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HIPERTENSÃO GESTACIONAL: USO DE MEDICAMENTOS E FATORES DE

RISCO

Osvaldo Silva de Oliveira*

RESUMO

Tema: Revisão sistemática de literatura sobre a relação do uso de medicamentos e fatores de

risco relativos à hipertensão gestacional. Objetivos: Apresentar um consolidado sobre a

relação do uso de medicamentos e os fatores de risco relativos à hipertensão gestacional.

Metodologia: O procedimento metodológico utilizado para dar embasamento a este artigo

científico é exclusivamente o da pesquisa bibliográfica. Este consiste numa pesquisa

sistemática de literatura, de caráter qualitativo, tendo como principal objetivo avaliar os riscos

da hipertensão em gestantes. Abordagem geral: A hipertensão gestacional (Síndromes

Hipertensivas Gestacionais – SHG) é uma das causas mais freqüentes de morte materna. Esta

doença está associada desde a discreta elevação dos níveis pressóricos até a hipertensão grave

com disfunção de vários órgãos, onde são caracterizados por níveis pressóricos sistólicos iguais

ou superiores a 140 mmHg e diastólicas iguais ou superiores a 90 mmHg. Pode ser classificada

em hipertensão arterial crônica (HC), hipertensão crônica sobreposta à pré-eclampsia,

hipertensão gestacional (HG), pré-eclâmpsia (PE) e eclâmpsia (E). O tratamento desse

distúrbio é realizado com o uso de hidralazina e metildopa, relaxando a musculatura lisa das

arteríolas periféricas e reduzindo a resistência vascular.

Palavras-chave: Hipertensão. Gestação. Medicamentos. Fatores de risco.

*Farmacêutico-Bioquímico formado pela Universidade Federal da Bahia.

Universidade Castelo Branco

Atualiza

E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como tema uma revisão sistemática de literatura sobre a relação do uso

de medicamentos e fatores de risco relativos à hipertensão gestacional. Sendo a justificativa

para a realização deste estudo é que a hipertensão é dos maiores problemas durante a gestação,

causa das maiores complicações médicas nesta condição (CECATI, 1998; TANAKA, 1999).

Está caracterizada pelo aumento dos níveis pressóricos sistólicos iguais ou superiores a 140

mmHg e diastólicas iguais ou superiores a 90 mmHg, associando desde a discreta elevação

dos níveis pressóricos até a hipertensão grave com disfunção de vários órgãos (BEZERRA,

2005; TAN, 1998). Este estudo tem o objetivo de apresentar um consolidado sobre a relação

do uso de medicamentos e os fatores de risco relativos à hipertensão gestacional. Avaliando o

uso de medicamentos anti-hipertensivos em gestantes e analisando os fatores de risco da

hipertensão durante a gravidez para a mãe e para o feto.

Esse tipo de doença pode ser diferenciado em hipertensão já existente antes da gravidez e a que

surge com a gravidez. Na primeira, o aumento da pressão arterial é devido ao próprio aspecto

fisiopatológico da doença; já na segunda, é conseqüência da má adaptação do organismo da

mãe à gestação (BEZERRA, 2005; PERAÇOLI, 2005).

Essas síndromes hipertensivas na gestação podem ser classificadas em hipertensão arterial

crônica (de qualquer origem, quando já está presente antes da gestação, diagnosticada até a

vigésima semana ou perdura por mais de 12 semanas após o parto), hipertensão crônica

superajuntada à pré-eclampsia (surgimento de proteinúria ≥ 300 mg/ 24 horas em paciente

hipertensa que não apresentava proteinúria antes de 20 semanas de gestação ou aumento

importante da proteinúria, pressão arterial ou plaquetas < 100.000/mm3 em gestante hipertensa

com proteinúria presente antes de 20 semanas de gestação), hipertensão gestacional (pressão

arterial alterada após a vigésima semana de gestação e costuma desaparecer até dez dias após o

parto, não associado à proteinúria), pré-eclâmpsia (semelhante a HG, associada com

proteinúria superior a 300 mg/ 24 horas) e eclâmpsia (distúrbio hipertensivo associado a

episódios de convulsão) (OLIVEIRA, 2006).

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As drogas mais comumente usadas como anti-hipertensivos durante a gestação são a

hidralazina e a metildopa, que promovem o relaxamento do músculo liso das arteríolas

periféricas e a redução da resistência vascular. O tratamento da PE consiste na redução da

pressão sanguínea materna e aumento do fluxo sanguíneo placentário (FERRÃO, 2006).

