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1 ISSN 1807-0590 (impresso)•ISSN 2446-7650 (Online) ano XVII • número 155 • volume 18 • 2021 José Oscar Beozzo Gustavo Gutierrez: servidor dos pequenos e teólogo da libertação

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1ISSN 1807-0590 (impresso)•ISSN 2446-7650 (Online)ano XVII • número 155 • volume 18 • 2021

José Oscar Beozzo

Gustavo Gutierrez: servidor dos pequenos e teólogo da libertação

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Gustavo Gutierrez: servidor dos pequenos e teólogo da libertação

Prof. Dr. José Oscar BeozzoDoutor em História Social pela Universidade de São Paulo – USP e

vigário da paróquia São Benedito, diocese de Lins - SP

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Cadernos Teologia Pública é uma publicação impressa e digital quinzenal do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, que busca ser uma contribuição para a relevância pública da teologia na universidade e na sociedade. A teologia pública pretende articular a reflexão teológica e a participação ativa nos debates que se desdobram na esfera pública da sociedade nas ciências, culturas e religiões, de modo interdisciplinar e transdisciplinar. Os desafios da vida social, política, econômica e cultural da sociedade, hoje, constituem o horizonte da teologia pública.

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOSReitor: Marcelo Fernandes de Aquino, SJVice-reitor: Pedro Gilberto Gomes, SJ

Instituto Humanitas UnisinosDiretor: Inácio Neutzling, SJ

Diretor Adjunto: Lucas Henrique da LuzGerente administrativo: Nestor Pilz

www.ihu.unisinos.br

Cadernos Teologia PúblicaAno XVII – Vol. 18 – Nº 155 – 2021ISSN 1807-0590 (impresso)ISSN 2446-7650 (Online)

Editor: Prof. Dr. Inácio Neutzling

Conselho editorial: MS Ana Maria Casarotti; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; Bel Guilherme Tenher Rodrigues; Profa. Dra. Susana Rocca.

Conselho científico: Profa. Dra. Ana Maria Formoso, Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, doutora em Educação; Prof. Dr. Christoph Theobald, Faculdade Jesuíta de Paris--Centre Sèvres, doutor em Teologia; Prof. Dr. Faustino Teixeira, UFJF-MG, doutor em Teologia; Prof. Dr. Felix Wilfred, Universidade de Madras, Índia, doutor em Teologia; Prof. Dr. Jose Maria Vigil, Associação Ecumênica de Teológos do Terceiro Mundo, Panamá, doutor em Educação; Prof. Dr. José Roque Junges, SJ, Unisinos, doutor em Teologia; Prof. Dr. Luiz Carlos Susin, PU-

CRS, doutor em Teologia; Profa. Dra. Maria Inês de Castro Millen, CES/ITASA-MG, doutora em Teologia; Prof. Dr. Peter Phan, Universidade Georgetown, Estados Unidos da América, doutor em Teologia; Prof. Dr. Rudolf Eduard von Sinner, EST-RS, doutor em Teologia.

Responsáveis técnicos: Profa. Dra. Cleusa Maria Andreata; Bel Guilherme Tenher Rodrigues.

Revisão: Carla Bigliardi

Imagem da capa: Patrícia Kunrath Silva

Editoração: Guilherme Tenher Rodrigues

Tradução: Luisa Rabolini e Moisés Sbardelotto

Cadernos teologia pública / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos. – Ano 1, n. 1 (2004)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2004- .

v.

Irregular, 2004-2013; Quinzenal (durante o ano letivo), 2014.

Publicado também on-line: <http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu-teologia>.

Descrição baseada em: Ano 11, n. 84 (2014); última edição consultada: Ano 11, n. 83 (2014).

ISSN 1807-0590

1. Teologia 2. Religião. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos.

CDU 2

Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252

_______________________

Solicita-se permuta/Exchange desired.As posições expressas nos textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores.

Toda a correspondência deve ser dirigida à Comissão Editorial dos Cadernos Teologia Pública:Programa Publicações, Instituto Humanitas Unisinos – IHU

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Gustavo Gutierrez: servidor dos pequenos e teólogo da libertação

Prof. Dr. José Oscar BeozzoDoutor em História Social pela Universidade de São Paulo – USP e

vigário da paróquia São Benedito, diocese de Lins - SP

“Andava pelo mundo em busca dos pobres de Jesus Cristo”

Guamán Poma de Ayala (Ayacucho, 1534 – Lima, 1615)

Gustavo coloca as raízes da teologia latino-americana na realidade pungente dos povos originários.

Foi o impacto desta realidade que provocou o grito indignado de Anton de Montesinos, durante seu sermão no IV domingo do Advento, em dezembro de 1511. O sermão foi pregado na Ilha de Santo Domingo, do alto do púlpito da recém erigida catedral de La Española, a Primada das Américas, diante do vice rei das Índias, Diego de Colón, filho de Cristovão Colombo:

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“Todos estais em pecado mortal e nele viveis e morreis, pela crueldade e tirania que usais contra esta gente inocente. [...] Como os tendes tão oprimidos e fa-tigados, sem dar-lhes de comer, nem os curar em suas enfermidades, que dos excessivos trabalhos, com que os carregais, morrem, ou melhor VÓS OS MATAIS, para tirar e adquirir mais e mais OURO cada dia”?1

Ao deus “ouro”, ao deus “capital”, ontem e hoje, são sacrificadas as vidas exploradas e espoliadas dos pobres, realidade nua e crua que Bartolomé de Las Ca-sas OP denunciou em Cuba, na Guatemala, no México, onde foi nomeado bispo em Chiapas (1543-1550), para a diocese que hoje leva seu nome: San Cristobal de Las Casas.2

Sua memória foi honrada e atualizada no episco-pado de Mons. Samuel Ruiz (1959-2000) e do seu bispo coadjutor, da ordem dominicana, Mons. Raúl Veras OP (1995-1999), todos dois amigos pessoais de Gustavo. Os dois bispos tiveram que enfrentar as mesmas calúnias e

1 GUTIERREZ, Gustavo, En busca de los pobres de Jesucristo: evange-lización y teología en el siglo XVI, em RICHARD, Pablo (ed.), Mate-riales para una historia de la teología en América Latina. San José de Costa Rica: DE, 1981, pp. 137-163

2 GUTIERREZ, Gustavo, En busca de los pobres de Jesucristo. El pen-samiento de Bartolomé de Las Casas. Salamanca: Sígueme, 1993.

perseguições dos poderes econômicos, políticos e religio-sos, como Las Casas, que aos seis meses, já havia sido ex-pulso de sua diocese pelos “encomenderos” e potentados do lugar, por causa de sua defesa dos indígenas, de sua liberdade e dignidade.

O dominicano Las Casas tornou-se inspiração cres-cente da vida e reflexão teológica de Gustavo, que fundou o Instituto Bartolomé de las Casas - Rimac e terminou por entrar ele mesmo para a Ordem dos Pregadores de São Domingos de Guzmão (1998), depois de quase quarenta anos, como padre diocesano da Arquidiocese de Lima (1959-1998).3

Saltando do Caribe e do México para o Peru, Gus-tavo seguiu também os passos de Guamán Poma de Aya-la, o “índio dibujante”4, que saiu andando pelo mundo “en busqueda de los pobres de Jesucristo” e escreveu um

3 O término do pastoreio na arquidiocese de Lima do seu fiel amigo, o Cardeal Juan Landázuri Ricketts OFM (1955-1989), de cuja con-fiança, apoio e proteção sempre gozou, e seu falecimento em 1997, devem ter pesado também na decisão de Gustavo de deixar a Arqui-diocese, cujos ventos iam-se tornando hostis, e ingressar como noviço na Ordem dominicana.

4 POMA DE AYALA, Guaman Felipe [Waman Puma], El Primer Nueva Corónica y buen gobierno (1615). México: Siglo XXI e Instituto de Estudios Peruanos, 1980.

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arrasador libelo de acusação antropológica, social, po-lítica e teológica: “El diós de los españoles es el oro”.5 Para ele, os únicos verdadeiros cristãos naquelas terras do assim chamado “Novo Mundo” dos espanhóis, eram os indígenas sem direitos e explorados, os “os pobres de Jesus Cristo”.

Rímac, a “Galileia das Nações” de Gustavo

A espiritualidade, a pastoral e a teologia de Gus-tavo encontram-se não no diálogo com o poder, seja po-lítico, econômico, social ou eclesiástico, mas na sua crí-tica radical e profética. Sua teologia não finca raízes na Plaza de Armas de Lima, onde foram construídos, frente a frente, o Palacio de Governo e o Palácio do Arcebispa-do, o Palácio Municipal e a Catedral da “Ciudad de Los Reyes” (na verdade, os Reis Magos do dia 6 de janeiro, dia de sua fundação), como era chamada Lima, a capital do vice-reinado do Peru e a mais importante cidade da América do Sul até finais do século XIX, quando Buenos Aires arrebatou seu lugar. Ali, os poderes temporal e reli-

5 GUTIERREZ, Gustavo, Dios o el oro en las Indias. Salamanca: Sígue-me, 1989; 1990, 2ª ed.

gioso conversavam entre si, apoiavam-se mutuamente e estavam quase sempre mancomunados, em detrimento dos pobres.

