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GRACIANNE MARIA AZEVEDO DO PATROCÍNIO ANÁLISE PARAMÉTRICA DE GRUPOS DE ESTACAS HELICOIDAIS À TRAÇÃO NATAL - RN 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

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GRACIANNE MARIA AZEVEDO DO PATROCÍNIO

ANÁLISE PARAMÉTRICA DE GRUPOS DE ESTACAS

HELICOIDAIS À TRAÇÃO

NATAL - RN

2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

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Gracianne Maria Azevedo do Patrocínio

Análise paramétrica de grupos de estacas helicoidais à tração

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade

Artigo Científico, submetido ao Departamento

de Engenharia Civil da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do Título de

Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. Yuri Daniel Jatobá Costa

Natal-RN

2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Patrocínio, Gracianne Maria Azevedo do.

Análise paramétrica de grupos de estacas helicoidais à tração

/ Gracianne Maria Azevedo do Patrocínio. - 2018. 20f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil,

Natal, 2018.

Orientador: Yuri Daniel Jatobá Costa.

1. Modelagem numérica - Monografia. 2. Grupos - Monografia.

3. Estaca helicoidal - Monografia. 4. Tração - Monografia. 5.

Areia - Monografia. I. Costa, Yuri Daniel Jatobá. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 624

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Gracianne Maria Azevedo do Patrocínio

Análise paramétrica de grupos de estacas helicoidais à tração

Trabalho de conclusão de curso na modalidade

Artigo Científico, submetido ao Departamento

de Engenharia Civil da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de Bacharel

em Engenharia Civil.

Aprovado em 28 de fevereiro de 2018:

___________________________________________________

Prof. Dr. Yuri Daniel Jatobá Costa – Orientador

___________________________________________________

Prof ª. Dr ª. Carina Maia Lins Costa – Examinador interno

___________________________________________________

Eng. João Paulo da Silva Costa – Examinador externo

Natal-RN

2018

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RESUMO

Estacas helicoidais apresentam vantagens em detrimento de outras fundações, como

alta produtividade na execução e possibilidade de carregamento após instalação. Insere-se o

potencial de integração dessas estacas no sistema de reação de provas de carga estática (PCE),

o qual em sua configuração global, pode-se ter, a depender do espaçamento entre estacas,

trabalho de grupo. Entretanto, o conhecimento formulado sobre grupos de estacas helicoidais

ainda é, relativamente, escasso. Dada a dificuldade de ensaiar diferentes configurações de

grupos, este artigo traz a modelagem numérica de grupos de estacas helicoidais sujeitas a

carregamento axial de tração, com o objetivo de avaliar o seu desempenho em areia. Essas

modelagens foram realizadas com o Método dos Elementos Finitos (MEF). Inicialmente, o

modelo numérico foi calibrado com base em: provas de carga realizadas por Costa (2017b),

propriedades do solo obtidas por ensaios de sondagem de simples reconhecimento (SPT) e

realísticas hipóteses de modelagem. O estudo paramétrico, para razão de espaçamento (S/D)

entre estacas escolhida de 1,14 a 6, considera grupos com 2 e 4 estacas, com topo livre e com a

presença de bloco de coroamento. O critério modificado de Davisson, recomendado pelo ICC-

ES (2007) e o de Livneh & El Naggar (2008) foram adotados para análise da capacidade de

carga e da eficiência dos grupos. Comparou-se os resultados obtidos pelos critérios de ruptura

com o método teórico apresentado por Perko (2009). As superfícies de ruptura estabelecidas

evidenciam a redução de interferência com o aumento de S/D. Então, verifica-se que as estacas

do grupo trabalham isoladamente a partir de S/D igual a 5. Com a solidarização das estacas pelo

bloco observa-se menor tendência de deslocamento creditada a contribuição da rigidez desse

elemento, assim a eficiência desses grupos apresenta-se superior à dos com topo livre.

Palavras-chave: Modelagem numérica; Grupos; Estaca helicoidal; Tração; Areia.

ABSTRACT

Helical piles have advantages over other foundations systems, like high productivity and

the possibility of receiving loads immediately after installation. These piles can be integrated

into reaction systems for static load tests, in which, depending on the spacing between them,

group effects may appear and reduce their efficiency. The literature about groups of helical

piles is relatively scarce. Given the difficulty of testing different configurations of pile groups,

this article proposes using Finite Element Method analysis on numerical models of pile groups

to assess their performance in sand. A reference numerical model was created using soil

properties obtained from SPT surveys and realistic modeling hypothesis, and then calibrated

against field load tests performed by Costa (2017b). Further models were developed to simulate

groups with 2 and 4 piles, with on-center spacing ratios (S/D) ranging from 1.14 to 6. The

failure criterion by Livneh & El Naggar (2008) and a modified version of the Davisson Offset

Limit method (2007) were used in the analyses of uplift load capacity and group efficiency.

The results from the numerical simulations were compared with the theoretical method

presented by Perko (2009). The failure surfaces show that interference between piles decreases

when on-center spacing increases. Piles behave independently with S/D greater than 5. Groups

with the pile heads connected by a cap exhibit smaller displacement than groups with free-

standing piles. The increased stiffness provided by the cap results in higher efficiency.

Keywords: Numerical modelling, Groups; Helical pile; Tensile; Sand.

