Guerreiro partes, entremeios, embaixadas

6
PARTES, EMBAIXADAS E ENTREMEIOS Pesquisa realizada por Linete Maas e Dalva de Castro. Organizada por Dalva de Castro ENTREMEIOS Como nos Reisados, apresentam-se também, entre diversas peças os “entremeios”. Mais caracterísco e próprio do Guerreiro são: 1 - Sapo (em que o coro canta): Ô sinhô seu mestre Izídio Faça favor venha cá Venha trazer seu sapinho Pra neste salão brincar. 2 - O (a) Doido(a): ( Vesda toda mulambada, com uma vassoura e pedra). Mestre: Se eu não me engano toda peça é minha Se eu não me engano toda peça é minha Figuras: Lá vem a doida arando as pedrinhas Lá vem a doida arando as pedrinhas *Ela varre e arar pedra no povo. (Parte da Doida, por Dona Nadir, em 2010 - Pesquisa: Linete Maas). 3 - Joana Baia: Mestre: Você diz que eu tenho medo Você diz que eu tenho medo Moça veia vai chegar lá no tabuleiro. Moça veia vai chegar lá no tabuleiro. (Chamada da Joana Baia, por Dona Nadir, em 2010 - Pesquisa: Linete Maas). Mestre: Joana Baia, Joana é, no meio da sala faz o que quer. Joana é Joana Baia, no meio da sala levanta a saia. (Uma mulher de tudo exagerada: peito, bunda, um vesdo rodado. Pode ser também um homem vesdo de mulher. Ela diz que é solteira, mas carrega um bucho bem grande e tem um filho. Ela conversa com o mestre). Mestre: A senhora anda atrás de quê? Joana Baia: Ando atrás de um namoro, pra eu me casar, que eu tô é sozinha. Sou solteira, livre e desimpedida! Mestre: E esse bucho aí? Joana Baia: Esse bucho, é que eu peguei uma doença (inventa qualquer doença feia), e a barriga cresceu desse jeito. (chega o filho e puxa na saia) Filho: Mamãe! Mamãe! Joana Baia: (Emburrando o menino) Sai daqui menino, e eu lá te conheço. Mestre: De quem é esse menino? Joana Baia: (Emburrando o menino) E eu lá sei. Sai daqui menino, vai procurar tua mãe! (Chega o Mateu e o Palhaço). Mateu: Eita, mestre, essa mulher é minha! Palhaço: Não senhor, ela é minha. Mateu: Num tá vendo que o menino é a minha cara? Palhaço: E o Bucho dela, é parecido com a minha. Mestre: E aí Dona Joana, você de que marido é? Joana Baia: Esse Palhaço e esse Mateu, que mulê é que quer. Eu já ve todos dois, agora os dois me quer. Tô achando melhor dá no pé. (Pega o filho e sai) *Benon lembra que um dia foi botar esse entremeio, quando eu disse assim: Joana é, Joana Baia, no meio da sala levanta a saia. Aí ela levantou a saia e caiu um monte de fato no chão, que tava na barriga dela. O povo já riu. (Joana Baia, ensinado pelo Mestre Benon, em 2010 - Pesquisa: Linete Maas). 4 - O Cão, a Alma e Nossa Senhora (O cão quer tomar conta dos bandidos. E quando o cão bota os braços por cima da alma - que é um bandido - nossa senhora vai e puxa ele). Nossa Senhora: Aqui não, esse é meu. (do mesmo jeito que acontece na vida real, na espiritual é a mesma coisa. Porque quando ele merece o cão leva e quando ele fez alguma coisa boa Nossa Senhora salva. O cão já leva a lama com a asa por cima dela, ele já vai condenado. Nossa senhora procura descobrir uma coisa boa que ele fez na terra, para poder salvá-lo. Nossa Senhora consegue, o cão fica com raiva, pegar pólvora e toca fogo e sai esfumaçando). Cão: Esse homem fez muita ruindade, num tem como salvar esse não. Nossa senhora: Não espere, ele fez ruindade, mais deve ter feito bondade também. Cão: Que nada. (conta uma história de muita malvadeza que a alma fez). Nossa Senhora: Meu filho, agora é por sua conta, você não fez nada de bom na sua vida. Lembre, tente se lembrar. Cão: Desista, esse já é meu de certeza! Nossa Senhora: Meu filho se você fez três bondades e quatro maldades, você vai pro caminho errado. Mas se você fez quatro bondades e três maldades, você vai pro caminho certo. Cão: Num tem bondade nenhuma não, vamos logo que eu quero lhe mostrar a minha casa. (quando o cão se prepara para levá-lo) Alma: A única bondade que eu fiz, foi quando eu ia passando vi uma cabra enganchada na cerca, meio dia em ponto, eu peguei o chapéu e fui ver água, caminhei muito pra achar. Trouxe a água e dei a cabra pra beber. Foi à única bondade que eu fiz. Nossa Senhora: Pois o senhor tá salvo! (pega a alma e vai embora. O cão fica bufando, ascende a pólvora e sai pegando fogo). (Contado por Mestre Benon, em 2010. Escrita: Linete Maas). 5 - Lobisomem (Corre atrás do povo) Mestre: Ô que bicho feio Vige mãe de Deus Figuras: É o Lobisomem Vem comer o Mateu.

