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Contribuições da Psicopedagogia: princípios para trabalhar com grupos na escola

alar de Psicopedagogia é falar de aprendizagem. Este processo estrutura-se, segundo a concepção teórica que vimos assumindo, a partir dos vínculos relacionais que o ser humano vem estabele-cendo ao longo de sua história de desenvolvimento. Segundo Visca (1987, p. 75), “desde a idade mais tenra, nas trocas que faz com a mãe, a criança já está realizando aprendizagens, ao mesmo

tempo que vai construindo um estilo próprio de aprender, modificando-o e ampliando-o à medida que outras interações vão acontecendo”.

Falar de aprendizagem no interior da instituição educacional é falar de um contínuo movimento de interações entre os agentes educativos, que resulta em trocas, descobertas, construção e reconstrução tanto do conhecimento quanto das relações e ações. (BARBOSA, 2001, p. 31).

Portanto, ao identificarmos os âmbitos da Psicopedagogia e enfocarmos que no âmbito das instituições o fazer psicopedagógico tem um caráter muito mais voltado à ação preventiva, estamos na verdade tentando mostrar a importância de identificarmos o foco do trabalho nas relações grupais que permeiam a aprendizagem. A ação individual transforma-se em uma ação grupal que intervém no contexto global de maneira que esses grupos encontrem mecanismos de convivência nos quais a modalidade da ação pedagógica seja potencializada.

Todos os educadores, envolvidos com a ação pedagógica, devem buscar subsídios para compre-ender com mais clareza o funcionamento grupal, a partir das tarefas que os mesmos estão envolvidos e a forma que a desenvolvem. Diante disto, serão enfocados nesta aula alguns aspectos importantes no que se refere ao funcionamento grupal.

O funcionamento grupalTrabalhar com grupos é estar preparado para o inusitado, pois mesmo tendo seu ponto de

partida, seu planejamento, seus objetivos com metas e estratégias definidas, o educador nunca vai poder prever com exatidão aonde e como o grupo vai chegar na aprendizagem. Serrão e Baleeiro (1999, p. 23) nos relatam que

a convivência com grupos adquire uma certeza de que o trabalho pauta-se mais na construção de um vínculo de caráter libertador, fundamentado na confiança e no respeito, do que em discussões formais. Libertador e o vínculo, e a relação que permite a expressão das questões pessoais sob as mais variadas formas, que possibilita a descoberta de que é possível somar diferenças, que garantem a existência do individual dentro do coletivo, que viabiliza a percepção das contradições pessoais e grupais e a construção de novos caminhos.

Este pensamento nos abre caminhos para descobrirmos a riqueza que emerge do trabalho com grupos, quando bem dinamizado em prol da aquisição de conhecimentos. É importante que o educa-dor esteja atento, pois a mudança de foco do individual para o grupal não significa que deixamos de

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considerar o sujeito na sua individualidade. O grupo é definido a partir das parti-cularidades de cada um de seus integrantes e a potencialização das funções grupais deve refletir diretamente na capacitação dos mesmos.

Cada grupo vai se constituindo no aqui e agora por meio das histórias de vida e visões de mundo de cada um de seus integrantes. Mas o grupo vai além das pessoas que o compõe. É algo mais que a soma de seus membros. À medida que o grupo amadurece, conquista o espaço para construir e reconstruir seus limites e suas próprias regras.

O educador dentro da sua função, que se volta à sistematização de conteúdos no espaço escolar, deve assumir, diante da possibilidade da contribuição das rela-ções grupais à aprendizagem, um papel de facilitador. O termo facilitador, neste contexto, refere-se à compreensão das motivações individuais com sintonia nas motivações grupais.

A relação interpessoal entre o educador e seu grupo é um fator determinante para que o educador consiga assumir o papel de facilitador do caminho que leva o grupo ao autoconhecimento e conseqüentemente ao crescimento de sua autonomia social e pessoal.

