herança latina ou decalque germânico?

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  • MRIO EDUARDO VIARO

    A CONSTRUO VERBO+ADVRBIO DELUGAR NO ROMANCHE: HERANA

    LATINA OU DECALQUE GERMNICO?

    Trabalho apresentado ao Departamento de LetrasClssicas e Vernculas da Faculdade de Filosofia,Letras e Cincias Humanas, da Universidade de SoPaulo, visando obteno do ttulo de doutor.rea de Letras Clssicas (Filologia Romnica)

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Bruno Fregni Bassetto

    So Paulo

    2001

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    SUMRIO

    Prefcio 5Abreviaturas 8

    Parte I: O Reto-Romnico 9

    0. Introduo 100.1. Romanche 15

    0.1.0. As lnguas faladas nos Grises 150.1.1. Sobresselvano 170.1.2. Subselvano 230.1.3. Sobremirano 280.1.4. Puter 330.1.5. Valder 370.1.6. Romanche griso 41

    0.2. Ladino dolomtico 480.3. Friulano 550.4. Dialetos italianos setentrionais. 850.5. Histria interna do reto-romnico. 64

    0.5.1. Tendncias dos sculos V a X 650.5.2. Tendncias dos sculos X a XIV 710.5.3. Tendncias dos sculos XIV a XXI 750.5.4. Difuso das tendncias nos Alpes 78

    1. O contato lingstico. 841.1. Histria externa dos Grises. 84

    1.1.1. Dos primrdios conquista romana 841.1.1.1.Pr-histria 841.1.1.2. Os povos pr-romanos 851.1.1.3. A conquista romana 871.1.1.4. Conseqncias lingsticas 92

    1.1.2. Alta Idade Mdia (476-1024) 931.1.2.1. Hrulos (476-488) e ostrogodos (488-536) 931.1.2.2. Bizantinos (536-568) e longobardos (568-774) 941.1.2.3. Domnio carolngio (774-918) 951.1.2.4. Imprio Saxo (919-1024) 971.1.2.5. Conseqncias lingsticas 98

    1.1.3. Baixa Idade Mdia (1024-1435) 1001.1.3.1. Imperadores slicos 1001.1.3.2. Ascenso dos Habsburgos 1011.1.3.3. Conseqncias lingsticas 105

    1.1.4. Da Reforma Revoluo Francesa 1081.1.4.1. Sculo XVI 108

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    1.1.4.2. Sculo XVII 1101.1.4.3. Sculo XVIII 1111.1.4.4. Conseqncias lingsticas 112

    1.1.5. De Napoleo aos dias de hoje 1141.1.5.1. Sculo XIX 1141.1.5.2. Sculos XX e XXI 1171.1.5.3. Conseqncias lingsticas 121

    1.2. O adstrato alemo 1231.2.1. Variedades do alemo 1231.2.2. A presena alem nos Grises 126

    1.3. O bilingismo nos Grises 133

    Parte II: A construo verbo+advrbio 142

    1. Conceitos gerais 1431. 1. Semntica do movimento 1431.2. Os advrbios de lugar do romanche 149

    2. Anlise do corpus 1612.1. O verbo usado nas construes 162

    2.1.1. Verbos de combinao nica 1632.1.2. Combinaes distributivas 1652.1.3. Combinaes variadas 165

    2.2. O advrbio usado nas construes 1672.2.1. Combinaes de advrbios e verbos 1682.2.2. Relaes entre advrbio e falar regional 1702.2.3. Relaes entre advrbio e sculo 1772.2.4. Relaes entre advrbio e estilo 187

    2.3. O falar regional 1882.4. O sculo 1902.5. O estilo 1922.6. O uso da construo verbo+advrbio 195

    3. Anlises individuais 1993.1. Verbos ir e vegnir 1993.2. Verbo dar 208

    3.2.1. Combinaes de dar+advrbio 2083.2.2. Dar e geben 2103.2.3. Semntica de cada combinao 218

    3.2.3.1. Dar sura 2193.2.3.2. Dar sisura 2193.2.3.3. Dar davent 2193.2.3.4. Dar encunter 2203.2.3.5. Dar enavos 2203.2.3.6. Dar enturn 2213.2.3.7. Dar ensemen 2213.2.3.8. Dar suenter 222

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    3.2.3.9. Dar n 2233.2.3.10. Dar tiers 2233.2.3.11. Dar si 2243.2.3.12. Dar ora 2263.2.3.13. Dar en 2283.2.3.14. Dar giu 230

    Concluses 233

    Bibliografia 240

    Anexos: 251Apndice I. Lista de topnimos 252Apndice II. Tabelas 263Apndice III. Lista de construes verbo+advrbio do corpus. 379

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    PREFCIO

    Todo manual de filologia romnica cita o rtico como uma das lnguas provindasdo latim. No entanto, quando o pesquisador se pe a estudar essa pretensa lngua rtica,logo se depara com um obstculo, que parece intransponvel primeira vista: a suafragmentao dialetal. Descobre, com o manuseio de alguns textos, que, na verdade, se tratade um conjunto de variantes lingsticas. Dizendo de outro modo, no existe uma lnguaromnica uniforme chamada rtico, mas o que h so trs grupos de falares reto-romnicos, separados geogrfica e politicamente, bastante distintos, a ponto de ser possvelafirmar que a distncia entre essas variantes pode ser to grande quanto a que h entre ofrancs e o portugus.

    Cada um desses grupos apresenta, ainda, uma fragmentao interna, o que complicaainda mais seu estudo. Mesmo que o pesquisador resolva dedicar-se apenas a um dosgrupos, continuar perplexo diante da grande distncia fontica, morfossinttica esemntica que h, por exemplo, entre o romanche suo da regio de Mustr e o de SantaMaria in Val Mstair.

    Depreender uma unidade reto-romnica , portanto, no coisa imediata. Afragmentao dialetal chega a um nvel tal, que cada aldeia tem sua forma peculiar de falar,embora estejam fixadas h sculos algumas normas escritas.

    No surpreende, portanto, que, mesmo na Sua, haja to poucos estudos diacrnicossobre os falares reto-romnicos: essas complicaes so mais transparentes ainda nostextos, cuja escrita no uniforme, o que os torna dificultosos at mesmo para estudiososque so falantes nativos.

    Diante da falta absoluta de material em lngua portuguesa, que inicie o interessado noestudo do reto-romnico, uma vez que a maioria da bibliografia se encontra em alemo, foinecessrio elaborar para este trabalho uma introduo ao assunto. Tais estudos se revelamexcessivamente complexos para quem no especialista ou para quem vive fora docontexto multilnge suo. Portanto, o modo didtico como o assunto est apresentadp nose encontra em outros livros sobre o meta: houve a preocupao de diferenciar bem asregies por meio de mapas que auxiliassem as consideraes sobre algum falar especfico.Cumpre ressaltar que sobretudo o estudo diacrnico do tema sobre o qual o presentetrabalho versa, alm dos resultados obtidos a partir do extenso corpus da RhtoromanischeChrestomatie, so inditos. Incluram-se tambm comentrios que paulatinamenteintroduzissem o no-especialista aos principais problemas lingsticos do reto-romnicosem simplific-los excessivamente.

    Os estudos reto-romnicos surgiram ab ovo complicados, pois os primeiros estudos,de ASCOLI (1873) e GARTNER (1883), na nsia de serem exaustivos, se perdem na multidode nomes de aldeias, sem falar da dificuldade na leitura de suas anotaes fonticassubjetivas. H um agravante a isso tudo: as mesmas aldeias tm uma vrios nomes, antigose recentes, muitas vezes bastante diferentes em alemo, em italiano, no falar reto-romnicoautctone e em outros falares. O estudo de GARTNER, para piorar, atribui um nmero a cadaaldeia, o que complica sobremaneira a interpretao dos seus resultaods. Inversamente, orecente livro de HAIMAN & BENINC (1992), em ingls, que tem o mrito de conseguir daruma viso geral do reto-romnico como um todo, deixa em segundo plano a fragmentao

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    dialetal. Restam ento, o excelente manual de LIVER (1991), em francs, no qual a autora serestringe a duas variantes suas, e os excelentes artigos em vrias lnguas no vol III doLexikon der Romanistischen Linguistik, organizado por Gnther HOLTUS et alii (1989).

    Exclusivamente com o propsito de facilitar a compreenso do assunto, nomeiam-seas aldeias com o nome autctone. Para tal, o presente trabalho oferece, no apndice I, deum ndice de topnimos para quem quiser estudar mais detalhadamente o assunto. Serinformado, por meio desse ndice, por exemplo, que Ilanz, citada nos textos em alemo, eGlion, nos textos em reto-romnico, so apenas nomes diferentes para o mesmo lugar.

    O presente trabalho no s pretende apresentar uma viso panormica do reto-romnico em sua unidade e diversidade, mas tambm visa ao estudo de um fenmenoparticular do reto-romnico, a saber, a construo verbo+advrbio de lugar e sua origem doponto de vista diacrnico. Esse assunto foi bastante estudado, mas sempre do ponto de vistasincrnico. At hoje, existiam intuies acerca de sua diacronia.

    Tambm para se referir a determinado verbo ou advrbio, optava-se por esta ouaquela variante, mas no presente trabalho, por tratar o assunto de forma que valha para todoo romanche e no apenas para uma determinada variante, preferiu-se a norma escritasuprarregional intitulada romanche griso (rumantsch grischun). Traduzidas para a mesmanorma esto os dados coletados do corpus, apresentados no anexo III.

    Boa parte das respostas a esse tema s puderam ser encontradas na Sua e nesseaspecto, sinto grande satisfao em retribuir a ajuda dos rgos daquele pas, a saber, a PROHELVETIA e LIA RUMANTSCHA, que me proporcionaram, de muito boa vontade, umaextensa e cara bibliografia, alm de duas viagens (1998 e 1999), onde pude obter maismaterial bibliogrfico, sem falar da vivncia e da experincia, ainda que curta, na regiodos Grises. Mais do que esse amparo material, o que me chamou a ateno foi o interesse,o carinho e a prontido dos pesquisadores suos, quase sempre uma constante, onde querque fosse. As bibliotecas consultadas na Sua sobre os temas tratados neste trabalho foramBIBLIOTHQUE PUBLIQUE ET UNIVERSITAIRE DE GENVE, BIBLIOTHEK DER UNIVERSITTBERN, BIBLIOTHQUE DE LA UNIVERSIT DE FRIBOURG, BIBLIOTHEK DES ROMANISCHENSEMINARS DER UNIVERSITT ZRICH, ZRICHER KANTONSBIBLIOTHEK, GRAUBNDNERKANTONSBIBLIOTHEK, CHESA PLANTA (Samedan), KLOSTERBIBLIOTHEK (Mustr) eprincipalmente o riqussimo acervo do INSTITUT DICZIUNARI RUMANTSCH GRISCHUN, emChur.

    So muitos os agradecimentos e, quando isso ocorre, h grande temor de esquecer-sede algum nome.

    Agradeo inicialmente ao meu orientador, Prof. Dr. BRUNO FREGNI BASSETTO, queme iniciou nos estudos histricos na dcada de 80, poca em que tais estudos no eram toprestigiados, como atualmente, e que me deu, assim, slido instrumental e segurana emmuitos aspectos que requerem ateno e conhecimento de fatos.

    Agradeo ao CNPq por financiar parte de meus estudos. Sem sua ajuda, muitoprovavelmente, este trabalho teria qualidade muito inferior que se apresenta.

    Agradeo a BERNARD CATHOMAS, antigo secretrio da Lia Rumantscha e atual diretorda Pro Helvetia, que, sensibilizado pela causa romanche tem implementado medidas vitaispara a no-extino dessa variante reto-romnica. Aps visitar seu gabinete, deu-me umacarta para ser apresentada Lia Rumantscha, com a qual pude obter gratuitamente todo equalquer livro que fosse importante para minha tese, alm de disquetes com dicionrioeletrnico.

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    Em especial agradeo, pela ateno e por material enviado a posteriori, a MATTHIASGRNERT (Universitt Bern).

    Imensamente agradecido sou ao Institut dal Dicziunari Rumantsch Grischun,sobretudo a JULIANA TSCHUOR, que no tive o prazer de conhecer pessoalmente e, emespecial, a CLAUDIO VINCENZ, que me auxiliou pacientemente quando estive em Chur,enviou-me posteriormente um semestre do jornal La Quotidiana pelo correio e sempreesteve pronto para responder com muita preciso minhas cartas e e-mails. O Sr. Vincenzno se recusou, jamais a pesquisar, na Cartoteca Maistra, quando me vi privado, ao voltarpara o Brasil, daquele imenso arquivo, com milhes de fichas com material dialetolgico,algumas delas redigidas pelo prprio punho de pesquisadores do quilate de Jakob JUD eKarl JABERG.