Visitei Gustavo, pela primeira vez, na pequena casa de sua paróquia, num lugar do “não poder” e dos destituídos.

Desde a colônia, a numerosa população indígena ao redor da capital estava confinada do outro lado do rio Rimac, no bairro do mesmo nome. Não deviam os indí-genas, a não ser para os trabalhos braçais e domésticos, deslocar-se dali para a Plaza Mayor, lugar dos espanhóis e depois dos “criollos”, desde sua fundação por Pizarro em 1535. A cidade colonial dos brancos ficava dentro do “Cercado de Lima”, dentro dos muros que protegiam a cidade. Um dos seus lados, o lado norte, terminava no Rio Rimac. Fora do Cercado e do outro lado do rio, ainda se estendia uma parte da cidade, mas mais para o fun-do, ficavam os indígenas, os excluídos da cidade branca e racista.

Assim como o lugar social de Jesus não foi a Jeru-salém do Templo, do Sinédrio e dos Sumos sacerdotes, mas a “Galileia das nações”, submetida à exploração eco-nômica e social dos romanos, como já o fora, no passado, dos gregos, quando sob o seu domínio e, muito antes dos

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gregos e mais longe no tempo, dos Reis que construíram o templo, palácios, muros e guarnições militares, muito às custas dos tributos impostos aos camponeses da Galileia.

Rimac foi a Galileia das Nações de Gustavo, o chão onde pisava, reduto do povo miúdo a quem servia como pároco. Foi a partir destes “vecinos”, de sua pobreza, de sua cotidiana luta pela sobrevivência, de sua fé povoada pelos deuses todos dos seus antepassados e também pela mensagem e a ação de Jesus de Nazaré, que meditou, pensou e compartilhou Gustavo, a sua teologia, como alimento, sustento e esperança para os pequenos. Foi ali também que a espiritualidade de Gustavo “bebeu no seu próprio poço”.6

Vaticano II: sentimentos misturados entre alegria e insatisfação

Convidei Gustavo a colaborar num Seminário, cujo tema e horizonte era “A Igreja Latino-americana às vésperas do Concílio”, a realizar-se em Houston no Te-xas, no quadro de um balanço da situação das Igrejas do

6 GUTIERREZ, Gustavo, Beber en su propio pozo. Lima: CEP – Centro de Estudios y Publicaciones, 1983.

continente e dos “vota” dos seus bispos, às vésperas do Concílio. Estariam também incluídas no evento as Igrejas dos Estados Unidos e do Canadá. O Seminário era um dos muitos dentro do projeto de escrita da História do Concílio Vaticano II animado e impulsionado por Giuse-ppe Alberigo e pelo Istituto per le Scienze Religiose de Bo-logna. Hoje está concluída a tarefa com a publicação des-sa história em cinco volumes7. Alberigo apreciava muito Gustavo, sua pessoa, sua espiritualidade, sua teologia e testemunho.

Gustavo ficou encarregado de traçar um panora-ma da situação da teologia na América Latina nos albo-res do Concílio. Ele recuperou a reflexão que brota do sermão de Montesinos e da atuação de Las Casas, em que o desafio para a credibilidade do evangelho é seu empenho pela justiça e defesa da vida ameaçada dos in-dígenas dentro do projeto colonial. Relembrou o impacto de Jacques Maritain com seu Humanismo Integral8 e a contribuição de Yves Congar para alimentar o engaja-

7 ALBERIGO, Giuseppe (editor), Storia del Concilio Vaticano II, PEE-TERS - IL MULINO, Bologna, - Itália, 1995-1998. A obra está traduzi-da em castelhano, português, francês, inglês, alemão, russo, polonês.

8 MARITAIN, Jacques, L’Humanisme Intégral : Paris, Cerf, 1936.

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mento dos leigos e leigas nos desafios sociais e políticos do continente.9

Gustavo encontrava-se em Roma, nas semanas fi-nais do Concílio. Ao falar dos seus sentimentos, face à eu-foria vivida nos dois últimos dias do Vaticano II, 7 e 8 de dezembro de 1965, fruto da laboriosa e incerta aprovação da Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje, da Declaração Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, do Decreto Ad gentes sobre a atividade missionária da Igreja e do Decreto Presbitero-rum Ordinis, sobre a vida e o ministério dos Presbíteros, caracterizou-os como “sentimentos misturados”.

Gustavo comenta: “o ambiente que se respirava em Roma era de grande euforia. A maioria conciliar havia proposto seus grandes temas e, em que pese uma ou ou-tra dificuldade, a perspectiva do Vaticano II abria novos caminhos. Senti, pessoalmente, nestes dois dias finais que a teologia, que aprendera na Europa, a que estava ligado, era a teologia que marcava o Concílio e, naturalmente, isso provocava em mim e em outras pessoas, grande ale-gria, pela abertura que isso significava. Gostaria de dizer

9 CONGAR, Yves, Jalons pour une théologie du laïcat. Paris : Les Édi-tions du cerf, 1953.

também que, ao mesmo tempo, com essa atividade, que os franceses chamam de “sentiment melangé”, havia algo neste final do Concílio que provocava uma grande insa-tisfação. Por isso, digo que são sentimentos mesclados, porque sentia a alegria de ver que as ideias com que tinha comprometido minha vida eram as que estavam presen-tes no Concílio, mas sentia também que muitas coisas que vivíamos na América Latina ficaram totalmente ausentes do Concíio Vaticano II”.10

Essa insatisfação era a mesma de Dom Helder Ca-mara, que batalhou em vão pela criação durante o Con-cílio de um Secretariado que se ocupasse das angústias de 2/3 da população mundial, a fome, a doença, o analfa-betismo, o abismo das desigualdades entre um norte rico e um sul empobrecido. Assim, ao lado do Secretariado pela União dos Cristãos (0-05-1960), hoje Pontifício Con-selho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Paulo VI havia criado dois outros, no decurso do Concílio, para se alargar o horizonte do diálogo: o Secretariado para

10 GUTIERREZ, Gustavo, A situação da teologia, in BEOZZO, José Os-car (Org.), A Igreja Latino-americana às vésperas do Concílio – His-tória do Concílio Vaticano II. São Paulo: Edições Paulinas, 1993, p, 44. O livro foi também publicado em espanhol: Cristianismo e Iglesias de América Latina en vísperas de Vaticano II, San José (Costa Rica), 1992.

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os Não-cristãos (19-05-1964), hoje Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e o Secretariado para os Não-Crentes (09-04-1965), hoje Pontifício Conselho da Cultura.

Com o apoio de muitos bispos da América Lati-na, África e Ásia e, sobretudo, do grupo da “Igreja dos Pobres”11, o mesmo que firmou a 16 de novembro de 1965, o Pacto das Catacumbas, Por uma Igreja servidora e pobre12, Dom Helder conseguiu arrancar de Paulo VI que estes temas de certo modo marginais mesmo na GS, se-riam por ele abordados logo após o término do Concílio e que seria criado um organismo pontifício para se ocu-par do clamor dos pobres. De fato, Paulo VI cumpriu sua promessa, com a criação da Pontifícia Comissão Justiça e Paz (06-01-1967) e com a publicação da Encíclica Po-pulorum Progressio, sobre o Desenvolvimento dos Povos (26-03-1967).

11 O grupo “Igreja dos Pobres” no Vaticano II, in BEOZZO, José Oscar, A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. São Paulo: Paulinas; Rio de Janeiro: UCAM, Petrópolis: CAALL, UVA, Sobral, 2005, pp. 190-192.

12 PIKAZA, Xabier e SILVA, José Antunes da (Eds), El Pacto de las Catacumbas. La misión de los pobres en la Iglesia. Navarra: Editorial Verbo Divino, 2015; BEOZZO, José Oscar, O Pacto das Catacumbas. Por uma Igreja servidora e pobre. São Paulo: Paulinas: 2015.

Medellín: o grito dos pobres e a luta por sua libertação

Podemos apontar Gustavo, como um dos teólogos mais importantes de Medellín. Como nenhum outro, sou-be, porém, encarnar o essencial de Medellín e tornar-se, por sua fidelidade canina às intuições maiores daquele Conferência, o teólogo por excelência de Medellín.

