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h ipertext o Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 – Ano 11 – Nº 69 ANO 11 Camila Domingues/Hiper Página 9 Página 7 Começa o Ano da Astronomia Telescópios serão instalados em locais públicos, no mundo todo Pró-Mata preserva a natureza na Serra Pichações na história eternizada em pedra Página 4 Pedro Revillion/Hiper Hubble Space Telescope/ AFP E MAIS Pedro Simon Reitor Clotet Mulheres na prisão Inter e Grêmio

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hipertextoJornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 – Ano 11 – Nº 69

Ano11

Camila Domingues/Hiper

Página 9

Página 7

Começa o Anoda Astronomia

Telescópios serão instalados em locais públicos, no mundo todo

Pró-Mata preservaa natureza na Serra

Pichações na históriaeternizada em pedra

Página 4

Pedro Revillion/Hiper

Hubble Space Telescope/ AFP

E mAiSPedro SimonReitor Clotetmulheres na prisãointer e Grêmio

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 20092 abertura hipertexto

Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hiper-texto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora de Jornalismo: Cristiane

FingerProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojor-nalismo).

Estagiários matriculados e voluntários:Gerente de produção: Carla Castro Editores: Matheus Piovesan e Patrícia

Dyonisio de Carvalho.

Editora de Arte: Juliana Freitas

Editores de Fotografia: Vinícius Roratto Carvalho e Camila Domingues.

Redação: Aline Vargas, Carla Castro, Débora Ely Silveira, Fernando S. Soares Junior, Gustavo Lacerda, Juliana Freitas, Juliana Ulrich Lima, Lívia Costa, Luísa Fedrizzi, Luiza Gaidzinski Carneiro,

Marcus Perez, Mariana Lenz, Matheus Piovesan, Maurício Círio, Patrícia Dyonisio de Carvalho, Sérgio Giacomel.

Repórteres Fotográficos: Amanda Copstein Telles da Silva, Bruno Todeschini, Camila Domingues, Daniela Curtis do Lago, Juliana Arias Martins, Lívia Stumpf, Maria Helena Sponchiado Neuwald, Patrícia Dyo-nisio de Carvalho, Paula Cunha Tanscheit, Pedro Revillion, Tyssiani Avila Vidaletti e Vinícius Roratto Carvalho.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

Por Mariana Ávila

A máxima a “Amazônia é o pulmão do mundo” é amplamente declamada por ambientalistas, ecologistas e pela sociedade em geral como uma tentativa de mostrar o interesse pela causa ambiental que a floresta reserva. Entretanto, mais do que cuidar do pulmão metafórico e verde que o mundo vê como a salvação para as depredações irreversíveis que já foram feitas a Terra, é preciso olhar para as pessoas que lá vivem.

Manaus, capital do Amazonas – estado que ainda preserva boa parte de sua floresta – teve um crescimento sua população nos últimos 20 anos cresceu acima da média brasileira. Hoje com mais de dois milhões de habi-tantes, muitos migrantes do Sul e Nordeste, a metrópole sofre com os problemas de habitação, saneamento básico e planeja-mento viário. 80% dos empre-gados trabalham na indústria, fundamentada na Zona Franca de Manaus. O pólo foi criado como uma tentativa de esquentar a economia brasileira e seguindo a política militar de 70 de “integrar para não entregar” a Amazônia à responsabilidade internacional. A ZF trouxe à Manaus um parque de multinacionais atraídas pela isenção de impostos. Hoje, dão emprego à região e produzem para todo o mundo.

Apesar do Planalto assegurar que a economia brasileira man-tém a estabilidade, Zona Franca dá sinais de que já foi atingida pela crise internacional. As fábri-cas diminuíram significamente a produção, desacelerando o ritmo de trabalho até a completa parada de linhas. Em 21 de novembro do ano passado, uma sexta-feira, uma empresa fabricante de car-regadores de celular fechou sua principal linha de montagem. Os 400 funcionários demitidos são vítimas da crise econômica

mundial. O consumidor, no mundo in-

teiro e principalmente no exterior, resistiu ao desejo de comprar no-vos e potentes aparelhos celulares com medo do gasto pesar muito ao bolso. Essa mudança de prio-ridades nas compras desestrutura uma pirâmide de postos de traba-lhos que dependem das vendas dessas “frivolidades”. A redução da demanda diminui a produção de aparelhos e de acessórios, como os carregadores. Dificilmen-te esses trabalhadores demitidos serão reinseridos no mercado de trabalho. Apesar das 500 indús-trias com sede na região, todas são dependente da economia mundial pelo seu caráter exportador.

As empresas mantêm um vínculo meramente trabalhista com a região, por usufruírem da mão de obra local, mas o comér-cio nacional sempre se mostrou insuficiente para a colocação dos produtos, exigindo uma forte demanda de exportações. Com a recessão internacional, a situação se torna vulnerável. Criada pela ditadura militar para desenvolver a região por 30 anos, oferecendo incentivos fiscais e livre impor-tação para empresas que lá se instalassem, sua validade já foi

prorrogada em 2003 e o novo término está previsto para 2033, quando o governo federal deixaria de abonar os impostos fiscais. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) alerta que o pior, ainda, são os projetos de levar a idéia de Zona Franca para outras regiões do País. Em qualquer das circuns-tâncias, o fim ou a ampliação, po-derão provocar o deslocamento de empresas como Siemens, Philips, Honda, Nokia e Semp-Toshiba. Enquanto não acontece, os traba-lhadores já sofrem com qualquer deslize financeiro mundial do capitalismo globalizado.

A evasão mostrará que Ma-naus, quarto maior PIB per capta do país segundo o IBGE de 2004, não passa de um hotel de capital dependente do setor industrial. A floresta tem toda a atenção midiática, mas a causa ambiental também apresenta desdobra-mentos humanos na região, com os empregos dependentes de um efêmero funcionamento de fábri-cas, forjado artificialmente e com datas marcadas para vigorar. A falência do sistema, na capital do Amazonas, levará à devastação dos empregos, junto com a flo-resta já combalida. Serão homens e árvores.

Devastação e desempregosAMAZôNIA

Por Maurício Círio

Pessoas fascinadas pela auto-imagem, num excesso de amor rabiscam no espelho o próprio nome. Eu, eu, sempre eu. Re-flexos deste tipo de comporta-mento tangenciam os filhos do capitalismo e o vasto mercado da propaganda mundial. Na mídia, campanhas publicitárias repletas de subjetividade e de promessas ao forte ego dos consumidores modernos.

A palavra em questão é o Narcisismo. Na lenda grega, Narciso apaixona-se pelo reflexo da própria imagem refletida na la-goa de Eco. A admiração é tanta que ele acaba permanecendo lá, admi-rando-se até definhar e morrer, nascendo ali uma bela flor. Assim como na lenda, o cotidiano dos novos tempos carrega personagens dotados de exageros referentes à auto-estima. Os narcisos moder-nos são os que mais facilmente absorvem as campanhas de publi-cidade que associam a compra do produto a sentimentos de poder, sensualidade, reconhecimento social, e segurança.

Há uma infinidade de produ-tos no mercado que se encaixam nessa demanda: cosméticos, die-tas light e diet, além das comple-xas cirurgias plásticas (algumas até perigosas à saúde estética). A velhice está cada vez mais temi-da, e as rugas são exterminadas por aparelhos de alta geração. Não existem limites para os neo-narcisos e os criativos publi-citários sabem disso. Tanto que suas campanhas freqüentemente buscam um texto com apelos subjetivos voltados à aceitação do eu perante a sociedade, passando a mensagem de que o produto pode transformar as relações do consumidor com as pessoas em sua volta.

A publicidade tende a passar

a idéia de que o produto não é simplesmente um produto, mas sim um conjunto de valores de-sejáveis pelo consumidor. Uma roupa pode trazer beleza, um relógio garante status, um colchão oferece conforto, e um videogame é sinônimo de entretenimento. Como diria o americano Warren Buffet, 78 anos, considerado pela

revista Forbes como o homem mais rico do planeta, “o preço é o que você paga. O valor é o que você leva”. Assim é o Narciso moderno: iludido com a onipo-tência de um produto capaz de mudar o rumo de sua história. Porém, de acordo com Freud, esse desejo tão realçado pela mídia é inatingível, já que ele nunca se concretizará em sua totalidade, visto que os objetos são efêmeros, assim como sujeitos a renovações e substituições.

As campanhas de publicidade não provocam, mas sim se apro-veitam da sempre atual egomania dos consumidores. Todo mundo quer estar bem consigo mesmo, e isso não tem como mudar.

Os narcisos atuais são ingê-nuos o bastante para acreditarem que na compra de um produto irão ganhar e levar a felicidade instantânea. É, os filhos do capita-lismo continuam ingênuos como todo filho, e narcisistas como todo capitalista.

O Narciso modernoCOMENTáRIO

Michelangelo, El Caravaggio (1573-1610)

O complexo industrial da Zona Franca, em Manaus, e o início da floresta

Evaristo Sá/ AFP

Reprodução

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 3entrevistahipertexto

Por Gustavo Lacerda

Desde o restabelecimen-to do pluripartidarismo no Brasil, em 1979, partidos de esquerda e de direita surgiram do PMDB (até en-tão, MDB). Além disso, a legenda já sofreu diversas repartições internas. A que se deve este fator: seria uma conseqüência do tamanho do partido ou uma caracterís-tica democrática da política peemedebista?

Ao contrário do que acon-teceu em outros países, em que regimes ditatoriais conseguiram eliminar qualquer possibilidade de atuação parlamentar, no Brasil foi diferente. O autoritarismo foi obrigado a permitir o funciona-mento de uma oposição, mesmo que dentro de limites. O MDB foi o estuário dessa oposição, abrigando todos os descontentes com o regime militar. Nunca foi fácil a vida da oposição, mesmo dentro dos limites consentidos. Alvo permanente da ditadura, vítima de seus desmandos, vendo cair pela cassação, prisão, exílio e assassinatos, diversos quadros, o MDB manteve a linha da luta de-mocrática. Enquanto enfrentava a ditadura por um lado, por outro o MDB sofria com os ataques de militantes que aderiram à luta armada, pregavam o voto em

branco e alegavam que não havia futuro para a agremiação. Para debater os rumos da resistência democrática e buscar uma unida-de na ação, realizamos, em Porto Alegre, em 25 de abril de 1971, um grande encontro das oposições brasileiras. Tiramos as bandeiras do MDB, quem não as adotasse e preferisse outro caminho não estaria mais falando em nome do MDB. Assim, aprovamos, como eixos da luta democrática, o fim da censura e da tortura, a anistia, o voto direto, liberdade de imprensa e Assembléia Nacio-nal Constituinte, entre outros. O povo compreendeu a intenção do MDB e dali em diante a oposição cresceu, com a adesão popular que levou às campanhas das Diretas, Já!, Constituinte, e, por fim, à vitória no colégio eleitoral que inverteu a lógica da escolha dos presidentes-generais e elegeu Tancredo Neves.

