HALL, Stuart.Que negro é este na cultura negra

2
HALL, Stuart.Que "negro" é este na cultura negra? In.: Da Diáspora: Identidades e mediações culturais.Org. Liv Sovik; trad. Adelaine La guardia Resende...[et al]. Belo Horizonte: UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003. Gisane Santana* Hall inicia o seu ensaio com uma pergunta- Que tipo de momento é este para se colocar a questão da cultura popular negra?- e é baseando-se nesta que discorre o seu texto. Ao falar de momento o autor nos lembra que devemos ter em mente- uma vez que estes são sempre conjunturais- que eles têm sua especificidade histórica; Ainda que estes momentos apresentem semelhanças e continuidades com outros momentos, jamais poderão ser o mesmo momento . E essa reunião do que é semelhante e diferente que definirá não só a especificidade do momento, como também a especificidade da questão, logo, " as estratégias políticas com as quais se tenta intervir na cultura popular , bem como com a forma e o estilo da teoria e critica cultural que precisam acompanhar essa combinação"(p.337). Para melhor compreender essa especificidade do momento Hall apud West aponta três grandes eixos; " O primeiro é o deslocamento dos modelos europeus de alta cultura, da Europa enquanto sujeito universal da cultura (...); O segundo é o surgimento dos EUA como potência mundial e, consequentemente, como centro de produção e circulação global de cultura( vale lembrar que esse surgimento ocorre de maneira simultânea pois há "o deslocamento e uma mudança hegemônica da definição de cultura); O terceiro eixo é a descolonização do Terceiro Mundo, marcado culturalmente pela emergência das sensibilidades descolonizadas". (p.335-336). Fica evidente que todos esses três eixos estão inseridos no contexto americano. Para o referido autor esse descentramento e/ou deslocamento de que fala em um dos eixos representa uma abertura para novos espaços de contestação, causando assim uma importante mudança na alta cultura das relações culturais populares, " apresentado-se dessa forma, como uma importante oportunidade estratégica para intervenção no campo da cultura popular" (p.337), assim se pode dizer que é um momento peculiar para se propor questão da cultura popular negra. Estamos vivendo o espaço mais produtivo, culturalmente, quando se observa a questão da marginalidade, e isso não é simplesmente uma abertura , dentro dos espaços dominantes. É também o resultado de políticas culturais da diferença, "de lutas em torno da diferença , da produção de novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político". Isso não é válido tão somente para a raça , mas para outras etinicidades marginalizadas, assim como o feminismo e as políticas sexuais no movimento de gays e lésbicas, como resultado de um novo tipo de política cultural. Essa luta em torno da diferença é chamada hegemonia cultural - que não significa "vitória ou dominação" trata-se apenas de cambiar "as disposições e configurações do poder cultural e não se retirar dele". No que diz respeito a cultura popular Hall fala sobre o que ressoa a palavra "popular" e o seu papel; Apesar de ter um certo sentido, pois a cultura popular se fundamenta nas experiências cotidianas de pessoas comuns, prazeres, memórias e tradições de um povo. Por isso que muitas vezes ela está associada ao que Bakhtin chama de vulgar- o popular, o informal, o grotesco, o lado inferior. "O papel do popular na cultura popular é o de fixar a autenticidade das formas populares(...) permitindo vê-las com expressão de uma vida social subalterna específica, que resiste a ser constantemente reformulada enquanto baixa e periférica". È o que Gramsci chamou de "nacional popular' pois este entende que é no terreno do senso comum que a hegemonia cultural é produzida, e se torna objeto de lutas.