A seguir, iremos refletir sobre três princípios que Serrão e Baleeiro (1999, p. 30) consideram importantes no trabalho com grupos:

Colocar limites – uma relação interpessoal saudável com o grupo, não sig-nifica uma atitude permissiva por parte do educador. A relação deve estar respaldada pela configuração bem-definida de papéis, nos quais educador e educando posicionam-se em níveis diferenciados de hierarquia. A autoridade do educador é necessária para que regras sejam muito bem enquadradas e estabelecidas, para que um clima de respeito e confiança permaneça e pro-porcione, assim, um canal de comunicação no qual todos expressem seus sentimentos e opiniões com liberdade.

Os limites devem ser claros e coerentes e devem ser estabelecidos juntamente com o grupo para serem significativos. São regras básicas de convivência ética, que caracterizam um enquadramento para o trabalho. Alguns exemplos:

Todos têm o direito de expressar seus sentimentos e pensamentos.

Todas as opiniões são válidas e merecem respeito.

As falas e os acontecimentos internos do grupo pertencem a seus partici-pantes e não devem ser revelados a outras pessoas.

Quando um participante do grupo estiver falando, os demais devem ouvi-lo com atenção.

É preciso falar para e não de alguém.

Os comentários devem ser relativos aos fatos e não às pessoas.

A pontualidade e a freqüência são condições essenciais para que o grupo perceba a importância e desenvolva uma auto-estima grupal.

Construir um vínculo afetivo – é de suma importância para o trabalho grupal, pois é na relação e na troca com o outro que cada elemento pode construir

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e reconstruir suas potencialidades. O vínculo tem papel essencial em toda e qualquer ação que objetiva mudanças e transformações, funcionando como o elo de uma corrente que liga os indivíduos, favorecendo a ampliação do modo de sentir e perceber a si mesmo e ao outro, os afetos incluem uma gama de emoções que vão do amor ao ódio, da inveja à solidariedade.

A música, a expressão corporal, o desenho, a pintura, a colagem etc. são algumas das possibilidade que o educador tem para facilitar a expressão dos sentimentos do grupo de maneira prazerosa e criativa. É importante que o educador observe alguns pontos fundamentais no movimento grupal.

Disponibilidade interna.

Aceitação das diferenças individuais e do jeito de ser de cada um.

Confiança na capacidade de transformação pessoal.

Escuta e acolhimento oferecidos a todos.

Cuidado com o bem-estar do grupo.

Busca das qualidades existentes em cada indivíduo.

Delicadeza de tratamento sem deixar de ser firme e decidido.

O educador deve estar atento para alguns aspectos que podem interferir no estabelecimento do vínculo, como a expectativa que o grupo mantém em relação ao desconhecido, pois pode criar fantasias e projeções sobre a pessoa do educador. Quando não são percebidas podem dificultar a comunicação intragrupal.

Confiar na capacidade e no processo grupal – a riqueza de experiên-cias que traz cada integrante do grupo estabelece uma configuração tal, que permite ao facilitador, ao longo do processo, identificar as possibilidades de contribuição de cada integrante. A referência que o educador deve ter para intervir na aprendizagem do grupo, deve estar contida no seu interior, pois ele deve canalizar as potencialidades e criar condições para que outras características possam surgir.

O papel do educador – é importante reportarmo-nos à necessidade do educador, esteja ele na sala de aula ou inserido em outros espaços esco-lares, voltar-se para seu próprio aprender, considerando seus limites e suas potencialidades na relação com seu papel de educador. O educador não pode considerar-se pronto para sua função, o movimento do ensinar/aprender deve também estar presente no trabalho grupal.

Ser coerente, verdadeiro, evitando contradições no que diz respeito a não levantar expectativas de um papel onipotente, são algumas das atitudes importantes do educador desenvolver para que possa intervir também como modelo para os integrantes do grupo. Aqui caberia bem lembrarmos dos vínculos patológicos que o educador pode desenvolver, segundo Fernandez (1994, p.72). Estes vínculos que encobrem a possibilidade do educando ser autor de sua aprendizagem, coloca o educador como dono de um saber que ofusca o saber do outro.

