Guia de Estudos e Atividades Para Filosofia Antiga

download Guia de Estudos e Atividades Para Filosofia Antiga

of 12

description

Guia de estudos

Transcript of Guia de Estudos e Atividades Para Filosofia Antiga

MINISTRIO DA EDUCAO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU

CENTRO DE ENSINO A DISTNCIA

COORDENAO DE FILOSOFIA.

Guia de Estudos e Atividades para Histria da Filosofia Antiga com Chave de RespostasUnidade 1 Mito e RazoAtividade 1 GL

Os textos para esta atividade, ambos no mesmo arquivo Texto 1 A passagem do mito filosofia, que so duas reflexes bem enxutas acerca da passagem do pensamento mtico para o filosfico, constituem uma primeira aproximao da complicada origem da Filosofia entre os Gregos. Mais do que tomar um partido na extensa discusso que pode ser encontrada entre os intrpretes das mais diversas concepes, desde aqueles que defendem uma ruptura entre os mbitos de leitura do mito e do lgos, at aqueles para os quais no faria sentido em separar, de um modo to rgido, as fronteiras que demarcam ambas as propostas, o objetivo desses dois pequenos textos o de tentar mostrar como se pode compreender a leitura mtica e a filosfica como modelos complementares de leitura do real, cada qual com sua(s) proposta(s) de resposta. Assim, a fim de que possamos iniciar nossa extensa carga de leitura, vamos comear de um modo um pouco mais leve e aqui deixo tambm aberta a possibilidade de se trabalhar um texto mais denso e extenso, a Introduo ao volume dos Pr-socrticos da coleo Os Pensadores que pode ser apontada como leitura complementar para aqueles alunos que se interessarem e quiserem aprofundar mais esta discusso inicial.

A tarefa a de responder a seguinte questo: existe realmente uma passagem do mito ao lgos, isto , uma espcie de ruptura radical entre a concepo pr-filosfica e a filosfica? Justifique sua resposta apontando elementos dos dois textos que permitem aceitar, ou recusar, tal concepo.CR: os alunos devem preparar um texto no qual estejam presentes as principais ideias acerca dessa decantada passagem. Como se trata de uma concepo que encontra defensores de ambos os lados, seja aqueles que admitem essa passagem bem demarcada, seja os que compreendem que se trata de leituras complementares e no excludentes, deixo ao tutor a avaliao dos argumentos aduzidos. De minha parte, como sou adepto da no ruptura, acredito que um bom caminho seria destacar os elementos constitutivos da proposta mtica, de carter cosmognico (uma tentativa de explicar a origem do universo, do mundo e dos homens a partir da unio entre princpios divinos masculinos e femininos, que constituem os pais de tudo, por assim dizer), e os da proposta filosfica em suas origens, de carter cosmolgico (uma releitura da busca pelas origens de tudo a partir de uma concepo marcada pela acepo mais racionalista, que descarta o divino pessoalizado e assume um divino impessoal, associado ao lgos ou razo).Atividade 2 GLNeste momento vamos nos voltar para os aspectos histricos do surgimento da Filosofia na Grcia Antiga. Para tanto vamos utilizar um texto-resumo bem cuidadoso, e que destaca os aspectos fundamentais para que os alunos compreendam as teses acerca das origens da reflexo filosfica entre os gregos. O objetivo mostrar que o milagre grego tem pontos de partida que lhe permitiram vir luz naquele momento. Mais do que uma espcie de intuio sobrenatural, tratou-se de uma confluncia de fatores que possibilitaram essa nova forma de ler e interpretar o mundo.

O texto a ser lido agora o de n 2 A histria da filosofia antiga e a formao do pensamento ocidental. A partir dele os alunos devem discutir:I. O que significava, para Pitgoras, filosofia?II. Por que a filosofia nascente tambm pode ser entendida como uma cosmologia?

