Hidratação Das Pastas de Cimento

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Uma pequena resenha

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  • HIDRATAO DAS PASTAS DE CIMENTO

    (HASTENPFLUG, D., 2012)

    A hidratao do cimento inicia-se com o contato da gua com o gro de

    cimento. Desencadeia-se uma srie de reaes qumicas entre os

    componentes do aglomerante (diversas formas de hidratos de clcio, cal livre,

    lcalis) e a gua, que se processam em taxas diferentes. Estes compostos e os

    produtos formados por suas reaes influenciam entre si, originando hidratos,

    que proporcionam as propriedades mecnicas do sistema cimentcio (como por

    exemplo: pega, coeso, endurecimento). Os principais produtos originados da

    hidratao do cimento so o silicato de clcio hidratado (C-S-H), hidrxido de

    clcio ou portlandita (Ca(OH)2 ou CH) (originados dos componentes silicatos),

    etringita (AFt), monosulfatos (provenientes das partes aluminatos),

    hidrogranada e hidrxido de ferro (LU et al., 1993, MINDESS et al., 1981 e

    YOUNG et al., 1987 apud GARBOCZ, 1994; BEZERRA, 2006).

    Devido heterogeneidade do material constituinte do cimento Portland,

    o processo de hidratao torna-se muito complexo. Desta forma existem

    diversas interpretaes para a dinmica das transformaes que ocorrem

    durante as reaes dos constituintes e sobre os produtos que delas se

    originam.

    SCRIVENER (1984), apud TAYLOR (1990) afirmam que a

    microestrutura da pasta se desenvolve (Figura 1 (a)) a partir da reao do gro

    anidro (etapa 0) com a gua. No perodo de pr-induo, h uma dissoluo do

    C3A que compe o cimento, primeiro a parte lcalis libera ons de K+, Na+ e

    SO42-. Tambm ocorre a dissoluo do sulfato de clcio, que perde ons de

    Ca2+ e SO42-. Durante este perodo se d incio a dissoluo do C3S, C4AF e

    C2S, liberando ons de silicato, Ca2+ e OH- na mistura, em pequenas

    quantidades (etapa 1). A taxa de hidratao do C3S maior do que a do C2S,

    devido uma estrutura cristalina com um nmero de ligaes diretamente com o

    tomo central mais numerosa, tornando-se mais reativo (RAMACHANDRAN,

    1984; BISHOP et al., 2003). Esta etapa da hidratao rpida e ocorre grande

    liberao de calor (pico 1), como pode-se observar na Figura 1 (b). Destas

    reaes, resultam a formao do gel de C-S-H e AFt. Devido precipitao

  • desses compostos forma uma camada externa (MEHTA e MONTEIRO, 1994;

    TAYLOR, 1990, SOUZA, 2007, MORELLI, 2000).

    Figura 1: (a) Desenvolvimento da microestrutura do cimento Portland, adaptado por

    SCRIVENER (BISHOP et al., 2003). (b) Representao da curva da taxa de liberao de calor

    do cimento Portland, dividida em 5 etapas (adaptado de ZAMPIERI,1989) (SOUZA, 2007).

    Aps a formao da camada externa, ocorre uma reduo da taxa de

    hidratao, onde a dissoluo inica acontece em uma velocidade muito menor

    e sem formao de hidratos em quantidade significativa, o que se costuma

    chamar de perodo de induo (SOUZA, 2007; MORELLI, 2000; HEWLETT et

    al., 2004; MEHTA e MONTEIRO, 1994; RAMACHANDRAN, 1984; TAYLOR,

    1990). observada na Figura 1 (b) uma baixa liberao de calor de forma

    contnua, enquanto na mistura, pode-se observar certa plasticidade na mistura.

  • (SOUZA, 2007). Esta reduo na formao de produtos hidratados

    consequncia da camada de C-S-H formada em torno dos gros de cimento,

    que atua como barreira, impedindo o contato da soluo (MICHAUX et al.,

    1990).

    ODLER (1998) afirma que alm dessa casca, o que influencia para que

    o perodo de induo acontea a formao de uma camada de etringita na

    superfcie do C3A do gro, reduzindo o fluxo de ons com o componente mais

    reativo do gro de cimento. Entretanto, ocorre a migrao de ons da fase e

    quando a concentrao de Ca2+ aumenta, ocorre a precipitao e crescimento

    do C-S-H at a ruptura desta camada (MEHTA e MONTEIRO, 1994;

    RAMACHANDRAN, 1984; SOUZA, 2007; HEWLETT et al., 2004).

