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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FONOAUDIOLOGIA MARIA LUIZA TEIXEIRA DE OLIVEIRA AS PRÁTICAS DE SAÚDE DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM NO NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA DA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL RN Natal 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FONOAUDIOLOGIA

MARIA LUIZA TEIXEIRA DE OLIVEIRA

AS PRÁTICAS DE SAÚDE DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM NO NÚCLEO

AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA DA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL RN

Natal

2019

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MARIA LUIZA TEIXEIRA DE OLIVEIRA

AS PRÁTICAS DE SAÚDE DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM NO NÚCLEO

AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA DA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL RN

Trabalho de conclusão de curso

apresentado como requisito parcial para

obtenção do título de graduado em

Fonoaudiologia pela Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Profa. Ma. Rafaela Bezerra

Façanha Correia

Natal

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2019

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MARIA LUIZA TEIXEIRA DE OLIVEIRA

AS PRÁTICAS DE SAÚDE DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM NO NÚCLEO

AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA DA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL RN

Trabalho de conclusão de curso

apresentado como requisito parcial para

obtenção do título de graduado em

Fonoaudiologia pea Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

Aprovado em: 29/11/2019

________________________________________

Profa. Ma. Rafaela Bezerra Façanha Correia

Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

________________________________________

Profa. Esp. Brígida Gabriele Albuquerque Barra

Membro da banca

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

________________________________________

Esp. Lavínia Mabel Viana Lopes

Membro da banca

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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RESUMO

Objetivo: O presente estudo buscou analisar as práticas dos processos de trabalho dos

profissionais que atuam no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica

(NASF-AB) em um município da região metropolitana de Natal (RN). Metodologia:

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com abordagem exploratória e descritiva,

utilizando-se de procedimentos de campo. A pesquisa foi realizada através de uma

entrevista semi-estruturada, contendo dez perguntas sobre seu processo de trabalho e

percepção sobre o mesmo. Discussão e resultados: A partir da coleta e análise dos

dados, foram elaboradas três categorias para discussão: Atividades realizadas pelas

equipes do NASF-AB; Desafios vivenciados pelos profissionais; Potencialidades no

trabalho do NASF-AB. Conclusão: Os achados deste estudo evidenciam que o processo

de trabalho dos profissionais do NASF-AB ainda está em construção e amadurecimento.

Apesar de apresentarem a população como o principal desafio no exercício da sua

profissão, os pesquisados possuem um bom acompanhamento dos casos devido a boa

articulação com as eSF como também apoio da gestão.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Prática de saúde pública; Estratégia Saúde

da Família; Serviços de saúde.

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ABSTRACT

Objective: The present study aimed to analyze the work process practices of

professionals working at the Extended Family Health and Primary Care Center (NASF-

AB)

in a municipality in the metropolitan region of Natal (RN). Methodology: This is a

qualitative research, with exploratory and descriptive approach, using field procedures.

The research was conducted through a semi-structured interview, containing ten

questions about their work process and perception about it. Discussion and results:

Based on data collection and analysis, three categories were elaborated for discussion:

Activities performed by NASF-AB teams; Challenges experienced by professionals;

NASF-AB's work potential. Conclusion: The findings of this study show that the work

process of NASF-AB professionals is still under construction and maturation. Despite

presenting the population as the main challenge in the exercise of their profession, the

respondents have a good follow-up of cases due to the good articulation with the eSF as

well as management support.

Key-words:Primary Health Care; Public health practice; Family Health Strategy; Health

services.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7

2 METODOLOGIA .................................................................................................................. 9

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 11

3.1 Caracterização da equipe ............................................................................................. 11

3.2 Atividades realizadas pelas equipes do NASF-AB..................................................... 12

3.3 Desafios vivenciados pelos profissionais ..................................................................... 14

3.4 Potencialidades no trabalho do NASF-AB ................................................................. 15

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 17

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 18

APÊNDICE A – ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PROFISSIONAIS

DO NASF-AB .......................................................................................................................... 21

ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ............................... 22

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1 INTRODUÇÃO

O Ministério da Saúde criou em 2008 o Núcleo de Apoio a Saúde da Família

(NASF) em busca de expandir a efetividade do funcionamento e resolutividade da

Atenção Básica. Em 2017, através da portaria n. 2.436, foi aprovada uma nova versão

da Política Nacional de Atenção Básica, logo este passou a ser chamado Núcleo

Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB).

