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Prof. Raul Castro 1 HELENA (rápidas análises) Paixões de largos anos, chegando ao casamento, acabam muitas vezes pela separação ou pelo ódio, quando menos pela indiferença. O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corromper-se. Que resta à maior parte dos casamentos, logo após os anos de paixão? Uma afeição pacífica, a estima, a intimidade. Não peço mais ao casamento, nem lhe posso dar mais do que isso. (Machado de Assis - 1975, p.61). DA ESCOLA LITERÁRIA Apesar das obras de Machado de Assis em sua maioria fazerem parte do Realismo, o romance Helena escrito em 1876 se encaixa na "fase romântica", quando melhor se diriam "de compromisso" ou "convencionais" do escritor. Entretanto ale destacar que a genialidade do autor transcende a qualquer escola que se possa colocar. A obra de Machado, segundo alguns críticos, pode ser dividida em duas fases: romântica ou convencional e realista. 1ª fase: Romântica "Ressurreição" (1872) "A Mão e a Luva" (1874) "Helena" (1876) "Iaiá Garcia" (1878) Os romances de sua primeira fase se caracterizam por uma mistura de romantismo agonizante e psicologismo incipiente. Observam-se aqui e ali perfeitas construções estilísticas, renúncia à ação aventureira e melodramática dos românticos, certa agudeza em tratar os caracteres dos personagens; mas o grave equívoco destes romances é que Machado os submete à moral e aos padrões da época. 2ªfase: Realista "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) "Quincas Borba" (1891) "Dom Casmurro" (1900) "Esaú e Jacó" (1908) "Memorial de Aires" (1908) Pode-se encontrar a verdadeira essência do Machado de Assis nesta 2ª fase. Quebra da atitude narrativa e da estrutura linear, análise psicológica, uma nova visão do mundo e o senso de humor destacam o realismo na obra do escritor. Dessa forma Helena se comporta de forma Romântica, mas, assim como Senhora, de José de Alencar, o livro possui características pré-realistas. MACHADO DE ASSIS – vida e obra Fonte de Pesquisa: http://www.releituras.com/machadodeassis_bio.asp Acesso: 05 de janeiro de 2013 Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentará o autodidata Machado de Assis. De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando. Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais. Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo. Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor. Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade lítero- humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias. Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada(onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias. Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais. Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas. Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial. Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois, em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.

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Prof. Raul Castro 1

HELENA (rápidas análises)

Paixões de largos anos, chegando ao casamento, acabam

muitas vezes pela separação ou pelo ódio, quando menos pela indiferença. O amor não é mais que um instrumento de escolha; amar é eleger a criatura que há de ser companheira na vida, não é afiançar a perpétua felicidade de duas pessoas, porque essa pode esvair-se ou corromper-se. Que resta à maior parte dos casamentos, logo após os anos de paixão?

Uma afeição pacífica, a estima, a intimidade. Não peço mais ao casamento, nem lhe posso dar mais do que isso.

(Machado de Assis - 1975, p.61). DA ESCOLA LITERÁRIA Apesar das obras de Machado de Assis em sua maioria

fazerem parte do Realismo, o romance Helena escrito em 1876 se encaixa na "fase romântica", quando melhor se diriam "de compromisso" ou "convencionais" do escritor. Entretanto ale destacar que a genialidade do autor transcende a qualquer escola que se possa colocar.

A obra de Machado, segundo alguns críticos, pode ser dividida em duas fases: romântica ou convencional e realista.

1ª fase: Romântica "Ressurreição" (1872) "A Mão e a Luva" (1874) "Helena" (1876) "Iaiá Garcia" (1878) Os romances de sua primeira fase se caracterizam por uma

mistura de romantismo agonizante e psicologismo incipiente. Observam-se aqui e ali perfeitas construções estilísticas, renúncia à ação aventureira e melodramática dos românticos, certa agudeza em tratar os caracteres dos personagens; mas o grave equívoco destes romances é que Machado os submete à moral e aos padrões da época.

2ªfase: Realista "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881) "Quincas Borba" (1891) "Dom Casmurro" (1900) "Esaú e Jacó" (1908) "Memorial de Aires" (1908) Pode-se encontrar a verdadeira essência do Machado de

Assis nesta 2ª fase. Quebra da atitude narrativa e da estrutura linear, análise psicológica, uma nova visão do mundo e o senso de humor destacam o realismo na obra do escritor.

Dessa forma Helena se comporta de forma Romântica, mas, assim como Senhora, de José de Alencar, o livro possui características pré-realistas.

MACHADO DE ASSIS – vida e obra

Fonte de Pesquisa: http://www.releituras.com/machadodeassis_bio.asp Acesso: 05 de janeiro de 2013

Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista,

dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentará o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.

Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava, também, com a proteção da madrinha D. Maria José de Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Império Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Livramento, onde foram agregados seus pais.

Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia novos talentos da época, tendo publicado o citado poema e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.

Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor.

Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade lítero-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá constrói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de Alencar e Gonçalves Dias.

Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, escrevia também para a revista O Espelho (como crítico teatral, inicialmente), A Semana Ilustrada(onde, além do nome, usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.

Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colaborar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura esposa, Faustino Xavier de Novais.

Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título de Crisálidas.

Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial.

Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois, em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta Xavier de Novais.

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Nessa época, o escritor era um típico homem de letras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado por um cargo público e por um casamento feliz que durou 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.

Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.

Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocrática que seria o seu principal meio de subsistência durante toda sua vida.

No O Globo de então (1874), jornal de Quintino Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira.

Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmente para a comemoração do tricentenário de Camões, em festividades programadas pelo Real Gabinete Português de Leitura.

Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, publica aquelas que foram consideradas suas melhores crônicas.

Em 1881, com a posse como ministro interino da Agricultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pereira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de gabinete.

Publica, nesse ano, um livro extremamente original , pouco convencional para o estilo da época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.

Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em 1882, Histórias sem data (1884), Vária Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906).

Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia, no ano de 1889.

Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam reuniões os intelectuais que se identificaram com a idéia de Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Letras. Machado desde o princípio apoiou a idéia e compareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de 1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa.

É o fundador da cadeira nº. 23, e escolheu o nome de José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.

Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis.

Dizem os críticos que Machado era "urbano, aristocrata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões sociais como a independência do Brasil e a abolição da escravatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos."

BIBLIOGRAFIA: Comédia Desencantos, 1861. Tu, só tu, puro amor, 1881. Poesia

Crisálidas, 1864. Falenas, 1870. Americanas, 1875. Poesias completas, 1901. Romance Ressurreição, 1872. A mão e a luva, 1874. Helena, 1876. Iaiá Garcia, 1878. Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881. Quincas Borba, 1891. Dom Casmurro, 1899. Esaú Jacó, 1904. Memorial de Aires, 1908. Conto: Contos Fluminenses,1870. Histórias da meia-noite, 1873. Papéis avulsos, 1882. Histórias sem data, 1884. Várias histórias, 1896. Páginas recolhidas, 1899. Relíquias de casa velha, 1906. Teatro Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861 Desencantos, 1861 Hoje avental, amanhã luva, 1861. O caminho da porta, 1862. O protocolo, 1862. Quase ministro, 1863. Os deuses de casaca, 1865. Tu, só tu, puro amor, 1881. Algumas obras póstumas Crítica, 1910. Teatro coligido, 1910. Outras relíquias, 1921. Correspondência, 1932. A semana, 1914/1937. Páginas escolhidas, 1921. Novas relíquias, 1932. Crônicas, 1937. Contos Fluminenses - 2º. volume, 1937. Crítica literária, 1937. Crítica teatral, 1937. Histórias românticas, 1937. Páginas esquecidas, 1939. Casa velha, 1944. Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956. Crônicas de Lélio, 1958. Conto de escola, 2002. Antologias Obras completas (31 volumes), 1936. Contos e crônicas, 1958. Contos esparsos, 1966. Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998 Em 1975, a Comissão Machado de Assis, instituída pelo

Ministério da Educação e Cultura, organizou e publicou as Edições críticas de obras de Machado de Assis, em 15 volumes.

Seus trabalhos são constantemente republicados, em diversos idiomas, tendo ocorrido a adaptação de alguns textos para o cinema e a televisão.

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Elementos da Narrativa e Características

Autoria: Prof. Raul Castro LINGUAGEM e ESTILO: Elaborada em uma linguagem bem simples, pode-se

considerar uma característica de um pré-realismo, a linguagem na obra é a mesma adotada no resto de suas obras.