III. Quais os principais fatores, apontados por Marilena Chaui, para explicar o surgimento da filosofia entre os gregos?

IV. Quais as caractersticas que marcam o primeiro perodo da filosofia, o pr-socrtico?

V. Por que, com Scrates, a filosofia passa a assumir uma concepo antropolgica?C.R.: ainda estamos na fase inicial, ento s quero mesmo que eles leiam com ateno esse texto e respondam as cinco questes acima que esto na sequncia. um cortar-colar, mas preciso que eles tenham bem claro isso tudo, para que as atividades posteriores possam se desenvolver de um modo mais reflexivo.I. Para Pitgoras, filosofia o amor ao saber, o prazer que se tem ao utilizar a racionalidade, marca do esprito humano, em busca de respostas precisas e seguras acerca dos problemas para os quais se volta.

II. Porque a filosofia nasce como uma tentativa de oferecer um conhecimento racional (lgos) acerca da ordem do mundo ou da natureza (cosmos).

III. As viagens martimas; a inveno do calendrio; a inveno da moeda; o surgimento da vida urbana; a inveno da escrita alfabtica e a inveno da poltica.

IV. A resposta est nas pginas 8-9. No vou transcrever toda ela aqui para poupar espao...

V. Aqui temos a famosa divisa dlfica e todos os desdobramentos que Scrates extrai dela. Fundamentalmente, a proposta dele marcada no voltar-se do homem para si mesmo, uma vez que de nada serve conhecer o cosmos se no se sabe quem ou que se faz nele. Da a necessidade, para o socratismo, de se compreender o prprio homem (nthropos) de um modo racional (lgos).C.R.: Deixo ao tutor a avaliao das respostas. Mas todas tm de conter estes pontos minimamente explicitados. Unidade 2 Dos Pr-socrticos a ScratesI. O aluno deve ler o captulo A infncia da filosofia de Anthony Kenny, In: Histria concisa da filosofia ocidental, pp. 19-42. Nossas prximas atividades esto baseadas nele, embora os alunos tambm possam encontrar as respostas em outros textos, como na Introduo ao volume Pr-socrticos da Coleo Os Pensadores. Temos de mostrar a eles uma grande quantidade de autores em um curtssimo espao de tempo, ento vou selecionar apenas aqueles pontos que so fundamentais para qualquer futuro professor de filosofia. No consegui extrair do arquivo apenas o captulo que me interessa porque o livro est completo. Se algum souber como fazer isto, agradeceria infinitamente, porque sei que vai pesar na plataforma... Procurei exaustivamente algum texto mais enxuto que desse conta desses contedos, mas tudo o que encontrei muito raso, superficial e mal escrito! Ento, vamos nos esforar para dar conta dos problemas apontados por ele a partir de um texto bem redigido, claro e que aponta para aquilo de que necessitamos neste momento. Sei que os alunos vo reclamar, porque o material extenso, mas fundamental para a formao deles um mnimo de leitura decente!Para tentar amenizar um pouco a tarefa de vocs, tutores, proponho que eles apresentem um quadro-resumo como o que proponho abaixo. Isto forar que as informaes sejam buscadas com um pouco mais de cuidado, acredito: C.R.: preparei um bem simplificado, no qual constam apenas as ideias fundamentais. Naturalmente que isto simplifica muito, e pode causar confuso aos alunos. Por isto, estes quadros deveriam ser levados para os GDs, a fim de que o tutor possa discutir as diversas teorias, aprofundar um pouco mais cada uma dessas caractersticas, explicar o que est por trs dessas concepes. O mais complicado, acredito, a proposta parmenidiana, por isso vou propor uma segunda atividade, somente baseada no texto dele, porque est na base de todo o pensamento ocidental.FilsofoIdeias centrais

Tales de Mileto Foi o primeiro filsofo a levantar questes sobre a estrutura e a natureza do cosmos como um todo. A gua o princpio originrio arkh Geometria e religio ainda esto intimamente ligadas, embora sua geometria tivesse aplicaes prticas; Por suas teorias, foi chamado de fsico (da palavra physis, natureza, em grego) pelos autores posteriores.

Anaximandro Cosmogonia fsica aliada a uma tica csmica Homens e deuses devem manter-se dentro de um limite, eternamente fixado pela natureza

O princpio originrio no podia ser, para ele, nem a gua, nem qualquer outro elemento, mas tinha de ser algo ilimitado ou infinito, a que ele denominou peiron

Anaxmenes A arkh, para ele, o elemento ar. Todas as coisas so feitas a partir da condensao e da rarefao do ar.

