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Fracasso neoliberal faz esquerda latina avançar Chico Buarque, o símbolo de uma época Porto Alegre aplaudiu Carioca de pé Página 11 Néstor Kirchner, Evo Morales, Lula e Hugo Chávez representam a chegada da esquerda ao poder na América Latina e a sede por mudanças de 300 milhões de pessoas PÁGINA 8 PÁGINA 9 PÁGINA 6 Mar gaúcho, surfe potiguar Nas mãos do estudante Famecos/ PUCRS ensina jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, março e abril de 2007 – Ano 9 – Nº 54 h ipertext o Luciana Nunes/Hiper Fernanda Fell/Hipper Jovens mantêm casas estudantis Na Plataforma de Atlântida COTIDIANO Sabrina Feijó/Hiper Antônio Scorza/AFP

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Fracasso neoliberal faz esquerda latina avançar

Chico Buarque,o símbolo de

uma épocaPorto Alegre

aplaudiu Carioca de pé

Página 11

Néstor Kirchner, Evo Morales, Lula e Hugo Chávez representam a chegada daesquerda aopoder na América Latina e a sede por mudanças de 300 milhõesde pessoas

PágiNA 8

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Mar gaúcho, surfe potiguar

Nas mãos do estudante

Famecos/ PUCRS ensina jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, março e abril de 2007 – Ano 9 – Nº 54

hipertextoLuciana Nunes/Hiper

Fernanda Fell/Hipper

Jovens mantêm casas estudantis

Na Plataforma de Atlântida

Cotidiano

Sabrina Feijó/Hiper

Antônio Scorza/AFP

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Porto Alegre, março e abril de 2007 2 oPinião HiPERTEXTo

Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hiper-texto/ 045/ index.php

Reitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira

Diretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora/ Jornalismo: Cristiane FingerProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.

Professores Responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Élson Sempé Pedroso (fotojor-nalismo).

ESTAGIÁRIOS:Editores: Brenda Parmeggiani, Lidiana de Moraes e Susy SousaEditores de Fotografia: Fernanda FellEditores de Arte: Brenda Parmeggiani, Juliana Borba, Manuela Kanan e Sabrina SilveiraRepórteres: Bernardo Biavaschi, Brenda Parmeggiani, Bruna Holler Petry, Bruna Lon-garay, Cecília Mombelli, Daniela da Silva Cenci, Fabiana Klein, Fernando Rotta Weigert, Fran-cine Natacha da Silva, Giovanna Milani, Laion

Espíndula, Lidiana de Moraes, Maíra Fedatto, Márcia Milani Soares, Maria José Mendes da Silva, Mariana B. Soares, Patrícia Lima, Rafael de Lemos Vigna, Sabrina P. Silveira, Susy Sou-sa, Tatiana Feldens, Tiara Vaz Ribeiro, Thais Silveira e Vinícius Roratto CarvalhoRepórteres Fotográficos: Caroline Bicocci, Fernanda Fell, Giovana Milani, Juliana Frei-tas, Luciana Nunes, Manuela Kanan, Ricardo Antunes, Sabrina Feijó, Taidje Gut, Thiago Marques e Vinicius Carvalho

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

Mariana Baierle Soares

Os estrangeirismos na língua portuguesa, cada vez mais freqüen-tes, geram diversas discussões e polêmicas. A população é alvo direto de nomes próprios, substantivos, verbos e até logotipos, marcas e gírias que provêm de outros idiomas e integram-se ao nosso dia-a-dia sem que percebamos. O posicionamento de muitos é radicalmente contrário ao uso de estrangeirismos.

Entre muitas manifestações extremistas inclui-se um projeto de lei que foi postulado em 2001 pelo deputado Aldo Rebelo (PC do B de São Paulo), visando extinguir o uso de palavras de origem de outro idio-ma. A intenção, aparentemente boa – buscando, segundo texto do próprio projeto, “proteger”, “promover” e “defender” a língua portuguesa da interferência das demais – revela um profundo desconhecimento de questões lingüísticas e do próprio surgimento da língua portuguesa.

O nosso idioma sofre a influ-ência de outras culturas desde a sua constituição original, sendo a maioria das palavras originadas do latim e do grego. Além disso, em um mundo globalizado, em que há um contato intenso entre os países, é impossível evitar esse intercâmbio lingüístico que inevitavelmente ocorre. Assim, torna-se difícil especificar o limite entre o estrangeirismo e a origem

morfológica natural das palavras.A população instruída, em ge-

ral, é resistente aos estrangeirismos mais evidentes hoje em dia – os que ocorrem com o inglês. Tal idioma domina nossos shoppings, reallity shows, magazines, skates, moda-surfing, outdoors e promove offs em nossas mega stores. Sem dúvida, muitas das palavras norte-americanas já fazem parte do nosso cotidiano, sem expli-cação aparente. Para a maioria delas existem termos correspondentes no português.

O uso indiscriminado de termos norte-americanos incomoda muitas pessoas. É o que acontece aparente-mente com o deputado Aldo Rebelo. Porém, precisamos ser coerentes e observar os estrangeirismos em qual-quer língua da mesma forma. Não é somente o inglês que influencia o português. Latim, grego, espanhol, italiano, tupi, entre outros também são profundos influenciadores e transformadores do idioma, na me-dida em que importamos muitos de seus vocábulos. O português é uma língua viva, sujeita às modificações de seu tempo e contexto.

Estrangeirismos não são apenas as expressões norte-americanas.

Esta é uma falsa idéia que as pessoas relacionam com a questão. O nosso idioma sofre, comprovadamente, diversas interferências e está em con-tato com muitos outros povos. Seria humanamente impossível coibir o uso de estrangeirismos, até porque alterações desse gênero fazem parte da evolução natural da língua.

Desta forma, uma lei radical e incoerente, como a proposta por Rebelo, demonstra falta de apro-fundamento na questão. Segundo sua proposta, seríamos proibidos de usar grande parte dos vocábulos já consolidados por serem importados de outros idiomas (e, como tal, serem considerados estrangeirismos).

Cabe à população bom senso e reivindicar as lojas com promo-ções nos centros comerciais, em detrimento das stores, offs e shoppings. Porém, haverá momentos em que o português não possuirá uma tradução para palavras como pizza ou muitas outras que, de tanto uti-lizarmos, já foram incorporadas aos nossos dicionários. Como exemplos desses vocábulos derivados de outras línguas destacam-se deletar, chance, check-in, buquê, abajur, souvenir, algarismo, espagueti, garagem, cane-lone, lasanha, aimoré, entre outras. Eis provas concretas da vitalidade e dinamicidade da língua portuguesa e da impossibilidade de conseguirmos engessá-la e viabilizar uma proposta como essa.

Estrangeirismos são ameaças ao português?

Editorial

O idioma é dinâmicoe sofre a influênciade várias línguas

O clichê (necessário) da violência

Fica cansativo bater sempre na mesma tecla. A violência está por toda parte. Ela bate à porta, aborda numa esquina, chama ao celular. Falar sobre ela torna-se um clichê necessário a partir do momento que se reinventa, se atualiza. Todo dia os jornais noticiam um novo tipo de golpe, que deixa as pessoas presas dentro de suas casas, desconfiadas a cada passo e isoladas pelo medo.

Em função de tragédias recentes, veio ao debate público a questão da redução da maioridade penal, por exemplo. Essa possível alteração na legislação foi vista como solução para a violência. No entanto, ao prender delinqüentes a partir dos 16 anos, seria cometido um erro. Os crimes são também cometidos por adolescentes de 13, 14 e 15 anos. Logo, de que adianta prender aos 16? Além disso, os presídios não têm condições de arcar com mais apena-dos. A conseqüência imediata da re-dução da maioridade seria o aumento do contingente penitenciário.

E se tudo isso não bastasse, a governadora Yeda Crusius demitiu o então secretário de segurança Enio Bacci deflagrando a crise da seguran-ça no Rio Grande do Sul. Embora os números da violência – a média

chegou a cinco homicídios por dia no Estado – não fossem animado-res, a postura de Bacci agradava aos gaúchos. O ex-secretário talvez tenha pecado pelo excesso de mídia, mas a violência pauta telejornais, bole-tins de rádio e páginas dos jornais diariamente. Não era um secretário midiático a necessidade do Estado. Mesmo assim, o nível de aceitação de Bacci parecia colaborar para a governabilidade de Yeda Crusius.

Esperamos que o novo secretário saiba controlar a criminalidade e supra as necessidades da segurança.O que se precisa, na verdade, é estru-tura, educação e fim da impunidade. Todas as medidas devem buscar re-sultados a longo prazo. Ainda, faz-se necessária uma revisão da legislação. Basta ler as manchetes que anunciam a volta de Papagaio, um dos mais conhecidos criminosos do Estado, ao regime semi-aberto. Sem estru-tura, como é possível regenerá-lo? Por esses tantos motivos, o debate sobre violência é essencial para a sociedade. É aí que entra o papel dos jornais. Se abordarmos os fatos, armamos as pessoas para a batalha contra a violência. Falar sobre ela é um clichê necessário, até vital.

Brenda Parmeggiani, editora

Artigo

Fernanda Fell/Hiper

Vinícius Roratto Carvalho

A cobertura termina e ele pa-rece um trapo. As mãos inchadas, torcicolo e cãibras na batata da perna forçam-no a sentar por alguns minutos. Suado e com a roupa amassada, carrega a câmera e as lentes que no início pesavam dois quilos e meio, agora parecem dez. Esta figura não estava cobrindo uma explosão de homem bomba em

Bagdá ou um tiroteio no Rio, estava no quinto andar de um shopping cobrindo uma pauta de moda.

