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Tratamento de Juntas em Painéis de GRC José Luís Rodrigues Fernandes Relatório de Projecto submetido para satisfação parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES Orientador: Professor Doutor Vítor Carlos Trindade Abrantes Almeida JULHO DE 2008

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  • Tratamento de Juntas em Painis de GRC

    Jos Lus Rodrigues Fernandes

    Relatrio de Projecto submetido para satisfao parcial dos requisitos do grau de

    MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAO EM CONSTRUES

    Orientador: Professor Doutor Vtor Carlos Trindade Abrantes Almeida

    JULHO DE 2008

  • MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2007/2008

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

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    As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

    Este documento foi produzido a partir de verso electrnica fornecida pelo respectivo Autor.

  • A meus Pais

    Existe uma meta, mas no h caminho;

    o que chamamos caminho no passa de uma hesitao

    Franz Kafka

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    AGRADECIMENTOS

    Ao concluir este trabalho gostaria de mostrar a minha gratido a todos aqueles que contriburam para a sua realizao.

    Desejo, no entanto, destacar o Professor Vtor Abrantes pela sua orientao, leitura critica do trabalho e pela confiana que sempre demonstrou no meu trabalho.

    Engenheira Ana Sofia Guimares por estar sempre disposio para discutir questes relevantes e o constante incentivo que foram fundamentais para a concretizao deste trabalho.

    empresa Glasscrete, nomeadamente ao Engenheiro Rui Abrantes e Engenheiro Lus Loureiro, pela colaborao interessada e intensiva que sempre demonstraram e especialmente pelas sugestes sensatas que em muito contriburam para o enriquecimento deste estudo.

    Professora Maria Helena Corvacho, pela disponibilidade e observaes feitas na fase final do desenvolvimento do trabalho.

    E por fim minha famlia e amigos, muito especialmente aos meus pais, irm e Jlia pelo apoio e encorajamento.

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    RESUMO

    O recurso a sistemas de fachadas pr-fabricadas no ramo da Construo Civil tem-se demonstrado cada vez mais uma alternativa interessante e eficaz apresentando-se como uma soluo de vanguarda no sentido de garantir ganhos ao nvel da produtividade e qualidade. A introduo de painis de GRC (Glassfibre Reinforced Concrete) no mercado da construo trouxe vantagens ao sector uma vez que concilia as vantagens da pr-fabricao com leveza, elevados nveis de desempenho e uma enorme flexibilidade de formas e acabamentos. Este compsito constitudo por uma matriz cimentcia reforada com fibra de vidro resistente ao meio alcalino. A incorporao das fibras permite melhorar as propriedades mecnicas da argamassa, nomeadamente ao nvel da resistncia de traco e flexo, fazendo com que os componentes possam ter espessuras menores e consequentemente menos peso em comparao com as peas de beto armado.

    Ao nvel do mercado so comercializados trs tipos de painis que so o tipo casca, sanduche e stud frame. Possuem qualidades distintas e a sua escolha depende das exigncias e caractersticas da obra.

    No presente trabalho analisa-se a nvel trmico a junta entre painis sanduche de GRC, verificando a sua conformidade com as exigncias preconizadas no Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios (RCCTE) e propondo solues de correco.

    O estudo teve como alvo as zonas de junta uma vez que se tratam de pontos crticos nas envolventes executadas com este tipo de painel. Tratando-se de heterogeneidades existentes ao longo da envolvente necessrio ter em conta que estamos perante regies de ponte trmica que devem ser tidas em considerao e objecto de um estudo detalhado.

    Com a implementao do novo RCCTE, as exigncias mnimas a cumprir nas zonas de ponte trmica plana tornaram-se mais rigorosas impondo agora condies mais restritivas a ser respeitadas pelos projectistas e que podem por em causa a aplicao de painis sanduche sem tratamento das zonas de maior fragilidade trmica.

    Deste modo a metodologia de trabalho partiu da identificao das zonas que apresentam maior debilidade, recorrendo ao clculo dos parmetros trmicos das zonas distintas que constituem o painel sanduche de GRC. Atravs das anlises e dos resultados obtidos verifica-se que necessrio fazer uma correco das pontes trmicas planas. Desta forma desenvolve-se um modelo de clculo que permita de forma fcil determinar o reforo necessrio a integrar no sistema independentemente dos revestimentos aplicados na envolvente. Com este tipo de abordagem pretende-se obter um mtodo que permita responder s necessidades da indstria do GRC, fornecendo um mtodo de clculo que se aplique aos diversos tipos de envolventes que podem ser executados recorrendo a painis sanduche. Esse mtodo de clculo posteriormente desenvolvido para nveis de exigncia superior, ultrapassando assim o limite inferior imposto pelo RCCTE. Sero analisados brevemente os detalhes construtivos relativos soluo preconizada recorrendo a desenhos de pormenor que facilitem a sua colocao em obra.

    PALAVRAS-CHAVE: GRC, fachada, sanduche, junta, RCCTE.

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    ABSTRACT

    The use of prefabricated facade systems in Building Construction has been proved as an even more interesting and efficient alternative, showing to be a vanguard solution in order to guarantee profits at productivity and quality levels. The introduction of GRC (Glassfibre Reinforced Concrete) panels on the construction market brought advantages to the sector once that conciliates the prefabrication advantages with lightness, high performance levels and a great flexibility of shapes and finishing. This composite is composed by a cement matrix reinforced with alkaline medium proof glassfibre. The inclusion of fibres allows improving the mortars mechanical properties, especially at the tensile and flexural strength resistance level, making the components to have less thickness and consequently less weight in comparison to the reinforced concrete pieces.

    Regarding the building market there are three kinds of panels which are commercialized, these are the single skin type, the sandwich type and stud frame. They have distinct qualities and its choice depends of the exigencies and characteristics of the work.

    In this work the joint between GRC sandwich panels is analysed at thermal level, verifying its conformity with the demands recognised at the Portuguese Code for Thermal Behaviour Characteristics of Buildings (Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios - RCCTE), and proposing correction solutions.

    The study had as target the joint areas because these are critical points in the enclosures executed with this type of panel. Being related with heterogeneities existing throughout the enclosure, it is necessary to take into account that we are before regions of thermal bridge that must be taken into consideration and object of a detailed study.

    With the implementation of the new RCCTE, the minimal exigencies to accomplish at the plain thermal bridge areas became more rigorous, imposing now more restrictive conditions to be respected by projectors and that may put in risk the application of sandwich panels without treatment of the areas of greater thermal fragility.

    This way the work methodology has started from the identification of the areas that show major feebleness, taking advantage of the calculation of the thermal parameters of the distinct areas which constitute the GRC sandwich panel. Trough the analysis and the results obtained, it is verified that is necessary to do a correction of the plain thermal bridges. This way it is developed a calculation model which allows determining, in an easy way, the stiffener needed to integrate in the system, independently of the coatings applied in the enclosure. With this type of approach it is aspired to obtain a method that gives a solution to the needs of the GRC industry, providing a calculation method that can be applied in the various kinds of enclosures which can be executed using sandwich panels.

    That calculation method is subsequently developed for superior exigency levels, exceeding this way, the inferior limit imposed by the RCCTE. It will be briefly analysed the constructive details related to the instituted solution using detail drawings that turns its placing easier at the work.

    KEYWORDS: GRC, facade, sandwich, joint, RCCTE.

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    NDICE GERAL

    AGRADECIMENTOS .................................................................................................................................. i

    RESUMO ................................................................................................................................................. iii

    ABSTRACT ...............................................................................................................................................v

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 1 1.1 DEFINIO DO DOMNIO EM ESTUDO ........................................................................................ 1

    1.2 INTERESSE E OBJECTIVOS DO TRABALHO ............................................................................... 1

    1.3 ORGANIZAO E ESTRUTURAO DO TEXTO.......................................................................... 2

    2 BETO REFORADO COM FIBRA DE VIDRO ........................ 3 2.1 DESCRIO GERAL ................................................................................................................... 3

    2.2 DESENVOLVIMENTO HISTRICO ............................................................................................... 3

    2.3 PRINCIPAIS APLICAES DE GRC............................................................................................. 5

    2.4 CARACTERIZAO DO COMPSITO.......................................................................................... 8

    2.4.1 FIBRA DE VIDRO............................................................................................................................ 8

    2.4.2 MATRIZ DO COMPSITO............................................................................................................... 10

    3 PAINIS DE BETO REFORADOS COM FIBRAS DE VIDRO ............................................................................................................................................ 13 3.1 TIPOS DE PAINIS DE GRC ...................................................................................................... 13

    3.2 PRODUO .............................................................................................................................. 15

    3.2.1 EQUIPAMENTO............................................................................................................................ 15

    3.2.2 PROCESSO DE PRODUO .......................................................................................................... 16

    3.2.2.1 Pr-mistura ............................................................................................................................... 16

    3.2.2.2 Projeco directa...................................................................................................................... 18

    3.3 CURA........................................................................................................................................ 20

    3.4 PROPRIEDADES MECNICAS DO GRC .................................................................................... 21

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    4 JUNTAS DE FACHADAS PR-FABRICADAS .......................... 25 4.1 GENERALIDADES ..................................................................................................................... 25

    4.2 TIPOS DE JUNTAS .................................................................................................................... 25

    4.3 REQUISITOS DE DESEMPENHO EM JUNTAS SELADAS............................................................ 27

    4.4 CONSTITUIO DA JUNTA SELADA ......................................................................................... 29

    4.5 DIMENSIONAMENTO DE JUNTAS SELADAS ............................................................................. 33

    5 PONTES TRMICAS .......................................................................................... 37 5.1 DEFINIO ............................................................................................................................... 37

    5.2 TIPOS DE PONTES TRMICAS .................................................................................................. 39