Defendia a teoria da superfcie plana da Terra, da Lua e do Sol

Xenfanes Primeiro filsofo da religio Sua arkh a terra

Ningum pode conhecer perfeitamente os deuses. Por isso, cada sociedade cria os seus deuses de acordo com sua imagem. Para ele, esta atitude caracteriza um antropomorfismo infantil Contudo, com o progresso do conhecimento, acreditava ele, os homens poderiam aprender mais acerca do que lhes tinha sido revelado.

Deus no limitado nem finito.

O divino uma coisa viva que v como um todo, pensa como um todo e ouve como um todo.

Defendia uma concepo monotesta numa sociedade politesta como a grega.

Mas sua proposta baseia-se numa demonstrao racional do infinito poder de Deus. Diferentemente de Isaas, que defendia uma religio revelado, e, Xenfanes temos uma teologia natural.

Herclito Defendia a existncia de uma grande Palavra, ou Lgos, sempre subsistente e de acordo com a qual tudo se origina Em sua cosmologia, o fogo desempenha o papel de arkh H um nico mundo, que sempre existiu e sempre existir, e que passa por fases, de acordo com os desgnios do destino, de inflamao, ou fase da guerra, e de combusto, a paz. considerado o filsofo do devir porque, para ele, tudo no universo est em constante mudana e fluxo.

Parmnides Dedicou-se a um novo estudo, que o distanciava da cosmologia e da teologia; a ontologia, ou estudo sobre o Ser. Primeiro pensador de quem temos um texto mais completo, embora ainda fragmentrio. Para ele, o Ser a base de tudo aquilo que podemos conhecer; est associado Verdade.

Empdocles Dedicava-se medicina e poltica com afinco e determinao Sua filosofia da natureza pode ser vista como uma espcie de sntese de tudo aquilo que havia sido proposto pelos filsofos jnicos, especialmente Tales, Anaximandro e Anaxmenes. Para ele, os quatro elementos tm papel igualmente importante na formao do universo O entrelaamento entre os elementos possibilitado por duas foras: o Amor, que faz com que os elementos se juntem, e a Discrdia, que faz com que se separem.

Demcrito Sua proposta era baseada no atomismo, isto , para ele, a matria no era indivisvel ao infinito, mas composta por unidades indivisveis s quais denominava tomos, partculas com tamanho e forma, sempre existentes e que, ao colidirem, do origem a tudo o que existe.

II. Parmnides talvez seja o pr-socrtico que mais influncia exerceu no pensamento filosfico ocidental. Seu poema filosfico Da Natureza, Texto 4, embora incompleto, oferece desafios aos leitores mais bem preparados. No temos tempo, infelizmente, para explorar de modo aprofundado tudo o que nele est apontado, mas acredito ser fundamental para os alunos compreender o significado do Ser e do No-ser, bem como as duas vias, a da Verdade e da Aparncia. Para tanto, proponho a leitura do texto 4, o poema parmenidiano como nos chegou. Depois, os alunos devem levar para o GD os seguintes pontos para serem discutidos: Qual o significado do Ser? Por que o No-ser no pode sequer ser pensado?

O que caracteriza a Via da Verdade? E da Aparncia?

CR: Aqui tambm temos o texto do Anthony Kenny pra ajudar. Eles j tero lido para preparar o quadro anterior. S estou repetindo aqui pra enfatizar mesmo, porque preciso que eles entendam bem o modo como a argumentao dele se desenvolve, at porque a linguagem bastante densa, quase hermtica como ocorre com os fragmentos de Herclito tambm... Assim, se eles conseguirem explicar um pouco mais, est excelente. Parmnides afirma que o Ser e o Pensar so uma e a mesma coisa. No se trata de perceber apenas o significado mais imediato do verbo ser, como existir. A existncia das coisas que so o que so possvel porque ao homem dada a capacidade de refletir acerca do sentido de tal existir. Por isso ser e pensar so sinnimos. S os homens conseguem chegar a esta associao. Ele ainda refora essa identidade explicando que o ser tambm ingnito, indestrutvel, compacto, inabalvel e sem-fim, no foi nem ser, pois agora um todo homogneo, uno, contnuo. Trata-se de um trecho bastante complicado do poema, e que requereria uma boa discusso em conjunto.