A sétima edição do desfile Don-na Fashion Iguatemi aconteceu de 11 a 15 de abril. Modelos de 20 gri-fes pisaram na passarela, cada uma exibia alguma atração especial como atores de novela, BBBs, ex e futu-ros... Um evento que parece uma cobertura tranqüila e glamourosa, torna-se entrevero de fotógrafos

e cinegrafistas em busca a melhor imagem.

Estudantes de jornalismo, fotó-grafos de grifes, imprensa e sites da moda se acotovelavam em espaço reduzido na busca por um belo sor-riso, um olhar marcante ou até um escorregão. Nada. Quem se move na hora, diante da lente, é uma careca reluzente. Ao tentar nova foto, ele leva pisada no pé, cotovelada no peito. Parece guerra.

Cotovelada, pisada no pé, uma careca na frente

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Porto Alegre, março e abril de 2007 IPERTEXTO H 3POLÍTICA

Lidiana de Moraes e Susy Sousa

“O Brasil está vivendo um momento mágico”, discursa o pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro pronunciamento após a reeleição, dia 29 de outubro de 2006. Já nessa época, a crise aérea tomava conta dos aeroportos. Seis meses depois do começo do segundo mandato de Lula fica a pergunta: o momento mágico ainda existe?

Iniciar um segundo mandato é garantia de que comparações serão feitas. A cientista política Aurea Pe-tersen vê a continuidade do trabalho como uma meta a ser atingida: “O primeiro governo foi dedicado a for-talecer a economia e buscar soluções para os problemas sociais mais sé-rios. Também foi dada grande ênfase à política internacional. Agora, seis meses é pouco tempo para avaliar um governo que ainda tem pela frente três anos e meio. No entanto ,está sendo dada continuidade ao trabalho do período anterior”.

Uma das primeiras providências a ser tomada foi a escolha do Mi-nistério. Assim começa o jogo da escolha dos ocupantes das cadeiras do alto escalão do governo. O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Sté-dile, em entrevista ao Estado de São Paulo em 9 de abril, criticou as alianças feitas pelo atual governo: “Infelizmente o governo Lula não entendeu o recado das urnas do se-

gundo turno e voltou a fazer alianças políticas e de classe que representam a adesão pragmática da direita com o governo. A direita só quer ganhar dinheiro e manter a exploração e para isso se alia e controla qualquer governo, mesmo que seja de um ex-líder operário”.

Para Petersen, os ministros devem ajudar a pôr em prática os projetos do governo: “Eles foram escolhidos pelo presidente, são seus auxiliares diretos e respondem pelas decisões em uma ou outra área, pois são experientes na mesma”.

Entretanto, alguns fatos fazem com que oposição ponha em dúvida a capacidade dos escolhidos por Lula. Em 26 de março de 2007, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) foi confirmado como novo Ministro dos Transportes, mesmo ele sendo suspeito de falsificar do-cumentos fiscais, comprado votos e cometido crime de abuso de poder econômico na campanha de 2006.

A economiaA estabilidade econômica brasi-

leira é outro ponto de discussão en-tre o presidente e os adversários. O professor de Mestrado da disciplina Desenvolvimento Econômico, Nali de Souza, faz uma análise diferente das condições do país: “A economia está engessada por uma pesada carga tributária e câmbio valorizado, o que dificulta a expansão das expor-tações”. O professor crê que há a

As mágicas do governo Lula

Crise dos controladores de vôo e o caos nos aeroportos movimentam o segundo mandato de Lula

Maria José Mendes da Silva

O Imposto de Renda (IR) é cobrado em vários países onde cada pessoa ou empresa é obrigada a deduzir um percentual de sua renda média anual para o Governo. Se você acaba de descobrir que passou a ser contribuinte do IR, precisa entregar a Declaração de Ajuste Anual em 2007 e achou tudo muito complexo, é hora de aprender a declarar seus rendimentos, o que deve ser feito até o final deste mês, 30 de abril.

Conforme a legislação, a pessoa física que em 2006 obteve rendimen-tos tributáveis acima de R$ 14.992,32 deve prestar contas à Receita. Essa obrigação, antes responsabilidade de adultos, passa a ser a realidade de jovens também. “Algumas despesas são dedutíveis da base de cálculo do imposto, ou seja, pode-se usar os gastos com a faculdade, plano de saúde, dependentes etc., para reduzir o IR a pagar”, explica o consultor

Jovens aprendem a língua do Leãotributário Jairo Moraes.

A habilidade dos jovens com a internet deve facilitar a declaração. Usando programas IRPF 2007 e Receitanet, a declaração é preenchi-da no programa IRPF e transmitida com o auxílio do Receitanet.

O supervisor do Imposto de Renda, Joaquim Adir, revela que 99% das declarações são feitas pela internet. Segundo ele, a exemplo do ano passado, muitas pessoas dei-xarão para enviar a declaração nos últimos dias. “Em 2006, mais de 9 milhões de contribuintes deixaram para enviar as declarações nos últi-mos quatro dias”, disse Adir.

Segundo o consultor Jairo Mora-es, se o contribuinte não comprovar as despesas contidas na sua Decla-ração de Imposto de Renda Pessoa Física, a Receita processará os dados sem os gastos não-justificados. Se tiver imposto a pagar, será acrescido de multa e juros desde a data do ven-cimento da primeira parcela. A multa

Comparações com os primeiros quatro anos e a economia são os desafios do segundo mandato

Brasil

possibilidade de aumentar o ritmo de crescimento, mas para isso é preciso estimular o investimento privado, sobretudo o estrangeiro.

Quanto ao investimento na-cional, é necessário que haja maior desoneração fiscal de setores estraté-gicos e a redução das taxas de juros. O coordenador regional do Partido dos Trabalhadores (PT) e assessor do gabinete do deputado Paulo Pimenta, Margenato de Mattos, de-

fende o momento que a economia brasileira vem passando e acredita que o fim das dívidas com o FMI e a queda do risco Brasil servem como um indicador da estabilidade econômica.

Mas então, a magia ainda está no ar? Para Aurea Petersen, a confiança dos brasileiros em seus governantes é um fator importante para o pro-gresso: “Os resultados eleitorais e as avaliações do governo são um

indício de que a população tem esperança de que ocorram avanços econômicos e sociais”. Margenato de Mattos acredita que é preciso manter o otimismo. “Espero que o presidente não seja mágico, mas que ele seja otimista, pois ele deve ser a pessoa mais positiva do país”, refor-ça. Com mágica ou sem mágica, Lula ainda tem alguns anos de mandato para provar para o povo brasileiro que a realidade pode mudar.

Mauricio Lima/AFP

mínima para quem perder o prazo é de R$ 165,74 e máxima de 20% do imposto devido. Moraes lembra que existem dois tipos de formulários, o simplificado e o completo. Na decla-ração simplificada utiliza o desconto de 20% dos rendimentos tributáveis, limitado a R$ 11.167,20. Este des-conto substitui todas as deduções legais da completa, sem a necessi-dade de comprovação. O modelo completo obriga o contribuinte a preencher todos os campos. Podem entrar na lista de deduções gastos com saúde e instrução, contribuições às previdência oficial e privada.

O prazo para a entrega das de-clarações termina dia 30 de abril às 20h, pela internet, e até o horário do expediente bancário ou das agências dos correios, caso a entrega seja feito em disquetes ou formulários. O con-tribuinte que tenha recebido menos de R$ 14.992,32 mil é considerado isento e a declaração para esses casos começa em outubro.Antes restrito aos adultos, o IR vira realidade aos jovens também

Caroline Bicocci/ Hiper

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Porto Alegre, março e abril 2007 4 ÚLTIMAs HIPERTEXTO

Projeto do aeromóvel ganha novo impulso PUCRS e UFRGS desenvolvem tecnologia do veículo

recortes

Capital no mapa mundial da Cebit

Uma comitiva alemã esteve na Capital no final de março avalian-do as condições da cidade para sediar a maior feira de tecnologia do mundo. O interesse em trazer a marca deste evento foi manifes-tado na última edição da feira, em Hannover, na segunda quinzena de março.

Uma parceria entre a Câmara Municipal e a Softsul (Sociedade Sul-riograndense de Apoio ao Desenvolvimento de Sotware) possibilitou a ida à Alemanha

de uma comissão, formada por políticos e empresários. Criado em janeiro deste ano, o “Comitê Pró-Cebit” levou à direção do evento uma apresentação de Porto Alegre como potencial sede para uma edição anual latino-americana da feira.

Segundo José Antonio An-tonioni, diretor-presidente da Softsul, “uma edição da Cebit em Porto Alegre atrairia empresas de todo o mundo, colocando a cidade no mapa mundial do setor”.

Raridades da ponte João Pessoa

Do trabalho de conclusão de curso à exposição na Câ-mara de Vereadores. A ponte da avenida João Pessoa com a Ipiranga está na boca do povo.

Primeira do mun-do com árvores plan-tadas em sua estru-tura, a ponte revela segredos acerca do passado da cidade, segundo investigou

Ângela Maria Tava-res, formada em Tu-rismo pela PUCRS em 2006. De acordo com o estudo, as pal-meiras-da-Califórnia foram parar na ponte por descuido de fun-cionários da Prefeitu-ra, que arborizavam a avenida.

Graduada tam-bém em Histór ia (1971) pela PUCRS, Ângela acredita que a

Ponte da João Pessoa deveria ser explorada como ponto turístico. Com escadarias até as margens, o mo-numento remete ao tempo em que o ar-roio era navegável, servindo de cais para pequenas embarca-ções. Antes da ca-nalização do riacho, iniciada em 1941, a ponte e seu entorno eram locais de lazer.

Heidelberg, Alemanha: 200 anos de história

Heidelberg, cidade entre Frankfurt e Stuttgart, tem várias pontes que atravessam o rio Ne-ckar. Mas uma delas é especial. Conhecida como Alte Brücke (Ponte Velha), a estrutura é his-tórica e cativa milhares de turistas anualmente.