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1. INTRODUÇÃO

Em muitas circunstâncias, o mapa de cargas estruturais apresenta solicitações

substanciais que devem ser resistidas pela infraestrutura. Todavia, essas forças podem ser

superiores à capacidade de carga de uma estaca helicoidal isolada. A solução, então, é utilizar

um grupo de estacas, sendo também atrativa se o tipo de solo não permite a instalação de uma

única estaca até a cota desejada. A capacidade de carga das estacas isoladas e em grupo depende

de vários fatores, entre os quais: tipo de solo, espaçamento entre hélices e estacas, assim como

da profundidade de instalação. Contudo, apesar da metodologia de projeto estar bem

estabelecida internacionalmente, informações sobre a inspeção e o monitoramento do

comportamento da estaca permanecem escassas na literatura técnica (PACK, 2003), em

especial no tocante aos grupos.

Na prática, a mensuração da capacidade de carga pode ser dada por meio do torque de

instalação ou de modo mais acurado pela realização de provas de carga. Todavia, esses ensaios

agregam uma certa complexidade dado seu custo e difícil logística associada à sua realização.

Entretanto, insere-se o potencial de integrar as estacas helicoidais como parte do sistema de

reação de provas de carga estática (PCE), em face das vantagens que as mesmas apresentam,

como alta produtividade na execução e possibilidade de carregamento após instalação. Desse

modo, a instalação do sistema necessário deixa de representar um entrave à realização dos

ensaios, que se tornaram obrigatórios com a revisão da norma ABNT NBR 6122 em 2010, em

razão de os custos adicionais e atrasos no cronograma da obra poderem ser mitigados com a

adoção desse aparato mais simples do ponto de vista executivo. Evidentemente, na configuração

global do sistema, pode-se ter, a depender do espaçamento entre estacas, trabalho de grupo.

Dada a dificuldade de mensurar a capacidade de carga, bem como de estabelecer

relações teóricas que permitam calcular adequadamente os deslocamentos, especialmente, de

grupos de estacas helicoidais, insere-se o potencial da modelagem numérica, em razão de

permitir encontrar soluções a problemas que envolvem uma mecânica complexa, sobre a qual

ainda não se tem soluções analíticas fechadas. Esta dificuldade é creditada, conforme Perko

(2009), às condições do solo circundante, tais como distribuição das camadas de solo, tensões

efetivas, razão de sobre adensamento, adesão na haste, densidade, rigidez; assim como à

geometria da ancoragem (passo, diâmetro e espessura das hélices e da haste) e ao espaçamento

entre estacas. No entanto, resultados de pesquisas apontam que a eficiência de estacas em grupo

cai à medida que o espaçamento entre elas diminui, decorrente da redução de capacidade de

carga e do aumento dos deslocamentos.

Diante do exposto, empreender uma análise sobre o comportamento de grupos, em

depósitos de areia pura, que são comuns na costa do nordeste brasileiro, configura-se como a

importância da pesquisa. Dessa forma, neste artigo tem-se por objetivo avaliar a influência do

espaçamento entre estacas, por meio de simulações numéricas, no desempenho quanto a

capacidade de carga e eficiência de grupos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O comportamento de estacas helicoidais é complexo e regido pela interação entre

diversos fatores. Ghaly et al (1991), ao empreender um estudo experimental com modelos

reduzidos de ancoragens com uma hélice, em areia, mostraram que o mecanismo de ruptura e

a capacidade de carga varia conforme as características da areia, diâmetro da ancoragem e

profundidade relativa de instalação da hélice superior (H/D), sendo H a profundidade até a

hélice de topo e D o diâmetro hélice superior.

Outro fator, que torna a interação solo-estaca de difícil solução, diz respeito a alteração

das condições iniciais do solo durante a instalação das estacas em areia. Durante o processo de

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instalação ocorre um deslocamento lateral e para cima do solo em contato direto com as hélices,

como cita Narasimha Rao e Prasad (1992). Desse modo, o solo deslocado lateralmente transfere

tensões ao subjacente e o densifica. Em contrapartida, no cilindro de solo atravessado pelas

hélices ocorre cisalhamento torsional e vertical, além de deslocamentos radiais e verticais

(TSUHA et al., 2012). Como consequência ocorre uma alteração nas condições iniciais do solo:

altera-se o estado de tensões nas vizinhanças das hélices e reduz-se parâmetros de resistência e

de rigidez. Dado o exposto, a instalação de agrupamentos tende a provocar maior amplitude de

efeitos negativos, de tal sorte que a eficiência de grupos de estacas com pequena razão de

espaçamento (S/D), onde S representa a distância entre estacas, tende a ser inferior a 100%.

Assim, os métodos de capacidade de carga à tração até então formulados precisam ser

revisados de modo a considerar os efeitos de instalação (TSUHA et al., 2012). Sendo os

métodos teóricos mais conhecidos para a previsão da capacidade de carga à tração de

ancoragens helicoidais: método das capacidades individuais (ADAMS & KLYM, 1972) e o

método da ruptura cilíndrica (MITSCH & CLEMENCE, 1985; DAS, 1990).