O no-ser, por sua vez, impensvel, por isso, no existe. O que ele parece querer mostrar que somente aquilo a que temos acesso por meio do pensamento pode ter sua existncia afirmada. Ele no dizvel, nem pensvel, por isso sua existncia no . O Caminho da Verdade (altheia) apresentado por meio de uma metafsica dedutiva. Comea por premissas que ele acredita serem verdadeiras e dedutivamente ele chega a concluses que tambm devem ser verdadeiras. Seus argumentos lgicos reconstrudos podem ser expressos da seguinte forma:

1 - Ou algo existe ou algo no existe.

2 - Se possvel pensar em algo, esse algo pode existir.

3 - Nada no pode existir.

4 - Se podemos pensar em algo esse algo no nada.

5 - Se podemos pensar em algo esse algo tem quem ser alguma coisa.

6 - Se podemos pensar em algo esse algo tem que existir.

Na sequncia, ele explica que somente resta afirmar que esse algo , e pensar ou dizer que esse algo no impossvel. Esse algo que tem, portanto obrigatoriamente que ser incriado e imperecvel. Tem de ser. Na terceira parte, intitulada Caminho da Opinio (dxa), sobre a qual no podemos ter nenhuma certeza, ele faz uma descrio de como o comum dos homens v o mundo. Para ele, a descrio apresentada apenas pelo que apreendemos pelos sentidos falsa e enganosa, pois simplesmente o resultado de uma ordenao de palavras. Contudo, essa ordenao a melhor coisa que os homens podem fazer, sendo portanto a melhor descrio apresentada. Aqui ele expe as crenas das pessoas simples. So conjuntos de teorias fsicas como o dualismo entre o limitado e o ilimitado, que ele relaciona com a luz e as trevas, fazendo da realidade fsica uma mistura e uma luta entre esses dois elementos. atravs dessa diviso que ele ordena as qualidades. Assim, sua filosofia apresenta-se como um contraste entre a verdade e a aparncia. A aparncia percebida pelos sentidos que nos mostram o ser e o no ser e nos levam a diversos erros. S a via da Verdade capaz de mostrar o que/como realmente so as coisas.III. A prxima tarefa nos leva diretamente ao pensamento socrtico. Com Scrates alcanamos a fase antropolgica da filosofia. E a partir de seu pensamento que teremos os grandes desdobramentos ticos, polticos, sociais, metafsicos que esto na base da filosofia ocidental. Por isso importante que os alunos tenham uma viso geral de suas propostas, todas sob o vis de seus herdeiros/discpulos visto que nada tenha deixado de escrito. Isto no nos impede de compreender o cerne da grande virada que ele apresentou na filosofia, deixando de lado as especulaes cosmolgicas para voltar-se quilo que, para ele, constitua o grande desafio da filosofia: o prprio homem.

A tarefa aqui ligeiramente mais simples, uma vez que retornaremos aos grandes problemas por ele apresentados mais adiante, quando estudarmos Plato e Aristteles. Assim, os alunos devem preparar uma pequena definio, a partir da leitura do Texto 5, Scrates, dos seguintes termos:

