História da idade média

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História – Textos e Documentos Prof. Frâncio Silva Mendonça www.historia.ricafonte.com Trabalho com Textos e Documentos em História – Idade Média 1. Após ler o texto que se segue, identifique os objetivos dos partici- pantes da Cruzada dos Mendigos. Um contemporâneo de Pedro, o Eremita, assim o descreve: “Ia ele descalço, levava sobre a pele uma túnica de lã e (por cima) um longo hábito. O pão era seu único alimento, com um pedaço de peixe, às vezes; nunca bebia vi- nho... Algo de divino sentia-se em seus menores movimentos, em todas as suas palavras; chegava ao ponto de o povo arrancar para guardá-los como relíquias, os pêlos do mulo que ele montava... Os condes e os cavaleiros pensa- vam ainda nos seus preparativos, e já os pobres faziam os seus com tal ardor que nada podia deter... To- dos deixavam as suas casas, a sua vinha, o seu patrimônio, vendiam- nos a baixo preço e partiam ale- gres... Apressavam-se em conver- ter em dinheiro tudo o que não podia servir durante a viagem... Pobres ferravam os bois como ca- valos e atrelavam-nos a carretas em que colocavam algumas provi- sões e seus filhinhos, que arrasta- vam atrás de si. E essas crianças, assim que percebiam um castelo ou uma cidade, perguntavam logo se era ali essa Jerusalém para a qual caminhavam... As crianças, as ve- lhas, os velhos preparavam-se para a partida; sabiam muito bem que não combateriam, mas esperavam ser mártires. Diziam eles aos guer- reiros: Vós sois valentes e fortes, combatereis; nós sofreremos com o Cristo e faremos a conquista do céu. “ 2. Com base no texto que você pode ler a seguir, tente descrever o que era uma corporação de ofício: No livro de Leo Huberman, Histó- ria da riqueza do homem, são re- produzidos os estatutos de uma corporação de curtidores de couro branco, em Londres, datados de 1346, onde podemos saber que: (1)- Se qualquer pessoa do dito ofício sofrer pobreza pela idade ou porque não possa trabalhar... terá toda semana 7 dinheiros para seu sustento, se for homem de boa reputação. (2)- E nenhum estrangeiro traba- lhará no dito ofício... se não for aprendiz, ou homem admitido à cidadania do dito lugar (3)- E ninguém tomará o apren- diz de outrem para seu trabalho durante o aprendizado, a menos que seja com a permissão de seu mestre. E se alguém do dito ofício tiver em sua casa trabalho que não possa completar... os demais do mesmo oficio o ajudarão, para que o dito trabalho não se perca. (4)- E se qualquer aprendiz se comportar impropriamente para com o seu mestre, e agir de forma rebelde para com ele, ninguém do dito ofício lhe dará trabalho, até que tenha feito as reparações pe- rante o Alcaide e os intendentes. (5)- Também a boa gente do mesmo oficio uma vez por ano escolherá dois homens para serem supervisores do trabalho e de todas as outras coisas relacionadas com as transações daquele ano pessoas que serão apresentadas ao Alcaide e intendentes... prestando perante eles o juramento de indagar, pes- quisar e apresentar lealmente ao dito Alcaide e intendentes os erros que encontrarem no dito comércio, sem poupar ninguém, por amizade ou ódio. Todas as peles falsas e mal tra- balhadas serão denunciadas. (6)- Ninguém que não tenha sido aprendiz e não tenha concluído seu termo de aprendizado do dito ofício poderá exercer o mesmo. 3. O documento a seguir, decre- tos do rei da França, no início do século XV, defende os interesses de uma classe social. Qual classe soci- al é essa? Por que o rei decide de- fendê-la? “Para eliminar remediar e pôr fim aos grandes excessos e pilhagens feitos e cometidos por bandos ar- mados, que há muito vivem e con- tinuam vivendo do povo, o Rei pro- íbe, sob pena de acusação de lesa- majestade e perda para sempre, para si e sua posteridade, de todas as honras e cargos públicos, e o confisco de sua pessoa e suas pos- ses, a qua/quer pessoa, de qu- a/quer condição, que organize, conduza, chefie ou receba uma companhia de homens em armas, sem permissão, licença e consen- timento do Rei... Sob as mesmas penalidades, o Rei proíbe a todos os capitães e homens de guerra que ataquem mercadores, tra- ba/hadores, gado ou cavalos ou bestas de carga, seja nos pastos ou em carroças, e exige que não per- turbem, nem às carruagens, mer- cadorias e artigos que estiverem transportando, e não exigirão deles resgate de qualquer forma; mas sim que tolerarão que trabalhem, andem de uma parte a outra e levem suas mercadorias e artigos em paz e segurança, sem nada lhes pedir em criar-lhes obstáculos ou perturbá-los de qualquer forma.“ 4. Georges Duby é um dos maio- res medievalistas da atualidade. Profundo estudioso do tema, já publicou vários livros, entre os quais A Europa na Idade Média, de onde tiramos o texto que se segue. Ele fala da peste negra e do pânico que ela provocou. Há uma compa- ração estatística interessante com as cidades atuais. O que mais cha- ma a atenção, no entanto, é a ati- tude das pessoas diante de um fato novo. E é sobre este aspecto que chamamos a sua atenção. Enquanto você lê o texto, procure refletir sobre as seguintes ques- tões: a) Como as pessoas da época re- agiram à epidemia? b) Por que será que as pessoas tiveram tais reações? Você conse- gue lembrar-se de alguma coisa parecida que aconteceu recente- mente? c) A peste teve algum resultado positivo? Qual? “O mal propagava-se melhor nos amontoados de pardieiros insalu- bres. Um mal cego. Estava-se a- costumado a vê-lo ceifar as crian- ças, os pobres. Eis que ele resolve atacar também os adultos jovens, em pleno vigor e, o que era fran- camente escandaloso: atacava também os ricos. Atualmente pen- sa-se que um terço da população européia desapareceu com o flage- lo. O julgamento parece concordar com o que se pode verificar no conjunto. O tributo pago pelas grandes cidades certamente foi mais pesado... Imaginemos, ten- temos imaginar transpondo para nossos dias: seriam em aglomera- ções como as de Paris ou de Lon- dres, 4, 5 milhões de mortos em alguns meses de verão; os sobrevi- ventes, estarrecidos após semanas de medo, partilham as heranças e vêem-se, em conseqüência, meta- de menos pobres do que eram an- tes, apressando-se para se casar, procriar. Verifica-se uma prodigali- dade de nascimentos no ano que se segue à hecatombe. Nem assim os vazios foram preenchidos: a doen- ça havia-se instalado, voltando a se manifestar periodicamente, a cada

