Guimarães-Carrilho: A Perda Da Justiça - PÚBLICO

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    OPINIO

    GGuuiimmaarreess--CCaarrrriillhhoo:: aappeerrddaa ddaa jjuussttiiaa ALEXANDRA LUCAS COELHO 21/02/2016 - 00:28

    1. O caso Guimares-Carrilho mal avanou nos tribunaismas a justia portuguesa j foi prejudicada (https://www.publico.pt/sociedade/noticia/mulheres-juristas-contra-a-forma-como-juiza-se-dirigiu-

    a-barbara-guimaraes-1723406). E pelo menos duas coisas deviam acontecer,para travar mais danos: a juza Joana Ferrer ser afastada do processo(http://www.publico.pt/sociedade/noticia/barbara-guimaraes-pede-recusa-da-juiza-que-julga-processo-de-violencia-domestica-1723671) em queBrbara Guimares acusa Manuel Maria Carrrilho por violncia domstica; oEstado reconhecer que no se assegurou proteco ao filho de 12 anos, cujasdeclaraes, no processo de regulao do poder paternal, foram parar arevistas. Cabe aos tribunais julgar a acusao, bem como decidir a

    regulao. No vou falar aqui, nem poderia, das razes de cada parte, apenasda actuao da justia.

    2. Guimares e Carrilho esto separados desde 2013, e tm dois filhosmenores. A primeira sesso do processo em que ela o acusa por violnciadomstica foi a 12 de Fevereiro. Segundo aViso (reprter Teresa Campos), a juza Joana Ferrer comeou por dirigir-se assim ao ru: Senhor professor, vou pedir-lhe para ficar junto do microfone. Carrilho indica nome, idade,

    etc, depois a juza diz: Sabe, senhor professor, os juzes tambm fazemtrabalho de casa. Fui ler o prefcio que escreveu para o livro de GillesLipovetsky. Fiquei a saber que um homem bem falante, capaz de articular.Quer falar dos factos que aqui o trazem? Carrilho sorri e declina falar demomento. A juza chama Brbara Guimares: Lembre-se que no presta juramento mas o tribunal espera de si a verdade. O que me pode relatar sobreo desfecho do seu casamento? Esta diferena de tratamento continua portoda a sesso, com a juza a tratar a queixosa por Brbara e o ru porprofessor ou senhor professor.

    Excertos relevantes do interrogatrio (https://www.publico.pt/sociedade/noticia/barbara-guimaraes-sobre-carrilho-se-fosse-hoje-teria-feito-queixa-

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    1723199) a Brbara Guimares (reprter Andreia Sanches, PBLICO ):

    Confesso que estive a ver fotografias do vosso casamento, disse JoanaFerrer, e tudo parecia maravilhoso. Parece que o professor Carrilho foi umhomem, at ao nascimento da Carlota [a segunda filha do casal], e depoispassou a ser um monstro. Ora o ser humano no muda assim.

    Por que razo no ia ao hospital quando era agredida e deixou a situaoarrastar-se? No fui ao hospital por vergonha, disse Brbara Guimares. A juza lamentou o facto de, assim, ser difcil provar que houve violnciadomstica. A queixosa disse que tambm tinha medo. Medo e vergonha. Osfilhos, o facto de sermos duas figuras pblicas... Nunca imaginei, nunca, dizera algum que ele me batia. E acrescentou, mais tarde: Ele no vai pararenquanto no me destruir.

    No tem que justificar ao tribunal por que que no foi ao mdico.Ningum a pode censurar, disse a certa altura a procuradora do MinistrioPblico. Mas a juza contraps: Causa-me impresso a atitude de algumasmulheres vtimas de violncia, algumas das quais acabam mortas. Eacrescentou: A senhora procuradora diz que no tem que se sentir censurada.Pois eu censuro-a!.

    Outros excertos (Viso ):

    Mas no foi ao hospital? Porqu? Vou dizer-lhe uma coisa: a primeira vez que h percias feitas a fotografias. E digo-lhe: vale zero. V, descreva-memais situaes. Brbara Guimares diz: que isto to duro! A juzainsiste. Isto um tribunal criminal. Descreva l mais... E de novo: Masnunca pensou ir ao hospital?; No, tive vergonha; Com tanta divulgao,tanto apoio que se criou para a violncia domstica? Tenha pacincia, esseargumento fraquinho. E mais adiante: Brbara, causa-me nervoso vermulheres informadas a reagirem assim. Se tinha fundamento, devia ter feitoqueixa.