Ironia

Maiutica

Dialtica

Em seguida, eles tambm devem apresentar cada um a sua prpria compreenso do significado da famosa sentena dlfica conhece-te a ti mesmo, ressaltando sua importncia para a nova concepo de filosofar inaugurada por Scrates. Isto pode ser feito num pequeno texto, de uma ou duas laudas, no mximo, que deve ser usado nos GL. Unidade 3 PlatoAqui alcanamos um outro ponto fundamental para qualquer estudante de filosofia: o pensamento platnico. Reconheo que se trata de um grande desafio, mas as atividades que vou propor so todas baseadas nos prprios textos do grande mestre, e no em textos de apoio, ou manuais de filosofia. Quero que eles enfrentem a proposta de Plato lendo o que dele herdamos. Sei que um trabalho bem exigente, mas no acredito que possamos dispens-los disto.I. A primeira leitura que faremos o Texto 6, A Repblica, do qual separei apenas o famoso Livro VII no qual encontramos a alegoria da caverna. Trata-se de um texto bem conhecido, e que os alunos j devem ter encontrado alguma vez anteriormente. Mas como precisamos do que est ali, voltemos a ele! A atividade pressupe uma leitura em conjunto do texto. Como curto, apenas quatro pginas, possvel escolher-se dois alunos, que faro alternadamente o papel de Scrates e o de Glauco. A leitura em voz alta deve ser feita com muito cuidado porque depois dela eu gostaria que fossem propostas as seguintes questes, para serem debatidas no GD: Qual o sentido dado por Scrates palavra conhecimento? De acordo com a alegoria utilizada por Plato, podemos perceber que h dois mundos, mas que esto no mesmo lugar geogrfico, ou seja, no se trata de um mundo aqui e agora e outro alm. Como podemos explicar essa dualidade?

De acordo com Scrates, o acesso ao mundo do conhecimento aberto a todos os homens? Por qu?

CR: O homem mais especial que as outras coisas existentes na natureza, e melhor tambm que os outros seres dotados de alma (animais), pois tem uma alma racional. Porm, a razo humana est como que nublada, pois se deixa levar apenas pelas impresses que recebe do mundo, e constri seu conhecimento acerca de tudo mormente baseado na opinio (dxa) que tem das coisas que o rodeiam. Ademais, todos os homens acabam por sofrer uma espcie de dficit moral, e por isso no conseguem cumprir plenamente a sua natureza de animal racional. Os desejos e as paixes impedem um bom uso da razo, e impedem uma vida contemplativa. A purificao do esprito para alcanar as verdades eternas e imutveis exige um grande esforo. O homem precisa se livrar das paixes, e por paixes entende-se tudo aquilo que move (ou comove) a alma. Somente uma alma estvel capaz de perceber a Idia. Para esta elevao do esprito, necessrio tambm o autoconhecimento.

Deste modo, sair do mundo sensvel e alcanar o inteligvel significa tornar-se capaz de aprimorar a prpria capacidade racional a fim de alcanar as verdadeiras ideias que sustentam tudo o que vemos, ouvimos, sentimos. H algo que mantm as coisas unidas, um substrato ou essncia que permeia a variedade de elementos que constituem a realidade circundante. O homem que consegue sair da caverna torna-se capaz de enxergar, com os olhos do esprito, esse substrato, esse fundamento, essas Ideias que compem verdadeiramente tudo o que existe no mundo sensvel. Por isso os dois mundos platnicos esto indissociavelmente unidos. No se trata de um mundo aqui, o sensvel, e outro alm, o inteligvel, embora aparentemente possa parecer que assim. O mundo inteligvel o mundo da interioridade da conscincia capaz de acessar as verdades por meio de um lento processo de ascenso do esprito que veremos com mais calma na prxima atividade, baseada no dilogo Fdon.O acesso ao mundo inteligvel aberto a todos os homens. O problema a predisposio interior para empreender essa viagem para dentro da prpria conscincia a fim de acess-lo.

II. Agora vamos leitura do Texto 7, que poder ser complementada pela leitura de um trecho do dilogo Fdon, Texto 8. Ele servir para complementar a explicao acerca dos dois mundos, o sensvel e o suprassensvel ou inteligvel, e nos auxiliar a compreender o significado da ascenso do esprito na direo do conhecimento verdadeiro. Reconheo que outra leitura extensa e exigente. Para tentar facilitar um pouco, sugiro que os alunos concentrem-se apenas no passo em que Plato apresenta a segunda navegao (Fdon, pp. 42-43, pargrafo XLVIII) a fim de ampliar aquilo que est no Texto 8, que ser utilizado para o exerccio que proponho abaixo. Pedir aos alunos que expliquem, no GD, o significado da segunda navegao. Enfatize que necessrio que seja feito um paralelo entre o que Plato prope e aquilo que havia sido apresentado pelos pr-socrticos, que, de acordo com ele, teriam empreendido a primeira navegao.