Claro que foi um grande evento sinodal construí-do por muitas mãos, mentes e corações e teve seus altos e baixos e mesmo algumas lacunas gritantes. Gustavo, porém, traduziu e fundamentou teologicamente um dos passos cruciais de Medellín, o da opção pelos pobres.13

Nessa II Conferência Geral do Episcopado Latino--americano, a teologia de Gustavo ganhou nitidamente contornos latino-americanos, em comunhão com a me-lhor teologia europeia por ele aprendida em Lyon e em Louvain e expressa no Vaticano II, mas inovou também. Ganhou um selo de eclesialidade, fincado nessas duas grandes assembleias sinodais, Vaticano II e Medellín e

13 BEOZZO, José Oscar, Medellín: inspiração e raízes in REB 59, fasc. 232, dez. 1998, 822-850. SCATENA, Silvia, In populo pauperum. La Chiesa Latinoamericana dal Concilio a Medellín (1962-1968). Bolog-na. Il Mulino, 2007.

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que marcará para sempre sua Teologia da Libertação de 1971, que saiu publicada, quase simultaneamente, em espanhol, no Peru, e em italiano14. Logo depois, no Brasil, na Espanha e em muitos outros países e idiomas. Não é uma teologia acadêmica, nem livresca, não é uma teologia auto centrada, mas que emerge do grande rio da caminhada do povo e da Igreja na América Latina.

De Medellín, escreveu, Dom Pedro Casaldáliga, re-centemente falecido:

“Medellín foi, sem dúvida, o Vaticano II da Amé-rica Latina. Mais avançado do que o Vaticano II, porque no Vaticano II a opção pelos pobres foi de uma minoria, quase clandestina, comandada por Dom Helder Camara. Medellín fez a opção pelos pobres, Medellín fez a opção pelas comunidades, Medellín fez a opção pela militân-cia a partir da fé. Eu digo sempre que em toda a his-tória da Igreja da América Latina e do Caribe não tem tido nenhum acontecimento como Medellín. É o nosso Pentecostes”.15

14 GUTIERREZ, Gustavo, Teología de la liberación. Perspectivas, Lima: Centro de Estudios y Publicaciones, 1971; Teologia della Liberazione. Prospettive. Brescia: Queriniana, 1972

15 Apresentação, in GODOY Manoel e AQUINO JUNIOR, Francisco, 50 Anos de Medellín. Revisitando os textos, retomando o caminho. São Paulo: Paulinas, 2017, p. 7.

É de Gustavo, ao que tudo indica, a redação da fundamentação doutrinal no documento XIV de Medellín, Pobreza da Igreja. Em apertadas doze linhas divididas em 3 parágrafos a pobreza é vista como carência dos bens deste mundo, como pobreza espiritual e como compro-misso ao lado dos empobrecidos, espoliados e oprimidos. Assim reza este precioso parágrafo em Medellín:

“1. Devemos distinguir: A. A pobreza como carência dos bens deste mun-

do, necessários para uma vida humana digna é um mal em si. Os profetas a denunciam como contrária à vontade do Senhor e, muitas vezes, como fruto da injustiça e do pecado dos homens.

B. A pobreza espiritual, que é o tema dos pobres de Javé (cf. Sof 2,3; Magnificat). A pobreza espiritual é a atitude de abertura para Deus, a disponibilidade de quem tudo espera do Senhor (cf. Ml 5). Embora valorize os bens deste mundo, não se apega a eles e reconhece o valor superior dos bens do Reino (cf. Am 2,6-7; 4,1; 5,7; Jer 5,28; Miq 6,12-13; Is 10,2 etc.).

C. A pobreza como compromisso, assumida vo-luntariamente e por amor à condição dos necessitados deste mundo, para testemunhar o mal que ela representa e a liberdade espiritual frente aos bens do Reino. Con-

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tinua, nisto, o exemplo de Cristo, que fez suas todas as consequências da condição pecadora dos homens (of. Flp 2) e que sendo «rico se fez pobre» (2 Cor 8,9) para salvar-nos” (MED 14).

Um terço de todas as citações bíblicas dos 16 docu-mentos de Medellín, encontram-se nestes três parágrafos e desvelam a raiz bíblica - profética e messiânica – da interpelação que nos vem dos pobres e do exemplo de Je-sus que sendo “rico fez -se pobre, para nos salvar”, como diz a Carta de Paulo aos Coríntios (2 Cor. 8, 9).

Prossegue o texto de Medellín”

“Três conclusões emergem deste pano de fundo bíblico:

Neste contexto, uma Igreja pobre: - Denuncia a carência injusta dos bens deste mun-

do e o pecado que a engendra. - Prega e vive a pobreza espiritual como atitude de

infância espiritual e abertura para o Senhor. - Compromete-se ela mesma com a pobreza mate-

rial. A pobreza da Igreja é, com efeito, uma constante na história da salvação” (MED 14).

A Teologia da Libertação, como foi tematizada por Gustavo, parte ao mesmo tempo da realidade do pobre e da realidade de Deus que ouve o clamor do seu povo e resolve libertá-lo (Ex 3, 7-8). Trata-se do mesmo Deus, que se apresenta como Aquele que se coloca ao lado do “pobre, do órfão, da viúva e do estrangeiro” (Sl 68, 5), como seu defensor e libertador.

Gustavo já havia antecipado numa conferência em Chimbote, em julho de 1968, antes mesmo do início da Conferência de Medellín, o que estava em jogo na vida do continente. A conferência trazia por título: Hacia una teo-logia de Liberación e só foi publicada no ano seguinte.16

Gustavo sempre insistiu na raiz espiritual de sua teologia. Enganam-se, pois, os que, equivocada e, por ve-zes, maldosamente, insinuam que a opção pelos pobres e a teologia que daí deriva, se reduz a um sociologismo ou a um marxismo mal disfarçado.

O Papa Bento XVI, no seu discurso de abertura da V Conferência em Aparecida, a 13 de maio de 2007, resumiu de maneira lapidar a fonte primeira e o enraiza-

16 O texto não está disponível em português, mas foi publicado em inglês: GUTIÉRREZ, Gustavo, Toward a Theology of liberation (July 1968), in HENELLY T. Alfred (editor), Liberation Theology – A docu-mentary History. New York: Orbis, 1990, pp. 62-76.

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mento cristológico da opção pelos pobres e da teologia que a tematizou: “a opção preferencial pelos pobres en-contra-se implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre para nós, para enriquecer-nos com sua pobreza (cf. 2 Co 8, 9).17

Repensar toda a teologia, a partir dos empobreci-dos e de sua libertação

Com a eleição em 1972 de Mons. Alfonso Lopez Trujillo para a secretaria geral do CELAM, os teólogos latino-americanos que haviam sido atores fundamentais na Conferência de Medellín, foram inteiramente excluídos de Puebla (1979) e, depois, de Santo Domingo (1992), do Sínodo da América (1997) e da V Conferência Geral de Aparecida (2007).

17 SESSÃO INAUGURAL DOS TRABALHOS DA V CONFERÊNCIA GERAL DO-EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE - DISCURSO DO PAPA BENTO XVI Sala das Conferências - Santu-ário de Aparecida -Domingo, 13 de maio de 2007, Parágrafo 3º. in https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2007/may/documents/hf_ben-xvi_spe_20070513_conference-aparecida.html Página visitada em 14/06/2021.

Em Puebla, porém, um numeroso grupo de teólo-gos (as teólogas estarão muito ativas em Santo Domingo e sobretudo Aparecida), ficou reunido numa casa fora do Seminário Palafoxiano e colocou-se a serviço da Confe-rência. Manteve uma intensa troca de informações, docu-mentos e rascunhos de intervenções de bispos amigos e contribuições para os textos em elaboração nas comissões em que se subdividiu a Assembleia.

Naquelas semanas de intenso convívio e labor de reflexão em contato com as preocupações e esperanças da Igreja toda, dos conflitos e embates dos que queriam fazer de Puebla a sepultura de Medellín e de sua teologia e dos queriam confirmar suas opções e dar um passo à frente, começou a ser gestada, ali, a ambiciosa proposta de se propor a libertação como chave de leitura e inspira-ção para se repensar o conjunto da teologia em perspec-tiva latino-americana.

Nos encontros preparatórios realizados em Petró-polis, a partir de 1982, as intervenções de Gustavo muito contribuíram para se pensar a arquitetura geral do projeto que foi denominado: Coleção Teologia e Libertação.18

18 Para uma visão documentada dos passos da Coleção Teologia e Li-bertação e de suas vicissitudes, cfr. BEOZZO, José Oscar, O êxito das teologias da libertação e as teologias latino-americanas contempo-

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Mais de cem colaboradores/as aceitaram participar do projeto, mesmo com as pressões contrárias vindas do CELAM e de Roma, através das nunciaturas. Estas urgiam das conferências episcopais que barrassem o projeto nos seus países e os bispos advertissem os teólogos, seus dio-cesanos, para que não participassem daquela iniciativa.

O núncio apostólico na Argentina perante a Con-ferência episcopal disse que a Santa Sé não estava de acordo com aquela “maledetta colana”, que estava sendo organizada e não tinha ainda nenhum texto escrito e mui-to menos publicado.