Precederam a ela sete pontes de madeira - a primeira construída em 1248. Somente entre 1786 e 1788 foi erguida uma ponte de pedra sobre o rio, com nove arcos de cor vermelha. Esta estrutura resistiu às forças naturais, até ser destruída nos últimos dias da Se-

gunda Guerra Mundial, em 1945. Um ano depois, curiosamente, foi pescada das águas, pedra por pedra, para em 1947, ser recons-truída, arco por arco, bonita e impotente, como há 200 anos.

Do lado que dá para a cidade, a ponte desemboca num portão me-dieval, parte da antiga muralha de defesa do castelo de Heidelberg, em que residiu durante cinco sécu-los a dinastia de Wittelsbach. No topo da montanha, descortina-se um panorama inesquecível com o centro histórico, o rio, o castelo, a ponte e o verde da paisagem.

O aeromóvel projetado por Oskar Coester está parado

Vinícius Carvalho

Localizado na praça em frente à Usina do Gasômetro, com a entrada cercada por uma grande caixa de metal pichada e coberta por cartazes de propaganda, o aeromóvel parece esquecido às margens da Avenida Perimetral. Além da sujeira, o cheiro de urina e os resquícios de uma pequena fogueira mostram que a estrutura construída para sustentar o que seria um transporte do futuro serve de abrigo para sem-tetos. Agora, uma parceria firmada entre a PUCRS e a UFRGS promete dar nova chance ao aeromóvel.

O projeto visa desenvolver tecnologias utilizadas pelo veículo que teve seus primeiros passos em 2003, quando a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) decidiu retomar relações com a Aeromóvel Brasil S/A (ABSA). Um ano depois, um grupo de trabalho criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para analisar os aspectos técnicos do sistema ressaltou a necessidade de uma iniciativa para dar novos impulsos à tecnologia, aí começou a partici-pação da PUCRS.

Em setembro de 2004, a PUC demonstrou interesse na constru-ção de um sistema de mobilidade interna para facilitar a circulação de pessoas. Foi lançada a proposta de parceria com a ABSA e a cria-ção de um Centro Tecnológico de Mobilidade Urbana (CTMU). Para o coordenador do projeto, Edgar Bortolini, o grande ganho da uni-versidade é acadêmico. “Temos melhor ambiente para pesquisa, bolsas, laboratórios, patentes, ino-vação e, no final, um laboratório vivo”. Com a sugestão da inclusão de uma universidade pública no projeto, a UFRGS foi escolhida para integrar a equipe devido ao passado de estudos com a ABSA.

Segue exemplo da Cenpes, união de universidades que empreende estudos e desenvolvimento tec-nológico para Petrobras.

A primeira etapa do projeto já começou. “Agora, nos estamos fazendo pesquisa e desenvolvi-mento, melhorando as tecnologias desenvolvidas pelo Oskar Coester. Nós recebemos, da Finep, R$ 3,4 milhões e temos um ano para aprimorar as tecnologias,” explica Bortolini. A modernização do ma-terial que reveste o eixo por onde os veículos circulam é um exemplo de atuação das universidades no projeto. “A PUCRS, junto com a UFRGS, vai melhorar as tec-nologias e calcular um plano de negócios, que tem que ser viável”, completa o coordenador.

O protótipo do aeromóvel será construído no segundo ano de pesquisas, a linha experimental é um laboratório real a ser utilizado para certificar internacionalmente o veículo. Em 2009, serão feitos os testes. A PUCRS contará com a presença de uma entidade inter-nacional para fazer a certificação do sistema. Bortolini exemplifica como funciona a questão: “Exis-tem normas internacionais a serem atendidas. Um avião, por exemplo,

para voar comercialmente, precisa ser certificado. Para isso, ele pre-cisa ter tantas decolagens, tantos pousos, transportar um número de passageiros sem falha, é um ano de teste de conformidade”.

Ao contrário do antigo aero-móvel, o projeto atual não visa substituir os modelos de transpor-te modernos (ônibus ou metrô) e, sim, um elemento de integração que atuará onde estes meios não se fazem presentes. “Hoje ninguém deixa o carro no centro e vai de metrô ao aeroporto, porque a dis-tância entre metrô e aeroporto é de 900 metros Isso é uma lacuna de um modal, o avião, para o modal metrô”, argumenta Bortolini.

A parceria entre as universida-des e a Aeromóvel Brasil pretende desenvolver a tecnologia para tor-nar o veículo um negócio viável e analisar seu impacto ambiental e urbanístico. O campus da PUC foi escolhido por simular os choques da estrutura em uma metrópole. Se o esforço for bem-sucedido, no futuro, o porto-alegrense poderá encher o peito e dizer: “Sabe esse veículo moderno, barato e com baixíssimo impacto ambiental e custo que está sendo instalado por todo o mundo? Bá, saiu daqui!”.

Vinícius Carvalho/Hiper

Há 25 anos, protótipo foi construído O veículo que fará a ligação entre

campus central, Parque Esportivo e Hospital São Lucas teve seu primeiro protótipo construído em 1983. O aeromóvel “é um como barco inver-tido com a vela dentro de um duto”, esclarece o professor Edgar Borto-lini. O veículo é impulsionado por um sistema que converte a energia elétrica em energia eólica, sem emis-são de gases poluentes, característica importantíssima hoje.

Além da linha de aproximada-mente 1,1 quilômetro que vai da Usina do Gasômetro até o prédio da Receita Federal, mais conhecido como Chocolatão, o aeromóvel tem, desde 1989, um projeto comercial em Jacarta, capital da Indonésia. Esta via de 3,2 Km, que atravessa o parque ecológico Taman Mini, já transportou mais de três milhões de passageiros naquele país.

O modelo desenvolvido pela

parceria tem características diferen-ciadas do exemplo indonésio, porque não será veículo de massas, mas uma alça de ligação entre os existentes. Se o projeto decolar, lacunas no deslocamento de universitários para a Unisinos e a Ulbra poderão ser resolvidas com um aeromóvel entre o Trensurb e cada uma das universi-dades, além da possível união entre a Avenida Perimetral, a PUCRS e o campus da Agronomia da UFRGS.

Tatiana Feldens

Tatiana Feldens/Hiper

A Ponte Velha sobre o rio Neckar, na Alemanha

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Porto Alegre, março e abril de 2007 IPERTEXTO H 5EcOnOmIA

Bruna Holler Petry e Bernardo Biavaschi

A decisão de vender os veículos da Empresa Caldas Júnior à Rede Record foi sendo amadurecida aos poucos pela família Bastos Ribeiro. A idéia inicial era fazer uma parceria que favorecesse os lados envolvidos, disse o ex-presidente do grupo, Re-nato Bastos Ribeiro em entrevista exclusiva ao Hipertexto. “Analisando a proposta com cuidado, junto com os filhos, levamos em consideração a qualidade do comprador que, sem dúvida, sendo um grupo nacional de comunicação, com credibilidade, tec-nologia e respeitado, tínhamos como certo que continuaria cumprindo os objetivos que levaram à compra, no passado e talvez, melhor que nós mesmos,” explicou Bastos Ribeiro. Foram examinados também outros aspectos que se mostraram favoráveis em termos de interesses familiares e pessoais, que pesaram no momento da decisão anunciada em março.

Agora no Rio Grande do Sul, a Record entra para concorrer com a RBS TV, afiliada da Rede Globo. A Record pretende contratar novos funcionários e veicular bons pro-gramas de telejornalismo, trazendo uma nova opção aos telespectadores locais. Designado para falar em nome dos novos proprietários, o diretor de redação do Correio do Povo, Telmo Flor, informou que “a maior mudança será na TV Guaíba, onde ocorrerão alterações na programação com a ampliação de programas jorna-lísticos. Na rádio Guaíba e no Correio do Povo não haverá mudanças, nem no formato do jornal nem na linha editorial. Serão feitos investimentos em tecnologia que possibilitem um trabalho melhor, porém dentro da

linha já adotada nas últimas adminis-trações. Afinal, o Correio tem história secular que será preservada”, garante Telmo Flor. Adiantou que a nova administração estuda a permanência ou não de programas regionais como Câmera Dois. “Se os programas continuarem, provavelmente terão de mudar de horário por causa da programação nacional e a grade de horário local privilegiará programas jornalísticos”, enfatizou o diretor.

Um século de história Em 1º de outubro de 1895, o

pernambucano Caldas Júnior fundou o Correio do Povo, jornal inovador que se diferenciava dos outros por ser “apolítico” e mais comprometido com a causa pública. Além disso, con-tava com aparatos tecnológicos apro-priados e com um quadro próprio de jornalistas. Com a morte de Caldas Júnior, em 1913, o jornal passou por dificuldades econômicas, cessadas quando Breno Caldas, filho de Caldas Júnior, assumiu o impresso.

Nas décadas de 50 e 60, o Correio

Ribeiro explica venda à Record

Jornal publica notícia da venda para Record só no final de março

cecília mombelli

A venda da Refinaria de Petróleo Ipiranga, anunciada em 19 de março, representou a fuga de mais uma marca gaúcha. Durante 70 anos, a empresa foi controlada por cinco famílias – Gouvêa Vieira, Tellechea, Ormazabaal, Bastos e Aguiar com raízes no Sul. A aquisição por um consórcio formado por Petrobrás, Ultra e Braskem confirma a ten-dência econômica dominante de aglutinação de pequenas empresas regionais em grandes redes.

Isso já aconteceu com outras marcas conhecidas como gaúchas, entre elas a Caldas Júnior, detentora do jornal Correio do Povo, rádio Guaíba e TV Guaíba, vendida para

Consumidor reage à perda das marcas tradicionaisà Igreja Universal; a Varig para Gol e as Lojas Arno absorvida pelo Ma-gazine Luiza. Reflexo de uma crise econômica estadual, em que não há mais incentivos para o desenvolvi-mento de indústrias locais, a crise atinge o consumidor, diminuindo sua auto-estima, com a perda de marcas com as quais havia certa identidade.

