Historia Militar

258
História militar naval 2008 Alexandre Rodrigues de Almeida 2 Í N D I C E PARTE I INTRODUÇÃO Conceituando História 6 Datando a História 6 CAPÍTULO I (IDADE ANTIGA) A Relação entre as primeiras civilizações e o mar 7 Os povos da Antiguidade 7 A civilização Egípcia 7 A civilização Mesopotâmica 9 A civilização Fenícia 10 A civilização (Fenícia) Cartaginesa 11 A civilização Grega 13 A civilização Romana 16 CAPITULO II ( A IDADE MÉDIA) O que é Idade Média 20 O Império Bizantino 20 O Império Árabe 21 Os Reinos Bárbaros 21 O Reino Cristão dos Francos 22 A Civilização Viking 23 A Crise da Idade Média 24 O Movimento Cruzadista 25 A Retomada do Comércio 26 As Repúblicas Marítimas da Península Itálica 27 Pisa 27 Gênova 28 Veneza 29 PARTE II CAPÍTULO I A GRANDE CRISE DOS SÉCULOS XIV E XV A Revolução Comercial e o Mercantilismo 32 A Transição da Idade Moderna 32 Os Estados Modernos e o Mercant ilismo 33 A Expansão Comercial 34 CAPÍTULO II AS NAÇÕES Portugal 40 Espanha 45 Holanda 47 Grã-Bretanha 50 França 57 Rússia 62 Alemanha 65 Japão 70 Estados Unidos 74 PARTE III CAPÍTULO I A “DESCOBERTA” DO BRASL 80 As Razões da Expansão Marítima 80 Os Portugueses se Espalham pelo Mundo 81

Transcript of Historia Militar

História militarnaval 2008Alexandre Rodrigues de Almeida2

Í N D I C EPARTE IINTRODUÇÃOConceituando História 6Datando a História 6CAPÍTULO I (IDADE ANTIGA)A Relação entre as primeiras civilizações e o mar 7Os povos da Antiguidade 7A civilização Egípcia 7A civilização Mesopotâmica 9A civilização Fenícia 10A civilização (Fenícia) Cartaginesa 11A civilização Grega 13A civilização Romana 16CAPITULO II ( A IDADE MÉDIA)O que é Idade Média 20O Império Bizantino 20O Império Árabe 21Os Reinos Bárbaros 21O Reino Cristão dos Francos 22A Civilização Viking 23A Crise da Idade Média 24O Movimento Cruzadista 25A Retomada do Comércio 26As Repúblicas Marítimas da Península Itálica 27Pisa 27Gênova 28Veneza 29PARTE IICAPÍTULO IA GRANDE CRISE DOS SÉCULOS XIV E XVA Revolução Comercial e o Mercantilismo 32A Transição da Idade Moderna 32Os Estados Modernos e o Mercant ilismo 33A Expansão Comercial 34CAPÍTULO IIAS NAÇÕESPortugal 40Espanha 45Holanda 47Grã-Bretanha 50França 57Rússia 62Alemanha 65Japão 70Estados Unidos 74PARTE IIICAPÍTULO IA “DESCOBERTA” DO BRASL 80As Razões da Expansão Marítima 80Os Portugueses se Espalham pelo Mundo 81

A América Descoberta 82O Acordo de Tordesilhas 83O Caminho das Índias Decifrado 83A Viagem de Cabral 84

3CAPÍTULO IIA COLONIZAÇÃO DO BRASIL 85Período Pré-Colonial (1500-1530) 85O Período Colonial (1530-1808) 87A Expedição de Martim Afonso de Souza 87O Projeto Agrícola de Exploração Colonial Portuguesa 88O Sistema de Capitanias Hereditárias 88A Centralização do Governo 89Os Governadores Gerais 90A União Ibérica (1580-1640) 92A Restauração em Portugal 92As Invasões do Território Português Brasileiro 93Os Franceses 93As ações dos corsários franceses no Rio de Janeiro 96Nova ação francesa 97Os Ingleses 98Os Holandeses 99Invasão na Bahia 99Invasão em Pernambuco 100Governo de Nassau 101A luta da reconquista (A Insurreição Pernambucana) 102Os Anos do 1700 104A descoberta do ouro 104Os Vice-reis na Bahia 105A administração do Marques de Pombal 106O governo dos Vice-reis no Rio de Janeiro 107Progresso econômico 107As Revoltas Coloniais – Inconfidências e Sedições 110As Questões de Fronteiras 111CAPÍTULO IIIBRASIL: REINO UNIDO A PORTUGAL E ALGARVES 116O Governo Português no Rio de Janeiro 117A Política Externa de D. João 117A Conquista da Guiana Francesa 118A Primeira Invasão no Prata 119A Incorporação da Banda Oriental do Uruguai 119O Regresso da Corte para Portugal 121PARTE IVCAPITULO IA REGÊNCIA DE D.PEDRO 123CAPITULO IIO PRIMEIRO REINADO 125A formação da Marinha do Brasil 125A Guerra nas Províncias (Guerra de Independência) 126A Guerra na Bahia 126A Guerra no Maranhão e Piauí 127A Guerra no Pará 127A Guerra na Cisplatina 127O reconhecimento de Nossa Independência 128A Organização política do Estado Brasileiro 128A Constituição de 1824 129A Confederação do Equador ou Revolução de 1824 129A perda da Provincia Cisplatina 131A abdicação de D. Pedro I 133CAPITULO IIIO CENÁRIO INTERNACIONALA América Espanhola 135As Guerras de Independência da América Espanhola 135A Inglaterra 136Os Estados Unidos 136

A Guerra de Secessão 137

4CAPITULO IVSEGUNDO IMPÉRIOPeríodo regencial 138Regências Trinas 138A Regência (una) de Feijó 140A Regência (Una) de Araújo Lima 141Os regressistas no Governo 141A situação Militar do País durante a Regência 142A pacificação do Rio Grande do Sul 142A Ascensão de D.Pedro II 143A Revolução Praieira (1848 – 1850) 143A Questão do Trafico Negreiro 144A Consolidação Política 144As questões externas 145A questão do Prata 145A Guerra de Oribe e Rosas 146A Questão com a Inglaterra 147Nova questão no Prata – a Guerra de Aguirre 148A Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai) 150A Batalha de Riachuelo 152A Passagem de Humaitá 155Política de fronteiras 156A situação militar durante o Segundo Reinado 157O ensino militar 158As questões da Queda do Trono 159Questões militares 159CAPITULO VREPÚBLICAA queda do Trono (O Brasil se torna republicano) 162A República Velha (1889-1914) 164A conjuntura política do Governo Provisória 164As Revoltas 165A Revolta Federalista 165A Revolta da Armada 165O quadro militar 167A República dos Conselheiros 169As lutas sociais 169A Revolta da Vacina 169A Revolta da Chibata e as Revoltas Marinheiras 170A continuidade dos Governos 171O Brasil na Primeira Guerra Mundial 172O período entre Guerras 174As eleições de 1930 175O golpe Militar ( A recolução de 1930) 175O Governo Provisório 175A Revolta Constitucionalista de 1932 176A Constituinte de 1934 177A intentona Comunista de 1935 177O estado novo 177A Segunda Grande Guerra 178A participação do Brasil na guerra 179O retorno da “Democracia” 183Vargas volta so Poder 183Café Filho não termina o Mandato 184O Governo Kubitschek 186O Governo Jânio Quadros 186Os Militares no Poder 186O governo João Goulart e o Movimento de 1 964 186Os governos oriundos do Movimento de 1964 189O Presidente Castelo Branco 189O Presidente Costa e Silva 190O Presidente Médici 191O Presidente Geisel 191O Presidente Figueredo 191

O retorno da Democracia 192

56INTRODUÇÃO1) Conceituando História:O estudo de História permite ao homem o conhecimento necessário para compreender sua trajetória,facilitando entender de que forma ele alcançou o estág io atual, onde errou e acertou, possibilitando um melhorplanejamento de suas ações, contribuindo para melhores resultados em seus objetivos.A História abrange todas as faces da ação humana. Podemos “contar” histórias de cunho social, político,religioso ou militar, e, independente de “qual” história estivermos falando, ela nunca será isolada no tempo ou noespaço e sempre terá uma íntima relação de causa e conseqüência com outro(s) fato(s) que pode anteceder ou suceder aele. Tudo o que ocorreu com o homem, e este pôde registrar ou deixar ser registrado, é parte integrante de sua história.Nenhuma sociedade chegou a qualquer patamar sem contato com outro grupo social, e o fruto dessas relações éque fazem parte do estudo que será demonstrado nesta apostil a e nas demais.2) Datando a História:De uma forma geral, a História é dividida em Pré -História e História. O advento da escrita permitiu grandesavanços aos grupos sociais humanos e é o marco divisório entre uma e outra fase deste desenvolvimento prim ário. Apartir da escrita o homem pôde descrever por si só sua trajetória.Em relação à Pré-História, cabe aos estudiosos desvendar os segredos a partir de vestígios deixados por estascomunidades, o que é genericamente denominado de Documento Histórico.Dividimos a História Ocidental, e por influência cultural e econômica também a Oriental, em antes e depois donascimento de Cristo. Apesar desta figura – Jesus Cristo – ser representativa apenas para a Fé Cristã, o domínioexercida pelos povos seguidores desta filosofia religiosa a outros povos como judeus e mulçumanos, acabou porinfluenciar suas culturas. A essa classificação descrevemos como antes de Cristo (aC ou AC) e depois de Cristo (dC ouDC). Há também a inscrição AD (Anno Domini – “Ano do Senhor”) para o período compreendido apenas após onascimento de Cristo. Os judeus encontram-se em um calendário que está 3761 anos à frente do calendário cristão e osmulçumanos começaram seu calendário no ano 622 deste calendário.O marco histórico “Cristo” pe rmitiu ao homem ocidental datar um calendário que regride do infinito até o ano0 (zero) e progride do ano 0 até os dias atuais. Essa datação é marcada por dia, mês e ano (não necessariamente nestaordem) em números arábicos e os séculos em números romanos . Para comparação entre uma data e seu século bastaescrever o número do ano com quatro dígitos. Caso os dois últimos números da direita terminem em 00 (zero zero), seráo número formado pelos dois dígitos da esquerda. Exemplo: nascimento de Cristo – 0000 – século 0, ou descobrimentodo Brasil – 1500 – século XV (quinze). Caso os dois números da direita terminem diferente de zero, será o da esquerdamais 1. Exemplo: Proclamação da Independência do Brasil – 1822 – século XIX (dezenove), Primeira Guerra Mundi al– 1914 a 1918 – século XX (vinte).Nosso atual calendário é denominado Gregoriano por ter sido instituído pelo papa Gregório XIII em 1582. Ocalendário gregoriano foi instituído a partir do calendário de Dionísio, um abade de Roma, que o fez no ano 525 a partirdo calendário romano. Portanto, pode haver algumas discrepâncias em relação à datação de alguns fatos, principalmenteos encontrados na época aC, não comprometendo a história.Os números romanos são representados pelas letras I, V, X, L, C, D, M . Relacionado-os aos números arábicossão: 1, 5, 10, 50, 100, 500, 1000. Os traços colocados acima de um grupo numérico representam milhão, e acima eabaixo, bilhão. Os conjuntos numéricos se somam caso estejam à direita de uma unidade numérica e subtraem casoestejam à esquerda. Portanto a data de proclamação da independência do Brasil, em números romanos foi: VII – IX –MDCCCXXII (7-9-1822).Há diversos marcos históricos. Eles servem para delimitar determinados fatos, épocas ou períodos sem, no

entanto, resumi-los. Conforme já dito, a história não é estática e sim dinâmica e, mesmo sendo relativa a fatos passados,ela encontra-se em constante evolução devido a novas fontes históricas que possam surgir ou a uma nova verdadeconstruída a partir de uma nova visão de algum historiador. Mas os fatos são os fatos e estes não podem ser e não serãomudados jamais.7CAPÍTULO IA IDADE ANTIGACompreende-se como história antiga o período que vai do início da história, a partir da invenção da escrita,aproximadamente 4000 aC, até 476 dC, ano da queda de Roma, como capital do Império Romano do Ocidente. A quedade Roma finaliza a Idade Antiga e inicia o período conhecido como Idade Média.1) A Relação Entre as Primeiras Civilizações e o Mar:Os aspectos geográficos são os mais importantes para a determinação de um povo como sendo de caráterterrestre ou não. Terras férteis e abundância de matérias -primas que suprissem um povo obrigatoriamente o fixariam emsua posição geográfica, no entanto, a escassez d e alimentos, ou de produtos, forçosamente o impeliria a sair de suasterras em busca de suas necessidades.Notadamente, as vias de comércio e transporte fluvial ou marítimo sempre foram – e são – as mais fáceis ebaratas de serem exercidas.Ao longo da história temos exemplos de povos que saíram de suas terras em busca de áreas mais férteis epromissoras, e até mesmo de povos denominados nômades, que nunca tiveram uma localidade fixa. Na maioria dasvezes, o que ocorreu para que um povo deixasse seu territó rio foi a busca pelos produtos que lhes faltavam, mas aganância econômica, a vontade política ou a influência religiosa (cultural) também foram determinantes.Essa busca ocorreu através da guerra e da dominação física, passando a controlar as áreas produt oras e seushabitantes, ou através do comércio, principalmente pela troca dos excedentes de produção 1 entre povos ou regiões, e dainfluência cultural ou política.Mas o comércio, ou a necessidade de busca por produtos, não explica por si só a opção de um povo pelo mar.Temos vários exemplos de que esta opção se deu de modo forçado, pelas próprias necessidades naturais advindas doprogresso social de seus habitantes, pela agressão de outros povos ou pelo contínuo contato com sociedades decaracterísticas marítimas.2) Os Povos da Antiguidade:Vários povos participaram do início de nossa jornada na terra. A região compreendida pelo Mar Mediterrâneo,abrangendo o continente Africano, Asiático e Europeu, foi o cenário para o florescimento das principais naç ões quecompreenderam este período (acompanhar pelo mapa 1). A presença do homem é comprovada neste mesmo período nocontinente Americano e na Oceania, mas infelizmente não fazem parte de nosso estudo povos como os astecas e osaborígines, bem como os povos asiáticos da face leste do continente, banhados pelo Oceano Pacífico e dos africanosvoltados ao oceano Atlântico Sul ou ao Índico.O Mediterrâneo (terra do meio) foi a principal via de formação das culturas ocidentais e de várias asiáticas eafricanas. As primeiras civilizações 2 surgiram nesse cenário até a região compreendida pela Mesopotâmia (“Terra entreRios” – Tigre e Eufrates) denominada de Oriente Próximo.Portanto, a Antiguidade é dividida em Antiguidade Oriental, a Leste ou ao Oriente, compre endendo os povosfenícios, hebreus, persas, egípcios e a Mesopotâmia, e Antiguidade Ocidental ou Clássica, a Oeste, participando destaos povos gregos e romanos.2.1) A Civilização Egípcia:A natureza especial do solo e do sistema hidrográfico caracterís tico do Egito fez das margens do rio Nilo umaterra fértil. Desde sua remota origem até a queda da antiga monarquia, o povo egípcio dedicou -se sobretudo àagricultura e teve poucos contatos com os povos vizinhos. Fatores diversos, porém, fizeram com que, a o lado daagricultura, conseguisse também a indústria 3 alcançar nível elevado, e cerca do ano 3300 aC, a fabricação de tecidos,motivada em grande parte pela esplêndida qualidade do linho daquelas regiões, já alcançava importância.1 Entende-se como excedente de produção produtos agrícolas ou fabris que, não tendo mercado interno ou sendoproduzido exclusivamente para o mercado externo, passam a ser dispostos para trocas come rciais.

2 Termo empregado a partir da Revolução Francesa por estudiosos iluministas para classificar uma sociedade pelo seuestágio de desenvolvimento.3 A concepção de indústria não pode ser vista aos olhos da atualidade no sentido de fábrica mecanizada. Os produtoseram rudimentares e o sistema de produção, ou transformação, era primário.8Instalada no extremo nordeste da África, em região desértica, a civilização egípcia floresceu as margens do rioNilo, beneficiando-se de seu regime de cheias. As abundantes chuvas que caem durante certos meses do ano nanascente do rio, ao sul, nas terras altas do interior do con tinente africano, provocam o transbordamento de suas águas eo conseqüente depósito de húmus, fertilizando suas estreitas margens. Ao final do período de cheias, o rio volta ao seuleito normal e as margens, naturalmente fertilizadas, tornam possível uma r ica agricultura.Contudo, diante do aumento populacional que aconteceu durante a época neolítica, faziam -se necessárias obrashidráulicas, como a construção de diques e canais, para o cultivo agrícola. Estudos e pesquisas arqueológicas ehistóricas apuraram que a organização do trabalho às margens do Nilo, a construção de diques e outras obras hidráulicascoube inicialmente às coletividades locais e regionais conhecidas como nomos e mais tarde foram articuladas a umaestrutura governamental central mais complexa.Ao longo da história egípcia, a organização político -social estruturou-se em torno da terra e dos canais deirrigação, tendo o Estado despótico 4 o controle de toda a estrutura econômica, social e administrativa. Por meio de suasinstituições burocráticas, militares, culturais e religiosas, o Estado subordinava toda a população e garantia a realizaçãodas obras de irrigação.Juntamente com seus cereais, que em período de escassez eram solicitados pelos países vizinhos, fornecia oEgito uma série de produtos artísticos, dando com isso potente estímulo ao comércio. Como o Nilo era navegável,mesmo no período de seca, e os canais que sulcavam o país contribuíam para intensificar o tráfego, explica -se aexistência de um animado tráfego interior cujo centro foi Pelusio, cidade solidamente fortificada que ficava perto dafronteira oriental. O tráfego marítimo teve, em compensação, escassa importância durante a época dos faraós. As costasdesprovidas de abrigos e perigosas para a navegação, a falta de madeiras e os preceitos sacerdotais que predicavam aaversão ao mar, serviram de estímulo a repulsa que esse povo de agricultores sentia pela água. Entretanto, o governointerveio por diversas vezes no comércio por meio de expedições navais em que o faraó tomava a iniciativa, com o fimde estabelecer relações diretas de troca com os países do Ponto (Ponto Euxino ou Mar Negro), situados na ArábiaMeridional e pátrias do incenso, produto então muito procurado.Semelhantes expedições, determinadas pelos faraós e orga nizadas pelo Estado, foram, sobretudo, freqüentesdurante a XII e XIII dinastias. Depois da instalação da Nova Monarquia, o tráfego pelo mar Vermelho, quasecompletamente interrompido sob a dominação dos Icsos, retomou, graças ao poder real, com uma força e um arrojo atéentão desconhecidos. As expedições marítimas multiplicaram -se, sobretudo devido à iniciativa dos faraós da XVIIIdinastia, ao mesmo tempo em que aumentavam as trocas com a Núbia. Esse período foi conhecido como RenascimentoSaíta, devido a capital passar a ser em Saís, e a expedição mais importante foi favorecida pelo Faraó Necao, ondenavegadores fenícios fizeram o périplo africano, ou seja, contornaram todo o continente africano a partir do marMediterrâneo até alcançarem o Mar Vermelho do lado oriental da África, feito este só repetido vinte séculos mais tardepor Vasco da Gama, em 1498, partindo de Lisboa.Após as conquistas realizadas nas costas asiáticas, o centro político do Egito se transportou, com Ramsés II,para o Norte, ou mais exatamente para o delta Oriental. O Egito se abriu então largamente ao contato com os povosnavegadores do Mediterrâneo. Os últimos faraós esforçavam -se por completar e aperfeiçoar a obra de organização docomércio egípcio realizado por seus predecessores. P samético fundou numerosos centros de negócios e uma grandefrota mercante. Necao, mais empreendedor ainda, deu forte impulso ao comércio arábico com o fim de colocar nasmãos dos egípcios o monopólio do tráfego das especiarias 5.

