Historia Da Cidade de Sao Paulo Affonso de E. Taunay

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    Detalhe do Colgio e Ptio do Colgio (1818). Original de Toms Ender.

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    HISTRIA DA CIDADEDE SO PAULO

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    Mesa DiretoraBinio 2003/2004

    Senador Jos SarneyPresidente

    Senador Paulo Paim1 Vice-Presidente

    Senador Eduardo Siqueira Campos2 Vice-Presidente

    Senador Romeu Tuma

    1 Secretrio

    Senador Alberto Silva

    2SecretrioSenador Herclito Fortes

    3 SecretrioSenador Srgio Zambiasi

    4 Secretrio

    Suplentes de Secretrio

    Senador Joo Alberto Souza Senadora Serys Slhessarenko

    Senador Geraldo Mesquita Jnior Senador Marcelo Crivella

    Conselho EditorialSenador Jos Sarney

    PresidenteJoaquim Campelo Marques

    Vice-Presidente

    Conselheiros

    Carlos Henrique Cardim Carlyle Coutinho Madruga

    Joo Almino Raimundo Pontes Cunha Neto

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    Edies do Senado Federal Vol. 23

    HISTRIA DA CIDADEDE SO PAULO

    Affonso de E. Taunay

    Braslia 2004

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    EDIES DO

    SENADO FEDERALVol. 23

    O Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em31 de janeiro de 1997, buscar editar, sempre, obras de valor histrico

    e cultural e de importncia relevante para a compreenso da histria poltica,econmica e social do Brasil e reflexo sobre os destinos do Pas.

    Projeto grfico: Achilles Milan Neto

    Senado Federal, 2004Congresso NacionalPraa dos Trs Poderes s/n CEP 70165-900 Braslia [email protected]://www.senado.gov.br/web/conselho/conselho.htm

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    Taunay, Affonso de Escragnolle, 1876-1958.Histria da cidade de So Paulo / Affonso de E.

    Taunay. -- Braslia : Senado Federal, ConselhoEditorial, 2004.

    376 p. -- (Edies do Senado Federal ; v. 23)

    1. So Paulo (SP), histria. I. Ttulo. II. Srie.

    CDD 981.611

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    Sumrio

    A APAIXONANTE HISTRIA DA MAIOR CIDADE BRASILEIRA

    Por Eduardo Matarazzo Suplicy

    pg. 17

    DUAS PALAVRAS DE INTRODUO

    pg. 19

    CAPTULO I

    Os primeiros povoadores do litoral paulista e do planalto piratiningano.

    Joo Ramalho e Santo Andr da Borda do Campo. Os jesutas.A fundao determinada por Manuel da Nbrega.

    A missa de 25 de janeiro de 1554.A extino de Santo Andr. A reao indgena.

    O assalto de 1562 e os diversos sobressaltos do sculo XVIprovocados pela ameaa autctone

    pg. 23

    CAPTULO II

    O isolamento quinhentista de So Paulo.A vila murada. Melhoria de condies civilizadas.

    Manifestaes religiosas. A deficincia do aparelhamento civilizado.Primrdios da organizao urbana e de um comrcio rudimentar.

    Aspectos sociais. Questes srias.Depoimentos quinhentistas sobre a vila.

    A presena de D. Francisco de Sousa.As iniciativas deste ilustre Governador-Geralpg. 29

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    CAPTULO III

    O conflito grave entre paulistanos e jesutas em 1612.

    Muliplicao das entradas e crescente avolumamento das expediesbandeirantes. A expulso dos jesutas do seu Colgio de So Paulo. O

    episdio de Amador Bueno. A Restaurao Portuguesa em So Paulo.Primrdios da guerra civil dos Pires e Camargos

    pg. 45

    CAPTULO IV

    Recrudescncia da guerra civil. Acordo entre os paulistanos e os jesutasreintegrados em seu colgio. A pacificao do Conde de Atouguia.

    Renovamento de hostilidades. O acordo do Ouvidor Portugalpg. 53

    CAPTULO V

    Decrscimo de atuao das bandeiras devido guerra civil.As grandes campanhas do sertanismo na segunda metade do sculo

    XVII. So Paulo e a fundao da Colnia do Sacramento.Novas questes a propsito da liberdade dos ndiospg. 59

    CAPTULO VI

    O governo municipal no sculo XVII. O funcionalismo.A polcia. Ecos da guerra civil. Interferncia de ouvidores na vida

    municipal. Concordncia de vistas dos partidos em

    favor do acordo do Conde de Atouguia.Ameaas de novos distrbios. Ilegalidadespg. 71

    CAPTULO VII

    So Paulo elevada a capital da capitania de So Vicente.Reao da Cmara de So Vicente. Triunfo dos vicentinos.

    Deplorveis medidas financeiras da Metrpole.

    Reao dos paulistanos.Os terrveis motins da moedapg. 81

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    CAPTULO VIII

    A justia. Maus juzes. O cofre dos rfos. A polcia.

    Manifestaes religiosas. Recursos mdicos.As epidemias. A economia paulistana seiscentista.

    A propriedade imobiliria rural e urbana.O regime servil dos indgenas

    pg. 91

    CAPTULO IX

    Trigais paulistanos. Especulaes e exploraes comerciais.Indstria algodoeira. Vinhedos. Canaviais.

    Mandiocais. A marmelada e sua exportao.A pecuria. Conflitos entre criadores.

    Trfico de courama. O fornecimento decarne verde vila e suas contnuas irregularidades

    pg. 101

    CAPTULO X

    Escassez de numerrio. As drogas da terra.A pobreza dos montes inventariados nos dois primeiros sculos.

    Os riscos do comrcio martimo. As transaes bancrias.Policiamento do comrcio pela municipalidade.

    Irregularidades freqentes.Os abusos do comrcio do sal

    pg. 111

    CAPTULO XI

    Represso de chatins. Modstia dos estabelecimentos comerciais.O aambarcamento do sal e os abusos dele decorrentes.

    Vinhos e azeites. Regulamentao de preos de fazendas.O motim de 1692. Questes de almotaaria.

    Organizao do trabalho. Os oficiais mecnicos.Valia de prdios e terrenos. Ensaios censitrios

    pg. 121

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    CAPTULO XII

    Nomenclatura das vias pblicas. As concesses de chos.Impreciso de localizao. Arruamentos. Alinhamento.

    Cdigo de posturas para construes.Limpeza pblica. O caminho do mar

    pg. 133

    CAPTULO XIII

    Tentativas de reao nacionalista antiespanhola.

    Arras de fidelidade paulista ao rei recm-restaurado em Portugal.Ecos de acontecimentos notveis transatlnticosnas pginas da documentao paulistana

    pg. 139

    CAPTULO XIV

    Reflexo da descoberta das jazidas de ouro das Minas Gerais.Perturbao enorme causada por este fato.

    A extraordinria alta do custo de vida. So Paulo:retaguarda econmica da regio mineira

    pg. 143

    CAPTULO XV

    Ecos em So Paulo da Guerra dos Emboabas.Organizao da coluna de Amador Bueno da Veiga vingadora do

    morticnio do Capo da Traio. Malogro desta expedio.A hbil poltica de Antnio de Albuquerque Coelho de Carvalho.

    Pacificao dos espritos. A criao da Capitania deSo Paulo e Minas do Ouro.

    Elevao de So Paulo a cidade capitalpg. 151

    CAPTULO XVI

    O estado da instruo em So Paulo nos dois primeiros sculos.As aulas e os graus dos ptios do colgio jesutico.Ausncia de livros nas casas particulares. Analfabetismo das mulheres.

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    Paulistanos de relevo intelectual.A msica e a pintura.

    O esprito de classe. Pitoresco episdiopg. 159

    CAPTULO XVII

    A reputao de insubmissos dos paulistas.Depoimentos espanhis e portugueses.

    Estrambticas narrativas sobre os paulistanos e sua vilapg. 167

    CAPTULO XVIII

    Criao das Capitanias das Minas Gerais e de So Paulo eMinas de sua Repartio. Assistncia contnua emSo Paulo dos Capites-Generais Governadores.

    Governo de Rodrigo Csar de Meneses. O rushpara asrecm-descobertas minas de Cuiab. A expedio do

    Anhangera, descobridora dos jazigos goianos. Governo deCaldeira Pimentel. As malversaes de Sebastio Fernandes do

    Rego. Governo do Conde de Sarzedas.A junta de 25 de abril de 1735

    pg. 173

    CAPTULO XIX

    Gomes Freire de Andrada e seu imperialismo.Governo de Dom Lus de Mascarenhas.

    Criao da diocese paulopolitana.Luta entre Gomes Freire e o Conde dAlva.

    Extino da Capitania de So Paulo pelo alvar de9 de maio de 1748. Protestos da Cmara de So Paulo.

    A perseguio de Pombal Companhia de Jesus.Expulso dos jesutas de So Paulo e do Brasil

    pg. 179

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    CAPTULO XX

    O perodo depressivo de 1748 a 1765. Desesperados esforosda Cmara de So Paulo em prol da restaurao da sua

    Capitania. Morte de Bobadela. A Carta Rgia de 6 de janeirode 1765. O novo Capito-General Morgado de Mateus.

    Sua inteligncia e capacidade. O Governo sinistro deMartim Lopes Lbo de Saldanha. Os timos Capites-GeneraisFrancisco da Cunha Meneses e Frei Jos Raimundo Chichorro

    da Gama Lobo. Melhoramentos urbanos.Construo de novo pao municipal

    pg. 185

    CAPTULO XXI

    O Governo de Bernardo Jos de Lorena. Notvel atividade progressista.Construo do Quartel de Linha e do chafariz da Misericrdia.

    Empedramento do Caminho do Mar na Serra. O perodo governamentalde Antnio Manuel de Melo Castro e Mendona.

    Preocupaes civilizadoras. Introduo da vacina jenneriana.Abolio do estanco do sal. Melhoria do Caminho do Mar. Governodesptico de Antnio Jos da Franca e Horta.

    Administrao economicamente mal inspiradapg. 193

    CAPTULO XXII

    Governos do Marqus de Alegrete, da Junta Trina de 1813-1814,

    do Conde da Palma. Joo Carlos dOeynhausen,ltimo Capito-General de So Paulo

    pg. 199

    CAPTULO XXIII

    A partida de D. Joo VI para Portugal. Incio da atuaode Jos Bonifcio em prol da independncia. A instituio do

    Governo Provisrio de So Paulo. O motim do Chaguinhas.A constituio da bancada paulista s Cortes de Lisboa.A atitude do Governo Provisrio de So Paulo ante

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    os decretos recolonizadores. Partida de Jos Bonifcio para oRio de Janeiro e sua nomeao para Ministro de Estado

    pg. 203

    CAPTULO XXIV

    As conseqncias do Fico em So Paulo.Partida para o Rio de Janeiro da brigada dos Leais Paulistanos.

