grupospequenos_amaivos

20
1 Guia do Participante 4 AMORES, 4 PALAVRAS, 1 MANDAMENTO

description

 

Transcript of grupospequenos_amaivos

1Guia do

Particip

ante

4 AMORES, 4 PALAVRAS, 1 MANDAMENTO

2

Há milhares de anos, Deus escolheu um homem e toda a sua des-cendência – Abraão e o povo hebreu – para que fizessem diferença entre todas as nações da terra. Através de sua obra neles e por meio deles, Deus queria Se revelar a todas as pessoas do mundo. Com o andar dos séculos, no entanto, alternando entre momentos de extrema idolatria (como nos dias de Acabe) ou mesmo em outros de algum esforço religioso (como nos dias da reforma promovida por Josias), o povo escolhido terminou por fracassar em sua missão de ser a luz neste mundo. Como consequência, veio o exílio assírio e também o babilônico-persa e, após quase um século em terra estrangeira, um pequeno e enfraquecido remanescente dá inicio a um processo longo, demora-do, desestimulante, cansativo e trabalhoso de retorno à terra “antes” prometida. Mais alguns séculos permeados por guerras, revoluções, derrotas militares e capitulações políticas se passam, e então, eis que emerge das regiões mais longínquas da Galiléia dos gentios, alguém que dizia saber onde estava realmente o problema. Segundo Ele, não era a lei, mas a forma como ela tinha sido interpretada, a razão de terem fracassado. “Eu não vim para revogar a lei”, disse, “mas para cumpri--la”, em outras palavras, estou aqui para resgatar o seu verdadeiro significado.Para Jesus, a lei não deveria ser vista pelo seu aspecto negativo: “não mate, não roube, não cobice, não minta, não adultere”; mas a partir de uma abordagem positiva do ato de amar. Para Ele, tudo o que Deus revelou acerca de como os seres humanos deveriam viver (na Lei e nos Profetas) era dependente do ato de amar (Mt 22.40) – nas palavras do apóstolo Paulo, amar implicava em “cumprir” (Rm 13.9) e “resumir” (Gl 5.14) toda a Lei – , era como se o amor fosse a essência de tudo aquilo que Deus anseia encontrar na vida humana.

Amai-vos

33

Nesse sentido, pecar é não amar, da mesma forma que amar é o mes-mo que obedecer e agradar a Deus. Porque o amor é a própria essência da nossa alma, uma vez que fomos criados para conviver – viver com–, para estarmos cercados de pessoas que amam e são amadas. Nós fomos criados por Deus com essa capacidade. Isso quer dizer que nos é natural amar e quando não o fazemos, pecamos. Porque pecar é viver por si e para si mesmo.É por isso que Jesus dá tanta importância ao amor. Para redimir a humanidade era necessá-rio resgatar sua essência perdida na queda.Era

Um novo manda-mento vos dou: Que

vos ameis uns aos outros; como eu

vos amei a vós, que também vós uns

aos outros vos ameis.

(João 13.34)

necessário restaurar sua capacidade de fazer o que fora criada para fazer. Em Cristo, o próprio Deus precisou descer, pisar sobre o nosso poeirento chão, colocar-se lado a lado às pessoas mais desagradáveis, mais irritantes e repugnantes, com seus odores, barulhos, suas feiúras, etc, e então amá-las sem restrição. Era necessário mostrar que é possível, uma vez que toda a expectativa de Deus em relação a nós implica em sermos o que fomos criados para ser: aqueles que amam.O fato de Jesus haver atribu- í-do tamanho valor assim a esse tema, deve – no mínimo – nos motivar a sabermos muito mais sobre ele e praticarmos melhor o amor em todas as suas formas de expressão. Por isso, durante esse mês, não deixe de participar das reuniões dos Pequenos Grupos. Prepare-se para cada encontro, esforce-se para não faltar e então mergulhe nas águas profundas da Palavra de Deus e encontre alimento para sua alma.

Pr. Marcos

4

Introdução ao Estudo“A expressão vocabular humana não sabe ainda e provavelmente não o saberá nunca, conhecer, reconhecer e comunicar tudo quanto é humanamente experimentável e sensível.”

