HIPERBARISMO

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Prof. E. Targino Trabalho Hiperbárico Legislação Lei n o 6514, de 22 de dezembro de 1977, altera o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a nova legislação de segurança e medicina do trabalho. Esta lei foi regulamentada pela Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, com as Normas Regulamentadoras – NR. O trabalho sob condições hiperbáricas trata dos trabalhos sob ar comprimido e dos trabalhos submersos, da Norma Regulamentadora número 15 Anexo 6. Trabalhos sob ar comprimido Trabalho sob ar comprimido, item 1 do referido Anexo, são os efetuados em ambientes onde o trabalhador é obrigado a suportar pressões maiores que a atmosfera e onde se exige cuidadosa descompressão, de acordo com as tabelas encontradas na legislação. Trabalhos Submersos Trabalhos submersos são aqueles efetuados no meio líquido, onde o mergulhador é submetido a pressões maiores que a atmosfera e é exigida cuidadosa descompressão, de acordo com as tabelas existentes na Norma Regulamentadora n o 15 Anexo 6. As normas que regem as atividades submersas são: a) Trabalho submerso, item 2 do mesmo Anexo; b) Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas, NORMAN n o 15, aprovada pela Portaria n o 09, de 11 de fevereiro de 2000, da Marinha do Brasil. Classificações do Mergulho Mergulho em apnéia É o mergulho sem nenhum tipo de equipamento, no qual o mergulhador não respira, logo, permanecendo um tempo restrito sob a água. 1

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Riscos para trabalhos hiperbáricos

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Trabalho Hiperbárico

LegislaçãoLei no 6514, de 22 de dezembro de 1977, altera o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a nova legislação de segurança e medicina do trabalho. Esta lei foi regulamentada pela Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, com as Normas Regulamentadoras – NR.

O trabalho sob condições hiperbáricas trata dos trabalhos sob ar comprimido e dos trabalhos submersos, da Norma Regulamentadora número 15 Anexo 6.

Trabalhos sob ar comprimidoTrabalho sob ar comprimido, item 1 do referido Anexo, são os efetuados em ambientes onde o trabalhador é obrigado a suportar pressões maiores que a atmosfera e onde se exige cuidadosa descompressão, de acordo com as tabelas encontradas na legislação.

Trabalhos SubmersosTrabalhos submersos são aqueles efetuados no meio líquido, onde o mergulhador é submetido a pressões maiores que a atmosfera e é exigida cuidadosa descompressão, de acordo com as tabelas existentes na Norma Regulamentadora no 15 Anexo 6.

As normas que regem as atividades submersas são:

a) Trabalho submerso, item 2 do mesmo Anexo;b) Norma da Autoridade Marítima para Atividades Subaquáticas, NORMAN no 15,

aprovada pela Portaria no 09, de 11 de fevereiro de 2000, da Marinha do Brasil.

Classificações do Mergulho

Mergulho em apnéiaÉ o mergulho sem nenhum tipo de equipamento, no qual o mergulhador não respira, logo, permanecendo um tempo restrito sob a água.

Mergulho com respiração subaquáticaÉ o mergulho realizado com a utilização de algum tipo de equipamento para provir ar ao mergulhador.

Quanto ao gás respirado e profundidade

Mergulho com ar comprimidoProfundidade de até 50 metros. É o limite para utilização do ar comprimido. Este tipo de mergulho caracteriza o mergulho raso.

Mergulho com Mistura Respiratória Artificial – MRA

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Profundidade maior que 50 metros. A mistura utilizada é composta de hélio e oxigênio – hélioxi. Estes parâmetros definem o mergulho fundo.

Quanto ao intervalo entre os mergulhos

Mergulho simplesÉ aquele realizado após um período maior que 12 horas do primeiro mergulho.

Mergulho repetitivoÉ aquele realizado antes de decorridas 12 horas do término de outro mergulho.

Quanto ao tipo de equipamento

Mergulho autônomoÉ aquele no qual a fonte de respiração é transportada pelo mergulhador (o mergulhador transporta os cilindros nas costas, conhecido como aqualung).

Mergulho dependenteÉ aquele no qual a fonte respiratória está na superfície, e chega ao mergulhador por meio de uma mangueira integrante do “umbilical”.

