Guia_de_meios_de_hospedagem.pdf

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Este Guia de Sustentabilidade para Meios de Hospedagem é resultado do programa Santander Turismo Sustentável, cujo objetivo é fomentar o desenvolvimento sustentável de destinos turísticos brasileiros e a conscientização e educação em prol do turismo responsável. Nesta publicação, o banco Santander reforça sua parceria com a sociedade e apresenta informações relevantes para inspirar novas ideias e iniciativas que possam gerar valor para os empreendimentos, para os turistas e para toda a sociedade. guia de sustentabilidade: meios de hospedagem SUPERLINHA: 4004 3535 (Capitais e regiões metropolitanas) 0800 702 3535 (Demais localidades). SAC - Serviço de Apoio ao Cliente: 0800 762 7777. OUVIDORIA: 0800 726 0322. Siga-nos no twitter: http://twitter.com/santander_br Cert. n o XXX-XXX-XXXXX

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  • Este Guia de Sustentabilidade para Meios de Hospedagem resultado do programa Santander Turismo Sustentvel, cujo objetivo fomentar o desenvolvimento sustentvel de destinos tursticos brasileiros e a conscientizao e educao em prol do turismo responsvel. Nesta publicao, o banco Santander refora sua parceria com a sociedade e apresenta informaes relevantes para inspirar novas ideias e iniciativas que possam gerar valor para os empreendimentos, para os turistas e para toda a sociedade.

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    SUPERLINHA: 4004 3535 (Capitais e regies metropolitanas) 0800 702 3535 (Demais localidades).SAC - Servio de Apoio ao Cliente: 0800 762 7777. OUVIDORIA: 0800 726 0322.Siga-nos no twitter: http://twitter.com/santander_br

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  • ndice

    introduo 7

    edificao e sistemas 13

    terreno e entorno 39

    funcionamento 53

    gesto financeira 69

    bibliografia 74

  • 7introduo

    apresentaoestrutura do guiacomo usar o guia

  • 8 9

    ApresentaoO setor de turismo um dos maiores segmentos econmicos do mundo e oferece grande potencial de contribuio e transformao para a sustentabilidade.

    Isso porque a cadeia de valor do Turismo tem alta capacidade de comunicao com os turistas e as comunidades locais, o que a torna uma ferramenta efetiva de multiplicao de boas prticas nas reas ambiental, sociocultural e econmica.

    Os empreendedores que tm essa viso no apenas colaboram para um mundo mais sustentvel, como obtm melhores chances de sucesso em seus negcios. Este guia tem por objetivo incentiv-los a adotarem solues, tecnologias e atitudes mais afinadas com a construo e gesto de um meio de hospedagem sustentvel, colaborando, assim, para a divulgao e o fortalecimento dos trs pilares estabelecidos em 1994 pela Organizao Mundial de Turismo (OMT) e considerados fundamentais para o desenvolvimento sustentvel do setor: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade social e cultural, e sustentabilidade econmica. Esses princpios alinham-se tambm deciso do ento Ministrio da Indstria, do Comrcio e do Turismo (MICT), que, em 1994, por meio do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), adotou o turismo sustentvel como referncia de desenvolvimento econmico capaz de assegurar a qualidade de vida da comunidade, proporcionar satisfao ao turista e manter a qualidade do ambiente (do qual dependem a comunidade e o turista).

    Estrutura do guiaEste guia est organizado em quatro temas principais, que permeiam a construo ou reforma de um empreendimento turstico, a gesto administrativa e

    financeira do meio de hospedagem e, ainda, a relao com os hspedes, a comunidade local e a regio.

    Edificao e sistemasEste captulo aborda princpios e tecnologias sustentveis que podem reduzir e minimizar impactos ambientais durante a construo ou reforma de um meio

    de hospedagem, alm de economizar recursos como gua e energia, e minimizar a gerao de resduos poluentes.

    Terreno e entornoNesta parte do guia, o empreendedor encontrar ferramentas teis para prticas mais sustentveis na rea de seu estabelecimento e tambm na relao

    com a regio do entorno de seu empreendimento.

    FuncionamentoAqui, o dia a dia do meio de hospedagem tratado de maneira integrada. Da rouparia alimentao e gesto de funcionrios, todos os detalhes da

    administrao de um empreendimento recebem um olhar que contempla as trs dimenses da sustentabilidade: ambiental, sociocultural e econmica. O captulo tambm traz estratgias para sensibilizar funcionrios, fornecedores e hspedes para a adoo de atitudes mais coerentes com o processo de

    expanso da sustentabilidade do empreendimento.

    Gesto financeiraEducao financeira e planejamento so fundamentais a qualquer empreendimento que busca sintonia com as necessidades atuais do planeta. Neste captulo,

    o banco Santander d dicas de produtos e servios financeiros que podem auxili-lo em uma boa gesto financeira do seu meio de hospedagem.

    O Guia aborda ainda os diferentes programas de certificao e normas, que atestam que determinado produto, servio, profissional, empreendimento ou destino resultado de um programa especfico de gesto para a sustentabilidade. A adoo desses selos, auditados por empresas independentes, facultativa e exige o cumprimento de uma srie de princpios, critrios e regras preestabelecidos que, por sua vez, retornam para o empreendedor na forma de benefcios, tais como: reduo de impactos ambientais, melhor controle de consumo e sistematizao de procedimentos; mais eficincia no consumo de energia e gua; melhoria da qualidade do ambiente interno; maior satisfao dos clientes e funcionrios, alm da associao da marca ao conceito de sustentabilidade.

  • 10 11

    Como usar o guiaPara facilitar o uso do guia, cada tema contm uma breve apresentao e pode vir acompanhado dos seguintes tpicos:

    Benefcios Comenta as vantagens econmicas, sociais e ambientais que determinada ao pode trazer.Investimento Indica que tipo de investimento precisa ser feito para a aplicao de uma nova prtica ou tecnologia sustentvel, e pode envolver a necessidade de recursos financeiros, o investimento de tempo e ateno ou, ainda, uma mudana de atitude, a capacitao de funcionrios e a otimizao de recursos j existentes.Pense bem! Neste tpico, so feitas algumas reflexes sobre como compreender aquela ao de maneira integral, refletindo sobre possveis desvantagens ou pontos que merecem mais cuidados.Para estimular a aplicao dos conceitos, o guia traz ainda, em todos os temas abordados, os tpicos:Dica Aqui, a ideia incentivar o empreendedor com exemplos de aes simples e fceis que podem proporcionar bons resultados.Para saber mais Apresenta fontes de informao relevantes para quem quer se aprofundar no tema.

    Aproveite as informaes e sugestes do guia, e boa leitura!

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    edificao e sistemas

    guaenergia

    materiaisambientes saudveis

    acessibilidade e desenho universalcertificaes de construo sustentvel

  • Plano B: recorra a pelo menos duas fontes de gua para abastecimento em emergncias

    Use a natureza a seu favor: aproveite a gravidade dos terrenos inclinados para distribuir a gua de chuva armazenada

    cisterna

    caixa dgua

    uso

    poo secocisterna cheia

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    Edificao e sistemas Planejar e ter uma viso integral da propriedade e do empreendimento so prerrequisitos importantes para a conquista de parmetros de sustentabilidade.

    Por isso, preciso contratar profissionais especializados e com equipes multidisciplinares que possam contemplar os diferentes aspectos do projeto e construo de um meio de hospedagem. Isso vale tambm quando o assunto reforma e ampliao. Evite solues provisrias, como o puxadinho, que, embora resolvam um problema imediato, podem trazer complicaes no futuro.

    O setor da construo civil um dos que mais causam impactos ambientais em todo o mundo, especialmente em razo da grande gerao de resduos e do alto consumo de matrias-primas, gua e energia. Em contrapartida, indstrias, profissionais e entidades do setor esto em busca de mudanas positivas. A seguir, apresentamos as principais solues j disponveis para um projeto sustentvel de construo ou ampliao de um meio de hospedagem.

    Edificao e sistemas gua A gesto e o uso racional da gua no empreendimento so um dos pontos-chave em qualquer programa de sustentabilidade e oferece grande potencial

    de reduo de consumo do recurso o que produz benefcios econmicos e ambientais. Em geral, todo planejamento sustentvel de recursos hdricos deve considerar os seguintes princpios: _ localizao segura: posicione as edificaes de seu empreendimento fora de regies onde possa haver um grande fluxo natural de gua, no caso de

    enxurradas ou proximidade de crregos e rios; _ retirou, devolva: se captar gua de poos, nascentes ou crregos, devolva-a natureza to limpa quanto a retirou ou ainda melhor;

    _ use a gravidade: em terrenos inclinados, armazene gua nas reas mais elevadas. Assim, o restante do empreendimento poder ser abastecido por gravidade; _ ateno ao sol: placas de aquecimento solar so mais eficientes quando posicionadas na

    direo norte, com maior exposio ao sol. Os reservatrios de gua devem ficar protegidos de insolao; _ paisagismo inteligente: prximos construo, pequenos lagos ajudam a regular a

    temperatura, j que reduzem a entrada do calor e do frio nos perodos de clima mais intenso. Quando posicionados entre a construo e a direo de maior insolao, podem ainda refletir luz natural para o ambiente interno; _ crie conexes: posicione os elementos que compem o projeto de forma que a necessidade

    de um possa ser atendida com o excedente ou produto de outro. Por exemplo, a gua dos chuveiros do edifcio A pode ser direcionada para a irrigao de rvores que sombreiem a edificao B, em vez de ser enviada para a rede de tratamento;

    _ infiltre lentamente: crie bolses de armazenamento de gua no solo, com plantas que se adaptem bem tanto em solo seco quanto em solo encharcado. A vegetao possibilita a infiltrao lenta da gua; _ tenha sempre um plano B: crie um sistema back up ou complementar que possa ser

    utilizado no caso de falha ou manuteno do equipamento principal. Exemplo: aquecimento de gua a gs para os dias de insolao limitada, em que o aquecedor solar pode no ser suficiente; _ evite gua parada: se tiver pequenos lagos que possam conter gua parada durante parte

    do ano, insira espcies de peixes (de preferncia, nativos) que se alimentem de larvas de mosquitos; _ proteja os reservatrios da entrada de insetos e impea o acesso de animais de pastagem

    no entorno de nascentes, poos e beira de rios; _ para bombear gua, prefira sistemas que dispensem energia eltrica, como rodas dgua,

    carneiros hidrulicos, bombas elicas ou solares; _ d preferncia a produtos de limpeza biodegradveis, em especial nos sistemas de

    tratamento de efluentes; _ evite equipamentos tecnolgicos que exijam manuteno dispendiosa, complicada ou muito

    frequente.

  • Equipamentos de uso racionalSo aqueles que promovem uma reduo significativa no consumo de gua e incluem elementos de fcil instalao, como torneiras com sensor de movimento,

    vlvulas de descarga com duplo acionamento (de 3 e 6 litros), redutores de vazo e arejadores.

    BenefciosDe fcil instalao na maior parte dos casos, promovem uma reduo de at 70% no consumo, dependendo do perfil do projeto e do tipo de aparelho

    empregado.

