Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

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Quando a Habitação Colectiva era Moderna Desde Portugal a outros territórios de expressão portuguesa. 1940-1974. inês lima rodrigues Trabalho desenvolvido no âmbito da Tese de Doctorado, Departamento de Projectos Arquitectónicos. ESTAB. UPC. janeiro2009.

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Quando a Habitação Colectiva era ModernaDesde Portugal a outros territórios de expressão portuguesa. 1940-1974.

inês lima rodrigues

Trabalho desenvolvido no âmbito da Tese de Doctorado, Departamento de Projectos Arquitectónicos. ESTAB. UPC. janeiro2009.

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A análise confronta Portugal, o Brasil e outros territórios de expressão portuguesa, perante a herança cultural arquitectónica portuguesa em torno dos princípios modernos da habitação colectiva.

O fio condutor é justamente a cultura arquitectónica.A partir do levantamento do estado da questão da arquitectura em Portugal, entre a simbiose da aplicação dos valores modernos aliados a forte componente tradicional, a investigação segue com as extrapolações arquitectónicos nos territórios de expressão portuguesa.

O Brasil, vários anos após a sua independência, influenciou por primeira vez, e de forma determinante, a cultura arquitectónica portuguesa, através da força da sua arquitectura moderna. Procura-se definir a reciprocidade e movimento de influências arquitectónicas na definição do habitar moderno.

Realiza-se uma aproximação ao entendimento, como a colonização portuguesa se transforma num argumento em condições de apoiar a especificidade do moderno nos vários territórios em questão. Retoma-se a colonização portuguesa como um imaginário de capacidade regenerativa, permitindo uma visão de independência e simultaneamente de valorização do património da arquitectura moderna.

A presença cultural portuguesa em países de história comum é marcada através de edifícios de qualidade ímpar, como a caso de exemplo, Delfim Amorim no Recife, Manuel Vicente em Macau, Pancho Guedes ou José Tinoco em Maputo, ou Vasco Vieira da Costa em Luanda, como modo de sedimentação da memória arquitectónica e registo de uma cultura.

Pretende-se desenhar alguns dos guiões da habitação colectiva com o objectivo de contribuir ao registo e à divulgação da arquitectura moderna de expressão portuguesa e à valorização do desenho como processo arquitectural.

0.0. resumo

1_ARQUITECTURA MODERNA 2_HABITAÇÃO COLECTIVA

3_PORTUGAL 4_TERRITÓRIOS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA

5_ SÉC. XX (1940-1974)

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0.1. introdução

1.O TEMA da investigação centra-se na Arquitectura Moderna Portuguesa, incidindo no âmbito da Habitação Colectiva. A análise parte da escala da cidade até ao objecto em si, dando relevância ao bairro e à unidade de vizinhança, ao edifício e à tipologia, valorizando a originalidade e a especificidade de cada projecto. Destacam-se por um lado, as propostas paradigmáticas a nível da habitação colectiva em Portugal e por outro, as repercussões que existiram nos territórios de expressão portuguesa. O âmbito do estudo está compreendido entre 1940 e termina com o particular ano de 1974 1, com a Revolução dos Cravos.

Inicia-se o percurso em Portugal Continental, pondo de manifesto as duas escolas de arquitectura existentes: Lisboa e Porto. Confrontam-se as duas linhas universitárias, o grupo de arquitectos e os seus movimentos com os projectos de habitação mais reveladores. Partindo do conhecimento da história local, realiza-se uma primeira aproximação ao caso particular do Brasil, que apesar de ser um país independente à data da investigação, influenciou sem dúvida alguma, na definição da arquitectura portuguesa. Foi um modelo moderno na presença da condição plástica que a arquitectura do século XX desejou num determinado momento da sua história e que provou que o Brasil pôde construir a sua própria história. Da longa área existente dos territórios ex-ultramarinos, o estudo até à data, incide sobre o caso fulcral de Angola e de Moçambique e uma pequena alusão ao caso de Macau 2. Uma investigação aberta, mutável e transformável, consoante novas informações e conclusões, o que justifica a incompleta “narrativa” num campo aberto à reflexão sobre a intensidade destes percursos.

Pretende-se abrir uma hipótese de reflexão sobre os sentidos da colonização, numa perspectiva de entender também como um território novo exprime a sua vontade de devolver ou assimilar aquilo que recebeu. A conotação entre Portugal e edifícios históricos de valor patrimonial, construídos nesses países durante a presença colonial, daria consciência a uma politica cultural série e eficaz 3. Identificar os mecanismos impulsionadores dos fluxos culturais e arquitectónicos, de modo a valorizar, em justa medida, as consequências positivas ou negativas da sua expansão.

Pode afirmar-se que Portugal, apesar de geograficamente encontrar-se no extremo ocidental da Europa, sempre foi um ponto de encontro de origens muito diferentes, e com um grande grau de fusão entre elas. O mar, que em tempos foi um obstáculo quase intransponível tornou-se, mais tarde, a porta de abertura e a via de ligação ao um Novo Mundo e a uma enorme movimentação de culturas. Portugal leva consigo, por um lado, os costumes e as tradições de um país, e por outro, acolhe desde muito cedo, uma grande sucessão de culturas distintas, que desde logo sabe acolhe-las de uma maneira natural e híbrida.

É portanto fundamental ter em consideração os factores de unificação inerentes a cada de cultura de modo a ajudar a entender o território e a história como um conjunto indissociável, que incide nos valores culturais, económicos e nas estruturas sociais, localizados em regiões geográficas tão diferentes 4.

1_ Com a “Revolução dos Cravos” em 25 de Abril de 1974, proclamou-se a Democracia em Portugal, que derrubou o regime ditatorial de Oliveira Salazar e originou simultaneamente o processo de independência das colónias portuguesas em África. Apesar do período de maior intensidade arquitectónica se produzir entre as décadas dos 50 e 60, é inevitável ampliá-lo às décadas que o precedem e que o continuam, de modo a levar a cabo uma melhor compreessão da evolução da habitação colectiva moderna.

2_ Portugal e os quatro países aqui citados reapresentam o início de uma investigação aberta sobre o percurso da Habitação Moderna Portuguesa. Foram seleccionados pela sua selectividade devido documentação encontrada ao momento deste estudo, não excluindo a hipótese de outros.

3_ Ana Vaz Milheiro, in o jornal O Público, 28 de Julho 2008.

4_ Alexandre Alves Costa, in Architectures à Porto, pp.

5_ Nuno Portas, in Prefácio da História da Arquitectura Moderna de Bruno Zevi, p. 12

6_ rA, Revista da FAUP, Ano I Número 0 Outubro 1987

2.Não existe qualquer tipo de pretensão de reunir a história da arquitectura global de mais de três décadas, mas simplesmente realizar um contributo para a representação e reconhecimento do património da arquitectura moderna portuguesa. Destacam-se as propostas arquitectónicas que, pelo seu contexto cultural, pelo grupo de arquitectos ou pelas particularidades da tipologia, definiram novas ideias da arquitectura portuguesa sobre o habitar, não apenas as contribuições nacionais, como também as extrapolações do habitar português a outros territórios. À parte da identificação, pretende-se o aprofundamento do conceito de espaço da habitação como estrutura sensível capaz de comunicar valores não só de economia e conforto, mas também sócio-culturais e poéticos. Fraseando Nuno Portas, uma arquitectura para habitar, em vez de caixas para contemplar. 5

A casa, ou habitat, é um organismo vivo das cidades que tem a capacidade de relacionar vários elementos: quer externos: com outras habitações, com as áreas de produção, com os espaços públicos, quer internos: lojas – espaço residencial, sala – cozinha, cozinha – quartos. É, sem dúvida algo, um sistema complexo, mutável e múltiplo dentro da cidade. Justifica-se assim, a análise morfológica das distintas tipologias (estrutura, cobertura, fachadas) e espaciais (em função da compartimentação e funcionalidade internas). Complementar da visão arquitectónica, implica-se o estudo das cidades onde se inserem os projectos de análise, o tecido urbano, o crescimento, de modo a ajudar a enquadrar os projectos e a dar-lhes um sentido de conjunto – em termos de espaço – e de continuidade – em termos de tempo 6.

Procura-se na cidade de origem portuguesa, dar um sentido interpretativo ao sistema urbano “inventado” por cada cidade: aperfeiçoamentos locais, as influencias continuadas, ou não, pela Expansão nos diferentes continentes, tão díspares e peculiares. Pretende-se entender, se Portugal conseguiu, de alguma forma, impor mecanismos de exportação cultural e arquitectónica em cidades que eventualmente, só por si, não tinham força para dinamizar-se. Pretende-se analisar a temática urbano-arquitectónica de raiz, influência e contexto cultural português, aspecto que muda totalmente e radicalmente depois da Revolução de 1974.

Será fundamental, numa fase posterior, contemplar as políticas do Estado, particularmente no que se refere à Habitação Colectiva: legislação, programas governamentais, etc. As técnicas de construção locais, os materiais existentes, a localização geográfica e o clima, serão analisados de modo a entender as especificidades de cada lugar. A relação do sentimento social e das políticas sobre o Património, neste caso a Arquitectura Moderna, seguramente tão diferentes entre os vários países, são também alvo de interesse a contemplar no presente estudo.

3.O afastamento geográfico e histórico de Portugal (limite ocidental da península ibérica e isolado politicamente por uma ditadura que durou 45 anos) e o forte atraso tecnológico, foram factores determinantes na definição da arquitectura portuguesa. Afastado dos principais centros culturais Europeus, Portugal sempre foi, e é ainda hoje, muito receptivo e permeável aos debates arquitectónicos internacionais e às influências externas.

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Assim, a originalidade da produção portuguesa, deve-se em grande parte, à simbiose que desde sempre existiu na cultura portuguesa, entre o desejo de conservar e inovar, entre a vanguarda e a nostalgia, entre a modernidade e a tradição. Este processo nunca foi uma tarefa fácil de ultrapassar e talvez por isso impediu o conhecimento de algumas obras pioneiras, que seguramente, teriam merecido citação nos manuais do Movimento Moderno. Esta produção à margem internacional, sem que por isso seja menos qualificada, afirma-se através de um percurso sólido e contínuo, muito permeável a influências externas, que eventualmente Portugal também influencia.

“Moderno” e “Regional” são portanto dois parâmetros que andam lado a lado ao longo do percurso arquitectónico português e estão simultaneamente aliados a uma forte relação com o lugar. “Portugal, por exemplo, não tem o sentido de unidade em matéria da arquitectura. “Arquitectura portuguesa” ou a “Casa Portuguesa” não existe na realidade. Entre uma casa do Minho e uma quinta no Alentejo existem mais diferenças que entre determinados edifícios portugueses e gregos. Por isso, devemos e podemos reter da arquitectura vernacular portuguesa uma lição de coerência, seriedade, economia, talento e fundamentalmente de beleza… no seu conjunto, podem contribuir de uma forma única à formação dos arquitectos modernos.” (Report, 1961).Tradicional, vernacular e “moderno” tornam-se noções abstractas dentro de um património anónimo, de valores revitalizantes do novo lugar.

Implica-se exactamente na investigação a procura da unidade dentro da diversidade da habitação colectiva moderna portuguesa, tentando ao máximo aclarar as suas especificidades. Por outras palavras, procura-se definir a identidade da habitação colectiva moderna de influência portuguesa.

Partindo do conhecimento local, investiga-se a curiosa aproximação portuguesa ao universo moderno brasileiro. O Brasil, devido enorme projecção mundial da sua arquitectura moderna, implica-se neste caso particular, o estudo de projectos realizados pelos seus próprios arquitectos. Analisar-se-ão os objectos de estudo brasileiros que se destacam dentro do âmbito da investigação, a influência que tiveram em Portugal e simultaneamente investiga-se a reciprocidade do processo, onde à partida se destaca a reconhecida e inegável absorção e aplicação em Portugal das especificidades da arquitectura moderna brasileira.Simultaneamente, procuram-se os trajectos e obras de arquitectos portugueses no Brasil. Neste campo específico, encontrou-se até à data, o valioso trabalho do arquitecto portuense Delfim Amorim no Recife. Influenciou no crescimento da cidade, foi professor na Universidade de Arquitectura e realizou várias obras a nível da habitação colectiva nesta cidade.

Nos outros territórios de expressão portuguesa, devido em parte ao forte vínculo entre Portugal e as suas ex-colónias ultramarinas, propõe-se aqui um novo campo de estudo, neste caso ao estudo de projectos de arquitectos portugueses deslocados aos distintos países. São os responsáveis directos da chegada da modernidade e em particular da habitação colectiva a lugares e contextos tão diversos.

4.Pensar a arquitectura como um ensaio, como o projectar, é um caminho para identificar e compreender o problema, neste caso sobre as formas de residência urbana. Formulam-se hipóteses para identificar as dificuldades, as características, as especificidades, o contexto de cada projecto ou cidade para depois através da análise de projecto, compará-las, de modo a entender e constituir uma visão de conjunto sobre a habitação colectiva de expressão portuguesa. O estudo da arquitectura prova-se no projecto e pelo projecto. Na distância ao projecto, ao construído, o conhecimento da arquitectura provoca-se pela investigação, para recolher a matéria teórica e critica que argumenta e alia o desenho como um modo de pensar que permite a interpretação 7.

É fundamental ir sedimentando as memórias e registar a história que se vai construindo. Para tal, realiza-se uma investigação evolutiva que pretende realizar alguns dos guiões de referência sobre a habitação colectiva Moderna Portuguesa, através do (re)conhecimento de arquitecturas quase desconhecidas a nível internacional, por vezes inclusivamente pouco comentadas em Portugal em manifesto com algumas arquitecturas facilmente reconhecidas a nível mundial (particularmente o caso brasileiro). Tem-se por objectivo, conseguir através da análise, aportar outro ponto de vista para compreender até que ponto o desenho, enquanto instrumento de trabalho da arquitectura, influi no entendimento dos fenómenos inerentes ao sistema da “casa moderna” no contexto urbano das cidades de expressão portuguesa. Tenta-se identificar a estrutura este fenómeno de forma moderna pela coerência dos seus acontecimentos, identificando as suas inflexões e sobretudo os critérios de construção que fundamentam a sua forma.

Implica-se a procura e a aquisição dos desenhos originais dos projectos eleitos e o seu posterior redesenho informático. Realizar-se-á sempre desde uma visão intencionada que dará origem à realização da análise urbana e arquitectónica dos casos mais paradigmáticos de habitação colectiva no contexto específico de cada cidade, seguindo as Pautas de investigação estabelecidas no Departamento de Projectos (ESTAB-UPC) 8. Identificar-se-ão os elementos de referência dos princípios da modernidade em cada projecto seleccionado, analisando em seguida as implicações relevantes que permitam dar a conhecer a evolução urbana do bairro no qual está inserido o referido projecto e a sua influencia nos conjuntos de habitação colectiva realizados posteriormente. Pretende-se conseguir a máxima igualdade e equilíbrio entre os diferentes casos seleccionados para a realização do estudo das arquitecturas comparadas de cada bairro ou cidade.

5.À parte dos projectos mais significativos do ponto de vista representativo da perspectiva portuguesa, pretende-se incluir neste estudo, obras pouco, ou nada, documentadas nas publicações existentes sobre o tema, projectos não realizados, ilustrando os conceitos e as concepções dos arquitectos e, também, de edifícios que hoje já foram demolidos, para que não caiam de todo no esquecimento. “Quantos passos, quantos gestos, quantas palavras e acções, quanto desenho ficou no segredo dos meus muros, quanta potencialidade transformadora estiolou sem debate ou abertura ao exterior” 9?

7_MENDES, Manuel, RAMALHO, Pedro, Uma Homenagem a Arménio Losa, Porto, Câmara Municipal de Matosinhos/ Edições Afrontamento, 1995, p.9

8_GASTÓN, Cristina y Rovira, Teresa, “El Proyecto Moderno. Pautas de investigación.”Ediciones UPC.

9_ rA, Revista da FAUP, Ano I Número 0 Outubro 1987

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É exactamente esta visão que se tenta não só evitar, como também colmatar.

Neste ponto, é fundamental considerar a concretização de Exposições temáticas na área da arquitectura, em Portugal e nos outros territórios, pois ajudam e contribuem de forma significativa à caracterização do contexto vivido na época. As exposições nesta época, tinham uma importância muito grande, pois resumiam, juntamente com os Congressos, as poucas possibilidades de encontro e debate entre os vários arquitectos. Foram particularmente relevantes, no caso brasileiro.

Na última fase desenhar-se-ão as relações encontradas nas diferentes cidades para culminar com a realização do projecto de Arquitecturas Comparadas, seguindo a metodologia da investigação. Tem-se por objectivo a identificação dos elementos de referência da Habitação Moderna, de modo a contribuir à concepção arquitectónica através do projecto, superando o seu carácter estritamente teórico e, ao mesmo tempo centrar a atenção nos aspectos básicos da sua concepção assim como, nos critérios essenciais da habitação moderna de expressão portuguesa.

6.O trabalho realizado até aqui parte de uma série de hipóteses que a partir do seu desenvolvimento se procura dar resposta aos parâmetros estabelecidos.

Tal como Nuno Portas se perguntava numa conferência dada no FAD em Barcelona 10, Será que Le Corbusier tinha tido a importância tão relevante na Historia da Arquitectura se não fosse através do protagonismo dado através da revista “L’Architecture d’Aujourd’hui”? ou a arquitectura inglesa e o TEAM 10 sem o apoio da revista “Architectural Design”?De uma forma análoga e com base no caminho realizado até então, surge o momento de perguntar se a arquitectura brasileira tinha tido o impacto que teve em Portugal se não tivesse existido a revista “Arquitectura”? E será que a equipa de d’Athouguia e Sanches tinha realizado o projecto das “Estacas” em 1949 sem a contribuição dos numerosos artigos dedicados à arquitectura brasileira?

O distanciamento, inclusivé a confrontação que existia entre as únicas duas escolas de arquitectura portuguesas, a de Lisboa e do Porto, era um facto totalmente assumido. Os primeiros encontros dos arquitectos nacionais foram escassos e tardios. De facto, interessa salientar os aspectos em que realmente as duas escolas se aproximaram e distanciaram. Será que tinham em comum e seguiam os mesmos grandes maestros de referência da arquitectura mundial? Como foram interpretados por cada Escola? Como se manifestaram as linhas academistas das duas escolas e como influenciaram na projecção da habitação moderna.Como conseguiu a modernidade do bairro de Alvalade em Lisboa, ou do bairro do Ramalde no Porto, contornar os princípios da arquitectura oficial do Estado Novo? Como e por quem se estabeleceu o vínculo entre os valores modernos apresentados nos Congressos dos CIAM e a arquitectura portuguesa?

É facilmente reconhecida uma identidade forte, impulsionada pelo projecto das “Estacas” entre 1949-55 na evolução da habitação colectiva no bairro de Alvalade. Será que Távora conseguiu em 1952 alcançar esta mesma identidade com projecto de Ramalde na evolução do bairro? Será possível comparar a unidade do bairro das “Estacas” levada a cabo por uma equipa de arquitectos com a diversidade que se verificou no bairro do Ramalde?

A influência da arquitectura moderna brasileira é inquestionável na evolução da arquitectura portuguesa. Mas qual o quem foram realmente os médios de influencia e transmissão? Talvez se tenha produzido através dos numerosos artigos que dedicou a revista “Arquitectura”, o possivelmente através dos contactos de arquitectos portugueses, como Maurício Vasconcelos ou Delfim Amorim, que trabalham então no Brasil? Será que existiu também influência inversa? Em quê se reflectiu? Um facto que aproxima a realidade de esta possível relação foi a atribuição do prémio ao bairro das “Estacas” na II Bienal de Arquitectura de São Paulo em 1954. Dois anos antes, na I Bienal de São Paulo, Lúcio Costa ganhou o I prémio de Habitação com o conjunto residencial do “Parque Guinle” no Rio de Janeiro.

Quem foram os responsáveis, e de que escolas de arquitectura portuguesas precediam, de levar os princípios da arquitectura moderna portuguesas aos territórios então colonizados, desde África ao Oriente? Como se adaptaram às e com as particularidades arquitectónicas de cada país? Logicamente se tem de ter em conta as politicas de Estado, as normativas y a legislação sobre Habitação Colectiva, as técnicas de construção locais, os materiais existentes, assim como factores como o clima, para poder avaliar e catalogar as referidas especificidades.

Quais serão os sistemas de composição que ordenaram arquitectos tão diferentes em localizações tão dispares? Existirão sistemas de proporções iguais entre os diferentes casos de estudo? De que forma influenciaram os diferentes sistemas estruturais na originalidade dos objectos de estudo?

10_Conferência de Nuno Portas, entre outros, realizada no II Seminário Portugal Convida, realizada en el FAD, Barcelona a 12 de Junho de 2008.

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o panorama português

1. Ruptura e charneiraA década de quarenta inicia-se com a Exposição do Mundo Português (1940), onde se verificaram interpretações viciadas no passado aliadas a ambiguidades ideológicas, o que não passavam de entraves à entrada dos valores modernos, subordinados a um espírito nacionalista. Com a vitória de Franco em 1939 e com a consolidação da ditadura salazarista em Portugal, estes dois países irão adoptar técnicas e mecanismos de exaltação aos “valores nacionais” ao contrário da Itália que apesar da era de Mussolini, coexistiram com a arquitectura fascista espíritos modernistas como Terragni ou Pagano. Em Portugal, o regime de Salazar reprimia, todo e qualquer espírito moderno, como aliás se verificou em quase todos os regimes totalitarismo políticos, o que resumia o debate arquitectónico medíocre ao estilo português e nacional.

O fim da primeira guerra mundial muda substancialmente as socioeconómicas da Europa, acelera o desenvolvimento industrial e faz aparecer novas tecnologias. O aumento demográfico das cidades e a mecanização dos transportes provocam a ruptura das estruturas urbanas existentes. Portugal recebe tardiamente e lentamente as novas tecnologias mas absorve rapidamente o grande problema urbanístico nos seus vários aspectos: social, funcional, higiénico e politico. É portanto, a nível da habitação colectiva que urge solucionar a grave falta de oferta ao grande volume das massas migratórias para as principais cidades. Por primeira vez, a planificação urbanística antecede o projecto arquitectónico, a racionalidade das formas será consequência lógica das necessidades objectivas e a arquitectura condicionante do bem-estar das populações.1 Já não é só um problema urbanístico mas também social, uma visão ideológica que através da arquitectura se podia construir um mundo melhor.A conclusão da guerra e o despontar das democracias na Europa proporcionam um clima de maior agitação cultural, que torna a década de quarenta particularmente importante na reflexão da arquitectura moderna em Portugal.

Num período de inquietudes e instabilidades, a arquitectura portuguesa luta pela conjugação dos primeiros sinais da modernidade num contexto cultural fortemente marcado pela tradição, onde paradoxalmente se integra a influência da moderna arquitectura brasileira.2 Keil Amaral publica A Arquitectura e Vida (1942) e Távora Problema da Casa Portuguesa (1947), onde declara “tudo há que refazer, começando pelo princípio (…) impõe-se um trabalho sério, conciso, bem orientado e realista, cujos estudos poderiam talvez agrupar-se em três ordens: a) do meio português; b) da arquitectura portuguesa existente; c) da arquitectura e das possibilidades da construção moderna no mundo” 3 e Lúcio Costa publica “Razões para uma nova arquitectura”4, um texto de enormes repercussões a nível mundial.Em Portugal cada vez se tornava mais claro que a única via e possibilidade de ser moderno, contemplava a capacidade de integração da tradição e simultaneamente os modernos progressos científicos e tecnológicos.

A censura e o afastamento que caracteriza o regime salazarista provocaram fortes atrasos industriais e tecnológicos em Portugal, que aliados à falta de tradição de um pensamento moderno num país predominantemente rural, obrigam os arquitectos portugueses a uma efectiva adaptação e mesmo invenção do domínio das tecnologias.

Desenvolvem-se especificidades únicas no campo arquitectónico que com naturalidade, equaciona os valores modernos, valorizando as questões do contexto, do significado do lugar, a importância dos materiais e técnicas tradicionais 5.