    5.3 CONSEQUNCIAS DA EXISTNCIA DE PONTES TRMICAS ..................................................... 40

    5.3.1 INTRODUO .............................................................................................................................. 40

    5.3.2 INCREMENTO DAS PERDAS TRMICAS ........................................................................................... 40

    5.3.3 AGRAVAMENTO DO RISCO DE CONDENSAES SUPERFICIAIS......................................................... 40

    5.3.4 POTENCIAMENTO DO DESENVOLVIMENTO DE FUNGOS E BOLORES.................................................. 43

    5.3.5 HETEROGENEIDADE DAS TEMPERATUAS SUPERFICIAIS INTERIORES................................................ 44

    5.4 REGULAMENTAO ................................................................................................................. 45

    5.4.1 COEFICIENTE DE TRANSMISSO TRMICA ..................................................................................... 45

    5.4.2 COEFICIENTE DE TRANSMISSO TRMICA LINEAR ......................................................................... 47

    5.4.3 REQUISITOS MINIMOS REGULAMENTARES ..................................................................................... 48

    6 ESTUDO DO CASO ............................................................................................. 53 6.1 IDENTIFICAO DO PROBLEMA............................................................................................... 53

    6.2 CLCULO TRMICO SEM CORRECO DE PONTE TRMICA .................................................. 54

    6.3 EQUACIONAMENTO DA SOLUO ........................................................................................... 58

    6.4 DETALHES CONSTRUTIVOS ..................................................................................................... 62

    6.4.1 JUNTAS VERTICAIS ...................................................................................................................... 62

    6.4.1.1 Correco da junta vertical em poliestireno expandido............................................................ 62

    6.4.1.2 Correco da junta vertical em poliuretano projectado ............................................................ 63

    6.4.2 JUNTAS HORIZONTAIS.................................................................................................................. 65

    6.4.2.1 Correco da junta horizontal em caso de ponte trmica linear .............................................. 66

    6.4.2.2 Correco da junta horizontal em caso de ponte trmica plana .............................................. 67

    6.4.3 PILAR DE CANTO......................................................................................................................... 68

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    6.5 VERIFICAO........................................................................................................................... 69

    6.5.1 JUNTAS VERTICAIS ...................................................................................................................... 69

    6.5.2 JUNTAS HORIZONTAIS ................................................................................................................. 74

    6.6 COMPARAO SOLUES ...................................................................................................... 76

    6.7 NVEIS DE QUALIDADE............................................................................................................. 79

    6.7.1 NVEL MDIO .............................................................................................................................. 79

    6.7.2 NVEL MXIMO ............................................................................................................................ 80

    7 CONCLUSES......................................................................................................... 83 7.1 CONSIDERAES FINAIS......................................................................................................... 83

    7.2 PRINCIPAIS CONCLUSES....................................................................................................... 84

    7.2.1 JUNTAS VERTICAIS ..................................................................................................................... 84

    7.2.2 JUNTAS HORIZONTAIS ................................................................................................................. 84

    7.3 PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO................................................................................. 85

    BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................................... 87

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    NDICE DE FIGURAS

    Fig. 2.1 - Resistncia traco de fibras de vidro em soluo aquosa de cimento Portland a 80 C [2] 4

    Fig. 2.2 - Hotel San Francisco Marriot, Estados Unidos [8] ................................................................... 5

    Fig. 2.3 - Edifcio com fachadas em GRC, Madrid................................................................................. 6

    Fig. 2.4 - Edifcio com fachadas em GRC, Maia .................................................................................... 6

    Fig. 2.5 - Torre de telecomunicaes [6]................................................................................................. 7

    Fig. 2.6 - Contentor de lixo [9]................................................................................................................ 7

    Fig. 2.7 - Barreira acstica [10]............................................................................................................... 7

    Fig. 2.8 - Fibra de vidro pr-cortada (chopped) [11]............................................................................... 9

    Fig. 2.9 - Fibra de vidro em rolos (roving) [11] ...................................................................................... 9

    Fig. 2.10 - Fibra de vidro em manta (scrim) [11].................................................................................. 10

    Fig. 2.11 - Interaco fibra/matriz em fase no fissurada submetida a esforos de traco (esq.) e compresso (dir.) [12] ........................................................................................................................... 11

    Fig. 2.12 - Interaco fibra/matriz em fase fissurada [12] .................................................................... 11

    Fig. 3.1 - Painel GRC tipo casca [7] ..................................................................................................... 13

    Fig. 3.2 - Painel GRC sanduche [7] ..................................................................................................... 14

    Fig. 3.3 - Painel GRC strud frame [7] ................................................................................................... 14

    Fig. 3.4 - Misturadora [17] .................................................................................................................... 15

    Fig. 3.5 - Pistola de projeco concntrica [17] .................................................................................... 16

    Fig. 3.6 - Projeco directa com pistola concntrica [adaptado 20]...................................................... 18

    Fig. 3.7 - Metodologia de projeco [21].............................................................................................. 19

    Fig. 3.8 - Produo de painel de GRC por projeco directa................................................................ 20

    Fig. 3.9 - Resistncia flexo na rotura de um provete de GRC sujeito a envelhecimento acelerado [adaptado 13]......................................................................................................................................... 22

    Fig. 3.10 - Resistncia traco na rotura de um provete de GRC sujeito a envelhecimento acelerado [adaptado 13]......................................................................................................................................... 22

    Fig. 3.11 - Variao da resistncia flexo na rotura com a fraco de volume de fibra (GRC produzido por projeco com fibras de 37 mm) [adaptado 13]............................................................. 23

    Fig. 3.12 - Variao da resistncia flexo na rotura com o comprimento das fibras (GRC produzido por projeco contendo 5% do peso em fibra de vidro) [adaptado 13]................................................. 24

    Fig. 4.1 - Junta aberta [22] .................................................................................................................... 25

    Fig. 4.2 - Junta selada [22] .................................................................................................................... 26

    Fig. 4.3 - Movimento da junta em caso de expanso dos painis ......................................................... 26

    Fig. 4.4 - Movimento da junta em caso de retraco dos painis.......................................................... 27

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    Fig. 4.5 - Falha por adeso .................................................................................................................... 28

    Fig. 4.6 - Falha por coeso .................................................................................................................... 28

    Fig. 4.7 - Constituintes de juntas seladas [22]....................................................................................... 29

    Fig. 4.8 - Limitador de junta [26] .......................................................................................................... 30

    Fig. 4.9 - Colocao do limitador de junta ............................................................................................ 30

    Fig. 4.10 - Classificao dos selantes com base na ISO 11600 [27] ..................................................... 32

    Fig. 4.11 - Dimenses tpicas de junta entre painis ............................................................................. 33

    Fig. 4.12 - Dimenses tpicas de junta entre painis de canto............................................................... 33

    Fig. 5.1 - Exemplos de ponte trmica [31] ............................................................................................ 38

    Fig. 5.2 - Fotografia e respectivo termograma de um edifcio pr-fabricado [32] ................................ 38

    Fig. 5.3 - Trocas de calor entre dois ambientes ..................................................................................... 41

    Fig. 5.4 - Trocas de calor no painel sanduche de GRC ........................................................................ 43

    Fig. 5.5 - Termograma e fotografia de uma zona de ponte trmica [34] ............................................... 44

    Fig. 5.6 - Diviso de Portugal continental em funo das zonas climticas de Inverno [35] ................ 48

    Fig. 5.7 - Requisitos mnimos nas zonas de ponte trmica plana [36] .................................................. 49

    Fig. 6.1 - Alado da fachada.................................................................................................................. 54

    Fig. 6.2 - Detalhe da junta ..................................................................................................................... 56

    Fig. 6.3 - Corte da fachada em zona de junta vertical ........................................................................... 56

    Fig. 6.4 - Painel sanduche .................................................................................................................... 59

    Fig. 6.5 - Disposio construtiva Correco da junta vertical em poliestireno expandido................. 62

    Fig. 6.6 - Disposio Construtiva Correco da junta vertical em poliuretano projectado ................ 64

    Fig. 6.7 - Junta horizontal no plano da laje Ponte trmica linear ....................................................... 65

    Fig. 6.8 - Junta horizontal no plano da parede Ponte trmica plana................................................... 65

    Fig. 6.9 - Disposio construtiva Correco da ponte trmica linear resultante da junta horizontal.. 66

    Fig. 6.10 - Disposio construtiva Correco da ponte trmica plana resultante da junta horizontal em EPS .................................................................................................................................................. 67

    Fig. 6.11 - Disposio construtiva Correco da ponte trmica plana resultante da junta horizontal em PUR ................................................................................................................................................. 68

    Fig. 6.12 - Disposio construtiva Correco da ponte trmica nos pilares de canto......................... 69

    Fig. 6.13 - Disposio construtiva Correco da junta vertical em poliestireno expandido............... 70

    Fig. 6.14 - Disposio construtiva Correco da junta vertical em poliuretano projectado ............... 72

    Fig. 6.15 - Disposio construtiva Correco da junta horizontal ao nvel da laje em poliuretano projectado .............................................................................................................................................. 74

    Fig. 6.16 - Disposio construtiva Correco da junta horizontal ao nvel da parede em poliestireno expandido .............................................................................................................................................. 75

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    Fig. 6.17 - Disposio construtiva Correco da junta horizontal ao nvel da parede em poliuretano projectado.............................................................................................................................................. 76

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    NDICE DE QUADROS

    Quadro 2.1 - Composio qumica da fibra de vidro AR (expresso em percentagem de massa) [2]...... 8

    Quadro 2.2 - Propriedades das fibras de vidro AR [2]............................................................................ 9

    Quadro 2.3 - Propriedades da pasta de cimento Portland [2] ................................................................ 10

    Quadro 2.4 - Composio qumica da areia [13]................................................................................... 12