Ao mesmo tempo, Roma, para desacreditar a T&L tentou atingir diretamente seus dois teólogos mais em vis-ta: Gustavo Gutierrez no Peru e Leonardo Boff no Brasil.

Por três vezes intentou Roma, sem sucesso, que a Conferência Episcopal Peruana tornasse pública uma nota de censura a Gustavo Gutierrez e à sua teologia. Sua condição de pároco em Rimac, bairro pobre da periferia de Lima; sua exemplar adesão eclesial e prudência teoló-

râneas, in TREVISIOL, Alberto (a cura de), In Ascolto dell’America. Popoli, Culture, Religioni, Strade per il futuro. Roma: Urbanian Uni-versity Press, 2014. Pp. 327- 380. Esse capítulo foi publicado no Bra-sil in São Leopoldo: IHU-UNISINOS, Cadernos de Teologia Pública Ano XII – número 93, vol. 12, 2015, pp. 65.

gica, aliada à inteira confiança de seu arcebispo, o Cardeal Juan Landázurri Rickets OFM, presidente da Conferência Episcopal e de quem Gutiérrez era, de longa data, teólogo pessoal, assim como o respeito e amizade de que gozava em boa parte do episcopado peruano frustraram a tenta-tiva romana, a última das quais aconteceu em Rom. Para este encontro, o cardeal Ratzinger em pessoa, veio para explicar os motivos pelos quais Roma pedia uma desauto-rização episcopal da teologia de Gustavo Gutierrez. Dessa vez, diante de um episcopado dividido meio a meio, foi o voto de minerva do presidente da Conferência, o Cardeal Landázurri que impediu que Conferência tomasse atitude contrária a Gustavo e à sua teologia.

Passou-se então a buscar a condenação de outra figura de proa da teologia da libertação, como forma de desacreditar toda essa vigorosa corrente teológica. Sabe-dores de antemão que não poderiam contar com a Con-ferência Episcopal do Brasil para condenar um dos seus teólogos, foi aberto, sob protesto da Comissão Teológica da CNBB, processo contra Leonardo Boff diretamente na Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, sem pas-sar pelas instâncias locais, como se havia intentado com o Peru.

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De fato, Leonardo foi convocado a Roma para um “colóquio” na Congregação para a Doutrina da Fé.

Para constrangimento do Cardeal Ratzinger e, em desacordo com os procedimentos da Congregação, Boff chegou acompanhado pelo presidente da CNBB, Dom Ivo Lorscheiter, pelo presidente da Comissão Teológica da CNBB, o cardeal Dom Aloísio Lorscheider OFM e pelo cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns OFM, antigo professor de Leonardo Boff no Seminário franciscano de Petrópolis. Fora ele que o enviara à Ale-manha para um doutorado, a fim de assumir o ensino teológico no Instituto Sagrado Coração de Jesus.

Sentiam esses responsáveis maiores pela Igreja do Brasil e, com muita razão, que com o processo ao teólogo buscava-se atingir e desautorizar a própria Igreja do Bra-sil, sua linha pastoral, sua intransigente defesa dos direitos humanos, sua destemida denúncia dos abusos do regime militar e seu apoio aos movimentos sociais que clamavam por justiça social e pelo retorno ao estado democrático de direito.

Em que pesem a defesa apresentada por Leonardo de sua teologia, o amplo respaldo a ele dado pela Con-ferência episcopal, as dezenas de milhares de cartas en-viadas a Roma por simples integrantes das comunidades

eclesiais de base, das pastorais sociais e de centros de defesa dos direitos humanos, por organismos da socieda-de civil e integrantes do parlamento, foi-lhe imposto um ano de silêncio obsequioso, com a proibição de ensinar e publicar e seu afastamento da direção da revista REB (Revista Eclesiástica Brasileira).19

O clima foi agravado pela publicação da Instrução Libertatis Nuntius (1984). Foi em meio a este clima bor-rascoso que o Conselho editorial, que estava integrado por Gustavo Gutierrez e Leonardo Boff e nove outros teólogos e teólogas foi buscar amparo e guarida junto a bispos latino-americanos.20

19 Todo o desenrolar desse processo foi publicado um livro branco: MOVIMENTO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. Roma locuta – Documentos sobre o livro Igreja, Carisma e Poder de Frei Leonardo Boff. Petrópolis: Vozes-SIN, 1985.

20 Do Conselho Editorial, passaram a fazer parte pelo Peru, Gustavo Gutierrez, na época padre diocesano da arquidiocese de Lima; pelo Brasil, Leonardo Boff, OFM, José Comblin, padre diocesano Fidei Donum na arquidiocese da Paraíba, PB, José Oscar Beozzo, padre diocesano da diocese de Lins, SP, Ivone Gebara, religiosa das Cône-gas de Santo Agostinho; pelo Chile, Sérgio Torres, padre diocesano da arquidiocese de Santiago, acompanhado por seu colega de do-cência teológica, Ronaldo Muñoz SSCC; pela Venezuela, Pedro Trigo SJ; por El Salvador, Jon Sobrino SJ, pelo México, Enrique Dussel, leigo argentino; pelos chicanos nos Estados Unidos, Virgilio Elizondo, padre diocesano da arquidiocese de San Antonio TX. Integrado ini-

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Comitê de Patrocínio da Coleção T&L

Com o intuito de se obter esse resguardo eclesial, foi criado um Comitê de Patrocínio encabeçado pelo Car-deal Dom Paulo Evaristo Arns, vários arcebispos e nume-roso grupo de bispos de todo o continente, do México à Argentina, incluindo também bispos dos Estados Unidos, Canadá e Espanha.

Do Peru, veio o apoio de seis bispos, o mesmo número de prelados do Equador e do Chile: Mons. José Dammert Bellido de Cajamarca; Mons. Alberto Koenigsk-necht, bispo-prelado de Juli; Mons. Jesús Calderón OP de Puno; Mons. Francisco d’Alteroche, prelado de Ayaviri; Mons. Albano Quinn, prelado de Sicuani e Mons. Lucia-no Metzinger, bispo auxiliar de Lima.

O Brasil foi o país em que o maior número de bis-pos decidiu ingressar no Comitê de Patrocínio e apoiar a coleção. O nome do Cardeal de São Paulo vinha acom-

cialmente por essas onze pessoas, o Conselho cresceu para treze titu-lares, após sua reunião de Buenos Aires, em agosto de 1984, quando se decidiu convidar para dele participar, o teólogo uruguaio Juan Luiz Segundo da Companhia de Jesus e o teólogo leigo metodista, tam-bém uruguaio, Julio de Santa Ana, secretário executivo do CESEEP, na qualidade de consultor para o ecumenismo. Foi o CESEEP quem ficou como a instituição juridicamente responsável pela Coleção.

panhado pelos de alguns arcebispos, como Dom Helder Pessoa Camara de Olinda e Recife, PE; Dom José Maria Pires da Paraíba, PB; Dom Silvestre Scandian de Vitó-ria, ES; Dom Romeu Alberti de Ribeirão Preto, SP. A eles somaram-se 76 outros bispos, num total de 81 prelados.

Vale reproduzir as palavras com que o Comitê de Patrocínio explicitou o sentido desse seu respaldo à Cole-ção. Essa declaração encimava os primeiros tomos publi-cados e vinha acompanhadas dos nomes dos signatários, o cardeal de São Paulo, arcebispos e bispos que empres-tavam publicamente seu apoio à Coleção:

“O Comitê de Patrocínio saúda com alegria o lan-çamento da coleção “Teologia e Libertação” que recolhe e sistematiza as inspirações do Concílio Vaticano II, de Medellín, de Puebla, do Magistério da Igreja Universal e das Igrejas particulares e da experiência de vida, de frater-nidade ecumênica, de fé e de martírio das comunidades cristãs da América Latina.

Reconhecemos que esta coleção vem ao encontro da necessidade de que a fé, vivida em contexto de opres-são e de libertação, seja aprofundada e aclarada teologi-camente em todas as suas dimensões.

Nosso patrocínio não significa aprovação das opini-ões pessoais expressas pelos distintos autores. Como Pas-

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tores, no quadro de um sadio pluralismo, apoiamos com simpatia e vigilância, esse esforço de reflexão teológica no interior e a serviço de nossas Igrejas”21.

Os três primeiros tomos da coleção saíram publi-cados em dezembro de 1985, com o “nihil obstat” do or-dinário dos autores e sob o alto patronato do Comitê de Patrocínio, composto por 121 arcebispos e bispos.

O Cardeal Joseph Ratzinger, particularmente irrita-do com o amplo respaldo episcopal granjeado pela Cole-ção e dado a conhecer publicamente com a lista impressa no frontispício de cada livro, interveio imediatamente.