É no contexto do pós-guerra, marcado pela forte escassez e censura de informação, que a influência da Arquitectura Moderna brasileira adquire um valor assinalável “era sobretudo do Brasil que se manifestavam as influências mais fortes estabelecidas ainda antes do fim da guerra”6. Para isto contribuiu decisivamente o livro de Brazil Builds, editado em 1943 pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, da autoria de Philip Goodwin e com admiráveis fotografias de Kidder Smith, com o subtítulo “Architectural New and Old 1652-1942”, revela ao mundo qualquer coisa de verdadeiramente inédito: a riqueza da arquitectura colonial e neoclássica do Brasil e enorme força das obras de inspiração moderna, construídas exactamente durante os anos da guerra 7.

2. O Congresso de 1948Vive-se um tempo de contestação ao regime de Oliveira Salazar e reivindicam-se os princípios do movimento moderno.Neste contexto, surgem duas organizações de arquitectos particularmente importantes: ICAT (Iniciativas Culturais Arte Técnica) em Lisboa (1946) e o ODAM (Organização dos Arquitectos Modernos) no Porto (1948), com o objectivo de “divulgar os princípios em que deve assentar a arquitectura moderna” 8. O ICAT, muito ligado à Escola de Lisboa e a Keil do Amaral, grupo de oposição ao regime ditatorial e muito influenciado pelas doutrinas racionalistas europeias e brasileiras, utilizando como veículo as EGAP (Exposições Gerais de Artes Plásticas 1946-1956 e a revista Arquitectura. O ODAM era constituído apenas por arquitectos do Porto, e apesar de compartirem muitas das oposições teóricas do ICAT, tiveram um papel mais influente e concretizador, revelando um espírito forte e de consciência crescente sobre a modernidade.Estes dois grupos, assumindo as novas ideologias, tiveram um papel fundamental no grande acontecimento da década: Primeiro Congresso Nacional de Arquitectura em 1948. Com a derrota do fascismo na segunda guerra mundial, o regime de Salazar tentou dar uma imagem mais democrática, o que não passou de um ensaio de cosmética, mantendo no essencial o seu carácter ditatorial 9.

O Congresso promovido pelo Sindicato Nacional de Arquitectos, que conferiu “garantias de liberdade de expressão aos arquitectos” 10, situação inédita até então, foi considerado como “um momento de viragem na reconquista da liberdade de expressão dos arquitectos” 11. Foi um dos pontos mais altos da cultura portuguesa dos anos 40 e teve consequências determinantes para o entendimento da arquitectura dos anos seguintes.

Para cerca de uma centena e meia de arquitectos reunidos no Congresso, uma das tarefas era clara: o arquitecto tinha a responsabilidade e a função social de manter o equilíbrio da sociedade12. Assumiam uma postura moderna, defendendo a industrialização, particularmente para o problema urgente da habitação, pela primeira vez sem constrangimentos nem obrigatoriedades de estilos. Os arquitectos dos “tempos modernos”, como se auto denominavam, propunham

5_TOSTÕES, Ana, “Modernização e regionalismo, 1948-1961” in Catálogo Arquitectua século XX, Portugal, 1997.

6_idem

7_PEREIRA, Teotónio, Escritos (1947-1999, selecção), FAUP publicações, Porto, 1996, p.303

8_CASSIANO, Barbosa, (comp), ODAM, Organização dos Arquitectos modernos, Porto 1947-195I, Porto, Ed. Asa, 1947, p.145

9_ PEREIRA, Teotónio, Escritos (1947-1999, selecção), FAUP publicações, Porto, 1996, p.302

10_ Actas do I Congresso Nacional de Arquitectura, Maio/Junho de 1948

11_ PEREIRA, Nuno Teotónio, “A arquitectura do Estado Novo”, in “Arquitectura”, 4ª série, n.142, Lisboa, Julho 1981.

12_LIMA, Viana, “O problema Português da Habitação”, in 1º Congresso Nacional de Arquitectura, Relatório da Comissão Executiva, Teses, Conclusões e Votos, p.216

1_ BOTELHO, Manuel, “Os Anos 40: A ética da estética e a estética da ética” in rA, Revista da FAUP, Ano I Número 0 Outubro 1987.

2_ALMEIDA, Pedro Viera, Viana de Lima, Porto, Árvore, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996.

3_ TÁVORA, Fernando, O Problema da Casa Portuguesa, ……….. As premissas lançadas por Távora serão importantes no entendimento do percurso da sua produção arquitectónica durante a década de 50, teórica ou construída, no seu protagonismo na escola do Porto e determinantes na viragem da arquitectura moderna em Portugal.

4_COSTA, Lúcio, razões para uma nova Arquitectura,…….

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13_SEGURADO, Jorge, “A solução vertical na Habitação Colectiva”, in Idem, op.cit., p.231

14_VELOSO, Matos, “Os regulamentos da construção urbana”, in Idem, op.cit., p.231

15_PORTAS, Nuno, “Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”, in Bruno Zevi, História da Arquitectura moderna, Lisboa, ed. Arcádia, 1977, p.733

16_BOTELHO, Manuel, “Os Anos 40: A ética da estética e a estética da ética” rA, Revista da FAUP, Ano I Número 0 Outubro 1987

17_MENDES, Manuel, “Entre a autonomia criativa do “novo” e a critica ao espaço diferenciado, ao modelo transferível – os compromissos realistas do “estilo internacional””, rA, Revista da FAUP, Ano I Número 0 Outubro 1987

novos desafios e defendiam modelos modernos para a prática da profissão: “quanto maior for a técnica e a indústria mais prazer sentirão em ser artistas e mostrar em prática útil a sua sensibilidade” 13. Tinham bem definido que a missão do arquitecto envolvia “a solução dos problemas humanos, planeando cidades, arrumando tudo num conjunto harmónico e racional; ele é o organizador das actividades humanas, o pedagogo, o filantropo, o civilizador!” 14.O Congresso marca o início de um novo período da arquitectura moderna em Portugal 15, onde se conclui unanimemente que a arquitectura deve exprimir uma linguagem internacional que aliada ao urbanismo moderno, são a solução para o “gravíssimo” problema da habitação. Assim, definia-se pouco a pouco, uma geração de arquitectos marcados pela dimensão humana da profissão com a coragem de demarcar-se frontalmente das orientações do regime. A renovação de um novo código icónico, a exigência da organização funcional da cidade, a renovação tecnológica, a utopia da arquitectura portadora de uma reforma de vida e condutora da convivência civil, como um momento unificador e total não ultrapassam ambiguidades que constituirão pano de fundo no debate da reflexão arquitectónica das décadas seguintes 16.

Um panorama de vazio deixado pela guerra praticamente em toda a Europa, apenas a Escandinávia e a Suíça, os únicos países que se mantiveram neutros no conflito, seguiram o processo normal de crescimento das cidades e assumiram com pujança os valores do Movimento Moderno. Os arquitectos portugueses, seduzidos pelo racionalismo europeu, pouco se interessavam sobre a arquitectura americana.

3. O eterno debate: entre o moderno e o regionalEm tempos de pós-guerra da segunda guerra mundial, com o regime de Salazar cada vez mais enfraquecido, surge uma época de acesso ao debate internacional e de revisa disciplinar: os arquitectos portugueses consolidavam definitivamente o seu direito a cidadania, de liberdade criativa, num voto de louvor às formas novas; nesse voto associava-se a arquitectura do novo à expressão do desejo de conquistas das liberdades democráticas. 17.

No verão 1955, ocorre o célebre Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, onde assumidamente se procurava a integração da modernidade e da tradição. Desencadeado por Keil do Amaral e realizado com o apoio oficial no sentido de “contribuir para o aportuguesamento da arquitectura”, propõe-se uma aproximação ao lugar, às formas de povoamento e ás formas de vida traduzidas pela apropriação do espaço-território, aglomerado e edifício. Sobre o Inquérito, aperfeiçoa-se o conhecimento sobre as sub-regiões de Portugal, que até então se tinham confinado a uma visão romântica, desde o fim do século apegada à ideia da existência de “uma casa portuguesa”, definição de Raul Lino.

Neste ambiente de mudança, a arquitectura portuguesa vai-se libertando, pouco a pouco, dos regionalismos e da arquitectura do Estado Novo e reduz progressivamente o seu isolamento em relação aos principais circuitos da produção arquitectónica internacional. Curiosamente, não tem qualquer tipo de pretensão de abandono ou repulsão das suas raízes culturais. Intensificam-se os contactos com a vizinha Espanha principalmente com o “circuito catalão”, debate-se nos pequenos Congressos organizados pela revista “Arquitectura” e aproxima-se dos Congressos dos CIAM.

Existe efectivamente um caminho de procura em aliar as especificidades da arquitectura nacional aos princípios modernos que se preconizavam na Europa, referenciadas claramente a Le Corbusier e ainda que, por essa via, à arquitectura brasileira18.

Na produção arquitectónica portuguesa dos anos 50, é no domínio da habitação colectiva que se revelam as maiores inovações, quer na amplitude dos programas quer na sua conceptualização espacial. Ensaiam-se, para além de inovadores jogos plásticos, novas formas de agrupamento, de organização interna de fogos, de distribuição dos acessos, revelando uma assinalável pesquisa e destreza, acreditando, ingenuamente, no poder da arquitectura, transformadora do quadro de vida do quotidiano contemporâneo, respondendo, com objectivos de eficácia, às solicitações de uma vida moderna 19. Alertados para a problemática do habitat, realiza-se em 1957 a Exposição “O Cooperativismo Habitacional no Mundo” na SNBA e um Colóquio no Sindicato Nacional dos Arquitectos sobre os aspectos sociais na concepção do habitat em 1960.

A geração da pós-guerra, apesar de se enfrentar a muitas e diversas dificuldades, estava cada vez mais atenta à questão da habitação condensada na necessidade da habitação massiva, formulada como “o problema da habitação” 20. O moderno bloco de habitação colectiva em altura passou, primeiro, a ser entendido como uma unidade autónoma da cidade, e depois, através da sua repetição como parte integrante e constituinte do seu tecido. As contribuições da ideologia radical e socialista dos arquitectos alemães expressas nos três primeiros congressos dos CIAM 21, e sem dúvida, o ícone máximo da habitação colectiva, a Unidade de Habitação de Marselha (1945-52) de Le Corbusier são fortes e decisivos influentes para os arquitectos portugueses.

Divididos, entre tradição ou compromisso oficial e a procura dos valores modernos e racionalistas, destacam-se algumas equipas de pequena dimensão, quer em Lisboa como no Porto, lideradas por arquitectos formados na década de quarenta. No Porto, destacam-se José Carlos Loureiro, Fernando Távora, Vasco Vieira da Costa que se fixa mais tarde em Luanda e em Lisboa, Nuno Teotónio Pereira, Raul Chorão Ramalho, Manuel Taínha.

4.Contestação e transição.Após a fase do “internacionalismo” e da vulgarização da Carta de Atenas, ao triângulo Gropius, Mies van der Rohe, Le Corbusier, sucede-se um período de transição, de contestação ao estilo internacional, caracterizado pela ruptura e contestação. Fernando Távora, Nuno Teotónio Pereira, Manuel Tainha são alguns dos arquitectos portugueses que se destacam pela sua crítica positiva aos valores reducionistas dos CIAM e a esperança na defesa dos valores locais e regionais, como matriz cultural poderosa para superar a crise semântica do funcionalismo 22.

Os arquitectos portugueses foram fazendo uma leitura crítica ao Movimento Moderno, e procuram, sem o renegar, encontrar-se com as raízes da arquitectura vernácula, o que em realidade só se tornou possível quando se libertaram dos clichés oficiais.

18_GOODWIN, Philip, Brasil Buildings, New York, MOMA, 1943

19_TOSTÕES, Ana, Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos anos 50, FAUP publicações, 1997, p.51

20_AMARAL, Keil, O problema da Habitação, Porto, Livraria latina, 1945

21_Congrès Internationaux d’Archi tecture Moderne, CIAM. 1928, CIAM I (La Sarraz, Suíça). Fundação dos CIAM: 1929, CIAM II (Frankfurt, Alemanha). Unidade mínima de habitação (Existenzminimum) 1930, CIAM III (Bruxelas, Bélgica); Desenvolvimento racional do lote (Rational Lot Development)

22_TAINHA, Manuel, em Arquitectura, n.153/1984

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23_PEREIRA, Teotónio, Escritos (1947-1999, selecção), FAUP publicações, Porto, 1996, p.305

24_MILHEIRO, Ana Vaz, A Construção do Brasil, Relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa, FAUP publicações, 2005, p.17

25_ MENDES, Manuel, PORTAS, Nuno, Arquitectura Portuguesa Contemporânea, Aos sessenta / oitenta, p.11

26_A propósito deste tema, ver A. Fonseca FERREIRA, “Por uma nova Politica de Habitação”, Porto, 1987; Sociedade e Território, n.1, Porto, 1984; Augusto PITA “Uma perspectiva da sua gestão”, Arquitectura, n.177, Jul/Ago, 1989, Teotónio PEREIRA, Arquitectura, n.108, 1969.

27_ MENDES, Manuel, PORTAS, Nuno, Arquitectura Portuguesa Contemporânea, Aos sessenta / oitenta, p.11

28_Hogar e Arquitectura, n.68/ 1967.

29_Controspazio, n.9/1972.30_Architectura d’Aujourd’hui, n.185/1976.

31_CODERCH, José, “No son genios que necesitamos ahora”, in Arquitectura, 3ª série, n.73, Lisboa, Dezembro 1971

32_BOTELHO, Manuel, “Os Anos 40: A ética da estética e a estética da ética” in rA, Revista da FAUP, Ano I Número 0 Outubro 1987.

33_ACCIAIUOLLI, Margarida, os anos 40 em Portugal, o País, o Regime e as Artes – ” Restauração” e “Celebração”, Lisboa, dissertação de Doutoramento em História de Arte, FCSH-UNL, 1991, p.637

34_ Architectures à Porto, Pierre Mardaga éditeur

Ao longo deste percurso a transposição literal dos modelos brasileiros foi-se naturalmente atenuando, mas os princípios basilares da sua arquitectura enquanto prática inovadora expressando aspirações de modernidade e fruto de condições sociais e culturais próprias mantiveram a sua actualidade 23. A construção de Brasília torna-se um “cânone” brasileiro, junto a uma sociedade portuguesa interessada já nos caminhos do revisionismo que os anos 60 internacionalmente exigem. Portanto, há que clarificar, o impulso produzido pela cultura arquitectónica brasileira no arranque definitivo da modernidade em Portugal, e depois o modo como este se rarefaz 24.

É fundamental referir que tudo passará por situar a Le Corbusier e localizá-lo não só quadro da estrutura cultural do Brasil, como de referência dos fundamentos do Movimento Moderno.

Ao longo da década de sessenta a luta pela integração do “estilo internacional” versus estilo nacional, tradicional e rural, estava praticamente acabada. Entalado entre o desafio europeu e a guerra colonial, este estava mais preocupado com a repressão politica do que com a censura estilística. As acções de luta pela libertação pelos povos das colónias africanas, a par dos territórios indianos, crescem e agitam o poder local. As contradições do poder são crescentes e certos espaços de liberalização tornaram-se inevitáveis, perante: a emergência da nova classe media urbana, das movimentações democráticas e estudantis, da afirmação prestigiada de expressões culturais não verbais 25.

O crescimento urbano das cidades segue aumentando sem estruturas habitacionais capazes de absorver os fluxos migratórios rurais. Alguns arquitectos, destacando uma vez mais, Teotónio Pereira e Nuno Portas debruçam-se sobre este problema e apresentam novas propostas que se afastam definitivamente com os modelos anteriores de bairro. Os modelos de habitação colectiva, denunciando um aumento de imagem e de escala significativos são genericamente aceites, principalmente depois do desaparecimento de Salazar (1968), com a integração de Marcelo Caetano no governo, desenhava-se uma maior abertura política. Os arquitectos encontram algumas possibilidades de concretização, particularmente no campo da habitação social, mas é através dos escassos programas governamentais (Municípios de Lisboa e Porto, Previdência e, mais tarde, Fundo de Fomento de Habitação) que ianda conseguem algum tipo de encomendas. Em 1969, promovido pelo Ministério das Obras Públicas, o “Colóquio sobre a Politica de Habitação” reconhece, no seu relatório final, a necessidade de reestruturação do aparelho do estado e de reformas jurídico-institucionais, no sentido de aquele assumir “o papel que lhe cabe de coordenador e orientador geral de todas as actividades no sector da habitação” 26.

Surgem os Planos de ordenamento e os Planos Reguladores na tentativa de dotar cidades de planeamento urbanístico, no entanto o poder político bloqueia a possibilidade operativa e a predisposição qualificadora destes planos, tornando-os em meros instrumentos burocráticos e autocráticos. “A planificação é letra morta: os planos não chegam a ter força jurídica nem garantem as áreas necessárias para o alojamento social ou equipamentos públicos: os Municípios – não eleitos – não têm responsabilidade no processo (à excepção do caso de Lisboa) e a política dos novos bairros sociais é comandada centralmente pela facilidade de

aquisição de terrenos: grandes, isolados, mal equipados, em definição: dormitórios” 27. Surgem equipas de arquitectos relevantes na aplicação dos princípios da modernidade, quer no Sul, Victor Figueiredo, Bartolomeu Costa Cabral, Maurício de Vasconcelos, Manuel Vicente, Ruy d’Athouguia, Justino Morais e Croft de Moura quer no Norte, Álvaro Siza, Alcino Soutinho, A. Matos Ferreira, Pedro Ramalho, Sérgio Fernandez, João José Tinoco.

Na década que precede a mudança de 1974, alguns sinais de mudança convergiam, acompanhados pela primeira vez pela divulgação da arquitectura portuguesa no estrangeiro: a exposição na Fundação Smithsionan, outra itinerante em Inglaterra e pela publicação de vários tipos de artigos. Pela primeira vez, pela mão de Nuno Portas e Pedro Vieira de Almeida, Portugal é citado em revistas internacionais como Hogar e Arquitectura 28 ou Controspazio 29e bastante mais tarde, em 1976, sai o número histórico da revista Architecture d’Aujourd’hui 30 com uma retrospectiva dedicada á arquitectura portuguesa.

Paralelamente, a obra do mercado da Vila da Feira de Fernando Távora é uma das obras seleccionadas por Van Eyck no CIAM de Otterlo, ode Viana ed Lima também participa. Távora partilha o sentimento de Coderch, de que “não são génios que necessitamos agora” 31, mas de uma atitude de diálogo e interpretação. Távora pratica o velho lema das vanguardas históricas: a relação do espaço existencial e a plenitude da experiência vivida (seguido fielmente e de uma maneira sublime por Siza Vieira). Às especificidades da arquitectura portuguesa, antes citadas, soma-se uma peculiar relação de esta arquitectura com os lugares, abrindo o caminho a opções mais humanizadas.

5. As Escolas e o ensino da ArquitecturaÉ unânime a voz da necessidade de renovar o ensino da arquitectura…32

A Universidade será o centro das lutas contra o regime e, como consequência, vítima importante da sua repressão. Duas Escolas de Arquitectura existiam na época. A Escola do Porto, sob a direcção de Carlos Ramos era assumidamente mais liberal e dinâmica, afastando-se das doutrinas mais académicas e opressivas de Lisboa. De facto a Escola do Porto, “marcando a direcção de uma docência e de uma convivência que, em Lisboa, o talento de Cristino da Silva não solidificara (…) pelas suas opções classicizantes”33. Os primeiros encontros dos arquitectos nacionais foram escassos e tardios. De facto, interessa salientar neste estudo, os aspectos em que realmente as duas escolas se aproximaram e se distanciaram e como influenciaram na projecção da habitação moderna. Enquanto a direcção se organizava, os estudantes por sua iniciativa, encontravam interesses, particularmente nas revistas de arquitectura. “L’Architecture d’Aujourd’hui” era a mais conhecida, mas também na “Domus” ou “Casabella”.“O Brasil Moderno” foi muitas vezes usado como em exemplo de coerência, de correcção e dignidade 34.Sobre os mestres, Le Corbusier era o mais estudado e citado, tal como Gropius, Neutra, Wright e ocasionalmente Perret.

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Ainda na segunda metade da década de sessenta, ambas as escolas de Belas Artes, propõem tentativas de reestruturação e renovação do ensino (em paralelo com as que tiveram lugar em Itália e na Grã-Bretanha) e a partir delas, surgiram mudanças de atitude e linguagem que manifestar-se-ão sobretudo na década seguinte. Uma coisa é clara, o tema do lugar de edificação e os métodos de ensino sempre estiveram directamente ligados, através da presençade arquitectos inovadores e de grande valor arquitectónico, eventualmente por serem alunos e professores da mesma escola. Enquanto os ateliers se dedicavam à prática da profissão, estes arquitectos, professores da escola sempre impuseram um aproximação critica à realidade das experiências práticas 35.

Viviam-se tempos de mudança e a curiosidade pelos acontecimentos do “mundo exterior”, o desejo de acompanhar criativamente os movimentos europeus de prática critica emergiam, ainda que bastante tímidos. No entanto, existiram alguns arquitectos mais jovens que realizaram investigação metodológica: viagens de estudo, estágios, participação em encontros internacionais ou na reciprocidade de plataformas de avaliação e na permuta de experiências profissionais. Apesar dos escassos meios, cada vez mais se associa uma maior circulação de informação. Destaque-se a pesquisa historiográfica, a investigação urbana e a racionalização do desenho, por exemplo, o estudo de standards e adequação das soluções de habitação aos modos de vida, propondo-se estratégias para a politica de habitação, a politica dos solos e tipologias construtivas (que o regime não estava em condições de adoptar) 36.

6. Os CODA (trabalhos finais de Curso para obtenção do título de Arquitecto na ESBAP)Vários arquitectos da Escola de Lisboa vão para o Porto para terminar o curso, como d’Athouguia que procura “tirar partido das possibilidades dos actuais conhecimentos da técnica sem a preocupação de adaptar ou repudiar elementos tradicionais”

O problema da cidade é quase ignorado nestes trabalhos, com excepção para Vasco Vieira da Costa que apresenta o projecto de uma cidade satélite de Luanda, no espírito do CIAM, merecendo especial atenção as tipologias e morfologias dos bairros indígenas. Amândio Marcelino, projecto de um Prédio de Rendimento, assumido como unificador da rua, uma maior sensibilidade ao problema da cidade.

Relacionados com habitação colectivaNuno Portas – habitat urbano Pedro Viera de Almeida, Ensaio sobre o Espaço em ArquitecturaAlternados com temas muito ligados ao rural, como de o Sérgio Fernandez ou ……ou expressa em vários trabalhos do CODA dos inícios de 50m que apresentam conjuntos de habitação: de João Tinoco, Miranda Guedes, João Archer de Carvalho.Andresen sublinha o carácter de elemento integrativo que a arquitectura pode assumir, também como principio compositivo. Daí o: “… acredito profundamente que um simples elementos arquitectónico pode valorizar a paisagem. Pode mesmo dar-lhe sentido, um sentido imprevisto e novo”.

35_MENDES, Manuel, ”Porto: Escola e Projectos 1940-1986”Architectures à Porto, Pierre Mardaga éditeur, p.42

36_MENDES, Manuel, PORTAS, Nuno, Arquitectura Portuguesa Contemporânea, Aos sessenta / oitenta, p.23A propósito, ver “Boletim do GTH”, C.M. Lisboa. Nuno PORTAS, A Cidade como Arquitectura, Lisboa 1969. F Gonçalves, Urbanizar e Construir Para Quem? Porto, 1972. Actas do Colóquio sobre Urbanismo, Lisboa, 1961. L. Vassalo ROSA, O Urbanismo a Caminho duma Arquitectura total e Considerado à Luz da Evolução do Habitat Urbano, em “O Tempo e o Modo”, n.34-35/1966.

leitura relacionada:

AMARAL, Keil “As Maleitas da Arquitectura”, Arquitectura, Lisboa, 2ª série n.17,18, Agosto 1974; n.19, Janeiro 1948; nª20, Fevereiro 1949; n.21, Março 1948; n.23/24, Maio/Junho 1948.