O consumidor do Rio Grande do Sul é conhecido por seu gosto exigente. Com um forte sentimento de vaidade, orgulho, bairrismo e separatismo – permanente desde a Revolução Farroupilha – desperta um sentimento de posse em relação as suas marcas, destoando do pro-cesso de globalização. Levando em conta a especificidade do público, a atenção se volta para a aceitação

da mudança e de como será a assi-milação do produto pela população local para não acentuar ainda mais o sentimento de perda. Nesse aspecto, “a comunicação ocupa um lugar de destaque, mantendo o vínculo da marca com o seu público”, analisa a professora de relações públicas da PUCRS Iara Silva.

Um exemplo de assimilação e manutenção da marca ocorreu com a venda das lojas Arno, oriunda de Ca-xias do Sul. Comprada pelo Magazine Luiza, o logotipo foi mantido, como

um casamento bem-sucedido entre as redes. Gradualmente, o nome Arno foi deixado de lado, até que Magazine Luiza fosse assimilado por completo. O processo contou com um amplo apoio da DCS, agência de publicidade detentora da conta das Lojas Arno, que colaborou com intensivas pesqui-sas e campanhas publicitárias.

Diante da recessão econômica que atinge o Sul do país, as alter-nativas para as empresas são fusão com grandes companhias, caso da Ipiranga, ou a expansão dos negócios para todo o Brasil. É o caminho tra-çado há muito tempo pelas empresas Gerdau e Gad Design, a primeira conhecida no mercado internacional e, a segunda, no nacional, que já são conhecidas no mercado internacio-

Ex-proprietário do correio do Povo acredita que o jornal manterá sua identidade com o Estado

Exclusivo/ Hipertexto

Tendência da venda de grupos tradicionais desgastam marcas locais

nal, e recentemente escolhido pelas Lojas Colombo. O ano 2000 marcou a expansão para o mercado de São Paulo, passo importante para nacio-nalização da marca. Hoje, a Colombo é a terceira maior rede de varejo de eletros e móveis do país.

Sem dúvida, a marca exerce um peso definitivo na comercialização de produtos. “É ela que fornece sentido e significado para o produ-to”, comenta Iara, despertando o vínculo direto com o consumidor e a emoção necessária para a compra. Independente de sua localização e porte, a empresa precisa conquistar seu público. É necessário “pensar globalmente e agir localmente, pen-sar a cultura em que está inserida”, reforça Iara.

estava em ascensão e havia se consoli-dado no Estado. Em abril de 1957, o grupo se expandia com a fundação da rádio Guaíba que se somava ao jornal Folha da Tarde e, posteriormente, à Folha da Manhã. Porém, a ditadura militar implantada no país em 1964 passou a gerar problemas à empresa devido à censura e à repressão militar. Em 19 de setembro de 1972, após publicar uma notícia vetada pela censura, as edições do Correio do Povo e da Folha da Manhã foram apreendidas pela polícia federal, de madrugada, na boca da rotativa.

Em 1979, a empresa passaria por novos problemas devido aos altos custos da instalação da TV Guaí-ba, justamente no período da crise internacional do petróleo quando a inflação recrudesceu, dificultando novos financiamentos. Em 1980, Breno Caldas fechou a Folha da Manhã, tentando manter o Correio, a Folha da Tarde, agora matutina, e as rádios e TV Guaíba. Resistiu mais quatro anos. Com a falência definitiva da Caldas, o Correio e a Folha pararam de circular em junho de 1984. Dois anos depois, em 31 de agosto de 1986, voltou o Correio, sob o comando do empresário Re-nato Ribeiro, que também assumiu o sistema Guaíba.

Segundo o empresário, as princi-pais razões do investimento na Caldas Júnior, em 1986, foram colocar o Correio novamente em circulação e manter a TV e a rádio, propor-cionando ao Estado dois grupos de comunicação, para que não houvesse “informação monopolizada”, disse. Ribeiro contou ainda que, com a compra, não buscava o lucro, mas sim promover o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, através de “idéias positivas e construtivas que

incentivassem os gaúchos”. Em 21 de fevereiro, foi anunciada oficialmente a venda da TV e da rádio à Record. A inclusão do Correio do Povo na transação só foi confirmada em 12 de março de 2007.

A TV Guaíba entrou no ar em 1979. A emissora não é filiada a nenhuma rede nacional, por isso se caracteriza pela programação local. A Rádio Guaíba AM se des-taca pela programação jornalística e esportiva desde 1957, sendo a primeira emissora a transmitir uma Copa do Mundo (1958), direto da

Suécia. A Guaíba FM se firmou pela qualidade da informação e da seleção musical.

Expansão da redeA Rede Record, de propriedade

do empresário Paulo Machado de Carvalho, entrou no ar em 1953. Aualmente, é dirigida pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que comanda também a Rede Mulher, a Rede Família, a Line Records, 37 estações de rádio, a Rede Aleluia e ainda o parque gráfico Uni-versal Produções.Ribeiro: idéia amadurecida

Ricardo Romanoff/ Hiper

Bruna Petry/ Hiper

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Porto Alegre, março e abril de 2007 6 RePoRtAgem IPeRteXto H

Sem verbas, Casas de Estudantes vivem agonia

Plenárias: eles se reúnem para discutir a administração e como enfrentar os problemas financeiros

Há cinco anos, não há repasse de recursos públicos para manutenção

Dani Cenci

Meia-noite e meia e ainda faltam duas pautas a serem discutidas. Na manhã seguinte, segue a rotina de aula e trabalho. Essa é a vida de quem mora em casa de estudantes: assem-bléias até altas horas para solucionar problemas, mas também grandes amizades conquistadas. Quatro instituições abrigam estudantes na Capital: Centro Evangélico Univer-sitário de Porto Alegre (Ceupa), Casa do Universitário Aparício Cora de Almeida (Ceuaca), Casa do Estudan-te Universitário (CEU), Juventude Universitária Católica (JUC-7).

Os universitários, na maioria vin-dos do interior do estado, procuram as casas como única opção para con-tinuar estudando. Com uma contri-buição mensal (“rateio”), os próprios moradores mantém as instituições vivas, pois a falta de verbas públicas implica condições precárias. São oito residências em Porto Alegre,

três pertencem à UFRGS. Dessas, a principal é a CEU, na Avenida João Pessoa, onde a administração é dife-rente das demais: dez funcionários cuidam de sua organização.

São 400 pessoas divididas em seis andares habitáveis. No primeiro, está o Restaurante Universitário (RU), no segundo, a administração. Em cada andar há 35 quartos coletivos e dois individuais para os dirigentes. A CEU é considerada uma das melho-res em estrutura e localização. Além disso, por ser a única gratuita, recebe somente alunos da UFRGS. O pro-cesso de seleção de novos moradores é mais rigoroso, porque as vagas são muito disputadas. Segundo o mora-dor Emerson Marondi, o contato com os companheiros é restrito, a sala é o único espaço coletivo. As três casas da instituição são independen-tes uma da outra.

A mais antigaEstudantes da Faculdade de

Direito de Porto Alegre fundaram, em agosto de 1934, a Ceuaca, a mais antiga das casas, situada na rua Riachuelo. Desde a criação, o esta-belecimento sofreu várias reformas. No começo, abrigava 70 pessoas, hoje são mais de 90. Em 1959, foi reconhecida como entidade pública estatal e três anos depois como fede-ral. O universitário Elias Grazziotin Rigon explica que na gestão da casa tem presidente, vice, secretário e te-soureiro. Eles coordenam os depar-tamentos de infra-estrutura, cultural, financeiro e interno. Existem ainda os Conselhos Deliberativo e Fiscal. A Ceuaca recebe também bolsistas estrangeiros por meio de programas como o Brasil-África.

O sistema de moradia do Cen-tro Evangélico Universitário de Porto Alegre (Ceupa) é parecido com a Ceuaca. Já que a instituição é dividida em três casas na Cidade Baixa, há quatro comissões mistas que trabalham em prol de todas. As

reuniões das casas são presididas por coordenador e vice, que verificam a administração das residências. Esse é o momento em que os universitá-rios se unem pelo mesmo objetivo “a casa só depende de nós, estamos no mesmo barco, o negócio é traba-lhar”, afirmou a tesoureira Lisiane Kuhn, da Casa II da Ceupa, situada na rua José do Patrocínio, nº 648.

Uma das vantagens dessas mora-dias é a valorização dos cursos dos moradores, que podem aplicar o aprendizado da faculdade na resolu-ção dos problemas das casas.

Em residências, como a JUC-7, todos os anos são recebidos novos moradores graças ao esforço daque-les que chegaram antes. Eles não pagam aluguel no fim do mês, mas quem mora numa moradia estudantil sabe que para continuar fazendo parte dela são necessárias ações em seu benefício. A convivência com pessoas até então desconhecidas e o contato com diferentes culturas

Cotidiano de uma Casa de Estudantes: são moradores que vieram do interior do Estado sem condições de pagar por uma opção melhor

proporciona um grande aprendiza-do. Os sacrifícios são muitos. É o que conta Elias: “A dificuldade é vir do interior, de uma cidade pequena, onde você tem um grupo de amigos, comida feita pela mãe, roupa lavada e, de repente, te jogam em Porto Alegre, na Rua Riachuelo, onde passam mais carros em um minuto do que o dia inteiro na rua da sua cidade. A questão de você ter um espaço na sua cidade e depois ter que aprender a dividi-lo com um colega de quarto e outros moradores é o que mais chama a atenção”.

Faltam recursos,sobram amigosA falta da família, dos melhores

amigos é substituída pelos novos amigos, os moradores. Na Casa II – Ceupa – a convivência dos mora-dores exemplifica isso. À noite, pelas 23 horas, cinco ou seis moradores costumam estar na sala tomando chimarrão, onde debatem assuntos da atualidade ou relembram his-tórias. Todos lutam para conciliar faculdade, trabalho e atividades da casa. A esperança está em dias me-lhores depois da formatura.