    Investimento Quanto maior o consumo de gua antes da instalao, mais rpido ser o retorno do investimento financeiro. Com o crescimento da oferta de produtos

    economizadores, os preos dos equipamentos tendem a cair cada vez mais.

    Pense bem!Mesmo que a gua consumida em seu empreendimento seja captada de uma fonte local e sem custos diretos, reduzir o consumo pode garantir a

    sustentabilidade de seu projeto no longo prazo.

    DicaOs registros reguladores de vazo so acessrios de fcil instalao e custo relativamente baixo, que restringem a sada de gua em lavatrios e chuveiros,

    sem perda de conforto para o usurio.

    gua potvel: sistemas de filtrao e potabilizaoNo Brasil, toda gua destinada a fins potveis (para beber, preparar alimentos, tomar banho e usar na pia dos banheiros) deve atender ao padro de qualidade

    estabelecido pelo Ministrio da Sade (portaria 518). A lei estabelece que, se o seu empreendimento abastecido por uma concessionria local, a gua fornecida deve ser usada para fins potveis. No caso de o empreendimento ser abastecido por fontes locais, procure sempre escolher a de melhor qualidade para fins potveis, especialmente se esta for escassa. Nesse caso, adote medidas de tratamento capazes de garantir o cumprimento da norma, tais como a filtrao de partculas grosseiras, a remoo de cor e turbidez, e a desinfeco, entre outras solues.

    Benefcios Segurana do usurio e do empreendimento.

    Investimento Quanto mais a gua tiver de ser tratada para atender s exigncias legais, maior tende a ser o investimento financeiro. Sistemas de desinfeco por oznio

    e lmpadas ultravioleta tm mostrado resultados positivos na desinfeco de gua, embora ainda apresentem custo alto de equipamentos e dependncia de energia eltrica.

    Pense bem!A opo por captao de guas superficiais (de rios e represas) para consumo potvel requer um sistema de tratamento capaz de lidar com a alterao na

    cor e turbidez que costumam ocorrer na poca de chuva.

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    DicaUm dos mtodos mais simples e eficientes de tratamento de gua o tanque de filtrao lenta de areia, que pode ser

    construdo no local. A gua entra na parte superior do tanque e atravessa lentamente uma grossa camada de areia fina. Alm de remover materiais particulados, o filtro tem forte ao biolgica que possibilita excelente capacidade de remoo de turbidez, cor, coliformes, detergentes, agrotxicos, bactrias e vrus. Outra vantagem a manuteno simples, alm da autonomia em relao a equipamentos de filtrao de gua.

    gua de chuva: captao, armazenamento e usosO aproveitamento da gua de chuva, captada dos telhados das construes, uma estratgia eficiente para os perodos

    de seca e, por outro lado, ajuda a combater as enchentes, especialmente em reas urbanas com alto percentual de solo impermeabilizado. No Brasil, a legislao exige que a gua de chuva seja usada para fins no potveis sempre que uma empresa de abastecimento oferecer gua potvel para consumo. Alm disso, o projeto deve seguir cuidados especficos: para integr-la s instalaes hidrulicas (como gua para descarga sanitria, por exemplo), ser necessrio prever medidas como o descarte da gua dos primeiros minutos de chuva (que, ao cair sobre o telhado, arrasta poeira e bactrias que podem comprometer a qualidade da gua), alm de cuidados no armazenamento, desinfeco pr-consumo e abastecimento complementar em longos perodos de seca.

    Benefcios Disponibilidade de gua para consumo em pocas de estiagem, reduo de enchentes, diminuio da demanda por mananciais

    de gua potvel, menos custos com o abastecimento de gua e, ainda, controle sobre a qualidade da gua consumida.

    Investimento Varia de acordo com o tipo de uso que se quer dar, com a estrutura disponvel, com o perfil de consumo e com os ndices de

    precipitao local. Quando o consumo pequeno, o melhor investir em sistemas mais simples, para uso nos jardins e limpeza de reas externas. Para solues maiores, o reservatrio de armazenamento costuma ser o item mais caro, em especial quando se quer garantir o abastecimento durante perodos de estiagem.

    Pense bem!Deixe a natureza trabalhar a seu favor. Em terrenos inclinados, colete e armazene a gua dos telhados mais elevados do

    terreno. J em reas planas, aproxime telhados de prdios distintos e direcione a gua para uma cisterna elevada, integrada ao prdio. Nos dois casos, ser possvel distribuir gua para os pontos mais baixos usando apenas a gravidade, sem bombas eltricas.

    DicaPara usos simples, como irrigao de pequenos canteiros ou limpeza de reas externas, posicione recipientes de pequeno

    volume (vasos impermeabilizados, caixas de inox ou tonis plsticos) sob os condutores de gua das calhas do telhado. Mas no deixe a gua armazenada por muito tempo, para prevenir contaminaes.

    PiscinasNos ltimos anos, a tecnologia aplicada

    ao tratamento de gua de piscinas passou do uso indiscriminado reduo ou at eliminao do uso de produtos qumicos industrializados. Geradores de oznio, lmpadas ultravioleta e salinizadores so as solues mais comuns e, quando dimensionadas e utilizadas de forma apropriada, simplificam a manuteno. Alm disso, proporcionam aos banhistas uma gua mais leve, isenta do odor e dos efeitos adversos na pele e cabelo, tpicos de piscinas tratadas com produtos convencionais.

    Uma alternativa inovadora e ainda pouco conhecida no pas a chamada piscina natural, que, diferente das piscinas de rio, utiliza plantas para fazer o tratamento da gua, tal qual no sistema de tratamento de efluentes, prximo tema deste guia.

    Para saber maisJardineiros.comwww.jardineiros.com/index.php/content/view/21/44

    Piscinas biolgicas (Portugal)www.biopiscinas.pt

  • Tratamento natural de esgotos domsticos

    Irrigao de frutferas com gua cinza: tratamento de gua e produo de alimentos em um s lugar

    rvore frutfera

    tubo de ventilao

    palha, apara de grama, poda picada

    biodigestor filtro anaerbio

    zona de razeslago commacrfitas lago de peixes

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    Tratamentos naturais de efluentesNo d para falar em sustentabilidade sem prever o tratamento dos efluentes (esgoto ou gua servida) gerados por um empreendimento. Devolv-los

    natureza adequadamente mais simples do que parece, j que, essencialmente, so compostos por gua, numa mistura que agrega matria orgnica, bactrias e um pouco de produtos qumicos utilizados na limpeza. H dois tipos bsicos de efluentes, que devem receber tratamentos diferentes: os que contm fezes (gua preta) e os que no contm fezes (gua cinza). A gua de cozinha, por conter resduos orgnicos e gordura, algumas vezes classificada como gua cinza escura ou preta, apesar da ausncia de fezes.

    Em ambientes com disponibilidade de espao para plantio de rvores ou arbustos frutferos, a gua cinza pode ter a funo de irrigar as plantas, com a vantagem de carregar nutrientes. Jabuticabeiras, pitangueiras e outras espcies tpicas de reas midas so indicadas para esse fim. O tratamento da gua cinza feito por micro-organismos que habitam a camada superior do solo e se alimentam de elementos patognicos, garantindo, assim, a infiltrao de gua de tima qualidade para o lenol fretico.

    Quando o volume do efluente pequeno em relao capacidade de infiltrao no solo, basta irrigar diretamente. Se o volume for maior, pode-se instalar uma caixa de passagem com sadas de gua para diferentes reas de infiltrao, ou ainda recorrer a leitos de evapotranspirao (LET) ou leitos de evapotranspirao e infiltrao (LETI), sistemas que contam com o apoio de vegetao plantada ao longo de um canteiro para evaporar e transpirar a gua. O LET necessrio quando o lenol fretico est a menos de 1,5 m de altura do ponto de aplicao de gua. Nesse caso, a rea escolhida para o sistema impermeabilizada (para evitar a contaminao do lenol) e a gua cinza absorvida pelas plantas do tanque sem infiltrar no solo. Quando o lenol mais profundo, no h risco de contaminao e a impermeabilizao pode ser dispensada. Assim, parte da gua destinada ao sistema infiltra no solo o que caracteriza o LETI e ajuda a reabastecer o lenol fretico.

    Outra estratgia de tratamento natural de efluentes so os banhados construdos ou zona de razes, os quais utilizam canteiros impermeabilizados com plantas tpicas de ambientes alagados para o tratamento de gua preta (pr-tratada em fossa sptica) e gua cinza. O formato mais apropriado, na maioria dos casos, aquele em que a gua flui em meio ao material filtrante dos tanques (brita ou areia grossa), de forma que apenas as flores

    e folhagens ficam vista. Bactrias que se fixam nas razes das plantas transformam a matria orgnica em nutrientes para as plantas e combatem os agentes patgenos causadores de doenas. Como a soluo modular, pode ser aumentada com a criao de novos canteiros, de acordo com a demanda do empreendimento. A gua resultante do sistema tem boa qualidade e pode ser usada na irrigao de rvores e outros fins no potveis, ou retornar ao crrego mais prximo desde que atenda aos padres exigidos pelo Conama, o que pode ser atestado pelo monitoramento peridico por meio de testes laboratoriais.

    Em instalaes que produzem pequenos volumes e que estejam distantes de uma central de tratamento, outra opo so as bacias ou tanques de evapotranspirao (TEVAP). So recipientes impermeabilizados, de tamanho varivel em funo do volume a ser tratado, que integram num nico elemento as funes da fossa sptica, do filtro anaerbico e do leito de evapotranspirao. O efluente passa por camadas de materiais filtrantes com espessura menor medida que se aproxima da superfcie, at chegar em solo rico e frtil, onde uma parte da gua evaporada e outra, absorvida e transpirada por plantas. A bananeira, com capacidade para evapotranspirar at 70 litros de gua por dia, est na lista das mais indicadas para os TEVAPs.

    Para empreendimentos maiores, que geram grande volume de efluentes, h solues mais complexas, que integram gua, plantas e animais, por meio de um planejamento que busca imitar os ciclos sustentveis da natureza. So os chamados biossistemas integrados (BSI). Neles, o tratamento de esgoto transforma-se em oportunidade de gerao de energia (em biodigestores), paisagismo ornamental, adubo, protena e rao animal e, claro, gua limpa que pode ser despejada em um rio ou retornar ao ambiente na forma de irrigao, infiltrao e reso para fins no potveis.

    Se for reutilizar a gua, avalie se a qualidade dos efluentes gerados compatvel com o tipo de reso. Uma maneira de simplificar o design e a operao privilegiar o reso direto ou seja, sem necessidade de tratamentos adicionais , como a destinao de gua de lavatrios para limpeza de mictrios coletivos, por exemplo. J para fazer reso de efluentes tratados para abastecer o empreendimento, inclua um processo de desinfeco, a fim de garantir a segurana dos usurios.

  • 20 21

    Benefcios Economia de gua potvel, manuteno do ciclo hidrolgico local, reciclagem de nutrientes e produo de frutos, flores, sombra, gua limpa, ar fresco,

    biomassa, energia, etc.