    Penhorado fico ainda a DUMENIC ANDRY, que permitiu a fotocpia de sua excelentetese sobre assunto semelhante. A tese de ANDRY, recomendadssima por muitos dosestudiosos j citados, um excelente estudo sincrnico das mesmas construesverbo+advrbio, feita sobre dicionrios e restrita variante engadina conhecida comovalder.

    Tambm fica aqui minha homenagem ao professor HEINRICH SCHMID (UniversittZrich), falecido em 1998, que com simpatia e muita humildade me concedeu umaentrevista em sua casa, onde exps suas idias pessoais e perspectivas de normassuprarregionais recm-implantadas nos grupos reto-romnicos, uma das quais se encontraem seu ltimo livro, que o prprio autor teve a gentileza de enviar ao hotel, quando jestava em Chur, antes de minha partida.

    Entre outros nomes, agradeo ainda, por material bibliogrfico enviado, a meusamigos RENATE SCHMIDT (Institut fr deutsche Sprache, Mannheim), JOCHEN SCHMIDT(Humboldt-Universitt Berlin), GEORGE DARMS (Universit de Fribourg), GIOVANNI FRAU(Societ Filologica Friulana de Udine), PAOLA BENINC (Universit di Padova), MORITZVGELI (Winterthur), PAUL VIDESOTT (Leopold-Franzens-Universitt Innsbruck), RICARDALIVER (Universitt Bern) e THOMAS KREFELD (Universitt Mnchen).

    Mrio Eduardo Viaro ([email protected])So Paulo, 20 de julho de 2001

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    ABREVIATURAS

    aaa. antigo alto alemoafrnc. antigo frncicoairl. antigo irlandsal. alemoalb. albansamp. ampezanoanrd. antigo nrdicoarm. armnioasax. anglo-saxoav. avsticobad. badiotobra. fassano brachbreg. bregalhotocap. captulocast. castelhanocat. catalocaz. fassano cazetcom. comelicanodin. dinamarqusDRG Dicziunari Rumantsch Grischunecl. eclesisticoeng. engadinoesl. eslavofas. fassanofod. fodomfr. francsfriul. friulanogt. gticogr. gregogrd. gardenshit. hititahol. holandsingl. inglsint. interromancheit. italianolad. ladino dolomtico

    lat. latimld. ladin dolomitanlit. lituanolog. logodurslom. lombardomaa. mdio alto alemomar. marebanomil. milansmoe. fassano moenatnon. nonsnor. noruegusoc. ocidentalor. orientalpie. piemontspol. polonsport. portugusprov. provenalput. puterREW Romanisches Etymologisches

    Wrterbuchrg. romanche grisorom. romenorus. russosnscr. snscritosch. alemo suosrm. sobremiranosrs. sobresselvanosrt. sobremirano de Sursessts. subselvanostt. sobremirano de Sotsessue. suecotoc. tocrioval. valderven. vnetovulg. vulgar

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    PARTE I:

    O RETO-ROMNICO

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    0. INTRODUO

    Os manuais de filologia ou lingstica romnica falam do rtico como uma lnguaprovinda do latim, ao lado do portugus, castelhano, catalo, occitano, francs, italiano,dalmtico e romeno. Situada entre as lnguas romnicas ocidentais, teria ora caractersticasdo galo-romnico, ora do italo-romnico, alm de suas prprias caractersticas. Assim,mantm-se, como no francs e occitano, os grupos fonticos cl-, pl-, bl-, mas outrosfenmenos, como a palatalizao do c diante de a (e conseqente transformao a > e), avocalizao de l > u, a palatalizao do u > , o plural em -i ou em s, tm maior ou menordivulgao dentro da rea dos inmeros falares.

    Normalmente esses fatores de divergncia fontica apontam para a fragmentao dalngua rtica, que tradicionalmente dividida em trs grupos, cujas diferenas so, noraro, vistas de forma superficial e imprecisa nos manuais. O primeiro problema que secolocou foi se essa lngua realmente existe ou se mais um conjunto de dialetos italianos.

    Foi ASCOLI (1873) o primeiro a apontar as diferenas desse grupo em relao aoitaliano. O italiano e o alemo teriam sido os responsveis pelo esfacelamento do continuum,promovendo, assim, o isolamento dos trs grupos. ASCOLI usou, para essa unidade, o termogenrico ladino e foi o primeiro a nomear os trs grupos de maneira geogrfica, a saber,ladino occidentale, centrale e orientale. Foi GARTNER (1883) que usou, em textos cientficos,o termo genrico Rtoromanisch para a mesma pretensa unidade. Atualmente esse termoalemo se refere exclusivamente ao conjunto de variantes ocidentais, sinnimo deBndnerromanisch (ou simplesmente Romanisch), em oposio ao Ladinisch (central) e aoFriaulisch (oriental). Discutir-se- acaloradamente, a seguir, se o reto-romnico faz ou noparte dos dialetos italianos, surgindo, assim a conhecida questione ladina. Contra a idia daunidade reto-romnica citem-se SALVIONI (1917) e BATTISTI (1929), que os ligavam aosdialetos lombardo e vneto do italiano.

    Por outro lado, os que partem do pressuposto da unidade dos trs grupos dificilmentese pem a descrever como seria aquele estgio hipottico primitivo. Conhece-se, no entanto,uma reconstruo do proto-reto-romnico por LEONARD (1962, 1972). Para os que partem daidia de que essa unidade nunca existiu, questiona-se sobretudo se o grupo oriental fariaparte do mesmo grupo que envolveria os outros dois.

    Pelo aqui dito, percebe-se que outro problema que surge a denominao da talunidade e de suas partes. Os manuais usam muito freqentemente, em vez de reto-romnico,o termo rtico, evidentemente ambguo, pois representa tambm a lngua pr-romana e no-indo-europia extinta, cujos falantes teriam ocupado parte da rea correspondente (mas noos extremos a leste e a oeste) de onde a unidade reto-romnica teria surgido. Essa mesmaambigidade ocorre com os termo vneto e os lgure. Com freqncia, a imprecisoterminolgica se torna indesejvel em estudos diacrnicos. Neste trabalho, os povos pr-romanos so denominados paleovnetos e lgures, enquanto os dialetos italianos se chamamvneto e ligrio. Tambm se far uma distino entre os longobardos, povo germnico quepovoou o norte da Itlia, e lombardo, dialeto italiano falado ainda atualmente. Para evitar

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    qualquer ambigidade, tambm no se utilizar aqui o termo rtico para as lnguas e dialetosneolatinos em questo. Prefere-se, pelo j dito, o termo reto-romnico.

    Outro termo que aparece na literatura romanche, utilizado neste trabalho para osfalares ocidentais. Esse termo autctone e reuniria as cinco variantes suas, a saber, osobresselvano (srs), o subselvano (sts), o sobremirano (srm), o valder (val) e puter (put).Cada um desses falares ser descrito adiante (cap. 0.1.1 a 0.1.5. da parte I). Esses doisltimos, devido sua proximidade, so comumente reunidos sob a denominao de engadino(eng).

    Outro termo ambguo o termo ladino. Sem se levar em considerao que essatambm a denominao do judeu-espanhol (do grupo ibero-romnico), encontra-se ainda otermo ladino como sinnimo de engadino. Como se viu acima, ASCOLI e outros chamam deladino toda a unidade reto-romnica. E ladino, para piorar, ainda a nica denominaoautctone dos falares correspondentes ao ladino centrale de ASCOLI. Por isso, neste trabalhoutilizar-se- o termo ladino (lad.) apenas para o grupo central e, para evitar possveisambigidades, anexar-se- o adjetivo dolomtico, referente regio da Itlia onde atualmentese falam essas variantes. A complexa fragmentao dialetal do ladino dolomtico serdescrita adiante (cap. 0.2. da parte I).

    O grupo oriental, tambm na Itlia, tradicionalmente conhecido como friulano (fri.),tambm fragmentado em dialetos (cap. 0.3 da parte II).

    Hoje em dia parece no haver dvidas de que o grupo reto-romnico seja um grupodistinto do galo-romnico e do italo-romnico, mas h quem questione se o romanche, oladino dolomtico e o friulano formem ou formaram, um dia, realmente uma unidade1

    (KREFELD 1994). Tentativas de conciliao surgem, por exemplo, com BEC (1971), quesubdivide o galo-romnico em galo-romnico francs (picardo, valo, loreno, alto normando,angevino, gallot, baixo normando, bourguignon, franciano, pictevino, franco-provenal),galo-romnico occitano (limusino, auvergnat, provenal alpino, languedociano, provenal,gasco, catalo oriental e ocidental) e galo-romnico cisalpino, que se subdividiria em reto-friulano (romanche, ladino dolomtico, friulano) e galo-italiano (piemonts, lombardo,emiliano-romanhol, ligrio, vneto, istriota). A questo das semelhanas, no entanto, entre osfalares reto-romnicos e o italiano ser discutida no cap. 0.4. da parte I.

    Alm das variantes supramencionadas, ainda h as normas escritas unificadoras,construtos artificiais, porm muito bem elaboradas, recentemente propostas por HeinrichSCHMID. A mais utilizada o romanche griso (rg). Trata-se de uma variante escritaelaborada em 1982 para o romanche suo. Descreve-se essa norma no cap. 0.1.6 da parte I.

    Uma segunda norma, concluda em 1998, tambm proposta por SCHMID, o ladindolomitan (ld), ainda muito recente e sem a repercusso da primeira. O termo no pde seraportuguesado no trabalho para no se confundir com o termo genrico ladino dolomtico.

    1 PELLEGRINI, por exemplo, supe que os falares ladinos fazem parte de dois grupos de substratos: atesinos ecadorinos, esses mais prximos dos friulanos e com influncia belunesa e vneta, aquela com influncia doalemo. Cala-se quanto ao romanche e quanto ao friulano, afirma: io continuo a dubitare che esista in Italia unsistema linguistico unitario delle parlate popolari, ora in progressivo cesimento e annacquamento; dialettiitaliani significa per lo pi dialetti dItalia poich litalianit una realt extralinguistica, specie in um primotempo, e va ricercata in altri motivi che non si identificano nelluso popolare di alcuni linguaggi, spessolontanissimi dalla lingua nazionale di fondamento toscano (PELLEGRINI 1972: 331)

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    Representa uma tentativa de unificao escrita de todos os falares dolomticos. Descreve-seessa norma no cap. 0.2. da parte I.

    O friulano, diferentemente do romanche e do ladino dolomtico, possui tradio escritaconstante e antiga, j dispondo, portanto, de uma koin, sobre a qual se forma uma normaescrita mais ou menos uniformizada, embora se coloquem discusses sobre a ortografia.

    Observe-se que tanto o romanche griso quanto o ladin dolomitan so propostassuprarregionais de norma culta, com finalidades prticas de padronizao. No devem serconfundidas respectivamente com o romanche ou com o ladino dolomtico, nomes genricospara os dialetos locais, que por si s formariam unidades s atingveis por meio dareconstruo histrico-comparativa. Sobre a reconstruo do proto-romanche, veja-se o cap.O.5. da parte I.

    Cumpre observar que este trabalho apenas enfocar a rea dos Grises e tanto osblocos ocidental quanto o central sero tratados en passant, com dados que possamcorroborar ou negar afirmaes e hipteses que venham a ser levantadas. Tambm osdialetos do norte da Itlia (piemonts, lombardo, vneto) tero a mesma funo.

    O problema especfico que se levanta neste trabalho a estrutura verbo+advrbio delugar, que ser abreviada como verbo+advrbio. Essa estrutura chama a ateno de quempretende dominar alguma das variantes reto-romnicas, por sua semelhana formal esemntica com os chamados verbos separveis (trennbare Verben) do alemo. H tesessobre o assunto, sempre do ponto de vista sincrnico: sobre o badioto, cite-se KELLER(1968); sobre o valder, KIRSTEIN (1974) se refere ao tema num dos captulos. Maisespecificamente, cite-se ANDRY (1993). Normalmente todos os trabalhos que tem sido feitos,inclusive artigos, tm feito levantamento sobre os dicionrios das normas regionais.

    sabido que o contato lingstico o maior problema de todo o grupo reto-romnico euma ameaa sua preservao, como se ver nos captulos 1.2. e 1.3. da parte I. Hoje em dia,praticamente todos os falantes do reto-romnico so bilnges: ou tambm falam o alemo ouo italiano (s vezes, os dois). Essa situao compreensvel quando se debrua sobre ahistria externa (cap. 1.1. da parte I). Como sempre, lnguas de maior prestgio e com umaliteratura mais conhecida, com status oficial, so tomadas como modelos por populaes delnguas minoritrias, influenciando grandemente vrios aspectos lingsticos e culturais dacomunidade. Na rea dos Grises, o contato lingstico com o alemo antigo e intenso, oque faz surgirem diversos decalques, a ponto de ASCOLI dizer que o reto-romnico temmateria romanza e spirito tedesco.