PEREIRA, Nuno Teotónio, “Habitações para maior número”, Arquitectura, Lisboa, 3ªserie, n.110, Ago1969, pp.181 a 188

PEREIRA, Nuno Teotónio “As casas Económicas” in JA, Mar-Abr-mai 1983, p.11

PORTAS, Nuno, “A responsabilidade de uma Novíssima Geração no Movimento Moderno em Portugal”, Arquitectura, Lisboa, 3ªserie, n.66, Nov/dez 1969

Ensino de Arquitectura, Uma Experiencia de Cooperação entre as Duas Escolas, catálogo de exposição, Porto, 1984

“1º Congresso Nacional de Arquitectura, Relatório da comissão Executiva, Teses, conclusões e Votos do Congresso”, Lisboa, Maio/Junho 1948

MENDES, Manuel; PORTAS, Nuno, Arquitectura Portuguesa Contemporânea - Anos sessenta/anos oitenta pag. 11/40, Edit. Fundação de Serralves - 1991 TOSTÕES, Ana, Arquitectura Portuguesa do séc. XX, em História da Arte Portuguesa, direcção de Paulo Pereira - Volume III, pp. 537/544, Edição Circulo de Leitores, 1995

_AMORIM, Delfim, CODA“A MINHA CASA”, Póvoa, 1917 (1937-1943), 18 valores, 1947

_ANDRESEN, João, CODA“UMA CASA”, Porto, 1920 (1940-1945), 20 valores, 1949

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1.0. LISBOA. o bairro de Alvalade.

O bairro de Alvalade, em Lisboa, é um caso paradigmático no contexto português. Iniciativa municipal com um plano de Faria da Costa 1, surge como uma tentativa de combater o problema então eminente da carência de oferta de habitação (principalmente casas de renda económica) e marcará definitivamente a transformação da cidade de Lisboa. Inicialmente idealizado como um bairro ideal, denunciando as aspirações do Estado Novo e as intenções do modelo da cidade-jardim, denuncia à partida a falta de associação a uma ideia de progresso em relação à modernidade, que foi no entanto, pontualmente alterada com traçados racionalistas e denunciadores dos princípios da Carta de Atenas.

Ainda em 1948, Joaquim Ferreira propõem 20 blocos perpendiculares à Av. D. Rodrigo da Cunha com um extremo sentido moderno, mas é sem dúvida em 1949, com o “Bairro das Estacas” de Ruy d’Athouguia e Formosinho Sanches que se atinge um sublime valor da modernidade. Seguem-se outras importantes realizações a nível da habitação colectiva no bairro, nomeadamente num dos eixos viários principais – a Avenida dos Estados Unidos da América.

REFERÊNCIAS

IMPLANTAÇÃO

PLANO 1945

1945

a_JACOBETTY Miguel, Viviendas Célula 1, Lisboa, 1945

b_FERREIRA, Joaquim, Av. D. Rodrigo da Cunha, Lisboa, 1948, Foto actual, IL

c_D’ATHOUGUIA, Rui; SANCHEZ Formozinho Bairro das Estacas,”, Lisboa, 1949-55, foto actual IL

_STEIN, Clarence, Implantação de Radburg

_GROPIUS, Walter, Blocos de Habitação, Wannsee, perspectiva, 1931

_GROPIUS, Walter, Blocos de Habitação, Wannsee, perspectiva, 1931

1948 1949

FOTOS

a. b. c.

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_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, FormozinhoBairro das “Estacas”, 1949-55, Lisboa, foto actual IL

D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHES, Formosinho1.1. Bairro das “Estacas”, 1949-55

Biarro São João de Deus, Alvalade, Lisboa

Projectado pelos jovens arquitectos Ruy d’Athouguia e Formosinho Sanches, o bairro das “Estacas” é a imagem paradigmática deste sentimento de mudança. Transformam os dois quarteirões fechados inicialmente propostos no Plano de 1945, em um só, aberto nos topos, com uma serie quatro blocos dispostos perpendicularmente à rua principal. Propõem uma maior densidade habitacional, alternada com uma extensa plataforma livre de jardins e pátios colectivos. Os edifícios de apenas quatro pisos devido a uma imposição municipal, de planta livre e elevados sobre pilotis, estabelecem a continuidade do tecido urbano, ligando o bairro às principais vias da cidade, sem com isso perder o carácter privado inerente ao sistema da habitação. Entre eles, importantes zonas de encontro de carácter colectivo e de escala doméstica, projectados pelo pelo Eng.º Ribeiro Teles.

A continuidade visual e física entre os blocos amplia os limites do lugar. À parte da escala quase doméstica, criam-se ambientes únicos inerentes ao sistema da habitação urbana: definem-se zonas de circulação cobertas, sistemas de acesso bem referenciados e entre eles, amplos espaços de grande cuidado paisagístico. Cada árvore, colocada estrategicamente em relação aos pilares, dota o conjunto de um enorme equilíbrio e valor plástico. Existe uma cota quase contínua entre os vários espaços, apenas um subtil desfasamento de cotas, dado substancialmente pela variedade e pelas características dos diferentes materiais: a relva (jardim), a calçada portuguesa (zonas de circulação) e a pedra bordeando a projecção do edifício, limitando a zona coberta. Sublime!Inserido no contexto politico de censura a tudo o que “era moderno”, é importante salientar a concretização de outros tipo de factores, como a diferenciação do acesso entre o automóvel e os cidadãos ou a inserção da tipologias duplex, valores claramente modernos, o que revela uma enorme uma enorme mestria por parte dos autores para contornar os entraves municipais.

As linhas horizontais das varandas dominam o desenho da fachada nascente. A verticalidade dada pelas grelhas de protecção, tipo brise solei, cria um contraste necessário, equilibrando delicadamente o conjunto e “escondendo” as zonas de serviço. Com o máximo rigor e precisão, os arquitectos retiram o plano de fachada, criando a varanda como um elemento sombreador de transição e prevêem a colocação superior de palas pivotantes com a possibilidade de diferentes orientações segundo o movimento do sol. Citando a memória descritiva do projecto “como sendo móveis e verticais como convém a uma fachada orientada a oeste” 2, de modo a permitirem um controle eficaz sobre a luz natural e a incidência solar.O plano posterior das varandas é constituído por grandes aberturas, janelas de parede a parede, que acusam e evidenciam claramente a estrutura. A diversidade de planos conseguida cede lugar aos efeitos claro-escuro de inegável interesse arquitectónico. “Não há nenhum tipo de artificio, tudo é claro e directo” 3. A cobertura plana sempre foi de difícil aplicação em Portugal, pois implica uma construção realmente mais dispendiosa e até então, pouco ou nada havia sido realizada neste sentido. No entanto, o conceito foi entendido sobretudo na sua formalização plástica, onde os arquitectos recorreram ao uso de da cobertura “lusalite”, um material que ganhava protagonismo crescente em Portugal, principalmente devido á publicidade da revista Arquitectura 4. Neste caso, as placas assumem uma ligeira inclinação e estão rematadas por muros de altura justa, de modo a permitir uma leitura pura e clara dos volumes.

1.1. o bairro das “Estacas”.

Em entrevista na revista Arq.a, ano1, n.2 jul/ago 2000, formosinho Sanches afirma que o arq. Maurício Vasconcelos, que fazia parte das suas relações esteve no Brasil e quando voltou terá influenciado decisivamente o projecto. Ruy d’Athouguia nunca viajou ao Brasil.

1_Plano de Urbanização………..alferes melheiro

2_ in Memória descritiva do Lote nº24, Célula o do Sítio de Alvalade, Ruy d’Athouguia e Formosinho Sanches, CML, 21 Julho de 1952.

3_ idem

4_O material “Lusolite” consiste em placas de fibro-cimento e foi muito utilizado na arquitectura portuguesa. O seu êxito deve em grande parte, ao sucesso do concurso lançado pela revista Arquitectura n.35, com grande divulgação e protagonismo.

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_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, FormozinhoBairro das “Estacas”, 1949-55, Lisboa, foto actual IL

_PLANTA DE LOCALIZAÇÃO

_PLANTAS BLOCO-TIPO

Estudo de Implantação, s/esc; tinta negra china e cor sobre papel vegetal, n/fir, s/data, Arquivo Ruy Jervis d’Athouguia

_Perspectiva em desenho livre de Ruy d’Athouguia, Arquivo Graça Correia

_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, FormozinhoBairro das “Estacas”, 1949-55, Lisboa, foto in JA, n. 217

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_FACHADA ESTE, _FACHADA OESTE_SECÇÃO LONGITUDINALRe-desenho, ESTAB, 2007, IL

_Relação Jardim-Edificío, Esquiços, 2007, IL

_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, FormozinhoBairro das “Estacas”, LIisboa 1949-55, foto in JA, n.217

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Page 14: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, FormozinhoBairro das “Estacas”, 1949-55, Lisboa, foto in JA, n.217

_FACHADA ESTE, _FACHADA OESTE_SECÇÃO LONGITUDINALRe-desenho, ESTAB, 2007, IL

Page 15: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_PLANTA TIPO DUPLEX A e B_PLANTA TIPO A e BRe-desenho, ESTAB, 2007, IL

leitura referente:

CORREIA, Graça, Ruy d’Athouguia a modernidade em aberto, edições caleidoscópio, 2008

Arquitectura n.53, Nov-Dez 1954 (publicação do projecto das Estacas)

Arquitectura n.130, 1974 (Entrevista a Formosinho Sanches – diz que não participou no Congresso por estar a preparar o trabalho de defesa do Diploma)

Arq.a, ano1, n.2 jul/ago 2000. FS afirma que o arq. Maurício Vasconcelos, que fazia parte das suas relações esteve no Brasil e quando voltou terá influenciado decisivamente o projecto.

Todos os edifícios são de quatro andares: o primeiro e o segundo correspondem a habitações de um só piso, enquanto que nos últimos andares foram desenvolvidas habitações em duplex. Os autores demonstraram uma grande mestria, uma vez que contornaram sabiamente a legislação em vigor de modo a conseguirem mais um andar de habitações e, ao mesmo tempo, engrandecer o projecto pela sua modernidade e originalidade. Identificam-se no conjunto analisado, habitações tipo A (em ambos os extremos) com três quartos e do tipo B, com dimensões mais reduzidas e apenas com dois quartos. No entanto, a equipa de arquitectos desenvolveu oito projectos tipo (de A a H), sendo o tipo A com o piso térrea destinado ao uso comercial e o tipo B, tem a planta térrea elevada sobre pilotis.

Assim, jogando unicamente com os elementos construtivos, com o contraste de cheios e vazios, com planos ou em luz ou em sombra, o contraste suave dos diferentes materiais, os arquitectos conseguiram desenvolver um conjunto de grande valor arquitectónico e urbano aplicando claramente os princípios da arquitectura moderna.

Resumindo, d’Athouguia e Sanches conseguiram pôr em prática quase tudo que há muito tempo se ambicionava e ninguém o conseguia. De uma maneira sábia e consciente, o projecto revelou a importância dos valores da topografia, da orientação solar, das zonas verdes úteis, a racionalidade e funcionalismo. Faz referência aos princípios anunciados pelos arquitectos mais jovens, nomeadamente os que foram expressos no Congresso de 48. Conseguiram realizar uma crítica “politicamente correcta”, muito difícil de concretizar devidos aos sucessivos entraves do Município.

Em 1954, o bairro das Estacas torna-se um paradigma da evolução da arquitectura portuguesa, que se afasta da arquitectura do regime e entra definitivamente no modernismo.

Foi alvo de diversos prémios, II bienal de Arquitectura de São Paulo em 1954 e prémio municipal do mesmo ano. É curioso realçar a forte ligação à arquitectura moderna brasileira ao ano 1949. Foi ainda publicado em 1954 na revista “Arquitectura Portuguesa” e mais recentemente no “Jornal dos Arquitectos”, n.217, com um artigo de Eduardo Souto Moura. Tem sido alvo das mais diversas referências, com a mais recente representação na última trienal de Arquitectura de Lisboa, 2007.

“O que me interessa no Bairro das Estacas é a sua referência de hoje. É o método, 50 anos depois: 1 módulo / 1 quarto; 2 módulos / 2 quartos; 2 módulos (sala/cozinha) / 1 casa; várias casas / 1 bloco; vários blocos paralelos (e nos vazios, praças e jardins) / cidade.

Um bloco dispõe-se perpendicularmente aos outros, com comércio no r/c; faz uma rua que se liga a outras, ao bairro, à cidade. Tudo isto entre 1949 e 1955; passados 50 anos, por muito que nos custe, a Carta de Atenas ainda não tem uma alternativa viável” 5.

Tipo A Tipo B

5_MOURA, Eduardo Souto, em Jornal dos Arquitectos, n.217.

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Os quatros casos de estudo da Av. EUA, Lisboa, anos 50 e 60.

1.2. A MUDANÇA DE ESCALA E DE IMAGEM: a Avenida Estados Unidos da América, Alvalade, Lisboa

O traçado da Avenida Estados Unidos da América é anterior ao Plano de Urbanização do Sitio de Alvalade 6 e foi desde o início concebida pelo Município, ainda em 1941 como a “grande avenida de circulação”. Citando a memória do plano de urbanização “ao descrever a zona englobada pelo plano no que se refere a circunstância de ser atravessada no sentido Este-Oeste por uma das grandes artérias circulares do Plano de urbanização da Cidade – A Avenida Estados Unidos da América. A divisão da área a urbanizar resulta da experiencia desta artéria 7. O plano de Urbanização de 1945 já previa a implantação de blocos perpendiculares à Avenida ao longo do lado Norte, no entanto em 1951, a Câmara Municipal de Lisboa, elabora um novo plano que já contempla a divisão em parcelas das áreas a construir. Mantêm a implantação do lado Norte e prevêem a alteração para o lado Sul: os blocos contínuos e paralelos à Avenida, com uma volumetria de quatro pisos e comércio na planta térrea dão lugar a edifícios perpendiculares à rua principal, o que anunciava já uma evolução em relação ao plano original.

É exactamente para o lado Sul, que a equipa de Celestino Castro, Hernâni Gandra, João Simões, Francisco Castro Rodrigues e José Lobo, apresentam uma proposta algo radical e propõem definitivamente a primeira solução funcional e verdadeiramente racionalista de habitação colectiva em altura. Denunciava claramente os princípios corbusianos da Unité, com tipologias de áreas mínimas organizadas em duplex, um inédito pé direito mínimo de 2,4m e duplo em mezzanine sobre a sala. Foi considerada uma proposta demasiado inovadora, e por isso, não aceite pelo município, foi publicado pela revista Arquitectura em 1953, estrategicamente colocado ao lado da primeira apresentação de língua portuguesa da unidade de habitação de Marselha e da Carta de Carlos Lazlo sobre “A posição social do Arquitecto” 8.

O plano concluído em 1952, já previa a implantação inovadora do projecto de Felipe Figueiredo e Jorge Segurado (caso 1.2.1.) para o cruzamento da Av. EUA e a Av. de Roma, orientando os blocos de habitação no sentido este-oeste em detrimento do conjunto urbano que acompanhava a forma da praça.

Em 1956, foi realizado um novo estudo pelos serviços municipais para a Avenida EUA, incorporando já os seguintes projectos: • Cruzamento da Av. EUA e a AV. Roma, projecto de Filipe Figueiredo e Jorge Segurado (caso 1.2.1.); • O troço da Av. EUA, compreendido entre a Av. Roma e Entrecampos, do lado Sul, projecto de Croft de Moura, Henrique Albino e Craveiro Lopes (caso 1.6.); • O troço Av. EUA , compreendido entre a Av. Rio de Janeiro e a Av. do Aeroporto, lado Norte, projecto de Manuel Laginha, Vasconcelos Esteves e Pedro Cid (caso 1.2.2.); • O troço Av. EUA , compreendido entre a Av. Rio de Janeiro e a Av. Roma, lado Norte, projecto de Joaquim Areal e Silva (caso 1.2.3.)

O plano da Avenida EUA foi finalmente completado entre 1963 e 1967, com a apresentação dos diferentes lotes (caso 1.2.4.), concluindo assim as últimas intervenções da referida avenida ao longo do seu lado sul, quer este quer oeste.

_Plano de Urbanização para o Sitio de Alvalade - Parcial, 1945.

_Planta de Divisão de Lotes na Av. EUA, CML, 1951

_Planta de Divisão de Lotes na Av. EUA, CML, 1956

_Plano de Localização da Av. EUA, Re-desenhado, IL, 2007

6_”A Urbanização do Sítio de Alvalade”, Câmara Municipal de Lisboa, CML, Lisboa, Setembro, 1948.

7_ Arquitectura, 2ªsérie, n.17-18, Lisboa, Ago. de 1947.

8_Arquitectura, 2ªsérie, n.50-51, Lisboa, Nov.de 1953.

_Proposta Concurso para o conjunto residencial para Av. EUA, Celestino Castro, Hernâni Gandra, João Simões, Francisco Castro Rodrigues e José Lobo, fonteArquitectura, n.50-51,

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

30 31

Page 17: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

1.2.1 1.2.3 1.2.2 1.2.4

1.2.1.

1.2.3.

1.2.2.

1.2.4.

1.2.1 _ FIGUEIREDO, Filipe; SEGURADO, Conjunto Urbano, Cruce Av. EUA. Lisboa, 1951

1.2.2 _CID, Pedro; LAGINHA, Mario, Conjunto urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1954-55

1.2.3 _AREAL, Joaquim, Conjunto Urbano en la Av. EUA Lisboa, 1955

1.2.4 _FREIRE, Castro, Conjunto Urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1967

O conjunto vibrante de Filipe Figueiredo e Jorge Segurado (1.2.1) articula o cruzamento das duas avenidas mais importantes no bairro, com quatro grandes blocos de treze pisos. Aproxima-se claramente aos princípios expressos da Unidade de Marselha de Le Corbusier, com um piso recuado (sétimo andar) inicialmente previsto para uma galeria comercial, mas que por falta de verbas acabou por ser destinado, também à Habitação. No entanto, seguiu bem assumido na fachada, com as janelas recuadas do plano de fachada, evidenciando as linhas horizontais ao longo do edifício. As habitações apresentam tipologias mínimas e duplex e a cobertura é praticável. A presença de estes blocos na cidade de Lisboa foi um dos primeiros casos de construção decididamente em altura 9. Este projecto, devido ao tráfego intenso de ambas as avenidas, associado às peculiares características topográficas do solar, sem a possibilidade de criar espaços colectivos afastados das vias de transito, os autores procuraram estabelecer uma relação entre a força dos volumes e a sua ligação com a envolvente de uma forma pouco comum até então. Dois dos quatro blocos, implantam-se perpendicularmente ao cruzamento, giram e avançam sobre os seus extremos laterais, enquanto que os restantes oferecem à rua o seu lado mais comprido e retiram-se subtilmente em relação ao cruzamento. O resultado é totalmente controlado e assume um notável efeito de contracção e dilatação do espaço 10.

Ambos os casos seguintes (1.2.2, 1.2.3, 1.2.4) cumprem os princípios expressos no Plano do Município, e expressam claramente os princípios do movimento moderno: o conjunto tende a ser tomado como uma Unidade Residencial, com os blocos de Habitação mais altos perpendiculares à Avenida e outros mais baixos (4 andares) a encerram o quarteirão, paralelos e recuados à avenida principal. Ambos os conjuntos têm a piso térreo elevado sobre pilotis, alguns com comércio. Todos eles denunciam uma grande atenção aos espaços colectivos, com zonas ajardinadas entre os blocos com cerca de 60m. As fachadas buscam a orientação este-oeste, de maneira que as habitações recebem a melhor exposição solar.Curiosamente, Castro Rodrigues em 1967, concretiza o projecto no lugar onde, anos antes, não tinham aceite a proposta da equipa de Gandra.

BLOCOCasos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3, 1.2.4,fotos actuais, IL

9_ TOSTÕES, Ana, “Arquitectura Portuguesa dos anos 50: Os Verdes Anos ou o Movimento Moderno em Portugal”, dissertação de Mestrado em História de Arte, Lisboa, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, FAUP, 1994

10_ idem

33

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1.2.1

1.2.3

1.2.2.

1.2.4.

1.2.1 _ FIGUEIREDO, Filipe; SEGURADO, Conjunto Urbano, Cruce Av. EUA. Lisboa, 1951

1.2.2 _CID, Pedro; LAGINHA, Mario, Conjunto urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1954-55

1.2.3 _AREAL, Joaquim, Conjunto Urbano en la Av. EUA Lisboa, 1955

1.2.4 _FREIRE, Castro, Conjunto Urbano en la Av. EUA, Lisboa, 1967

PLANTA TÉRREA, Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4Fotos actuais, IL

A ESQUINA, Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4Fotos actuais, IL

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60.0

060.0

0

62.90

67.65

ESCALA GRAFICA500 10 20

44.2

0

55.6

5

65.80

50.3

0

77.3

0

Relação entre PLANTAS TIPO, Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4Re-desenho, ESTAB, 2007, IL

CONJUNTO URBANO, Casos 1.2.1, 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4fotos actuais, IL

O conjunto de Castro Freire (1.2.4), de implantação mais tardia, segue os princípios dos conjuntos urbanos envolventes e apresenta uma forte relação, apesar de separados por uma avenida de intenso tráfego, com os outros casos apresentados. O extremo oeste, compreendido entre a Av. Roma e a Av. Rio de Janeiro, segue a implantação ao eixo dos edifícios do conjunto de Joaquim Areal (1.2.3). De uma forma análoga, os edifícios no troço mais a Este, estão implantados ao eixo dos pátios ajardinados do conjunto da equipa de Pedro Cid (1.2.2).

1.2.1

1.2.4

1.2.3

1.2.2

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Assiste-se à aplicação dos mesmos princípios arquitectónicos expressos nas “Estacas”: a libertação da planta térrea, com pátios ajardinados de consideradas dimensões para uso colectivo entre os blocos.O tratamento plástico das fachadas reflecte um grande rigor no desenho particularmente no uso dos brise solei, a preocupação das tipologias a duas frentes e a aplicação dos duplex nos últimos pisos.

De facto, o modo com são encarados os tipos de aberturas é revelador de uma rica exploração formal e de adaptação às realidades do mundo português, através da aplicação da diversidades de soluções, certamente definidas como funcionalistas, que vão desde os balcões recuados, aos brise solei, às palas e às grelhas cerâmicas, determinantes na leitura plástica dos volumes apresentados.

A da análise comparativa dos casos no bairro de Alvalade, particularmente ao longo da evolução da Avenida Estados Unidos da América, permite constatar a forte relação visual entre os vários conjuntos, no seu sentido transversal e longitudinal.

Apresentam-se linguagens próprios de cada equipa de arquitectos, que apesar de distintas, souberam e aplicaram os mesmos princípios formais e plásticos de modo a estabelecerem uma forte unidade entre os diversos conjuntos urbanos e na cidade, dotando simultaneamente originalidade e singularidade a cada conjunto.

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAUDETALHE DA FACHADA Casos 1.2.2, 1.2.3 , 1.2.4Fotos actuais, IL

38 39

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Outros casos na cidade de Lisboa

No entanto, o entendimento sobre este tipo de infra-estrutura atinge um enorme esplendor com o conjunto da Avenida Infante Santo, projectado pela mestria da equipa de Gandra, Pessoa e Manta (1955). Unem de uma maneira sublime a cidade tradicional a uma imagem urbana moderna, com o rigor da modelação de uma plataforma que separa os blocos residenciais da grande avenida de circulação.

Ainda no bairro de Alvalade, os princípios da Carta de Atenas e as influências modernas brasileiras, são retomados com grande profissionalismo por Jorge Segurado, através do conjunto residencial de blocos perpendiculares à Avenida do Brasil (1958). Revelam uma atitude verdadeiramente moderna com a reutilização do azulejo, material de revestimento tradicional, ao cobrir por completo os edifícios de um amarelo vibrante.

Mais tarde, o bairro dos Olivais, também de iniciativa municipal, vai reflectir a situação de charneira que se vivia. O plano para a zona Norte (1955) assume a expressão urbana moderna e internacional e os Olivais Sul, por seu lado, tornar-se-ão num cenário vivo de experimentação tipológica e urbanística inspiradas na cultura das new town da pós-guerra inglês.

De modo a fazer face ao crescimento da cidade e respeitando a lógica do PDM de De Gröer, a CML realiza planos parciais de urbanização em grandes áreas de terreno que era proprietária.Com um plano inicial de 1955, de José Rafael Botelho, a “célula” dos Olivais Norte será revista nos anos seguintes (1957,1958), com o apoio do GEU (Gabinete de Estudos de Urbanização). Numa área de 40 há, o plano previa 1.889 habitações para 8.500 habitantes e foram construídos durante os anos 60 com critérios modernos de desenho urbano: segregação funcional entre circulações, habitações e equipamentos, centro cívico, espaço verde. A estrutura viária abandona a rua corredor em favor do espaço verde (62%da área), assenta num desenho hierarquizado em três níveis: vias principais que ligam a cidade ao bairro; vias secundárias de acesso às habitações, sem articulação entre si; vias pedonais.