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Reconhecer as individualidades e saber coordená-las para o desenvolvimento grupal é uma das características necessárias para o educador que trabalha em prol da aprendizagem permeada pelo caráter relacional. Estabelecer um distanciamen-to instrumentado na relação grupal é outro fator que deve ser considerado, pois só assim o educador poderá identificar as necessidades do grupo. Ele permanece envolvido com o grupo, porém mantém-se distante para poder atuar interventiva-mente no grupo.

Algumas contribuições da técnica de grupos operativos

Ter em mente as mudanças no enfoque do papel de educador pode contribuir significativamente, facilitando a atuação no âmbito grupal dentro do espaço escolar. “A atitude operativa de um educador ou de um psicopedagogo está ligada à ação de promover o movimento interno para a adaptação ativa, naqueles que precisam se movimentar para aprender.” (BARBOSA, 2001, p. 215).

A proposta de grupos operativos foi delineada por Enrique Pichon-Rivière que tem seus estudos teóricos-práticos referenciados pela Psicologia Social, que concebe o ser humano como eminentemente social e garante sua sobrevivência a partir das inter-relações com a coletividade e a apropriação de sua cultura. Diante das necessidades de mudança que o meio lhe impõe, o homem pode desenvolver atitudes hostis à transformação, que pode gerar ansiedades.

Segundo Barbosa (2001, p. 188)para diminuir as fontes de ansiedade, o homem resiste à mudança, utilizando distintas condutas frente à mesma, temendo o que Pichon-Rivière (1988) chamou de medo da perda de estruturas já estabelecidas, medo da perda da acomodação e medo do ataque, por não sentir-se instrumentado para se defender dos perigos que a novidade sugere.

Diante desses comportamentos e diante da necessidade de efetivar tarefas que possibilitassem mudanças individuais e grupais, Pichon-Rivière (1988) siste-matizou uma técnica de atuar com grupos, que facilita o alcance de um nível de produtividade satisfatório, a partir de um movimento interno autônomo do grupo na realização de tarefas.

A técnica dos grupos operativos tem sido muito utilizada nos mais diver-sos âmbitos de atuação com grupos, pois subsidia o profissional que a usa, na compreensão do grupo a partir da ação individual de cada um de seus membros. “As manifestações do indivíduo no grupo são vistas como emergentes de um desejo grupal, decorrentes de fatores socioeconômicos e familiares.” (BARBO-SA, 2001, p. 188).

Essa técnica caracteriza-se pela proposta de desenvolvimento de uma determinada tarefa, frente a qual o grupo mobiliza conteúdos objetivos e subje-tivos, configurando assim sua atitude operativa. Para Pichon-Rivière, o grupo é definido pelo conjunto de pessoas, que se relacionam num contínuo de espaço e de tempo, e tem a tarefa como mobilizadora de demandas explícitas e implícitas.

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Para ele, estrutura, função, coesão, finalidade e número de integrantes configuram a situação grupal.

O grupo operativo tem objetivos, problemas, recursos e conflitos que devem ser estudados e considerados pelo próprio grupo à medida que vão aparecendo, serão examinados em relação com a tarefa e em função dos objetivos propostos. (BLEGER, 1987, p. 75).

A ação psicopedagógica no espaço da escola pode beneficiar-se destes conhecimentos, já que a leitura de grupos proposta por esta técnica pode dizer respeito a um pequeno grupo, a um grande grupo, a um grupo que compõe uma instituição, uma comunidade e até mesmo uma nação. (BARBOSA, 2001, p. 190).

O educador, no espaço da sala de aula, pode valer-se desse recurso com o objetivo de desenvolver educandos capazes de alcançar a autoria de suas aprendiza-gens. O grupo operativo trabalha sobre um tópico de estudo dado, porém, enquanto o desenvolve, forma-se nos diferentes aspectos do fator humano, que constitui, segundo Bleger (1987, p. 55), “o instrumento de todos os instrumentos.”