    A hiptese de um decalque, no caso da construo verbo+advrbio, se torna quase umaevidncia, a ponto de ser apresentada para ilustrar os germanismos daqueles falares.Incomoda, porm, na definio de decalque, uma afirmao tcita, segundo a qual o decalquerepresenta uma estrutura que foge da ndole da lngua, que no respeita suas derivas ouseu padro gentico, enfim, que se mostre como mcula numa lngua que seria pura,no fosse ele.

    Para provar o decalque muitas vezes, ainda, se utiliza da mera intuio. Contra essaperspectiva surgiram recentemente trabalhos de alguns autores (GSELL 1982; SPIESS 1982,1986) que, com novos dados, questionam se se trata pura e simplesmente de o casoverbo+advrbio se trata apenas de uma traduo transferida de uma lngua para a outra. JJABERG (1932) questionava isso. Observam que os dialetos setentrionais do italiano (etambm a norma culta italiana) tambm dispem da mesma estrutura, independentemente do

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    grau de contato lingstico com o alemo. A explicao monocausal para o decalque serompe quando se trabalha com a fragmentao lingstica. Em maior ou menor grauencontra-se a mesma estrutura em outras lnguas romnicas: no francs, no romeno e atmesmo no portugus. Alm disso, os supostos decalques tm significados muitas vezesbastante diferente no romanche e no alemo (cap. 1.3. da parte I).

    Uma segunda hiptese, que complementaria a do decalque, seria a de que a estruturaencontrou um terreno frtil na regio alpina. Essa estrutura seria de origem latina e, pormeio da influncia germnica (quer antiga, quer moderna), ter-se-ia tornado mais freqentenos Alpes. Essa argumentao pareceu to razovel que o assunto discutido hoje em dia apartir de suas premissas. No entanto, como aponta o prprio GSELL, inexistem estudoshistricos relacionados com essa estrutura, o que ser apresentado pela primeira vez nestetrabalho.

    Por meio do estudo histrico seria mais fcil responder a algumas questesrelacionadas com o grau de uso e de freqncia ao longo dos sculos, a produtividadediacrnica dos verbos e advrbios envolvidos e se essa produtividade varia dependendo dotipo de dialeto e do estilo e do contedo da obra.

    Como se pode verificar no apndice III, foi feito um levantamento exaustivo de exatas22.952 ocorrncias da construo na Rtoromanische Chrestomatie de Caspar DECURTINS(reimpresso de 1983-1986), que contm 15 volumes e 7302 pginas de texto. Com issopretendeu-se depreender dentro do contexto do romanche escrito entre os sculos XVI e XXcomo os verbos se comportaram e quais correlaes pode haver com a histria externa dessasregies (cap. 2 da parte II).

    Surge, por meio, da anlise desses dados, uma terceira hiptese: a de que a estrutura derivada do latim vulgar e no foi a presena germnica que a desenvolveu. Suaprodutividade mais alta na regio alpina se deve, antes, a uma tolerncia do alemo, lnguaem que existe construo similar, do que propriamente a um decalque, o que no visvelnas reas em que predominava o latim medieval, lngua que no admitia tal construo emnome do sintetismo do latim clssico (cap. 3 da parte II).

    Para que qualquer uma das hipteses tivesse consistncia cientfica seria necessrioestudar todas as variantes reto-romnicas e do italiano setentrional, sincrnica ediacronicamente, e contrast-las com estudos tambm sincrnicos e diacrnicos do alemooficial, do alemo suo e do alemo bvaro. Paralelamente ao estudo puramente lingsticoda transmisso, dever-se-ia levar em conta o aspecto sociolingstico para determinar aintensidade do contato por sculo e rea especficos. Alm disso, o nmero de combinaesentre verbo+advrbio bastante grande e as numerosas variaes semnticas dentro de cadacombinao multiplicaria ao infinito o nmero de dados. O trabalho ideal, portanto, seriainexeqvel para uma s pessoa.

    Mesmo com o corpus supracitado pode-se afirmar que um estudo cuidadoso daestrutura verbo+advrbio tem de ser individual. O presente trabalho privilegiou o estudoindividual das combinaes de dar+advrbio (cap. 3.2. da parte II). Este verbo foi escolhidopor ser um dos mais freqentes e por garantir distines semnticas e sintticas maisdiscretas que outros verbos, como ir ou vir, que j vm seguidos, normalmente, de advrbiosde lugar. Dito doutro modo, a variao semntica de dar muito mais visvel , uma vez queir para cima pode derivar universalmente subir, mas nem sempre dar para cimaequivale a desistir em qualquer lngua. Outros 957 verbos poderiam ser analisados,lanando mo do corpus do anexo III, mas as caractersticas acima descritas de dar soparticularmente interessantes para generalizaes.

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    Fazendo esse estudo microscpico, surpreendente como no possvel deter-seapenas no fato, como descrio de um detalhe lingstico irrelevante, pelo contrrio, torna-seurgente uma nova discusso terica sobre as peculiaridades regionais de lnguas romnicasem contraposio a toda a Romnia, luz da intensidade da influncia do latim medieval. Osvrios elementos envolvidos tanto na herana quanto no contato lingstico em si, motivamnovos pressupostos a respeito dos substratos e superstratos.

    Mapa 1Os grupos de falares reto-romnicos

    A) RomancheB) Ladino dolomticoC) Friulano

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    0.1. ROMANCHE

    0.1.0. AS LNGUAS FALADAS NOS GRISES

    Os Grises formam o maior canto da Sua. Situado na poro oriental daquele pas,entre a ustria (no mapa 2, AU) e Itlia (IT), est rodeado, a oeste, pelos cantes de SanktGallen (SG), Glarus (GL), Uri (UR) e Ticino (TI). Nos Grises no se fala apenas romanche,mas h locais onde se falam exclusivamente o alemo (oficial e dialetos alemnicos, cf. cap.1.2.1 da parte I) e o italiano (oficial e dialetos lombardos, cf. cap. 0.4 da parte I). Pode-sedizer que j no existem falantes monolnges de reto-romnico, seja na Sua, seja na Itlia.

    Nos Grises, atualmente, fala-se apenas italiano em trs regies :

    a) Em POSCHIAVO e em BRUSIO (no 1, do mapa 2), regies situadas entre a reado puter e a Itlia.

    b) No Vale de BREGAGLIA (2), abaixo das reas do subselvano, sobremirano eputer: inclui Vicosoprano, Stampa, Bondo, Soglio.

    c) Em SAN BERNARDINO, em MESOLCINA (Mesocco, Soazza, Lostallo,Verdabbio, Cama, Leggia, Grono, Vittore, Roveredo) e em CALANCA (Valbella, Rossa,Augio, Cauco, Landarenca, Selma, Arvigo, Braggio, Buseno, Sta. Maria i. C.), regiessituadas abaixo de Hinterrhein, entre o canto de Ticino e Itlia (3).

    No mesmo canto, fala-se somente alemo em

    a) SAMNAUN e Laret (4): logo acima da rea do valder. Nessa regio fala-se umdialeto bvaro, prximo dos falares tiroleses da ustria (RITTER 1981).

    b) OBERSAXEN (5): no meio da rea do sobresselvano.c) RHEINWALD (6): rea acima da regio de fala italiana da Mesolcina e Calanca,

    incluindo Hinterrhein, Nufenen, Medels i. Rh., Splgen, Sufers. Mais acima, aosudeste e a leste da rea sobresselvana, no Valsertal (7): Vals, St. Martin, mais a leste,no Safiental (8): Safien, Thalkirch, Valendas, Versam, Tenna. Separando as duasregies do subselvano, na regio de Mantogna (9): Tschappina, Urmeins, Thusis, Silsi.D. e Mutten.

    d) AVERS (10) ao noroeste de Bregaglia.e) PRTTIGAU (11), bem ao norte do canto, entre St. Gallen e a ustria: Flsch,

    Maienfeld, Jenins, Malans, Seewis i. Pr., Grsch, Schiers, Schuders, Landquart, Pany,Fideris, Kblis, Castels, Mastrils, Igis, Valzeina, Luzein, St. Antnien, Rti i. Pr., Saasi. Pr., Klosters, Monbiel,Zizers, Says, Trimmis, Furna, Jenaz, Fideris, Conters i. Pr.Tambm na rea conhecida como Schanfigg (12), incluindo Chur, Maladers,Calfreisen, Castiel, Len, St. Peter, Peist, Langwies, Malix, Passugg, Tschiertschen,Molinis. A oeste desta rea e a leste da rea sobresselvana, na rea de Calanda (13):Untervaz, Haldensteim, Tamins, Felsberg. Acima da rea do sobremirano em

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    Churwalden, Frauenkirch, Glaris, Clavadel, Monstein, Sertig Drfli, Arosa, Davos,Wiesen, Schmitten (14).

    Mapa 2: lnguas dos Grises

    As reas de fala romanche do mapa so na verdade reas tradicionais, que tinhammaioria romanche em 1860. Nem todos os falantes de romanche vivem atualmente nosGrises. Em 1980, sabia-se que 29,5% dos falantes de romanche se encontravam em outroscantes, principalmente em Zurique, Berna, Sankt Gallen, Lucerna e Genebra, sem falar dosque foram para o estrangeiro. Dos que vivem nos Grises, 59,1% vivem nas reastradicionais. Nessas reas, h hoje uma grande variao quanto porcentagem de usodependendo da regio: hoje em dia, a maioria dos habitantes da rea do subselvano e doputer falam alemo. Em 1880 cerca de 1,4% da populao sua utilizava alguma varianteromanche como lngua materna. Cem anos depois, esse nmero tinha cado para 0,8%. Em1990, apenas 0,6% informava que a lngua que dominava melhor era uma variante reto-romnica (observe que 1,4% respondeu que era o portugus!). Somando esse dado com alngua que era utilizada no domnio da famlia, escola e/ou trabalho, o nmero de falantessubia para 1,0% da populao (GROSS et alii, 1996: 20). Dentro do canto dos Grises, em1880 o romanche era a lngua materna de 39,8% da populao; em 1980, de 21,9% e em1990, era a lngua mais bem dominada de 17% a 23,6% (GROSS et alii, 1996: 22).

    A regio de Bregaglia importantssima para nosso estudo, uma vez que o bregalhoto,dialeto romanche ali falado extinguiu-se no sc. XIX no em favor do alemo, mas sim doitaliano, deixando, alm disso, muita documentao (DECURTINS 1984, v. 9).

  • 17

    0.1.1. SOBRESSELVANO

    O sobresselvano (que tambm aparece sob as denominaes romontsch ou sursilvan;em alemo oberlndisch ou obwaldisch) falado por 18.000 pessoas na regio conhecidacomo SURSELVA (em alemo, Bndner Oberland), que vai do Oberalppa (na fronteira como canto de Uri) at Reichenau (no encontro do Reno Anterior com o Reno Posterior) comexceo de Obersaxen. Essa rea faz fronteira com os cantes de Sankt Gallen, Glarus, Uri eTicino.

    Fala-se sobresselvano nas seguintes regies2:

    a) TUJETSCH (no 1 do mapa 3), rea mais a oeste da regio sobresselvana, que engloba,seguindo o Reno, de leste a oeste: Tschamut, Selva, Ruras, Camischolas e Sedrun. Asubvariante dessa regio bastante peculiar.

    b) VAL MEDEL (3), entre a rea do Tujetsch e a de Cadi, com Platta a sul e Curaglia a norte.c) CADI: rea do Reno Anterior que agrupa, de leste para oeste: Mustr (2), Compadials,

    Sumvitg e Surrein (4), Rabius, Trun, Zignau, Lumneins e Schlans (5).d) FOPPA: rea a oeste de Cadi e a norte de Obersaxen e Lumnezia, que inclui, de leste a

    oeste: Breil, Dardin, Danis e Tavanasa (6), Vuorz (7), Andiast (8), Pigniu (9), Siat,Rueun e Schnaus (10). Na rea mais oriental do Foppa encontram-se: Ruschein (11),Ladir e Schluein (14) , Sagogn (17), Falera (12) , Lags (13) e Flem (31). Entre o Foppa eo Lumnezia, na regio ao sul do Reno esto: Flond e Luven (15) e Glion (16), Sevgein(19) e Castrisch (20)

    e) LUMNEZIA: rea que agrupa, esquerda do rio Glogn, afluente do Reno: do ponto maisao sul at o mais ao norte: Vrin e Surin (21), Lumbrein (22), Vignogn (23), Degen (24),Vella (25) , Cumbel, Peiden, Murissen (26). Entre o Foppa e Obersaxen est Surcuolm(18). direita do rio Glogn esto, de sul a norte: Surcasti, S. Martin, Tersnaus, Uors eCamuns (27), Duin (28), Pitatsch (29), Riein (30).

    f) PLAUN: a rea mais oriental, que faz fronteira com a rea do subselvano. Ali se falam asduas variantes Trin (32), Bonaduz (33), Razen (34) e Domat (35). Tambm em Flem (31)falam-se o sobresselvano e o subselvano.