C.R.: o Texto 7 relativamente curto, uma vez que se concentra to-somente na explicao acerca da segunda navegao, ou seja, o esforo que o esprito emprega por si s a fim de alcanar a verdade acerca das coisas. Trata-se da explicao platnica acerca do esforo que ele empreendeu sozinho na busca de uma explicao que pudesse dar conta daquilo que encontramos na Repblica, ou seja, a passagem do mundo sensvel ao suprassensvel ou inteligvel, que s pode ser acessado de modo individual, por meio de uma concentrao do esprito em si mesmo, na prpria capacidade racional de pensar a partir daquilo que encontra dado no mundo ao seu redor. Contudo, ele no suficiente para entendermos, minimamente que seja, a profundidade da elaborao de Plato. Para tanto precisamos ainda do auxlio do Livro VI d A Repblica. Ele o foco da prxima atividade.III. Solicite aos alunos que faam uma pesquisa na internet que lhes fornea uma explicao do contedo do livro VI dA Repblica (passo 509d-511e). Depois eles devem elaborar num quadro/grfico o modo como Plato explica o progresso da alma em busca do conhecimento.

C.R.: encontrei o quadro abaixo, que achei bem explicativo, claro e ilustrativo. Mas h outros. O importante que todos discutam este processo de ascenso a fim de compreender o que estava por trs da alegoria da caverna. Acredito que ser necessria uma explicao cuidadosa de cada momento a fim de mostrar como Plato concebeu o acesso ao mundo inteligvel. Com estas leituras penso que seja possvel compreender um pouco da extensa e riqussima proposta platnica, que revolucionou o filosofar!

Seria bom chamar a ateno dos alunos para cada etapa mostrada neste quadro e mostrar como aqueles que se dedicam a encontrar o caminho da Verdade, chegar s Ideias eternas e imutveis que nos garantiriam a segurana de um conhecimento correto acerca dessas verdades, tm um longo caminho a percorrer. O quadro procura explicar visualmente aquilo que Plato discute no Livro VI dA Repblica: como se passa do mundo sensvel (base do quadro) para o suprassensvel/inteligvel. Cada etapa esclarece o nvel em que estamos e aquele para o qual devemos nos dirigir. Deste modo, a alegoria da caverna, que est no comeo do Livro VII fica muito mais clara. Mas eu preferi inverter para que eles primeiro tenham a historinha para depois perceberem a profundidade dela. Naturalmente, durante a discusso deste quadro a imagem da caverna deve estar sempre presente. Plato sabia que se tratava de algo radicalmente novo, por isso a ilustrao alegrica. Ela visava a tentar facilitar um pouco o acesso a essas verdades que ele revelava.H muito mais coisas na filosofia platnica, mas infelizmente nosso tempo pequeno para tudo. Acredito que o fundamental os alunos entenderem como ele foi capaz de apresentar um grande sntese entre o pensamento pr-socrtico, do qual herdeiro, e ir adiante pelo prprio esforo reflexivo. Dei uma nfase ao papel do conhecimento porque um dos pontos-chave da proposta platnica. Espero que seja suficiente o que temos por aqui, e que sirva de incentivo para aprofundamentos posteriores.Unidade IV Aristteles