Aqui cabe, mais uma vez, salientar a importância da atitude operativa do educador, sem esse movimento o que vai prevalecer é a autoridade em detrimento de um aprender de “mão dupla”, no qual aprendentes e ensinantes assumem alternadamente esses papéis. Tomando, ainda, o referencial teórico que nos propõe Bleger (1987, p. 57),

não se pode pretender organizar o ensino em grupos operativos sem que o pessoal docente entre no mesmo processo dialético que os estudantes, sem dinamizar e relativizar os pa-péis e sem abrir amplamente a possibilidade de um ensino e uma aprendizagem mútua e recíproca.

Como sabemos, um dos vetores de análise que a Epistemologia Convergente propõe para a leitura do processo de aprendizagem é a Psicologia Social de Pichon-Rivière, pois considera que a construção da aprendizagem é permeada pelo meio social no qual o sujeito da aprendizagem está inserido. Sendo assim, ela propõe um esquema conceitual de análise voltado para a aprendizagem por meio da tarefa, denominado ECRO – Esquema Conceitual Referencial Operativo.

O ECRO representa a dinâmica de funcionamento de determinado grupo, que passa a ser uma referência para a atuação psicopedagógica na instituição. Ele permite uma compreensão horizontal da totalidade do grupo, bem como a com-preensão vertical do sujeito que se encontra nele inserido.

Uma das análises que fazemos ao acompanhar as mudanças de um grupo ou instituição diz respeito ao conhecimento que precisamos ter dos esquemas conceituais que regem sua ação e ao modo como este vai se configurando no decorrer do trabalho psicopeda-gógico realizado. (BARBOSA, 2001, p. 191).

Um instrumento que facilita o reconhecimento do ECRO de um determina-do grupo é a leitura de sua dinâmica a partir do cone invertido. Se uma tarefa é proposta ao grupo, seu resultado pode ser mais ou menos eficaz, dependendo de como ele constrói sua história como grupo e sua interação, sem valorizar os indi-víduos e seus ECROs. Os seis vetores de análise que compõem o cone invertido, comunicação, aprendizagem, tele, pertinência, pertença e cooperação auxiliam o coordenador de um grupo a compreender a configuração do movimento desse para a mudança e transformação.

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Barbosa (2001, p. 192) elenca alguns papéis que os indivíduos assumem dentro de um grupo, a partir de sua história pessoal (verticalidade):

Líder de mudança – leva o grupo para o caminho do novo.

Líder de resistência – segura o grupo, garantindo o já estabelecido.

Porta-voz – traduz em palavras ou ações o desejo do grupo.

Bode expiatório – carrega a carga negativa e alivia o grupo.

Sintetizador – ouve o grupo e expressa a síntese do pensamento daque-le.

Esses papéis devem ser analisados sempre enfocando o oferecimento que o grupo faz para o indivíduo que assume o papel, que pega porque quer ou porque está preparado para pegar, e por outro lado quando aceita assume o compromisso de proteger o grupo e conseqüentemente de se proteger também.

Existem ganhos pessoais e grupais que não permitem ao observador do grupo tomar partido e nem fazer julgamento de valor. A ação grupal é, predominantemente, um jogo de inter-relações, no qual todos fazem parte e ninguém é pior ou melhor que o outro ou que o grupo. (BARBOSA, 2001, p. 194).

Os princípios que nesta aula foram delineados têm como objetivo nortear, sem o aprofundamento teórico que o tema merece, a ação educativa que se efetiva no espaço da instituição educacional, tanto por educadores como por profissionais da Psicopedagogia que têm o grupo como âmbito de atuação. Não é uma tarefa fácil investir na ação grupal, requer do coordenador um preparo para que sua in-tervenção mobilize conteúdos possíveis de serem trabalhados e ao mesmo tempo atinja níveis que possibilitem um movimento para a transformação de conteúdos cristalizadores e estagnados, que impedem a aprendizagem.

