

52 Sintoma de que a taxa de crescimento do desinvestimento nestes anos foi superior à do investimento.

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Por outro lado, o investimento médio realizado por investidor cresceu de 102,1 mil

contos, em 1989, para 225,4 mil contos, em 1992, indicando a crescente dimensão dos

investimentos directos. No que toca aos desinvestimentos médios realizados por

investidor estrangeiro, também houve um crescimento do seu valor passando de 92

mil contos, em 1989, para 476 mil contos, em 1992.

2.2. TIPOLOGIA

Importa analisar a evolução da distribuição do IDE por tipo de operação53  54no

sentido de identificar as formas escolhidas pelos investidores não residentes para a

concretização dos seus investimentos.

É notório o papel do reforço de investimento como meio de aplicação de capitais

externos em investimento directo (em 1989, representava 58,7% do total do IDE, em

1995, já representava 82,8%) (fig.8 e tab.7) Uma das explicações possíveis para acrescente importância do reforço de investimento pode residir no facto de, para os

investidores estrangeiros, ser mais fácil a penetração no mercado através do

aproveitamento e/ou reconversão de empresas onde já detêm capital (com um

mercado e uma clientela já definido) do que pela criação de novas empresas.

FIGURA 8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

0%

20%

40%

60%

80%

100%

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

IDE POR TIPO DE OPERAÇÃO

NOVOSINVESTIMENTO

 AQUISIÇÃO DEINVESTIMENTOSEXISTENTESREFORÇO DEINVESTIMENTOS

DIVERSOS

 

Em contrapartida, tanto os novos investimentos como a aquisição de investimentos

existentes viram a sua importância decrescer. Se em 1989 os novos investimentos

representavam 13,6% do IDE, em 1995 esse valor descia para 1,5%. Por outro lado, o

 peso no IDE da aquisição de investimentos já existentes desceu de 25,1%, em 1989,

 para 8,9%, em 1995.

53 Esta classificação por tipo de operação não está disponível para os anos de 1986 a 1988.54  Distinguem-se três grandes tipos de operação: novos investimentos (constituição de empresas ou

abertura de sucursal/escritório de representação); reforços de investimento (aumento de capital ou prestações suplementares de capital ou empréstimos de longo prazo e suprimentos); aquisição deinvestimentos já existentes.

59

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Analisando os dados estatísticos de forma mais desagregada podemos dizer que no

reforço de investimento destaca-se a crescente importância dos empréstimos e

suprimentos que, em 1989, representavam 17,6% do IDE total, passando a

representar, em 1995, cerca de 63% do IDE total.

2.3. ORIGEM

Antes de analisarmos a origem do IDE convirá dizer que esta corresponde ao país

onde está localizada a entidade investidora, independentemente do centro de decisão

ou do país da sede do investidor estrangeiro. Isto significa, que quando um investidor

de um determinado país investe no estrangeiro através de uma filial localizada num

outro país, a análise da origem pode estar distorcida uma vez que o verdadeiro centro

de decisão não está a ser considerado. No caso português este facto tem contribuído

 para sobrevalorizar o peso da Comunidade Europeia como origem do IDE uma vezque muitas empresas americanas e japonesas investem em Portugal através das filiais

situadas na Comunidade, sendo a origem do IDE atribuída a estas.

Feito este breve reparo vamos então analisar o IDE por país de origem. Começando

 por analisar a origem por zonas económicas podemos dizer que a importância da UE é

esmagadora, tendo atingido um valor de 79,5%, em 1995 (76,3% em 1989). Por outro

lado, o peso da OCDE decresceu de 96,1%, em 1986, para 94,1%, em 1995 (tab.8).

Daqui resulta que o aumento da importância dos países da UE (de salientar, que os

dados estatísticos de 1995 ainda não incluem os novos membros da UE: Áustria,

Suécia e Finlândia) terá sido feito, em grande medida, à custa dos outros países daOCDE, em particular dos EUA que passou de 8,6%, em 1986, para 2,1%, em 1995 (a

excepção será a Suíça que passou de 9,1%, em 1986, para 12%, em 1995).

O “resto do mundo”, por seu lado, tem tido um comportamento bastante irregular.

Assim, em 1986, representava 3,9%, crescendo para 16,1%, em 1989, e voltando a

decrescer, em 1995, para 5,9%.

Se analisarmos a origem por países (fig. 9 e tab.8) podemos verificar que dois

 países representavam, em 1995, quase 50% do total do IDE: França e Reino Unido.

Saliente-se, contudo, que o comportamento ao longo do período tem sido irregular. A

França, por exemplo, que representava, em 1995, 29,1% do IDE, teve, em 1994, um peso de apenas 8,9%. Por outro lado, o Reino Unido, que, em 1986, representava

38,8% do IDE, em 1995 passou a representar 20,5%. Esta diminuição do peso do

Reino Unido no IDE não impediu, no entanto, que este país fosse, ao longo do

 período, o que mais investiu em Portugal (478 milhões de contos ou seja quase 15%

do total do IDE).

Por fim, destaque-se a crescente importância da Espanha como origem do IDE, a

qual atingiu um peso máximo, em 1993, com 18,5% do IDE total.

60

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FIGURA 9

   1   9   8   6

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   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

0%

20%

40%

60%

80%

100%

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

IDE POR PAÍS DE ORIGEM

OUTROS

EUA

SUÍÇA

OUTROS DA UE

 ALEMANHA

ESPANHA

REINO UNIDO

FRANÇA

 

2.4. OBJECTIVOEste período pode ser dividido em duas fases no que se refere ao objectivo do IDE,

isto é, no que se refere à distribuição do IDE por actividades económicas.

 Numa primeira fase, que se prolonga até 1992, regista-se uma acentuada quebra na

importância da “indústria transformadora” (47% do total do IDE, em 1986, e 16,8%,

em 1992), e um acentuado crescimento da importância do sector financeiro55 no total

do IDE (17,5%, em 1986, e 65,8%, em 1992) (fig.10 e tab.9).

 Numa segunda fase (a partir de 1993), regista-se uma tendência inversa à anterior.

Assim, a “indústria transformadora” passou de 22,3%, em 1993, para 60,5%, em

1995, enquanto o sector financeiro passou de 59,3%, em 1993, para 21,8%, em 1995.

Da análise desagregada da “indústria transformadora” destaca-se a crescente

importância do “equipamento e material de transporte” que passou de 4,5%, em 1989,

 para 13,2% do IDE total, em 1994 (a que não está alheia a importância do projecto

Ford/Wolkswagen). Se bem que com uma expressão mais reduzida, saliente-se a

crescente importância do “papel, artes gráficas e publicações” que representavam

0,2% do total do IDE, em 1989, passando para 3,4%, em 1994, e das “químicos

derivados do petróleo, carvão e produtos de borracha e plástico” que passou de

12,5%, em 1989, para 6,4%, em 1994. Com um comportamento decrescente

destacam-se a “alimentação, bebidas e tabaco” (3,9%, em 1989, e 2,8%, em 1994) e

os “têxteis, vestuário e couro” (2,9%, em 1989, e 1,1%, em 1994).

55 Bancos e outras instituições financeiras, seguros, operações sobre imóveis e serviços prestados àsempresas.

61

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FIGURA 10

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

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   1   9   9   4

   1   9   9   5

0%

20%

40%

60%

80%

100%

   1   9   8   6

   1   9   8   7

   1   9   8   8

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

IDE POR SECTOR DE ACTIVIDADEOUTROS

BANCOS, OIF, …

COM RCIO, RESTAURANTESHOTEIS

CONSTRUÇÃO E OBRASPÚBLICAS

EL CTRICIDADE, G S E GUA

INDÚSTRIASTRANSFORMADORAS

 

Relativamente aos outros sectores de actividade refira-se o comportamento das“indústrias extractivas” e da “agricultura, silvicultura, caça e pesca” que tinham, em

1986, um peso de, respectivamente, 4,3% e 1,7% do total do IDE, e passaram a

representar cerca de 0,1% do total do IDE verificado em 1995.

O comportamento do sector da “electricidade, gás e água”, foi diverso do anterior,

uma vez que até 1992 tinha uma importância nula, passando a representar 5,1% do

total do IDE de 1995. Este facto deve-se em grande medida aos projectos de

instalação do gás natural em Portugal.

Representando, em 1992, 10,2% do IDE, o sector da “construção e obras públicas”

tem perdido alguma importância, registando-se, em 1995, um valor de 2%.Também o “comércio por grosso e a retalho, restaurantes e hotéis” têm perdido

importância. Assim, enquanto em 1986 representava 26,1%, em 1995 representava

apenas 9,4%.

2.5. LOCALIZAÇÃO

Antes de entrar na discussão deste ponto convém referir que as estatísticas por

distrito de localização do IDE correspondem, normalmente, à localização da sede da

empresa e não ao das fábricas ou outros estabelecimentos da empresa. Tal facto poderá tornar os dados enviesados no sentido do litoral e especialmente de Lisboa e

Porto, em detrimento de outras regiões do interior.

O distrito de Lisboa é o líder incontestado como destino do IDE, isto apesar de ter

visto a sua importância diminuir. Assim, enquanto em 1989 absorvia 70,1% do total

do IDE, em 1995 representava apenas 52,5%56 (fig.11 e tab.10).

56 Refira-se que os dados de 1989 a 1992 referem-se ao IDE realizado, enquanto os dados de 1993 a1995 são referentes ao IDE declarado ao ICEP no âmbito do regime geral.

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O segundo distrito mais importante como receptor do IDE é o Porto, com 12,8%,

em 1989, e 14,2%, em 1995, seguido de Setúbal, com 2,2%, em 1989, e 13,78%, em

1995.

Refira-se que a importância dos outros distritos no seu conjunto como destino do

IDE é muito reduzida (15%, em 1989, e 20%, em 1995). Apesar disso, destaque-se ocomportamento positivo registado, em 1995, por parte do distrito de Coimbra (5,78%)

e Aveiro (5,33%).

FIGURA 11

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

0%

20%

40%

60%

80%

100%

   P  e  r  c  e  n   t  a  g  e

  m

   1   9   8   9

   1   9   9   0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9   4

   1   9   9   5

LOCALIZAÇÃO DO IDE (1989 - 1995)

OUTROS

SETÚBAL

PORTO

LISBOA

 

Para finalizar vamos fazer uma breve referência ao tipo de operação, por distrito.

Assim, o distrito de Lisboa atraiu investimento ligado, principalmente, aos sectores

financeiro, imobiliário, comercial e de construção, enquanto nos outros distritos do

litoral Ocidental, os investimentos estiveram ligados à indústria transformadora.

3. COMPORTAMENTO DAS EMPRESAS NACIONAIS EESTRANGEIRAS: ANÁLISE COMPARATIVA.

 Neste capítulo pretendemos fazer a análise comparativa do comportamento das

empresas nacionais face às empresas com capital estrangeiro. Neste sentido, saliente-

se o estudo feito por Morais, H. (1994) para o período 1987-1992, em que concluiuque a produção das empresas estrangeiras apresentam níveis superiores aos das

nacionais. Assim, enquanto o valor acrescentado sectorial das empresas estrangeiras

corresponde a cerca de 30% do total, o número de empresas estrangeiras não

ultrapassa os 8%, o que significa que, em média, o valor acrescentado por empresa

estrangeira é mais do triplo das restantes empresas nacionais (tab.12).

Relativamente à produtividade do trabalho, verifica-se que o valor acrescentado

 por empregado é superior nas empresas com participação externa (tab.13).

Por outro lado, Morais, H. (op. cit.) concluiu que as empresas receptoras de IDE

apresentam performances exportadoras superiores às suas congéneres portuguesas.Para além disso, a importância das exportações nas vendas totais é maior nas 

63

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empresas estrangeiras que nas nacionais (tab.14), sendo a indústria têxtil, indústria da

madeira e cortiça, a indústria do papel e a fabricação de produtos metálicos, os

sectores onde esta tendência é mais acentuada.

Ainda no que se refere à comparação entre o comportamento exportador das

empresas nacionais e das estrangeiras, refira-se o trabalho de Cabral, S. (1995) queconcluiu o seguinte:

a) Capital estrangeiro: o capital estrangeiro exerce uma influência positiva no

comportamento exportador das empresas, o que significa que uma empresa

estrangeira tenderá a exportar mais do que uma nacional (Ceteris Paribus).