    InvestimentoVaria de acordo com o volume a ser tratado e com o sistema escolhido. A chave integrar o ambiente local com os objetivos do projeto. Sistemas

    descentralizados podem ser boa opo quando a rea coberta pelo empreendimento for muito extensa. A implantao desses modelos de sistemas gera ambientes muito agradveis e isso deve ser considerado durante o planejamento.

    Pense bem!Recentemente, o estado da Califrnia, nos EUA, aprovou um novo conjunto de leis que permite, em instalaes residenciais e comerciais, o uso direto de gua

    cinza para irrigao subsuperficial (abaixo da superfcie do solo) de rvores e arbustos.

    Dicagua cinza e gua de chuva so fontes disponveis em qualquer empreendimento. Us-las de maneira integrada, dando preferncia gua de chuva, ainda

    melhor e pode reduzir significativamente o uso de gua potvel para fins no potveis. Uma soluo para locais com pouca oferta de gua para descargas de vaso sanitrio ou com lenis freticos rasos (que dificultam a construo de sistemas

    sob o solo) so os banheiros secos ou compostveis, que dispensam o uso de gua. Neles, as fezes so depositadas em cmaras fechadas e o usurio substitui a gua da descarga por material seco rico em carbono (como serragem, folhas secas e papel picado). Misturados com os dejetos, que so ricos em nitrognio, o material se decompe e transformado em adubo, indicado para a fertilizao de rvores.

    Para saber maisguaPrograma de Uso Racional da gua (Pura/Sabesp)www.sabesp.com.br/CalandraWeb/CalandraRedirect/?temp=0&proj=pura&pub=T&db

    gua potvel: sistemas de filtrao e potabilizaoPortaria 518 do Ministrio da Sadebvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/portaria_518_2004.pdfProf. Dr. Jos Euclides Paterniani (Feagri) e Prof. Dr. Ronaldo Pelegrini (Ceset/Unicamp), Filtrao lenta de areiawww.aguadechuva.com/download/filtracaolenta-pelegrini.pptc

    gua de chuva: captao, armazenamento e usosgua de chuvawww.aguadechuva.comAssociao Brasileira de Captao e Manejo de gua de Chuvawww.abcmac.org.brEdison Urbano, Uso racional das fontes de energias naturaisediurb.sites.uol.com.br/

    tratamentos naturais de efluentesInstituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlntica (Ipema)www.ipemabrasil.org.brO Instituto Ambientalwww.oia.org.br Rede Permearwww.permear.org.br

  • Esquema de funcionamento do aquecedor solar

    caixa dgua

    respiro

    telhadoconsumo

    entrada degua fria

    placa coletorasolar

    reservatrio de gua quente

    subida degua quente

    descida degua fria

    22 23

    Edificao e sistemas EnergiaEconomizar energia bom para a sade financeira do meio de hospedagem, j que esse custo um dos mais representativos na lista das despesas

    mensais. Alm disso, reduzir o consumo ajuda a diminuir a necessidade de construo de mais centrais hidreltricas, que, apesar de serem consideradas fontes renovveis e limpas de energia, implicam inundao de grandes reas, remoo de populao, interrupo de rios, construo de redes distribuidoras e outros impactos socioambientais. Medidas simples, fontes alternativas e solues tecnolgicas que reduzem a dependncia e o consumo de energia eltrica j existem, como veremos a seguir.

    Sistemas de aquecimento de guaUm dos grandes viles do consumo de energia so os sistemas de aquecimento de gua. Por isso, vale a pena investir

    numa opo mais sustentvel. No Brasil, o clima local e os desafios ambientais tm possibilitado um crescimento do setor de aquecedores solares, o que tem impulsionado tambm a qualidade dos produtos e servios. A tecnologia simples: nas placas coletoras, instaladas sobre o telhado, o calor do sol aquece a gua que circula no interior dos coletores. Aquecida, ela armazenada numa caixa trmica ou boiler.

    O uso de serpentinas em foges a lenha continua sendo uma opo simples e barata, que utiliza a energia da madeira para cozinhar e, ao mesmo tempo, aquecer a gua do banho. A dica aqui posicionar o banheiro prximo fonte

    produtora de calor, para que a gua no perca calor no caminho at o ponto de consumo. Outra soluo consolidada o aquecimento a gs, que pode ser de passagem ou por acumulao. Nos sistemas de aquecimento de passagem,

    o equipamento instalado entre a caixa dgua e o ponto de consumo, e a gua aquecida durante a passagem pelo sistema. J os sistemas de aquecimento por acumulao contam com um reservatrio

    (ou boiler), onde a gua aquecida e armazenada. Para empreendimentos mais afastados, uma soluo pode ser o uso de biogs produzido em biodigestores, o que requer uma adaptao do aquecedor para funcionar com baixa presso.

    BenefciosAs trs solues garantem segurana no abastecimento, alto

    percentual de independncia de fonte externa, utilizao de recursos locais e economia.

    InvestimentoNum primeiro momento, chuveiros eltricos so mais baratos, mas custam mais no longo prazo porque gastam muita energia. O melhor us-los como fonte

    complementar de aquecimento de gua. J os aquecedores solares custam mais inicialmente, mas oferecem retorno garantido com a economia na conta mensal de energia. Se a demanda por gua quente for pequena, possvel investir em modelos de baixo custo, com eficincia similar aos sistemas mais caros. Em geral, aquecedores a gs tm o custo mais alto na instalao; na operao, os gastos variam de acordo com o preo e a disponibilidade de gs para consumo. Lembre-se: as solues mais econmicas e eficazes so aquelas que tiram proveito do contexto local.

    Pense bem!No Brasil, das 18h s 21h, os chuveiros eltricos correspondem a 20% da demanda total de energia eltrica no pas. Isso significa que o aparelho um dos

    grandes fatores considerados na hora de planejar a gerao e distribuio de energia em territrio nacional. Optar pelo sistema de aquecimento solar de gua, portanto, uma maneira de reduzir a presso sobre a oferta de energia eltrica, evitar apages e reduzir impactos ambientais.

    DicaEm meios de hospedagem, a disponibilidade de gua aquecida para banho fundamental. Por isso, o ideal prever um sistema flexvel com, pelo menos, duas

    fontes de aquecimento de gua. Assim, no caso de insuficincia da fonte principal, outra opo servir como suporte ou sistema back up.

  • Roda dgua

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    Elica (ventos)Alm dos grandes parques elicos instalados nas regies Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil,

    j existem equipamentos aerogeradores de menor porte, a partir de 50w nominais, que podem ser instalados para atender demanda total ou parcial de um meio de hospedagem. Outra opo so os aeromotores, que alimentam uma bomba dgua, por exemplo. Para isso, preciso considerar a relao custobenefcio e o potencial de ventos de sua regio.

    Microcentrais hidreltricas (rios e crregos)Se a sua propriedade tem um curso dgua com queda de nvel ou boa vazo, uma

    opo sustentvel usar a energia do movimento das guas para criar uma microcentral hidreltrica. O equipamento tem turbinas e motores diferentes, que ocupam pouco espao. Nos modelos menores, pode produzir de 20kw a 100kw. Em escala maior, ou seja, na verso de pequenas centrais hidreltricas (PCH), geram at 30mw. A tecnologia requer licena estadual dos rgos ambientais e de gesto de recursos hdricos. Outra vantagem: incentiva a conservao e o aumento da vegetao nativa ao redor do rio ou crrego, como forma de garantir boa quantidade de gua para abastecer a turbina.

    Eficincia energtica na iluminao e equipamentosEficincia energtica pode ser entendida como a busca por produtos e sistemas que reduzem o consumo e o desperdcio de energia. Numa lmpada

    incandescente comum, por exemplo, a eficincia de apenas cerca de 8%. Os restantes 92% so gastos na gerao de calor e no propriamente para iluminar o ambiente. J numa lmpada fluorescente compacta a eficincia sobe para 32%. Por isso, na hora de decidir a compra, preciso considerar que o custo (geralmente mais alto) do equipamento mais eficiente tender a ser amortizado com o tempo.

    IluminaoO conceito de eficincia energtica pode ser aplicado ao projeto de iluminao de uma construo. Regras simples como apagar a luz ao sair de um ambiente

    garantem economia, mas possvel ir muito alm: _ sensores de presena, dimmers e timers so bons aliados da economia de energia; _ adequar a iluminao ao tipo de uso do ambiente tambm colabora para aumentar a eficincia energtica. reas de trabalho como lavanderia, rouparia, cozinha

    e oficina necessitam de muita luz. Favorecer a entrada de luz natural e optar por lmpadas fluorescentes so medidas simples que trazem bons resultados; _quartos, corredores e restaurante podem receber uma iluminao mais amena e confortvel. Lmpadas fluorescentes compactas com tonalidade amarelada,

    que deixam o ambiente mais acolhedor, so uma boa opo. Outra possibilidade optar por lmpadas tipo led, que, apesar de mais caras, duram mais, consomem ainda menos energia, no geram calor e possibilitam um descarte sem impacto ambiental, j que no contm componentes txicos (na mesma linha dos leds, h tambm o sistema de iluminao por fibra tica, mais eficiente, embora com custo ainda elevado); _ invista em luminrias com design que oferece melhor desempenho de reflexo da luz, ou seja, mais eficiente; _ sempre que possvel, estabelea circuitos de iluminao independentes, para serem acionados conforme a necessidade do momento. Dessa maneira,

    possvel criar climas diferentes, ora mais aconchegantes, ora mais apropriados para determinado tipo de tarefa.

    Energia limpa ou de fontes renovveisSo aquelas que poluem muito menos do que as fontes de energia convencionais (carvo,

    combustveis fsseis, etc.) e esto disponveis na natureza em abundncia: sol, vento e gua, por exemplo. Em um meio de hospedagem, podem ser utilizadas em pequena escala e com autonomia em relao s grandes centrais distribuidoras de energia.

    Fotovoltaica (solar) A radiao solar pode se transformar em energia eltrica por meio de placas de clulas

    fotovoltaicas, que a armazenam em baterias. Essa energia pode ser utilizada em aparelhos eltricos e eletrnicos (de baixa voltagem, preferencialmente, para evitar o uso de transformadores). Como a tecnologia relativamente nova, seu custo ainda alto, o que pode inviabilizar o atendimento total da demanda energtica de um meio de hospedagem. Em locais desprovidos de rede eltrica, porm, uma boa opo para suprir a demanda de iluminao, com lmpadas fluorescentes compactas e do tipo LED, que so mais econmicas.

  • Cobertura translcida na lavanderia

    Orientao solar da edificao

    Vegetao usada como quebra-vento

    vento forte

    Ventilao cruzada no quarto

    brisa ou vento

    26 27

    Pense bem!As lmpadas fluorescentes compactas, ao serem ligadas, consomem 50% mais energia do que no restante do perodo em que permanecem acesas. Por isso,

    evite aplic-las em ambientes de uso rpido, como despensas e lavabos, por exemplo. Nesses casos, as incandescentes podem ser boa opo: so menos impactantes natureza e oferecem uma reciclagem mais simples. Outro ponto que merece ateno diz respeito entrada de luz natural, que, embora favorea a economia de energia com a iluminao, implica mais calor penetrando no ambiente. preciso saber dosar para no transformar o benefcio da iluminao natural em mais consumo de ar-condicionado.