Com o fim do bipartidarismo, criamos o PMDB, transformando a frente nacional num verdadeiro partido político que conduziu o povo brasileiro à conquista da democracia. Eu defendia a tese da manutenção da frente até a eleição da Constituinte, quando os partidos seriam dissolvidos. Os políticos se agrupariam conforme os interesses em debate na Consti-tuinte e, com a assinatura da Carta Magna, se abriria um prazo de seis

meses para a formação dos par-tidos. Acredito que dessa forma os partidos teriam maior conte-údo. Esse é o problema maior da política brasileira, partidos sem história e sem doutrina.

Mesmo com tantas deriva-ções, o PMDB, nestes quase 30 anos, sempre esteve entre os partidos mais fortes do país. Prova disto foram as eleições municipais do ano passado, nas quais o partido elegeu seis prefeitos em ca-pitais e conquistou o maior eleitorado do Brasil. Como se sustenta esta soberania que completará três décadas este ano?

Ainda hoje o PMDB sobre-vive das glórias passadas e das sementes plantadas na época da luta contra a ditadura. Com a morte de Tancredo Neves e outras figuras referenciais, como Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela, o partido perdeu substância. Hoje, é dominado por um grupo que não traduz em sua prática política a história e os ideais fundadores do PMDB.

Há 30 anos, o senhor teve o seu primeiro mandato como senador. O PMDB com-pleta 30 anos de existência. Hoje, cumprindo o quarto mandato como senador, de-fendendo a mesma legenda, como o senhor vê a sua his-tória política e a sua relação com o partido?

Minha história é conhecida, sou oriundo do antigo PTB, não o PTB de Getúlio Vargas, pois

sempre segui as idéias de Alberto Pasqualini. Fui eleito vereador pelo PTB de Caxias do Sul, minha cidade natal, depois deputado, governador e senador. Quando veio o golpe militar, estava na Assembléia Legislativa, a única do país que permaneceu funcio-nando durante a ditadura. Chefiei a oposição no Rio Grande do Sul, sempre sob o lema: “O que é bom para o Rio Grande do Sul, é bom para o MDB.” Nunca fizemos uma oposição sectária e, por isso mesmo, conseguimos em plena ditadura, unir as forças políticas do estado, convencer o governo a construir no Rio Grande o III Pólo Petroquímico do país. Presido o PMDB do Rio Grande do Sul e não tenho relação próxima com a direção nacional do partido.

Existem traços ideológi-cos e ideais que se conservam no senador Pedro Simon herdados do vereador eleito em Caxias do Sul, em 1954? É possível ainda defender estes ideais, mesmo com a mu-dança no fazer política que ocorreu no Brasil daquela época, passando pelo regime militar, até hoje?

Sou um discípulo de Pasqua-lini, o senador gaúcho teórico do trabalhismo e criador do concei-to do solidarismo, isto é, uma terceira via entre o socialismo e o capitalismo. Ele defendia que sobre toda a propriedade existe uma hipoteca social, e que o traba-lhador deveria receber o suficiente para ter uma vida digna. Os bens de produção poderiam ficar em

mãos de particulares, mas dentro da perspectiva do bem comum e do solidarismo. Embora pouco conhecido, Pasqualini perma-nece atual e deveria ser melhor estudado.

O seu nome sempre será lembrado pela moral inques-tionável e pela luta a favor da ética. Foram inúmeros os casos que comprovam tal afirmação, e ainda há ou-tros tantos que respaldam o seu compromisso com o Rio Grande do Sul, como a permanência na tribuna do Senado por seis horas para garantir um empréstimo internacional ao Estado, em junho do ano passado. Quais valores o senhor gostaria de passar para as próximas gerações peemedebistas e de políticos do Brasil?

O Brasil é um país que perdeu, ou está perdendo, suas referências. Isso acontece em praticamente to-das as áreas, desde a política, até a religiosa e intelectual. Tínhamos nomes como Darcy Ribeiro, Teo-tônio Vilela, Tancredo Neves; ou Raimundo Faoro e Barbosa Lima Sobrinho; ou, ainda, Dom Hélder Câmara. Pessoas que quando fa-lavam indicavam um rumo. Hoje, a família e a escola foram substi-tuídas pela televisão e a política virou terreno em que os ideais se perderam. Meu livro mais recente, “Reflexões para o Brasil do século 21”, aborda justamente essa ques-tão. No entanto, permaneço um otimista, tenho fé no Brasil e no povo brasileiro.

Pedro Simon foi um dos vitoriosos na eleição de 78, que abriu caminho para a Anistia de 79

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) nasceu em 24 de março de 1966. Para camuflar o autoritarismo do Regime Militar, vigente a partir de 1964, fazia o ingrato papel de partido de oposição à Arena. Com a abertura política orquestrada pelo general Ernesto Geisel, a lei nº 6.767, de 20 de dezembro de 1979, concedeu anistia a todos os exilados, restabeleceu o pluripartida-rismo no país e extinguiu ambas as legendas. A idéia era apagar o nome Arena do mapa político com a redemocratização, dando sobrevida aos seus fiéis colaboradores, e impedir o fortalecimento da sigla MDB, que resistira aos anos de arbítrio.

Os remanecentes da oposição consentida foram obrigados a acrescentar um “P” ao velho MDB. Não era a mesma coisa. A frente enfraqueceu e dela saíram o PP, liderado por Tancredo Neves; o PTB, que depois virou PDT, de Leonel Brizola e o PT, reunindo sindicalistas das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Mais tarde, surge uma nova dissidência, o PSDB, de tendência social democrata, liderado pelo governador de São Paulo, Franco Montoro, e o senador paulista Fernando Henrique Cardoso, entre outros.

A resistência democrática durante a ditadura foi árdua, com prisões e cassações. A Anistia de 79 não pode ser resumida a uma concessão militar. Um ano antes, a ditadura sofreu 16 retumban-tes derrotas para o Senado, única eleição majoritária regional permitida até então. É neste cenário que foi eleito senador, em 78, Pedro Simon, gaúcho de Caxias do Sul, cidade na qual foi vereador em 1954. Exercendo o cargo de 1979 a 1987, Simon ficaria marca-do pela defesa dos interesses do Rio Grande do Sul na tribuna do Senado. De 1987 a 1990, elege-se governador do Estado. Em 1991, Simon retorna à Casa para cumprir três mandatos consecutivos: de 1991 a 1999, de 1999 a 2007 e, no atual, de 2007 a 2015.

Em entrevista para o Hipertexto, feita por e-mail, o senador relata a sua experiência durante a ditadura militar, explica o seu vínculo com o PMDB e conta um pouco da sua história na política brasileira.

30 anos do primeiro golpe na ditaduraAgência Senado

Pedro Simon foi um dos líderes da resistência democrática e remanescente do velho MDB que permanece vivo

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 20094 sociedade hipertexto

Os pichadoresriscam história escrita a pedra

Pichadores desafiam legislação e sistema de combate ao vandalismo. Penas brandas não inibem as ações

Por Edgar Maciel

Quem passa pelas ruas e ave-nidas de Porto Alegre já se acos-tumou em observar prédios e bens públicos como alvo de de-predações. Gangues de vândalos desafiam a polícia sem medo do flagrante e durante a madrugada saem para pichar. Desde de março de 2006, a administração de Porto Alegre lançou projetos que visam diminuir as agressões e o descaso com o espaço público da Capital.

O Disque-Pichação permite à população denunciar atos de vandalismo contra prédios par-ticulares e monumentos de Porto Alegre por meio do número 153. Desde o lançamento do serviço, em 25 de março de 2006, houve uma diminuição de 40% dos casos de depredação e um total de 183 detenções. Os números mostram que as ações de vândalos dimi-nuíram, mas o combate às depre-dações ainda revelam problemas graves.

Um estudante de publicidade

e propaganda, D.R, de 21 anos, da PUCRS, mostra a realidade que a cidade vive. Ele integra um grupo com dez pichadores nas imediações da avenida Bento Gonçalves, um dos alvos mais freqüentes pelos pichadores. D.R participa do grupo há mais de três anos e diz que entre os colegas o vandalismo é visto como arte. A Internet virou o canal para dar visibilidade ao mundo da picha-ção. Existem blogs e sites que expõem os trabalhos das gangues e acirram a competição entre elas. Ofensas e trocas de ameaça são freqüentes. “Se não correr atrás de onde pichar, os outros passam na frente. Tem de estar sempre ligado”, relata o estudante.

O jovem afirma que a prática de vandalismo é normal durante o período da madrugada e que não tem “medo nenhum”, mesmo com a possibilidade de ser pego em flagrante. “Nós já pichamos em corredores de ônibus, prédios, viadutos e no Arroio Dilúvio e nem uma vez fomos abordados”,

vangloria-se. Durante o dia, os jo-vens têm vida normal. Trabalham, estudam e atividades sociais agi-tadas na noite porto-alegrense fazem parte da rotina. “A pichação fica como o momento de viver com adrenalina”, declara.

Disque-PichaçãoA Secretaria Municipal de Di-

reitos Humanos e Segurança Ur-bana trabalha com 12 atendentes e 60 guardas municipais de plantão no programa Disque-Pichação.

O número 153 já recebeu 960 denúncias até o mês de outubro de 2008, e registra 183 capturas entre adultos e adolescentes.

A secretaria disponibiliza qua-tro viaturas que fazem rondas no Centro para a proteção do patri-mônio público. O serviço funciona 24 horas e os vândalos flagrados são autuados no procedimento de “Apuração de Ato Infracional” na Lei de Crime Ambiental, que prevê pena de três meses a um ano, com prestação de serviço à

comunidade ou reparação.O secretário Marco Antonio

Seadi assegura que grupos de vândalos são alvo constante da secretaria, da Brigada Militar e dos guardas municipais, mas reconhece que o projeto ainda apresenta falhas. “Precisamos de mais viaturas e policiais que estejam à disposição da secretaria. Estamos entrando em processo de concurso para a contratação de mais policiais para suprir essa necessidade”, diz.

A coordenadora do atelier Alice Prati de Res-taurações, restauradora Alice Prati, que lançou o projeto SOS Monumentos, recuperou 30 monu-mentos na capital, como a estátua de Bento Gon-çalves, em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. O projeto, com repercussão nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, funciona de forma independente e filantrópica. A especialista conhece os problemas do vanda-lismo e as falhas que prejudicam os trabalhos de restauração e conservação dos bens públicos. “O meu trabalho não é de faxineira dos monumentos, mas sim de pesquisar as causas do vandalismo em geral”, diz Alice.