Quanto a obtenção da carga última via curva carga vs deslocamento pode-se adotar

critérios de ruptura quando esta não for bem definida. De acordo com Perko (2009), uma versão

modificada do método Davisson Offset Limit (DAVISSON, 1972) é recomendada pelo ICC-ES

(2007) para determinar a carga de ruptura, a qual é definida como a interseção da curva carga -

deslocamento com a reta correspondente ao deslocamento líquido relativo à 10% do diâmetro

médio das hélices. Este critério é comumente chamado D/10, tendo sido adaptado de Terzaghi

(1942). Outro método é o formulado por Livneh & El Naggar (2008), especialmente para

estacas helicoidais, no qual a carga de ruptura é dada pelo valor onde o deslocamento

corresponde ao alongamento elástico da haste acrescido de 8% do diâmetro médio das hélices.

A consideração da capacidade de carga dos grupos, reportada por Perko (2009), envolve

procedimento semelhante ao do método da ruptura cilíndrica. Contudo a parcela referente ao

cisalhamento é definida por um bloco hipotético de solo contido entre hélices das estacas. A

Eq. 1 apresenta a formulação do método teórico para obter a capacidade de carga dos grupos.

Qug = qult ∙ m1 ∙ m2 + 2 ∙ τ ∙ s ∙ (n − 1) ∙ (m1 + m2) Eq. 1

Onde:

Qug é a capacidade de carga do grupo de estacas;

m1 e m2 são as dimensões do bloco hipotético de solo;

τ é a resistência ao cisalhamento;

s é o espaçamento entre as hélices da estaca do grupo;

n representa o número de estacas no bloco.

Um outro fator determinante para avaliar a interação entre estacas quanto a capacidade

de carga se trata da eficiência (𝜂), sendo dada pela Eq. 2. Uma eficiência de grupo positiva

resulta em η > 1, em contrapartida, η < 1 representa a capacidade de carga do grupo inferior à

de cada estaca isoladamente (𝑄𝑢).

η =Qug

∑ Qu Eq. 2

Hanna et al. (1972) estudaram o comportamento de grupos de estacas helicoidais

embutidas em areia. Eles mostraram que a eficiência do grupo é inferior à 100% para H/D ≤ 12

e S/D ≤ 4. Também concluíram que a distribuição da carga entre as hélices é quase uniforme a

baixo nível de carga e a hélice central é a menos solicitada ao se aproximar da carga de ruptura.

Das et al (1976) relata que a eficiência do grupo sob carga de tração aumenta com o

espaçamento das estacas, mas diminui com um número crescente de estacas no grupo.

Conclusão similar foi reportada por Ghaly & Hanna (1994) que realizaram investigações

experimentais sobre o desempenho de grupos de 3, 4, 6 e 9 estacas em areia densa, média e

fofa. Para cada uma das configurações de grupos, analisou-se o efeito da profundidade de

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instalação e o espaçamento entre as estacas sobre a eficiência de grupos. Os autores constataram

que, para areias fofas e médias, a eficiência “𝜂” aumenta com o afastamento entre estacas e com

a profundidade de instalação. Este comportamento é válido para a mesma configuração de

grupo, contudo o aumento do tamanho do grupo resulta em uma redução na eficiência para a

mesma relação H/D e S/D.

3. METODOLOGIA

O estudo numérico da presente pesquisa, realizada no Software Plaxis 3D Foundation,

o qual é baseada no Método dos Elementos Finitos (MEF), esquematiza o sistema solo, estaca,

bloco, interface solo-estrutura, e os associa às diversas leis de comportamento necessárias para

representar o problema como um todo.

Esta pesquisa é norteada por um conjunto de provas de carga e ensaios de caracterização,

bem como no protótipo da estaca em escala real desenvolvido por Costa (2017b). O perfil de

solo utilizado no estudo (Figura 3.1) é considerado representativo do terreno investigado, por

ter sido obtido da sondagem à percussão locada com maior proximidade em relação aos pontos

de execução das provas de carga à tração conduzidas pelo citado autor. Não foi observado o

nível do lençol freático.

Figura 3.1 - Perfil representativo do solo

Fonte: Adaptado, Costa (2017b).

A estaca helicoidal utilizada nas provas de carga (Figura 3.2) é composta de tubos

metálicos de aço com 73,0 mm de diâmetro, e três hélices de diâmetros externos de 250, 300 e

350 mm, sendo que essas apresentam um passo de 75,0 mm.

Figura 3.2 - Representação da estaca ensaiada

Fonte: Autor.

Os limites geométricos da modelagem no plano horizontal (x-z), paralelo ao terrapleno,

conforme a Figura 3.3, foram configurados para no mínimo 60Deixo da estaca à fronteira mais

próxima, de forma a evitar o efeito de bordo, como relatam estudos similares (PHILIPS &

VALSANGKAR, 1987; BOLTON et al.,1999; RAWAT & GUPTA, 2017). Considerando a

inserção de grupos de estacas com espaçamento variável, foram delimitadas as coordenadas:

xmin = -5m; xmax = 5m; zmin = -5m e zmax = 5m, de modo a garantir que as estacas do grupo com

maior afastamento apresentem uma distância de 60Deixo. Na profundidade, o modelo deve ter

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uma dimensão mínima de oito vezes o diâmetro da hélice de topo abaixo da ponta da estaca,

conforme verificado por Knappett et al. (2016). Contudo, com o intuito de garantir o

atendimento às recomendações das referências citadas, obteve-se o domínio configurado por

um cubo de lado igual a 10m.

Figura 3.3 – Malha de elementos finitos

com domínio da modelagem

Fonte: Autor.