    Boatos da vinda a So Paulo do Prncipe Regente.A Bernarda de Francisco Incio de Sousa Queirs

    pg. 215

    CAPTULO XXV

    O efmero triunfo da Bernarda. A repulsa de Itu e sua comarca.Ameaa de assalto a So Paulo pela guarnio de Santos.

    Retrocesso da coluna do Marechal Cndido Xavier.Protestos de fidelidade ao Prncipe Regente por parte dos

    bernardistas e apelos para que visite So Paulopg. 223

    CAPTULO XXVI

    Atitude ameaadora da comarca de Itu.Partida do Prncipe Regente para So Paulo. Viagem Triunfal.

    Recepo extraordinariamente festiva na capital paulistapg. 229

    CAPTULO XXVII

    A jornada de Sete de Setembro. O memorvel espetculo doTeatro da pera. Episdios diversos. Partida de D. Pedro para o

    Rio de Janeiro. Agraciamento da cidade de So Paulo com o ttulo de

    Imperial. A Junta trina interina de setembro de 1822 e oGoverno Provisrio de janeiro seguintepg. 235

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    CAPTULO XXVIII

    Incertezas e divergncias. Consulta Cmara de So Paulo

    sobre a convenincia de aclamao imediata do Prncipe.Solidariedade paulistana com os fluminenses.

    A aclamao solene do Imperador a 12 de Outubro de 1822.As eleies Constituinte e do Governo Provisrio.

    A devassa contra os bernardistas. Sbita e inesperada anistia geralpg. 241

    CAPTULO XXIX

    As condies gerais que regiam a vida de So Paulo no sculo XVIIIe nos anos coloniais do sculo XIX. Largo perodo de estagnaoe decadncia. Uniformidade da vida municipal. A administrao

    e a polcia. As escassssimas receitas municipais.Obras reclamadas e adiadas sempre.

    As epidemias. Declnio da instruo pblicapg. 249

    CAPTULO XXX

    Insignificante progresso setecentista em matria de organizaodo trabalho e criao de indstrias rudimentares. Liberdade concedidaaos ndios. Importao de africanos. Comrcio sobremodo acanhado.

    Melhoria dos processos forenses. Ausncia de estrangeiros.Patranhas divulgadas sobre os paulistas.

    Melhoria urbanstica no comeo do sculo XIXpg. 259

    CAPTULO XXXI

    Os primeiros presidentes da Provncia de So Paulo.As belas administraes do Visconde de Congonhas do Campo

    e do Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar. Medidas presidenciais dediversos perodos tendentes melhoria das condies de So Paulo.

    A revoluo liberal de 1812 e suas conseqncias.

    A primeira visita de D. Pedro II a So Paulo.As Presidncias Pires da Mota e Nabucopg. 267

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    CAPTULO XXXII

    A efemeridade dos governos provinciais. A construo da linha

    da So Paulo Railway, de Santos a Jundia. A cooperao militar deSo Paulo para a campanha do Paraguai.

    As festividades do trmino da guerra. Iluminao da cidade a gs.Estabelecimento das linhas de bondes.

    A fecunda Presidncia de Joo Teodoro Xavierde Matos. Inaugurao da linha frrea So PauloRio de Janeiro.

    Visitas imperiais Cidade e Provncia de So Paulopg. 283

    CAPTULO XXXIII

    As ltimas presidncias da era imperial. Melhoria considerveldas condies gerais da cidade. A distribuio domiciliar da gua.

    A primeira rede de esgotos. Reforo da iluminao pblica.A fecunda Presidncia do Conselheiro

    Joo Alfredo Correia de Oliveira.A agitao abolicionista e republicana.

    Proclamao da Repblicapg. 295

    CAPTULO XXXIV

    A cidade de So Paulo e o abolicionismo.A propaganda republicana

    pg. 303

    CAPTULO XXXV

    A transformao dos costumes operada no ltimo quarteldo sculo XIX. Comparaes feitas por viajantes

    pg. 313

    CAPTULO XXXVI

    O extraordinrio surto do progresso da Provncia e da

    Capital de So Paulo provocado pelas ferrovias e aextenso da cultura cafeeirapg. 323

    http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-12.pdf/http://hist_sp-11.pdf/http://hist_sp-11.pdf/
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    CAPTULO XXXVII

    A imprensa paulistana sob o Imprio. A extraordinria influncia

    cultural da Faculdade de Direitopg. 331

    CAPTULO XXXVIII

    ndices do progresso paulistano nos ltimos decnios imperiais.Almanaque Lun e o Relatrio da Comisso

    Central de Estatstica

    pg. 341

    CAPTULO XXXIX

    As circunstncias econmicas que caracterizam a Provncia deSo Paulo ao se encetar o regime republicano. ndices do

    mais auspicioso progresso. So Paulo sob osprimeiros governos republicanos.

    A grande crise cafeeira de fins do sculo XIX

    pg. 351

    CAPTULO XL

    A grave crise cafeeira de princpios do sculo XX.O Convnio de Taubat e as operaes da valorizao.

    O reflexo da crise sobre a cidadepg. 361

    CAPTULO XLI

    Retoma a cidade o seu forte ritmo progressista.Dificuldades causadas pela primeira conflagrao mundial.

    A pandemia de 1918pg. 369

    http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-13.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-15.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-14.pdf/http://hist_sp-13.pdf/
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    A apaixanonte histria da maior cidade brasileira

    SENADOREDUARDO MATARAZZO SUPLICY

    AO ASSISTIRo comovente filmeRazes do Brasil,sobre a vida e a obra de um dos maiores historiadores brasileiros, SrgioBuarque de Holanda, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, senti-mealtamente estimulado a ler esta obra de Afonso DEscragnolle Taunay.O filme mostra que Afonso foi seu professor de histria no Colgio SoBento, em So Paulo, e certamente uma das pessoas que mais contribuiu

    para despertar a paixo de Srgio por pesquisar os fatos da histria e anatureza dos brasileiros e se tornar, tambm, brilhante historiador.

    A Histria da Cidade de So Paulo um formidvelcompndio e registro de como a vila fundada pelo padre jesuta Jos de

    Anchieta, por ocasio da missa celebrada no Ptio do Colgio em 25 dejaneiro de 1554, transformou-se na mais dinmica cidade do Brasil nasprimeiras dcadas do sculo XX, e naquela que hoje a maior metrpolebrasileira. Admirveis a seriedade, imparcialidade e profundidade comque Afonso dE. Taunay estudou as fontes de informao para narrar osdetalhes do que ocorreu desde quando Encetou So Paulo a vida prote-

    gida pelo amparo do morubixaba guaians Mie Inhapuambuu, homem

    de maior prestgio, Tibiri, o guerreiro dos olhos encovados j afeioadoaos brancos pelas relaes de sua filha Isabel com Joo Ramalho, dequem houvera vrios filhos, contando j considervel descendncia.

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    Afonso dE. Taunay nasceu em Desterro, hoje Florianpolis, em

    1875, e faleceu em So Paulo, onde viveu a maior parte de sua vida, em1958. Escreveu cerca de 150 obras, a maior parte das quais dedicada aoestudo da Capitania, da Provncia e do Estado de So Paulo, incluindo os

    feitos dos que formaram as expedies que contriburam para desbravar oBrasil e mais particularmente tudo que se passou na cidade de So Paulo.Dele, por exemplo, disse o grande crtico literrio, Tristo de Atade, ou

    Alceu Amoroso Lima: Para o estudo dos fastos paulistas, a grande obrado Sr. Taunay sobre as bandeiras, e sobre a formao da vida em So Paulo,

    vai ser uma base indispensvel e slida. E nela podemos tocar de perto todasessas anomalias do senso religioso, que desde o incio da nossa vida nacionalrevelam tanto na indisciplina de costumes e doutrina do clero como doscolonos males muito srios que os tempos s fariam implementar.1

    Para aqueles que desejam saber como era a interao entre osportugueses que aqui chegaram e os indgenas; como que se desenvolveu aescravido desde as primeiras vindas dos negros da frica; como era o

    seu comrcio e o valor das crianas, das mulheres e homens, e dos idosos;como se deu a sua contribuio para a gerao da riqueza na agriculturae nas demais atividades produtivas, como se constituram as diversas for-mas de escolha dos representantes do povo e de seus governantes, at o de-sabrochar do esprito libertador que se formou a partir da Faculdade deDireito do Largo So Francisco onde a voz do poeta Castro Alves, aolado de Fagundes Varela e lvares de Azevedo, comeou a repercutir oanseio abolicionista por todo o pas, a contribuio das pessoas que paraa nossa cidade vieram de praticamente todas as partes do mundo, estaHistria da Cidade de So Paulo um livro precioso.

    Quero cumprimentar o Conselho Editorial do Senado Federal,sob a presidncia do Senador Jos Sarney, que por ocasio dos 450 anosde So Paulo e da 18 Bienal Internacional do Livro de So Paulodecidiu publicar esta nova edio deste livro que tanto colabora paraconhecermos melhor e amarmos a nossa terra.

    18 Affonso de E. Taunay

    1 Leite, Mrio Affonso de Escragnolle Taunay, Historiador de So Paulo Capitania,Provncia, Estado;So Paulo S. Ed. 1964, pg. 41.

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    Duas Palavras de Introduo

    AFFONSO DE E. TAUNAY

    AO APROXIMAR-SE a efemride, quadricenten-ria, de 25 de janeiro de 1954, observaram-me diversos amigos que mecaberia apresentar ao pblico uma smula da histria da Cidade de SoPaulo, j que, desde largo lapso, vinha examinando detidamente os secularesanais do burgo de Manuel da Nbrega evoludo em vila e cidade, paraatingir o extraordinrio vulto, que o consenso universal lhe reconhece,como dimenses e importncia, civilizao e progresso acelerado. E real-

    mente trinta e cinco anos decorreram desde que encetei uma srie de tra-balhos dos quais resultou a publicao de extensa seqncia de volumesbaseados no exame pormenorizado dos fastos paulistanos, a partir daera quinhentista e dos prprios dias da fundao.