O atelier, juntamente com a prefeitura, tinha uma parceria para restaurar e conservar o patri-mônio público da capital. O governo municipal prometeu laboratórios para que o projeto come-çasse, mas já faz um ano e nove dez meses e nada resultou. “Estamos esperando a manifestação da prefeitura, que até agora não demonstrou impor-tância e não se manifestou mais sobre o assunto”, lamenta a restauradora.

Alice enumera quatro pontos fundamentais para a atual situação do vandalismo e impunidade dos depredadores. O primeiro deles é a falta de

integração entre governo e cidadão. “As pessoas acham que o patrimônio público é dos políticos e as ações tomadas hoje em dia não visam o cidadão, apenas núcleos isolados”. O segundo ponto é a falta de educação civil e social em toda sociedade. Juntamente com a delegada de polícia Rejane Teles, uma das coordenadoras do projeto Disque-Pichação, fazia palestras nas escolas e ob-servava nenhuma consideração com o patrimônio e obediência de regras. A penalização aplicada pela Justiça também é deficitária. O Disque-Pichação, segundo ela, é uma boa prática de combate, porém as penas para quem comete a contravenção são muito leves e quem acaba mais punido é o próprio cidadão. Nas ações culturais, Alice enfatiza a eliti-zação como uma das causas deficitárias. “Existem investimentos gigantes para um único monumento ou ação e a recuperação desses começam a partir dos interesses do próprio governo.”

Mesmo com as ações tomadas pela prefeitura, quem continua ganhando a briga são os vândalos. Cada vez mais surgem grupos no qual a intenção é a depredação da cidade. “A pichação é o primeiro passo de um projeto de marginal e as gangues de vândalos são inteiramente alimentadas pelo crime e o tráfico”, conclui Alice Prati.

LAnçAdo o ProgrAMA SoS MonuMEntoS

Disque-Pichação já recebeu mais de 900 denúncias, mas pena é pequena

Monumento positivista a Júlio de Castilhos, na Praça da Matriz, junto aos prédios de quatro poderes

Camila domingues/ Hiper

Camila domingues/ Hiper

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 5sociedadehipertexto

Por Aline Bassan Martins

São sete galerias, muitas his-tórias humanas e uma série de atividades ocupacionais, recu-peração e ressocialização para mulheres que, por um ou outro motivo, entraram para a vida do crime e agora pagam por isso. Por detrás da mesa, em uma sala espaçosa, Sílvia Ragel, diretora da penitenciária feminina Madre Pelletier, no bairro Teresópolis, em Porto Alegre, traça o perfil das detentas:

“São mulheres geralmente de 20 a 30 anos, com primeiro grau incompleto, pertencentes às camadas mais pobres da popu-lação e que caíram no mundo do crime muitas vezes por questões sentimentais e amorosas, a paixão por um assaltante ou traficante e, conseqüente, mergulharam neste universo sombrio e complicado, cujo prêmio-castigo está sendo vivido diariamente por detrás de paredes e grades que as isolam do mundo exterior.”

Quase todas, porém, ocu-pam-se com alguma atividade e ganham pelo seu trabalho. Há uma oficina onde oito detentas passam o dia em meio a má-quinas industriais de costura, confeccionando filtros para óleo de caminhão, prendedores de roupas, lençóis e fronhas para o Hospital Conceição. É o caso de Clair, a coordenadora da equipe, orgulhosa de produzir 6 mil peças por mês. A equipe dela é a mais bem remunerada, faturando um salário mínimo regional por mês no valor de R$ 477,20, sendo que deste total, 20% é destinado ao pecúlio, uma poupança destinada originalmente a ser retirada no dia da soltura. “Mas muitas tiram antes e mandam o dinheiro para suas famílias”, informa Clair.

Embora ainda longe do ideal, não faltam atividades no Madre Pelletier: além da oficina, há de-tentas que trabalham para uma pizzaria, montando o produto que já sai embalado, pronto para a venda. Há ainda artesanato, aulas de alfabetização, limpeza, refeitório e tarefas de digitação para a Procergs. Todas, por mais irrisório que seja o valor, recebem por suas tarefas. Bom para elas e melhor ainda para as empresas que fazem parte do Protocolo de

Ação Conjunta, PAC. Elas não pagam encargos sociais e têm um serviço a baixo custo. Ao total, 60 presas trabalham nesse sistema.

Não é o dinheiro, porém, o mais importante nisso tudo e sim a chamada “remissão de pena”, instrumento de benefício que consiste na redução de um dia na pena a ser cumprida para cada três dias trabalhados. É o caso de VG., 27 anos, condenada por trá-fico e que está no Pelletier há sete meses. VG. cuida da biblioteca do presídio, uma pequena sala que, segundo ela, contém 6.400 livros, “contados a dedo”. As obras são, em sua totalidade, provenientes de doações da população e mostram-se bem cuidados e catalogados. Engana-se quem pensa que elas não lêem: diariamente cerca de 15 mulheres vêm ao local escolher li-vros, que podem levar para ler em suas celas, à noite. A bibliotecária observa que não há preferência por autores e sim por temas como romances “com muitas histórias” e obras espíritas, além de livros de direito e do código penal. Cada uma pode retirar três volumes de uma só vez, devendo devolvê-los em um prazo de oito dias, passível

de renovação.A história de VG., se não da-

ria um livro, ao menos poderia render um longo artigo: casada aos 12 anos, natural de São Luís Gonzaga, tem um filho de 9, hoje aos cuidados da avó. Quando pe-quena, foi entregue a um casal de argentinos que a criaram durante algum tempo na província de Missiones, onde chegou a cursar as primeiras séries colegiais. “Não tive infância, adolescência e nem brinquei de boneca como todas as outras”, conta, sem que isso soe teatral ou piegas. Depois, moran-do em Foz do Iguaçu, arranjou um companheiro e envolveu-se com o tráfico de drogas.

Morena, baixa, de traços finos e delicados, com uma farta ca-beleira preta, VG. exibe um belo sorriso quando fala do filho, o qual raramente vê. Alguns minutos de conversa são o suficiente para que ela enxuge as lágrimas e passe a falar dos planos para o futuro, algo que não deve acontecer nos próximos cinco ou seis anos por responder a um outro processo, tão complicado quanto o anterior. Evangélica, ela divide a cela com mais cinco companheiras. Jun-

tas, elas formaram um grupo de oração. “Graças a Deus, a nossa galeria é uma benção, não tem briga, e ninguém precisa se dopar para dormir”, relata.

Além de bibliotecária, VG. tem

dotes peculiares: é manicure e cui-da da beleza das outras presas de sua galeria, todas vaidosas como ela. Isso a faz sonhar em abrir um negócio próprio no futuro, possi-velmente salão de beleza.

Um casarão só de mulheres onde ninguém quer entrar

Nossa repórter entrou no presídio feminino e conta o drama das mulheres que cumprem penas por seus crimes

Elas vivem em outro mundo. Tão peculiar que quem está den-tro só pensa em sair e quem está fora jamais quer ser chamado a entrar. São 383 mulheres cum-prindo pena pelos mais variados crimes: tráfico, roubo, homicídio, latrocínio. A Penitenciária Femi-nina Madre Pelletier, na avenida Teresópolis, Zona Sul de Porto Alegre, é o único presídio exclu-sivamente feminino em todo o Estado do Rio Grande do Sul. Um prédio em tom de rosa desbotado, erguido em 1947 e que até então era chamado Instituto Feminino de Reabilitação Social Bom Pas-tor, administrado pelas irmãs da Congregação Nossa Senhora da Caridade Bom Pastor. Encampa-do pelo Estado em 1971, já com a denominação atual, foi dirigido até 1980 por religiosas da Igreja Católica. Atualmente faz parte do sistema prisional da Superinten-dência dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (Susepe).

Razoavelmente bem apare-lhada, a biblioteca ressente-se de algumas lacunas em seu acervo, especialmente revistas, que as presas adoram. A apenada VG. aproveita e faz um apelo: quer do-ações de periódicos, sejam quais forem, novos ou antigos. “Só não vale revista de homem pelado”, brinca.

Ao contrário dos conturbados e violentos presídios masculinos, o Madre Pelletier é relativamente calmo e sem um visível clima de tensão. Isso se explica pelas na-turais diferenças entre os sexos. Rangel teoriza: “É muito diferente um presídio para homem e outro para mulher. A mulher vive em outro contexto, não consegue se desligar da sua família. E a mu-lher é bem mais carente, sente falta do trabalho, já que todas trabalharam dentro de casa. São mais disciplinadas, embora mais histéricas”.

Não é de estranhar, portanto,

que o índice de ressocialização seja bem superior ao dos presídios masculinos. “A ressocialização é bem mais fácil”, afirma a diretora Silvia Ragel, calculando tal quo-ciente em cerca de 50%. Nisso, ajuda o fato de pelo menos 80% delas serem mães. Há, inclusive, uma creche dentro do Pelletier. As próprias apenadas cuidam de seus filhos. As crianças podem permanecer na cadeia junto às mães até os três anos de idade. Assim que ficam maiores voltam para a casa de parentes ou o Con-selho tutelar recolhe. “É claro que também existem as perigosas e as que sempre voltam”, avalia a diretora. A despeito de ser mais humano e digno do que qualquer penitenciária masculina, o Madre Pelletier também sofre com a su-perlotação. Existem cerca de 100 presas além da capacidade. “A Ga-leria E, das provisórias, realmente está superlotada. Antigamente eram mais condenações por ho-

micídio. Hoje o artigo 155, furto, e o 33, tráfico, são muito maiores. Ragel admite que a sociedade mu-dou muito. Mesmo assim, ela diz não se arrepender da sua opção de vida, pelo contrário. Marlusa Netto, auxiliar penitenciário que trabalha no Madre Pelletier há 10 anos, com tatuagens nos ombros e muito bom humor no dia-a-dia, transita desinibida entre as deten-tas. “Adoro isso aqui, adoro esse trabalho”, diz ela. Fora dali, causa certa estranheza nas outras pesso-as quando ela conta que trabalha em uma penitenciária. “Alguns se espantam e fazem piadas, pergun-tam se eu tenho namoradas aqui, mas eu também acho graça.”

Marlusa está tão integrada ao cotidiano do presídio que, ao lado de mais uma dezena de prisio-neiras, passou no Vestibular para Serviço Social. Daqui a três anos poderá dizer que fez parte da pri-meira turma de detentas formada no próprio local de reclusão.

Elas vivem no mundo sombrio da prisão

SuBterrâNeoSdA liBerdAde

Fotos Aline Bassan Martins/ Hiper

ExCLUSIVo

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 20096 última hora hipertexto

Da Redação

Encontro marcado: dia 2 de março, segunda-feira, começam as aulas na Pontifícia Universida-de Católica do Rio Grande do Sul. Seis décadas após sua consolida-ção como universidade, a PUCRS se preparou para atravessar a primeira década do século XXI e planeja o futuro para vencer os desafios de uma época de incerte-zas mercadológicas, descobertas científicas, afirmações humanas e compromissos sociais.