Este facto está intimamente relacionado com o maior conhecimento do

mercado internacional que as empresas estrangeiras detêm face às

nacionais57.

 b) Intensidade capitalistica e dimensão da empresa: tanto a intensidade

capitalistica como a dimensão da empresa exercem um impacto positivo na

 performance exportadora das empresas. Contudo, esse impacto é mais

acentuado no caso das empresas nacionais do que nas filiais estrangeiras.

Uma explicação para isto poderá residir no facto das empresas estrangeiras,

ao contrário das nacionais, estarem inseridas em multinacionais que operam à

escala mundial, o que reduz significativamente a “massa crítica” necessária

 para as empresas estrangeiras exportarem.

c) Economias de escala: A sua existência na produção tem impacto positivo na

 performance exportadora das empresas, sendo essa influência inferior nocaso das empresas estrangeiras. A explicação para este facto reside também

no facto das empresas estrangeiras estarem inseridas em multinacionais que

operam à escala mundial.

d) Qualificação da mão-de-obra: apesar das filiais estrangeiras utilizarem

trabalho mais qualificado do que as empresas nacionais, o que é certo é que

existe uma relação de sinal negativo entre maior qualificação de mão-de-obra

e o comportamento exportador das empresas estrangeiras (ao contrário do

que acontece nas empresas nacionais). Isto significa que são as filiais

estrangeiras que empregam trabalho relativamente menos qualificado(consequentemente mais barato), que apresentam uma actividade exportadora

mais acentuada.

e) Comércio internacional: o nível de vantagem comparativa revelada em cada

sector apresenta um impacto positivo nas exportações, quer das empresas

nacionais, quer das empresas estrangeiras, tendo as empresas vocacionadas

 para o comércio intra-ramo uma performance exportadora inferior. Saliente- 57 Fontoura (1996) concluiu que o IDE não influencia positivamente a propensão a exportar da indústria

 portuguesa. Contudo, estes resultados baseiam-se apenas nos dados estatísticos de 1991 e 1992, o que émanifestamente insuficiente, sendo necessário confirmar estes resultados com uma série mais longa dedados estatísticos.

64

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se, contudo, que as empresas estrangeiras tem uma preferência maior que as

nacionais pelos sectores onde Portugal apresenta vantagens comparativas.

f) Taxa de câmbio real do escudo: O impacto da apreciação da taxa de câmbio

real e consequente agravamento dos custos relativos do trabalho, não parece

influenciar negativamente a performance exportadora das filiais estrangeiras,ao contrário do verificado com as empresas portuguesas.

g) Procura externa: Apesar do impacto de um aumento da procura externa ser

 positivo, quer na performance exportadora das empresas nacionais, quer na

das estrangeiras, o que é certo é que esse impacto é superior nas segundas.

Tal facto deve-se, fundamentalmente, à maior flexibilidade das empresas

estrangeiras que têm, normalmente, actividades em vários países do mundo,

o que lhes dá um conjunto de ligações internacionais privilegiadas e um

grande conhecimento do mercado internacional.

4. DETERMINANTES DO IDE EM PORTUGAL

Como é sabido a decisão de investir no exterior é tomada com base num vasto

conjunto de variáveis58. Dunning (1977) sistematizou esse conjunto de variáveis na

chamada “Teoria Ecléctica”. Segundo ele, a decisão de IDE por parte das empresas

multinacionais baseia-se na detenção de vantagens que subdividem em três grupos:

1) Vantagem específica da empresa: vantagem detida por uma dada empresa

que lhe permite deter uma superioridade face aos concorrentes no mercadoexterno.

2) Vantagem de internalização: vantagem que uma companhia obtém pelo facto

de internalizar uma dada actividade em vez de a transferir para uma outra

empresa no mercado externo (exemplo: filial produtiva em vez de

licenciamento).

3) Vantagem de localização: estas vantagens têm a ver com as características do

 país de destino do IDE. Incluem as barreiras comerciais, mercado de

trabalho, recursos naturais, proximidade aos mercados finais, infra-estruturasde transporte e comunicação, intervenção governamental, etc.

Dado que tanto as vantagens específicas como as vantagens de internalização têm a

ver, fundamentalmente, com a empresa, a análise destas vantagens não é relevante

 para o nosso estudo. Interessa-nos sim, avaliar as vantagens de localização que 

58 Segundo Simões, V. (1992), “o desenvolvimento do investimento internacional é função de factoresde ordem diversa, que podem ir desde as estratégias das empresas que investem no exterior, até às

condições objectivas do país de implantação de investimento, como a dotação em recursos naturais, adimensão do mercado, o nível de remuneração e formação dos trabalhadores, a capacidade edinamismo endógenos e o enquadramento económico e politico”.

65

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Portugal detém, e desta forma averiguar da importância deste tipo de vantagem como

determinante de IDE.

a) Enquadramento político, económico e social: a estabilidade política,

económica e social vivida a partir de 1986, contribuiu significativamente

 para o crescimento do IDE.

 b) Remuneração do factor trabalho: Morais, H. (1994), concluiu que o IDE em

Portugal não é atraído apenas pela existência de mão-de-obra “barata”: Nos

sectores da alimentação e dos têxteis as empresas participadas têm uma

maior componente salarial do que as empresas nacionais. Fontoura (1996),

foi mais longe ao concluir que os sectores que tem uma componente salarial

mais elevada recebem comparativamente mais investimento externo que as

de componente salarial mais baixa.

c) Enquadramento legal: a simplificação dos procedimentos associados àsliquidações cambiais relativas ao IDE (Decreto-lei n.º 197 D/86 de 18 de

Julho) e ainda a substituição do sistema de autorização casuística pelo

sistema de autorização prévia (1986) contribuíram para o crescimento do

IDE. Com a liberalização total dos movimentos de capital e com a instituição

do sistema de registo à posteriori, o IDE, em Portugal, por parte dos países

Comunitários, não sofre hoje em dia praticamente nenhum entrave (à

excepção dos limites à aquisição de capital de empresas a privatizar).

d) Inexistência de capacidade produtiva interna: O IDE em Portugal tem sido

canalizado para alguns sectores em que não parece existir uma capacidadeinterna para satisfazer a procura, o que significa que no caso português a

ausência dessa capacidade produtiva é um determinante de IDE.

e) Recursos naturais: o aproveitamento dos recursos naturais tem sido um

determinante importante de IDE em Portugal, se bem que com um papel cada

vez menos relevante. Nesse sentido saliente-se o caso das indústrias

extractivas que representavam 4,3% do IDE, em 1986, e passaram a

representar 0,1%, em 1995.

f) Privatizações: Segundo Quina (1989), o processo de privatização dasempresas públicas teve um papel relevante na captação de IDE, isto apesar

dos não residentes só poderem ter acesso a uma percentagem das acções

emitidas.

g) Descapitalização e reduzido grau tecnológico das empresas portuguesas:

Uma grande percentagem do IDE foi dirigido para a aquisição de empresas

descapitalizadas ou mesmo falidas. Essas empresas, que normalmente,

apostavam mais na transferência de tecnologia do exterior do que no

investimento próprio em I&D, foram um alvo preferencial do IDE.

66

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h) Atitudes face ao IDE: Portugal tem uma atitude favorável face ao IDE

consubstanciada, por exemplo, na existência de incentivos financeiros e

fiscais ao investimento. Neste sentido, saliente-se o papel dos apoios

comunitários que terão sido, talvez, um dos determinantes mais importantes

do IDE

59

. Refira-se ainda que a liberdade de estabelecimento dos nãoresidentes nos sectores abertos à iniciativa privada e a garantia de

repatriamento, para o país de origem, de lucros e dividendos gerados pelo

IDE, contribuiu também para o fomento do IDE.

Apesar destes elementos positivos no que toca à captação de IDE, o que é

certo é que em termos de promoção do IDE por parte das entidades nacionais

existem algumas lacunas. Nesse sentido destaca-se o papel pouco dinâmico

do ICEP que, na maioria das suas representações no estrangeiro, não tem

nenhum responsável que trate, em exclusivo, dos problemas relativos à

 promoção do IDE.

5. BENEFÍCIOS E CUSTOS ASSOCIADOS AO IDE.

Ferreira, E. (1984) considera que os benefícios associados ao IDE podem ser de

dois tipos: estáticos e dinâmicos.

Os benefícios de tipo estático, tais como os associados à melhoria da Balança de

Pagamentos (BP) ou diminuição do desemprego, não alteram substancialmente a

capacidade de desenvolvimento do país recipiente de IDE.

Por outro lado, os benefícios dinâmicos têm um efeito positivo na capacidade decrescimento da economia receptora de IDE. Assim, num dado país, a introdução, por

 parte das empresas estrangeiras, de inovações científicas, modos de produção e

métodos de gestão, pode beneficiar as empresas domésticas (através do chamado

“efeito demonstração”). Por outro lado, a mão-de-obra formada nas empresas

receptoras de IDE, pode, ao transferir-se para as empresas domésticas, aplicar os

“conhecimentos” adquiridos e assim promover o desenvolvimento desta.

Com base nesta “grelha de leitura” proposta por Ferreira, E. (op. cit.) as conclusões

que retiramos para a economia portuguesa em termos de benefícios estáticos são as

seguintes:1) Emprego: em média as empresas estrangeiras empregam mais trabalhadores

que as empresas portuguesas. Este facto é, contudo, pouco relevante uma vez

que apesar de podermos concluir que, em média, as empresas estrangeiras

são maiores que as empresas portuguesas, nada nos garante acerca dos

ganhos ou perdas de emprego que ocorreriam se as empresas estrangeiras

fossem substituídas por empresas domésticas de dimensão semelhante.

59

  Segundo Fontoura (1996), o papel dos incentivos no âmbito do PEDIP não parece relevante nadecisão de investir por parte dos investidores estrangeiros. Refira-se que a obtenção destes resultados,reside no facto de no período estudado por Fontoura, os apoios e incentivos estarem a escassear.

67

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2) Balança de Pagamentos: o impacto na BP pode ser analisado em termos de

 balança comercial e balança de capitais. No que se refere à balança de

capitais verificamos que as entradas de capitais para investimento directo

vieram preencher o “gap” entre poupança interna e as necessidades de

investimento existentes em Portugal (tab.15).Por outro lado, e no que toca à balança comercial, sabemos que,

empiricamente, está demonstrado que as empresas estrangeiras têm mais

tendência para se abastecer no mercado externo do que as empresas

nacionais, o que pode contribuir para uma deterioração da balança comercial

do país receptor de IDE. Contudo, e apesar da propensão a importar das

empresas estrangeiras ser maior do que a das nacionais, também é certo que,

segundo Morais, H. (1994), a performance exportadora das empresas

estrangeiras é melhor do que a das nacionais. Em termos de resultado

“líquido”, Ferreira, E. (1984) concluiu que o impacto do IDE na balançacomercial é negativo (tab.16).

A avaliação dos benefícios dinâmicos é dificilmente mensurável, sendo os únicos

dados disponíveis referentes à transferência de tecnologia (tab.17).

Saraiva, A. (1996) analisando a “balança de pagamentos tecnológica” portuguesa60 

concluiu que Portugal é um receptor líquido de tecnologia. Segundo Saraiva, A. (op.

cit.) “ o défice da balança tecnológica aumentou de 19,4 milhões de contos, em 1990,

 para 49,5 milhões de contos, em 1992”, sendo 45% das importações de tecnologia

realizadas por empresas participadas por capital estrangeiro, o que significa que os

investidores estrangeiros transferiram algumas actividades de I&D do país de origem para Portugal.

Relativamente aos custos associados ao IDE para o caso português eles foram na

nossa opinião muito reduzidos. Assim, e para além do eventual efeito negativo sobre a

 balança comercial referido anteriormente, não se vislumbram outros custos

significativos.

6. PORTUGAL FACE A OUTROS DESTINOS DE IDE

Os anos oitenta marcam claramente um ponto de viragem no que toca ao IDE. Se, por um lado, até essa época os fluxos de IDE tinham alguma orientação “Norte - Sul”,

a partir daí tomaram uma orientação claramente “Norte-Norte” com grande parte do

IDE a ter como origem e destino a Tríade (EUA-UE-Japão).

Por outro lado, é também a partir da década de oitenta (principalmente de 1985)61 

que o IDE conheceu um crescimento particularmente rápido, crescimento esse que se

manteve até 1990, altura em que, paralelamente, se entrou na fase descendente do 

60 Relativamente aos pagamentos e recebimentos com o exterior, sobre o uso de activos e direitos de

 propriedade intangíveis, tais como: patentes, fórmulas, “designs”, “copyrights” e direitos de fabrico.61 Os fluxos de IDE passaram de uma média anual de 50 biliões de USD/ano, em 1981-1985, para umamédia anual de 155 biliões de USD/ano, em 1986-1990.