    Em 1920 imprimi So Paulo nos Primeiros Anos, em1921 So Paulo no sculo XVI, para depois dar a lume, at ocorrente 1953, a Histria Seiscentista da Vila de So Paulo, a

    Histria Setecentista da Vila de So Paulo,

    aHistria da Cidadede So Paulo no sculo XVIII e aHistria Colonial da Cidadede So Paulo no Sculo XIX.

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    Paralelamente a esta srie de dezesseis volumes distribudos pe-

    las epgrafes citadas ainda imprimi sobre assuntos paulistanos Pirati-ninga, Non ducor duco, um livro estritamente ligado aos anteceden-tes da fundao piratiningana: Joo Ramalho e Santo Andr daBorda do Campo, alm de diversas monografias especializadas como

    Velho So Paulo, apresentao da iconografia vetusta paulistana:Histria Antiga da Abadia de So Paulo; A Casa da Moeda deSo Paulo, Primeira do Brasil, alm de muitos outros estudos, inser-tos nosAnais do Museu Paulista. Compondo estes diversos ensaios,

    vali-me principalmente da consulta acurada de enorme documentao aomeu dispor, procedente sobretudo dos arquivos municipais, estaduais e fe-deral. Tive sempre em vista realizar trabalho essencialmente analtico,tentame que jamais se levara a cabo, coordenadamente, e, pelo menos, emto larga escala.

    Alm destes tomos de obra contnua, abrangendo o lapso de1554 a 1852, redigi em prossecuo o exame dos fastos paulistanos re-

    lativos era imperial, cujos originais j entreguei ao Departamento deCultura da Prefeitura Municipal de So Paulo.Paralelamente a estas publicaes esforcei-me por evocar ao p-

    blico visitante do Museu Paulista o passado da cidade de Manuel daNbrega, realizando em 1922 por ocasio das festas centenrias da nos-sa Independncia nacional a primeira exposio jamais efetuada sobre talassunto, apresentando em trs grandes salas e num salo do edifcio do

    Museu, alm de vrias centenas de peas de natureza variada, uma ma-

    queta procurando dar idia do que era a capital por ocasio do Sete deSetembro de 1822.

    Da inspeo dos anais paulistanos e para a confeco destevolume resolvi destacar o que me pareceu essencial, a fim de dar aos meusleitores uma smula dos fatos capitais balizadores da trajetria da urbebimilhonar de nossos dias, a que vaticinou o venervel Jos de Anchietaa primazia, algum dia, entre as maiores aglomeraes do nosso continente.

    Procurei, ao mesmo tempo, reunir para a ilustrao de minhas pginas oque de mais notvel suponho existir da velha iconografia local, alissobremodo pobre at a era da fotografia.

    20 Affonso de E. Taunay

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    Aos prezados amigos Sr. Jos Alves Dias, que tanto me inci-

    tou confeco deste livro e Sr. Gnter Klusemann, to empenhado emlhe proporcionar a melhor apresentao grfica, quero exprimir meusagradecimentos especiais oriundos da realizao de um tentame que metrouxe a maior satisfao. como que o complemento de uma obra aque procurei consagrar quanto me foi possvel para o seu melhor desempe-nho em desvalioso mas honesto esforo.

    So Paulo, 20 de agosto de 1953.

    Histria da Cidade de So Paulo 21

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    Captulo IOS PRIMEIROS POVOADORES DO LITORAL PAULISTAE DO PLANALTO PIRATININGANO. JOO RAMALHO

    E SANTO ANDR DA BORDA DO CAMPO. OS JESUTAS.A FUNDAO DETERMINADA POR MANUEL DA NBREGA.

    A MISSA DE 25 DE JANEIRO DE 1554. A EXTINO DE SANTOANDR. A REAO INDGENA. O ASSALTO DE 1562 E OSDIVERSOS SOBRESSALTOS DO SCULO XVI PROVOCADOS

    PELA AMEAA AUTCTONE

    PARECE impossvel determinar-se quem haja sido o primeiro eu-ropeu fixado na costa paulista e no lagamar santista.De quantos, cujos nomes sobreviveram, imortal relevo a umcoube pelos mritos excepcionais de civilizador e povoador: Joo Ramalho,que, talvez por volta de 1515, haja pisado em terra brasileira, no se sabecomo nem por qu.

    Outros brancos, assaz numerosos para o tempo, umas poucasdezenas talvez, quase todos portugueses, congregaram-se nas cercaniasde So Vicente e mantiveram contato com D. Manuel I e D. Joo III, o

    que determinaria a expedio de Martim Afonso de Sousa e a conse-qente fundao oficial, da primeira povoao estvel do Brasil, a de 22de janeiro de 1532.

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    Desde anos morador de Serra Acima, na regio de Piratininga,foi Joo Ramalho o grande agente do xito da colonizao que surgia.

    Em 1536 encetou Brs Cubas as primeiras edificaes de Santos.Dos emigrados com Martim Afonso diversos galgaram a Serra de Para-napiacaba atrados pelo clima e as vantagens rurais estabelecendo-se noscampos de Piratininga a exemplo e em torno de Ramalho.

    Em 1549, instalou-se o Governo-Geral do Brasil. Em compa-nhia do primeiro Governador chegaram Manuel da Nbrega e os jesutasmissionrios de quem era o chefe. Pouco depois para So Vicente partiu

    o Padre Leonardo Nunes, que em 1550 ali fundou o novo Colgio daCompanhia, encetando com extraordinrio vigor a obra catequstica en-tre os numerosos gentios de Serra Acima.

    Decidiu Nbrega realizar uma fundao bem no interior dasterras e assim criou a misso de Manioba, na regio de Itu.

    Em 1553, resolveu Tom de Sousa conceder foral de vila aum arraial de Joo Ramalho na regio piratiningana, ordenando que seelevasse em torno de uma ermida consagrada a Santo Andr. Efeti-

    vou-se tal ato sendo Ramalho nomeado capito-mor e alcaide-mor docampo, do seu novo azemel.

    Informado das condies que regiam o altiplano, Manuel daNbrega, que viera a So Vicente, entendeu que a misso de Maniobase achava muito afastada do mar, ordenando-lhe a transferncia paraperto do ncleo ramalhense.

    J em agosto de 1553 fixara tal resoluo, escolhendo o localonde queria se erguesse o primeiro colgio da sua Companhia, fundadono interior das terras brasileiras.

    Foi nesse local que o Padre Manuel de Paiva, superior da novamisso, celebrou a 25 de janeiro de 1554, a famosa missa evocadora daconverso do Apstolo das Gentes, ato inicial da existncia do pequeni-no arraial de So Paulo do Campo de Piratininga, vila em 1560 e cidadeem 1711.

    A esta cerimnia inesquecvel realizada no local chamado o

    Ptio do Colgio, assistiu um novio de vinte anos, a quem caberia oepteto glorioso de Taumaturgo do Brasil e as honras dos altares: o ve-nervel Jos de Anchieta.

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    Joo Ramalho e um de seus filhos, neto de TibiriQuadro de J. Wasth Rodrigues (Museu Paulista)

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    Encetou So Paulo a vida protegida pelo amparo do morubi-xaba guaians de Inhapuambuu, homem do maior prestgio, Tibiri, oguerreiro dos olhos encovados j afeioado aos brancos pelas relaes desua filha, Isabel, com Joo Ramalho, de quem houvera vrios filhos,contando j considervel descendncia.

    Aos invasores brancos e sobretudo aos jesutas dedicava gran-de afeto outro tuxaua, Caiubi, cacique da taba de Jeribatiba.

    Mais esquivo do que estes grandes chefes talvez se mostrassePequerobi, maioral de Urura, cuja filha, Antnia, era a mulher de Ant-

    nio Rodrigues, povoador de muito menor projeo do que seu grandecompanheiro de colonizao.

    Infatigveis encetaram os jesutas intensa obra de desbrava-mento e catequese, o que lhes trouxe conflitos com os vizinhos, a come-ar por Joo Ramalho, dominados como viviam eles pela mentalidadeescravista avassaladora de todos os colonos da Amrica. Ergueu-se opequenino e tosco Colgio inacino e, em torno desta cellula mater da

    magnfica metrpole hodierna, agruparam-se as choas de alguns bran-cos e suas prognies mamalucas.

    Mas os ndios xenfobos circunvizinhos, no viam com bonsolhos o crescimento do vilarejo. Um prprio irmo de Tibiri, o caci-que Arara, mostrava-se sumamente infenso permanncia dos brancosem seu territrio.

    Em maro de 1560, chegando o terceiro Governador-Geral a

    So Vicente, expuseram-lhe os jesutas a precariedade da posse do pla-nalto. Assim, em junho ordenou que todos os civilizados se transferis-sem para junto do arraial jesutico extinguindo-se vila de Santo Andrda Borda do Campo, acertadssima medida.

    Encetou-se em 1560 a vida municipal de So Paulo do Cam-po de Piratininga sob as mais graves apreenses. A 20 de maio de 1561pedia a Cmara da nova vila ao Governo-Geral, e com toda a instncia,

    armas e reforo de povoadores vista das contnuas e fortssimas agres-ses dos ndios sua aldeia mal amparada pelas mais singelas e expug-nveis muralhas.

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    Em abril de 1562 agravou-se imenso a situao, sendo JooRamalho eleito pela Cmara e povo, capito da gente de guerra que de-

    via enfrentar os ndios agressores.Afinal, a 10 de julho de 1562, aps cinco dias do maior so-

    bressalto pela angustiosa espera, investiam os autctones numa coliga-o de tribos guaranis, carijs e outros tupis, a que se deu o nome deConfederao dos Tamoios. Comandavam aos assaltantes Arara e seusobrinho Jaguanharo.

    Terrvel o embate, repelido graas bravura dos assaltados, a

    quem comandavam Joo Ramalho e Tibiri e certamente superiorida-de embora ainda no muito considervel, na poca, das armas de fogode tiro muito lento e pequeno raio de alcance.

    Contra si tinham os sitiados a grande inferioridade do nme-ro de combatentes. Rechaados os sitiantes com grandes perdas, reitera-ram o ataque a 11 de julho com redobrado vigor. Viram-se, porm,completamente derrotados e tomados de pnico debandaram, persegui-dos pelos vencedores; brancos e ndios, fiis aos seus abars, que com a

    maior serenidade tanto haviam cooperado na defesa da praa.Foi ento que Nbrega e Anchieta se ofereceram como parla-

    mentares junto aos tamoios, permanecendo na praia de Iperoig, comorefns durante meses, at que se estabelecesse a paz entre brancos egentios.