O comportamento do material da estaca foi definido como elástico-linear, em razão do

baixo nível de tensões na estaca, durante a realização dos ensaios, não ter provocado o

escoamento do aço. As propriedades para a estaca estão listadas na Tabela 3.1. Sendo a

conformação do protótipo da estaca dada a partir da interação entre elementos de casca (wall)

e de placa (floor), estes com espessura “e” definida aproximadamente ao modo da estaca

projetada. Para o eixo utilizou-se a seção transversal “Circular tube”, a qual inseriu-se as

propriedades de parede, enquanto para as hélices utilizou-se elementos de placa, caracterizados

por serem quadrilaterais de 8 nós com 6 graus de liberdade por nó (3 translacionais e 3

rotacionais). Embora as chapas da estaca ensaiada apresentem formato helicoidal de passo

controlado, elas foram inseridas no modelo como sendo planas, em razão de restrição ao design

da geometria no software.

Tabela 3.1 - Conjunto de parâmetros para a modelagem da estaca

Tipo de elemento e (m) E (GPa) 𝛾 (kN/m³) 𝜐

Wall 0,0125 210 78 0,3

Floor 0,0125 210 78 0,3

Fonte: Autor.

Para representar a areia, utilizou-se o modelo constitutivo Hardening Soil, que se tem

mostrado satisfatório nas pesquisas realizadas, principalmente, neste tipo de solo (OLIVEIRA,

2014). O efeito da instalação da estaca no maciço foi considerado através de um cilindro de

solo ao redor da estaca, as quais foram atribuídas propriedades distintas das do solo não

deformado. Cada zona foi configurada a partir de um escalonamento de diâmetro decrescente e

igual ao da hélice que efetivamente cisalha o solo quando da instalação da estaca, desde o nível

zero do terrapleno até o plano de inserção da última hélice.

Após a definição da geometria, uma malha de elementos finitos bidimensionais,

composta por elementos triangulares de 6 nós, é automaticamente gerada, sobre a qual é gerada

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a malha tridimensional. Esta é composta por elementos prismáticos de 15 nós (i.e., 6 nós em

cada face triangular e por 8 nós em cada face quadrilateral; 6 pontos de integração de Gauss).

A orientação e dimensões dos elementos que integram a discretização da malha influem

diretamente no processo de localização, o qual pode ser definido como uma concentração em

bandas de cisalhamento, em razão da deformação nos materiais não possuir distribuição

uniforme. Desse modo, a malha influi na definição da superfície de ruptura, que é entendida

como uma banda de material intensamente cisalhado. Nesse sentido, no plano x-z manteve-se

a malha como “muito grossa”, em razão de que se criou um refinamento ao redor da estaca

devido às suas reduzidas dimensões em relação à fronteira delimitada. Porém ao longo da

profundidade (y), que é a direção de maior significância, houve a necessidade de gerar maior

refinamento, com o intuito de obter resultados mais acurados, optou-se por uma malha média

devido ao esforço computacional e tempo para os cálculos requeridos na análise 3D.

Após a geração das malhas, deu-se início à calibração propriamente dita do modelo 3D.

O ponto de partida em relação aos parâmetros do solo foram os adotados por Costa (2017b) na

calibração do modelo no Plaxis 2D. O resultado obtido foi então comparado com a envoltória

delimitada pelas provas de carga realizadas pelo referido autor e com a curva referente à

modelagem 2D. Considerando que o resultado deste conjunto de dados iniciais não se ajustou

conforme o esperado, os parâmetros foram ajustados dentro de limites razoáveis até que se

chegou a calibração da ferramenta computacional, (Figura 3.4). O conjunto de dados finais com

as propriedades mecânicas, para as duas zonas de solo, obtidas a partir do processo de validação,

consta na Tabela 3.2.

Figura 3.4 - Validação do modelo numérico 3D

Fonte: Autor.

Tabela 3.2 - Conjunto de parâmetros do solo aplicados ao Modelo Hardening Soil

Características

do solo

𝜸 = 𝜸𝒔𝒂𝒕 (kN/m³)

𝐄𝟓𝟎𝐫𝐞𝐟

(𝐌𝐏𝐚)

𝐄𝐨𝐞𝐝𝐫𝐞𝐟

(𝐌𝐏𝐚)

𝐄𝐮𝐫𝐫𝐞𝐟

(𝐌𝐏𝐚) 𝜐 M 𝜙 (°) c' (kPa) 𝜓 (°) 𝐊𝟎 𝐑𝐟

Areia, Drenado,

Zona indeformada 16 45 45 151,9 0,35 0,5 35 5 5 0,426 0,9

Areia, Drenado,

Zona deformada 15 18 18 56,3 0,25 0,5 32 3 0 0,470 0,8

Fonte: Autor.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80

Ca

rreg

am

ento

(k

N)

Deslocamento vertical (mm)

PCE_Teste A (COSTA, 2017b)

PCE_Teste B (COSTA, 2017b)

PCE_Teste C (COSTA, 2017b)

PCE_Teste D (COSTA, 2017b)

Plaxis 2D (COSTA, 2017b)

Plaxis 3D

LEGENDA:

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Na interface solo-estrutura foi utilizado um elemento de interface, de modo a evitar

descontinuidades na distribuição de tensões e deformações, em razão de ser região de mudança

abrupta de condições de contorno. O Plaxis possibilita mensurar a magnitude e natureza da

interação solo-estrutura modelada através da escolha de um valor adequado para o fator de

redução de resistência da interface (Rinter). Nesse contexto, valores de referência entre distintos

tipos de solo e estruturas podem ser encontrados na literatura, a exemplo de Potyondy (1961)

que definiu Rinter = 0,54 no contato entre solo arenoso e estruturas de aço.