Conquistado através dos séculos6, pelos assírios, persas, e por fim pelos gregos, sob Alexandre “O Grande”, oEgito não perdeu a importância comercial. Bem pelo contrário, com um gesto de vidente, o conquistador macedônioAlexandre fundou Alexandria numa situação incomparável, na co sta vasta e sem refúgios de um país interior,incomensuravelmente rico, na desembocadura do seu único rio de grande porte, no limite de duas partes do mundoasiático e africano e unido com a Europa pelo mar Mediterrâneo. Desenvolveu -se Alexandria com inesperada rapidez,convertendo-se não só em magnífico centro de arte e de ciência como também na praça comercial mais grandiosa domundo antigo. Ela concentrava, ao mesmo tempo, os gêneros e os produtos manufaturados do vale do Nilo, os gêneros eas matérias-primas vindas da Etiópia, da África Oriental, da Arábia, da Índia, os quais, por seu intermédio,espalhavam-se em todo o mundo grego até o Ocidente. Sua população, onde se misturavam gregos, egípcios e judeusorientais, já se distinguia pela fisionomia cosmopolita que caracteriza hoje os grandes portos do Levante.O movimento de negócios era de urna intensidade notável. O local da cidade, escolhido por Alexandre,permitiu a criação de um porto marítimo ao norte e de um porto fluvial ao sul. O porto marítimo , entre a margem e ailha Pharos, protegido contra as ondas do leste pelo cabo Lochias e pelo molhe que o prolongava, era dividido em duas4 Déspota: governo tirano, opressivo ou dominador onde não há liberdade plena para os cidadãos.5 Compreende-se por especiarias todos os produtos que alcançavam grande v alor econômico, seja para uso culinário,cosmético ou de ornamentação. Os produtos de cunho religioso geralmente alcançavam os mais elevados preços,tornando-se os principais nas relações de troca.6 As invasões constantes tiveram grande efeito sob a cultu ra egípcia, sobretudo o domínio macedônio de Alexandre quepermitiu a penetração da idéias gregas na sociedade egípcia. Esse domínio instaurou uma dinastia de origemmacedônica chamada ptolomaica ou lágida, à qual pertenceu Cleópatra, Seu filho com o imper ador romano Júlio Césarfoi o último faraó ptolomaico, tendo todo o Egito caído nas mãos dos romanos de modo definitivo. Até então adominação romana se restringia a retirar do Egito apenas os grãos necessários para a subsistência do povo romano emRoma e no restante do Império.9partes pelo Heptardion, molhe que unia Pharos à terra firme. A leste ficava o grande porto cuja entrada protegia osarsenais e a frota de guerra.A comercial Alexandria, convertida em sede do governo pela dinastia dos Ptolomeus, em seguida à partilha doImpério de Alexandre, contrastava notavelmente com as capitais faraônicas de Tebas, Sais e Memphis. Não obstante,convém observar que, no Nilo como no Eufrates, o centro de gravidade da vida econômica era constituído pelaagricultura, e que a indústria e o comércio só secundariamente ocupavam a vida dos moradores. A principal atividadedo povo egípcio foi sempre a cultura dos campos e a criação de animais, sendo os principais produtos o trigo, o algodão,o linho e o papiro, porquanto o comércio em Alexandria era exercido em grande parte por judeus e gregos, e o empregonas construções públicas de obras hidráulicas, palácio s ou tumbas era feito durante o período de cheia do rio, onde nãose podia trabalhar a terra.As referências feitas por Plutarco e por outros historiadores ao número de navios queimados pelos soldados deJúlio César em Alexandria, durante a conquista roman a, e às forças navais de Antônio, na guerra contra Augusto 7,mostram não terem sido pequenos os recursos do Egito no mar, malgrado o caráter terrestre de seu povo.Em suma, o Egito antigo caracteriza, sob o ponto de vista marítimo, como uma nação continen tal que sedesenvolveu inicialmente livre da influência das rotas oceânicas e que, por força do próprio progresso, foi levado aparticipar cada vez mais das atividades nos mares. A evolução egípcia exemplifica também a tendência de povosinteriores buscarem a saída livre das rotas marítimas, como decorrência inevitável do seu desenvolvimento.2.2) A Civilização Mesopotâmica:A Mesopotâmia situa-se no Oriente Médio entre os rios Tigre e Eufrates, que ficam no atual Iraque, na regiãoconhecida como Crescente Fértil. Seu nome vem do grego (meso = meio e potamos = água) e significa "terra entre

rios", mostrando a causa da fertilidade dessa região, embora esteja localizada em meio a montanhas e desertos.No que se refere à organização socioeconômica, existem g randes semelhanças entre a civilização egípcia emesopotâmica. No entanto, algumas diferenças de caráter físico -geográfico podem ser destacadas. Enquanto o Egitoapresentava grande isolamento geográfico, o que lhe possibilitou longos períodos de estabilida de política, aMesopotâmia é, ainda hoje, uma planície aberta a invasões por todos os lados. Além disso, o regime de cheias do Tigree do Eufrates não é tão regular como o do Nilo, não sendo raras violentas inundações e até períodos de seca na regiãobanhada por eles.Em termos políticos, o Egito caracterizou -se por ter na instituição monárquica, personificada no faraó, o seuprincipal fator de unidade, enquanto na Mesopotâmia esse fator era a cidade. Logo, enquanto os egípcios entendiam -secomo parte de algo maior, que incluía aldeias, nomos e o faraó acima de tudo, na Mesopotâmia a identidade era dadapela cidade à qual os indivíduos pertenciam.Os primeiros vestígios de sedentarismo humano na Mesopotâmia datam de aproximadamente 10000 aC. Ocrescimento dos primeiros núcleos urbanos da região fez -se acompanhar do desenvolvimento de um complexo sistemahidráulico, que tornou possível a drenagem de pântanos, a construção de diques e barragens, para evitar inundações earmazenar água para épocas de seca.O sucesso dos empreendimentos feitos nas atividades produtivas levou à formação de grandes cidades commais de mil habitantes já por volta de 4000 aC, como Uruk. Tais cidades tinham principalmente função militar,protegendo a população e a riqueza gerada pela a gricultura, e tornando possível o controle político.Participaram da história dessa região principalmente os povos sumérios e acádios. Ao final do PeríodoNeolítico, diversas cidades já haviam sido criadas na região, todas elas autônomas e habitadas por su mérios, povooriundo do vizinho planalto do Irã. Ur, Nipur, Lagash, além da já citada Uruk, foram os principais cidades dessescentros urbanos. Eram governados por patesís, mistura de chefe militar e sacerdote. Eles controlavam a população,cobrando impostos e administrando as obras hidráulicas junto com numerosos auxiliares, As terras eram consideradaspropriedade dos deuses, cabendo ao homem servi -los, não só com o trabalho agrícola, mas também com a construção detemplos - os zigurates.Os sumérios chegaram a estabelecer relações comerciais com povos vizinhos, tanto na direção Oeste, indo parao mar Mediterrâneo, como na direção Leste, rumo à Índia. Desenvolveram a escrita cuneiforme, composta de símbolosfonéticos em forma de cunha, fundamentais para reg istrar as complexas transações econômicas características dessespovos.Por volta de 2400 aC, o povo acádio, que há algum tempo vinha se introduzindo na região, estabeleceu suahegemonia na Mesopotâmia. O rei acádio Sargão I unificou o centro e o sul do va le, submetendo os sumérios ao mesmotempo em que incorporava sua cultura, porém, contínuas invasões estrangeiras inviabilizaram a permanência do ImpérioAcádio, que acabou desaparecendo por volta de 2100 aC.Logo após foi a vez dos babilônios. Os amoritas vindos do sul do deserto árabe derrubaram os acádios. Seuprincipal líder foi Hamurábi, responsável por uma gama de normas sociais conhecidas como Código de Hamurábi ouLeis de Talião, que determinavam a pena imposta para as transgressões, geralmente de fo rma violenta como mutilaçõese morte.Os amoritas foram seguidos por hititas, cassitas e por fim assírios. Foram os assírios que organizarammilitarmente a região, usando carros de guerra e armas de ferro, muito superiores as de cobre utilizadas pelos seus7 O fato mais importante foi a batalha naval de Ácio ou Actium, na guerra contra o triunvirato romano.10vizinhos. Após estes, vieram os caldeus e os medos. Estes foram tão importantes nas guerras organizadas entre os persase os gregos, que por tal motivo foram chamadas de Guerras Medas.

Ciro I (559 - 529 aC), rei persa, foi quem dominou a região do Império Babilônico em 539 aC, submetendoseus vizinhos medos. Com a prática expansionista, os persas logo invadiram a Mesopotâmia, a Palestina e a Fenícia,chegando no Ocidente à Ásia Menor e, no Oriente, à Índia.Ciro, o principal conquistador, foi bastante háb il em se aliar às elites locais dos territórios conquistados em vezde simplesmente submetê -las, garantindo relativa estabilidade a um vasto império. Seu filho e sucessor, Cambises,atacou o Egito, conquistando o vale do Nilo após a vitória na batalha de P elusa (525 aC). Contrariando as regras detolerância de seu pai, deu início a um período de centralização autoritária e de submissão dos povos conquistados.O período de maior florescimento persa ocorreu no reinado de Dario I (524 - 484 aC), que dividiu o impérioem províncias, as satrápias. Os sátrapas eram encarregados da cobrança e do pagamento de impostos ao imperador.Foi Xerxes I, sucessor de Dario I, que deu prosseguimento às invasões a Grécia que acabaram resultando nadecadência do Império Persa e o início do apogeu do povo grego nas Guerras Medas.Os hebreus foram um caso a parte da história da região. Voltados diretamente para o Mediterrâneo tiveramvários episódios de contato com os demais povos mesopotâmicos, ora sendo invadidos por esses ora se ndo osdominadores. Estão os hebreus e os judeus 8 diretamente relacionados às culturas religiosas mais influentes do mundoatual, concentrando mais de 90% da população mundial entre cristãos, judeus e mulçumanos.2.3) A Civilização Fenícia:O povo mais antigo que achou na indústria e no comércio seu principal interesse econômico foi o fenício. AGeografia provê a explicação para esse interesse. A Fenícia, na época mais brilhante de sua história, não era mais queuma região estreita que, desde Arad até o Monte Carmelo, entendia-se num comprimento de 50 léguas do 35º ao 33ºgrau de latitude norte e numa largura, entre o Mediterrâneo e as escarpas rochosas do Líbano, de 3 a 10 quilômetros. Talterritório não podia sustentar seus habitantes, pois a agricultur a oferecia um rendimento mísero pela escassafecundidade do solo. O país se compunha de ravinas por onde desciam torrentes de neve fundida.Compreende-se porque os habitantes consideravam, desde época muito remota, o mar como fonte de seusustento. O Monte Líbano não lhes permitia ir para o interior das terras, no entanto fornecia -lhes madeira de construçãonaval, como pinheiros, ciprestes e cedros. A costa, por sua vez, oferecia uma série de portos naturais, nos quais osfenícios construíram as cidades on de se instalou uma população de pescadores e marinheiros com uma aristocracia(talassocracia)9 de comerciantes.Depois de haverem buscado na pesca a subsistência que a terra não lhes podia oferecer, eles se fizerammercadores e piratas, favorecidos pela po sição geográfica de seu território em frente aos países fecundos da BaciaMediterrânea, ao lado dos Estados antigos de maior desenvolvimento cultural e industrial e colhendo, por meio docomércio, as riquezas do Levante e as distribuídas pelas regiões do O este. Foram os fenícios os primeiros a romperemcom a tradição do comércio terrestre.Organizavam-se em cidades-estados interdependentes chefiadas pela elite mercantil. Beirute, Aca, Jaffa e,sobre todas elas, Biblos,Tiro e Sidon, tornaram-se os pontos de apoio de uma atividade mercantil que enlaçava oscírculos culturais asiáticos e egípcios, tornando os fenícios depositários de uma vasta cultura mediterrânea queinfluenciou a cultura dos gregos e, mais tardiamente, dos romanos.Os fenícios exploraram sucessivamente as costas do Mediterrâneo e as ilhas dos arquipélagos, oferecendo aosgregos, ainda bárbaros, os produtos da indústria egípcia ou asiática. Quando podiam aprisionavam mulheres e criançaspara as venderem como escravos noutro lugar. Com intuição feliz, andavam e procuravam, nos vários centros, amatéria-prima que escasseava, não só no próprio país, mas nas regiões e nos Estados vizinhos. Souberam se tornarindispensáveis a tal ponto, que obtiveram dos faraós egípcios o monopólio da grande e peque na cabotagem10 entre osportos daquele Império.Unindo a audácia aventureira do marinheiro à habilidade do mercador, eles conseguiram rapidamenteestabelecer entre os povos disseminados ao longo do Mediterrâneo e além das Colunas de Hércules (estreito deGibraltar) um sistema de trocas intensas.As invasões egípcias efetuadas sob as dinastias XVII, XIX e XX não parecem ter afetado o desenvolvimentocomercial dos fenícios. Aceitando o domínio dos faraós, em troca obtiveram o monopólio do comércio egípcio epuderam estender suas relações ao mesmo tempo sobre o Mediterrâneo e o mar Vermelho. É nessa época que se situa afundação das primeiras colônias fenícias na costa da Cária e da Kilídia, em Chipre, em Creta, em várias ilhas dos

8 Os judeus são parte do povo hebreu, sendo resultado de uma divisão que ficou conhecida como diáspora, ficando oshebreus com a capital em Samaria e os judeus na Judéia.9 Aristocracia: tipo de organização social e política em que o governo é monopolizado por um número reduzido depessoas privilegiadas não raro por herança como fidalguia, nobreza. Grupo de indivíduos que se disting uem pelo saber.Talassocracia: talasso quer dizer mar, sendo, portanto, o d omínio de potência marítima, império ou domínio dos marespor uma nação.10 Cabotagem: termo utilizado para fazer referência às navegações de Cabotto, navegador italiano que percorr ia a costade ponto em ponto para demarcá -la. A navegação de cabotagem é aquela feita de porto em porto de pequena distância,em contraponto a navegação de longo curso.11arquipélagos e do norte da Áf rica. Sidon que não tinha sido na origem senão uma cidade de pescadores herdou asupremacia antes exercida pelas cidades de Arad e Biblos, tornando -se a metrópole de um vasto império marítimo.Forçados mais tarde pelos progressos da Marinha grega a se ret irarem, pouco a pouco, das ilhas dosarquipélagos do mar Egeu, os fenícios estabeleceram numerosos empórios na parte ocidental do Mediterrâneo, naEspanha, Gália, Itália, Sicília, Malta, Córsega, Sardenha e ilhas Baleares. Entre os séculos IX e XI aC, depo is dafundação da Utica (na Tunísia) e de Cádiz, antes de Cartago, os fenícios desenvolveram as trocas comerciais na parteocidental do Mediterrâneo. Para proteger a rota mercantil de Gades (Cádiz) e de Malaca (Málaga), criaram estaçõesmarítimas na Sicília da mesma forma que na Tunísia, nos pontos do litoral onde havia os melhores portos naturais. Asilhas vizinhas, Malta, Gozo, Pantelaria e Lampedusa, foram transformadas em estações marítimas.Na Sicília, o avanço dos colonos gregos, no começo do século VIII aC, provocou a retirada gradual dosfenícios para o noroeste da ilha, onde eles conservaram as cidades de Panormium (mais tarde Palermo), Motya e Solans,que estavam bem colocadas para curtas travessias à vela em direção a Cartago, esta já uma cidade florescente.Provavelmente, os fenícios estabeleceram também ponto de apoio no local onde hoje se situa Lisboa. Algunshistoriadores admitem mesmo que os fenícios tenham estendido suas expedições marítimas até às Canárias, em plenoAtlântico, e talvez ainda mais ao sul, às ilhas do Cabo Verde. Outros historiadores admitem apenas que navegantesisolados talvez tenham chegado às costas do mar Vermelho, às ilhas Canárias e às Scilly (Inglaterra); em compensação,a hipótese de uma influência mercante fenícia na África Meridional e de uma navegação em caráter regular pelo marVermelho e pelo oceano Índico, ou de verdadeiras expedições à Grã -Bretanha e às costas nórdicas, são hojeconsideradas como desprovidas de fundamento. Gades (Cádiz), na parte meridional da p enínsula Ibérica, é a colôniafenícia mais avançada que se conhece com segurança.As cidades fenícias não se comunicavam facilmente uma com as outras, a não ser por mar, e conservaram entresi uma autonomia, constituindo mesmo cada centro urbano uma unidad e política independente. Compreende -se queentre elas tenham nascido rivalidades ferozes, chegando algumas a emprestar esquadras às potências estrangeiras paraabater a rival. Ao que consta, Tiro foi obrigada certa vez a enfrentar navios de Sidon cedidos a os assírios.Naturalmente as dissensões internas facilitaram a agressividade das nações próximas e, além dos egípcios, osfenícios sofreram o domínio de vários outros povos no decorrer de sua história. A opressão de Estados mais poderosostalvez tenha concorrido para incrementar a expansão marítima fenícia. A própria Cartago, ao que parece, foi fundadapor imigrantes que fugiam ao domínio estrangeiro ou a lutas internas. Muitas vezes, porém, favorecidas pela posição desuas cidades, geralmente construídas em ilhas ou em penínsulas de fácil defesa, os fenícios resistiram ferozmente àsinvasões. Provavelmente, a posse livre do mar garantiu o suprimento das cidades sitiadas, pois de outra forma é difícil

explicar como Tiro, por exemplo, só tenha caído em poder dos assírios após cinco anos de assédio, ou tenha resistidopor treze anos ao cerco dos babilônios sob o comando de Nabucodonosor.Através dos séculos e apesar das múltiplas vicissitudes, o comércio marítimo ficou sendo sempre a principalatividade do povo fenício. Por causa dele, tiveram os fenícios que conquistar e conservar o domínio absoluto do mar, oque conseguiram, graças a instituições particulares. Para conservar o monopólio do tráfego marítimo, as comunidadesfenícias guardavam rigorosamente secr etos seus itinerários comerciais. Aos artigos trazidos de países longínquosassociavam lendas de serpentes aladas e gigantescos pássaros venenosos. Quando preciso, assaltavam os navios deoutros povos que ousassem concorrer aos mesmos mercados e indicavam derrotas erradas com o fito de causar a perdados rivais. Para estenderem as suas navegações tornaram -se exímios construtores navais. Os seus navios eram quaseredondos e de pouco calado, a fim de poderem navegar junto à praia. Venciam o vento contrário po r meio de velaslargas e grandes remos. Para a guerra construíam navios longos e afilados. Ainda foram os fenícios os primeiros aaproveitarem no mar as observações astronômicas de que os outros povos se serviam para adivinhações.A superioridade dos feníc ios no setor marítimo era reconhecida por todos os demais povos que, ou recorriamdiretamente à utilização de sua Marinha, ou encomendavam a construção de suas frotas nos estaleiros de Tiro e Sidon.Ao que consta, a frota de Salomão bem como a de Semiramis e a de Sesóstris foram construídas nos estaleiros daquelascidades; Assurbanipal valeu-se de uma esquadra fenícia para o transporte de seus exércitos, Nilo acima, na conquista doEgito e os babilônios recorriam aos navios de Sidon para o deslocamento de t ropas ao longo do rio Eufrates. Tambémforam em navios fenícios que os persas procuraram disputar aos gregos o domínio do mar Egeu no decorrer das GuerrasMedas.Embora recente investigação tenha reduzido as exageradas idéias que prevaleciam a respeito da indústria, docomércio e do tráfego dos fenícios, não pode haver dúvida alguma de que, como mestres na navegação, deram grandeimpulso ao tráfego marítimo no Mediterrâneo onde foram os primeiros portadores da cultura, difundindo as invençõesfeitas pelo Egito e pela Ásia. Concentraram igualmente em suas mãos todo o comércio mundial daquela época. Nahistória dos grandes monopólios mercantis, o procedimento dos fenícios foi considerado como exemplar pelo espaço devários séculos.A potência econômica fenícia foi arruinada pela conquista macedônica e pela fundação de Alexandria cerca de332 aC. Cartago, a mais importante de suas colônias, que já possuía o comércio do Mediterrâneo Ocidental, herdou ocomércio fenício. Foi, assim, a Fenícia a primeira nação no m undo antigo a se constituir e evoluir sob a influênciacontínua e direta do mar.122.4) A Civilização (Fenícia) Cartaginesa:A fundação de Cartago é posterior, cerca de três séculos, aos começos da colonização fenícia no Oriente.Pode-se datá-la, sem medo de errar, dos fins do século IX aC.Graças à sua situação geográfica favorável e à intensa atividade comercial exercida por seus habitantes,Cartago tornou-se a mais poderosa das colônias fenícias do Ocidente. Ela era o único grande centro africano ao qualafluíam as caravanas do interior do Continente Negro, de modo que o tráfego incessante a enriqueceu com singularrapidez.Depois que Tiro perdeu a primazia comercial e política em conseqüência do desastroso domínio assírio,Cartago a substituiu na proteção das colônias fenícias e se converteu no centro de um verdadeiro império marítimo ecomercial. No começo do século V aC, sua preponderância era reconhecida pelas comunidades que Tiro e Sidon haviamfundado ao longo da costa do Mediterrâneo Ocidenta l até além das Colunas de Hércules. Cartago exercia hegemonia naSicília Ocidental, na Sardenha, nas Baleares, nas costas meridionais da Espanha e em toda África do Norte até a