Em carta de 6 de janeiro de 1986 endereçada ao Superior Geral dos Franciscanos determinou que a Edito-ra Vozes dos franciscanos de Petrópolis fosse proibida de prosseguir com a publicação dos livros da Coleção. Igual medida foi aplicada à editora dos Paulinos na Espanha e na Argentina. Não se ousou, entretanto, enviar tal tipo de proibição às editoras europeias e dos Estados Unidos,

21 O texto do Comitê de Patrocínio foi reproduzido do livro de HOOR-NAERT, Eduardo, Memória do Povo Cristão. Petrópolis: Vozes, em sua primeira edição de 1985. Foi um dos três primeiros a serem edi-tados e recebeu o imprimatur do Cardeal Arcebispo de Fortaleza, CE, Dom Aloísio Lorscheider a 06 de agosto de 1985.

presumindo-se que não seria acatada e, ademais publica-mente denunciada. São essas as editoras que não recebe-ram a proibição vinda da Congregação da Doutrina para a Fé: Patmos Verlag e depois Grünnewald da Alemanha, Cerf de Paris, Burns and Oats da Inglaterra, Queriniana da Itália, Maryknoll dos Estados Unidos, Abadia de Aver-bode na Bélgica, para a edição em neerlandês.

Serão sempre dois pesos e duas medidas dentro da Igreja? A liberdade de pesquisa, de expressão e publica-ção no campo teológico não estão mais submetidas. des-de o Concílio Vaticano II, a nenhum tipo de censura ou licença prévia. Não estão previstas igualmente no Código de Direito Canônico de 1984!

O crescente mal-estar na América Latina ganhou expressão pública no Brasil. Um arcebispo, Dom Fernan-do Gomes, de Goiânia GO, secundado por nove outros bispos, publicou nota, repudiando o silêncio imposto ao Leonardo Boff comparando-o à censura que o regime militar impunha à própria Igreja e às suas pastorais. Isso levou João Paulo II a convocar, para os dias 13 e 14 de março de 1986 a presidência da CNBB, os cardeais brasi-leiros e os presidentes dos 16 regionais da CNBB para um encontro de dois dias com o Papa e os cardeais respon-sáveis de todos os dicastérios romanos. Muitas das nar-

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rativas, por vezes fantasiosas e sem apoio na realidade, que circulavam pela Cúria Romana a respeito da Igreja do Brasil tiveram que ser confrontadas com os fatos e a versão dos bispos responsáveis. Muitos mal entendidos foram desfeitos.

O difícil diálogo sobre a Coleção T&L e a carta do Papa ao episcopado brasileiro

Um ponto álgido no diálogo em Roma era, porém, o apoio dos 81 bispos brasileiros, entre os quais um car-deal e vários arcebispos à Coleção Teologia e Libertação, apoio que fora secundado por uma quarentena de outros bispos latino-americanos, norte-americanos e espanhóis.

Isto levou a uma reunião suplementar entre Dom Ivo Lorscheiter, presidente da CNBB, o Cardeal Aloísio Lorscheider e o Cardeal Paulo Evaristo Arns, com o Car-deal Ratzinger e o secretário Bovone da Congregação para Doutrina da Fé. Para surpresa dos presentes, Rat-zinger convidou dois outros bispos brasileiros que se opu-nham à Teologia da Libertação, o Cardeal Eugênio de Araújo Sales do Rio de Janeiro e o arcebispo Dom Lucas

Moreira Neves, naquele momento, à frente da secretária da Congregação dos Bispos.

A proposta primeira do Cardeal Ratzinger foi de que a coleção Teologia e Libertação fosse definitivamente suspensa. Diante da clara oposição manifestada pelo Car-deal Arns, em nome do direito de a Igreja latino-america-na elaborar uma teologia que desse sustento e suporte às suas atividades pastorais e preparasse adequadamente do ponto de vista bíblico, teológico e social seus agentes de pastoral leigos e leigas, religiosos e religiosas e ministros ordenados. A segunda alternativa proposta foi que, man-tida a coleção, fossem destituídos todos os integrantes do Conselho Editorial trocados por outros aprovados por Roma, não aceita igualmente. A proposta seguinte foi de que então o Conselho Editorial acolhesse teólogos de ou-tras correntes teológicas aprovados por Roma . O Cardeal Arns objetou que havia total liberdade para que outras correntes teológicas organizassem coleções teológicas, com outra impostação, mas que aquela era uma coleção da Teologia da Libertação e que não deveria abrigar vo-zes que a ela se opunham. No final, aceitou-se que hou-vesse um comitê episcopal no seio da Igreja do Brasil, que fizesse uma apreciação prévia de cada volume, a título de contribuição para o discernimento do bispo responsável

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por conceder o imprimatur. Esse bispo, como prescreve o CDC, pode ser tanto bispo do autor, como o bispo da diocese, onde se encontra a Editora.

A reunião terminou com um jantar com o Papa onde foi relatado o acordo alcançado seguido do comen-tário do Papa, sobre a importância e o direito de se ter na Igreja, com as devidas cautelas, também uma teologia da libertação.

Semanas depois o Papa João Paulo II enviou ao Brasil o Cardeal Bernardin Gantin, Prefeito da Congrega-ção dos Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Veio com uma dupla incumbência: a de anunciar a suspensão do silêncio obsequioso imposto a Leonardo Boff e a de entregar à Assembleia da CNBB, reunida naquele mês de em abril de 1986, uma carta mui-to pessoal do Papa.

De certo modo, a Carta que o Papa João Paulo II escreveu à Igreja do Brasil, caminhava na mesma dire-ção, ao pedir explicitamente ao episcopado brasileiro que acompanhasse a reflexão da Teologia latino-americana da Libertação. O Papa, depois de afirmar na Carta:

“[...] Estamos convencidos, nós e os Senhores de que a teologia da libertação é não só oportuna, mas útil e necessária”, prosseguia:

“Penso que, nesse campo, a Igreja do Brasil possa desempenhar um papel importante e delicado ao mesmo tempo: o de criar espaço e condições para que se desen-volva, em perfeita sintonia com a fecunda doutrina con-tida nas duas citadas Instruções [Libertatis Nuntius e Li-bertatis Conscientia], uma reflexão teológica plenamente aderente ao constante ensinamento da Igreja em matéria social e, ao mesmo tempo, apta a inspirar uma práxis efi-caz em favor da justiça social e da equidade, da salvaguar-da dos direitos humanos, da construção de uma socieda-de humana baseada na fraternidade e na concórdia, na verdade e na caridade. Deste modo, se poderia romper a pretensa fatalidade dos sistemas – incapazes, um e ou-tro, de assegurar a libertação trazida por Jesus Cristo --, o capitalismo desenfreado e o coletivismo ou capitalismo de Estado (cf. Libertatis Conscientia, nos. 10 e 13). Tal pa-pel, se cumprido, será certamente um serviço que a Igre-ja do Brasil pode prestar ao País e ao quase-Continente latino-americano, como também a muitas outras regiões do mundo onde os mesmos desafios se apresentam com análoga gravidade.

Para cumprir esse papel, é insubstituível a ação sá-bia e corajosa dos pastores, isto é, dos Senhores. Deus os ajude a velar incessantemente para que aquela correta e

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necessária teologia da libertação se desenvolva, no Brasil e na América Latina, de modo homogêneo e não hete-rogêneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial não excludente nem exclusivo para com os pobres”.22

A atitude pessoal do Papa, conciliatória e positiva, não foi secundada pelos setores mais intransigentes da Cúria Romana.

Foram ainda laboriosos os encaminhamentos pos-teriores para se cumprir o acordado em Roma e se voltar a publicar os tomos seguintes da Coleção que continuou encontrando obstáculos e resistências.

Mesmo com esses percalços foram publicados pela Coleção 28 dos 54 tomos inicialmente previstos.

O tomo de Gustavo Gutierrez sobre a Espirituali-dade da Libertação, em parceria com Frei Betto foi um daqueles que, infelizmente, não chegou a ser publicado, privando-nos de reflexão sobre a espiritualidade, tão ne-

22 João Paulo II, Mensagem do Santo Padre ao Episcopado do Brasil. Vaticano, 9 de abril de 1986. São Paulo: Loyola, 1986, no. 5.

cessária para a caminhada eclesial da Igreja na América Latina.

Teologia construída junto com o povo e para o povo

Uma das iniciativas mais fecundas e felizes do mi-nistério pastoral e teológico de Gustavo foi o Curso de Verão iniciado em Lima, em 1970 numa parceria entre a Universidade Católica e o Centro Bartolomé de las Casas e que recebeu o nome de Jornadas de Reflexão Teológica.

Havia por detrás uma intuição certeira. Numa Igre-ja, Povo de Deus, a teologia não podia ser um estudo e uma reflexão de clérigos e reservados apenas para os clérigos, mas sim produzida a partir da vida e das inter-rogações do povo de Deus e destinada a alimentar a ca-minhada pastoral e espiritual das comunidades. Membros de base e dirigentes leigos das comunidades foram sem-pre os destinatários e os sujeitos primeiros das Jornadas.