Mergulho com umbilical ligado diretamente a superfícieO mergulhador está preso à superfície pela linha de vida. Somente permitido em mergulho até 50 metros, ou seja, mergulho raso.

Mergulho com sino aberto (cinete)Campânula com a parte inferior aberta e provida de estrado, de modo a abrigar e permitir o transporte de no mínimo dois mergulhadores da superfície ao local de trabalho. Deve possuir sistema próprio de comunicação, suprimento de gases de emergência e vigias que permitam a observação de seu exterior. É permitido em mergulhos de até 90 metros.

Mergulho com sino de mergulho (fechado)Câmara hiperbárica especialmente projetada para ser utilizada em trabalhos submersos, com a mesma pressão do ambiente de trabalho. É uma campânula fechada, utilizada para transferir os mergulhadores, sob pressão, entre o local de trabalho e a câmara de descompressão de superfície.

Técnicas de mergulho

Mergulho unitário ou de intervenção (bounce diving)É o mergulho caracterizado pelas seguintes condições:

a) Utilização de mistura respiratória artificial;b) Quando do retorno à superfície o mergulhador deverá ser descomprimido;c) Tempo de trabalho de fundo limitado a 160 minutos, em caso de utilização de sino

aberto;d) Utilizando o sino de mergulho o tempo de fundo não poderá exceder:

90 minutos para mergulhos até 90 metros; 60 minutos para mergulhos entre 90 e 120 metros; 30 minutos para mergulhos entre 120 e 130 metros.

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Mergulho com técnicas de saturaçãoÉ o procedimento pelo qual o mergulhador evita repetidas descompressões para a pressão atmosférica, permanecendo submetido à pressão ambiente maior que aquela, de tal forma que seu organismo se mantenha saturado com os gases inertes das misturas respiratórias. O mergulhador permanece saturado numa câmara de superfície durante a operação.

O tempo máximo de permanência saturado é de 28 dias.

Princípios Básicos da Física do Mergulho

A matéria e seus estadosMatéria é tudo aquilo que ocupa lugar no espaço, e tem peso. Ela ocorre na natureza em três estados: sólido, líquido e gasoso. Estado sólido se caracteriza pela forma e volume definidos. Já os líquidos têm apenas volume definido e os gases nem forma nem volume, tendendo a ocupar todo o espaço do recipiente em que estiverem contidos. Somente os gases são compressíveis.

Os componentes da atmosferaUm grande número de gases toma parte na composição da atmosfera. No mergulho com ar, nos preocupamos principalmente com o oxigênio e o nitrogênio, principais componentes, e com alguns gases mais raros, mas de grande influência quando ocorrem no meio respiratório.

a) Oxigênio – existe em estado livre na atmosfera da qual faz parte com aproximadamente 20% em volume. É incolor, inodoro e sem sabor;

b) Nitrogênio – no seu estado livre, corresponde a 79% em volume da atmosfera. Inodoro, incolor e insípido. É um gás inerte;

c) Hidrogênio – é o gás mais leve, têm sido conseguidas misturas adequadas ao mergulho profundo, mas, devido às dificuldades em obtê-las com segurança, foi abandonado o seu uso na MRA;

d) Gás Carbônico – encontrado no ar na proporção de 0,04% é desprovido de odor, cor e sabor, entretanto em concentrações mais altas, apresenta cheiro e sabor ácidos;

e) Monóxido de carbono e gás sulfídrico (CO e H2S) – resultantes respectivamente da combustão incompleta e da decomposição da matéria orgânica, são altamente tóxicos e instáveis.

Concentração dos componentes da atmosferaPara efeitos práticos, consideraremos a atmosfera composta de 20% de oxigênio e 80% de nitrogênio em volume, embora se saiba que cerca de 1% corresponde a traços de outros gases.

As Leis dos Gases

Lei de BoyleO volume ocupado por um gás é inversamente proporcional a pressão absoluta a que está submetido.

P0V0 = P1V1

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Lei de DaltonA pressão total de uma mistura é igual à soma das pressões parciais de cada gás componente, onde a pressão parcial de cada gás é aquela que ele exerceria se estivesse só no recipiente.

Ex: Qual a pressão parcial de O2 no ar a 90 metros de profundidade?