    Tibiri que com inabalvel firmeza recusara trair a causa dosseus caros missionrios, viria a morrer naquele mesmo ano, no dia deNatal, muito chorado pelos jesutas que o sepultaram no solo do seuigrej.

    Apesar do desafogo do triunfo, a situao de segurana deSo Paulo foi, at quase os ltimos anos do sculo XVI, muito delicada.Em 1564 ocorreu novo e grande alarma, ante as correrias de ndios hostispelas vizinhanas da vila, cujo chefe militar continuava a ser Joo Rama-lho. Neste ano o formidvel povoador afastou-se, da vila paulistana. Fale-ceu depois de 1580, octogenrio avanado ao que parece.

    As grandes vitrias de 1565, em Santos e So Vicente, e as de15651567 obtidas por Mem e Estcio de S na Guanabara, trouxeramgrande alvio aos paulistanos.

    Histria da Cidade de So Paulo 27

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    Em 1585 a expedio do Capito-Mor Jernimo Leito des-troaria numerosas tribos do vale do Tiet. Mas em 1590 agravou-se no-

    vamente, e sobremaneira, a situao.Vrias tribos acamparam em Barueri com grande nmero de

    arcos e em certa ocasio fizeram uma incurso at Pinheiros onde quei-maram a ermida local. Mas no se atreveram a avanar sobre a vila a quecomandava Afonso Sardinha. No se conhecem pormenores das ocor-rncias ento havidas. Parece que o estado de alarma longamente durou.

    Em outubro de 1593 narrava Sardinha em Cmara que o gentio

    parecia fugir para o Rio Grande (Paran).Depois desta poca houve novos e violentos rebates de guerra,que perduraram assaz longamente como em 1594, ano em que, segundoPedro Taques, esteve a vila cercada.

    28 Affonso de E. Taunay

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    Captulo IIO ISOLAMENTO QUINHENTISTA DE SO PAULO. A VILA

    MURADA. MELHORIA DE CONDIES CIVILIZADAS.MANIFESTAES RELIGIOSAS. A DEFICINCIA DOAPARELHAMENTO CIVILIZADO. PRIMRDIOS DA

    ORGANIZAO URBANA E DE UM COMRCIO RUDIMENTAR.ASPECTOS SOCIAIS. QUESTES SRIAS. DEPOIMENTOS

    QUINHENTISTAS SOBRE A VILA. A PRESENA DE

    D. FRANCISCO DE SOUSA. AS INICIATIVAS DESTEILUSTRE GOVERNADOR-GERAL

    ENTROU o sculo XVII numa situao de considerveldesafogo em matria de segurana.

    Alcandorado em seu planalto, a menos de setenta quilmetrosdo mar, viveu So Paulo os anos quinhentistas quase ilhado do resto doUniverso.

    Nas pginas das atas da sua edilidade no ocorrem ecos exter-nos at mesmo os dos sucessos extraordinrios da monarquia. Nelasno encontramos um nico da chacina de Alccer-Quibir e da destrui-

    o da independncia portuguesa! Nem sequer nelas se refletem aconte-cimentos graves, passado na vizinhana, como o ataque dos piratas inglesesa Santos.

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    Nos primeiros anos viveu a vila cercada de muros toscos,flanqueados de guaritas de atalaia, muros que desapareceram por com-pleto em princpios do sculo XVII.

    Os seus primeiros edifcios pblicos eram tudo quanto haviade humilde. Entre eles avantajava-se o do Colgio. Em 1585 j era casabem acomodada com um corredor e oito cubculos ao lado da igreja.Dispunha de oficinas bem instaladas.

    As Ordenaes do Reino regularam a vida municipal cujaCmara se constituiu como as de Portugal. Faziam-se eleies, de reno-

    vamento anualmente, mas as vereaes eram irregulares e escassas.J em 1575 estava em andamento a construo do primeiropao municipal e o indefectvel crcere a ele anexo. To m a suaconstruo que em 1583 comeava a abater.

    Consertado em 1586, estava em 1590 muito abalado pelos estra-gos causados pelo gado solto a pastar pela vila. Em 1594 teve de serconsertado. O pelourinho ergueu-se depois de 1586.

    A primeira cadeia paulistana fixa s surgiu na era seiscentista.

    Mandava a edilidade tomar provisoriamente a casa deste ou daquelemorador, para nela encerrar os criminosos, como, em 1583, sucedia aose declarar que o ergstulo anexo ao pao tinha cumeira podre comidade bicho e caruncho.

    Nem sequer dispunham os carcereiros de ferros de conteno.A igreja do Colgio cujo orago era So Paulo, vinha a ser en-

    to o nico templo da vila. Mas os paulistanos desejavam ter matriz.Passados dos mais de trinta anos de fundao da vila cogitaram de edificara Hygreja Matriz, reza uma ata de 1588, com Viguario e quagytor ehornamentos e sino e todo ho mais necessrios ao culto devino.

    A Cmara de 1589 alegava ao Governador-Geral do Brasilque a sua vila era passante de cento e cinqenta fogos e ia em aumento.Precisava ter vigrio! Em 1592 era este nomeado: o Padre LourenoDias Machado, vindo de Angola.

    Findou o sculo XVI e a Matriz no se construiu.

    Procisses se efetuavam regularmente. A princpio trs princi-pais: a de Corpus Cristi, a mais solene, a da Visitao de Nossa Senhora ea do Anjo Custdio do Reino.

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    Tibiri e seu neto, filho de Joo RamalhoQuadro de J. Wasth Rodrigues (Museu Paulista)

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    Em 1594 estabeleceu-se na vila a segunda de suas religiesa Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Seis anos mais tarde Frei Mauro

    Teixeira, beneditino, fundaria um esboo de Cenbio, obtendo umaconcesso de terrenos que a Cmara doou sua Ordem at o fim domundo.

    Singelo, arqui-singelo o aparelhamento administrativo da vila.O funcionalismo municipal reduzia-se a um escrivo, um porteiro, umalcaide e um carcereiro. Recorreram as cmaras diversas vezes ao expe-diente de obter funcionrios fora como se deu em 1575, com certo

    Pro Fernandes, constrangido a servir na portaria municipal com osvencimentos de cem ris mensais. Esta mesma Cmara de 1575 encon-trou as maiores dificuldades em obter uma arca para a guarda de seu ar-quivo pois na vila, explicava o procurador Joo Fernandes, no haviacarpinteiro que a pudesse fazer nem se acharia alguma a comprar.

    Desde os anos quinhentistas revelaram as municipalidadespaulistanas tendncias marcantes de autonomia e independncia que

    com os anos se tornariam cada vez mais veementes.Assim as Atas registram srios dissdios com os capites-mores

    da Capitania e resistncia a ordens e mandatos por eles expedidos e con-siderados inaceitveis pelos senhores oficiais.

    O mesmo se dava em relao a outras autoridades, estas rgias,como os oficiais da Provedoria Real e os ouvidores.

    Desde as primeiras dcadas foram institudos cdigos de pos-

    turas encerrando uma srie de providncias sobre questes administrativase policiais. Mas o grande noli me tangereda poca enquadrava-se nos ca-sos da questo servil, na oposio entrega de ndios mansos s aldeiasde catequese jesutica.

    De nada valiam as ordens emanadas do Trono assegurando aliberdade dos autctones como a lei de vora, promulgada em 1570.Eram as suas disposies burladas, diariamente, e o trfego vermelho

    imperava em todo o Brasil. s encomiendascastelhanas correspondiam osservios forrosportugueses dos ndios livres por lei de sua Majestade emantidos em ferrenho cativeiro, depositados em casa dos colonos.

    32 Affonso de E. Taunay

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    Pouco numerosos, tmida oposio a este esprito coletivo, fa-ziam os jesutas, cuja atitude lhes valeria, j em 1611, graves ameaas deexpulso.

    As receitas da novel edilidade s podiam ser as mais exguasem terra semideserta onde tudo estava por se fazer. A documentao atal respeito , alis, a mais sumria.

    Provinham os recursos principais do arrendamento do supri-mento de carne verde e das multas.

    Em 1584 subiram as rendas municipais a dois mil e novecentos

    ris revelando-se um saldo de quinhentos ris.Enorme a escassez de numerrio. Em 1576 devendo a Cma-

    ra pagar vinte cruzados (cerca de dez mil rs.) declarava no poderfaz-lo em moeda de contado, que a esta no possua, e sim em couros,toicinho, porcos e cera.

    Tal a falta de dinheiro que, em 1592, pagava a Cmara venci-mentos ao seu porteiro em palha. Como os cidados se queixassem deque os rendeiros da carne verde recusavam entreg-la a troco dos pro-

    dutos da terra, exigindo moeda, freqentemente intervieram os poderesmunicipais obrigando os contratadores a trocar o seu gnero por algodo,cera e marmelada.

    O escasso ouro obtido do flancos do Jaragu mostrava-seinsuficiente para o giro comercial.

    O comrcio, rudimentar, como s podia ser, fazia-se pormeio de escambo. Em 1853 denunciava-se em Cmara que vinham

    vila mascates vendendo fazenda por preo desconveniente com muitoprejuzo da terra cuja moeda corrente consistia em mantimentos, carnes,cera e gado, bois, vacas e porcos, pano de algodo, resgate (escravos)porquanto na vila no havia outra fazenda.

    Apesar das dificuldades enormes impostas pela Serra do Mar,a expedio dos gneros do planalto se fazia ativa por meio de carrega-dores ndios.

    Os principais gneros exportados eram farinha de trigo, carne

    salgada, sobretudo de porco, e marmelada. Os trigais prosperavam, ad-miravelmente, em torno da vila onde tambm se plantava cevada e haviavinhedos dando abundante vinho. J em fins do sculo XVI requisita-

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    vam os Governadores-Gerais farinhas como em 1592, D. Francisco deSousa, a solicitar uma remessa de oitocentos alqueires para Pernambuco.