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Trabalho com

Textos e Documentos em

História – Idade Média

1. Após ler o texto que se segue,

identifique os objetivos dos partici-pantes da Cruzada dos Mendigos. Um contemporâneo de Pedro, o

Eremita, assim o descreve: “Ia ele descalço, levava sobre a

pele uma túnica de lã e (por cima) um longo hábito. O pão era seu único alimento, com um pedaço de peixe, às vezes; nunca bebia vi-nho... Algo de divino sentia-se em seus menores movimentos, em todas as suas palavras; chegava ao ponto de o povo arrancar para guardá-los como relíquias, os pêlos do mulo que ele montava... Os condes e os cavaleiros pensa-

vam ainda nos seus preparativos, e já os pobres faziam os seus com tal ardor que nada podia deter... To-dos deixavam as suas casas, a sua vinha, o seu patrimônio, vendiam-nos a baixo preço e partiam ale-gres... Apressavam-se em conver-ter em dinheiro tudo o que não podia servir durante a viagem... Pobres ferravam os bois como ca-valos e atrelavam-nos a carretas em que colocavam algumas provi-sões e seus filhinhos, que arrasta-vam atrás de si. E essas crianças, assim que percebiam um castelo ou uma cidade, perguntavam logo se era ali essa Jerusalém para a qual caminhavam... As crianças, as ve-lhas, os velhos preparavam-se para a partida; sabiam muito bem que não combateriam, mas esperavam ser mártires. Diziam eles aos guer-reiros: Vós sois valentes e fortes, combatereis; nós sofreremos com o Cristo e faremos a conquista do céu. “ 2. Com base no texto que você

pode ler a seguir, tente descrever o que era uma corporação de ofício: No livro de Leo Huberman, Histó-

ria da riqueza do homem, são re-produzidos os estatutos de uma corporação de curtidores de couro branco, em Londres, datados de 1346, onde podemos saber que: (1)- Se qualquer pessoa do dito

ofício sofrer pobreza pela idade ou porque não possa trabalhar... terá toda semana 7 dinheiros para seu

sustento, se for homem de boa reputação. (2)- E nenhum estrangeiro traba-

lhará no dito ofício... se não for aprendiz, ou homem admitido à cidadania do dito lugar (3)- E ninguém tomará o apren-

diz de outrem para seu trabalho durante o aprendizado, a menos que seja com a permissão de seu mestre. E se alguém do dito ofício tiver em sua casa trabalho que não possa completar... os demais do mesmo oficio o ajudarão, para que o dito trabalho não se perca. (4)- E se qualquer aprendiz se

comportar impropriamente para com o seu mestre, e agir de forma rebelde para com ele, ninguém do dito ofício lhe dará trabalho, até que tenha feito as reparações pe-rante o Alcaide e os intendentes. (5)- Também a boa gente do