Transcript of Guerreiro partes, entremeios, embaixadas

Page 1: Guerreiro   partes, entremeios, embaixadas

PARTES, EMBAIXADAS E ENTREMEIOSPesquisa realizada por Linete Matias e Dalva de Castro.Organizada por Dalva de Castro

ENTREMEIOSComo nos Reisados, apresentam-se também, entrediversas peças os “entremeios”. Mais característico epróprio do Guerreiro são:

1 - Sapo (em que o coro canta):Ô sinhô seu mestre IzídioFaça favor venha cáVenha trazer seu sapinhoPra neste salão brincar.

2 - O (a) Doido(a):( Vestida toda mulambada, com uma vassoura e pedra).Mestre: Se eu não me engano toda peça é minhaSe eu não me engano toda peça é minhaFiguras:Lá vem a doida atirando as pedrinhasLá vem a doida atirando as pedrinhas

*Ela varre e atirar pedra no povo.(Parte da Doida, por Dona Nadir, em 2010 - Pesquisa:Linete Matias).

3 - Joana Baia:Mestre: Você diz que eu tenho medoVocê diz que eu tenho medoMoça veia vai chegar lá no tabuleiro.Moça veia vai chegar lá no tabuleiro.(Chamada da Joana Baia, por Dona Nadir, em 2010 -Pesquisa: Linete Matias).

Mestre: Joana Baia, Joana é, no meio da sala faz o que quer.Joana é Joana Baia, no meio da sala levanta a saia.

(Uma mulher de tudo exagerada: peito, bunda, um vestidorodado. Pode ser também um homem vestido de mulher.Ela diz que é solteira, mas carrega um bucho bem grande etem um filho. Ela conversa com o mestre).

Mestre: A senhora anda atrás de quê?Joana Baia: Ando atrás de um namoro, pra eu me casar,que eu tô é sozinha. Sou solteira, livre e desimpedida!Mestre: E esse bucho aí?Joana Baia: Esse bucho, é que eu peguei uma doença(inventa qualquer doença feia), e a barriga cresceu dessejeito.(chega o filho e puxa na saia)Filho: Mamãe! Mamãe!Joana Baia: (Emburrando o menino) Sai daqui menino, e eulá te conheço.Mestre: De quem é esse menino?Joana Baia: (Emburrando o menino) E eu lá sei. Sai daquimenino, vai procurar tua mãe!(Chega o Mateu e o Palhaço).Mateu: Eita, mestre, essa mulher é minha!Palhaço: Não senhor, ela é minha.

Mateu: Num tá vendo que o menino é a minha cara?Palhaço: E o Bucho dela, é parecido com a minha.Mestre: E aí Dona Joana, você de que marido é?Joana Baia: Esse Palhaço e esse Mateu, que mulê é que quer.Eu já tive todos dois, agora os dois me quer. Tô achandomelhor dá no pé.(Pega o filho e sai)

*Benon lembra que um dia foi botar esse entremeio, quandoeu disse assim: Joana é, Joana Baia, no meio da sala levantaa saia. Aí ela levantou a saia e caiu um monte de fato nochão, que tava na barriga dela. O povo já riu.(Joana Baia, ensinado pelo Mestre Benon, em 2010 -Pesquisa: Linete Matias).