68

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ciclo económico. Em 1993 o IDE retomou a tendência de crescimento (fig.12 e

tab.18).

FIGURA 12

.0

50

100

150

200

   B   i   l   i   õ  e  s   d  e

   d  o   l  a  r  e  s

.

FLUXOS MUNDIAIS DE IDE

1981-1985 (média)

1986-1990 (média)

1991

1992

1993

 

Em termos de destinos e origens do IDE registe-se que as grandes alterações dão-

se também a partir da década de oitenta. Os EUA, torna-se o principal destino de IDE,

vindo a perder para o Japão a posição que detinha como principal origem.

Por outro lado dá-se na segunda metade da década de oitenta um “Boom” de IDE

no leste e sudeste asiático. Refira-se nomeadamente os casos da China, Singapura,

Malásia, Hong-Kong e Taiwan (fig.13 e tab.19). Nestes países o crescimento do IDE

de 1985 a 1992 foi em muitos casos superior a 500%62.

FIGURA 13

1985 1990 19920

2000

4000

6000

8000

10000

12000

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e

   d  o   l  a  r  e  s

1985 1990 1992

O IDE NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO (OS MAIORES RECEPTORES DE IDE)

  CHINA

SINGAPURA

HONG KONG

TAILANDIA

TAIWAN

INDONÉSIA

MALÁSIA

MÉXICO ARGENTINA

BRASIL

 

Positivo terá sido também o comportamento do IDE em alguns países da América

latina. Refira-se o caso do México, que passou de 491 milhões de USD, em 1985, para

5366 milhões de USD, em 1992, e a Argentina, que passou de 919 milhões de USD,

em 1985, para 4179 milhões de USD, em 1992. O Brasil, apesar de ser um dos 

62 Refira-se que grande parte do sucesso destas economias se deve, precisamente, ao IDE.

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maiores receptores de IDE da América latina, registou um crescimento muito ligeiro

nas entradas de IDE.

Paralelamente à dinâmica de captação de IDE por parte dos países referidos

anteriormente, saliente-se o comportamento registado pelos Países da Europa Central

e Oriental (PECO)

63

 a partir de 1989 (fig.14 e tab.20). A titulo de exemplo refira-se ocrescimento do IDE na ex-Checoslováquia, que passou de 256 milhões de USD, em

1989, para 1900 milhões de USD, em 1992, enquanto na Polónia e na Hungria terá

subido de, respectivamente, 100 milhões de USD e 550 milhões de USD, em 1989,

 para 1400 milhões de USD e 4300 milhões de USD, em 1992.

FIGURA 14

1989 1990 1991 19920

1000

2000

3000

4000

5000

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e   d  o   l  a  r  e  s

1989 1990 1991 1992

O IDE NOS PAISES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL

BULGÁRIA

EX-CHECOSLOVAQUIA

HUNGRIA

POLÓNIA

ROMÉNIA

 

Se fizermos uma análise comparativa entre Portugal e os países referidos

anteriormente, em termos de fluxos anuais de IDE (tab.20), verificamos que Portugal

tem perdido importância como destino de IDE. Assim, se em 1990, apenas a China e

Singapura receberam mais IDE que Portugal, em 1992, fomos também ultrapassados

 pelo México, Malásia, Hungria e Argentina, o que significa que passamos do terceiro

 para o sétimo lugar do “ranking”.

Do exposto anteriormente é de esperar que, quer os países do leste e sudeste

asiático, quer os países da América latina, que revelam um forte dinamismo na

captação de IDE, são potenciais competidores de Portugal como destino de IDE64.

Todavia, na nossa opinião, são os PECO os nossos principais competidores em termos

de captação de IDE. Esta conclusão baseia-se no seguinte:

a) Enquadramento legal e apoio institucional: os PECO, logo após as

transformações políticas em finais de 1989, encetaram uma “cruzada” para

captar o investimento estrangeiro. Apesar dos enormes progressos 

63 Vamos considerar como PECO’s a Bulgária, Ex-Checoslováquia (República Checa e Eslovaquia),Hungria, Polónia e Roménia.64 Este facto resulta, principalmente, da existência nesses países de custos de trabalho inferiores aos

registados em Portugal (e níveis de produtividade semelhantes), o que, como já vimos anteriormente pode ser um determinante importante de IDE em alguns sectores de actividade em Portugal,nomeadamente nos têxteis.

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verificados nesta área existem no entanto ainda alguns entraves legais, tais

como os relativos ao repatriamento dos lucros.

Estes pequenos entraves têm, contudo, tendência a desaparecer, sendo de

esperar que a breve trecho exista uma harmonização quase absoluta do

enquadramento legal relativo ao IDE, entre os PECO e a UE (este factotorna-se ainda mais evidente face à previsível adesão de alguns dos PECO à

UE).

Aspecto importante é também o do processo de privatização encetado pelos

PECO no início da década de 90. Uma vez que nesses países o processo está

numa fase inicial enquanto em Portugal já está numa fase de maturidade,

 podemos afirmar que as oportunidades futuras de investimento baseadas

neste aspecto são muito maiores nos PECO do que em Portugal.

Por fim, e no que se refere aos apoios institucionais a situação que era

manifestamente favorável a Portugal no final da década de oitenta (devidoaos fundos estruturais) deixou de o ser, fundamentalmente a partir de 1992-

93, sendo previsível que a lógica de benefícios de que Portugal usufruiu seja

aplicada também aos PECO.

 b) Acesso a mercados: os PECO, pelo facto de estarem situados no centro da

Europa, têm um acesso privilegiado a mercados como o alemão, austríaco,

sueco e finlandês, entre outros. Este factor, associado à própria dimensão dos

PECO fará com que as decisões dos investidores sejam favoráveis a estes

 países em detrimento de Portugal (ceteris paribus).

c) Custo do trabalho e mercado de trabalho: com custos unitários do trabalho

mais baixos65  e com níveis de produtividade muito próximos dos

 portugueses, os PECO apresentam também neste aspecto uma clara

vantagem sobre Portugal. Acresce a isto o maior nível educacional da

 população e ainda a maior flexibilidade do mercado de trabalho.

7. CONCLUSÕES

As principais conclusões que podemos retirar acerca do investimento directo emPortugal podem ser sintetizadas no seguinte:

a) O IDE registou um crescimento acelerado após a adesão à Comunidade,

tornando-se um elemento fundamental no crescimento e desenvolvimento da

economia portuguesa (em 1990 o IDE representava 16,9% da FBCF e 4,6 do

PIBpm).

65 Segundo Halpern (1994), o salário por hora de um trabalhador da indústria em 1992 era de $1,5 USDna Polónia, $2 USD na Checoslováquia, $2,5 USD na Hungria e de $5 USD em Portugal.

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 b) O reforço de investimento tem um papel preponderante como meio de

aplicação de capitais externos em investimento directo (82,8% do total do

IDE, em 1995).

c) Quase 80% do IDE tem origem na UE, sendo a França e o Reino Unido os

nossos principais investidores. Registe-se o crescente papel da Espanha comoorigem de IDE.

d) Podemos distinguir duas fases no que se refere à distribuição do IDE por

actividades económicas. Numa primeira fase (1986-1992) regista-se uma

quebra na importância da “indústria transformadora” (47% do total do IDE,

em 1986, e 16,8%, em 1992) e um acentuado crescimento da importância do

sector financeiro (17,5%, em 1986, e 65,8%, em 1992). Numa segunda fase

(1993-1995), a indústria transformadora vê a sua importância crescer (22,3%,

em 1993 e 60,5%, em 1995) enquanto a importância do sector financeiro

decresceu (59,3%, em 1993, e 21,8%, em 1995).

e) O IDE está concentrado, fundamentalmente, no distrito de Lisboa (com mais

de 60% do IDE até 1994), Porto e Setúbal, que juntos absorvem mais de 80%

do IDE total.

f) As empresas estrangeiras têm um comportamento mais dinâmico do que as

suas congéneres nacionais. Em primeiro lugar, o valor acrescentado por

unidade produtiva é mais do triplo do das unidades produtivas nacionais. Em

segundo, a produtividade do trabalho é superior nas empresas estrangeiras. E

 por fim, em terceiro lugar, verifica-se que a performance exportadora dasempresas estrangeiras é superior à das nacionais.

g) A estabilidade política, económica e social; os apoios financeiros e fiscais

 por parte do Estado português e da Comunidade; o enquadramento legal

favorável; e as oportunidades de negócio resultantes do processo de

 privatizações, têm favorecido claramente o IDE em Portugal. Apesar de

muitos autores considerarem que, quer os recursos naturais, quer os custos de

trabalho, têm sido determinantes importantes do IDE em Portugal, o que é

certo é que se verifica, por um lado, que os sectores com uma componentesalarial mais elevada recebem comparativamente mais investimento externo

que os de componente salarial mais baixa, e por outro lado, que o

aproveitamento de recursos naturais tem um papel cada vez menos relevante

como determinante do IDE em Portugal.

h) Podemos afirmar que os benefícios, para Portugal, resultantes do IDE,

superam claramente os custos.

i) Os países do sudeste e leste asiático, os países da Europa central e oriental

(PECO) e alguns países da América latina são potenciais competidores de

Portugal como destino de IDE. Saliente-se, contudo, que o maior perigo virá 

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dos PECO que apresentam um conjunto de vantagens de localização iguais

ou melhores que as de Portugal.

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ANEXOS

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TABELA 1: EVOLUÇÃO DO IDE POR PAÍS DE ORIGEM (Milhões de escu

1969-1974a)

% 1975-1979 % 1980-1985 % 1986-199c)

Reino unido 1628 15,1 804 5,4 16033 16 682França 410 3,8 1678 11,3 13677 13,6 514

Espanha 2228 2,2 403Alemanha 2452 22,7 2111 14,3 6247 6,2 239

Outros 369 3,4 2031 13,7 8775 8,7 546UE 4859 45,1 6624 44,8 46960 46,8 2387

EUA 1779 16,5 2584 17,5 20945 20,9 176Suíça 167 1,5 3091 20,9 10811 10,8 231Japão 185 1,7 107 0,7 2417 2,4 25Outros 2506 23,2 1065 7,2 9326 9,3 98OCDE 9496 88,1 13471 91,1 90459 90,1 2918

Resto do Mundo 1288 11,9 1315 8,9 9915 9,9 349Total 10784 100 14786 100 100374 100 3268

Fonte: Banco de Portugala) Os valores dos anos de 1969 a 1976 incluem o investimento imobiliário. b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário.

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 TABELA 2: EVOLUÇÃO DO IDE POR ACTIVIDADE ECONÓMICA (Milhões de e

1969-1974 % 1975-1979 % 1980-1985 % 1986-199c)

Agricultura, silvicultura, caça e pesca 233 3,2 175 1,3 2291 2,3 22Indústrias extractivas 866 11,8 1328 9,7 6062 6 15

Indústrias transformadoras 3248 44,3 6350 46,6 45350 45,2 970Electricidade, gás e água 24 0,3 65 0,1 61

Construção e obras públicas 495 6,8 361 2,7 1891 1,9 147Comércio, restaurantes e hotéis 1650 22,5 3919 28,8 21301 21,2 331

Transportes, armazenagem ecomunicações

25 0,3 96 0,7 1336 1,3 37

Bancos e OIF, Seguros, operaçõesimóveis e serv. Prest. Empresas

a) 595 4,4 18755 18,7 1624

Ser. Colectividades sociais e pessoais 790 10,8 243 1,8 3210 3,2 16Actividades mal definidas 554 4,1 113 0,1 41

Total 7331 100 13621 100 100374 100 3268Fonte: Banco de Portugala) Até 1974, “Comércio, Bancos, Seguros e Operações sobre imóveis” era um sector único, não existindo desagregaçã b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário.

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TABELA 3: EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO DIRECTO E IMOBILIÁRIO ESTRANGEIRO(Milhões de escudos)

Anos Invest.Directo

A

Desinv.Directo

B

Invest.DirectoLíquidoC=A-B

Invest.Imobili.

D

Desinv.Imobili.