Reitor desde 2004 e empos-sado para novo período de quatro anos, em 9 de dezembro de 2008, o irmão e doutor Joaquim Clotet definiu os vértices de sua gestão: qualidade com sustentabilidade, inovação e empreendedorismo, integração ensino-pesquisa-ex-tensão, relacionamento com a sociedade com responsabilidade social e ações solidárias.

O reitor Clotet e seu vice, ir-mão e doutor Evilázio Teixeira, foram empossados pelo arcebispo metropolitano de Porto Alegre e chanceler da Universidade, Dom Dadeus Grings. A solenidade, no prédio 40 do campus, contou com a presença do presidente da

União Brasileira de Educação e Assistência (Ubea), entidade Ma-rista mantenedora da PUC, irmão Lauro Francisco Hochscheidt. Na mesma ocasião, foram nomeados os pró-reitores e diretores da instituição, alguns novos, outros reconduzidos.

Em seu pronunciamento, Joa-quim Clotet lembrou afirmação do papa Bento XVI de que “a missão da Universidade Católica vai além da transmissão de conhecimento, pois ela tem também uma exi-gência educativa”. A partir desta ótica, a PUC gaúcha tem o com-promisso de formar pessoas, e não apenas profissionais, “capazes de respeitar princípios e valores imprescindíveis à construção de uma sociedade justa e humana em seus fundamentos essenciais”, enfatizou Clotet. “Com esses sen-timentos e muito ânimo, convido-os a vislumbrar o futuro, fazendo com que o próximo período ad-ministrativo prossiga pautado pelo esforço, trabalho, eficiência e entusiasmo que caracterizaram o quadriênio que estamos encer-rando”. O reitor convocou a todos para que a PUCRS seja ainda mais pujante e “continue lidando pela excelência do ensino, na pesquisa

e na extensão como universidade comunitária, confessional católi-ca e sob a orientação espiritual e educativa marista”.

Matrículas e aulasO período de matrículas na

PUC iniciou-se ainda em 15 de dezembro com a chamada dos aprovados no vestibular de verão. Para preencher as 3.948 vagas em 57 cursos, ainda pode haver uma segunda chamada em 28 de janeiro e uma lista de espera com matrícula dois dias depois. Os veteranos matriculam-se de 7 a 14 de janeiro, com datas e horários marcados. Dia 28 de janeiro foi reservado para as reuniões de pro-fessores, a critério das faculdades, para planejamento de 2009.

Com o início das aulas, em março, a Cidade Universitária vol-ta a pulsar com seus 27 mil alunos em 74 cursos da graduação, cinco mil em 39 cursos de mestrado e doutorado e mais 116 de especia-lização, 1.600 professores e dois mil funcionários.

Complementações de matrí-culas estarão sendo recebidas de 3 a 13 de março. A recepção aos calouros será nos dias 12 e 13 de março. Bem-vindos.

PUCRS busca inovação,qualidade e ação social

Reitor Clotet define as metas de sua nova gestão

Chanceler Dom Dadeus Grings empossou Joaquim Clotet para um novo período de quatro anos à frente da PUCRS

Ramon Fernandes/ PUCRS

Por Débora Ely Silveira

A safra agrícola de 2009 será inferior a de 2008, prevê a Fede-ração da Agricultura do Rio Gran-de do Sul (Farsul) em função da crise econômica mundial. “Tere-mos surpresas negativas”, admite o presidente Carlos Sperotto. As principais causas desta redução são os altos custos de produção e os baixos preços das commodities no mercado internacional.

A crise dos créditos pode afe-tar o agronegócio brasileiro que, segundo o Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior, corresponde a um terço do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e é responsável por 42% das exportações do Brasil. Assim, a Farsul projeta uma queda do PIB brasileiro de 5,3% para 1,7% em 2009.

Devido à dificuldade de acesso ao crédito rural, houve redução no uso de tecnologia no plantio. A agricultura também sofreu o impacto da queda nas exporta-ções. Além disto, a produção de soja, principal produto de ex-portação do Rio Grande do Sul, teve redução de 17% no ano de 2008. “Com a crise, o mundo se retraiu, por isso o Brasil está com uma produção menor”, explicou Sperotto em dezembro, ao fazer um balanço do ano.

Porém, comparado aos outros setores da economia afetados pela crise mundial, o agronegócio está otimista em relação às perspecti-vas para 2009. “O superávit das exportações do agronegócio está sustentando os outros setores”, destaca o presidente da Farsul.

O otimismo é apoiado pelos projetos do governo federal que priorizam o combate à fome. “O presidente Lula se elegeu com programas como o Fome Zero e se reelegeu com o Bolsa Família”, sustenta. Em 2009, o mercado interno pode ser a sustentação da economia brasileira. A boa notícia é que a população nunca deixará de se alimentar, portanto, o agro-negócio sempre será fundamental à economia. “Produzimos o essen-cial: alimento”, diz Sperotto.

O agronegócio brasileiro foi o principal responsável pelo superávit comercial em 2008. A perspectiva para a agricultura em 2009 é preocupante, mas ela não deixará de ser a base da economia brasileira. “O campo vai ser apenas mais um setor atin-gido pela crise ou será a salvação para ela?”, questiona Sperotto. A Farsul aposta no preparo e na qualificação da mão-de-obra do produtor rural, além do projeto de armazenagem de grãos nas propriedades para combater as más perspectivas para 2009.

Agronegócio em quedaCrise mundial encolhe produção

Sperotto fez previsões para a safra 2009 em entrevista coletiva em dezembro

Farsul Divulgação

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 7ambientehipertexto

Por Giulia Perachi

Criado com o objetivo de tor-nar o Pró-Mata auto-sustentável, o Projeto Pinus visa retirar os pi-nheiros da área e no lugar plantar espécies nativas para a produção de lenha. “A substituição dos três hectares dessas plantas exóticas pela Bracatinga acontecerá aos poucos devido a preocupação com preservação do local”, ressalva Cláudio Augusto Mondin, respon-sável pelo projeto.

O cultivo de pinus vem au-mentando devido a demanda das indústrias de papel. “O problema está no adensamento das árvores e no grande número de hectares abrangidos”, observa o professor. Segundo ele, espécimes como os pinus e os eucaliptos consomem muita água e seu plantio causa o empobrecimento do solo. “O aumento da salinidade e da acidez deixa a terra inutilizável”, garante o pesquisador.

Embora seja uma alternativa em termos de sustentabilidade, a vasta plantação de árvores para a produção de celulose vem sendo encarada como um desafio am-biental. No Rio Grande o Sul, com subsídio do governo, as papeleiras

estão promovendo a criação de florestas artificiais, para a pro-dução de madeira, incentivando a iniciativa individual ou adqui-rindo campos mais arenosos, com custo baixo, próprios para a plantação de pinus e eucaliptos. Apesar de estarem sendo deixadas de lado as pastagens especiais, na fronteira com Uruguai e Argenti-na, mais valorizadas e próprias para a pecuária de alta qualidade, as plantações de árvores avançam nos campos. “Por possuir um pampa rico e único em biodiver-sidade, o Estado corre o risco de perder suas espécies endêmicas”, alerta o pesquisador. Estudos in-dicam que na Argentina a mesma situação fez com que houvesse redução de água nos rios em 53% e que 13% secassem.

Em contrapartida, a Amazônia vem sendo desmatada, formando campos para a criação de gado de corte. O professor Mondin trata o assunto como um para-doxo humano. “A Amazônia tem caráter florestal. O solo é pobre. O que mantém a floresta viva é o ciclo em que as folhas caem, se decompõe e fornecem nutrientes necessários para o renascimento”, argumenta. Em sua opinião, a

irresponsabilidade do homem em relação à natureza causa a degradação da terra e escassez de alimentos indispensáveis para sua sobrevivência. No caso do Rio Grande do Sul, uma das ameaças tem nome: pinus. Cláudio Mondin partilha da opinião que a solução mais eficaz é a conscientização das pessoas, contudo, até que isso aconteça, a maior parte do campo será perdido.

Por Juliana Arias

Um visual de encher os olhos em plena Serra gaúcha. Este é o cenário onde está instalado o Centro de Pesquisas e Conser-vação da Natureza – Pró-Mata, unidade vinculada ao Instituto do Meio Ambiente da PUCRS. A sede fica no município de São Francisco de Paula, a cerca de 200 quilômetros da Capital. São mais de três mil hectares com flora e fauna nativas, paisagem que encanta os visitantes.

O Instituto do Meio Ambiente foi criado em 1998. A iniciativa demonstrou uma posição de van-guarda da PUC gaúcha, enfatizou o diretor Jorge Alberto Villwock, doutor em Geociências. “A Uni-versidade vem aliando a educação à conscientização ambiental, para promover um desenvolvimento sustentável, em observância à legislação, zelando pelos recur-sos naturais e pela melhoria da qualidade de vida”, sublinha o professor.

Há mais de dez anos, equipes da universidade e de instituições parceiras realizam trabalhos na região. São pesquisas científicas, projetos de conscientização am-biental e também atividades de manejo sustentável. Tudo com o objetivo de encontrar soluções para preservar o meio-ambiente.

O Centro de Pesquisas é aber-to à visitação dos alunos e funcio-nários da PUCRS e de instituições conveniadas e oferece atividades didáticas e científicas. A estrutura do Pró-Mata conta com hospe-dagem para 40 pessoas com três refeições diárias. Os visitantes podem percorrer trilhas e conhe-cer a flora e fauna da região. “No momento, a visitação é restrita a comunidade universitária. No entanto, a equipe gestora do cen-tro prepara investimentos para melhorar a capacidade de recep-ção, como a ampliação dos aloja-

mentos e novas atividades para receber também a comunidade externa”, anuncia o coordenador científico do projeto, professor Cláudio Augusto Mondin, doutor em Botânica.

No Pró-Mata, são desenvolvi-dos projetos de pesquisa científica. Os estudos podem ser realizados por acadêmicos e pesquisadores vinculados à PUCRS ou a institui-ções conveniadas. Para participar, é preciso solicitar autorização para as atividades, com as infor-mações sobre a pesquisa.

O formulário está disponível no site www.pucrs.br/promata. Outras informações na secretaria do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, fone: (51) 3320.3640.