O NASF-AB constitui uma equipe multiprofissional e interdisciplinar

composta por categorias de profissionais da saúde, complementar às equipes que atuam

na Atenção Básica. É formada por diferentes ocupações da área da saúde, atuando de

maneira integrada para dar suporte (clínico, sanitário e pedagógico) aos profissionais

das equipes de Saúde da Família (eSF) e de Atenção Básica (eAB) (Brasil, 2017).

Essa integração deve se dar a partir das necessidades, das dificuldades ou dos

limites das equipes de Atenção Básica diante das demandas e das necessidades de

saúde, buscando, ao mesmo tempo, contribuir para o aumento da capacidade de cuidado

das equipes apoiadas, para ampliar o escopo de ofertas (abrangência de ações) das

Unidades Básicas de Saúde (UBS), bem como para auxiliar articulação de/com outros

pontos de atenção da rede, quando isso for necessário, para garantir a continuidade do

cuidado dos usuários (Brasil, 2014).

Para realização dos seus processos de trabalhos são considerados os seguintes

aspectos: território, educação popular em saúde, interdisciplinaridade, participação

social e intersetorialidade, Educação Permanente em Saúde, humanização e Promoção

da Saúde. Além da articulação com as ESF’s, também realiza diversos serviços de apoio

com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Academia da saúde, Programa Saúde na

Escola (PSE), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) entre outros (Brasil,

2010).

Tratando-se de uma equipe de apoio que lida com as complexas realidades de

cada uma das equipes vinculadas é necessária a construção de uma agenda de trabalho

do NASF que contemple as diversidades e as amplas possibilidades de ações que podem

ser realizadas no trabalho integrado, como: reuniões de matriciamento com as equipes

de AB, com periodicidade variável de acordo com a modalidade de NASF-AB e com o

contexto, atendimentos individuais, atendimentos domiciliares, grupos e atividades

coletivas (específicas e compartilhadas em ambos), espaço destinado à elaboração de

materiais de apoio, rotinas, protocolos e outras ações de educação permanente,

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reservado na agenda sob demanda quando acordadas com as equipes vinculadas,

reunião entre os profissionais do NASF-AB e, se possível, com profissionais de outros

Núcleos e de outros pontos de atenção do município.

Recentemente na portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019 foi

estabelecido um novo modelo de financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde

(APS) no âmbito do Sistema Único de Saúde, por meio da revogação da Portaria de

Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL,2019). Dessa forma, o

recurso para a Atenção Básica será repassado a partir do número de pessoas cadastradas,

limitando a quantidade de financiamento para os municípios, além de deixar de ser

transferido aos municípios o financiamento específico para o NASF-AB. Essas

mudanças têm gerado muitas críticas entre os profissionais e meio acadêmico.

Atualmente, algumas pesquisas realizadas com os profissionais que atuam no

NASF-AB têm apontado uma prática orientada pelo conhecimento específico da

categoria, com ações individualizadas, repetindo o modelo biomédico (COSTA et al,

2013; SOLEMAN; MARTINS, 2015).

Segundo uma pesquisa de Souza e Medina, (2018) pôde-se constatar que o

trabalho em equipe está situado em um contexto de racionalidade médica, que prioriza a

atenção individual centrada na clínica, com ênfase nos aspectos biológicos e na

medicalização das doenças, secundarizando a promoção da saúde.

Dessa forma, reconhecendo a importância da avaliação das ações

desenvolvidas à nível da Atenção Primária à Saúde, pretende-se analisar as práticas de

saúde dos profissionais que atuam no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção

Básica em um município da região metropolitana de Natal. Esta pesquisa possibilitará a

reflexão da gestão e equipe do NASF-AB quanto ao processo de trabalho, resultando

em um aperfeiçoamento e melhor planejamento das suas atividades, contribuindo para a

melhoria do atendimento aos usuários.

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2 METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa, com abordagem

exploratória e descritiva, utilizando-se de procedimentos de campo.

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Este tipo de

estudo trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

percepções, opiniões, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo

das relações, dos processos e de fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2008).

Os estudos que são classificados como exploratórios têm como finalidade

desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato

ou fenômeno ou modificar e clarificar conceitos (MARCONI; LAKATOS, 2016).