    Equipamentos _Mquinas de lavar e secar, geladeiras e freezers so equipamentos comuns s lavanderias e cozinhas de um meio de hospedagem. Na hora de escolher os

    aparelhos, priorize as empresas que tm o selo Procel de economia de energia. O Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica (Procel), coordenado pelo Ministrio de Minas e Energia, foi criado para orientar o consumidor no ato da compra e classifica os produtos de acordo com o nvel de eficincia energtica._ Prefira pilhas e baterias recarregveis para controles remotos, carregadores e outros aparelhos eletrnicos._ Faa a manuteno peridica dos equipamentos e verifique se esto sendo usados de maneira adequada sua capacidade e nvel de eficincia.

    DicaA rouparia um dos itens mais importantes para o bom funcionamento de um meio de hospedagem.

    Secadoras eltricas consomem muita energia e nem sempre possvel contar apenas com o varal externo. Ao lado da lavanderia, reserve espao para construir uma estufa natural, coberta com telhas transparentes ou vidro, para instalar varais e economizar muita energia eltrica.

    Climatizao naturalUm bom projeto de arquitetura deve favorecer a luz e a climatizao naturais dos ambientes. Dessa

    forma, minimiza-se o uso de iluminao artificial e de equipamentos de climatizao (ar-condicionado, ventiladores, lareiras, etc.), gerando economia de energia e qualidade do ambiente construdo. Conhea alguns conceitos bsicos: _ projete de acordo com o clima e as diferentes estaes do ano de sua regio: um projeto feito para

    um clima tropical de altitude no to bom para um clima semirido; _ considere o movimento solar ao posicionar o edifcio no terreno: no hemisfrio Sul, as faces Norte e

    Oeste recebem maior incidncia da luz solar no perodo da tarde. J a face Leste recebe o sol da manh e a face Sul permanece menos exposta luz solar; _ escolha materiais de construo com performance de conforto trmico adequada ao clima local, ex.:

    em regies frias, um assoalho de madeira mais confortvel que um piso cermico;

    _ conhea os ventos dominantes no terreno: isso ajudar na escolha das paredes que recebero janelas e tambm na instalao de solues com funo de quebra-ventos; _ ateno s cores: tons escuros absorvem a luz e acumulam

    mais calor; cores claras refletem a luz e acumulam menos calor; _ tire proveito de elementos de arquitetura como marquises,

    beirais, pergolados, brises e paredes duplas para controlar a entrada de luz e calor na construo. Elementos naturais como vegetao e gua, na forma de jardins e espelhos dgua, tambm podem compor estratgias para uma melhor climatizao do edifcio; _ favorea a ventilao cruzada dos ambientes com a abertura

    de janelas em paredes opostas e crie tambm opes de controle de abertura para as janelas em diferentes alturas (o que ajuda a reter ou dissipar calor da edificao).

    BenefciosAlm de minimizar o consumo de energia, uma edificao

    climatizada naturalmente agrega valores ambientais e estticos ao criar um clima de conforto essencial a um empreendimento de turismo.

    InvestimentoUm bom projeto de arquitetura auxilia na climatizao do

    edifcio sem implicar custos extras. Em casos de reformas, vrios elementos favorveis climatizao natural podem ser executados com material leve (que no sobrecarrega a estrutura), natural e de baixo custo.

    Pense bem!Mesmo em regies de calor ou frio intensos, em que a

    climatizao natural no suficiente para garantir conforto aos usurios, vale a pena integrar elementos naturais ou de arquitetura para reduzir a necessidade de equipamentos que consomem energia eltrica, biomassa (lareiras) ou combustveis (como as caldeiras de calefao a gs).

  • Teto verde: corte esquemtico

    vegetao

    drenagem

    estrutura

    pilar

    terra

    impermeabilizaao

    viga

    sada de gua

    28 29

    DicaVoc j pensou em fazer o jardim subir para o telhado? exatamente essa a ideia do teto verde ou teto vivo, uma soluo que proporciona excelente isolamento

    trmico em razo da camada de terra e vegetao, garantindo temperaturas internas amenas e agradveis, mesmo nos dias de clima mais intenso. Alm disso, esse tipo de cobertura colabora para a biodiversidade, embelezamento do empreendimento e combate s enchentes ( j que retm parte da gua no telhado verde antes de esco-la para os reservatrios ou galerias). Para constru-lo, preciso considerar o peso da obra sobre a estrutura da construo, prever boa impermeabilizao e drenagem adequada. De modo geral, o teto verde mais recomendvel para as fachadas Norte e Oeste, que recebem mais sol. As espcies mais indicadas para tetos verdes so aquelas adaptadas ao clima local e que no precisam de muita terra e gua para sobreviver, como gramneas e suculentas.

    Para saber maissistemas de aquecimento de guaCidades Solareswww.cidadessolares.org.br Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Abrava (Dasol-Abrava)www.dasolabrava.org.brSociedade do Solwww.sociedadedosol.org.br

    energia limpa ou de fontes renovveisCentro de Referncia para Energia Solar e Elica Srgio de Salvo Brito (Cresesb)www.cresesb.cepel.brCentro Nacional de Referncia em Pequenas Centrais Hidreltricas (CERPCH)www.cerpch.unifei.edu.br

    eficincia energtica na iluminao e equipamentosInstituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)www.idec.org.brInstituto Nacional de Eficincia Energtica (Inee)www.inee.org.brPrograma Nacional de Conservao de Energia Eltrica (Procel)www.eletrobras.com/pci/main.asp

    climatizao naturalInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)mapas.ibge.gov.brLaura Vieira de Gouvea, Teto verde: uma proposta ecolgica e de melhoria do conforto ambiental a partir do uso de coberturas vegetais nas edificaeswww.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2008/relatorios/ctch/art/art_lauravg.pdfUniversidade Federal de Santa Catarina Projeto de normalizao de conforto trmicowww.labeee.ufsc.br/conforto

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    Edificao e sistemas MateriaisA escolha dos materiais de construo tem impacto direto no nvel de sustentabilidade de um empreendimento. Na hora da compra, preciso ter critrios

    claros para poder equilibrar fatores como custo, esttica, qualidade e desempenho ecolgico. Alm dos materiais convencionais mais conhecidos (como cimento, ferro e vidro), existem ainda os naturais (areia, pedras, madeiras, fibras vegetais), reciclveis, reciclados, reutilizados, certificados e os disponveis localmente. Cada um deles vem acompanhado de uma lista de vantagens e desvantagens socioambientais e econmicas, e saber como selecionar as melhores opes pode fazer toda a diferena em sua obra. Da extrao da matria-prima ao descarte, todo material causa impactos ambientais, mas consumir aqueles que deixam um rastro menor na natureza conta pontos importantes para a sustentabilidade.

    Materiais convencionais: consumo e uso responsvelMateriais convencionais de construo civil so aqueles mais comuns encontrados nas lojas do setor. Todo ano, milhes de toneladas desses materiais e

    suas matrias-primas so retirados da natureza, processados, embalados e transportados mundo afora, gerando uma cadeia de impactos ambientais. Por isso, preciso consumi-los com responsabilidade, evitando desperdcios.

    BenefciosReduzir o desperdcio, alm de poupar o planeta, tambm representa economia para o bolso. Para isso, vale investir num bom projeto arquitetnico e no

    planejamento da obra, alm de equipes qualificadas e capacitadas em todas as etapas da obra.

    InvestimentoUtilizar produtos sustentveis nem sempre custa mais. Com mais

    empresas concorrendo nesse mercado em expanso, a qualidade e as opes crescem, e os preos tendem a baixar. Pesquise!

    Pense bem!Procure saber se o material que voc est comprando saudvel e

    sustentvel ou tem uma verso mais ecolgica ou fabricante mais atento a essas questes. Durante o processo produtivo, esses produtos consomem gua e energia, geram resduos poluentes e emitem CO2 para a atmosfera. Materiais como tintas e vernizes, por exemplo, podem ainda emitir gases txicos ou compostos orgnicos volteis (COVs), que geram impactos tambm na sade do usurio do edifcio.

    DicaSeja um consumidor consciente. Prefira produtos de empresas que

    respeitam o meio ambiente, tm uma poltica de responsabilidade socioambiental e vo alm do cumprimento das leis. Fuja do marketing verde ou verniz verde.

    Materiais naturais e locaisSo aqueles geralmente encontrados na prpria regio em que se pretende

    construir, produzidos de forma artesanal ou com pouca industrializao. Podemos dividi-los em dois grupos: vegetais (madeira, bambu e fibras) e minerais (rochas e terra de subsolo).

    BenefciosMateriais menos industrializados demandam menos energia e gua e

    geram menos resduos em sua fabricao. Quando so tambm locais, reduzem a emisso de gases de efeito estufa para a atmosfera, porque o transporte entre a fbrica e a obra menor. Alm disso, so mais saudveis (por serem livres de produtos txicos), favorecem o conforto trmico da edificao e valorizam a cultura regional.

    InvestimentoApesar de terem preos, em geral, acessveis, os materiais naturais

    exigem mo de obra especializada, o que pode custar mais. Porm, quando colocamos na balana os benefcios, o investimento torna-se mais atrativo, inclusive para a imagem e a marca do empreendimento.

    Pense bem!Nem tudo que natural sustentvel! A madeira um bom exemplo:

    necessrio checar a origem dos produtos, para saber se vm de fontes legais, se a extrao foi feita sem prejudicar o meio ambiente e se as pessoas envolvidas no processo trabalharam em condies dignas e justas. Veja mais sobre o tema certificaes no item a seguir.

    DicaEm sua propriedade, se for necessrio fazer cortes no terreno com

    movimentos de terra, procure aproveit-la utilizando alguma tcnica de construo com terra crua. Voc poder fazer tijolos, muros, paredes, tintas e revestimentos e, ainda, economizar recursos que seriam gastos com o transporte da terra ou a compra de materiais de construo!

  • Baias para organizar o entulho

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    Materiais de construo reciclados, reutilizados e certificadosSo produtos cuja matria-prima ou parte dela vem da reciclagem ou da reutilizao. No assentamento de blocos de

    concreto e na fabricao de pisos e sarjetas, um exemplo o uso de entulho triturado como agregado, em substituio areia e brita. Pode-se tambm reciclar resduos de outras indstrias, transformando-os em material de construo, como as telhas que levam embalagens tetrapak e de creme dental. Outro tipo de produto sustentvel so os certificados, caso da celulose e madeira, que recebem o selo do Conselho de Manejo Florestal (FSC), garantindo a procedncia legal e a responsabilidade socioambiental das empresas fornecedoras.

    BenefciosProdutos reciclados e reutilizados tm a vantagem de interromper o processo de novas retiradas de matria-prima da

    natureza. Alguns oferecem tambm benefcios de qualidade, conforto ambiental e beleza, alm de, num empreendimento turstico, colaborarem para a conscientizao dos hspedes e a valorizao da marca do empreendimento.