    Quadro 3.1 - Mistura proposta Processo de pr-mistura [4;20] ......................................................... 17

    Quadro 3.2 - Mistura proposta Processo de projeco directa [4;20] ................................................ 19

    Quadro 3.3 - Propriedades mecnicas caractersticas de Cem-FIL GRC aos 28 dias [4;13] ................ 21

    Quadro 4.1 - Classificao dos selantes elastomricos segundo ASTM C 920 [23]............................. 31

    Quadro 4.2 - Dimenses padro para juntas entre painis de GRC ...................................................... 35

    Quadro 5.1 - Resistncias trmicas superficiais [35] ............................................................................ 46

    Quadro 5.2 - Coeficientes de transmisso trmica superficiais mximos admissveis de elementos opacos [W/(m2 C)] [35]........................................................................................................................ 48

    Quadro 5.3 - Coeficientes de transmisso trmica de referncia em W/(m2 C) [35] ........................... 49

    Quadro 6.1 - Quadro comparativo dos coeficientes de transmisso trmica [W/(m2C)) ..................... 77

    Quadro 6.2 - Quadro comparativo das temperaturas superficiais interiores [C].................................. 78

    Quadro 6.3 - Propriedades especficas, para 5 cm, de materiais de isolamento [42;43] ....................... 78

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    SMBOLOS E ABREVIATURAS

    J largura mnima da junta [mm]

    X capacidade elstica de movimentao do selante em percentagem [%]

    A movimentao calculada do painel para as variaes trmicas [mm]

    B tolerncias de construo do material [mm]

    C consideraes ssmicas ou outras que se considerem apropriadas [mm]

    C coeficiente dilatao trmico [mm/mm/C]

    t variao trmica [C]

    l comprimento do painel [mm]

    q fluxo de calor [W/ m2]

    U coeficiente de transmisso trmica do elemento [W/(m2C)]

    it temperatura do ambiente interior [C]

    et temperatura do ambiente exterior [C]

    si temperatura superficial interior [C]

    ih condutncia trmica superficial interior [W/(m2C)]

    siR resistncia trmica superficial interior [(m2. C)/W]

    jR resistncia trmica da camada j [(m2. C)/W]

    seR resistncia trmica superficial exterior [(m2. C)/W]

    jR resistncia trmica da camada j [(m2. C)/W]

    jd espessura da camada j [m]

    j condutibilidade trmica do material da camada j [W/(m.C)]

    ptL perdas de calor por diferena de temperatura [W/C]

    j coeficiente de transmisso trmica linear da ponte trmica j [W/(m.C)]

    jB desenvolvimento linear da ponte trmica j medido pelo interior [m]

    tQ perdas de calor por conduo atravs da envolvente [W]

    extQ perdas de calor pelos elementos em contacto com o exterior [W]

    aQln perdas de calor pelos elementos em contacto com locais no aquecidos [W]

    peQ perdas de calor pelos pavimentos e paredes em contacto com o solo [W]

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    ptQ perdas de calor pelas pontes trmicas lineares existentes no edifcio [W]

    GD nmero de graus-dias de aquecimento

    1R resistncia trmica em zona corrente [m2C/W]

    seR resistncia trmica superficial exterior [m2C/W]

    extGRCe espessura da camada exterior de GRC [m]

    GRC condutibilidade trmica do material GRC [W/(m.C)]

    isoe espessura do isolamento trmico [m]

    iso condutibilidade trmica do isolante trmico [W/(m.C)]

    intGRCe espessura da camada interior de GRC [m]

    siR resistncia trmica superficial interior [m2C/W]

    2R resistncia trmica em zona macia [m2C/W]

    Plae espessura total do painel de GRC [m]

    3R resistncia trmica em zona de junta [m2C/W]

    CR2 resistncia trmica em zona macia aps correco da ponte trmica [m2C/W]

    d espessura do reforo [m]

    d condutibilidade trmica do material usado para reforo [W/(m.C)]

    GRC Glassfibre Reinforced Concrete

    GRCA Glassfibre Reinforced Concrete Association

    PCI Precast Concrete Institute

    RCCTE Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios

    BRE Building Research Establishment

    MOR Resistncia flexo na rotura

    LOP Limite elstico de flexo

    UTS Resistncia de traco na rotura

    BOP Limite elstico traco

    ASTM American Society for Testing and Materials

    ISO International Organization for Standardization

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    LNEC Laboratrio Nacional de Engenharia Civil

    ITE Informaes cientificas e Tcnicas de Edifcios

    EPS Poliestireno expandido moldado

    PUR Espuma rgida de poliuretano

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    1 INTRODUO

    1.1 DEFINIO DO DOMNIO EM ESTUDO

    O presente trabalho tem por objectivo estudar o comportamento trmico de juntas entre painis de matriz cimentcia reforada com fibras de vidro resistente aos lcalis do cimento, cuja denominao internacional GRC (Glassfibre Reinforced Concrete). O estudo apenas recai na anlise do comportamento de painis do tipo sanduche, isto , constitudos exteriormente por GRC e interiormente por material isolante. Este critrio deve-se ao facto deste tipo de configurao estar associado intrinsecamente a pontes trmicas nas zonas de unio dos painis que podem trazer consequncias negativas no comportamento dos edifcios.

    1.2 INTERESSE E OBJECTIVOS DO TRABALHO

    O interesse por sistemas pr-fabricados tem aumentado na indstria da construo. Os motivos que impulsionaram esta tendncia foram as vantagens inerentes a este tipo de produo que permitem alcanar objectivos impossveis de cumprir com o mtodo tradicional. Os benefcios principais deste tipo de sistema so a rapidez de execuo em obra e a qualidade das peas produzidas. Este tipo de produo racionalizada foi transposto para a produo de fachadas, emergindo novos sistemas e tecnologias.

    As fachadas em GRC so fruto deste desenvolvimento, apresentando-se como uma soluo muito eficaz e com caractersticas muito peculiares que facilitaram a sua rpida integrao no mercado. Os dois principais centros de estudos a nvel mundial de painis de GRC so a Glassfiber Reinforced Concrete Association (GRCA) e o Precast Concrete Institute (PCI). Os seus trabalhos incidem principalmente no estudo e sistematizao de directrizes de projecto a aplicar na execuo de fachadas de GRC recorrendo a painis do tipo stud frame. Isso deve-se supremacia deste tipo de configurao no mercado mundial, especialmente ao nvel do norte-americano. No mbito nacional tal no ocorre, estando de certa forma limitado o recurso a este tipo de painis devido ao preo elevado do ao que inviabiliza muitas vezes a sua utilizao. Desta forma os estudos tendo como objecto os painis sanduche so claramente escassos e os existentes no se adaptam aos documentos normativos portugueses.

    Um dos problemas inerentes utilizao dos painis sanduche a especificidade existente nas zonas de junta, tratando-se de regies de ponte trmica e exigindo assim um estudo detalhado. A implementao do novo Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios (RCCTE) trouxe exigncias mais rigorosas nomeadamente ao nvel de pontes trmicas podendo inviabilizar o recurso a este tipo de fachada sem a correco apropriada das zonas termicamente mais frgeis. Na bibliografia consultada essa especificidade no abordada, analisando o comportamento

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    trmico dos painis como se tratassem de componentes homogneos, no havendo assim interrupo do isolamento trmico ao longo do seu desenvolvimento.

    A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, sensvel necessidade de abordar este problema, props o projecto de pesquisa intitulado Tratamentos de Juntas em Painis de GRC, fruto da cooperao com a empresa Glasscrete.

    Os principais objectivos deste trabalho podem sintetizar-se da seguinte forma:

    Verificao da conformidade das fachadas de edifcios executadas com painis sanduche de GRC com o RCCTE;

    Identificao das zonas de maior fragilidade ao longo da envolvente; Execuo de um modelo de clculo que permita determinar as caractersticas do reforo

    trmico a colocar nas zonas de ponte trmica; Abordar brevemente as disposies construtivas da soluo preconizada.

    1.3 ORGANIZAO E ESTRUTURAO DO TEXTO

    O trabalho est estruturado em sete captulos.

    No captulo 1 define-se o domnio em estudo e apresenta-se os interesses e objectivos a atingir com a realizao do presente trabalho.

    No captulo 2 realiza-se uma breve sntese do estado actual do conhecimento sobre beto reforado com fibra de vidro. A anlise incide principalmente no estudo dos constituintes que formam o compsito e em uma breve abordagem histrica da sua evoluo. Por fim faz-se uma pesquisa do panorama actual de utilizao de produtos de GRC.

    O captulo 3 apresenta os tipos de painis GRC disponveis no mercado e principais caractersticas. Posteriormente mencionado as principais tecnologias utilizadas na sua produo e pormenoriza o procedimento de fabricao.

    No captulo 4 faz-se uma anlise das juntas de unio em painis pr-fabricados, abordando as prticas de dimensionamento e materiais constituintes.

    No captulo 5 faz-se uma breve sntese do estado actual de conhecimento no domnio das pontes trmicas, analisando as consequncias directas do fenmeno fsico na envolvente e as patologias associadas. Na etapa seguinte feita uma sntese dos parmetros e requisitos mnimos expressos no Regulamento das Caractersticas de Comportamento Trmico dos Edifcios (RCCTE) que digam respeito s pontes trmicas.

    No captulo 6 verifica-se se existe incumprimento dos requisitos mnimos de qualidade trmica em fachadas constitudas por painis sanduche de GRC. Posteriormente formulado o desenvolvimento de uma equao que permita o clculo do reforo necessrio nas zonas de ponte trmica, abordando as disposies construtivas da soluo preconizada.

    No captulo 7 so sintetizadas as concluses retiradas deste trabalho e propostos alguns temas para desenvolvimentos futuros.

