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Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e Pós-Graduação do ITA – XVII ENCITA / 2011
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil, 19 de outubro de 2011
HÉLICES – ANÁLISE TEÓRICA E EXPERIMENTAL
Luís Gustavo Leandro de Paula Graduando em Engenharia Aeronáutica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Bolsista PIBIC-CNPq
Cristiane Aparecida Martins Departamento de propulsão, Instituto Tecnológico de Aeronáutica. cmartins@ ita.br
Resumo. Tem-se por proposta nesse trabalho a busca pelo desenvolvimento de uma ferramenta computacional à baixo custo capaz
de determinar dentre um conjunto de hélices de configuração mais adequada em desempenho para o regime de operação de um
VANT (Veículo Aéreo Não Tripulável). Utilizou-se por base a Teoria Simples dos Elementos de Pá como modelo dinâmico da hélice
em atuação, pelo fato tanto de viabilizar um algoritmo de custo operacional relativamente baixo, quanto pela possibilidade de
indicar comparativamente as características da hélice em condições de voo pré-estabelecidas. Não obstante, além do propósito
estabelecido, pode-se incluir a viabilidade de empregar a ferramenta como instrumento educacional, tendo em vista a constante
necessidade de procedimentos numéricos na apresentação da Teoria Simples de Elementos de Pá. A fim de proceder com a
validação do algoritmo implementado, utilizaram-se dados de entrada fornecidos pelo fabricante das hélices escolhidas. Tal
escolha foi restrita aos dados de ensaio em túnel existentes na literatura com os modelos de hélices especificados, de modo que
possa se proceder com as comparações e análise necessárias entre os resultados computacionais e experimentais.
Palavras chave: Propulsão, hélices, desenvolvimento computacional.
1. Introdução
A finalidade do sistema moto-propulsivo em um determinado veículo constitui-se primordialmente da conversão de
um tipo específico de energia – tal como a energia proveniente da combustão – em energia cinética de translação. A
hélice, portanto, representa um elemento desse sistema cujo objetivo é o fornecimento de tração ao custo da potência
oriunda do motor utilizado. Tal procedimento apenas será realizado por intermédio de um fluido, visto que se fornece a
certa massa de fluido movimento na direção oposta a que se deseja conduzir o veículo. No entanto, ao longo desse
processo existem certas perdas energéticas associadas, por exemplo, a fricção entre o corpo e o próprio fluido. Surge,
pois, a necessidade de se determinar a eficiência da hélice a fim de se determinar as condições viáveis de operação.
O modelo em que o programa desenvolvido se baseia constitui-se da Teoria Simples de Elementos de Pá conforme
Weick (1930), sendo assim se tem por resultados as estimativas da distribuição de tração e de torque no diâmetro da
hélice, assim como a eficiência no regime de voo estabelecido. O ambiente selecionado para o desenvolvimento do
algoritmo constitui essencialmente o programa EXCEL® e o EXCEL VBA®, os quais possibilitam ao usuário a
visualização organizada das informações no formato de tabelas; facilitando, pois, na compreensão dos cálculos
desenvolvidos. Deve-se atentar que tal compreensão é necessária caso haja a necessidade de adaptação da planilha para
diferentes análises.
Do ponto de vista educacional, a apresentação de modelos básicos associados ao cálculo de eficiência em hélices
representa não somente a introdução para abordagens mais complexas, mas também um desenvolvimento da variedade
de ferramentas passíveis de serem utilizadas. Sendo assim, a aplicação prática da Teoria Simples dos Elementos de Pá
apresenta-se de forma construtiva no processo de aprendizagem. Além disso, a implementação de um dispositivo
computacional, conforme posteriormente desenvolvida, possibilita tanto a execução de operações matemáticas com
maior velocidade, quanto também a associação de programas previamente disponíveis para a execução de tarefas
distintas. Tem-se por necessidade na Teoria Simples dos Elementos de Pá o uso de coeficientes aerodinâmicos de
sustentação e de arrasto relativamente aos perfis em estações preestabelecidas ao longo da hélice. A determinação
desses parâmetros experimentalmente pode representar um custo operacional relativamente elevado ao se analisar
hélices cujo perfil é variável ao longo do diâmetro por exemplo. Dessa forma, optou-se pela associação do freeware
Xfoil® com o algoritmo desenvolvido, de modo que seja possível utilizar a estimativa dos coeficientes aerodinâmicos
calculados pelo próprio Xfoil®.