O fato de atrair cerca de três mil participantes de todo o país, tornou-se um evento capaz de propiciar uma fecunda partilha de saberes pelo intercâmbio entre gru-pos e comunidades, de criar redes de apoio mútuo e de

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solidariedade, de gerar um sentimento de pertença a uma Igreja em que os pequenos tinham seu lugar, vez e voz. O fato de se tornarem protagonistas, de não se sentirem sozinhos e isolados faz com que retornem às suas comu-nidades, fortalecidos na fé, renovados em sua esperança, capazes de novas iniciativas e de não esmorecem fren-te às adversidades. Estava por detrás das Jornadas, a convicção de que uma ação pastoral que não estivesse alicerçada num conhecimento crítico e fundamentado da realidade econômica, social, política e cultural e que não estivesse respaldada por uma sólida reflexão bíblica e teológica tinha fôlego curto e não podia ir muito longe. Havia, por outro lado, a certeza de que uma teologia que não partisse da vida do povo e não estivesse comprome-tida com a transformação de sua injusta pobreza e opres-são tornava-se irrelevante e perniciosa.

As Jornadas de Lima que já chegam aos seus cin-quenta anos de ininterrupto serviço à formação nas co-munidades eclesiais e movimentos sociais, serviram de inspiração para que, em São Paulo, o CESEEP (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Popular), co-meçasse a discutir a criação de um Curso de Verão em moldes semelhantes ao que era realizado em Lima.

Depois de consultas aos responsáveis no Peru e de dois anos de intensa troca de ideias com as lideran-ças populares da periferia de São Paulo, com a rede das CEBs de todos o país, a Pastoral da Juventude dos Meios Populares e as Pastorais sociais, o CESEEP iniciou, em janeiro de 1988, em parceria com a PUC de São Paulo, com o nome de Curso de Verão. um programa de for-mação de caráter popular, ecumênico, de abrangência nacional, realizado todo ele em mutirão e sustentado por um numeroso corpo de voluntários e voluntárias. Está em preparação o 35º. Curso de Verão que, por causa da pan-demia, será realizado on-line. Aos 25 anos foi realizado um seminário, dado um balanço do caminho percorrido e lançado um livro de memória, avaliação e de busca de novos caminhos para o futuro.23

Graças, Gustavo e a toda a equipe de colabora-dores/as e participantes das Jornadas, por mais esta pre-ciosa semente lançada no Peru e que frutificou no em vários lugares do Brasil, na Argentina e noutras partes do continente.

23 POSSANI, Lourdes de Fátima P., SANCHEZ, Wagner Lopes (Org.) Formação Ecumênica e Popular feita em Mutirão. Curso de Verão 25 Anos. São Paulo: CESEEP e Paulus, 2011.

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José Oscar Beozzo é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo – USP, mestre em Sociologia da Religião e especialista em Comunicação Social pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. Ainda possui especialização em História do Brasil pela Faculdade Auxilium de Filosofia, Ciências e Letras, de São Paulo, e graduação em Ciências Políticas e Sociais pela Université Catholique de Louvain, em Teologia pela Pontificia Università Gregoriana, de Roma, e em Filosofia pelo Seminá-rio Central do Ipiranga/Seminário Central de Aparecida. É vigário da paróquia São Benedito, diocese de Lins - SP. Atualmente coordena o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular – CESEEP e é membro da Comisión para el Estudio de la Historia de la Iglesia en América Latina y el Caribe - CEHILA.

Entrevistas de José Oscar Beozzo para o IHU• “O Papa Francisco quer colocar o sínodo numa posição chave no governo da Igreja”. Entrevista com José Oscar Beozzo• A “Igreja em saída” de Bergoglio: adesões e resistências do clero brasileiro. Entrevista especial com Oscar Beozzo• “Pacto das Catacumbas, uma Igreja servidora e pobre”. Entrevista com José Oscar Beozzo• “No Brasil, há corpo mole em relação ao Papa Francisco, mas não discordância pública”. Entrevista com Jose Oscar Beozzo• “Apostou todas as fichas no lugar errado”. Entrevista com José Oscar Beozzo• “O Vaticano II é o elemento estruturante da teologia de João Batista Libânio”. Entrevista especial com José Oscar Beozzo• O retrato de um Brasil muito diferente. Entrevista especial com José Oscar Beozzo• “Pedro Casaldáliga, companheiro fiel às preocupações e demandas dos amantes da justiça e da paz”, afirma José Oscar Beozzo• Dom Helder, pastor da libertação em terras de muita pobreza. Entrevista especial com José Oscar Beozzo• Giuseppe Alberigo• “A Mater et Magistra deu vigoroso impulso à linha do compromisso social”

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• O ecumenismo para a fulguração da unidade entre os cristãos

Artigos e reportagens de José Oscar Beozzo para o IHU• Uma vida em meio ao pobre. Artigo de José Oscar Beozzo• A aposta errada de Bento XVI, segundo José Oscar Beozzo• Paulo VI vetou pedido da CNBB de rever celibato• Nova direção da CNBB: mais jovem, representativa e democrática• Escolha de um papa jesuíta rompe com tabus da Igreja, diz padre• “Malditas as armas que ferem e matam”. A indignação e o apelo dos franciscanos• O desmonte da legislação trabalhista e social é tema de mensagem de bispos brasileiros• Uma história épica: Irmãs negras• Ventos de profecia na Amazônia: 50 anos da Prelazia de São Félix do Araguaia• Para além dos muros do Vaticano. A periferia como o centro da Igreja

Publicações de José Oscar Beozzo para o IHU• Mater et Magistra – 50 Anos. Cadernos Teologia Pública, número 54. Ano: 2011.• O êxito das teologias da libertação e as teologias americanas contemporâneas. Cadernos Teologia Pública, número 93. Ano: 2015.

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Cadernos Teologia Pública

N. 1 Hermenêutica da tradição cristã no li-miar do século XXI – Johan Konings, SJ

N. 2 Teologia e Espiritualidade. Uma leitura Teológico-Espiritual a partir da Realidade do Movimento Ecológico e Feminista – Maria Clara Bingemer

N. 3 A Teologia e a Origem da Universidade – Martin N. Dreher

N. 4 No Quarentená-rio da Lumen Gentium – Frei Boaventura Kloppenburg, OFM

N. 5 Conceito e Missão da Teologia em Karl Rahner – Érico João Hammes

N. 6 Teologia e Diálogo Inter-Religioso – Cleusa Maria Andreatta

N. 7 Transformações recentes e prospectivas de futuro para a ética teológica – José Roque Junges, SJ

N. 8 Teologia e literatura: profetismo secular em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos – Carlos Ribeiro Caldas Filho

N. 9 Diálogo inter-religioso: Dos “cristãos anônimos” às teologias das religiões – Rudolf Eduard von Sinner

N. 10 O Deus de todos os nomes e o diálogo inter-religioso – Michael Amaladoss, SJ

N. 11 A teologia em situação de pós-moderni-dade – Geraldo Luiz De Mori, SJ

N. 12 Teologia e Comuni-cação: reflexões sobre o tema – Pedro Gilberto Gomes, SJ

N. 13 Teologia e Ciências Sociais – Orivaldo Pimentel Lopes Júnior

N. 14 Teologia e Bioética – Santiago Roldán García

N. 15 Fundamentação Teológica dos Direitos Humanos – David Eduardo Lara Corredor

N. 16 Contextualização do Concílio Vaticano II e seu desenvolvimento – João Batista Libânio, SJ

N. 17 Por uma Nova Razão Teológica. A Teologia na Pós-Modernidade – Paulo Sérgio Lopes Gonçalves

N. 18 Do ter missões ao ser missionário – Contexto e texto do Decreto Ad Gentes revisitado 40 anos depois do Vaticano II – Paulo Suess

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N. 19 A teologia na universidade do século XXI segundo Wolfhart Pannenberg – 1ª parte – Manfred Zeuch

N. 20 A teologia na universidade do século XXI segundo Wolfhart Pannenberg – 2ª parte – Manfred Zeuch

N. 21 Bento XVI e Hans Küng. Contexto e perspectivas do encontro em Castel Gandolfo – Karl-Jo-sef Kuschel

N. 22 Terra habitável: um desafio para a teolo-gia e a espiritualidade cristãs – Jacques Arnould

N. 23 Da possibilidade de morte da Terra à afirmação da vida. A teologia ecológica de Jürgen Molt-mann – Paulo Sérgio Lopes Gonçalves

N. 24 O estudo teológico da religião: Uma aproximação hermenêutica – Walter Ferreira Salles

N. 25 A historicidade da revelação e a sacra-mentalidade do mundo – o legado do Vaticano II – Frei Sinivaldo S. Tavares, OFM