A pressão absoluta a 90 metros é 10 ATA (9 ATA + 1 ATA).

Esta é a pressão total da mistura. Se 20% do total correspondem ao O2 sua pressão parcial será 20% de 10 ATA, ou seja, 2 ATA.

Lei de HenryA quantidade de um gás que se dissolve em um líquido é praticamente proporcional a pressão parcial do gás, mantida constante a temperatura. (Se esta baixar, aumentará a difusão).

Ex: Se, no corpo humano temos cerca de 1 litro de nitrogênio dissolvido na pressão atmosférica normal, quantos se dissolverão quando a pressão for de 5 ATA?

Pela Lei de Henry, temos que a quantidade dissolvida é quase proporcional a pressão parcial do gás. Sendo esta cinco vezes maior, teremos cerca de 5 litros que levarão certo tempo para se dissolver.

Princípio de ArquimedesTodo corpo mergulhado num fluido, sofre um empuxo de baixo para cima, igual ao peso do fluido deslocado. A força de flutuação ou reserva de flutuabilidade de um corpo será igual à diferença entre o seu empuxo e o seu peso.

Força de flutuação = E – P

Ex: Quantos quilos poderemos içar do fundo com um tambor cujo volume é 210 litros e o peso 10 kgf?

O empuxo será igual ao peso do líquido deslocado. O volume deslocado pelo tambor, quando totalmente mergulhado, será 210 litros e, como cada litro d’água pesa 1 kg teremos:

E = 210 X 1 = 210 kg

A força de flutuação, que é a capacidade de içamento do tambor, será a diferença entre o empuxo e o seu peso, isto é:

210 kg – 10 kg = 200 kg

Fisiologia do MergulhoNo estudo da adaptação do organismo do mergulhador às condições adversas encontradas nas profundezas submarinas, aqueles que sofrerão mais de perto os efeitos das variações hiperbáricas são: aparelho circulatório, aparelho respiratório e sangue.

Aparelho Circulatório

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O aparelho circulatório leva o sangue aos tecidos para nutri-los com oxigênio, trazendo-o de volta aos pulmões, onde o gás carbônico, produzido nos tecidos é eliminado para o meio ambiente e um novo suprimento de oxigênio é recebido.

O coração, órgão central desse sistema é uma verdadeira bomba aspirante e premente que impulsiona o sangue arterial para os tecidos, recebe-o de volta e o manda aos pulmões para ser reoxigenado e livrar-se do gás carbônico de que está carregado.

Os vasos sanguíneos, condutores do sangue dividem-se em artérias que conduzem o sangue do coração para os tecidos ou para os pulmões, e veias que conduzem o sangue para o coração. Os capilares ligam as artérias às veias em ramificações tão finas que permitem ao sangue banhar diretamente os tecidos ou espalhar-se pelas paredes alveolares.

Vejamos agora como se dá a circulação sanguínea: uma gota de sangue localizada no alvéolo pulmonar, livra-se do gás carbônico, carrega-se de oxigênio e dirigi-se pela veia pulmonar para o coração esquerdo (aurícula esquerda). Daí é lançado pela artéria aorta para todos os tecidos do corpo onde, através dos capilares tissulares, cede o seu oxigênio às células e recebe o gás carbônico proveniente das queimas energéticas que se processam nessas células. É conduzida então pelas veias cavas para o coração direito (aurícula direita) que envia aos pulmões pelas artérias pulmonares, recomeçando o ciclo.

Aparelho RespiratórioO aparelho respiratório conduz o ar do meio exterior para o contato íntimo com o sangue, permitindo as trocas gasosas entre este e o meio ambiente. É constituído pelas vias aéreas (brônquios e bronquíolos) que permitem a passagem do ar para o interior dos pulmões pelos alvéolos, unidades funcionantes propriamente ditas onde processam as trocas gasosas.

As vias aéreas, por não tomarem parte efetiva nessas trocas gasosas, constituem o espaço morto anatômico. Os alvéolos são verdadeiros sacos membranosos envolvidos pela rede capilar pulmonar e atapetados pela delicada membrana alveolar. Envolvendo os pulmões e rebatendo-se para revestir a superfície da caixa torácica temos a pleura, uma membrana que delimita entre seus folhetos a cavidade pleural.