2. Modelo: Teoria Simples de Elementos de Pás
Tabela 1- Determinação das variáveis utilizadas ao longo do relatório.
ρ Densidade do ar
µ Viscosidade do ar
Di Diâmetro da hélice
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,
R Raio da hélice
b Corda do elemento de pá
n Frequência de rotação
α Ângulo de ataque do elemento
β Ângulo de passo geométrico do elemento de pá
ϕ Ângulo de passo efetivo do elemento de pá
Coeficiente de arrasto
Coeficiente de sustentação
Coeficiente de tração
Coeficiente de torque
ɳ Eficiência da hélice
B Quantidade de pás
L Sustentação
D Arrasto
O modelo teórico apresentado pela Teoria Simples dos Elementos de Pá, apesar de publicado inicialmente por W.
Froude (1810-1879) em 1878 e posteriormente aprimorado por W. Lanchester (1868-1946) em 1885 é atribuído ao
cientista polonês S. Drzewiecki (1844-1938), devido ao fato de que o mesmo foi responsável pela aplicação prática e
difusão da teoria. A Teoria Simples dos Elementos de Pá considera a hélice formada de elementos infinitesimais no
formato de aerofólios ao longo do raio de cada pá, os quais são caracterizados individualmente, conforme ilustrado na
Figura 1.
Figura 1. Interpretação por aerofólios infinitesimais.
Tem-se por hipótese, considerando uma análise fluidodinâmica bidimensional em cada plano, a independência
relativamente à vizinhança do elemento em estudo. As comprovações que sustentam a veracidade dessa afirmação para
essa finalidade são realizadas experimentalmente pelo trabalho Lock et al. (1921). Deve-se notar ainda que cada
elemento é dotado de movimento proveniente da superposição da translação e da rotação, cujos módulos das
velocidades são representadas respectivamente por e . O módulo da velocidade total do elemento é
representado, por sua vez, como . Sendo assim, para cada plano de secção observa-se uma configuração conforme
explicitado pela Figura 2.
Figura 2. Configuração fluidodinâmica, cinemática e geométrica de um elemento arbitrário.
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,
A trajetória desenvolvida no espaço por um elemento de pá genérico está explicitada na Figura 3 juntamente com a
planificação desse movimento ao longo de um período a fim ilustrar os ângulos de passo geométrico e de passo efetivo
relativamente a esse elemento genérico.
Figura 3. Trajetória de um elemento genérico da hélice e a planificação da mesma.
Pode-se aplicar, consideradas as devidas hipóteses, a seguinte expressão para a força de sustentação no perfil
elementar:
21
2r LdL V C bdr
(1)
Pela geometria da Figura 2 tem-se que:
cosdL dR
(2)
2
2
1
2 cos
trans LV C bdrdR
sen
(3)
arctandD
dL
(4)
Sendo assim, o elemento infinitesimal de tração é dado por:
cos( )dT dR (5)
2
2
cos( )1
2 cos
trans LV C b drdT
sen
(6)
Adotando-se, por conveniência, a seguinte representação dos termos da Eq. (6):
2 cos
LC bK
sen
(7)
cos( )CT K (8)
Ao integrar a Eq. (6) relativamente ao raio tem-se o seguinte resultado para a tração de uma hélice com uma
quantidade B de pás:
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,
2
0
1
2
R
trans CT V B T dr (9)
De acordo com o tratamento infinitesimal adotado, a componente horizontal dF da resultante de forças
provenientes do ar, é responsável pelo torque. Sendo assim, tem-se que:
dQ rdF (10)
( )dF dRsen (11)
Por meio da Eq. (3), é possível determinar analogamente a seguinte expressão para o torque:
2
0
1
2trans
R
CQ V B Q dr (12)
Pela definição de eficiência de uma hélice tem-se o seguinte resultado:
Taxa de Trabalho util da helice
Taxa de Energia fornecida pelo motor
util
fornecida
W
E
(13)
Dada as seguintes equações, tem-se por resultado:
util transW TV (14)
A taxa de energia fornecida pelo motor corresponde à potência do mesmo:
2fornecidaE nQ
(15)
2
transTV
nQ
(16)
Pode-se observar que as expressões Eq. (9), Eq. (12) e Eq. (16) correspondem às estimativas de propriedades da
hélice, dependendo exclusivamente da geometria, fluidodinâmica e cinemática da mesma. Apesar da Teoria Simples