Segundo Gil (2010), estas pesquisas tem a finalidade de proporcionar uma visão geral

acerca de um determinado fato, sendo realizada principalmente quando o tema

escolhido é pouco explorado. Já as pesquisas descritivas, têm como objetivo primordial

a descrição das características de determinada população, ou seja, apresentam o estado

em que se encontra o objeto de interesse.

A pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de obter informações

e/ou conhecimentos sobre um determinado problema, da qual, pretende-se encontrar

uma resposta, ou uma hipótese, que queira se comprovar como também descobrir novos

fenômenos e suas relações. (MARCONI E LAKATOS, 2016)

O estudo foi realizado em um município da região metropolitana de Natal,

cidade esta localizada a aproximadamente 30 km da capital do estado do Rio Grande do

Norte. Segundo o senso, estima-se que a cidade tem um total de 22.239 habitantes

(IBGE, 2018).

O NASF-AB tem sua sede localizada no prédio da Secretaria Municipal de

Saúde. Os profissionais atuam de forma ampliada e de caráter multidisciplinar, dando

cobertura na Atenção Primária à dez Estratégias Saúde da Família que são distribuídas

em espaços físicos pelo centro e zona rural.

A coleta de dados ocorreu no horário de funcionamento da Secretaria

Municipal de Saúde, através de agendamento prévio, seguindo disponibilidade dos

profissionais do NASF-AB, entre os meses de agosto e setembro. Constituíram sujeitos

da pesquisa: oito profissionais com as seguintes especialidades: nutricionista (1),

fisioterapeutas (2), terapeuta ocupacional (1), psicólogos (2), educador físico (1),

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assistente social (1). Foi utilizado como critério de inclusão os profissionais com tempo

de atuação no NASF-AB do município de no mínimo seis meses.

A pesquisa foi realizada através de uma entrevista semi-estruturada, contendo

indicadores essenciais em forma de tópicos que abranjam as informações esperadas,

funcionando como lembretes para o investigador, que irá servir como um guia para a

interlocução, permitindo flexibilidade nas conversas. (MINAYO, 2013)

Os roteiros das entrevistas eram compostos com dados sobre o processo de

trabalho dos profissionais do NASF-AB (APÊNDICE A).

Os dados foram analisados utilizando o método de Análise do Conteúdo

Temática que compreende um conjunto de técnicas de análise das comunicações,

utilizando procedimentos sistemáticos e objetivos. Este tipo de análise é realizado

através de algumas fases organizadas em torno de três polos cronológicos: a pré-análise;

a exploração do material; e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos (BARDIN,

2009).

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital

Universitário Onofre Lopes da UFRN sob o parecer do número 3.483.118, atendendo às

orientações da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (ANEXO A).

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização da equipe

Na portaria nº 3.124, de 28 de dezembro de 2012, são redefinidas os parâmetros

de vinculação das modalidades 1 e 2, além de criar a modalidade 3 do NASF-AB que

são diferenciadas a partir do número de equipes da Saúde da Família (eSF) e/ou

equipes de Atenção Básica (eAB) vinculadas e a somatória das cargas horárias

profissionais.

A modalidade tipo 1 é preconizando a quantidade de 5 a 9 equipes vinculadas e a

somatória das cargas horárias de profissionais é de no máximo 200 horas semanais.

Enquanto a modalidade do tipo 2 é estabelecida de 3 a 4 eSF e/ou eAB para populações

específicas (eCR, equipe ribeirinha e fluvial), com no mínimo 120 horas semanais. Cada

ocupação deve ter, no mínimo, 20h e, no máximo, 40h de carga horária semanal. Por

fim a modalidade do tipo 3 são de 1 a 2 eSF e/ou eAB para populações específicas

(eCR, equipe ribeirinha e fluvial), com no mínimo 80 horas semanais. Cada ocupação

deve ter, no mínimo, 20h e, no máximo, 40h de carga horária semanal. (BRASIL, 2012)

No município de Monte Alegre, o NASF- AB é composto por duas equipes da

modalidade tipo 1, acompanhando 5 eSF cada. O NASF-AB é composto por 10

profissionais com 7 áreas de atuação: nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional,

psicologia, educação física, assistência social e medicina. São coordenadas sob a mesma

gestão há 6 anos. De acordo com Brasil (2017), poderão compor os NASF-AB as

ocupações do Código Brasileiro de Ocupações (CBO) na área de saúde. Essa escolha

das categorias profissionais fica a critério do gestor municipal, de acordo com o perfil

epidemiológico do território.