Pró-Mata pesquisa e preserva a naturezaTrês mil hectares de flora e fauna nativas na Serra à disposição de alunos e ecologistas

A sede localizada em São Francisco de Paula é uma excelente escolha para quem pretende realizar trabalhos científicos relacionados ao meio ambiente

Projetos da PUCRS de Desenvolvimento Sus-tentável da Região Nor-deste do Estado envol-vem os seguintes temas:auso e ocupação do solo arecursos florestais, hí-

bridos, costeiros e minerais não energéticosaecossistemas e patri-

mônio biológico (biodiver-sidade) aambiente em assenta-

mentos humanos aenergia e indústria aarmazenamento geoló-

gico de CO2

Projeto prevê retirada de pinus da região

Visitantes do Pró-Mata podem percorrer trilhas e conhecer a flora da região

Fotos Divulgação /PUCRS

ObJeTivOS

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 20098 Brasil hipertexto

Por Mariana Lenz

“Cidades inundadas e pontes destruídas: Governo de Santa Catarina decreta Estado de Ca-lamidade Pública”. Não seria difícil imaginar essa manchete estampando as capas dos jornais de novembro de 2008, que desta-caram os estragos e mortes causa-dos pelas cheias na região do Vale do Itajaí. No entanto, a frase em questão foi publicada pelo Correio do Povo há 34 anos, no dia 26 de março de 1974, e evidencia que o problema vivido nesse momento e alvo da solidariedade de todo o Brasil não é novidade para o estado vizinho.

As enchentes já mataram mais catarinenses do que o Furacão Ca-tarina, que deixou quatro mortos e sete desaparecidos em março de 2004. De 1980 a 2004, as águas assolaram o Estado pelos menos nove vezes de forma violenta e desabrigaram mais de 800 mil

pessoas, e acordo com o “Atlas de Desastres Naturais do Estado de Santa Catarina”, elaborado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para o gover-no do Estado. Ainda segundo a publicação, Blumenau registrou, nos 24 anos pesquisados, 32 inundações.

Mas é possível ir ainda mais longe: matéria do Diário Catari-nense de 29 de novembro deste ano divulgou uma carta escrita em 1856 pelo fundador da cidade de Blumenau, Hermann Blumenau, a um conselheiro do Império. No documento, que consta no livro “Imigrantes 1748-1900: Viagens que descobriram Santa Catarina”, de Mariléa e Raimundo Caruso, o alemão descreve uma enchente ocorrida em 1855, em que o rio Itajaí-Açu ficou 15 metros acima do nível normal: “O rio alagou quase todos os seus barrancos e as casas neles estabelecidas, cau-sando inúmeros males e prejuízos

diretos, tanto na colônia quanto em todo o seu território habita-do”, relata Blumenau na carta.

São diversas as razões que podem tornar Santa Catarina uma região propensa a sofrer mais com sucessivas e violentas inundações. “Esses eventos são um somatório de fatores, como altas taxas de precipitação men-sal e diária, geologia, tipo de solo e topografia, associados com a ocupação humana de áreas muitas vezes inadequadas”, explica o en-genheiro agrônomo e professor de Agrometeorologia da Universida-de de Santa Cruz do Sul (UNISC), Marcelino Hoppe. Segundo ele, o relevo de Santa Catarina, com uma planície costeira seguida pela Serra do Mar, amplia o problema:

“O ar úmido de encontro a essa barreira orográfica se eleva, di-minui de temperatura, condensa e precipita”.

Se as catástrofes naturais são difíceis de serem evitadas por fatores físicos, há sempre a possibilidade de reduzir as con-seqüências de uma enchente com a ação preventiva do homem. Ho-ppe acredita que o primeiro passo é definir zonas de risco. Dessa forma, seria possível realizar um mapeamento de áreas apropria-das para habitação e evitar que a população se instale em locais de risco depois de tempestades prolongadas. Enquanto isso não é feito, Santa Catarina continua colecionando tragédias como as relatas a seguir.

Em dezembro de 1995, nova enchente afetou municípios do sul de Santa Catarina, como Ara-ranguá, Forquilhinha e Jacinto Machado, além de Florianópolis. No total, 40 pessoas morreram e mais de 28 mil ficaram desabri-gadas. Na Capital, a região mais afetada foi a Bacia do Itacorubi, onde ficam bairros residenciais como Córrego Grande, Parque São Jorge e Jardim Santa Mô-nica.

Nesse ano, Luciane Alexi Freitas já morava em Porto Ale-gre, mas em 1991 ela viveu uma situação parecida em Florianó-polis. Depois de dias de chuva, viu a água começar a invadir sua casa e chegar na altura dos joe-lhos. “A água vem entrando e não dá para explicar”, relembra.

Luciane foi resgatada junto com os filhos – a mais nova, Lu-íza, com então três meses, estava com catapora – por amigos que chegaram em uma caminhonete. Apenas seu marido, Mário, con-tinuou na casa. De avião, Luíza foi levada para Porto Alegre para ficar com uma tia. “Retornamos três dias depois e ficamos acam-pados na sala de casa, com o que tinha sobrado. A água molhou tudo, tudo, e a maioria das coi-sas não tinha mais conserto”, relata.

Cerca de 127 anos depois de Hermann Blumenau relatar em sua carta a enchente de 1855, o município fundado por ele sofria mais uma vez o mesmo desastre. Em 1983, Blumenau passou todo o mês de julho debaixo d’água, quanto o rio Itajaí-Açu subiu 15,34 metros. Também foram afetadas as cidades catarinenses de Rio do Sul, União da Vitória, Porto União, entre outras, além do interior do Rio Grande do Sul. Um ano depois, um dia de chuva intensa destruiu o que já havia sido reconstruído. Nos dois anos, o saldo de mortos foi de 140 em Santa Catarina e de 400 mil desa-brigados na região Sul.

A bioquímica Heloísa Spor-leder morava em Blumenau em 1983 com o marido, Stênio Vieira, e o filho, Caio, então com seis meses. “Foi horrível porque não se esperava. Nossa casa ficava em cima do morro e foi o primeiro local a ter acesso fechado depois que o rio transbordou”, conta. Através de um atalho, a família conseguiu chegar ao centro da cidade, onde ficou hospedada com amigos durante dez dias em uma

residência na parte alta: “Não tinha luz, nem água, e o dinheiro estava acabando. Eu olhava para fora e enxergava só os telhados das casas”.

Enquanto a chuva não parava, Vieira resolveu escrever um diá-rio, que foi publicado na edição de 20 de julho de 1983 da revista Veja. Confira alguns trechos do relato.

Dia 9: a cidade está um caos. Não há energia. As rádios, que promoviam um importante serviço de comunicação e infor-mação, silenciaram. Ninguém sabe de nada. Começa a procura desesperada de mantimentos. Nem adivinhamos o drama dos bairros mais baixos e afastados, como Fortaleza, Itopava e outros. Daqui de cima, vemos carros, caminhões, ônibus, pavimentos inteiros de casas e edifícios, ár-vores, tudo desaparecendo sob as águas. A cidade está totalmente às escuras. Silêncio absoluto.

Dia 11: procuramos reforçar nossas reservas de mantimentos. Começam a surgir comentários e boatos de toda ordem. Mortos e

desaparecidos, os dramas mais variados, saques e roubos. Já estamos utilizando água de uma cisterna improvisada em uma calha pluvial. O racionamento dos alimentos é controlado pela polícia nos supermercados. Filas para adquirir o que resta. Leite, uma lata por família. À noite, outra barreira que cai, desta vez na casa de nosso amigo Chico, que também tem de buscar abrigo com um vizinho.

Dia 13: não há luz, não há água, não há gás de cozinha, mas a população se vira como pode. Uns auxiliam os outros. Consegui che-gar até a Prefeitura. Há ali uma situação de penúria, pessoas reco-lhendo gêneros em extensas filas enquanto outras dormem ali mes-mo, acampadas – mas ouvi pouca lamentação. Uma rádio da cidade voltou ao ar e possibilita recados e localização de familiares. Aqui em casa, onde somos dois casais, duas crianças e vizinhos, temos feito racionamento de água, leite e alimentação. Cozinhamos para várias refeições, para economizar gás. Higiene pessoal, a esta altura, é irrelevante.

As cheias de março de 1974 atingiram 20% do Bra-sil, mas a pior situação foi em Santa Catarina, em especial no município de Tubarão, no sul do Estado. O número oficial de mortos chegou a 199, mas muitos permane-cem desaparecidos. Cerca de 65 mil pessoas ficaram desabrigadas, o que na época representava 85% dos habi-tantes, e faltaram gêneros de primeira necessidade, além de água potável.

Em dois dias de chuvas ininterruptas, o rio Tubarão subiu 10,22 metros acima do normal. Nas ruas, a água chegou a ficar 3 metros aci-ma da calçada, alcançando a marquise do Teatro Oscar. No meio da noite de 24 de março, moradores foram surpreendidos pela chuva que começou a entrar nas residências com forte corren-teza. Em entrevista ao jornal Zero Hora publicada no dia 25, o lavrador Evaristo Mar-

tins conta que acordou com o barulho dos cavalos batendo na parede de madeira: “Mi-nha casa estava toda cercada de água, como uma ilha”.

Muitas pessoas fugiram para os telhados, onde espe-raram pelo único helicóptero disponível para o salvamen-to. A falta de comunicação da cidade com o resto do país – os telefones ficaram mudos, os transmissores das rádios foram danificados pela água e as rodovias estavam quase todas bloqueadas – dificulta-va a ajuda.

No dia 27, a chuva parou e as águas começaram a bai-xar, deixando uma camada de lodo de 30 centímetros a 1,20 metros. Só então os danos puderam ser contabi-lizados. O Correio do Povo de 28 de março relata que “a visão que se tem ao che-gar a Tubarão, agora que as chuvas cessaram, é de que a cidade foi arrasada por uma guerra”.

Tubarão, 1974Blumenau, 1983 e 1984

Florianópolis, 1995Uma tragédia

anunciadaDeslizamentos, casas tragadas

pela água, rodovias bloqueadas, falta de alimentos. Nada é novidade lá

Resgate às vítimas da tragédia ambiental em Santa Catarina

Neiva Daltrozo/ AFP

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 9ciênciahipertexto

Por Cristiano Hoppe Navarro

2009, ano internacional da astronomia. Telescópios serão instalados em lugares públicos em todo o mundo. O objetivo é trazer de volta um hábito que já foi co-mum entre as pessoas: o de olhar para o céu. E que com esse olhar sobrevenha discutir a imensidão cósmica da qual somos parte.

Oscar Toshiaki Matsuura sem-pre sentiu atração pelas coisas do céu. Casualmente, acabou tri-lhando trajetória profissional na astronomia, formando-se mestre em rádio-astronomia solar e dou-tor em astronomia de cometas. Até se aposentar como professor associado em 1997, o filósofo e fí-sico liderou o Grupo de Astrofísica do Sistema Solar do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Trabalhou em seguida na divulgação e en-sino básico de astronomia e em história da astronomia no Museu de Astronomia no Rio de Janeiro. Foi Diretor do Planetário e Escola Municipal de Astrofísica “Prof. Aristóteles Orsini”, do Parque Ibi-rapuera, São Paulo e editor asso-ciado de Astronomy Brasil. Hoje é representante da América Latina junto ao Grupo de Trabalho “Ar-quivos” da Comissão 41 (História da Astronomia) da União Astro-nômica Internacional.