    2 Existe uma interessante enumerao das aldeias sobresselvanas do sc. XVIII em DECURTINS (1983, 43-44),v. 4.

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    Mapa 3: rea do sobresselvano

    O sobresselvano a mais falada e a mais bem estudada de todas as variantes. Citem-secomo obras bsicas a extensa gramtica de SPESCHA (1989) e os dicionrios de VIELI &DECURTINS (1962: sobresselvano-alemo; 1975, alemo-sobresselvano). Tambm o manualde LIVER (1991) estuda essa variante minuciosamente ao lado do valder.

    Em 1990, na regio descrita acima, 77% das pessoas consideram o sobresselvano alngua que domina melhor (em Glion, apenas 37%, em Vrin 96%). Esse valor sobe para 86%quando se pergunta qual a lngua utilizada em casa, na escola e/ou trabalho (Glion= 55%) e ainda mais alto quando se pergunta se compreensvel (92% em toda a rea, 87% emGlion) (GROSS et alii, 1996: 23-26).

    Apesar de ser a mais usada das variantes, o sobresselvano no a que dispe de textosmais antigos. Os primeiros textos remontam ao sc. XVII: STEFFAN GABRIEL, LUCI GABRIEL

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    (protestantes), GION ANTONI CALVENZANO, ZACHARIAS DA SALO, BALZAR ALIG (catlicos).O primeiros textos em sobresselvano de que se tem notcia Ilg vr sulaz da pievel giuvanO verdadeiro prazer da juventude, de Steffan GABRIEL (1611) e Curt MuossamentCartilha pequena, de Gion Antoni CALVENZANO (1611).

    O sobresselvano tem tradicionalmente duas ortografias (CAVIEZEL 1993), uma catlicae outra protestante. As diferenas entre essas ortografias bastante antiga e reflete diferenasfonticas e lexicais. Assim, a fala de Mustr serviu como modelo para a subvariante catlicae a de Glion para a subvariante protestante. Em 1927 houve tentativa de padronizao dasduas formas, promovida por G. CAHANNES, a qual s se levou a cabo em 1938 com odicionrio de VIELI. Mesmo assim h ainda sobrevivncia de algumas formas, como dirdizer que grafada como gir pelos protestantes. Da mesma forma, di dia se grafa gi,refletindo assim a pronncia de Lumnezia e Foppa.

    Ilustra-se este falar com um exemplo encontrado em GROSS et alii (1996: 23):

    LUOLP ERA PUSPEI INAGA FOMENTADA. CHEU HA ELLA VIU SIN IN PGN IN TGAPERCHE TENEVA IN TOC CASCHIEL EN SIU BEC. QUEI GUSTASS A MI, HA ELLA TERTGAU,ED HA CLAMAU AL TGAPER: TGEI BI CHE TI EIS! SCHE TIU CANT EI ASCHI BIALS SCOTIA CUMPARSA, LU EIS TI IL PLI BI UTSCHI DA TUTS

    TRADUO: A raposa estava novamente com fome. E eis que ela viu num pinheiroum corvo que tinha um pedao de queijo em seu bico. Isso me saberia bem,pensou, e clamou ao corvo: Que belo que tu s! Se teu canto fosse to belo quantotua aparncia, serias o mais belo pssaro de todos

    PRONNCIA STANDARD:[

    : !#"%$&'()+* : ,-.0/%1 2 3 : 4 2 56879:68;6< =>@? A BC)D+EFGHIKJLNMHOD C!P :QRTSU)V+WXYYRV ZS[\][(U_^S` Va0bcYY`degfhi V+Wd^jRVkSKRVb : \R W[lV+md`N[(nRY\RVkd`R\V+mdo[l]mdejaS : Y[WS]de^ i [WS`Yd(U!WdeRV i SKaed\^ i YXWSRY h kVod : l^RT\ h de^WSS\Ko\SKaS : pq+r0stjuvq+rwrxy

    As vogais do sobresselvano so a [a], em slaba tona [ v)y ; e [e] ou [ z ], em slabatona [ { ]; i [i]; o [ | ]; u [u] ou [o]. As vogais tnicas so longas ou breves. Normalmente asvogais so longas quando seguidas de fonemas sonoros (sobretudo r) e breve quandoseguidas de uma consoantes surdas: la cassa a caixa [lvq}~xv)y mas la casa a casa[lvq}~ : ) ou la nota a nota [l n ) mas la noda o sinal [l n : ) ou ainda lapuscha pinho [l) mas el fruscha limpador de panelas [ : ) Antesde nasal ou lateral difcil determinar a quantidade voclica: la tema o medo[l t m) mas il tema o tema [ilt :m) . Os ditongos so: ai [aj], au [aw], ei [aj], eu[ % ], ia [ja], ie [i ], iu [iw], na regio de Cadi, exceto em Breil, noutros lugares [ o], ua[wa], ue [w ], uo [u ]. Ateno especial deve ser dada seqncia aun [ % n] e iun [iwn]

  • 20

    no Cadi e [jun] alhures. Os tritongos so ieu [j w], uau [waw]. As consoantes so b [b];c+e,i [ts], c+a,o,u, consoante ou final de palavra [k], ch [k]; d [d]; f [f]; g+e,i [ ] , g+a,o,u,consoante ou final de palavra [g]; gh [g], gl+i ou no final de palavra , com ou sem s doplural [ ) em outros casos, [gl], gn [ ; h [h] ou no pronunciado; j [j]; k [k]; l [l]; m[m]; n [n], em final de palavras: nd ou nt [n], s vezes tambm nc; p [p]; qu [kw]; r [r],como marca de infinitivo no pronunciado (idem em substantivos masculinos terminadosem er); s [s] ou [z]; sc [ ], sch [ ] ou [ ], sb [ ], sd [ ], sf [ ], sg [ ] ou, seguidode i, [ ! ], sm [ ], sp [ ], squ [ ], st [ c ],stg [ c], sv [ v]; t [t], tg [c], tsch [t ] ; v[v]; w [v], x [ks]; z [ts]. Consoantes dobradas tm o mesmo valor fontico de uma s.Observa-se uma epntese de [t] nas seqncias finais ns [nts], ls [lts], gls [ ts] (HAIMAN &BENINC 1992:30). Os acentos grficos agudos e graves tm apenas valor diferencial, masnos pares em que h distino e nas oxtonas terminada em slaba aberta, nesses casos, [e] e [ ], mas sempre . Um circunflexo usado apenas nas terminaes alongadas da primeirae segunda pessoas do plural do presente do subjuntivo da quarta conjugao: -en, -es.

    A palavra uolp (< lat. vulpem) raposa embora sempre grafada dessa formaatualmente em todo territrio sobresselvano, tem outras variaes de pronncia: ao lado de[ , h no Tujetsch a pronncia [welp]. A palavra puspei (< lat. post pedem)novamente pronuncia-se em Tujetsch e Val Medel [pu ], no Cadi [pu , noFoppa [pu % e em Lumnezia [pu As mesmas variaes se observam comoutras palavras com o ditongo ei (tambm o verbo ei ele se pronuncia no Tujetsch [ ],Cadi [ j], mas no Foppa [ ]). A palavra inaga uma vez (< lat. unam * vicatam) aparecepronunciada no Tujetsch como [ic) Cadi e Foppa [in ! , Lumnezia[in ! :d ) Observe-se que a seqncia puspei inaga equivale construo alem wiedereinmal e , aparentemente, um decalque.

    O advrbio de lugar cheu usado de maneira equivalente ao alemo da, isto , com ovalor de ento. No Tujetsch, cheu se diz [k ], em Mustr [k w], no Foppa [k % ], emLumnezia [kaw]. Observe-se que a sintaxe de cheu ha ella viu tem inverso do sujeitoidntica do alemo da hat sie...gesehen ento ela viu, no entanto o particpio no apareceno final do perodo, como naquela lngua germnica. A terceira pessoa ha do verbo haverpronuncia-se [ no Tujetsch, onde o infinitivo no se pronuncia [ ] ou [ve], mas[vaj]. Viu particpio de veser ou ver (< lat. videre) ver. A palavra pgn pinheiro(< lat.pineum) tem acento diferencial, por causa de pgn penhor (< lat. pignum). Somente noCadi e no Foppa se ouve uma variante [pen]. O uso da preposio sin (< lat. susum in)sobre na construo sin in pgn num pinheiro equivale construo alem auf einerTanne. A palavra tgaper corvo s aparece no sobresselvano e tem timo desconhecido. Opronome relativo che (< lat. quid) se pronuncia [c ] no Tujetsch. Teneva a terceira pessoado pretrito imperfeito do verbo tener (

  • 21

    Toc no tem etimologia definida, mas caschiel < lat *caseolum e varia bastante empronncia: Tujetsch [ ! ], Val Medel [ ! ], Cadi, Foppa e Lumnezia[ ] . A construo en siu bec em seu bico no tem grandes variaes de pronnciae dispensa comentrios, a no ser a pronncia [ajn] que se ouve para a preposio noTujetsch.

    A frase Quei gustass a mi! muito prxima do alemo Das wrde mir schmecken! Overbo gustar est na terceira pessoa do singular do presente do condicional. Por todoterritrio sobresselvano a mi tambm se ouve como [ mi]; em Tujetsch [ me].Tertgau particpio presente de tertgar pensar (< lat. tractare). A terceira pessoa dopresente do indicativo desse verbo tratga, causando junto com a mudana acentual umamettese caracterstica do sobresselvano. comum nos verbos dessa variante do romancheuma slaba pr-tnica de padro CVC passar para CCV quando se torna tnica, sendo asegunda consoante um r. Os exemplos so inmeros: curdar cair, 3a sg. croda; barsarassar, 3a sg. barsa; trer tomar, 1a pl. targein; crer acreditar, 1a pl. cartein. s vezes,as metteses so mais complexas: duvrar precisar, 3a sg. drova.

    Clamau particpio presente de clamar chamar (< lat. clamare), cuja terceira pessoado presente do indicativo cloma. As alternncias voclicas so bastante complexas nosverbos sobresselvanos, como se pode verificar nos seguintes exemplos: cantar cantar, 3a

    sg. conta; mussar mostrar, 3a sg. muossa; tedlar ouvir, 3a sg. teidla; ludar elogiar, 3a

    sg. lauda; serrar fechar, 3a sg. siara; fimar fumar, 3a sg. fema; murir morrer, 3a sg.miera; maner ficar, 3a sg. mogna; cuglienar trair, 3a sg. cugliuna; dumandarperguntar, 3a sg. damonda; rumplanar fazer barulho, 3a sg. rampluna. s vezes aalternncia voclica combina com a mettese: sgarflar coar, 3a sg. sgrefla; creschercrescer, 1a pl. carschin; barschar queimar, 3a sg. brischa.

    A construo Tgei bi che ti eis! mostra uma tendncia romnica inexistente no alemo,ou seja, a incluso do pronome che, como no portugus que belo que tu s! (cf. wie schnbist du!). O adjetivo bi merece ateno, pois est na forma no-predicativa. O sobresselvanotem um curiosssimo caso de conservao da desinncia s do nominativo latino nosadjetivos masculinos singulares com funo predicativa, o que garante muitas vezes formasbastante distintas. Assim, diz-se in bi um um belo homem, mas lum ei bials o homem belo. A distino entre adjetivo predicativo versus atributivo encontra-se no alemotambm, mas, inversamente, a presena de desinncias ocorre nas formas predicativas (derMann ist schn, der schne Mann, ein schner Mann). A presena do s , porm, muitoantiga, pois se opunha ao m do acusativo, que sofreu apcope e causou uma srie demetaplasmos por deixar a slaba aberta. Vide, por exemplo, o timo coccinus vermelho,que na sua forma predicativa tornou-se coccinus > cotschens e na sua forma no-predicativagerou coccinum > coccinu- > tgieschen. O feminino seria coccinam > cotschna e o pluralmasculino coccinos > cotschens, fem. coccinas > cotschnas. Mudanas semelhantes se vemem tgiern chifre, pl. corns ou em tgierp corpo, pl. corps; iev ovo, pl. ovs.A alternnciaie/o que se instaurou desses pares, acabou por espalhar-se, analogicamente, a outras palavrasque no tm um o etimolgico, como caecum > tschiec, caecos > tschocs.

    Na orao Sche tiu cant ei aschi bials sco tia cumparsa, lu eis ti il pli bi utschi da tutspercebe-se as correlaes aschi...sco to... quanto (< lat. *adsic...sic+quomodo),sche...lu... se... ento (< lat. si...illa hora). A inverso do sujeito na orao principal anloga ao do alemo, mas o deslocamento do verbo para depois do predicativo na oraosubordinada condicional no ocorre (wenn dein Gesang so schn ist wie dein Aussehen, dann

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    bist du der schnste von allen Vgeln). A construo do superlativo segue os padresromnicos, ou seja, no usa desinncias, mas uma construo sinttica com artigo definido eadvrbio de intensidade: il pli...da tuts o mais... de todos. Quanto fontica, citem-se asvariantes para cant, que se diz [k (! ] em Mustr, Lumnezia e Plaun; aschi se ouve tambmcomo [u e] no Tujetsch, [ c j] ou [ i] no Cadi. Cumparsa aparncia, formou-se doverbo cumparer aparecer (< lat. comparere). O substantivo utschi pssaro tem o mesmotimo do it. uccello e do fr. oiseau, a saber, lat. aucellum. Como bi belo tem pl. bials,utschi forma o pl. utschals [ut alts].