    A marmelada foi objeto de grande comrcio naqueles anosprimevos. Gabriel Soares, em 1587, informava que era tanta, que a leva-

    vam a vender a outras capitanias.Tomou a pecuria magnfico incremento. Relata Gabriel Soares

    ainda que os bois do planalto tinham carnes muito gordas e gostosas.J em 1556 o padre Baltasar Fernandes assinalava a existncia de

    muito gado vacum que vinha multiplicando-se, muito, e sem trabalho al-

    gum. E Anchieta em 1585 dizia a seu Geral que So Paulo terra de gran-des campos era fertilssima de muitos gados, de bois, porcos e cavalos.A criao dos sunos tambm prosperava extraordinariamen-

    te. Segundo Gabriel Soares os porcos paulistanos eram, em 1587, abun-dantssimos e notveis pelo tamanho, animais de carnes muito gordas esaborosas, fazendo vantagens s das outras capitanias por provirem deterra mais fria.

    Manadas de cavalos viviam errabundas pelos campos.

    noite, soltos pelas ruas da vila, transitavam bovinos e eqi-nos. Em 1598 o procurador Pedro Nunes denunciava que tais animaisfaziam muitas perdas s casas e benfeitorias e se caam muitas paredes.

    Vinham as importaes, sobretudo de Portugal e de BuenosAires. Do Reino chegavam principalmente sal, panos, papel,medicamentos, objetos de ferro e ao; de Buenos Aires ls, assim comoalguns artigos da indstria europia.

    O acar, o grande gnero do Brasil dos trs primeiros sculos,escasseava visto, como a frialdade do planalto e as geadas tornavam-semortferas cana. Contava Ferno Cardim em 1585 que os paulistanosfabricavam acar rosado com rosas de Alexandria.

    A rudimentar organizao do trabalho modelava-se servatisservandispela do Reino. Distribuam-se os mesteirais pelos ofcios segundoas normas ptrias. Assim vemos surgir os diversos ofcios ou corporaescom os respectivos juzes, bandeira e regimento: os dos sapateiros,

    alfaiates, teceles, ferreiros, carpinteiros, oleiros. Havia por vezes acmulode funes. Assim os alfaiates eram s vezes, e ao mesmo tempocabeleireiros e barbeiros.

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    Regiam-se as corporaes operrias por uma srie de normastradicionais, por vezes seculares, consignadas no regimento de seus miste-res. E o abstruso sistema de pesos e medidas pelo qual deviam regu-lar-se tinha de ser aferido pelos padres municipais, eles prprios de auten-ticidade discutvel numa era de balbrdia de estales.

    Que poderia ser o urbanismo em arraialzinho to desprovidoainda dos predicados da civilizao? Absurdo procurar-se da documen-tao do tempo qualquer coordenao de medidas tendentes a legislarsobre tais assuntos, naquele conjunto de rudes casinhas implantadas no

    limiar do serto.Assim mesmo vemos, desde os primeiros anos, surgirem asdemonstraes do senso da organizao urbana por meio de providn-cias sobre arruamentos e conservao das vias pblicas simples e estrei-tas veredas onde os veculos muito raros rodavam.

    A atual rua de S. Bento era o delineamento principal da vila.J se assinalavam os dois outros rumos do famoso Tringulo de nossosdias. Ordenavam as Cmaras freqentemente que os moradores entupis-

    sem as covas que haviam mandado abrir no leito de tais vielas.Desde os primeiros anos empenhou-se a Cmara em demarcar o

    seu rocio. J em 1571 realizava tal aspirao. Doou-lhe o donatrio ao seuderredor um raio de posse dentro do alcance de cinco tiros de besta.

    Mal satisfeita, obteve, em 1598, nova rea de rocio melhor locali-zada. Dentro dela fazia concesses. Doava prazos onde os moradorespudessem fazer quintal e benfeitorias.

    Alegavam os requerentes, freqentemente, ter ajudado a defen-der a terra atravs de numerosos perigos e frechadas. E hora havendorespeito guasar na tera, etc.

    Estas concesses obrigavam os beneficirios ao pagamentosde foros Cmara, quantias alis mnimas.

    Notam-se porm os primeiros indcios de futuro cdigo deobras na deciso de 1594 pela qual a Cmara proibia que ningum armas-se casa nem alicerasse sem sua permisso. E, fato, sobremodo curioso,

    proibia-se ao mesmo tempo sob grave multa o corte de pinheiros.Em 1590 ia a vila tomando melhor aspecto. s cobertas desap entremeavam-se os tetos de telha. E o Colgio j tinha certa apa-

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    rncia vultosa. Em 1594 Domingos Lus, o Carvoeiro levantava um cor-rer de casas de dois pisos em frente matriz.

    Desde 1575 j Cristvo Gonalves tinha olaria a trabalharcom aplauso da Cmara pois a dita telha era necessria por razo desta

    vila estar coberta de palha e correr risco por razo do fogo.Provinha o abastecimento dgua dos poos quintaleiros e

    tambm, para fins de bebida, de nascentes brotando no recinto da vila,mananciais que avio mister limpas reclamavam os Procuradores,constantemente.

    Em torno das fontes e lavadouros aglomeravam-se os escravos eo rapazio irrequieto. Aos malefcios do jogo procuravam os poderes pblicosopor sria resistncia. Dar mesa de jogo e tavolagem nos dias de fazertornava os viciados passveis de multa, determinava um termo de 1582.

    Ao cair da noite ficava a vila imensa na treva, ao bater a batersineta do Colgio o toque de abafar. Em 1590 proibia a Cmara: negronem branco tragua de noite foguo pela vila: ningum se entender deum vizinho hum para outros e fronteiro.

    No respeito hierarquia social residia uma das preocupaesmunicipais. Initium sapientiae timor regis inculcavam as medidas de 7 de abrilde 1588. Nenhuma pessoa, de qualquer sorte e qualidade seja ousado depr boca a El Rey Nosso Senhor nem em suas justias. Isto sob pena defortssima multa (1$000rs.) cadeia e degredo por um ano no forte deBertioga. Aos pees aplicar-se-iam como sobrecarga cem chibatadas

    vigorosas.Corriam os tempos onde muito se levava a srio o brocardo

    milenar do hospes hostis. Assim a Cmara avocava a si o cuidado da vigi-lncia dos forasteiros, exercida pelos alcaides. Em 1583 ordenava-se apriso de uns tantos espanhis que pretendiam incorporar se comuni-dade paulistana e homens de atitudes suspeitas.

    Em 1580 tomaram-se providncias contra linguarudos e calu-niadores alguns homens que eram difamadores, sobretudo os que difa-mavam mulheres casadas e solteiras. Foram diversos destes maledicentes

    enxotados da repblica como oms de roim boqua e anas bolenas.A superintendncia da polcia de costumes procurava pr co-bro s orgias e desordens de ndios e brancos. Estavam estes expressa-

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    mente proibidos de comparticiparem dos folguedos do gentio e dassuas tapuiadas.

    Alm destas sumrias medidas policiais vemos outras de ordemhiginica. Em 1589 declarava a Cmara estar a vila em piriguo de imun-dicies que era piriguo do povo por ocasio de uma das terrveis epidemiasdas begigas dizimadoras das indefesas populaes coloniais.

    Na poca das grandes festas e procisses ordenava os edis aroada geral dos quintais e testadas. Em 1587 declarava o Procurador

    Afonso Dias que a vila possua mais matos que outra coisa.

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    D. Joo III

    leo de J. Wasth Rodrigues (Museu Paulista)

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    Outra medida civilizadora, a de janeiro de 1599, quando oProcurador Francisco Maldonado props o estabelecimento de, pelo me-nos, uma estalagem necessrio que aja nesta vila quem venda cousas decomer e beber que viva por isso. E onde poudesem pousar os forasteiros.

    Outra providncia progressista: a perseguio aos lanadoresde timbosadas e tinguisadas exterminadoras da rica ictiofauna local.

    Em todo o sculo XVI no se constata a existncia de clnicoalgum em So Paulo. Em 1597 instalava-se o primeiro servio mdico sa-nitrio com a nomeao do barbeiro Antnio Roiz para juiz do ofcio dos

    fsicos. Era homem experimentado e examinado e no um daqueles emp-ricos que na vila curavam feridas e faziam sangrias por toda a terra.

    To pequeno lugarejo no comportava grande aparelhamentodiferenciado de ordem administrativa e judicial.

    Desde os primeiros anos temos cincia da presena de umnotrio Taballio de notas do pubriquo e judisiall e da quamara e allmota-seria como se qualificava Joo Fernandes, em 1562.

    Acumulavam os tabelies quinhentistas o cargo notarial como de escrives das Cmaras.Em 1587 declarava-se que na vila no existia ainda um nico

    exemplar do Livro das Ordenaes do Reino.Durante o sculo XVI no consta a vinda, a So Paulo, de

    nenhuma visita de autoridade judiciria superior, ouvidor oujuiz-de-fora. A sede da ouvidoria era So Vicente e depois Santos ondefuncionava o foro, o que irritava sobremaneira os paulistanos. vista de

    suas reclamaes transferiu-a D. Francisco de Sousa, em 1598, para SoPaulo onde o juiz regional despacharia as apelaes e mais papis forensesno s do lugar como das demais vilas da capitania.

    Envolviam as transaes, quase sempre, quantias mnimas,algumas patacas, alguns cruzados. Os saldamentos de contas compreendiamroupas, chapus, pano, linha, armas e at dinheiro.

    Uma morada de casas no ponto mais central da vila valia tanto

    quanto por exemplo uma espada, ou uma espingarda.Grande desconforto reinava nas casas quinhentistas, muitossumariamente mobiliadas, desprovidas desses objetos manufaturados

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    comezinhos nas mais modestas moradas de nossos dias como coisasusuais da vida civilizada.

    Pouca roupa de serventia pois sobremodo escasseava o pano.Valia mais um vestido de fazenda europia do que um prdio. No nosesqueamos porm de que, contemporaneamente, e nas mais ricas dascortes da Europa, possuir meia dzia de camisas de linho constitua pri-

    vilgio de ricos, que lenos e meias eram de uso recente. Entre os maisavantajados potentados europeus da poca comia-se com os dedos equase ningum escovava os dentes.

    Em ambiente to singelo era natural que a vida dos primeirospaulistanos fosse a mais uniforme e tediosa.A esta uniformidade s interrompiam, espaadamente, os

    grandes acontecimentos familiares, nascimentos, esponsais, molstias efalecimentos ou ento a ocorrncia de festas sacras.

    Vivia a vila quase sempre erma. Nas vizinhanas das festividadespblicas povoava-se com a chegada dos proprietrios dos estabeleci-mentos agrcolas circunvizinhos.

    A vida fazendeira daqueles pequenos agricultores e pequenoscriadores corria no ramerro quotidiano do plantio e da colheita, dopastoreio e da conteno do pessoal servil.