Olivais Norte, planos de 1955 (mas com projectos de edifícios de 1959) e Olivais Sul (1960), conhecerão iniciativas modernas significativas, quer no domínio urbanístico, com um parcelamento rigoroso e novos conceitos do espaço público, quer no desenho de edifícios cm projectos tipo e construção sistematizada. Os Olivais Sul, já mais influenciados pelas “New Towns” inglesas, reinterpretando o conceito de “unidades mínimas de vida”, organizadas em volta do equipamento para as necessidades quotidianas. Com vista à integração social, estabelecem-se vários estratos sócias, 4 categorias de habitação, reunidas em volta dos equipamentos colectivos.

6_”A Urbanização do Sítio de Alvalade”, Câmara Municipal de Lisboa, CML, Lisboa, Setembro, 1948.

7_ Arquitectura, 2ªsérie, n.17-18, Lisboa, Ago. de 1947.

8_Arquitectura, 2ªsérie, n.50-51, Lisboa, Nov.de 1953.

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

leitura relacionada:

PORTAS, Catarina; TORRES, Helena; FREIRE, Adriana, Olivais, Retrato de um Bairro, pag. 71, 96/101, Edição Liscenter, 1995

(seria interessante comparar este bairro com os FuenCarral, Cano Roto e Monbau (próximos de ON) in Arquitectura n.82, 1964 – art. Planeamento habitacional em Espanha do arq. Luís Vassalo Rosa)

40 41

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1953

Av. Infante Santo

1.4. PESSOA, Alberto, GANDRA, Hernani, Conj. de Habitação Colectiva, Lisboa_1953-62

1955

Avenida dos EUA

1.5. SEGURADO, JoséEdifício Montepio GeralLisboa_1956

1.6. _MOURA, AlbinoEdifícios na Av. EUALisboa_1956

Praça das Águas Livres

1.3. _PEREIRA, Teotónio, CABRAL BarlolomeuEdifício Águas Livres, lisboa 1953-55

1956 1960

Av. Brasil

Avenida dos E.U.A.

1.10. ??

Conjunto de Habitação Colectiva, na Av. EUA

Olivais-Norte

1.7. _PEREIRA, Teotónio

Torre de Habitação ColectivaOlivais-Norte, Lisboa_1959

Av.do Infante, Cascais

1.9. D’ATHOUGUIA, Ruy_

Cascais, Lisboa_1960-65

Olivais-Norte

1.8. MANTA_Abel_

Olivais-Norte_1960-64

1959

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

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Um dos aspectos particulares da história da arquitectura portuguesa é o caminho que o Norte e o Sul seguiram e o modo como se influenciaram entre eles. Frente a uma enorme variedade de situações, os dois caminhos foram mutuamente complementares e simultaneamente contraditórios, que tem que ser visto como uma especificidade nacional 1. A Escola de Belas Artes do Porto, desde sempre praticou doutrinas de vanguarda, particularmente em relação ao ensino academista de Lisboa. No entanto, ainda havia muito trabalho a fazer e existiam críticas duras, no campo da arquitectura “já não se poderá considerar natural que, na cadeira de História da arquitectura, ministrada na ESBAP, não se fizesse referência à Arquitectura Moderna”2, mas principalmente no campo do urbanismo, onde se verificava que “eram escassos ou inexistentes os técnicos especializados” 3.

Entre o início da Guerra Civil de Espanha e fim da 2ª Guerra Mundial, integrados nas doutrinas dos CIAM, surge o grupo ODAM 4, “com a fé, o entusiasmo da juventude e o desejo de concorrerem, com o seu esforço para a resolução dos problemas técnicos e sociais que se patenteavam” 5, tendo como objectivo divulgar os princípios em que deve assentar uma Arquitectura Moderna. Grupo dinâmico e dinamizador que permitia antever a esperança nos destinos da arquitectura portuguesa.

A cidade portuense assumiu, de uma maneira inequívoca, uma forte proximidade às teorias de Le Corbusier e à Carta de Atenas, através das teses que eram sistematicamente citadas na tentativa de solucionar os problemas urgentes: não só urbanísticos, como também arquitectónicos. Era fundamental “reintroduzir as qualidades naturais na vida quotidiana dos portugueses…sol, espaço, árvores” 6, um sentimento expresso em todas as teses defendidas pelos arquitectos portuenses no 1º Congresso de Arquitectura (1948), que reflectiam o sentimento generalizado para a acção.No entanto, a intervenção dos arquitectos no Porto fica, porém, concentrada na pequena acção urbana limitada pelo edifício isolado e a sua envolvente. Contrariando esta tendência assiste-se à intervenção do bairro do Ramalde de Fernando Távora ou anos mais tarde no conjunto do Luso de José Carlos Loureiro e Luís Pádua Ramos.

“Conscientes da herança da arquitectura contemporânea portuguesa, os arquitectos do Porto construíram o seu próprio caminho. Movem-se entre permanência e passagem, novidade e inovação, tradição e tradicionalismo, nacionalismo e regionalismo, colectivo e individual” 7. Em Junho de 1951, fomentada pela ODAM, realiza-se Exposição dos Arquitectos do Porto, no salão nobre do Ateneu Comercial do Porto, na qual participam cerca de cinquenta arquitectos. Um dos painéis publicitava em letras grandes: “Os nossos edifícios são diferentes dos do passado porque vivemos num mundo diferente” 8. Consistia na mostra de quase vinte projectos “interessantes, agradáveis, honestos, todas as possibilidades da Arquitectura Moderna, da autêntica Arquitectura Moderna. Há de tudo: pousadas, habitações, fábricas, hotéis, piscinas, casas de cidade, de campo, de praia…. Com aquela pequena amostra pode-se ver o que seria o Mundo do nosso tempo, todo assim construído com cor, com luz, com beleza, com comodidade, com utilidade…” 9.

leitura relacionada:

BARBOSA, Cassiano, ODAM, Organização dos Arquitectos Modernos, Porto, 1947-1952, Porto, 1972.

FIGUEIREDO, Edite, ODAM: Valores Modernos y la confrontación con la realidad productiva, tese de doctorado ESTAB

Exposição ODAM, Arquitectura, 2ªsérie, n.32 / 1949

O Primeiro de Janeiro, 13 de Junho de 1951.Jornal de Noticias, de 28 de Junho de 1951.

Participação X CIAM, Arquitectura, 2ªsérie, n.64, Lisboa

2.0. a cidade do PORTO

Em 1952 realiza-se o primeiro “Plano regulador” para a cidade do Porto pelo Eng. Antão Almeida Garret, e dez anos mais tarde, concretiza-se o “Plano regulador urbano da cidade do Porto”, da autoria de Robert Duzelle com os seus colaboradores do Porto: ”produto de um racionalismo duro e perverso, burocrático e de estereótipos académicos das grandes metrópoles” 10. No entanto, e apresar de serem uma importante contribuição ao planeamento urbanístico da cidade, este tipo de Planos eram fortemente subordinados e manipulados pelo organismo do Estado, e com isso, extremamente conservadores.

Em 1957, Carlos Ramos chega à direcção da Escola Superior de Belas Artes do Porto – ESBAP – assim como as críticas e as reformas do ensino, segundo uma nova visão e ética. Reestrutura a via académica e a actividade pedagógica, de modo a alcançar uma nova perspectiva para a Escola. Entre os compromissos com o “estilo internacional”, a saturação do moderno e a investigação sobre a arquitectura tradicional portuguesa, desenvolve as principais matérias de ensino. A partir deste ponto de vista, o método de ensino eleito pela Escola do Porto, tentava aproximar-se o mais possível à realidade arquitectónica, e do País, conjugando simplesmente a originalidade do método em si e a herança da arquitectura contemporânea portuguesa. Preconizava-se o objectivo de “descrever na plenitude do tempo as qualidades e a estabilidade do material arquitectónico e a variedade da sua estrutura formal. (…) Por convicção e com algum sentido de risco, as suas características específicas baseavam-se na memória colectiva, formação e expressão da sua compreensão cobre a prática arquitectural” 11. Vivem-se momentos complicados: de censura e de contestação. Sucedem-se as perseguições e as prisões. Arménio Losa, apesar de ter sido convidado para professor pelo Carlos Ramos, nunca foi admitido devido às imposições do Estado, possivelmente da própria PIDE 12. No entanto, o que se tenta a todo o custo levar adiante e praticar são “processos de investigação onde a actividade profissional existe associada a memórias do presente e do passado, fragmentos de conhecimento que elaboram um modelo teórico de intervenção. Ideia de continuidade e consciência da ruptura, transformação e adaptação de novos valores às mudanças sócias e culturais” 13.

Uma coisa é certa, estes arquitectos desde sempre mantiveram uma relação muito forte, com a arquitectura do lugar.As equipas do Norte que participam no Inquérito à Arquitectura Popular em 1955 (e que expressará no X CIAM com a apresentação de um trabalho sobre o habitat rural) valorizam o “sítio”, a forma do local e “as formas de vida traduzidas nos modos de apropriação do espaço – o território, aglomerado, o edifício 14. O enquadramento com a paisagem, a envolvente do edifício e a qualidade do espaço interior (organização, uso, equipamento, mobiliário), processos associativos, factores psicológicos sobre a utilização e tratamento dos materiais, texturas, cores definirão os principais sistemas de expressão do que se viria a denominar-se a “Escola do Porto”. Mais activos e participativos nos congressos CIAM, os arquitectos modernos do Porto vão mesmo criar o grupo CIAM Porto, fundado por Viana de Lima que se juntaram Andresen, Távora e António Veloso. Aproveitaram a oportunidade para expressar a dualidade da mentalidade arquitectónica portuguesa urbano-rural e apresentam no X CIAM, em Dubrovink, um projecto intitulado “Plano para uma comunidade rural” .

1_MENDES, Manuel, “Porto: Escolas e Projectos 1940-1986”, Architectures à Porto, Pierre Mandaga editéur

2_ BARBOSA, Cassiano, ODAM, Organização dos Arquitectos Modernos, Porto, 1947-1952, Porto, 1972.

3_idem

4_ODAM – Geralmente denominada pela Organização dos Arquitectos Modernos, também houve referencia como sendo a Organização em Defesa de uma Arquitectura Moderna. O Grupo iniciou a sua actividade em 1947 e dissolveu-se em 1952. Durante os 5 anos da sua existência, destacam-se as referencias expressas na Compilação de Cassiano Barbosa sobre o grupo, a intervenção e iniciativa no 1º Congresso Nacional, 1ª Exposição ODAM, Porto, 1951 e, também, a 2ª Exposição ODAM, Aveiro, 1952.

5_idem

6_VITAL, António Lobão, “A casa, o homem, e a arquitectura”, in ODAM:…p.33-37.

7_ BARBOSA, Cassiano, ODAM, Organização dos Arquitectos Modernos, Porto, 1947-1952, Porto, 1972.

8_dum texto editado por Meseum of Modern ArtI, New York.

9_ALMEIDA, Ramos, Arquitectura Moderna, in Jornal de Noticias, 28 de Junho de 1951.

10_MENDES, Manuel, “Porto: Ecole et projects 1940-1986”, Architectures à Porto, Pierre Mardaga éditeur, p.54.

11_ BARBOSA, Cassiano, ODAM, Organização dos Arquitectos Modernos, Porto, 1947-1952, Porto, 1972.

12_PIDE, Polícia Intervenção e Defesa do Estado – censurou inúmeros projectos, boicotou várias profissões, efectuou perseguições e prisões sem fundamento, vezes sem conta.

13_ MENDES, Manuel, “Porto: Ecole et projects 1940-1986”, Architectures à Porto, Pierre Mardaga éditeur, p.54.

14_ idem44 45

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2.1. BARBOSA, Cassiano, LOSA, Arménio

leitura relacionada:

Bloco da Carvalhosa_ “Prédio de habitação na Rua da Boavista, Porto”, Arquitectura, 2ªsérie, n.54, Lisboa, Maio de 1955.

MENDES, Manuel, RAMALHO, Pedro, Uma Homenagem a Arménio Losa, Porto, Câmara Municipal de Matosinhos/ Edições Afrontamento, 1995

Pode justamente, destacar-se o papel de Arménio Losa e Cassiano Branco, como pionei-ros da modernidade portuense e reveladores de uma invulgar capacidade de entendimento do desenho da cidade. A utilização exemplar de modelos importados, permite-lhes ensaiar propostas de renovação ao nível da imagem, da espacialidade e da organização funcio-nal, acompanhadas de um rigoroso domínio das tecnologias da construção pouco usual na época. Ainda em 1945, o bloco da Carvalhosa anuncia esta estratégia que se reflectirá no rigor construtivo e invenção formal do bloco da Constituição (1949). Realizam vários projec-tos de habitação colectiva, onde revelam o saber fazer da arquitectura, equacionando novos dispositivos na organização do fogo, do edifício ao urbanismo. Reivindicam valores modernos numa ordem imprimida aos materiais que materializam a sua forma, e através de uma me-dida critica, demonstram a sua capacidade de distanciar-se e negar o que, à partida, estava instituído. O edifício de uso misto da Rua Sá da Bandeira reflecte claramente os princípios da arquitectura moderna aplicados de uma maneira sublime ao lugar.Acreditava-se que através da arquitectura entendida e praticada como um sistema, se podia construir um mundo melhor: “que não importa o balanço de uma obra, ou de um ano de exercício; Não importa apenas a obra dispersa e fraccionária, ainda que bela e graciosa mas um pouco mais do que isso: há que conceber e realizar não só edifícios mas o quadro urbano capaz de dar um pouco mais de alegria à vida dos homens” 16.“A ideia, a construção duma ideia de arquitectura, ardente, corajosa, fortemente precursora destinada a satisfazer uma época mais feliz que deve vir” 17.

Arménio Losa, à margem do trabalho do escritório, elabora com o engenheiro António Bonfim Barreiros, os Anteplanos de Urbanização para Vila Nova de Gaia (1945-49) e Macedo de Cavaleiros (1945-51). A reforçar a acção de Losa como arquitecto urbanista trabalha no Gabinete de Estudo do Plano Geral de Urbanização da CMP – que integrou entre 1939 e 1945 – onde elabora o Plano de Pormenor para a Zona do Hospital Escolar (1951-56) na tentativa de solucionar o problema das “ilhas do Porto”. A maior parte dos trabalhos realizados situa-se em cidades do norte do País, particularmente na cidade do Porto. Realiza, no entanto, e de carácter excepcional, trabalhos em Angola, Lobito – Casas geminadas (1950 e 1954), e em Moçambique, Quelimane – um grande complexo comercial, turístico e habitacional com projecto iniciado em 1954, e um complexo industrial e habitacional iniciado em 1958, mas ambos concluídos já na década de 60 18. É curioso, realçar, que Arménio apesar da elaboração de vários projectos em territórios ex-ultramarinos nunca viajou até lá 19.

O conjunto de projectos apresentados têm como denominador comum o sentido de originalidade e autonomia na interpretação (in)formação da modernidade, ensaiando a identificação da natureza e qualidade especifica do processo criativo e projectual em cada um dos arquitectos. Na procura desta arquitectura nova, deve ser destacado o papel de Adalberto Dias, então colaborador, em muitos trabalhos do nosso escritório realizados na transição das décadas 40-50 20.“Arménio Losa foi um arquitecto moderno. Entendeu a modernidade no conceito do seu tempo integrando uma nova ordem social, politica e estética. Para ele modernidade significava precisamente «oposição e consciência da ruptura. Lutador empenhado pela causa do Movimento Moderno dele nos ficou a obra e a imagem exemplar do arquitecto e do cidadão” 21.

1945

Rua da Boavista, 571-573

2.1.1. _BARBOSA, Cassiano, LOSA, ArménioBloco da Carvalhosa, Porto, 1945-50

16_LOSA, Arménio, Depoimento, in O Comércio do Porto, Novembro de 1967.

17_MENDES, Manuel, RAMALHO, Pedro, Uma Homenagem a Arménio Losa, Porto, Câmara Municipal de Matosinhos/ Edições Afrontamento, 1995, p.17.

18_MENDES, Manuel, em Catálogo da Exposição “O NOSSO ESCRITÓRIO” 1945-1957”, FAUP, CD_Edifício da Alfandega, Porto, 22 de Outubro. 2008.

19_MESA REDONDA “ARMÉNIO LOSA NO SEU TEMPO” com Nuno Teotónio Pereira, Francisco P. Keil do Amaral, Raul Hestnes Ferreira, Sergio Fernandez e Alexandre Alves Costa, Moderador: Pedro Ramalho, Maus Hábitos, Porto, 5 de Dezembro 2005

20_MENDES, Manuel, em Catálogo da Exposição “O NOSSO ESCRITÓRIO” 1945-1957”, FAUP, CD. Edifício da Alfandega, Porto, 22 de Outubro. 2008.

21_RAMALHO, Pedro, Comissário Geral das Comerações do centenário Arménio Losa, 1908-1988, Porto, Outubro 2008.

Rua Sá da Bandeira, 633

2.1.2._BARBOSA, Cassiano, LOSA, ArménioEdifício DWK, Serviços e Habitação Colectiva, Porto, 1946-51

Rua Faria Guimarães, 109/115

2.1.3. _BARBOSA, Cassiano, LOSA, ArménioServiços e Habitação Colectiva, Porto, 1950-53

2.1.4. _BARBOSA, Cassiano, LOSA, ArménioComércio e Habitação Colectiva, Porto, 1961-65

Rua de Ceuta, 141

1946 1950 1961

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

47

Page 25: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

2.2. O BAIRRO DO RAMALDE_TÁVORA, Fernando2.2. Bairro do Ramalde, 1952-60Rua Vasco Valente

TÁVORA, Fernando _Conjunto Residencial do “Ramalde”_Porto_foto actual_IL

Os bairros de habitação social apoiados e lançados pelo “Estado novo” tinham o propósito claro de solucionar o problema emergente da falta de oferta de habitação e simultaneamente a rentabilidade económica da operação. O grupo ODAM pronuncia-se, aclarando e alertando para a necessidade de não confundir “casas baratas” com “casas económicas”. Desde a sua formação que defende: a solução do bloco em altura, à semelhança das unidades de habitação, para solucionar o problema do alojamento económico, sem reduções significativas da área habitável e uma maior qualidade habitacional; a liberalização do solo recorrendo ao uso de pilotis, ganhando espaços verdes, com vista a melhorar as condições de vida dos homens e com isso incentivar a alegria, o respeito e a solidariedade 22.

O bairro do Ramalde (1952-56) projectado para a federação de Caixas de Previdência 23, é o primeiro exemplo de renovação urbanística no Porto, testemunho do abandono da estrutura do século XIX e a afirmação do funcionalismo, tornando-se num caso paradigmático no contexto portuense. Fernando Távora, arquitecto que sublinhava que “o caminho a seguir é bastante claro: conhecer a realidade de hoje e interpretá-la em construção” 24, foi o responsável pelo seu planeamento urbanístico, reflectindo claramente os princípios da Carta de Atenas, com um forte sentido de humanismo, sem perder a autenticidade da tradição e relevando o forte compromisso da história com a vanguarda 25. Introduziu várias necessidades na qualidade de vida dos portuenses: “sol, espaço e árvores”, em vez de preocupar-se demasiado com a questão do estilo. Aplicou um conhecimento particular sobre os pressupostos da Carta de Atenas e dos ensinamentos de Le Corbusier e um respeito público a nível da criatividade e da autonomia. Tal como o bairro de Alvalade, partiu de conceitos idênticos como o “zonamento funcional” ou a “unidade de vizinhança”, prevendo a relação entre habitação e equipamentos, projectos tipo com normalização e pré-fabricação de elementos construtivos e inovações na organização interna da habitação. No entanto, Távora “vejo-lhe grandes vantagens em relação ao Plano de Alvalade, mas ele apresenta-me ainda mais dúvidas que ninguém me resolve e que preocupam bastante 26”.

“…. Diferentemente do que aconteceu no Campo Alegre, a ideia do Ramalde era a de instalar comodamente – em todos os sentidos – outros tantos 6000 habitantes. O plano foi executado tomando em conta dois projectos existentes (baseados no bairro de Alvalade, o supra-sumo para a altura) e que se não integravam num esquema geral. Procurou-se então dimensioná-lo para permitir um mínimo de vida própria; o tráfego mecânico ia perdendo importância à medida que se aproximava de um eixo central de peões, ligando as casas, o parque, o centro comercial. O equipamento era bastante desenvolvido e a orientação das fachadas a melhor possível. – o que agravou um condenável geometrismo já condicionado pelo volume dos edifícios previamente projectados e dos quais se introduziram apenas algumas alterações. Passei ali alguns dos grandes momentos da minha vida profissional… Depois, a Câmara não fez as plantações previstas; os edifícios públicos e o parque não se realizaram; ; a estrutura viária preconizada está comprometida como esta 2ª fase ocupa o local da Escola pré-primária. O desleixo nos espaços livres continua e a Federação das Caixas de Previdência parece não constituir novos programas porque o custo dos terrenos teria ultrapassado as possibilidades 27”

22_Ana Tostões in Catálogo da Exposição Arquitectura Século XX, Portugal, p.42

23_ Quer o bairro de Alvalade como o Ramalde, surgiram no âmbito de processos governamentais do regime de Salazar. Casas de Renda Económica foram programs governamentais para tentar solucionar rapidamente o grave problema da habitação nos centros urbanos.

24_TÀVORA, Fernando, Para um urbanismo e uma Arquitectura Portuguesas, em Comércio do Porto, 25 de Agosto de 1953.

25_Fernano Távora, O Problema da Habitação Portuguesa

26_WRANG, Wilfred, “Arquitectos de Oporto, Távora, Siza, Souto Moura: Una identidad no linear”

27_TÁVORA, Fernando; Percurso – Roteiro, Centro Cultural de Belém, Lisboa, 1993, p.72

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TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto,Arquivo Casa do Infante _PERSPECTIVA DO CONJUNTO

Foram adjudicadas várias fases de loteamento, das quais Távora apenas realizou uma parte, o extremo este no bairro.

A nível da escala do plano são facilmente identificados os princípios urbanos divulgados pelos primeiros CIAM. A eleição da melhor orientação solar para os edifícios, paralelos entre si criando zonas verdes de lazer; a diferenciação de ruas de passeio, de acesso ou rodoviárias. É notória também pela vontade e crença em novos ensaios tipológicos – morfológicos da arquitectura habitacional colectiva como forma de construção de cidade.Távora desenvolveu um plano de implantação “rígida”, de blocos iguais e paralelos entre si, orientados a nascente – poente e separados por faixas verdes que funcionavam como elemento unificador, criando uma malha totalmente independente da rede existente.

Um plano, de forma linear, assente na ideia não de um grupo de habitação com o seu jardim, mas um jardim com habitações. As alturas e dimensões dos edifícios, de quatro pisos, são rigorosamente estudadas, assemelhando-se muito aos esquemas desenvolvidos por Gropius, apresentados no III CIAM em Bruxelas (1930) 28. “Na parcela residencial do plano do Ramalde, donde previa-se a inserção de 6000 habitantes, a forma linear dominante nos blocos de apartamentos vê-se alterada pela variação em altura e o comprimento dos blocos, o que introduz na parcela uma ordem formal e abstracta” 29.

Definitivamente, o projecto do Ramalde aproxima-se mais aos modelos dos “Siedlungen” alemães, nomeadamente o Dammerstock (1927-29), no uso do conceito “Zeilenbau” (blocos longitudinais implantados a distâncias iguais numa só direcção e separação directa com a via), do que das suas referências anteriores a Le Corbusier.A implantação, tanto no que se refere à orientação solar como à possibilidade de vivência dos espaços verdes expostos por Herbert Boehm e Eugen Kauman no seu método de fileiras transversais à via (1930) ou concretizado na Siedlung Friedrich-Ebert-Ring em Rathenow (1928) ou projecto de Hoesler da Fiedlugen Georsgarten en Cele (1924).