4 - O Cão, a Alma e Nossa Senhora(O cão quer tomar conta dos bandidos. E quando o cão botaos braços por cima da alma - que é um bandido - nossasenhora vai e puxa ele).Nossa Senhora: Aqui não, esse é meu.(do mesmo jeito que acontece na vida real, na espiritual é amesma coisa. Porque quando ele merece o cão leva equando ele fez alguma coisa boa Nossa Senhora salva. O cãojá leva a lama com a asa por cima dela, ele já vai condenado.Nossa senhora procura descobrir uma coisa boa que ele fezna terra, para poder salvá-lo. Nossa Senhora consegue, o cãofica com raiva, pegar pólvora e toca fogo e sai esfumaçando).Cão: Esse homem fez muita ruindade, num tem como salvaresse não.Nossa senhora: Não espere, ele fez ruindade, mais deve terfeito bondade também.Cão: Que nada. (conta uma história de muita malvadeza quea alma fez).Nossa Senhora: Meu filho, agora é por sua conta, você nãofez nada de bom na sua vida. Lembre, tente se lembrar.Cão: Desista, esse já é meu de certeza!Nossa Senhora: Meu filho se você fez três bondades e quatromaldades, você vai pro caminho errado. Mas se você fezquatro bondades e três maldades, você vai pro caminhocerto.Cão: Num tem bondade nenhuma não, vamos logo que euquero lhe mostrar a minha casa.(quando o cão se prepara para levá-lo)Alma: A única bondade que eu fiz, foi quando eu ia passandovi uma cabra enganchada na cerca, meio dia em ponto, eupeguei o chapéu e fui ver água, caminhei muito pra achar.Trouxe a água e dei a cabra pra beber. Foi à única bondadeque eu fiz. Nossa Senhora: Pois o senhor tá salvo! (pega a alma e vaiembora. O cão fica bufando, ascende a pólvora e sai pegandofogo).(Contado por Mestre Benon, em 2010. Escrita: LineteMatias).

5 - Lobisomem(Corre atrás do povo)Mestre:Ô que bicho feioVige mãe de DeusFiguras:É o LobisomemVem comer o Mateu.

Page 2: Guerreiro   partes, entremeios, embaixadas

(Chamada do Lobisomem, por Dona Nadir, em 2010 -Pesquisa: Linete Matias).

6 - Cangaceiro e a Policia(O cangaceiro vem quebrando tudo. O mestre chama apolicia, quando ela chega o Cangaceiro se esconde).Policial: Cadê esse caba? Aparece que eu quero te ver.(Procura e não acha, quando a Policia vai embora)Cangaceiro: Que Mané de podriça!(começa o labafero, briga pra lá, pra cá. A Policia o levapreso).(Cangaceiro e policia, ensinado pelo Mestre Benon, em2010 - Pesquisa: Linete Matias).

7 - MATA-MOSQUITO, entremeio moderno, que consta deum indivíduo fantasiado com farda dos antigos guarda -sanitários, com uma ventarola na mão a cantar, com ocoro: - Seu Papa-mosquito, donde vem?- Tou matando mosquito pra seu bem.- Seu Papa-mosquito pra onde vai?- Tou pegando mosquito pra seu pai.

8 - ZabelêZabelê pra onde vaiZabelê pra onde vaiCom a sua barra azulCom a sua barra azul

Passeando na cidadeÔ moreninha eu sou sulPasseando na cidadeÔ moreninha eu sou sul

Zabelê passou bonitoAnda no interiorEle vai cumprimentar Tambozeiro e tocador

Zabelê passou bonitoEle vem forte e ligeiroEle vai cumprimentarPara o mestre do Guerreiro

Zabelê passou bonitoPara mim vale um tesouroEle vai cumprimentarEstrela do Norte e a de Ouro

Zabelê passou bonitoPor aqui nunca andouEle vai cumprimentarPara os dois embaixador

Zabelê Passou bonitoEle vem lá da SerrinhaEle vai cumprimentarPra sereia e pra rainha

Zabelê passou bonito Nunca andou por aquiEle vai cumprimentarOs vassalo e o índio Perí(Mestre Djalma de Oliveira e Mestra Celsa Maria)

Zabelê passou bonitoE já vai se arretiráAdeus a meu povo todoE todo meu figurá(Linete Matias)

PARTESMas o característico do Guerreiro são as “partes”, episódiosque não se encontram no reisado, oriundas e imitadas doCaboclinho e dos Pastoris. Algumas são curtas e maissimples, como as da Estrela do Norte, estrela de Ouro, daBorboleta, da Sereia, da Banda da Lua, em que as citadas“figuras” vêm ao meio ou a centro, entre os cordões, edançam e cantam sua “parte”:

8 - ESTRELA DE OURO

Mestre Canta: Minha estrelinha de ouro (2x)Da coroa de mental (2x)Olhe eu vou festejar (2x)Meu bom Jesus do Pilar (2x)

Minha estrelinha de ouro (2x)Da coroa de brilhante (2x) Olhe eu vou festejar (2x)Meu bom Jesus navegante (2x)

Minha estrelinha de ouro (2x)Da coroa de marfim (2x) Olhe eu vou festejar (2x)Nosso Senhor do Bonfim (2x)

Minha estrelinha de ouro (2x)Quem lhe fez essa trama fui eu (2x)Olhe eu vou festejar (2x)O nosso menino Deus (2x)

(Música Estrelinha de Ouro, cantada Por Mestre Verdilinho eMestre Venâncio – Transcrição: Linete Matias).

Estrela de Ouro: Boa noite minha Rainha que domina o seutesouro! Rainha: Pela fala me parece que sois a Estrela de Ouro!Estrela de Ouro: Eu sou a Estrela de ouro que venho doarraiá, só venho de ano e ano quando manda me chamar,quero que me dê licença a minha parte eu vim cantar.Rainha: Tua parte pode cantar/falando comigo primeiro,porque eu trago a ordem do rei desse Guerreiro.E.O.Eu sou a Estrela de OuroBoa noite eu venho dáQuero saber se aqui festejaViva a noite de Natá.Coro: Essa é a Estrela de OuroBoa noite ela vem dáQuero saber se aqui festejaHoje é noite de Natá.

Page 3: Guerreiro   partes, entremeios, embaixadas

E.O.Eu sou a Estrela de OuroCom prazer e alegriaQuero saber se aqui festejaJesus filho de MariaCoro: Essa é a Estrela de Ouro...E.O.Eu sou a Estrela de OuroCom prazer no coraçãoQuero saber se aqui festejaA Virgem da ConceiçãoCoro: Essa é a Estrela de Ouro...E.O.Essa noite eu sai foraNão fui à parte nenhumaAs estrelinhas do céuServia de testemunhaCoro: Essa é a Estrela de Ouro...E.O.Essa noite eu sai foraLá no céu vi um sinalE era a Estrela de OuroQue já vai se arretirar.Coro: Essa é a Estrela de Ouro...E.O.Meus senhores e senhorasTodos querem desculparQue já tá chegada a horaEu já vou me arretirar.Coro: Essa é a Estrela de Ouro... (Parte da Estrela de Ouro, cantada pela Mestra Vitória –Transcrição: Linete Matias).

9 - SEREIAMestre Canta: A sereia cantou no mar, foi na broa da barca bela (2x)Eu só peço para o meu amor, um galho de rosa amarela.(2x)A sereia cantou no mar, foi na broa da barca dourada (2x)Eu só peço para o meu amor, é um galho de rosaencarnada. (2x)

(Música Sereia, cantada Por Mestre Verdilinho–Transcrição: Linete Matias).

Sereia: Boa noite minha Rainha que domina a sua aldeia!Rainha: Pela fala me parece que sois a Linda Sereia.Sereia: Sou eu a linda Sereia que venho de alto mar, sóvenho de ano em ano quando mandam me chamar, queroque me dê licença a minha parte eu vim cantar.Rainha: Serei pode cantar, a minha licença já tem, aquinessa aldeia manda eu e mais ninguém.

Boa noite a todos queira apreciarEu sou a sereia das ondas do mar

Coro: Boa noite a todos queira apreciarEssa é a sereia das ondas do mar

Meu cabelo é grande, tem muito valorTire um cacho dele para o tocadorCoro: Boa noite a todos, queira apreciar...S. Meu cabelo é grande, que me interesseTire um cacho dele, pra meu contra-mestre.Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...S.Meu cabelo é grande, tem muito dinheiroTire um cacho dele, pra meu tamborzeiro.Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...

S. Meu cabelo é grande, patê até embaixoTire um cacho dele, pra meu bom palhaço.Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...S.Meu cabelo é grande, tem muito valorTire um cacho dele, pra o embaixador.Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...S.Meus senhores todos, queriam desculparÉ chegada a hora deu se arretirar.Coro: Boa noite a todos, queira apreciar...