O estilo de Machado de Assis assume uma originalidade despreocupada com as modas literárias dominantes de seu tempo. Mesmo suas obras iniciais — Ressurreição, Helena, Iaiá Garcia — que eram pertencentes ao Romantismo (ou ao convencionalismo), possuem uma ainda tímida análise do interior das personagens e do homem diante da sociedade, que ele virá mais amplamente desenvolver em suas obras do Realismo. Os acadêmicos notam cinco fundamentais enquadramentos em seus textos: "elementos clássicos" (equilíbrio, concisão, contenção lírica e expressional), "resíduos românticos" (narrativas convencionais ao enredo), "aproximações realistas" (atitude crítica, objetividade, temas contemporâneos), "procedimentos impressionistas" (recriação do passado através da memória), e "antecipações modernas" (o elíptico e o alusivo engajados à um tema que permite diversas leituras e interpretações).

O estudioso Francisco Achcar traça um plano

resumidamente no estilo de Machado de Assis, escrevendo: "[...] alguns dos pontos mais importantes da prosa narrativa

machadiana: Machado é o grande mestre do foco narrativo de primeira

pessoa, embora tenha exercido com mestria também o foco de terceira pessoa. Ele sabe colocar-se no lugar de um narrador hipotético e vivenciar todos os seus grandes problemas.

Ao contrário dos realistas, que eram muito dependentes de um certo esquematismo determinista (isto é: pensavam que tudo, no comportamento humano, era determinado por causas precisas), Machado não procura causas muito explícitas ou claras para a explicação das personagens e situações. Ele sabe deixar na sombra e no mistério aquilo que seria inútil explicar. Foi justamente por não tentar explicar tudo que Machado não caiu na vulgaridade de muitos realistas, como Aluísio Azevedo. Há coisas que não se explicam, coisas que só podem ter descrição discreta. Nisso, Machado de Assis foi um grande mestre.

A frase machadiana é simples, sem enfeites. Os períodos em geral são curtos, as palavras muito bem escolhidas e não há vocabulário difícil (alguma dificuldade que pode ter um leitor de hoje se deve ao fato de que certas palavras caíram em desuso). Mas com esses recursos limitados Machado consegue um estilo de extraordinária expressividade, com um fraseado de agilidade incomparável.

A descrição dos objetos se limita ao que neles é funcional, ou seja, àquilo que tenha que ver com a história que está sendo contada. O espaço é singelo, reduzido, e as coisas descritas parecem participar intimamente do espírito da narrativa.

Uma das maiores características da prosa de Machado de Assis é a forma contraditória de apreensão do mundo. Machado em geral apanha o fato em suas versões antagônicas, e isso lhe dá um caráter dilemático. É também uma forma superior e mais completa de ver as coisas. Machado tem os olhos voltados para as contradições do mundo.

Chamamos aparência aquilo que aparece a nossos olhos, aquilo que primeiramente surge à observação; chamamos essência aquilo que consideramos a verdade, aquilo que é encoberto pela aparência. Mas o que tomamos por essência pode não ser mais do que outra aparência. O estilo machadiano focaliza as personagens de fora para dentro, vai descascando as pessoas, aparência atrás de aparência. Por isso, Machado é considerado grande "analista da alma humana".

A linguagem machadiana faz referências constantes aos estilos de outros grandes autores do Ocidente. Na maioria dos

casos, essas referências são implícitas, só podem ser percebidas por leitores familiarizados com as grandes obras da literatura. Esse é um dos motivos de se poder dizer que o estilo de Machado é um estilo "culto" (pois ele faz uso da cultura e sua compreensão aprofundada exige cultura da parte do leitor). Costuma-se chamar intertextualidade a esse diálogo que se estabelece, no texto de um escritor, com textos de outros autores, do presente ou do passado. Machado de Assis foi um grande virtuose da intertextualidade.

Em seus romances mais importantes, Machado de Assis pratica a interpolação de episódios, recordações, ou reflexões que se afastam da linha central da narrativa. Essas "intromissões" de elementos que aparentemente se desviam do tema central do livro correspondem a procedimentos chamados digressões. As digressões são, naturalmente, muito mais comuns nos romances do que nos contos, pois nestes a brevidade do texto não permite constantes retardamentos da narrativa. Nessas digressões, Machado é constantemente seduzido pelo impulso de falar sobre a própria obra que está escrevendo, isto é, faz metalinguagem, comentando os capítulos, as frases, a organização do todo. Embora também presente nos contos, esses elementos de metalinguagem são neles bem mais raros e discretos.

Uma das características mais atraentes e refinadas de Machado de Assis é sua ironia, uma ironia que, embora chegue francamente ao humor em certas situações, tem geralmente uma sutileza que só a faz perceptível a leitores de sensibilidade já treinada em textos de alta qualidade. Essa ironia é a arma mais corrosiva da crítica machadiana dos comportamentos, dos costumes, das estruturas sociais. Machado a desenvolveu a partir de grandes escritores ingleses que apreciava e nos quais se inspirou (sobretudo o originalíssimo Lawrence Sterne, romancista do século XVIII). Na representação dos comportamentos humanos, a ironia de Machado de Assis se associa àquilo que é classificado como o seu grande poder 'analista da alma humana'."

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estilo_de_Machado_de_Assis

Ainda no estilo machadiano não podemos esquecer de que

ele falava com o leitor, como podemos ver nessa passagem na página 31 onde se usa até mesmo pronomes na 1º pessoa do plural:

Eugênia desfiou uma historiazinha de toucador, que omito em suas particularidades por não interessar ao nosso caso, bastando saber que a razão capital da divergência entre as duas amigas fora uma opinião de Cecília acerca da escolha de um chapéu.

Os aforismos Ainda no estilo machadiano podemos encontrar os

aforismos: [Do gr. aphorismós, “limitação; definição; breve definição, sentença”.] Aparece, na maioria dos dicionários, com este sentido, ou seja, com uma definição semelhante à de provérbio, dito, ditado, dizer, adágio, rifão, anexim e à de máxima, sentença, apotegma, sendo as fronteiras entre estes termos pouco definidas. O aforismo e esta segunda série de termos podem ter, no entanto, uma dimensão mais culta. Surge como ponto de contacto entre o filosófico e o literário: ”Forme de transition qui organise le général et lui impose l’empreinte de l’individuel, l’aphorisme se trouve à la frontière de la philosophie” (Silvian Iosifescu, “L’aphorisme et la poésie des idées”, Cahiers roumains d’études littéraires, 1, 1987, p.54). Deve ser analisado segundo o conteúdo semântico e os padrões estruturais. É um estilo de discurso ligado à percepção do mundo e que pode contribuir para a expressividade da mensagem.

A análise linguística dos aforismos pode revelar certas estratégias lexicais, sintácticas e semânticas. Assim, para além do conteúdo, deve-se ter em conta a forma de expressão, normalmente curta e concisa. Tem habitualmente sentido figurado e grande expressividade estilística. A sua função pragmática é fundamental. A forma lacónica, de expressão curta,

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e a natureza de máximo apuramento dos aforismo propicia uma grande condensação de potencialidades significativas, apresentando assim um código de prescrições sociais para a interpretação da realidade. O recurso frequente a palavras polissémicas, a sinónimos, antónimos, a perguntas retóricas, torna-o um instrumento clássico do poder do discurso. Pode aparecer como afirmação política, filosófica, moral, apresentando um ideal de sabedoria.

Em Helena, não é diferente, os aforismos aparecem nos diálogos ou entre as análises do narrador, eis os principais encontrados na obra: • “As dores alheias fazem lembrar as próprias, e são um

corretivo da alegria, cujo excesso pode engendrar o orgulho.”

• “Deixemos a cada idade a sua atmosfera própria, concluiu ele, e não antecipemos a da reflexão, que é tornar infelizes os que ainda não passaram do puro sentimento.”

• “As mulheres que são apenas mulheres, choram, arrufam-se ou resignam-se; as que têm alguma coisa mais do que a debilidade feminina, lutam ou recolhem-se à dignidade do silêncio.”

• “— Eugênia, disse Estácio, quer saber a verdadeira razão do mau sucesso de suas afeições? É deixar-se levar mais pelas aparências que pela realidade; é porque dá menos apreço às qualidades sólidas do coração do que às frívolas exterioridades da vida. Suas amizades são das que duram a roda de uma valsa, ou, quando muito, a moda de um chapéu; podem satisfazer o capricho de um dia, mas são estéreis para as necessidades do coração.”

• “- O medo? O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito desfaz-se; basta a simples reflexão.” ... “— Quem lhe ensinou essas idéias? perguntou ele. — Não são idéias, são sentimentos. Não se aprendem; trazem-se no coração.”