Cirenaica. Tanta riqueza fácil ensoberbeceu a classe dirigente que cedeu à tent ação de uma política imperialista, comdano das terras vizinhas, para usufruir em proveito próprio e monopolizar em sua exclusiva vantagem os recursos domundo mediterrâneo ocidental. Os territórios submetidos passaram a constituir não somente pontos de ap oio para oimperialismo marítimo cartaginês, mas também zonas de ocupação e barreiras que abrangiam a bacia ocidental doMediterrâneo. Esse mar formava assim uma espécie de mar fechado, submetido ao domínio ilimitado e ao controlerigoroso dos cartagineses. Os cartagineses tinham por norma atacar e afundar os navios estrangeiros surpreendidos naszonas marítimas reservadas ao seu tráfego.Para atingirem o império absoluto do comércio do Mediterrâneo, os cartagineses fizeram de sua cidade umporto privilegiado. Para ele afluíam todos os produtos transportados dos empórios, colônias e portos estrangeiros.Assim, o porto de Cartago tornou-se o grande mercado do Mediterrâneo Ocidental e o ponto de cruzamento de todas asvias marítimas pelas quais refluíam em seg uida para a periferia as mercadorias importadas. Cartago tomou, por outrolado, medidas enérgicas para guardar no Atlântico, e ao longo de toda a costa mediterrânea da África do Norte, omonopólio do comércio. Se no mar Tirreno, nos golfos de Gênova e de L ião e ao longo da Espanha Oriental ela nãopôde afastar os gregos, conseguiu interditar -lhes o acesso a todas as regiões sobre as quais exercia autoridade política ouhegemonia econômica. Pode-se dizer que a política cartaginesa do monopólio do mar deu res ultados surpreendentes,considerando que os gregos no século V aC não se aventuravam no Mediterrâneo Ocidental.Toda essa série de medidas e o empenho com que foram mantidas demonstram que a política geral de Cartagoparece ter sido, sobretudo, inspirada p or preocupações comerciais. Ao contrário da Roma republicana, negociar era umagrande honra. A aristocracia não se considerava diminuída, consagrando seus recursos e atividades aos afazerescomerciais. Muitos nobres eram armadores ou banqueiros. Cartago fo i uma das cidades antigas onde o comércio foimais poderoso e onde pesou mais pelos destinos da nação. Aníbal, depois da derrota de Zama, parece ter compreendidoisso. Ele esforçou-se por medidas enérgicas para tirar o Estado da tirania dos magnatas financ eiros. Contudo, aintervenção do Estado mostrou-se muito eficaz na organização de expedições de fins comerciais através dos maresainda inexplorados.A esse respeito, convém notar a viagem marítima realizada por Hannon ao longo da costa ocidental da África .Os novos itinerários marítimos descobertos pelos exploradores cartagineses eram mantidos secretos e cuidadosamenteguardados nos arquivos do Estado. A tendência dos cartagineses a reforçarem constantemente seu domínio comercial, acombaterem toda concorrência estrangeira e a dominarem as rotas marítimas também é constatada pelo fato de o EstadoPúnico possuir uma frota mercante e militar inteiramente nacionais, ao contrário das forças de terra, que eramconstituídas por mercenários. Com isso eles queriam evitar que um dia surgissem cidades rivais de Cartago, mesmoentre as cidades fenícias confederadas.Nas vésperas das Guerras Púnicas, o domínio comercial de Cartago, tanto no Mediterrâneo como no Atlântico,era considerável. Para explorar esse domínio, C artago dispunha de um aparelhamento do qual se conhecem certoselementos. A frota mercante era conhecida pelas dimensões de suas unidades, grandes galeras que navegavam a vela e,na falta de vento, a remo, pela habilidade das guarnições e dos comandantes q ue não se contentavam em seguir o litoral,mas enfrentavam o alto-mar, observando os astros. Essa frota encontrava escalas, refúgios, pontos de apoio habilmenteescolhidos e bem aparelhados. As construções navais tinham lá lugar importante, empreendidas e dirigidas algumas porarmadores e outras pelo próprio Estado. Políbio registrou que os cartagineses eram hábeis nessa indústria. A Áfricafornecia-lhes as madeiras. A Espanha o esparto 11 para o aparelho. O aparelhamento dos portos e a organização dosestaleiros e oficinas especiais progrediram juntamente com a navegação. Para conservar as comunicações livres e

manter as colônias na dependência absoluta, grandes frotas de guerra impediram o desembarque de rivais ou inimigos.As forças de Cartago aumentaram ma is ainda nas sucessivas lutas com os etruscos, gregos, massílios efinalmente com os romanos, e era espantosa a rapidez com que suas perdas eram substituídas. A sua base principal era a11 Esparto: planta medicinal, da família das gramíneas (Stipa tenacissima), cujas folhas se empregam no fabrico decestas, cordas, esteiras, etc. ..13própria Cartago. No começo, a frota de guerra era constituída apenas p or trirremes12, cujo tamanho foi aumentado notempo de Alexandre.Por ocasião das guerras púnicas, Cartago construiu navios de cinco e de sete fileiras de remos os quais podiamtransportar cento e vinte soldados e trezentos marinheiros. Contra Siracusa, Ca rtago armou cento e cinqüenta e doisnavios, e contra Roma muitos mais. Para Xerxes consta que Cartago forneceu dois mil grandes navios de transporte porocasião das guerras medas.A política comercial cartaginesa, se foi nociva para os povos marítimos riv ais, como os gregos e romanos, nãoo foi menos nociva para as comunidades fenícias confederadas cujos interesses foram sacrificados aos fins particularesexclusivistas da cidade que as dominava. É fácil compreender como o princípio do mar livre (mare nostr um), pregadopelos romanos durante a luta com o estado cartaginês (Guerras Púnicas), atraiu bem cedo o favor e o apoio daspopulações submetidas ao jugo marítimo de Cartago, com grande dano para esta. Assim, Roma, ao destruir o domíniocartaginês sobre os mares, não somente livrou a classe comerciante italiana de um longo pesadelo, mas abriu as rotasmarítimas do Mediterrâneo a todos os povos que por muito tempo haviam sido oprimidos.Qualquer que sejam as lacunas de nosso conhecimento sobre o comércio pún ico, não é menos certo que otráfego, sobretudo marítimo, foi o elemento mais importante da economia cartaginesa. Foi graças ao intercâmbio queCartago teve prosperidade; foi pelo comércio que desempenhou papel proeminente na história do MediterrâneoOcidental, foi o comércio que lhe deu, entre as grandes cidades do mundo antigo, sua fisionomia original.2.5) A Civilização Grega:Uma das características físicas fundamentais da Grécia é a íntima penetração entre o mar e a terra. Enquantopelos golfos sumamente ramificados que oferecem admiráveis ancoradouros, o mar penetra profundamente no paísmontanhoso, a terra firme, por sua vez, em incontáveis ilhas e penínsulas, avança no elemento líquido. Por outro lado, aGrécia sempre foi um país de escassa extens ão, com solo pobre e difícil à comunicação interna.A civilização grega se concentrou no sul da península balcânica, nas ilhas do mar Egeu e no litoral da ÁsiaMenor. A origem da civilização grega está intimamente ligada a ilha de Creta, no sul do mar Eg eu. O relevo e oisolamento das localidades facilitaram a organização de cidades -estados autônomas.No século XV aC uma onda invasora formada pelos aqueus e, posteriormente, pelos dórios, eólios e jônios,habitantes do norte da península balcânica. Esses povos fazem parte do grupo lingüístico indo -europeu que formam estasociedade. As invasões dórias impuseram um violento domínio, forçando a população a um processo que ficouconhecido como Primeira Diáspora Grega, retirando grande parte da população grega do continente para as ilhas,favorecendo o contato marítimo destas comunidades e levando ao atraso as comunidades continentais, obrigando adeixarem a vida urbana e comercial, dedicando -se as atividades rurais.O baixo rendimento da agricultura grega torno u na antiguidade a importação de trigo em muitas cidades,particularmente em Atenas, uma necessidade de primeira ordem. A produção de cereais do território atenienserepresentava anualmente cerca de um terço das necessidades de sua população. Nos anos de m á colheita, ela nem issoatingia. O que faltava era importado quase exclusivamente por via marítima e provinha do Ponto (Ponto Euxino ou marNegro), do Egito, da Sicília e da Líbia.A continuidade da expansão demográfica e a permanente escassez de terras n a Grécia fizeram com que osexcedentes populacionais balcânicos buscassem outras áreas para sua sobrevivência, em um processo de colonizaçãogrega na península balcânica e no mar Negro, saindo das ilhas e passando para o continente, sendo chamado esse

processo de Segunda Diáspora Grega.Para atender a esse suprimento indispensável, os atenienses trocavam o azeite da Ática pelos cereais da Cítia.Para colocar o seu azeite no mercado cita, tiveram de envasilhá -lo em ânforas e embarcá-lo para o além-mar. Essasatividades é que deram origem às olarias e à Marinha Mercante da Ática. Face à pobreza do solo, compreende -setambém que a pesca tenha assumido um papel importante na vida grega. Ela se tornou a ocupação habitual denumerosas populações marítimas, não somente na Grécia propriamente dita, mas no golfo de Taranto e nas costas daSicília, a oeste, e nos Dardanelos, na Propôntida e no Bósforo, a nordeste.Ao lado dos alimentos vegetais e das carnes fornecidas pelo pastoreio, o peixe fresco, salgado ou secotornou-se um dos pratos freqüentes e preferidos dos gregos.A insuficiência dos recursos naturais do solo e as possibilidades agrícolas muito limitadas compeliram o povoateniense a procurar na indústria e no comércio marítimo seus principais recursos econôm icos. A par da pobreza dosolo, outras causas, sem dúvida, devem ter concorrido para a expansão grega no Mediterrâneo. Tudo indica, porém, tersido essa a razão preponderante. Aproveitando a experiência adquirida na pesca e no tráfego marítimo, do século I Xmais ou menos até o fim do século VII aC, os gregos espalharam -se em todos os sentidos no Mediterrâneo. Fundaramnumerosas colônias no Mediterrâneo Oriental e no Mediterrâneo Central; pelos Dardanelos e o Bósforo, atingiram oPonto Euxino (mar Negro); penetraram além do estreito de Messina no Mediterrâneo Ocidental. A Grécia propriamentedita, antes confinada na parte meridional da península dos Bálcãs, foi acrescentada, entre outros territórios, a Gréciaasiática que se ocupava do litoral ocidental da Ás ia Menor, e a Grande Grécia, cujas cidades se agrupavam no sul da12 Triremes: embarcações com três ordens de remo de cada lado do costado. O máximo que se conseguiu produzir foramas embarcações de sete ordens de remo, mas as mais utilizadas foram as trirremes e qüinqüirremes.14Itália e na maior parte na Sicília. O mar Egeu e o mar Jônio foram incluídos ao mundo helênico 13. Se a penúria da terra,resultado de circunstâncias diversas, determinou as primeiras partidas de colonos gregos, mais tarde, progressivamente,outros fatores tiveram papel importante no progresso da expansão helênica. A necessidade no começo, depois aexperiência e o gosto da navegação, encorajaram os gregos para a vida marítima. Então, a função d o mar na vidanacional dos gregos adquiriu toda a sua importância. Era pelo mar, e só por ele, que as colônias se comunicavam com amãe pátria. Sua independência, ao mesmo tempo política e econômica, a salvaguarda mesmo de sua existência, exigiuuma marinha poderosa. Corinto, Cádiz de Eubra, Mileto, Fócida, Rodes, Siracusa, Taranto e Marselha armavam, bemantes que Atenas se tornasse a rainha dos mares helênicos, frotas numerosas de comércio e guerra.Assim, os helenos, ao mesmo tempo em que ocupavam fora de seu país de origem, novas terras, quase todasricas, criavam em muitas paragens longínquas centros de influência e de negócios e tomavam posse do mar queseparava e ligava simultaneamente toda as partes do mundo grego. Essa supremacia das esquadras nas rotas marítimasteve por efeito subtrair a economia grega ao declínio antes inconteste dos fenícios. Se antes, nas baías gregas, osfenícios desembarcavam suas mercadorias, que eram trocadas pelos produtos locais, ao que parece mais seguidamentepor gado, depois foram os próprios marinheiros gregos que levaram ao Egito, à Síria, à Ásia Menor, e aos povos daEuropa, alguns civilizados como os etruscos, outros ainda atrasados como os citas, os gauleses e os iberos, os objetosmanufaturados, as obras de arte, tecidos, armas, jóias e vasos pintados que os bárbaros tinham ânsia de possuir.Paulatinamente, os fenícios, antigos senhores do tráfego marítimo do Oriente para o Ocidente, foram repelidos pelosgregos para fora do mar Egeu, do Ponto Euxino e do mar Jônio , não guardando a supremacia naval a não ser na costa daÁfrica e oeste do Grande Syrte e nas paragens das Colunas de Hércules (Cartago).O mar Tirreno assistiu a luta dos gregos contra os cartagineses e etruscos. A ardente rivalidade das potências

marítimas e coloniais deu então um vivo desenvolvimento à navegação. Depois que os fenícios foram afastados pelosgregos dos mares e dos mercados do Mediterrâneo, as indústrias helênicas encontraram saída e clientela. Para seaproveitarem de alguns e satisfazerem a outros, os gregos tiveram que se desenvolver. Produzia -se então entre aindústria e o comércio, sobretudo marítimo, um duplo efeito de ação: o comércio tendo necessidade de suprimentosfornecidos pela indústria; a indústria devendo sua prosperidade ao comércio.O desenvolvimento do tráfego marítimo acarretou, logicamente, a prosperidade das cidades portuárias. Noséculo V aC, o Pireu havia -se transformado no centro de um sistema de vias marítimas, podendo -se dizer quase delinhas de navegação regular. Para o nordeste seguiam as linhas de cabotagem que serviam as colônias da Macedônia, daCaicídia, da costa da Trácia e à grande rota dos estreitos do Ponto Euxino, de importância capital para Atenas, poisassegurava em grande parte seu abastecimento de cer eais e de peixe seco. Para leste, através do mar Egeu e dasCícladas os navios que saíam do Pireu ganhavam as ilhas e os principais portos da Ásia Menor, Lesbos, Chios, Samos,Fócida, Smirna, Éfeso e Mileto. Em direção ao sudeste, os gregos saíam do mar Eg eu entre Creta e Rodes, iam aChipre, aos portos fenícios e ao empório ativo e próspero de Neucrates. O mar Jônio e o Mediterrâneo Central nãoformavam uma bacia menos propícia à expansão comercial. Depois de dobrarem os pontos meridionais do Peloponeso,os navegantes podiam rumar direto para oeste em direção à Sicília, ou aproar a noroeste para atingirem a GrandeGrécia, ou penetrarem no Adriático e avançarem até Hadria e o país das Bocas do Pó 14. Mais longe que a GrandeGrécia, Marselha e seus vizinhos, es calonados entre Nice e Rosas, marcavam os pontos extremos do comércio helênicoa oeste. Tal atividade marítima não se explicaria se a arte de navegar e a organização material dos portos não tivessematingido certo desenvolvimento. Os navios gregos dessa ép oca já podiam carregar cerca de 250 toneladas 15 enavegavam geralmente à vela, recorrendo aos remos apenas em circunstâncias excepcionais. A utilização da velasubordinou a navegação ao regime dos ventos, principalmente no mar Egeu.Para uma frota mercante numerosa e composta de unidades relativamente importantes eram precisos portosespecialmente aparelhados. Docas foram cavadas e molhes construídos a fim de protegerem os navios ancorados dasvagas de alto-mar e facilitar a descarga de mercadorias. Pouco se sabe acerca das frotas de guerra gregas antes dasGuerras Medas. Elas não deveriam ser desprezíveis, pois de outra forma é difícil explicar a expulsão dos fenícios deregiões importantes do Mediterrâneo e a expansão marítima helênica numa época de piratar ia generalizada. É prováveltambém que a Marinha de Guerra grega não estivesse em bom estado por ocasião da 1ª Guerra Meda. Com efeito, nãose sabe de nenhum engajamento naval nessa primeira fase da luta, que foi, ao que tudo consta, travada em terra, tend oos gregos deixado o Exército persa cruzar impunemente os mares. Entre as duas primeiras Guerras Medas também aGrécia muito sofreu com os ataques dos piratas eginetas, o que parece indicar a sua fraqueza nos mares. Têm -sereferências mais concretas acerc a das frotas de guerra helenas a partir desse período.A primeira das grandes guerras dos gregos contra os persas - conhecidas como Guerras Médicas ou Medas,devido ao nome de um dos povos constituintes do Império Persa, os medos - ocorreu em 490 aC. Houve anteriormenteuma tentativa de invasão onde as embarcações que saíram em direção à Grécia foram pegas por uma tempestade emuitas foram destruídas, forçando os persas a retornarem a sua base na Fenícia. Os persas liderados por Dario Idesembarcaram na Grécia, mas foram surpreendidos pelo exército ateniense na planície de Maratona e, apesar de sua13 Em referência a Helena, uma divindade mãe, protetora e geradora de todos os indivíduos dessa sociedade decaracterísticas nítidas matriarcais.14 Rio Pó, principal rio da parte oriental da Itália onde floresceu uma das principais comunidad es pertencentes a estepovo, fundando a cidade de Veneza, conhecida como La Serenissima.15 Tonelada em referência a tonel, indicando a quantidade de barris que um navio podia transportar e não a medida depeso atualmente registrada para 1000Kg.15

superioridade numérica, foram derrotados pelos gregos. O prestígio ateniense cresceu tremendamente após essa vitória,e a cidade começou a se destacar entre as demais pólis gregas. Precavendo-se contra um possível novo ataque persa,após a primeira Guerra Médica, os atenienses procuraram fortalecer sua marinha de guerra, já que o cenário das lutasseria o mar Egeu.A segunda ofensiva persa iniciou-se em 480 aC, quando o imperador Xerxes partiu com aproximadamente 100mil homens em direção à Grécia. Os gregos uniram-se contra os invasores, mas, apesar do sucesso espartano emretardar o avanço do inimigo no desfiladeiro de Termópilas, os persas conseguiram invadir e s aquear Atenas.Apesar de vitoriosa, a campanha persa acabou se enfraquecendo, na medida em que suas tropas não eramfacilmente guarnecidas por suprimentos e reforços (logística). A derrota na grande batalha naval de Salamina, diante deAtenas, selou o destino dos persas, que, mais uma vez, retiraram-se sem terem conseguido tomar a Grécia. A batalhanaval de Salamina é a primeira batalha naval de larga envergadura registrada na história humana.E provável que a pressão militar exercida pelos persas houvesse estimulado a sociedade helênica a forjar parasua própria defesa o poderoso instrumento militar que foi a Marinha ateniense. Um vulto histórico, Temístocles,distinguiu-se então no estabelecimento da supremacia naval ateniense. Assim se refere Plutarco à é poca mais decisivada história grega: Os atenienses encaravam a derrota dos bárbaros em Maratona como o fim da guerra, mas Temístoclespensava, ao contrário, que ela era apenas o prelúdio de maiores combates. Prevendo de longe os acontecimentos, ele sepreparava para assegurar, desde então, a salvação da Grécia, com o apoio de seus concidadãos. Com esse fito, seuprimeiro cuidado foi ousar propor aos atenienses efetuar a construção de galeras com três ordens de remos,aproveitando as rendas provenientes das minas de prata de Laurium. Esta nova frota deveria fornecer os meios deresistir aos eginetas que, senhores dos mares, o cobriam com seus numerosos navios e faziam à Grécia a guerra maisterrível que ela então sustentara. Construíram-se, com a prata das minas, 100 galeras que combateram posteriormentecontra Xerxes. Desde esse momento, ele fixou a vista dos atenienses sobre o mar e soube induzi -los a formar umaconsiderável marinha, mostrando-lhes que em terra não estavam em condições de resistir nem mesmo aos seus vizinhos,mas que, ao contrário, com forças navais poderiam repelir os bárbaros e governar o resto da Grécia. Foi então que aGrécia se salvou graças ao mar, e seus navios contribuíram para reconstruir Atenas que havia sido inteiramentedestruída.Quando, dez anos depois da batalha de Maratona, os persas novamente intentaram a invasão da Grécia, osnavios, por cuja construção Temístocles havia pugnado, saíram a dar combate à numerosa frota inimiga. Os gregosobtiveram um primeiro sucesso na batalh a naval de Artemisium, porém a batalha decisiva foi o grande encontro navalde Salamina (480 aC), que testemunhou a total destruição da gigantesca, mas heterogênea armada de Xerxes pela frotados atenienses e de seus aliados admiravelmente bem coordenados, embora inferiores em número a menos de um terçode seus adversários. A ameaça de perder a segurança de suas comunicações marítimas obrigou os persas, depois dabatalha de Salamina, a baterem em retirada apesar da enorme superioridade de forças de que disp unham. Após otérmino da Segunda Guerra Meda, Temístocles fez fortificar o Pireu porque havia reconhecido a comodidade de seuporto. Nisso seguiu uma política inteiramente oposta à dos antigos reis de Atenas, os quais tinham tido a intenção deafastarem seus súditos do comércio marítimo e de fazê -los abandonar a navegação para se dedicarem à agricultura. Ahistória da Grécia foi em seguida grandemente decidida por seus marinheiros. Sob o comando de Cimon, a frota gregafoi primeiramente dirigida contra Chip re e Bizâncio a fim se perseguir os persas. Chipre foi libertada e Bizânciotomada. Por fim, todas as colônias gregas da Ásia Menor recobraram a liberdade. Como Temístocles previra, o impériodo mar acarretara o da terra, e os gregos, se bem que divididos e minados por discórdias internas, conservaram suaindependência durante séculos, graças ao poderio marítimo que souberam manter no Mediterrâneo Oriental.Durante a guerra, as pólis gregas formalizaram uma aliança conhecida como Liga de Delos. Tratava -se

basicamente de uma união militar contra os persas e adquiriu esse nome porque as cidades membros da Liga pagavamtributos e impostos que eram depositados na ilha de Delos, a fim de sustentar a frota e os exércitos conjuntos de todas ascidades-Estado. Atenas, com seu prestígio e poderio econômico, logo passou a administrar os recursos de Delos,tornando-se líder da Liga.Após a expulsão dos persas, os gregos perseguiram-nos até a Ásia Menor, libertando diversas cidades gregasda região, impondo-lhes um tratado de paz (Paz de Cimon, 449 aC) e consolidando o domínio grego sobre todo oMediterrâneo oriental.Ao final das guerras contra os persas, os atenienses insistiram na manutenção da Liga de Delos e, portanto, nacobrança de tributos. Tal iniciativa gerou a insatisfação das demais cidades gregas, que, todavia, poucos podiam fazercontra o poderio militar ateniense. Chegava ao apogeu o imperialismo ateniense, ou seja, o período em que Atenaspassou a dominar a Grécia Antiga, subordinando a maior parte das cida des-Estado.Os atenienses passaram a interferir na vida política e social das outras pólis, transferindo o tesouro de Delospara Atenas e freqüentemente utilizando a força para manter a Grécia subjugada. O controle dos recursos de outrascidades abriu caminho para o apogeu ateniense, e o século V aC, particularmente entre os anos de 461 aC e 429 aC,ficou conhecido como a Idade de Ouro de Atenas, quando a cidade era dirigida por Péricles.A insatisfação contra o domínio ateniense existia não apenas nas cida des da Liga de Delos, mas também entreas cidades aristocráticas que não se alinhavam com Atenas, tendo Esparta à frente delas. Estas logo se organizaram emaliança, formando a Liga do Peloponeso ou Liga Espartana.O fim primitivo da Liga era a proteção de uma posterior agressão persa. Como a ameaça persa desvaneceu -se,a Liga tendeu a se dissolver, mas Atenas impediu sua desaparição e gradualmente converteu a confederação numImpério Marítimo, império esse mantido em sujeição pelo poderio naval. Essa trans formação conduziu, por fim, àchamada Guerra do Peloponeso entre Atenas, império marítimo, e Esparta, potência terrestre, cada uma com os16respectivos aliados. Enquanto os atenienses conservaram o domínio do mar, permaneceram invencíveis. Em 431 aC,Atenas e Esparta entraram em guerra, arrastando as demais pólis para o conflito que ficaria conhecido como Guerra doPeloponeso. Atenas tinha o poderio marítimo, enquanto os exércitos de Esparta detinham o domínio terrestre,devastando os campos da Ática e cercan do Atenas. Durante anos espartanos e atenienses enfrentaram -se, encerrando oconflito em 404 aC, quando Esparta venceu.Dois grandes desastres: o primeiro em Siracusa (413 aC) e o segundo em Egos -Potamos (405 aC) causaram suaperda, e seu curto império per eceu. Vitoriosos, os espartanos conduziram seus navios ao Pireu e conquistaram Atenas,assumindo a hegemonia da Grécia. Esparta foi assim a primeira potência nitidamente terrestre cujos guerreiros bemaquilataram a importância da Marinha na luta contra o i nimigo cuja principal fonte de recursos residia no mar.Entre os séculos III aC e II aC, a Grécia esteve sob domínio da Macedônia, caracterizando o que ficouconhecido como período helenístico. Inicialmente governados por Felipe II, vencedor de Queronéia, os macedônios nãose limitaram à conquista da Grécia, logo partindo para o Oriente. O principal responsável por essas grandiosasconquistas foi Alexandre, o Grande, filho de Felipe II.Educado por Aristóteles, Alexandre assimilou valores da cultura grega e , após sufocar revoltas internas, partiupara a expansão territorial, tomando a Ásia Menor, a Pérsia e chegando até as margens do rio Indo, na índia. Morreuprecocemente, aos 33 anos de idade (323 aC), e o grande império que conquistara não sobreviveu ao s eudesaparecimento. As divisões políticas e as constantes lutas internas levaram ao enfraquecimento do ImpérioMacedônico e à posterior ocupação pelos romanos.A grande obra de Alexandre da Macedônia no plano cultural sobreviveu ao esfacelamento de seu imp érioterritorial. O movimento expansionista promovido por Alexandre foi responsável pela difusão da cultura grega peloOriente, fundando cidades (várias vezes batizadas com o nome de Alexandria) que se tornaram verdadeiros centros dedifusão da cultura grega no Oriente. Entre estas cidades a mais notável e a que mais se destacou foi Alexandria noEgito, cidade importante para as culturas egípcia, grega e romana, entre outras. Nesse contexto, elementos gregosacabaram-se fundindo com as culturas locais. Esse processo foi chamado de helenismo e a cultura grega mesclada a