Função Respiratória

Dinâmica da Ventilação PulmonarA inspiração é um movimento ativo que se faz pela ação dos músculos inspiratórios, dilatando a caixa torácica. O diafragma, músculo principal da respiração intervém com 75% e os demais, chamados músculos acessórios (esternoclidomastóideo, escaleno, abdominais e outros) participam com o restante.

A dilatação da caixa torácica leva ao aumento da pressão negativa intrapleural de menos dois para menos cinco centímetros de água, caindo também a pressão intrapulmonar. Segundo a Lei de Boyle o ar é admitido nos pulmões através da inspiração pelo aumento do volume pulmonar. Cessando o estímulo inspiratório, o diafragma se relaxa, a cúpula se eleva, os pulmões elasticamente se retraem pela redução da pressão negativa intrapleural e volta a menos dois centímetros, sendo a expiração portanto um fenômeno passivo. O conjunto

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inspiração e expiração constitui o ciclo respiratório e o número de ciclos por minuto é a frequência respiratória que vai de dez a vinte vezes por minuto no homem normal.

DifusãoÉ a fase da respiração que abrange passagem dos gases do sangue para os alvéolos e vice-versa. Essas trocas ocorrem devido às diferenças de pressão parcial desses gases no ar alveolar, sangue arterial e sangue venoso, criando-se um verdadeiro gradiente responsável pela movimentação constante desses gases.

Principais Volumes PulmonaresO volume de ar contido nos pulmões pode ser assim dividido:

a) Capacidade total – maior volume de ar que pode ser contido nos pulmões após uma inspiração máxima;

b) Capacidade vital – maior volume de ar que pode ser expelido dos pulmões após uma inspiração máxima;

c) Volume residual – volume de ar que fica retido nos pulmões após uma expiração máxima;

d) Volume corrente – volume de ar que se movimenta no ciclo respiratório normal;e) Volume minuto – volume de ar que se movimenta nos pulmões em um minuto.

Normalmente os alvéolos pulmonares são perfundidos pelo sangue dos capilares e ventilados pelo ar para permitir as trocas gasosas. Quando alguns desses alvéolos não são suficientemente perfundidos, ficando prejudicado seu funcionamento, temos a constituição do chamado espaço morto fisiológico, de grande importância na dinâmica respiratória.

Alterações respiratórias do homem durante o mergulho

Aumento do espaço mortoO espaço morto anatômico aumenta, primeiramente pelo acréscimo de peças do equipamento como a máscara facial e introduz um aumento de até 250 cm³. A distensão dos alvéolos pulmonares e bronquíolos pelas condições hiperbáricas aumenta também o espaço morto anatômico.

Aumento da resistência respiratóriaO aumento da pressão pulmonar e da pressão ambiente leva a um aumento da resistência respiratória e consequentemente do trabalho respiratório. Por outro lado, há uma pressão hidrostática, relativamente maior a ser efetivamente vencida. O movimento do ar passa a ser turbilhonar, e a resistência oferecida passa ser proporcional a densidade da mistura, aumentada pelas condições hiperbáricas.

O aumento da resistência respiratória leva a um aumento consequente do trabalho respiratório.

Redução da ventilação alveolarEssa redução se dá, por um lado, pelo aumento do espaço morto já estudado e, pelo outro, por uma redução do volume minuto consequente por sua vez de uma redução de frequência respiratória e do volume corrente pulmonar.

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Elevação do teor de gás carbônicoPrincipais fatores para a elevação do teor de gás carbônico:

Aumento do espaço morto Aumento do trabalho respiratório (com uma maior produção de gás carbônico) Redução da ventilação alveolar Dificuldade no transporte de gás carbônico pelas hemácias que estão impregnadas

pelo oxigênio, com sua pressão parcial aumentada

Estes fatores contribuem para a elevação gradual do teor de gás carbônico no sangue e nos tecidos, Isto provoca, por sua vez, uma vasoconstrição pulmonar que vem acentuar alguns dos mecanismos já estudados com a constituição do ciclo vicioso.

Efeitos da pressão no organismo

Efeitos diretos ou primáriosSão os efeitos mecânicos, exercidos diretamente pelo aumento da pressão.

Efeitos indiretos ou secundáriosSão os efeitos fisiológicos, exercidos por componentes da mistura gasosa sobre determinados tecidos.