Mesmo que o trabalho do astrônomo hoje seja menos na observação direta com telescópio e mais na análise no computa-dor das fotografias dos grandes telescópios orbitais, ainda assim sua matéria-prima principal é o céu. Nesta entrevista exclusiva ao Hipertexto, por e-mail, Mat-suura discorre sobre as recentes descobertas no espaço, como o planeta extra-solar Fomalhaut B, e avanços como os experimentos da Mars Phoenix Lander em solo marciano. Trata também do fun-damental conceito da entropia e revela que as atitudes mundanas, dos humanos que habitam a terra, também influenciam no estudo do céu – seja na ideologia sobre inteligência extraterrestre, seja na longa história de obstaculizar o conhecimento.

Quais os principais equí-vocos que atravancaram o desenvolvimento da ciência e da astronomia em toda a história?

O equívoco que mais atravan-cou o desenvolvimento da ciência ao longo da história foi o cultivo da

falsa auto-suficiência intelectual através da adesão a uma doutrina hegemônica tida como ortodoxa, acompanhado do temor do uso da razão considerado atividade proi-bida e pecaminosa. Esse equívoco de postura, ligado a sectarismo e pré-concepção, é bem diferente dos equívocos cometidos even-tualmente na própria busca do conhecimento. Claro, a vontade dos cientistas é a de sempre acer-tar. Mas, como cegos, eles tateiam a natureza tentando descrevê-la da melhor forma e lhe dar a inteligibilidade possível. Seus equívocos são parte integrante da construção do conhecimento científico. Um bom exemplo é o sistema geocêntrico do mundo. Foi pela crítica a esse modelo que surgiu o sistema heliocêntrico: um modelo que descrevia o universo com mais fidelidade, coerência e abrangência.

O que é a entropia?Entropia é o conceito central

da 2a. Lei da Termodinâmica. Essa lei expressa a idéia de que

sistemas constituídos de muitas partículas (p. ex., moléculas do ar num recipiente de laborató-rio) tendem a evoluir ao longo do tempo para estados cada vez mais prováveis. Um estado mais provável é aquele em que a confi-guração macroscópica do sistema, caracterizada por parâmetros mé-dios (p. ex., temperatura, pressão, densidade etc), corresponde a um número maior de microes-tados. Embora os microestados sejam diferentes do ponto de vista microscópico, não percebemos nenhuma mudança no macroes-tado. O estado mais provável é o de equilíbrio termodinâmico em que não há mais possibilidade de ocorrência de alteração macros-cópica, inclusive de vida. O equi-líbrio termodinâmico é o estado derradeiro sinônimo de morte. A 2a. Lei da Termodinâmica é importante porque implica na ine-lutável evolução para estados em que diminui a energia disponível para a realização de mudanças macroscópicas. Embora a 1a. Lei

da Termodinâmica afirme que a energia se conserva, com o passar do tempo há uma degradação da energia de alta qualidade para energia de baixa qualidade. A 2a. Lei da Termodinâmica afirma que essa degradação, a entropia, nun-ca decresce. Ela é cumulativa. Na melhor das hipóteses permanece constante. Se não, só aumenta. Assim a entropia determina a seta do tempo, direciona o fluir do tempo do passado para o futuro (e não vice-versa). É oportuno popularizar a noção de entropia nos dias de hoje. Afinal ela é importante para a discussão dos problemas ambientais e da pro-teção do meio ambiente. Curio-samente ela é utilizada também na teoria da informação como sendo medida da quantidade de informação contida num signo de comunicação.

Carl Sagan uma vez ques-tionou: “Se há um contínuo das moléculas que se auto-reproduzem, como o DNA, até os micróbios, e um con-tínuo da seqüência evolutiva dos micróbios até os seres humanos, por que devemos imaginar que o contínuo pare nos seres humanos?”. Qual sua posição a respeito da in-teligência extraterrestre?

A emergência do homem faz parte da evolução da vida. No teatro cósmico representamos o nosso papel aqui e agora como personagens efêmeros. Seria mui-ta presunção nossa imaginar que somos personagens eternos ou do grand finale da evolução cósmica. Por isso acredito que estamos fadados a desaparecer para ceder lugar a herdeiros de nossos genes que poderão desenvolver faculda-des muito mais estranhas e miste-riosas do que a nossa inteligência. Afinal a evolução é pontuada por descontinuidades, verdadeiras transições de fase ou emergências do “novo” ou do imprevisível. Como disse Haldane, “a vida não é mais extravagante do que imagi-namos; ela é mais extravagante do que somos capazes de imaginar.” Por isso mesmo, se não queremos nos equivocar, é bom conceber a inteligência extraterrestre sem “chauvinismo terrestre”.

O que 2008 trouxe de importante em termos de avanços e descobertas na astronomia?

Ultimamente os avanços e descobertas da astronomia vêm aumentando exponencialmente

e, com isso, até se trivializaram. Hoje não causa mais impacto a descoberta de um novo planeta extra-solar ou de uma nova lente gravitacional. Mas recentemente foram apresentadas fotografias diretas de um sistema extra-solar (HR 8799) em infravermelho e de um planeta extra-solar (Foma-lhaut b) na luz visível. A elusiva matéria escura foi mapeada em aglomerados de galáxias com base na deformação da imagem de galáxias distantes, resultante do desvio da luz causado pela matéria escura. Esse estudo permite inves-tigar o comportamento da matéria escura quando aglomerados de galáxias colidem e, assim, lança uma luz sobre a sua natureza ainda desconhecida. Foi também este ano que a missão Mars Phoe-nix Lander realizou experimentos para estudar a história da água e o potencial de habitabilidade no solo do ártico marciano. O im-portante é que essa foi a primeira missão da NASA dentro da filoso-fia de ampliar ou complementar grandes missões evitando des-pesas com esforços redundantes. Este ano foi também lançado o telescópio espacial Glast para fazer observações em raios gama com grau inédito de detalha-mento. Há um mês foi lançado o IBEX para estudar a interação do vento solar com o meio inte-restelar nas últimas fronteiras do sistema solar. Estes são apenas alguns exemplos apanhados ao acaso de diferentes áreas. Tudo é igualmente importante como tijolos na construção de uma casa. Já há uma publicação anual dos principais avanços e descobertas da astronomia. Publicada pela Springer ela se chama State of the Universe.

E o que podemos esperar de 2009?

Será o Ano Internacional da Astronomia. Dedicado à celebra-ção da astronomia como conquista humana, marca o quarto centená-rio da primeira observação astro-nômica ao telescópio por Galileu e a publicação de Astronomia Nova de Kepler. As mais recentes desco-bertas da astronomia deverão ser popularizadas e a importância da astronomia na educação científica deverá ser sublinhada. Para nós, brasileiros, a grande novidade será a realização pela primeira vez em nosso País da Assembléia Geral da União Astronômica In-ternacional, no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de agosto.

Mundo olha para o céu em 2009ANO DA ASTRONOMIA

O físico e filósofo Matsuura fala sobre as descobertas do ser humano no cosmo

No Observatório da PUCRS, localizado no topo do prédio 8, são possíveis observações à noi-te. Qualquer um pode agendar visitas noturnas de duas horas, formadas por uma hora inicial de teoria no Laboratório de As-tronomia e uma complementar de observação celeste na cúpula, que comporta até uma dúzia de

pessoas. Gratuitas, as visitações ocorrem nas segundas, quartas e sextas-feiras, mediante um contato prévio via site (www.pucrs.br/fisica/astrono-mia). Adicionalmente, há a disciplina de Astronomia, su-bordinada ao Departamento de Física na grade curricular da universidade.

VisitAs NOturNAs

Divulgação/ PuCrs

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 200910 solidariedade hipertexto

Por Débora Ely Silveira

“Aqui é uma fartura. Farta tudo: água, comida, remédios...”. Ceres Moutinho, 48 anos, usa o bom humor para lidar com a difí-cil situação que vive. Em parceria com o marido, Acyr Martins, 49 anos, cuida de 172 cachorros no seu sítio em Viamão. Este número aumenta a cada semana devido às dezenas de doações de filhotes e outros cães que o casal recebe.

Eles abandonaram a vida social, a família e os amigos para cuidar dos cães. Os salários da professora estadual Ceres e do funcionário do Trensurb Acyr são os recursos que possuem para manter os animais. Com o intuito de tirá-los das ruas, o casal abriga no sítio qualquer cão aban-donado. Independente de raça, idade ou sexo, recebem o mesmo tratamento. “Mesmo na difícil condição que vivemos, podemos dar carinho e conforto aos cães. É melhor do que estivessem nas ruas”, declara Acyr.

O casal enfrenta dificuldades devido à falta de recursos. Diaria-mente, acordam às 4h30min para limpar os canis e alimentar os cães. Voltam do trabalho à noite e usam o tempo livre para tratar os animais. “Nunca imaginei que iríamos chegar a essa situação”, lamenta Ceres.

A paixão pelos bichos começou quando Ceres ganhou um poddle, o Infante, que ela tratava como fi-lho. Quando ele morreu, sua dona ficou muito deprimida. O casal já namorava e Acyr a presenteou com um filhote. De uma hora para outra, eles tinham quatro cães no apartamento na Rua da Praia, no Centro de Porto Alegre.

Ceres e Acyr se mudaram para uma casa em Esteio, onde passaram a cuidar de 33 cachor-

ros, todos recolhidos da rua. Por onde passavam, sofriam pressão de vizinhos insatisfeitos com a quantidade de cães, os cheiros e os latidos.

Apelo por doaçõesForam para o sítio de Via-

mão em 2005. Adotaram mais cachorros de rua, até atingir 172 cães. Somente em ração, gastam R$ 2.500 por mês. Em julho de 2008, a situação chegou ao limi-te. Desesperados devido à falta de dinheiro para a alimentação, o casal lançou uma campanha pedindo a doação de ração. Sem-pre no último final de semana do mês, eles comparecem à Usina do Gasômetro para renovar o pedido. A divulgação por e-mails também ajudou e a resposta das pessoas foi boa. “Descobrimos que ajuda é uma palavra mágica”, contam.

As doações aliviaram tempo-rariamente a situação. Desde o início da campanha, a alimenta-ção dos cachorros é garantida gra-ças à solidariedade. Entretanto, vacinas, remédios e abrigos são necessidades prementes.

Apesar da boa vontade de Ceres e Acyr, não é mais possível cuidar de tantos cachorros porque o casal já acusa problemas de saúde devido ao desgaste. “Pre-cisamos doar cachorros para dar qualidade de vida para eles e para nós”, desabafa Ceres. Entretanto, quanto mais eles ficam conheci-dos, mais cachorros chegam ao sítio, o que agrava a situação.