José Saramago

Muitas vezes é difícil, quase impossível expressarmos em palavras aquilo que vivenciamos, experimentamos ou mesmo sentimos. É como se as palavras faltassem. Como se não fossem sufi cientes nem capazes de trazer consigo algo da imensidão dos signifi cados da vida que nos cerca. Ainda assim, mesmo limitado, nosso vocabulário é tudo o que temos. Quanto maior e mais rico de recursos ele é, mais da vida consegui-mos comunicar.Os escritores bíblicos, inspirados pelo Espírito de Deus, pensaram nisso ao escreverem os livros da Bíblia. No Novo Testamento1, quando

queriam comunicar o signifi cado das verdades contidas no ato de amar, fi zeram uso de ao menos quatro palavras gregas. Não que elas tragam consigo significados totalmente diferen-tes, mas quando vistas de forma a considerar suas particularida-des, elas ampliam os horizontes

do nosso entendimento acerca do amor e do que significa amar.

1. De certa forma, também no Antigo Testamento, uma vez que os correspondentes hebraicos “hav” “ahava” e “dod” foram traduzidos para o grego no século III a.C., na versão dos Setenta (LXX).

5

01Liçã

o

Storge - Stergo

Em certa ocasião, quando ensinava, Jesus revelou um quadro da sociedade em seus últimos dias (Mt 24.12). Falsos profetas, guer-ras, fome extrema, terremotos, compunham os traços de uma rea-lidade assustadora. Segundo Jesus, a característica mais marcante dessa situação terrível é a ausência do amor. Nesses dias, na me-dida em que o amor vai se apagando(esfriando), a iniquidade se

propaga de forma inversamente proporcional. Se formos honestos e compararmos as pre-

visões de Jesus com a realidade mostra-da em qualquer um dos noticiários de

nossos dias, vamos encontrar muitos pontos em comum. Por um lado, enxergamos a iniquidade

atingindo marcas históricas na forma de corrupção em massa, injustiça extrema,

violência gratuita e, por outro, podemos ver que o amor vai se tornando algo utópico, irreal e fantasioso.

Passamos a nos conformar com o fato de que tal-vez não exista mais ou nunca tenha existido.

Momento de Refl exão

Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês.Não se amoldem ao padrão deste mun-do, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradá-vel e perfeita vontade de Deus. (...)O amor deve ser sincero. Odeiem o que é mau; apeguem-se ao que é bom. Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefi ram dar honra aos outros mais do que a si próprios.

Rm 121,2,9,10

Afeição Natural

6

No testemunho bíblico a respeito da criação (Gn. 1 e 2), vemos que a humanidade foi criada por Deus de uma maneira especial. E por cau-sa de sua natureza, não é bom que os seres humanos vivam sós. Eles nasceram com um grande potencial de viver além das fronteiras de suas próprias vidas. Para serem felizes e alcançarem a auto-realização, eles têm uma necessidade de duas vias: precisam doar de si e precisam receber do outro. Somente assim são capazes de corresponder à razão pela qual vieram a existir. O Problema é que esse potencial natural que temos para amar encon-tra-se distorcido. Assumiu a configuração desse século.Por causa do pecado, até mesmo storge, o amor em sua forma mais elementar, inferior – não no sentido de ser menor, mas no sentido de ser inferior justamente porque é sobre ele que o superior se sustenta –, en-contra-se totalmente deformado e quase não pode ser reconhecido nem mesmo nos relacionamentos entre mães e filhos, irmãos e irmãos, filhos e pais, relacionamentos cujos laços naturais deveriam falar mais alto.

A Configuração desse Século

O Design Original

A forma desse século

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalho-sos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, pre-sunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incon-tinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

2 Tm3:1-5

Rm12.9e10

Por causa do pecado, forças ocultas e impetuosas trabalham ininter-ruptamente para nos configurar como pessoas inamáveis e incapazes de amar.

O amor deve ser sincero… Dediquem-se uns aos outros afetuosa-mente (stergos) com amor fraternal (philadelphia).

7

Momento de Decisão

A forma desse século

Tente fazer uma avaliação sincera e, numa escala de 0 a 10, sendo que 0 é igual a “completamente inamável” (odiável) e 10 é o mes-mo que “totalmente amável”, responda o quanto você é amável.

Após avaliar-se, pergunte ao vizinho do seu lado se ele concorda com você.