    Essas consideraes mostram pelo menos uma parte das caractersticas lingsticas dosfalares romanches e por isso a mesma histria da raposa se apresentar nos falares que seestudaro a seguir. Por meio dessas observaes, pretende-se deixar claro o fenmeno dafragmentao do reto-romnico. Percebe-se que para um morador do Tujetsch ou do Foppaaprender o sobresselvano escrito quase to difcil quanto aprender a escrever numa outravariante romanche. A artificialidade das cinco normas cultas do romanche, no entanto, ficarmais evidente nos prximos falares que sero descritos.

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    0.1.2. SUBSELVANO

    O subselvano (que os prprios falantes chamam de rumntsch, sutsilvan; em alemonidwaldisch ou unterlndisch) falado por 5.000 pessoas na regio denominada SUBSELVA(al. Mittelbnden) e tambm na poro oriental da rea sobresselvana, limitando-se ao sulcom a Lombardia e separado do sobresselvano pela floresta de Flem.

    Falam-no as populaes de no Reno posterior:

    a) FOPPA: em Flem (31), juntamente com o sobresselvano.b) PLAUN: regio que vai de Tumleastga a Chur: Trin (32), Bonaduz (33), Razen (34) e

    Domat (35), juntamente com o sobresselvano.c) MANTOGNA, a sul de Plaun e esquerda do Reno, que inclui, de sul a norte: Flerden e

    Portein (3), Sarn e Tartar (2) e Dalin e Prez (1), Cazas e Realta (8). Em alemo, essesfalares so reunidos sobre a denominao de Heinzenbergisch.

    d) TUMLEASTGA, entre Thusis e Razen, direita do Reno, que agrupa de norte a sul: Segliase Scharans (10), Almen (9), Roten e Paspels (7), Giuvalta, Tumegl e Trans (6), Sched (5)e Veulden (4). Em alemo, esses falares so reunidos sob a denominao deDomleschgisch.

    e) SCHONS, ao sul de Mantogna e Tumleastga, separado por reas de fala alem (Tschappina,Urmeins, Thusis, Sils i.D. e Mutten); inclui de sul a norte: direita do Reno: Andeer (15),Pignia (16) e Ziraun (14); esquerda do Reno: Clugin e Vargistagn (13), Donat e Lon(11), Maton (12). Os falares dessa regio so conhecidos como Schamsisch.

    f) VAL FERRERA, ao sul de Schons, na fronteira italiana: Ferrera (17), Calantgil (18).

    Como se pode ver pelo mapa 4, as reas de Mantogna e Tumleastga so separadas doSchons e Val Ferrera por uma rea de fala alem (cf. 0.1.0 da parte I), em que esto aindamuito visveis os substratos romanche e do alemo valesiano (cf. 1.2.1.da parte I) formadapor Tschappina (JENNY 1985), Urmeins, Thusis, Sils i.D. e Mutten.

    Nessa rea tradicionalmente atribuda ao subselvano, tem ocorrido, nos ltimostempos, um intenso decrscimo de uso desse falar romanche. Comparando a rea do Renoanterior (sobresselvano) com a do Reno posterior (subselvano), observa-se que o primeirogrupo equivale a 49,2% dos falantes de romanche nos Grises, enquanto o segundo a apenas2,6%. Na rea subselvana, o romanche a lngua que domina melhor 14% dos habitantes doPlaun, 12% nas demais regies. Como lngua falada na famlia, escola e/ou trabalho, chega a27% no Plaun e 20% nas demais regies e como lngua compreensvel, de 48% do Plaun e36% das demais regies. A nica regio em que a maioria da populao usa subselvano emdetrimento do alemo o lado esquerdo do Reno, na regio de Schons (GROSS et alii, 1996:23-26).

    Mapa 4: rea do subselvano

  • 24

    Do ponto de vista histrico, os textos em subselvano so mais antigos que os emsobresselvano: o primeiro documento o catecismo de Daniel BONIFACI, intitulado Curtmussament pequena cartilha, escrito no dialeto de Tumleastga (1601). Mais tarde, osubselvano imitou a escrita protestante do sobresselvano, sendo por vezes difcil a distinoentre as duas variantes em textos antigos. Somente no sc. XX (1916-1917) que a literaturasubselvana foi retomada. Sua ortografia atual, como se ver abaixo, baseada em grafemasque podem representar vrios sons, chamada Deckmantelorthographie, criada em 1943 porGiuseppe Tommaso GANGALE e lanada no ano seguinte na Conferncia de Scharans. Para oestudo do subselvano indispensvel o dicionrio de MANI (1977), que se baseia nasvariantes da regio chamada Sutselva Pintga pequena Subselva: ou seja, Tumleastga,Mantogna e Schons, abreviadas abaixo com T, M e S.

  • 25

    A seguir traduz-se a mesma histria apresentada para o sobresselvano (0.1.1. da parteI), com trs transcries, respectivamente para os falares de Mantogna, Tumleastga e Schons.

    LA VUALP EARA PUSPE EGNEADA FUMANTADA. QUA ELLA VIEU SEN EGN PEGN EGNCORV CA TANEVA EGN TOC CASCHIEL AINTEN SIEUS PECEL. QUEGL GUSTASS A MEI, ELLA TARTGIEU, ED CLAMO AGLI CORV: TGE BEAL CA TEI ES! SCHA TIEUSTGNT E ASCHI BEAL SCO TIA PARETA, ALURA ES TEI IGL PLE BEAL UTSCHI DA TUTS

    VARIANTE DE MANTOGNA (M):[ O %j +!#%()+ : !j : (! : !#"%$&%')(%* +-,.!/-,021 354 "(6-798" : :7 ! ;5

  • 26

    final de palavra [g]; gh [g], gl+i ou no final de palavra , com ou sem s do plural [ ^M_` emoutros casos, [gl], gn [ aX_ ; h [h]; j [j]; l [l]; m [m]; n [n], mas -n final muitas vezes sepronuncia [ b ] ; p [p]; qu [kw]; r [r], pronunciado nos infintivos em Schons; s [s] ou [z],quando final em pronomes possessivos no se pronuncia exceto em Schons, onde ieus se l[ c9d s]; sc [ eEf ], sch [ e ] ou [ g ], sb [ g h ], sd [ g i ], sf [ ej ], sg [ gk ] ou, seguido de i, [ g&l ], sp[ eEm ], st [ e.n ], stg [ e c], sv [ g v]; t [t], tg [c], em Schons tambm pronunciado [t e ], tsch [t e ];v [v]; x [ks]; z [ts]. Somente admitem-se atualmente as consoantes dobradas ss [s] e ll [l].Os acentos grficos tm vrias funes: o grave indica as variaes regionais como vistasacima, mas tambm (juntamente com o agudo), serve para fazer oposies como acentodiferencial. Tambm com eles se marcam as palavras oxtonas terminadas em vogal. Ocircunflexo tem funo diferencial e s aparece sobre as vogais longas.

    Por meio das transcries, possvel perceber um certo nmero de variaes dentro domesmo grupo romanche. Alm dessas subvariantes, h outras que descem at o nvel de umanica aldeia. Assim, a palavra vualp raposa que parece ter uma pronncia uniforme, naverdade se diz, na regio de Tumleastga, tambm [gwolp] - em Sched - e [vwolp] - emAlmen e Scharans . Tambm h a forma [g o lp] ouvida em Maton, no Schons.

    Algumas diferenas chamam vista: o ditongo ea no aparece no sobresselvano (eara/era); o ditongo sobresselvano ei equivale a e no subselvano (puspei/puspe, ei/e, eis/e,tgei/tge); o sobresselvano i equivale graficamente tambm a um e (in/egn, sin/sen, pli/ple)mas sobresselvano mi, ti mei, tei no sobresselvano; o e pretnico ou em monosslabo tono grafado a no sobresselvano (fomentada/ fumantada, che/ ca, teneva/ taneva, tertgau/tartgieu, sche/scha); a no-palatalizao de c+a uma peculiaridade do sobresselvano, quefica evidente no contraste entre cant/ tgnt (mas em Tumleastga se diz [kawnt] e Prez fogeda pronncia de Mantogna dizendo [cant]); o verbo ha do sobresselvano grafado nosubselvano; as terminaes dos particpios iu, -au do sobresselvano equivalem a ieu, -o nosubselvano. Alm da diferena ortogrfica e fontica, algumas diferenas vocabulares entre osobresselvano e o subselvano so flagrantes. Assim, para corvo, no se diz tgaper mascorv, que usada em todas as variantes, exceto no sobresselvano (mas em Lumnezia h[ci pqr ]). A palavra cumparsa foi substituda por pareta, que tambm existe emsobresselvano. A palavra alura tambm existe em sobresselvano: alura, lura, lu. O advrbiode lugar sobresselvano cheu, com pronncias to variadas, como j visto, sempre qua emsubselvano. A preposio sobresselvana en se diz aint ou ainten no subselvano. Em vez dequei diz-se quegl. Os possessivos miu, tiu, siu se escrevem mieus, tieus, sieus mas compronncias muito distintas, dependendo da rea do subselvano.

    Algumas diferenas so s aparentes: o sobresselvano bec no to distinto dosubselvano pecel, uma vez que tambm se encontram em Tujetsch formas como [pik s l] eem Lumnezia se ouve [pik s l] em Pitatsch e [pek st ] em Lumbrein. A diferena entre opronome de segunda pessoa sobresselvano ti, o subselvano tei e o sobremirano te tambm serelativiza diante de ocorrncias no sobresselvano como a do Tujetsch [te], Cadi [t p j]. Omesmo se pode dizer para pli e ple, uma vez que se encontram no Tujetsch [ple], sem falarde formas como [plo j], do Plaun e [pl u j] em Mantogna; fora essas ainda h [pi], que s oficialmente aceita no sobremirano embora tambm encontrada no Cadi, Foppa, Lumnezia,Tumleastga e Val Mstair. O artigo definido sobresselvano il ope-se de fato ao subselvano

  • 27

    igl (com palatalizao anloga de in/ egn), mas formas como a [ v l], do Tujetsch e de Cadi,tambm encontradas no engadino, mostram que essas normas muitas vezes mascaram muitassemelhanas em prol das peculiaridades regionais das normas regionais. As diferenas decada falar regional, promovidas durante o sc. XIX e concretizadas na forma de grafiasindependentes no sc. XX, se tornam menores diante de inmeras isoglossas que agrupam,por vezes, dois falares num s ou fragmentam o mesmo falar.

    A estrutura sinttica de ambas as variantes idntica, no entanto, o subselvano no tema diferena entre o adjetivo masculino singular predicativo bials e o atributivo bi, queaparece no sobresselvano: naquela variante tem-se sempre beal. Em compensao, noamlgama entre preposio e artigo definido, o subselvano agli mostra um resqucio dodativo latino (< lat. illi), que no aparece no sobresselvano al.

  • 28

    0.1.3. SOBREMIRANO

    O sobremirano (que seus prprios falantes denominam rumantsch, surmiran ou emalemo mittelbndnerisch ou surmeirisch) usado por 4.500 pessoas na regio dos GrisesCentrais (Mittelbnden). Da mesma forma que se usa o termo romanche renano ao conjuntoformado pelo sobresselvano e subselvano, tambm a denominao romanche central usadacomo nome genrico para o subselvano e sobremirano. O nome est associado a Meir (

  • 29

    1939. Muito importante para o estudo do sobremirano o dicionrio de Ambros SONDER &Mena Wthrich-GRISCH (1970) e a gramtica de Gion Peder THNI (1969).

    Mapa 5: rea do sobremirano

    A mesma histria da raposa (cf. 0.1.1. da parte I) ser transcrita abaixo com afinalidade de se fazerem comentrios acerca desse falar.