O uso de medicamentos deve ser monitorado, pois podem trazer problemas para a mãe e para o

feto. Os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) determinam insuficiência

renal fetal e neonatal com morte do concepto; os beta-adrenérgicos podem causar crescimento

intra-uterino restrito. Assim como vários outros podem causar reações indesejadas

(REZENDE, 2006).

2 METODOLOGIA

O procedimento metodológico utilizado para dar embasamento a este artigo científico foi

exclusivamente o da pesquisa bibliográfica (GIL, 1996). Este consistiu numa pesquisa

sistemática de literatura, de caráter qualitativo, tendo como principal objetivo avaliar os riscos

da hipertensão em gestantes.

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído

principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja

exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas

exclusivamente a partir de fontes bibliográficas (GIL, 1996).

A coleta dos dados foi iniciada em outubro de 2009 e foi até outubro de 2010, através da busca

em revistas científicas, trabalhos acadêmicos e livros-texto, assim como em sites da internet,

tais como Scielo, Bireme, Lilacs, Medline, CAPES, entre outros.

A pesquisa foi realizada através de dados provenientes de estudos e trabalhos científicos

relacionados ao tema, minuciosamente selecionados para responderem à questão investigada

por esta pesquisa. Os resultados dos trabalhos analisados foram apresentados. As palavras-

chave que foram parte da busca são: hipertensão, gestação, medicamentos, fatores de risco.

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3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A HIPERTENSÃO GESTACIONAL

3.1 DEFINIÇÃO DE HIPERTENSÃO GESTACIONAL

A hipertensão arterial existe quando a pressão sistólica está maior ou igual a 140 mmHg e a

diastólica maior ou igual a 90 mmHg, medidas em duas ocasiões com 4 horas de intervalo.

Quando esse distúrbio está associado à gravidez é mais complicado e os riscos para a gestante e

o feto são enormes, sendo uma das maiores causas de complicações médicas nesta condição

(REZENDE, 2006). Em pacientes abaixo de 18 anos esses níveis pressóricos podem ser

menores, daí a necessidade de um monitoramento maior (SIBAI, 2002).

3.2 CLASSIFICAÇÃO DE HIPERTENSÃO GESTACIONAL

É necessário distinguir se a doença é pré-existente ou se surgiu com a gravidez. A hipertensão

crônica pode ser pré-existente, quando diagnostica antes de 20 semanas de gestação ou quando

permanece presente após 12 semanas do parto e está relacionado ao próprio aspecto

fisiopatológico da doença. Já a hipertensão gestacional, a pré-eclâmpsia, eclâmpsia são

adquiridos com a condição gestacional e é conseqüência da falta de adaptação do organismo da

mãe à gestação, surgindo após a vigésima semana e desaparecendo até 12 semanas do parto. Os

piores resultados maternos e perinatais estão associados à pré-eclâmpsia isolada ou quando está

sobreposta a hipertensão crônica pré-existente, onde pode levar à lesão de vários órgãos e

sistemas maternos, principalmente os sistemas vascular, hepático, renal e cerebral (BEZERRA,

2005; PERAÇOLI, 2005).

A hipertensão crônica pode ser classificada em hipertensão primária ou essencial (mais

comum), ou em secundária (em 10% dos casos), levando em consideração a sua etiologia; e, de

acordo com níveis pressóricos, em leve e grave (pressão arterial maior ou igual a 160/110

mmHg). E de acordo com essa classificação é que vai poder identificar o menor ou maior risco

para a paciente durante a gestação e orientar qual será a melhor conduta. O baixo risco vai estar

associado à hipertensão essencial controlada, em que vai apresentar um risco de PE sobreposta

em torno de 10-25%, risco de descolamento prematuro de placenta (DPP) (0,7-1,5%),

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ocorrência de prematuridade (33,3%) e baixo peso ao nascer (11,1%). Já o alto risco vai estar

associado à hipertensão essencial descontrolada ou secundária, ocorrendo um risco de

apresentar lesão em órgão alvo, risco de PE em torno de 50%, risco de DPP (5-10%),

ocorrência de prematuridade (62-70%), baixo peso ao nascer (31-40%) e a possibilidades de

complicações clínicas graves (edema agudo de pulmão, encefalopatia hipertensiva, hemorragia

cerebral, insuficiência renal) (SIBAI, 2002).