Agora, se possível, faça essa oração:Senhor Deus, reconheço que tenho assumido o formato desse século e tenho sido tão incapaz de amar, ainda que na forma mais básica. Reconheço também minha necessidade de ser amado(a) e preciso que o Teu Espírito me ajude a me tornar uma pessoa mais fácil de ser amada. Restaura em mim, Senhor, a capacidade de me afeiçoar de forma natural por tantas quantas forem as pessoas que se aproximarem de mim.

02Liçã

o

PhiliaAmizade

Semana passada começamos a conversar sobre os quatro amores. Vi-mos que fomos criados com a capacidade de amar nas mais diversas dimensões e que somos capazes de nos relacionar em níveis diferen-tes, começando do mais básico que é o nivel da afeição natural.Bem diferente do que acontece com Storge, a Amizade é o menos natural dos amores; o menos instintivo, o menos orgânico, o menos biológico. Não há nada nela que acelere os batimentos cardíacos. A amizade surge do mero companheirismo, quando dois ou mais com-panheiros descobrem que têm em comum alguma idéia, interesse ou mesmo gosto de que os demais não partilham. Ao se encontrarem, os futuros amigos são tomados pela surpreendente constatação: “O quê? Você também? Pensei que eu fosse o único”.

8

Noemi disse às duas noras: “Vão! Voltem para a casa de suas mães! Que o Senhor seja leal com vocês, como vocês foram leais com os falecidos e comigo. O Senhor conceda que cada uma de vocês encontre segurança no lar doutro marido”. Então deu-lhes beijos de despedida. Mas elas começaram a chorar bem alto e lhe disseram: “Não! Voltaremos com você para junto de seu povo! “ Disse, porém, Noemi: “Voltem, minhas filhas! Por que viriam comigo? Poderia eu ainda ter filhos, que viessem a ser seus maridos? Voltem, minhas filhas! Vão! Estou velha demais para ter outro marido. E mesmo que eu pensasse que ainda há esperança para mim — ainda que eu me casasse esta noite e depois desse à luz filhos, iriam vocês esperar até que eles crescessem? Ficariam sem se casar à espera deles? De jeito nenhum minhas filhas! Para mim é mais amargo do que para vocês, pois a mão do Senhor voltou-se contra mim! “Elas então começaram a choram bem alto de novo. Depois Orfa deu um beijo de despedida em sua sogra, mas Rute ficou com ela.Então Noemi a aconselhou: “Veja, sua concunhada está voltando para o seu povo e para o seu deus. Volte com ela! “Rute, porém, respondeu: “Não insistas comigo que te deixe e não mais a acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, se outra coisa que não a morte me separar de ti! “

Rute 1.8-17

Momento de Reflexão

Amizade: questão de Encontro

Diferente de Storge, a Amizade não está limitada a acontecer por causa de vínculos naturais. Ela é questão de “simples” encontro. Quando, em meio às nossas vidas e às nossas demandas, de repente nos vemos lado a lado com alguém que compartilha conosco de um mesmo ideal, ou do mesmo gosto musical, ou que torce para o nosso time, ou prefere a mesma literatura, assistiu aos mesmos filmes e, principalmente, quan-do traz consigo a mesma fé que arde em nosso coração, então o milagre acontece. Como num piscar de olhos, percebemos que não estamos mais sozinhos nem em nossas caminhadas e, o que é mais importante, nem quando conversamos sobre as nossas caminhadas.

9

Amizade: questão de reconhecer a presença do Mestre de Cerimônias

Amizade: o meio em que Deus revela em cada um a beleza de todos os outros.

Foi disso que Rute não quis abrir mão. Apesar de não haver mais qualquer vínculo natural, ou

mesmo, qualquer obrigação social que as forçavam a ficarem juntas, algo muito mais forte as unia. Não era por acaso, tinham se encontrado e agora

compartilhavam da mesma consciência de cidadania, da mesma fé e do mesmo ideal de

vida (seu povo, meu povo; seu Deus, meu Deus; onde quer que fores irei também).

Erramos em pensar que somos nós que escolhe-mos nossos amigos. Uma vez que Philia é diferen-

te de Stergos por não se apoiar em vínculos “na-turais”, às vezes somos tentados a acreditar que temos

total autonomia para escolher quem será ou quem nunca será nosso amigo. No entanto, bastariam alguns anos de diferença nas datas de nascimento, alguns kilômetros a mais entre determinadas casas, a escolha de uma igreja ao invés de outra, ou o acaso de um certo assunto não ter sido levantado para que nunca viéssemos a encontrar aquele que “escolhemos”para ser amigo.Para um cristão, não existem acasos. Cristo, nosso mestre de cerimônias, aquele que disse “vocês não me escolheram, eu vos escolhi” é o mesmo que também está por trás de cada um dos encontros que a vida propor-ciona para nós.