    LA GOLP ERA PUSPE ENEDA FAMANTADA. CO ELLA VIA SEN EN PEGN EN CORV TGITIGNIVA EN TOC CASCHIEL AN SIES PECAL. CHEGL AM GUSTESS, ELLA PANSO, ED CLAMO AGL CORV: TGE BEL TGI TE IST! SCHI TIES CANT SCHI BEL SCU TIAPARENTSCHA, ALLOURA IST TE IGL PI BEL UTSCHEL DA TOTS

    SOTSES:[ w xyz&{|L} y~x xA}5y}-Dxy&~x C9%M% : &A L %& U %MD 5 : ZM A)

    5 : %M%)A DA-9## #

    %&C -9 E n E

    2L-9 u &

    5

  • 30

    SURSES:[ &L :9 A5-D9 C9%M% : &A L %& V%MD 5J- :%MA) 5: A%M%)A DA-9##B .L# %&CXL.A-9VEAE n -.E .B#L-9 u -9 &5

    As vogais do sobremirano so a [ :] ou [ ], em slaba tona [ ]; e [e:], [e], [ :] ou [ ],em slaba tona [ ]; i [i:] ou [i]; o [o:], [o], [ :] ou [ ]; u [u:] ou [u]. H uma tendncia monotongao nos dialetos de Mon e no Surses at Tinizong (srt), mas no no Sursessuperior e em todo Sotses (stt). Na primeira rea (srt), ocorre um fenmeno chamadoendurecimento (alemo Verschrfung), que consiste numa velarizao extrema da semivogal,a ponto de se transformar num [k]. Esse endurecimento, porm, um trao fortementemarcado do ponto de vista sociolingstico: ai srt [ak], stt [aj]; ei srt [ek] stt [ej] ou srt [ k],stt [ j]; ie srt [e] ou [ik] stt [i ]; oi srt [ok], stt [oj] ou [ j]; ou srt [ok], stt [ow] ou srt [ k], stt[ w]. Os tritongos so iou srt [jok], stt [jow] ou srt [j k], stt [j w], uei srt [wek] stt [wej] ousrt [w k], stt [w j]. As consoantes so b [b]; c+e,i [ts], c+a,o,u, consoante ou final depalavra [k], ch [k]; d [d], no final de palavras [t]; f [f]; g+e,i [ ], no Sotses s vezes [ ];g+a,o,u, consoante ou final de palavra [g]; gh [g], gl+e,i ou no final de palavra , com ou sems do plural [ M em outros casos, [gl], gn [ ], mas no Sotses comum agn- [ajn] e egn-/-ign- [ojn]; h no pronunciado, s vezes [h]; j [j]; k [k]; l [l]; m [m]; n [n] ou, s vezes,final em Surses [ ]; ng [ ] ou [ g], em Sotses [n] ou [ g], com mudana voclica: -ang[awn] ou [ :m], -ung [ wn]; p [p]; qu [kw], em Surses (exceto Bivio e Marmorera) [k]; r[r]; s [s] ou [z]; sc [ E ], sch [ ] ou [ ], sb [ ], sd [ ], sf [ ], sg [ ] ou, seguido de i,[ & ], sl [ l], sm [ E ], sn [ n], sp [ E ], squ [ E ] ou [ k] , st [ . ], stg [ c], sv [ v]; t [t],tg [c], mas no final de palavra, ouve-se no Sotses [t], [ts] ou [t ], tsch [t ]; v [v]; x [ks]; z[ts]. Consoantes dobradas tm o mesmo valor fontico de uma s. O acento grfico gravetm apenas valor diferencial em oposio a palavras sem acento grfico, no marcandosempre a qualidade voclica, assim [ ], mas s vezes [e], mas [ ]. No ocorre . Oacento agudo aparece tambm com valor diferencial e muito raro: [e]. O circunflexotambm se usa com funo de acento diferencial e a vogal sempre longa e fechada, assim [e:] e [o:].

    Como no sobresselvano e no subselvano, a escrita do sobremirano no revela avariedade de formas que existem nas aldeias; assim, nous ns pronunciada [noks] noSurses, [n ] em Vaz, [n ws] em Alvaneu, [naws] em Lantsch. O adjetivo bn bom dosubselvano equivale ao falar de Mantogna [b ], ao de Tumleastga [bewn] e ao de Schons[b ] assim como bung bom se pronuncia [bu ] no Surses, [bewn] em Vaz, [b wn] emAlvaneu, [bawn] em Lantsch.

  • 31

    As transcries do texto acima revelam uma espcie de pronncia standard dasregies. Principalmente o Sotses tem uma grande gama de pronncias locais. Assim, golp noSotses tem pronncias locais como em Casti: [gwolp] e em Vaz [g lp]: a presena ou noda velar sonora [g] no lugar de [v] ocorre em todo territrio romanche. O advrbio schi seouve [u . ] em Vaz e [u . j] em Lantsch. Nessa cidade ainda se encontram pronnciasmuito caractersticas como c [k j], te [ j] alloura [ E ]. Em Alvaneu, o particpiovia se pronuncia [viw]. Observa-se tambm que, apesar da escrita utschel, comum ouvir noSotses formas como [ut i], como no sobresselvano e parte do subselvano. O ditongo ea[ 5 caracterstico da escrita subselvana tambm se ouve no sobremirano, emborasistematicamente escrito e.

    Tambm em todo sobremirano, a forma a 3a sg. do presente do indicativo de aveir,no entanto, esse verbo se pronuncia no Sotses [ JY e no Surses [v kr]. A escrita dosobremirano tambm uma Deckmantelorthographie, como no subselvano.

    Alm disso, h inconsistncias em todas as normas regionais. Assim, o interrogativo[ce] se grafa tge no subselvano/ sobremirano e che no engadino em oposio ao tgeisobresselvano, embora se pronuncie [ce] tambm se encontra no Tujetsch, no Cadi e noPlaun. Por outro lado, h formas como em Foppa [c j], Lumnezia [c j], Domat, no Plaun[ke]. Como se v acima, canto se escreve cant no sobresselvano e se pronuncia comfreqncia [cant]: assim tanto em Savognin, no Surset, quanto em Lantsch, no Sotses eno [kant]. O mesmo se observa para caschiel, comumente ouvido [ca i l] no Sotses,lembrando a palatalizao do engadino chaschl. Tambm h pouca diferena entre osubselvano quegl e a pronncia do Sotses de chegl

    O particpio via, pronunciado no Surses [vi ], lembra a pronncia do subselvano vieudo Schons. Semelhantemente, a pronncia do Sotses para o possessivo sies [se s] bemprxima do sieus de Schons. Observe ainda que sobresselvano miu, tiu, siu forma no-predicativa. A correspondente predicativa mes, tes, ses. As ortografias regionais mascaramsemelhanas, como se pode ver.

    O mesmo ocorre com peculiaridades vocabulares ligadas freqncia de uso, poiscriam uma falsa distino entre as variantes romanches. Viu-se que, para aparncia, osobresselvano utiliza cumparsa, o subselvano pareta e o sobremirano parentscha, noentanto, como j visto, pareta tambm ocorre no sobresselvano, que tambm tem apparenza.No Plaun e em Tumleastga ouve-se [ E %&-.5 O mesmo se d com o verbo pansar(

  • 32

    terminao do alemo e foi formada provavelmente da mesma forma, a saber, influnciaassimilativa do t- do pronome da 2a pessoa quando invertido: *te is, invertido: *is te > ist te,donde te ist tu s. No entanto, curioso que ist se pronuncie [i t] s, mas ast tens sepronuncia [ st], revelando diferenas de pocas para a assimilao do -t. Nesse caso, no fcil apontar o alemo como a causa, mas, pelo menos, a formao do sistema teve apoio nasformas alems para se estabelecer.

    Como na caso da construo verbo+advrbio, no possvel dizer que st migrou doalemo para o sobremirano, mas a presena de st no alemo, como morfema de segundapessoa, tolerou melhor a substituio de s > -st, no sobremirano do que em reas em queesse idioma germnico no estava presente. Isso flagrante na regio do ladino dolomtico.

  • 33

    0.1.4. PUTER

    O puter (que se denominam rumauntsch, ladin, putr ou em alemo oberengadinisch) falado por 3.000 pessoas ao longo do rio En (=Inn) na EngiadinOta entre a Lombardia e asregies de fala sobremirana e valder, exceto em Val Poschiavo, onde s h o lombardo.

    Fala-se puter em:

    a) VAL BREGAGLIA, onde falado juntamente com o lombardo (Vicosoprano, Stampa).b) VAL ALBULA, onde se fala puter junto com o sobremirano. De oeste a leste: em Stogl,

    Latsch e Bravuogn (1). Em Bivio, alm do sobremirano, fala-se tambm puter elombardo. O falar de Bravuogn revela, em muitos aspectos, uma forma intermediriaentre o sobremirano e puter.

    c) ENGIADINOTA: subindo o En, de sul a norte: Fex e Segl (11), Silvaplauna (10), SMurezzan (9), Schlarigna (8), Samedan (7 e 12) e Bever (6). Ao lado direito, entreSchlarigna e Samedan, num afluente do En que nasce em Poschiavo, est Puntraschigna(13). Subindo ainda mais o En, encontram-se, de sul a norte, La Punt Chamues-ch (4),Madulain (5), Zuoz e S-chanf (2), Cinuos-chel e Brail (3)

    O puter , ao lado do subselvano, uma das variantes mais ameaadas de extino.Equivale a 9,4% dos falantes de romanche no canto dos Grises. considerada a lngua que24% dos habitantes da rea tradicional dominam melhor (em S. Murezzan, apenas 6%). Nafamlia, escola e/ou trabalho, 44% dizem usar puter (contra 14% em S. Murezzan). Noentanto, compreensvel para 69% da rea discriminada (em S. Murezzan, 55%). Em todo oterritrio puter, mais do que em outras variantes, o alemo a lngua que predomina, excetoem Cinuos-chel e Brail (GROSS et alii, 1996: 23-26).

    O puter a variante com documentao mais antiga. O primeiro texto data de 1527, opoema histrico-poltico La chianzun dalla guerra dalg chiast da Ms Cano da guerrado Castelo de Muso, de Gian Travers, seguido das obras de Jachiam Bifrun: o catecismona cuorta et christiauna fuorma Uma cartilha pequena e crist (1552) e a mais antigatraduo da Bblia, Lg Nuof Sainc Testamaint (1560). Para o estudo do puter, muitoimportante o uso dos dicionrios de Reto R. BEZZOLA & Rudolf O. TNJACHEN (1944)(alemo-engadino) e Oscar PEER (1962) (engadino-alemo), alm da gramtica de Gian PaulGANZONI (1983). Essas obras refletem os esforos do incio do sc. XX no sentido deatualizar as ortografias tradicionais.

  • 34

    Mapa 6: rea do puter

    Segue-se, com a finalidade de ilustrar, a mesma histria j apresentada nas outrasvariantes (cf. 0.1.1. da parte I):

    LA VUOLP DEIRA DARCHO NA VOUTA FAMANTEDA. CO HOLA VIS SN N PIGN NCORV CHI TGNAIVA N TCH CHASCHL IN SIEU PICAL. QUE AM GUSTESS, HOLAPENSO, ED HO CLAMO AL CORV: CHE BEL CHA T EST! SCHA TIEU CHAUNT ES USCHBEL SCU TIA APPARENTSCHA, ALURA EST IL P BEL UTSCH DA TUOTS

    [ S L LL2 5 :

    :

    !"$#&% ')(*,+.-/013245+67'897:;=?2@2;A+CB= : D 4*FE47; +.G47-; D -HIS /T- D ;A+ I Q : ; D +.-/0132HTUPO l 2 R 6>(O L 6L R 647;V2WO n 6)O s X + L OYUPO D L - K 647;V8G;A+Z0H [7\^] _@_A`Za7b cZd efgh

  • 35

    As vogais do puter so muito prximas do valder, com exceo do fenmeno doendurecimento das vogais fechadas longas, semelhante ao que acontece com os ditongos dosobremirano (srt) : a [ v :] ou [ v ], em slaba tona [ w ]; e [e:], [ x :], [ x ], em slaba tonatambm [ y ]; i [i:]/ [ik]/ [ig] ou [i]; o [o:], [o], [ z :] ou [ z ]; [ { :] ou [ |A} ; u [u:]/ [uk]/ [ug] ou[u]; [y:]/ [yk]/ [yg] ou [ ~ ]. Os ditongos so: ai [ :] em Schlarigna ou [aj]; au [ :], s vezes[aw]; ei [ j]/ [ k]/ [ g] ; eu [ w] ou [ :]; ia [i ]; ie [i ], s vezes [je]; ou [ w]/ [ k]/ [ g];ua [wa]; ue [we]; ui [uj], antes de q e g [ i]; uo [u ]; e [y ]. Os tritongos so ieu [i ] eeau [e: ]. O pronome pessoal eau eu se encontra pronunciado como [e: ], [ j ] ou [aja].As consoantes so b [b]; c+e,i [ts], c+a,o,u, consoante, ou final de palavra [k], ch [c]; ck[k]; d [d], no final de palavras [t]; dsch [d ]; f [f]; g+e,i,, [ ]: gia [ ],gio [ ], giu [ ],g+a,o,u, consoante [g], no final de palavras [c]; gu+vogal [gw] ou [g]; gh [g], gl+i, ou nofinal de palavra , com ou sem s do plural [ , em outros casos, [gl], gn [ A ; h no sepronuncia ou [h], em final de palavra []; j [j]; k [k]; l [l]; m [m]; n [n], em final de palavra,aps vogal posterior [m], tambm aps au [m], aps i [ ] (cf. launa [ l :m ] l, farina[f ri ] farinha) ; p [p]; qu [k]; r [r]; s [s] ou [z]; sc [ Z ], sch [ ] ou [ ], s-ch [ c]; sb[ ], sd [ ], sf [ ], sg [ ] ou, seguido de i, [ ? ], sp [ ], squ [ Z ] ou [ k] , st [ ],sv [ v]; t [t], tsch [t ]; v [v], em fim de palavra [f]; x [ks]; z [ts] ou [dz]. Consoantesdobradas tm o mesmo valor fontico de uma s. O acento grfico grave indica slaba tnicanas oxtonas terminadas em vogal (, , ), exceto para as formas do futuro. O circunflexo acento diferencial que marca a vogal longa. Nenhum dos dois acentos dizem nada a respeitoda qualidade voclica.