Nosso ltimo conjunto de tarefas est voltado para aspectos do pensamento aristotlico. Tentei manter a linha gnosiolgica a fim de no nos desviarmos do eixo condutor que pensei quando montei a disciplina. Mas no caso dele, importante tambm enfatizar a discusso tico-poltica. Assim, teremos trs momentos: o metafsico, o tico e o poltico, com atividades especficas para cada um deles.I. Para comear, os alunos devem ler com ateno os dois textos introdutrios, Texto 9 Aristteles - A Metafsica. So duas explicaes-resumo bem generalistas dos pontos centrais da Metafsica aristotlica. Por se tratar de um texto bastante exigente, acredito ser necessrio entrar nele por uma via de acesso mais simplificada. Ler o original de Aristteles requer tempo, disciplina, preparo, pacincia. Ademais, dispomos de pouqussimas tradues decentes em portugus. um daqueles textos que precisa de algum que o conhea bem para acompanhar passo a passo tudo o que Aristteles discute, uma vez que ele est sistematizando toda a discusso anterior a ele, desde os pr-socrticos at Plato. Um esforo gigantesco da parte dele, e um grande desafio para todos ns. De qualquer modo, fundamental que os conceitos centrais apresentados por ele estejam bem claros para os alunos. Depois eles podem aprofundar o que vamos discutir aqui alis, devem mesmo. Os alunos estaro estudando Lgica concomitantemente a esta disciplina. Para evitar sobreposio de assuntos/contedos vou deixar a parte da lgica aristotlica para o professor responsvel. Mas precisamos de alguns dos conceitos de l para melhor compreender a metafsica aristotlica tambm. Neste sentido, vamos solicitar aos alunos que preparem, novamente de modo bem esquemtico, um quadro-resumo com as dez categorias propostas por Aristteles quando se volta para os modos como podemos falar do ser. Algo assim:Categoria termo aristotlicoCategoria - traduoExemplo

T est; ousaSubstncia Homem, cadeira, pedra...

PosnQuantidadeCinco metros; dez quilos...

PoinQualidadeBranco; belo; doce; forte...

Prs tRelao/relativoMetade; o dobro;

PoLocalNo mercado; em casa...

PteTempoHoje; amanh; s dez horas...

KesthaiPosioDeitado; andando; correndo...

kheinTer/estadoX possui um livro; Y est armado (tem uma arma)

PoienFazer/agirQueimar; transformar algo; produzir...

PskheinSofrer uma ao/PaixoSer queimado; ser irritado...

Isto serve para deixar bem visvel os modos como Aristteles pensa nossa forma de expressar, pela linguagem, aquilo que nos vai no esprito. Claro que h muito mais coisas a serem discutidas, mas como disse antes, vou deixar para o professor de Lgica. Por ora, o que nos basta para avanar no exerccio e ampliar para a Metafsica.

Agora, com relao aos dois textos, vamos levar as seguintes questes para o GD:

Por que a metafsica, para Aristteles, constitui a filosofia primeira (prot philosopha)? Como relacionam-se matria, forma, ato, potncia e as quatro causas?C.R.: a metafsica trata da discusso do ser enquanto ser, ou seja, daquilo que , como e de como vem a ser aquilo que . Por isso, est na base de todo o conhecimento que se queira verdadeiro. Sem entender os fundamentos racionais que explicam a realidade a partir de sua origem, isto , os modos como tudo o que existe no universo veio a ser como ns percebemos/vemos/ouvimos/sentimos lembremos que Aristteles no descarta o papel dos sentidos no caminho do conhecimento, contrariamente proposta platnica, para a qual os sentidos devem ser abandonados em prol do conhecimento inteligvel que prescinde deles. Por esta razo ele comea definindo o conhecimento ontolgico como filosofia primeira ou teologia. Alis, bom ressaltar para os alunos que o termo metafsica no foi dado por Aristteles, mas por Andrnico de Rodes quando da classificao da obra aristotlica, significando apenas aquilo que est alm da fsica, ou seja, o conhecimento que precisa ir alm daquilo que os sentidos oferecem, embora partindo do material por eles fornecido. A Fsica aristotlica ocupa-se da realidade sensvel; na metafsica ou ontologia, trata ele das questes que subjazem a realidade sensvel.A relao que pode ser estabelecida, em linhas bem gerais, entre os elementos que listei na segunda questo parte pode ser pensada a partir de nossa experincia do mundo circundante. Assim, todas as coisas que vemos so compostas de matria e formam, isto , algo de que feito e o modo como foi feito e pode ser apreendido por ns pelos sentidos. Por exemplo, quando vemos uma mesa reconhecemos que ela feita de madeira (matria) e quadrada, ou redonda, ou, oval (forma). Contudo, no somos capazes de separar a matria da mesa de sua forma. Isto s possvel por meio da reflexo abstrata. Conseguimos nomear de matria aquilo de que algo feito, e de forma o modo como se vemos/sentimos/ouvimos, mas estas so duas categorias do pensamento que no existem na realidade independentes uma da outra.O prximo passo compreender como a forma foi dada matria, ou como a matria recebeu a forma. Para isto, Aristteles utiliza a explicao potncia-ato: uma determinada matria (a madeira do nosso exemplo) pode vir a ser infinitas coisas (uma mesa, uma cadeira, uma escultura, uma tigela, uma escada...), isto significa afirmar que ela tem potncia para vir-a-ser essas coisas todas. Contudo, de cada vez, ela ser uma nica coisa, pois pode assumir uma nica forma quando aparece na realidade, ou se torna ato. Isto significa que ao vermos a mesa pronta temos aquilo que a madeira pode ser efetivamente realizado. E quando vemos uma cadeira feita de madeira, o mesmo acontece. E assim infinitamente, de acordo com as possibilidades todas como a matria madeira pode conformar-se, ou tomar uma determinada forma.A entram as causas. Para que algo saia de seu estado de potncia e se torne algo (em ato) quatro causas precisam agir concomitantemente. preciso a matria (causa material), a forma (causa formal), o agente (causa eficiente), e a finalidade (causa final). No meu exemplo, para que haja a mesa precisamos da madeira, da forma que queremos dar mesa, de um marceneiro, capaz de transformar a madeira bruta em mesa, e a finalidade deste processo, aquilo para que a mesa vai servir.