elementos orientais deu origem à cultura helenística, numa referência ao nome como os gregos chamavam a si mesmos- helenos.Pelos séculos afora, sob o domínio romano ou constituindo parte do Império Bizantino, os gregos jamaisdeixaram seus hábitos marítimo-comerciais. Rodes, Delos e Corinto foram, depois de Atenas, verdadeiros centros docomércio mundial numa época em que o domínio romano já se estendia por todas as praias do Mediterrâneo.Tal como a Fenícia, toda a história grega acha -se intimamente ligada aos acontecimentos que se desenrolaramnas águas do Mediterrâneo.2.6) A civilização Romana:Na segunda metade do século V aC, Roma era ainda uma república aristocrática de camponeses. A maior partedas famílias possuía um pequeno campo. Toda a família habitava pequenas cabanas e cultivavam os camposinteiramente com trigais, deixando uma pequena parte para fazê -lo com parreiras e oliveiras. Suas habitações erampequenas e de aspecto pobr e, sua alimentação era frugal, as vestimentas muito simples. Possuíam poucos metaispreciosos e faziam quase tudo em casa, inclusive o pão e as vestimentas para os escravos e as mulheres. Assim, o queRoma comprava no exterior era pouco. Exportava poucas m ercadorias: madeira para a construção de navios e sal.Reunindo ao seu redor, numa confederação, as pequenas repúblicas rurais, nas quais o povo falava a mesmalíngua latina, Roma pôde elevar -se pouco a pouco acima das outras repúblicas da península itálic a.Na segunda metade do quinto século e nas primeiras décadas do quarto século AC, Roma combateu, à cabeçada confederação latina, os oscos, volscos e etruscos numa série de guerras que lhe permitiram estabelecer quatro novastribos no seu território aumentado. Fortificada por esses primeiros sucessos, Roma foi em seguida levada a guerreardurante o fim do quarto século e a primeira metade do terceiro os sanitas, os etruscos, os sabinos, os membros rebeldesda confederação latina, os gauleses da costa do A driático e as milícias gregas de Pirro vindas de Taranto. Romaadquiriu, em suma, nessas guerras a alta soberania sobre toda a Itália. Mais importante, porém, que as conseqüênciaspolíticas foram as conseqüências econômicas e sociais dessas guerras.A posse de uma linha da costa, desenvolvida como a que circunda a península, desde a foz do Arno, no marTirreno, até o litoral de Umbria, passando pelo estreito de Messina, dobrou a importância do Estado romano comopotência marítima que substituiu os etruscos e os gregos, e que deveria bem cedo entrar em luta com o Estado deCartago. Os romanos, a partir de então, passaram a participar do comércio do mundo e a procurar os refinamentos dacivilização helênica melhor conhecida por causa das trocas mais freqüente s com as colônias gregas da Itália meridional.Os contatos com o mar e a posse de vários portos trouxeram para Roma a necessidade de possuir uma frotamercante. Datam dessa época vários tratados firmados entre Roma e Cartago e as colônias gregas acerca da s zonas denavegação para os respectivos navios. Os navios romanos já singravam, portanto, o mar Tirreno e cruzavam o estreitode Messina. Mas esse enriquecimento não enfraqueceu absolutamente as tradições e não foi seguido imediatamente deuma mudança de costumes. Submetida à proteção de uma nobreza que defendia os antigos costumes rústicos, a plebeguardou também os hábitos ancestrais, permanecendo uma plebe valente e fecunda de camponeses.No quarto e no terceiro séculos aC, Roma pôde espalhar na Itália não somente sua influência e suas leis, mastambém sua raça e sua língua. A criação de colônias reafirmou o caráter agrícola da política de Roma. No decorrerdesse período o Estado esforçou-se por criar uma base econômica essencialmente terrestre, fundada na pequenapropriedade rural, com o fito de assegurar a existência de uma massa demográfica de tendências conservadoras das17quais, ao mesmo tempo, as necessidades mais imediatas fossem satisfeitas. A massa camponesa prestava -se tanto àsfadigas da vida do campo como às dos deveres militares O soldo de guerra e os donativos dos generais após a vitória erapara eles um lucro ajuntado ao da terra, e a guerra, uma indústria complementar da agricultura. Foi com essescamponeses, que eram ao mesmo tempo soldados , que a nobreza romana pôde vencer uma primeira vez Cartago, agrande potência mercantil, cuja expansão comercial acabou por vir chocar -se com a expansão militar e agrícola deRoma.

Entretanto, as lutas sociais ganhariam nova dimensão no contexto da expans ão territorial, provocandotransformações econômicas profundas, a ponto de abalar de forma decisiva a estabilidade republicana. De fato, aRepública romana era agressiva, ou seja, colocava em prática ampla política de expansão territorial. Entre os séculos VaC e III aC, Roma conquistou toda a península Itálica. O apogeu dessas conquistas ocorreu com as Guerras Púnicas,contra Cartago.Essa cidade, fundada pelos fenícios, desde a decadência grega controlava praticamente todo o comércio nabacia do Mediterrâneo. Sua situação geográfica privilegiada, uma vez que estava situada no norte da África e dominavaa ilha da Sicília, contribuiu para o monopólio da ligação do Mediterrâneo ocidental com o oriental pelos cartagineses.Já os romanos viam a Sicília como um prolongamento da península e tinham interesse em suas terras férteis.Dessa forma, o choque de imperialismos entre Roma e Cartago acabou por desencadear a guerra. Entre 264 aC e 146aC, ocorreram três grandes guerras, que culminaram com a destruição de Car tago e o controle romano de vastosterritórios espalhados por todo o Mediterrâneo.Cartago, rica por seu comércio, dispondo de uma frota poderosa e dona das três grandes ilhas itálicas, foi oinimigo mais terrível que Roma teve em toda a sua história. A pr imeira guerra Púnica durou cerca de vinte e três anos(264-241 aC) e se desenrolou quase toda na Sicília. Os romanos alcançaram em terra sucessivos êxitos nos anos iniciaisdo conflito, ocupando uma série de praças fortes inimigas, como os cartagineses, do nos do mar, reconquistavamfacilmente as cidades costeiras. Bem cedo os romanos compreenderam que era impossível conquistar e conservar aSicília, a costa e as cidades contra a frota cartaginesa, sem terem navios para se opor.Uma galera cartaginesa naufra gada na costa romana serviu de modelo a copiar, e as encostas dos Apeninosforneceram a madeira necessária. Sessenta dias foram suficientes para ser construído cento e trinta navios de madeiraverde e as guarnições serem treinadas na manobra. A fim de neut ralizar a habilidade superior dos adversários, foraminventados os "corvos", espécie de pontes com grampos que prendiam um navio ao outro, os quais reduziam a luta acombates corpo a corpo como em terra firme. Assim se conta a história miraculosa, mas é ma is provável que osromanos também tenham recebido uma esquadra de Hieron, poderoso no mar e desejoso de conservar seus domínios naSicília. Seja como for, o Cônsul Duílio alcançou perto de Lipari a primeira vitória marítima. Feriram -se nos anosseguintes várias batalhas navais, tais como as de Mile, Cnemo, Trepano e Egatas, em que a vitória favoreceu em geralaos romanos. Segundo os historiadores antigos, em alguns desses encontros havia mais de trezentos navios combatendode cada lado e ambas as facções sofreram perdas prodigiosas. Durante a Primeira Guerra Púnica - só do lado romano,não menos de setecentas qüinqüirremes (cinco ordens de remos) teriam sido afundadas, quer em batalhas, quer emtempestades.Foi assim que, realizando talvez a melhor obra de t oda a sua grandiosa história, o povo romano,eminentemente ligado a terra, dedicado à agricultura e à vida pastoril, criou uma forca naval, tão bem organizada,armada e comandada, que conquistou, em pouco tempo, o domínio do mar da Sicília e obrigou Aníbal (na SegundaGuerra Púnica) a dar a longa volta pela Espanha e pela Gália para chegar à Itália.No fim da Primeira Guerra Púnica, Roma procurou instalar -se por sua vez no além-mar. A política econômicado Estado romano afastou-se do seu fim tradicional e adotou novas diretrizes. Com essa guerra começou uma novahistória de Roma e do mundo, sobretudo porque acarretou na Itália o aparecimento da era mercantil na antiga sociedadeagrícola, aristocrática e guerreira. Com a conquista da Sicília, o comércio dessa ilha, pelo qual muito azeite e cereaiseram exportados, passou dos cartagineses para os mercadores italianos e romanos, lhes aumentado o número e ariqueza.A aristocracia romana, que não tinha até então desejado possuir senão terras, começou também a imi tar anobreza cartaginesa que ela havia vencido e que se compunha de negociantes.Também ela começou a tentar especulações, a colocar no mar pequenas flotilhas, a fazer negócios com asexportações da Sicília e a viver no luxo. Muitos romanos que tinham v isitado os países estrangeiros como soldados ou

fornecedores dos exércitos e que tinham avaliado suas possibilidades, foram induzidos ao comércio pela abundância decapital, pelo consumo crescente de produtos asiáticos na Itália e pelo poder de Roma no Med iterrâneo. Muitos delesvenderam os campos de seus pais e compraram um navio. Construíram -se muitos pequenos estaleiros na costa italiana,e as florestas públicas da Sila, de onde se retirava a resina para os navios, foram alugadas por grandes somas. Nãohouve membro da nobreza senatorial que não participasse dos ganhos do comércio marítimo, emprestando aos cidadãosromanos ou aos libertos os capitais necessários às suas empresas; à expansão militar sucedeu a expansão mercantil.Roma cessou de ser a capital de um povo essencialmente agrícola em que a riqueza era fundada principalmentena propriedade rural e nos recursos agrícolas. Tornou -se a aglomeração tumultuosa onde a indústria, o comércio, otráfico e o dinheiro adquiriram uma importância antes desconhe cida. Dessa lenta decomposição de uma sociedadeguerreira, agrícola e aristocrática, que havia começado quando Roma já tinha conquistado a hegemonia militar noMediterrâneo, nasceu o que se pode chamar o verdadeiro imperialismo romano. Essa política foi in augurada pelaterceira declaração de guerra a Cartago (149 aC) e pela conquista da Macedônia e da Grécia. Após uma pérfidadeclaração de guerra, depois de vergonhosas derrotas, depois de muitos esforços e de três anos de guerra, Cartago foiincendiada por Cipião Emiliano, e seu comércio passou para as mãos dos mercadores romanos.18A vitória sobre Cartago fez Roma senhora do Mediterrâneo Ocidental. A conquista da Grécia, a derrota dossoberanos orientais Antíocus, Mitridate e mais tarde Cleópatra asseguraram sua hegemonia nos mares orientais.Entrementes, a profunda mudança operada na estrutura social e econômica da Itália colocou a população nadependência estreita das comunicações marítimas.A cultura de cereais, a qual durante tanto tempo se tinham, sobretu do, consagrado os camponeses italianos,caiu cada vez mais em decadência. Não sendo a produção local bastante copiosa para atender a todas as exigências, foinecessário procurar fora do Lácio o suprimento de farinha indispensável à alimentação das cidades. A anexação aoEstado romano da Sicília, da Sardenha e, mais tarde, dos territórios de Cartago, da Ásia Menor, e enfim do Egitofavoreceu uma importação considerável de cereais feita através dos portos da foz do rio Tibre. Calcula -se que nessaépoca Roma importasse 20 milhões de bushels de trigo do Egito e de outras partes da África.Considerando que a viagem de Alexandria a Óstia levava em média 25 dias e que cada libúrnia transportava nomáximo 250 toneladas, bem se pode avaliar o número elevado de navios para atender a tal importação. Após adestruição de Cartago Roma pôde acreditar estar senhora incontestável de toda a extensão do mar Interior e foi apenas agrande república móvel dos piratas que pôs em atividade os estaleiros navais. A nascença mesmo do poderio dos piratasprova a que ponto Roma julgava -se segura em todas as áreas do Mediterrâneo. Exagerando sua quietude, não vendonenhum Estado cuja Marinha a pudesse ameaçar, não tendo a considerar senão os corsários habituais, o Governosenatorial tinha, por incúria, deixado suas frotas ao abandono. Então os bandidos da Cilícia e da Fenícia entraram emação, pondo a saque numerosas cidades costeiras, aproveitando as ocasiões propiciadas por qualquer grave conflito,como o da guerra contra Mitridate. Os piratas dispunham de arsenais, portos, vigias, remadores e pilotos hábeis, além denavios de todas as espécies, tão bons quanto temíveis.O comércio romano experimentou dificuldades crescentes. Em particular, os comboios de trigo, tãoindispensáveis à Itália, foram quase paralisados pela ação dos piratas. Face ao perigo, a Marinha romana foi restauradaem regime de urgência, e Pompeu teve à sua disposição 500 navios, 120.000 homens, todos os recursos do tesouronacional, conforme sua solicitação, e até o Comando de todas as margens até 70 km para o interior, a fim de combateros piratas nas suas bases. Uma guerra curta, mas violenta, libertou o Mediterrâneo da ameaça pirata, permanecendoapenas remanescentes dos antigos ladrões dos mares em regiões afastadas .Na medida em que a expansão territorial prosseguia jovens generais se destacavam, tanto na arena políticaquanto na militar. Em 60 aC, o Senado elegeu uma verdadeira junta militar. O primeiro triunvirato era formado pelosgenerais Júlio César, Pompeu e Crasso, que dividiram entre si os territórios controlados por Roma. A morte de Crasso

rompeu o equilíbrio, levando Pompeu e Júlio César ao choque armado na disputa pelo poder, que resultou na vitória deCésar.Nos anos que se seguiram, a Marinha romana dese mpenhou papel saliente nos acontecimentos. Em todas asguerras civis do fim da República, a vitória pertenceu aos que se deslocavam mais facilmente e mais rapidamente de umextremo ao outro do Mediterrâneo. Foi essa uma das grandes vantagens com que contou César. A posse de forças navaisimportantes permitiu ao Sexto Pompeu realizar operações perigosas contra o Triunvirato, mesmo próximo à Itália, asquais só não foram decisivas devido à perseverança de Otávio e aos talentos de Agripa.Proclamando-se ditador vitalício, centralizando todo o poder político em suas mãos e, portanto, enfraquecendoo Senado, Júlio César acabou sendo vítima de uma conspiração da elite e foi assassinado nas escadarias do próprioedifício do Senado. Sua morte causou profunda comoção popular e o retorno das lutas civis, que só foram acalmadascom o surgimento de um segundo triunvirato. Seus membros, Marco Antônio, Otávio e Lépido, também oficiais doexército, logo também entraram em conflito entre si.Enfim, a luta suprema que presidi u e fundou o regime imperial foi decidida em uma batalha no mar, a que serealizou em Ácio ou Actium, entre as esquadras de Otávio e de Antônio. Em 31 aC. Otávio conseguiu derrotar seusrivais, recebendo do Senado os títulos de Princeps (primeiro cidadão) e Imperator (o supremo), arrogando para si otítulo de Augustus (divino). Concentrando os poderes em suas mãos e realizando uma série de reformas. Otávioinaugurou o Império Romano.Augusto não fechou os olhos às lições dos acontecimentos. Logo que outros cuidados o permitiram,estabeleceu esquadras permanentes, tanto para consolidar seu poder como para garantir os comboios de trigonecessários à alimentação da Itália. Na época de Augusto, as principais esquadras romanas tinham base em Ravenna eMisenum. Havia, além do mais, espalhados pelo Império, esquadrões em Fórum Julei, Bocas do Orontes, Alexandria,Parpathus (entre Creta e Rodes), Aquiléia (mar Adriático), no mar Negro e na Grã -Bretanha. Flotilhas fluviaisestacionavam no Reno, no Danúbio e até no Euf rates. Devido aos duradouros distúrbios civis, a pirataria tornou -se umaatividade esporádica; muitos desses bandidos, dálmatas ou sicilianos, alistaram -se no serviço do Império, e a segurançado mar foi restabelecida e não foi perturbada durante dois sécu los, salvo em certas partes do Euxino (mar Negro), ondeRoma tinha poucos interesses.O controle do Mediterrâneo (Mare Nostrum, como passou a ser chamado pelos romanos após a abertura feita apartir da destituição de Cartago) permitiu a Roma dispor durante séculos de uma grande rota central entre suasprovíncias e, transportando suas legiões por essa via, realizar concentrações de forças, rápidas para a época, nos pontosmais importantes. As rotas marítimas favoreceram os deslocamentos estratégicos, que por seu turno asseguravam agrandeza e o poderio de Roma.A partir do século III da era cristã, a civilização romana entra em crise, caracterizando assim o Baixo Império.A expansão territorial, base de toda a riqueza e estabilidade política e social do impér io, foi-se esgotando. Esseesgotamento ocorreu em virtude, entre outras coisas, da própria dimensão territorial alcançada, da pressão dos povos19dominados e vizinhos, e da distância, custos e inviabilidade de novas anexações, na medida em que surgiam obstác ulosnaturais detendo os romanos, desde os desertos da África e do Oriente Médio até as florestas do Europa Central.A interrupção da expansão territorial para a manutenção e o fortalecimento das fronteiras levou à escassez demão-de-obra. Na medida em que novos escravos não eram capturados, entrou em crise a economia escravista romana.Ao mesmo tempo os custos das estruturas imperiais, como as militares e administrativas, continuavam exaurindo opoderio romano, reativando disputas entre chefes militares e acelerando a crise imperial. Paralelamente, crescia emmeio à população cativa a adesão a uma nova crença: o cristianismo, que surgira durante o governo de Otávio Augustoe logo passou a se expandir dentro das fronteiras do império. O espiritualismo cris tão, isto é, a crença na vida após a

morte, chocava-se com a tradicional religião romana - inspirada na grega -, essencialmente prática e ligada à obtençãode vantagens concretas e imediatas.Para os escravos o espiritualismo cristão e seu caráter ético er a consolador e carregado de esperanças: para osbons cristãos, uma vida melhor após a morte (no paraíso) e, para os maus ou para os pagãos, o contrário (uma vidaeterna no inferno). Em última análise, o cristianismo oferecia para os escravos uma alternativ a, ainda que após a morte.Sendo universal, contrária à violência, rejeitando a divindade do imperador, bem como a estrutura hierarquizada emilitarizada do império, a nova religião passou a ter um caráter subversivo para a estrutura política romana. Na me didaem que o colapso econômico rondava o império, cada vez mais homens livres se convertiam ao cristianismo.Em meio à decadência, o Estado romano passou a intervir cada vez mais na vida econômica e social, tratava -sede salvar o Império, e, nesse process o, destacam-se os imperadores:Diocleciano (284-305 dC): criou o Édito Máximo, fixando os preços das mercadorias e salários, numa tentativade combater a crescente inflação. Não teve sucesso, tendo gerado apenas problemas de abastecimento. Do ponto devista administrativo, criou a tetrarquia, dividindo o império entre quatro generais.Constantino (313-337 dC): por meio do Édito de Milão, declarou a liberdade de culto aos cristãos, encerrandoa violenta perseguição que lhes era impingida. Estabeleceu também uma segunda capital para o império, emConstantinopla, a leste e junto ao mar Negro, numa parte do império menos atingida pela crise do escravismo.Teodósio (378-395 dC): transformou o cristianismo em religião oficial do império (Édito de Tessalônica),nomeando-se chefe da religião organizada. Dividiu o Império Romano em duas partes: do Ocidente (com capital emRoma) e do Oriente (com capital em Constantinopla).No governo de Teodósio, um novo problema agravou a situação já caótica de Roma: a intensificação dapenetração dos bárbaros. Inicialmente recebidos no império como trabalhadores agrícolas, muitas vezes arrendandovastas extensões de terras antes cultivadas por escravos, a entrada dos bárbaros no império logo se transformou eminvasão. De fato, no ano de 476, os hérulos invadiram e saquearam a cidade de Roma, derrubando o último imperador,Rômulo Augusto, e decretando o fim do Império Romano, ao menos em sua parte ocidental.As invasões bárbaras, contudo, longe de serem a causa única da queda do impéri o, foram mais um sintoma desua crescente debilidade. Na realidade, o império, enfraquecido economicamente pela crise do escravismo, por sua vezacelerada pela expansão do cristianismo, não teve condições de se defender de ataques externos.Durante todo o decurso das guerras da República e do Império, a possibilidade de apoio marítimo constituiuum fator de segurança e de recursos importantes, enquanto as dificuldades eram maiores nas regiões periféricasafastadas das costas, onde as comunicações eram mais penosas e vulneráveis.A evolução de Roma tal como a do Egito, mostra a importância crescente do Mediterrâneo na história de umpovo que se desenvolveu originalmente longe dos mares, mas que por fim ficou na estreita dependência, sob o ponto devista econômico, militar e político, das rotas marítimas.20CAPÍTULO IIA IDADE MÉDIA1) O que é Idade Média:Médio é uma palavra que usamos para designar algo que está no meio, que exprime uma posição intermediáriaentre um ponto e outro. Na periodização eurocêntrica estabelecida no século XVIII, a Idade Média estaria no meio dahistória, entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. Assim, o período de aproximadamente mil anos que vaiconvencionalmente da queda de Roma (Império Romano do Oci dente), após a ocupação pelos hérulos em 476, até atomada de Constantinopla (Império Romano do Oriente) pelos turco -otomanos em 1453, foi chamado de Idade Média.Entre os séculos XIV e XVI, generalizou -se na Europa uma série de movimentos artísticos e cie ntíficos quetinham em comum o rompimento com valores do período anterior e a recuperação de outros inspirados na Grécia eRoma antigas. Estes movimentos receberam o nome de Renascimento, exibindo a idéia embutida de que na IdadeMédia a ciência e as artes haviam praticamente sucumbido, sob a força do dogmatismo religioso.Os renascentistas foram geralmente vistos como continuadores dos ideais científicos, artísticos e estéticos dascivilizações clássicas. Era como se houvesse um grande intervalo entre os a ntigos gregos e romanos e os renascentistas