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, , data? Arquivo Casa do Infante

_PLANTA DE URBANIZAÇÃO

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, Arquivo Casa do Infante

_PLANTA DE URBANIZAÇÃO

_PLANTA DE ANÁLISE DOS GRUPOS DE CASAS DE RENDA ECONÓMICA

GROPIUS, Walter_PLANTA DE URBANIZAÇÃO, _fonte Edite Figueiredo

28_“Edificação baixa, média ou alta”, conferência apresentada por Gropius, apresentados no III CIAM em Bruxelas (1930).

29_FIGUEIREDO, Edite, ODAM: Valores Modernos y la confrontación con la realidad productiva, tese de doctorado ESTAB, p.417.

OUD-JJP_Vista Aérea,Habitações -Blijdorp_fonte Edite Figueiredo

_Siemenstadt, foto Maquete_1930, fonte “Siedlungen Alemanas de los años20”

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“La postura del salazarismo contra el moderno era muy fuerte. Si me permites una pequeña anécdota para explicar el clima que se vivía, te diré que el plano de Ramalde fue dibujado aquí- éste era el despacho de los delineantes – con sombras arrojadas. Un día vino el Director General de Urbanización y ordenó quitarlas “porque el Ministro con sombras no lo va a aprobar”. Las sombras tenían para él un significado terriblemente corbusiano, moderno 30”.

30_ARQUITECTURA, Revista del Colegio de Arquitectos de Madrid, n.261, julio-agosto 1986,

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, Arquivo Casa do Infante

_DESENHO DA FACHADA DAS CASAS UNIFAMILIARES, 1952

_DESENHO DA FACHADA DAS CASAS MULTIFAMILIARES, 1952

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, Arquivo Casa do Infante

_FOTOS DE ÉPOCA, 1954

_ESTUDOS DE COR SOBRE FOTOS, 1954

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leitura referente

TÁVORA, F. “ O Porto e a Arquitectura Moderna”“Panorama”, 2ª série, Lisboa, n.4, Outubro 1952;

TÁVORA, F., “O porto caminha para uma Arquitectura”, em Comércio do Porto, 1952

“Arquitectura” n.71, Junho 1961, apresentação de F. Távora,

“Arquitectura” n.79, Junho 1963 TÁVORA, F. “ O Encontro de Royaumont”,

Nuno Portas, Prefácio a, “Da Organização do Espaço”, 2ª edição, 1982.

nota curricular elaborada por A. Siza em Catálogo da Exposição “Arquitectura, Pintura, Escultura e Desenho”, Porto 1987.

No bloco linear de habitação colectiva, que se constitui como o elemento base de composição do plano, a tipologia convencional de caixa de entrada central e distribuição de apartamento esquerdo/direito, contrastam com as sucessões de planos de superfícies verticais como os vãos, varandas, escadas, etc.

Numa primeira fase os edifícios foram pintados nas cores primárias.A entrada é destacada por uma grande pala em betão, bem como os balcões salientes, conferem ao conjunto um grande grau de plasticidade, aliadas à composição rigorosa dos elementos de sombra, verticais ou horizontais.

O rodapé em granito desliga o plano da fachada do solo, como uma forte linha de sombra, como uma sugestão subversiva de suspensão.

A concentração dos acessos e das zonas de serviços no eixo central e a simetria esquerdo – direito, são dos factores comuns entra a tipologia das “Estacas” e do “Ramalde”. Um dos elementos de oposição entre os dois projectos é, sem dúvida, o desenho das varandas: no caso portuense apresentam-se como elementos salientes que marcam de uma maneira definitiva o ritmo das fachadas, e no caso lisboeta, são recuados do plano de fachada e acentuam ainda mais a linha de sombra horizontal, continua ao longo do edifício.

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, Arquivo Casa do Infante

_CORTE TRANSVERSAL, CASAS DE RENDA ECONÓMICA, 1952-60

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, 1952-60

_PLANTA TIPO 3

KLEIN, Alexander, Barrio Durrenberg-Leipzig, 1931

_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, Formozinho, “Estacas”, 1949-55, Lisboa,

_PLANTA TIPO BRe-desenho, ESTAB, 2007, IL

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_LIMA, Viana2.3. Edifício Costa Cabral, Porto, 1953Rua Costa Cabral, n.750

Viana de Lima, também sobressai no contexto da demanda da habitação, interpretando e aplicando fielmente as teorias corbusianas e assume simultaneamente a influência da arquitectura brasileira, claramente expressa no bloco da habitação colectiva da Costa Cabral (1953). Viana de Lima, teve uma participaçoão activa no mítico Congresso Nacional de 1948, apresentando “O Problema da Habitação”, onde reflecte claramente a pretensão da aplicação princípios anunciados na Carta de Atenas e por Le Corbusier, e com um carácter humanista, a responsabilidade do arquitecto de construir um mundo melhor. “É nosso dever, como construtores, mas também como humanistas, dedicarmo-nos á nobre tarefa de construir Casas sem exageradas pretensões folclóricas e sem espírito de imitação dos séculos XVII ou XVIIII (…) mas sim, a Habitação, em virtude das novas técnicas, presta-se a ser integrada nos elementos de paisagem, ar e luz”. “Quem habita vive: logo a habitação tem que ser reorganizada, de forma a adaptar-se aos meios modernos da época” 31.

Rua Rodrigues Sampaio

1943

leitura referente

MENDES, Manuel, Monografia “Viana de Lima 1913-1991”

Participação X CIAM, Arquitectura, 2ªsérie, n.64, Lisboa, Jan./ Fev. 1959

TOUSSAINT, Michel, “Viana de Lima”, Arquitectos, n.166-167, Ano XIV/XV Dez./ Jan. 1996-97

2.3.1.

_LIMA, VianaBloco do Gaveto, Porto, 1955

Rua Gonçalo Cristovão

2.3.2.

_LIMA, VianaEdifício de Habitação

Colectiva, Porto, 1956-57

1956

Campo Alegre

2.3.3.

_LIMA, VianaTorrres de Habitação

Colectiva, Porto, 1970

1955

Rua Sá da Bandeira

2.3.1.

_LIMA, VianaBloco Sá da Bandeira, Porto,

1943

1970

31_ “1º Congresso Nacional de Arquitectura, Relatório da comissão Executiva, Teses, conclusões e Votos do Congresso”, Lisboa, Maio/Junho 1948

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_LOUREIRO José Carlos; RAMOS, Luis Pádua2.4. Conjunto Residencial do Luso, Luso, 1959-63

Rua da Alegria, n.1880

leitura referente

AA.VV. em “Sociedade e território” n.1, Porto, 1984

“Arquitectura” n.94/1966 e “Arquitectura Portuguesa” n5, Jan-fev 1986.

1954

Rua Fernandes Tomás

2.4._BONITO, Mario; PIMENTEL, Rui, Edifício Ouro, Porto, 1950

Rua Nossa Sª de Fátima, n.231

2.4.1._LOUREIRO José Carlos;

RAMOS, Luis Pádua Edifício Parnaso, Porto, 1954-56

NOTA:este projecto não foi encontrado em nenhuma bibliografia, no entanto a similitude dos projectos, o desenho dos detlhes, particularmente das varandas e a utilização dos materiais, onde sobressai o uso do azulejo, permitem deduzir, segundo a autora, que o edificio da Rua Fernandes Tomás será da responsabilidade da dupla de arquitectos Carlos Loureiro e Luis Pádua.

O conjunto residencial do Luso, foi promovido pela Casa da Misericórdia do Porto, e consta com três tipos de diferentes de edifícios: torre, bloco e edifício em banda, organizados, de uma forma algo sinuosa no plano urbano da cidade.Marcação bem patente das lajes na fachada, intercalada com a utilização azulejo, como revestimento de intenso valor plástico. Grande qualificação dos espaços colectivos enquanto articulação do conjunto com percursos intermédios abrigados em pórticos. Experiência da pura articulação da Carta de Atenas.

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1950 1953

Rua Fernandes Tomás

2.5._BONITO, Mario; PIMENTEL, Rui, Edifício Ouro, Porto, 1950

Praça D.Afonso V

2.6._COSTA, Francisco Pereira Edifício Habitação Colectiva e Comércio, Porto , 1953

Mário Bonito, um dos representantes da linha mais internacionalista dentro do moderno português, dirá em “Regionalismo e Tradição” que tradição nunca poderá ser sinónimo de “imitação do passado” 32, inviabilizando qualquer possibilidade de analogia: “A sobrevivência das técnicas e das formas do passado são empecilhos do Progresso e da Harmonia” 33.

O edifício de Pereira da Costa consolida a fachada da Praça Afonso V. A concepção, assume uma clara rferencia ao movimento moderno, com a consolidação de um amplo pórtico na planta térrea destinada ao comércio. O edifico, ritmado pelo sistema estrutural, estabelece uma relação de continuidade entre o espaço público da praça e o espaço coberto do edifício. A fachada principal denuncia o sistema estrutural principal de grande rigor modelar e através do vazio dado pelas varandas, consegue-se adivinhar o desempenho da estrutura secundária (caixilharia e grades) e a diversidade tipológica dos apartamentos.

À época de Arménio Losa, ARS, Januário Godinho, Viana de Lima, Agostinho Ricca, alguns fragmentos de arquitectura, de cidade, são sinais de uma arquitectura dura, manifestos para uma nova atitude arquitectónica, suporte de referências para outro desenho e outra paisagem de cidade; propósitos para um outro viver, e que não apenas de alguns. Entre fidelidades e rompimentos, “digressões” na forma e “incursões” no método, a reprodução do modelo, o recurso á convenção e à criatividade local, o “projecto” – que não miragem, mas vontade prepositiva – foi progredindo pela experiencia individual como método de decomposição da realidade, como técnica adjacente da estética pessoal.

32_BONITO, Mário, “Regionalis-mo e Tradição”. Sindicato Nacional dos Arquitectos, 1948, p.50

33_ BONITO, Mário Idem, p.51.

Rua Júlio Dinis Avenida da Boavista

2.7._RICCA, AgostinhoEdifício Montepio, Porto,1961Parque residencial da Boavista, 1963Torre residencial da Boavista, 1965

Rua da Alegria

2.8._SILVA, Moreira, SILVA, José Edifício Miradoiro, Porto, 1953

1961 1962 1965 1969

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

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3.0. O caso brasileiro

1.No Brasil, devido à grande projecção mundial da sua arquitectura moderna, implica-se neste caso particular, o estudo de projectos realizados por arquitectos brasileiros. Analisar-se-ão os objectos de estudo brasileiros que se destacam dentro do âmbito da investigação, a influência que tiveram em Portugal e simultaneamente investiga-se a reciprocidade do processo. Destaca-se a reconhecida e inegável absorção e aplicação em Portugal das especificidades da modernidade brasileira. No entanto, e eventualmente, não se excluem as contribuições portuguesas em território brasileiro, se os factos assim o justificarem. Tenta-se reunir informações do passado arquitectónico no âmbito da habitação colectiva que aproximaram e afastaram, que de certo modo movimentaram a arquitectura portuguesa e brasileira do século XX.

São identificados de antemão alguns critério de interpretação da arquitectura moderna brasileira. Por um lado, o carácter mestiço que reflecte a diferença da arquitectura europeia originária, onde, em certa medida assentam algumas das raízes brasileiras. As especificidades únicas da Natureza e a escala, são seguramente outros dois aspectos a ter em conta.

2.O movimento Moderno chegou ao Brasil, muito em parte, devido à emigração, visita de europeus, retorno de brasileiros que estudaram na Europa e, principalmente, pelo o entusiasmo e pela a criatividade das gerações mais jovens de arquitectos 1. Tal como no caso português, para entender a história da sua arquitectura moderna, é fundamental relacioná-la ao campo arquitectónico internacional. A crise económica que se vivia na Europa relacionada com a II Guerra Mundial, fez com que arquitectos como Donat Agache, Le Corbusier e o italiano Piacentini procurassem no Brasil um refúgio criativo, estabelecendo novos contactos e alianças. Além disso, a boa condição económica do Brasil, o desejo de o governo procurar uma nova imagem para a capital federal e uma brilhante geração de intelectuais e arquitectos brasileiros, foram factores decisivos na singularidade da sua arquitectura moderna.Em 1922, decorre a Semana de Arte Moderna. “São os que gritam, quando tudo cala”, diz Jorge de Lima.

O Brasil atravessa na década de 30, um momento de pujança económica impulsionado pelo governo Getúlio Vargas, o qual os arquitectos modernos aproveitaram com grande mestria, derrotando por completo o neocolonial e académico. O edifício do Ministério da Educação e Saúde, é o exemplo máximo desta condição, sendo ao mesmo tempo o mais importante dos prédios estatais que alterariam a face do Rio de Janeiro. O controle do património histórico e as teorias para a produção de habitações populares nos centros urbanos, são também duas importantes vitórias 2. A implantação no país de uma política de habitação popular foi eleita como ponto central do discurso modernista. Tal como em Portugal, não se pode falar de arquitectura moderna sem referir e falar de política. À semelhança do que passava na Europa, o estilo moderno brasileiro, além de superior nas formas, era vivido pelos arquitectos como a solução (ideológica) ao problema generalizado

3_ Architecture d’Aujourd’Hui, n.12-13, Set.1949 e n.42-43, Ago. 1952.

4_Architecrual Review, n.644, Ago. 1950.

5_SOUSA, Wladimir Alves, “Exposição de Arquitectura Contemporânea” Brasileira”, Arquitectura, Lisboa, 2ª série, n.53, Nov/Dez, 1954.

6_ SANCHES, Formosinho, “Arquitectura Moderna Brasileira, Arquitectura Moderna Portuguesa”, Arquitectura, Lisboa, 2ª série, n.29, Fev/Mar,1949 (opinião de Formosinho Sanches sobre a exposição do IST).

7_Entrevista a Maurício de Vasconcelos, Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação, Lisboa, 4ª série, n.3-4, Abr1954.

8_PEREIRA, Nuno Teotónio, “Escritos (1947-1996, selacção), FAUP publicações, Porto, 1996.

9_ ALMEIDA, Pedro Vieira; FERNANDES, José Manuel, “A Arquitectura Moderna” in História da Arte em Portugal, Volume 14, p.148/157, Publicações Alfa, 1986.

10_ TOSTÕES, Ana, Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50, FAUP publicações,, Agosto 2006.

da falta de oferta de habitação nas principais cidades, baseados nos fenómenos como a simplificação ou da massificação. No final dos anos trinta e início dos quarenta, a relação com os Estados Unidos foi fundamental para a consolidação do estilo moderno, bem como para a afirmação da sua independência e autonomia em relação aos modelos europeus iniciais.(em 1943, Orson Welles, It’s all true, um documentário sobre o Brasil, RKO Pictures e o Museu de Arte Moderna inaugural a mostra itinerante “Brasil builds” aceleraram o processo de modernização da arquitectura brasileira, no país, e fora dele). A Architecture d’Aujourd’hui publica dois números históricos “Brésil” em 1947 e de novo em 1952 3, tal como a Architecrual Review 4, as duas mais importantes revistas de arquitectura da época (e quiçá ainda hoje) publicam extensos artigos sobre a arquitectura moderna brasileira.

3.Portugal é atravessado por uma forte corrente da arquitectura moderna brasileira, na ambiguidade entre a procura dos valores modernos internacionais e os tradicionais nacionais. São realmente anos de assimilação e integração da cultura brasileira que se concretizam principalmente através da circulação de revistas, primeiro estrangeiras, depois portuguesas e com as exposições realizadas em Portugal. Em 1953, realiza-se a “Exposição de Arquitectura Contemporânea Brasileira”, homenageando o mestre Lúcio Costa, sobre a propósito Wladimir Sousa realiza uma conferência em Lisboa, em 1953, onde afirma que “não envergonhamos a vossa tradição” 5. Publicam-se vários artigos, particularmente na revista Arquitectura, de autores portugueses como Ruy d’Athouguia (arquitecto que nunca visitou o Brasil) em 1949 publica, “Arquitectura Moderna Brasileira, Arquitectura Moderna Portuguesa” 6, onde refere que “A Arquitectura Moderna Brasileira é já uma franca realidade “ ou a entrevista realizada a Maurício Vasconcelos 7, arquitecto português residente no Brasil que trabalhou vários anos com o arquitecto Vilanova Artigas. Publicam-se também artigos de autores brasileiros como Rino Levi, Noronha da Costa, à parte dos numerosos artigos dedicados à nova arquitectura moderna brasileira.

Mas é sem dúvida, com a chegada a Portugal do catálogo da exposição no MOMA, Brazil Builds: Architecture New and Old 1652-1952, muito provavelmente via Nuno Teotónio Pereira em 1945 8, que os arquitectos portugueses na ansiedade de ser modernos, estabeleceram de novo o vínculo, mas desta vez em sentido contrário, ao Brasil colonial e imperial e por primeira vez ao surto extraordinário que conhecera o Movimento Moderno neste país.

Hoje já existem alguns registos e várias investigações portuguesas sobre o tema, por isso a exemplo, José Manuel Fernandes e Pedro Viera de Almeida, historiadores autores do volume dedicado à Arquitectura Moderna da “História de Arte em Portugal”, classificam o Bairro das Estacas, no Bairro de Alvalade em Lisboa, como “revelador dos caminhos brasileiros do nosso racionalismo” 9. Ana Cristina Tostões, numa pesquisa exaustiva sobre a arquitectura portuguesa na década de 50, assinala uma moradia na Av. do Aeroporto, também em Lisboa, do arquitecto Maurício de Vasconcelos, como uma “obra polémica, violenta, brasileira… assumindo-se como um grito da modernidade” 10. Ana Vaz Milheiro, na vasta investigação sobre a Construção do Brasil e as relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa, defende que o desejo português

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Page 34: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

leitura referente:

BONDUKI, Nabil, Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitectura Moderna, lei do Inquilato e Difusão da casa Própria”, 4ª edição, São Paulo, Estação Liberdade, 2004.

BRAUND, Yves, Arquitectura Contemporânea no Brasil, 1981

CAVALCANTI, Lauro, Guia de Arquitectura Quando O Brasil era Moderno 1928-1960, aeroplano editoraCOSTA, Lúcio. Registo de uma Vivência, Fundação Banco do Brasil.

GOODWIN, Philip, Photography by G.E. KIDDER SMITH, BRAZIL BUILDS, Architecture New and Old 1652-1942, Catálogo do MOMA, Nova York, 1943SEGAWA, Arquitecturas no Brasil 1900-1990, edusp

XAVIER, Alberto, Depoimento de uma Geração, arquitectura moderna brasileira, Cosac & Naify(compilação excelentes de textos originais da época de autores brasileiros e outros que influenciaram o Brasil)

MILHEIRO, Ana Vaz. “A Construção do Brasil, relações com a cultura arquitectónica portuguesa, 1ª edição 2005, FAUP.

“A Arquitectura Brasileira” (Ecos e Comentários), Arquitectura, n.19, Janeiro de 1943.

SOUSA, Wladimir Alves, “Exposição de Arquitectura Contemporânea” Brasileira”, Arquitectura, Lisboa, 2ª série, n.53, Nov/Dez, 1954

é o de um definitivo acerto com a condição moderna internacional e não, exactamente, com a situação brasileira 11, em parte justificado pela nota introdutória de um artigo de Rino Levi que declara em 1950, que os portugueses “solidarizam-se com todos os que lutam por uma arquitectura progressiva e racional” 12.

4.A figura de Le Corbusier é, sem dúvida, uma peça chave de ligação em todo este processo.Em 1929, Le Corbusier viaja pela a América do Sul, em concreto a São Paulo, Rio de Janeiro, Montevideu e Buenos Aires.Arquitectura moderna brasileira tem desde o seu início um sotaque francês, mas é sobretudo em 1936, com a consultoria de Le Corbusier para o edifício mítico do Ministério de Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, uqe atinge um dos sues pontos áureos.Realiza vários esquiços, entre eles a planificação urbana da cidade do Rio de Janeiro. Os primeiros croquis, em 1929, denunciam claramente alguns dos princípios já expressos anteriormente para a Ville Radieuse, adaptados às condições territoriais, únicas a nível mundial. As versões de 1936, mais elaboradas, anunciam o desaparecimento dos arranha-céus ortogonais que são substituídos por blocos lineares curvos e arranha-céus cartesianos. Entre o mar e o horizonte da edificação delimita-se o âmbito da actuação do planeamento urbanístico, onde o perfil das montanhas serve de fundo e cria um perfeito equilibro entre a natureza e a cidade 13.

5.O Inquérito da Arquitectura Portuguesa constitui um ponto de inflexão na história da arquitectura luso-brasileira. Como foi referido, este inquérito foi de grande importância no panorama português, mas o facto realmente surpreendente foi a repercussão sentida no Brasil. Segundo afirma Benedito Lima 14, o trabalho alcançou grande reprecussão entre professores do departamento de História da Arquitectura e Estética do Projecto da Faculdade de Arquitectura e urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Foi motivo de seminários e viagens a Portugal. Num artigo publicado em 1937, com o título “Documentação Necessária”, Lúcio Costa escrevia:“A Arquitectura popular apresenta em Portugal, a nosso ver, interesse maior que a “erudita” servindo-nos da expressão usada, na falta de outra, por Mário de Andrade, para distinguir da arte do povo a “sabida”. É nas suas aldeias, no aspecto viril das suas construções rurais a um tempo rudes e acolhedoras, que as qualidades da raça se mostram melhor. Sem o ar afectado e por vezes pedante de quanto se apura, aí, à vontade, ela se desenvolve naturalmente, adivinhando-se na justeza das proporções e na ausência de “make-up”, uma saúde plástica perfeita se é que podemos dizer assim” 15.Neste contexto, é curioso realçar, antes de mais, o interesse e o conhecimento do maestro brasileiro sobre a arquitectura portuguesa, nomeadamente com a assimilação do Inquérito na cultura brasileira.

O interesse por Portugal reflectia-se em vários campos, e o antropólogo Gilberto Freyre, viaja por uma larga jornada a Portugal (1951-52), “em investigação das constantes de carácter y acção portuguesas”.

11_MILHEIRO, Ana Vaz, A Construção do Brasil, relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa, FAUP, publicações 2005, p.19

12_LEVI, Rino, “A Arquitectura é uma Arte e uma Ciência”, Arquitectura, Lisboa, 2ª série, n.36, L Novembro 1950.

13_CALDUCH, Juan, “brasil, un viaje de estúdios”, inverno 2003.

14_TOLEDO, Benedito Lima, Professor Titular de História da Arquitectura da FAU-USP, S. Paulo, “O Inquérito, Portugal e o Brasil”, Agosto 2006.

14_Idem

_LE CORBUSIER, Croquis para a urbanização da cidade do Rio de Janeiro, 1929.

_LE CORBUSIER, Planta geral de ordenação do Rio de Janeiro desde o Corcovado, 1936.

_LE CORBUSIER, Vista geral do Rio de Janeiro desde o Corcovado, 1936.

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_FERREIRA, Carlos Frederico, 3.0.0. Conjunto Residencial Vila Guiomar, Santo André, década de 40

1940

Santo André

_FERREIRA, Carlos Frederico, 3.0.1. Conjunto residencial do Realengo, Rio de Janeiro, 1942

Rio de Janeiro

3.0. o caso do RIO DE JANEIRO.

Próximo ao centro de São Paulo, o Conjunto Residencial da Várzea do Carmo, de Attílio Corrêa Lima, sobressai pela composição racionalista e a disposição dos blocos paralelos (médios e altos), assumindo uma posição rigorosamente racionalista procura a articulação entre a arquitectura e o urbanismo. O paralelismo e a regularidade aproximam o conjunto brasileiro aos esquemas inicialmente apresentados por Gropius no III CIAM, e alguns dos conceitos mais importantes do movimento moderno que reflectir-se-ão anos mais tarde, também e a título de exemplo, no bairro do Ramalde, de Fernando Távora na cidade do Porto.

A nível arquitectónico, do edifício à tipologia, se pode por de manifesto o conjunto residencial do Realengo de Carlos Ferreira ou o Conjunto residencial da Móoca de Paulo Antunes Ribeiro, não esquecendo que existe um desfasamento de dez anos entre os casos brasileiros e o conjunto de Fernando Távora de 1952.

O conjunto residencial Júlio Barros Barreto, dos irmãos Roberto, representado por dois blocos de apartamentos duplex, articulados por uma torre de circulação vertical. Três preocupações básicas: o máximo aproveitamento da vista sobre a baía de Guanabara, autonomia das circulações sociais e de serviço e bom arejamento dos apartamentos, através da ventilação cruzada.