Transcript of HALL, Stuart.Que negro é este na cultura negra

Page 1: HALL, Stuart.Que negro é este na cultura negra

HALL, Stuart.Que "negro" é este na cultura negra? In.: Da Diáspora: Identidades e mediações culturais.Org. Liv Sovik; trad. Adelaine La guardia Resende...[et al]. Belo Horizonte: UFMG;

Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.Gisane Santana*

Hall inicia o seu ensaio com uma pergunta- Que tipo de momento é este para se colocar a questão da cultura popular negra?- e é baseando-se nesta que discorre o seu texto. Ao falar de momento o autor nos lembra que devemos ter em mente- uma vez que estes são sempre conjunturais- que eles têm sua especificidade histórica; Ainda que estes momentos apresentem semelhanças e continuidades com outros momentos, jamais poderão ser o mesmo momento . E essa reunião do que é semelhante e diferente que definirá não só a especificidade do momento, como também a especificidade da questão, logo, " as estratégias políticas com as quais se tenta intervir na cultura popular , bem como com a forma e o estilo da teoria e critica cultural que precisam acompanhar essa combinação"(p.337).

Para melhor compreender essa especificidade do momento Hall apud West aponta três grandes eixos; " O primeiro é o deslocamento dos modelos europeus de alta cultura, da Europa enquanto sujeito universal da cultura (...); O segundo é o surgimento dos EUA como potência mundial e, consequentemente, como centro de produção e circulação global de cultura( vale lembrar que esse surgimento ocorre de maneira simultânea pois há "o deslocamento e uma mudança hegemônica da definição de cultura); O terceiro eixo é a descolonização do Terceiro Mundo, marcado culturalmente pela emergência das sensibilidades descolonizadas". (p.335-336). Fica evidente que todos esses três eixos estão inseridos no contexto americano.

Para o referido autor esse descentramento e/ou deslocamento de que fala em um dos eixos representa uma abertura para novos espaços de contestação, causando assim uma importante mudança na alta cultura das relações culturais populares, " apresentado-se dessa forma, como uma importante oportunidade estratégica para intervenção no campo da cultura popular" (p.337), assim se pode dizer que é um momento peculiar para se propor questão da cultura popular negra.

Estamos vivendo o espaço mais produtivo, culturalmente, quando se observa a questão da marginalidade, e isso não é simplesmente uma abertura , dentro dos espaços dominantes. É também o resultado de políticas culturais da diferença, "de lutas em torno da diferença , da produção de novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político". Isso não é válido tão somente para a raça , mas para outras etinicidades marginalizadas, assim como o feminismo e as políticas sexuais no movimento de gays e lésbicas, como resultado de um novo tipo de política cultural. Essa luta em torno da diferença é chamada hegemonia cultural - que não significa "vitória ou dominação" trata-se apenas de cambiar "as disposições e configurações do poder cultural e não se retirar dele".

No que diz respeito a cultura popular Hall fala sobre o que ressoa a palavra "popular" e o seu papel; Apesar de ter um certo sentido, pois a cultura popular se fundamenta nas experiências cotidianas de pessoas comuns, prazeres, memórias e tradições de um povo. Por isso que muitas vezes ela está associada ao que Bakhtin chama de vulgar- o popular, o informal, o grotesco, o lado inferior. "O papel do popular na cultura popular é o de fixar a autenticidade das formas populares(...) permitindo vê-las com expressão de uma vida social subalterna específica, que resiste a ser constantemente reformulada enquanto baixa e periférica". È o que Gramsci chamou de "nacional popular' pois este entende que é no terreno do senso comum que a hegemonia cultural é produzida, e se torna objeto de lutas.

Quanto a cultura popular negra, é conceituada como um espaço contraditório e de constante contestação- não podendo ser reduzida aos termos das simples " oposições binárias" habitualmente usadas para mapeá-la: alto ou baixo, autêntico versus inautêntico(...)" pois existem sempre posições a serem conquistadas.

Hall conclui o seu ensaio com dois pensamentos. O primeiro deste, é lembrando que a cultura popular, mercantilizada e estereotipada, não constitui, como as vezes pensamos , a arena onde descobrimos que realmente somos, a verdade da nossa experiência(...); O segundo, é que embora pareça que o terreno do popular seja edificado sobre o binarismo não é.

*Curso de Letras DLA/UESC. Pesquisadora de Iniciação Científica/FAPESB. Orientadora: Profa. Dra. Sandra Maria Sacramento. Grupo de Pesquisa ICER.