    O suprimento de carne a populao fazia-se irregularmente eapesar da abundncia dos bovinos. Freqentes as reclamaes dos cida-dos s Cmaras ao alegarem morrer de fome por no haver quem qui-sesse matar carne.

    A 15 de janeiro de 1599 resolviam os edis que se fizesse casapara aougue onde se talhasse a carne a fim de que esta no andasse a

    vender pelas ruas, de casa em casa, como at ento fora de costume.Via do mais spero trnsito prendia So Paulo, alcandorado

    em seu planalto, ao litoral atlntico, ao mundo civilizado.Era ela o Caminho do Mar, a mais gloriosa das estradas brasi-

    leiras como primeira via de penetrao profunda nas terras continentaise por ter o seu leito sido o teatro do episdio pelo qual o Brasil se ele-

    vou categoria de nao independente.O vencimento da muralha paranapiacabana exigia ingente es-foro dos primeiros povoadores. No trilho angusto, cortado de resvala-

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    douros, marginal de profundos despenhadeiros, subiam e desciam oshomens com trabalho e s vezes de gatinhas, informava Anchieta aoGeral da sua Companhia em 1585. Por tal estrada podiam subir ne-nhuns animais.

    A conserva de caminho, pontes e aterrados eram realizadospelo processo de requisio de servios entre os moradores contribuin-do cada qual como o nmero de escravos de que podia dispor.

    Os principais depoimentos de visitantes da vila provm nosdo Padre Baltasar Fernandes em 1565, de Jos de Anchieta na Informao

    para Nosso Padreem 1585 e a de Ferno Cardim em 1583.H ainda a arrolar o annimo da Histria dos Colgios, de 1574.

    Mas este ltimo muito menos informativo do que os demais.Conta o Padre Fernandes que havia trigais em torno do arraial

    e muito gado vacum. Grande mgoa ver-se tanta e to boa terraperdida por falta de gente. Em torno do Colgio de So Paulo existiamseis aldeias de ndios da terra a fora umas tantas casinhas esparsas de

    moradores, cristos uns e outros no.Relatava Anchieta em 1585 na Informao que j a vila contaria120 fogos de portugueses. Nela reinava a maior abundncia de vveres,fabricava-se muita marmelada e muito vinho.

    Consagrou Ferno Cardim muito maior nmero de pginas aSo Paulo do que o seu confrade o Taumaturgo do Brasil. E a narrativado que viu mostra quanto em trinta anos notavelmente se civilizara a

    vila. Impressionou-o o vulto da produo local do vinho e marmelada.

    Esta terra parece um novo Portugal! exclamava entusiasmado. Nelareinava contudo grande deficincia de pano. O colgio j tinha aspecto

    vultoso e a sua igreja, embora pequena, dispunha de bons ornamentos.Em fins do sculo XVI a So Paulo cercavam diversas aldeias de ndioscristianizados e administrados pelos jesutas.

    Admirvel obra de catequese e civilizao desenvolviam ospadres da Companhia entre esta gentilidade populosa e afeiovel ao

    cristianismo. Admirvel obra pontuada por sacrifcios de toda a espcieinclusive j pelo martrio de dois dos soldados de S. Incio: Pro Correiae Joo de Sousa.

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    A princpio existiam doze aldeias do gentio. Cinco haviamsido concentradas em Pinheiros e So Miguel.

    A grande questo social, a nica por assim dizer no Brasil qui-nhentista ou antes na Amrica era a servil. Onde quer que os brancos sefixassem sua primeira preocupao vinha a ser a reduo dos aborginesao cativeiro, para os forar faina da agricultura e da minerao.

    Fundada numa regio de relativamente densa populao autc-tone no poderia So Paulo escapar a esta contingncia da conquista.

    Para o desenvolvimento da vila e do planalto vital imposio

    fazia com que o seu aparelhamento econmico dispusesse de trabalha-dores agrcolas e de transportadores da produo local.

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    Martim Afonso de Sousaleo de J. Wasth Rodrigues (Museu Paulista)

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    Submetiam-se muitos dos selvagens sem resistncia e vinhamat oferecer-se de paz. E assim mesmo viam-se alvo da cobia dos colo-nos que os apresavam desrespeitando as leis de Sua Majestade o queprovocava protestos da edilidade, incuos porque os prprios edis co-mungavam com as idias dos denunciados seus republicanos.

    Em fins do sculo XVI o movimento entradista, tais proporestomara que a Cmara receava o despovoamento da vila proibindo aosmoradores sassem ao encontro dos ndios pelos caminhos.

    As decises rgias resultavam letra morta. A tamanha distncia

    da Corte e do alto de suas montanhas zombavam os paulistanos de cartas ealvars rgios que os contrariassem. Nem faziam grande conta da auto-ridade do Governador-Geral do Brasil.

    Quando Jorge Correia o Capito-mor da capitania ordenou aentrega das aldeias inditicas aos jesutas respontou-lhe a Cmara quelhe no registraria a proviso, a dizer-lhe: No sabe Vossa Merc dascoisas do Brasil, novamente vindo do Reino como . No tornou bem oser da terra ainda.

    At 1600 no atingiria a populao de So Paulo talvez a duasmil almas, entre brancos e escravos. Em 1583 declarava o procurador

    lvaro Neto que a vila passava de cem moradores.Em torno do vilarejo multiplicavam-se as fazendolas.

    J a certa distncia se estabelecera Manuel Fernandes em Parna-ba, com os filhos, os trs famosos povoadores, que, durante anos, foram osfronteiros mais profundamente entranhados no hinterlandbrasileiro.

    Era D. Francisco de Sousa, senhor de Beringel, e stimo Go-vernador-Geral do Brasil, em 1591, personalidade certamente de invul-gares dotes de inteligncia e energia. Veio para o seu governo disposto aexecutar largo programa que visava sobretudo impulsionar as expedi-es da devassa do serto e da descoberta de jazidas de metais nobres.

    Profunda impresso causou aos seus governados em qualquerponto do Brasil em que permaneceu.

    Organizou em So Paulo verdadeiro departamento mineiro.

    sua frente, em 1598 despachou Diogo Gonalves Lao administrador detal organizao, acompanhado de dois tcnicos prospectores, um mestrefundidor e mais duzentos ndios para a laborao das minas. Era grande a

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    expectativa dos vassalos em torno de sua chegada. Em princpios de 1599apareceu em So Paulo acompanhado de vultoso squito militar e civil.

    Causou verdadeira revoluo de costumes entre os seus go-vernados de Piratininga como nos conta o nosso Herdoto, Frei Vicen-te do Salvador, a acrescentar se se havia D. Francisco pagado da Bahiamuito mais se pagou de So Paulo.

    Modificou profundamente o aparelhamento administrativo davila, dando-lhe outra amplido, criando e provendo cargos, tornando acapital, de fato, da capitania vicentina, dela fazendo a sede do frum re-

    gional. Pouco aps a chegada partiu para o serto de Sorocaba e interes-sou-se pela minerao aurfera do Jaragu. Despachou ao serto a gran-de bandeira de Andr de Leo que em 1601 percorreu o vale do Parabae foi ter ao de So Francisco. Realizou nove meses de jornada de que ho precioso relato do holands Jost ten Glimmer. Nada encontrou Leoalis em matria de jazigos preciosos.

    Em 1602, expediu D. Francisco na mesma faina a NicolauBarreto com algumas centenas de homens.

    Voltou-se depois o pertinaz Governador-Geral para as mi-nas de ferro e ao como ingenuamente relata o bom Pedro Taques.Aproveitando a descoberta de Afonso Sardinha o protomine-

    rador do ouro no Brasil, no Jaragu tentou fundar, em Ipanema, umcentro siderrgico e outro em Santo Amaro, o antigo Ibirapuera.

    Em 1602 aps um proconsulado de onze anos como nenhumde seus predecessores jamais to longo tivera, foi em 1602 substitudono Governo-Geral por Diogo Botelho.

    Continuou em So Paulo: ltima hora faltou-lhe a coragemde desprender-se da terra paulista onde permaneceu por alguns anos,sempre ocupado com as pesquisas de minerais.

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    Captulo IIIO CONFLITO GRAVE ENTRE PAULISTANOS E JESUTAS EM

    1612. MULTIPLICAO DAS ENTRADAS E CRESCENTEAVOLUMAMENTO DAS EXPEDIES BANDEIRANTES. A

    EXPULSO DOS JESUTAS DO SEU COLGIO DE SOPAULO. O EPISDIO DE AMADOR BUENO.

    A RESTAURAO PORTUGUESA EM SO PAULO.PRIMRDIOS DA GUERRA CIVIL DOS PIRES E CAMARGOS

    FOI O SCULO XVII por excelncia, o do bandeirantismo, a queimprimiu D. Francisco de Sousa notvel alento inicial. Voltando Euro-pa obteve de Filipe III a criao do governo autnomo do Sul, do qualfoi investido em 1609. Pouco lhe caberia viver, ainda, porm, pois fale-ceu em 1611.

    J nesta poca eram speros e persistentes os embates entreos apresadores de ndios e os jesutas. Sobretudo depois da promulgaoda lei de 3 de julho de 1611 declarando os aborgines livres do cativeiro.

    Motivou essa deciso o grande conflito de 1612 e viram-se

    ameaados os inacianos da expulso do seu colgio. Tiveram de dar ga-rantias de que no contrariariam os propsitos dos descedores de ndios.Por mais que em mistificatrio simulacro de obedincia s leis da monar-

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    quia se lanassem bandos sobre bandos proibindo a ida de armaes aoSerto multiplicaram-se as entradas.

    Em 1614 surgiu em So Paulo o primeiro magistrado sindi-cante de tais ilegalidades e teve que se retirar intimidado ante a atividadedos bravios sindicados. O mesmo sucedeu a diversas outras autoridades.

    Adensava-se a massa indgena apresada, em torno da vila. Lo-calizava-se nas propriedades dos potentados em arcos, apesar do receiode um levante geral desta considervel populao servil como, em 1620,quase irrompeu.

    Encaminhavam-se os ndios descidos s capitanias aucareirasdo Norte, requisitadoras de braos e mais braos como, em 1626, ocor-reria aps a reconquista da Bahia sobre os holandeses.

    E tudo isto se fazia sob as mais benvolas vistas dos mais altosdelegados rgios a comear pelos prprios Governadores-Gerais. H,porm, a nosso ver, grande exagerao de diversos autores antigos emodernos no cmputo da exportao das peas escravizadas.