E

Invest.Imobil.LíquidoF=D-E

IDETotal

G=A+D

Desinv.DirectoTotal

H=B+E

Invest.Directo

Tot. Liq.I=G-H

1963 343 7 336 - - - 343 7 3361964 280 12 268 - - - 280 12 2681965 666 12 654 - - - 666 12 6541966 725 26 699 - - - 725 26 6991967 615 26 589 - - - 615 26 5891968 559 74 485 - - - 559 74 4851969 497 39 458 264 - 264 761 39 7221970 574 30 544 252 - 252 826 30 7961971 1047 66 981 531 - 531 1578 66 15121972 1341 50 1291 746 - 746 2087 50 20371973 1801 295 1506 969 - 969 2770 295 24751974 2069 294 1775 692 - 692 2761 294 24671963-74 10517 931 9586 3454 0 3454 13971 931 13040

1975 2309 505 1804 788 - 788 3097 505 25921976 1866 363 1503 379 - 379 2245 363 18821977 2180 207 1973 379 66 313 2559 273 22861978 2772 315 2457 612 149 463 3384 464 29201979 4492 2144 2348 1633 145 1488 6125 2289 38361975-79 13619 3534 10085 3791 360 3431 17410 3894 135161980 6324 466 5858 2324 288 2036 8648 754 78941981 9079 557 8522 2672 310 2362 11751 867 108841982 9662 730 8932 3135 529 2606 12797 1259 115381983 13297 595 12702 4227 198 4029 17524 793 167311984 25005 47 24958 6264 317 5947 31269 364 309051985 37007 1081 35926 10628 204 10424 47635 1285 463501980-85 100374 3476 96898 29250 1846 27404 129624 5322 124302

1986 25044 1919 23125 12964 176 12788 38008 2095 359131987 51399 7201 44198 21471 207 21264 72870 7408 654621988 99545 4678 94867 39576 1312 38264 139121 5990 1331311989 268109 11765 256344 38281 5264 33017 306390 17029 2893611990 440981 55027 385954 53390 8188 45202 494371 63215 4311561991 508773 149731 359042 31364 7579 23785 540137 157310 3828271992 454264 150413 303851 27904 23489 4415 482168 173902 3082661993 452037 220714 231323 18021 5554 12467 470058 226268 2437901994 322892 130814 192078 21561 5445 16116 344453 136259 2081941995 581751 515897 65854 24334 10288 14046 606085 526185 799001986-95 3204795 1248159 1956636 288866 67502 221364 3493661 1315661 2178000Total 3329305 1256100 2073205 325361 69708 255653 3654666 1325808 2328858Fonte: Banco de Portugala) A partir de 1989, os dados do investimento directo incluem os empréstimos reembolsáveis com carácter de

investimento directo. b) A partir de meados de 1991, o investimento imobiliário apenas considera os investimentos realizados por

 particulares, com fins não empresariais.

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TABELA 4: INVESTIMENTO E DESINVESTIMENTO DECLARADOS E REALIZADOS (Milhõe

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992

  Valorabsoluto

Valorabsoluto

Valorabsoluto

Valorabsoluto

Valorabsoluto

Valorabsoluto

Valorabsoluto

INVESTIMENTODeclarado a) e) 24299 61627 138053 385763 524569 660722 676153Realizado c) d) 25044 51399 99545 268109 440981 508773 454264Grau de Realização 102,2% 83,4% 72,1% 69,5% 84,1% 77% 67,2%DESINVESTIMENTODeclarado b) - - - 21059 68279 154812 210568Realizado c) d) 1919 7201 4678 11765 55027 149731 150413Grau de realização - - - 55,9% 80,6% 96,7% 71,4%INVESTIMENTO

LÍQUIDODeclarado - - - 364704 456291 505911 465585Realizado c) d) 23125 44198 94867 256344 385955 359041 303851Grau de Realização - - - 70,3% 84,6% 71% 65,3% a) Para o investimento declarado até 1992 a fonte é o ICEP (via BP), enquanto a partir de 1992 a fonte é o ICEP (direc b) O desinvestimento declarado não está disponível para os anos de 1986 a 1988 e 1993 a 1995c) A partir de 1989, os dados incluem os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.d) A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário.e) O investimento declarado para 1995 não inclui o mês de Dezembro, altura em que deixou de ser exigida declaração

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TABELA 5: PESO DO IDE NA FBCF E NO PIB

IDE/FBCF IDE/PIBpm

ANOS % Var. % % Var. %1986 2 0,51987 3,2 58,1 0,9 75,51988 5,1 58 1,4 65,61989 12 134,7 3,3 127,61990 16,9 40,8 4,6 401991 17 0,9 4,5 -1,71992 13,3 -22,1 3,5 -22,41993 14,2 6,8 3,4 -21994 9,7 -31,6 2,4 -31

Fonte: Banco de Portugal

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TABELA 6: NÚMERO DE INVESTIDORES E DE EMPRESAS RECEPTORAS DE I

1989 1990 1991  Quantidade Var. % Quantidade Var. % Quantidade V

INVESTIMENTOInvestidores 2625 3160 20,4% 2805 -Empresas receptoras deinvestimento

1650 1970 19,4% 1838 -

DESINVESTIMENTODesinvestidores 127 215 69,3% 288Empresas objecto dedesinvestimento

95 176 85,3% 260 4

INVESTIMENTO LÍQUIDOInvestidores 2498 2945 17,9% 2517 -Empresas receptoras de

investimento

1555 1794 15,4% 1578

Fonte: Banco de Portugal

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TABELA 7: IDE POR TIPO DE OPERAÇÃO (Milhões de escudos)

1989 a) 1990 1991 1992 Valor 

absolutoValor 

absoluto% % Valor  

absoluto% Valor  

absoluto% V

absNOVOS INVESTIMENTOS 36467 13,6 35303 8 64804 12,7 37245 8,2Constituição de empresas 27500 10,3 29120 6,6 48656 9,6 30996 6,8Abertura de sucursal/escritório derepresentação

8968 3,3 6183 1,4 16148 3,2 6249 1,4

REFORÇO DE INVESTIMENTO 157339 58,7 288109 65,3 326623 64,2 342047 75,3 3Aumento de capital 82898 30,9 159199 36,1 174395 34,3 222678 49 1Prestações suplementares de capital b) 27274 10,2 66375 15,1 112393 22,1 60254 13,3Empréstimos e suprimentos c) 47167 17,6 62535 14,2 39835 7,8 59116 13AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTOSEXISTENTES

67327 25,1 109950 24,9 112416 22,1 68643 15,1

DIVERSOS d) 6976 2,6 7620 1,7 4929 1 6328 1,4TOTAL 268109 100 440981 100 508773 100 454264 100 4

 

Fonte: Banco de Portugal

a) esta classificação por tipo de operação só está disponível a partir de 1989 b) Esta rubrica inclui as reintegrações de capital.c) esta rubrica inclui os empréstimos reembolsáveis e os não reembolsáveis, com carácter de investimento directo e transferência para o saneamed) A partir de 1993, os dados incluem o investimento imobiliário realizado por particulares.

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 TABELA 8: IDE POR PAÍS DE ORIGEM (1986-1995) (Milhões de escudos)

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992

Valor % % Valor % Valor Valor % Valor % % VValor % ValorFrança 2467 9,9 5031 9,8 10695 10,7 46,635 17,4 71,745 16,3 55265 10,9 84963 18,7

Reino Unido 9705 1125538,8 21,9 25059 25,2 54361 20,3 88457 20,1 103692 20,4 120,748 26,6 1

Espanha 2029 8,1 8018 15,6 9069 9,1 37767 14,1 59747 13,5 62985 12,4 35,149 7,7

Alemanha 2670 10,7 3713 7,2 7265 7,3 11817 4,4 23636 5,4 18720 3,7 25651 5,6 4

Holanda 588 2,3 1566 3 7744 7,8 14603 5,5 21378 4,8 29257 5,8 30978 6,8

Luxemburgo 553 2,2 1989 3,9 5625 5,7 7947 3 15428 3,5 27740 5,5 36947 8,1

Outros 1094 4,4 2263 4,4 3303 3,3 12035 4,5 31652 7,2 50149 9,9 13688 3

UE 19106 76,3 33835 65,8 68760 69,1 185165 69,1 312043 70,8 347807 68,4 348124 76,6 3

Suíça 2267 9,1 4403 8,6 6642 6,7 15356 5,7 26091 5,9 28086 5,5 13925 3,1

EUA 2154 8,6 7360 14,3 11677 11,7 3509 1,3 13757 3,1 40226 7,9 16737 3,7

Japão 173 0,7 1132 2,2 791 0,8 1453 0,5 9797 2,2 4982 1 1701 0,4

Outros 364 1,4 1085 2,1 4525 4,5 19327 7,2 24561 5,5 12630 2,5 11006 2,4

 OCDE 24064 96,1 47815 93 92395 92,8 224810 83,9 386250 87,6 433732 85,3 391493 86,2 4

Resto Mundo 980 3,9 3584 7 7150 7,2 43299 16,1 54731 12,4 75041 14,7 62771 13,8

Total 25044 100 51399 100 99545 100 268109 100 440981 100 508773 100 454264 100 4Fonte: Banco de Portugala) A partir de 1995, a UE passou a incluir a Suécia, Finlândia e Áustria. b) Os dados incluem, a partir de 1989, os empréstimos reembolsáveis com carácter de investimento directo.

c) A partir de 1993, os dados incluem os investimentos imobiliário.

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TABELA 10: IDE POR DISTRITO DE LOCALIZAÇÃO (Milhões de escudos)

1989 1990 1991 1992 1993 a) 1994

Valor % Valor % Valor % Valor % Valor % Valor %AVEIRO 7611 3,4 30024 7,5 10281 2,2 5936 1,5 7737 2,8 6996 3BEJA 2588 1,2 567 0,1 425 0,1 571 0,1 67 0,0 149 0BRAGA 2322 1 4754 1,2 3453 0,7 10056 2,5 5672 2,1 1969 0BRAGANÇA 13 0 35 0 63 0 151 0 148 0,1 49 0CASTELO BRANCO 1938 0,9 2533 0,6 2905 0,6 2233 0,5 466 0,2 849 0COIMBRA 953 0,4 8439 2,1 2902 0,6 1085 0,3 8222 3,0 2446 1ÉVORA 549 0,2 495 0,1 297 0,1 461 0,1 334 0,1 313 0FARO 12006 5,4 8792 2,2 6525 1,4 6431 1,6 6613 2,4 2239 1FUNCHAL 1285 0,6 539 0,1 407 0,1 685 0,2 - -GUARDA 8 0 277 0,1 802 0,2 366 0,1 11 0,0 43 0LEIRIA 2225 1 1735 0,4 2590 0,6 5843 1,4 954 0,3 4160 1

LISBOA 156223 70,1 270227 67,1 360581 76,8 330917 81 167550 61,3 173493 74PONTA DELGADA - - 20 0 1 0 - - - -PORTALEGRE 49 0 179 0 67 0 435 0,1 358 0,1 1163 0PORTO 28413 12,8 57044 14,2 54462 11,6 22195 5,4 53342 19,5 22097 9SANTARÉM 894 0,4 3694 0,9 1036 0,2 1946 0,5 13603 5,0 876 0SETÚBAL 4930 2,2 8888 2,2 16911 3,6 17591 4,3 5509 2,0 11703 5VIANA DO CASTELO 223 0,1 2434 0,6 2427 0,5 915 0,2 832 0,3 379 0VILA REAL 203 0,1 798 0,2 441 0,1 0 0 842 0,3 27 0VISEU 267 0,2 1284 0,3 2653 0,6 937 0,2 1054 0,4 4182 1TOTAL 222800 100 402759 100 469230 100,0 408756 100 273314 100,0 233133 100

 

Fonte: Banco de Portugal e ICEPa) Os dados de 1989 a 1992 correspondem a investimento efectivamente realizado, enquanto os dados de 1993 a 1995 correspondem às dec

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TABELA 11: PRESENÇA ESTRANGEIRA NO EMPREGO

1990 1991Postos de

trabalho

Total sector

(%) a)

Empresas

participadas(%) b)

Postos de

trabalho

Total sector

(%) a)

Empresas

participadas (%) b)

Extracção Minérios Metálicos - - - 1767 0,35 85,07Extracção de Minérios não Metálicos 827 0,94 20,17 804 0,8 16,84Alimentação, bebidas, … 10140 11,49 20,18 10733 9,08 19,83Indústrias têxteis, … 13062 30,96 9,64 18763 24,55 12,82Indústrias madeira e cortiça, … 2501 5,64 10,13 1666 4,17 6,7Indústrias papel, artes gráficas, … 2958 5,3 12,75 3325 3,98 14,02Indústrias químicas der. petróleo, … 14221 8,67 37,5 12565 5,61 37,54Indústrias produtos min. não met., … 5871 7,95 16,88 4000 4,65 14,44Indústrias metalurgia de base 2205 2,35 21,46 1296 1,43 15,25Fabricação de produtos metálicos, … 35299 25,07 32,19 34621 18,59 31,24Outras indústrias transformadoras 697 0,77 20,63 816 0,63 21,66

Construção e obras públicas - - - 6387 10,26 10,42Comércio por grosso 1306 0,87 34,31 388 0,39 16,84Restaurantes e Hotéis, … - - - 1447 2,04 11,88transportes e armazenagem - - - 2174 13,3 2,74Oper. S/ imóveis e serv. Empresas - - - 295 0,17 28,92Média 89087 100 - 101047 100 -

 

Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)a) Emprego gerado pelas empresas do sector, em relação ao emprego total das empresas da Central Balanços. b) Emprego gerado pelas empresas estrangeiras, em relação ao emprego total do sector.