N. 26 Um olhar Teopoético: Teologia e cinema em O Sacrifício, de Andrei Tarkovski – Joe Marçal Gon-çalves dos Santos

N. 27 Música e Teologia em Johann Sebastian Bach – Christoph Theobald

N. 28 Fundamentação atual dos direitos hu-manos entre judeus, cristãos e muçulmanos: análises comparativas entre as religiões e problemas – Karl-Josef Kuschel

N. 29 Na fragilidade de Deus a esperança das vítimas. Um estudo da cristologia de Jon Sobrino – Ana María Formoso

N. 30 Espiritualidade e respeito à diversidade – Juan José Tamayo-Acosta

N. 31 A moral após o individualismo: a anar-quia dos valores – Paul Valadier

N. 32 Ética, alteridade e transcendência – Nilo Ribeiro Junior

N. 33 Religiões mundiais e Ethos Mundial – Hans Küng

N. 34 O Deus vivo nas vozes das mulheres – Elisabeth A. Johnson

N. 35 Posição pós-metafísica & inteligência da fé: apontamentos para uma outra estética teológica – Vi-tor Hugo Mendes

N. 36 Conferência Episcopal de Medellín: 40 anos depois – Joseph Comblin

N. 37 Nas pegadas de Medellín: as opções de Puebla – João Batista Libânio

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N. 38 O cristianismo mundial e a missão cristã são compatíveis?: insights ou percepções das Igrejas asiá-ticas – Peter C. Phan

N. 39 Caminhar descalço sobre pedras: uma releitura da Conferência de Santo Domingo – Paulo Suess

N. 40 Conferência de Aparecida: caminhos e perspectivas da Igreja Latino-Americana e Caribenha – Benedito Ferraro

N. 41 Espiritualidade cristã na pós-moderni-dade – Ildo Perondi

N. 42 Contribuições da Espiritualidade Fran-ciscana no cuidado com a vida humana e o planeta – Ildo Perondi

N. 43 A Cristologia das Conferências do Ce-lam – Vanildo Luiz Zugno

N. 44 A origem da vida – Hans KüngN. 45 Narrar a Ressurreição na pós-moderni-

dade. Um estudo do pensamento de Andrés Torres Quei-ruga – Maria Cristina Giani

N. 46 Ciência e Espiritualidade – Jean-Michel Maldamé

N. 47 Marcos e perspectivas de uma Cateque-se Latino-americana – Antônio Cechin

N. 48 Ética global para o século XXI: o olhar de Hans Küng e Leonardo Boff – Águeda Bichels

N. 49 Os relatos do Natal no Alcorão (Sura 19,1-38; 3,35-49): Possibilidades e limites de um diálogo entre cristãos e muçulmanos – Karl-Josef Kuschel

N. 50 “Ite, missa est!”: A Eucaristia como com-promisso para a missão – Cesare Giraudo, SJ

N. 51 O Deus vivo em perspectiva cósmica – Elizabeth A. Johnson

N. 52 Eucaristia e Ecologia – Denis EdwardsN. 53 Escatologia, militância e universalidade:

Leituras políticas de São Paulo hoje – José A. ZamoraN. 54 Mater et Magistra – 50 Anos – Entrevista

com o Prof. Dr. José Oscar BeozzoN. 55 São Paulo contra as mulheres? Afir-

mação e declínio da mulher cristã no século I – Daniel Marguerat

N. 56 Igreja Introvertida: Dossiê sobre o Motu Proprio “Summorum Pontificum” – Andrea Grillo

N. 57 Perdendo e encontrando a Criação na tradição cristã – Elizabeth A. Johnson

N. 58 As narrativas de Deus numa socieda-depós-metafísica: O cristianismo como estilo – Christoph Theobald

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N. 59 Deus e a criação em uma era científica – William R. Stoeger

N. 60 Razão e fé em tempos de pós-moderni-dade – Franklin Leopoldo e Silva

N. 61 Narrar Deus: Meu cami-nho como teólogo com a literatura – Karl- Josef Kuschel

N. 62 Wittgenstein e a religião: A crença reli-giosa e o milagre entre fé e superstição – Luigi Perissinotto

N. 63 A crise na narração cristã de Deus e o encontro de religiões em um mundo pós-metafísico – Fe-lix Wilfred

N. 64 Narrar Deus a partir da cosmologia con-temporânea – François Euvé

N. 65 O Livro de Deus na obra de Dante: Uma releitura na Baixa Modernidade – Marco Lucchesi

N. 66 Discurso feminista sobre o divino em um mundo pós-moderno – Mary E. Hunt

N. 67 Silêncio do deserto, silêncio de Deus – Alexander Nava

N. 68 Narrar Deus nos dias de hoje: possibilidades e limites – Jean-Louis Schlegel

N. 69 (Im)possibilidades de narrar Deus hoje: uma reflexão a partir da teologia atual – Degislando Nó-brega de Lima

N. 70 Deus digital, religiosidade online, fiel conectado: Estudos sobre religião e internet – Moisés Sbardelotto

N. 71 Rumo a uma nova configuração eclesial – Mario de França Miranda

N. 72 Crise da racionalidade, crise da religião – Paul Valadier

N. 73 O Mistério da Igreja na era das mídias digitais – Antonio Spadaro

N. 74 O seguimento de Cristo numa era cientí-fica – Roger Haight

N. 75 O pluralismo religioso e a igreja como mistério: A eclesiologia na perspectiva inter-religiosa – Pe-ter C. Phan

N. 76 50 anos depois do Concílio Vaticano II: indicações para a semântica religiosa do futuro – José Maria Vigil

N. 77 As grandes intuições de futuro do Con-cílio Vaticano II: a favor de uma “gramática gerativa” das relações entre Evangelho, sociedade e Igreja – Christoph Theobald

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N. 78 As implicações da evolução científica para a semântica da fé cristã – George V. Coyne

N. 79 Papa Francisco no Brasil – alguns olharesN. 80 A fraternidade nas narrativas do Gêne-

sis: Dificuldades e possibilidades – André WéninN. 81 Há 50 anos houve um concílio...: signifi-

cado do Vaticano II – Victor CodinaN. 82 O lugar da mulher nos escritos de Paulo

– Eduardo de la SernaN. 83 A Providência dos Profetas: uma Leitura

da Doutrina da Ação Divina na Bíblia Hebraica a partir de Abraham Joshua Heschel – Élcio Verçosa Filho

N. 84 O desencantamento da experiência re-ligiosa contemporânea em House: “creia no que quiser, mas não seja idiota” – Renato Ferreira Machado

N. 85 Interpretações polissêmicas: um balanço sobre a Teologia da Libertação na produção acadêmica – Alexandra Lima da Silva & Rhaissa Marques Botelho Lobo

N. 86 Diálogo inter-religioso: 50 anos após o Vaticano II – Peter C. Phan

N. 87 O feminino no Gênesis: A partir de Gn 2,18-25 – André Wénin

N. 88 Política e perversão: Paulo segundo Žižek – Adam Kotsko

N. 89 O grito de Jesus na cruz e o silêncio de Deus. Reflexões teológicas a partir de Marcos 15,33-39 – Francine Bigaouette, Alexander Nava e Carlos Arthur Dreher

N. 90 A espiritualidade humanística do Vatica-no II: Uma redefinição do que um concílio deveria fazer – John W. O’Malley

N. 91 Religiões brasileiras no exterior e missão reversa – Vol. 1 – Alberto Groisman, Alejandro Frigerio, Brenda Carranza, Carmen Sílvia Rial, Cristina Rocha, Manuel A. Vásquez e Ushi Arakaki

N. 92 A revelação da “morte de Deus” e a teo-logia materialista de Slavoj Žižek – Adam Kotsko

N. 93 O êxito das teologias da libertação e as teologias americanas contemporâneas – José Oscar Beozzo

N. 94 Vaticano II: a crise, a resolução, o fator Francisco – John O’Malley

N. 95 “Gaudium et Spes” 50 anos depois: seu sentido para uma Igreja aprendente – Massimo Faggioli

N. 96 As potencialida-des de futuro da Constituição Pastoral

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N. 97 500 Anos da Reforma: Luteranismo e Cultura nas Américas – Vítor Westhelle

N. 98 O Concílio Vaticano II e o aggiornamen-to da Igreja – No centro da experiência:a liturgia, uma lei-tura contextual da Escritura e o diálogo – Gilles Routhier

N. 99 Pensar o humano em diálogo crítico com a Constituição Gaudium et Spes – Geraldo Luiz De Mori

N. 100 O Vaticano II e a Escatologia Cristã: En-saio a partir de leitura teológico-pastoral da Gaudium et Spes – Afonso Murad

N. 101 Concílio Vaticano II: o diálogo na Igreja e a Igreja do Diálogo – Elias Wolff

N. 102 A Constituição Dogmática Dei Verbum e o Concílio Vaticano II – Flávio Martinez de Oliveira

N. 103 O pacto das catacumbas e a Igreja dos pobres hoje! – Emerson Sbardelotti Tavares

N. 104 A exortação apostólica Evangelii Gau-dium: Esboço de uma interpretação original do Concílio Vaticano II – Christoph Theobald