    Os paulistas cada vez mais aguerridos no s despachavam

    bandeiras ao serto como socorros sua prpria costa, como em 1615ao se repelir a esquadra holandesa de Joris Van Spielberg que tentouapossar-se de So Vicente e Santos e foi enfrentada pela coluna de Serra

    Acima comandada por Sebastio Preto.Em julho de 1628 aparecia em S. Paulo D. Lus de Cspedes

    Xeria nomeado governador do Paraguai. Sua presena inslita grandeestranheza trouxe aos paulistas de quem ao Rei disse horrores. Seriam,ento, afirmou: uns quatrocentos homens capazes de pegar em armas.

    A documentao espanhola que publicamos sobre este perso-nagem deixa fora de dvida que ele professava os mesmos sentimentosescravistas que os seus injuriados. Tudo faz crer que como rico senhorde engenho no Rio de Janeiro, viera comparticipar dos resultados dagrande empresa escravista que Manuel Preto e Antnio Raposo Tavarespreparavam com o fim de arrasar os grandes aldeamentos guaranis jesuti-cos estabelecidos ao sul do Paranapanema. Entretanto hipocritamente

    escrevia a Filipe IV que deixara aquella mala tierra com toda priessa.No segundo semestre de 1628 abalou de S. Paulo para o Sul agrande bandeira de Preto e Tavares que aniquilou as redues do Guair

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    recolhendo com avultado comboio avaliado pelos autores jesuticos emmuitos milhares de cativos, o que nos parece exagerado.

    Dois inacinos, os padres Mansillas e Mazzeta acompanharamos aprisionados e foram Bahia pedir ao Governador-Geral, DiogoLus de Oliveira, providncias repressivas e reparadoras. Nada de prticoobtiveram. Voltaram convencidos da convenincia ttica do DelegadoRgio que pr-forma mandou representante seu sindicar dos fatos deSo Paulo. Viu-se este compelido a fugir desabaladamente.

    A atitude dos padres da Companhia fez com que se acirras-

    sem os sentimentos hostis da populao paulista.A Cmara de 1633, expeliu os inacinos da sua grande aldeiade Barueri. J nesta ocasio haviam os paulistas expulsos das terras, aooriente do rio Paran, os espanhis de Vila Rica, del Spiritu Santo, apsassaz longo cerco e apesar de bravamente defendida a praa por D. Cris-tobal de Aresti, Bispo de Asuncin. Na mesma poca foi Ciudad Realabandonada pelos seus colonos ante a investida das bandeiras.

    Partiam de So Paulo expedies como as de Raposo Tavares,

    Andr Fernandes e Ferno Dias Pais, para s falarmos das principais,em direo ao territrio hoje sul-rio-grandense, onde destruram nume-rosas e avultadas aldeias da Companhia de Jesus. Reagiram os jesutasauxiliados pelos espanhis do Paraguai. J atenciosamente haviam asbandeiras assolado o sul de Mato Grosso na regio ento chamada dosItatins ali destruindo a cidade castelhana de Santiago de Xerez.

    Sofreram porm srios reveses em 1638 e 1641. Foram noprimeiro milsimo batidos em Casapaguau, pelos catecmenos dos ina-cinos e as foras do governador paraguaio, D. Pedro de Lugo. E em1641 experimentaram catastrfica derrota s margens do Uruguai, emMbor, quando os ndios das redues, comandados por seus padres,aniquilaram a grande expedio de Jernimo Pedroso de Barros e ManuelPires.

    Para a Europa haviam partido dois jesutas o ilustre AntnioRoiz de Montoya e Francisco Dias Tanho a solicitarem do Rei e do

    Papa providncias contra os paulistas. Obtiveram de Urbano VIII apublicao de breve excomungando solenemente quantos cativassemndios.

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    Ata da Cmara de Sto. Andr da Rocha do Campo assinada por Joo Ramalho

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    Trouxe o conhecimento do decreto papal enormes tumultosno Rio de Janeiro e em Santos. Resolveram ento os paulistanos e osmoradores de diversas vilas da Capitania expulsar os inacinos do Col-gio de So Paulo, o que se realizou a 13 de julho de 1640 num movi-mento irreprimvel da populao encabeada pela sua edilidade e quasetodos os mais notveis dos seus repblicos.

    Alguns meses mais tarde soube-se em So Paulo da restauraoda independncia portuguesa a primeiro de dezembro de 1640 e deu istomotivo a um dos mais significativos e interessantes episdios da histriano s brasileira como americana, o da aclamao de Amador Bueno.

    Este incidente constitui a mais antiga manifestao do espritonacional em terras do Novo Mundo, como bem observou o eminentepublicista uruguaio Rodriguez Fabregat.

    Posto em dvida, levianamente, por escritores do sculo XIXque acusavam os dois primeiros historiadores de So Paulo, Frei Gaspar

    da Madre de Deus e Pedro Taques, de inventarem documentao inexis-tente tivemos a ensancha de provar tal desacerto revelando a existnciadas peas inquinadas de fantsticas.

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    Fundao de So Paulo, 25 de janeiro de 1554Quadro de Oscar Pereira da Silva (Museu Paulista)

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    de sobra conhecido o que ocorreu na vila piratiningana em diaque, segundo Azevedo Marques, deve ter sido primeiro de abril de 1641.

    No querendo de todo serem sditos de D. Joo IV, quereputavam um vassalo rebelde a seu soberano, resolveram os espanhis,residentes em So Paulo, provocar a secesso da regio paulista do restodo Brasil esperando talvez anex-lo s colnias espanholas limtrofes.

    Chefiavam o movimento os dois irmos Rendon de Quevedoque se lembraram de oferecer o trono do projetado reino paulista a seusogro Amador Bueno da Ribeira, ele prprio filho de espanhol e homem

    do maior prol em sua repblica, pela inteligncia e a fortuna, o passadode bandeirante, o casamento, os cargos ocupados.

    Recusou o aclamado, terminantemente, a oferta a gritar emaltos brados Viva El-Rei D. Joo IV, meu Rei e Senhor! E como se visseameaado de desacato pelos proclamadores entusiastas correu a refugiar-seno Mosteiro de So Bento pedindo a interveno do Abade e seus monges.

    Desceram praa fronteira ao cenbio o Prelado e sua comu-

    nidade procurando convencer os manifestantes de que deviam abandonaro intento que os congregara, tarefa em que os auxiliaram vrios eclesis-ticos prestigiosos e cidados de boa nota.

    Arrependidos resolveram os manifestantes aderir ao movi-mento restaurador de primeiro de dezembro de 1640.

    E assim foi D. Joo IV solenemente reconhecido soberanodos paulistas, a 3 de abril de 1641, num gesto esplndido de solidarieda-de lusa do qual a unidade do Brasil imenso viria a valer-se pelo alarga-

    mento extraordinrio de sua rea.Solene esta cerimnia em que o vereador mais velho, Paulo

    do Amaral, trs vezes arvorou o pendo das quinas e castelos dizendoem cada uma Real! Real! Real! por El-Rei Dom Joo, o Quarto de Portu-gal! respondendo a cada uma destas vozes todos os circunstantes commil vivas e jbilos, presentes o capito-mor da capitania, os oficiais daCmara Municipal, os prelados e superiores das Religies, o vigrio de

    So Paulo, vultosa clerezia e numerosos sertanistas dos mais ilustrescomo entre outros Antnio Raposo Tavares e Ferno Dias Pais. Em1643 enviaram os paulistanos a Lisboa mais embaixadores especiais,

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    Lus da Costa Cabral e Baltasar de Borba Gato, encarregados de renovara D. Joo IV as arras de sua fidelidade coroa restaurada de sua grei.

    Logo depois encetou-se em So Paulo longo perodo em quea vila ensangentou uma srie de acontecimentos perduradores dumlapso de vinte anos.

    So os fatos compreendidos no que se chama o conflito entreos Pires e os Camargos, do nome de duas grandes famlias cuja inconcia-bilidade redundou em verdadeira guerra civil, semelhana das lutasmunicipais assoladoras das cidades italianas medievais e das quais a mais

    conhecida a dos Capuletti e Montecchi de Verona, por Shakespeareimortalizada.O truncamento, a ausncia da documentao no nos permi-

    tem redigir a narrativa da longa seqncia de fatos violentos e sobrema-neira obscuros. Numerosas so as hipteses que se formularam a seurespeito. Pretendem alguns autores que se filia tal dissdio expulsodos jesutas, outros aclamao de Amador Bueno, suposies que nosparecem gratuitas.

    Supomos que a longa luta, alis intermitente, nasceu de merarivalidade de chefes de cl sem motivo algum alheio ao personalismo eao esprito de famlia e a tendncia gregria to profundamente humanae to veemente nas pequenas aglomeraes.

    Segundo Taques, encetou-se o conflito, em 1640, numa ver-dadeira batalha causadora de muitas mortes e ferimentos e ocorrida nasruas de So Paulo entre as duas parcialidades cujos chefes, Pedro Taquese Fernando de Camargo, alcunhado o Tigre, empenharam-se em duelosingular, socorridos e secundados pelos seus sequazes.

    No ano seguinte era Taques pelo contendor assassinado fal-sa f segundo relata a Nobiliarquia Paulistana.

    Tal o desfecho de uma questo pessoal, mais que provavel-mente, muito nas cordas dos potentados daquela populao belicosssimada qual dizia D. Lus de Cspedes ao Rei: Matan se y aguardan se en loscamios todos los dias.

    Certo que assassinando Pedro Taques, muitos dos seus parti-drios abandonaram So Paulo, indo morar em Parnaba com o seu opu-lento irmo Guilherme Pompeu de Almeida, ao passo que o outro irmo,

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    Loureno Castanho Taques se acastelava no Ipiranga como um baromedieval em sua torre albarr.

    Debalde procurou um Salvador Correia de S e Benevidesgovernador do Sul apaziguar os nimos pedindo aos paulistas que seharmonizassem e lanassem ao Serto procura de minas.

    Agravou-se a situao com a entrada em cena do novo vigrioda Vila, o clrigo fluminense Domingos Gomes Albernaz que rixouenormemente com os seus paroquianos e as Cmaras. Sustentado peloseu Prelado, Antnio de Mariz Loureiro, era visivelmente o agente em

    So Paulo das autoridades fluminenses propugnadoras da restituio dosjesutas ao seu Colgio e sobretudo instigado por parte de Salvador Cor-reia, nesse momento aos paulistas persona ingratissima.