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TABELA 12: VALOR ACRESCENTADO POR UNIDADE DE PRODUÇÃO (Milhões de escudos)

1990 1991Empresas

participadas

Empresas não

participadas

Total

empresas

Empresas

participadas

Total

empresas

Empresas nã

participadasExtracção Minérios Metálicos 7607,24 2296,47 20,4Extracção de Minérios não Metálicos 342,2 86,50 67,79 306,32 91,72 78,3Alimentação, bebidas, … 1760,54 271,07 201,44 1472,72 260,57 198,1Indústrias têxteis, … 283,05 133,62 126,37 322,63 131,80 121,9Indústrias madeira e cortiça, … 506,17 57,70 48,91 363,94 52,49 48,3Indústrias papel, artes gráficas, … 1924,94 246,78 181,45 1531,15 216,89 164,4Indústrias químicas der. petróleo, … 1624,33 373,54 183,55 1419,38 326,99 176,4Indústrias produtos min. não met., … 740,89 238,58 202,87 808,85 154,05 126,7Indústrias metalurgia de base 642,00 966,88 1063,14 445,45 577,51 603,1Fabricação de produtos metálicos, … 1344,20 174,98 106,44 1553,41 175,00 104,1Outras indústrias transformadoras 238,75 41,00 34,46 237,30 45,95 39,9Construção e obras públicas - - - 1049,65 105,05 92,9

Comércio por grosso 579,87 182,88 96,87 83,96 62,60 59,1Restaurantes e Hotéis, … - - - 365,12 138,02 122,3transportes e armazenagem - - - 321,00 194,17 190,4Oper. S/ imóveis e serv. Empresas - - - 342,2 63,46 22,6Média 907,9 252,14 210,3 1139,39 305,8 135,6

 

Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)

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 TABELA 13: VALOR ACRESCENTADO POR EMPREGADO (Milhões de escudos)  

1990 1991Empresas

participadas

Total empresas Empresas não

participadas

Empresas

participadas

Total empresas Empresas não

participadasExtracção Minérios Metálicos - - - 12,92 11,06 0,46Extracção de Minérios não Metálicos 3,72 2,78 2,55 3,43 2,94 2,84Alimentação, bebidas, … 4,86 3,38 3,01 5,21 3,74 3,37Indústrias têxteis, … 1,45 1,43 1,43 1,44 1,55 1,56Indústrias madeira e cortiça, … 2,83 1,7 1,57 2,4 1,79 1,74Indústrias papel, artes gráficas, … 10,41 4,54 3,69 8,75 4,53 3,84Indústrias químicas der. petróleo, … 6,85 4,48 3,06 6,55 4,68 3,55Indústrias produtos min. não met., … 3,79 3,1 2,96 4,04 2,78 2,57Indústrias metalurgia de base 2,33 3,29 3,56 2,41 2,92 3,01Fabricação de produtos metálicos, … 3,24 2,45 2,08 3,9 2,81 2,31Outras indústrias transformadoras 1,37 1,52 1,55 1,16 1,6 1,72Construção e obras públicas - - - 3,29 2,7 2,63Comércio por grosso 5,77 3,51 2,32 3,68 3,29 3,21Restaurantes e Hotéis, … - - - 3,78 2,63 2,47transportes e armazenagem - - - 5,46 3,18 3,12Oper. S/ imóveis e serv. Empresas - - - 6,96 2,92 1,28

Média 4,24 2,93 2,52 4,71 3,44 2,48

 

Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)

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 TABELA 14: IMPORTANCIA DAS EXPORTAÇÕES NAS VENDAS TOTAIS (%) 

1990 1991Empresas

participadas

Total empresas Empresas não

participadas

Empresas

participadas

Total empresas Empresas não

participadasExtracção Minérios Metálicos - - - 99,38 97,22 0Extracção de Minérios não Metálicos 29,29 10,10 6,99 37,75 11,74 8,04Alimentação, bebidas, … 10,12 7,12 6,28 11,54 6,36 5,04Indústrias têxteis, … 70,6 50,41 48,04 80,81 52,53 48,48Indústrias madeira e cortiça, … 73,57 37,46 30,79 73,79 35,03 31,22Indústrias papel, artes gráficas, … 65,67 44,12 36,07 57,93 37,32 29,64Indústrias químicas der. petróleo, … 11,04 10,65 9,71 6,98 7,51 9,05Indústrias produtos min. não met., … 30,99 19,58 16,52 28,15 21,33 19,49Indústrias metalurgia de base 41,04 21,18 18,33 35,56 19,26 17,34Fabricação de produtos metálicos, … 51,08 38,46 25,5 50,24 37,36 23,35Outras indústrias transformadoras 47,29 27,7 23,06 67,12 23,11 16,7Construção e obras públicas - - - 0,11 1,92 2,22Comércio por grosso 3,23 3,44 3,68 4,33 6,3 6,77Restaurantes e Hotéis, … - - - 0 0 0transportes e armazenagem - - - 0 0 0Oper. S/ imóveis e serv. Empresas - - - 94,6 58,51 3,37

Média 39,45 24,57 20,45 40,53 25,97 13,79

 

Fonte: Banco de Portugal (extraído de Morais H. (1994) in Determinantes do investimento directo estrangeiro em Portugal: 1987-1992)

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TABELA 15: EVOLUÇÃO DAS NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO EM PORTUGAL(Milhões de contos)

ANOS INVESTIMENTO

POUPANÇAINTERNA

POUPANÇAEXTERNA

IDE

1986 1039 1158 -119 251987 1433 1464 -31 511988 2101 1873 235 1001989 2355 2327 28 2681990 2729 2598 131 4411991 3088 2799 289 5091992 3544 3224 320 4541993 3409 3183 226 4701994 3678 3226 452 345

Fonte: Banco de Portugal.

TABELA 16: IMPACTO DAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS NA BALANÇA COMERIALPORTUGUESA - 1993 (Milhões de escudos)

SECTOR VALORCOMIDA, BEBIDA E TABACO 2197172TEXTEIS 5382087MADEIRA E CARVÃO 894571PAPEL 3667620QUIMICOS -12520914MINERAIS NÃO METÁLICOS 13050METÁIS BÁSICOS -2594267PRODUTOS METÁLICOS, MATERIAL DE TRANSPORTE EMAQUINARIA

-4359948

OUTROS PRODUTOS INDUSTRIAIS 235915COMÉRCIO DE RETALHO, RESTAURANTES E HÓTEIS -47213572TOTAL -54842504Fonte: Extraído de Ferreira, E. (1983)

TABELA 17: BALANÇA DE PAGAMENTOS TECNOLOGICA

ANOS EXPORTAÇÕES DE

TECNOLOGIA

IMPORTAÇÕES DE

TECNOLOGIA

SALDO DA

BALANÇATECNOLÓGICA1990 125 19525 -194011991 2050 33504 -314541992 3461 52954 -494931993 79873 119629 -397561994 72412 -724571995 71005 161756 -90751

Fonte: Banco de Portugal

144869

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TABELA 18: ENTRADAS E SAÍDAS DE IDE (A NÍVEL MUNDIAL)1981-1985 1986-1990 1991 1992 1981-19851993 1986-1990

  Biliões de USD Peso no totPAÍSES DESENVOLVIDOSEntradas 37 130 121 102 109 74 84Saídas 47 163 185 162 181 98 96PAÍSES EMDESENVOLVIMENTOEntradas 13 25 39 51 80 26 16Saídas 1 6 7 9 14 2 4PAÍSES DA EUROPACENTRAL E ORIENTALEntradas 0,02 0,1 2 4 5 0,04 0,1

Saídas 0,004 0,02 0,01 0,03 - 0,01 0,01TODOS OS PAÍSESEntradas 50 155 162 158 194 100 100Saídas 48 168 192 171 195 100 100

Fonte: UNCTAD

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TABELA 19:OS MAIORES RECEPTORES DE IDE: PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

(Milhões de dolares)

PAÍS RECEPTOR DE IDE 1981 1985 1990 1992CHINA 1659 3487 11156SINGAPURA 1660 1047 5263 5635MÉXICO 2835 491 2632 5366MALÁSIA 1265 695 2332 4469BRASIL 2520 1348 901 1454HONG KONG 1088 1728 1918ARGENTINA 837 919 1836 4179TAILANDIA 2444 2116EGIPTO

753 1178TAIWAN 340 1330NIGÉRIA 546 478 897INDÓNESIA 1093 1774TOTAL DOS DOZE MAIORESPAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 11504 8153 23046 38964TOTAL DE TODOS OS PAÍSES EMDESENVOLVIMENTO 15062 13582 31266 51485PESO DO IDE NOS DOZEMAIORES NO TOTAL DO IDEDIRIGIDO AOS PAÍSES EMDESENVOLVIMENTO

76,3% 60% 73,7% 75,7%

Fonte: OCDE

TABELA 20: O IDE NOS PAÍSES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL(Milhões de dolares)

1989 1990 1991 1992BULGÁRIA 300 320

CHECOSLOVÁQUIA 256 436 1100 1900REPÚBLICA CHECA 1669ESLOVÁQUIA 231HUNGRIA 550 1450 3300 4300POLÓNIA 100 352 680 1400ROMÉNIA 113 269 538TOTAL 5649 8458Fonte: OCDE

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TABELA 21: PORTUGAL FACE A OUTROS DESTINOS DE IDE(Milhões de dólares)

1990 1992

País Valor País Valor1 SINGAPURA 5263 1 CHINA 11156

2 CHINA 3487 2 SINGAPURA 56353 PORTUGAL a) 2756 3 MÉXICO 5366

4 MÉXICO 2632 4 MALÁSIA 4469

5 TAILÂNDIA 2444 5 HÚNGRIA 4300

6 MALÁSIA 2332 6 ARGENTINA 4179

7 ARGENTINA 1836 7 PORTUGAL a) 28398 HONG-KONG 1728 8 TAILÂNDIA 2116

9 HÚNGRIA 1450 9 HONG-KONG 1918

10 TAIWAN 1330 10 CHECOSLOVÁQUIA 1900

11 INDONÉSIA 1093 11 INDONÉSIA 1774

12 BRASIL 901 12 BRASIL 1454

13 CHECOSLOVÁQUIA 436 13 POLÓNIA 1400

14 POLÓNIA 352 14 NIGÉRIA 897

15 ROMÉNIA 113 15 ROMÉNIA 538

Fonte: UNCTAD, OCDE e BP.a) Os valores em dólares para Portugal forma obtidos tendo por base uma taxa de câmbioPTE/USD de 160.

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BIBLIOGRAFIA

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Empresas Nacionais e Estrangeiras Residentes em Portugal”,  Boletim Económico, 

Banco de Portugal, Março de 1995.

Ferreira, E (1984), “Foreign Direct Investment in Portugal: The Present Structure,

Determinants and Future Evolution After the Accession to the EEC”,  Ph. D. Thesis,

University of Reading.

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com Equações Simultâneas para o Caso Português.“,  Integração e especialização,

Almedina, Coimbra.

Halpern, L. (1994), “Comparative advantage and Likely Trade Pattern of The

CEECS”, Discussion Paper  nº1003, CEPR.

ICEP, Relatórios do ICEP , 1993 a 1995.

Martin, C. e Gual, J. (1994), “Trade and Foreign Direct Investment With Central and

Eastern Europe: Its Impact on Spain”, Discussion Paper n.º1006 , CEPR

Morais, H. (1994), “Determinantes do Investimento Directo estrangeiro em Portugal:

1987-1992”, Tese de Mestrado, ISEG.