A disposição dos apartamentos em duplex, segue o esquema de Le Corbusier para as unidades de habitação. A planta, permite que dois quartos, a sala e a varanda tenham vista sobre o mar e um quarto e o sector de serviço se abram para a montanha. A varanda tem pé-direito duplo. O encontro de ângulos distintos dos três blocos, permite perspectivas diversas ao conjunto, que apesar da sua grande escala, está perfeitamente enquadrado na paisagem.

Bloco de Habitaçãoo, Rio de Janeiro, 1946, representado no VI CIAM

Edifícios residenciais, 1950-1962Rua Paulo César de Andrade 200, 222, 232, 240, 274, 296, Parque Guinle, Laranjeiras / Rio de Janeiro

O escritório dos Roberto foi dos mais criativos ao longo dos anos 40, 50. Marcelo e Maurício Roberto projectam dois edifícios no parque, donde se localizam, um pouco mais abaixo, os prédios de Lúcio Costa. Edificados em dez pavimentos sobre pilotis, com estrutura de betão armando independente. Os apartamentos têm áreas invulgarmente grandes.

TÁVORA, Fernando Conjunto Residencial Ramalde”, Porto, Arquivo Casa do Infante

_FOTO ACTUAL, IL

1942

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

leitura referente:

Architecture d’Aujourd’Hui, n.42-43, ago.1952, p.62

Mindlin:1999, pp.110-111

Acrópole, 288, nov.1962, pp.194-195

Bruand:1981, pp.179-180

Mindlin:1999, pp.274

_MM Roberto 3.0.2. Edifício residencial Júlio Barros Barreto, Rio de Janeiro, 1947

Rua Fernando Ferrari, 61 / Botafogo, Rj

_?3.0.3. Conjunto residencial do Deadoro, Rio de Janeiro, 1954

Deadoro, Rj

19541947

69

Page 36: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_COSTA, Lucio3.1. Edifícios Nova Cintra, Bristol e Caledônia, Rio de Janeiro, 1948-52-54

Rua Gago Coutinho, 66-68 e rua Paulo César de Andrade, 70 e 106 / Parque Guinle, Laranjeiras Rio de Janeiro, Rj

O projecto do conjunto residencial do “Parque Guinle” foi concebido num período de grande renovação cultural, que Lúcio Costa soube sabiamente aproveitar, apesar das fortes limitações impostas pelos promotores.

Os três edifícios projectados por Lúcio (dos seis inicialmente previstos): o “Nova Cintra” voltado para rua Gago Coutinho, realiza uma transição em relação à cidade: limita o parque com galerias comerciais no térreo. O “Bristol” e o “Caledónia”, acompanham o declive natural do terreno, onde Lúcio venceu a diferença das linhas de nível com uma solução simples e brilhante: utilizou diferentes a cada linha de colunas, acomodando, assim, o pilotis no terreno, sem grande necessidade de movimentação de terras 16”.

Todos os edifícios assentam sobre pilotis, com a estrutura independente em betão armado, planta livre, fachadas livres e brise-soleils de protecção contra o sol. Aplicando os princípios anunciados desde o pavilhão suíço de Le Corbusier, Lúcio projecta os edifícios de dupla cara, uma solução também utilizada em muitos casos em Portugal. A massa rígida e compacta dos três grandes blocos, é diluída pela delicada composição dos planos de fachada, onde recorre-se ao uso dos brise-soleils de uma maneira sublime. Alternando os mesmos elementos, Lúcio consegue uma superfície vibrante que retira o peso à estrutura e alcança simultaneamente um grande valor plástico.

“Aconselhei então uma arquitectura

contemporânea que se adaptasse

mais ao parque do que à mansão,

e que os prédios alongados, de seis

andares, fossem soltos do chão e

dispusessem de “loggias” em toda a

extensão das fachadas, com vários

tipos de quebra sol, já que davam

para poente, Foi o primeiro conjunto

de prédios construídos sobre pilotis

e o prenúncio das super quadras de

Brasília.

Lamentavelmente os corretores da

época não souberam “vender” as

inovações e assim os proprietários,

a meio caminho, foram levados a

fazer outra coisa na parte restante do

terreno. 16”

COSTA, Lucio_Conjunto do Parque Guinle, Rio de Janeiro, 1948-52-54Esquiços do autorin Architectural Review, ago. 1950

SEWAGA, Hugo, Entrevista a Lúcio Costa, Revista Projecto, n.104.

16_CAVALCANTI, Lauro, Guia de Arquitectura Quando o Brasil era Moderno, 1928-1960, aeroplano editora

71

Page 37: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

A essência da concepção urbana e a procura da plasticidade dos materiais nas fachadas desta intervenção observa-se fielmente interpretada nos conjuntos da Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa nos anos 50, quer no conjunto da equipa de Cid quer de Areal.

No conjunto do “Parque Guinle”, o elemento de grande destaque na composição, são as escadas, dois volumes independentes para cada prédio. Cilindros de vidro pontuados por finos pilaretes verticais que dotam o conjunto de uma plasticidade única acentuada em contraste com os edifícios, recuados alguns metros.Carlos Loureiro, no projecto do Luso, na cidade do Porto em 1959 sugere usar a mesma estratégia, mas por oposição: projecta um volume cilíndrico compacto e fechado apenas com um rasgo vertical na zona dos patamares, que equilibra todo o conjunto. O vazio que solta o volume alguns metros do edifício e a sua neutralidade, realça a plasticidade dos materiais, particularmente o jogo vibrante de azulejos ao longo das fachadas dos blocos.

Na planta térrea, o pavimento da calçada portuguesa e o rigoroso desenho das jardineiras constituem uma forte aproximação ao discurso do bairro das Estacas em Lisboa, em 1949. Além disso, as preocupações formais e as decisões a nível do tratamento plástico dos volumes unem, sem dúvida alguma, a equipa de Sanches e d’Athouguia ao maestro Lúcio Costa.

_LOUREIRO José Carlos; RAMOS, Luis Pádua2.4. Conjunto Residencial do Luso, Luso, 1959-63

COSTA, Lucio_Conjunto do Parque Guinle, Rio de Janeiro, 1948-52-54FOTOS in Architectural Review, ago. 1950

AREAL, Joaquim, 1.2.3. Conjunto residencial da Av. EUA, Lisboa,1955

D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, Formosinho, Conjunto as” Estacas”, Lisboa, 1948-55

D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, Formosinho, Conjunto as” Estacas”, Lisboa, 1948-55

72 73

Page 38: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

As plantas dos três edifícios são similares e reflectem o carácter residencial de luxo com áreas privilegiadas entre 225 a 515 m2, variando com quatro tipos de apartamentos, sendo alguns tipo duplex. Lúcio, procurou a essência dos esquemas tipológicos tradicionais, desde a cultura aborígene às especificidades da casa típica brasileira do século XVIII e XIX, e conjugou-a com o seu pensamento moderno, propôs uma tipologia inovadora e simultaneamente testemunho da cultura brasileira: uma “espécie de jardim de inverno, contíguo à sala de estar e um cómodo sem destino especifico, ligado aos quartos e aos serviços; um mais formal e outro mais à vontade, correspondendo assim à varanda caseira. 17”.

COSTA, Lucio_Conjunto do Parque Guinle, Rio de Janeiro, 1948-52-54Esquiços do autorin Architectural Review, ago. 1950

17_COSTA, Lúcio, Registo de uma vivência,

leitura referente:

COSTA, Lucio, Razões para uma nova arquitectura

L’Architecture d’Aujourd’hui, 13/14 set. 1947,p.90

Architectural Review, ago. 1950

Page 39: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_REIDY, Affonso 3.2. Conjunto Marques de São Vicente, Gávea, Rio de Janeiro, 1952

Outra influência marcante no período foram as unités d’habitation de Le Corbusier, que tiveram no Brasil uma grande repercussão e força para despontar um grupo expressivo de projectos habitacionais. No entanto, assistiu-se nos anos 50, à predominância de obras promovidas pela iniciativa privada, visando sobretudo a classe média, como edifícios projectados por Niemeyer (Copan, São Paulo), Abelardo de Souza (Nações Unidas), Zarzur Et Kogan (São Vito, SP), etc.18.

Se as ideias têm a essência de Le Corbusier, vão ser, no entanto, os arquitectos brasileiros a desenvolver-las com especificidades e particularidade únicas coerentes com a sua formação e história.

O conjunto do “Pedregulho” deu á obra de Affonso Reidy uma grande visibilidade nacional e internacional.Max Bill, em visita ao Brasil em 1951, para a Bienal de Arquitectura, considerou-o a obra brasileira de maior interesse, uma vez que conjugava um plasticicismo brilhante, cumprindo objectivos sociais.Projectaram três blocos de residência, uma escola, lavandaria e mercado, centro de saúde, ginásio e piscina.Como explica Bruand (1981) Reidy escolheu utilizar prismas rectangulares para os prédios residenciais, trapezoidais para os de serviços e abóbadas para o ginásio e piscinas. O edifício que visualmente sobressai no conjunto, desenvolve 260 m de comprimento, sinuosamente ao longo da montanha, de uma forma perfeitamente integrada. O terceiro andar é aberto, permite a continuidade visual com a montanha, dividindo o bloco em dois: no de baixo situam-se as unidades de apenas um quarto e no de cima apartamentos duplex com quatro quartos.

No entanto, pela proximidade à escala do contexto português, tornam-se mais relevantes o conjunto blocos, paralelos entre si e igualmente sobre pilotis. Possuem quatro andares com apartamentos duplex, permitindo no entanto, a possibilidade de obter unidades com dois, três ou quatro quartos. O corredor de acesso aos apartamentos protege a área da insolação mais desfavorável.

_REIDY, Affonso 3.2.1. Conjunto Residencial O Pedragulho Gávea, Rio de Janeiro, 1952

D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, Formosinho, 1.1. Conjunto as ”Estacas”, Lisboa, 1949-55

D’ATHOUGUIA, Ruy, , SANCHES, Formosinho, 1.1. Conjunto as ”Estacas”, Lisboa, 1949-55, foto actual IL

leitura referente:

Architectural Fórum, Nov.1947Architectural Record, 124, Jul.1958Architectural Record, jul.1952Architectural Record, out.1950Architectural Review, 112, jul.1952, pp.16-19Arquitectura Contemporânea no Brasil, vol.I, 1947, pp.10-13L’Architecture d’Aujourd’hui, n.33, dez.1950, pp.56-66L’Architecture d’Aujourd’hui, n.42-43, ago.1952, pp.124-128Mindlin:1999, pp.142-151Braund, p.224

18_CAVALCANTI, Lauro, Guia de Arquitectura Quando o Brasil era Moderno, 1928-1960, aeroplano editora

76 77

Page 40: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_MOREIRA, Jorge Machado 3.3. Edifício Residencial António Ceppas, 1952

Rua Benjamim Batista, 180/ Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ

leitura referente:

Brasil Arquitectura Contemporânea, 4.1954, pp.10-13

L’Architecture d’Aujourd’hui, n.45, Nov. 1952, pp.36-37

Mindlin: 1999, pp.122-123

Braund, p.247

Jorge Moreira foi um arquitecto que mais que procurar novas linguagens sempre trabalhou baseado na tropicalização dos princípios fundamentais de Le Corbusier: estrutura independente, pilotis e prisma rectangular.

O edifício Ceppas, foi premiado, com menção honrosa, em 1953, na II Bienal de São Paulo, pelo júri composto por Walter Gropius, Alvar Aalto e Ernest Rogers (exactamente na mesma edição em que foi premiado o conjunto das Estacas em Lisboa, da equipa de D’Athouguia e Sanches).

O edifício assenta sobre pilotis e tem seis andares, com quatro apartamentos cada. Todos os azulejos, pastilhas, cerâmicas, treliças e venezianas de madeira foram desenhados por Moreira, especialmente para a obra. Assume uma postura mais vibrante e colorida que a maioria das construções modernas brasileiras: pastilhas de revestimento cinza pérola e azul, e as madeiras são pintadas em branco e amarelo ocre. O paisagismo foi projectado por Roberto Burle Marx.

_LIMA, Viana2.3. Edifício Costa Cabral, Porto, 1953, foto actual IL

_AREAL, Joaquim, 1.2.3. Conjunto residencial da Av. EUA, Lisboa,1955, foto IL

Page 41: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

1940

.RIBEIRO, Paulo Antunes Conjunto residencial da Móoca, São Paulo, 1940

MM RobertoEdifício Anchieta, São Paulo 1941

Próximo ao centro de São Paulo, o Conjunto Residencial da Várzea do Carmo, de Attílio Corrêa Lima, sobressai pela composição racionalista e a disposição dos blocos paralelos (médios e altos), assumindo uma posição rigorosamente racionalista procura a articulação entre a arquitectura e o urbanismo. O paralelismo e a regularidade aproximam o conjunto brasileiro aos esquemas inicialmente apresentados por Gropius no III CIAM, e alguns dos conceitos mais importantes do movimento moderno que reflectir-se-ão anos mais tarde, também e a título de exemplo, no bairro do Ramalde, de Fernando Távora na cidade do Porto.

A nível arquitectónico, do edifício à tipologia, se pode por de manifesto o conjunto residencial do Realengo de Carlos Ferreira ou o Conjunto residencial da Móoca de Paulo Antunes Ribeiro, não esquecendo que existe um desfasamento de dez anos entre os casos brasileiros e o conjunto de Fernando Távora de 1952.

_RIBEIRO, Paulo Antunes4.0. Conjunto residencial da Móoca , São Paulo, 1942

Sao Paulo, Brasil

_MMM ROBERTO, 4.1. Edifício Achieta, São Paulo, 1940

São Paulo, Brasil

TÁVORA, Fernando 2.1. Conjunto Ramalde”, Porto, Arquivo Casa do Infante

_PLANTA

_LIMA, Attílio Corrêa, 4.2. Conjunto Residencial da Várzea do Carmo, São Paulo, 1942

São Paulo, Brasil

4.0. a cidade de SÃO PAULO. _LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

1942

_MINDLIN, Henrique4.3. Edifício Residencial os Três Leões, São Paulo, 1954

São Paulo, Brasil

1954

81

Page 42: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_ARTIGAS, Vila Nova4.1. Edifício Louveira, São Paulo, 1956-50

_ARTIGAS, Vila Nova; PENTEADO, Fábio, ROCHA, João Paulo Mendes, 4.2. Conjunto habitacional Zezinho Magalhaes Prado, Guarulhos, São Paulo, 1957

“Ele tem uma implantação que todos os meus colegas arquitectos nunca deixaram de elogiar porque assimila a praça, que está em frente, ao interior do edifico” 19.

Os dois blocos, um com sete e outro com oito andares, foram implantados paralelos, criando um pátio colectivo, local de encontro afastado da rua e da trama urbana da cidade, como um refúgio frente ao caos urbano.Estão ligados entre eles através de uma rampa sinuosa que contrasta com a regularidade dos dois blocos. Andares - tipo sobre pilotis, estrutura independente em betão armada, cortina de vidro e venezianas de madeira que correm verticalmente na sua estrutura.

_D’ATHOUGUIA, Ruy; SANCHEZ, Formozinho1.1.Bairro das “Estacas”, LIisboa 1949-55, foto actual IL

_LOUREIRO José Carlos; RAMOS, Luis Pádua Edifício Parnaso, Porto, 1954-56

leitura relacionada:

ARTIGAS, Vilanova, Caminhos de Arquitectura, Cosacnaify, inclui a Função Social do Arquitecto, Sp, Junho de 1984

ARTIGAS, Vilanova, Arquitecto, 11 textos e uma entrevista,” A cidade é uma casa. A casa é uma cidade”, Casa da Cerca, Almada, Março 2001

Arquitectura e Engenharia, 17, pp.49-50

Mindlin:1999, pp.116-117

19_ARTIGAS, Júlio, Vilanova Artigas, Instituto Lina Bo Bardi

82 83

Page 43: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_AMORIM, Delfim5.0. um arquitecto português no Recife

Um caso significativo é a renovação da arquitectura no Recife, ocorre apenas depois de 1950, principalmente através de dois jovens arquitectos: um vindo do Rio outro de Portugal, Acácio Gil Borsoi e Delfim Amorim.

Delfim Amorim, arquitecto portuense e activo membro do grupo O.D.A.M. fixa-se na cidade do Recife, tendo um papel importante a nível de construção, evolução urbana da cidade e no ensino. Assume um papel relevante neste processo, uma vez que indicia a RECIPROCIDADE do processo arquitectónico entre Portugal e o Brasil. Leva toda a cultura da Escola do Porto e adapta e evolui as especificidades locais. “É através da “Composição” que o artista, com efeito, consciente ou inconscientemente, reúne numa síntese os elementos em choque da sua obra. E é também através de uma luta impressionante que consegue humanizar o objecto – obra de arte (…) 20”

Desenvolve vários projectos a nível da habitação colectiva, onde sobressai um enorme espírito moderno conjugado com a tradição arquitectónica portuguesa. É prova de isso a vasta exploração plástica do azulejo, o material de eleição de Amorim. Marcado por um grande lado humanista, sempre acreditou na arquitectura, não apenas como uma interpretação da realidade, mas como uma consciente posição perante essa mesma realidade, no seu sentido social, político, económico e humano.

Fixa-se no Brasil de 1951 e desde logo as suas primeiras obras revelaram fortes influências corbusianas, conservando um certo ar europeu e uma certa frieza em um País tão cálido, como é o Brasil. No entanto, o ambiente brasileiro modificou o estilo de Amorim, como se reflecte por desde as primeiras obras, como por exemplo no Edifício Pirapama (1956), no Prédio Acaiaca (1957).

20_ SILVA, Geraldo Gomes da et al. Delfim Amorim arquiteto. Recife: Instituto de Arquitetos doBrasil/Departamento Pernambuco (IAB-PE), 1981, p.

21_ idem, p.80

_AMORIM, Fernandes, 5.1. Edifício Pirapama, Recife, 1958

Avenida Conde da Boa Vista, Bairro da Boa Viagem, Recife

O Edifício Pirapama, situa-se no bairro da Boa Vista, no Recife, e trata-se de um exemplo magnífico de um edifício misto: garagens no subsolo, planta térrea com fins comerciais, a sobreloja a escritórios e os demais pisos a apartamentos residenciais.

A composição do edifício, Particularmente o volume externo das escadas, constitui um forte elemento de aproximação entre outros conjuntos residenciais já apresentados, quer no Brasil (Parque Guinle) quer em Portugal (no Porto o caso do Conjunto do Luso e em Lisboa nos Olivais)

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

_MANTA_Abel_Conjunto Habitação Colectiva OlivaisNorte Lisboa 1960-64

_AMORIM, Fernandes, Alguns dos Azulejos elaborados por Amorim

84 85

Page 44: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_AMORIM, Fernandes, 5.3. Edifício Araguaia, Recife, 1961

Bairro Derby, Recife

O Edifício Araguaia, destinado exclusivamente ao uso residencial, apresenta-se como um volume formal e plástico de grande valor com escala moderada. O edifício assenta sobre pilotis, dando lugar a estacionamento na planta térrea e é composto por três pisos mais, cada um deles com dois tipos de apartamentos.

As duas fachadas mais expostas à insolação são quase integralmente revestidas de azulejo.Mesmo baseando numa observação rápida e superficial, identificam-se claramente os princípios moderno preconizados pela Escola de Arquitectura do Porto. Por exemplo o desenho, a moldura e a dimensão das janelas, assemelha em muito este projecto ao Edifício Miradoiro no Porto.

SILVA, Moreira, SILVA, José2.8. Edifício Miradoiro, Porto_1953

_AMORIM, Fernandes, 5.2. Edifício Acaiaca, Recife, 1958Rua da Boa Viagem, Bairro da Boa Viagem, Recife

SEGURADO, José1.5. Edifício Montepio GeralLisboa_1956

No Edifício Acaiaca, a planta térrea está praticamente toda vazada, criando espaços colectivos ajardinados de grande cuidado, permintindo ao cidadão total liberdade de circulação. As salas e os quartos dos apartamentos estão virado a nascente e a modelação bem marcada e definida compõe o ritmo vertical da fachada. As fachadas laterais, são ligeiramente chanfradas, um tipo de detalhe bastante utilizado em Por-tugal (caso significativo nas Estacas e também no projecto de Segurado na Avenido do Brasil, em Lisboa). São totalmente revestidas a azulejos, que continuam na fachada nascente, ceando molduras.

O desenho dos azulejos foi criado pelo arquitecto especialmente para este projecto. Este edifí-cio é um caso sublime de conjugação entre os princípios do movimento moderno e a aplicação de materiais culturalmente tradicionais portugueses, particularmente o azulejo 21.(a importância da Construtora A.C.CRUZ)

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Page 45: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

_DIAS, Adalberto7.3.2. Edifício Sede Cofre da Previdência, Luanda, Angola_1963

leitura relacionada:

SILVA, Geraldo Gomes da et al. Delfim Amorim arquiteto. Recife: Instituto de Arquitetos doBrasil/Departamento Pernambuco (IAB-PE), 1981.

Amorim, Delfim. (1991). Delfim Amorim Arquiteto.[equipe: Djanira Oiticica.et alli.]IAB. PE

Amorim, L. Delfim Amorim Construtor de uma linguagem síntese.AU, São Paulo, Pini. Ano 5, n. 24, jun/jul, 1989, p. 94-97

Amorim, Luiz. (2001). Recife: uma escola regional? Revista Arquitetura e Urbanismo.94:71-79

Amorim, Luiz. (2004)..A Escola do Recife. in Pernambuco 5 décadas de arte.Ed.Construtora QueirósGalvão . p.75.

Amorim, Luiz. Modernismo Recifense: uma escola de arquitetura, três paradigmas e alguns paradoxos.[enlínea] .Pagina Web, URL. http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq012/bases/03text.asp [consultael 18 de febrero de 2004]

Bruand, Yves.(1981). Arquitetura Contemporânea no Brasil.São Paulo: Ed. Perspectiva.p.147-148

Gomes, Geraldo. (1995). Um Modernista Português no Recife. Revista Arquitetura e Urbanismo. 57:71-79.

1968

Recife, Brasil

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

Recife, Brasil

Recife, Brasil

_AMORIM, Fernandes, 5.4. Edifício Francisco Vita, Recife, 1968

fonte_O.D.A.M.

Recife, Brasil

_AMORIM, Fernandes, 5.6. Edifício Duque Bragança, Recife, 1970

fonte_Delfim Amorim_IAP

_AMORIM, Fernandes, 5.7. Edifício Kanimbambo Recife, 1972

fonte_Delfim Amorim_IAP

_?8.6.Torres Vermelhas, Maputo, Moçambique, anos 60

_AMORIM, Fernandes,

5.6. Edifício Barão Rio Branco,Recife, 1969

fonte_O.D.A.M._Delfim Amorim_IAP

1969 1970 1972

89

Page 46: Habitacao Moderna Portuguesa 1 NoPW

Brasília, que nascerá dos contactos brasileiros com os CIAM 20, será inserido na investigação uma vez que se justifiquem influências e similitudes nos outros casos seleccionados no estudo.

Lúcio Costa, uma das figuras centrais da arquitectura moderna mundial, é sem dúvida a figura de confronto e de junção de peças nesta matéria. Iniciou o seu percurso entre a tradição barroca luso-brasileira 21 e a arquitectura moderna justificando as singularidades na produção brasileira e a aproximação à cultura portuguesa, considerado por Ana Vaz Milheiro como o responsável pelas hereditariedades observadas e consideradas válidas ao longo do século XX, entre os dois países. Razões de uma Nova Arquitectura, de 1934, “Muita construção, alguma arquitectura e um milagre – depoimento de um arquitecto carioca”, de 1951, e “Presença de Le Corbusier” 22 entrevista dada em 1987, textos inseridos e, Registo de uma Vivência, de 1955, são alguns dos momentos em que estas se tornam visíveis 23.Figura de grande destaque em Portugal, foi merecedor dos mais diversos elogios, entre os quais de Formosinho Sanches em 1949 “a título de curiosidade e perdoem-me os que já sabem” – que o “arquitecto Lúcio Costa foi o maior Arquitecto da Arquitectura Clássica e Colonial no Brasil. Hoje é o melhor Arquitecto Moderno Brasileiro” 24.