    O puter bastante homogneo, por isso, possvel citar poucas variantes fonticas:vuolp em Bravuogn se diz [gwelp]; em Schlarigna o particpio penso se pronuncia[p ndzo] e chaunt em S-chanf [cent]. A homogeneidade do puter est vinculada ao fatode ser a variedade que tem manifestaes ortogrficas mais antigas e, portanto, um empenhomaior no sentido da sua padronizao.

    Em comparao com as variantes j estudadas, so visveis vrias diferenas entre oromanche centro-ocidental (sobresselvano, subselvano e sobremirano) e o romanche oriental(valder e puter). Uma caracterstica do engadino a presena de vogais e , que aparecemtambm no subselvano de Mantogna, embora tenham sido produzidas nessa variante pormotivos muito diferentes. A palavra darcho (< lat. de re caput, cf. vneto darecao) substituiucompletamente a forma puspe(i), embora em Bravuogn se oua essa palavra. Tambm apalavra geda vez concorre com vouta, mas tambm h exemplos no sobremirano dessapalavra: em Bivio [vot ] ou [v t M , em Marmorera [ ]. Curioso que os pronomesmieu, tieu, sieu se pronunciam identicamente forma feminina mia, tia, sia.

    O puter e o valder so as nicas variantes romanches que distinguem um pronomerelativo sujeito chi de um no-sujeito cha, como ocorre com outras lnguas romnicas(francs, italiano). Isso demonstra maior proximidade entre os falares engadinos e o italianosetentrional do que entre os falares do romanche centro-ocidentais. De fato se ver que umasrie de inovaes do romanche at sc. XIV vm de leste para oeste no romanche (cf. cap.2.5 da parte II).

  • 36

    O verbo deira tem prtese de um d- < lat. inde, que aparece tambm em outrostempos: eau dhe eu tenho (ao lado de eu nha do valder), eau dhegia eu tenha. Outracaracterstica do engadino so as formas especiais do pronome pessoal, que se tornam tonosou desaparecem quando pospostos: um verbo como mder mudar se conjuga no presentedo indicativo: eau md, t mdast, el mda, ella mda, nus mdains, vus mdais, els/ ellasmdan, mas, na forma inversa, o mesmo verbo se conjuga: mdi, mdast, mdal, mdla,mdainsa, mdais,mdane. Tambm a presena de pronomes oblquos tonos faz que osfalares engadinos se diferenciem bastante do sobresselvano e se aproxime dos falaresitalianos setentrionais. O pronome da segunda pessoa, quando invertido, desaparece, comoem, t est, que, quando invertido, se torna simplesmente *est t > est maneira do queocorre com o alemo suo, mas, diferentemente desse falar germnico, o desaparecimentodo pronome tambm se estende para a segunda do plural. A tolerncia do pronome tem,porm, uma dupla causa: no s o alemo atuou nisso, mas tambm a elipse pronominal constante nas lnguas romnicas desde o latim. As explicaes monocausais, como se v, sofunciona para fenmenos lingsticos.

  • 37

    0.1.5. VALDER

    O valder (conhecido localmente como rumantsch, ladin, vallader ou, em alemo,unterengadinisch) falado por 6.000 pessoas ao longo do rio En na fronteira da ustria e daItlia, direita do Prtigau, a norte da zona de fala puter, com exceo de Samnaun.

    Fala-se valder nas regies da:

    a) ENGIADINA BASSA uma regio que, acompanhando o En de sul a norte, se subdivideem:

    VAL SURA, que inclui Zernez (11), Susch (10), Lavin (9), Guarda (7), Ardez (8) eFtan (4).

    VAL SUOT, que inclui Tarasp (6) , Scuol (5), Sent, Vna e Ramosch (2), Strada,Martina e Tschlin (1).

    b) VAL MSTAIR, entre o Oberpa e Venosta, incluindo, de oeste a leste: Tschierv (12), L(14) e Mstair (16), a sul do Rom: Fuldera (15), Valchava (13) e Santa Maria i. M. (17).A variante do Val Mstair muitas vezes denominada jauer.

    Em Livigno, na Lombardia italiana, o valder mistura-se com o italiano.O valder , depois do sobresselvano, a variante mais usada nos Grises: 17, 7% dos

    falantes de romanche usam valder. Em toda rea tradicional, a lngua que 68% dosfalantes domina melhor. Quando se pergunta sobre qual lngua se usa em casa, no empregoe/ou escola, o valor chega a 81%. Alm disso, 89% dos habitantes da regio dizem entendero valder. Em Tarasp, no entanto, o alemo a lngua mais corrente (GROSS et alii, 1996: 23-26).

    O valder no tem textos to antigos que o puter, no entanto, as duas normas escritas seestabeleceram desde o sc. XVI. O primeiro texto de que se tem notcia o Cudesch dapsalms, de 1562, de autoria de Durich Chiampel. Para o estudo do valder so usados osmesmos dicionrios j citados de Reto R. BEZZOLA & Rudolf O. TNJACHEN (1944)(alemo-engadino) e Oscar PEER (1962) (engadino-alemo), alm da Grammatica ladina deGian Paul GANZONI (1983). Em francs se encontra o excelente manual de Ricarda LIVER(1991).

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    Mapa 7: rea do valder

    As diferenas regionais do valder so um pouco mais acentuadas do que no puter. Aseguir, a mesma histria (cf. 0.1.1. da parte I) com trs transcries fonticas.

    LA VUOLP DEIRA DARCHEU NA JADA FOMANTADA. QUA HALA VIS SN N PIN NCORV CHI TGNAIVA N TOC CHASCHL IN SEIS PICAL. QUAI AM GUSTESS, HALAPENS, ED HA CLAM AL CORV: CHE BEL CHA T EST! SCHA TEIS CHANT ES USCHBEL SCO TIA APPARENTSCHA, LURA EST IL PL BEL UTSCH DA TUOTS

    VAL SURA:[ & 7 C7 : @ 7

  • 39

    VAL SUOT:[ Z 7 C7n ], sch [ S ] ou [ g ], s-ch [ S c]; sb [ g W ], sd [ g [ ], sf[ So ], sg [ gp ] ou, seguido de i, [ gqh ], sp [ S>V ], squ [ S>n\ ] ou [ S k] , st [ SUT ], sv [ g v]; t [t], tsch[t S ]; v [v], em fim de palavra [f]; x [ks]; z [ts] ou [dz]. Consoantes dobradas tm o mesmovalor fontico de uma s. No entanto, o valder tem a tendncia de geminar as consoantesaps vogais tnicas breves: crescher [ r kr QSSUa r] crescer. O acento grfico grave indicaslaba tnica nas oxtonas terminadas em vogal (, , ). O circunflexo acento diferencialque marca a vogal longa. Nenhum dos dois acentos dizem nada a respeito da qualidadevoclica.

    H pouco que comentar sobre o texto valder. Sua semelhana com o puter muitogrande, exceto pelo aspecto fontico. Assim, fcil distinguir um texto puter dum valder,pois aquele tem desinncias verbais para a primeira conjugao como er, -o, -eda,respectivamente para o infinitivo, particpio masculino e particpio feminino, enquanto estediz ar, -, -ada (clamer/ clamo/ clameda versus clamar/ clam/ clamada). Muitas variaes

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    so apenas aparentes , como, por exemplo: o puter usa, em sua escrita, a palavra p, j ovalder diz pl, mase as transcries acima desmentem a rigidez dessa separao (cf. [ps ]em Val Suot, na transcrio acima). Dentro do prprio valder, contudo, outras pequenasvariantes ainda se vem: assim, o possessivo seis em Ardez se pronuncia em seu usoatributivo [ses] e no seu uso predicativo [sjow]. A semelhana com o sobresselvano nessecaso s ocorre na distino de formas, uma vez que o uso do sufixo s exatamente oinverso do que ocorre naquela variante. O mesmo pronome se diz [sis] em Ftan. Odemonstrativo quei se diz [kw t ] em Zernez. Os verbos no Val Mstair sofrem um curiosohiperbibasmo, assim pensar [p t ns u :r] pronunciado paroxtono em Val Mstair[pendz v r], da mesma forma, clamar [klvXw$xu :r] se diz no Val Mstair [kl y mv{z ].

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    0.1.6. ROMANCHE GRISO

    O romanche griso no o proto-romanche, ou seja, a lngua nica que teria dadoorigem s cinco variantes suas, acima descritas, mas uma construo artificial, idealizadapor Heinrich SCHMID (1989). O objetivo no eliminar as variaes regionais, mas salvar oromanche da extino, desenvolvendo, assim, uma nica norma culta escrita paralela svariantes, que passariam a ser apenas faladas, da mesma forma que o alemo oficial(Hochdeutsch) sobrevive como lngua oficial escrita do ensino, da literatura e da imprensa aolado do alemo suo (schwyzerttsch), basicamente falado e fragmentado numa quantidadeincrvel de dialetos (que, curiosamente, esto se fundindo cada vez mais numa koin semcorrer risco de extino como os dialetos da Alemanha). Desde que SCHMID idealizou oromanche griso como lngua escrita, boa parte do jornal La Quotidiana se encontra jescrito nessa variante e h campanhas para inici-lo nas escolas, no rdio, na TV e nainternet. A aceitao tem demorado menos do que se imaginou.

    Essa proposta no foi a primeira: citem-se como precursoras as tentativas do padrebeneditino P. Placidus a SPESCHA, o rumantsch fusionau de Antoni BHLER e ointerrumantsch de Lezza UFFER. Diferentemente das propostas anteriores, o romanchegriso tem sido usado em maior escala, pois os falantes tm hoje mais conscincia de quesuas variantes esto em processo de extino, mas, mesmo nos meios acadmicos, o que seencontra a presena do alemo preenchendo essa lacuna (cf. cap. 1.2 da parte I). Naverdade, o romanche griso uma koin que foi acelerada, que talvez nunca ocorresseseno artificialmente. Os argumentos para a existncia de uma nica forma escrita para oromanche so fortes: no atual estgio, o romanche se fragmenta em cinco normas distintas,apesar de ter apenas alguns milhares de falantes e as outras lnguas da Sua, que tm statusoficial e no tm menos variantes regionais, utilizam de uma nica norma culta para milhesde falantes. Alm disso, como se pde observar nos pargrafos anteriores, uma criana quev aprender a escrever na sua variante regional, no trar menos dificuldade do que seaprendesse em romanche griso, uma vez que essas variantes regionais so tambm mscarasde uma fragmentao mais profunda, mesmo nos casos em que no usem umaDeckmantelorthographie, como no subselvano e sobremirano. Chega-se, dessa forma, impressionante concluso de que se trata, portanto, de uma nica lngua, to fragmentadaquanto qualquer outra lngua europia, que tem cinco normas cultas.

    A base do romanche griso o princpio da forma mais usada nas variantesobresselvana, sobremirana e valder (que, como se viu, so as mais faladas). A palavracoisa, se diz chaussa em romanche griso, baseado no srs. caussa, no val. chosa e no srm.tgossa. SCHMID, por seguir esse princpio, no leva em conta, a no ser para efeito dedeciso, as formas das variantes mais ameaadas: o put. chosa e do sts. tgossa. No entanto,apesar da escrita padronizada e tradicional para cada variante, observa-se que mesmo emalgumas reas em que h o, o ditongo au persiste na fala. o caso de grande parte reasubselvana, alm de aldeias do sobremirano (Mantogna) e do valder (Lavin, Ardez e Ftan).Em outras reas, a pronncia pode ser com [o] fechado (em Sarn, na regio subselvana deMantogna; no valder de Tschlin) ou com [ | ] aberto (em Veulden, na regio subselvana de

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    Tumleastga; em Lon, na regio subselvana de Schons; no sobremirano de Savognin e deLantsch e no puter de S-chanf). Tambm apesar da escrita com c, diz-se [ } caws ~ ] nosobresselvano de Tujetsch. Noutras reas do valder (a saber, no Val Mnster e em Scuol-Tarasp), a pronncia [ } ca:s ~ ] e, no puter se diz [ } ce:s ~ ], como em Marmorera e Bivio(tambm era assim no valder de Susch).