de então. Esse intervalo, esse "meio", sob o prisma de um único processo de avanço da humanidade, acabou recebendoo nome de Idade Média.Da mesma maneira que não se pode considerar aceitável a idéia de que entre 476 e 1453 o mundo ficou cobertopor um manto de trevas culturais, também é distorcida a idéia de que todo o mundo teria passado pelas mesmassituações que a Europa. É preciso lembrar que a Idade Média é uma periodização que esta circunscrita ao continent eeuropeu e não a toda humanidade.2) O Império Bizantino:O colapso do Império Romano do Ocidente não foi acompanhado no Oriente. Pelo contrário, o impérioestabelecido em Constantinopla sobreviveu às invasões bárbaras e perduraria por todo o período me dieval. A partir dacidade de Constantinopla (a antiga Bizâncio dos gregos, hoje Istambul na Turquia), o império Romano do Orientedesenvolveu um amplo comércio e detinha uma rica agricultura, obtinha lucros nas suas relações com o Ocidente e foimenos atingido pela crise do escravismo.Em termos políticos, a autoridade máxima do Império Bizantino era o imperador, ao mesmo tempo chefe doexército e da Igreja. Era auxiliado por vasta burocracia, elemento central das estruturas políticas imperiais.O principal imperador bizantino foi Justiniano (527 -565 dC), responsável pela temporária reconquista degrande parte do Império Romano do Ocidente, incluindo a própria cidade de Roma. Seu maior legado, na verdade, foi acompilação das leis romanas do século II, o Co rpus Júris Civilis (Corpo do Direito Civil), uma revisão e atualização dodireito romano que serviu de base para os códigos civis de diversas nações na atualidade. O Codex Justinianus foiredigido por uma comissão de dez juristas e era composto das constit uições imperiais, da compilação de normasjurídicas (chamada Digesto ou Pandectas), de um resumo para os estudantes de direito (chamado Institutas) e de novasleis para solucionar controvérsias jurídicas (chamadas Novelas ou Autênticas).Além disso, Justiniano procedeu à construção da catedral de Santa Sofia, monumento arquitetônico no estilobizantino, voltado para a expressão da fé cristã, com suas abóbadas e mosaicos.No auge do governo Justiniano, no século VI, seguiu -se um longo período de decadência, com alguns poucosintervalos de recuperação, culminando, no final, na queda definitiva do Império Bizantino em 1453, quando os turco -otomanos tomaram Constantinopla. Dos séculos VI ao VIII, sucederam -se crescentes pressões nas fronteiras orientaisdo Império Bizantino, bem como sobre seus domínios no Ocidente, acentuando os gastos com guerras e as dificuldadeseconômicas e administrativas, num progressivo encolhimento do território imperial.Durante a Baixa Idade Média (séculos X ao XV), além das pressões d e povos e impérios nas suas fronteirasorientais e perdas de territórios, o Império Bizantino foi alvo da retomada expansionista ocidental, a exemplo dascruzadas (especialmente da quarta cruzada, como veremos). O predomínio econômico das cidades italianas naquelemomento de avanço ocidental ampliou o enfraquecimento bizantino. Com a expansão dos turco -otomanos no séculoXIV, tomando os Bálcãs e a Ásia Menor, o império acabou reduzido à cidade de Constantinopla. Com a queda em1453, os turcos transformaram-na em sua capital, passando a chamá -la Istambul, como é conhecida até hoje.O cristianismo predominou na parte oriental do império, embora tenha se desenvolvido de forma peculiar emcomparação ao Ocidente. Em Istambul, manteve -se muito da estrutura governamental herdada de Roma e, pouco apouco, o imperador passou a ser considerado também o principal chefe da Igreja. Enquanto isso, no Ocidente, em meioà crise final do Baixo Império, o bispo de Roma, com apoio do imperador, era elevado à chefia de toda a Ig reja (455),tornando-se o primeiro papa da cristandade com o nome de Leão I.21Contudo, apesar de preservar as tradições jurídicas e administrativas romanas, os bizantinos sofreram clarainfluência helênica. Adotaram o grego como idioma oficial no século III , mantiveram contato constante com povosasiáticos, além de vivenciarem a invasão persa e o posterior assédio árabe.Esses elementos imprimiram-lhes certas características, como o desprezo por imagens - de Cristo, da Virgemou de santos -, denominados ícones, que levaria os bizantinos a um movimento de destruição conhecido poriconoclastia. Questionando os dogmas cristãos pregados pelo clero que seguia o papa de Roma, deram origem a

algumas heresias, correntes doutrinárias discordantes da interpretação cris tã tradicional.Tal panorama de tensões, alimentadas pelas diferenças entre Oriente e Ocidente, e as inevitáveis disputas pelopoder entre o papa e o imperador culminaram na divisão da igreja, em 1054, criando uma cristandade oriental, chefiadapelo imperador, e uma ocidental, sob o comando do papa. Esse episódio recebeu o nome de Cisma do Oriente econsolidou as diferenças entre tradições e forma de organização do culto de cada uma das igrejas.3) O Império Árabe:A península Arábica apresenta -se com o uma região desértica, com poucas áreas propícias ao estabelecimentode núcleos de povoamento permanente (oásis e partes litorâneas). Seus primeiros habitantes foram tribos de nômades dodeserto, os beduínos.Por volta do século VI, mais de 300 tribos de or igem semita habitavam a região, incluindo as tribos urbanas,que ocupavam a faixa costeira do mar Vermelho e do sul da península, de melhores condições climáticas e maiorfertilidade do solo. Concentravam-se principalmente em Meca, sua principal cidade, e em Iatreb.A importância de Meca era decorrente de seu valor comercial e religioso, uma vez que lá se encontrava aCaaba, santuário em que se depositavam as imagens dos diversos ídolos representando os deuses das tribos árabes. Atribo dos coraixitas possuía grande poder e prestígio e controlava a cidade de Meca.Nascido em 570 e membro da tribo coraixita, apesar de oriundo de família humilde, Maomé passou a pregaruma nova fé, após anos de meditação. Reunindo elementos judaicos e cristãos no Corão, livro sagrado escrito após amorte do profeta, o islamismo pregava a existência de um deus único, Alá.Maomé condenava a peregrinação das tribos até Meca para idolatrar os vários deuses (politeísmo)representados na Caaba (tenda central usada como uma espécie de santuário ou altar). Sentindo-se ameaçados, oscoraixitas repudiaram a nova religião e expulsaram Maomé e seus seguidores para a cidade vizinha de Iatreb (que teriaseu nome mudado para Medina, que quer dizer “a cidade do profeta"). Essa fuga caracterizou a Hégira, em 622, que deuinício ao calendário muçulmano.Bem recebido em Iatreb, o profeta conseguiu o apoio dos comerciantes locais e a ajuda dos beduínos comosoldados para conquistar Meca. Em pouco tempo, todos os povos árabes da península converteram -se ao islamismo, oque os unificou.Após a morte do profeta, em 632, a expansão religiosa prosseguiu, agora no contexto da djihad (guerra santa),visando a conversão dos infiéis, ou seja, daqueles que não seguem o islamismo (corrente filosófica do Islã). Nessemomento o poder passou para as mãos dos califas, herdeiros de Maomé, agora chefes religiosos e políticos.O Império Islâmico que se formava avançou primeiramente sobre os vizinhos territórios bizantinos e persas.Durante a dinastia Omíada (661-750), contudo, os árabes avançaram também para o Ocidente, tomando o norte daÁfrica e chegando à península Ibérica. O avanço árabe em direção à Europa Ocidental só foi barrado na batalha dePoitiers (732), quando árabes e francos enfrentaram-se.A unidade do império foi quebrada sob a dinastia Abássida, que substituiu a Omíada em 750, possibilitando oadvento de califados independentes, sediados em grandes cidades como Bagdá (Iraque), Córdoba (Espanha) e Cairo(Egito).A perda da unidade política foi acompanh ada da desagregação religiosa, com o surgimento de duas seitasprincipais: a dos sunitas e a dos xiitas. Os primeiros fundavam sua crença no Suna, livro que continha os ditos e feitosde Maomé; acreditavam na livre escolha dos chefes políticos pela comunid ade de crentes. Os xiitas, por sua vez,defendiam que o poder político e religioso deveria concentrar -se nas mãos de uma única pessoa, que descendesse doprofeta Maomé, tornando absoluto o poder do Estado.As ações dos povos árabes tiveram conseqüências mu ito além de seu próprio império. A expansão pela baciado Mediterrâneo, o controle que obtiveram sobre a região e as constantes incursões realizadas no litoral sul da Europaintensificou na Europa Ocidental a decadência comercial e a ruralização.4) Os Reinos Bárbaros:A queda de Roma em 476 marcou o fim do Império Romano do Ocidente e, para muitos historiadores europeuse ocidentais, inaugurou a Idade Média. Na Europa Ocidental esse período foi marcado pela consolidação do modofeudal de produção, em substituição ao escravismo greco-romano.As invasões bárbaras, que marcaram o final do Império Romano, não se encerraram em 476, pelo contrário,

continuaram ocorrendo durante boa parte da Alta Idade Média. Desde o século VII, foram seguidas pelas invasões d osárabes no sul e sudoeste, pelos vikings no norte e outros povos vindos do leste. São as invasões e o estado de guerraconstante na Europa que nos permitem compreender a estrutura econômica e social do feudalismo.22O contato da Europa Ocidental com os po vos invasores não só foi responsável pela derrubada do ImpérioRomano como também substituiu a unidade pela diversidade cultural. A fragmentação político -cultural nos antigosdomínios romanos acarretou o surgimento de vários reinos bárbaros, além da substi tuição do latim pela mescla comoutras línguas.A ruralização passou a caracterizar a Europa medieval. De fato, desde o final do Império Romano, as cidadesvinham sendo abandonadas devido a invasões e saques. Por outro lado, a falta de mão -de-obra escrava atraía vastoscontingentes de trabalhadores para o campo. Sob a condição de servos nas terras que lhes eram arrendadas, omovimento dessa população marcava a volta para uma economia rural de subsistência.Devido à instabilidade causada pelas guerras, com a concentração da população em comunidade, ruraisisoladas, o comércio entrou em franca decadência, assim como a utilização de moedas. Com o intuito de se protegeremda agressão externa, construíram-se residências fortificadas dos senhores e castelos, tendo nas proximidades ascomunidades rurais.Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento do cristianismo, pouco a pouco se impondo à nova sociedade emformação. Vários reinos bárbaros converteram-se à doutrina cristã, destacando-se entre eles o dos francos.5) O Reino Cristão dos Francos:Desde o século II os francos vinham pressionando as fronteiras do Império Romano, até se estabelecerem naregião da Gália, atual França. O domínio sobre toda a Gália foi possível graças à conversão ao cristianismo de Clóvis,neto do herói franco Meroveu, em 496. Contando com o apoio da Igreja, Clóvis organizou o reino franco e consolidou adinastia merovíngia.A idéia de Estado e bem público desapareceu junto com o Império Romano, passando a terra a ser distribuídaentre clero e nobreza, como recompensa por serviços prestados. A figura do rei tornava -se, assim, bastante frágil entreos francos, submetida ao poder dos proprietários de terra.A pouca autoridade dos reis do período valeu -lhes o título de "reis indolentes", que tinh am suas funçõesnormalmente delegadas ao “major domus”, espécie de primeiros -ministros. O mais importante deles foi CarlosMartel,que comandou os francos na batalha de Poitiers (732), derrotando os árabes e interrompendo sua expansão em direçãoao centro do continente.Em 751, o filho de Carlos Martel, Pepino “o Breve”, contando com o apoio papal, depôs o último soberanomerovíngio. Iniciou-se uma nova dinastia, a carolíngia. Pelo apoio recebido, Pepino cedeu ao papa grande extensão deterra no centro da península Itálica. Passando para a administração direta da Igreja, sob o nome de Patrimônio de SãoPedro, esse território constituiu o embrião do atual Estado do Vaticano.Carlos Magno, filho de Pepino, assumiu o trono em 768, fundando o Império Carolíngio, período de maiorpoder dos francos na Alta Idade Média. Além de doar as terras adquiridas nas guerras de conquista à nobreza e ao clero,em troca de lealdade, dividiu o território sob seu controle em condados e marcas 16.Os administradores dessas áreas eram nomeados pelo imperador e fiscalizados por um corpo de funcionárioschamados missi dominici (emissários do senhor). Dessa forma, Carlos Magno podia controlar um vasto território,fazendo valer as suas leis, as chamadas Capitulares, primeiras leis escrita s do ocidente medieval.O título de imperador do novo Império Romano do Ocidente foi concedido a Carlos Magno pelo papa Leão IIIno ano 800. O mandatário da Igreja via na ampliação do reino franco uma possibilidade de expansão do cristianismo e oretorno à própria concepção de império, desaparecida desde a queda de Roma, no qual o poder imperial seria o anteparoda Igreja. Carlos Magno foi responsável, portanto, por uma experiência centralizadora durante a conturbada Alta IdadeMédia.

O êxito administrativo de Carlos Magno foi acompanhado por significativo desenvolvimento cultural,estimulado pelo próprio imperador. O latim caíra em desuso com os povos germanos, e a língua escrita entrara emdecadência (Pepino era analfabeto e o próprio Carlos Magno limitav a-se a rabiscar seu nome).Entretanto, o chamado Renascimento carolíngio mudou esse quadro, ainda que temporariamente. Escolasforam fundadas, o ensino estimulado e várias obras da Antigüidade greco -romana preservadas, graças principalmente àatuação da Igreja, que logo teria quase o monopólio da cultura no continente europeu.O Império Carolíngio, porém, não sobreviveu à morte de Carlos Magno, em 814. Hordas invasoras - vikings daEscandinávia, magiares do Leste europeu e novas incursões árabes a partir do Mediterrâneo, aliadas às disputassucessórias - levaram ao fim a efêmera unidade territorial.Luís, o Piedoso, filho de Carlos Magno, herdou o império e o governou até 841. Seus filhos, pelo tratado deVerdun (843), fizeram a partilha do império e acelera ram sua derrocada. Condes, marqueses e outros nobres passaram ater crescente importância, fortalecendo a tendência à descentralização. Consolidava -se, nesse contexto, o feudalismo.16 É desse período que surge os títulos nobiliárquicos de marquês e conde, referentes aos nobres responsáveis pelosterritórios mais extremos do reino, os marcos do território, ou aos condados, regiões politicamente administradas pelorei.236) A Civilização Viking:Embora viking signifique guerreiro, os viki ngs eram povos das enseadas abundantes tanto na Dinamarca, paísde planícies arenosas, através das quais se desenhavam tortuosos canais marítimos, como na Noruega, pátria dos“fjords” (gargantas escarpadas que levam as ondas até o coração dos montes, em al guns pontos por centenas de milhas).Aqui e além, ao longo do curso sinuoso desses fjords, um pedaço de terra fértil entre o precipício e o estuáriodava lugar a campos de trigo e a um grupo de casinhas de madeira. Próximo, uma encosta alcantilada trazia a espessafloresta até a borda da água, atraindo o lenhador e o construtor de barcos. Ao cimo de tudo, os cordões nus dasmontanhas erguiam-se até os campos gelados e os cumes glaciais, dividindo os povoados dos fiords uns dos outros,como pequeninos reinos, atrasando por séculos a união política da Noruega e lançando os habitantes, intrépidos para omar, em busca de alimento e de fortuna.Traficantes de peles, caçadores de baleias, pescadores, mercadores, piratas e ao mesmo tempo assíduoscultivadores do solo, os escandinavos tinham sempre constituído um povo anfíbio. Desde a ocupação de sua terra, emdata indeterminada da Idade da Pedra, o mar fora sempre o seu caminho de povoado para povoado e o único meio decomunicação com o mundo exterior. Até o fim do século VIII, a área da pirataria dos vikings confinara -seprincipalmente às costas do Báltico. Tinham-se contentado eles em se saquearem reciprocamente e aos vizinhos maispróximos, mas no tempo dos romanos, ao que parece, já infestavam as costas da Gália Belga e da Bretanha. Ao queconsta, só na época de Carlos Magno começaram a atravessar o oceano e a atacar os países cristãos do Ocidente. Foramnecessários séculos de experiências e sem dúvida inúmeros naufrágios para que os vikings aprendessem a conhece r asetapas e as épocas favoráveis. Pouco a pouco eles aprenderam a passar de ilha em ilha aproveitando o bom tempo e aconstruir navios maiores.Desde o fim do século VIII ou começo do IX, quando seus exércitos e suas frotas aumentaram em número eem importância, as expedições vikings alongaram-se. Essas expedições regularizaram-se em seguida, cada burgofornecendo um número determinado de navios. O sucesso das primeiras expedições de grande envergadura e osuperpovoamento relativo do Norte contribuíram, a ssim, em grande medida, para arrancar homens de seus lares,particularmente em certas regiões, como as Ilhas dinamarquesas, onde, por força de lei, uma parte do povo deviaemigrar desde que o superpovoamento se acentuasse.A fome, depois de uma má colheit a nesses climas inóspitos, por vezes, lançava povoados inteiros em busca denovas terras, pois os homens do Norte sentiam a falta de águas piscosas e de terras abundantes em caça. O “Caminho

dos Cisnes”, como cantavam em suas canções, fornecia -lhes o que recusava a terra mal cultivada ou estéril ou a pescainsuficiente para remediar a fome. Tornando -se mais audaciosos nas suas navegações, empreenderam viagens que,mesmo depois da agulha magnética, foram apenas renovadas.Foram três as rotas básicas escandinavas durante a era viking:- Primeiro, a rota Oriental que penetrou no coração dos territórios eslavos foi seguida principalmente pelossuecos, até Novgorod e Kiew, fundando o primeiro Estado russo e daí descendo pelo Dnieper abaixo para atravessar omar Negro e importunar as muralhas de Constantinopla.As outras duas rotas desenhavam-se ao Ocidente:- Havia a rota seguida principalmente pelos noruegueses, a qual poderemos chamar de a linha exterior ou OcidentalExterna, levava às mais aventurosas viagens marítimas, ao povoamento da Islândia e da Groenlândia, à descobertada América do Norte; conduzia às Orkneys, Caithness, Ross, Galloway e Dunfries, onde grandes colôniasescandinavas trouxeram o primeiro elemento nórdico à vida dos Higlands e do sudoeste d a Escócia. Foram ainda osnoruegueses que conquistaram as Hébridas, a oeste da Escócia, e descobriram trinta e cinco ilhas que chamaram deFaroe. O Mainland e as quarenta e cinco ilhas que a cercaram, ilhas famosas pela pesca do arenque, foram tambémdescobertas pelos vikings. Por essa linha exterior, vieram estabelecer -se importantes colônias norueguesas emCumberland, Westmoreland, Lancashire, Cheshire e na costa da Gales do Sul. A Irlanda foi durante algum tempoinvadida, e Dublin, Cork, Limerick, Wicklow e Waterford foram fundadas como cidades dinamarquesas. Enquantoos suecos dirigiam-se para a Rússia e para a Ásia, os noruegueses descobriam a rota para a Irlanda pelo norte daEscócia e, mesmo fazendo escala na Groenlândia, iam até a América procurar pe les.- Os dinamarqueses tinham escolhida rota interior ou Ocidental Interna que, mais próxima de seu país, conduzia àscostas da Escócia, da Northumbria e da Neustria.É em 787 que pela primeira vez a crônica anglo -saxônia descreve a chegada à Inglaterra d e três navios dehomens do Norte, vindos do país dos ladrões. A partir do ano de 793, as curtas notas anuais das crônicas contêm, quasetodas, referências a alguma incursão dos pagãos. Ora eles pilhavam um convento e massacravam os monges, ora ashordas pagãs espalhavam a devastação entre os Northumbrios. Pouco a pouco a importância das frotas inimigas cresceu.Em 851, pela primeira vez os pagãos passaram o inverno na ilha de Thanet; no mesmo ano, trezentos de seus barcosvieram à embocadura do Tâmisa, e su as guarnições tomaram de assalto Cantuária e Londres.Lentamente, durante cinqüenta anos ou mais, antes que o movimento atinja seu zênite, toda a Noruega e toda aDinamarca despertam para a verdade de que não havia poder marítimo a defender as Ilhas Britân icas ou o famosoImpério Carolíngio, que os anglos -saxões e os francos eram gente terrestre e que os irlandeses utilizavam pequenosbarcos de couro. O mundo estava assim exposto ao poder marítimo viking.Nos anos seguintes, os pagãos foram chamados por seu nome real, dinamarqueses, e as crônicas referem-se aosmovimentos dos exércitos, fortes, às vezes de dez mil homens. Bem equipados, bem armados, muito hábeis emconstruir campos fortificados, obedecendo cegamente aos reis do mar, seus chefes, os vikings, guarneciam, em grupos24de sessenta a setenta homens, os seus navios de guerra de sólida construção, as drakkas 17, e desembarcavam em locaisde onde pudessem enfrentar com êxito a reação dos habitantes do país invadido. Foi assim que Noirmontiers tornou -sesua base no litoral da Franca, Thanet no da Inglaterra e a ilha de Man no mar da Irlanda. Os que operavam na Françavinham, sobretudo, da Dinamarca, reunidos em pequenas flotilhas que perlongavam a costa. Subiam os rios, saqueavamas igrejas e destruíam as cidades, ou para poupar o país, faziam-se pagar um resgate calculado em libras de prata. Osprimeiros bandos haviam aparecido antes dos fins do reinado de Carlos Magno, mas, depois dos meados do século IX,esses invasores estabeleceram-se com suas famílias em campos entrincheirados junto à embocadura dos rios, de ondeem todas as primaveras partiam para agir no interior. Além da ilha Noirmontiers, os normandos instalaram -se na foz do