Após validação do modelo, deu-se início às análises paramétricas dos grupos com 2 e 4

estacas: com o topo livre (i. e., G2 e G4) e com a presença de bloco de coroamento (i. e., G2_B

e G4_B), como resume a Figura 3.5. Em cada ramificação estudou-se o comportamento de

grupos de estacas com S/D de 1,14; 1,5; 1,75; 2,00; 3,00; 4,00; 5,00 e 6,00, adotando-se sempre

o modelo utilizado na etapa de validação das simulações numéricas como referência (baseline).

Todas as análises paramétricas foram desenvolvidas sob as mesmas condições de carregamento,

materiais constituintes, refinamento da malha gerada e interfaces.

Figura 3.5 - Fluxograma do conjunto de análises paramétricas

Fonte: Autor.

Para os grupos coroados adotou-se um bloco de concreto com resistência característica

à compressão (𝑓𝑐𝑘) de 30 MPa e com 50 cm de altura. A modelagem desses grupos considera

um embutimento do topo de cada estaca no interior do bloco de 0,1m. Valor esse escolhido

conforme a recomendação reportada por Perko (2009) de que deve existir no mínimo a inserção

de 3’’ (i.e., 7,62 cm). A Tabela 3.3 resume os parâmetros de entrada para os blocos de concreto.

Tabela 3.3 - Conjunto de parâmetros para a modelagem dos blocos

Tipo de elemento Material h (m) E (GPa) 𝛾 (kN/m³) 𝜐 𝐑𝐢𝐧𝐭𝐞𝐫

Volume Concreto 0,5 26,84¹ 25 0,2 0,76²

¹ Módulo de elasticidade secante (𝐸𝑐𝑠) para concreto com 𝑓𝑐𝑘 de 30 Mpa

² Potyondy (1961)

Fonte: Autor.

Após obtenção dos resultados das análises paramétricas obteve-se a capacidade de carga

dos grupos via MEF (QugPlaxis), a partir da aplicação de critérios de ruptura, como o recomendado

pelo ICC-ES (2007) e o critério de Livneh & El Naggar (2008). Então foi realizado um estudo

comparativo entre a QugPlaxis e a capacidade de carga teórica (Qug

∗ ) proposta por Perko (2009).

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Análise dos contornos de plumas dos grupos de estacas

As Figuras 4.1.1 e 4.1.2 de contornos de deslocamentos verticais (𝑢𝑦) dentro da massa

do solo sugerem as superfícies de falha, para as diferentes razões S/D dos grupos testados. De

acordo com um estudo realizado por Costa (2017a), acerca da zona de influência da estaca em

estudo antes da ruptura do maciço do solo, a distância para a qual deixa de haver significativa

interferência é aquela referente à 3D. Todavia, no presente estudo, o comportamento se dá no

estado limite último, assim é justificável haver encontrado que a total separação de superfícies

de ruptura ocorresse apenas para S/D > 4, configuração esta sugerida por Livneh & El Naggar

(2008) para estacas helicoidais à tração. Assim, maiores espaçamentos resultam na tendência

de plena mobilização de capacidade de carga, em razão das estacas passarem a trabalhar

isoladamente.

Outrossim, em todas as configurações de grupo, nas quais a profundidade de instalação

é de 2,57 m, correspondente a uma taxa de embutimento (H/D) de 7,3, a superfície de falha não

alcançou a superfície, comportamento referido como condição de âncora profunda na literatura

(DAS, 1990; PERKO, 2009).

Figura 4.1.1 – Distribuição de deslocamentos verticais (𝑢𝑦), em kN/m², para G2.

Fonte: Autor.

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Em relação ao diferencial devido à presença e ausência de bloco, foi possível observar

que com a inserção do elemento de coroamento a superfície de ruptura passa a ser contida pela

fronteira do bloco, como pode-se observar a partir da Figura 4.1.2.

Figura 4.1.2 – Distribuição de deslocamentos verticais (𝑢𝑦), em kN/m², para G2_B.

Fonte: Autor.

Ademais, ainda foi possível analisar o estado de tensões no entorno das estacas no

interior do maciço. Por conseguinte, a zona potencial de ruptura é melhor caracterizada em

termos de tensão cisalhante relativa (τrel), que pode ser definida a partir da Eq. 3:

τrel =τ∗

τmáx Eq. 3

O parâmetro τ∗ refere-se ao valor máximo da tensão de cisalhamento (i. e., o raio do

círculo de Mohr), enquanto τmáx representa o valor máximo da tensão de cisalhamento para o

caso em que o círculo de Mohr se expande de modo a interceptar a superfície de falha de

Coulomb. Assim, uma tensão de cisalhamento relativa unitária é indicativo de ruptura do solo.

Os contornos referentes a esse parâmetro são como os ilustrados na Figura 4.1.3. Para todas as

análises obteve-se uma superfície expandida em relação à delimitada por contornos de

deslocamentos verticais. Resultados similares são relatados por Livneh & El Naggar (2008) ao

proceder a comparação entre os contornos de τrel e uy.