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Efeitos Diretos

Barotrauma

Embolia Traumática pelo

Ar

Efeitos Indiretos

Biofísico Doença Descompressiva

Bioquímico

Embriaguez das Profundidades

Intoxicação pelo Oxigênio

Intoxicação pelo Gás Carbônico

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Acidentes e Doenças do Mergulho

BarotraumaÉ um acidente devido à incapacidade do mergulhador de equilibrar a pressão no interior das cavidades pneumáticas do organismo com a pressão ambiente em variação. São as seguintes as formas de barotrauma:

Barotrauma do ouvido médio Barotrauma do ouvido externo Barotrauma dos seios da face ou sinusal Barotrauma pulmonar ou torácico Barotrauma dental

Barotrauma do ouvido médioOcorre quando a pressão ambiente varia, sem que a pressão no interior do ouvido médio possa acompanhar essa variação devido a entupimento da Trompa de Eustáquio por secreções, como no caso de resfriados, ou por qualquer má formação. Pode ocorrer na descida ou na subida que é mais raro.

Persistindo ou aumentado o desequilíbrio, poderá ocorrer a ruptura da membrana timpânica, e, caso haja penetração de água no ouvido interno, órgão importante no equilíbrio, ocorrerão provavelmente náuseas, vômitos e desorientação espacial.

Barotrauma do ouvido externoOcorre pela obstrução do conduto auditivo externo por tampões de borracha, cerúmen ou capuz apertado, ocasionando desequilíbrio de pressões no ouvido. Geralmente ocorre na subida.

Barotrauma dos seios da face ou sinusalOcorre quando a pressão ambiente varia em relação à pressão no interior dos seios da face, devido à obstrução dos ósteos sinusais (canais que ligam os seios a rinofaringe). Cria-se uma região de baixa pressão no seu interior, fazendo sucção sobre a mucosa que os reveste, provocando dor aguda e sangramento pelo nariz.

Barotrauma pulmonar ou torácicoNo mergulho livre os pulmões vão se comprimindo e reduzindo seu volume à medida que a pressão ambiente vai aumentando. Assim, segundo a Lei de Boyle, a capacidade total dos pulmões que na superfície é de 6 litros aos 30 metros passa a ser de 1,5 litros, o que corresponde ao volume residual.

A partir desse ponto, os pulmões passam a se comportar como cavidades aéreas incompressíveis e se o mergulhador prosseguir haverá congestão, passagem de líquido para o interior dos alvéolos e finalmente edema agudo de pulmão.

Barotrauma dentalDurante a descida do mergulhador pode ocorrer uma forte odontalgia, obrigando-o a subir precipitadamente, por vezes, com graves consequências. Acredita-se que isto ocorre pela presença de pequenas bolhas gasosas no interior da polpa dentária que, não se comunicando

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com o ambiente, apresentam no seu interior uma pressão relativamente negativa, explicando o fenômeno doloroso.

Embolia Traumática pelo ArOcorre quando o mergulhador, tendo respirado ar comprimido no fundo retém esse ar durante a subida com aumento da pressão intrapulmonar. Pela Lei de Boyle, à medida que a pressão externa diminui, o volume de ar no interior dos pulmões, aumenta e, como os pulmões têm uma elasticidade limitada, acabarão por romper-se. Bolhas de ar penetrarão na corrente sanguínea interrompendo a irrigação de pontos importantes do organismo.

Doença descompressivaPela Lei de Henry, os gases inertes se dissolvem nos líquidos em quantidades quase proporcionais às pressões parciais dos gases. Assim, se temos dissolvido em nossos tecidos e sangue, cerca de 1 litro de nitrogênio na pressão atmosférica, podemos esperar uma dissolução de cerca de 5 litros quando a pressão for cinco vezes maior. Naturalmente, essa dissolução leva certo tempo para ocorrer, cerca de 12 horas na prática (em alguns tecidos poderá levar 24 horas).