Dos 8 profissionais que participaram desta pesquisa, 5 eram do sexo feminino e

3 do sexo masculino. De uma maneira geral, nos estabelecimentos de saúde, observa-se

uma maioria dos profissionais do sexo feminino.

No que se refere ao tempo de atuação, houve uma variação entre 10 meses a 6

anos e meio. Todos os profissionais relataram que esta era a primeira experiência

profissional na Atenção Básica. Quanto aos cursos de pós-graduação (lato sensu),

apesar de atuarem na Estratégia Saúde da Família, nenhum profissional tem curso de

especialização relacionado à Saúde da Família/Saúde Coletiva ou áreas a fins.

Observou-se que 4 dos profissionais fizeram uma pós-graduação no seu núcleo de

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conhecimento. A PNAB institui que os profissionais devem ser graduados na área de

saúde com pós-graduação em saúde pública/coletiva ou graduados diretamente em uma

das áreas reconhecidas pelo CBO (BRASIL,2017).

A partir da coleta e análise dos dados, foram elaboradas três categorias para

discussão: Atividades realizadas pelas equipes do NASF-AB; Desafios vivenciados

pelos profissionais; Potencialidades no trabalho do NASF-AB.

3.2 Atividades realizadas pelas equipes do NASF-AB

De acordo com a portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017 é competência

do NASF- AB participar do planejamento conjunto com as equipes que atuam na

Atenção Básica à que estão vinculadas; Contribuir para a integralidade do cuidado aos

usuários do SUS principalmente por intermédio da ampliação da clínica, auxiliando no

aumento da capacidade de análise e de intervenção sobre problemas e necessidades de

saúde, tanto em termos clínicos quanto sanitários; realizar discussão de casos,

atendimento individual, compartilhado, interconsulta, construção conjunta de projetos

terapêuticos, educação permanente, intervenções no território e na saúde de grupos

populacionais de todos os ciclos de vida, e da coletividade, ações intersetoriais, ações de

prevenção e promoção da saúde, discussão do processo de trabalho das equipes dentre

outros, no território (BRASIL, 2017).

No NASF-AB as atividades são organizadas de acordo com as necessidades

das eSF’s vinculadas. As prioridades são elencadas a partir de um planejamento

realizado no momento de reunião entre a equipe do NASF-AB e equipe de Saúda de

Família, como também a construção do cronograma mensal.

Segundo os profissionais, as atividades realizadas são: visitas domiciliares com

atendimento individual e/ou compartilhado com outros profissionais; atendimento

clínico, quando há necessidade de continuação; palestras e atuação em grupos com

temas específicos voltados aos idosos, gestantes, hábitos de vida saudável, pessoas com

hipertensão e diabetes, tabagismo, saúde mental, crianças e adolescentes.

Os profissionais enfatizaram o uso de algumas ferramentas do NASF-AB,

como o Apoio Matricial:

“[...]as atividades que a gente executa no NASF se inicia no

apoio matricial, onde existe as discussões de caso [...]é através

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do apoio matricial que agente realmente conhece qual é a

demanda da população e o que que a gente pode auxiliar em

termos de serviço a oferecer à essa população “. (N1)

“[...]Ocorre o planejamento das ações através do apoio

matricial [...]“. (N2)

“[...]A gente faz o apoio matricial com toda a equipe do NASF

junto com os profissionais da UBS’s e aí discutimos essas

visitas...e tentamos realizá-las[...]”. (N5)

O apoio matricial é o referencial teórico-metodológico que orienta o trabalho

do NASF-AB e tem como objetivo assegurar retaguarda especializada a equipes e

profissionais de saúde, de maneira personalizada e interativa (CUNHA; CAMPOS,

2011). Envolve troca de conhecimentos teórico-práticos, reflexão, discussão e pactuação

de responsabilidades para o seguimento das ações (BARROS, 2015).

Além de oferecerem uma retaguarda especializada às equipes da Estratégia

Saúde da Família, o NASF-AB também se articula de forma intersetorial, atuando

juntamente com: Centro de Referência de Assistência Social (CRAS); Conselho Tutelar,

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Secretaria da

Educação através do Programa Saúde na Escola (PSE), entre outros:

“ [...]palestras no PSE, também participamos de alguns

conselhos, como os conselhos municipais da criança e do idoso.