dos Elementos de Pá descrever mais detalhadamente o comportamento de uma hélice, existem considerações e
características que não são abordadas, as mesmas são enumeradas a seguir:
a) Não se leva em consideração a interferências entre as pás, a qual se mostra bastante presente conforme o
aumento da frequência de rotação e nas regiões mais próximas à raiz conforme Weick (1930);
b) Os efeitos de ponta de asa são desprezados, sendo que os valores de torque e tração computados em regiões mais
próximas à ponta da asa são maiores do que os resultantes experimentalmente de acordo com Weick (1930);
c) Os cálculos fluidodinâmicos devem ser realizados baseando-se na direção média do fluxo de fluido, no entanto
aproxima-se essa direção pela direção de entrada do fluxo. Observa-se, no entanto, que os perfis alteram a
direção desse fluxo relativamente ao de entrada, resultados experimentais do trabalho Fage e Howard (1921)
explicitam a diferença entre os coeficientes aerodinâmicos experimentais e os calculados assumindo a suposição
de que a direção do fluxo não é alterada;
d) Resultados de experimentos do trabalho de Durand e Lesley (1924) comprovam a baixa exatidão desse modelo
quando aplicado; restringindo, pois, o uso da teoria na sua forma mais simples a processos de comparação e
aproximação de estimativas.
Ainda assim, apesar de não descrever fielmente a realidade, o modelo adotado utilizando-se dessa teoria se mostra
mais simplificada para uma aplicação computacional. Além disso, o fato de utilizar a mesma com o objetivo de
comparar o desempenho de hélices conforme sugerido em Durand e Lesley (1924) pode representar uma análise de
desempenho por uma perspectiva diferente.
Outra teoria básica fundamentada na mesma estrutura matemática da Teoria Simples dos Elementos de Pá
representa a combinação da mesma com a Teoria do Momentum, presente em Weick (1930), passível também de
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,
aplicação nesse contexto. Contudo, de um ponto de vista prático, a Teoria Simples dos Elementos de Pá apresenta
resultados mais próximos a realidade, apesar de descrever a realidade de forma limitada. Já relativamente a Teoria
Simples dos Elementos de Pá com correção de Interferência em Multiplanos e a Teoria de Vortex para Hélices, as quais
são inclusas no mesmo conjunto de teorias básicas, a teoria adotada apresenta resultados com menor precisão quando
comparados, no entanto a aplicação computacional dessas exige maiores informações a respeito da natureza
aerodinâmica dos elementos da hélice; acarretando, pois, em uma dependência de dados de entrada oriundos de ensaios
em perfis.
3. Desenvolvimento
De acordo com as expressões apresentadas pela Teoria Simples dos Elementos de Pá, tem-se que a determinação da
eficiência de uma hélice depende de ensaios aerodinâmicos prévios - devido a presença de coeficientes de sustentação e
arrasto - e amplo conhecimento a respeito da distribuição geométrica da mesma. De certa forma, as equações indicadas
pela Eq. (9), Eq. (12) e, por conseguinte, pela Eq. (16) apresentam cálculos matemáticos trabalhosos tendo-se em vista a
dificuldade de se proceder com integração ao longo do raio de uma pá analiticamente.
Optou-se, portanto, pela integração numérica pelo método trapezoidal, ou seja, a resolução da integral pode ser
desenvolvida a partir de informações de uma quantidade finita de estações. Deve-se notar, contudo, que quanto maior a
quantidade de estações menor será o erro associado ao método empregado. Além disso, o emprego desse método
permite uma manipulação maior na planilha mais maleável, isto é, as restrições para se realizar uma adaptação são
reduzidas. Tem-se ainda que, ao contrário de outros métodos de integração numérica, tais como os de Simpson, não há
a necessidade de que o espaçamento entre as estações escolhidas seja igual, fato que acarreta em uma maior qualidade
das medições na hélice em estudo e, portanto, um maior trabalho ao usuário.