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    3

    2 BETO REFORADO COM FIBRA DE VIDRO

    2.1 DESCRIO GERAL

    A sigla GRC (Glassfibre reinforced concrete), designada por GFRC nos Estados Unidos, usada para intitular o produto manufacturado resultante da mistura cimento/agregado reforada com fibras de vidro resistentes ao meio alcalino. As fibras conferem diferentes caractersticas argamassa conseguindo obter do produto resultante propriedades mecnicas elevadas mediante um procedimento simples e de custo relativamente baixo [1].

    O GRC pode resultar de vrios tipos de combinaes de materiais, dependendo estas propores das caractersticas finais pretendidas. So inmeros os factores que so variveis no processo de manufacturao, composio da mistura, grau de compactao, tipo de cimento, propores dos constituintes, comprimento e orientao das fibras e tipo de fabrico.

    2.2 DESENVOLVIMENTO HISTRICO

    As primeiras aplicaes de fibra de vidro como forma de reforo de um material ocorreram nos anos trinta nos Estados Unidos. Inicialmente o recurso a este tipo de mistura foi feito pela indstria de polmeros, tornando-se decisivo para o surgimento dos polmeros modernos [2].

    Em 1950, aps o sucesso obtido na produo de polmeros, so feitas as primeiras tentativas de utilizar este tipo de matria no reforo do beto. O primeiro estudo feito ao composto resultante da adio de fibras de vidro ao cimento decorreu na Rssia, em 1964, por Byryukovich. A concluso fundamental desta pesquisa foi que as fibras de vidro E (tipo de fibra de vidro usada na indstria dos plsticos, a denominao E deriva da propriedade de isolamento elctrico em ambientes com baixa alcalinidade) no resistiam aos lcalis do meio, inviabilizando a sua utilizao em matrizes fortes em hidrxidos de clcio.

    Com a consolidao da teoria dos materiais fibrosos, do desenvolvimento de tcnicas de produo dos compsitos, do estudo de diferentes tipos de cimento e da anlise das reaces qumicas entre fibra/matriz, a dcada de 60 foi o ponto de partida para grandes avanos ao nvel do GRC. Outro motivo que impulsionou o interesse por este tipo de material foi a descoberta dos efeitos malficos para a sade humana do amianto sendo desta forma necessrio encontrar um substituto. Uma nova fibra de vidro foi desenvolvida na Inglaterra, como extenso das pesquisas feitas pelo BRE (Building Research Establishment), sendo designado de fibra de vidro AR (alkali-resistant). Este tipo de fibra foi conseguido atravs da adio de xido de zircnio ao processo de fabrico [3].

    Esta nova fibra de vidro apresentava um desempenho superior relativamente do tipo E, devendo-se principalmente maior compatibilidade existente entre os dois meios da mistura. A fibra de vidro do

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    tipo AR apresentava uma maior resistncia ao ataque alcalino provocado pelo hidrxido de clcio resultante da hidratao do cimento e consequentemente melhores desempenhos ao nvel de resistncia e durabilidade dos componentes.

    A Figura 2.1 representa o que foi afirmado anteriormente, mostrando graficamente o comportamento dos dois tipos de fibras imersas em soluo aquosa de cimento Portland. A soluo de cimento aquecida a 80 C para simular um envelhecimento acelerado do componente.

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    0 20 40 60 80 100

    Tempo (horas)

    Resistncia traco (MPa)

    Fibra de vidro AR

    Fibra de vidro E

    Fig. 2.1 - Resistncia traco de fibras de vidro em soluo aquosa de cimento Portland a 80 C [2]

    Como se observa na figura anterior, a resistncia traco em idades jovens ligeiramente superior para a fibra de vidro do tipo E. Mas tal tendncia quase prontamente invertida, isto porque o decrscimo em termos de resistncia mais acentuado nas fibras de vidro E, de tal forma que para idades mais avanadas deixam de funcionar como elemento de reforo do sistema.

    Em 1971 a empresa Pilkington Brothers consegue a patente da fibra de vidro AR, ficando designada a nvel comercial de Cem-FIL AR. Estes avanos marcam o incio da comercializao deste tipo de fibra, impulsionando o GRC como um novo material ao servio da construo. Este tipo de material teve de imediato um impacto muito forte no sector da construo que levou criao de uma associao em 1976 com o nome de GRCA (Glass Fibre Reinforced Cement Association) com sede em Camberley, Inglaterra [4]. Nos Estados Unidos o estudo deste compsito est a cargo da PCI (Precast Concrete Institute), sendo seu objectivo principal desenvolver a tecnologia de painis de fachadas em GRC [5].

    No ano de 1980 a Pilkington Brothers lana uma nova verso da sua fibra Cem-FIL AR2 que se distinguia da anterior pelo facto de possuir um revestimento que permite aumentar ainda mais a sua estabilidade a nvel qumico no seio da matriz de cimento.

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    2.3 PRINCIPAIS APLICAES DE GRC

    So diversas as aplicaes de GRC existentes no mercado tendo principal peso a produo de painis de fachadas pr-fabricados, que representa cerca de 80% da produo a nvel mundial [6]. O mercado da construo mostrou-se muito receptivo a este tipo de fachadas por potenciar a capacidade arquitectnica uma vez que permite uma grande versatilidade ao nvel de geometria, dimenses, cores e textura. Por outro lado permite fabricar componentes de elevado desempenho mecnico e de baixo peso que se repercute na diminuio do peso prprio das estruturas que podem alcanar 1/6 do peso da pea equivalente em beto armado [7]. Os painis podem ser utilizados na construo de edifcios novos, na restaurao e na reabilitao de estruturas antigas ou danificadas.

    Uma das obras de maior dimenso executada com painis de fachadas em GRC foi o hotel San Francisco Marriot localizado nos Estados Unidos, ver Figura 2.2, totalizando 2400 painis de fachada e com 42 andares.

    Fig. 2.2 - Hotel San Francisco Marriot, Estados Unidos [8]

    Como exemplo de mais um edifcio executado com painis de GRC pode ser referido o edifcio executado pela empresa Glasscrete em Espanha na cidade de Madrid, ilustrado na Figura 2.3. Para a execuo das fachadas do edifcio recorreu-se a painis do tipo stud-frame que totalizam uma rea de aproximadamente 2000 m2 distribudos por 383 painis.

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    Fig. 2.3 - Edifcio com fachadas em GRC, Madrid

    A nvel nacional j existem vrios edifcios executados com este tipo de fachada. Como exemplo apresentado uma construo situada na Maia que conta com 168 painis que perfazem uma rea de 895 m2. A Figura 2.4 do lado esquerda ilustra o edifcio antes da colocao dos painis de fachada e do lado direito representa a obra em fase de concluso. De salientar neste exemplo que na fase de projecto houve o cuidado de recorrer a uma tipologia com planos ortogonais onde existe um elevado grau de regularidade e repetio na sua malha estrutural. Isso permite que haja uma sistematizao de fabricao e de montagem dos painis em obra que permitem uma reduo do custo e aumento de produtividade.

    Fig. 2.4 - Edifcio com fachadas em GRC, Maia

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    Outras das aplicaes usuais deste tipo de material so as barreiras acsticas utilizadas nas margens das vias rodovirias, tubos de grande dimenso e diversas formas, revestimentos interiores, torres de comunicao, cabines telefnicas, reservatrios, etc. Este tipo de compsito tambm usado na confeco de cofragens perdida de beto armado uma vez que muito eficaz na resistncia carbonatao e na penetrao de cloretos.

    Fig. 2.5 - Torre de telecomunicaes [6] Fig. 2.6 - Contentor de lixo [9]

    Fig. 2.7 - Barreira acstica [10]

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    2.4 CARACTERIZAO DO COMPSITO

    2.4.1 FIBRA DE VIDRO

    A fibra de vidro obtida de alguns compostos qumicos abundantes na natureza com os quais fabricado o prprio vidro. A sua origem remonta antiguidade mas a sua evoluo ao nvel da fabricao e de estudos cientficos tiveram lugar no sculo XX.

    So vrios os tipos de fibra de vidro disponveis no mercado, possuindo caractersticas distintas e aplicaes especficas. Para responder s necessidades da indstria de construo civil foi necessrio encontrar um tipo de fibra que possusse caractersticas compatveis com o cimento, uma vez que a maioria das obras recorrem a este tipo de aglomerante. Por outro lado, a fibra teria que possuir caractersticas mecnicas que permitissem o reforo da argamassa possibilitando desta forma obter um composto de maior resistncia. Em respostas a esta necessidade apareceu ao nvel de mercado a fibra de vidro do tipo AR para o reforo de argamassas. A caracterstica principal deste tipo de fibra a sua resistncia aos lcalis do cimento que obtida pela incorporao de um mnimo de 16% de xido de zircnio (ZrO2) no seu processo de fabrico [1].

    Quadro 2.1 - Composio qumica da fibra de vidro AR (expresso em percentagem de massa) [2]

    Composio Cem-FIL 2AR

    SiO2 62.0

    TiO2 0.1

    Al2O3 0.8

    ZrO2 16.7

    CaO 5.6

    Na2O 14.8

    As propriedades principais que possuem este tipo de fibras so:

    Elevada resistncia mecnica; Elevado mdulo de elasticidade; Incombustibilidade; Estabilidade dimensional; No so passveis de inalao; Resistentes corroso; Reteno das caractersticas a altas temperaturas; Facilidade de processamento.