Participamos também de uma rede de proteção juntamente com

a Secretaria de Assistência Social e a Secretaria de Educação,

através do CRAS, CREAS, Programa Criança Feliz”. [N3]

Para Cunill-Grau (2014) a intersetorialidade vem sendo anunciada, há alguns

anos, como uma estratégia para otimizar recursos de diversas ordens no âmbito de

planejamento, implementação e monitoramento de políticas públicas. Possibilita

abordar e solucionar problemas multicausais, exatamente porque se vincula com modos

de planejar, implementar e monitorar políticas públicas que definem soluções conjuntas

e articuladas para problemas que atingem dois ou mais setores.

Sabendo que os profissionais buscam estabelecer o trabalho com a população

com ações voltadas à promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos, no qual

uma está relacionada ao estilo de vida e outra está ligada diretamente a doença,

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percebeu-se nas falas o foco nas ações de prevenção de doenças e agravos à saúde:

“Todos os profissionais estão muito mais ligados ao que

preconiza o SUS, mas também como a gente percebe que existe

uma população já adoecida a gente também faz a medida do

tratamento [...] mas a gente pensa sempre em propor a questão

da prevenção.” (N1)

“[...]São as palestras sobre prevenção à vários agravos à saúde

nas escolas, nas unidades básicas” (N3).

“Desenvolvemos atividades de prevenção e atuamos junto a

unidade saúde” (N5).

“Normalmente se trabalha a prevenção e aí também a redução

dos agravos e doenças que já estão instaladas [...]que seja

aderir aos nossos projetos que é buscar a prevenção, né?” (N6).

Percebeu-se o uso dos termos “prevenção” e “promoção da saúde” como

sinônimos. Freitas (2003) diferencia o conceito de tais termos, abordando que a

prevenção é vista simplesmente como ausência de doenças, enquanto na promoção a

saúde é encarada como um conceito positivo e multidimensional resultando desta

maneira em um modelo participativo de saúde na promoção em oposição ao modelo

médico de intervenção.

3.3 Desafios vivenciados pelos profissionais

Para Melo et al (2018) além de desafios mais gerais do SUS e da Atenção

Básica, que, em parte, condicionam as possibilidades do NASF-AB, destacaram alguns

elementos críticos específicos, referentes à formulação, inserção na rede e gestão.

Pontuando escassez a respeito da formação em saúde com a temática NASF-AB e

Apoio matricial.

Diferentemente, para os entrevistados, a população é o principal desafio para

os profissionais, pois há um desconhecimento sobre o papel do NASF-AB, resultando

em uma demanda voltada para o curativismo. Isto se dá por questões históricas

relacionadas a organização do Sistema de Saúde no Brasil. Este era voltado

prioritariamente para o atendimento individual, voltado a fatores biológicos, visando a

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cura. Rozenfeld (2000) descreve que o modelo de atenção hegemônico medico-

assistencial se fundamenta na clínica e na medicina científica, centrando-se na figura do

médico, onde a atuação baseia-se com foco na doença e nos doentes, na perspectiva

individual.

Atualmente, a discussão e organização do processo de trabalho das equipes do

NASF-AB deve ser pautada no modelo da Clínica Ampliada. Este é impulsionado pela

proposta do acolhimento, constituída nos pressupostos das equipes de referência, no

apoio matricial e na elaboração de Projeto Terapêutico Singular (PTS), visando ajudar

trabalhadores e usuários a lidarem com a complexidade dos sujeitos e a multiplicidade

dos problemas de saúde. (BRASIL, 2014)

Algumas falas enfatizam essas dificuldades:

“Porque muitos não conhecem o nosso trabalho, não sabem

qual é o objetivo do NASF. Mesmo que a gente passe qual é o

nosso objetivo, ainda há uma certa dificuldade” (N5).

“[...]a maioria dos pacientes ainda tem aquela visão que é o

tratamento de parte curativa, que espera a doença aconteça

[...]”. (N7)

“As pessoas ainda então muito ligadas a cultura do

curativismo. As pessoas geralmente têm muita dificuldade na

adesão aos grupos”. (N1)

Existe também a complexidade relacionada às questões socioeconômicas,

diferenças culturais e religiosas que acabam sendo um desafio na efetivação das ações.