A professora trata cada animal como se fosse único. Chama pelo nome e alguns têm até apelido. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais afirma que “cada ani-mal tem direito à consideração, à cura e à proteção do homem”. É isso que Ceres e Acyr procuram garantir aos seus filhos caninos.

Por Maurício Círio Um homem de moletom abar-

rotado, boné sujo e calça dobrada até a metade da canela caminha descompassado sobre as linhas da faixa de pedestres. As pessoas atravessam a rua com pressa, desviando-se do indivíduo. Os motoristas torcem para não serem importunados com mais pedidos de esmola. Ele parece estar bêba-do, ou sob efeito de drogas, pois não aparenta medo nenhum de ser atropelado, quando o sinal, finalmente, se torna verde.

Tal cena é comum e pode ser vista nas mais movimentadas sinaleiras de Porto Alegre, por diversos outros protagonistas. Debaixo do arroio Dilúvio, no cruzamento da avenida Ipiranga com a Salvador França, vivem alguns moradores de rua. Outros preferem dormir sob o abrigo das paradas de ônibus. É uma área de grande movimentação, pois fica entre a PUCRS (Pontifícia Universidade Católica) e o shop-ping Bourbon Ipiranga. Dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostram que, durante 24 horas, registra-se qua-se 70 mil passagens de veículos sob os semáforos do cruzamento. É muita gente dividindo o mesmo espaço, o que salienta os contras-tes sociais. Nas paradas de ônibus, uns de salto, outros descalços.

O professorA população já não se choca

mais, e os miseráveis se acomo-daram. É o que pensa Hermílio Santos, professor de sociologia da PUCRS. Para ele, “a sociedade os considera inúteis, e por isso muitos deles acreditam, e passam a se considerar assim”. O estu-dioso, ao se dirigir ao carro que o conduzirá de volta para casa, depois de uma aula de sociologia à noite, lamenta: “Eles têm um

sentimento de que ‘nada vale o esforço’. Ao mesmo tempo em que eles sentem essa desmotivação pessoal, a sociedade se mostra incapaz de absorvê-los com suas limitações”.

Por outro lado, há quem ga-ranta: muitos daqueles que pe-dem dinheiro nas sinaleiras pos-suem moradia. “Vários que estão ali pedindo têm casa“, revela Eder Lidiomar Paivas Pass, um homem humilde, de 28 anos, que se sus-tenta vendendo paçoquinhas, cocadas e pés-de-moleque. Com sua carrocinha e seus petiscos, ele caminha todo dia pela Ipi-ranga e diz conhecer a realidade dos mendigos. “Conheço eles. A maioria está ali por que quer”, garante. Eder, que já trabalhou também em obras como pedreiro, acredita que esta é uma situação sem volta: “Trabalho é o que não falta, mas pra eles é mais fácil ficar pedindo dinheiro. A gente até tenta ajudar, mas eles voltam pra rua, não adianta”, e completa: “Pra eles saírem dali, só morrendo ou indo pra prisão”.

Entretanto, para o sargento Vitor Guimarães, do 4º RPMON, colocar no presídio não é a solu-ção. Segundo ele, os presídios de Porto Alegre estão lotados, e não há Brigada Militar para tantas ocorrências: “Não têm cadeia, nem trabalho para todos. Mesmo se construírem quatro presídios, os quatro vão lotar e ainda vai existir o problema”. Os procedi-mentos recomendados aos mili-tares são de retirar os mendigos da via, revistá-los, procurar por drogas, e verificar a carteira de identidade. Se estiver tudo em ordem, o mendigo é liberado, se não, é encaminhado para a prisão. Porém, para evitar a superlotação nas cadeias, eles são condenados a penas alternativas, que vão desde cumprir em liberdade à realização de trabalhos comunitários.

De acordo com Vitor, fora-gidos da prisão e usuários de drogas são figuras freqüentes nas sinaleiras, e a população sabe bem disso. É por isso que muitos mendigos ganham na insistência algumas moedas. “O motorista, às vezes, dá dinheiro mais por medo de ser assaltado do que por pena”, acredita Bitelo Chaves, fiscal de trânsito da EPTC. Os únicos que parecem não ser importunados pelos mendigos são os taxistas. Ernesto Spinder revela o porquê: “Nós, taxistas, não somos inco-modados, pois temos um trato de nunca dar esmolas”.

Apesar de não ter poder ne-nhum para efetuar prisões, Bitelo conta que pessoas já o abordaram para denunciar assaltos. O cruza-mento Ipiranga/Salvador França é uma das áreas da capital onde mais ocorrem furtos a pedestres. O azulzinho atribui tanta violência às drogas. Ele afirma, inclusive, que já viu um casal bem vestido esgueirando-se para debaixo do viaduto, provavelmente, em busca de crack. “Todo mundo sabe onde são os pontos de droga, só que ninguém faz nada. Essa é a real”, critica Bitelo. O consumo de crack cresceu nos últimos três anos, se tornando o pior problema de saú-de pública do Rio Grande do Sul. Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) apontam que a cada mil gaúchos, aproximadamente cinco são usuários de pedra, equi-valente a 50 mil dependentes. Tal problema é refletido no cotidiano com violência, constrangimento, desespero e desigualdade.

Empurra daqui, empurra de lá. Não há prisão para todos, não existe aceitação e inclusão social, o aumento do uso de drogas está incontrolável e, para completar, o mendigo não quer sair das ruas. Trata-se de um crime perfeito a uma sociedade de mãos para o ar diante do sinal vermelho.

Sinal vermelho socialHora da esmola na sinaleira mostra a exclusão

Camila Domingues/ Hiper

Uma vida de cãoCasal Ceres e Acyr cuida de 172

cachorros em sítio de ViamãoLívia Stumpf/ Hiper

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 2009 11entretenimentohipertexto

Por Luísa Silveira

Inteligentes, talentosos, cada um no seu estilo e cheios de his-tória. São os artistas dos parques que todos domingos representam o lazer dos passantes devido às suas características. Chamam a atenção dos que estão buscando um pouco de paz nos fins de se-mana, tentando fugir da correria do dia-a-dia em Porto Alegre. Pessoas vêm de longe prestigiar seus trabalhos que caracterizam

o cenário cultural da cidade.São palhaços, atores, pinto-

res, artesãos, cada um na sua função, viajam por diversos lu-gares, deixando seu trabalho à mostra, e seu espaço reservado em Porto Alegre, tendo a mesma repercussão do início da ativida-de. “Isso mostra que mesmo com a tecnologia de hoje, tudo isso não foi perdido, não foi esquecido”, afirma o artesão Marcelo Tcheli. Ele faz teatro de bonecos em mi-niatura, partindo do princípio do

cinema mudo. Assegura ser muito gratificante receber a admiração de quem vem de longe assistir seu trabalho e também daqueles que já conhecem e continuam a admirar.

Os palhaços são a alegria, o teatro é a arte por si só, as está-tuas vivas representam a beleza escondida por trás de tanta vida em movimento. A maioria dos artistas vive apenas das exibições, dependendo da reação das pesso-as que colaboram ou não diante das performances. “É a beleza, a paz, um cara que fia durante oito horas expondo sua individu-alidade, merece ser retribuído”, disponibiliza-se a colaborar com os artistas de rua, Denise de Aze-vedo, turista de Goiânia em pas-seio com a mãe Lurdes no parque da Redenção.

Em uma hora de caminhada, escuta-se o som ambiente daque-les que se utilizam da música para

mostrar sua arte, o sino da igreja e as conversas paralelas. Tudo isso contribui para construir a cada domingo o cenário de Porto Alegre que muitos admiram. Estes

personagens da cultura acreditam no seu próprio trabalho e acham que o artesanal não deve ser perdido apesar da expansão e do predomínio da tecnologia.

Arte popular aos domingos em Porto Alegre

A circulação nos parques da cidade com segurança, per-mitindo o desenvolvimento de atividades culturais e físicas, é sempre um assunto recorrente. Alguns defendem que as áreas de lazer deveriam ser cercadas, como na Alemanha, outros são contra e apresentam pesquisa em que a população teria se posicionado contrária.

No bairro Jardim Europa, próximo ao shopping Iguatemi, surgiu um novo parque já cer-cado, ao estilo alemão. O par-que Harmonia – um dos mais

tradicionais da capital gaúcha – também é isolado. O cronista Paulo Sant´Anna, de Zero Hora, defende há anos a ampliação da medida à Redenção. Os opositores entendem que os parques existentes deveriam ficar da maneira como estão. Eles defendem o lazer aberto ao público, com programações de cultura, entretenimento e ativi-dades físicas em convênio com academias, sem custo algum às pessoas que freqüentariam os parques com segurança garan-tida pelo poder público.

cercAr ou não oS PArqueS?

Artistas são presença constante nos parques aos finais de semana

Apesar dos avanços tecnológicos, as apresentações em locais públicos continuam chamando a atenção

Artistas acreditam no destaque do artesanal e na expressão da sua cultura

Fotos Paula Tanscheit/ Hiper

Por Débora ely e Luiza carneiro

Verão, carnaval, formaturas. Não faltam motivos para compa-recer a animadas festas. Quando há aglomeração de pessoas e be-bidas à vontade, um desentendi-mento pode ser o estopim de uma grande confusão. Se o tumulto crescer, pode se tornar uma tra-gédia com perdas de vidas. Foi o que aconteceu com o jovem Igor Carneiro, de 18 anos, atingido por uma bala perdida em uma festa na Capital, em outubro de 2008.

“A população age passiva-mente em meio à guerra civil que vivemos”, reclama Corina Breton, presidente do Instituto Chega de Violência. A escassez de políticas públicas de segurança afeta toda a sociedade. “A maneira como os jovens agem também contribui para a expansão da violência”,

acrescenta José Rocha, sócio da Squadra, empresa de consulto-ria em segurança que organiza eventos.

Em Porto Alegre, os casos de homicídios cresceram 19% nos últimos anos. A cidade ocupa a 12ª posição no ranking das capitais mais violentas do País, conforme dados da Brigada Mi-litar. As razões para o aumento de casos violentos são diversas. O baixo investimento do poder público em segurança é um dos motivos. O consumo e o comér-cio de drogas, lícitas ou ilícitas também são fatores relevantes. Segundo a Constituição de 1988, o Governo Estadual é responsável pela segurança do cidadão, por meio das polícias Civil e Militar. “A sociedade civil tem que se movimentar para exigir eficiên-cia no combate à criminalidade”,

enfatiza Corina.

Vencer a passividadePara romper com a atitude

passiva das pessoas frente à realidade, foi criado o Instituto Chega de Violência que nasceu da iniciativa de três pessoas: Corina Breton, Helena Ibañez e Mathias Nagelstein. Após a morte de um conhecido, resolveram protestar e pedir medidas de proteção mais eficazes e pela paz. Há três anos realizam eventos, como caminha-das e protestos, além de encontros em que a segurança é discutida.