mesmo oficio uma vez por ano escolherá dois homens para serem supervisores do trabalho e de todas as outras coisas relacionadas com as transações daquele ano pessoas que serão apresentadas ao Alcaide e intendentes... prestando perante eles o juramento de indagar, pes-quisar e apresentar lealmente ao dito Alcaide e intendentes os erros que encontrarem no dito comércio, sem poupar ninguém, por amizade ou ódio. Todas as peles falsas e mal tra-

balhadas serão denunciadas. (6)- Ninguém que não tenha sido

aprendiz e não tenha concluído seu termo de aprendizado do dito ofício poderá exercer o mesmo. 3. O documento a seguir, decre-

tos do rei da França, no início do século XV, defende os interesses de uma classe social. Qual classe soci-al é essa? Por que o rei decide de-fendê-la? “Para eliminar remediar e pôr fim

aos grandes excessos e pilhagens feitos e cometidos por bandos ar-mados, que há muito vivem e con-tinuam vivendo do povo, o Rei pro-íbe, sob pena de acusação de lesa-majestade e perda para sempre, para si e sua posteridade, de todas as honras e cargos públicos, e o confisco de sua pessoa e suas pos-ses, a qua/quer pessoa, de qu-a/quer condição, que organize, conduza, chefie ou receba uma companhia de homens em armas, sem permissão, licença e consen-timento do Rei... Sob as mesmas penalidades, o Rei proíbe a todos os capitães e homens de guerra que ataquem mercadores, tra-ba/hadores, gado ou cavalos ou bestas de carga, seja nos pastos ou

em carroças, e exige que não per-turbem, nem às carruagens, mer-cadorias e artigos que estiverem transportando, e não exigirão deles resgate de qualquer forma; mas sim que tolerarão que trabalhem, andem de uma parte a outra e levem suas mercadorias e artigos em paz e segurança, sem nada lhes pedir em criar-lhes obstáculos ou perturbá-los de qualquer forma.“ 4. Georges Duby é um dos maio-

res medievalistas da atualidade. Profundo estudioso do tema, já publicou vários livros, entre os quais A Europa na Idade Média, de onde tiramos o texto que se segue. Ele fala da peste negra e do pânico que ela provocou. Há uma compa-ração estatística interessante com as cidades atuais. O que mais cha-ma a atenção, no entanto, é a ati-tude das pessoas diante de um fato novo. E é sobre este aspecto que chamamos a sua atenção. Enquanto você lê o texto, procure

refletir sobre as seguintes ques-tões: a) Como as pessoas da época re-

agiram à epidemia? b) Por que será que as pessoas

tiveram tais reações? Você conse-gue lembrar-se de alguma coisa parecida que aconteceu recente-mente? c) A peste teve algum resultado

positivo? Qual? “O mal propagava-se melhor nos

amontoados de pardieiros insalu-bres. Um mal cego. Estava-se a-costumado a vê-lo ceifar as crian-ças, os pobres. Eis que ele resolve atacar também os adultos jovens, em pleno vigor e, o que era fran-camente escandaloso: atacava também os ricos. Atualmente pen-sa-se que um terço da população européia desapareceu com o flage-lo. O julgamento parece concordar com o que se pode verificar no conjunto. O tributo pago pelas grandes cidades certamente foi mais pesado... Imaginemos, ten-temos imaginar transpondo para nossos dias: seriam em aglomera-ções como as de Paris ou de Lon-dres, 4, 5 milhões de mortos em alguns meses de verão; os sobrevi-ventes, estarrecidos após semanas de medo, partilham as heranças e vêem-se, em conseqüência, meta-de menos pobres do que eram an-tes, apressando-se para se casar, procriar. Verifica-se uma prodigali-dade de nascimentos no ano que se segue à hecatombe. Nem assim os vazios foram preenchidos: a doen-ça havia-se instalado, voltando a se manifestar periodicamente, a cada

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História – Textos e Documentos Prof. Frâncio Silva Mendonça www.historia.ricafonte.com dez, vinte anos, e com igual fúria. Que fazer? Havia grandes médicos na corte do papa de Avignon, e em Paris, junto ao rei da França; ansi-osos, eles se interrogavam. Em vão. De onde vinha o mal? Do pe-cado? A culpa é dos judeus, eles envenenavam os poços; tudo é pretexto para massacrá-los. É a cólera de Deus: as pessoas flage-lam-se para aplacá-la. As cidades encolhem-se no cinturão de suas muralhas, trancafiam-se. Matavam-se os que queriam, à noite, insinu-ar-se dentro dela; ou então, ao contrário, fugia-se em bandos er-rantes, enlouquecidos. Em todo caso, o sobressalto, a brusca inter-rupção, a grande fratura. Nos 50, 60 anos que se seguiram à pande-mia de 1348, e que foram sacudi-dos pelos ressurgimentos da peste, situa-se uma das grandes rupturas da história da nossa civilização. Dessa prova, a Europa saiu alivia-da. Ela era superpovoada. Restabe-leceu-se o equilíbrio demográfico. “