Quando a pressão se reduz, o gás tenderá a abandonar os tecidos voltando a forma gasosa, como ocorre em uma garrafa de refrigerante ao ser aberta. Se a redução de pressão for gradual e lenta, de modo que o gás vá sendo eliminado pelo sangue nos pulmões, nada de mal ocorrerá. Se ao contrário, ocorrer bruscamente, a formação de bolhas se dará em qualquer parte, bloqueando a circulação e causando efeitos localizados. O bloqueio da irrigação sanguínea comprometerá a região afetada, que poderá ser desde uma articulação até o cérebro ou a medula, com graves consequências.

Embriaguez das Profundidades ou NarcoseÉ um quadro provocado pela impregnação difusa do sistema nervoso central, por elementos de uma mistura gasosa respirada além de certa profundidade, com manifestações psíquicas, sensitivas e motoras.

Os seguintes fatores são apontados como determinantes da embriaguez das profundidades:

a) Profundidade – aos 30 metros de profundidade poderão ocorrer os primeiros sintomas da embriaguez. Aos 60 metros, com ar comprimido, a totalidade dos mergulhadores tem o seu desempenho prejudicado por esse problema. Existe, portanto uma proporcionalidade direta entre a profundidade do mergulho e a intensidade dos sintomas;

b) Suscetibilidade individual – como na embriaguez alcoólica, as manifestações da embriaguez das profundidades variam na sua intensidade e qualidade de homem para homem e mesmo em um determinado mergulhador, de dia para dia;

c) Natureza da mistura gasosa – todos os gases inertes podem agir como narcóticos, sendo o nitrogênio considerado o de maior efeito. Com a utilização do hélio e do oxigênio na mistura gasosa, foi possível realizar mergulhos a maiores profundidades e com maior tempo de permanência sem essas manifestações.

Intoxicação pelo Oxigênio

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Os efeitos tóxicos do oxigênio acentuam-se progressivamente à medida que aumenta sua pressão parcial na mistura, atuando principalmente sobre o sistema nervoso e aparelho respiratório. Fatores agravantes:

a) Exercícios físicos – é um dos mais importantes. Quanto maior o esforço físico desprendido mais precocemente se manifestará a intoxicação, provavelmente pelo aumento do gás carbônico;

b) Gás carbônico – o excesso de gás carbônico, conforme comprovado experimentalmente, encurta o período que decorre do início da inalação do oxigênio até o aparecimento dos primeiros sintomas;

c) Meio líquido – mergulho na água apresenta uma incidência maior de intoxicação pelo oxigênio do que na câmara de descompressão;

d) Tensão emocional – a ansiedade e o pânico favorecem o aparecimento da intoxicação pelo oxigênio;

e) Predisposição individual – nos exame médico admissional do mergulhador deverá ser realizado um teste de tolerância ao oxigênio, que consiste em fazer o candidato respirar oxigênio puro sob pressão (2,8 ATA) num período de 30 minutos, na câmara de recompressão. Qualquer sinal ou sintoma de intoxicação pelo oxigênio será motivo de inabilitação.

Intoxicação pelo Gás CarbônicoO excesso de gás carbônico no organismo pode ser consequência do seu teor elevado no ambiente ou de qualquer problema que interfira com o processo normal do seu transporte e eliminação. No mergulho, o gás carbônico pode existir em excesso na mistura gasosa ou algum problema respiratório pode impedir o mergulhador de eliminar de maneira satisfatória o gás carbônico produzido pelo organismo.

Por serem os efeitos do gás carbônico no organismo proporcionais a sua pressão parcial, segundo a Lei de Dalton o perigo de intoxicação é tanto maior quanto mais profundo o mergulho.

ApagamentoO apagamento é uma forma de desmaio comum na prática de mergulho livre, sendo a causa mais frequente dos inúmeros acidentes fatais ocorridos entre os caçadores submarinos. Quando praticamos a apneia, isto é, a suspensão voluntária da respiração, o organismo vai consumindo o oxigênio e produzindo CO2. O desequilíbrio dos dois gases acaba por estimular o centro respiratório que nos fará sentir desejo de respirar antes que a falta de oxigênio venha a causar um desmaio. Tal fato ocorre na superfície. Se, porém, considerarmos o homem em mergulho livre, veremos que as coisas se processam de maneira diferente.