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    O quadro 2.2 apresenta algumas das propriedades deste tipo de fibra:

    Quadro 2.2 - Propriedades das fibras de vidro AR [2]

    Caractersticas Fibra de vidro AR

    Ponto de fuso (C) 1185

    Mdulo de Young das fibras a 25C (GPa) 70

    Resistncia traco de uma fibra a 25C (MPa) 3600

    Deformao na rotura (%) 2

    Resistncia traco do feixe de fibras (MPa) 1450 1900

    Densidade (Mg/m3) 2.68

    Coeficiente de dilatao trmico linear (por 10-6/ C) 7.5

    Dimetro do filamento (m) 14 a 20

    Ao nvel de mercado existem vrias formas de feixes de fibra de vidro que tm em conta as caractersticas e o mtodo de produo desejado pelo cliente. Podem ser adquiridos na forma de pr-cortados (chopped), sendo este formato indicado para o mtodo de produo designado por pr-mistura e variando o seu comprimento entre 3 mm e 25 mm. Outra forma a comercializao em rolos (roving) sendo usado na produo por projeco, onde a fibra de vidro cortada e projectada recorrendo a pistolas de projeco. Tambm existem fibras de vidro em mantas (scrim), menos utilizado que os mencionados anteriormente, usados para reforo de reas que esto sujeitos a foras concentradas elevadas.

    Fig. 2.8 - Fibra de vidro pr-cortada (chopped) [11] Fig. 2.9 - Fibra de vidro em rolos (roving) [11]

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    Fig. 2.10 - Fibra de vidro em manta (scrim) [11]

    2.4.2 MATRIZ DO COMPSITO

    Na maioria das aplicaes de GRC a proporo de fibras de vidro no compsito mnima, entre 1,5% a 5% do volume, sendo o volume restante constitudo pela matriz de cimento. A matriz tem a funo de envolver a fibra de vidro, proporcionando estabilidade e distribuindo os esforos actuantes para a fase de reforo (fibra de vidro). As propriedades da matriz so muito influenciadas pelas variveis de fabrico. A constituio, o mdulo de finura e a quantidade de gua usada so importantes variveis de controlo do grau de hidratao e consequente variao ao nvel de resistncia das peas. Uma razo alta de gua/cimento resulta numa matriz muito porosa e muito frgil. Por outro lado, se a razo gua/cimento baixa, muito do cimento que contm a mistura no eficazmente hidratado. Por estes motivos necessrio ter um intervalo restrito e devidamente controlado ao longo do processo de fabrico das peas de GRC.

    O cimento Portland actualmente o aglomerante mais usado na manufacturao de GRC, apresentando as seguintes caractersticas:

    Quadro 2.3 - Propriedades da pasta de cimento Portland [2]

    Propriedades

    Mdulo de Young (GPa) 7 28

    Resistncia compresso (MPa) 14 140

    Resistncia traco (MPa) 1.4 7

    Deformao por traco na rotura (%) 0,02 0.06

    Coeficiente de poisson 0,23 0,30

    Densidade (Mg/m3) 1.7 2.2

    Coeficiente de dilatao trmica linear (por 10-6/ C) 5

    Atravs da anlise das propriedades apresentadas nos quadros 2.2 e 2.3 algumas concluses podem ser retiradas, nomeadamente da forma como se d a transferncia de aces em caso de carregamento de um elemento em GRC.

    Nas matrizes que no se encontram fissuradas, quando a aco aplicada ao elemento, parte dela transmitida s fibras e a restante matriz de cimento. Devido diferena de rigidez entre as duas

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    fases, a fibra de vidro tem um mdulo de elasticidade muito superior a matriz do compsito, a deformao ao longo da fibra ser menor materializando-se esta diferena em tenses de cisalhamento que se desenvolvem ao longo da superfcie da fibra.

    Fig. 2.11 - Interaco fibra/matriz em fase no fissurada submetida a esforos de traco (esq.) e compresso

    (dir.) [12]

    Nas matrizes fissuradas, as fibras actuam como obstculo no alargamento das fendas, uma vez que quando carregado o elemento as fibras de vidro opem-se ao seu alargamento concentrando a fora em torno de si.

    Estes dois fenmenos explicam a maior resistncia traco, flexo, impacto e tenacidade neste tipo de compsito.

    Fig. 2.12 - Interaco fibra/matriz em fase fissurada [12]

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    Outro tipo de cimento que pode ser usado o cimento branco, contm baixo teor de xido de ferro, quando se pretende obter peas brancas ou com cores claras. Quando no existem limitaes a nvel arquitectnico este cimento dificilmente usado uma vez que o seu preo superior e exige maiores cuidados de manuseamento.

    Sucessivas pesquisas em busca de cimentos compatveis com o reforo em fibras de vidro tm sido feitas ao longo das trs ultimas dcadas, procurando matrizes que contenham menor alcalinidade e que, preferencialmente, no formem hidrxido de clcio durante a hidratao. Destes estudos concluiu-se que cimentos aluminosos e cimentos supersulfatados tambm podem ser usados em certos tipos de aplicaes desde que o reforo seja feito com fibras de vidro AR. O objectivo deste estudo era substituir a fase de reforo por fibras do tipo E, uma vez que o seu preo de mercado muito inferior comparativamente fibra AR, mas concluiu-se que persistiam os problemas de alcalinidade impedindo assim a sua utilizao.

    Tambm existem recomendaes para a areia adequada para a mistura. Em termos de composio aconselha-se o uso de uma areia siltosa uma vez que reduz a retraco na secagem, reduzindo desta forma a possibilidade de fissurao e flexo da pea. Ela deve ser lavada e preferencialmente seca de forma a reduzir a matria solvel e o teor em partculas finas, conseguindo desta forma um melhor controlo da razo gua/cimento. A composio tpica de uma areia aceitvel para o uso na manufacturao de GRC aproxima-se dos seguintes parmetros:

    Quadro 2.4 - Composio qumica da areia [13]

    Composio %

    Slica 96 98

    Sal solvel

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    3 PAINIS DE BETO REFORADOS COM FIBRAS DE VIDRO

    3.1 TIPOS DE PAINIS DE GRC

    A aplicao de GRC na produo de painis foi pioneiramente utilizada na Inglaterra mas cedo se alastrou para o resto do mundo, tendo na actualidade uma produo anual prxima dos 10 bilies de m2. Esta tecnologia tem como principais centros produtores a Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Canad e Japo [14].

    Ao nvel de mercado existem trs tipos de painis de GRC: tipo casca, sanduche e stud frame [15].

    Os painis tipo casca, ver figura 3.1, contm uma camada de GRC onde so solidarizadas nervuras de reforo de forma a garantir a estabilidade estrutural do elemento construtivo. A necessidade de inserir nervuras de reforo aos painis traz por vezes limitaes ao nvel de formas porque se torna complicado inserir nervuras em formas muito complexas. Outro dos pontos limitativos em termos de dimenses mximas sendo normalmente painis pequenos, a sua superfcie mxima aproximadamente 7 m2 [16]. Em termos de peso apresentam grande leveza, oscilando entre 30 Kg/m2 e 45 Kg/m2. Este tipo de painel usado normalmente em placagens e cornijas.

    Fig. 3.1 - Painel GRC tipo casca [7]

    Os painis sanduche so produzidos com duas camadas de GRC, contendo no seu interior material isolante. O tipo de painel mais usado constitudo por duas camadas de GRC de 10 mm e um ncleo de poliestireno expandido de 100 mm. Com este tipo de painel podem-se produzir peas em formas planas at 12 m2 de superfcie, sendo uma das dimenses mximas limitadas a 3,5 m devido s

    3

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    14

    limitaes existentes no transporte das peas da fabrica para a obra a realizar. O seu peso varia entre 60 Kg/m2 e 80 Kg/m2 em funo do tipo de acabamento superficial adoptado [16].

    Fig. 3.2 - Painel GRC sanduche [7]

    Por fim o painel do tipo stud frame, ilustrado na figura 3.3, constitudo por uma camada de GRC e contm uma estrutura metlica que serve de reforo estrutura. Foi uma inovao criada pela indstria americana no decorrer da dcada de 70 e permitiu aumentar o tamanho e a liberdade de geometria das peas [14]. A ligao destes painis feita entre a estrutura de reforo metlico e os elementos estruturais do edifcio. O espao que fica entre o paramento externo e interno da envolvente muitas vezes aproveitado para a passagem de instalaes e colocao de isolamento trmico e acstico permitindo desta forma ganhos em termos de rea til dos edifcios [1]. possvel construir peas at superfcies mximas de 22 m2, sendo muitas vezes as dimenses mximas dos painis determinadas apenas pelas limitaes legais de transporte. Em termos de peso as peas variam entre 45 Kg/m2 e 65 Kg/m2.

    Este tipo de painel mais usado nos Estados Unidos, na Europa recorre-se menos ao stud frame uma vez que o custo do ao superior inviabilizando muitas vezes a sua aplicao.

    Fig. 3.3 - Painel GRC strud frame [7]

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    3.2 PRODUO

    A maioria das tecnologias empregues na fabricao dos painis de GRC derivam da indstria dos plsticos reforados com fibras e da produo de resinas epoxdicas, uma vez que so os processos que permitem maior taxa de incorporao de fibras maximizando desta forma a resistncia das peas produzidas. Obviamente que todo o processo de produo teve que sofrer adaptaes que respondessem eficazmente s especificidades inerentes indstria da construo e compatibilidades entre materiais utilizados.

    Consoante os nveis de exigncia e particularidades requerido pelo cliente, o arquitecto fornece as directrizes para a fase de projecto. A geometria e a modulao so estabelecidas atravs da interaco com o fabricante e, com base nessas informaes, define-se o tipo de painel mais adequado para a construo. A fase seguinte passa pelo dimensionamento dos painis tendo em conta as solicitaes a que ficaro sujeitos ao longo da sua vida til. Aps o dimensionamento das juntas e execuo dos detalhes de pormenor necessrios para a execuo da obra que se passa fase de produo dos painis em fbrica.

    Seguidamente ser analisado os equipamentos utilizados para a produo de GRC e os vrios mtodos empregues na fabricao.