    Em nenhum momento, SCHMID props inovaes ortogrficas radicais como aeliminao das consoantes geminadas ou a inveno de grafias novas para situaescomplicadas em todo o romanche, como por exemplo, para o trgrafo sch, com o intuito dediferenciar os valores [ ] e [ ]. Embora uma medida assim facilitasse para o estrangeiro quequisesse aprender o idioma, seria de dificil aceitao para os prprios falantes de romanche.Para aplicar o princpio da maioria, no se baseou apenas nas convenes tradicionais dalngua escrita, mas tambm na extenso do fenmeno territorial lingstico no nmeroabsoluto de pessoas que efetivamente falam a variante, pois de nada adiantaria utilizar umaforma amplamente difundida em reas em que o romanche j est praticamente extinto. Porexemplo, SCHMID decidiu eliminar o ditongo ei a favor do ditongo ai, apesar de este parecermais freqente do que aquele: ai usado na escrita somente no engadino, enquanto eiaparece nas formas escritas do sobresselvano e do sobremirano. Explica sua deciso com ofato de que tambm o sobremirano de Sotses pronuncia [aj] e que, no sobresselvano, oditongo [aj] aparece em Lumnezia, Cadi, Tujetsch e Medel, apesar de se escrever semprecomo ei (a pronncia [ej] s aparece no Foppa). Na verdade, a maior parte da rea reto-romnica dos Grises usa [aj] porm o escreve de formas distintas. Tambm observa que agrafia ei ambgua e ai no, uma vez que o engadino usa ei onde o sobresselvano e osobremirano usam e; por outro lado, o sobremirano usa ei [ej] onde o sobresselvano e ovalder grafam i, alm de um outro ei [ j] usado no lugar do sobresselvano ei [aj] e doengadino ai (sem falar das reas em que h endurecimento do ditongo, como j visto).SCHMID levou, pois, em conta no o princpio da maioria nas formas escritas, mas nas formasfaladas.

    O princpio da maioria, porm, no foi usado s cegas, pois desconsiderou quando setratava de uma forma sociolingisticamente muito marcada. Levou em conta tambm acompreensibilidade do resultado dentro do sistema do romanche griso. Por exemplo,abandona casos ambguos, como *li, em favor de lieu lugar, forma obtida atravs doconfronto do sobresselvano liug, do valder l e do sobremirano li. A forma escolhida teriajustificao histrica: lieu, apoia-se em lieuc que aparece em Steffan GABRIEL, sem o cfinal que j se apocopou na maior parte das variantes atuais. Diante de um multiplicidade deformas, a escolha equilibrada muitas vezes fica difcil. Tambm houve a preocupao de nose privilegiar demais uma variante, pois, se a sada muitas vezes era utilizar arbitrariamenteuma variante em detrimento da outra, posteriormente essa escolha era balanceada, para queno houvesse a acusao de preferir-se uma variante a outra.

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    Observa-se nitidamente essa postura mediadora no seguinte problema:

    [ka], [ke], [ki], [ko], [ku] em sobresselvano e sobremirano grafam-se ca, che,chi, co, cu; em subselvano ca, ce, ci, co, cu; em valder e puter ca, (c)ke, (c)ki, co, cu.

    [ca], [ce], [ci], [co], [cu] sobresselvano, subselvano, sobremirano seriam tga,tge, tgi, tgo, tgu; em valder e puter cha, che, chi, cho, chu.

    A soluo conciliadora de Schmid para o romanche griso foi: [ka], [ke], [ki], [ko], [ku] : ca, che, chi, co, cu. [ca], [ce], [ci], [co], [cu]: cha, tge, tgi, cho, tgu no incio das palavras, mas

    tga, tge, tgi, tgo, tgu no meio. Para o som final [c] se escreve sempre tg (como emsobresselvano, subselvano e submirano) e no g ou ch (como em valder e puter).

    A soluo para a grafia do som [c] se justifica da seguinte forma: esse som grafado tgou ch conforme a variante em questo. Um falante de valder acharia estranho escrever tgem casos que sempre escreve ch (por exemplo, *tgasa em vez de chasa) e um sobresselvanotambm acharia estranho, pois pronuncia casa. Optar radicalmente por tg no incio seria umerro, pois nem o sobresselvano nem o valder aceitariam: para uma palavra sobresselvanainiciada com a slaba [ka], como cantar cantar ou cauld quente, um valder teria [ca],respectivamente: chantar, chod. Portanto, ambos estariam acostumados a escrever com ografema c e uma ortografia para o romanche griso do tipo tgantar ou tgaud seria estranhaaos hbitos ortogrficos de ambas as variantes. Por outro lado, escrever chasa, chantar,chaud lembrariam para os dois lados suas escritas regionais a que esto habituados. Quantoao [c] medial ou final, como aparece no sobresselvano spitgar esperar ou notg noiteequivale a um [t] no valder: spettar, not. Novamente, ambos tm o hbito de utilizarem dografema t e escritas como *spechar ou *noch nem sequer pareceriam romanche. A soluoseria manter esse t nas grafias spetgar, notg. SCHMID ento se pauta na proposta de LezaUFFER, que utiliza duas grafias para o mesmo som (contudo com uma regra extremamentesimples), portanto, a funcionalidade da proposta do romanche griso minimizar asestranhezas de uma escrita artificial.

    A proposta do romanche griso faz, muitas vezes, uso da histria interna das variantesdesde o latim vulgar (cap. 0.5). Observe a seguinte tabela de vogais tnicas. O smbolo ]significa slaba fechada (isso , uma slaba em que a vogal seguida de consoante) e [ slabaaberta (aps a vogal inicia-se nova slaba):

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    LATIM VULGAR SOBRESSELVANO VALDER SOBREMIRANO ROMANCHE

    GRISO

    a[ a a a apalatal+a a a e aa[+n au a a auan+consoante au a a aam ou an+n,j,d o o/a o o-a final a a o ae[ ei, e ai ei, e, a aie + st, sc e ai e e [ s/ metafonia e ei e e ] s/ metafonia ia e e e c/ metafonia ie e ie ie / e+nt, mp e ai ai ei[ i i e/ei ii] e i e,i io u u ou u [ s/ metafonia o ou o o33 c/metafonia ie/e/iu ie/e/i ie/e/ieu ] o] uo/u uo u/o/ou u r+consoante c/metafonia

    ie e ie ie

    u[ i e/ei iu] e e,i iau/ al+dental oupalatal

    au o o au

    ct tg t tg tgc+ tg, c ch tg tgc+a tg, c ch, c tg, c tg, cc+a+labial tg, c ch tg chc+a+no-labial tg, c ch tg, c chg+a g, gi gi g, gi gi-g- -g-, -gi- -j-, - -, -v- - - -g-, -j-, - -*w- germnico u-, gu-, g- gu-, g- gu, g-, gh-, v- u-, gu-

    Descartando os sons e , restritos ao engadino, SCHMID computa-os, no clculo doprincpio da maioria, como, respectivamente, e e i. Assim, a palavra stgisa desculpa semontou a partir do srs. stgisa, do val. s-chsa (l-se [ scy:z ]) e do srm. stgeisa. As formasse diferem foneticamente apenas na vogal tnica, mas com a regra de equivalncia i=contra ei, ou seja, duas ocorrncias contra uma, prefere-se i. A multiplicidade das soluesna tabela vem da anlise de palavra por palavra. Assim o lat. vaccam vaca origina srs.

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    vacca, val. vacha, srm. vatga, portanto, rg. vatga (duas ocorrncias do som [c] contra uma dosom [k]), mas outra palavra, foneticamente muito prxima, lat. buccam boca origina srs.bucca, val. bocca, srm. bucca, da o rg. bucca.

    No incomum resultar, pela aplicao do princpio da maioria e da regra deequivalncia, uma forma j existente numa das variantes. Assim, livro se diz cudesch noromanche griso, como no valder (cf. srs. cudisch, srm. codesch), mas sol se diz rg. suleglcomo no sobresselvano (cf. val. sulai, srm. suglegl). Tambm pode ocorrer que dacomparao de variantes se crie uma palavra diferente de todas as existentes nas variantes,por exemplo queijo se diz rg. chaschiel (cf. srs./ srm. caschiel, val. chaschl) ou ganhar,que rg. gudagnar (srs. gudignar, val. guadagnar, srm. gudagner). Observe que cada slabapassou, independentemente, pelo princpio da maioria: gu X gua + da X di + gnar X gner.

    Por causa dessa postura de equilbrio, a proposta de SCHMID difere de outrasfracassadas, que postulavam um maior radicalismo nas regras. Tentativas de equiparar anorma oficial a uma das cinco variantes, como foi a de se usar o sobremirano como varianteoficial do romanche, tambm no deram certo, principalmente pelo fato de o sobremirano terformas foneticamente muito marcadas para os falantes das variantes mais faladas(sobremirano e valder). O fracasso das propostas de padronizao, durante o sculo XIX,para as variantes occitanas do sul da Frana, tambm padece do mesmo problema, uma vezque se pautavam puramente na fontica, ignorando no somente a extenso dos fenmenoslingsticos e sua efetiva utilizao, mas tambm toda a tradio escrita regional.

    A mesma histria da raposa (cf. 0.1.1. da parte I), apresentada para as demais variantes,ficaria da seguinte maneira em romanche griso:

    LA VULP ERA PUSP INA GIADA FOMENTADA. QUA HA ELLA VIS SIN IN PIGN IN CORVCHE TEGNEVA IN TOC CHASCHIEL EN SES PICHEL. QUAI MA GUSTASS, HA ELLAPENS, ED HA CLAM AL CORV: TGE BEL CHE TI ES! SCHE TES CHANT USCH BELSCO TIA PARITA, LUR ES TI IL PLI BEL UTSCH DA TUTS

    Bastaria uma leitura atenta nas consideraes que se fizeram em cada variante paraobservar que o princpio da maioria foi usado risca na histria da raposa. Para o estudo doromanche griso imprescindvel o dicionrio de bolso, que tem linhas gerais de gramtica,publicado pela editora Langenscheidt e organizado por George DARMS, Manfred GROSS &Anna Alice DAZZI (1989). A Lia Rumantscha tem feito amplos esforos para a divulgao doromanche griso. G. DARMS & A. A. DAZZI organizaram, assim, o Pledari Grond (1993; emdisquetes 1995) e Gieri MENZLI desenvolveu um mtodo com fitas cassete intitulado Curs darumantsch grischun (1988). importante observar que o Institut Rumantsch Grischun deChur no trabalha com essa norma, antes seu objetivo principal a confeco do DicziunariRumantsch Grischun, uma obra colossal, ainda inacabada, idealizada no sc. XIX por Robertvon PLANTA e que continua at os dias de hoje, como parte de um grande projeto dos Idiotikasuos (ao lado do Wrterbuch der schweizerdeutschen Sprache, Glossaire des patois de laSuisse romande e do Vocabolario dei dialetti della Svizzera italiana). Alm disso, h muitosfolhetos informativos sobre o romanche griso em vrios idiomas, com a finalidade deconscientizar os falantes de sua necessidade. Recentemente o jornal La Quotidiana anunciou(17/ 07/ 1998) que o romanche griso estava sendo implementado nas escolas de Vaz (regiosobremirana). Sobre a aceitao do romanche griso leia-se DIEKMAN (1991).

    Seguem-se outros exemplos, retirados das Richtlinien de Schmid:

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    ETIMOLOGIA SOBRESSELVANO VALDER SOBREMIRANO ROMANCHE GRISO

    lat. clavem clav clav clav clav chavelat. laxare laschar laschar lascher laschar deixarlat. manum maun man mang maun molat. sanguinemlat. plantam

    saung plonta

    sangplanta

    sancplanta

    sang sangueplanta planta

    lat. grandem grond grond grond grond grandelat. vadit va va vo va ele vailat. filum fil fil feil fil fiolat. horam ura ura oura ura hora, tempolat. rotam roda rouda roda roda rodalat. levem lev leiv lev lev levelat. septem siat set set set setelat. caelum tschiel tschl tschiel tschiel culat. dentem dent daint daint dent dentelat. cristam cresta craista cresta cresta colinalat. aurum aur or or aur ourolat. noctem notg not notg notg noitelat. murumlat. hortum

    mir iert

    mrert

    meiriert

    mir parede, muroiert jardim

    lat. somnumlat. locum

    sien liug

    snl

    sienli

    sien sonolieu lugar

    lat. curtumlat. totumlat. flores

    cuort tut flurs

    cuorttuotfluors

    curttotflours

    curt curtotut todoflurs flores

    lat. casamlat. muscamlat. caballumlat. candelam

    casa mustga cavagl candeila

    chasamuos-chachavaglchandaila

    tgesamostgatgavalcandeila

    chasa casamustga moscachaval cavalochandaila