No desenvolvimento do algoritmo capaz de realizar estimativas da eficiência, deve-se considerar a disponibilidade
de banco de dados a respeito de propriedades aerodinâmicos dos perfis localizados nas estações selecionadas. Afinal, a
utilização de fatores aerodinâmicos é observada nas equações Eq. (1) e Eq. (4), a partir das quais a Teoria dos
Elementos de Pá é construída. Sendo assim, a fim de se reduzir custos, adota-se o programa Xfoil®, o qual fornece
estimativas dos coeficientes de arrasto e sustentação por meio de um código baseado no método dos painéis. A partir
desses valores é possível realizar a estimativa do ângulo referente a Eq. (4). Deve-se observar, pois, que o vínculo
estabelecido entre o algoritmo desenvolvido e o programa em questão restringe os resultados às condições de
convergênia e a disponibilidade do perfil para introduzir do Xfoil®. Caso o perfil não esteja disponível no Xfoil®, pode-
se verificar em algum banco de dados que contém os arquivos de coordenadas, sendo um deles o UIUC Airfoil
Coordinates Database desenvolvido pela UIUC (University of Illinois at Urbana-Champaign).
Os dados de entrada para o Xfoil® correspondem ao tipo de perfil selecionado, o ângulo de ataque e o número de
Reynolds referente ao elemento em estudo. Deve-se observar que as dimensões do perfil são padronizadas, sendo
necessário adaptar o número de Reynolds. As equações Eq. (17) e Eq. (18) são utilizadas para se calcular os dados de
entrada a serem repassados do EXCEL® para o do Xfoil®.
(17)
Re rbV
(18)
Sendo assim, com os coeficientes de sustentação e arrasto determinados a partir do Xfoil, a expressão referente à
Eq. (4) pode ser modificada levando-se em consideração a Eq. (1) e posteriormente a Eq. (20) pode ser utilizada:
21
2r DdD V C bdr (19)
arctan D
L
C
C
(20)
O ambiente de programação selecionado constitui a plataforma EXCEL® de modo que a apresentação de dados se
organize no formato de tabelas e também seja possível a contrução de macros no ambiente do EXCEL VBA®
(Microsoft Visual Basic for Applications). Os dados de entrada, classificadas de acordo com a Figura 4, são
introduzidos diretamente na planilha do Excel® na Tabela I apresentada na Figura 7. Pode-se observar que, caso não
seja de conhecimento prévio, os dados geométricos devem ser obtidos através de medições.
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Figura 4. Diagrama de dados de Entrada.
Por meio do EXCEL VBA®, foram desenvolvidas duas macros nomeadas por: ComandoXfoil e integraltrapz. A
macro ComandoXfoil é responsável pela estimativa dos coeficientes de sustentação e arrasto dos elementos por
intermédio do programa Xfoil®. Os dados de necessários para esse processo correspondem ao α e Re dos elementos, os
quais são calculados a partir dos dados de entrada contidos na Tabela I. Para tanto, são criados arquivos contendo os
comandos a serem executados para o Xfoil® (.vbs) e a inicialização do mesmo através do MS-DOS® (.bat). Os
resultados são exportados em um arquivo de texto, sendo realizada a leitura desse para atribuir os valores
correspondentes aos coeficientes na Tabela I. Esse procedimento, conforme ilustrado pela Figura 5, é realizado
iterativamente para efetuar os cálculos em todos os elementos definidos.
Figura 5. Processos de cálculo dos coeficientes aerodinâmicos por meio do Xfoil®.
Já a macro integraltrapz corresponde ao cálculo numérico da integral por meio do método trapezoidal. Os resultados
são automaticamente expressos na Tabela II, apresentada na Figura 8, pelo algoritmo. Ao se integrar essas rotinas, o
algoritmo final é representado pelo fluxograma pela Figura 6.
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Figura 6. Fluxograma do algoritimo final.
As Figuras denotadas por Figura 7, Figura 8 e Figura 9 representam partes da planilha no Excel® que correspondem
respectivamente às tabelas mencionadas por Tabela I e II e à tabela de propriedades do ar. A fim de auxiliar a
interpretação das mesmas a Figura 10 explicita as legendas presentes também no mesmo arquivo no Excel®.
Figura 7. Parte da planilha desenvolvida no Excel® referente a Tabela I.
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Figura 8. Parte da planilha desenvolvida no Excel® referente a Tabela II.
Figura 9. Parte da planilha desenvolvida para entrada de propriedades do ar.
Figura 10. Legendas referentes às Tabelas I e II.