A hipertensão gestacional está associada a aumento da pressão arterial sem a presença de

proteinúria; a pré-eclâmpsia apresenta as mesmas características, mas com a presença de

proteinúria acima de 300 mg/ 24 horas; a eclâmpsia está associado também com distúrbios do

sistema nervoso central e presença de convulsões; e a hipertensão crônica superajuntada à pré-

eclampsia é quando há o aparecimento de proteinúria ≥ 300 mg/ 24 horas em paciente

hipertensa que não apresentava proteinúria antes de 20 semanas de gestação ou aumento

importante da proteinúria, pressão arterial ou plaquetas < 100.000/mm3 em gestante hipertensa

com proteinúria presente antes de 20 semanas de gestação (OLIVEIRA, 2006).

A pré-eclâmpsia pode ser definida como leve ou grave. A primeira apresenta com proteinúria

acima de 300 mg até 2 g em 24 horas e pressão arterial até 160/ 110 mmHg. Já a segunda é a

de maior preocupação, pois está associado a proteinúria acima de 5 g/ 24 horas, pressão arterial

acima de 160/ 110 mmHg, creatinina sérica acima de 1,2 mg/dL, oligúria, anasarca, cefaléia

persistente e/ ou dor epigástrica e/ ou distúrbios visuais, mudança de humor, sinais de

insuficiência cardíaca aparente, sinais premonitórios de eclâmpsia e síndrome de HELLP

(PERAÇOLI, 2005).

Síndrome de HELLP é uma complicação grave que pode causar hemólise (anemia hemolítica

microangiopática), enzimas hepáticas aumentadas (TGO, TGP, LDH), plaquetopênia

(plaquetas abaixo de 100.000/mm3), crescimento intra-uterino retardado. Em algumas gestantes

podem surgir apenas uma ou duas destas características da doença, quando isso ocorre é

chamado de Síndrome de HELLP parcial. É uma doença difícil de ser diagnosticada, pois seus

sintomas são inespecíficos, já que podem ser confundidos com uma síndrome viral, podem

apresentar dor epigástrica, mal estar geral, náuseas, vômitos, cefaléia, dor na parte superior do

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abdômen. Esta síndrome pode causar insuficiência cardíaca e pulmonar, hemorragia interna,

alteração hepática, insuficiência renal aguda, acidente vascular cerebral, eclâmpsia,

descolamento prematuro de placenta uterina, causando um grande risco de morte para a mãe e

o feto (ANGONESI, 2007).

Por a Síndrome de HELLP apresentar os mesmos sintomas que muitas outras doenças, podem

ser feito o diagnóstico diferencial com síndrome hemolítica urêmica, apendicite, esteatose

hepática aguda, gastroenterite, encefalopatia, trombocitopenia idiopática (VASCONCELLOS,

2002).

A Eclâmpsia apresenta com as características da pré-eclâmpsia grave e outros sintomas

próprios da doença, tais como crises convulsivas de caráter tônico - clônicas, cefaléia, diplopia,

visão turva, escotomas, epigastralgia, dor em hipocôndrio direito, podendo estar acompanhada

de alterações funcionais no sistema cardiovascular, sistema nervoso central, rins e fígado. Está

mais presente no final da gestação, no terceiro trimestre (VASCONCELLOS, 2002).

3.3 ETIOPATOGENIA DA HIPERTENSÃO GESTACIONAL

Essas síndromes gestacionais têm importância em saúde pública, mas sua origem ainda é

desconhecida. Suspeita-se de um defeito na invasão trofoblástica das arteríolas espiraladas,

devido a fatores genéticos, imunológicos, ambientais ainda não definidos (PERAÇOLI, 2005).

Segundo Rezende (2006), a pré-eclâmpsia pode ser dividida em dois estágios: um com a

invasão superficial da decídua pelo citotrofoblasto extravilositário, causando uma placentação

defeituosa e conseqüente hipoxia placentária, esta liberando diversos fatores solúveis e radicais

livre de oxigênio na circulação materna que causam a disfunção endotelial sistêmica; outro, em

um segundo estágio, manifesta-se com os sinais clínicos próprios da doença, com hipertensão e

proteinúria.