rio Sena e subiram o rio Garona, saqueando as cidades. Até cerca de 860, en tretanto, ocuparam na França apenas empontos da costa e algumas ilhas, fazendo ocasionalmente expedições de saque pelo interior. Depois, as expediçõestransformaram-se em verdadeiras migrações. Nos anos seguintes, os normandos embrenharam -se pelo interior daFrança, devastando uma enorme região e chegando mesmo a sitiar Paris em 886.Os vikings que seguiam a linha exterior e os que seguiam a linha interior muitas vezes se cruzavam nocaminho. Encontravam-se dinamarqueses e noruegueses na Normandia, no sul da Irlanda e no norte da Inglaterra, eambos penetravam indiferentemente na Hispânia, no Mediterrâneo e no Levante.Toda essa espantosa exploração, que tocou a costa norte -americana cinco séculos antes de Colombo, essehabitual e quase diário desafio das t empestades da Costa Wratch e das Hébridas, foi levado a cabo em longos barcosdescobertos, impelidos a remos manobrados pelos próprios guerreiros com o auxílio de uma única vela. A coragem e aperícia naval de marinheiros, que se aventuraram em tais barcos a empreender tais viagens, nunca foram ultrapassadasna história marítima. Muitas vezes pagaram pela sua ousadia. O Wessex, no tempo do rei Alfredo, salvou -se uma vezgraças ao naufrágio de uma esquadra inteira, quando uma tempestade lançou cento e vinte galés dinamarquesas contraos penhascos de Swanage.Em quase todas as regiões em que dominaram pelas armas, os vikings acabaram assimilados pelas populaçõesvencidas. Na Grã-Bretanha, os dinamarqueses e noruegueses ou foram repelidos ou fundiram -se com os anglo-saxõescom o decorrer dos anos. Na Franca, não são bem conhecidas as circunstâncias segundo as quais o rei dinamarquêsRollon obteve o território que veio a constituir o Ducado da Normandia. Estabelecidos nos férteis campos da Franca,pouco a pouco os normandos perderam os hábitos violentos é adotaram a língua e a cultura francesa.Nos séculos que se seguiram, o espírito aventureiro dos descendentes dos vikings os levou a participarem demuitas empresas guerreiras, tais como a conquista da Inglaterra em 1066 por Guilherme “o Conquistador”, a expulsãodos árabes do sul da Itália e da Sicília, e as Cruzadas.Em poucas gerações, contudo, os normandos mudaram radicalmente seus hábitos antigos, e a Normandiaconverteu-se numa região conhecida tanto pela ex celência de seus rebanhos e de seus pomares quanto pela fama de seusmarinheiros e pescadores.Em síntese, a história dos nórdicos é um flagrante exemplo da influência da geografia na evolução de um povo.Talvez mais ainda que nas histórias grega e fenícia , a natureza especial das regiões escandinavas explique a epopéiaviking.7) A Crise da Idade Média:A estrutura econômica, social, política e cultural que predominou na Europa Ocidental durante a Idade Média,em substituição ao escravismo greco -romano, foi chamada de feudalismo e caracterizou o modo de produção doperíodo. Lembrando que, dentro de uma certa visão de história (o materialismo histórico), modo de produção significa aforma como se organiza a produção de riquezas numa sociedade, o que implic a um conjunto de relações econômicas,mas também sociais, políticas e culturais, intimamente ligadas entre si e interferindo umas nas outras. Permite também,em linhas gerais, caracterizar um determinado período histórico em uma dada região.As transformações ocorridas no Império Romano do Ocidente, como o êxodo urbano e a ruralização causadospela crise escravista, foram aceleradas com as invasões bárbaras, resultando na queda do império em 476. A partir daí, eestendendo-se até o século X, sucedeu, então, um período marcado pelo predomínio da vida rural e ausência ou severaredução do comércio no continente europeu, denominado Alta Idade Média.Só a partir do século XI, quando se iniciaram diversas mudanças significativas para a economia feudal, é queas atividades baseadas no comércio e na vida em cidades, pouco a pouco, ganharam impulso. Essas mudanças deram

início ao período que chamamos de Baixa idade Média, o qual se estendeu até o século XV. Ele é chamado de BaixaIdade Média por ter sido marcado pelo surgimento dos elementos que desencadeariam a decadência do feudalismo.As origens de tais mudanças encontram-se no esgotamento do sistema feudal, progressivamente abalado pelastransformações em curso na Europa, sendo a principal delas o surto demográfic o verificado a partir dos séculos X e XI.De fato, a diminuição progressiva no ritmo das invasões, que caracterizaram praticamente toda a Alta Idade Média,ofereceu a contrapartida de condições mais estáveis de vida, o que provocou gradativo, mas significa tivo, aumento de17 As embarcações vikings de comércio eram conhecidas como Knnors. Durante a história desse povo elesdesenvolveram várias embarcações, com características diferentes e próprias ao emprego a que se destinavam, noentanto as embarcações clássicas, as Drakkas ou Drakars, que foram demo nstradas nos épicos difundidos pelos cinemasno mundo.25população. Por volta do século X, estima -se que os índices de natalidade superassem os de mortalidade em toda aEuropa.A expansão demográfica chocava -se com o imobilismo do sistema feudal, baseado em unidades produtivasauto-suficientes. Como cada feudo produzia o bastante para o seu próprio consumo e, devido às limitações técnicaspredominantes, não ocorria o aumento de produtividade necessário para satisfazer à crescente população.Além da insegurança e das guerras, entre outros fatores, a servidão feudal não era motivadora de intensainovação tecnológica, já que aumentar a produção não implicava participar dos frutos. Na estrutura feudal o aumento daprodutividade quase sempre significava acréscimo na tributação, inibindo o empenho por u ma produtividade maior.Finalmente, o próprio isolamento de cada feudo fazia com que eventuais progressos técnicos tivessem maior dificuldadede transpor sua própria região.Alguns setores artesanais, entretanto, sustentaram-se e desenvolveram-se no período, trabalhando para anobreza e o alto clero: armeiros, que serviam aos nobres guerreiros, ourives, pintores e construtores, que trabalhavam naedificação de catedrais e castelos, etc.Algumas inovações técnicas aplicadas aos trabalhos agrícolas, ainda ass im, foram observadas no período,como a utilização dos arados de ferro no lugar dos de madeira, mais fracos e menos eficientes, e o aperfeiçoamentodemoinhos hidráulicos. Buscou-se ainda expandir as terras cultivadas com o aterramento de pântanos e a derr ubada deflorestas. A população, no entanto, continuava a crescer em ritmo mais acelerado que o da produção.Na medida em que o sistema como um todo não podia mais sustentar o excedente populacional, muitosacabaram sendo marginalizados e expulsos dos feud os. A marginalização social atingiu não apenas servos comotambém senhores. Nobres sem terra, vítimas do direito de primogenitura, que dava apenas ao filho mais velho as terrase os títulos paternos, vagavam pela Europa, como cavaleiros andantes 18. Ofereciam seus préstimos militares a outrossenhores em troca de terras ou de rendas, derivadas da cobrança de pedágios em estradas e pontes, por exemplo.Muito mais numerosos e igualmente excluídos, os servos buscavam sobreviver ocultando -se em bosques ereocupando antigos centros urbanos abandonados. Quando encontrados, eram perseguidos pelos nobres, que não osadmitiam em suas terras saturadas.Nesse contexto, assiste-se na Baixa Idade Média a um crescente expansionismo: o chamado Drang NachOsten, isto é, a expansão germânica em que cavaleiros alemães (teutônicos), sob o pretexto da propagação docristianismo, dirigiram-se para o Oriente, para a atual Rússia, subjugando a região báltica, a Reconquista cristã dosterritórios tomados pelos árabes na península Ibér ica e o movimento cruzadista, que contou com a participação deinúmeros cavaleiros de toda a Europa. Era a conquista de novas terras e riquezas para fazer frente ao quadro dedificuldades que marcava os primeiros séculos da Baixa Idade Média.8) O Movimento Cruzadista:As cruzadas foram expedições principalmente militares, organizadas pela Igreja, com o objetivo dereconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domínio muçulmano. Houve também interesses econômicos decidades-Estados como Gênova e Veneza na obtenção de mercados fornecedores e consumidores dos produtoscomercializados pela oligarquia e interesses espirituais de uma imensa massa de pessoas que realmente acreditavam

estar cumprindo as ordens de Deus.Esse avanço já era desejado pelos imperado res bizantinos, que esperavam o auxílio do Ocidente no combate avários povos vizinhos orientais, especialmente os turcos seljúcidas.Esse povo, organizado pela dinastia turca seljúcida (do fundador Seldjuk), nos séculos XI -XIII, tinha noislamismo e na união das tribos sua força expansionista. De Bagdá, conquistada em 1055, dirigia -se para a Ásia Menor,ameaçando o reduto cristão bizantino. No século XIII, ganhou força a nova dinastia turca dos otomanos que no séculoXIV lideraria novo processo expansionis ta na região.A Igreja católica passou a organizar as expedições militares, com o objetivo, inclusive, de projetar suainfluência no território bizantino, dominado pela Igreja ortodoxa, que era a Igreja bizantina criada com o Cisma doOriente, em 1054, e independente do papa de Roma.Os milhares de indivíduos de alguma maneira excluídos da estrutura social feudal foram fundamentais namontagem dessas expedições. A espinha dorsal dos exércitos cruzados era formada por cavaleiros sem terra, enquanto ogrosso das tropas a pé era constituído por antigos servos. Além disso, milhares de pessoas, incluindo mulheres, criançase idosos, dispunham-se a seguir os cruzados e fazer a peregrinação aos locais sagrados quando fossem libertados.Outros interesses em jogo envolviam o comércio, atividade até então secundária, mas crescente em importânciaem meio ao surto demográfico a que a Europa assistia. Negociantes italianos passaram a se interessar por entrepostos evantagens na busca de produtos orientais e pela possibili dade de abertura do mar Mediterrâneo ao comércio.Em 1095, o papa Urbano II pronunciou um inflamado discurso no Concílio de Clermont, conclamando oscristãos a ingressarem nas expedições cruzadistas rumo ao Oriente. Do século XI ao XIII, partiram da Europa cristã oitoexpedições19:18 O mito desses cavaleiros é que gerou histórias como de Dom Quixote de La Mancha e Robin Hood, nobres deorigem, mantendo atitudes nobres e puras, mas marginalizados no crime ou na mendicância.19 O número de expedições e a classificação muda conforme o contexto em que são analisadas por um historiador,podendo variar conforme o foco em que é estudada.26- Primeira cruzada (1096-1099): chamada de Cruzada dos Nobres, chegou a conquistar Jerusalém e aorganizar na região um reino em moldes feudais (Houve uma cruzada anterior a esta que, enquanto osexércitos se preparam para a jorna da, uma horda de pessoas humildes partiu na frente, sendo conhecidoscomo cruzada dos mendigos ou dos fiéis, em alusão a crença que a pobreza levaria o crente ao reino dos céus).- Segunda cruzada (1147-1149): foi organizada após a reconquista turca de Jerusalém, mas fracassou.- Terceira cruzada (1189-1192): chamada Cruzada dos Reis, devido à participação dos monarcas da Inglaterra(Ricardo Coração de Leão), da França (Filipe Augusto) e do Sacro Império Romano -Germânico (FredericoBarba-Roxa). Não tendo atingido seus objetivos militares, resultou no estabelecimento de acordosdiplomáticos com os turcos que possibilitaram as peregrinações.- Quarta cruzada (1202-1204): chamada de Cruzada Comercial por ter sido liderada por comerciantes deVeneza, potência mediterrânea em grande ascensão, Foi desviada de Jerusalém, alvo religioso da investidacruzadista, para Constantinopla, que acabou sendo saqueada.-Quinta, sexta, sétima e oitava cruzadas (1218-1270): secundárias sob todos os aspectos, não tiveramsucesso.O misticismo e a espiritualidade que impregnavam a época medieval são plenamente visíveis na Cruzada dasCrianças (1212), organizada a partir da crença de que somente os “puros" e "inocentes" poderiam libertar Jerusalém (ascrianças foram colocadas nas frentes de batalha como escudos, já que somente como criança é que o cristão herda oreino dos céus). O mesmo aconteceu no início do movimento cruzadista, na chamada Cruzada dos Mendigos,organizada em 1096. Ambas foram dizimadas, principalmente no perc urso europeu.As expedições cruzadistas não conseguiram resolver as dificuldades européias decorrentes do aumentopopulacional, dos entraves feudais e da ambição por novas terras, e no campo foi preciso aprimorar a produtividadeagrícola para alimentar a crescente população. Algumas cidades, que nunca deixaram de fazer comércio durante osprimeiros séculos da Idade Média, e outras que emergiram ou ganharam impulso com os fluxos rurais daqueles queeram marginalizados nos feudos tiveram amplas vantagens com as cruzadas. Os exemplos mais marcantes são deGênova e Veneza, porque seus comerciantes enriqueceram alugando barcos e financiando os cruzados.Não foram somente essas expedições, ocorridas ao longo de quase 200 anos, que levaram ao renascimento

comercial da Europa, mas elas, certamente, contribuíram para sua dinamização. Não propiciaram, também,enriquecimento aos europeus: pelo contrário, empobreceram -nos, especialmente aos cavaleiros. Além disso, em vez deunir a cristandade, criaram oportunidade para d ivergências entre interesses de algumas regiões (como entre osgovernantes da terceira cruzada, rivalizando -se por domínios), enquanto propiciaram muitas violências contra os não -cristãos.As cruzadas tiveram, contudo, um papel significativo na mentalidade européia. O espírito delas seriaimportante na motivação, por exemplo, da reconquista cristã da península Ibérica aos árabes muçulmanos e das grandesnavegações que levaram à descoberta da América.9) A Retomada do Comércio:Paralelamente, desde o século XII, organizavam-se no norte da Europa as hansas (nome em teutônico, oualemão) ou associações de mercadores, Na Inglaterra destacava -se a Merchants of the Staple, associação que controlavaa venda de lã (seu mais forte produto) e a importação de produto s oriundos da região flamenga (Flandres).Logo aconteceria a reunião de diversas hansas no norte da atual Alemanha, dando origem à forte LigaHanseática, cujas poderosas cidades (Hamburgo, Bremen, Lübeck, Rostock) passaram a controlar todo o comércio dosmares do Norte e Báltico. Seus comerciantes traziam trigo e pescado, importantes para a população que continuava acrescer, e madeiras, fundamentais para os crescentes empreendimentos de construção naval, além de outros produtos.Dessa forma, consolidavam-se dois pólos comerciais na Europa da Baixa Idade Média: um italiano e outrogermânico. A ligação desses dois pólos se fazia por rotas terrestres que convergiam para as planícies da Champanhe,região no centro da França. Lá se realizavam grandes feiras, ond e os comerciantes do Norte encontravam os do Sul, eque funcionavam como verdadeiros centros de articulação do crescente comércio europeu.A rota terrestre das feiras apresentava graves inconvenientes como a insegurança. De fato, durante quase todo oséculo XIV, a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra praticamente impossibilitou a utilização desses caminhos,levando ao declínio das feiras. A partir daí surgiram rotas alternativas. A primeira delas, marítima, contornava apenínsula Ibérica, dinamizando a atividade mercantil em Portugal e Espanha. A segunda era fluvial e incluía a difíciltravessia dos Alpes, seguida da navegação pelo rio Reno até Flandres, no norte da Europa.O crescente comércio e as transações financeiras tornaram necessário o retor no da utilização em larga escala demoedas, o que gerou a introdução de letras de câmbio e o desenvolvimento de atividades bancárias em geral. A terradeixou de ser a única fonte de riqueza e, nesse contexto, surgiu um novo grupo social, o dos mercadores, quetrabalhavam diretamente no comércio e a dos burgueses, detentores de capital.O dinheiro, e a acumulação dele, passam a reger as economias, fazendo surgir um novo contexto econômicoem contrapartida do escambo, o capitalismo.2710) As Repúblicas Marítimas da Península Itálica:10.1) Pisa:A posição natural muito propícia, na foz do rio Arno, então navegável até sob os muros da cidade, fez de Pisaimportante centro comercial desde o primeiro século da Idade Média. O estuário do Arno oferecia então b om abrigo eespaço suficiente, ao passo que a correntada forte do rio opunha -se ao assoreamento da saída para o mar. Do lado deterra, não contando com barreira protetora de montanhas como Gênova e limitando -se com os territórios de Lucas, emfase de expansão, Pisa não possuía possibilidades de engrandecimento. A cidade voltou assim os olhos para o mar e noséculo X teve boas ocasiões de satisfazer suas ambições marítimas. Era o único porto sobre o Tirreno, no interior daItália Lombarda, e além do mais, ne ssa ocasião, Gênova não podia oferecer concorrência, pois toda costa lígure estavapresa das devastações sarracenas (mouras ou islâmicas) que ameaçavam controlar o mar Tirreno, desde as costas da

Tunísia e da Espanha. Perante a ameaça muçulmana, Pisa e Gên ova coligaram-se e realizaram esforços vigorosos econstantes para expulsarem os infiéis do mar que tinham como próprio.No fim do século XI, as duas cidades lançaram repetidos ataques contra as principais cidadelas do poderioárabe. Os árabes foram assim expulsos da Sardenha, onde Pisa reservou -se privilégios comerciais. Na Sicília, a própriaPalermo, que era então um grande porto de mar e uma cidade de 300 mil habitantes, foi atacada pelos pisanos, o quecontribuiu para a reconquista da Ilha. Na Tunísia, os pisanos e genoveses puseram a saque Mehedia, que era sem dúvidaa cidade mais poderosa da costa da África e que se havia convertido num ninho de piratas.Afastados assim do mar Tirreno, os inimigos dos cristãos, as duas novas repúblicas viram prosperar seucomércio. Suas frotas, crescentes em força e em número de navios, empreenderam viagens mais longas e abriram novasrotas.A expansão marítima e comercial da República Pisana era então guiada pelo governo, que intervinha mesmono domínio das atividades particulares, procurando, de uma parte, afastar os obstáculos e entraves que se opunham aolivre trânsito das mercadorias, e de outra, levar gradualmente a conquista ao Oriente, principal fonte de lucros.Do século XI ao século XIII, os núcleos urbanos da Península Italiana, e em particular as cidades marítimas,entraram em rivalidade para a conquista da primazia política e comercial, sob a influência de dois fatorespreponderantes: as cruzadas e a criação do Império Latino do Oriente. Ao começarem as cruz adas, as RepúblicasItalianas não viram apenas uma continuação da luta tantas vezes empreendida contra os infiéis, mas também umaoportunidade única para obter vantagens econômicas. Pisa, como as outras grandes repúblicas marítimas italianas, nãosó participou diretamente da guerra contra os muçulmanos estabelecidos na Palestina, como também soube cobrar bompreço pelo transporte dos exércitos cristãos do Oriente, Ao mesmo tempo, a comuna procurou estabelecer nos paísesrecém-conquistados pelos cruzados proeminência comercial, obtendo concessões especiais para os mercadores pisanos.A Primeira Cruzada valeu a Pisa privilégios e feitorias ao longo da costa Síria e da Palestina. A Segundafavoreceu-lhe o comércio ao longo das costas italianas e sicilianas. Em 1108, tendo ajudado com uma frota a conquistade Laodicéia, obteve em compensação um quarteirão naquela cidade e outro em Antioquia. Entre 1108 e 1124, Pisaconseguiu quarteirões em Trípoli, em Tiro e em Jerusalém. Ainda nesse período, ela se fez outo rgar um quarteirão emConstantinopla e um cais no Corno de Ouro e, mais tarde, para contrabalançar a influência genovesa no Tirreno e nacosta da Espanha, fez um tratado de comércio com o Emir de Valência (1150).A atividade dos pisanos na costa asiática n ão os impediu de olhar mais adiante, para o Egito, onde os atraíamdois grandes centros: Alexandria e Cairo. No fim de 1154, um tratado de comércio com o Califa Fatimita 20 abriu aquelaregião ao comércio pisano, mas em 1157 a captura de uma nave pisana, a v enda dos marinheiros como escravos naTunísia, a ruptura do tratado, levou Pisa a favorecer o jovem e valoroso rei de Jerusalém, Almarico, que, nos anos de1163 a 1169, por cinco vezes levou a guerra ao vacilante califado. O assédio de Alexandria pela frot a pisana em 1167,contudo, terminou em insucesso. Quando em 1171 Saladino assenhoreou -se do Egito, não restou aos pisanos outrorecurso senão negociar com o grande conquistador muçulmano.Na Terceira Cruzada (1189-1192), os navios pisanos transportaram um exército toscano, sendo aproveitado oensejo para a venda, por preço caro, de vitualhas e roupas aos companheiros de armas.A par da expansão longínqua nos mares da África e do Levante, a Comuna Pisana procedia com igual vigorpara concentrar no seu porto o comércio do mar Tirreno, da costa toscana à Sicília. Desde 1137, ajudada por Latário eSpplimburgo, Pisa dera o golpe de graça na rival, Amálfi, apoderando -se da Ischia e de Sorrento.O sucesso de Pisa valeu-lhe a animosidade das cidades vizinhas, em par ticular Gênova, que visava asupremacia no mar Tirreno e das cidades do interior, Lucas e Florença, ciumentas de a verem exercer controle sobre o

