GPPGeR - Fichamento Módulo I, Unidade 2
-
Upload
roberto-izoton -
Category
Documents
-
view
3 -
download
1
description
Transcript of GPPGeR - Fichamento Módulo I, Unidade 2
Universidade Federal do Espírito SantoNúcleo de Educação Aberta e a Distância
Curso de Formação em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça
Aluno: Roberto Izoton
Módulo: I – Políticas Públicas e Promoção da Igualdade
Unidade: 2 – Diversidade e Igualdade
Fichamento dos textos de HEILORN, Maria Luiza (org.). Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (GPP-GER). Módulo I, unidade 2. Rio de Janeiro: CE-PESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.
A unidade 2, que trata da diversidade e da igualdade, inicia com a problematização
da principal representação construída acerca do nosso país. Essa representação, ao
mesmo tempo em que enaltece a natureza e a diversidade cultural existentes no
Brasil, obscurece nossa diversidade humana e as desigualdades praticadas a partir
dessa diversidade.
Mesmo que o Brasil possua grande diversidade humana, não há “paridade
participativa” entre os diversos grupos que compõem nossa sociedade (HEILORN,
2010, texto 1, p. 2). Para corroborar essa perspectiva, basta observar que os negros
estão entre os brasileiros mais pobres e que a maior parte das trabalhadoras
domésticas possui carteira assinada, se comparadas aos homens que exercem a
mesma função. Outro dado que acho oportuno destacar é que “do total dos
universitários brasileiros, 97% são brancos, 2% negros e 1% descendentes de
orientais” (MUNANGA, 2001, p. 33). É importante observar que a discriminação
contra as mulheres é intensificada pelo racismo, o que aumenta os
desfavorecimentos sofridos pelas mulheres negras.
Uma ideia importante apresentada pela unidade em questão é que “a valorização de
uns e a desvalorização de outros grupos sociais são construídas historicamente, não
são naturais, portanto, podem ser desconstruídas” (HEILORN, 2010, texto 1, p. 2).
Para agirmos no sentido da desconstrução das desigualdades, considero
imprescindível que levemos em consideração as proposições de Fraser (2007)
segundo as quais não é suficiente o reconhecimento e a valorização das identidades
culturais, mas que é necessário também que denunciemos as desigualdades e
promovamos uma redistribuição mais justa dos bens sociais, econômicos e políticos
entre os diversos grupos que compõem nossa sociedade.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), aprovada pela ONU em
1948, tem se constituído numa importante ferramenta para a superação das
desigualdades como um todo. A ideia de direitos humanos surgiu no período da
Revolução Francesa, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa
declaração, porém, não confrontou a escravização praticada no período colonial e
que privou milhares de negros/as africanos/as da liberdade e do status de seres
humanos. Além disso, de acordo com Bento (2001, p. 185), “as mulheres foram
excluídas da categoria fundante das sociedades modernas: o indivíduo”. Desse
modo, elas padeceram ao longo da história – e ainda padecem, em alguns contextos
– exclusões e sujeições.
A DUDH preconiza a igualdade entre todos os seres humanos, bem como se
manifesta contra todos os tipos de discriminação. Vários países democráticos vêm
absorvendo os princípios da DUDH, como o Brasil, que incorporou o princípio da
igualdade em sua constituição. Mesmo assim, ainda há muito que fazer para
combatermos as desigualdades de raça e etnia em nosso país.
Um dos impedimentos para a superação das desigualdades provenientes do
racismo em nosso país é o mito da democracia racial. Esse mito, ao partir do
pressuposto de que o povo brasileiro foi conformado pelo processo de miscigenação
que contou com a participação de brancos/as, negros/as e indígenas, considera que
não há preconceito racial no Brasil e que há igualdade de condições de acesso ao
emprego, à saúde e à educação entre os membros das três principais raças que
comporam a nossa sociedade.
Outro dificultador da efetivação da igualdade, no Brasil e no mundo ocidental, é a
contradição existente no próprio discurso da modernidade. Esse discurso, ao mesmo
tempo em que preconiza “a liberdade, a igualdade, o trabalho e a cidadania para
todos” esconde “exclusões significativas” (HEILORN, 2010, texto 4, p. 2),
fundamentadas no gênero e na raça/etnia, dentre outras. A forma como imigrantes
são destratados nos Estados Unidos e em Países da Europa, bem como as diversas
políticas que afastaram professoras negras das instituições públicas de educação do
Rio de Janeiro, apresentadas na referida unidade, são exemplos das desigualdades
escamoteadas pelo discurso da modernidade.