Isto tudo deve ser discutido e compreendido pelos alunos para que a discusso seguinte, acerca da tica e da poltica fique clara.

IV. A segunda atividade ser a produo de um texto escrito. A base ser o Texto 10, Aristteles tica. Pea aos alunos para lerem com ateno e produzirem um texto reflexivo, para ser lido e discutido no GL, e que tenha por foco os seguintes pontos:a. A definio aristotlica de felicidade (eudaimona);b. A importncia do hbito para o cultivo das virtudes morais;

c. O sentido de mediania, ou de justa medida, para o bem agir;

d. A responsabilidade moral.

e. A virtude da phrnesis (sabedoria prtica).

C.R.: gostaria que aqui os alunos tivessem maior liberdade para pensarem acerca do que leram. No quero conduzir a avaliao. O texto proposto como guia para estas questes bastante explicativo. Mas o importante como cada aluno compreende os contedos ali desenvolvidos, apropria-se deles e os transforma em algo que lhe faz sentido.

V. Para encerrarmos nossa caminhada pela Filosofia Antiga, temos ainda de percorrer uma ltima etapa: a discusso poltica aristotlica. No ltimo pargrafo da tica a Nicmaco, ele nos promete um livro no qual discutir os desdobramentos da ao moral na coletividade. Se o trabalho da tica a Nicmaco tem como escopo compreender como se constitui o bem agir humano individualmente, a funo da Poltica a de ampliar as questes para que se possa compreender como os homens constroem a vida em sociedade. Para tanto, vamos ao ltimo texto, Texto 11, Aristteles A Poltica.f. Pedir aos alunos para que faam uma pesquisa a fim de explicar o que Aristteles quer dizer com o homem um animal poltico (zon politikn), que consta no incio do Livro I dA Poltica.

g. A partir desta compreenso, que dever ser discutida no GD, e tendo lido o texto 11, os alunos devem debater acerca de como se compreender a felicidade tendo no horizonte o que foi discutido na tica a Nicmaco agora, nA Poltica? Se ela constitui um bom estado de esprito (eudaimona) individualmente, como torn-la algo coletivo? Qual a lio de Aristteles que poderamos manter no nosso horizonte ainda que no sculo XXI?

C.R.: bem, aqui eu vou deixar para o tutor liberdade de avaliar de acordo com o que for discutido em conjunto. Acredito que neste momento os alunos j tm material suficiente para debater esta e outras tantas questes que foram propostas ao longo da disciplina de um modo minimamente satisfatrio. 12