N. 105 Misericórdia, Amor, Bondade: A Miseri-córdia que Deus quer – Ney Brasil Pereira

N. 106 Eclesialidade, Novas Comunidades e Concílio Vaticano II: As Novas Comunidades como uma

forma de autorrealização da Igreja – Rejane Maria Dias de Castro Bins

N. 107 O Vaticano II e a inserção de categorias históricas na teologia – Antonio Manzatto

N. 108 Morte como descanso eterno – Luís Ina-cio João Stadelmann

N. 109 Cuidado da Criação e Justiça Ecológi-ca-Climática. Uma perspectiva teológica e ecumênica – Guillermo Kerber

N. 110 A Encíclica Laudato Si’ e os animais - Gilmar Zampieri

N. 111 O vínculo conjugal na sociedade aber-ta. Repensamentos à luz de Dignitatis Humanae e Amoris Laetitia – Andrea Grillo

N. 112 O ensino social da Igreja segundo o Papa Francisco – Christoph Theobald

N. 113 Lutero, Justiça Social e Poder Político: Aproximações teológicas a partir de alguns de seus escri-tos – Roberto E. Zwetsch

N. 114 Laudato Si’, o pensamento de Morin e a complexidade da realidade – Giuseppe Fumarco

N. 115 A condição paradoxal do perdão e da misericórdia. Desdobramentos éticos e implicações políti-cas – Castor Bartolomé Ruiz

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N. 116 A Igreja em um contexto de “Reforma digital”: rumo a um sensus fidelium digitalis? Moisés Sbardelotto

N. 117 Laudato Si’ e os Objetivos de Desenvol-vimento Sustentável: uma convergência? – Gaël Giraud e Philippe Orliange

N. 118 Misericórdia, Compaixão e Amor: O rosto de Deus no Evangelho de Lucas – Ildo Perondi e Fabrizio Zandonadi Catenassi

N. 119 A constituição da Dignidade Humana: aportes para uma discussão pós-metafísica – Thyeles Mo-ratti Precilio Borcarte Strelhow

N. 120 Renovação do espaço público: pente-costalismo e missão em perspectiva política – Amos Yong

N. 121 Viver as Bem-aventuranças numa Igreja em saída – Tea Frigerio

N. 122 Ser e Agir, o Reino e a Glória: a Oikono-mia Trinitária e a bipolaridade da máquina governamen-tal – Colby Dickinson

N. 123 A sensibilidade religiosa de Thoreau – Edward F. Mooney

N. 124 Diáconas na Igreja Maronita – Phyllis Zagano

N. 125 Comportamentos normatizados e a no-ção de profanação: uma reflexão em Giorgio Agamben – Claudio de Oliveira Ribeiro

N. 126 Teologalidade das resistências e lutas populares – Francisco de Aquino Júnior

N. 127 A glória como arcano central do poder e os vínculos entre oikonomia, governo e gestão – Colby Dickinson

N. 128 O Princípio Pluralista – Claudio de Oli-veira Ribeiro

N. 129 Deus e o Diabo na política: compaixão e vocação profética – Ivone Gebara

N. 130 Deslocamentos genealógicos da econo-mia teológica segundo Agamben – Joel Decothé Junior

N. 131 A Heterodoxia do Pseudo-Dionísio: hie-rarquia e burocracia na Teologia Medieval – Gerson Leite de Moraes e Daniel Nagao Menezes

N. 132 O pensamento de Jorge Mario Bergo-glio. Os desafios da Igreja no mundo contemporâneos – Massimo Borghesi

N. 133 Os documentos eclesiais pós-sinodais “Familiaris Consortio” de Wojtyla e “Amoris Laetitia” de Bergoglio como respostas aos desafios da pastoral matri-monial – José Roque Junges

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N. 134 A universalidade e o (não) lugar político da Igreja no mundo de hoje. A eclesiologia da globaliza-ção de Francisco – Massimo Faggioli

N. 135 A ética social do Papa Francisco: O Evangelho da misericórdia segundo o espírito de discer-nimento – Juan Carlos Scannone S.I.

N. 136 Amoris Laetitia: aspectos antropológicos e metodológicos e suas implicações para a teologia moral – Todd A. Salzman e Michael G. Lawler

N. 137 A Teologia da Missão à luz da Exortação Apostólica Evangelii gaudium – Paulo Suess

N. 138 O pontificado de Francisco e o laicato na missão da Igreja hoje. Avanços e impasses da “parrésia eclesial” – Andrea Grillo

N. 139 A Opção de Francisco: como evangelizar um mundo em mudança? – Austen Ivereigh

N. 140 A liturgia, 50 anos depois do Concílio Vaticano II: marcos, desafios, perspectivas – Andrea Grillo

N. 141 Franciscus non cantat: Um discurso, al-guns percursos e ressonâncias acerca da música litúrgica pós-conciliar – Márcio Antônio de Almeida

N. 142 Para além do limiar do Templo: apon-tamentos éticos para uma pastoral em modo on-line –

Thiago Isaias Nóbrega de Lucena e José Joanees Souza Oliveira

N. 143 A Conversão de Agostinho de Hipona, interpretada em reflexões sobre a expressão Intellige Ut Credas – Orlando Polidoro Junior

N. 144 Teologia Pública e Práxis Pastoral: con-siderações em vista de uma Pastoral Pública - Luis Carlos Dalla Rosa

N. 145 O debate sobre o princípio pluralista: um balanço das reflexões sobre o princípio pluralista e suas aplicações - Claudio de Oliveira Ribeiro

N. 146 Juventudes e vivência ecumênica - Ro-semary Fernandes da Costa

N. 147 Igreja e evangelização: provocações da pandemia. Parte I - O fim de um mundo? - Geraldo De Mori, Lucimara Trevizan e Edward Guimarães

N. 148 Igreja e evangelização: provocações da pandemia. Parte II - As dores do parto - Geraldo De Mori, Lucimara Trevizan e Edward Guimarães

N. 149 Igreja e evangelização: provocações da pandemia. Parte III - Vinho novo, odres novos - Geraldo De Mori, Lucimara Trevizan e Edward Guimarães

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N. 150 O Papa Francisco, a Igreja e a ética teo-lógica. Alguma coisa mudou? - Michael G. Lawler e Todd A. Salzman

N.151 Igreja em saída para as periferias sociais e existenciais. O problema espiritual da missão - Rogério L. Zanini

N 152 Fratelli Tutti: um guia de leitura - Gilmar Zampieri

N. 153 A Igreja e as uniões do mesmo sexo: O Responsum e suas implicações pastorais - Michael G. La-wler e Todd A. Salzman

N. 154 A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo: O Responsum e a possibilidade de novas aborda-gens - Andrea Grillo

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N. 96 As potencialidades de futuro da Constituição Pastoral Gaudium et spes: por uma fé que sabe interpretar o que advém – Aspectos epistemológicos e constelações atuais – Christoph Theobald

N. 97 500 Anos da Reforma: Luteranismo e Cultura nas Américas – Vítor WesthelleN. 98 O Concílio Vaticano II e o aggiornamento da Igreja – No centro da experiência:a liturgia, uma leitura

contextual da Escritura e o diálogo – Gilles RouthierN. 99 Pensar o humano em diálogo crítico com a Constituição Gaudium et Spes – Geraldo Luiz De MoriN. 100 O Vaticano II e a Escatologia Cristã: Ensaio a partir de leitura teológico-pastoral da Gaudium et Spes

– Afonso MuradN. 101 Concílio Vaticano II: o diálogo na Igreja e a Igreja do Diálogo – Elias WolffN. 102 A Constituição Dogmática Dei Verbum e o Concílio Vaticano II – Flávio Martinez de OliveiraN. 103 O pacto das catacumbas e a Igreja dos pobres hoje! – Emerson Sbardelotti TavaresN. 104 A exortação apostólica Evangelii Gaudium: Esboço de uma interpretação original do Concílio Vatica-

no II – Christoph TheobaldN. 105 Misericórdia, Amor, Bondade: A Misericórdia que Deus quer – Ney Brasil PereiraN. 106 Eclesialidade, Novas Comunidades e Concílio Vaticano II: As Novas Comunidades como uma forma

de autorrealização da Igreja – Rejane Maria Dias de Castro BinsN. 107 O Vaticano II e a inserção de categorias históricas na teologia – Antonio ManzattoN. 108 Morte como descanso eterno – Luís Inacio João StadelmannN. 109 Cuidado da Criação e Justiça Ecológica-Climática. Uma perspectiva teológica e ecumênica – Guiller-

mo KerberN. 110 A Encíclica Laudato Si’ e os animais - Gilmar ZampieriN. 111 O vínculo conjugal na sociedade aberta. Repensamentos à luz de Dignitatis Humanae e Amoris Lae-

titia – Andrea Grillo