    InvestimentoComo o mercado ainda pequeno, produtos com o diferencial da reciclagem e certificao ainda so mais caros que seus

    concorrentes convencionais. Em alguns casos, o investimento inicial mais alto se paga ao longo do tempo. o caso, por exemplo, das madeiras plsticas, feitas com plsticos reciclados e usadas em deques, escadas e mveis de jardim. Por serem resistentes ao ataque de fungos, insetos e intempries, duram muito mais do que a madeira natural.

    Pense bem!No basta o fabricante ou fornecedor dizer que o produto certificado ou reciclado. Procure saber se a empresa apresenta

    artigos tcnicos, com testes cientficos e documentos que comprovem tais informaes.

    DicaInvista na criatividade para reaproveitar materiais na prpria obra. Madeiras usadas como formas ou andaimes podem virar

    mveis para a decorao do empreendimento.

    Certificao de produtos madeireiros

    O Brasil conta com dois modelos de selos verdes para madeiras: o

    FSC, dos Estados Unidos, e o Cerflor (Certificao Florestal), do Inmetro.

    O primeiro mais conhecido e disseminado pelo Conselho

    Brasileiro de Manejo Florestal, uma organizao independente, no

    governamental, sem fins lucrativos e que representa o Forest

    Stewardship Council (FSC) no Brasil. A instituio visa promover o

    manejo e a certificao florestal no Brasil, estabelecendo regras para

    as certificadoras do Selo FSC Brasil. A obteno do selo comprova

    que houve controle na retirada de rvores, com baixo impacto

    ambiental e preocupao social. Na falta da certificao, exija de seu

    fornecedor o Documento de Origem Florestal (DOF), emitido pelo

    Ibama, que garante a legalidade da cadeia produtiva das espcies

    nativas.

    Para saber maisBanco de dados de produtos

    certificadoswww.brasil.fsc-products.orgCertificao Florestal (Cerflor)

    www.inmetro.gov.br/qualidade/cerflor.asp

    Pginas verdes: guia de compras de produtos certificados FSC:www.fsc.org.br/arquivos/

    Completo_PV.pdf

    Resduos e organizao do canteiro de obrasAlguns estudos apontam que a produo de entulho no setor da construo civil supera a

    do lixo domstico gerado por toda a populao. Isso significa impactos ambientais e de sade pblica, j que os resduos, muitas vezes, acabam se transformando em foco de proliferao de doenas. Um canteiro de obras organizado o primeiro passo para evitar desperdcios e facilitar a reciclagem e a reutilizao dos materiais. A separao dos resduos por tipo (madeiras, plsticos, papis, metais, etc.) pode reduzir significativamente o volume de entulho gerado na sua obra. Dessa maneira, uma parte poder ser reutilizada na prpria obra (restos de tijolos, telhas e concreto, por exemplo, podem ser usados na construo de aterros), e o restante ser mais facilmente enviado para empresas recicladoras. A Resoluo 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece diretrizes, critrios e procedimentos para a gesto dos resduos da construo civil. Informe-se!

    Pense bem!Mo de obra qualificada significa mais eficincia e menos desperdcio. Valorize o trabalhador da construo civil: contrate empresas e profissionais conscientes

    da importncia do uso de equipamentos de segurana e que estejam em conformidade com as leis trabalhistas. Lembre-se: a sustentabilidade deve ocorrer sempre em trs nveis: ambiental, econmico e social.

    DicaAproveite madeiras, tijolos e metais descartados na obra para construir baias de armazenagem, que facilitaro a separao dos resduos da construo.

    Mobilirio, decorao e equipamentos A busca pela sustentabilidade no deve terminar junto com a obra. Na hora de mobiliar, equipar e decorar o seu empreendimento, procure manter a coerncia

    dos princpios e valores que nortearam o seu projeto at aqui. Seja criterioso nas compras dos produtos a serem utilizados pelos funcionrios e hspedes: _ evite produtos com substncias txicas, nocivas ou que tenham processos de fabricao e descarte poluentes; _ d preferncia a produtos fabricados com baixo consumo de gua e energia e que no gerem resduos prejudiciais ao meio ambiente; _ em produtos madeireiros, verifique se a origem legal e priorize madeira de reflorestamento e/ou certificada; _ d preferncia a empresas que possuam programas de responsabilidade social para funcionrios e que patrocinem projetos sociais; _ priorize fabricantes com polticas de reduo e compensao de carbono; _ prefira produtos que possam ser reciclados ao final de sua vida til; _ pense na durabilidade do produto e no economize na qualidade; _ valorize a arte e o artesanato locais. Alm de deixar seu empreendimento mais charmoso, voc contribui para a gerao de trabalho e renda em sua regio.

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    Para saber mais materiais convencionais: consumo e uso responsvelCatlogo de produtos sustentveis da Fundao Getulio Vargas (FGV)www.catalogosustentavel.com.brConselho Brasileiro de Construo Sustentvelwww.cbcs.org.brGuia de boas prticas na construo civilwww.santander.com.br/sustentabilidade

    materiais naturais e locaisAssociao Brasileira de Construtores com Terra (ABCTerra): www.abcterra.com.brInstituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ipec): www.ecocentro.orgTecnologia Intuitiva e Bio-Arquitetura (Tib): www.tibarose.com

    materiais de construo reciclados, reutilizados e certificadosConselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil): www.fsc.org.brInstituto para o Desenvolvimento da Habitao Ecolgica: www.idhea.com.brSelo SustentaX: www.selosustentax.com.br

    resduos e organizao do canteiro de obrasCentro de Informaes sobre Reciclagem e Meio Ambiente (Recicloteca)www.recicloteca.org.brResoluo 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) resduos da construo civil: www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.htmlSrgio Eduardo Zordan (Poli-USP), Entulho da indstria da construo civilwww.reciclagem.pcc.usp.br/entulho_ind_ccivil.htm

    mobilirio, decorao e equipamentosServio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)www.sebrae.com.br/setor/artesanato

    Edificao e sistemas Ambientes saudveisConstruir de forma mais sustentvel colabora tambm para a sade das pessoas que iro utilizar o edifcio. A seguir, apresentamos os principais aspectos

    de uma construo que podem interferir na salubridade dos ambientes.

    Qualidade do arEm um meio de hospedagem, quando o assunto qualidade do ar interno, os espaos que mais merecem ateno so os quartos. Durante a hospedagem, os

    clientes passam a maior parte do tempo nesses ambientes. Substncias como os compostos orgnicos volteis (COVs) so os principais inimigos da salubridade de um quarto. Eles esto presentes em tintas, vernizes e colas usados, principalmente, em mveis, portas e janelas. Quando o ambiente novo, podem ser percebidos pelo olfato como cheiro de tinta fresca. Mas alguns permanecem no ar muito tempo depois de terem sido aplicados. Eles poluem o ar, afetam a camada de oznio e, em ambientes fechados, podem causar problemas respiratrios, alergias e dores de cabea, especialmente em pessoas mais sensveis. Uma opo buscar produtos com baixa ou nenhuma emisso de COVs, que comeam a surgir no mercado. o caso das tintas minerais com emisso zero de COVs e das colas base de resina vegetal de mamona.

    Carpetes, tapetes, estofados e outros produtos com fibras sintticas tambm podem emitir ao ambiente, durante toda a sua vida til, pequenas partculas poluentes que ficam em suspenso e so aspiradas pelas pessoas. Por isso, d preferncia a fibras e tecidos naturais, isentas dessas substncias. Ateno tambm para tecidos e colches tratados com produtos anti-manchas e anti-chamas: eles contm compostos halogenados e qumicos sintticos, e devem ser evitados.

    Boa ventilao e iluminao natural tambm colaboram para um ambiente mais saudvel. Nos casos de climatizao com ar-condicionado, importante fazer a manuteno peridica do equipamento, para evitar o aparecimento de fungos e bactrias. Carpetes e tapetes, da mesma forma, devem ser higienizados regularmente.

    Umidade e mofoPara ser saudvel, todo ambiente deve manter a umidade do ar equilibrada. Tintas e revestimentos de base petroqumica criam uma pelcula nas paredes

    que impede a troca de umidade do ar externo com o ar interno. J tintas minerais base de cal, solo e silicatos no plastificam as paredes e permitem que elas respirem. Essa troca de ar aliada a uma boa impermeabilizao da fundao da construo evita o aparecimento de mofo e bolor, prejudiciais sade.

    DicaArmrios e gavetas com cheiro de mofo devem ser limpos com gua e vinagre. Para evitar o problema, prefira portas com venezianas ou aberturas de

    ventilao.

    Para saber maisInmetro, Qualidade do ar em estabelecimentos de uso pblico e coletivo: www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/qualidadedoAr.asp

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    Edificao e sistemas Acessibilidade e desenho universalA acessibilidade um indicador da sustentabilidade. Estar preparado para acolher a diversidade humana significa projetar de olho na acessibilidade, pois receber

    bem pressupe respeito no apenas aos portadores de necessidades especiais que, no Brasil, representam 14,5% da populao (de acordo com o Censo de 2000) mas tambm s pessoas com mobilidade reduzida (ainda que temporria), gestantes e idosos. Nas edificaes de uso coletivo e prestadoras de servios, a acessibilidade regulamentada pela Lei Federal no 10.098, de 2000.

    Para garantir a incluso em um meio de hospedagem necessrio evitar barreiras fsicas (arquitetnicas, principalmente) e de comunicao, entre outras, que possam inibir ou constranger o acesso dessas pessoas a quaisquer reas do empreendimento. A norma da ABNT NBR 9050, de 2004, estabelece que, em relao aos hotis, pelo menos 5% do total de dormitrios com sanitrio devem ser acessveis (tendo, no mnimo, um acessvel) e, ainda, recomenda que outros 10% do total de dormitrios sejam adaptveis para a acessibilidade.

    Desenho universalPara garantir a convivncia, preciso eliminar as barreiras arquitetnicas e de uso dos equipamentos. Construir de forma a atender s normas de acessibilidade

    mais barato do que adaptar espaos existentes. Cabe ao arquiteto conhec-las para prever uma edificao acessvel e agradvel a todos, com segurana e autonomia. Uma das chaves o desenho universal, conceito que busca tornar ambientes e produtos acessveis e manipulveis a todas as pessoas, independentemente de sua condio fsica, idade e caractersticas pessoais. So princpios do desenho universal:1- equiparao das possibilidades de uso de espaos, objetos e produtos a pessoas com habilidades diferenciadas; 2- flexibilidade no uso, com um design que atenda a uma ampla gama de indivduos, preferncias e habilidades; 3- uso simples e intuitivo, de fcil compreenso, independentemente de experincia, conhecimento, habilidade de linguagem ou nvel de concentrao;4- informao de fcil percepo, comunicada eficazmente ao usurio, independentemente de sua capacidade sensorial ou de condies ambientais; 5- tolerncia ao erro, com reduo de riscos e consequncias adversas de aes acidentais ou imprevistas; 6- mnimo esforo fsico, para ser utilizado de forma eficiente e confortvel;7- abrangncia, com espaos e dimenses apropriados para interao, alcance, manipulao e uso, independentemente de tamanho, postura ou mobilidade do usurio.