As mulheres disseram a Noemi: “Louvado seja o Senhor, que hoje não a deixou sem resgatador! Que o seu nome seja celebrado em Israel! O menino lhe dará nova vida e a sustentará na velhice, pois é filho da sua nora, que a ama e que lhe é melhor do que sete filhos! “

Rute 4:14-15

Rute não fazia a mínima ideia, mas se tivesse feito a opção de romper sua relação com Noemi e voltar para sua família, como fez sua cunhada Orfa, jamais poderia alcançar e cumprir o propósito traçado por Deus para sua vida. Foi apenas através de sua forte amizade que Rute e Noemi tiveram suas vidas alçadas para muito além de suas possibilidades individuais.

10

Momento de Decisão

De acordo com o Salmo 133, o ambiente perfeito para que tenhamos acesso às bênçãos de Deus pode ser qualquer lugar onde “estiverem vivendo juntos” os irmãos. Como o óleo que é derramado sobre a cabeça e que, em instantes cobre todo o corpo do sacerdote e, também, da mesma forma como a água que derrete e desce das geleiras do monte Hermon, corre para o sul, cortando o deserto e formando o Mar da Galiléia, o Rio Jordão e, então, segue transfor-mando as paisagens e enchendo de vida o Crescente Fértil Palestino, assim, a bênção de Deus corre de coração em coração, de mão em mão, de olho em olho, de vida em vida, até que todos, sem exceção, a recebam.

Você tem amigos? Consegue enxergar o quanto são importantes no processo através do qual você tem acesso às bênçãos de Deus?

Se for possível, faça essa oração: Querido Deus, obrigado(a) por cada um dos encontros promovidos por Ti para que hoje eu estivesse cercado(a) de amigos. Hoje sei que estás por trás de cada um deles. Por isso, venho humildemente pedir que, um a um, os meus amigos sejam guardados em meu coração, de forma que nunca venha a me separar deles. Abre os meus olhos para enxergar e receber das bênçãos que derramaste neles. E usa o tempo, os recursos e a energia que me deste para enriquecer a vida de cada um deles.Em nome de Jesus, amém!

Mas quem ficou, no pensamento voou Com seu canto que o outro lembrou E quem voou, no pensamento ficou Com a lembrança que o outro cantou

Canção da AméricaMilton Nascimento

Amigo é coisa para se guardar No lado esquerdo do peito Mesmo que o tempo e a distância digam “não” Mesmo esquecendo a canção O que importa é ouvir A voz que vem do coração

11

Mas quem ficou, no pensamento voou Com seu canto que o outro lembrou E quem voou, no pensamento ficou Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar No lado esquerdo do peito Mesmo que o tempo e a distância digam “não” Mesmo esquecendo a canção O que importa é ouvir A voz que vem do coração

03Liçã

o Eros Amor com o que amam os apaixonados

Recentemente acompanhei os resultados de uma pesquisa realizada por um grande portal da internet. A pergunta em questão era “é possível ser feliz sozinho?”. Cerca de dez mil pessoas registraram suas opiniões, onde 87% dos participantes afirmaram que, sim, é claro que é possível sermos felizes sozinhos. Além disso, entre estes, mais de 50% foram ainda mais longe dizendo que só podemos ser felizes quando estamos “livres” de toda e qualquer limitação que um relacionamento pode impor sobre nós.

Esse é um sinal dos tempos em que vivemos. Um mundo onde somos formados para viver para nós mesmos, apenas. Que prega a felicidade através de uma busca infinita para satisfazer o apetite do grande ído-lo da auto-realização. Que exige que sejam sacrificados em seu altar o nosso tempo, os nossos recursos, a nossa vitalidade e, principalmente, os nossos relacionamentos, que são imolados sem qualquer receio para que venhamos a obter mais e mais do elixir do prazer.É claro que isso tudo aponta para uma dura verdade. Nossa sociedade está seriamente doente. A sensação ilusória de que estar sozinhos é bom para nós é um péssimo sintoma espiritual, assim como a falta de apetite é um mau sintoma médico. Nas palavras de José Saramago, em “Ensaio sobre a Cegueira”, essa enfer-midade se manifesta como uma “perniciosa cegueira mental”.