Ao descer ocorrerá um aumento de pressão do ambiente e, em consequência, a pressão parcial do oxigênio nos pulmões crescerá também, causando uma sensação de bem estar. Quando o gás carbônico tiver “crescido” até o ponto de estimular o centro respiratório, pode ser que o oxigênio já tenha sido consumido em grande quantidade. Assim, ao iniciar a subida, o mergulhador retornará a pressões ambientes mais baixas, o que acarretará numa brusca

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redução da pressão parcial do oxigênio, causando desmaio. A morte por afogamento é então iminente.

A situação se torna ainda mais perigosa devido a falta de hiperventilação, que é erroneamente chamada de “oxigenação”. Através dessa prática que consiste em respirar acelerada e intensamente, o mergulhador faz baixar drasticamente a taxa de CO2 nos seus tecidos, embora praticamente não consiga elevar a taxa de O2, uma vez que o sangue normalmente se satura desse gás sem artifícios. Com isso ele retarda o estímulo ao centro bulbar (centro respiratório) que é ativado pela concentração alta do gás carbônico aumentando a sensação de bem estar no fundo e permitindo que o mergulhador consuma mais ainda o seu oxigênio. Nessa situação, se chegar a sentir o estímulo, seu oxigênio já estará muito baixo e ele corre grande risco de apagar na subida.

DescompressãoQuando se respira ar, o oxigênio é consumido no metabolismo, mas o nitrogênio, inerte, se difunde pelo sangue e pelos tecidos de acordo com a Lei de Henry, isto é, a quantidade de gás que é absorvida por um líquido é quase proporcional à pressão parcial do gás em presença do líquido. Essa absorção se dá em um determinado período de tempo e dependerá de vários fatores. Outros fatores menos importantes influenciam a absorção tais como: a temperatura, a vascularização, etc.

A velocidade de absorção de um gás é aproximadamente a mesma de sua liberação, isto é, ele deixará os tecidos em um tempo igual ao que levou para ser absorvido, se mantida as mesmas variações de pressão parcial. Quando o mergulhador inicia seu retorno à superfície, o gás inerte, dissolvido nos seus tecidos, começa a ser liberado em uma velocidade tanto maior quanto maior for a variação da pressão, isto é quanto maior for a velocidade de subida do mergulhador. Se essa subida for muito rápida a quantidade de gás liberado poderá ser tal que ao invés de ocorrer nos alvéolos pulmonares, onde se deu a absorção, a liberação poderá ocorrer em qualquer ponto do organismo, acarretando a formação de bolhas gasosas, tal como acontece quando abrimos uma garrafa de refrigerante. A existência dessas bolhas pode dar origem a chamada “doença descompressiva” com seus graus variáveis de gravidade. Para evitar essa situação indesejável, foram calculadas as “tabelas de descompressão” que estabelecem esquemas, segundo os quais o mergulhador deve voltar à superfície.

Definiçõesa) Profundidade – quando usada para indicar a profundidade num mergulho, significa a

profundidade máxima alcançada durante o mergulho, medida em metros ou pés de água salgada. Também conhecida como nível de vida;

b) Tempo de fundo – é o tempo total decorrido desde que o mergulhador deixa a superfície (DS) até o instante em que ele deixa o fundo (DF), iniciando a subida. É medido em minutos;

c) Parada de descompressão – profundidade específica na qual o mergulhador deverá permanecer por determinado período de tempo para eliminar os gases inertes dissolvidos em seu organismo;

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d) Esquema de descompressão – procedimento específico de descompressão para uma dada combinação de profundidade e tempo de fundo. É normalmente indicado em metros ou pés por minuto (18 metros/40 minutos, por exemplo);

e) Mergulho simples – qualquer mergulho realizado após um período maior que 12 horas na superfície.

f) Mergulho de repetição ou sucessivo – qualquer mergulho realizado após o intervalo de superfície (IS) menor do que 12 horas e maior que 10 minutos;

g) Nitrogênio residual – nitrogênio ainda dissolvido nos tecidos do mergulhador após sua chegada a superfície que leva certo tempo para ser eliminado;

h) Intervalo de superfície – tempo que um mergulhador passa na superfície entre dois mergulhos. Começa a ser contado quando ele chega a superfície e termina quando ele a deixa para um segundo mergulho (DS);

i) Grupo de repetição – é indicado por uma letra, relaciona-se com a quantidade de nitrogênio residual no organismo de um mergulhador após um dado mergulho;

j) Tempo de nitrogênio residual – é um tempo, medido em minutos, que deve ser adicionado ao tempo real de fundo de um mergulho sucessivo, de modo a compensar o nitrogênio residual proveniente de um mergulho anterior. Abreviação: TNR;

k) Esquema de descompressão equivalente – é o esquema de descompressão de um mergulho sucessivo, no qual o tempo total de fundo é igual a soma do tempo real de fundo do mergulho de repetição com o tempo de nitrogênio residual TNR;