• “— Valem muito os bens da fortuna, dizia Estácio; eles dão a maior felicidade da terra, que é a independência absoluta. Nunca experimentei a necessidade; mas imagino que o pior que há nela não é a privação de alguns apetites ou desejos, de sua natureza transitórios, mas sim essa escravidão moral que submete o homem aos outros homens. A riqueza compra até o tempo, que é o mais precioso e fugitivo bem que nos coube. Vê aquele preto que ali está? Para fazer o mesmo trajeto que nós, terá de gastar, a pé, mais uma hora ou quase.”

• “— Tem razão, disse Helena: aquele homem gastará muito mais tempo do que nós em caminhar. Mas não é isto uma simples questão de ponto de vista? A rigor, o tempo corre do mesmo modo, quer o esperdicemos, quer o economizemos. O essencial não é fazer muita coisa no menor prazo; é fazer muita coisa aprazível ou útil. Para aquele preto o mais aprazível é, talvez, esse mesmo caminhar a pé, que lhe alongará a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se é cativo. É uma hora de pura liberdade.”

• O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor-próprio dos outros com pedaços do nosso.

• A beleza é como a bravura; vale mais se não a metem à cara dos outros.

• A prece é a escada misteriosa de Jacó: por ela sobem os pensamentos ao céu; por ela descem as divinas consolações. FOCO NARRATIVO A narrativa é toda em 3º pessoa, portanto é onisciente,

heterodiegético, Machado tem como característica a análise do perfil feminino, e o psicologismo, sua marca registrada, para isso precisa de um narrador que não esteja na história.

TEMPO

O tempo não se define até o momento que Helena entrega no dia do aniversário de Estácio um quadro que representava o ambiente que eles passeavam de cavalo, a quadro é assinado e datado de 1850, portanto estamos na metade do século XIX.

A história se passa de forma bastante linear, bem diferente do estilo Machadiano em quebrar a linearidade dos fatos, como faz com seus livros Realistas, exceto no capítulo XXV e XXVI em Salvador conta a história à Pe. Melchior e Estácio e relembra sua trágica história.

ESPAÇO O ambiente como é típico de Machado de Assis, é o Rio de

Janeiro, especificamente o Andaraí, que é aonde Helena vai quando seu nome é encontrado no testamento de Conselheiro Vale.

PERSONAGENS

Helena É a personagem central da história, é a partir dela que tudo

se desenrola, é a sua chegada que gera os conflitos que permearão a obra, moça linda e de boa educação:

Machado descreve-a fisicamente: Era uma moça de dezesseis a dezessete anos, delgada

sem magreza, estatura um pouco acima de mediana, talhe elegante e atitudes modestas. A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de que tirava a cor; naquela ocasião tingiam-na uns longes cor-de-rosa, a princípio mais rubros, natural efeito do abalo. As linhas puras e severas do rosto parecia que as traçara a arte religiosa. Se os cabelos, castanhos como os olhos, em vez de dispostos em duas grossas tranças lhe caíssem espalhadamente sobre os ombros, e se os próprios olhos alçassem as pupilas ao céu, disséreis um daqueles anjos adolescentes que traziam a Israel as mensagens do Senhor. Não exigiria a arte maior correção e harmonia de feições, e a sociedade bem podia contentar-se com a polidez de maneiras e a gravidade do aspecto. Uma só coisa pareceu menos aprazível ao irmão: eram os olhos, ou antes o olhar, cuja expressão de curiosidade sonsa e suspeitosa reserva foi o único senão que lhe achou, e não era pequeno.

Como psicologicamente: Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e

a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo, era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade da menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes.

Além das qualidades naturais, possuía Helena algumas prendas de sociedade, que a tornavam aceita a todos, e mudaram em parte o teor da vida da família. Não falo da magnífica voz de contralto, nem da correção com que sabia usar dela, porque ainda então, estando fresca a memória do conselheiro, não tivera ocasião de fazer-se ouvir. Era pianista distinta, sabia desenho, falava correntemente a língua francesa, um pouco a inglesa e a italiana. Entendia de costura e bordados e toda a sorte de trabalhos feminis. Conversava com graça e lia admiravelmente. Mediante os seus recursos, e muita paciência, arte e resignação, — não humilde, mas digna, — conseguia polir os ásperos, atrair os indiferentes e domar os hostis.

Estácio É o irmão de Helena, mas em função de não ter convivido

com ela desde pequeno desenvolve um amor romântico pela

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moça, isso lhe custa muito sofrimento pondo em risco muita coisa.

Era formado em Matemática e nunca quisera entrar para a política, embora fosse a vontade de todos.

Estácio recebera efetivamente de sua mãe uma boa parte destas. Não sendo grande talento, deveu à vontade e à paixão do saber a figura notável que fez entre seus companheiros de estudos. Entregara-se à ciência com ardor e afinco. Aborrecia a política; era indiferente ao ruído exterior. Educado à maneira antiga e com severidade e recato, passou da adolescência à juventude sem conhecer as corrupções de espírito nem as influências deletérias da ociosidade; viveu a vida de família, na idade em que outros, seus companheiros, viviam a das ruas e perdiam em coisas ínfimas a virgindade das primeiras sensações. Daí veio que, aos dezoito anos, conservava ele tal ou qual timidez infantil, que só tarde perdeu de todo. Mas, se perdeu a timidez, ficara-lhe certa gravidade não incompatível com os verdes anos e muito própria de organizações como a dele.

N Juntava às outras qualidades morais uma sensibilidade, não feminil e doentia, mas sóbria e forte; áspero consigo, sabia ser terno e mavioso com os outros.

Tal era o filho do conselheiro; e se alguma coisa há ainda que acrescentar, é que ele não cedia nem esquecia nenhum dos direitos e deveres que lhe davam a idade e a classe em que nascera. Elegante e polido, obedecia à lei do decoro pessoal, ainda nas menores partes dela.

Mendonça Chega ao Rio de Janeiro esteve em Paris por um tempo, ao

conhecer Helena tem inicialmente um má impressão, mas depois se apaixona quando Estácio viaja. Acaba sendo mal interpretado pelo colega que se arde em ciúmes, a amizade fica abalada, mas depois é restaurada.

Mendonça fora o seu melhor companheiro de aula. Havia entre eles certos contrastes de gênio. O de Mendonça era mais folgazão e ativo.

Mendonça era da mesma estatura que Estácio, um pouco mais cheio, ombros largos, fisionomia risonha e franca, natureza móbil e expansiva. Vestia com o maior apuro, como verdadeiro parisiense que era, arrancado de fresco ao grand boulevard, ao café Tortoni e às récitas do Vaudeville. A mão larga e forte calçava fina luva cor de palha, e sobre o cabelo, penteado a capricho, pousava um chapéu de fábrica recente.

D. Úrsula Tia de Estácio, senhora entre seus 50 anos, no começo

reluta em aceitar a moça, mas depois cede aos caprichos da moça principalmente quando Helena cuida dela quando adoece.

Conselheiro Vale É a sua morte que desencadeia todo o conflito, pois

reconhece em seu testamento uma filha que estudava na escola no Botafogo.

Salvador O verdadeiro pai de Helena, fugiu com Ângela e viveu

sempre na pobreza com a única felicidade em ter a filha, ao ir visitar seu pai, que depois morre, descobre que ela está com o conselheiro, e sofre amargamente, mas acaba renunciando sua paternidade em função da felicidade da filha. Era ele que Helena visita várias vezes na chácara e que relata ao padre e Estácio a real origem da moça. Antes da morte da moça, escreve um carta dizendo que vai embora para não prejudicá-la.

Era um homem de trinta e seis a trinta e oito anos, forte de membros, alto e bem proporcionado. Uma cabeleira espessa e comprida, de um castanho escuro, descia-lhe da cabeça até quase tocar nos ombros. Os olhos eram grandes, e geralmente quietos, mas riam, quando sorriam os lábios, animando-se então de um brilho intenso, ainda que passageiro. Havia naquela cabeça, — salvo as suíças, — certo ar de tenor italiano. O

pescoço, cheio e forte, surgia dentre dois ombros largos, e, pela abertura da camisa, que um lenço atava frouxamente na raiz do colo, podia Estácio ver-lhe a alva cor e a rija musculatura. Vestia pobre, mas limpamente, um rodaque branco, calça de ganga e colete de brim pardo. O vestuário, disparatado e mesquinho, não diminuía a beleza máscula da pessoa; acusava somente a penúria de meios.