10 - BANDA DA LUAMestre:Vinte e quatro de dezembroMeu Guerreiro sai a ruaDou viva a todas estrelaE a nossa Banda da lua.

Banda da Lua:Se eu fosse a Banda da LuaEu virava do sul para o norteSe eu fosse a verde esperança meu DeusPassava por cima da sorteSe eu fosse a verde esperança meu DeusPassava por cima da sorte

11 - BORBOLETABorboleta miudinha Que veio de lá da CapelaBorboleta miudinha Que veio de lá da Capela

Brinco no meio da salaCom minhas asa amarelaBrinco no meio da salaCom minhas asa amarela

Borboleta miudinha Que veio de AracajuBorboleta miudinha Que veio de Aracaju

Dança no meio dessa salaComo minhas asinha azulDança no meio dessa salaComo minhas asinha azul

Eu sou uma borboletaQue veio lá AtaláiaEu sou uma borboletaQue veio lá Ataláia

Eu sou uma borboleta Que já morei na lajinhaEu sou uma borboleta Que já morei na lajinha

Brinco no meio da salaToda peneiradazinhaBrinco no meio da salaToda peneiradazinha

Page 4: Guerreiro   partes, entremeios, embaixadas

(Mestra Celsa Maria)

Eu sou uma BarbuletaQue venho de MaceióDançando no mei’da salaFazendo meu caracó.(Livro de Théo Brandão)

Eu sou uma borboletaQue venho lá do sulEu venho toda animadaCom minha asinha azul(Dona Nadir)

Se arretira borboletaQue tá na hora de seguirEntre a flor e açucenaBorboleta vai dormir(Mestra Celsa Maria)

Outras são mais desenvolvidas e complexas, abrangendoelas próprias uma seqüência de cantigas, danças ediálogos em versos, como acontece com as “partes” doIndio Peri e da Lira.

12 - A “parte” do Índio Peri(que substitui a guerra dos reisados, basea-se no temauniversal das danças dramáticas do Brasil e do estrangeiro(Congos, Cacumbis, Mouriscadas, Chegança, etc.): prisão e,às vezes, morte de um guerreiro inimigo que tenta entrarno país. Um Guerreiro de nação estranha (no, caso o índio)ousa penetrar no arraial dos Guerreiros. Há uma série deembaixadas entre os vassalos do Índio e ele próprio, de umlado, e os principais do Guerreiro, de outro, à semelhançae às vezes com as mesmas palavras que ocorrem nascheganças entre os Mouros e Cristãos).

AVISOS:

Música: 1º aviso: Eu fui chamado para guerrear/Mandaram me chamar; eunão queria ir/ vai ser uma grande surpresa,embaixador/Governador, e o Índio Peri.

Música: 2º aviso: Aviso o meu índio Peri paraSe prevenir, que nos vamos entrar em guerra.Coro:Tava na serra, prisioneiroÔ meu guerreiro, sentemos joelho em terra.

Música: 3º aviso: Aviso o meu general/ Diretor é quem anima a gente/ estoupronto para combater/ meu índio Peri, guerreiro valente.

Embaixadas: Rainha e Índio (recitativo)

INDIO: Boa Noite minha rainha/me digas do que se trata.RAINHA: Boa Noite Índio Peri, pessoa de nossa pátria/Nascesse onde eu nasci/ E procedes da mesma arte/ Peçoque se arretire/ antes que esse rei te mate.

INDIO: Eu de morrer não tenho medo/Assim chegue aocasião/Eu nunca fui desfeitado/Tenho essa opinião/ Masdesejo conhecer/ o Rei de tua nação. RAINHA: Continua a diversão/ Para todo mundo ver/Tocandotambor e ocresta/ O Rei é dono da festa/ Demora aí quesenhor vê.INDIO: Boa noite majestade/ Quero tua preferência/ Queroque me de licença/ De entrar no seu reinado.RAINHA: Já tens a minha licença/ E vai dizendo o que quer/se vens com medo descanse/ dessa batalha cruel.INDIO: Medo eu nunca tive/ Nesse país brasileiro/ Minhanação é de Índio/ Nasci no morro fagueiro/ vim pedir parame aliar/ nessa nação de guerreiro.RAINHA: ô índio eu estou conhecendo a sua disposição/ tusois um caboclo índio fugindo de outra nação/procuredevagarinho/pra ver se encontra um padrinho pra suareligião/ e procure se batizar/porque no meu arraiá nãoaceito índio pagão.INDIO: Eu não quero me batizar/ Porque eu sempre fui feliz/Ninguém pode me obrigar/ a Fazer o que eu nunca fiz.RAINHA: ô índio você não pode/por ter pequenaformosura/um golpe de minha espada/prossegue umasepultura/não é preciso nem batalhar/só é bastante eumandar um das minhas figuras.INDIO: (exautado) Venha mestre e contra-mestre/ Rainha eembaixador/ Venha o rei por derradeiro/ de nós dois quemfor mais ligeiro que se disponha o valor.Música: Olha o arco, olha flecha/ que o índio Peri carrega/ aonde oguerreiro manda/ a flecha vai mais não erra.