    Para casos de adaptao do empreendimento turstico, existem inmeros equipamentos destinados acessibilidade, de plataformas verticais (elevadores) a produtos com comunicao em Braille. Vale lembrar que os funcionrios devem ser treinados para atender as pessoas portadoras de necessidades especiais com respeito, interesse e atitude positiva. No ato da reserva de um quarto, importante que sejam feitos todos os esclarecimentos acerca da estrutura do meio de hospedagem e das necessidades e expectativas do hspede portador de deficincia.

    Pense Bem!A acessibilidade inclui gestantes, idosos, pessoas com mobilidade reduzida temporria, enfim, uma grande parte da populao. Por isso, preparar seu empreendimento

    para receber essas pessoas representa uma tima oportunidade de negcios.

    DicaSe o seu empreendimento est se preparando para a acessibilidade, inclua a opo de quartos e espaos especiais para a hospedagem de deficientes visuais

    acompanhados de co-guia.

    Edificao e sistemas Certificaes de construo sustentvel Selos de construo sustentvel so, alm de diferenciais de mercado, uma forma de reduzir os custos de operao da edificao (com gua, energia e

    manuteno, entre outros), por meio da adoo de tecnologias ecolgicas, que ainda acrescentam construo qualidade e conforto aos usurios. No Brasil, so dois os selos disponveis atualmente: o AQUA e o LEED, que apresentamos a seguir.

    AQUA (Alta Qualidade Ambiental)Esse sistema de certificao gerenciado pela Fundao Vanzolini e resultado de uma adaptao

    do sistema francs Haute Qualit Environnementale realidade brasileira. O selo prev a anlise da perfomance do empreendimento em 14 categorias de critrios, divididos nos grupos Eco-construo, Gesto, Conforto e Sade. Cada um deles classificado como bom, superior ou excelente nas trs fases do projeto: programa, concepo e realizao. Para obter o selo necessrio ser bom em todos os critrios e atingir, no mnimo, quatro marcas no nvel superior e trs no nvel excelente.

    Para saber maisFundao Vanzolini: www.vanzolini.org.br/conteudo.asp?cod_site=0&id_menu=493

    LEED (Leadership in Energy and Environmental Design)O sistema de certificao LEED foi criado pelo Conselho de Green Building dos EUA (USGBC) e adaptado

    para a realidade brasileira pela filial Green Building Council Brasil entidade criada para promover e disseminar tecnologias, materiais, processos e procedimentos mais sustentveis na construo civil. Construes que conquistam o selo LEED (da sigla em ingls que significa Liderana em Energia e Design Ambiental) so mais eficientes no uso de recursos como gua e energia e geram menos impactos socioambientais durante todo o seu ciclo de vida.

    Para saber maisGreen Building Council Brasil: www.gbcbrasil.org.br

    Para saber maisacessibilidade e desenho universalABNT NBR 9050:2004 (ABNT): www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=1000Acessibilidade Brasil: www.acessobrasil.org.brDecreto Lei no 5.296/2004: www.planalto.gov.br/ccivil/_ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htmLei Federal no 10.098/ 2000: www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L10098.htmRede Saci (Solidariedade, Apoio, Comunicao e informao): www.saci.org.br

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    terreno e entorno

    entenda o seu bioma e a sua biorregioimplantao geral

    paisagismo funcionalproduo de alimentos orgnicos

    impermeabilizao, drenagem e infiltraoreflorestamento e recuperao de reas degradadas

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    Terreno e entornoO lugar a grande condicionante que d forma arquitetura e ao empreendimento turstico, pois ele concentrar todas as escolhas feitas durante

    a construo: materiais, tipo de arquitetura, sistemas de gua e energia, categoria do meio de hospedagem, etc. O lugar do empreendimento deve ser compreendido como o terreno, seu entorno imediato e tambm sua regio. Para elaborar o plano de negcios do empreendimento, fundamental que o empreendedor e seus funcionrios possam conhecer e entender profundamente o lugar onde ele est ou ser implantado.

    Quando o assunto sustentabilidade, mais do que nunca necessrio ter ateno na hora de escolher e comprar o terreno. Especialmente quando se fala em ecoturismo, os meios de hospedagem mais interessantes costumam ser aqueles que tm por perto atrativos naturais como cachoeiras, paisagem de montanha ou beira-mar. No por acaso, muitas dessas reas no Brasil so protegidas por leis ambientais que restringem ou mesmo probem o uso da terra. Portanto, antes de adquirir o terreno, faa um levantamento das legislaes ambientais que incorrem no local, a fim de garantir que seu empreendimento esteja em plena conformidade com a lei. Outro cuidado importante verificar se o terreno no tem histrico de contaminao, o que poderia comprometer parcial ou totalmente a viabilidade do seu negcio.

    Terreno e entorno Entenda o seu bioma e a sua biorregioUm meio de hospedagem instalado na Amaznia no pode ter as mesmas caractersticas de outro construdo no Sul do Brasil. preciso adequar o

    empreendimento ao bioma em que ele se encontra. Bioma um conjunto de ecossistemas e populaes de fauna e flora com caractersticas especficas definidas pelo clima, solo e altitude. No Brasil, os principais biomas (Amaznia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlntica, Pantanal e Pampa) definem as caractersticas mais gerais de cada lugar, mas cada regio ter suas peculiaridades. Por isso, o conceito de biorregio pode ser um bom aliado. Uma biorregio formada por territrios com afinidades de critrios biolgicos, sociais, culturais, econmicos e geogrficos e difere, algumas vezes, das microrregies estabelecidas pelos estados de acordo com critrios geopolticos. Quando se pensa em sustentabilidade, a biorregio ganha ainda mais sentido, pois acrescenta uma viso mais abrangente do territrio, que permite encontrar solues locais mais adequadas s comunidades e suas afinidades e vocaes, considerando tambm as caractersticas ambientais do lugar. Entender a biorregio traz benefcios para o meio de hospedagem e fortalece o destino turstico ao promover e valorizar suas caractersticas nicas.

    Para saber maisBiomas brasileiros: www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/biomas Biorregionalismo: pt.wikipedia.org/wiki/biorregionalismo

    Conhea e valorize a cultura localEstudar a histria e os ciclos econmicos de uma regio, conhecer os grupos de imigrantes e migrantes que influenciaram a cultura local e visitar as

    comunidades tradicionais (indgenas, quilombolas, caiaras, seringueiros, entre outros grupos que mantm uma relao ancestral com o territrio em que vivem) so formas de entender mais profundamente a regio que acolhe ou acolher seu empreendimento turstico. Alm de incorporar elementos regionais na arquitetura e na decorao, o seu meio de hospedagem pode colaborar com a cultura e a economia locais. Para isso, veja algumas sugestes: _ crie uma lojinha ou show room de divulgao de artigos produzidos localmente: artesanato, roupas, acessrios, produtos alimentcios como doces e geleias,

    entre outros; _ participe, apoie e divulgue o movimento cultural da regio; _ se houver uma estrutura bsica promova apresentaes musicais, saraus e exposies, transformando o empreendimento num ponto cultural; _ favorea a troca de saberes entre hspedes e agentes culturais, criando um espao de oficinas e palestras.Uma cultura local viva sinal de sustentabilidade. Mas lembre-se: esse processo deve ser dinmico. Valorizar a cultura local no seu empreendimento no

    significa emoldur-la e coloc-la na parede. preciso mant-la presente no dia a dia!

    Para saber maisMinistrio da Cultura: www.cultura.gov.br/cultura_viva Revista Eletrnica de Turismo Cultural: www.eca.usp.br/turismocultural

  • Preserve a mata ciliar, no construa junto aos rios

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    Patrimnio histricoMeios de hospedagem que ocupam edifcios de interesse histrico patrimonial, tombados ou no, so casos muito especiais, que merecem ateno redobrada

    nas reformas. Alm dos cuidados com a sustentabilidade, preciso atentar para as questes de patrimnio, que envolvem esttica, manuteno, conservao e restauro. Procure sempre por profissionais que conheam as tcnicas construtivas tradicionais e somente realize a reforma aps a autorizao dos rgos competentes municipais, estaduais e federais.

    Para saber maisCentro de Estudos Avanados de Conservao Integrada (Ceci): www.ceci-br.org/ceci Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan): www.iphan.gov.br

    Terreno e entorno Implantao geralEm termos de projeto arquitetnico do empreendimento, o primeiro passo consiste no mapeamento total do terreno, que ir estabelecer as vocaes de cada

    rea, considerando a paisagem, o tipo de solo, o sombreamento, a direo do vento, as inclinaes do terreno, o caminho das guas, a facilidade de acesso e, finalmente, o ajuste ao programa funcional do meio de hospedagem estabelecido previamente no plano de negcios. No caso dos terrenos urbanos, tambm importante atender s regras de recuos e taxas de ocupao do solo previstas nas leis municipais.

    Na fase de implantao, imprescindvel checar se o terreno incide sobre alguma rea de Preservao Permanente (APP), onde proibido construir ou realizar qualquer tipo de interferncia. Por sua importncia ecolgica e social, matas ciliares, nascentes, topos de morro, reas de mananciais e encostas com mais de 45 graus de declividade so consideradas APPs e esto protegidas pela Lei Federal no 4.771/65, que institui o Cdigo Florestal (alterada pela Lei Federal no 7.803/89), em seus artigos 2o e 3o, alm da Resoluo no 303/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

  • Em um terreno inclinado, melhor fazer vrios patamares

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    Aps a fase de diagnstico, inicia-se o zoneamento do terreno, em que so escolhidas e dimensionadas as reas edificveis, inclusive com previso de reas para futuras expanses o que evitar, por exemplo, construir uma piscina ou reflorestar uma mata em local que seria mais apropriado para receber uma nova edificao. Temporariamente, reas reservadas para etapas no mdio e longo prazos podem receber um gramado ou um jardim de plantas (fceis de serem transplantadas). As reas no edificveis tambm devem ser mapeadas na fase de zoneamento. o caso de jardins, reas de lazer e para a produo de alimentos, caminhos e acessos, e reas de reflorestamento.

    Outro aspecto importante aproveitar ao mximo a topografia original do terreno, evitando grandes retiradas de terra, que, alm de encarecer a obra, descaracterizam o perfil natural do terreno e podem gerar problemas futuros com drenagem e eroso.