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Quina, A (1989), “Economia Portuguesa”, Centro de estudos Europeus.

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Saraiva, A. (1996), “Efeitos da liberalização do IDE em Portugal”, Banco de Portugal.

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Análise dos Fluxos de Investimento”.Taggart, J. e McDermott, M. (1993), The Essence of International Business, Prentice

Hall.

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A INDÚSTRIA

PORTUGAL VERSUS DRAGÕES ASIÁTICOS

João Abel de Freitas* Julieta Estêvão*

Texto elaborado para o Conselho Económico e Social em Abril de 1997

* Gabinete de Estudos e Prospectiva Económica

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Sumário

1. Âmbito do Trabalho

2. A Economia Asiática: Os Quatro Dragões

2.1. A Indústria nos quatro “dragões” asiáticos

2.2. A situação actual da indústria - breves notas por país

3. A Indústria Portuguesa

3.1. As etapas da industrialização

3.2. O estado actual da especialização da indústria portuguesa

4. As ameaças para Portugal

5. Bibliografia

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1. ÂMBITO DO TRABALHO

Este trabalho insere-se numa reflexão solicitada ao GEPE sobre o tema «a indústria

nacional face à concorrência das economias mais dinâmicas dos países em vias de

desenvolvimento: concorrência no mercado interno português, nos mercados da UE enoutros mercados».

Para a OCDE as economias dinâmicas (ED) são na América Latina, a Argentina, o

Brasil e o Chile e na Ásia, a Coreia do Sul, Hong-Kong, Malásia, Singapura,

Tailândia e Taiwan.

Esta é uma definição datada, de sentido “político-instrumental”, pois não contempla

economias muito dinâmicas como a da China que, nos últimos quinze anos, registou

uma taxa média de crescimento anual de 10% no produto e 17% nas exportações.

Devido à complexidade e diversidade de processos de desenvolvimento não vamos,

neste texto, tratar as ED na versão OCDE.Apenas nos propomos formular umas quantas questões sobre as quatro economias

dinâmicas mais desenvolvidas da Ásia, Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e

Taiwan (os«quatro dragões» como são conhecidos) nas suas semelhanças e diferenças

de modelo de desenvolvimento relativamente ao nosso País e, a partir desse

equacionamento, avançar para o desafio que nos é lançado.

Quadro 1

Dados comparativos

Países PIB nominal10*9 US$

População10*6

PIB por habitanteUS$

Coreia do Sul 284,08 43,27 6564

Hong-Kong 81,47 5,80 14047

Singapura 37,54 2,76 13600

Taiwain 174,28 20,60 8460

E.U.A. 5629,50 250,00 22518

Portugal 68,9 9,81 7021

Fonte FMI (Ano de 1991) e OCDE

A China, no entanto, será uma vez ou outra referenciada (por duas razões, sistema

 político e percurso económico), dado que a sua dinâmica económica tende a tornar-se

determinante para o processo evolutivo de muitas das economias da Ásia e, em

especial de Hong-Kong e Taiwan e, quem sabe se a longo prazo, não o será também

 para a economia mundial. Refira-se a propósito que, no encontro internacional

organizado em Janeiro de 1996 pela OCDE sobre as perspectivas da economia

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chinesa para o século XXI, se salientou que a China «parece destinada a ser uma das

maiores economias (se não mesmo a maior) do próximo século».

Acerca deste cenário possível para a economia chinesa, parece interessante

questionar-se até que ponto o movimento ascendente da entrada da China no mercado

mundial, agora em conjugação com as profundas mutações no Centro e Leste daEuropa e dos seus efeitos ao nível do Terceiro Mundo (demonstração clara de

inviabilidade do «modelo de desenvolvimento» subjacente a este conceito), não vai

trazer ao mundo industrializado (Primeiro Mundo como lhe chamam vários autores)

 problemas novos ou acelerar outros já indiciados.

Assim, em que medida o processo de globalização da economia já em curso no

quadro anterior (antes da queda do muro de Berlim) não terá de «inflectir» sob

diversos aspectos para reflectir questões como a da aproximação tendencial do preço

dos factores de produção, capital, tecnologia, recursos naturais e trabalho, com

especial relevo para este último? Ou seja, dentro de que limites, a elevada reservadisponível de mão-de-obra da Ásia e do Centro e Leste Europeus (esta de elevado

nível de qualificação e com alguma facilidade de adaptação a novas formas de

trabalho) não vai contribuir para “revolucionar” a actual composição do emprego, a

estrutura salarial e até provocar a baixa tendencial dos salários na Europa, Estados

Unidos e Japão? (Aliás, a baixa de salários é já um fenómeno real da sociedade

americana).

E o que advirá para a Europa de todas estas “convulsões” possíveis? A Europa

continuará a perder «peso» económico a nível mundial para a Ásia e outras zonas geo-

económicas? O alargamento ao Leste Europeu contribuirá para a recuperação dacompetitividade europeia?

De tudo isto, não irá resultar uma nova configuração geográfico-mundial das

actividades económicas, eventualmente, pondo em causa os pólos nucleares da Tríade

e gerar e difundir efeitos sociais e políticos de alcance ainda imprevisível?

A reacção dos agentes económicos e das instituições a muitos destes problemas, as

respostas encontradas e os equilíbrios decorrentes e estabelecidos entre as diversas

zonas económicas “irão produzir” a envolvente em que as economias dos países nas

mais diferentes interacções entre si se vão mover e evoluir no futuro.

Com este texto procura-se na abordagem dos problemas referenciados reflectir, ou pelo menos ter subjacente, a complexa situação que poderá decorrer da envolvente-

resultado de todas estas potenciais transformações.

Assim, partindo do tema proposto, organizou-se o texto em quatro partes.

 Nesta primeira, limitamo-nos a umas breves considerações de índole global e a

estabelecer o âmbito do trabalho que se circunscreve às quatro economias dinâmicas

da Ásia de 1.ª geração (industrial), na perspectiva de chamar a atenção para o papel

 potencial e em curso deste Continente na economia mundial do futuro.

 Numa segunda, abordou-se o processo evolutivo dessas quatro economias, na

tentativa de situar “o estado presente” da sua industrialização e perspectivar asevoluções possíveis.

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 Numa terceira caracteriza-se a indústria portuguesa (processo e especialização),

 para numa quarta parte poder confrontar/comparar as potencialidades nacionais nos

mercados internacionais e europeu face às potencialidades das quatro economias

asiáticas.

2. A ECONOMIA ASIÁTICA: OS QUATRO DRAGÕES

 Na década de 50 reinava um elevado «pessimismo asiático» sobre as

 potencialidades de desenvolvimento desta zona.

Um complexo conjunto de factores, entre os quais se destaca o contexto de guerra

fria pela sua importância, veio trazer um elan muito próprio, criando as condições de

relançamento das economias desta área do Pacífico.

É consensual nas análises sobre o processo de desenvolvimento da Ásia do Sueste

que, para o movimento ascendente de algumas das suas economias, foramdeterminantes a abertura do mercado dos EUA aos produtos de origem asiática e as

ajudas financeiras, cujos montantes apenas se compreendem no contexto de guerra

fria, como forma de estancar os efeitos de imitação e de contágio que a experiência

comunista da vizinha China, Coreia do Norte e Vietnam poderia desencadear.

Refira-se que essas ajudas foram acompanhadas de medidas a nível da organização

económica e social, ditadas pela situação concreta regional (elevadas tensões entre os

dois blocos políticos então existentes), o que proporcionou às populações dos

respectivos países certas vantagens como, por exemplo, uma distribuição de

rendimentos menos desigual da que se registava em outras zonas do mundo como aAmérica Latina. Tudo isto contribuiu para «conter»/atingir os efeitos desejados pelos

EUA.

 No entanto, outras condições como a capacidade empresarial e institucional de

implementar uma política económica de promoção de exportações, orientando os

financiamentos para os sectores chave, aliada a uma cultura específica, deram o seu

contributo para o bom desempenho destas economias.

Contudo, cada economia tem as suas próprias especificidades, graus de

desenvolvimento muito diferenciados e relações político-culturais diversas.

A intensidade de relações em desenvolvimento entre a China, Hong-Kong eTaiwan indicia a formação de um «espaço económico chinês» de grande potencial

industrial e comercial. A associação de capitais, de know-how técnico e de comércio

de Hong-Kong com os recursos praticamente inesgotáveis de mão-de-obra chinesa,

está a criar um novo pólo de comércio mundial com impacte já significativo na

geografia das trocas mundiais.

Esta dinâmica entre estes países que tende a fazer «escola» na Ásia e que, de certo

modo conduz a uma integração informal das economias da zona, em parte na

sequência e imitação, quer do processo japonês, quer dos quatro dragões, poderá criar

nesta zona as condições para que a Ásia seja a zona de futuro, com impactes algoimprevisíveis nos mercados mundiais.

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2.1. A indústria nos quatro “dragões” asiáticos

A situação actual da indústria nestes países de primeira vaga de industrialização

recente na Ásia (na década de 80 registou-se uma segunda vaga em países como a

Tailândia, a Malásia, a Indonésia, etc) é o resultado de várias condições.

Após uma primeira experiência do modelo de substituição de importações com

efeitos pouco satisfatórios (anos 50) assiste-se a partir da década de 60 a uma clara

aposta num processo de industrialização destes países com base em:

i) opção por uma política de exportações, alicerçada na implementação de uma

 política industrial orientada para o desenvolvimento das indústrias

tradicionais utilizando as vantagens comparativas do custo da mão-de-obra,

com o têxtil em primeiro plano (décadas de 60 e 70) e uma deslocação para

indústrias de maior tecnologia na década de 80, como a química e o papel e

 posteriormente e, de certa forma em complementaridade para ametalomecânica, para nos dias de hoje a aposta industrial se afirmar na

electrónica e em segmentos de altas tecnologias. Esta política traduziu-se na

canalização de financiamentos preferenciais para os sectores chave em cada

etapa do processo.

ii) forte intervenção dos governos em vários domínios da sociedade e da

economia (regimes autoritários de tipo militar).

iii) protecção dos mercados domésticos com a abertura ao exterior apenas num

único sentido, o que provocou uma certa escassez de produtos

comercializáveis dando origem a altas taxas de poupança. Só recentemente

estes Estados começaram a proceder a uma abertura condizente com as

regras da OMC.

iv) criação de condições para atrair o IDE e o fomento do investimento das

empresas e grupos nacionais através da concessão de ajudas públicas que

ainda hoje, em alguns dos países, desempenham um papel significativo na

dinâmica do investimento. Assinale-se que o tipo de tratamento dado ao IDE

(grau de abertura e condições de atracção mais ou menos permissivas) foi

diferenciado consoante o país.

2.2. A situação actual da indústria - breves notas por país

Estes países apresentam, desde o início dos anos 60, uma especialização industrial

dinâmica em termos comparativos com outras zonas.

Como se referiu, a indústria projecta-se na base de indústrias tradicionais,

evoluindo para sectores de maior conteúdo tecnológico onde a electrónica assume

uma posição destacada nos anos recentes. Esta zona, através de uma aposta clara e

eficaz nas exportações e num esforço de qualificação dos seus recursos humanos e  

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 beneficiando de uma envolvente externa favorável, criou capacidade para evoluir

acompanhando a dinâmica de mudança global.

 No presente, a especialização tende a direccionar-se segundo um duplo eixo:

• o sector perde “sentido “para o segmento, ou seja, a industrialização está a

encaminhar-se para a diferenciação (fomentando a chamada especializaçãointra-sectorial)

• as altas tecnologias estão a internalizar-se nas empresas da zona, potenciando

o aparecimento de novos produtos com maior dinâmica de mercado externo e

interno.

Por outro lado, nas Cidades-Estado de Hong-Kong e de Singapura, a indústria

tende a deixar de ser o motor de crescimento da economia, embora com

diferenciações entre si, sendo os serviços cada vez mais o elemento dinâmico das suas

economias. Estas duas Cidades-Estados são, no essencial, centros financeiros e deserviços a concorrer entre si, embora a versão oficial seja a de complementaridade.

Assinale-se que a indústria não é analisada aqui apenas na perspectiva de perda de

 peso na estrutura produtiva mas na óptica de motor de crescimento directo ou

indirecto da economia no seu todo.