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14

Figura 4.1.3 - Contornos de tensão cisalhante relativa (τrel)

Fonte: Autor.

Destaca-se ainda: as análises com grupos de quatro estacas quadrangular evidenciaram

que a ruptura tende a acontecer pelos bordos, em razão de a distância de interação entre estacas

configurar-se menor em relação as diagonais. Então se induziu que a ruptura possa acontecer

globalmente ou localmente, respectivamente, como bloco e como linha de estacas, a depender

da geometria e disposição das estacas.

4.2. Análise das curvas carga vs deslocamento vertical

A Figura 4.2.1 ilustra os gráficos das curvas carga vs deslocamento obtidas via Plaxis,

para as diferentes configurações de grupo realizadas. As curvas apresentadas na Figura 4.2.1 a)

e b) se referem à carga média atuante nas estacas em grupo, enquanto as apresentadas em c) e

d) referem-se a carga atuante total do grupo.

A partir de uma análise conjunta entre os contornos de deslocamentos verticais

apresentados na Figura 4.1.1 e a Figura 4.2.1 - a), é possível perceber que as curvas referentes

à S/D igual a 5 e 6 convergem para uma unidade comum (i.e.; aquela relacionada ao trabalho

isolado da estaca). Quanto à Figura 4.2.1 - b) depreende-se que, embora exista a tendência de

estabilização, as curvas não estão totalmente consolidadas ao mesmo comportamento carga –

deslocamento.

O comparativo entre as curvas carga vs deslocamento da estaca isolada e da

representativa da média dos grupos com topo livre permite observar que as curvas com duas

estacas no grupo apresentam menor dispersão em relação às de quatro estacas. Isto indica que

a inserção de mais estacas para trabalhar em conjunto ocasiona maior superposição de tensões.

Como consequência a resistência à tração diminui com o acréscimo de estacas ao grupo para

um mesmo deslocamento; resultado este em consonância com estudo realizado por Ghaly &

Hanna (1994).

Com a solidarização das estacas pelo bloco - Figura 4.2.1 c) e d) - percebe-se, até o

deslocamento de 30 mm, o aumento na capacidade de carga à medida que aumenta o

espaçamento entre estacas; à exceção de G2_B com razão de espaçamento S/D de 5 e 6. Em

especial para esta configuração, o decréscimo na carga última em relação a S/D igual a 4 foi

creditada ao fato de que a partir dessa relação o bloco passou a se comportar como flexível.

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15

Figura 4.2.1- Curvas carga vs deslocamento referentes às análises do estudo paramétrico: a)

Grupos de duas estacas com topo livre; b) Grupos de quatro estacas com topo livre; c) Grupos

de duas estacas coroadas e d) Grupos de quatro estacas coroadas por bloco.

Fonte: Autor.

4.3. Análise da capacidade de carga (𝑸𝒖𝒈) e eficiência dos grupos (𝜼)

Durante a análise dos resultados das simulações numéricas, observou-se que nenhuma

das curvas carga vs deslocamento (Figura 4.2.1) apresentou ruptura nítida ou física, sendo

necessário, portanto, adotar algum critério para determinar a capacidade de carga. Nesse

contexto, aplicaram-se o critério recomendado pelo ICC-ES (2007) e o formulado por Livneh

& El Naggar (2008).

A partir da curva de calibração da estaca isolada, aplicou-se os métodos citados para

obtenção da capacidade de carga da estaca (Qu), em kN, com o objetivo de avaliar a eficiência

dos grupos. Obteve-se 162,6 kN e 147,82 kN para o critério recomendado pelo ICC-ES (2007)

0

45

90

135

180

0 5 10 15 20 25 30

Ca

rreg

am

ento

(k

N)

Deslocamento vertical (mm)

Análises paramétricas

G2 - Topo livre

10

%D

a)

0

45

90

135

180

0 5 10 15 20 25 30

Ca

rreg

am

ento

(k

N)

Deslocamento vertical (mm)

Análises paramétricas

G4 - topo livre

10

%D

b)

0

120

240

360

480

0 5 10 15 20 25 30

Ca

rreg

am

ento

(k

N)

Deslocamento vertical (mm)

Análises paramétricas

G2 - Bloco de concreto

S/D = 1,14 S/D = 1,50S/D = 3,00 S/D = 4,00

10

%D

c)

LEGENDA:

Estaca isolada

0

220

440

660

880

0 5 10 15 20 25 30

Ca

rreg

am

ento

(k

N)

Deslocamento vertical (mm)

Análise paramétricas

G4 - Bloco de concreto

S/D = 1,75 S/D = 2,00

S/D = 5,00 S/D = 6,00

10

%D

d)

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16

e para o de Livneh & El Naggar (2008), respectivamente. A capacidade de carga para a estaca

isolada, pelo método da ruptura cilíndrica, resultou em 167,45 kN.