“Falamos muito ao longo destes últimos anos dos direitos humanos; simplesmente deixamos de falar de uma coisa muito simples, que são os deveres humanos, que são sempre deveres em relação aos ou-tros, sobretudo. E é essa indiferença em relação ao outro, essa espécie de desprezo do outro, que eu me pergunto se tem algum sentido numa situação ou no quadro de existência de uma espécie que se diz racional. O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental... que consiste em estar no mundo e não ver o mundo ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses.”

José Saramago

12

Ah, se ele me beijasse, se a sua boca me cobrisse de beijos...  Sim, as suas carícias são mais agradáveis que o vinho. A fragrância dos seus perfu-mes é suave; o seu nome é como perfume derramado. Não é à toa que as jovens o amam! Leve-me com você! Vamos depressa! Leve-me o rei para os seus aposentos! Estamos alegres e felizes por sua causa; celebraremos o seu amor mais do que o vinho. Com toda a razão você é amado! Como você é linda, minha querida! Ah, como é linda! Seus olhos são pombas. Como você é belo, meu amado! Ah, como é encantador! Verde-jante é o nosso leito. Como são lindos os seus pés calçados com sandálias, ó filha do príncipe! As curvas das suas coxas são como jóias, obra das mãos de um artífice.Seu umbigo é uma taça redonda onde nunca falta o vinho de boa mistura. Sua cintura é um monte de trigo cercado de lírios. Seus seios são como dois filhotes de corça, gêmeos de uma gazela. Seu pescoço é como uma torre de marfim. Seus olhos são como os açudes de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim. Seu nariz é como a torre do Líbano voltada para Damasco. Sua cabeça se eleva como o monte Carmelo. Seus cabelos soltos têm reflexos de púrpura; o rei caiu prisioneiro das suas ondas.Como você é linda! Como você me agrada! Ó amor, com suas delícias! Coloque-me como um selo sobre o seu coração; como um selo sobre o seu braço; pois o amor é tão forte quanto a morte, e o ciúme é tão infle-xível quanto a sepultura. Suas brasas são fogo ardente, são labaredas do Senhor. Nem muitas águas conseguem apagar o amor; os rios não con-seguem levá-lo na correnteza. Se alguém oferecesse todas as riquezas da sua casa para adquirir o amor, seria totalmente desprezado.

Cânticodos

Cânticos 1.2-4

1.15-16

7. 1-6

8. 6-7

Entre todos os amores, aquele que mais tem sido bombardeado para que se transforme em outra “coisa”, para que se torne algo que nunca foi, é o amor Eros. Muito se tem feito de todos os lados e de todas as formas para que haja essa mutação. Para que Eros seja visto apenas como mero instinto que nos conduz à satisfação de nossas “necessidades” sexuais. Querem que o vejamos como simples necessidade biológica e, assim, os “amantes” sejam metamorfoseados em um tipo de criatura visceral,

Momento de Reflexão

Eros, o poder que une vidas

13

No entanto, eros, enquanto amor, está infinitamente distante dessa condi-ção. Não trata-se apenas de uma união de corpos. Mas, uma união de emo-ções, corações, mentes, almas, estamos falando de uma união de vidas. Quando Eros entra em contato com o coração de um homem, ele muda a forma como ele olha para sua amada. Não é uma questão de gênero, apenas, pelo fato de ela ser uma mulher. Não é isso o mais importante, mas é porque aquela pessoa, além de pertencer ao gênero feminino, “É ELA”!A forma tão peculiar como anda, como balança os cabelos, como age, como fala, como sorri; aqueles olhos, aquele nariz, aquela boca, a voz, as fragrân-cias... todas essas coisas juntas fazem dela alguém especial a ser escolhida entre todas as outras. O desejo sexual (Vênus/Afrodite), sem eros, deseja isso, a coisa em si; eros quer a amada.É exatamente esse poder que vemos em ação no Cântico dos Cânticos (Shir HaShi-rim) . Aprendemos em suas páginas, progressivamente, como o amor pode unir um homem e uma mulher de forma poderosa. A amada anseia pelo amado e ele “respira” o desejo de estar com ela.