Emprego das tabelas

TabelasAs tabelas para mergulho a ar são as seguintes:

Tabela padrão de descompressão a ar Tabela de limites sem descompressão Tabela de tempo de nitrogênio residual Tabela de descompressão na superfície, usando oxigênio Tabela de descompressão na superfície usando ar

Critério para seleção das tabelas

Tabela de descompressão padrão a arAs Condições permitem a descompressão na água. Apresenta esquemas para tempos normais e excepcionais de exposição (tempos de fundo), sendo também usada para calcular a descompressão dos mergulhos sucessivos.

Tabela de limites sem descompressãoMergulho sem descompressão, fornece a letra designativa do grupo de repetição.

Tabela de tempo de nitrogênio residualPara determinação do TNR em mergulhos sucessivos. Fornece grupos de repetição para intervalos de superfície maiores que 10 minutos e menores que 12 horas, com os quais se determina o TNR.

Tabela de descompressão na superfície usando oxigênio

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Usada quando se dispõe de câmara de recompressão com sistema para respiração de oxigênio. Seu emprego ocorre, em geral, quando se necessita abreviar a permanência do mergulho na água, seja por problemas do mergulhador, seja por alteração das condições ambientais.

Tabela de descompressão na superfície usando o arUsada nas mesmas circunstâncias da anterior quando não houver oxigênio disponível ou o mergulhador apresenta intolerância a esse gás. Sua aplicação acarreta considerável aumento no tempo total de descompressão, embora reduza a descompressão na água.

Exemplos de uso das tabelas

Tabela padrão de descompressãoa) Profundidade – utiliza-se a próxima maior existente na tabelab) Tempo de fundo – o próximo maior existente na tabelac) Dados obtidos

Profundidade das paradas de descompressão Tempo para chegar à primeira parada Tempo em cada parada Tempo total de descompressão Letra designativa do grupo de repetição

d) Velocidade de subida - 18m/min (60 pés/min)

Ex: Estabelecer os procedimentos de descompressão para o mergulho abaixo.

Profundidade = 43 metros

DS (deixou a superfície) = 12 horas

DF (deixou o fundo) = 12:37

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Tabela de limites sem descompressãoa) Dados obtidos

Profundidade Tempo de fundo Máximo tempo de fundo sem descompressão para profundidade do mergulho Letra designativa do grupo de repetição para os mergulhos sem descompressão Velocidade de subida: 18m/min

Ex: Qual o tempo de fundo máximo para que um mergulho a 17 m seja sem descompressão? Qual o grupo de repetição caso se faça o mergulho com o tempo de fundo de 21 min?

– Profundidade = 17 metros

– Tempo de fundo = 21 minutos

– Máximo tempo de fundo sem descompressão para a profundidade de 18 metros igual a 60 minutos

– Grupo de repetição para 25 minutos igual a “E”

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Prof. E. Targino

Tabela de tempo de nitrogênio residualEx: Tendo sido realizado o mergulho do exemplo anterior, foi necessário realizar um novo mergulho à profundidade de 14 metros que se iniciou uma hora após o término do mergulho anterior. Com que TNR se iniciou o segundo mergulho? Quais os procedimentos caso o tempo real de fundo desse novo mergulho seja de 80 minutos?

– Grupo de repetição do mergulho anterior = “E”

– Intervalo de superfície = 60 minutos (valores tabulados)

– Novo grupo de repetição?

– Profundidade do novo mergulho?

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Prof. E. Targino

Caso especial para intervalos de superfície inferiores a 10 minutosNesse caso, não se calcula a TNR bastando somar os tempos de fundo dos dois mergulhos e adotar a profundidade maior.

Ex. Se, no exemplo anterior, o intervalo de superfície fosse de 7 minutos apenas, como deveria proceder?

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