    J em 1641 quisera intervir na pendncia ameaando aos pau-listas com a sua presena acompanhado de fora que os reduzisse a obe-dincia.

    Chegara a ir at Santos mas sabendo que os adversrios entrin-cheirados ocupavam a serra resistira do intento.

    Voltando sede do seu governo lanara brados speros eameaadores contra os insubmissos vassalos.Surgiu em So Paulo o Prelado e sua presena provocou

    manifestaes as mais violentas. Precisou asilar-se no convento de SoFrancisco onde esteve cerca de vrios dias at que o deixassem partirsendo com ele tambm expulso o vigrio Albernaz. Em maio de 1646lanava solene excomunho s rebeldes ovelhas do planalto e a C-mara a ela reagiu em carta atrevidssima acusando-o de escravo dos je-

    sutas.Correram alguns anos agitadssimos e de intranqilidade poltica

    no depondo as armas as faes que se digladiavam constantemente.

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    Captulo IV

    RECRUDESCNCIA DA GUERRA CIVIL. ACORDO ENTRE OSPAULISTANOS E OS JESUTAS REINTEGRADOS EM SEUCOLGIO. A PACIFICAO DO CONDE DE ATOUGUIA.

    RENOVAMENTO DE HOSTILIDADES. O ACORDODO OUVIDOR PORTUGAL

    INESPERADAMENTE surgiu gravssimo caso pessoal quepromoveu a maior recrudescncia de paixes, um crime passionalcometido por Alberto Pires, filho de um dos maiores potentados da vila

    Salvador Pires, e de uma mulher de extraordinria energia e pugnacidadeIns Monteiro de Alvarenga, alcunhada a Matrona.Matou a sua mulher, Leonor de Camargo Cabral, sob pretexto

    de adultrio. Era ela sobrinha da grande irmandade dos Camargos, todoshomens do maior prestgio e situao social.

    Este caso sobremodo obscuro e controvertido. Supe PedroTaques que o amante de Leonor seria seu concunhado Antnio Pedrosode Barros, grande sertanista e potentado em arcos a quem Alberto Pires

    tambm assassinou numa emboscada.Mas a esta verso contradizem os documentos do inventriode Antnio Pedroso. Parece fora de dvida que ele pereceu assassinado

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    pelos seus ndios rebelados. O que no padece contestao o uxoric-dio praticado por Alberto Pires.

    Pretenderam os Camargos desforar-se do assassino refugiadona fazenda materna. A esta puseram cerco e como ameaassem arra-s-la, entregou-se o criminoso que conduzido a So Paulo partiu comdestino Bahia onde deveria ser julgado pela Relao do Estado do Bra-sil. Separada do filho a Matrona tambm o seguiu via Parati para o Riode Janeiro onde ao chegar soube que durante a travessia fora Alberto Piresatirado ao mar.

    Voltando a So Paulo e violenta como era instigou os seus pa-rentes a sanguinolento desforo.

    E assim recrudesceram as operaes blicas da luta civil daqual alis se originou a catstrofe da destruio da casa de D. InsMonteiro uma das maiores daquele tempo, escreve Pedro Taques.

    Eram os principais caudilhos dos Pires o ancio Joo Pires,homem de grandes posses, Francisco Nunes de Siqueira, Ferno Dias

    Pais, Henrique da Cunha Lobo e Garcia Rodrigues Velho. E dos Camar-gos os irmos Fernando de Camargo, o Tigre, e Jos Ortiz de Camargoalm do ilustre sertanista Domingos Barbosa Calheiros.

    Nomeado Ortiz ouvidor da Capitania, opuseram-se os Pires,a que tomasse posse do cargo. Em 1652 estavam os Camargos em maio-ria na Cmara e ele organizou a seu talante as listas dos pelouros para1653. Ex proprio marte prorrogou os poderes da Cmara de 1652, e esteprocedimento, provocador de enormes protestos, levou o Ouvidor-Ge-

    ral da Repartio do Sul, Dr. Joo Velho de Azevedo, a vir a So Pauloapoiado naturalmente pela parcialidade dos Pires.

    Fugiram os Camargos e o magistrado arrombando a porta daCasa do Conselho procedeu eleio da nova Cmara.

    Partiram os irmos Camargo para a Bahia a solicitar do Gover-nador-Geral ordens para que se empossasse Jos Ortiz. Ao mesmo tem-po enviava o Dr. Azevedo Relao do Estado a devassa contra eles

    instaurada, relatrio em que lhes fazia as mais graves acusaes pedindoa aplicao das mais severas penas inclusive a capital e o confisco dosbens.

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    Encetou-se 1654 sob as maiores apreenses. A nova Cmaradeclarava-se solidria com a antecessora mas Ortiz conseguiu quantodesejava.

    A 7 de fevereiro chegava a So Paulo acompanhado pelo Capi-to-mor da Capitania.

    Estava a terra em perigo de se perder pelos tumultos que ha-via com o gentio em armas nesta vila reza a ata deste dia.

    Exigiu a Cmara que Ortiz exibisse a proviso do Governa-dor-Geral e o acrdo da Relao que o reintegrava na Ouvidoria e esta

    exigncia causou a mobilizao de toda a gerao Camargo.J nesta poca porm houvera composio entre os paulistase os jesutas.

    Salvador Correia, com o prestgio enormemente acrescidograas ao xito de sua gloriosa jornada da recuperao de Angola, fora oagente deste apaziguamento. Entrara em entendimento com os chefesPires sobretudo com Joo Pires e Ferno Dias Pais e afinal conseguiu oacordo de 12 de maio de 1653 graas ao qual voltaram os exilados ao

    seu colgio mediante a formal promessa de no acoitarem os ndiosfugidos aos moradores nem publicarem o breve papal de Urbano VIII.

    No ano seguinte prestava o Padre Provincial Simo de Vas-concelos assinalado servio aos paulistas tomando a iniciativa de impe-dir novo e sangrento choque entre as faces em luta, iniciativa da qualresultou o acordo de 9 de fevereiro de 1654. Conseguiu que se desseposse da ouvidoria a Ortiz conservando-se tudo sem alterao quantoao governo municipal. Comprometia-se o novo ouvidor a no se intro-

    meter no que deixara e dispusera o Ouvidor Joo Velho.Mas no cumpriu o prometido, ao que parece, e como perdesse

    o apoio do Governo Geral com a sada do Conde de Castelo Melhor foisubstitudo por um Miguel de Quevedo e Vasconcelos.

    Era este muito ligado aos Pires. Reacendeu-se a luta da qualno temos seno muito escassos e obscuros pormenores.

    A ela se enxertou a pendncia com o vigrio Albernaz que em

    1655 via-se pela segunda vez deposto.Em fins de 1654 enviava D. Joo IV Cmara uma carta rgiaaplaudindo o que fizera o Ouvidor Azevedo e censurando a proteo do

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    Conde de Castelo Melhor a Ortiz. E a deciso real provocou como deesperar o mais intenso jbilo por parte dos Pires.

    At agora no se descobriram relatos capazes de dar ntida

    idia dos acontecimentos que ensangentaram So Paulo e suas cercaniasnaqueles milsimos sombrios. Cremos que uma interveno eclesisticapromoveu mais uma tentativa de pacificao da qual resultou a ida Bahiade representantes de ambos os partidos a fim de se entenderem com onovo Governador-Geral, o Conde de Atouguia. Por parte dos Camar-gos partiu Ortiz, pela dos Pires, Francisco Nunes de Siqueira, homempara o tempo e o meio, muito ilustrado, bom gramtico latino, bastan-

    temente instrudo na lio dos livros forenses, com bom aplauso entreos doutos.

    Desta embaixada decorreu a famosa portaria de 24 de novem-bro de 1655 concedendo geral anistia. Suspendendo-se os trmites dadevassa do Dr. Velho, ajustou-se que os rois dos pelouros fossem orga-nizados por trs partidrios dos Pires e outros tantos dos contrrios.Estes organizadores da chapa no seriam os cabeas de bando e sim

    homens dos mais zelosos e timoratos.A constituio das futuras Cmaras Municipais se faria demodo que nelas houvesse sempre um juiz e um vereador de cada um

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    O mais velho documento iconogrfico paulistano ocorrente no mapa de

    D. Lus de Cspedes Xeria (1627)

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    dos partidos em luta, um vereador e o Procurador do Conselho por partedos neutros.

    Foi a proviso do Conde de Atouguia recebida com grandesmanifestaes de jbilo em So Paulo e o Rei muito encareceu a decisodo seu Delegado no Governo-Geral.

    Pedira este aos paulistas que esquecessem o passado e voltassem concrdia. E neste sentido escreveu numerosas cartas aos principaisrepblicos e especialmente Matronade cuja atitude dizia a D. Joo IV:No justo que por a porfia de uma s mulher, que era a parte mais

    obstinada, padecesse toda uma capitania.Mostrou-se Ins Monteiro de Alvarenga irredutvel em seurancor.

    Ameaada foi com a devassa de um desembargador sindican-te que saberia reduzir-lhe a intransigncia.

    Sofrera a Matrona alm de tudo enormes danos materiaisdurante a guerra civil e exigia que os Camargos a indenizassem.

    A Atouguia em 1656 sucedeu no Governo-Geral Francisco

    Barreto de Meneses que Cmara felicitou pela paz pedindo-lhe organi-zasse uma expedio destinada a reprimir as correrias dos ndios do ser-to baiano. Aos sertanistas de tal conduta acenou com as vantagens daescravizao dos ndios apresados.

    Esta expedio, organizou-se com efeito sob o comando dedois sertanistas notveis, ambos chefes dos mais prestigiosos da facodos Camargos, Domingos Barbosa Calheiros e Fernando de Camargo.Em outubro de 1658 chegou a Salvador onde entrou em campanha quealis teve deplorvel desfecho.

    Neste milsimo recrudesceram notavelmente os tumultos emSo Paulo por mais que Francisco Barreto procurasse apaziguar os nimos.

    Em 1659 agravou-se a situao. Digladiavam-se as duas facesterrivelmente. Estava agora testa dos Pires Ferno Dias Pais a enfrentar

    Jos Ortiz de Camargo. Aflito falava Barreto em ir pessoalmente acomo-dar o sanguinolento dissdio e incumbiu o Dr. Pedro de Mustre Portugal,

    Ouvidor-Geral da Repartio do Sul de proceder a nova tentativa de paz.Estavam porm, ao que parece, ambos os