A estimativa teórica da capacidade de carga e eficiência de grupo está relacionada na

Figura 4.3.1, demonstrando o aumento na capacidade resistente e, consequentemente, na

eficiência, à medida do aumento da distância entre as estacas. Todavia, a estimativa dessas duas

propriedades pelo método teórico mostra-se crescentes. No segundo trecho, o qual apresenta

um crescimento vertiginoso, em relação ao primeiro, tem-se que do ponto de vista de trabalho

das estacas helicoidais traduz-se um resultado incompatível. Isso se dá em virtude de a partir

de determinado espaçamento, para as condições estudadas S/D = 3, começar a transição para

o mecanismo de trabalho individual, em detrimento do de grupo. Isto é, a contribuição da

parcela referente ao cisalhamento passa a ser dada pela formação do cilindro de solo entre

hélices e não como bloco hipotético. Logo, a formulação para Qug deixa de ser adequada,

porque a capacidade de carga deve ser calculada pelos métodos individuais.

Figura 4.3.1 - Capacidade de carga e eficiência de grupo pelo método teórico

Fonte: Autor.

A análise de Qug, via critérios de ruptura, apresentada na Figura 4.3.2 – a) e b), evidencia

o aumento na capacidade resistente com a inserção dos blocos de coroamento, quando se

compara os pares G2 e G2_B, assim como G4 e G4_B. Essa tendência se dá independente do

critério adotado e é creditada à contribuição desse elemento de coroamento, a qual em projetos

de fundações não é considerada. Destaca-se que todos os valores de capacidade de carga

apresentados são representativos do grupo de estaca em sua totalidade.

Ainda conforme a Figura 4.3.2, percebe-se que a eficiência do grupo aumenta com o

aumento do espaçamento entre estacas, em razão de o efeito de isolamento de cada estaca se

estabelecer para maiores relações S/D. Pode-se notar também: a eficiência é geralmente inferior

a 100% para os grupos de estacas com topo livre, e isso pode ser atribuído à maior interação

entre as estacas individuais dentro do grupo. Existe um limite além do qual esse efeito de

bloqueio reduz-se à medida do aumento de espaçamento, como é possível perceber a contar da

razão S/D igual a 4. Deve-se ainda notar: o grupo G4 apresentou, a partir de S/D > 4, eficiência

ligeiramente superior à do respectivo grupo G2, em contradição as referências literárias que

citam a redução da eficiência à medida do incremento de estacas ao grupo. Contudo, com a

inserção do bloco observou-se a tendência citada por Ghaly & Hanna (1994) de que a eficiência

de grupo deve se reduzir quando se tem mais elementos interagindo. Na prática, pode-se inferir

que quanto maior o número de estacas trabalhando em grupo maior será a amplitude de

superposição do campo de tensões e maior efeito de redução da rigidez do sistema devido à

instalação das estacas.

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

0

200

400

600

800

1000

1200

1,14 1,50 1,75 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

Efi

ciên

cia

de

gru

po

( 𝜂

)

Ca

pa

cid

ad

e d

e ca

rga

(𝑄

𝑢𝑔)

kN

Razão de espaçamento (S/D)

(G2) - Q_ug (G4) - Q_ug (G2) - η (G4) - η

LEGENDA:

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Figura 4.3.2 - Capacidade de carga e eficiência de grupo pelo critério de: a) ICC-ES

(2007); b) Livneh e Naggar (2008).

Fonte: Autor.

Ademais, com o coroamento das estacas observa-se que a eficiência passa a ser positiva

em razão da contribuição da rigidez desse elemento. Destaca-se: 𝜂 para grupos de duas estacas

com o bloco de concreto passou a decrescer para S/D > 4, isto foi atribuído a razão de que

com a altura fixa de 0,5 m, os blocos com razões superiores a quatro deixaram de ser rígidos.

Com a análise da eficiência dos grupos com topo livre, apresentadas na Figura 4.3.2, percebe-

se que, para H/D = 7,3 e S/D ≤ 4 (i. e., limite superior para deixar de existir trabalho de grupo),

a eficiência é inferior a 1; comportamento esperado de acordo com Hanna (1972).

A contribuição do bloco foi estimada a partir da comparação entre as capacidades de

carga dos grupos com topo livre e coroados. Nesse contexto, obteve-se o incremento, em

percentual, na capacidade de carga do grupo, como mostra a Tabela 4.3.1.

Tabela 4.3.1 - Contribuição do bloco, em percentual, na capacidade de carga dos grupos

𝑺𝑫⁄ → 1,14 1,50 1,75 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

𝑸𝒖𝒈𝑮𝟐_𝑩/𝑸𝒖𝒈

𝑮𝟐 9,97 9,56 18,38 24,76 29,37 44,29 37,47 34,30

𝑸𝒖𝒈𝑮𝟒_𝑩/𝑸𝒖𝒈

𝑮𝟒 13,83 13,92 12,53 17,37 37,03 31,72 28,07 31,59

Fonte: Autor.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

0

200

400

600

800

1000

1,14 1,50 1,75 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

Efi

ciên

cia

de

gru

po

( 𝜂

)

Ca

pa

cid

ad

e d

e ca

rga

(𝑄

𝑢𝑔)

kN

Razão de espaçamento (S/D)

ICC-ES (2007)

(G2) - Q_ug (G2_B) - Q_ug (G4) - Q_ug (G4_B) - Q_ug

(G2) - η (G2_B) - η (G4) - η (G4_B) - η

LEGENDA:

a)

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

0

200

400

600

800

1000

1,14 1,50 1,75 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

Efi

ciên

cia

de

gru

po

( 𝜂

)

Ca

pa

cid

ad

e d

e ca

rga

(𝑄

𝑢𝑔)

kN

Razão de espaçamento (S/D)