Algumas configurações devem ser realizadas previamente à execução das macros pelo usuário no programa. Essas
configurações constituem opções tanto do Xfoil®, quanto do próprio algoritmo e as mesmas são explicitadas pela
Figura 11. É importante observar a necessidade de informar o diretório no qual se encontra o programa Xfoil® e
também, caso não exista na biblioteca do próprio Xfoil®, é necessário introduzir diretamente na Tabela I o diretório do
arquivo que contém o perfil, possibilitando também a situação em que os perfis são diferentes nas estações.
Figura 11. Configurações realizadas na planilha do Excel.
4. Resultados
As hélices de modelos APC 12x12E e APC 16x12E, apresentadas na Figura 12 , foram selecionadas para se
realizar análises, sendo que foram utilizados os dados experimentais dos ensaios conduzidos em Merchant (2004). Os
dados de entrada geométricos correspondem às informações oriundas de arquivos fornecidas pelo fabricante.
Inicialmente, introduziram-se os endereços referentes aos arquivos que contém os perfis fornecidos pelo fabricante.
Tais perfis e as respectivas estações são explicitados para o caso da hélice APC 12x12E na Figura 13.
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,
Figura 12. Hélices de modelo (a) APC 12x12E (b) APC 16x12E. (adaptado de
http://www.innov8tivedesigns.com/popup_image.php?pID=763&osCsid=ugotqkmw e
http://hobbyfly.de/en/popup_image.php?pID=2957&TB_iframe=true&width=995&height=595).
Figura 13. Perfis nas estações analisadas, sendo X a distância da raiz da hélice em polegadas.
Utilizaram-se dados de entrada em concordância com os ensaios desenvolvidos por Merchant (2004), cujos
resultados de eficiência para as hélices estudadas são dados pela Figura 14.
Figura 14. Resultados experimentais para a (a) hélice APC 12x12E (Merchant, 2004) e para a (b) hélice APC 16x12E
(Merchant, 2004).
A partir de dados fornecidos pelo fabricante é possível determinar o comportamento do ângulo geométrico e da
corda relativamente ao raio da hélice. A partir do software MatLab®, ajustaram-se polinômios cujo desvio apresenta-se
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relativamente pequeno dentre as opções fornecidas pelo programa. Logo, obtiveram-se os resultados apresentados na
Figura 15 e Figura 16.
Figura 15. Ajuste polinomial para o ângulo geométrico da (a) hélice APC 12x12E e da (b) hélice APC 16x12E ao longo
do raio.
Figura 16. Ajuste polinomial para a corda da (a) hélice APC 12x12E e da (b) hélice APC 16x12E ao longo do raio.
A partir da expressão analítica do polinômio referente à corda, pode-se determinar o valor aproximado desse
parâmetro nas estações as quais se tem conhecimento dos perfis. Sendo assim, esses valores são introduzidos na Tabela
I. Tal procedimento se mostra necessário visto que o conjunto de distâncias nas quais o valor da corda é conhecido não
incluem aquelas em que se tem o formato dos perfis (Figura 13).
Por meio do polinômio referente ao ângulo geométrico é possível determinar os valores de ângulo de ataque por
meio da Eq. (17), Eq. (21) e da definição de coeficiente de avanço dado pela Eq. (22).
arctan trans
rot
V
V
(21)
transVJ
n Di (22)
Dado que Di representa o diâmetro da hélice em análise. Dessa forma, tem-se a Eq. (23) para o ângulo de ataque.
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,
( , ) ( ) arctan
2
J DiJ r r
r
(23)
Os regimes de operação os quais se pretende analisar correspondem ao intervalo de 0 a 1 do coeficiente de avanço.
Em busca da convergência dos parâmetros aerodinâmicos oriundos do próprio Xfoil®, optou-se por realizar uma
restrição prévia de modo que fosse limitado o valor absoluto do ângulo de ataque ao de máximo de 10 graus para todas
as estações em que se conhece o perfil. Com o auxílio do software Mathematica® determinou-se então o gráfico
referente à Eq. (23) juntamente com o plano de referência de 10 graus, conforme ilustrado na Figura 17 para o caso da
hélice APC 12x12E.
Figura 17. Gráfico do ângulo de ataque pelo coeficiente de avanço e pela distância até a raiz para a hélice APC 12x12E.
Logo, para que os valores de ângulo de ataque permaneçam abaixo de 10 graus para o caso da hélice APC 12x12E é
necessário que os valores de coeficiente de acanço permaneçam entre aproximadamente 0,75 e 1.