único escoadouro marítimo da Toscana. Em 1194, Messina foi tomada, e os pisanos destruíram o empório genovês d acidade. A vitória, porém, foi paga a preço caro: o favor imperial aos genoveses contribuiu para a perda de treze naviosda frota pisana. Dessa época começa a decadência da potência pisana, no começo quase imperceptível depois manifesta.Na longa série de lutas que se seguiu, Pisa se viu atacada por terra e por mar, ressentindo -se de sua pequenabase territorial e da falta de uma fronteira facilmente defensável. Por fim, Gênova conseguiu destruir o porto e ocomércio de Pisa, em 1284, jogando na embocadura do Arno enormes blocos de pedra trazidos da ilha vizinha de Capri.Foi construído assim um molhe que, se opondo à obra de limpeza da corrente, permitiu o acúmulo de sedimentos. Aderrota naval de Melória, poucos anos depois, selou a decadência de Pisa. Na paz estipulada em Gênova em 1299, Pisa20 Fatimita é uma das ordens dos mulçumanos, como os sunitas e os xiitas.28teve de ceder uma parte da Sardenha, a região de São Bonifácio, na Córsega, e obrigou -se a não armar galeras durantequinze anos.10.2) Gênova:A origem de Gênova não é menos remota que a pisana e data certamente d os primeiros tempos da vidamarítima no mar Tirreno. O porto de Gênova não era nem o maior nem o melhor dos portos da costa lígure, mas erasem dúvida o melhor situado. Gênova ocupa o ponto mais setentrional dessa costa. Os Apeninos, na verdade, elevam -seimediatamente atrás da cidade e a separam do vale do Pó, mas ao mesmo tempo protegem -na muito eficazmente do ladode terra. Embora fossem possíveis culturas variadas, como trigo, oliveira, vinhas, laranjeiras, o território restrito daRepública de Gênova, que se estendia ao longo da costa lígure, era incapaz de produzir a quantidade suficiente degêneros alimentícios para a população e matérias -primas para a indústria.A pesca, em compensação, era abundante na costa e as florestas dos Apeninos dispunham de boas madeiraspara a construção naval. Foi, portanto, no mar que Gênova procurou possibilidades econômicas. Dessa forma Gênovaconseguiu reerguer-se nas vezes em que sofreu as destruições das invasões sarracenasNa primeira metade do século X, Gênova, ao c onseguir sacudir o jugo feudal do Marquês de Obertenghi,conquistou ao mesmo tempo sua unidade comercial e um lugar elevado entre as cidades marítimas da Península. Nãomuitos anos depois, Gênova, unida a Pisa, na célebre campanha da Sardenha contra Mogahi d, em 1015-16, iniciounaquela ilha o comércio do sal, e na Córsega uma tenaz penetração, sem temer suas futuras relações com a aliadadaqueles dias. Os navios das duas comunas chegaram unidos à costa da Síria em 1065, depois a Caffa. Em 1087,combateram juntos os árabes de Mehedia, e desse modo, na segunda metade do século XI, a comuna genovesa afirmouseu poderio marítimo no sul do Mediterrâneo. Lá, como em Pisa, os armadores e os navegantes, prevalecendo na vidacitadina, criaram a administração consular e, ao mesmo tempo, a Campagna. As riquezas acumuladas, o créditoassegurado, uma sucessão de governos com a mesma orientação acabaram por constituir uma nobreza de origemmercantil, diferente da feudal. A nobreza em Gênova não tinha, assim, por base, a propriedade imobiliária, mas osestabelecimentos comerciais e a navegação. Essa nobreza fornecia os governadores das ilhas conquistados no Levante eos comandos das forças navais.A participação de Gênova na Primeira Cruzada (1096 -99) permitiu-lhe fundar uma linha de empórios ao longoda costa da Síria e da Palestina, fato de uma importância comercial considerável, tendo em conta que esses países eramrelativamente povoados e produtivos naquela época. Os bons resultados alcançados estimulariam os empreendim entosposteriores. As expedições multiplicaram-se, os braços e o capital da cidade não foram suficientes. No princípio doséculo XIII (1206) uma nova instituição, o Consolato del Mare, foi criada. Ocupava -se exclusivamente da partefinanceira dos empreendimentos marítimos, permanecendo dependente do poder central.O incremento da atividade marítima de Gênova acarretou inevitavelmente a rivalidade das outras cidadesitalianas com interesses idênticos, e, a partir do começo do século XIII, os três principais centros marítimos comerciais

da Itália sustentaram entre si diferentes lutas que abarcaram quase duzentos anos.A fim de promover sua expansão marítimo -comercial, os cidadãos de Gênova criaram, na primeira metade doséculo XIII, uma associação de caráter militar que tomou o nome de Maona. Era ela constituída por um núcleo decidadãos que, com seus navios, procediam às despesas de qualquer expedição naval empreendida no interesse e sob adireção da Comuna.A Comuna nomeava o Almirante que comandaria os navi os armados por conta dos componentes. O lucro daempresa e a administração dos lugares eventualmente conquistados revertiam para a Comuna, depois das despesas daMaona terem sido ressarcidas. A primeira Maona, por ordem cronológica, parece ter sido a de Ce uta em 1234, quandoum grupo de cidadãos armou por conta própria mais de cem navios, entre galeras e navios de comércio. Outras Maonasimportantes foram a de Chios, em 1346, da qual resultou a captura daquela ilha no mar Egeu, e a de Chipre em 1374,onde foi fundada importante colônia.Ao começar o século XIV, Gênova estava no apogeu de sua atividade marítimo -comercial. A ajuda prestada narestauração do Império Romano do Oriente valera -lhe vários empórios estabelecidos em quarteirões de Constantinopla,Pera e Gaiata. Pera tornou-se o centro da administração colonial genovesa no Estado Grego, e Caffa o das colônias domar Negro. Cerca de 1300, Gênova foi a primeira cidade mediterrânea a começar a organizar viagens para os portos deBruges e de Londres.Na segunda metade do século XIV, as grandes operações de comércio ficaram circunscritas a Veneza e aGênova, pois Pisa não mais se ergueu depois da derrota de Melória e da perda da Sardenha. A Grécia havia perecidosob a cimitarra turca e era raro os navios do Norte aparecerem nos portos do Sul. Os genoveses tinham o comércio detoda a Ligúria marítima e dominavam desde o Corvo até o Mônaco. Aprovisionavam de sal a Luquia, freqüentavamCivita Vecchia e Corneto, foram sempre em grande número em Messina e em Paler mo. No Adriático, visitavamfreqüentemente Manfredônia, Ancona e mesmo Veneza, nos intervalos de paz. Faziam comércio importante comMarselha, Aigues Mortes, Saint Epidius e Montpelier. Na África, os navegantes genoveses tinham privilégiosassegurados pelos maometanos. O Egito era mais freqüentado pelos venezianos. Os genoveses não deixaram, contudo,de aparecer nos mercados de Alexandria, de Roseta e Damieta e de se estabelecer mesmo no Grande Cairo e de concluirtratados vantajosos com os sultões. Todavia , a área principal das operações comerciais de Gênova permaneceu sempreno Levante, isto é, nos países da Ásia e da Europa, submetida aos príncipes gregos, tártaros, búlgaros e turcos. Seucomércio com o Levante se fazia por meio de uma série de escalas qu e atingiam a China de uma parte e as índias deoutra, seguindo as costas do Golfo Arábico.29Havia ainda outros centros em toda a Romênia, na Macedônia e no Arquipélago Grego. Na Anatólia, Gênovapossuía Smirna e as duas Fócidas, ricas de alúmen. De Chipre r etirava madeiras de construção, cedro, ferro, cereais,açúcar, algodão e azeite, além dos produtos que vinham do Oriente. Outras companhias genovesas haviam -seestabelecido no litoral do Oceano, nos Países Baixos e na Inglaterra. Além do mais Gênova dominava Córsega,Sardenha, Malta e Sicília. Gênova tinha, em resumo, além de uma parte considerável do comércio europeu, as trêsgrandes vias de comércio da Ásia Central e da índia: a primeira, pelo mar Negro, pelo Cáspio e o Volga; a segunda, aPagolat e a Laiazzo, pelo Golfo Pérsico, Alepo e a Armênia; e a terceira, a Alexandria, pelo mar Vermelho e o Egito.Apesar da posição privilegiada alcançada como potência marítimo -comercial na segunda metade do séculoXIV, já cinqüenta anos depois se notavam os p rimeiros sinais de decadência de Gênova. As vitórias navais de Melória ede Curzola haviam constituído o ápice da potência marítima de Gênova, porém haviam exigido um esforço imenso e

produzido um grande consumo de forças, As perdas em vidas nas guerras er am desastrosas para os genoveses, porqueeles não empregavam tropas mercenárias, mas cidadãos, dos quais dois mil morreram na jornada de Loiera e três milprisioneiros morreram nos ergástulos. O desenvolvimento da Marinha catalã, as dissensões internas cad a vez maisgraves, a alternância do domínio estrangeiro, a luta persistente contra Veneza, o desastre da Guerra de Chioggia (1378 -81), a dominação francesa do rei Carlos VI (1396 -1409) são as várias etapas de uma gradual decadência. Nãoconseguiram impedi-la a administração de Simão Boccanegra nem os triunfos que por vezes a Marinha genovesaalcançou, perpetuando com honra suas tradições bélicas.10.3) Veneza:Durante a era longobarda, nas ilhas da Laguna Adriática, surgiu a cidade destinada a liderar, na Idade Média,todas as demais, por riqueza econômica e poderio marítimo: Veneza. A ilha da Laguna, habitada na Idade Antiga porfamílias de pescadores, tornou-se, no último século do Império Romano, o lugar de refúgio das populações de terrafirme, fugitivos das hordas bárbaras de Alarico, de Átila, de Ricimero e etc.As lagunas situadas no interior do Adriático não ofereciam senão magros recursos aos seus habitantes, apenaspequenas superfícies permaneciam acima das águas, havia poucas terras cultiváveis, e estas eram mal drenadas; a águapotável era escassa. Por outro lado, as lagunas ocupavam uma excelente posição geográfica, considerando que elas seencontravam perto da região plana mais vasta da Itália e num ponto onde as rotas marítimas do Mediterrâneopenetravam mais profundamente no continente europeu,As primeiras atividades dos habitantes das lagunas foram condicionadas pelo caráter de seu habitat Elestiveram em primeiro lugar que adaptar o país às suas necessidades, consolidando o solo, cavando ca nais, construindodiques e preparando bacias para os navios, enfim, começaram a cultivar o trigo, a vinha e a recolher água de chuva emcisternas. É um fato significativo que desde 536 os habitantes das lagunas sejam descritos como salineiros e piratasmarítimos. Veneza chegou a conseguir no norte da Itália o monopólio virtual do comércio do sal, dependendo dela ascidades continentais para seu aprovisionamento. Não havendo possibilidade de outra indústria a não ser a do sal, que eracom a pesca e com os proventos da pirataria o usual nos povos marítimos daquele tempo os únicos artigos de comércio,os venezianos abriram novos horizontes a mais vastos ideais, de tal modo que, no início do século VI, os navios dosinsulares sulcavam ao largo e ao longo do Adri ático, fazendo o tráfego de gêneros diversos com Bizâncio e com asterras do Oriente.Assim, Veneza, à medida que progredia, tornou -se uma guarda avançada fronteiriça do mercado grego e atécerca do ano 1000, se bem que usufruindo uma grande independência, permaneceu como parte do Império Bizantino,situação política que favoreceu sensivelmente seu progresso. Por outro lado, sua situação e sua superioridade marítimas,que a tornaram de acesso difícil, colocaram as lagunas ao abrigo da conquista lombarda. Ca rlos Magno apoderou-se damaioria das ilhas, mas essa conquista foi efêmera. Também pôde Veneza escapar quase completamente às rivalidades ecomplicações da Península. Sob esse prisma, Veneza foi mais favorecida que Gênova. Enfim, pela mesma razão, asituação geográfica das lagunas, a despeito dos ciúmes e antagonismos, estimulou o desenvolvimento de umacomunidade de interesse que encontrou sua expressão na administração única do Doge. Segundo a tradição, o Ducadode Veneza Marítima constituiu-se em 697 (Primeiro Duque ou Doge foi Paolucio Anafesto), concentrando numa só mãoa atividade múltipla e dividida dos insulares,A decadência de Ravena e de Aquiléia deixou Veneza livre para explorar o potencial comercial de suaexcelente posição geográfica. Entretan to, a nascente República não estava em condições de alcançar projeção mundial,por ter ficado ocupada em contínuas lutas contra os piratas eslavos e sarracenos que infestavam o mar Adriático. Até o

fim do século VIII, o Império Bizantino controlou a entrad a do Adriático desde as cidades costeiras de Durazzo e deBrindisi, mas as devastações dos árabes na Itália Meridional ameaçaram bloquear essa passagem. Ao mesmo tempo, acosta dálmata com suas numerosas baías abrigadas, seus inúmeros canais e suas ilhas c onstituíam a base da piratariaeslava. Pouco a pouco Veneza conquistou a supremacia no mar, infligindo derrotas aos árabes. Fundou, cerca do ano1000, uma série de empórios ao longo da costa dálmata, em Zara, Veglia, Arbe, Tran e Spalato.Desimpedido o mar Adriático da ameaça dos piratas, pôde Veneza enfim beneficiar -se das vantagens de suaposição, face às correntes mercantis da Idade Média. Com efeito, para o Adriático convergem cerca de três rotasnaturais: uma, a vereda adriática; a segunda, formada pel o vale do Pó; e a terceira, o escoadouro para o sul dos diversoscaminhos alpinos de acesso fácil, ligando o Adriático à Alemanha, à França e aos Países Baixos. Noutras palavras,colocada geograficamente quase a meio caminho das duas extremidades da bacia Mediterrânea e ligada politicamente àgrande cidade comercial de Constantinopla, Veneza tinha toda facilidade para atuar como agente de distribuição emtodo esse mar.30Os sucessos no Adriático deram a Veneza não somente acesso às grandes quantidades de made ira deconstrução que eram trazidas aos portos da Dalmácia dos altos planaltos da Hinterlândia, mas também ao trigo e aosvinhos da Itália do sul. Além do mais, teve acesso livre a campos comerciais de maior envergadura. Seja como vassalo,aliado ou inimigo vitorioso do Império Bizantino, Veneza jamais perdeu de vista seus interesses mercantis. Já no séculoX, ela havia adquirido em Constantinopla prioridade sobre suas concorrentes italianas, Amálfi e Bari. Em 1082, se fezoutorgar o direito de comerciar sem pagar nenhum direito em toda a extensão do Império Bizantino. Na época daPrimeira Cruzada (1096), Veneza, já uma importante potência naval, pôde colocar à disposição das cruzadas a frotanecessária ao transporte de homens, cavalos e víveres para a Terra Santa. Ao mesmo tempo, mantinha relaçõescomerciais com Alexandria, em poder dos infiéis. Um século depois (1204), fazendo a Quarta Cruzada servir a seuspróprios fins, Veneza se apoderou de Zara, na costa da Dalmácia, e possibilitou a tomada de Constanti nopla peloscruzados, com a conseqüente criação do efêmero Império Latino do Oriente. A Quarta Cruzada acabou totalmente como predomínio da metrópole do Bósforo e converteu Veneza em potência normativa. O Império Grego ruiu e na partilharecebeu Veneza territórios tão vastos que o Doge pôde chamar -se com orgulho Senhor de uma quarta parte e de umoitavo de todo o Império Romano. A cidade das lagunas, todavia, visava assegurar o predomínio mercantil de modoincondicional e não ocupar uma extensão territoria l de difícil defesa.Na busca de suas ambições comerciais, Veneza edificou um vasto Império que se compunha, sobretudo, deterritórios úteis ao comércio e que pudessem ser vigiados por sua Marinha. Como colônia de fato, os venezianos sómantiveram a Ilha de Creta, e mesmo o valor dessa ilha consistia mais na posse de um lugar de repouso e de refúgio nocruzamento das linhas de navegação mais importantes do que nas culturas do arroz, do algodão e da Cana -de-açúcar.Fora disso, Veneza só teve a posse de algun s pequenos portos na costa, vantajosamente colocados no ponto de vistacomercial e de fácil defesa, como Durazzo, no Epiro, as cidades marítimas Medon e Coron, convertidas em poderosasfortalezas no extremo sul ocidental de Messina, Negroponto, na Eubéia, e Galipoli, para assegurar a passagem dosDardanelos.Mesmo o domínio veneziano na Dalmácia exercia -se apenas no litoral, onde ela conservava, à exceção deRugasa, todos os portos principais.Tal como em Pisa e Gênova, a ação do governo fazia -se sentir fortemente em todos os setores ligados aocomércio marítimo da cidade. No começo da primavera, o Estado procedia à abertura do mar, pondo em atividade oque se chamava as esquadras do tráfego, que eram formadas por frotas mercantes de importância diversa e que, por todoo período da navegação, eram alugadas à sociedade de mercadores e especuladores. Cada ano armavam -se, por conta do

Estado, seis esquadras de tráfego compostas de 3.300 navios com cerca de 36 mil homens de guarnição. O tráfego seorientava em três direções principais: uma, das rotas mercantis, conduzia ao Egito; em Alexandria e no Cairo, eramrecebidas as mercadorias pelos árabes que as levavam para o outro lado do mar Vermelho. Para a costa da Síriadirigiam-se suas frotas, para levar peregrin os aos Santos Lugares e tomar a bordo gêneros do Oriente para a viagem devolta. Também no noroeste do Mediterrâneo apareciam freqüentemente as naves de Veneza e entabulavam benéficasrelações mercantis, apesar dos sangrentos encontros que tiveram com os b arcos genoveses. Em Tana, nas proximidadesda desembocadura do Don, estabeleceram os venezianos uma colônia onde trocavam peles russas e mercadorias índias,embora o principal objetivo fosse negociar no mercado de escravos que existia nessa localidade. Par a o oeste, estendeupaulatinamente os venezianos sua influência com os sarracenos da África Setentrional, da Espanha e com os habitantesdo sul da França que estiveram em estreitas relações mercantis.Dada a enorme importância da Marinha para Veneza e se b em que os estaleiros fossem dirigidos por empresasprivadas, o Estado regulava e dirigia a produção, seguindo leis rigorosas concernentes aos processos de fabricação dosnavios, suas dimensões, seu aparelhamento, enfim, o trabalho dos operários. Nenhum ven eziano podia construir noslimites da República navios que não tivessem as medidas rigorosamente previstas. Os interesses da defesa militarexigiam, com efeito, que, em caso de necessidade, os navios mercantes pudessem ser facilmente transformados emnavios de guerra. Eis a explicação da prodigiosa rapidez com que aquela República renovava sua frota,A primeira metade do século XV viu o apogeu do poderio marítimo -comercial veneziano. No ano de 1423, oDoge Tomaz Mocenigo, em relatório apresentado aos consel heiros, estimava serem 3.300 os mercadores navegantes.Por essa época, nem só no Mediterrâneo e no Oriente aplicava -se a atividade veneziana. Na França, na Alemanha, noFlandres e na longínqua Inglaterra, durante o último século da Idade Média, penetraram também os comerciantes e osnavegantes da Sereníssima. Com Portugal, a República teve relações diretas e de alguma intensidade pelo fim do séculoXV, devido ao tráfego de cana -de-açúcar que a ilha da Madeira produzia em grande abundância. Cada ano, naviosportugueses carregados de açúcar chegavam a Veneza. A amizade entre os dois Estados não durou muito, porém. Em1498, um navio português saqueou uma nave veneziana que se dirigia a Salônica e se apoderou de uma outra de Creta,carregada de vinho, ao passo que o avanço lusitano, ao longo da costa africana em busca do caminho marítimo para asíndias, suscitava o receio justo dos dirigentes do Estado.3132CAPÍTULO IA GRANDE CRISE DOS SÉCULOS XIV E XV:A Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra marcou toda a Europa do século XIV. As rotas comerciaisterrestres que cruzavam a França, importantes para a articulação do comercio continental, ficaram comprometidas pelaguerra, tornando necessário o estabelecimento de caminhos alternativos.Ao mesmo tempo, a peste negra trazida nos porões dos navios que circulavam entre o Oriente e Ocidente,dentro da bacia do Mediterrâneo, devastou a população européia em muitas áreas, levando à violenta ret ração dosmercados consumidores e, portanto, da atividade comercial. Cerca de um terço da população européia foi vitimada pelaPeste.Finalmente, a fome generalizada, provocada pela escassez de víveres no cenário de destruição da guerra eabandono das cidades afetadas pela doença, completou o contexto do que ficou conhecido como a crise do século XIV.A epidemia de peste negra começou a declinar por volta de 1350. As ocorrências de fome, porém,