Os/as gestores/as, trabalhadores/as e interlocutores/as das políticas públicas devem
ter em mente que não há relação direta entre desenvolvimento econômico e
desenvolvimento social. O primeiro é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) – que
é a soma das riquezas produzidas em um município, estado, ou país – enquanto o
segundo tem como medida o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), dentre
outros indicadores, que levam em consideração o acesso à educação, ao emprego,
à moradia, ao saneamento básico, à saúde etc.
Para que a igualdade seja concretizada, por exemplo, nas políticas de emprego, é
necessário considerar as mulheres como o principal público-alvo dessas políticas.
Para que isso ocorra, é preciso que abandonemos a visão segundo a qual as
mulheres seriam “um segmento não essencial e secundário do mercado de
trabalho”, bem como que reconheçamos que cada vez mais famílias dependem da
remuneração recebida pelas mulheres trabalhadoras. Essas políticas devem visar o
“aumento da taxa de participação e ocupação das mulheres”, principalmente das
mulheres negras (ABRAMO, 2004, p. 25).
As políticas públicas podem “favorecer o desenvolvimento humano” (HEILORN,
2010, texto 5, p. 4) e promover a igualdade de gênero e raça, mas, para que isso
ocorra, é necessário o esforço dos governos e a vontade política de gestores/as,
trabalhadores/as e interlocutores/as de políticas públicas.
Dentre os conceitos trabalhados na unidade em questão e que ainda não
aprofundamos neste trabalho, destacamos os seguintes:
Desigualdade: Diferença de tratamento dado a indivíduos e grupos diferenciados,
por meio da hierarquização desses grupos. Para Boaventura de Souza Santos, a
desigualdade “acena com a possibilidade de integração de grupos sociais, dentro da
equação capital versus trabalho” (HEILORN, 2010, texto 4, p. 1).
Exclusão: Fenômeno sociocultural que “orienta processos de segregação”
(HEILORN, 2010, texto 4, p. 1).
Direitos Humanos: Direitos inerentes à dignidade da pessoa humana como um
todo que tem como fundamento a igualdade entre todos os seres humanos.
Dividem-se em direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais.
Paridade Participativa: Reconhecimento de que todos os indivíduos possuem
competência para tomarem parte dos bens sociais, políticos e culturais disponíveis
na sociedade.
Articulando o que aprendi na unidade 2 do primeiro módulo do Curso de Formação
em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça com minha atuação como
educador, ou seja, trabalhador de política pública, entendo que meu trabalho é uma
arena importante para a promoção da igualdade entre gênero e raça. Digo isso, pois
trabalhos realizados diretamente com alunos/as, bem como com suas famílias,
podem provocar a desnaturalização da desigualdade, além de propor sua
desconstrução.
Primeiramente é sabido que livros didáticos costumam trazer conteúdos que
depreciam os/as negros/as e indígenas e desvalorizam suas contribuições à
formação da sociedade e da cultura brasileira. Além disso, alguns deles reafirmam a
sujeição das mulheres, apresentando-as principalmente como donas de casa. Isso
tudo pode ser desconstruído por professores comprometidos com a concretização
da igualdade. Em segundo lugar, o racismo e o sexismo se manifestam em diversas
situações do cotidiano escolar, como as brincadeiras realizadas por alunos e alunas.
A intervenção de professores e professoras nessas situações também é muito
importante para a promoção dos direitos humanos.
Referências
HEILORN, Maria Luiza (org.). Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça
(GPP-GER). Módulo I, unidade 2. Rio de Janeiro: CE-PESC; Brasília: Secretaria de
Políticas para as Mulheres, 2010.
MUNANGA, Kabengele. Políticas de ação afirmativa em benefício da população
negra no Brasil: um ponto de vista em defesa das cotas. Sociedade e Cultura.
Goiânia. Vol. 4, n. 2, 2001. Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/fchf/article/download/515/464>. Acesso em: 07
jul. 2011.