“De achar que lúcio costa fez um grande trabalho urbanístico na cidade e de constatar que foi conduzido pela ideologia “corbusiana”, curiosamente aquela do período revolucionário, a Ville radieuse. O que Le Corbusier viu em BRASÍLIA foram as suas hipóteses de 1922-25”Artigas_ entrevista por ocasião da Exposição tradição e Ruptura in Vilanova Artigas, caminhos da Arquitectura

(Niemeyer, Superquadra 108, 1958-1960_ Braund p.210)

_COSTA, Lúcio e Outros6.0. Superquadras, Brasilia, 1956-50

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

leitura relacionada:

RICHARDS, J.M. “Brasília”, Architectural Review, vol.125, nº745, Feb 1945, pp.95

SEGAWA, Hugo. “La Invención del Brasil, Lucio Costa, 1902-1998”,

Arquitectura Viva, n.61, jul-ago 1998, pp.74

20_ MILHEIRO, Ana Vaz, A Construção do Brasil, relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa, FAUP, publicações 2005, p.19

21_ Lúcio Costa trabalhou durante muitos anos sobre o Património de Ouro Preto em Minas Gerais, cidade de fortíssima influencia arquitectónica portuguesa.

22_ COSTA, Lúcio, “Razões de uma nova Arquitectura! “Muita construção, alguma arquitectura, um milagre – Depoimento de um arquitecto carioca”, (Correio da Manhã, 1951), 1995, p.157-171. Este artigo surge sintetizado na revista L’Architecture d’Aujourd’huiI, n.42-43, 1952, sob o título “Architecture, Art plastique”; “Presença de Le Corbusier”, (Entrevista a Jorge Czajkowski, Maria Cristina Burlamarqui, Ronaldo Brito, 1987), 1995, p.144-154.

23_ MILHEIRO, Ana Vaz, A Construção do Brasil, relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa, FAUP, publicações 2005, p.19

24_ SANCHES, Formosinho, “Arquitectura Moderna Brasileira, Arquitectura Moderna Portuguesa”, Arquitectura, Lisboa, 2ª série, n.29, Fev/Mar,1949

_Superquadras, Brasilia, 1956-50, foto actual IL

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LISBOAÁrea: 83,84 km2N. Habitantes (2001): 509.751Densidade pop.: 9.518 hab/m2

PORTOÁrea: 41,86 km2N. Habitantes (2001): 227.790Densidade pop.: 5.736 hab/m2

RIO DE JANEIROÁrea: 43.696,05 km2N. Habitantes (2007):15.406.478 Densidade pop.: 352,58 hab/m2

ALVALADEConjunto “Estacas”: 4 blocos

RAMALDEConjunto “Ramalde”: 9 blocos

GUINLEConjunto “Parque Guinle” 3 blocos MAPUTO MACAU

_BRASIL_Rio de Janeiro_ vista googleEarth _escala1/2000

_ANGOLA_Luanda_ vista googleEarth _escala1/2000

_MOÇAMBIQUE_Maputo_ vista googleEarth _escala1/2000

_MACAU_Macau_ vista googleEarth _escala1/2000

ANGOLA_Luanda_ vista googleEarth _escala1/2000

_MOÇAMBIQUE_Maputo_ vista googleEarth _escala1/2000

_MACAU_Macau_ vista googleEarth _escala1/2000

METODOLOGIA E OS CASOS DE ESTUD0

Tem-se por objectivo encontrar a identidade dentro da diversidade da arquitectura moderna portuguesa através da criação de um mapa de terminologias que expliquem o interesse sobre o tema clarificando ao máximo, por um lado o significado real dos términos e por outro a relação entre eles, criando novas pautas de investigação na área de projecto em arquitectura.

A experiência de “fazer zoom” em pontos específicos dos bairros de habitação colectiva mais paradigmáticos de cada cidade envolvida, e encontrar as similitudes entre os vários conjuntos urbanos: desde os seus princípios de implantação urbana, programa e estrutura, do tratamento plástico dos volumes e características das fachadas ou através do estudo das tipologias. É essencial re-colocar os elementos significativos encontrados, para poder construir o processo evolutivo da habitação moderna não só em Portugal, como a sua difusão pelos territórios de expressão portuguesa.

LUANDA

92 93

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Nos outros territórios de expressão portuguesa, devido em parte ao forte vínculo entre Portugal e as suas ex-colónias ultramarinas, propõe-se aqui um novo campo de estudo, neste caso ao estudo de projectos de arquitectos portugueses deslocados aos distintos países. São os responsáveis directos da chegada da modernidade e em particular da habitação colectiva a lugares e contextos tão diversos. Hoje em dia, são países independentes ou estão integrados em outras nações, no entanto o património de origem portuguesa é amplio e de importante valor, devido exactamente à actividade de arquitectos portugueses residentes ou aí enviados por o Estado português. Provêem das duas escolas de arquitectura portuguesas, Lisboa e Porto e logicamente reflectem os seus métodos academistas.

Vasco Vieira da Costa, arquitecto formado pela ESBAP, desde a sua apresentação do C.O.D.A., sobre a cidade satélite de Luanda que indicia o trabalho brilhante que realizará na cidade angolana.

VIEIRA, Vasco.7.1. Edifício Cirilio_Luanda, Angola_ anos 60

leitura referente:

TELES GRILO, Maria João, “Bloco Habitacional. Unidade de Habitação colectiva”, in Arquitectura del Moviment Modern Registre DOCODOMO ibèric, Bracelona, Fundació Mies van der Rohe, 1996

Tese FAUP

“SOTGIA, Antonello, “L’architecttura didattica di Vasco Vieira da Costa” in Luanda Progettare perl a ricostruzione La cooperazione universitária in Angola, Roma, Gangemi, Editore, 1991

COSTA, Vasco Vieira, Cidade Satélite nº3 Luanda, edições FAUP e DAFEUA, Porto, Janeiro 1984

_BONITO, Mario; PIMENTEL, Rui Edificio Ouro, Porto, 1950

7.0. a cidade de LUANDA em ANGOLA.

94 95

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VIEIRA, Vasco. Edificio Servidores do Esatdo secção tranversal, Luanda, Angola, 1965

D’ATHOUGUIA,Rui; SANCHEZ, Formozinho. O Barrio das “Estacas”, secção transversal Lisboa, 1949-55

VIEIRA, Vasco7.2. Edifício Servidores do Estado_Luanda,Angola_1965Avenida Amílcar Cabral

O edifício Servidores do Estado é um bloco de habitação colectiva representativo, não só da obra-mestra de Vieira da Costa, mas também um exemplo sublime da aplicação dos princípios do movimento moderno, em Luanda. Implantado paralelamente à avenida Amílcar Cabral, um dos eixos viários principais da cidade e sendo um bloco de habitação de baixo custo, soube adaptar-se ao sítio e as suas especificidades.

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

VIEIRA, Vasco. Edificio Servidores do Esatdo, Planta do bloco, Luanda, Angola, 1965

96 97

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DIAS, Adalberto7.3.1. Edifício Sede Cofre da Previdência, Luanda, Angola_1954

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

DIAS, Adalberto7.3.2. Edifício Sede Cofre da Previdência, Luanda, Angola_1963

DIAS, Adalberto7.3.3. Conjunto resi-dencial do Cofre da Previdência, Luanda, Angola_1965

98 99

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Amâncio Guedes, mais conhecido por Pancho Guedes, arquitecto português com relativa Direcção Geral de Habitação (???), Maputo“Eram colocados arquitectos nas províncias para apoiar as Direcções Regionais. Faziam-se estudos teóricos com alto nível de qualidade, abrangendo o ordenamento territorial, o planeamento físico, a urbanização, a criação de novas aldeias e a sua repercussão social e económica.”

Amâncio Guedes, mais conhecido por Pancho Guedes, arquitecto português com relativa projecção internacional, 6 encontrou em Moçambique o ambiente ideal para uma experimentação plástica total, que de certo modo a Europa já não comportava. Criticou o moderno quando ainda não era suposto. Usou-o, colou-o: levou o betão, a planta livre, os pilares, as varandas contínuas e introduziu-os com uma plasticidade mestra na arquitectura local moçambicana. Uma obra singular e peculiar que teve o poder de carcterizar a cidade, particularmente Maputo.

_GUEDES, Amâncio.8.1. “Prometheus”, Maputo, Moçambique, anos 60

in Arquitectural Review, n770,1967

_MOURA_Albino Lopes. Conjunto Habitação Colectiva na Av. EUA Lisboa 1956-59

_ M A N TA _ A b e l _ C o n j u n t o Habitação Colectiva OlivaisNorte Lisboa 1960-64

_GUEDES, Amâncio8.2. Edificio“Tonelli” Maputo, Moçambique, anos 60

8.0. a cidade de MAPUTO em MOÇAMBIQUE.

leitura referente:

Leitura referente: AMARAL, Keil, “Trabalhar fora: Moçambique”, Jornal dos Arquitectos, n.198, Nov/Dez de 2000, p.38

AMARAL, Keil, “Saudades de Moçambique”, Jornal dos Arquitectos, n.198, Nov/Dez de 2000, p.39

100 101

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_COSTA, Francisco PereiraPraça D.Afonso V , Porto Portugal_1953

_REIDY, AffonsoMarques de Sao Vicente Gávea, Rio de Janeiro, 1952

_GUEDES, Amâncio.8.3. “Casa do Dragão”, Maputo, Moçambique, anos 60in Arquitectural Review, n770,1967

_TINOCO, João José8.4. Av. Lenine_Maputo, Moçambique,anos 60

No entanto, João José Tinoco é outro nome que se destaca pelo seu brilhantismo arquitectónico principalmente também em Maputo, antigo cidade de Lourenço Marques, capital de Moçambique. Praticou uma arquitectura criativa e fiel no quadro da linguagem do Movimento moderno, desenvolveu inúmeras obras de equipamento, comercio e habitação de grande simplicidade e eficácia, que ainda hoje desempenham as suas funções, resistindo ao tempo e ao uso, particularmente no caso concreto e especifico da antiga “África Portuguesa”.

Estuda em Lisboa, mas conclui o curso na Escola do Porto (tal como Ruy d’Athouguia) e termina 1952 com a apresentação do CODA “Casa tipo em ala continua” (18 valores): projecto de habitação modulada, estudada para ser aplicada num conjunto residencial colectivo, de 4 habitações por bloco. Agrupadas em série sequencias, perfazendo um total de 50 fogos.Ao contrário de Amâncio Miranda Guedes, Tinoco trabalhou significativamente para o Estado e para os serviços públicos, apesar de ter também vários casos de habitação colectiva e familiar no âmbito do sector privado.

leitura referente:

COSTA, Lucio, Razões para uma nova arquitectura

L’Architecture d’Aujourd’hui, 13/14 set. 1947,p.90

Architectural Review, ago. 1950

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

102 103

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_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

_?8.5.Bairr,o residencial COOP, Maputo, Moçambique, anos 60

_?8.6.Torres Vermelhas, Maputo, Moçambique, anos 60

Outros Trabalhos de João TINOCO:

Participação no concurso Lusolite, Arq.38-39, Maio de 1951

Bloco de habitações Fevereiro & RochaI, LM. Edifício de mais de 10 pisos, procura do desenho da fachada de elementos diferenciadores, que diminuam a monotonia decorrente da repetição dos inúmeros pisos piso recuado que se assume como um “vazio” de uma visão exterior. Nas traseiras, existe uma grelha central, de expressão vertical, para dinamização de topo o corpo construído.Trabalhou também em projectos urbanos de conjunto, sobretudo nas áreas mais centrais de L.M, mas nenhum deles chegou a consubstanciar-se em obra edificada.

Centro Dicca (centro comercial, 2 cinemas, três torres de habitação, LM, 1967

Edifício Castilho/Lenine, interessante jogo brise-soleils em betão e persianas metálicas nas traseiras

Conjunto residencial (2 blocos), para a SIAL, LM com A.M.VelosoAnteprojecto de centro comercial, blocos habitacionais (c.160 mil m2), para uma imobiliária, centro de LM

104 15

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leitura referente:

Simpósio Internacional MACAU METROPOLE, Culture os Metropolis in Macau, Instituo Cultural do Governo da R.A.E. de Macau

BRUNT, Michael, The Portuguese Settement at Macau, PLAN, CANADA, vol.III, pp.119-140

CALADO, Maria; MENDES, M. Clara, TOUSSAINT, Michel, Memorial City on the Estuary of the River of Pearls, Goverment of Macau. P.175

CALADO, Maria; MENDES, M. Clara, Historic Centre of Macau, Proposal for the World Heritage List. UNESCO, p.159

SILVEIRA, Luis, Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas do ultramar, III vol. Junta de Investigações do Ultramar s.d.

Arquitectura Portuguesa, Ano III, 5ª série, n.12, Dez./Jan. 1987-1988

Arquitectos, Publicação Mensal dos Arquitectos Portugueses, Ano XIV, Ago.1996

Arquitectos, Publicação Mensal dos Arquitectos Portugueses, Ano XIV, Set.1996

Macau, o último pedaço do Império Português 1, pelas circunstâncias particulares da região, pela história específica da presença portuguesa e da relação Europa – China, torna-se um interessante campo de estudo. O pequeno território no Estuário do Rio das Pérolas, é uma experiência única quer para o colectivo luso, quer para os muitos cidadãos portugueses que por lá passaram e se fixaram. Macau foi, durante quatro séculos de presença portuguesa, o ponto único e privilegiado de contacto entre a China e o Ocidente, entre as culturas chinesas e europeias 2.

A vaga de planos directores elaborados pelo Ministério do Ultramar para as cidades coloniais durante os anos cinquenta chegou a Macau, na sequencia da necessidade então sentida de se definirem medidas reguladoras do uso dos solos, devido ao impacto que o jogo passou a desempenhar na economia local 3. Elaborado por Garizo do Carmo nos anos sessenta 4, o plano define a actual estrutura espacial e funcional. O plano do Ministério do ultramar define ainda regras de ordenamento para os bairros populares de Sá-Kong, Samkiu e Tap Seac e estabeleceu como zona industrial a Areia Preta.

“No fundo da China existe um mandarim mais ricoQue todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dele nada conheces, Nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste.Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, Basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro.Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia.Será então um cadáver:E tu verás a teus pés mais ouroDo que se pode sonhar a ambição de um avaro.Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?

“O MANDARIM” Eça de Queirós

A actividade organizada de arquitectos em Macau data do início dos anos sessenta. Canavarro Nolasco, engenheiro civil de profissão, revela-se nessa época um “arquitecto sensível” e capaz de assimilar e compreender os estilos modernistas.

Em Macau, Chorão Ramalho e Manuel Vicente desenvolvem uma intensa actividade, principalmente a partir dos anos 60, projectando alguns edifícios notáveis a nível da sua linguagem pessoal e de grande qualidade construtiva. Alguns das obras de Chorão Ramalho incluem-se ainda hoje nas melhores peças de arquitectura de Macau, como por exemplo para o caso, alguns dos edifícios de habitação para os funcionários nas avenidas Coronel Mesquita e Sidónio Pais.Outras obras dessa época serão projectadas por José Maneiras, Henrique Medina, Jorge Silva, Natália Gomes e ainda João Ramires Fernandes – este último com o bairro social junto ao trote na taipa actualmente restaurado 5.

9.0. o caso particular de MACAU.

1_ Macau é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China desde os primeiros momentos da madrugada do dia 20 de Dezembro de 1999. Antes desta data, Macau foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada o primeiro entreposto bem como a última colónia europeia na China.

2_CHAN, J.P. Pereira, em Arquitectos, Publicação Mensal dos Arquitectos Portugueses, Ano XIV, Ago.1996

3_ MENDES, M. Clara, em Arquitectura Portuguesa, Ano III, 5ª série, n.12, Dez./Jan. 1987-1988, p.38

4_Plano Director de Macau, 1969 (?)

5_ Arquitectura Portuguesa, Ano III, 5ª série, n.12, Dez./Jan. 1987-1988, p.55

_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

_Edifico de Bruno Soares, inês Ó, Macau.

_Imóvel no sarredores do “Fat Chi Ke”, Macau.

_Imagens em “Macau Glória, A glória do vulgar”, Manuel Vicente, Manuel Graça Dias, Helena Resende.

106 107

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_LISBOA_PORTO_RIO DE JANEIRO_S.PAULO_RECIFE_BRASÍLIA_LUANDA_MAPUTO_MACAU

Considerada como uma das grandes obras no DOCODOMO, o programa incluía 44 apartamentos para os funcionários dos Correios. O desenho revela influências do arquitecto Chorão Ramalho, com quem Manuel Vicente trabalhava então. Assume uma volumetria simples, prismática, recortada por ventilações verticais, acentuadas pelas persianas metálicas. Este tipo de aberturas são essenciais á boa ventilação das habitações, inseridas no clima tropical de Macau.Uma sanca superior de betão aparente remata o topo do edifício, com grandes aproximações formais às torres projectadas por Teotónio Pereira no bairro dos Olivais em Lisboa. Os pilares, vigas e varandas também sobressaem em betão aparente no uniforme branco do conjunto. Nas quatro esquinas, uma varanda articula os planos de cada duas fachadas em ângulo recto.Dez anos depois, o mesmo autor, ao regressar a Macau, projecta e constrói mais três torres para funcionários, na área da Barra, as quais considera como uma “releitura” da original torre dos anos 60, redesenhando o projecto inicial com algumas variações 6.

VICENTE, Manuel. 9.1. Torre de los Correios, Telefones e Telégrafos, Macau, 1962-65

PERE IRA ,Teo tón io ,FRE ITAS, Antonio, Bairro dos Olivais, Lisboa, 1956

SILVA, Moreira; SILVA José, Edifício Miradoiro, Porto, 1969

6_ “Set Obres modernes de l’Últramar português. Apèndix”, em Arquitectura del Movimiento Moderno, rfegistro DOCODOMO Ibéric, 1925-1965, Fundación Mies van der Rohe, Barcelona, 1996

VICENTE, Manuel. 9.1. Torre de los Correios, Telefones e Telégrafos, Macau, 1962-65

108

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•Estudo das publicações especializadas da época, periódicas e não periódicas, Exposições de arquitectura e as Actas dos Congressos de Arquitectura;

•O desenho interpretativo baseado na observação in situ;

•Procura dos documentos originais dos projectos seleccionados, para posteriormente proceder ao re-desenho informático, como instrumento de pesquisa arquitectónica;

•Concretização do estudo de Arquitecturas Comparadas (apoio em suportes arquitectónicos de análise reconhecidos a nível internacional).

•Entrevistas a autores relacionados;

1.Portugal

A revista “Arquitectura” tinha, nesta época, uma forte consciência critica em relação aos dogmas do Movimento Moderno e teve, sem dúvida alguma, um papel indiscutível na definição da modernidade portuguesa. Fundamental na divulgação crítica e criteriosa do panorama português, reunindo estudos originais sobre tipologias residenciais, a construção da cidade, habitat rural, politica de habitação, construção clandestina e simultaneamente exponha os novos princípios modernos que emergiam pela Europa 1. Pretende-se reunir e compilar a informação publicada como fio condutor da evolução da habitação colectiva nos diferentes países envolvidos de modo a conseguir uma visão o mais abrangente possível.

Mais tarde, também a revista “Binário” teve relevância na divulgação da Arquitectura Moderna, particularmente a brasileira. Se pode ainda estender-se a outros periódicos da crítica e do pensamento: Colóquio-Artes, Jornal de Artes e Letras, Vértice, o Tempo e o Modo, Análise Social, informação Social, Diário de Lisboa.

2.Internacional

_PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS_PORTUGUESAS_INTERNACIONAIS_VIAGENS,CONGRESSOS,CONTACTOS

_Revista “Arquitectura”, 2ª série, n.50-51, Lisboa, Nov-Dez 1953, LE CORBUSIER, “Habitação em Marselha”

_idem, n.49, Lisboa, Jan 1959, LE CORBUSIER, “Chandigarh”

_idem, n.64, Lisboa, Jan 1959, CIAM X, Grupo CIAM Porto

_Revista “Arquitectura”, 2ª série, n.36, Lisboa, Nov1950, RINO LEVI. “A Arquitectura é ma arte e uma Ciência”_idem, n.52, Lisboa, Fev-Mar 1954, “O pintor Burle Max e os seus jardins”_idem, n.53, Lisboa, Fev-Mar 1954, “Exposição de Arquitectura Contemporanea Brasileira”

_Revista “Arquitectura”, 2ª série, n.84, Lisboa, Jan-Fev 1961“Notas de uma viagem a Macau” _arq. Leopoldo de Almeida

_Revista “Arquitectura”, 3ª série, n.115, Lisboa, Abril 1971“Moçambique, Nota sobre as cidades e Arquitectura” _arq.

_Revista “Arquitectura”, 2ª série, n.50-51, Lisboa, Nov-Dez 1953

_idem, n.53, Lisboa, Nov-Dec 1954, “O bairro das Estacas”

_idem, n.61, Lisboa, Dez 1957, “A av. EUA e o projecto de Pedro Cid”.

1953 1954 1957 1959 1961 1971

A revista “ARQUITECTURA”, 2ª série: 1957-1974

CIAM

BRASIL

OUTROS TERRITÓRIOS

PORTUGAL

_METODOLOGIA

1_ O texto, “O Ovo e o Salmão” de Alvar Aalto, os diferentes artigos sobre Le Corbusier, a publicação na íntegra da Carta de Atenas (pela primeira vez traduzida em português), assim como as propostas de Gropius ou Marcel Breuer provam a actualidade da modernidade da revista.

110

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_PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS_PORTUGUESAS_INTERNACIONAIS_VIAGENS,CONGRESSOS,CONTACTOS

1929 1949 1950 1962 1976

A revista “L’ARCHITECTURE D’AUJOURD’HUI” e “ARCHITECTURAL REVIEW”

_Revista “Arquitectura”, 2ª série, n.50-51, Lisboa, Nov-Dez 1953

_idem, n.64, Lisboa, Jan 1959

CIAM

BRASIL

OUTROS TERRITÓRIOS

PORTUGAL

1953 1954

_Revista Architecture d’Ajourd’hui, 13-14 “Brésil” Set.1947

_Revista Architectural Review, n.644 Agosto 1950

_Revista Architecture d’Ajourd’hui, 42-43 “Brésil” Agosto 1952

_Poster Publicitário do VII CIAM 1Bergamo, 2-13 de Julio 1949

_Le Corbusier

_Architecture d’Ajourd’hui, 45 “Habitations Colective” Se.1952

_Actas do CIAM 9

_Revista Architectural Review, n.770 Abril 1961

_Revista Architecture d’Ajourd’hui, 102 “Architecrtures fantastiques” Jun/ Jul1962

111

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_PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS_PORTUGUESAS_INTERNACIONAIS_VIAGENS,CONGRESSOS,CONTACTOS

1928

CONGRESSOS BRASIL PORTUGAL OUTROS TERRITÓRIOS

I CIAM_ Suiça_ Propõe-se uma “Política Colectiva do Solo”

1º Congresso Nacional de Arquitectura_ Lisboa

KEIL DO AMARAL, viaja a itália e ao Sul de França

VASCO VIERA DA COSTA, apresenta para obtenção do título na FAUP “Cidade Satélite para Luanda”

Viaja e fixa-se em LUANDA

1929 II CIAM_ Frankfurt_Debate-se o “Estudo da Habitação Mínima”

1930 III CIAM_ Bruxelas_Discute-se o “A Divisão racional do Solo”

1949

LE CORBUSIERViaja para o Brasil

MAURÍCIO VASCONCELOSTrabalha durante um ano e meio com ARTIGAS

1950

VASCO VIERA DA COSTA

Constrói o 1º Edifício de Habitação Colectiva com duplex em LUANDA

CASTRO RODRIGUES

VIANA DE LIMAEstuda em Paris e trabalha bastante tempo no atelier de LE CORBUSIER;Participa no VIII CIAM, Hoddesdon, Holanda, juntamente com TÁVORA e JOÃO TINOCO_Debateu-se o “Problema do centro das cidades (cidade, bairro, tipologia, “Lar”)

1951

VIANA DE LIMA, TÁVORAParticipam no II Congresso do UIA

1952

LISBOAParticipam no II Congresso do UIA

1953

CONGRESSOS BRASIL PORTUGAL OUTROS TERRITÓRIOS

GILBERTO FREIRE Viaja e fixa-se por algum tempo em PORTUGAL

VIANA DE LIMA, FERNANDO TÁVORA, ARMÉNIO LOSA

Participam no IX CIAM, Aix-en-Provence, França, dedicada ao “Estudo do Habitat Humano”. Congressistas realizam uma visita guiada por LE CORBUSIER à Unidade de Habitação de Marselha. Entre outros Formosinho Sanches, Ruy d’Athouguia, Keil do Amaral, Chorão Ramalho

I Bienal de Arquitectura de São Paulo_ O bairro do “PARQUE GUINLE” de LÚCIO COSTA ganha o prémio de habitação.