    Pense bem!Se o seu terreno est dentro de uma rea protegida ou unidade de conservao, importante que voc conhea os limites de suas interferncias, pois

    atividades e usos nesses locais esto sujeitos a um disciplinamento especfico. A Lei Federal no 9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), estabelece regras para cada categoria de UC, de parques nacionais e reservas extrativistas a reas de proteo ambiental (APA). De modo geral, as unidades de conservao tm como objetivo bsico proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

    Para saber maisLei Federal no 4.771/65/2002: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4771.htm Lei Federal no 9.985/2000: www.mma.gov.br/estruturas/sbf_dap_cnuc2/_arquivos/snuc.pdf Resoluo no 303 do Conama: www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30302.html

    Terreno e entorno Paisagismo funcional aquele que utiliza plantas com caractersticas especficas para o cumprimento de determinadas funes. So vrios os exemplos: amendoim e capuchinha

    (nastrcio) so forrageiras de baixa manuteno e podem servir de alimento; o gergelim atrai insetos e evita que outras plantas sejam atacadas; o cravo-de-defunto libera substncias que afastam pragas do seu entorno; e as razes do capim-vetiver ajudam a reter o solo e, assim, evitam a eroso. Em alguns casos, a escolha das plantas pode estar associada a uma funo que se deseja cumprir em conjunto com o projeto arquitetnico. o que acontece com os telhados verdes que retm parte da gua de chuva e melhoram o conforto trmico no interior do edifcio e dos pergolados com plantas que produzem sombra no vero e perdem as folhas no inverno, permitindo a passagem da luz do sol. Plantas flutuantes em reas alagadas (vitria-rgia, ltus, alface dgua, entre outras) tambm so bem versteis: alm do aspecto esttico, purificam a gua servida nos chamados banhados construdos e produzem uma enorme quantidade de biomassa que pode ser usada como cobertura de solo e adubo. Como regra geral, procure escolher plantas que cumpram no mnimo duas funes alm da ornamental. Quanto mais funes elas puderem realizar no seu sistema paisagstico, mais resistente, produtivo e resiliente ele ser.

    Benefcios Um paisagismo funcional exige menor manuteno, gera economia de recursos, cumpre funes adicionais s do paisagismo convencional e colabora para a

    integrao com o ambiente local.

    Investimento O Investimento inicial equivalente aos convencionais no que se refere implantao. Mas, no longo prazo, passa a ser muito menor em virtude dos

    benefcios que proporciona e que no seriam alcanveis em sistemas convencionais.

    Pense bem!Seja criterioso na seleo de reas para implantao de gramados. Apesar de cumprirem funes de lazer e estar, exigem manuteno constante e alto

    consumo de gua.

    DicaConhea a fauna e a flora de sua regio e valorize-as em seu jardim. Escolha plantas que atraiam pssaros, mamferos, insetos polinizadores e outros animais

    caractersticos de sua biorregio. Assim, o ecossistema local ser mais preservado, seu jardim pedir menos manuteno pois as plantas locais j esto adaptadas ao clima e ao solo e o turista ficar muito satisfeito ao abrir a janela de seu quarto e ver um pssaro tpico da regio se alimentando no jardim!

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    Terreno e entorno Produo de alimentos orgnicosAtualmente, a agricultura percebida por uma parte expressiva da populao como uma atividade de impactos negativos ao ambiente: uso em larga escala

    de agrotxicos, perda da biodiversidade das espcies cultivveis, eroso e assoreamento de rios. Em contrapartida, a agricultura de base ecolgica mostra que possvel produzir alimentos saudveis em espaos pequenos ou grandes, sem a necessidade de fertilizantes qumicos ou agrotxicos. Alis, nada pode convencer mais um cliente do frescor de seu alimento do que v-los sendo produzidos. Cultivar alimentos tambm uma atividade que aproxima as pessoas da terra e de seus ciclos naturais, j que exige ateno ao regime de chuvas, insolao nas diferentes estaes do ano, ao germinar das novas sementes e to esperada colheita. Por fim, voc ainda se sentir muito grato em poder ofertar um alimento extremamente saudvel e sustentvel.

    Agricultura orgnica, ecolgica e agroflorestaApesar de terem como pano de fundo a produo de alimentos limpos (sem agrotxicos), a agricultura ecolgica e a agricultura orgnica so sensivelmente

    diferentes. Enquanto a orgnica trata pura e simplesmente da abolio do uso de fertilizantes qumicos e agrotxicos permitindo o cultivo de uma ou poucas espcies em grandes extenses (monocultivo) , a agricultura ecolgica lana mo de uma srie de estratgias para fortalecer o equilbrio ecolgico da rea cultivada, tais como: utilizar uma grande diversidade de espcies vegetais, integrar espcies vegetais e animais, aumentar a fertilidade do solo com o uso de recursos locais, proteger as plantaes das intempries e incorporar saberes tradicionais aos conhecimentos mais modernos de produo.

    natural, portanto, que os meios de hospedagem engajados numa melhoria de sua relao socioambiental busquem inspirao para a produo de alimentos numa base ecolgica, que possa garantir, de um lado, alimentos livres de agrotxicos e, de outro, um ambiente ecologicamente mais rico e saudvel.

    Benefcios A produo de base ecolgica proporciona alimentos frescos e saudveis, protege o solo e a gua, gera

    aumento na confiana da clientela e fortalece a identidade do empreendimento, ao produzir alimentos tpicos da culinria regional.

    InvestimentosA escolha de espcies e da forma de cultivo determina quanto tempo

    voc ir investir nessa empreitada. Se tempo for um fator limitante, prefira espcies perenes locais de baixa manuteno, mais resistentes do que variedades no habituadas ao clima local. Se espao no for um problema, saiba que possvel reflorestar e at mesmo recuperar reas degradadas enquanto se produz alimentos, madeira, fibra, remdios e flores. So os chamados sistemas agroflorestais, em que se faz o manejo sustentvel de uma srie de espcies florestais, vegetais e animais. As agroflorestas exigem mais investimento no incio, mas trazem benefcios e rendimentos de longo prazo, alm de baixa manuteno no futuro.

    Pense bem!Se voc deseja produzir alimentos orgnicos na rea de seu empreendimento, procure refletir sobre o espao e os recursos disponveis e, ainda, sobre a parcela da demanda alimentcia que pretende atender. Talvez seja difcil produzir o suficiente para suprir todo o consumo durante a temporada. Nesse caso, conte com o apoio de agricultores locais e aproveite a oportunidade para envolver a populao do entorno e incentivar a formao de associaes e cooperativas de produtores orgnicos, que podero fortalecer a economia local. Conhea o microcrdito oferecido pelo Santander no site www.santander.com.br/sustentabilidade.

    Se seu espao ou tempo so limitados, lembre-se dos temperos e plantas medicinais. Eles podem ser facilmente incorporados no dia a dia de sua cozinha e farmcia natural. Se voc produz hortalias ao longo do ano, invista em tcnicas de compostagem para transformar os resduos orgnicos de seu empreendimento (restos de alimentos, aparas de grama e podas de jardim) em adubo natural. fcil e os resultados so incrveis.

    DicaO Brasil um enorme celeiro de agrobiodiversidade que vem perdendo fora com a introduo de sementes produzidas de maneira uniforme para produo

    em larga escala. Por isso, se for necessrio adquirir sementes ou mudas para dar incio ao seu cultivo, valorize aquelas cultivadas por vizinhos da regio. Ajude a manter nossa riqueza!

    Para saber maisAgrofloresta.net: www.agrofloresta.net Instituto Biodinmico: www.ibd.com.br/Rede Ecovida de Agroecologia: www.ecovida.org.br/

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    Terreno e entorno Impermeabilizao, drenagem e infiltrao A implantao de um empreendimento pode alterar de maneira significativa a capacidade de infiltrao de gua no solo, desequilibrando o ciclo hidrolgico

    local. reas impermeabilizadas dificultam o escoamento da gua de chuva. As enchentes modernas so, em grande parte, resultado desse processo: a gua da chuva escoa pelas ruas e galerias em direo aos fundos de vales antigas vrzeas que comportavam o volume extra dos rios na poca da cheia, mas que hoje, especialmente em reas urbanas, encontram-se habitadas. Telhados verdes e sistemas de captao de gua de chuva so exemplos de estratgias que podem ser usadas no sentido de reter essa gua. Idealmente, essas solues devem ser complementadas por outras que permitam a reteno e infiltrao de gua no solo, como jardins de chuva e pavimentos drenantes. Imitar o que ocorre na natureza uma forma de melhorar a integrao do ambiente construdo com o ambiente natural.

    Jardins de chuvaSo jardins criados sobre uma depresso escavada no solo, com o propsito de reter a gua de chuva coletada em calhas de telhados ou escoada pela

    drenagem do terreno. Em geral, esses jardins recebem espcies de plantas de baixa manuteno e resistentes aos perodos de intensa umidade e, do mesmo modo, s pocas de seca. Em alguns casos, os jardins de chuva podem ter sua capacidade de armazenamento ampliada com o aprofundamento da escavao e o preenchimento do fundo da vala com brita.

    BenefciosEm pequena ou larga escala, alm de oferecer jardins perenes de baixa manuteno, que podem servir de hbitat para pssaros, borboletas e insetos, os

    jardins de chuva protegem as reas situadas em fundos de vale e sujeitas a inundao, permitem a recarga do lenol fretico e dispensam regas frequentes. Tm a vantagem de impedir que poluentes sejam transportados at o sistema de drenagem urbano e, de l, para os rios e crregos locais. Por fim, um tipo de paisagismo que tambm funciona como elemento altamente educativo.

    Investimento Em termos de custos, os jardins de chuva se equiparam aos convencionais, e ainda apresentam vantagens e funes que superam qualquer paisagismo

    mais tradicional.

    Pense bem!Em todo o territrio nacional, a aprovao de projetos de construo pelas prefeituras est condicionada criao de espaos permeveis no terreno. Muitas

    vezes, porm, essas reas acabam destinadas a gramados, cuja permeabilidade diminui ao longo do tempo, de tal forma que sua capacidade de infiltrao chega a ser nula quando expostas ao trnsito de pedestres. Jardins de chuva permitem uma permeabilidade duradoura e, de quebra, geram manuteno muito menor do que os mesmos gramados.

    Quando isolados, os jardins de chuva podem no parecer surtir grande efeito, em termos de volume total retido. Mas imagine toda a vizinhana com jardins desenhados para reter gua de chuva!

    DicaEm geral, as espcies nativas so as mais adequadas para os jardins de chuva, j que esto naturalmente habituadas s condies climticas locais. Na

    hora de escolher o local de implantao do jardim, fique atento s diferentes condies de insolao ao longo do ano. O ideal instalar o jardim numa rea que permanea ensolarada durante a poca de chuva para facilitar a evapotranspiraco e, no perodo seco, proporcione sombra ou meia-sombra. Se isso no for possvel, escolha variedades resistentes.

    Para saber maisPrograma Ecoprtico (TV Cultura): ecopratico.com.br/blog/2009/04/como-fazer-um-jardim-de-chuva

    Pisos drenantes e drenagem natural do terrenoreas pavimentadas para trnsito de pedestres e veculos representam uma enorme parcela do total de reas impermeveis em empreendimentos. Mas

    existem alternativas para transform-las em aliadas do ciclo hidrolgico local. H vrios tipos de pavimentos drenantes que permitem a infiltrao de gua no solo desde blocos e placas pr-moldadas at pavimentos asflticos especiais e concretos preparados localmente com agregados especficos. O importante saber adequar o tipo de piso ao perfil de uso. Privilegie superfcies regulares para pedestres e restrinja opes como o clssico concregrama para reas de trnsito de veculos.