Pode-se observar, no entanto, que diferentes combinações entre velocidade de translação e frequência de rotação
podem resultar no mesmo valor de coeficiente de avanço, entretanto gerando configurações diferentes para a análise
aerodinâmica. Sendo assim, para um mesmo coeficiente de avanço, caso se observe algum problema na convergência,
podem-se efetuar testes com essas diferentes combinações entre frequência de rotação e velocidade de translação.
Obtém-se também com o programa a distribuição de tração e torque ao longo do raio da hélice conforme ilustrado
pela Figura 18.
Figura 18. Distribuição de (a) tração e do (b) torque ao longo do raio para a hélice APC 12x12E.
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,
Utilizando-se a macro integraltrapz efetuou-se a estimativa da eficiência propulsiva da hélice APC 12x12E para os
respectivos valores de coeficiente de avanço 0,8 e 0,9.
Tabela 2 - Resultado da eficiência para a hélice APC 12x12E.
Coeficiente de avanço (J) Vtrans (m/s) n (Hz) Eficiência propulsiva (ɳ)
0,8 24,384 100 0,140
0,9 27,432 100 0,134
Tabela 3 - Resultado da eficiência para a hélice APC 12x12E.
Coeficiente de avanço (J) Vtrans (m/s) n (Hz) Eficiência propulsiva (ɳ)
1 30,48 100 0,144
Comparando os resultados da Tabela 2 e Tabela 3 com os valores experimentais expostos na Figura 14, observou-se
uma discrepância significativa. Tal fato ocorre devido à estimativa do arrasto ser de baixa qualidade; interferindo, pois,
diretamente no cálculo da tração e do torque de acordo com o modelo da Teoria Simples dos Elementos de Pá. Ao
melhorar a qualidade da estimativa desses parâmetros eleva-se também o custo do projeto. Sendo assim, apesar da
estimativa de baixa qualidade do algoritmo desenvolvido, o baixo custo permite a sua utilização como ferramenta
educacional de modo contribuir com uma aproximação prática do problema.
5. Conclusão
A etapa preliminar do projeto então desenvolvida permitiu uma compreensão teórica de alguns modelos
matemáticos empregados na tentativa de determinar o comportamento do sistema moto-propulsivo no tocante à
eficiência. A validação do algoritmo desenvolvido permitiu observar a baixa qualidade da estimativa de eficiência para
hélices operacionais, inviabilizando inclusive o estudo comparativo proposto para determinação da hélice mais
adequada referente à eficiência propulsiva.
Contudo, apesar dessa desvantagem, o baixo custo referente a investimentos financeiros possibilita a utilização
desse projeto como uma ferramenta educacional de modo a contribuir com a apresentação da Teoria Simples de
Elementos de Pá, tendo em vista que aplicação prática desse modelo sugere a utilização de programas capazes de
realizar estimativas aerodinâmicas (ou então acesso a banco de dados disponíveis) e também eventuais cálculos
numéricos.
6. Agradecimentos
Agradeço à minha orientadora Profª. Cristiane pela competência e dedicação no repasse de conhecimento, aos meus
pais pelo imensurável apoio e por final ao CNPQ pela confiança e pelo investimento na capacidade dos universitários.
7. Referências
Durand, W. F. and Lesley, E. P., 1924, “Comparison of model Propeller Tests with Airfoil Theory”, National Advisory
Committee for Aeronautics, Report No. 196
Fage, A. e Howard, R. G. ,1921, “A Consideration of Airscrew Theory in the Light of Data Derived from an
Experimental Investigation of the Distribution of Pressure over Entire Surface of an Airscrew Blade, and also over
Airfoils of Appropriate Shapes”
Fred E. Weick, B.S., 1930, “Aircraft Propeller Design”
Lock, C. N. H., Bateman, H. e Townend, H. C. H. ,1924, “Experiments to Verify the Independence of the Elements of
an Airscrew Blade”
Merchant, Monal Pankaj, 2004, “Propeller performance measurement for low reynolds number unmanned aerial vehicle
applications”, Wichita State Universit
UIUC Airfoil Coordinates Database, 2011, <http://www.ae.illinois.edu/m-selig/ads/coord_database.html>
Xfoil, Mark Drela “Subsonic Airfoil Development System”, MIT, <http://web.mit.edu/drela/Public/web/xfoil/>