Enquanto isso não chega, eles procuram superar as precárias con-dições estruturais das moradias com promoções para arrecadar recursos – organizam rifas e festas – já que as verbas desapareceram. Há cinco anos, nenhuma delas recebe auxílio público, apesar do artigo 198 pará-grafo 2 da Constituição do Estado estabelecer o dever de preservação das casas de estudantes autônomas. As residências mais antigas, como Ceuaca e Ceupa, estão em piores condições. Os moradores tentam se responsabilizar pela manutenção, sem experiência. Na Ceuaca, há pro-blemas de infiltrações, assoalhos de madeira podres, móveis corroídos por cupins entre outros.

O descaso dos órgão públicos pelas moradias é assunto abordado freqüentemente entre universitários, que estudam a possibilidade de ajui-zarem uma ação conjunta das casas para exigir o respeito deste direito.

Fernanda Fell/Hiper

Fotos taidje gut/Hiper

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Porto Alegre, março-abril de 2007 IPERTEXTO H 7BRAsIl

Causas históricas, incentivos fiscais, políticas de colonização que geraram uma forte migração no passado para fugir de problemas so-ciais, conflitos de interesse, ausência de titularidade da terra, pressão da reforma agrária. Resultado: os recur-sos naturais da Amazônia, maior flo-resta tropical do mundo, estão sendo destruídos criminosamente.

Diante da iminente crise climáti-ca e da preocupação mundial com o meio ambiente depois das previsões da Organização das Nações Unidas (ONU) para o aquecimento global, a Campanha da Fraternidade, promo-vida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reacende o debate sobre este assunto com o tema “Fraternidade e Amazônia”.

A Amazônia Legal está no foco da iniciativa, cujo objetivo é sensibi-lizar as pessoas para a preservação e o uso sustentável das florestas, além de incentivar o respeito pelas populações que moram na região. Ao final da campanha, será feita uma coleta de alimentos e roupas para ajudar as pessoas carentes que ali residem.

Para conhecer a realidade e resgatar a cultura do amazonense, professores, funcionários e acadê-micos da PUCRS realizaram, no mês de janeiro, no município de Ji-Paraná, em Rondônia, a Missão Amazônia II, integrando o projeto Universidade Missionária do Centro de Pastoral e Solidariedade.

Através de oficinas, palestras e teatros, os missionários gaúchos abordaram temas relacionados ao meio ambiente, saúde e educação.

Comunidades ribeirinhas e indígenas receberam orientação nutricional e sanitária, além de prevenção de cárie e da dengue.

“Vimos uma Amazônia degra-dada, que dá lugar rapidamente a grandes propriedades rurais de plantações de soja ou criação de gado. Também sentimos que falta preservação da identidade do ama-zonense”, relata o irmão marista Édison Hüttner, diretor do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUC,

Crateras no pulmão do mundo

Em meio à devastação da floresta amazônica ainda há a esperança da preservação dos recursos naturais defendida pela CF 2007

Críticas de Aznar ao populismo no Fórum da Liberdade

Aumenta o número de iniciativas que buscam a preservação da maior floresta do planeta

Amazônia

Thais silveira

unidade que promove o projeto Universidade Missionária.

No período em que esteve na região, Hüttner ficou surpreso com o avanço da destruição da mata ama-zônica. Também critica “a ineficácia do setor público, principalmente na área da saúde”.

Indígenas com doenças de pele foram diagnosticados através de um projeto-piloto de Telemedicina, realizado pelos alunos da PUCRS. “Para obter um bom tratamento, a

única alternativa para essas pessoas é recorrer a clínicas particulares, no entanto, a maioria da população não tem condições e recursos financeiros para isso”, observou o irmão.

Segundo os missionários, é necessário um trabalho de conscien-tização ecológica nas comunidades indígenas. “São visíveis, em certas aldeias, problemas como a destina-ção do lixo e agressões à floresta”, revelou Hüttner.

A situação de degradação da

Amazônia provocou inclusive a reação de parte do elenco da minis-série Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, de autoria de Glória Perez, da Rede Globo. Os atores e demais profissionais criaram o manifesto “Amazônia para sempre”. A propos-ta é uma carta aberta que ao obter o número necessário de assinaturas será encaminhada ao presidente da República para que sejam tomadas as providências necessárias para resolver este sério problema.

Araquem Alcântara/AFP

lidiana de Moraes e susy sousa

A América Latina deve tomar cuidado com as novas políticas po-pulistas. “O Estado não existe para criar renda e emprego, mas para criar as condições para que as empresas desenvolvam essas condições com liberdade”, disse o ex-primeiro -ministro da Espanha, José Maria Aznar, na abertura do 20º Fórum da Liberdade, realizado dias 16 e 17 de abril, na PUCRS.

Promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), o tema do Fórum da Libertadade foi a “Propriedade e Desenvolvimen-to”. Foram debatidos o papel da propriedade privada na prosperidade econômica e social, as limitações le-gais e constitucionais ao uso da pro-priedade, o fim da reforma agrária,

a propriedade intelectual, a pirataria e expropriações públicas.

O segundo dia do Fórum teve o painel “As limitações Constitucionais e legais ao direito de propriedade: estímulo ou empecilho para o desen-volvimento”. Um dos palestrantes, o frade dominicano e escritor Frei Beto, afirmou que o Brasil não tem futuro se não investir na população e ainda descreveu a função dos pode-res judiciário, executivo e legislativo: “Muitas vezes os poderes, que têm como princípio regular um ao outro, acabam virando cúmplices em detri-mento da sociedade civil”.

O ex-presidente Fernando Hen-rique Cardoso encerrou a 20ª edição do Fórum da Liberdade. Discursan-do para o auditório lotado, o político falou sobre liberdade, democracia e propriedade. Quanto à tolerância

brasileira, FHC repreendeu a cultura das quebras de leis, dizendo que “o fundamental é um sistema em que as pessoas se sintam responsáveis pe-rante a lei e que ela seja cumprida”.

Fernando Henrique questionou a integridade dos políticos brasileiros, sem fazer críticas duras ao governo Lula. Afirmou que não censura o seu sucessor, mas sim, a estrutura de poder. Nem o PSDB saiu ileso de seus comentários. FHC disse ser necessário mais eficiência na política e que isso poderia começar com seu partido, que precisa defender “em alto e bom som” suas bandeiras.

O Fórum da Liberdade acontece anualmente desde 1988 e já reuniu nomes como Luiz Inácio Lula da Sil-va, Fernando Collor de Mello, Marco Maciel, Nelson Jobim, Ciro Gomes, José Serra, entre outros.Ex-primeiro ministro espanhol José Maria Aznar abriu o evento

Fernanda Fell/Hiper

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Porto Alegre, março e abril de 2007 8 MUNDO HIPERTEXTO

Fernando Rotta Weigert As vitórias eleitorais da esquerda

nos últimos anos mudaram a Amé-rica do Sul. Hugo Chávez, na Vene-zuela, foi o precursor do movimento. Logo depois veio Lula, no Brasil; seguido por Néstor Kirchner, na Argentina, Tabaré Vazquez, no Uru-guai, Evo Morales, na Bolívia, e, por fim, Michelle Bachelet no Chile. Isto significa que cerca de 300 milhões de pessoas vivem a expectativa de mudança. “E existe um desconten-tamento social enorme na região”, segundo Michael Löwy, cientista social brasileiro radicado na França. É o resultado de 20 anos de políticas neoliberais do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacio-nal). As implicações sociais foram graves para a maioria da população, agravadas as desigualdades e as con-seqüências ecológicas.

Neste panorama existem duas li-nhas políticas diferentes: os que que-rem romper com o neoliberalismo, como Venezuela e Bolívia; e os que não romperam com o modelo eco-nômico liberal, e procuram dar uma variante mais social, o que esta sendo conhecido social-liberalismo. Neste último grupo estão o presidente Lula, no Brasil, Tabaré Vázquez, no Uruguai, Michelle Bachelet, no Chile, e Néstor Kirchner, na Argentina. Há ainda uma vertente mais aberta ao livre comércio, aceitando as idéias dos tratados comerciais dos Estados Unidos, como o governo chileno e o uruguaio. Brasil e Argentina apostam na integração latino-americana.

Os bolivarianosHugo Chávez e Evo Morales au-

todenominam-se “neo bolivarianos”, julgando-se decendentes políticos de Simon Bolívar, herói da inde-pendência da “América Espanhola”. Ambos já tiveram enfrentamentos com os EUA. Chávez foi derrotado ao arquitetar um golpe de estado, contra um governo venezuelano, apoiado pelos norte-americanos. E Morales porque não aceitou as pressões americanas contra o cultivo de coca – a cultura da planta é uma tradição indígena milenar, e também é o que traz o sustento de algumas regiões do país.

Chávez aparece no cenário po-lítico venezuelano em 1992. O país vivia uma forte desigualdade social: 10% da população mais rica concen-travam 32% das riquezas do país, os 10% mais pobres possuíam apenas

1,6%. As conseqüências foram mani-festações populares violentas, ônibus apedrejados e saques a estabeleci-mentos comercias. Hugo Chávez, então tenente-coronel, deflagra um golpe de Estado contra o presidente Carlos Perez. O movimento falhou, Chávez foi preso, porém ficou co-nhecido em toda a Venezuela. Em 1998, Chávez foi eleito presidente, com uma votação de 56%.

Seu primeiro ato foi assinar um decreto para a realização de um referendo popular a fim de convo-car uma Assembléia Constituinte. A idéia foi aprovada por 80% da população. Na nova Carta Magna, foram feitas mudanças na estrutura política: a extinção do Senado e a maior atribuição de poderes ao presidente.