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1. Responda as seguintes questões individualmente e em seguida discuta com os demais colegas.

a) Faça uma pesquisa sobre o conceito de grupo em diferentes enfoques teóricos.

b) Enumere os aspectos importantes que o educador deve considerar no trabalho com grupos.

c) O que é um grupo operativo?

d) O que você entendeu por ECRO?

e) Descreva uma situação vivenciada por você, na qual foi possível identificar os diferentes papéis que os membros de um grupo podem assumir.

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Psicopedagogia institucional – reflexões sobre o trabalho psicopedagógico com grupos

(PEGO, Marcia Goulart Tozzi, 2003)

O trabalho psicopedagógico institucional possibilita o processo de formação e desdobra-mento das relações interpessoais e grupais de seus participantes. Cada participante é fruto da articulação de várias e diferentes dimensões vividas simultaneamente. Portanto, trará consigo experiências de vida que, somadas às situações de cada grupo com o qual interage, repercutirão em seus interesses e necessidades.

Se a princípio, o trabalho com o grupo cria uma dependência em relação à figura do especialista, esta tenderá a diluir-se com o transcorrer das sessões.

O psicopedagogo deverá desempenhar seu papel cuidadosamente de modo a administrar, harmoniosamente e sem manipulação, o poder que lhe é dado pela instituição, construindo assim o espaço próprio de exercício da autoridade que se estabelece com as reuniões do grupo.

O grupo, formado a partir do poder atribuído ao psicopedagogo, será o espaço de exer-cício deste enquanto líder instituído e especialista.

Articulam-se aí dois níveis de poder, o poder advindo da instituição e o outorgado pela condição de especialista.

No entanto, a posição de liderança que exerce não deve justificar mandos e desmandos nem uma atuação limitada a orientações ou práticas que envolvam a aplicação de conheci-mentos (aulas). Sua condição frente ao grupo deve ser transformada de modo a servir como um favorecedor da expressividade natural dos participantes, criando condições para o fluir positivo das relações entre os sujeitos e entre eles e os produtos que resultam das experiências vividas, oportunizando sua troca e ressignificação.

O que interessa no encontro é o que surge a partir dos intercâmbios ocorridos entre os participantes e o conjunto de relações estabelecidas, são as experiências e interesses dos participantes e o gradual estabelecimento da descentralização da ação.

No trabalho com grupos há uma constante produção, fruto da inter-relação do coletivo e do individual, pois ambos constituem-se, criando-se e recriando-se num exercício de cons-tante reciprocidade.

Interessa-nos uma situação grupal que não seja interpretada com o peso da responsabi-lidade em criar, mas que seja vista pelos participantes com a leveza do que é dispensável, só tendo a utilidade de um espaço de experimentação que pode ser muito enriquecedor.

Propiciar no encontro dos sujeitos com distúrbios de aprendizagem o livre exercício de criar, agir e ser interagido, refletir e ser refletido, tendo a oportunidade de dar ao outro o que traz consigo e também receber deste a bagagem adquirida de outros grupos.

2. A partir da leitura do texto que se segue, utilizando a técnica de discussão GVGO (Grupo de Ver-balização e Grupo de Observação) reflitam sobre a importância do enfoque no caráter relacional dentro da instituição educacional, quando se tem como objetivo a potencialização do processo de ensino/aprendizagem.

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Estar com o outro possibilita, a partir do contato e confronto com a diferença que traz cada um, a recriação de si mesmo.

O trabalho em grupo estabelece-se como um espaço onde se vive a autoria de frente ao outro, exercendo os papéis de ensinante e aprendente num ir e vir que possibilita a cura do sujeito à medida que oportuniza que ele se recrie enquanto participante criativo de um grupo onde age e é interagido. É um espaço de experimentação que favorece, além de uma riqueza de trocas, o respeito ao ritmo de produtividade e às expressões, fruto da objetividade e sub-jetividade de cada um, possibilitando a reorganização do sujeito aprendente enquanto social e enquanto indivíduo.

Cada sujeito, em particular, experimentará a identificação e as diferenças com relação ao outro e a sua maneira de expressar, criando e recuando os limites do seu eu.