Ângela Morre quando Helena possuía apenas 12 anos,

extremamente amada pela filha, Ângela larga Salvador para ficar com o Conselheiro, chega a dizer para a filha que seu pai morrera.

Dr. Camargo É o médico da família, homem extremamente interesseiro,

tudo para ele não passava de um negócio, sente-se chateado por Helena entrar na família, pois diminuiria a herança de Estácio. Chega a pedir ajuda da moça para que Estácio casasse logo com sua filha. Morava no Rio Comprido com sua filha Eugênia e D. Tomásia, sua esposa:

Camargo era pouco simpático à primeira vista. Tinha as feições duras e frias, os olhos perscrutadores e sagazes, de uma sagacidade incômoda para quem encarava com eles, o que o não fazia atraente. Falava pouco e seco. Seus sentimentos não vinham à flor do rosto. Tinha todos os visíveis sinais de um grande egoísta; contudo, posto que a morte do conselheiro não lhe arrancasse uma lágrima ou uma palavra de tristeza, é certo que a sentiu deveras. Além disso, amava sobre todas as coisas e pessoas uma criatura linda, — a linda Eugênia, como lhe chamava, — sua filha única e a flor de seus olhos; mas amava-a de um amor calado e recôndito. Era difícil saber se Camargo professava algumas opiniões políticas ou nutria sentimentos religiosos. Das primeiras, se as tinha, nunca deu manifestação prática; e no meio das lutas de que fora cheio o decênio anterior, conservara-se indiferente e neutral. Quanto aos sentimentos religiosos, a aferi-los pelas ações, ninguém os possuía mais puros. Era pontual no cumprimento dos deveres de bom católico. Mas só pontual; interiormente, era incrédulo.

CURIOSIDADE! Não se esqueçam dos três beijos de Camargo: O primeiro ocorre ainda no primeiro capítulo, quando morre

o conselheiro Vale. O segundo ocorre na capítulo XIII, quando chega a carta de

Estácio pedindo a sua filha em casamento. A terceira na morte de Helena. Esses beijos representam as conquistam do objetivo central

de Camargo, casar a filha, que vão desde a morte do seu amigo conselheiro Vale, passa pelo pedido e vai se concretizar na morte de Helena.

Eugênia Era a noiva prometida à Estácio, eram amigos desde a

infância, mas tinha certas atitudes que desagradavam ao rapaz, como por exemplo o fato de que a moça discutia muitas futilidades.

Era de pequena estatura; tinha os cabelos de um castanho escuro, e os olhos grandes e azuis, dois pedacinhos do céu, abertos em rosto alvo e corado; o corpo, levemente refeito, era naturalmente elegante; mas se a dona sabia vestir-se com luxo, e até com arte, não possuía o dom de alcançar os máximos efeitos com os meios mais simples.

Dr. Matos Era advogado da família, que é descrito como desconhecer

da ciência do direito, no entanto tinha aprendizados meteorológicos e botânicos, vivia a falar de uma planta medicinal ou de uma erva que curava aquilo e aquilo outro, era viciado em gamão.

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A esposa de Dr. Matos era D. Leonor a quem Conselheiro Vale já se ardera de paixões, mas que fora desprezado pela mesma. Ela era descrita como uma das belezas do primeiro reinado e conservava bem o aroma da juventude.

Melchior O padre exerce um papel importante principalmente

quando Helena pede que sonde o coração de Mendonça, pois ela queria se casar com ele. Melchior desenvolve sempre um papel de apaziguador, ora entre Helena e Mendonça em um jantar, ora entre Estácio e Mendonça, quando se estranham por causa de Helena, ora quando vai com Estácio até a casa de Salvador.

Melchior era capelão em casa do conselheiro, que mandara construir alguns anos antes uma capelinha na chácara, onde muita gente da vizinhança ouvia missa aos domingos. Tinha sessenta anos o padre; era homem de estatura mediana, magro, calvo, brancos os poucos cabelos, e uns olhos não menos sagazes que mansos.

De compostura quieta e grave, austero sem formalismo, sociável sem mundanidade, tolerante sem fraqueza, era o verdadeiro varão apostólico, homem de sua Igreja e de seu Deus, íntegro na fé, constante na esperança, ardente na caridade. Conhecera a família do conselheiro algum tempo depois do consórcio deste.

Vale notar que mesmo Machado de Assis tendo tendências a nunca obedecer a preceitos de escolas, obedece a uma rigorosa característica romântica: a idealização da figura religiosa, o padre.

Mesmo assim o autor não deixa de contrastar tal idealização com a descrença de Estácio, que era matemático, ou seja, voltado para um caráter científico.

Macedo O coronel Macedo tinha a particularidade de não ser

coronel. Era major. Alguns amigos, levados de um espírito de retificação,

começaram a dar-lhe o título de coronel, que a princípio recusou, mas que afinal foi compelido a aceitar, não podendo gastar a vida inteira a protestar contra ele. Macedo tinha visto e vivido muito; e, sobre o pecúlio da experiência, possuía imaginação viva, fértil e agradável. Era bom companheiro, folgazão e comunicativo, pensando sério quando era preciso. Tinha dois filhos, um rapaz de vinte anos, que estudava em São Paulo, e uma moça de vinte e três, mais prendada que formosa.

Vicente Era o pajem de Helena, sempre ia com ela visitar a casinha

pobre, no início, na chegada de Helena, é o primeiro a advogar por ela, chega a procurar o padre e conta que o homem que ela visitava era irmão de Helena, mas era na verdade o que ele achava ser.

RESUMO

Por Raul Castro Capítulo I A narrativa inicia logo com a morte de conselheiro Vale,

homem idôneo e detentor de grande status social, mantinha um ponto neutro partidário o que lhe concedeu o privilégio raro de manter amizades de ambos os lados, um enterro disputadíssimo e cheio de honrarias.

A causa da morte fora apoplexia, que é uma designação genérica das afecções causadas por derramamento de sangue ou de serosidade no interior de um órgão, a morte, instantânea, o narrador trata de mencionar Dr. Camargo e Pe. Melchior, ambos não tiveram como socorrer o conselheiro.

Em seguida trata de enumerar a família do falecido, Estácio, filho, e D. Úrsula, irmã. Dr. Estácio, formado em Matemática, e bastante relutante no querer do falecido pai em

inseri-lo na política, tinha 27 anos, e Úrsula, solteira, entre 50 e 59 anos.

Após o enterro, Estácio procura Camargo e reafirma os laços de amizade mesmo com a morte do pai e saem a procura de um testamento, Camargo após encontrá-la se impressiona com o conteúdo e chega a chamar de erro, no entanto não diz o assunto e alega que amanhã seria um melhor dia, todo esse mistério para tentar prepará-los, Estácio se resigna com a dúvida no coração.

Camargo vai para casa ver sua família, D. Tomásia, a esposa, e Eugênia, sua filha tão amada.

Capítulo II Chega o grande dia, então, durante a leitura, sabemos o

tamanho mistério do testamento: Uma disposição havia, porém, verdadeiramente

importante. O conselheiro declarava reconhecer uma filha natural, de nome Helena, havida com D. Ângela da Soledade. Esta menina estava sendo educada em um colégio de Botafogo. Era declarada herdeira da parte que lhe tocasse de seus bens, e devia ir viver com a família, a quem o conselheiro instantemente pedia que a tratasse com desvelo e carinho, como se de seu matrimônio fosse.

A informação pega a todos de surpresa. Úrsula se indigna, alega ser uma usurpação social, isso porque o testamento deixava bem claro, que a filha, fruto de um amor desconhecido com uma pessoa na qual eles não conheciam, deveria ser inserida na família como se fosse criada com eles.

Estácio se põe contra a tia e diz querer receber a irmã, a ordem do pai era soberana, Camargo revela que já tinha conhecimento de Helena, ainda tenta convencê-lo a não trazer para casa a filha bastarda, mas não é o suficiente, Estácio mantém a palavra do pai, tal caráter de bondade nada mais era herdado de sua mãe.

Em seguida discuti com a tia que ainda persiste em não trazê-la, mas o filho do conselheiro novamente alega suas opiniões:

— Contudo, ela é do nosso mesmo sangue. D. Úrsula ergueu os ombros como repelindo

semelhante consangüinidade. Estácio insistiu em trazê-la a mais benévolos sentimentos. Invocou, além da vontade, a retidão do espírito de seu pai, que não havia dispor uma coisa contrária à boa fama da família.