Eros: A FORÇA MAIS PODEROSA, IRRESISTÍVEL E INVENCÍVEL DA EXPERIÊNCIA HUMANA. 8.6 e 7

que perambula pelas ruas das cidades apenas com objetivo de aliviar sua necessidade, farejando e caçando qualquer pessoa que possa ser usada como simples ferramenta para obtenção de prazer sexual.

• Eros é “mais forte que a morte” – Através dele somos capazes de trans-cender os limites desta vida na medida em que vivemos no “outro”

• Eros é “tão inflexivel quanto a sepultura” – Uma vez nele, não tem volta.• Eros é uma chama intensa acesa pelo Senhor – Ninguém pode apa-

gar o que Deus acendeu. • Nada pode arrebatá-lo – Nem mesmo as maiores forças reunidas

podem arrancá-lo de “seu lugar”: o coração compartilhado entre o amado e a amada.

14

Momento de Decisão• Um poder assim, tão grande, quando cai em mãos erradas pode causar

estragos com as mesmas proporções em nossa vida. • Por isso deve ser experimentado sob a bênção de Deus e com a orientação

das Escrituras. • Eros, quando louvado sem reservas e obedecido incondicionalmente,

torna-se um ídolo. E é exatamente assim que ele exige ser louvado e obe-decido. Rebelando-se contra o propósito e a soberania de Deus.

• Aqui, o perigo não está em idolatrarmos o amado ou a amada, mas a Eros.

Se possível, faça essa oração: Senhor Deus, Criador do céu, da terra e de tudo o que se move e existe, obrigado(a) pela grandeza da oportunidade que temos em amar. Que Eros seja vivido por mim conforme o projeto que Tu tens para mim. Que ele cumpra o seu papel em minha vida, me levando a viver para o(a) meu(inha) amado(a), me levando a viver nele(a) e ele(a) em mim. Que Eros cumpra em mim o seu propósito último, que é dar conteúdo ao amor Agape. Que ele seja a experiência que me coloca na posição onde eu seja capaz de amar a Ti e a todos os meus próximos.

Estamos chegando no final de nosso estudo sobre os quatro Amores. Aprendemos que o Novo Mandamento de Jesus é uma ordem direta para todos nós. Deus não exige algo que não está ao nosso alcance. Pelo con-trário, é algo que já nos foi dado. Temos todos os ingredientes necessários para usarmos a receita do ato de amar. Tudo está ligado à nossa origem, ao fato de termos sido criados como seres capazes de amar. No primeiro dia, nós conversamos sobre como esse “mundo” trabalha para nos “configurar”. Nesse sentido, Marx não deixa de ter razão quando afirma que a existência precede a essência, sendo, portanto, o homem produto do meio em que vive. Por isso, desde muito cedo somos forçados a ouvir as vozes que conduzem esse século: “não se importe com o que seus pais te ensinaram ou o que

04Liçã

o AgapeCaridade

15

esperam de você, siga o seu coração e seja feliz”; “Viver é seguir a si mes-mo”; “Pense somente em você mesmo, porque você tem todo o direito de ser feliz”; “Use seus familiares, seus amigos e companheiros como maté-ria-prima para a sua realização pessoal”; “Use seu cônjuge e amantes para extrair deles todo o prazer que você precisa para saciar a sua fome”. Isso não quer dizer não haja opção além dessa. Pelo contrário, podemos voltar ao design original, aquele que o próprio Criador desenhou para nós.

Assim, o amor que movimenta uma mãe dedicada, um amigo leal ou uma esposa virtuosa, na medida em que se entregam e se doam chega a transformar-se na imagem fi el do amor Absoluto.No entanto, por outro lado podemos ver também que, exatamente por serem amores naturais, são também carentes, são “necessidade”, precisam

receber. E quando vistos assim, parecem ser o inverso do amor Absoluto. Não como se fosse no sentido do mal ser o inverso do bem, mas no mesmo sentido de que o pudim é o inverso da forma. E é por isso que eles precisam de SOCOR-RO. O amor Absoluto encontra espaço nos vazios absolutos ( “onde abundou o pecado, superabundou a graça – o amor em ação – de Deus”) e lhes devolve a vida.Assim, da mesma forma que o homem perfeito veio vivifi car os homens mortifi -cados pelo pecado, o amor Absoluto (Aga-pe) veio para devolver a vida aos amores

Rm 12.2

Não assumam a forma deste século (não se amoldem ao padrão deste mundo), mas transformem-se (grego: metamorfosis)

Os amores naturais frente ao Agape

Transformem-se através de uma nova mente que, dia após dia, vai se tornando cada vez mais capaz de perceber e obedecer à vontade de Deus.