General, Índio e Rainha (recitativo)

RAINHA: Boa noite capitão diretor/ que domina esseguerreiro/ prenda o índio Peri/ e me traga prisioneiro.

Música: Olha o arco, olha flecha/ que o índio Peri carrega/ aonde oguerreiro manda/ a flecha vai mais não erra.

GENERAL: Teje preso Índio Peri/ não queira se arrevorta/ sigana frente/daqui para o arraia/Índio Peri tá preso/ só se soltaquando guerrear.ÍNDIO: Eu já venho conspirando/ não posso mais demorar/Aqui existe um caboclo/ chaleirando o generá/ Sou índioArapuã da tribo do ceará/ Eu sou índio e sou guerreiro/ ecaboclo afrontado me chamam? Não movo esses exércitosterrive/ sou eu o índio Peri que clama:/ ô índio, que tribo éessa que estou cansado de procurar?/ Foi a Rainha Iracema/fugi da tribo de lá/ hoje aqui é dona lira/E é noiva doGenerá/ ô, ô ! Reis que não me amas, se não morrer vouguerrear!

Música: Olha o arco, olha flecha/ que o índio Peri carrega/ aonde oguerreiro manda/ a flecha vai mais não erra. Peças de combate:

1ª Peça:

Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o maisestimado/nessa nação de guerreiro.

Page 5: Guerreiro   partes, entremeios, embaixadas

2ª Peça:

Rei das flechas quer ser festejado/rei das flechas quer serfestejado/ meu índio Peri vá pro teu estado/ meu índio Perivá pro teu estado.3ª Peça: Mandei buscar para meu batalhão/ dois avião quevoa no ar/pra viajar só depende da sorte/ vou à fronteirado norte brigar.4ª Peça: Nosso Brasil está em guerra/o brasileiro seassanha/coragem meu brasileiro/vou combater aAlemanha.5ª peça: Ô briga Brasil com a Espanha/ vamos combaterAlemanha/ Ô briga Brasil com estrangeiro/ vamoscombater meu guerreiro.Prisão e libertação: Esse meu índio Peri/ ele é forte eligeiro/ ele é o mais estimado/nessa nação de guerreiro.ÍNDIO: Ô Rainha de caboclo/faça favor venha cá/vá pedirao secretário/para mandar me soltar.Coro: Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o maisestimado/nessa nação de guerreiro.RAINHA: Boa noite Índio Peri/pra que mandou mechamar/ eu achei o senhor preso/ eu vou mandar lhesoltar.Coro: Esse meu índio Peri/ ele é forte e ligeiro/ ele é o maisestimado/nessa nação de guerreiro.RAINHA (fala): Índio Peri teje solto/não tenho mais o quefazer/sou a Rainha da Nação/ e não corro sem ver de que/nesta nação de guerreiro/ todos tem que me obedecer!ÍNDIO (levanta-se e fala): Obrigado minha Rainha/que veiome tirar daqui/mande tocar um baiano/que eu quero medivertir!(Índio e Rainha dançam o Baiano comemorando a paz)Final da parte: Ô viva a Lira, viva a Estrela de Ouro/Vale umtesouro a Rainha Imperial/Olê, Olá viva meu índio Peri/queé dono desse arraial. (Referencia: A Parte – Guerreiros e Torés - Sonora Brasil –Origens - Circuito Nacional de Música).