Os maiores problemas clínicos que ocorrem na pré-eclâmpsia estão associados à disfunção

endotelial generalizada, pela hipertensão com tono vascular alterado, proteinúria conseqüente à

maior permeabilidade do glomérulo vascular, coagulopatias como resultado da expressão

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anômala de fatores pró e anticoagulantes e disfunção hepática conseqüente à isquemia

determinada pela lesão endotelial e pela vasoconstrição (REZENDE, 2006).

Existe uma relação positiva entre a presença de hipertensão arterial e a presença de lesões

vasculares crônicas em vasos da decídua. Sendo assim, quanto menor o nível da hipertensão

arterial, mais semelhante está às condições vasculares normais e menores problemas vão

surgir; e, quanto maior os níveis da hipertensão arterial, mais lesões vasculares são observadas

e conseqüentemente, maiores dificuldades para a instalação de processos adaptativos que

assegurem as necessidades para o desenvolvimento do feto, aumentando a incidência de

retardo de crescimento intra-uterino e de perda fetal (SOUSA, 2008).

3.4 FATORES DE RISCO DA HIPERTENSÃO GESTACIONAL

Em pacientes com hipertensão crônica, antes de engravidar devem ser realizados alguns

exames para um melhor monitoramento das alterações já existentes e das que podem surgir

com o advento da gravidez. Dentre eles existem os exames laboratoriais, que vão servir de

parâmetro basal, que incluem uma urocultura, proteinúria de 24 horas, hemograma completo,

função renal com eletrólitos e teste de tolerância à glicose; eletrocardiograma e ecocardiograma

em pacientes que possuem hipertensão crônica por muitos anos, para avaliar a hipertrofia

ventricular esquerda e análise da função sistodiastólica ventricular; exames específicos para

investigação de hipertensão secundária, como feocromocitoma (crises paroxísticas de

hipertensão, hiperglicemia e sudorese), hiperaldosteronismo primário (hipertensão e

hipercalemia) ou estenose da artéria renal (PASCOAL, 2002; SIBAI, 2002).

A hipertensão gestacional apresenta piores prognósticos quando está associado à hipertensão

crônica anterior, diabetes, idade materna acima de 40 anos, alimentação rica em sódio e pobre

em proteína, fatores hereditários, condição física (principalmente em pacientes obesas), nível

sócio-econômico (devido a desnutrição, deficiência na atividade muscular e estresses

psicológicos) (HORTA, 1996). Na pré-eclâmpsia, os fatores de risco para a mãe são as

condições médicas que predispõem à insuficiência vascular subjacente, tais como hipertensão

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crônica, diabete, lúpus eritematoso sistêmico, trombofilia, gestações múltiplas, sendo esta com

diminuição do fluxo placentário (ASSIS, 2008; REZENDE, 2006).

A prevalência de hipertensão gestacional em mulheres em idade procriativa vai de 0,6 a 2,0%,

na faixa de idade entre 18 e 29 anos, e de 4,6 a 22,3% na faixa de idade entre 30 e 39 anos. A

hipertensão arterial na gestação permanece a primeira causa de morte materna direta no Brasil

(37%), onde a maior ocorrência está nas regiões Norte e Nordeste e em menor proporção nas

outras regiões do país (LAURENTI, 2004).

Na pré-eclâmpsia devem ser realizados exames de rotina para evitar a ocorrência desse evento,

tais como: avaliação laboratorial quinzenal, com série vermelha, plaquetometria e pesquisa de

esquizócitos do hemograma, dosagens de uréia, creatinina, ácido úrico, DHL, AST, ALT,

bilirrubinas totais e frações, pesquisa de proteinúria; ultrassonografia, para rastrear o

crescimento fetal restrito; diagnóstico do bem-estar fetal, através do cardiotocografia, volume

do líquido amniótico e dopplervelocimetria (VASCONCELLOS, 2002).

As complicações maternas mais freqüentes são: DPP (1-4%), coagulopatia/ Síndrome HELLP

(10-20%), edema pulmonar/ aspiração (2-5%), insuficiência renal aguda (1-5%), eclâmpsia (<

1%), insuficiência hepática ou hemorragia (< 1%), acidente vascular cerebral (AVC), morte,

morbidade cardiovascular a longo prazo. Já as complicações neonatais mais freqüentes são:

prematuridade (1-5%), restrição de crescimento fetal (10-25%), hipóxia com lesão neurológica

(<1%), morte perinatal (1-2%), morbidade cardiovascular a longo prazo associada ao baixo

peso ao nascer (P <2,5 kg) (SIBAI, 2005).