Evo Morales aparece para a política como líder na luta contra os esforços dos EUA de substituir o cultivo da coca por banana. Concor-reu à presidência da Bolívia em 2002, sendo derrotado por Gonzalo Sán-chez de Lozada. Em 2005, foi eleito pregando idéias nacionalistas.

Chávez e Evo são os mais ra-dicais em seus pronunciamentos e ações. Têm um discurso feito na medida para as populações de seus países, que são preponderantemente pobres. O jornalista Clóvis Rossi, em artigo para a Folha de São Paulo, advertiu que, não raro, as popula-ções em busca de uma alternativa podem “dar a vitória a candidatos caudilhos, como o Hugo Chávez e o Evo Morales. E, por mais que as tentações autoritárias rondem, o fato é que não há presos políticos nem na Venezuela nem na Bolívia”.

Löwy acredita que, na ânsia por respostas, os governos que melhor se resolvem são o venezuelano e o boliviano, pois têm uma postura mais agressiva. “A esperança de mudanças não pode esperar o cumprimento de suas promessas. A mudança passa pela capacidade dos setores popu-lares se organizarem e lutarem para mudar o quadro. Isso vale para todos os países, inclusive para os mais avançados. A Venezuela, por exem-plo, passa por um processo muito interessante, mas é excessivamente dependente de uma pessoa, no caso, Hugo Chávez, e de iniciativas que acontecem de cima para baixo.”

O grupo composto por Lula, Kirchner, Bachelet e o presidente uruguaio Tabaré Vazquez busca uma “adaptação” dos ideais de esquerda ao neoliberalismo. No Brasil, foi im-

Fracassos neoliberais fazem esquerda se expandir na América

Originário da esquerda, com aliados ao centro e direita, Lula se move em um polulismo social

Promessas de mudança dos movimentos de esquerda conquistam o sul do continente

América Latina

plementado o projeto Bolsa Família, que dá uma ajuda mensal a famílias de baixa renda. Kirchner enfrentou a pior crise econômica da história argentina, e conseguiu abater 80% da dívida externa. Bachelet, por sua vez, introduziu o crédito educativo, para aumentar as oportunidades de estudo para a juventude chilena.

O cientista político Noam

Chomsky, em entrevista para Agên-cia de Notícias Peruana, diz que é a primeira vez, desde a conquista espanhola, que a América do Sul se move de forma integrada. A última vez que os EUA estimularam um golpe de Estado foi em 2002, na Venezuela, sem sucesso. A morte, em dezembro de 2006, do ex-ditador chileno Augusto Pinochet fechou

um ciclo na América do Sul. Para Clóvis Rossi, ele “morreu no mesmo mês em que se fecha um dos mais democráticos ciclos eleitorais do subcontinente, o modo civilizado de resolver divergências de cunho político ou ideológico”. O último ex-ditador ainda tinha de influência em seu país. Hoje a América caminha, sim, para a esquerda.

Mauricio Lima/AFP

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Porto Alegre, março e abril de 2007 IPERTEXTO H 9EsPORTE

Luciana Hoffmann Nunes

As condições do mar estavam desfavoráveis, mesmo assim a gu-rizada arrebentou na 2ª etapa do Circuito Brasileiro Amador de Surfe ,na praia de Atlântida, dias 30 e 31 de março e 1º de abril. “O Rio Grande do Sul não foi longe para gente vir aqui e conseguir a vitória”, exaltou orgulhoso o presidente da Asso-ciação de Surfe da Praia da Pipa, Pedro Neto.

Quatro dias de viagem e tempo ruim não foram empecilhos para a galera do Rio Grande do Norte vir e mostrar talento. Os potiguares ven-ceram a categoria Open com Tom da Pipa e a Júnior com Jadson André.

O Maresia Brasileiro de Surf é organizado pela Confederação Brasileira de Surfe (CBS). Na edição deste ano, as etapas do campeona-to contaram com equipes do Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo.

Desde 1988, o Circuito Brasi-leiro Amador de Surfe tem papel fundamental na evolução das cate-gorias de base do esporte. Além de formar o ranking das divisões Open, Junior, Mirim e Iniciante, Feminino Open e Feminino Júnior, também seleciona as equipes que representão o Brasil em campeonatos internacionais.

Nesta segunda etapa, foram de-finidos os 12 surfistas que irão para o Mundial Júnior em Portugal, em maio e ao término do circuito, serão reunidos aqueles que participarão do Panamericano de Surfe, no Chile.

O circuito também serve para revelar os futuros surfistas profis-sionais. “Todos os atletas brasileiros no WCT, em algum momento da carreira, passaram por este circuito quando mais novos”, explicou o diretor técnico da CBS, Marcos Bukao.

Onze estados participam da 20ª edição do campeonato. Para o técnico da equipe gaúcha de surfe, Cristiano Figo, é importante sediar o evento: “O estado estava fora do cenário do circuito brasileiro há oito anos. Esse evento fortalece a base do surfe para chegarmos ao de alta performance, o surfe profissional, onde, hoje, há dois atletas que fazem parte do top do esporte, o Rodrigo Dornelles, no circuito WCT e o Dai-son Pereira, no Super Surf, circuito brasileiro nacional da elite”.

Orlando Carvalho, presidente da Federação Gaúcha de Surfe (FGS), ressalta que a vinda do circuito para

Circuito de surfe amador define atletas para Mundial Júnior

Após oito anos, evento voltou a ser promovido no litoral gaúcho, atraindo grande público para praia de Atlântida

Jovens surfistas são promessas brasileiras no esporte e representarão o país em maio em Portugal

Atlântida

a praia de Atlântida comprova que a primeira meta da Federação foi atingida. “Conseguimos fortalecer o surfe e devolver a credibilidade. Agora, nos preocupamos com os surfistas profissionais”.

Este circuito também coloca o Estado na mídia e mostra às prefeituras que esses eventos são importantes para os municípios. “Nós movimentamos restaurantes, bares e hotéis, isso nos fortalece junto ao poder público. O Governo do Estado nos enxerga como um potencial enorme de turismo”, disse Carvalho.

A troca de experiências também é valorizada. “É fundamental o in-tercâmbio entre estados, pois o surfe é um esporte altamente evolutivo.

Quanto mais se surfa, a tendência é melhorar. Os atletas de nível técnico inferior absorvem ensinamentos e virtudes dos concorrentes. E, aumentam sua bagagem”, coloca Figo.

O líder do circuito gaúcho e sétimo no ranking brasileiro, Vini Fornari, também frisa os aspectos positivos do campeonato que for-talecem circuitos estaduais, atletas e juízes que aprendem a lidar com

o diferencial de manobras radicais. Fornari ficou em terceiro na cate-goria Open.

A paranaense Nathalie Martins, vencedora da categoria feminina júnior, avalia as condições da vitória como difícil. “O mar estava com-plicado, consegui garantir minhas duas ondas, a rebentação difícil, tinha que ficar indo e voltando, era muito longe. Mas garanti a vitória. Isso é que vale”. Para a surfista, o surfe feminino tem evoluído mais a cada ano: “Eu comecei a competir em 2004 no circuito nacional e tinha muito menos meninas surfando bem. Agora, desde a primeira fase já tem uma bateria difícil. Está todo mundo evoluindo. E acho que o Brasil tem futuro. Daqui uns anos teremos vá-

PRáTIcA cONsTRóI AmIzAdEs, cuLTuA vIdA sAudávEL E A NATuREzASe tratando de saúde, o surfe

trabalha basicamente todos os músculos. Quem possui mais domínio sobre o eixo do corpo, executa a melhor performance dentro d’água.

Os critérios de julgamento do circuito, contido no livro da CBS, instiga o surfista a fazer

Luciana Nunes/Hiper

“Esse evento fortalece a base do surfe para chegarmos ao de alta performance.”

rias representantes”. Confirmando o avanço feminino no esporte, Cristiano Figo destaca três surfistas brasileiras: Tita Tavares, Jaqueline Silva e Silvana Lima.

As redes de pesca continuam sendo um grande problema para a prática de surfe no litoral. O técnico Cristiano Figo sugere que as áreas de pesca e surfe sejam bem demarcadas a partir de placas. “Se o pessoal pe-gar o mapeamento do litoral gaúcho, do Cassino até os molhes de Torres, e passar nesse mapa as áreas livres e perigosas para o surfe, já é um começo. Acredito que deve haver a conscientização dos surfistas, pesca-dores e dos órgãos competentes (fe-deração, Estado, polícia, prefeituras) para o problema não se repetir”.

com o maior grau de dificuldade e controle as manobras mais radicais nas partes críticas da onda, zona de maior energia. O surfe inovador e progressivo, feito com grande va-riação, velocidade, força e fluidez, nas melhores ondas, potencializa o surfista a receber melhores notas.

Além da capacidade do atleta, o

trabalho do técnico é essencial para o bom desempenho dos surfistas. Segundo Cristiano Figo, “o técnico deve saber instruir os atletas dentro das baterias para o melhor posicio-namento e, também, para a inter-pretação da avaliação da arbitragem. Mas 80% é motivação!”

O surfe oferece oportunidade

para o desenvolvimento do indi-víduo também no aspecto social. “O surfista carrega amizades até o fim da vida. O surfe é uma tribo unida por um propósito que não é simplesmente entrar na água. Existe uma filosofia de vida: valorização da natureza, bem-estar, sáude e respeito”, explica o técnico.

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Porto Alegre, março e abril de 2007 10 letrAs HIPerteXtO

Patrícia lima “A verdade é que escrevo, sim-

plesmente, porque gosto de contar coisas a meus amigos”, declarou, em 1968, Gabriel García Márquez, ou “Gabo”, como é chamado pelos íntimos. Nascido em 6 de março de 1927, comemora este ano três ani-versários: 80 anos de nascimento, 40 anos da publicação de Cem Anos de Solidão e 25 anos do prêmio Nobel de Literatura.