— Além disso, essa menina nenhuma culpa tem de sua origem, e visto que meu pai a legitimou, convém que não se ache aqui como enjeitada. Que aproveitaríamos com isso? Nada mais do que perturbar a placidez da nossa vida interior. Vivamos na mesma comunhão de afetos; e vejamos em Helena uma parte da alma de meu pai, que nos fica para não desfalcar de todo o patrimônio comum.

Estácio sabe que terá de esperar até a tia aceitar aquela situação inusitada, Úrsula ainda tenta sondar as origens da mãe de Helena com Camargo, o médico não concordava com o herdeiro, entretanto aconselha a irmã do falecido a amá-la, e depois de muitos pedidos do sobrinho, Úrsula vai buscar a nova habitante da casa.

Capítulo III Nesse capítulo, Estácio e Helena se conhecem, almoçam,

mas ainda há entre ambos, certa estranheza, passam-se quatros dias até engatarem uma conversa mais sólida quando Estácio diz que a casa é tão dela quanto dele, ela solicita a nova tia que possa conhecer a casa com mais detalhes, Úrsula responde com aspereza, Helena, brandamente se oferece para ler para ela mostrando resignação, Estácio então se oferece para mostrar os aposentos bem como a chácara.

Helena reluta, mas aceita, ambos vão para o gabinete do pai, emociona-se ao saber dele e agradece por tê-la reconhecido e lhe dado futuro e família, saem para a chácara, Helena se

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mostra outra mulher, e isso surpreende de forma positiva a Estácio:

Helena tornou-se logo outra do que se revelara no gabinete do pai. Jovial, graciosa e travessa, perdera aquela gravidade quieta e senhora de si com que aparecera na sala de jantar; fez-se lépida e viva, como as andorinhas que antes, e ainda agora, esvoaçavam por meio das árvores e por cima da grama. A mudança causou certo espanto ao moço; mas ele a explicou de si para si, e em todo o caso não o impressionou mal. Helena pareceu-lhe naquela ocasião, mais do que antes, o complemento da família. O que ali faltava era justamente o gorjeio, a graça, a travessura, um elemento que temperasse a austeridade da casa e lhe desse todas as feições necessárias ao lar doméstico. Helena era esse elemento complementar.

Após o passeio, Úrsula ainda se mantém indiferente, Helena começa a mudar o curso da opinião de sua tia:

— Titia... disse Estácio jovialmente; minha irmã conhece já a casa toda e suas dependências. Resta somente que lhe mostremos o coração.

D. Úrsula sorriu, um sorriso amarelo e acanhado, que apagou nos olhos da moça a alegria que os tornava mais lindos. Mas foi breve a má impressão; Helena caminhou para a tia, e pegando-lhe nas mãos, perguntou com toda a doçura da voz:

— Não quererá mostrar-me o seu? — Não vale a pena! respondeu D. Úrsula com afetada

bonomia; coração de velha é casa arruinada. — Pois as casas velhas consertam-se, replicou Helena

sorrindo. D. Úrsula sorriu também; desta vez porém, com

expressão melhor. Ao mesmo tempo, fitou-a; e era a primeira vez que o fazia. O olhar, a princípio indiferente, manifestou logo depois a impressão que lhe causava a beleza da moça. D. Úrsula retirou os olhos; porventura receou que o influxo das graças de Helena lhe torcessem o coração, e ela queria ficar independente e inconciliável.

Capítulo IV Aqui continua a empreitada de Helena em conquistar todos

da casa, principalmente os escravos, um dos primeiros a se afeiçoar a ela é Vicente que será seu advogado em meio aos outros que ainda viam a nova herdeira mais como um gesto de caridade.

O capítulo fala um pouco mais de Melchior, padre de sessenta anos que comandava a igrejinha na chácara. Dr. Matos, um velho advogado e D. Leonor, esposa, a quem o conselheiro Vale já se ardera de paixões.

Depois o coronel Macedo, que era na verdade major, homem bastante experiente.

Helena vence a todos, Úrsula cede aos poucos, mas Camargo continua irreconciliável em sua opinião.

Todo esse encanto das pessoas se dava por dois grandes motivos:

1 – A origem misteriosa da moça: “vantagem grande, porque o obscuro favorecia a lenda, e cada qual podia atribuir o nascimento de Helena a um amor ilustre ou romanesco, — hipóteses admissíveis, e em todo o caso agradáveis a ambas as partes.”

2 – À personalidade de Helena: “Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo, era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem entono nem vulgaridade. Havia nela a

jovialidade da menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes.

Além das qualidades naturais, possuía Helena algumas prendas de sociedade, que a tornavam aceita a todos, e mudaram em parte o teor da vida da família. Não falo da magnífica voz de contralto, nem da correção com que sabia usar dela, porque ainda então, estando fresca a memória do conselheiro, não tivera ocasião de fazer-se ouvir. Era pianista distinta, sabia desenho, falava correntemente a língua francesa, um pouco a inglesa e a italiana. Entendia de costura e bordados e toda a sorte de trabalhos feminis. Conversava com graça e lia admiravelmente. Mediante os seus recursos, e muita paciência, arte e resignação, — não humilde, mas digna, — conseguia polir os ásperos, atrair os indiferentes e domar os hostis.”

Capítulo V Estácio visita Eugênia, filha de Camargo a fim de reatar o

desejo de pedir a moça a permissão para pedi-la ao seu pai em namoro, entretanto ao longo da conversa, Estácio apresenta uma certa dualidade, dúvidas em relação ao que sente pela moça. Eugênia era meiga, simpática, até mesmo almeja a amizade de Helena, entretanto se entrega facilmente às futilidades da vida, intriguinhas juvenis o que desanima Estácio.

O silêncio paira sobre os dois, Carlos Barreto, estudante de Medicina, chega para entregar os convites do baile de uma de suas parentas, e quebra o silêncio, Eugênia esquece o ocorrido, tudo fica em paz, a desilusão do rapaz o aplaca, pois a intenção de estar ali, pedi-la em namoro ao pai, havia sido cancelada.

Capítulo VI Ao chegar a casa, o jovem matemático recebe a carta de

Luís Mendonça, que havia sido seu colega de sala, esteve na Europa, por dois anos, estava agora em Pernambuco, e anunciava que logo em breve chegaria, tal notícia o anima e tira um pouco do peso da desilusão no capítulo anterior.

Então entra em cena Helena, submissa, ainda tentando ganha a tia Úrsula, diz querer aprender a andar a cavalo, Estácio se oferece para ensiná-la, D. Úrsula até empresta um vestido de amazona, Helena e Estácio conversam e Helena é usada pelo autor para expressar certos aforismos (olhar aforismos).

Helena já sabia andar a cavalo, mente para Estácio a fim de que ele a acompanhasse, que a reprende com perguntas, ela triste fica, mas Estácio restabelece o clima amigável desculpando-a por achá-lo que lhe negaria tal prazer.

Um clima romântico vai se estabelecendo entre ambos: Apertaram-se as mãos, e o passeio continuou nas

melhores disposições do mundo. Helena deu livre curso à imaginação e ao pensamento; suas falas exprimiam, ora a sensibilidade romanesca, ora a reflexão da experiência prematura, e iam direitas à alma do irmão, que se comprazia em ver nela a mulher como ele queria que fosse, uma graça pensadora, uma sisudez amável.

De quando em quando faziam parar os animais para contemplar o caminho percorrido, ou discretear acerca de um acidente do terreno.

Debatem sobre riquezas e reflexões, Helena responde a altura que Estácio alega que ela deveria ter nascido homem e advogado.

Continua a caminhar, ao estarem próximos da chácara, uma tristeza abate Helena que sendo percebida pelo irmão pede apenas que ele diga cada má impressão que dela tiver, então chegam, ele, curioso com o pedido e apreensivo pela suposta indireta da infelicidade da irmã e ela com vergonha.

Capítulo VII e VIII

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Estácio insiste em pedir que Helena desse melhores explicações sobre o ocorrido, a irmã tenta se desviar, logo depois o bom humor da moça volta.

Estácio procura a tia e conversa sobre Helena, Úrsula revela que as desconfianças antes sentidas diminuíram, e quando se prepara para contar a novidade, Camargo chega de surpresa, e inicia uma longa conversa na tentativa de convencê-lo a ser o novo deputado em virtude dos dotes familiares, que reluta e diz consultar os moradores da casa, inclusive a nova herdeira. Ao sair padre Melchior solicita que se candidate, até mesmo para sua surpresa, Helena também se mostra a favor.