Livneh & Naggar (2008)

(G2) - Q_ug (G2_B) - Q_ug (G4) - Q_ug (G4_B) - Q_ug

(G2) - η (G2_B) - η (G4) - η (G4_B) - η

LEGENDA:

b)

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18

Quanto a aplicabilidade dos critérios de ruptura, foi realizado um comparativo entre a

capacidade de carga teórica e via o método de Davisson modificado, que é recomendado pelo

ICC-ES (2007), e o de Livneh & El Naggar (2008). Plotaram-se então os gráficos apresentados

na Figura 4.3.3, os quais relacionam a razão entre as capacidades de carga com as relações de

espaçamento entre estacas estudadas. A partir da análise desses gráficos é possível perceber que

o método de modificado de Davisson apresenta menor desvio em relação ao método teórico,

em detrimento de Livneh & El Naggar (2008). Além disso, percebeu-se que os melhores ajustes

entre Qug∗ e Qug

Plaxis se dão para as relações S/D inferiores (i. e., S/D ≤ 3), para todas as

configurações de grupo analisadas. Isto confirma que o campo de aplicação, para o qual foi

formulada a expressão teórica apresentada por Perko (2009), é condicionado à S/D. De tal modo

a aplicação da mesma para altas razões S/D (i. e., S/D > 3) conduzem ao superdimensionamento

da capacidade de carga.

Figura 4.3.3 - Comparação entre as capacidades de carga dos grupos de estacas: a) Grupos de

duas estacas com topo livre; b) Grupos de quatro estacas com topo livre; c) Grupos de duas

estacas coroadas e d) Grupos de quatro estacas coroadas por bloco.

Fonte: Autor.

5. CONCLUSÃO

Uma investigação numérica simulando grupos de estacas helicoidais à tração foi

realizada. A validação da modelagem numérica foi obtida através de comparações com

resultados de ensaios realizados em campo. Análises paramétricas foram conduzidas a fim de

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2,0

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

S/D

Comparativo entre Qug* e Qug

Plaxis

Grupo de duas estacas (Topo livre)

G2 - ICC-ES (2007)

G2 - Livneh&Naggar (2008)

Qu

g* /

Qu

gP

laxis

LEGENDA:

a)

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2,0

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

S/D

Comparativo entre Qug* e Qug

Plaxis

Grupo de quatro estacas (Topo livre)

G4 - ICC-ES (2007)

G4 - Livneh&Naggar (2008)

Qu

g* /

Qu

gP

laxis

LEGENDA:

b)

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2,0

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

S/D

Comparativo entre Qug* e Qug

Plaxis

Grupo de duas estacas (Coroado)

G2_B - ICC-ES (2007)

G2_B - Livneh&Naggar (2008)

Qu

g* /

Qu

gP

laxis

LEGENDA:

c)

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2,0

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

S/D

Comparativo entre Qug* e Qug

Plaxis

Grupo de quatro estacas (Coroado)

G4_B - ICC-ES (2007)

G4_B - Livneh&Naggar (2008)

Qu

g* /

Qu

gP

laxis

LEGENDA:

d)

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se investigarem aspectos sobre as configurações do grupo na capacidade de carga, eficiência de

grupo e nas potenciais superfícies de ruptura.

O panorama geral aponta para a redução da capacidade de carga e o crescimento dos

deslocamentos à medida da redução do espaçamento entre estacas, culminando na redução da

eficiência do grupo. Todavia, a partir da razão S/D igual a 3, a eficiência do grupo é positiva,

desde que as estacas estejam solidarizadas por um bloco. Considerando a prática de solidarizar

as estacas por esse elemento, tem-se que, para as condições estudadas, o menor espaçamento

recomendado, seja na configuração do sistema de reação de PCE ou em sistemas de fundação

no geral, é referente a três vezes o diâmetro da maior hélice, de modo a otimizar a capacidade

de carga do sistema.

As análises paramétricas permitiram concluir que as superfícies de falha deixam de se

superpor e transitam para a esperada de uma estaca isolada com o aumento da razão S/D,

independentemente de haver o elemento de coroamento. Constatou-se a consolidação para o

comportamento isolado para a relação S/D igual a cinco.

Além disso, considerando que a ruptura tende a ocorrer conforme um caminho

preferencial, a prática racional de projetos de estacas helicoidais deve ser concebida à luz do

modo de ruptura mais crítico, estabelecido entre a consideração da estaca individual, do grupo

como um bloco e como fileira de estacas.

Ademais, constatou-se que o critério de ruptura recomendado pelo ICC-ES (2007)

adequa-se melhor quando comparado ao método teórico, em relação ao proposto por Livneh &

El Naggar (2008). Quanto a aplicação do método teórico para o cálculo da capacidade de carga

dos grupos recomenda-se cautela, em razão de que se a configuração do grupo tender ao

comportamento isolado, tal método direcionará a valores superdimensionados de carga última,

os quais não condirão com a realidade. Nesse contexto, é indicado avaliar se as condições de

projeto direcionam ao comportamento de grupo para então ser procedido o cálculo teórico, caso

não haja outro recurso que melhor permita avaliar a capacidade de carga do sistema.

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AGRADECIMENTOS

O autor expressa seu agradecimento à instituição de fomento a esta pesquisa: CNPq.