II Bienal de Arquitectura de São Paulo_ O bairro do “ESTACAS” de D’ATHOUGUIA e SANCHES ganha uma menção honrosa, sendo o juri GROPIUS, SERT, AALTO, ROGERS, BRATHKE, REIDY.

1954 RUY D’ATHOUGUIA e FORMOSINHO SANCHES

Establecem contactos com ARTIGAS, BERNADES, BRATHKE, MM ROBERTO, COSTA, NIEMEYER, REIDY

FREDERICO GEORGE e DACIANA COSTA viajam para o Brasil

Coloca a possibilidade de realizar o X CIAM em Braga, Portugal

1955 VIANA DE LIMA

Participam no X CIAM e apresentam o projecto “Plano para uma Comunidade Rural”

VIANA DE LIMA, FERNANDO TÁVORA

1956 Participa no V UIA em Paris, na Comissão Executiva, BErlim, passa por Londres

CARLOS RAMOS

1958 Pavilhão de Portugal na Exposição Mundial, Bruxelas

PEDRO CID

Exposição “Exibition of Portuguese Architecture”, Londres

1961 LÚCIO COSTA Viaja a PortugalEncontra-se com TÁVORA e RAMOS

115

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Apoio em diversos ensaios arquitectónicos sobre habitação para a realização do projecto de arquitecturas comparadas. São ensaios desenvolvidos sobre o estudo da habitação colectiva, facilmente reconhecidos mundialmente, que aqui são usados como sistemas de análise de comparação a fim de identificar os sistemas de composição, módulos ou ritmos, de uma maneira precisa e coerente entre os diferentes objectos de estudo. Abre-se assim, um novo campo de análise sobre o projecto arquitectónico da habitação colectiva. Baseiam-se:

• Os vários diagramas resultantes dos famosos Congressos dos CIAM, principalmente os três primeiros, uma vez que foram relacionados directamente com a habitação urbana e mínima: a Habitação Moderna, ainda hoje um tema tão actual. Entre eles os diagramas de Ernest May, Alexander Klein, Walter Gropius e Le Corbusier, que permitem o estudo desde a análise urbana até à tipologia 2.

• O ensaio “Habitação Evolutiva” de Nuno Portas dos anos sessenta, que ampliou o âmbito do estudo sobre a sociologia e critica espacial da habitação, é também de referida importância na realização de este trabalho 3.

• Os “Cinco pontos para uma nova arquitectura” e a Unité d’Habitación de Marsella de Le Corbusier como sistema de medida e comparação, através do seu reconhecimento e identificação mundial 4.

Partindo dos pressupostos da Forma Moderna do departamento de Projectos Arquitectónicos ESTAB-UPC, a análise centra-se na “interpretação da Forma como um sistema de relações visuais e de sentido no qual se valoriza o sujeito da experiencia, através do seu sentido estético e crítico” 5. Realiza-se o projectos das Arquitecturas Comparadas de modo a contribuir à concepção arquitectónica através do projecto, superando o seu carácter estritamente teórico e, ao mesmo tempo, centrar a atenção nos aspectos básicos da sua concepção, assim como, nos critérios essenciais do acto de projectar. Fraseando, Álvaro Siza, a capacidade de relacionar coisas e ideias distintas, é a capacidade de ver realmente.

_GROPIUS, Walter, Blocos de Habitação, Wannsee, perspectiva, 1931

_LE CORBUSIER Unité de Habitation Marselha, 1947-53

_GUEDES, Amancio, Edifico de Habitação “Tonelli”, Maputo, Moçambique, anos 60

_VIEIRA, Vasco, Edifício de Habitação para os trabalhadores dos CTT, Luanda, Angola, 1965

CIAM

BRASIL

OUTROS TERRITÓRIOS

PORTUGAL

1931

_ARQUITECTURAS COMPARADAS

_D’ATHOUGUIA, Rui; SANCHES, Formosinho, Bairro das “Estacas” Lisboa, 1949-55

_TÁVORA, Fernando, Unidade “Ramalde”, Porto 1952-60

_MOURA, ALbino, Conjunto residencial Av. EUA, Lisboa, 1956-59

_LIMA, Correa, ConjuntoResidencial Varsea do Carmo, SP, 1942

_COSTA, Lucio, Conjunto do Parque Guinle, RJ, 1949-54

_REIDY, Affonso Conjunto Residencial Marques de Sao Vicente, Gávea, RJ, 1952

1942 1947 1949 1952 1960 1965

2_ O I Congresso dos CIAM realiza-se em 1928 (Suíça) e debateu-se principalmente os temas do urbanismo do ponto de vista da zonificação e da produção industrial, propondo uma política do solo colectiva. O II CIAM, realizado no ano seguinte em Frankfurt, sob o tema “Estudo da Habitação Mínima” porposto por Ernest May (publica em 1930 com o titulo “Die Wohnung fur Existenzminimum”. O III CIAM realiza-se em Bruxelas com o tema “Divisão racional do solo.”

3_Publicações de Nuno Portas

4_Le Corbusier, Por uma nova Arquitectura, Estudos, 2002.

5_GASTÓN, Cristina; ROVIRA, Teresa em Pautas de Investigación. Ediciones UPC, Universitat Politécnica de Catalunya.

116

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19291930

CIAM

BRASIL

OUTROS TERRITÓRIOS

PORTUGAL

_ARQUITECTURAS COMPARADAS_escala urbana

CIAM

BRASIL

OUTROS TERRITÓRIOS

PORTUGAL

GROPIUS, Walter, Comparación de la rentabilidad en la construcción de bloques en hilera con diferentes número de pisos, actas del III congreso del CIAM, Bruselas, 1930

_LIMA, Correa, ConjuntoResidencial Varsea do Carmo, SP, 1942

_REIDY, Affonso Conjunto Residencial Marques de Sao Vicente, Gávea, RJ, 1952

_VIEIRA, Vasco, “Cidade-Satélite nª3, Luanda”, C.O.D.A., ESBAP, Porto, 1949

_TÁVORA, Fernando, Unidade Residencial do “Ramalde”, Porto 1952-60

_CASTRO Freire, Ante-projecto da Av. EUA Plano de 1962 Arquivo CML

_ARQUITECTURAS COMPARADAS_escala arquitectónica

_PORTAS, Nuno, “Habitação Evolutiva.

_D’ATHOUGUIA, Rui; SANCHES, Formosinho, Bairro das “Estacas” Lisboa, 1949-55

_TÁVORA, Fernando, Unidade Residencial do “Ramalde”, Porto 1952-60

1942 1952 1962 1931 1949 1952

_REIDY, Affonso Conjunto Residencial Marques de São

Vicente, Gávea,Rio de Janeiro, 1952

_GUEDES, Amancio Edificio de Habitação “Prometheus””

Maputo,Moçambique años 60

_MAY, Ernest, Exposição emFrankfurt _Edificios

Plurifamiliares _caso de Hamburgo, actas do II congreso

del CIAM, Frankfurt, 1929

_KLEIN, Alexander Planta tipo Barrio Durrenberg- Leipzig 1931

_LE CORBUSIER Unité de Habitation Marselha, 1947-53

1960

117

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O objectivo é a identificação dos elementos de referência dos princípios da modernidade em cada projecto seleccionado analisando em seguida as eventuais implicações na evolução do bairro ou cidade. Pretende-se conseguir a máxima igualdade e equilíbrio entre os diferentes casos eleitos para a realização do estudo das arquitecturas comparadas de modo a ampliar as especificidades da Habitação Moderna Portuguesa. Inicia-se o processo de análise desde a escala urbana, interpretando a malha urbana específica de cada cidade e a integração dos projectos de habitação e procede-se com a análise arquitectónica, onde se contemplam os aspectos essenciais de estrutura, concepção, funcionalidade e desenho, comparando também as várias tipologias-tipo existentes: um juízo desde a cidade ao espaço interno dos edifícios. As características espaciais e formais, a relação entre lógica estrutural e composição, as questões funcionais, os itinerários e as percepções, o uso da luz natural e artificial, as linguagens e significados referidos, as técnicas e os materiais utilizados devem ser padrões essenciais do juízo. A análise, de um modo específico de conceptualizar a realidade, transformando-a em objectos teóricos, com base nos quais, é possível formular hipóteses e proceder à sua validação. Teoria é não só o conhecimento que se produz (teoria substantiva) como o modo como se produz (teoria processual, método) 6.

Assim, paralelamente à exigência da leitura sintética dos elementos, o entendimento do conceito espaço, implica a inserção de um campo de experiências que resulta da conformação das superfícies, volumetria, massa, continuidade ou descontinuidade, aberturas, fugas ou encerramento do contorno; “campo de experiencia” que propõe um espaço real as acção e movimentos de cada um 7.Implica uma interpretação cultural e atenção detalhada à obra, ou seja, a teoria e a prática devem estar conciliadas 8.

Os ensaios sobre a arquitectura moderna são hoje um importante tema de debate arquitectónico. Assim como, o eminente problema em torno da habitação urbana. A oportunidade de unir estes dois parâmetros, à divulgação de casos da arquitectura portuguesa quase desconhecidos a nível mundial, constituirão um importante documento, não só, para o entendimento da Arquitectura Moderna Portuguesa, como também, para o aumento do espólio da Arquitectura Moderna Mundial. É precisamente, a partir do estudo do conjunto e o (re)conhecimento global de estas arquitecturas e dos seus autores, que se começam a criar e a entender as relações arquitectónicas que extrapolaram os territórios nacionais e ampliaram o espólio da arquitectura moderna portuguesa. Uma Viagem dos significados, sobre a capacidade do vocabulário da arquitectura moderna portuguesa, neste caso através da habitação colectiva, ter atravessado o mundo e ter deixado marcas registadas em tantos sítios diferentes (da África a Ásia, da Europa à América). As memórias e as representações de um discurso, uma utilização livre do moderno, às vezes imprevisível e espontânea, outras vezes mais conforme segundo os pressupostos; em ambas as situações: sempre surpreendentes. A experimentação, a observação, a necessidade de repetir o fenómeno observado. A vontade da arquitectura moderna sobrevive e passa por essa experiencia. O equilíbrio atingido no quadro da modernidade revelam um processo empírico na evolução da arquitectura portuguesa, cujas marcam provêem de um desejo simultâneo de conservar e de inovar 9.

6_SANTOS, Boaventura Sousa, Introdução a uma Ciência Pós Moderna. Porto; Afrontamento, 1989.

7_Argan, Zevi, Schulz p.17 Portas Prefacio

8_A propósito ver: STEINER, G. Réelles Présences, L’art du sens. Paris: Gallimard, 1991 (edição original, Real Presences, Faber and Faber, Londres, 1989).

9_ Jorge Henriques Pais da Silva, “Arquitectura e Urbanística em Portugal Continental”, in Arquitectura, 4ªserie, n.134, Lisboa, Julho, 1979.

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_Textos Fundamentais sobre o Tema

1_ Portugal No quadro do estudo da arquitectura moderna portuguesa podem-se destacar a publicação “Os verdes anos, a Arquitectura Portuguesa dos anos 50” elaborada através da dissertação de Mestrado de Ana Tostões _FAUP 1994, onde de um modo histórico, sistemático e critico apresenta o percurso da arquitectura portuguesa no período 1948-1961. Ainda sobre esta temática se deve fazer referência a “Percursos” de Sergio Fernandez _FAUP 1988 que faz um caminho através da produção de autor em Portugal desde os anos 30 até aos anos 70, fazendo referência a muitos dos objectos de estudo a referir. Deve-se ainda ter em consideração o texto de Nuno Portas, no prefácio da Historia da Arquitectura Moderna de Bruno Zevi, onde Portas interpreta a “Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal, uma interpretação” _Arcadia 1979.

O artigo de Manuel Vicente, “1948/1961 Espoirs déçus et remous culturales” no histórico número sobre Portugal da revista L’Architecture d’Aujourd’hui, n.185 Mai/Jun 1976. Tem uma enorme importância pelo seu conteúdo e por o protagonismo mundial de esta revista que pela primeira vez dedica um número inteiro à evolução da arquitectura portuguesa.

As teses doutorais “Ruy d’Athouguia, a modernidade em aberto” de Graça Correia _ESTAB 2006 e “Grupo O.D.A.M.” de Edite Figueiredo, ETSAB, são importantes testemunhos para a contextualização da arquitectura portuguesa. Em relação ao primeiro citado, destacam-se os textos introdutórios e o texto sobre o bairro das “Estacas”. O segundo referido é particularmente importante para a contextualização da modernidade da cidade do Porto.

“Edifícios modernos de Habitação Colectiva 1948/61, Desenho Standart na Arquitectura Portuguesa” tese de doutoramento de José Fernando Gonçalves, ESTAB_2007, onde se apresenta um catálogo muito bem documentado sobre os casos paradigmáticos da habitação colectiva moderna portuguesa. No entanto, peca por a falta de relação entre os diferentes casos de estudos e por a inexistência da escala tipológica da habitação.

2_BrasilO livro “Origens da habitação social no Brasil, Arquitectura moderna, Lei do Inquilinato, Difusão da Casa Própria” de Nabil Bonduki, realiza um amplio estudo sobre a habitação moderna brasileira, o que constitui um documento fundamental para encontrar as proximidades arquitectónicas entre Brasil e Portugal.

L’architecture d’aujourd’hui, n12/13 y n.42/4: números dedicados exclusivamente à arquitectura brasileira, essenciais para a contextualização da época.

“Os Espaços do Habitar Moderno: Evolução e Significado. O caso português e brasileiro”_FAUTL_2003 Tese Mestrado de Tânia Ramos, é um importante trabalho a nível da proximidade entre Portugal e Brasil através dos casos de habitação colectiva. No entanto, incide principalmente no aspecto sociológico, a nível da satisfação dos habitantes, e afasta-se do facto arquitectónico propriamente dito.

3_ Territórios de expressão portuguesa

“Set Obres modernes de L’Ultramar portugès. Apèndix”. In Arquitectura del Movimiento Moderno. Registro DOCODOMO Ibèric, 1925-1965, Fundación Mies Van der Rohe, Barcelona, 1996. Este livro mostra o valor de um inventário do património moderno ibérico y faz também referencia à arquitectura de origem portuguesas nos territórios então denominados territórios do “Ultramar”. O resumo de José Manuel Fernandes, prova o valor de estes factos e a importância da realização de investigações sobre o tema. Das sete obras publicadas, destacam-se as três referidas ao contexto da habitação colectiva.

A escassa bibliografia sobre o tema valoriza os livros de José Manuel Fernandes, “Arquitectura e Urbanismo na África Portuguesa” e “Geração Africana, Arquitecturas e cidades em Angola e Moçambique, 1925-1975”, que apesar de não incidirem exclusivamente sobre a arquitectura moderna, nem ao contexto especifico da habitação colectiva, apresentam referencias de grande valor sobre o património de origem portuguesa, realizando de uma forma crítica a introdução à obra de autores pouco ou nada reconhecidos que desenvolveram importantes projectos n o âmbito da habitação colectiva moderna.

“Modern Architecture of Macau” Tese de Mestrado de Diogo Burnay, Universidad Londres_ por consultar

Assume uma importância vital, o espólio da revista “Arquitectura”, por ser a única fonte de divulgação arquitectónica que existia em Portugal com regularidade na época. Teve um papel indiscutível no contexto arquitectónico, não só pela continuidade histórica que permite estabelecer da realidade arquitectónica portuguesa mas também pela relação que imputou com os casos de referência internacionais.

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_Bibliografia fundamental que define o ponto de vista

1_ “HABITAÇÃO SOCIAL -PROPOSTA PARA A METODOLOGIA DA SUA ARQUITECTURA”_Nuno Portas, 1ªed., Porto, FAUP Publicações, 2005

“DESENHO E APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO DA HABITAÇÃO”_In Arquitectura, n.103 (Mai/Jun1968), p.124-129

“POLITICA DA HABITAÇÃO – HABITAÇÃO EVOLUTIVA”_In Arquitectura, n.126 (Out/1972), p.100-122

Compilações várias de textos fundamentais do arquitecto NUNO PORTAS sobre a temática da arquitectura da habitação.A estrutura do primeiro livro citado baseia-se em trabalhos realizados por o autor na pesquisa e investigação de metodologias sobre a análise e projecto arquitectónico em torno da habitação social. Apresentam um entendimento claro da “cidade como arquitectura” e da importância de teorizar e estudar a habitação. Nos outros dois textos, Nuno Portas juntamente com Francisco Silva Dias, proporcionam uma visão sobre a arquitectura da habitação: a casa. Abrem o campo da sociologia e da crítica espacial, onde “a metodologia substitui o vocabulário”. Definem estratégias e sistema de análise de modo a encontrar soluções a nível da tipologia arquitectónica e do desenho urbano do bairro. A procura do desenho da casa ideal, inserida num bairro urbano de qualidade para a sociedade. E para a cidade.Alguns de estes sistemas serão utilizados nesta investigação com o intento de realizar uma comparação coerente e fundamentada entre os vários casos de estudo.

2_ LA VIVIENDA RACIONAL, PONENCIAS DE LOS CONGRESOS CIAM 1929-1930, Colección Critica y Arquitectura, Dirigida por Ignacio Solá-Morales y Rubió, GG

O livro, à parte de construir um resumo crítico e consciente ao Movimento Moderno, apresenta a tradução castelhana dos textos originais dos documentos das actas II e III dos Congressos dos CIAM, onde se assistiu ao debate sobre a habitação colectiva, particularmente na procura da habitação mínima. Quer o suporte teórico como o suporte gráfico de estes congressos são também elementos base da presente investigação, tanto por a sua aproximação aos diferentes objectos de estudo como por a potencialidade para um outro sistema de comparação para a análise.

Nas actas do II CIAM, realizado em 1929 em Frankfurt encontram-se expressos os textos “La Vivienda para el mínimo nivel de vida”, de Ernest May, ”Los fundamentos sociológicos de la vivienda mínima (para la población obrera de la ciudad)” de Walter Gropius e “Análisis de los elementos fundamentales en el problema de la “vivienda mínima” de Le Corbusier y Pierre Jeanneret. Todos eles são documentos de rederencia mundial para o contexto da habitação moderna.

O III CIAM realizou-se em Bruxelas debaixo do lema “División racional del suelo”, onde entre outros, Gropius publica “¿Construcción baja, media o alta?” ou também de referência “la vivienda mínima” de Alexander Klein. Um trabalho a realizar posteriormente, será a revelação dos trabalhos realizados pelos arquitectos portugueses nos famosos congressos CIAM.De uma forma análoga, estes suportes resultam válidos como mecanismo de analise aplicável à comparação dos diferentes projectos a estudar, gerando um a questão de ordem um pouco mais amplia sobre a modernidade da Habitação.

3_ LAS FORMAS DE LA RESIDENCIA EN LA CIUDAD MODERNA, Carlos Martí Aris, Edicions UPC, 2000

Carlos Martí Aris, apresenta nesta publicação uma reflexão geral sobre o papel da residência na formação da cidade moderna. Define términos e classificações dos grandes modelos residenciais da cultura moderna: a cidade-jardim, cidade concentrada, modelos intermédios. Resulta importante para a pesquisa com vista ao reconhecimento da possibilidade de relação dos modelos definidos e os casos de análise, à parte da procura da sua relação com os casos paradigmáticos da produção não só europeia como também a aproximação aos outros continentes envolvidos. Pretende-se portanto através deste escrito, levar a cabo relações mutuas de reconhecimento dos vínculos do crescimento da cidade moderna e as tradições urbanas, especificas e singulares que se hão ocorrido em cada cidade.

4_TEORÍA Y PRÁCTICA DEL PROYECTO, Helio Piñón, edicions UPC, ETSAB 2006

Helio Piñón esboza uma teoria sobre a modernidade através da teorização bem sustentada sobre o projecto arquitectónico, que além disso “no se puede abordar la primera sin entrar necesariamente en la segunda”. Na teoria de projecto está implícita uma relação directa entre a concepção e a obra, sendo precisamente este o aspecto a salientar para a comparação de arquitecturas, que fundamenta o processo da metodologia da investigação.Pretende-se, com base em considerações suas, “explicar aquellos aspectos de la arquitectura que no tienen explicación desde el sentido común”, para tentar dar resposta ao conjunto de interrogações sobre o projecto, considerando o programa, as especificidades estruturais e compositivas dos diversos casos de estudo.

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_Relação do autor com o tema

O vínculo da autora no campo da habitação colectiva iniciou-se com a realização do Mestrado da la Fundación UPC “La vivienda del siglo XXI” en el curso 2003-2004 (ESTAB-UPC). Prosseguiu a investigação em torno da mesma temática com a realização do Mestrado oficial “Teoría y Práctica del Proyecto de Arquitectura” en la Línea de investigación “La Forma Moderna” do Departamento de Proyectos Arquitectónicos (ESTAB-UPC), no qual desenvolveu o tema da habitação colectiva portuguesa através do estudo de um bairro paradigmático no contexto português: o bairro de Alvalade em Lisboa.

O projecto de investigação levado a cabo surgiu da oportunidade de realizar uma conferencia no Seminário de “Expertos de América Latina y Cataluña para debatir la conservación y el futuro de la vivienda social moderna”, e assim ampliar o estudo à experiencia luso-brasileira no âmbito da habitação urbana moderna.O processo da investigação foi redactado no artículo sobre a mesma temática a pedido da Revista M da Universidad Santo Tomás, de Colômbia.

1- “El espacio habitable de la Vivienda: análisis formal entre espacio (colectivo/privado) y ocupación”.Tese de Mestrado apresentada em Octubro de 2004 no Mestrado da Fundación UPC “Laboratorio de la Vivienda del siglo XXI”, ESTAB-UPC. Directores Master: José María Montaner y Zaida Muxi.

2- Colaboração durante o curso 2006/2007 no Grupo de Investigação “La Forma Moderna” da ESTAB-UPC, no Projecto do AECI “Intercampus” entre la UNL de Santa Fe, Argentina y la ETSAB-UPC de Cataluña, e cujos resultados culminaram com a publicação: “Vivienda Social y Arquitectura Moderna: Argentina y Cataluña. 1930-1970”. (En edición). Directores do Grupo de Investigação: Helio Piñón y Teresa Rovira.

3- “Cuando Lisboa era moderna, a través de la vivienda colectiva del barrio de Alvalade entre 1947-1967”Tese Final de Mestrado apresentada en Octubre de 2007 en el Master Oficial “Teoría y Práctica del Proyecto de Arquitectura” na linha de investigação “La Forma Moderna” dentro do programa de pós graduação do Departamento de Proyectos Arquitectónicos de la ESTAB-UPC. Tutora Tese: Teresa Rovira.

A tese pode-se ser consultada através do Portal de acesso aberto ao conhecimento da UPC, com a seguinte direcção:http://upcommons.upc.edu/handle/123456789/120541

4- “Cuando la vivienda colectiva era moderna, a través de la experiencia luso-brasileña”. Conferência realizada no “Seminario de Expertos en América Latina y Cataluña para debatir la Conservación y futuro de la Vivienda Social Moderna” em Abril del 2008 na Casa América de Cataluña. Programa ARCS em colaboração com a Casa América de Cataluña, Grupo “La Forma Moderna “ ETSAB-UPC e la Universidad de Arquitectura de La Salle.

5- Publicação da conferência “Cuando la vivienda colectiva era moderna, a través de la experiencia luso-brasileña”. Junto ao resto de conferências levadas a cabo dentro do Seminário de “Expertos en América Latina y Cataluña para debatir la Conservación y futuro de la Vivienda Social Moderna”. (Pendente de realização).

6- -Artículo “Cuando la Vivienda Portuguesa era moderna través de la dualidad de las escuelas de Lisboa y Oporto”. Revista M da Universidad Santo Tomás, Colombia. (breve publicação).

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