    BenefciosPisos drenantes possibilitam a recarga do lenol fretico, reduzem o volume de gua a ser incorporada em elementos de drenagem o que diminui tambm

    os custos com drenagem e permitem a irrigao ativa do paisagismo local.

    InvestimentoPisos drenantes custam mais do que pavimentaes convencionais. Em contrapartida, oferecem um retorno direto na reduo de custos com instalaes

    convencionais de drenagem.

  • Estratgia de infiltrao de gua em estacionamentos

    pavimento drenante

    o excedente da gua vai para canais de infiltrao

    manta drenante

    terra no compactada

    areia

    brita grada

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    Pense bem!To importante quanto a permeabilidade do piso a permeabilidade da base onde ele ser aplicado. possvel aumentar a capacidade de infiltrao usando

    uma camada de brita grada entre a base e o piso permitindo a infiltrao lenta, mesmo aps a chuva.

    DicaApesar de o piso drenante permitir a passagem de gua, a quantidade de gua infiltrada depende essencialmente da capacidade de infiltrao da camada

    de solo abaixo do piso. A partir do ponto de saturao, em que a gua deixa de infiltrar, a gua precipitada passa a escoar sobre o piso e direcionada para o sistema de drenagem local. a que entra a chamada drenagem sustentvel, cujo objetivo a gesto apropriada dos recursos hdricos, em especial no meio urbano. Para isso, sempre que possvel, em vez de despachar a gua para a rede de escoamento pluvial, direcione-a para outros elementos complementares, como pequenos lagos ornamentais ou canais de infiltrao, criando espaos adicionais para gua da chuva ser infiltrada.

    Para saber maisInfraestrutura verde: www.usp.br/fau/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/aut0221/Trabalhos_Finais_2007/Infra-estrutura_Verde.pdfMaria Teresa Marques, Pisos drenantes que absorvem gua: novaurbis.blogspot.com/2008/04/pisos-drenantes-que-absorvem-gua.htmlRicardo de Sousa Moretti (PUC-Campinas), Estacionamento-parque: qualificao paisagstica: www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/116/imprime35396.asp

    Terreno e entorno Reflorestamento e recuperao de reas degradadasQuando o meio de hospedagem est situado em um terreno grande e em rea rural,

    possvel criar reas de reflorestamento, que devem ser previstas no mapeamento da implantao geral. reas erodidas ou com solo empobrecido por sucessivos plantios de agricultura agressiva tambm podem ser recuperadas em nome do equilbrio ecolgico tanto para reflorestamento como para outros tipos de usos, inclusive para uma agricultura mais sustentvel.

    Nesses casos, prefira sempre mudas de rvores nativas, que serviro de apoio biodiversidade da regio. Se possvel, use ferramentas de educao ambiental para sensibilizar e integrar os hspedes e visitantes s atividades na terra. Para isso, busque a ajuda de entidades ambientalistas de sua regio, que podero ser parceiras do seu empreendimento nesse processo.

    DicaVoc j ouviu falar de RPPN? A sigla significa Reserva Particular de Patrimnio Natural.

    Trata-se de uma categoria de unidade de conservao (como os parques e florestas nacionais) criada pelo governo federal para possibilitar a conservao da biodiversidade em reas privadas. A criao de uma RPPN voluntria e pode englobar total ou parcialmente uma rea sem que isso implique perda do direito de propriedade. O maior ganho para o meio ambiente, mas o proprietrio tambm ter benefcios, tais como iseno de alguns impostos, facilidade em obter crditos do Fundo Nacional de Meio Ambiente, oportunidade de ganhos financeiros com atividades de ecoturismo e educao ambiental, entre outros.

    Para saber maisClick rvore: www.clickarvore.com.brEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) Curso de recuperao de reas degradadas: www.cnps.embrapa.br/solosbr/pdfs/curso_rad_2008.pdf Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBIO): www.icmbio.gov.br/rppn

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    funcionamento

    para organizar as comprasgesto de resduos

    transportesistemas de gesto sustentvel

    sensibilizao para a sustentabilidade

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    FuncionamentoO funcionamento de um meio de hospedagem a alma do empreendimento. Diz respeito ao atendimento, mo de obra, aos produtos e servios oferecidos

    aos clientes e a todos os procedimentos rotineiros da compra de suprimentos aos cuidados com os resduos. Todo meio de hospedagem deve seguir um plano de gesto do empreendimento, com estudos sobre a capacidade de atendimento, o pblico previsto, a ocupao esperada e o tamanho da equipe de funcionrios (com qualificao, cargos e responsabilidades distintos), entre outros. Hotelaria administrao de detalhes que fazem a diferena e, por isso, requer capacitao e aprendizado contnuo dos trabalhadores, para garantir a qualidade e a satisfao das necessidades, o conforto e o bem-estar dos hspedes.

    A gesto sustentvel, num primeiro momento, pode parecer uma complicao a mais para o funcionamento do empreendimento que j complexo por natureza. Mas o fato que incorporar boas prticas de sustentabilidade pode ajudar a organizar melhor o dia a dia e, certamente, gerar benefcios para o empreendimento, funcionrios, clientes, fornecedores e para o meio ambiente. Critrios de consumo consciente no setor de compras (do enxoval e amenities aos itens alimentcios), por exemplo, podem at consumir mais tempo e trabalho na fase de busca de fornecedores afinados com a sustentabilidade. Mas, uma vez conquistada uma lista de produtos e empresas fornecedoras, a gesto das compras passa a significar vantagens que vo da economia de recursos naturais e financeiros at o aumento na qualidade dos produtos e servios oferecidos o que, sem dvida, conta pontos com os clientes.

    Assumir a sustentabilidade como um compromisso empresarial mais do que um diferencial de mercado. um bem que o seu negcio oferece para muito alm de suas fronteiras. Neste captulo, apresentamos uma srie de tpicos referentes rotina de um meio de hospedagem, que podem funcionar como catalisadores da sustentabilidade.

    Funcionamento Para organizar as comprasAs compras que abastecem um meio de hospedagem devem ser feitas de acordo com um planejamento, que envolve pesquisa de preos, escolhas criteriosas

    e boas relaes comerciais. Um planejamento adequado pressupe otimizar as compras, evitar deslocamento, transporte e embalagens desnecessrios, combater excessos e perdas de produtos perecveis, alm da criao de regras para o consumo e o descarte de embalagens. Alguns princpios podem facilitar a prtica desses cuidados. So eles: _ valorizar a economia local, privilegiando o consumo de bens produzidos em sua regio; _ dar preferncia a produtos orgnicos, reciclveis, reutilizveis e provenientes de redes de comrcio justo (que garantem preos justos ao produtor, condies

    dignas aos trabalhadores e produtos de qualidade); _ realizar negociaes baseadas em valores que privilegiem o bem comum e no apenas a satisfao dos interesses individuais ou do empreendimento; _ organizar-se com outros empreendedores para a realizao de compras coletivas, que podem reduzir custos e otimizar transporte; _ adotar critrios de consumo consciente, ou seja, que levem em considerao os impactos provocados pelo consumo (da fabricao ao descarte do produto). Para isso, antes de comprar, vale refletir sobre o que consumir, como e por que consumir e, ainda, de quem consumir. O preo no deve ser o nico fator

    determinante. Critrios como origem, qualidade, durabilidade, praticidade e reciclabilidade tambm devem ser considerados.

    Consumo conscientePara orientar o consumidor e facilitar a escolha de produtos mais sustentveis que causam menos impactos socioambientais e colaboram para a economia

    e conservao de recursos naturais , existem normas, padres e programas de certificao que visam diferenciar esses produtos daqueles considerados convencionais. Em geral, essas classificaes aparecem como selos nos rtulos de produtos e servios. o caso dos selos Procel (que identifica aparelhos mais eficientes do ponto de vista energtico) e FSC (que certifica produtos madeireiros oriundos de florestas com manejo sustentvel). Tambm fazem parte desse universo os smbolos que indicam materiais, produtos e embalagens reciclveis, bem como artigos fabricados com componentes reciclados.

    H ainda as certificaes para produtos oriundos de comrcio justo (como o selo Fair Trade) e de sistemas agrcolas sustentveis (caso do selo Rainforest Alliance Certified), alm dos selos para produtos orgnicos, cujos sistemas de certificao mais reconhecidos no Brasil so: Instituto Biodinmico (IBD), Associao de Agricultura Orgnica (AAO) e Ecocert Brasil. Por fim, alguns produtos trazem selos que identificam cozinhas comerciais que atendem padres da culinria vegetariana, vegana (livre de quaisquer alimentos de origem animal) ou kosher (que segue as tradies da comunidade judaica).

    Dica Conquistar um selo ou certificao de produto sustentvel, muitas vezes, tem um custo que pode ser inacessvel a pequenos produtores ou empresas.

    Por isso, vale a pena pesquisar em sua regio se existem fornecedores de produtos com condies de comprovar suas boas prticas por meios alternativos, como a apresentao de documentos que comprovem a origem e a qualidade de suas produes ou, ainda, pela divulgao transparente de seus processos produtivos. Valorizar esses fornecedores uma forma de contribuir para o crescimento de uma rede regional de produtores mais conscientes que podem conquistar, com o tempo e a fidelizao de clientes, condies para buscar uma certificao formal para seus produtos.

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    AlimentaoA alimentao um ponto fundamental para a avaliao da qualidade dos servios oferecidos por um meio de hospedagem. De modo geral, a cozinha de

    um empreendimento turstico deve considerar o pblico-alvo, a oferta de produtos na regio e a viabilidade de produo prpria de alimentos, compondo um cardpio que seja adequado aos clientes e s variveis locais (tradies culturais, estaes do ano, etc.). Produzir, ao menos, parte da demanda no prprio empreendimento pode agregar valor extra cozinha, reduzir custos e aumentar a qualidade da culinria. Alm disso, algumas regras bsicas so essenciais: _ adotar as boas prticas de segurana dos alimentos e higiene na sua manipulao; _utilizar preferencialmente produtos frescos, orgnicos e de produo local; _ privilegiar a oferta de alimentos e bebidas da culinria regional, respeitando a sazonalidade dos ingredientes.

    Valorize a culinria regional importante e tambm mais sustentvel compor os cardpios com receitas regionais. Assim, seu empreendimento enriquecer a experincia cultural dos

    hspedes em relao regio visitada por eles. No cardpio, procure descrever os pratos tpicos e comentar sua histria, origem ou detalhes da receita. Consulte as pessoas mais idosas da comunidade para resgatar receitas tradicionais e histrias relacionadas a elas. Quando existe produo de alimentos na propriedade ou vizinhana, voc tambm pode incentivar a visita dos turistas a hortas e pomares.

    Pense bem!O cardpio do seu empreendimento pode estimular produtores locais a diversificar seus cultivos. O primeiro passo identific-los e buscar uma relao

    em que voc possa comentar sobre suas necessidades e demanda mdi