O escritor já vendeu enciclopé-dias, cursou Direito, mas abandonou para estudar Jornalismo, onde se tornou repórter e escreveu para jornais nas cidades de Cartagena e Bogotá, na Colômbia. Ele garante que nunca abandou a profissão de jornalista, trazendo vários de seus ar-tigos e reportagens para o conjunto de sua obra. Foi isso que ele fez em 1996 quando publicou Notícias de um Seqüestro, um de seus maiores sucessos, onde relata uma série de seqüestros, entre os quais o do atual vice-presidente da República, Fran-cisco Santos, ordenados pelo antigo chefe do narcotráfico colombiano, Pablo Escobar.

Participou ativamente da política conflitante da Colômbia. Na década de 1980, exilou-se no México depois de ser acusado de manter vínculos com o movimento guerrilheiro M-19. Mais tarde, ajudou a negociar conversações com as FARC, maior grupo rebelde do país.

Para a coordenadora do De-partamento de Estudos Literários da Faculdade de Letras da PUCRS,

García Márquez, 80 anos sem solidão

Comemorações de 2007: García Márquez completa 80 anos de idade e 25 anos de conquista do prêmio Nobel de Literatura

Giovanna Milani

Em uma cidade onde a popula-ção beira oito milhões de pessoas, é compreensível que circulem apro-ximadamente 60 jornais matutinos, vespertinos e noturnos em Londres. Com tanta variedade, são os jornais gratuitos que chamam a atenção, não apenas por sua alta circulação, mas pela abrangência e aceitação de público.

Relativamente novos no coti-diano da população inglesa, Metro, London Lite e The London Paper já conquistaram os corações e as mentes daqueles tão acostumados com a abundância de informação. Os jornais gratuitos funcionam como um chamariz para as grandes

manchetes dos jornais tradicionais. É uma leitura fácil e rápida, mas que desempenha bem a incumbência de agradar as mais diferentes culturas existentes em Londres.

Essa nova tendência gratuita está tomando dimensões mundiais. Austrália, Canadá, França, Portugal, Estados Unidos, Hong Kong, Singa-pura e Taiwan já estão editando seus próprios jornais gratuitos diários. Até a tiragem destes jornais chama a atenção e é um alívio para os patroci-nadores. O Metro tem uma tiragem diária de 400 mil cópias, atingindo aproximadamente 980 mil pessoas por dia. Dessas, 78% têm entre 15 e 44 anos.

A forte influência da publicida-de nesses veículos de comunicação

também gera uma crise no conteúdo. A maioria das matérias é comprada de agência e as que são escritas têm normalmente poucas linhas em quatro parágrafos.Lançado em 4 de setembro de 2006, The London Pa-per foi o primeiro jornal destinado a brigar com um mercado praticamen-te dominado pelo Evening Standart desde 1987.

No fim de agosto, exatamente uma semana antes do lançamento do The London Paper, a companhia que produz o Evening Standart transformou o seu então Standart Lite no novo London Lite para com-petir pelos mesmos leitores. A briga, agora, é pelos pontos de distribuição nas ruas e nos metrôs da capital da Inglaterra.

Os jornais gratuitos disputam leitores nas ruas de Londres

25 anos depois do Nobel, colombiano é considerado o melhor escritor vivo da língua espanhola

Literatura

Giovana Milani/Hiper

Regina Kohlrausch, a obra mais importante do autor é Cem Anos de Solidão, pela forma como ele joga com a linguagem e pela represen-tação da situação sócio-política da América Latina. O romance des-creve um universo, cujo resultado pode ser lido como uma metáfora da condição humana, no sentido de representar o nascimento, a sobrevi-vência e a morte de cada indivíduo, de uma família e também de uma comunidade. “Apesar do fim, que projeta uma visão pessimista frente à vida, o livro é fantástico, nos dois sentidos, por isso importante”, des-

taca a professora. A obra, que vendeu 32 milhões

de cópias no mundo, faz parte de uma edição especial com 756 pá-ginas e tiragem de um milhão de exemplares. O livro se tornou um sucesso de vendas, chegando a ter comercializados 150 mil exemplares por semana, entre a Espanha e a América Latina.

Segundo os organizadores, o li-vro comemorativo foi revisado pelo próprio autor e tem análises escritas por diversos nomes da literatura. Entre eles, o peruano Mario Vargas Llosa, com quem García Márquez

andou rompido. O motivo da briga em um cinema da Cidade do México nunca foi esclarecido por nenhum dos dois escritores. Entre as muitas versões existentes para o caso, uma delas explica que eles teriam se de-sentendido por causa da mulher de Llosa, para quem García Marquez teria se insinuado em Barcelona, na Espanha.

Entre a vida e a morteConsiderado o escritor vivo mais

importante da língua espanhola, García Márquez tem mais de uma característica marcante. Entre elas estão a linguagem, o retorno da arte de contar histórias, a presença do realismo mágico, a representação da problemática social e política da América Latina, como as guerras, resultado de perseguições e elimi-nação de inimigos nas ditaduras. O roubo das terras, o imperialismo econômico, as injustiças, o autorita-rismo, ou seja, a denúncia também estão presentes.

Há uma outra marca, comentada por estudiosos, que consiste numa espécie de conflito entre um apego e desapego à vida. De um lado, expressa uma visão positiva da vida e, em outro, um pessimismo e uma visão trágica. Segundo professora Regina, a maior contribuição à literatura é ter escrito e publicado um conjunto de obras que retratam um universo não apenas americano, mas universal, ter resgatado a arte de contar histórias, além de contribuir com a divulgação da literatura latino-americana.

Outras obras Memórias de Minhas Putas Tristes,

lançado em 2004, é a mais recente obra do autor, onde narra a história de um nonagenário cronista e crítico musical que, em seu aniversário de 90 anos, pretende presentear a si mesmo com uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Porém, ao vê-la dormindo, não tem coragem de acordá-la e se apaixona por uma garota adormecida.

Na opinião do próprio autor, sua melhor obra é O Amor em Tempos do Cólera, publicado em 1985. O enredo acontece no início do século 20 e tem como cenário a América Latina. Nele, o escritor conta a história de amor que desafia o tempo entre a jovem estudante Fermina e Floren-tino, um telegrafista pobre.

Publicado em 1981, Crônica de uma Morte Anunciada conta, na forma de reconstrução jornalística, a histó-ria do assassinato de Santiago Nasar pelos dois irmãos Vicario.

2007 é repleto de comemora-ções. Além dos 80 anos de García Márquez, são 25 anos do prêmio Nobel, conquistado pela obra Cem Anos de Solidão, e 40 anos do seu lançamento. O livro já vendeu 32 milhões de exemplares.

Mas 2007 ainda marca um ani-versário lamentável: os 30 anos daquela briga com Vargas Llosa, que lhe desferiu um soco no rosto. Três décadas após o episódio, os escritores estariam se reconciliando. Só um aniversário de 80 anos para unir dois grandes nomes da literatura latino-americana.

Em Londres, jornais são distribuídos gratuitamente nas ruas

str/AFP Photo

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Porto Alegre, março e abril de 2007 IPERTEXTO H 11músIcA

Bruna Longaray e maíra Fedatto O compositor, cantor e escritor

Chico Buarque foi aplaudido de pé pelo público que lotou o teatro do Sesi, em Porto Alegre, na noite de 31 de março, no seu último espetá-culo, Carioca. Descrita desta forma, a notícia é imprecisa e não reproduz a emoção que magnetizava o ambien-te. Quem estava no palco não era simplesmente o artista consagrado e reconhecido internacionalmente, era um símbolo de uma época de luta contra o regime político militar que havia se instalado no país exatamente naquele 31 de março, mas de 1964.

Quatro décadas depois, Fran-cisco Buarque de Hollanda, Chico Buarque, estava no centro do palco, sem nenhuma censura, sentado com seu violão e seu carisma. Fez o pú-blico cantar e sambar. Foi aplaudido de pé como o poeta-compositor que soube expressar as angústias de uma geração que lutava por democracia, pão, liberdade, cultura e educação. Suas músicas estão marcadas por uma visão utópica do amanhã que ainda não chegou, carregadas de expectativa diante do futuro,

Em 31 de março de 1964, os mi-litares saíram dos quartéis e tomaram

o poder. Em 15 de abril de 1964, Castello Branco foi eleito presidente por Congresso Nacional dizimado por cassações políticas. Em seguida foram editados os atos institucionais (AIs) que restringiram as liberdades e movimentações políticas, inician-do-se um período de perseguições, atrocidades e governos militares du-rante duas décadas. Sem voz, o povo brasileiro falou através das artes. A música popular brasileira expressou a contrariedade e a insatisfação com o processo econômico, político e social e consolidou-se como a maior oposicionista ao regime militar. Instituiu-se, então, uma “rede de re-cados” onde circulavam mensagens de liberdade e justiça, embora com linguagem sutil e simbólica.

Avesso a entrevistas, badalações e bajulações, Chico Buarque nunca teve a pretensão de se tornar uma unanimidade nacional. Descrito por seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, como alguém refratá-rio à impessoalidade das leis, Chico tornou-se o porta-voz do desejo de liberdade e cidadania do povo brasi-leiro na ditadura.