Pacientes com hipertensão na gravidez possuem um risco de induzir alterações metabólicas e

vasculares após o termino da gestação, associadas ao aumento do risco cardiovascular.

Mulheres que apresentaram pré-eclâmpsia na gestação possuem 4 vezes mais chances de

desenvolver hipertensão arterial crônica e quase duas vezes maior risco de doença arterial

coronariana, AVC e tromboembolismo venoso em até 14 anos após o término da gestação. Daí

a necessidade de avaliações freqüentes dessas pacientes após a gestação para diminuir os riscos

cardiovasculares (CHANDIRAMANI, 2008).

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Fetos em que a mãe teve hipertensão na gestação possuem um risco aumentado em ter

problemas de saúde na vida adulta, já que a restrição de crescimento intrauterino é reconhecida

como grande fator de risco de desenvolvimento de aterosclerose precoce. Por isso que neonatos

com baixo peso também devem ser avaliados e procurar manter um estilo de vida saudável

para evitar problemas futuros (SIBAI, 2005).

3.5 TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO GESTACIONAL

As drogas de escolha para o tratamento da hipertensão arterial crônica moderada a grave

durante a gestação são o metildopa, os betabloqueadores e vasodilatadores, não podendo usar

os IECA, como o captopril, enalapril, benazepril, cilazapril, delapril, fosinopril, lisinopril,

quinapril, perindopril, ramipril, trandolapril e antagonistas seletivos de receptores de

angiotensina II (ARA-2), como candesartano, irbesartano, losartano, telmisartano, valsartano,

pois estes grupos farmacológicos apresentam potencias efeitos teratogênicos (ROMBALDI,

2005). O atenolol, se usado desde os dois primeiros trimestres da gestação, pode ocasionar a

redução do peso fetal. Os diuréticos não devem ser usados, pois reduzem o volume plasmático

materno, podendo agravar a hemoconcentração quando a HC complica com PE sobreposta

(AFIFI, 2003; SIBAI, 2002).

Em pacientes hipertensas crônicas, o tratamento com anti-hipertensivos e manutenção da

pressão arterial dentro dos níveis ideais ajudam a evitar problemas cardiovasculares, mas não

alteram o risco de PE sobreposta (PODYMOW, 2008).

Existem fatores de risco que devem ser levados em consideração quanto o inicio do tratamento

farmacológico, pois existem casos em que há apenas uma pequena alteração pressórica que não

haveria necessidade deste tratamento, mas por estar associado à hipertensão secundária, lesão

em órgão alvo, dislipidemia, idade acima de 40 anos, doença microvascular, história de

acidente vascular encefálico ou perda prévia perinatal, precisam iniciar esse tratamento, já que

podem apresentar maior risco de complicações para a gestante e o feto (SIBAI, 2002) .

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Apesar de inúmeras drogas anti-hipertensivas existentes, muitas vezes, a alternativa para

gestantes com síndromes hipertensivas graves é a interrupção da gravidez para impedir a

evolução das alterações fetais e maternas e sofrimento maior para estes (FERRÃO, 2006). Para

a pré-eclâmpsia leve a moderada é usada a terapêutica conservadora até o concepto chegar à

maturidade (entre 34 a 37 semanas de gestação), monitorando a gestante com avaliação clínico-

laboratorial e a vitabilidade do feto. Após o feto maduro (34 a 37 semanas), qualquer forma

clínica de toxemia gravídica apresentada deve ser resolvida com o parto, mesmo que depois

desapareçam os sinais clínicos e laboratoriais, pois o feto ainda continua em risco, já que

diminui a depuração placentária em 50% a normal (REZENDE, 2006).

Para a pré-eclâmpsia leve/moderada algumas medidas podem ser adotadas, tais como:

profilaxia com uso de aspirina em baixa dose (100 mg por dia), vitaminas C e E (antioxidantes

poderosos, já que nesta condição estão diminuídos, necessitando suplementação), exercícios

físicos na primeira metade da gestação, evitando exageros; evitar ganho excessivo de peso

materno; não consumir álcool e cigarro; repouso no leito em decúbito lateral esquerdo,

melhorando o fluxo sanguíneo renal e uteroplacentário; sedação com diazepínicos ou

barbitúricos, para um repouso melhor do paciente; entre outros (REZENDE, 2006).