Logo após, D. Tomásia e Eugênia vão almoçar no Andaraí. No dia seguinte espiando pela janela flagra Helena lendo

uma carta de quatro laudas, o que lhe entristece, pois imagina ser uma carta amorosa, desce movido pela curiosidade, a moça chega a perguntar-lhe se desejava lê-la, entretanto ele se contém.

Depois é a vez de Estácio de receber uma carta de Eugênia, que mostra à irmã, ambos conversam e Helena aconselha-o a procurá-la duvidando do amor do rapaz, na tarde que decide vê-la, cai um grande temporal e o plano de visita é abortado.

Capítulo IX D. Úrsula adoece e Helena cuida como uma enfermeira,

além de presidir a casa com maestria, após a cura da tia, a jovem moça acaba por ganhar de vez o seu carinho.

Estácio ainda se resigna a pedir Eugênia em casamento, e não gosta ao saber que Helena está saindo a cavalo com Vicente, o pajem, Helena chega a perguntar se Estácio está chateado, o mesmo se diz incomodado com as saídas e pergunta se ela ama, e ela diz: “Muito! Muito! Muito!” envergonha-se, quando chega o amigo distante do matemático, Luís Mendonça.

Capítulo X Os amigo se abraçam e logo é apresentada ao colega

recém-chegado Helena, inicialmente ele tem má impressão, mas Estácio trata de tirá-la, conversam sobre a vida e o casamento do matemático, o colega diz querer imitá-lo, estava cansado das viagens, das variedades que Paris proporcionava, no entanto ele mantém esses hábitos na cidade carioca.

Helena e seu irmão voltam a passear juntos. Capítulo XI Era o aniversário de Estácio, Helena dá-lhe de presente um

fiel desenho do ambiente que por vezes passavam quando passeavam a cavalo, o desenho era uma imitação perfeita, o jovem fica maravilhado, D. Úrsula que lhe deu uma bocetinha de joalheiro admira a destreza da moça.

Ele decide levá-la para passear no mesmo ambiente para comparar o desenho dado pela irmã, neste capítulo ele dá indícios do amor que sente por ela:

A uma das janelas estava um homem, com a cabeça inclinada, atento a ler o livro que tinha sobre o peitoril. ...

— Mal sabes tu, filósofo matinal, disse Estácio consigo, mal sabes tu que a tua casa teve a honra de ser reproduzida pela mais bela mão do mundo!

Capítulo XII A festa se segue, Mendonça dança com Eugênia

ganhando elogios de Dr. Matos, Camargo concorda, depois, Mendonça pede à Helena que lhe conceda uma dança que a nega, alegrando Estácio.

A jovem moça ocupada com os afazeres da festa dorme em um sofá, mas é interrompida por Camargo, alegando ele pedir um conselho, o que a faz ficar desconfiada.

Aqui se inicia um longo diálogo. Camargo alega querer fazer uma viagem, mas tem medo

de embarcar e deixar Eugênia sem estar casada com Estácio, que, segundo ele, está tendo umas mudanças de comportamento em relação ao amor que sente por sua filha. Daí o médico propõe que Helena intervenha, que logo pede para que o mesmo procure pelo Estácio, o médico reluta:

— Não havia inconveniente; estabeleceu-se, porém que um pai não deve ser o primeiro a falar em tais coisas. É preciso respeitar a dignidade paterna.

Acresce que Estácio é rico, e tal circunstância podia fazer supor de minha parte um sentimento de cobiça, que está longe de meu coração. Podia falar a D. Úrsula; creio, porém, que ela não tem a sua habilidade, e... por que o não direi? A sua influência no espírito de Estácio.

Camargo continua a insistir alegando que acredita na influência de Helena sobre Estácio, Helena então dá uma sugestão:

— Anuncie a viagem, e Estácio se apressará a pedir-lhe sua filha. Se o não fizer, é porque a não ama, conforme ela merece, e em tal caso mais vale perder um casamento do que o fazer mau.

O doutor finge aceitar e lança lhe uma ameaça: — Dá-me o seu braço até à sala? perguntou. Camargo sorriu. — Só isso? Eu dizia comigo outra coisa. — Que dizia então? perguntou Helena. — Dizia que muito se devia esperar da dedicação de

uma moça, que acha meio de visitar às seis horas da manhã uma casa velha e pobre, não tão pobre que a não adorne garridamente uma flâmula azul...

Helena fez-se lívida; apertou nervosamente o pulso de Camargo. Nos olhos pareciam falar-lhe ao mesmo tempo o terror, a cólera e a vergonha.

Através dos dentes cerrados Helena gemeu esta palavra única:

— Cale-se! Helena para o médico que ele era cruel, Camargo responde

contar com ela. Capítulo XIII-XV A moça chega ao quarto e chora, não consegue dormir, o

irmão se preocupa e fica pensando em pedir Eugênia, Helena chega ao escritório e cobra do irmão o pedido à Eugênia, Estácio promete pedi-la, mas mostra dúvidas sobre seus sentimentos. Helena o reprova e no dia seguinte Estácio entrega a carta à ela que deveria ser dada ao Dr. Camargo, não lê e pede ao escravo que entregue na mão do doutor.

A carta chega à família do médico, que após lê-la brada triunfos, dá o segundo beijo na filha, Eugênia ao receber a notícia só pensa na pompa do casório, Camargo fica a andar pela casa, quando o autor revela as suas intenções:

Não era fácil dar a Eugênia a felicidade que o pai ambicionava e a que mais lhe apetecia a ela. Posto não fosse perdulário, eram poucos os haveres do médico, de modo que a filha não podia caber pecúlio suficiente a satisfazer todas as veleidades. Ele espreitou durante longo tempo um noivo, armando com algum dispêndio a gaiola em que o pássaro devia cair. No dia em que percebeu a inclinação de Estácio, fez quanto pôde para prendê-lo de vez. Esperou muitos meses a iniciativa de Estácio; e quando ela lhe entrou a fugir para a região das coisas problemáticas, suspeitou a influência de Helena. Já era muito que esta moça diminuísse a herança do futuro genro; arrancar-lhe o genro era demais.

Camargo não hesitou um instante, foi direito ao fim. O resultado confirmou-lhe a suspeita.

O casamento era muito, mas não bastava. Camargo cuidara na carreira política de Estácio, como um meio de dar certo relevo público ao da filha, e, por um efeito retroativo, a

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ele próprio, cuja vida fora tanto ou quanto obscura. Se o marido de Eugênia se confinasse no repouso doméstico, entre a horta e a álgebra, a ambição de Camargo padeceria imenso. Vimo-lo apresentar a Estácio a maçã política; recusada a princípio, foi-lhe de novo apresentada, e finalmente aceita com a noiva. Esta dupla vitória foi o momento máximo da vida do médico. Ele ouvia já o rumor público; sentia-se maior, — antegostava as delícias da notoriedade, — via-se como que sogro do Estado e pai das instituições.

Entretanto um imprevisto ocorre, a madrinha de Eugênia, D. Clara na qual a família da moça fazia questão que ela fosse ao casamento, adoeceu, estava à beira da morte, e tudo teve que ser temporariamente adiado. Era uma senhora rica e Camargo, por interesse, quis visitá-la e resolve viajar com a família ao Cantagalo, Eugênia se recusa, mas Estácio contra sua vontade acaba cedendo e vai, ao se despedir de Helena, solicita que a mesma não saia a passeio sozinha, que o desobedece, vai à casinha velha, procura por alguém, pega um papel escreve algo, deixa embaixo da porta e vai embora.

Todos sentem falta do homem da casa, entretanto é nessa ausência que Mendonça começa a gostar de Helena que finge não perceber o interesse do rapaz.

Estácio envia uma carta demonstrando uma imensa saudade e pedindo respostas, livros e bordados. Vou fazer por voltar breve. Adeus, minha boa Helena; adeus, minha vida, adeus, ó mais bela e doce de todas as irmãs! Diz ele ao final da carta.

Capítulo XVI Ao longo do dia, Mendonça tenta se aproximar de Helena e

não é bem sucedido, o rapaz por fim decide se declarar para ela em breve.

Depois a moça vai à capela, assisti a missa e entrega a carta de Estácio ao padre que lê a do rapaz e a resposta da moça. Depois saem para almoçar, o padre lhe sugere casamento e ela reluta, depois pede ao padre que sonde o coração de Mendonça, e sugere que pode também amá-lo.

No meio do almoço o padre pega a mão dos dois e declara saber que Mendonça ama Helena, e que Helena pode amá-lo, o rapaz nem acredita, acha ser um sonho, garante após recuperar a fala que seria sua maior honra e glória, a moça se resigna ao silêncio e aprovando as palavras do padre.