Carioca de nascença, paulista de criação, Francisco Buarque de Hollanda nasceu em 1944, no Rio de

Janeiro e mudou-se para São Paulo dois anos depois. Através da litera-tura tentou aproximar-se de seu pai. “Ele vivia fechado na biblioteca e eu, que tinha medo de penetrar naquele território, comecei a ler algumas coisas”, conta o compositor em seu próprio site (chicobuarqueuol.com.br). Aprendeu a tocar apenas ou-vindo o dedilhar das violas alheias, nasceu cercado pela cultura histórica e jornalística de seu pai e pela musi-

calidade de suas irmãs Ana, Miúcha e Cristina, todas cantoras. O menino Chico, ainda na escola, compunha suas primeiras canções Marcha para um dia de sol, Canção dos olhos e Anjinho. Adorado, o disco de João Gilberto, Chega de saudade, não saía de sua vitrola e conseqüentemente alterou em definitivo a relação do garoto com a música. Seu sonho era um dia poder cantar com João Gilberto e compor com Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

Em 1964, compôs a música Tem mais samba, que seria o marco inicial de sua carreira, em um musical do colégio Santa Cruz. Um ano após seu primeiro show, é lançado um compacto com as músicas Pedro Pedreiro e Sonho de um carnaval. Inter-pretando A Banda, junto com Nara Leão, Chico divide o primeiro lugar com Disparada – de Geraldo Vandré – no 2°Festival de Música Popular Brasileira. A composição teve tanto sucesso que 24 horas depois da apresentação foram vendidas 10 mil cópias. No ano seguinte, Chico ficou com o terceiro lugar no mesmo festi-val, com a música Roda Viva. Millôr Fernandes o torna a “única unani-midade nacional”, título posto em dúvida em 1968, quando foi vaiado no Maracanãzinho, junto com Tom Jobim, por vencer, com a música Sabiá, o 3° Festival Internacional da Canção Popular. A preferência do público era para a revolucionária Pra dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré.

Chico Buarque virou sinônimo de compositor censurado, pois pro-duzia o som dos descontentes com o governo da época. Suas músicas eram classificadas como perturba-doras e críticas, e de cada três com-

posições, apenas uma era liberada pelos censores. Após a decretação do Ato Institucional nº 5, em 1968, foi detido em sua casa. Com a intensa repressão sobre artistas e intelectuais, Chico se auto-exilou na Itália por um ano. A composição Apesar de você chegou a fazer grande sucesso, em disco compacto, pois os sensores le-varam algum tempo para perceberem que não se tratava de uma canção de amor e, sim, um protesto contra o duro governo do general Médici. O cerco às suas músicas fortificou-se e para tentar driblar a censura, Chico assume o pseudônimo de Julinho de Adelaide. A música Cálice, feita em parceria com Gilberto Gil, pa-recia baseada na agonia de Cristo, quando na verdade o substantivo era homônimo de cale-se, o verbo no imperativo.

Chico é uma figura simples e, ao mesmo tempo, sofisticada. Popular e aristocrática. Homem cordial, embo-ra retraído em público, os brasileiros se acostumaram a ver em suas com-posições a expressão de denúncias contra a violação de direitos políticos e humanos ou injusticas sociais. Isso explica, em parte, por que ele con-tinua sendo unanimidade nacional e merece ser aplaudido de pé.

Por que aplaudir Chico de pé

O estilo tranqüilo e as composições de Chico Buarque encantaram os porto-alegrenses

cantor e compositor carioca volta a fazer turnês após 7 anos e lota três apresentações seguidas

As músicas de Chico Buarque são marcadas pela visão utópica do amanhã que não chegou

O público no Teatro do Sesi conseguiu chegar perto do ídolo

Fotos sabrina Feijó/Hiper

Show Carioca

Os fãs puderam ouvir as músicas do último disco, Carioca

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Porto Alegre, março e abril de 2007 12 Ponto finAl iPERtEXto H

i

O inexplicável silêncio de um colega brilhante

Talvez pareça egoísmo, mas nós é que perdemos. Perdemos um ami-go, um colega, um futuro jornalista, uma pessoa simpática, um sorriso acolhedor, uma mente brilhante.

No dia 24 de março, perdemos Bruno Guaragna Neumann, víti-ma de um acidente de trânsito – ele foi atropelado por um táxi enquanto andava de bicicleta na avenida João Pessoa.

Se a tristeza nos toma por uma vida promissora, jovem e de uma pessoa tão querida ter acabado, ela também nos corrói porque temos de seguir sem ele. Nós, colegas,

embora venhamos a nos recuperar do choque, levaremos sempre um vazio pela falta que o Guaragna, como costumávamos chamá-lo, faz. Além disso, temos o privilégio de carregar o que de bom recebemos dele. Guardaremos para sempre as suas lembranças.

Dizem que as perdas nos fazem crescer como pessoa, que elas nos for-tificam. O que a turma sente, hoje, é a falta. Tomara que a presença do Bruno, apesar de não ser física, nos traga essa força, este estímulo, que estamos precisando mais do que nunca.

iQuando fechei a porta de casa, pensei: acabo de voltar do velório do Bruno. Impossível acreditar. Tinha a impressão de que em seguida eu falaria com ele pelo computador ou telefone e co-mentaríamos o enterro. De quem? De alguma outra pessoa, não fazia sentido ser o dele. Infelizmente isso não aconteceu. Foi como se a leitura de um livro estivesse no primeiro capítulo, mas as páginas fossem arrancadas de repente. As ótimas lembranças dos três anos de amizade consolam a dor de uma ausência muito presente.

Ricardo Antunes

iO Bruno foi um baita ami-go. Nos víamos todos os dias, na faculdade e no trabalho. Um guri divertido e muito querido. Ver um amigo como ele partir assim é horrível, pois ele estava em todos os momentos, desde as aulas na Famecos até as cerveja-

das na República. O Guaragna vai continuar vivo na nossa memória até que a gente se encontre nova-mente. Até lá, nenhum jogo no Olímpico será igual, nenhuma festa será igual, nenhum dia será igual. Juliana Borba

iSabêêê, o Guaragna é uma das criaturas mais adoráveis e di-vertidas com quem tive a sorte de estar. Mesmo quando ele dizia: “Sai de perto de mim”! – eu sabia que podia ficar por perto. Todas as homenagens nunca vão conseguir expressar o que sentimos, a falta, a saudade, as lembranças queridas, os apertos em Buenos Aires. Mas lá vai mais uma: “Um brinde à roupa do Guaragna!”

Ana Luiza Bazerque

iO Bruno é como o Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exu-péry, responsável por aquilo cativou – talvez seja por isso que agora a saudades é tão grande. Durante a faculdade, quando o conheci,

descobri no colega um amigo de coração grande, convicções fortes e de atitudes condizentes, mas simples. Do nosso último abraço, um dia antes do acidente, ficam as palavras “que saudades” que nos falamos por último e que, quem sabe um dia, consigamos suprir.

Ana Pan

iNão o chamava de amigo, pois o amava como um irmão. Ele dizia que era meu mano. Sinto falta do amigo e do meu irmão. Agora, sou obrigado a aprender a fazer as mesmas coisas sozinho. Rir das pia-das sozinho foi o mais difícil. Para todos os lugares que olho e todas as coisas que faço, eu lembro do Bruno. Ora sentado ao meu lado na sala de aula, ora ao meu lado no Fusca, que um dia ensinei a dirigir. Tínhamos uma porção de planos para pôr em prática antes do fim da faculdade e depois também. Mas, agora, vou ter que aprender a fazer as coisas sozinho. Sabe!

Bruno Gazola

As marcas estão por toda parte. O Bruno deixou em cada um de nossos colegas um pouco dele. Os guris ainda fazem as mesmas care-tas que ele fazia. Fazem os mesmo gestos. Tenho saudades de nossos momentos juntos. Ele me levou pela primeira vez no Olímpico... virei gremista. Me levou nas costas naquela corrida na Henrique Dias, fez a melhor caipirinha na praia, escolheu o melhor conto para nosso curta-metragem. Obrigada, Bruno, pelos momentos felizes, obrigada por ter feito parte de nossas vidas. Quando a piada é muito boa, alguém insiste em lembrar: “O Guaragna teria tirado o óculos”.

Aline Bianchini iBruno Guaragna Neumann

era o maior dançarino que já vi. Sempre conseguia extrair um sor-riso aberto do meu rosto. Assim como nas breves conversas de assuntos profundos. Ali transitava nossa amizade. Ele me devolvia o sorriso sincero quando eu insistia

em pronunciar a palavra folga. Os olhos do Bruno brilhavam e meu dia mudava. Beleza era uma palavra recorrente. Do terno que ele usava, do jeito que me cumprimentava. Se o vazio fosse uma grandeza men-surável, seria agora imenso. Como os sorrisos do Bruno, seu coração e seus passos na pista de dança”.

Fernanda Morena

iO Bruno era um guri muito especial, um dos meus melhores amigos. Estava sempre de bem com a vida. Todos os momentos que pude passar ao lado dele foram es-peciais e são lembrados com muita saudade. Utilizando a frase de uma amiga minha e ex-colega do Bruno, “é difícil pensar em algum defeito dele. Ele não tinha deifeitos, só qualidades”. A saudade é imensa. Para mim, o Bruno continua pre-sente em todas as aulas, em todas as manhãs, sentado naquele último banco do saguão, bem pertinho do CPM.

Manoela Andrade

Bruno Guaragna neumann deixa saudade no coração da turma 349

O paulista, apaixonado pelo Rio Grande do Sul e pelo Grêmio, nos deixou mais cedo

A simplicidade do vazioCom o passar do tempo, é fácil

descobrir o quanto a sensação do vazio não está apenas nas grandes coisas, mas, também, nas mais triviais delas. Na sala de aula, uma mochila sobre a classe será sempre apenas isto. Porém, quando nos da-

mos conta de que uma em especial nunca mais estará lá, consolida-se um espaço ausente. Com ele, surge a pior das saudades, aquela sentida por algo perdido para a eternidade. Outras mochilas certamente ocupa-rão o mesmo espaço. Porém, jamais

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trarão consigo o amigo que tanto nos faz falta. Nos resta, entretanto, a melhor parte: as boas lembranças. E estas, por sua vez, estão nas nossas próprias mochilas e classes, para nunca deixarem de existir.

Luiz Cabral

DEPoimEntos