    3.2.1 EQUIPAMENTO

    Os equipamentos usados no fabrico dos painis so a misturadora e a pistola de projeco.

    A figura 3.4 mostra um exemplo de misturadora usada na produo de GRC. A sua funo fazer a juno dos vrios materiais constituintes da mistura. Existem vrios tipos possuindo diversas velocidades de rotao e capacidades de volume.

    Fig. 3.4 - Misturadora [17]

    A pistola de projeco tem a particularidade de fazer o corte das fibras de vidro dentro de um tambor incorporado em tamanhos uniformes, que posteriormente sero projectadas juntamente com a

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    argamassa no molde por ar comprimido. A produtividade desta mquina est influenciada pela quantidade de argamassa a ser projectada e o dimetro da pistola. A argamassa recebida j vem previamente preparada da misturadora.

    Fig. 3.5 - Pistola de projeco concntrica [17]

    3.2.2 PROCESSO DE PRODUO

    De acordo com a geometria e o tipo, intensidade e eventuais direces preferenciais das tenses a que o componente estar submetido nas etapas de manuseio, instalao e uso selecciona-se o mtodo de produo mais adequado [18].

    Para obter um produto que responda com qualidade s solicitaes a que estar sujeito ao longo do seu tempo de vida necessrio controlar rigorosamente a composio da mistura e o processo de fabrico.

    O processo de produo tem de permitir a incorporao e uma disperso uniforme de uma quantidade suficiente de fibras, para alcanar um reforo adequado. Para que esse reforo seja adequado normalmente preciso adicionar teores prximos de 5% em volume de fibra. Esse limite exige precaues ao nvel da mistura cimento-areia, ou seja, a mistura deve conter uma pequena proporo relativa de areia de maneira a que permita a incorporao de um teor suficientemente elevado de fibra [19]. A combinao da dosagem e o tipo de mtodo de produo, que determina a orientao das fibras, vai influenciar fortemente a resistncia final do elemento.

    Cinco tipos de processos de produo foram desenvolvidos para o GRC: pr-mistura (premix), projeco directa (spray-up), extruso (extrusion), laminao por enrolamento (winding) e laminao (lay-up) [19]. Na fase seguinte apenas sero abordados os processos de pr-mistura e de projeco directa uma vez que so os mais utilizados na indstria do GRC.

    3.2.2.1 Pr-mistura

    O mtodo de fabricao por pr-mistura foi desenvolvido como uma tentativa natural de empregar na produo de componentes de GRC os mesmos equipamentos e tcnicas utilizados para pr-fabricados

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    17

    de beto comum. O mtodo consiste na mistura inicial dos materiais que constituem a pasta de argamassa, adicionando posteriormente na misturadora a fibra de vidro AR pr-cortada.

    As regras gerais para este tipo de produo so:

    A quantidade de gua deve ser a mais baixa possvel normalmente adiciona-se plastificantes mistura de forma a conseguir uma reduo na quantidade de gua usada sem por em causa a trabalhabilidade e conseguindo um aumento ao nvel da resistncia dos elementos produzidos;

    Usar uma quantidade adequada de fibra esta quantidade deve ser aproximadamente entre 1,5% a 3% da massa total da matriz com o seu comprimento a variar entre 12-24 mm;

    A razo gua/cimento deve ser preferencialmente inferior a 0.35 na fase de produo deve-se ter cuidado com as quantidades de cimento de forma a evitar problemas de retraco.

    No quadro 3.1 apresenta-se uma proposta da composio que deve ter a mistura no processo de produo por pr-mistura:

    Quadro 3.1 - Mistura proposta Processo de pr-mistura [4;20]

    Mistura proposta

    Cimento 50 Kg

    Areia 50 Kg

    gua 15 17 Litros

    Plastificante Conforme indicaes do fabricante

    Polmero Opcional

    Cem-FIL AR cortada (12 mm a 24 mm)

    1,5% 3%

    Este mtodo de produo tem vrias dificuldades ao nvel da mistura uma vez que se torna difcil obter uma disperso uniforme das fibras ao longo da matriz, evitando a formao de fragmentos aglomerados de fibras que possam por em causa a resistncia das peas. Este fenmeno evitado com o verificao das propores adequadas dos vrios constituintes da mistura e respeitando os tempos de agitao recomendados para a produo por pr-mistura. Aumentar o tempo e a velocidade da mistura s vai aumentar o dano superficial das fibras e cort-las em filamentos de menor comprimento diminuindo ainda mais a trabalhabilidade da mistura. Por vezes os fabricantes recorrem a relaes de gua/cimento superiores ao aconselhvel na tentativa de contornar as dificuldades de mistura mas essa medida vai trazer repercusses negativas ao nvel de exsudao e de resistncia dos painis de GRC.

    Com este mtodo de produo a distribuio das fibras feita de forma tridimensional o que traz perdas ao nvel de reforo efectivo das peas porque muitas delas no se distribuem espacialmente no plano de actuao das foras. Esse fenmeno ainda se agrava mais pela limitao ao nvel da capacidade de incorporao de fibras na pr-mistura que muito inferior ao de outras formas de produo.

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    Por estes motivos torna-se bvio que este tipo de processo s seja usado para componentes em que as exigncias de desempenho sejam menores, no exigindo elevada capacidade de resistncia e direces preferenciais de actuao de foras. No entanto este processo normalmente escolhido para peas de difcil desmoldagem.

    3.2.2.2 Projeco directa

    A projeco directa o mtodo de produo mais usado na indstria de GRC pela sua eficcia e facilidade de execuo. Apenas ser abordado o processo de execuo que recorre pistola de projeco concntrica uma vez que o mais usado na indstria de GRC.

    O processo consiste na projeco do compsito directamente contra o molde atravs de equipamento dotado de duas unidades de projeco, uma para a injeco de argamassa e outra que corta e projecta as fibras de vidro (ver figura 3.6). Ao contrrio do processo anterior, na projeco directa a fibra de vidro e a pasta de cimento so mantidas separadas e s entram em contacto na superfcie do molde no momento da projeco.

    Fig. 3.6 - Projeco directa com pistola concntrica [adaptado 20]

    O teor de fibras incorporado na projeco directa superior ao alcanado por pr-mistura, aproximadamente 5%, havendo uma distribuio bidimensional no plano projectado. A relao agua/cimento baixo, entre 0,30 a 0,35, exigindo o emprego de aditivos de forma a manter a consistncia necessria para a sua projeco.

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    No quadro seguinte indica a composio sugerida para este tipo de produo:

    Quadro 3.2 - Mistura proposta Processo de projeco directa [4;20]

    Mistura proposta Kg

    Cimento 50 Kg

    Areia 50 Kg

    gua 15 17 Litros

    Plastificante Conforme indicaes do fabricante

    Polmero Opcional

    Cem-FIL AR cortada (25 mm a 40 mm)

    3% 5%

    Neste mtodo manual, o operador move a pistola em faixas rectas ao longo do molde a preencher e direccionando o fluxo perpendicularmente [2]. O primeiro material a ser projectado no molde uma camada de revestimento (mist coat), sem fibra de vidro, com cerca de 1 mm de espessura. A seguir projecta-se as vrias camadas de GRC j com a fibra de vidro, e so recomendadas camadas com espessuras prxima de 3 mm e devidamente compactadas com rolos metlicos para evitar vazios no compsito. A camada inferior de GRC no deve endurecer antes da aplicao da prxima, para evitar a delaminao do componente. tambm recomendado que cada camada deve ser projectada na direco perpendicular anterior, como demonstra a figura 3.7, conseguindo desta forma uma distribuio mais uniforme da pasta ao longo do molde [21].

    Fig. 3.7 - Metodologia de projeco [21]

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    20

    Fig. 3.8 - Produo de painel de GRC por projeco directa

    Neste mtodo de produo por camadas consegue-se obter grande uniformidade e uma orientao das fibras no plano dos moldes, distribuio bidimensional, obtendo painis de maior complexidade e de maior resistncia.

    3.3 CURA

    O processo de cura exige cuidados para que no ocorra perdas ao nvel da resistncia mecnica final da pea. Os componentes de GRC so geralmente de baixa espessura e contm quantidades baixas de gua. necessrio garantir que a quantidade de gua administrada mistura seja suficiente para a hidratao total do cimento, sendo desta forma necessrio evitar a rpida evaporao da gua e retendo o mximo possvel da mesma. Caso contrrio vo ocorrer perdas na resistncia esperada da pea.

    No processo de produo de GRC usam-se dois tipos de cura: cura hmida e a cura ao ar.

    A cura hmida consiste na proteco do painel com um filme de polietileno imediatamente a seguir sua produo. Ele deve ficar coberto umas horas num ambiente que ronde os 16 C. Posteriormente pode ser removido do molde e curado por mais sete dias em cmara hmida, com temperatura variando entre 15-20 C e humidade relativa de 95%.

    A cura ao ar apresenta-se como uma alternativa ao mtodo anteriormente apresentado e consiste na incorporao de polmeros na mistura que impeam a sada de gua da matriz. O polmero forma uma pelcula volta do compsito possibilitando assim a reteno da humidade utilizada para a hidratao do cimento.

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    3.4 PROPRIEDADES MECNICAS DO GRC

    As propriedades mecnicas das peas de GRC dependem da composio da mistura e do processo de produo usado na sua manufacturao.