Coreia do Sul

A indústria transformadora da Coreia do Sul está em perda no PIB (32,7% em1987

contra 27,2% em 1992). No entanto, o comportamento sectorial é muito diferenciado, o que não é

indiferente para as questões em análise. Assim:

• Os sectores tradicionais (textil, vestuário e calçado), à excepção da alimentar,

estão em regressão lenta.

• Os sectores de bens intermédios (química, papel, siderurgia e refinação de

 petróleo) estão em evolução lenta.

• O automóvel e a electrónica progridem em ritmo acelerado.

Refira-se que a Coreia do Sul é o primeiro produtor mundial de memórias

electrónicas de alta densidade e o quinto de automóveis, logo atrás da França.

As exportações da Coreia de produtos manufacturados estão em desaceleração para

os mercados dos EUA e UE por três ordens de razões:

• forte deslocalização para os países asiáticos da 2.ª e 3ª vagas de

industrialização por perda de competitividade das empresas coreanas (o

manancial de deslocalização na Asia é quase inesgotável quer de país para

 país quer dentro do próprio país como acontece no caso da China).

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• recentragem das exportações para os mercados de Ásia , que apresentam uma

forte dinâmica de crescimento.

• forte esforço de investimento coreano no exterior em direcção aos países

desenvolvidos e Ásia, embora por motivos diferentes, que se prendem com

as tecnologias e com os mercados. Desde 1990 o investimento coreano noexterior é superior ao IDE, sendo este último dirigido para os serviços

(sistema financeiro, distribuição e hotelaria) enquanto o investimento

coreano é ainda no essencial ligado à indústria (mercados e matérias-primas).

Conjugando esta situação com dois outros parâmetros, a percentagem de despesas

de I&D e a qualificação elevada da mão-de-obra, aliada às medidas eficazes no

âmbito da Ciência e Tecnologia que possibilita à Coreia acompanhar a inovação

tecnológica, poder-se-à apontar para uma especialização futura, integrando segmentos

 produtivos de alta tecnologia e uma componente própria significativa de serviços às

empresas.

Hong-Kong

A indústria transformadora de Hong-Kong dispõe de uma posição reduzida na

economia do país (11% do PIB em 1995). Esta situação é devida a um movimento

massivo relativamente recente de deslocalização de indústrias direccionado sobretudo

 para a China, onde as empresas de Hong-Kong no seu conjunto já empregam quatro

vezes mais assalariados do que no seu próprio Estado. Esta transferência deinvestimento decorrente da procura de condições de produção em situação mais

competitiva permite que os frutos do crescimento sejam bastante distribuidos na

região, contribuindo, assim, para o surgimento de uma classe média com um poder de

consumo significativo, o que por seu lado induz efeitos positivos nas economias da

região.

A indústria no seu conjunto vem apresentando desde 1990 um crescimento

regressivo ou de estagnação, apesar da economia, em idêntico período, ter crescido

entre 4.5 e 5%.

Como “porta” da China, no mais amplo sentido, Hong-Kong é uma Cidade-Estadomuito importante porque funciona de “instrumento” de inserção de tão grande país

nos mercados internacionais.

O Governo tem em curso uma série de medidas de política industrial que visam

sobretudo a desregulamentação na área das telecomunicações e a formação.

Para finalizar estas notas, assinale-se que Hong-Kong é fortemente utilizador de TI,

explorando desde 1995 um sistema que estabelece a ligação das empresas aos serviços

alfandegários, o que constitui um elemento muito “rico” para a gestão das empresas.

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Singapura

A indústria transformadora de Singapura representava 27% do PIB em 1995 e está

em perda, sendo o seu comportamento por sectores semelhante ao da Coreia do Sul.

 No entanto, a estrutura industrial é bastante diferenciada da dos outros Estados namedida em que a electrónica é muito marcante pois representa 42% da produção total

e desde há vários anos vem crescendo de forma acelerada, designadamente nos

segmentos dos semicondutores e equipamentos periféricos.

Em 1995, Singapura era o primeiro exportador mundial de leitores de disco para

computadores

O IDE continua a aumentar a elevado ritmo, sendo os sectores mais atractivos a

electrónica e a química, seguidos da electromecânica, estaleiros navais e aeronáutica.

Os EUA detêm uma posição destacada nos investimentos de Singapura, embora

orientada fundamentalmente para o sector petrolífero.Actualmente, as prioridades preconizadas pelo Governo são o aumento da

competitividade da economia, a elevação do nível de qualificação da mão-de-obra

(apesar de já ser elevado), a atracção de altas tecnologias e o encorajamento das

empresas a investir mais em I&D embora essas despesas representem já 1.1% do PIB,

existindo ainda uma política e um programa de incentivos que, dando consistência a

esta estratégia, procura incrementar este valor.

TaiwanA indústria transformadora de Taiwan está também em perda no PIB. De 1990 a

1995 desceu de 35 para 29%. A indústria de Taiwan teve recentemente de reagir a

desafios como a apreciação da moeda, a alta de salários e a penúria de mão-de-obra

(problema cada vez mais sentido nestes quatro estados) e uma maior exigência

ambiental.

A resposta a estes desafios traduziu-se por um movimento de deslocalização de

empresas para os países da 2ª vaga de industrialização e China e num reajustamento

industrial na direcção de actividades produtivas de maior conteúdo tecnológico e de

valor acrescentado. Em simultâneo, como apoio a esta estratégia de adaptação, foram

lançadas políticas concretas (num plano até 2002) no sentido de fomentar o

desenvolvimento de actividades “high-tech “

Os instrumentos de política são o reforço da cooperação internacional, o apoio ao

investimento directo de Taiwan no exterior em países desenvolvidos (aproximação

aos mercados) e em países em desenvolvimento (aproximação às matérias-primas), a

intensificação de I&D através da participação em projectos internacionais e a

 promoção da utilização racional da energia

Estas medidas são enquadradras por outras de cariz mais transversal como a

criação de um ambiente económico favorável e a protecção do ambiente.

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Assim, a estrutura actual da indústria de Taiwan, caracteriza-se por os sectores

tradicionais, os mais atingidos pelos movimentos de deslocalização, se encontrarem

em regressão, mas onde a produção química, refinação, siderurgia e papel ainda

 progridem e as indústrias de equipamento de transporte e electrónica serem as que

evoluem a ritmo acelerado. Neste contexto, a indústria de Taiwan ganha uma composição em produtos mais

intensivos em tecnologia e, dadas as políticas em curso de desregulamentação, de

 privatizações e de orientação nos domínios do investimento e das “high-tech”, Taiwan

está a criar as condições que lhe permitem melhor enfrentar as alterações dinâmicas

de mercado.

3. A INDÚSTRIA PORTUGUESA

3.1. As etapas da industrialização

O processo de industrialização do nosso País ao longo das suas várias etapas é

muito marcado pela indústria têxtil.

 Na fase “moderna” da industrialização, a lei da Reconstituição Económica (1937)

constitui um marco, pois a ela se ficou a dever o lançamento e fomento das infra-

estruturas e a criação de condições básicas de aceleração do desenvolvimento

industrial.

 No entanto, no termo da sua vigência (1950) não estava concluída a grande maioria

dos projectos lançados.

Daí que se inicie o modelo de substituição de importações (anos 50) com uma

economia predominantemente agrícola e um produto per capita muito baixo para os

 padrões europeus, mesmo para os países menos desenvolvidos e uma indústria

incipiente e reduzida a um núcleo restrito de sectores com algum peso (textil,

cerâmica, alimentar e tabaco).

A década de 50, sobretudo na 2ª metade, é caracterizada por um surto de

industrialização sustentado em um núcleo de indústrias capital-intensivo como os

adubos, o cimento, a pasta para papel, a refinação de petróleo, a siderurgia. De algum

modo, esta dinâmica marca uma ruptura com a concepção de desenvolvimento

“ruralista e comercial” dominante no País e cria a base industrial, génese dos grandes

grupos económicos, nacionalizados em 1974.

Este modelo de industrialização assente numa forte intervenção da máquina

administrativa do Estado (condicionamento industrial, legislação do trabalho,

 barreiras pautuais e não pautais, entraves ao IDE), apesar da dinâmica de

desenvolvimento que imprimiu, gerou um “ambiente” inibidor da prática de

concorrência, o que levou o País a um “fecho” sobre si mesmo. Alguns autores

referem-se mesmo a este período como não havendo uma inserção internacional da

economia de Portugal.

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Porém, como refere Silva Lopes*, Portugal chega a 1960 “no limiar de uma fase de

desenvolvimento sem precedentes na sua história”, com características de claro

subdesenvolvimento e, “com uma indústria baseada em grande parte em unidades que

laboravam com tecnologias pouco avançadas e em actividades de transformação

simples de produtos primários”.

A integração na EFTA

Os anos 60, com a integração na EFTA, caracterizam-se por um desmantelamento

 parcial dos mecanismos de protecção económica. Esta abertura ao exterior originou

uma forte dinâmica das exportações industriais e a penetração do capital estrangeiro

sobretudo em indústrias orientadas para a utilização de matérias-primas nacionais.

Assiste-se, assim, à implementação de um modelo de desenvolvimento virado ao

exterior em associação com o capital estrangeiro, embora com muitos traços de protecção económica dos períodos anteriores, o que origina um perfil de

especialização internacional, influenciada do exterior e com pouca articulação com a

 base industrial orientada para o mercado nacional e infra-estruturas.

Com este novo modelo regista-se o lançamento de um núcleo de industrialização

mais “moderno”, como a indústria naval, a electrónica (em segmentos de tecnologia

 banalizada) e certos segmentos da indústria mecânica não se criando, porém, as

condições de internalização da transferência de tecnologia, nem o conhecimento de

redes de comercialização, pelo menos em grau significativo, de forma a propiciar as

condições de ajustamento estrutural da indústria portuguesa aos mercados externos.Esta dinâmica evolutiva produz alterações na composição do produto industrial e

dada a taxa média de crescimento anual da indústria (8,5%) muito superior à do PIB

(6%), o sector secundário ganha um relevo significativo na estrutura económica.

Este modelo veio obrigar a profundas modificações na máquina do Estado,

designadamente de âmbito institucional, levando à criação de vários organismos para

o apoiar como o Fundo de Fomento de Exportação e ao lançamento de projectos infra-

estruturais como o pólo de Sines.

“A nova política industrial dos finais dos anos 60 aposta nas indústrias da segunda

revolução industrial, embora em fase tardia e desfasada do processo mundial dedesenvolvimento, acreditando desta forma conseguir obter para  Portugal uma

inserção activa da sua economia na economia mundial que permitisse recuperar

o atraso existente”*.

* A economia portuguesa desde 1960* Portugal Moderno - Economia

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Década de 70: Choques petrolíferos e Abril de 1974

A nova política industrial onde a viragem ao exterior constituía um elemento

 positivo, mas onde a aposta na mão-de-obra barata funcionava de contraponto, é

interrompida pelo 25 de Abril sem o teste de sucesso ou insucesso.As alterações políticas do 25 de Abril determinaram uma ruptura da regulação do

sistema económico vigente porque ao nacionalizarem os grandes grupos financeiros

(em número reduzido mas com importância muito forte na economia) “suspenderam”,

em parte, o regime de acumulação privada.

 No entanto, esta ruptura não deu origem a um novo modelo de acumulação de

“natureza mais social”, quer por inexistência de projecto de sociedade aderente à

realidade portuguesa, quer pela crise económica mundial que estava a abalar os

alicerces da 2ª revolução industrial em que sectores como a química, a siderurgia e a

construção naval deixam de ser indústrias “industrializantes” e que, de certa forma,constituíam os alicerces da nossa política industrial.

A indústria portuguesa que “está à porta” da 2.ª revolução industrial vê, assim,

reduzida a sua margem de manobra, tanto mais que não dispõe de “instrumentos

económicos” que lhe permita concorrer em mercados cada vez mais competitivos.

Assim, até à adesão à CEE, o ajustamento do País às novas condições tecnológicas

e de mercado encontra dificuldades que não consegue ultrapassar e a economia vai

“vogando” mais ao sabor de medidas de conjuntura que de ataque aos problemas

estruturais.

A adesão à CEE

Com a adesão criou-se um quadro de estabilidade e o País obteve acesso a fundos e

a programas específicos, como o PEDIP que, numa primeira análise, pareciam criar

condições para o reajustamento estrutural da indústria. Como adiante se verá o

impacte destes programas não terá sido tão modernizador, pois o estado da nossa

indústria não evoluiu segundo as expectativas, ou pelo menos ao ritmo de outras

economias em posição similar, mantendo uma especialização frágil na base de

indústrias e produtos de fraco crescimento económico nos mercados internacionais e,

sobretudo, com empresas com um reduzido conhecimento e domínio das redes de

comercialização.