Já aprendemos sobre como os amores naturais se apresentam como infe-riores e é claro que não são quantitativamente inferiores, mas somente são inferiores do ponto de vista de que é sobre eles que o “superior” preci-sa se colocar.

Amor  Absoluto Afeição Storge StorgeStorge

Amizade Philia

Eros

Agape - Caridade

Amor com que amam apaixonados

Os amores naturais são assumidos pelo Amor Absoluto

16

Isso porque existe algo em cada um de nós que não pode ser amado naturalmente. Não é defeito dos outros não amá-lo. Só o que é amável pode ser amado naturalmente. Seria como pedir a alguém que goste de leite estragado, feijão azedo ou pão embolorado. Às vezes algo maravilhoso acontece e percebemos que estamos sendo amados não porque somos amáveis, mas porque o amor Absoluto está naqueles que caridosamente nos amam. Nesse caso, não é a Caridade (Agape) que se reduz a um mero amor natural, mas é o amor natural que é assumido pelo Amor Absoluto.

O amor Absoluto, incondicional e irrestrito faz parte da própria natureza de Deus. Quando Jesus conversou com Nicodemos, disse que somente uma força absolutamente imensa poderia mover o Eterno Deus para a história: essa força é o amor Absoluto (Jo 3.16). Esse amor nasce no cora-ção de Deus para que busque e encontre o que estava totalmente perdido.

naturais, que estavam enfermos e enfraquecidos por causa do pecado. Não veio substituir, mas expandir cada um deles para muito além de suas limitações.

Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.

Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão.

Momento de Reflexão

1 João 4:10-11

1 João 4:12

4:19-21

Agape - O amor Absoluto que tem como ponto de partida o coração de Deus

Agape - O amor Absoluto que revela a face de Deus

Se o amor Absoluto é a força que move Deus, por outro lado ele é tam-bém a única substância de Deus que é visivel aos nossos olhos.

17

“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”(4.8)Da mesma forma como não somos capazes de olhar diretamente para uma grande fonte de luz, é somente por causa dessa luz que podemos enxergar todas as outras coisas. Na medida em que nos aproximamos e experimentamos do amor Ab-soluto, então entramos em contato com o próprio Ser de Deus. É por isso que não existe a possibilidade de alguém se relacionar com Deus sem que experimente, de forma prática, o amor Absoluto em suas vidas. Se não amamos ao próximo mas dizemos que amamos a Deus, somos mentirosos. Não tem nada a ver com estarmos enganados ou confusos em relação a alguma coisa. Mas, mentiroso é aquele que afirma algo mesmo sabendo que não se trata de uma verdade. Em último lugar, quanto à revelação da face de Deus no ato de amar as pessoas, precisamos dizer mais uma coisa. É comum usarmos a desculpa de que não devemos cair no erro de amar demais as pessoas. Afinal, Jesus disse que “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:26 ). Por causa disso, se não tomarmos o cuidado de amarmos de forma “moderada”, um pai, um irmão, um amigo, uma esposa podem vir a se tornar diretamente rivais de Cristo. Certo? Afinal de contas, é possível amar demais uma pessoa? Quando é pouco e quando é muito? Devemos amá-las ou não? Mais uma vez, o sentido aqui não é quantitativo. Jesus está falando de opo-sição. Quando qualquer dos nossos amados se põe entre nós e a obediência a Deus, então, nestes casos, precisamos dar as costas (odiar) para ele.

No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.

1 João 4:18

Agape - O amor Absoluto expulsa o medo de amar

Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração vai se partir. Basta pensarmos na possibilidade de amar para percebermos disparar um sinal de alerta: Cuidado! Isso pode fazê-lo(a) sofrer!Somos criaturas que põem a segurança em primeiro lugar. No entanto, nós seguimos alguém que amou sem reservas. Sem jamais avaliar os riscos. Nós seguimos alguém que chorou sobre o túmuo de seu amigo lázaro.