    O quadro 3.3 ilustra o comportamento mecnico esperado do GRC aos 28 dias recorrendo aos dois processos de produo mencionados anteriormente:

    Quadro 3.3 - Propriedades mecnicas caractersticas de Cem-FIL GRC aos 28 dias [4;13]

    Processo de produo

    Propriedades Unidades Projeco Pr-mistura e moldagem

    Dosagem de fibra Cem-FIL Peso % < 5 < 3

    Resistncia flexo na rotura (MOR) MPa 20 30 10 14

    Limite elstico de flexo (LOP) MPa 7 11 5 8

    Resistncia de traco na rotura (UTS) MPa 8 11 4 7

    Limite elstico traco (BOP) MPa 5 7 4 - 6

    Resistncia ao corte interlaminar MPa 3 5 N/A

    Resistncia ao corte no plano MPa 8 11 4 7

    Resistncia compresso MPa 50 80 40 60

    Resistncia ao Impacto MPa 10 25 10 15

    Mdulo de elasticidade GPa 10 20 10 10

    Deformao na rotura % 0.6 1.2 0.2 0.6

    Peso especfico seco t/m3 1.9 2.1 1.9 2.0

    Estes valores tm apenas carcter indicativo e servem como suporte para:

    Determinar parmetros apropriados de projecto; Direccionar para o tipo de soluo mais adequada para fazer frente s solicitaes

    esperadas; Monitorizao da qualidade dos componentes produzidos.

    Das vrias propriedades apresentadas no quadro 3.3 umas dependem principalmente da qualidade da matriz enquanto que outras esto mais relacionadas com as caractersticas das fibras de vidro usadas. A resistncia compresso, mdulo de elasticidade, limite elstico de flexo (LOP), limite elstico traco (BOP) e a resistncia ao corte interlaminar dependem fortemente das caractersticas da matriz enquanto que a resistncia ao impacto, resistncia flexo na rotura (MOR), resistncia de traco na rotura (UTS), deformao na rotura e a resistncia ao corte no plano so principalmente influenciadas pela propriedade das fibras de vidro.

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    Estas caractersticas mecnicas sofrem alteraes no tempo uma vez que o compsito GRC sofre degradaes como ocorre com os restantes materiais que tem como elemento base o cimento. No entanto apresenta algumas vantagens em funo da estabilidade qumica da fibra AR, da baixa porosidade da matriz, da baixa razo gua/cimento, da adio de polmeros, do elevado consumo de cimento e da reduo das fissuras de retraco proporcionados pelas fibras. Os ambientes mais penosos para o GRC so os quentes e hmidos pois o xido de zircnio, que confere a durabilidade fibra, reage nestas condies com maior intensidade com os lcalis do cimento.

    Um estudo que permite ter uma noo do decrscimo das propriedades do GRC foi feito por Litherland et al. em 1981 [18]. O ensaio baseia-se na imerso de provetes em gua a uma temperatura de 50 C. Estas condies permitem obter um envelhecimento acelerado do GRC e relacionar posteriormente com os anos correspondentes degradao causada pelo clima do Reino Unido (Fig.3.10 e Fig.3.11).

    Fig. 3.9 - Resistncia flexo na rotura de um provete de GRC sujeito a envelhecimento acelerado [adaptado 13]

    Fig. 3.10 - Resistncia traco na rotura de um provete de GRC sujeito a envelhecimento acelerado [adaptado

    13]

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    Como mostram os grficos anteriormente apresentados nos primeiros 15 anos h um decrscimo acentuado das suas caractersticas de resistncia mas que estabilizam a longo prazo. Esta propriedade muito importante porque permite indicar valores de resistncia recomendados para a fase de projecto. De qualquer forma convm ter em ateno que o decrscimo das propriedades consideravelmente menor em climas secos (com humidades inferiores a 50%).

    O mtodo de produo escolhido para o fabrico das peas de GRC vai ser muito relevante na resistncia das peas porque implica alteraes ao nvel de composio da mistura e de distribuio das fibras. As limitaes da pr-mistura derivam da quantidade de fibra que se consegue incorporar na mistura sem causar dificuldades de fabrico, ronda entre 2% a 3% do volume, ao contrrio da projeco que atinge valores mais elevados. Esta diferena traz alteraes ao nvel de desempenho mecnico uma vez que o aumento da fraco de fibra aumenta a resistncia ao impacto, flexo e traco.

    Fig. 3.11 - Variao da resistncia flexo na rotura com a fraco de volume de fibra (GRC produzido por

    projeco com fibras de 37 mm) [adaptado 13]

    Outra diferena recai na diferena de comprimento das fibras usadas, uma vez que comprimentos maiores aumentam o reforo. Com o mtodo de projeco o cumprimento das fibras usadas muito superior ao da pr-mistura.

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    Fig. 3.12 - Variao da resistncia flexo na rotura com o comprimento das fibras (GRC produzido por

    projeco contendo 5% do peso em fibra de vidro) [adaptado 13]

    Como se observa na figura 3.13, a variao do reforo com o comprimento no linear. Para 4.1% de volume de fibra (5% em peso) o efeito da mudana de comprimento da fibra entre 25mm a 50mm marginal para o desempenho mecnico do compsito, excepto na resistncia ao impacto que aumenta com o comprimento. Abaixo do patamar dos 25 mm ocorre um decrscimo na resistncia e com 12mm as resistncias obtidas por projeco assemelham-se alcanada pela pr-mistura.

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    4 JUNTAS DE FACHADAS PR-FABRICADAS

    4.1 GENERALIDADES

    As juntas nas fachadas pr-fabricadas exigem especial ateno no seu dimensionamento e na escolha do material de enchimento adequado. Elas costumam ser o ponto crtico das fachadas por estarem expostas s intempries e submetidas a um grande nmero de solicitaes.

    Na escolha da junta mais adequada so vrios os critrios que so tidos em conta: acomodao dos movimentos dos painis, aspecto e requisitos arquitectnicos, funo a que se destina o empreendimento, exposio (orientao e condies climticas) e aspectos econmicos. As decises do projectista devem ter em conta os factores enumerados anteriormente e levaro escolha das seguintes variveis [1]:

    Tipo de junta a utilizar: Localizao e nmero de juntas a executar em obra; Largura e profundidade da junta; Tratamento arquitectnico; Seleco dos materiais constituintes.

    4.2 TIPOS DE JUNTAS

    As fachadas pr-fabricadas podem ter juntas abertas ou seladas, conforme o tipo de painel usado e a funo que desempenham.

    Fig. 4.1 - Junta aberta [22]

    4

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    Fig. 4.2 - Junta selada [22]

    Nas juntas abertas o volume existente entre a ligao dos dois elementos no preenchida com qualquer tipo de material de enchimento. Este tipo de descontinuidade na fachada permite acomodar as variaes dimensionais dos painis devido s alteraes de temperatura e de humidade e controlar as tolerncias de fabricao e de montagem. Este tipo de junta normalmente usado em fachadas onde no existam exigncias a nvel trmico e acstico, de resistncia ao fogo e de estanqueidade, como por exemplo varandas.

    Relativamente a juntas seladas, as suas funes so de garantir a estanqueidade, contribuir no isolamento trmico e acstico da fachada, acomodar as tolerncias de fabrico e de montagem e permitir os movimentos cclicos e frequentes a que os painis esto sujeitos.

    O princpio de funcionamento da junta selada de criar na fachada uma regio que permita absorver os esforos transmitidos pelos painis que so dissipados atravs da deformao do selante. A junta pode ser solicitada por diferentes aces e o selante deve possuir capacidade de responder eficazmente s vrias solicitaes a que estar sujeito. Para um melhor entendimento do seu comportamento a seguir sero analisados os casos de expanso e retraco dos painis devidos a diferenciais de temperaturas e a resposta dada pelas juntas e estes tipos de solicitaes.

    Quando o revestimento est sujeito a um aumento de temperatura a tendncia natural dos painis aumentar de tamanho. O selante tambm tm tendncia a expandir mas vai sujeitar-se ao movimento contrrio e permitir o fechamento da junta compensando desta forma as variaes dimensionais do sistema, como ilustra a Figura 4.3.

    Fig. 4.3 - Movimento da junta em caso de expanso dos painis

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    O contrrio ocorre em caso de diminuio de temperatura, os painis tm tendncia a diminuir havendo o alargamento da junta e formando-se esforos de traco no material de enchimento (Fig.4.4).

    Fig. 4.4 - Movimento da junta em caso de retraco dos painis

    No decorrer do trabalho ser apenas abordada a junta selada uma vez que a unio de painis de GRC recorre apenas a este tipo de ligao

    4.3 REQUISITOS DE DESEMPENHO EM JUNTAS SELADAS

    As juntas seladas devem satisfazer vrios requisitos de desempenho relacionados com a sua durabilidade, dissipao de tenses, estanqueidade e esttica [23].

    Uma das maiores dificuldades nas juntas seladas conseguir que ela apresente durabilidade elevada possibilitando desta forma um funcionamento eficaz ao longo de vrios anos. So inmeros os factores que pem em causa a integridade da junta, tais como, a foto-degradao causada pelos raios ultra-violetas e ciclos de aquecimento e arrefecimento em conjunto com a aco da gua [23]. Outros factores que podem diminuir a durabilidade destes sistemas relacionam-se com falhas humanas, quer ao nvel da fase de projecto como no decorrer da sua execuo.

    preciso ter cuidados especiais na fase de projecto escolhendo os materiais adequados para o enchimento destas zonas e dimensionando adequadamente com base na previso dos movimentos esperados com as alteraes trmicas a que os materiais estaro sujeitos. Por outro lado tambm necessrio uma execuo correcta e cuidadosa. Segundo Fabiana Ribeiro, a durabilidade das juntas preenchidas por sistema selante alcanada, sobretudo, quando se alia adequada especificao do selante e demais constituintes da junta, uma criteriosa aplicao dos materiais [23].

    A bibliografia da especialidade indica que em condies normais o tempo de vida de uma junta varia entre 7 a 10 anos para juntas de uretano e aproximadamente 20 anos para juntas de silicone. Tambm referido que devem ser alvo de inspeco quando atingirem 75% do tempo til para controlar potenciais degradaes e possveis falhas que necessitem de ser reparadas [24].

