Heloísa Birk Scholles

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DO SINOS Comunicação Social Publicidade e Propaganda Nome: Heloísa Birk Scholles Disciplina: Português I Data: 20/08/2013 União egocêntrica Percorri com os olhos, mais uma vez, o quarto em que eu me encontrava, tentando acreditar que, finalmente, aquele dia havia chegado. O evento pelo qual eu tanto esperara durante minha infância e adolescência realmente iria acontecer. Não que eu estivesse nervosa, ou algo parecido, afinal, já havia ensaiado em como fazer tudo certinho inúmeras vezes quando ainda era criança. A única diferença era que, agora, eu estaria usando um véu e não os lençóis amarelados de minha mãe que, na minha inocente miopia, pareciam puramente brancos. Passei minha mão sobre a seda moldada exclusivamente para mim e senti os detalhes da renda branca que completavam o vestido que eu usaria, implorando mentalmente para que ele ainda servisse em meu corpo. Olhei-me no espelho mais uma vez, antes de vestir a peça, eu pensei em todos os elogios que eu já havia recebido de meu noivo e em como ele também poderia estar feliz pelo nosso dia. Com certeza ele estava. Coloquei o vestido calmamente, sentindo seu tecido roçar minha pele e, a cada botão que eu fechava, minha certeza de que estava realmente tomando a decisão correta aumentava. Olhei meu sapato descansando sobre a cômoda e, por um breve momento, acreditei que aquele par de saltos estava rindo de mim. Não só de mim, mas de toda a situação que eles poderiam provocar se, por um deslize quase que cotidiano em minha vida, eu tropeçasse em meus próprios pés e, em vez de chegar ao altar, eu ficasse sozinha no chão. Ri com essa hipótese que havia passado em minha cabeça. Estava óbvio que isso não aconteceria, afinal, a partir de hoje eu teria alguém em quem me apoiar. Pensando nisso, tomei coragem e os calcei. Encarei-me mais uma

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DO SINOS

Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

Nome: Heloísa Birk Scholles

Disciplina: Português I

Data: 20/08/2013

União egocêntrica

Percorri com os olhos, mais uma vez, o quarto em que eu me encontrava,

tentando acreditar que, finalmente, aquele dia havia chegado. O evento pelo qual eu

tanto esperara durante minha infância e adolescência realmente iria acontecer. Não

que eu estivesse nervosa, ou algo parecido, afinal, já havia ensaiado em como fazer

tudo certinho inúmeras vezes quando ainda era criança. A única diferença era que,

agora, eu estaria usando um véu e não os lençóis amarelados de minha mãe que, na

minha inocente miopia, pareciam puramente brancos.

Passei minha mão sobre a seda moldada exclusivamente para mim e senti os

detalhes da renda branca que completavam o vestido que eu usaria, implorando

mentalmente para que ele ainda servisse em meu corpo. Olhei-me no espelho mais

uma vez, antes de vestir a peça, eu pensei em todos os elogios que eu já havia

recebido de meu noivo e em como ele também poderia estar feliz pelo nosso dia. Com

certeza ele estava.

Coloquei o vestido calmamente, sentindo seu tecido roçar minha pele e, a cada

botão que eu fechava, minha certeza de que estava realmente tomando a decisão

correta aumentava. Olhei meu sapato descansando sobre a cômoda e, por um breve

momento, acreditei que aquele par de saltos estava rindo de mim. Não só de mim, mas

de toda a situação que eles poderiam provocar se, por um deslize quase que cotidiano

em minha vida, eu tropeçasse em meus próprios pés e, em vez de chegar ao altar, eu

ficasse sozinha no chão. Ri com essa hipótese que havia passado em minha cabeça.

Estava óbvio que isso não aconteceria, afinal, a partir de hoje eu teria alguém em

quem me apoiar. Pensando nisso, tomei coragem e os calcei. Encarei-me mais uma

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vez no espelho e enchi meus olhos com a confiança que o objeto refletia. Eu vou me

casar, pensei. Agora sim, a noiva estava pronta.

Assim que concluí que eu estava devidamente arrumada para encontrar-me

com alguém no altar, lembrei que, como noiva, eu deveria chegar um pouco atrasada

na cerimônia. Porém, isso não seria um grande problema para mim, afinal, eu sabia

que o noivo ainda não estava pronto. Mirei meu lado esquerdo do rosto, que ainda não

havia sido coberto de maquiagem, e passei a desenhar, com um lápis, um bigode

acima de meus lábios.