Capítulo XVII Mendonça, empolgado com a novidade, não podia

acreditar, radiava felicidade e escreve para Estácio narrando os últimos eventos em relação à sua irmã e pedindo seu consentimento.

Estácio quando recebe a carta fica espantado e decidi voltar imediatamente ao Andaraí, chegando, todos se alegram e Estácio conduz Mendonça ao quarto para conversar, o amigo revela amar Helena, Estácio o trata com frieza e sai para consultar Helena dizendo poucas palavras ao amigo.

Capítulo XVIII Somente no dia seguinte a conversa entre os irmãos

ocorre, Estácio alega que a moça está se sacrificando casando com um homem que não a ama, pois a mesma já havia dito que amava uma pessoa.

Helena responde que não, procurava alguém que a amava, o resto era ilusão ou fantasia que havia passado, Estácio não acredita na irmã e diz que não consentirá o casamento.

O rapaz sai a procura do padre que não entende o porquê do não consentimento do rapaz. Eis a justificativa:

— Porque não desanimo de descobrir a pessoa a quem Helena entregou o coração. Talvez ela ache impossível

aquilo que é simplesmente difícil. Demais, não esqueçamos que Helena mal tem dezessete anos.

Depois critica o amigo: — Mendonça é bom coração, disse ele; mas não possui

as qualidades que, em meu entender, devem distinguir o marido de Helena. Nunca exercerá sobre ela a influência que deve ter um marido. Entre os dois inverte-se a pirâmide. Mas isto, ao menos, se destruía uma das condições do casamento, podia conservar a felicidade doméstica. O perigo maior é outro; é vir ele a perder a estima da mulher. Nesse caso, que lhe daríamos nós a ela? Um casamento aparente e um divórcio real.

Após as tentativas do padre, Estácio não volta atrás: — Pois bem, disse Estácio, como concluindo um

raciocínio interior; consinto em que Helena se case, mas procuremos outro marido. Mendonça, não; há de ser outro. Vou casar-me também; receberei todas as semanas; algum rapaz aparecerá que a mereça e de quem ela venha a gostar seriamente... É a minha última resolução.

Capítulo XIX Estácio encontra Mendonça chegando à capela, o jovem

matemático dá a sua opinião o que contraria a todos, Mendonça fica decepcionado e se retira do Andaraí, o padre tenta ainda conciliá-los, sem sucesso, Helena e Estácio brigam, mas a moça, como sempre, convence a chamar novamente o amigo e faz que seu irmão aceite o casamento.

Helena escreve um bilhete pedindo a Mendonça que volte. Capítulo XX e XXI Estácio vai com o padre atrás de Mendonça que já

esperava por aquela visita, mas o clima ainda é tenso, Helena se diz disposta a casar, chega a se comparar a um exército em sentido à sua decisão.

Foi após isso que Estácio decide caçar, depois de fracassadas tentativas, vê o pajem de Helena, a quem a mesma já havia pedido sua liberdade, conduzindo a mula e a égua, ele se esconde e fere sua mão na certa, e vê a saída de Helena em direção à casa de bandeira azul onde ela havia desenhado o quadro que dera a ele. Após a saída dela, ele vai até lá, sobre o pretexto da mão ensanguentada, e entra, o homem mesmo pobre o recebe muito bem, Estácio ao estar recebendo os cuidados o observa:

Era um homem de trinta e seis a trinta e oito anos, forte de membros, alto e bem proporcionado. Uma cabeleira espessa e comprida, de um castanho escuro, descia-lhe da cabeça até quase tocar nos ombros. Os olhos eram grandes, e geralmente quietos, mas riam, quando sorriam os lábios, animando-se então de um brilho intenso, ainda que passageiro. Havia naquela cabeça, — salvo as suíças, — certo ar de tenor italiano. O pescoço, cheio e forte, surgia dentre dois ombros largos, e, pela abertura da camisa, que um lenço atava frouxamente na raiz do colo, podia Estácio ver-lhe a alva cor e a rija musculatura. Vestia pobre, mas limpamente, um rodaque branco, calça de ganga e colete de brim pardo. O vestuário, disparatado e mesquinho, não diminuía a beleza máscula da pessoa; acusava somente a penúria de meios.

E depois o deixa dizendo que se desejasse poderia dar-lhe melhor condição de vida, o homem recusa a oferta.

No jantar de volta a casa ele continua a desconfiar da irmã e se resigna ao escritório.

Capítulo XXII Helena visita o irmão cobra a sua presença na casa; não

obtém resposta, começa a perguntar o que houve, quando ele vai e pega o quadro na parede e aponta para a casa da bandeira

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azul. Helena treme, Estácio arremessa o quadro e ela corre pelo corredor.

Dr. Úrsula visita o rapaz que tem algo a dizer, mas só depois, em seguida a tia vai a Helena, que pouco fala e também nada revela.

Estácio fica preocupado e com medo dos escravos desconfiarem do que se passava dentro da casa.

Manda chamar Pe. Melchior, após se reunirem, ele conta o que vira. Dr. Úrsula fica arrasada, o padre pede que ela saia e fica sozinho com Estácio que aguarda para ouvir o capelão.

Dr. Camargo, por carta, manda avisar que D. Clara morrera e que em breve estará de volta.

Capítulo XXIII O padre pergunta se o rapaz acredita em Deus e diz que o

mesmo esteve à beira do abismo do pecado, o jovem diz não entender, quando ele revela:

— Estácio, disse Melchior pausadamente, tu amas tua irmã.

Aquilo deixa-o aterrado de pavor, de medo e de horror, tenta falar e não consegue, nega. Melchior não aceita as alegações e ao sair faz jurar que tratará Helena como uma estranha e que só falará com ela depois de amanhã. A promessa é feita frente ao crucifixo e a benção do padre.

Capítulo XXIV Em meio ao escândalo, a tensão se instaura na casa, o

clima fica tenso. Vicente procura o padre e diz saber de algo que pode salvar a reputação de sua senhora, mas com a chegada de um escravo e estando escuro, o pajem beija-lhe a mão e se retira.

Mendonça escreve perguntando se há doença na casa. No dia seguinte o padre se encontra com ela do lado de

fora, D. Úrsula vai chamar Estácio, enquanto isso o padre diz que Vicente o procurara e que o jovem rapaz havia dito que o homem com quem Helena se encontrava era seu irmão, e que nenhum mal havia nisso.

Helena o desmente, entrega uma carta e diz que após a leitura dela a relação com aquela família estará acabada.

Estácio chega, o padre já tem lido e entrega ao jovem matemático a carta, lá dizia:

“Minha boa filha. Sei pelo Vicente que alguma coisa aí há que te aflige. Presumo adivinhar o que é. O Estácio esteve comigo, logo depois que daqui saíste a última vez. Entrou desconfiado, e deu como razão ou pretexto a necessidade de curar algumas feridas feitas na mão. Talvez ele próprio as fizesse para entrar aqui em casa. Interrogou-me; respondi conforme pedia o caso.

Supondo que ele soubesse de tuas visitas, não lhe ocultei a minha pobreza; era o meio de atribuí-las a um sentimento de caridade. A virtude serviu assim de capa a impulsos da natureza. Não é isso em grande parte o teor da vida humana? Fiquei, entretanto, inquieto; talvez lhe não arrancasse o espinho do coração. Pelo que me disse o Vicente, receio que assim acontecesse. Conta-me o que há, pobre filha do coração; não me escondas nada. Em todo caso, procede com cautela. Não provoques nenhum rompimento. Se for preciso, deixa de vir aqui algumas semanas ou meses. Contentar-me-ia a idéia de saber que vives em paz e feliz. Abençôo-te, Helena, com quanta efusão pode haver no peito do mais venturoso dos pais, a quem a fortuna, tirando tudo, não tirou o gosto de se sentir amado por ti. Adeus. Escreve-me. —Salvador.”

“P.S. Recebi o teu bilhete. Pelo amor de Deus, não faças nada; não saias daí; seria um escândalo.”

Tudo começa a ficar confuso, o padre ainda tenta retirar de Helena alguma confissão, mas de nada adianta, então eles resolver ir até a casa de Salvador, o real pai de Helena.

Capítulo XXV O padre e Estácio vão até Salvador, mostram a carta e ele

se propõe a contar toda a história. Aqui narra sua tragédia e suas angústias e suas dores. Ângela era filha de um nobre lavrador no Rio Grande do

Sul, linda e bela, ele era filho de um homem que tinha boas condições e que queria o seu progresso, que estudasse.