    O requisito de desempenho ao nvel de dissipao de tenses j foi abordado anteriormente quando foi explicado o fenmeno de migrao das tenses geradas nos painis atravs da deformao do material

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    de enchimento das juntas. necessrio que a junta mantenha-se sempre a capacidade de acomodar os movimentos ocorridos na fachada, caso contrrio dar origem ao aparecimento de anomalias na envolvente.

    Uma das funes das juntas impedir a entrada de gua e do ar. Para que tal ocorra necessrio que o material de enchimento mantenha as suas propriedades, isto , no ocorra deteriorao dos materiais constituintes do selante e evitar abertura de falhas devido a problemas de coeso e adeso. Os problemas de coeso materializam-se na ruptura interna do selante e normalmente deriva de um movimento maior do que a capacidade de movimentao do material de enchimento permite. As falhas por adeso so mais comuns do que as anteriores e resultam da quebra de ligao do selante superfcie de contacto do painel.

    Fig. 4.5 - Falha por adeso

    Fig. 4.6 - Falha por coeso

    Ao nvel esttico a junta requer cuidados uma vez que uma zona muito visvel. O mercado fornece alternativas que permitem minimizar o seu impacto visual, como por exemplo a ampla diversidade de cores existentes para os selantes que permitem aproximar a sua tonalidade cor dos painis. Tambm se pode recorrer alterao da localizao da junta atravs da aplicao de juntas reentrantes que consistem na aplicao do material selante na parte mais interna da junta ou pela colocao em ranhuras ou reentrncias dos painis. As juntas reentrantes trazem vantagens no s de nvel esttico

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    como tambm aumentam a durabilidade do selante uma vez que est mais protegidas das aces externas ao sistema. De qualquer forma convm ter em mente que os requisitos arquitectnicos no devem por em causa o desempenho mecnico da junta.

    Para um melhor entendimento das particularidades desta zona ser a seguir analisado os vrios constituintes que compem a junta, metodologia de execuo e critrios de seleco.

    4.4 CONSTITUIO DA JUNTA SELADA

    Os elementos que fazem parte das juntas seladas so o primrio, o limitador de junta e o material de enchimento (usualmente designado de selante). A figura 4.7 mostra alguns dos constituintes mencionados anteriormente e respectiva localizao:

    Fig. 4.7 - Constituintes de juntas seladas [22]

    O primrio um produto que se aplica sobre a superfcie lateral do painel em que o selante ir aderir. A sua aplicao feita antes da injeco do selante sendo desta forma o primeiro elemento a ter em conta na fase de execuo da junta selada. O primrio utilizado para aumentar a adeso entre o selante e o painel, preencher os poros da superfcie, fortalecer as reas fracas e reduzir a presso por capilaridade da humidade atravs das superfcies dos painis [22]. Em situaes especificas possvel a no utilizao de primrio para a execuo da junta.

    O passo seguinte na execuo da junta a insero do limitador de junta, que consiste em uma pea de material compressvel normalmente de polietileno ou de poliestireno. O polietileno normalmente o material mais adequado porque apresenta melhor compatibilidade com o selante e o primrio e adequa-se mais eficazmente aos movimentos de expanso e contraco da junta.

    As funes do limitador de junta so:

    Permitir controlar mais facilmente a profundidade desejada para a junta especificada em projecto evitando desta forma a utilizao de quantidades superiores necessria de selante;

    Permitir que o selante no adira terceira face, face do limitador de junta, permitindo um comportamento mais adequado do selante a movimentos de expanso e retraco uma vez

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    que quando existe adeso s trs faces pode ocorrer tenses no selante provocando a ruptura do mesmo por falha de coeso ou de adeso;

    Proteger e apoiar o selante durante a sua aplicao.

    No mercado existem vrios dimetros de limitadores de profundidade e so comercializados na forma de cordes cilndricos. O seu dimetro deve ser aproximadamente superior a 25% da largura da junta [25]

    Fig. 4.8 - Limitador de junta [26]

    A sua colocao feita atravs da compresso lateral do cordo contra os lbios da junta. A profundidade de insero do cordo controlado atravs do recurso de um elemento auxiliar normalmente de madeira (bitola) como mostra a figura seguinte:

    Fig. 4.9 - Colocao do limitador de junta

    Por fim na ltima fase de execuo da junta colocado o material de enchimento normalmente designado por selante. Os selantes so produtos base de polmeros que possuem capacidade de se deformar e variar as suas dimenses quando sujeitos a esforos de tenso de forma a assegurar a unio entre os elementos, no pondo em causa a estanqueidade do sistema e a sua durabilidade. Existem vrios tipos de selantes no mercado apresentando caractersticas distintas.

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    Os selantes podem ser classificados como monocomponentes ou bicomponentes. Os primeiros so produtos que curam ou adquirem a forma final quando entram em contacto com o meio ambiente, por secagem ou pela aco da humidade, exigindo um tempo de cura maior do que o bicomponente. Este tipo de selante comercializado geralmente em tubos, pronto a ser aplicado.

    Os selantes bicomponentes so misturados no local de utilizao antes da sua aplicao existindo desta forma possibilidades de erro nas propores dos componentes acrescentados que podero causar falhas no seu comportamento. Outra caracterstica deste tipo de selante exigir tempo de cura mais baixo.

    Tendo como base de classificao a sua viscosidade podem ser classificados em autonivelantes ou tixotrpicos. Os autonivelantes so produtos de baixa viscosidade, cuja fluidez sob a aco da gravidade permite que se moldem seco da junta sendo desta forma s utilizados para a execuo de juntas em planos horizontais. Os tixotrpicos contm uma viscosidade superior permitindo assim a sua aplicao em superfcies verticais, inclinadas e horizontais.

    Quanto ao seu comportamento podem ser classificados em quatro tipos:

    Elsticos caracterizam-se pelo seu comportamento elstico, isto , sofrem deformaes proporcionais s tenses que esto submetidos, retomando aps a anulao da tenso sua dimenso inicial;

    Elasto-plsticos apresentam um comportamento predominantemente elstico, mas tendem a atingir o regime plstico quando submetidos a tenses por longo perodo de tempo ou quando so deformados acima do seu limite elstico;

    Plasto-elsticos apresentam um comportamento predominantemente plstico mas exibem algum comportamento elstico quando submetidos a deformaes de curto perodo ou quando so deformados abaixo do seu limite elstico;

    Plsticos exibem deformaes plsticas, ou seja, no retomam ao seu estado original aps a remoo da tenso.

    A norma ASTM C 920 apresentam a classificao dos selantes quanto ao tipo de aplicao e o tipo de superfcie lateral nas quais o selante ir aderir (designado de substrato):

    Quadro 4.1 - Classificao dos selantes elastomricos segundo ASTM C 920 [23]

    Classe Descrio

    Use T Selante designado para uso em reas de trfego de pees e veculos como ruas, parques e garagens

    Use NT Selante designado para uso em reas no trafegveis

    Tip

    o de

    ap

    lica

    o

    Use I Selante designado para o uso em juntas que esto sujeitas continuamente a lquidos

    Use M Selantes para uso em substrato de argamassa

    Use G Selantes para uso em substratos de vidro

    Use A Selantes para uso em substratos de alumnio Cla

    ssif

    ica

    o d

    os s

    elan

    tes

    Sub

    stra

    to

    Use O Selantes para uso em outros substratos

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    Um dos parmetros chave do selantes que deve ser tido em conta na fase de escolha do material mais adequado para enchimento da junta a sua capacidade de movimentao. A capacidade de movimentao traduz a amplitude mxima de extenso e compresso que o selante suporta no pondo em causa o seu perfeito desempenho [27]. determinado sujeitando o selante a ciclos de extenso e compresso atravs da variao da temperatura entre os -20C e os +70C. A capacidade de movimentao expresso em percentagem da largura da junta, ou seja, um selante que tenha classe 25 significa que suporta encurtamentos e expanses na ordem dos 25% da largura da junta.

    A ISO 11600 apresenta as seguintes classes para selantes empregues na indstria da construo:

    Fig. 4.10 - Classificao dos selantes com base na ISO 11600 [27]

    Os selantes de classe 25 e 20 so considerados elsticos e ainda so subdivididos em alto mdulo (HM) e baixo mdulo (LM). Os de classe 12,5 e 7,5 so subdivididos em elsticos (E) e plsticos (P).

    Existem outros parmetros que so tomados em conta para a escolha do selante, por exemplo o seu mdulo de elasticidade tendo o cuidado por optar por um material de enchimento de mdulo sempre inferior.

    Na unio dos painis de GRC os selantes mais usados so os elsticos podendo ser em silicones de baixo mdulo, polisulfureto (mono e bicomponente) e poliuretano (mono e bicomponente) [28].

    Para minimizar a hiptese de erro importante que os fabricantes dos vrios constituintes indiquem as especificaes tcnicas dos produtos ao projectista que posteriormente devem ser transmitidas por este ao executor responsvel pela materializao dos trabalhos de execuo das juntas.

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    4.5 DIMENSIONAMENTO DE JUNTAS SELADAS

    As directrizes e os critrios aplicados no dimensionamento das juntas influenciam fortemente a durabilidade e o comportamento mecnico do material selante. So vrios os cuidados a ter em conta na fase de projecto de forma a evitar que a unio dos painis ponha em causa a eficcia geral do edifcio. A escolha no deve recair apenas nas razes arquitectnicas mas tambm deve ter em conta o custo, as tolerncias de montagem, as dimenses nominais dos painis e suas variaes, a capacidade de deformao do selante e a sua temperatura de aplicao, a orientao e as condies climticas.

    O PCI (Precast Concrete Institute) [1], indica uma srie de recomendaes para o correcto dimensio