3.2 O estado actual da especialização da indústria portuguesa

A indústria portuguesa manteve assim, ao longo do tempo, uma hiper-

especialização nos chamados sectores tradicionais que não tem sido atenuada nas

últimas décadas. Na realidade, o grupo de indústrias constituído pelos produtos 

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alimentares e pelas fileiras têxtil, do couro e da madeira representavam, ainda em

1994, 48% do produto.

A quebra da série estatística no final da década de 80 impede-nos de fazer uma

leitura consistente entre a década de 80 e 90. No entanto, durante a década de 80,

registaram-se alguns fenómenos intra-grandes sectores ou fileiras industriais que, aavaliar pelos valores já disponíveis para a década de 90, induzem no sentido de

alterações limitadas.

As alterações de monta na indústria portuguesa e, designadamente as de natureza

qualitativa, não são observáveis em termos de grandes fileiras e/ou de grandes

sectores.

Como se pode ver a distribuição industrial portuguesa por grandes sectores

industriais (Quadro 2) mantém-se praticamente estável.

Quadro 2 %

1990 1994

agroalimentares. 17,1 17,6

textil/couro 24,8 24,2

madeira 5,9 6,2

 papel 8,4 8,9

químicas 9,2 8,3

minerais não metálicos 9,1 10,1

metalurgia 2,9 1,6electromecânica 20,2 22,1

outras 2,3 1,2

Fonte: Estatísticas. das Empresas INE

Apenas a um nível muito fino é perceptivel o deslizamento para produtos de

 procura final e de maior valor acrescentado.

Áreas de especializaçao tradicional

Indústrias agro-alimentares

Trata-se de um conjunto de indústrias com uma fraca componente exportadora,

responsável por cerca de 10% do emprego industrial e com uma quota crescente nas

importações nacionais quer devido à tradicional importação de matéria-prima quer

 pelo recurso crescente à importação de produtos finais.

 Nas agro-alimentares encontram-se algumas das maiores empresas mundiais,

registando-se uma penetração em Portugal dessas grandes empresas quer a nível da 

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 produção quer a nível da distribuição. Essas grandes empresas têm procedido a

ajustamentos recentes que passaram por fusões e aquisições e pela recentragem das

suas actividades, a nível internacional, com impacte em Portugal, nas estruturas

 produtiva e de distribuição.

Fileiras do têxtil e do couro

O papel determinante das indústrias têxteis e do couro na especialização da

indústria portuguesa tem sido uma constante. Durante a década de 80 a estrutura

interna das indústrias têxtil e couro (quadros 3 e 4) mudou consideravelmente, tendo-

se verificado deslocação das indústrias a montante para as de procura final.

Quadro 3 %1990 1994

Têxtil 62,7 58,1

Vestuário 37,3 41,9

Fonte: Estatísticas das Empresas - INE

Quadro 4 %1990 1994

Curtumes 21,8 16,8

Calçado 78,2 83,2

Fonte: Estatísticas das Empresas - INE

Estas indústrias, que se caracterizam pelo seu perfil claramente exportador, são

responsáveis por quase 40% das exportações nacionais. As importações têm-se

revelado crescentes quer em matérias-primas, fios e tecidos, quer em produtos finais,

que se ajustam mais à moda ou de alta gama.

A nível internacional as indústrias a jusante destas fileiras sofreram grandes

alterações, que aliás ainda não cessaram, apresentando-se hoje em dia em mudança,

determinada pelo comportamento da procura o que obriga a uma resposta adequada por parte da oferta. Não perdendo de vista o facto de se tratar de um mercado com

condições de concorrência extraordinariamente duras, as novas características do

mercado incorporando novas técnicas de produção e novos métodos de organização e

gestão, anteriormente características dos sectores de ponta, acrescentam factores de

competitividade que estão cada vez mais longe daqueles que eram atribuídos aos

sectores tradicionais.

É, neste contexto, que o posicionamento de Portugal como periferia interna à

Europa, seu principal espaço comercial, tem sido entendido como uma situação que

 pode ser potenciada. A proximidade geográfica e cultural confere, de facto,vantagens competitivas sobretudo nos segmentos da procura em que o preço não é 

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determinante, mas em que conta cada vez mais a resposta rápida e a flexibilidade

traduzida em pequenas encomendas e prazos de entrega muito curtos numa variada

gama de produtos.

 Nesta área de forte especialização portuguesa, outros países bem localizados em

termos de Centro da Europa, podem vir a desenvolver estratégias muito semelhantesà estratégia portuguesa.

Sectores utilizadores de recursos naturais

O conjunto de indústrias utilizadoras de recursos naturais, designadamente os

derivados da floresta, tem constituído a segunda área de maior relevo da

especialização tradicional da indústria portuguesa.

A segunda metade de 80 e os primeiros anos da década de 90 marcam, de algum

modo, o início de uma viragem neste conjunto complexo de sectores, bastantediferenciados entre si, onde se incluem desde as produções de tecnologias avançadas

(subfileira do papel, cimento, certos segmentos do vidro e cerâmica) à exploração de

recursos ainda com reduzido grau de transformação (indústrias da madeira, rochas

ornamentais) e utilização de tecnologias pouco significativas.

Subfileira do papel

A subfileira do papel tem evoluído nos anos mais recentes no sentido de uma

maior integração vertical, aliás seguindo as tendências dos países fortementeespecializados neste domínio como os EUA/Canadá ou os países escandinavos.

Quadro 5

1990 1993

Pasta 3,0 0,9

Papel e artes gráficas 5,4 6,2

A capacidade da produção de papel instalada no país aumentouconsideravelmente, sendo os novos produtos de elevado valor acrescentado e quase

na sua totalidade dirigido ao mercado externo.

Portugal deixou, assim, de ser um país essencialmente produtor de celulose para

mercado, atingindo deste modo uma combinação produtiva de maior “performance”.

Indústrias derivadas dos minerais não metálicos

Este conjunto de indústrias mais recentes na estrutura produtiva tem vindo a

ganhar importância, apresentando hoje um considerável peso. Contudo, este aumento

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 percentual não corresponde apenas a um acréscimo intensivo da produção, mas

decorre de melhorias tecnológicas significativas e da introdução de novos produtos,

onde as indústrias do cimento, do vidro e da cerâmica merecem relevo destacado.

O sector das rochas ornamentais é eventualmente, aquele de entre este conjunto de

indústrias onde, apesar da forte viragem ao exterior, a introdução de novastecnologias terá sido menos dinâmica. No entanto, há a registar no seu interior uma

deslocação sustentada das exportações para actividades a jusante, de maior valor

acrescentado, sendo de identificar um pequeno núcleo de empresas bem organizado

com elevado dinamismo de mercado.

Indústria química

A indústria química contém situações muito díspares, com uma produção

claramente orientada para o mercado nacional, sendo a taxa de exportação, emmédia, inferior à da indústria transformadora.

 Na química de base, os grupos empresariais de dimensão mundial têm cada vez

maior peso e os factores que mais pesarão na evolução desta indústria em Portugal

 prendem-se com o desenvolvimento das ligações das empresas instaladas em

Portugal a esses grupos. É uma área em que Portugal dispõe claramente de reduzidas

 potencialidades sob os mais diversos ângulos de análise (know-how e tradição,

matérias-primas, posicionamento geo-estratégico).

 No caso química ligeira, a criação do Mercado Único conduziu a uma

“recentragem” de produções com reduzidos custos de transporte como os produtosfarmacêuticos e de higiene e limpeza, para melhor beneficiarem de economias de

escala em termos de produção, logística e mercados. Este facto levou à cessação de

actividades no país de algumas empresas, em especial de produtos farmacêuticos,

numa óptica de mercado ibérico.

Indústrias metalomecânicas

 Neste grupo de indústrias apresenta-se uma grande diversidade de situações.

 No complexo electromecânico as mudanças de maior monta situam-se no materialde transporte com mudanças recentes em termos de estrutura industrial.

A construção e reparação naval chegou à década de 90 com um peso bastante

reduzido, tendo passado na década anterior por uma redução drástica da capacidade

instalada, sendo o futuro algo problemático, designadamente porque as condições de

mercado se alteraram radicalmente com desvantagem para a nossa localização.

O automóvel parece ser a linha estratégica que se afigura como tendo

 possibilidades de consolidação. O projecto Renault, que arrancou no início dos anos

80 deu um impulso à “reformulação” da indústria de componentes e de algum modo

115

criou o ambiente para atrair outros projectos Por seu lado o projecto Auto Europaveio consolidar, ou pelo menos, potenciar este conjunto heterogéneo de indústrias 

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componentes do automóvel, fazendo crer que ligado ao automóvel poderá constituir-

se e desenvolver-se um pólo de especialização.

Estes dois projectos tiveram impacte em indústrias diversas como os moldes para

 plásticos, os plásticos, o têxtil industrial, a borracha, a fundição e outros

componentes metálicos, levando-os a introduzir formas de gestão e tecnologiasavançadas, condições necessárias para a manutenção da qualidade de fornecedor

exigida pelas grandes marcas de automóvel.

É evidente que continuam por “explorar”, de forma eficaz, a produção

metalomecânica de pequena e média série onde as potencialidades para as empresas

nacionais parecem ser francamente favoráveis. A sua “exploração” pouco adequada

fica a dever-se muito mais às fragilidades das relações das empresas portuguesas

com o mercado do que com a tecnologia.

* * * * * * * * * *

Como grande conclusão, Portugal dispõe de uma especialização industrial onde as

debilidades são muito patentes, quer ao nível da utilização das tecnologias mais

evoluídas, quer ao nível do domínio ou inserção nas redes de comercialização e com

um forte constrangimento para enfrentar a dinâmica da mudança: o baixo nível de

qualificação relativo dos seus recursos humanos, ao contrário de alguns países cujo

estádio de desenvolvimento não se distanciam muito do nossso, ou até de outros em

 posição de atraso, como os países do Centro e Leste Europeus, e da Ásia.

4. AS AMEAÇAS PARA PORTUGAL

Os quatro países focados não representam para Portugal, em nossa opinião,

grandes ameaças nesta fase do nosso ciclo de desenvolvimento

Esta constatação não se reveste de carácter positivo, pois significa que essas

economias, apesar do seu arranque posterior, se posicionam numa fase mais avançada,

quando, de algum modo face às semelhanças de processo, em idêntico período de

tempo, não era de esperar uma disparidade de estádio de desenvolvimento tão

acentuado. Na realidade, factores como os recursos humanos, a gestão e o funcionamento das

instituições públicas, aliados a uma diferença cultural base, assim como uma diferente

capacidade de adaptação às mudanças estão na origem da nossa perda de velocidade

relativa.

A elevada dinâmica dos mercados asiáticos tem tido, por outro lado, como

consequência uma certa recentragem destes países mais avançados na sua própria

zona geográfica, quer em termos de investimento, quer de trocas comerciais. Os

mercados europeus deixaram assim de ser tão concorrenciados pelos produtos de

116

 baixa/média gama oriundos destes países.

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 No entanto, existem produções designadamente na área da electromecânica, onde

esses países com destaque para a Coreia se apresentam como concorrentes de

Portugal, mesmo no nosso próprio mercado, sendo de realçar a ofensiva em termos de

investimento no exterior, mesmo em países como o nosso como é o caso da Tisep.

Afigura-se-nos, porém que os maiores desafios para Portugal advirão, no curto prazo, muito mais dos países de 2.ª geração, designadamente em muitos dos

segmentos das indústrias tradicionais de baixa/média gama que continuam a constituir

 parte importante da nossa especialização.

117

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5. BIBLIOGRAFIA 

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Murteira, Mário: Economia Mundial, a Emergência duma Nova Ordem Global,

Difusão Cultural, Lisboa, 1995

Portugal 2010: Posição no Espaço Europeu, uma reflexão prospectiva, Trabalho

coordenado por J. Félix Ribeiro, Editor DPP, Lisboa 1995

A Indústria Portuguesa Horizonte 2015, evolução e prospectiva, Serviço de Estudos

de Economia Industrial do Gabinete de Estudos e Planeamento (GEPIE), Editor

GEPIE/Ministério da Indústria e Energia, Lisboa, 1995

CEPII, Économie International, n.º 57, Paris, 1994

OCDE, Révue Économique, n.º 20, Printemps 1993, Paris