Impelidos pelo amor, fogem e vivem na miséria, nem sequer casam, o amor entre os dois só aumentava, Salvador trabalhava com bastante vigor e sacrifício, tivera várias profissões, o salário é que não compensava muito.

Quando tudo parecia estar perdido nasce Helena, era o motivo de sua vida:

Os senhores não são pais; não podem avaliar a força que possui o sorriso de uma filha para dissolver todas as tristezas acumuladas na fronte de um homem. Muita vez, quando o trabalho me tomava parte da noite, e eu, apesar de robusto, me sentia cansado, erguia-me, ia ao berço de Helena, contemplava-a um instante e parecia cobrar forças novas. Se o próprio berço era obra de minhas mãos! Fabriquei-o de alguns sarrafos de pinho velho; obra grosseira e sublime; servia a adormecer metade da minha felicidade na terra.

Depois sabe que o pai está doente, vai ao encontro dele e lá falecendo o pai retorna para sua família depois de um tempo, no entanto ao chegar, fica sabendo que sua esposa está de vida nova morando em São Cristóvão, vai ao encalço dela e descobre que Ângela está morando com o conselheiro Vale.

Aquilo o arrasa, pensa em apelar para a violência, queria resgatar Helena, mas ela rogava implorava e pedia que não.

Salvador vivia na espreita a vigiá-los até que um dia uma cena que ele presencia muda tudo:

O conselheiro erguera-se, tendo nos braços Helena, que já não chorava. Ele beijava-lhe as mãozinhas e dizia-lhe: “Se papai foi para o céu, fiquei eu no lugar dele, para dar-te muito beijo, muito doce e muita boneca. Queres ser minha filha?” A resposta de Helena foi a do náufrago; estendeu-lhe os braços em volta do pescoço, como se dissesse: “Se não tenho ninguém mais no mundo!” O gesto foi tão eloqüente que eu vi borbulhar uma lágrima nos olhos do conselheiro. Essa lágrima decidiu do meu destino; vi que ele a amava, e de todos os sacrifícios que o coração humano pode fazer, aceitei o maior e mais doloroso: eliminei a minha paternidade, desisti da única herança que tinha na terra, força da minha juventude, consolo de minha miséria, coroa de minha velhice, e voltei à solidão mais abatido que nunca!

A partir daí ele chora e interrompe a narrativa. Capítulo XXVI Salvador se recompõe e continua, diz que aos 12 anos

Helena o reconheceu na rua e o abraçou, o pai fizera a moça prometer que não o vira, e ela cumpre.

Depois começa a visitar a filha para isso, deixava de comer para dar dinheiro a uma escrava que intermediava o encontro.

Fica sabendo da morte de Ângela, depois de cinco ano morre conselheiro Vale, e quando soube do testamento nada pode fazer.

Capítulo XXVII O pai de Helena diz que se a família não a quiser mais ele

a quererá. Estácio sai com padre sem saber o que fazer, Melchior

orienta a deixar as coisas como estão, mas o jovem não a quer como irmã, o padre sabe o porquê:

— Estácio! disse o padre, depois de olhar para ele um instante. Compreendo, quisera despojar Helena do título que seu pai lhe deixou, para lhe dar outro, e ligá-la à sua família por diferente vínculo...

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Ao chegarem, Helena vai ao encontro deles e a família demonstra seu desejo de tê-la na casa, mas Helena se diz não merecedora de tal obséquio e pede meio que querendo que não que a permita ir embora. Estácio nega. Recebe depois uma carta de Salvador dizendo que estava indo embora.

Capítulo XXVIII Estácio se encontra arrebatado de amores por Helena,

aquilo lhe consumia, mas decidi escrever a Mendonça, para se adiantar pois queria apressar o seu casamento.

Helena a cada dia vai ficando mais triste, o padre sugeri que vigiem, pois todos temiam que cometessem suicídio. O jovem matemático frente a um tanque e pede que entre, ela pede tempo, estava molhada, Estácio tenta convencê-la e trocam olhares, olhares de amor e paixão. Quando começa os indícios de chuva ele a traz, mas quando chove ela corre pela chuva, Estácio a agarra e a traz de volta. Helena vá se encontrava fraca e com muita febre.

A partir de então a luta na casa pela vida de Helena é constante, Estácio resolve ir atrás do pai, de nada adianta. Camargo chega, Eugênia tenta lhe dar forças. Estácio e Mendonça choram agarrados no jardim.

Mandam chamá-lo, Helena morre em seus braços. Todos sofrem, principalmente Estácio:

Sozinho com Estácio, o capelão contemplou-o longo tempo; depois, alçou os olhos ao retrato do conselheiro, sorriu melancolicamente, voltou-se para o moço, ergueu-o e abraçou com ternura.

— Ânimo, meu filho! disse ele. — Perdi tudo, padre-mestre! gemeu Estácio. Ao mesmo tempo, na casa do Rio Comprido, a noiva de

Estácio, consternada com a morte de Helena, e aturdida com a lúgubre cerimônia, recolhia-se tristemente ao quarto de dormir, e recebia à porta o terceiro beijo do pai.

Exercícios – HELENA

01. Em Helena, podemos afirmar: a) É uma narrativa homodiegética. b) Pertence ao romance regionalista. c) Tem como espaço central o Rio de Janeiro. d) Tem como temática central o amor de Estácio e

Helena.

02. Machado de Assis, ao escrever Helena, fugiu dos padrões da escola, pois: a) Representa um amor idealizado. b) Representa o catolicismo como um mal social. c) Representa Helena despida da ideologia

romântica. d) Representa uma crítica social forte aos padrões

burgueses da época.

03. Sobre o estilo e linguagem machadiano assinale o item incorreto: a) "elementos barrocos" (dualidade, dúvida, exagero

lírico. b) "resíduos românticos" (narrativas convencionais ao

enredo). c) "aproximações realistas" (atitude crítica,

objetividade, temas contemporâneos). d) "procedimentos impressionistas" (recriação do

passado através da memória).

04. Em Helena, encontramos logo no primeiro capítulo a situação que irá desencadear o conflito da trama, que seria: a) A descoberta de Helena no testamento. b) A morte de Conselheiro Vale.

c) O mistério de Dr. Camargo a respeito do testamento.

d) A forma misteriosa da morte do Conselheiro Vale.

05. Ao saberem do testamento, descobrem que há a presença de um terceiro na herança, com relação à reação, podemos afirmar: a) Estácio contesta o testamento e diz que foi

falsificado. b) D. Úrsula aceita de bom grado, mas Dr. Camargo

contesta a ordem de Conselheiro. c) D. Úrsula se põe contra a vinda da moça e Estácio

também. d) Estácio está disposto a obedecer ao pai, mas D.

Úrsula não a quer na casa.

06. Helena vai aos poucos ganhando o encanto das pessoas, isso se dava por várias razões, exceto: a) Pela origem misteriosa da moça. b) Pelas suas habilidades na pintura, na costura e na

leitura. c) Pela sua jovial e bela aparência. d) Pelo fato de que se mostrava ser uma moça

ingênua e simples.

07. Sobre o Dr. Camargo, assinale o item correto: a) Era o médico da família, seu maior desejo era

casar Eugênia com Estácio, visava apenas o dinheiro do rapaz.

b) Era amigo e médico da casa, homem humilde e sem traços de maquiavelismo.

c) Era casado com D. Tomásia e tinha uma filha Aurélia Camargo.

d) Tinha como grande objetivo o casamento da filha com Luís Mendonça, amigo de Estácio

08. A filha de Dr. Camargo era: a) Helena b) D. Ângela c) Eugênia d) D. Clara

09. Sobre os três beijos que Dr. Camargo dá a filha é

correto afirmar: a) O primeiro se dá quando ocorre o aniversário de

Estácio. b) O segundo se dá quando chega a carta de Estácio

pedindo sua filha em casamento. c) O terceiro ocorre quando descobrem que Helena

adoecera. d) O terceiro e segundo beijo ocorrem

simultaneamente quando Helena morre.

10. Esses três beijos do médico representam dentro da história: a) O resquício de bondade existente no coração de

Camargo. b) Os interesses do médico que vão sendo

alcançados ao longo da narrativa. c) Os momentos de infelicidade na vida do médico. d) O amor que tinha pela sua filha.

11. Estácio e Helena vão se conhecendo, Helena vai a

cada passo conquistando a confiança de todos, D. Úrsula adoece, a moça cuida dela, quando Estácio recebe a visita de seu amigo que havia lhe escrito falando de sua chegada, esse seria: a) Luís Mendonça b) Macedo c) Vicente d) Dr. Matos