3.4 Potencialidades no trabalho do NASF-AB

Para Shimizu et al (2016) as competências construídas no processo de trabalho

no NASF-AB evidenciam avanços nas práticas e têm potenciais não apenas para

ampliar a capacidade da Atenção Básica, mas também para contribuir no alcance da

integralidade da atenção.

O apoio da secretaria de saúde e da prefeitura municipal nas ações propostas

foi algo relatado pela maioria dos profissionais. Inclusive em relação ao transporte para

a realização das atividades, pois a equipe precisa se deslocar para atendimentos na zona

rural.

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“[...]não fica um trabalho muito difícil porque o município é

muito dedicado a pasta da saúde e assim., a gente tem o acesso

ao transporte para se locomover. Temos todo um aporte para

resolver o trabalho[...]”. (N3)

“[...]ter um apoio bem interessante da Prefeitura na apoio no

sentido apoiar realmente atividades a gente propõe”.(N8)

O apoio da gestão é destacado como um fator determinante e de extrema

importância, oferecendo assim condições adequadas, como também, o papel de

mediação de conflitos e impasses entre NASF-AB e equipes de AB são algumas das

responsabilidades da gestão para o desenvolvimento do trabalho compartilhado entre

essas equipes. Para isso, algumas pactuações podem ser realizadas, envolvendo gestão

municipal e/ou apoiadores do município, profissionais do NASF-AB e das equipes

vinculadas. (BRASIL, 2014)

Outros pontos apresentados foram à criatividade, exercer a profissão que ama,

trocas de experiências com a população:

“[...]As facilidades praticamente, eu acho que é minha

criatividade[...]”. (N2)

“[...]eu gosta da minha profissão[...]” (N8)

“[...]então acaba que quando você vai dar palestra a gente

aprende mais do que passa[...]”. (N4)

Foi possível observar as facilidades sobre trabalho realizado com diferentes

particularidades.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os achados deste estudo evidenciam que o processo de trabalho dos

profissionais do NASF-AB ainda está em construção e amadurecimento. Foi observado

um trabalho multidisciplinar, que apesar dos profissionais não terem formação

específica na área da Saúde da Família/Coletiva, eles conseguem desenvolver bem as

atividades planejadas.

Apesar de apresentarem a população como o principal desafio no exercício

da sua profissão, os pesquisados possuem um bom acompanhamento dos casos devido a

boa articulação com as eSF como também apoio da gestão. Quanto às questões

relacionadas ao conhecimento sobre as ferramentas em que trabalham, foi possível

observar um pouco conhecimento por parte dos profissionais sobre quais são essas

ferramentas, apesar de observar o seu uso em suas práticas.

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REFERÊNCIAS

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BARDIN, L. Análise do conteúdo. Edição revisada e ampliada. Lisboa: Ed.70, 2009

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Page 21: Grupo Universitário Maurício de Nassau

20

ROZENFELD, Suely. Fundamentos da vigilância sanitária. SciELO - Editora

FIOCRUZ, 2000.

Page 22: Grupo Universitário Maurício de Nassau

21

APÊNDICE A – ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PROFISSIONAIS

DO NASF-AB

Data da entrevista: ____/____/____

Nome do entrevistado:________________________________________________

Categoria profissional: ___________________Pós-graduação:_______________

Tempo de atuação no NASF-AB: ___________________________________________

Tempo de atuação nessa equipe do NASF-AB: ________________________________

1) O que você entende por Núcleo de Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica?

2) Quais as atividades que o NASF-AB de Monte Alegre desenvolve?

3) Como é o trabalho do NASF junto às equipes da ESF e quais ações são realizadas em

conjunto?

4) Como ocorre o planejamento e monitoramento das ações?

5) Quais são as ferramentas/instrumentos de trabalho utilizados para desenvolver suas

atividades?

6) Você acha que o processo de trabalho do NASF-AB de Monte Alegre vai ao

encontro do que é preconizado pelo Ministério da Saúde? Por que?

7) Quais são as principais facilidades que você enfrenta para desenvolver o seu

trabalho?

8) Quais os maiores desafios?

9) Notou avanços sobre a sua atuação ao decorrer do tempo?

10) Há algo que queira acrescentar a esta entrevista?

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ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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