13 - A “parte” da Lira (não tem similar nos Reisados antigos de Alagoas, senãotalvez nos Cucumbis e autos dos Congos de outros Estados,nos episódios da morte do Mamêto ou do guia. Uma“figura” , a Lira (corrutela de Lília, decantada personagemde antiga canção portuguesa e nome fartamente invocadapelos poetas brasileiros e lusos de setecentos), trazida peloRei dos Guerreiros à sua aldeia, é ameaçada de morte pelocaboclinho, a mando da rainha, enciumada do Rei, como sededuz das mesmas cantigas que iniciam a ‘parte” – o“aviso”):

Mestre: Chamada da Lira:A minha Lira na Beira do mar choravaA minha Lira na Beira do mar choravaFiguras:Mais era triste a sua reclamaçãoMais era triste a sua reclamaçãoFazia pena quando a Lira soluçavaFazia pena quando a Lira soluçava

*Dona Nadir: A Lira vivia nas matas, nasceu e se criou-senas matas: Nasci e me criei nas matas, foi esse rei que metrouxe, me iludiu e ele é falso.

(Chamada da Lira, cantada Por Dona Nadir, em 2010–Pesquisa: Linete Matias).

Aviso: Aqui chegou um caboquinho de frechaChegou na palestra tirando uma mira,Ele veio com a farsidadeOrde da rainha matá nossa Lira.

Canção do Caboclinho: Vamos matar a nossa liraAntes que ela chegue ao porto;Não quero duas rainhaNessa aldeia de caboco.

O caboclinho, contudo, apesar de sua ameaça, propõe-selivrá-la da morte, desde que a Lira o aceite em casamento:

Não te mato, minha Lira,Se tu casares comigo,Eu, no meio desta aldeiaTe livrarei do perigo.

Mas a Lira repele:

Eu não sou tua muléNem serás meu marido,Que no meio desta aldeiaTu serás meu inimigo.

E o caboclinho consuma sua ameaça:

Pronto, Dona Lira,Aviso venho lhe dá,Se não casares comigoA vida vou lhe tirar.

Ante a disposição persistente da “figura”:

Tu matas, infeliz,Aproveita a ocasião,Trespasses o meu peitoFeres o meu coração,Morrendo tô consolada,Contigo, não caso, não!

Morta, mas de pé, olhos cerrados, encostada no centro dasala ou tablado, a uma das outras ‘figuras” que a sustêm, ocoro canta a canção da morte da Lira:

Ô morte que matais a Lira,Ô matais a mim que sou teu,Matais-me da mesma morteOi, que minha Lira morreu!

Caboquinho de arco e frecha,Oi na minha porta bateu!Já foi quem me trouxe a notícia, oi que minha Lira morreu!

Mas, como nos outros autos populares em que há sempre amorte e ressurreição de um dos personagens, a Lira, porartes mágicas do Mateu que funciona como feiticeiro, revive,

Page 6: Guerreiro   partes, entremeios, embaixadas

após usar uma meizinha popular. E sai, rediviva, a dançarentre os guerreiros ao coro da canção:

Meus Santos ReisAqui chegamos nósChegou nossa LiraCom seus caracóis.

Embora raramente, em casas de fazenda do interior cantaàs vezes o guerreiro as retiradas de mesa, isto é, ascantigas após a ceia clássica dos Reisados:

Deus te sarve, mesa sagrada,Onde o Padre Santo fez a oração,Deus te sarve, mesa de amo,Onde nosso sinhô fez a refeição.

E, após, chega o fim do folguedo. A “troupe” prepara-separa a retirada e canta as despedidas:

Na retirada da brincadeira,Garota madeira no jardim não se namora,Chegou a hora, deu lhe escrevê,Me lembrando de você, garota, meus olhos chora.

Ou esta belíssima canção:Ô que saudade quando o Guerreiro partiuQuando seguiu dessa zona ispiciá,Eu vou deixá tanta morena bonitaQue meu coração parpita, mas eu não posso levá.

A Dança no Guerreiro AlagoanoComo o Reisado, o Guerreiro, consta de uma sequência ou“suíte” de cantigas dançadas por um conjunto de bailarinosvestidos de trajes multicores, imitando os antigos trajesnobres da colônia, adaptados ao gosto e a possibilidadeeconômica do povo, pelo uso de fitas, espelhos, contas dealjôfar, enfeites de arvores de natal nos chapéus,diademas, coroas, guarda-peitos, calções, mantos, etc.Fonte: (Theo Brandão; Folguedos Natalinos, 2003)