Herberto Helder

3

Click here to load reader

description

Cultura e poesia

Transcript of Herberto Helder

Escola Bsica 2. e 3. Ciclos Dr. Eduardo Brazo de CastroCurso de Educao e Formao de Adultos

Nvel Bsico Portaria n.80/2008 de 27 de junho,

alterada pela Portaria n. 74/2011 de 30 de junhoAno letivo 2014/2015Turma: B2___

rea de Competncia Chave: Linguagem e Comunicao - Unidade CProposta Trabalho n.

Formador Ricardo Jorge Gomes Camacho

Formando (a)Data

13-04-2015

O site do jornal 'Pblico' est a noticiar a morte do

poeta Herberto Helder. O poeta madeirense tinha

84 anos e morreu, ontem, em Cascais.

Herberto Helder nasceu em 1930 no Funchal

morreu em casa e, segundo o jornal,

no foi possvel apurar a causa da morte.

HERBERTO HELDER

.Herberto Helder de Oliveira (Funchal, 23 de Novembro de 1930) um poeta portugus de ascendncia judaica. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo trabalhado em Lisboa como jornalista, bibliotecrio, tradutor e apresentador de programas de rdio. Viajou por diversos pases da Europa realizando trabalhos corriqueiros, sem nenhuma relao com a literatura e foi redactor da revista Notcia em Luanda, Angola, em 1971, onde sofreu um acidente grave. considerado um dos mais originais poetas vivos de lngua portuguesa. uma figura misantropa, e em torno de si paira uma atmosfera algo misteriosa uma vez que recusa prmios e se nega a dar entrevistas. Em 1994 foi o vencedor do Prmio Pessoa que recusou. pai do jornalista Daniel Oliveira. A sua escrita comeou por se situar no mbito de um surrealismo tardio. Escreveu "Os Passos em Volta", um livro que atravs de vrios contos, sugere as viagens deambulatrias de uma personagem por entre cidades e quotidianos, colocando ao mesmo tempo incertezas acerca da identidade prpria de cada ser humano (fico); "Photomaton e Vox", uma colectnea de ensaios e textos e tambm de vrios poemas. "Poesia Toda" o ttulo de uma antologia pessoal dos seus livros de poesia que tem sido depurada ao longo dos anos. Na edio de 2004 foram retiradas da recolha suas tradues. Alguns dos seus livros desapareceram das mais recentes edies da Poesia Toda, rebatpizada Ofcio Cantante, nomeadamente Vocao Animal e Cobra.

In Pblico. POEMAE deu o salto para a eternidade.A melhor forma de homenagear Herberto Helder (1930-2015), lendo-o:"Falemos de casas, do sagaz exerccio de um poderto firme e silencioso como s houveno tempo mais antigo.Estes so os arquitetos, aqueles que vo morrer,sorrindo com ironia e doura no fundode um alto segredo que os restitui lama.De doces mos irreprimveis.- Sobre os meses, sonhando nas ltimas chuvas,as casas encontram seu inocente jeito de durar contraa boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.Digamos que descobrimos amoras, a corrente ocultado gosto, o entusiasmo do mundo.Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silncioadmirvel das fontes pensamentos nas pedras de alguma coisa celestecomo fogo exemplar.Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musasum pouco inclinadas para ns como estreitas e erguidas florestenebrosas, e temos memriae absorvente melancoliae ateno s portas sobre a extino dos dias altos.Estas so as casas. E se vamos morrer ns mesmos,espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitetosque no viram as torrentes infindveisdas rosas, ou as guas permanentes,ou um sinal de eternidade espalhado nos coraesrpidos.- Que fizeram estes arquitetos destas casas, eles que vagabundearampelos muitos sentidos dos meses,dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra,para que se faa uma ordem, uma durao,uma beleza contra a fora divina?Algum trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.Algum viera do mar.Algum chegara do estrangeiro, coberto de p.Algum lera livros, poemas, profecias, mandamentos,inspiraes.- Estas casas sero destrudas.Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistenteno seu casamento solar, assimse esgotar cada casa, esbulhada de um fogo,vergando a demorada cabea para os rios misteriososda terraonde os prprios arquitetos se desfazem com suas mosmltiplas, as caras ardendo nas velozesiluminaes.Falemos de casas. vero, outono,nome profuso entre as paisagens inclinadasTraziam o sal, os construtoresda alma, comportavam em sirestituidores deslumbramentos em presena da suspensode animais e estrelas,imaginavam bem a pureza com homens e mulheresao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente,tocando uns nos outros comovidos, difceis, dadivosos,ardendo devagar.S um instante em cada primavera se encontravamcom o junquilho original,arrefeciam o resto do ano, eram breves os mestresda inspirao.- E as casas levantavam-sesobre as guas ao comprido do cu.Mas casas, arquitectos, encantadas trocas de carnedoce e obsessiva - tudo issoest longe da cano que era preciso escrever.- E de tudo os espelhos so a inveno mais impura.Falemos de casas, da morte. Casas so rosasPara cheirar muito cedo, ou noite, quando a esperanaNos abandona para sempre.Casas so rios diuturnos, nocturnos riosCelestes que fulguram lentamenteAt uma baa fria que talvez no exista,como uma secreta eternidade.Falemos de casas como quem fala da sua alma,Entre um incndio,Junto ao modelo das searas,na aprendizagem da pacincia de v-las erguere morrer com um pouco, um poucode beleza."Herberto Helder, A Colher na Boca. Lisboa, tica, 1961. p. 13-15.- Ou o Poema Contnuo. Lisboa, Assrio & Alvim, 2004. p. 9-12.Nota: poema transcrito no segue o novo A.O.2