    Ao final do perodo de dormncia, acontece uma nova acelerao da

    hidratao, onde ocorre uma grande liberao de calor (pico 2, Figura 1 (b)),

    devido a formao de Portlandita (Hidrxido de Clcio, CH), nos poros

    preenchidos de gua, e de C-S-H, depositado em torno dos gros do cimento

    (SCRIVENER, 2004; SOUZA, 2007; MORELLI, 2000; HEWLETT et al., 2004).

    Alm da hidratao do C3S, o C2S comea a reagir, formando uma grande

    quantidade de C-S-H (Figura 2), que o produto hidratado de maior

    contribuio para a resistncia da pasta hidratada.

    Figura 2: Imagem de MEV representando as morfologias tpicas do C-S-H amorfo (a) PENHA,

    et al. 2007; (b) QIAO, et al., 2008.

  • Com as reaes de formao de produtos hidratados ocorre o

    crescimento dos cristais de portlandita (Ca(OH)2 ou CH) (Figura 3) e a

    concentrao de Ca2+ na mistura diminui. Tambm se verifica uma dissoluo

    completa do sulfato de clcio e a formao de etringita (AFt) (Figura 4) e a

    adsoro dos ons pela estrutura de C-S-H.

    Figura 3: Imagem de MEV representando as morfologias tpicas da portlandita: (a) MDUCIN,

    et al., 2007; (b) HOLLIS et al., 2006.

    Figura 4: Imagem de MEV representando a morfologia tpica da Etringita (LIMA, 2004).

  • Em 4 horas observa-se que o gro de cimento est envolvido pela

    camada de produtos hidratados e aps 12 horas ocorre a aglutinao dos

    gros devido ao crescimento externo na membrana que envolve os gros.

    TAYLOR (1990) afirma que neste ponto ocorre a maior taxa de liberao de

    calor, e que este ponto pode ser considerado como o trmino da pega dos

    compostos cimentcios.

    Esta microestrutura formada pela intercomunicao dos gros de

    cimentos e seus produtos hidratados responsvel pelas propriedades

    mecnicas. Os compostos gerados so originados das reaes dos ons

    dissolvidos na soluo e com as substncias precipitadas, formam novos

    produtos consumindo gua, remontando uma estrutura porosa. Na Figura 5

    pode-se observar que existem espaos vazios na camada porosa de hidratos e

    entre esta camada e o gro de cimento. Os novos produtos sero formados

    nestes vazios, por dissoluo-precipitao atravs da difuso de ons

    (SCRIVENER, 1989 apud TAYLOR, 1990; SOUZA, 2007).

    Figura 5: Representao da dinmica de formao das camadas de compostos depositados ao

    longo do perodo de hidratao (SCRIVENER, 2004).

    Apesar do final da pega do cimento, a hidratao do C3S e do C2S no

    cessou. Ainda ocorre a formao de C-S-H, etringita e portlandita,

    principalmente nos espaos internos do gro de cimento, em velocidades e

    quantidades inferiores as etapas anteriores. Isto acorre devido a difuso inica.

    O preenchimento do espao situado entre o gro anidro e da estrutura formada

  • pelos produtos da hidratao pode ser observada em aproximadamente 7 dias

    (SCRIVENER, 1989 apud TAYLOR, 1990; SOUZA, 2007).

    A contnua formao de produtos da hidratao nos espaos da

    microestrutura leva a um refinamento dos poros e consequente adensamento

    do composto cimentcio (Curva 5, Figura 1 (b)). Aos 100 dias da reao de

    hidratao, podem-se observar regies onde existem gros anidros envolvidos

    por uma camada de C-S-H interna com diferentes estgios de formao de

    produtos (Figura 6, A e B) e gros completamente hidratados (C).

    Figura 6: Imagem de MEV representando os diferentes Graus de hidratao do C-S-H no

    interior de uma pasta de cimento Portland hidratado (a/c=0,3 e 100 dias de idade); (DIAMOND,

    2004).

    usual atribuir o final de hidratao aos 28 dias de idade, pois nesta

    data as resistncias adquiridas pela pasta possuem a resistncia mecnica

    desejada. Entretanto, sabe-se que as reaes de hidratao continuam por

    tempo indeterminado, apesar de acontecerem em uma taxa extremamente

    menor.