    A sesso acaba com a juza a dizer: E eu a pensar que o senhor professorainda ia falar comigo hoje

    3. No preciso estudar direito para saber que um juiz 1) deve tratar comigual cortesia homem, mulher, preto, branco, catedrtico ou analfabeto 2) notem de fazer comentrios extra-processo sobre o prefcio do ru (ou doqueixoso) 3) no pode extrapolar nada sobre a evoluo de um casamento

    vendo as fotos desse casamento 4) no deve insistir de modo repreensivo comalgum que se queixa de violncia sobre por que no foi ao hospital quando apessoa j respondeu 5) muito menos fazer questo de a censurar por no seter queixado antes. Que uma juza possa actuar desta forma preconceituosa,

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    classista, machista, sendo reverencial com o ru, catedrtico, e sobranceiracom a queixosa, apresentadora de TV, grave para o caso; revela totalalheamento em relao realidade da violncia domstica, em que, por medo,s uma pequena parte se queixa; e total falta de noo do impacto que umcaso meditico destes tem, quando o nmero de mulheres assassinadas e vtimas de violncia continua a aumentar.

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    COMENTRIOS

    16:04

    vinha2100

    Noto que este um artigo de opinio. Claramente a favor de uma das partes. um pouco como quando Bruno de Carvalho vem aqui criticar as arbitragensdo Benca quando este ganha mas faz o oposto quando o Sporting queganha. A senhora tem todo o direito a ter uma opinio, e at pode ter toda arazo, tal como Bruno de Carvalho por vezes tem. Eu, pessoalmente, nombito do meu direito de opinio, acho que a justia no feita nemdeterminada na praa pblica, sem prejuzo do direito democrtico a avali-la.

    Acima de tudo, que a Justia seja serena e independente.

    15:56

    Jos Emlio Ribeiro

    Um artigo intil.

    12:01

    JC

    Os meus parabns Alexandra Lucas Coelho pelo artigo. assustador pensarcomo determinados prossionais usurpam os cargos que ocupam paradesrespeitar ou maltratar os demais cidados. A falta de bom-senso ehumanidade que este relato sugere inacreditvel. O facto de haver homensvtimas de violncia domstica, de este fenmeno ser crescente, silencioso,de ser talvez - socialmente falando - ainda mais estigmatizante para a vtima (eacredito que possa ser tudo isto e muito mais) preocupante mas no retiramrito nem pertinncia cronista. Acho que o texto toca os pontos mais

    importantes deste caso. De forma objectiva e sentida (a crnica um textopessoal, o lugar dentro do jornal destinado a que se expressem percepespessoais; o descritivo "opinio" no deixa dvidas).

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    gomesdacosta

    Se os critrios para avaliar as eventuais vitima de violencia domstica foremempolados do mesmo modo como os que fundamentam a estranha emisteriosa campanha orquestrada contra a juiza (apreciadora da Alemanha,gotsa de ces -v l, no citaram Roteweillers.., admiradora de um ocial nazi-por acaso do que tentou matar hitler), ento trata-se de um negcio sexista.

    J agora, quando se fala em favorecimento, era bom que certos jornalistas e jornais tivessem um espelho.

    00:51

    Luis DiasCoimbra, Portugal - Salvaterra Do Extremo, Castelo Branco, Portugal

    Acho no mnimo caricato que se fale em "equidade", "igualdade", e depoisescreva que "o nmero de mulheres assassinadas e vtimas de violnciacontinua a aumentar". Como se apenas as mulheres fossem vtimas deviolncia domstica. 40% das vtimas de violncia domstica so homens, epara estes no existe qualquer apoio, ou sequer compreenso. Em Inglaterrasuicidam-se cinco vezes mais homens que mulheres, muitos deles devidoprecisamente a esta situao. E no entanto, o nmero de mulheres a exercerviolncia sobre crianas 3x maior do que o de homens. Se a juiz do caso"revela total alheamento em relao realidade da violncia domstica" aautora tambm no me parece melhor. Pelo contrrio perptua esteretiposultrapassados e perigosos.

    02:43

    Joam Roiz

    Tem razo, Luis Dias. A questo da violncia domstica serpraticada na sua grande maioria pelas mulheres , comobem diz, um esteretipo. E um esteretipo perigoso. Por umlado, h um absoluto desprezo social pelos homens vtimasde violncia domstica (um homem assim, um "fraco", um"pobre diabo" que merece o que tem). Por outro lado,quando a mulher a queixosa, Polcia, Ministrio Pblico eJuzes partem logo do princpio de que o homem culpado e

    julgam, sem mais, em conformidade. A necessidade deprovas consistentes para a condenao de um crime de

    violncia domstica, no diferente do que para qualqueroutro. Joana Ferrer mostra ser uma juza corajosa ao noalinhar no esteretipo e procurar, ancadamente, a verdadedos factos. o que se espera de um juz que se preze.

    09:01

    Anjo Cado

    Os nmeros sobre mulheres e homens assassinados pelocompanheiro ou companheira falam por si e respondem aoscomentrios do Lus e do Joam. De resto, quem achaaceitvel que um juiz se dirija assim a um queixoso seja deque crime for no tem a menor noo do que a realizaoda justia. Queremos juzes, no justiceiros que cam bemem lmes. Quanto violncia sobre crianas (que sempreinaceitvel), seria bom comparar quantas crianas esto acargo de mulheres com quantas esto a cargo de homens -

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