Já na pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia, as medidas adotadas podem ser: diminuir ou evitar a

convulsão com o uso de sulfato de magnésio e diazepínico, sendo o primeiro usado somente se

houver decisão para inicio do parto, e quando não acabar as convulsões com seu uso, está

indicado o uso do diazepam em infusão venosa mg/h; combater a hipertensão, evitando o

surgimento de acidente vascular cerebral hemorrágico na gestante, sendo a droga de primeira

escolha o labetalol (bloqueador α e β-adrenérgico) e depois a nifedipina (bloqueador do canal

de cálcio), observando para que os níveis não fiquem abaixo de 130/ 90 mmHg, para não

prejudicar o fluxo uteroplacentário (REZENDE, 2006).

Alguns critérios são usados para avaliar a gravidade da doença e indicar a interrupção da

gravidez. Dentre a gravidade materna, temos: sintomas neurológicos persistentes ou

surgimento de eclâmpsia; edema pulmonar ou saturação de oxigênio < 94% por oximetria; dor

epigástrica ou no quadrante superior direito, mais aumento do TGO e TGP de 2 vezes o basal;

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PA descontrolada apesar de dose máximas de anti-hipertensivos; oligúria (<500 ml/ 24 hs) ou

creatinina sérica maior ou igual a 1,5 mg/dl; plaquetas com valores persistentes abaixo de

100.000/mm3; DPP, progressão do trabalho de parto, ruptura de membranas. Já a gravidade

fetal, temos: restrição do crescimento fetal grave; oligohidrâmnio grave persistente (índice de

líquido amniótico abaixo de 5 cm); desacelerações tardias ou da freqüência cardíaca fetal

repetitivas; perfil biofísico fetal menor ou igual a 4 em duas avaliações com intervalo de 6

horas; fluxo reverso da artéria umbilical ao Doppler; morte fetal (SIBAI, 2007).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hipertensão arterial é um problema de saúde pública, que vem aumentando a cada dia e a

necessidade de monitorar esses pacientes é uma preocupação cada vez maior dos serviços de

saúde. E diante do agravamento da doença quando associado à gestação é que se torna

necessário uma programação maior por parte das mulheres antes de engravidar, para minimizar

as possíveis complicações na gestação.

Após a concepção do feto, é necessário um acompanhamento da gestante por um profissional

competente para que seja realizado um pré-natal e avaliado possíveis alterações clínicas e

laboratoriais decorrentes da gestação. Alterações estas que podem ser o agravamento da

hipertensão de pacientes crônicas e a possibilidade de sobreposição com a pré-eclâmpsia,

podendo agravar ainda mais; ou surgimento da hipertensão durante a gestação e possíveis

complicações comuns a estas, evitando o agravamento dos problemas para a mãe, o feto e até a

interrupção da gravidez.

A terapia medicamentosa nem sempre é a opção mais segura para a hipertensão gestacional e

deve ser muito bem avaliada antes do seu inicio. Daí a importância de um monitoramento por

um profissional competente e usar outras alternativas para o controle pressórico, como a

realização de atividades físicas adequadas, alimentação de forma balanceada, evitar exageros,

dentre outro cuidados.

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GESTATIONAL HYPERTENSION: USE OF MEDICINES AND RISK FACTORS

ABSTRACT

Subject: Systematic literature review on the use of medicines and risk factors related to

gestational hypertension. Objectives: To present a consolidated on the use of medicinal

products and the risk factors related to gestational hypertension. Methodology: The procedure

methodological used to give underpinning this article scientific is exclusively of bibliographic

research. This consists of a search systematic literature qualitative nature, having as main

objective to evaluate the risks of hypertension in pregnant women. General approach: The

gestational hypertension (Hypertensive Syndromes Gestational – SHG) is a most frequent

causes of maternal death. This disease is associated since the slight elevation of the pressure

levels until the severe hypertension with dysfunction of several organs, where levels are

characterized by systolic pressure equal to or greater than 140 mmHg and diastolic pressures

equal to or greater than 90 mmHg. May be classified in chronic arterial hypertension (HC),

chronic hypertension juxtaposed the preeclampsia, gestational hypertension (HG),

preeclampsia (EP) and eclampsia (E). The treatment of this disorder is performed with the use

of hydralazine and methyldopa, the smooth muscles relax of arterioles and reducing the

peripheral vascular resistance.

Keywords: Hypertension. Gestation. Medicinal Products. Risk Factors.

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