O trabalho é voluntário, a ONG sobrevive de doações e re-aliza projetos em comunidades carentes com psicólogos especia-lizados, estimulando a cidadania e o discernimento entre o certo e o errado. Contam com a ajuda da polícia e da Brigada Militar e

executam o projeto Vizinhança Segura, que recebe apoio da Pre-feitura. “Construímos junto da Prefeitura, e damos alguma ajuda para os guardas municipais”, ex-plica Corina.

Após a morte do estudante Igor Carneiro, devido à bala perdida em festa, familiares e amigos revoltados se mobilizaram e lançaram campanha para que haja fiscalização dos eventos e or-ganização mais criteriosa. Assim, surgiu a Ficar. “O objetivo da ONG é orientar festas, principalmente quando a bebida é liberada e a se-gurança insuficiente”, conta Jorge Krug, um dos idealizadores.

O descaso das autoridades e dos pais também contribui para que tragédias continuem a acon-tecer. Além de estrutura falha e superlotação, em muitas festas são servidas bebidas a menores de

idade. “Os organizadores montam festas com o objetivo de ganhar dinheiro, há um controle mínimo. A Ficar não quer a proibição das festas, mas, sim, o controle. É pre-ciso ter regras”, propõe Krug.

Raiz da violência“Os casos violentos aumenta-

ram e na maioria deles há jovens envolvidos”, lamenta o tenente-coronel Leo Emar da Cunha, chefe do Serviço de Inteligência da PM. Até dezembro de 2008, 160 jovens haviam sido mortos no ano apenas em Porto Alegre. Entre os bairros mais perigosos estão Rubem Berta e Sarandi. A principal causa das mortes na faixa dos 15 aos 29 anos é o uso de drogas. “Tem-se feito grandes tra-balhos para coibir o tráfico, mas é necessário um esforço maior da sociedade”, conclama o oficial.

Alegria em festas públicas depende de cuidados com a segurança

Porto Alegre, janeiro-fevereiro 200912 ponto final hipertexto

Por Gustavo Lacerda

O Grêmio fez o que pôde na última rodada do Brasileirão para, numa virada dramática, passar o São Paulo e sagrar-se campeão. Porém, a vitória por 2 a 0 em cima do Atlético-MG, num Estádio Olím-pico lotado, com 46 mil pessoas, não foi o suficiente.

Precisava de uma mão do Goiás – ou melhor, de um pé: do pé de Paulo Baier que quase acertou, de letra, o canto de Rogério Ceni, aos 19 minutos do primeiro tempo, em Brasília. No Estádio Bezerrão, São Paulo e Goiás definiam o rumo do campeonato.

A 2.029 quilômetros, em Porto Alegre, os torcedores gremistas eram onipresentes. Apoiavam o time sem parar. Ao mesmo tempo, não desgrudavam o ouvido do rádio, concentrados na partida no Distrito Federal. Foram ao delírio quando enten-deram, por engano, que o Goiás havia marcado um gol. Abalaram-se quando Borges, três minutos depois do lance de Paulo Baier, impedido, colocou a bola para dentro e confirmou o título para o São Pau-lo. “Não tem coração que agüente. Ainda mais assim, com gol ilegal”, lamentava-se, aos prantos, o torcedor Raphael Gondar.

O intervalo do jogo foi melancólico no Olímpico. Sem conseguir se impor em cam-po, o Grêmio ameaçou pouco e amargava um empate sem gols com o Atlético-MG. Para completar, o calor, que atingiu 35ºC, fazia com que os presentes no estádio esva-ziassem as águas e refrigerantes dos bares. Enquanto isso, em Brasília, o São Paulo ia para o segundo tempo tranqüilizado pelo 1 a 0 e pelo domínio exercido em campo.

Aos 12 minutos do segundo tempo, Celso Roth sacou Rafael Carioca do time, colocando Felipe Mattioni na ala direita. A substituição gerou vaias da torcida. Entre-tanto, aos 15 minutos, o jogador avançou pela grande área e foi derrubado por César Prates: pênalti. Tcheco converteu, renovan-do o ânimo tricolor.

André Luis e Soares ainda entraram no jogo, nos lugares de, respectivamente, Helder e Marcel. Aos 37 minutos, Soares cabeceou e ampliou a vantagem tricolor. Chegando aos momentos finais da partida, um provocativo avião sobrevoava o estádio Olímpico com o escrito: “Inter campeão de tudo”.

O jogo no Bezerrão havia começado cerca de quatro minutos antes. Portanto, quando o juiz Jaílson Macedo de Freitas deu o apito final, acabando com a esperan-ça tricolor, o duelo em Porto Alegre ainda estava em andamento. Por cerca de dois minutos, o estádio inteiro aplaudiu sem parar, reconhecendo a boa campanha e o esforço dos jogadores e da equipe técnica do Grêmio. Comovido, Tcheco, findada a partida, deu a volta olímpica empunhando a bandeira do clube. “Só me resta agradecer ao apoio dos torcedores”, afirmou.

O São Paulo ergueu a sua sexta taça em campeonatos brasileiros (1977, 1986, 1991, 2006, 2007 e 2008), as três últimas, sob o comando de Muricy Ramalho. Encharcado pela chuva que caiu em Brasília, o treinador desabafou: “Estive para sair, foi um ano difícil. Mas a torcida sempre me apoiou e decidi seguir com o meu trabalho”.

O Grêmio, com o vice-campeonato, ficou com a vaga para a Libertadores deste ano. Além dele e do São Paulo, Cruzeiro e Palmeiras se classificaram para o torneio.

Suspeita de manipulaçãoApós uma denúncia feita pelo presiden-

te da FPF (Federação Paulista de Futebol), Marco Polo del Nero, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) decidiu trocar a arbi-tragem da partida entre São Paulo e Goiás. Segundo Del Nero, o clube paulista haveria tentado manipular o juiz Wagner Tardelli. A suspeita surgiu após uma secretária do São Paulo ligar para uma secretária da FPF para combinar a entrega de ingressos cor-tesia para o show da cantora Madonna. Na conversa, haveria sido citado um envelope para ser dado ao árbitro.

Por Paula Tanscheit

Os últimos 120 minutos que antecede-ram a conquista do único título que faltava no armário do Beira-Rio foram interminá-veis. Toda a tranqüilidade e qualidade que o time apresentou no primeiro jogo contra o Estudiantes, em La Plata, na Argentina, parecia ter ficado por lá mesmo. Porém, o destino do Internacional já estava definido. Foi sofrido e suado, mas, a poucos meses do seu centenário, a torcida pôde comemorar e gritar: Campeão de tudo.

Estádio lotado, 51.803 sócios. Festa preparada para assistir o que acreditava-se ser uma partida sem muitas surpresas e, quem sabe, muitos gols. Com a vitória por 1 a 0 em La Plata, o time do técnico Tite podia até ceder a um empate. Porém, a noite não era das melhores. Com Alex, D’Alessandro e Nilmar, as grandes estrelas do time apresentando uma atuação atípica, e sem a garra de Guiñazu, expulso no pri-meiro jogo, e a firmeza de Índio, lesionado, o Inter parou diante do Estudiantes.

Assim como o time, a torcida também passou por momentos tensos. O grito e a

festa que transformaram o Beira-Rio em um caldeirão na entrada dos jogadores em campo cedeu espaço ao nervosismo e à apreensão. A torcida argentina presente do estádio, 2.500 pessoas, não parou de pular e cantar ao ver que o seu time dava trabalho ao Colorado. Com o meio-campo melhor organizado, o Estudiantes avança-va com perigo. No entanto, se os craques não estavam colaborando, sobressaiu-se a qualidade do zagueiro Danny Morais, que, juntamente com Álvaro, Bolívar e Marcão garantiram um bom sistema defensivo.

Após o gol de Alayes, aos 20 minutos do segundo tempo, o colorado ficou paralisa-do. Sem Alex, substituído aos 34 minutos por Taison, veio a prorrogação. Mas, se o Internacional já estava sem sua estrela, foi a vez do Estudiantes perder a sua: Verón, já cansado, foi para o banco. A partir daí o ata-que passou a ser do Inter. Até que, aos 8 mi-nutos já do segundo tempo, D’Alessandro cobra escanteio, Danny cabeceia, o goleiro defende, bola na trave, Gustavo Nery pega o rebote, a bola passa na frente da goleira e Nilmar manda para dentro, 1 a 1, campeão sul-americano invicto.

O Internacional começou a Copa Sul-Americana desacreditado. Ainda lutando para chegar ao G4 do Brasileiro, que garan-tia a classificação à Libertadores de 2009, ano de seu centenário, mas sem grandes progressos na competição, o clube optou por jogar a taça pan-americana com os titu-lares, colocando os reservas no nacional.

O primeiro adversário acabou por dar uma maior motivação ao colorado. No clás-sico Grenal, o tricolor jogou com os reser-vas. O primeiro jogo, no Beira-Rio marcou a estréia de D’Alessandro, mas terminou em 1 a 1, sem muita emoção. Na casa do adversário, outro empate por 2 a 2 garantiu a classificação do Colorado. Nas oitavas-de-final, diante de uma tênue melhora na classificação do Brasileiro, desta vez foi o Inter que lançou os suplentes contra o Universidad Católica, Chile. O regulamento

contribuiu novamente. Depois do empate de 1 a 1 no estádio adversário e o 0 a 0 no Beira-Rio, os gaúchos se viram na frente do seu maior desafio: o Boca Juniors.

Os argentinos já haviam eliminado o Internacional da Copa Sul-Americana em 2004 e 2005. Porém, 2008 foi diferente. No Beira-Rio, só festa. Estádio cheio e show de Alex e D’Alessandro garantiram uma grande vitória por 2 a 0. Na Bombonera, apesar da pressão, Magrão abriu o placar. Logo após Riquelme marca gol de pênalti. Ainda assim o Inter continuou firme e marcou o segundo gol através de Alex.A semifinal contra o Chivas, do México, foi um passeio e consolidou a boa fase colo-rada. No jogo de ida, em Guadalajara, com gols de Alex e Nilmar, o time conquistou a vantagem. Em Porto Alegre, em outra noite inspirada, veio a goleada por 4 a 0.

Campeão sul-americano invicto

Cada vez mais Internacional

Conquistou todos os títulos possíveis

Grêmio está na Libertadores

Vice-campeão brasileiro sai valorizado

Tcheco, jogador que liderou campanha do clube gremista no Campeonato Brasileiro de 2008

Neco Varella / AFL

Lucas Uebel / Vipcomm

Comemoração dos jogadores e comissão técnica após o primeiro lugar na Copa Sul-Americana