A experiência grupal possibilita que o eu, enquanto sujeito individual, dissolva-se no intercâmbio dinâmico e, conseqüentemente, reorganize-se a partir das experiências subjetivas e objetivas compartilhadas. Oportuniza que se crie e produza exercitando o eu enquanto pessoal e enquanto parte de um grupo.

O sujeito individual frente à experiência com o grupo tem a possibilidade de perceber a si mesmo enquanto presença motivada para a ação e a própria transformação que repercute como resposta da sua interação com o meio.

Quanto ao papel do psicopedagogo, este tem participação ativa como elemento do grupo, acompanhando e criando com os sujeitos e assim participando e sofrendo os efeitos do processo grupal, tendo em conta não só os aspectos objetivos, mas também os subjetivos.

Deverá manter-se atento para quando é ou não necessária sua intercessão no grupo, pois é comum que os participantes tenham como mais importante às experiências de troca que efetuam uns com os outros.

Também deverá atentar para com o processo de relações que ocorre entre os pacientes de modo a possibilitar a contínua expressão dos sentimentos deles e o fluir de sua criatividade.

Há momentos em que devem ser feitas orientações ou comunicados, ora ao grupo, ora a um sujeito especificamente. Estes momentos devem ser claramente dirigidos para alcançar seu fim, quero dizer, quando se deseja dar uma comunicação ao grupo não se deve dirigi-la a um só participante, da mesma forma, quando dirigir alguma colocação a um determinado sujeito não se deve generalizá-la como se fosse para o grupo todo.

É importante a clareza na comunicação do psicopedagogo.

O grupo terá sua realidade constituída a partir da contribuição dos sujeitos, que trarão consigo suas experiências, interesses, necessidades, medos e ansiedades.

Haverá a articulação entre os participantes de modo a dar cada um a sua contribuição no desempenho das tarefas.

Esta articulação é saudável e desejável na medida em que possibilita o sentimento do eu enquanto “produtor”, “realizador” e capaz de contribuir para com os outros no alcance de objetivos comuns.

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Há sujeitos que não sabem participar de grupos sem trazer transtornos, impedindo ou perturbando a realização e desempenho dos participantes nas atividades.

O psicopedagogo atuará junto ao grupo respeitando as diferenças e não buscando reduzi-las, mas oportunizando que se crie e recrie, possibilitando que haja uma transformação positiva da agressividade manifesta. Cabendo-lhe uma ação que não perca de vista o respeito e a tolerância tanto pelos pacientes como por suas experiências expressas, objetiva ou subjetivamente.

Os sujeitos precisam sentir-se confiantes, seguros em se exprimir e compartilhar o que no momento sentem ser importante. Daí, a necessidade de estar preparado para as diferentes expressões que pode assumir a particularidade de cada um, a importância da compreensão do sentido pessoal de cada ação que envolve o outro e a possibilidade que surge, a partir dessa relação, da criação e recriação dos limites do próprio eu do sujeito, buscando sempre garantir que aflore, não só o potencial criativo e a livre expressão de sentimentos de cada participante, mas também, o ajustamento criativo entre o sujeito e o mundo, respeitando os aspectos obje-tivos e subjetivos que constituem a essência de cada um.

A ação do psicopedagogo fica então a serviço da expressividade natural e da atualização das possibilidades de autotransformação pessoal de seus pacientes.

Deve favorecer a organização dinâmica dos sujeitos de modo que possam agir e interagir, articulando as ações de ensinante e aprendente harmoniosamente, trazendo de seus grupos de origem práticas de vida e informações que serão utilizadas sob outra ótica e, tendo a oportu-nidade de experimentar a boa ou má receptividade do grupo a elas, ressignificá-las.

Enfim, permitir a ocorrência da reelaboração criativa e ressignificação das experiências de seus pacientes de maneira que estes se coloquem, enquanto sujeitos capazes de usufruir o exercício dinâmico e fluido da ação de ensinante-aprendente.