18

Participante Fone e-mail 1 2 3 4encontros

Momento de Decisão

Reflita por alguns momentos e em seguida faça essa oração: Senhor Deus, preciso de ajuda! Reconheço que eu e os meus amores naturais – minha ca-pacidade de amar: 1. as messoas mais próximas a mim; 2. as pessoas que são acrescentadas à minha vida pela amizade; 3. e também aquela pessoa que se tornou uma só carne comigo – estamos precisando de socorro, pois temos sido tão limitados, fracos e incapazes de amar de verdade. Por isso eu me arrependo e peço humildemente para que o amor Absoluto, que “Deus derramou em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Rm 5:5), ganhe cada espaço antes ocupado por ressentimen-tos, pelo egoísmo e pela indiferença. Que o amor Absoluto, que nasceu em ti e que agora se faz presente em mim, seja a força que me movimenta na direção das pessoas que precisam ser amadas por mim;E o mais importante, que esse amor Absoluto me revele a Tua inconfundivel face e que dê conteúdo à esperança que obtivemos através da fé em Cristo Jesus, através da manifestação da Tua Glória. Em Cristo, que tanto nos amou, amém.

19

1 2 3 4encontros

“Muitas vezes o que vem primeiro é simplesmente uma prazeroza preocupação com a Amada – uma preocupação geral e indefini-

da com ela em sua totalidade.Um homem nesse estado não tem, na verdade, tempo para pensar em sexo. Ele está ocupado demais

pensando numa pessoa. O fato de essa pessoa ser mulher é bem menos importante que o fato de ser ela mesma.”

C.S.Lewis - Os Quatro Amores - pg.130

“O Amor Absoluto (Doação) em ação no homem é inteiramen-te desinteressado e deseja simplesmente o que é melhor para o amado. Os amores naturais sempre se dirigem a objetos que o amante considera intrinsecamente amáveis de algum modo – a objetos aos quais a Afeição, Eros ou Philia o atraem. Mas, no

homem, o Amor Absoluto (Doação) lhe permite amar aquilo que não é naturalmente amável: os leprosos, os criminosos, os inimi-

gos, os idiotas, os ressentidos, os arrogantes e os cínicos.” C.S.Lewis - Os Quatro Amores - pg.177-178

A Afeição é frequentemente vista como algo pronto e acabado por natureza –”inerente”, “gratuita”, “cortesia da casa”. Temos o

direito de esperá-la. [...] Esse pressuposto é , sem dúvida, uma ver-dade distorcida. [...] O que temos não é o “direito de esperar”, mas a “expectativa razoável”de ser amados pelas pessoas mais próximas,

se nós e elas somos mais ou menos comuns. C.S.Lewis - Os Quatro Amores - pg.59

“Se, num grupo de três amigos (A, B e C), A morrer, B perderá não apenas A, como também “a parte de A em C”, enquanto C perderá

não apenas A como também “a parte de A em B”. Em cada um dos meus amigos, existe algo que apenas outro amigo é capaz de trazer

à tona plenamente. Eu, sozinho, não sou grande o bastante para pôr uma pessoa inteira em atividade; preciso de outras luzes além

da minha para revelar todas as suas facetas. Agora que Charles morreu, nunca mais verei a reação de Ronald a uma determinada

brincadeira de Charles. Em vez de ter mais de Ronald – de tê-lo só pra mim agora que Charles se foi –, eu passo a ter menos de Ronald.”

C.S.Lewis - Os Quatro Amores - pg.87

Stergo

Philia

Eros

Agape

Guia de Estudos para Pequenos GruposComunidade Batista Nova EsperançaProduzido para uso internoSetembro/Outubro 2012

©

De Casa em Casa é o Ministério de Pequenos Grupos da Comunidade Batista Nova Esperança. Acreditamos que os pequenos grupos são o meio mais eficaz para cumprir-mos nosso papel na Grande Comissão. Porque são os relacionamentos interpessoais a forma mais efetiva para levar as pessoas a Jesus. Cremos que a intimidade e o aconchego fazem de um lar o ambiente ideal para: • Pastoreio – Acolher e ensinar os membros da igreja• Evangelização – Receber amigos, vizinhos e parentes e convidá-los para um

primeiro contato com a igreja e com o ensino da Palavra • Comunhão – Promover a integração entre todos participantes com o grupo e

ajudá-los em sua inclusão no contexto da igreja.