continuariam ocorrendo esporadicamente até o final do século e a paz entre França e Inglaterra só seria estabelecida emmeados do século seguinte. Entretanto, a entrada do novo século significou o surgimento de novos problemas.A diminuição da população européia criou uma situação na qual a retomada da atividade comer cial se faria deforma lenta, na mesma medida da própria expansão demográfica. O desvio de metais preciosos para o Oriente, nacompra das especiarias e outros artigos de luxo, e o esgotamento das minas destes metais preciosos, principalmenteouro e prata, no continente europeu, tornavam limitada a oferta de moeda, estrangulando o comércio.E, finalmente, o monopólio da lucrativa rota mediterrânea das especiarias, exercido pelas cidades italianas,notadamente Gênova e Veneza, restringia a possibilidade de lu cros de outras cidades européias.Foram esses fatores que acabaram por forçar a burguesia européia a buscar novas alternativas para expandir ocomércio, e a saída evidente era a navegação atlântica. Teve origem ai o processo de expansão marítima européia.A empreitada de enfrentar a desconhecida navegação no oceano Atlântico exigia investimentos de vulto, queestavam muito além das possibilidades de qualquer cidade européia isoladamente. Em outras palavras, era necessária amobilização ampla de recursos, o que foi feito em escala nacional, tornando a centralização monárquica um verdadeiropré-requisito para a expansão marítima.Pelo fervilhante porto de Gênova passavam mercadorias das regiões mais longínquas do Oriente.Como vimos, França e Inglaterra esti veram envolvidas na Guerra dos Cem Anos até o século XV, o queretardou o processo de centralização monárquica nos dois países. A Espanha ainda enfrentava os muçulmanos, somenteexpulsos completamente da península Ibérica em 1492. Outros territórios europe us também se apresentavamfragmentados, inclusive os vastos territórios que faziam parte do Sacro Império Romano -Germânico. Assim, aunificação precoce de Portugal (em relação às demais monarquias do continente) contribuiu decisivamente para asprimeiras iniciativas na expansão marítima européia.A Revolução Comercial e o Mercantilismo:O Antigo Regime dominante em quase toda a Europa durante a Idade Moderna caracterizava -se pelacombinação de elementos tipicamente feudais com outros surgidos do desenvol vimento comercial. Assim, as secularestradições políticas, sociais e econômicas remanescentes da velha ordem feudal foram -se mesclando aos interesses deuma burguesia cada vez mais atuante e promovendo modificações nas antigas relações.Nesse período, os reis tentaram preservar o status político da nobreza, ao mesmo tempo em que acomodavam,na estrutura de poder vigente, os interesses da burguesia comercial, cujas finanças se mostravam cada vez maisnecessárias aos negócios do Estado. Em decorrência, essa s mudanças, antes de significarem uma profunda ruptura como passado, representaram a permanência das antigas hierarquias, que mantinham vastos setores da população européia àmargem do poder.A Transição da Idade Moderna:Assim como as cruzadas dinamiz aram o renascimento das atividades comerciais na Europa, a expansãomarítima provocou uma verdadeira revolução comercial, na medida em que a atividade mercantil passou a ser exercidaem escala mundial. Em meio a esse processo, muitas instituições feudais j á não atendiam às novas necessidadeseconômicas e à estruturação do poder centralizado, resultando, ao longo do tempo, em sua decadência enquanto seestruturava uma nova ordem socioeconômica, que alguns estudiosos denominam capitalismo comercial.Chamado por outros de capitalismo mercantil, contudo, tal ordem carregava ainda vários elementossobreviventes do feudalismo, a exemplo do poder e prestígio advindos de questões hereditárias (títulos de nobreza eclericais) e não do sucesso econômico. De outro lad o, os grupos sociais mais dinâmicos, como aqueles atrelados aosnegócios comerciais e financeiros, aceleravam a acumulação progressiva de riquezas (acumulação primitiva de33capitais), forjando as condições que desembocariam na industrialização dos séculos X VIII e XIX, quando a ordemcapitalista burguesa atingiria sua maturidade e completaria sua formação como sistema hegemônico e poderoso.Entre os séculos XV e XVIII, período denominado Idade Moderna ou época do Antigo Regime, o capitalismocomercial foi se consolidando, abrindo espaços políticos para comerciantes e banqueiros. Entre as aspirações dessesindivíduos constavam, contraditoriamente, os títulos e privilégios da nobreza, a fim de assegurarem sua supremacia, deresto já garantida pelo poder econômic o.

Quanto aos nobres, os novos tempos desafiavam a manutenção dos seus privilégios, adquiridos há séculos,exigindo-lhes esforços para se adaptarem à nova ordem e garantirem alguns dos seus privilégios e poderes. Somente nofinal da Idade Moderna os burgueses romperiam definitivamente com as antigas tradições e resquícios estamentais,sendo já suficientemente fortes para criar uma estrutura econômica, social e política à sua própria imagem, de fatocapitalista, eliminando os últimos vestígios feudais. Mas para chegar a isso, predominaram durante o período moderno orompimento e a combinação de interesses dos herdeiros da velha ordem e dos nascidos do desenvolvimento comercial eurbano, consistindo na transição do capitalismo comercial.A formação dos Estados Centralizados iniciada na Baixa Idade Média e a dinamização comercial e urbana,tiveram importância fundamental para a expansão mercantil. Em cidades onde já ocorriam as trocas monetárias e aprodução manufatureira, passou a vigorar maior controle da ar recadação de tributos e da circulação de mercadorias e dedinheiro por parte do rei e seus auxiliares. A produção manufatureira que ganhava impulso era, então, realizada portrabalhadores assalariados, contratados pelo proprietário que era também patrão. C onsolidavam-se novas relaçõessociais e produtivas, rompendo barreiras feudais tradicionais.No campo, muitas das antigas obrigações feudais que caracterizavam a servidão foram sendo abolidas ao longodos séculos, concomitantemente à introdução do trabalho assalariado e à expropriação das terras comunais.Durante a Idade Moderna, a sociedade continuava dividida em ordens: clero, nobreza e povo. Tal divisãorefletia ainda a persistência de valores medievais que separavam as pessoas entre "os que rezavam", " os quecombatiam" e "os que trabalhavam". Porém, à medida que se acumulavam riquezas nas mãos de parcelas desiguais dapopulação, esboçava-se uma sociedade mais dinâmica, em que se destacavam classes de proprietários de terra (clero enobreza), de burgueses (comerciantes e artesãos) e de trabalhadores (assalariados, camponeses livres e servos).Os Estados Modernos e o Mercantilismo:Os Estados modernos europeus surgiram, a princípio, do processo de aproximação entre monarquia eburguesia, em busca de crescentes quantidades de recursos monetários. Para tanto, muitos reis europeus protegeram eestimularam os negócios burgueses, quer desmontando as estruturas feudais que entravavam o comércio, querpromovendo e gerenciando a expansão comercial com as grandes navegações (Portugal, Espanha, França) ou, ainda,incentivando a criação e a manutenção de colônias na América (França, Inglaterra, Países Baixos).A atenção dos reis aos negócios mercantis exigia -lhes o fortalecimento de seu poder, imprimindo um caráterabsolutista às monarquias. Modificava -se, assim, o sistema político feudal em que cada vassalo reinava soberanamentesobre seu feudo. Estimulando a atividade mercantil, o monarca garantia seu próprio fortalecimento, na medida em queampliava a base de arrecadação de impostos. Com tais recursos, sustentava uma poderosa administração estatal comvasta burocracia, verdadeira base de seu poder, constituída, essencialmente, por membros da nobreza.Ao convocá-los para exercer novos papéis na sociedade, os reis p ossibilitavam aos nobres a manutenção deseus privilégios, contrabalançando a expansão burguesa. Dessa forma, tanto nobres como burgueses permaneciamdependentes do rei. Juntos e articulados na estrutura do Estado moderno, monarcas, burgueses e nobres comb inavampoderes que garantiam a ordem, a sujeição popular, a dinâmica comercial e os privilégios, constituindo o chamadoAntigo Regime.Dentre as diversas medidas adotadas pelos reis absolutistas europeus para promover o fortalecimentofinanceiro do Estado, encontra-se a adoção de um conjunto de diferentes práticas econômicas conhecidas comomercantilismo. Embora não tivessem constituído uma teoria econômica, nem tenham sido aplicadas de maneirahomogênea na Europa, as práticas mercantilistas possuíam algun s elementos comuns.Elas partiam do ideal metalista 21, ou seja, baseavam-se na concepção de que a riqueza de um Estado dependiada quantidade de metais preciosos existente dentro de suas fronteiras. O metal poderia ser obtido de forma direta, pelaexploração de minas (aliás, esgotadas na Europa desde o século XV), ou do comércio, que possibilitava atrair eacumular moedas, Assim, surgiu o princípio da balança comercial favorável, que associava a riqueza de uma nação àsua capacidade de exportar mais que imp ortar.Deste entendimento sobre a formação da riqueza nacional, muitos reis adotaram uma série de medidas

favoráveis à ampliação das exportações. Por meio do estímulo à produção manufatureira e diminuição das importações,impunham barreiras tarifárias aos produtos estrangeiros, principalmente às manufaturas que pudessem ser fabricadasdentro das fronteiras de seu Estado (protecionismo). Tais orientações, revelando um alto grau de intromissão do Estadonas atividades produtivas, caracterizaram o mercantilis mo como uma política econômica fortemente intervencionista.A adoção das práticas mercantilistas pelos diversos Estados europeus acabou por gerar um impasse econômico:como realizar o comércio quando todos querem vender (exportar) e ninguém quer comprar ( importar)? Em outras21 No caso específico espanhol fica determinado o termo bulhonismo, em referência ao nome da moeda espanhola.34palavras: como tornar a balança comercial mais favorável aos interesses do reino? Muito desse impasse foi resolvidopelas armas, acreditando-se que o aumento da riqueza de um reino só seria possível no confronto com Estados vizinhos.A saída foi o estabelecimento de colônias nas terras descobertas na América, em meio à expansão marítima.Assim, cada nação européia, na medida do possível, buscou tornar -se metrópole de uma ou mais colônias, disputando edesbancando Estados rivais no expa nsionismo. As colônias deveriam se converter em áreas com as quais as metrópolesiriam estabelecer um comércio desigual, isto é, desequilibrado em benefício de um dos lados, o que garantiria suabalança comercial favorável (Pacto Colonial). Ao mesmo tempo, seriam extraídos das colônias os metais preciosos queestavam esgotados na Europa, alcançando -se assim, por quaisquer vias, os objetivos mercantilistas e o fortalecimentodo poder do Estado.Devido às maiores possibilidades de acumulo de riqueza, a colon ização passou a ser o principal meio pelo qualos Estados europeus tentaram atingir seus objetivos mercantilistas. Portugal e Espanha, precoces na expansão marítimae na partilha do mundo que se seguiu, usufruíram de significativos meios para se enriquecer em: Portugal pôde exploraro mercado de especiarias, ao ter estabelecido rotas alternativas para as Índias Orientais. A Espanha apoderou -se deimensa riqueza em ouro e prata ao iniciar o processo de exploração das minas americanas, na primeira metade do sé culoXVI.As demais nações européias não reconheceram a partilha do mundo entre as nações ibéricas, e, ao longo doséculo XVI, cobiçaram ferozmente a riqueza acumulada pelos reinos ibéricos, dedicando -se freqüentemente a ataques asuas colônias. Países como França e Inglaterra, retardatários no processo de expansão marítima, pobres em colônias,foram obrigados a enfatizar outros aspectos do mercantilismo, como o industrialismo.De certa forma, é irônico observar que a base manufatureira da França e princi palmente da Inglaterra seriafundamental para a futura expansão capitalista desses dois países. Por outro lado, Espanha e Portugal, com vastascolônias de onde eram capazes de extrair grande volume de metais preciosos, acabaram se estagnando economicamente .Tornaram-se cada vez mais dependentes de suas possessões na América e, não raro, passaram por violentos surtosinflacionários provocados pelo excesso de metais preciosos. Além disso, a manutenção de estruturas políticas quebeneficiavam a nobreza e o cle ro foi fundamental para que as nações ibéricas ficassem aquém do processo dedesenvolvimento capitalista que se anunciava.A Expansão Comercial:Até época relativamente recente a ausência de boas estradas, as vastas extensões desabitadas, as montanhas edemais acidentes geográficos constituíam empecilhos sérios ao desenvolvimento das trocas comerciais. O intercâmbiode artigo de pequeno volume e peso ainda era viável nas caravanas de muares ou camelos, ou em carroças, mas jamaisas transações de vulto destinadas a abastecer de gêneros alimentícios populações numerosas, ou a suprir de matérias -primas indústrias avançadas. Dessa forma a vantagem oferecida pela superfície ilimitada do mar para o transporte

longínquo e o frete reduzido para os produtos do so lo ou da indústria evidenciaram-se desde a remota Antiguidade.Na realidade, não foi senão no dia em que a navegação permitiu a países distantes e diferentes entre si emcivilização comunicarem-se, que o comércio propriamente dito nasceu. Por mar, o camin ho está feito, ou antes, não hánecessidade de estradas; o elemento líquido suporta indiferentemente qualquer peso e sua superfície permite odeslocamento livre em qualquer direção. A força motriz mais fraca, força gratuita, se é empregado o vento, é sufic ientepara pôr em movimento massas enormes.Não é, portanto, de ser admirar que o mar tenha sido por todos os tempos o grande caminho do comércio e quepovos separados por mil léguas de mar encontrem-se na realidade mais vizinhos que outros separados por cem léguasde terra firme. Mesmo agora, com os progressos do transporte por via terrestre, o transporte pelo mar é ainda menosoneroso, o que significa trabalho menor. O preço do transporte da tonelada quilométrica não ultrapassa quase nunca umquinto e mesmo um décimo do preço do transporte por via férrea. Em Marselha, o preço do carvão, que vem por mar daInglaterra, passando pelo estreito de Gilbratar e que percorre 3.500 quilômetros, é menor do que o do carvãotransportado por estrada de ferro procedent e das minas de La Grande Combe, situadas a 177 quilômetros. Mares delivre navegação, lagos, rios ou canais navegáveis constituem dádivas da natureza a determinadas regiões.As vias aquáticas e a posição relativa das grandes regiões produtoras e consumido ras têm orientado os fluxoscomerciais do mundo. Por muitos séculos foi o Mediterrâneo o centro de cruzamento, no Mundo Ocidental, das maisimportantes linhas comercial -marítimas. Hoje é o Atlântico Norte.Em outras épocas, alguns países beneficiaram-se da situação de proximidade das principais linhas dedeslocamento de mercadorias e das facilidades de acesso ao mar, propiciadas pelos seus litorais, para assumirem afunção lucrativa de intermediários do comércio mundial. A grande importância adquirida na H istória Econômica pelocomércio fenício, púnico, holandês, genovês, veneziano ou inglês originou -se justamente do fato de ter abarcado umaárea extensíssima, servindo não apenas a algumas nações ou mesmo a algum império, mas a vários continentes. Asmercadorias que os navios fenícios deixavam ou apanhavam nos portos desde a Espanha até o mar Negro, não eram, nasua maioria, nem destinadas às cidades sírias nem delas procedentes. Mais provavelmente os artigos egípcios ebabilônicos constituíam maior parte da carga. Nas viagens de ida e nas viagens de volta, os artigos trazidos eramdesembarcados nos portos de onde pudessem atingir, depois, os países mais povoados e adiantados da época, sobretudoo Egito, a Assíria ou a Babilônia.Também na Idade Média não er a o sal, nem as sedas, nem os espelhos produzidos na Cidade dos Doges queenchiam os milhares de navios venezianos nas viagens de ida para os extremos do Mediterrâneo, nem ao consumo dos35habitantes da cidade, ou da indústria, se destinavam na sua maioria a s mercadorias carregadas no regresso. Chegada aVeneza, parte substancial da carga tomava o caminho da França, da Alemanha ou da Holanda pelas estradas alpinas.Mais tarde, ainda não foram o queijo, o arenque seco ou os tecidos holandeses que bastaram para encher os porões dosnavios batavos. Era necessário aí acrescentar os vinhos franceses, as manufaturas e o carvão da Inglaterra, as madeirasdos países do Báltico, as peles russas, as especiarias orientais e etc.A prosperidade e a riqueza da Fenícia, de Gênova, de Veneza e da Holanda e mesmo de Portugal achavam -sede tal modo na dependência dos lucros provenientes dos fretes e da revenda de mercadorias levadas por seus naviosde um ponto para outro das respectivas áreas de atividade mercantil, que aquela s nações entraram em decadênciaquando perderam a posição privilegiada de intermediárias.Tão grandes e evidentes são as vantagens advindas da exploração das rotas marítimo -comerciais, que desde aantiguidade observa-se a tendência das nações procurarem o bter a exclusividade de sua utilização sempre que ascircunstâncias o permitem. Se o monopólio dos caminhos marítimos por uma única potência, nos moldes almejadospelos fenícios e cartagineses ou mesmo pelos genoveses, venezianos e holandeses, não é hoje v iável, nem por issodeixou de existir uma desenfreada competição internacional pela preponderância nas linhas de navegação mais

lucrativas.A superabundância de produtos agrícolas, manufaturados ou do subsolo, constitui uma segunda circunstânciafavorável à criação e ao desenvolvimento do comércio marítimo, pois o extravasamento dos excessos naturalmente seencaminha pela rota mais fácil, em busca dos mercados deles sequiosos. Sem dúvida alguma, nos Estados Unidos, aprosperidade de grande número de cidade s da costa do Atlântico e do Pacífico e do golfo do México bem como odesenvolvimento da Marinha Mercante, têm sido devidos ao volumoso comércio exportador e importador do país.Outro tanto se pode afirmar do progresso de Hamburgo e de Bremen, cidades que a partir da segunda metade do séculopassado mais se têm beneficiado do extraordinário surto do comércio exterior alemão. Nesses dois centros, os estaleirose as instalações portuárias e a tonelagem de navios mercantes neles registrados acompanharam o incr emento dastransações comerciais da Alemanha. De uma maneira geral, as cidades portuárias que servem de escoadouro a regiõesprodutivas, convertem-se em centros de intensa atividade comercial, tendendo ligar mesmo os países decaracterísticascontinentais aos empreendimentos marítimos.Algumas cidades como Londres, Nova York e Rotterdam, na atualidade, e Alexandria, na Antiguidade,situadas sobre rios, no ponto de encontro das navegações marítimas e fluviais, beneficiaram -se, mais do que quaisqueroutras, do movimento mercantil nascido em conseqüência da situação vantajosa por elas ocupadas. Por um lado, toda aprodução do interior desce pelo caminho natural das águas até encontrar o grande centro de distribuição representadopelas cidades da foz. Em contrapartida, também é nesses centros que os produtos importados desembarcam antes deganhar em sentido inverso os mercados interiores. Foi assim que Alexandria, recebendo pelo Nilo os artigos agrícolas eindustriais produzidos no Egito, então um dos países mai s ricos e adiantados, em contato pelo Mediterrâneo com amaior parte das nações bárbaras e civilizadas da época, converteu -se numa das principais cidades da Antiguidade.Rotterdam, na foz do Reno e do Escalda, que permitem a livre passagem de barcaças até bem o interior daEuropa, passando em zonas ricas da Bélgica, Alemanha e França, é o exemplo moderno, dos mais eloqüentes, de umcentro de comércio que se beneficia, sobretudo, da posição geográfica. Anualmente, cerca de trinta milhões detoneladas são movimentadas nos vinte e poucos quilômetros de cais daquela cidade. Não apenas o comércio exportadore importador dos Países Baixos mas também o das nações circunvizinhas encontram ali um ponto intermediárioimprescindível. A fome de matérias -primas do Ruhr é saciada em grande parte por Rotterdam, mais próxima que osportos alemães do Norte. A gigantesca produção da parte mais industrial da Alemanha também se serve do seu portoquando destinada aos países do Sul da Europa, ou de outros continentes.Na América do Norte, nenhum centro comercial beneficia -se tanto da situação geográfica quanto Nova York.Já um dos centros comerciais mais importantes desde os tempos coloniais, graças a seu porto na foz do rio Hudson,servindo a uma área rica, Nova York agigantou -se com a abertura do canal Eriê em 1818, o qual permitiu acomunicação fácil com toda a vasta e rica região dos Grandes Lagos. Seu desenvolvimento foi depois acelerado pelaprosperidade da indústria americana localizada, em grande parte, dentro do raio de absorção do seu porto. É hoje NovaYork o porto de maior movimento no mundo, ultrapassando mesmo Londres.Bem outra era a situação de Lisboa e Sevilha. Não sendo o Tejo e o Guadalquivir navegáveis acima daquelascidades, nem constituindo o interior de Por tugal e Espanha importantes regiões produtoras ou consumidoras,permaneceram os dois portos ibéricos apenas como portos de escala para os produtos asiáticos e americanos, mas nãocomo verdadeiros centros distribuidores. Coube à Marinha holandesa a tarefa, negligenciada pelos portugueses, deembarcar em Lisboa os produtos ali acumulados e encaminhá -los para os mercados do norte da Europa, via Amsterdãou Rotterdam, Com o fim do Império Colonial Português nas Índias, os navios batavos passaram a fazer o percu rsodireto sem mais irem a Lisboa.Assim, a prosperidade comercial promove a formação de cidades portuárias, de características semelhantes,

tanto nos países marítimos como nos continentais. Até um país eminentemente agrícola, como a China, viu crescerXangai desmedidamente por força da intensa atividade comercial ali desenvolvida, no cruzamento de rotas marítimas efluviais. Mesmo não levando o resto do país a se ligar aos empreendimentos oceânicos, não há dúvida de que onascimento de cidades portuárias importantes, fruto da expansão comercial, marca um passo decisivo no sentido dodesenvolvimento marítimo, pois nelas, paulatinamente, congregam -se os elementos materiais e humanos indispensáveisà conquista dos caminhos sobre as ondas e nelas passam a habi tar as classes de prestígio com interesses permanentes evultosos nas atividades náuticas.36Graças ao florescente comércio e graças às condições geográficas que possibilitaram o desenvolvimento dealguns de seus portos, nações eminentemente continentais, c omo o Egito antigo, os Estados Unidos, a Alemanha e aRússia foram levadas a participar da História Marítima.É fato notório que o desenvolvimento econômico impõe, tacitamente, maior entrelaçamento mercantil entre asnações e, conseqüentemente, uma maior dependência as comunicações marítimas. Tal fato é observado desde aAntiguidade, adquirindo ainda maior realce com a Revolução Industrial. No caso dos Estados Unidos, por exemplo, ascifras são concludentes. Segundo o relatório apresentado em 1952 pela Mat eriais Policy Comission, a produçãoamericana em 1900 foi superior ao consumo em 15%. Em 1950 o consumo ultrapassou em 9% a produção. A estimativapara 1975, considerando o aumento da população e do padrão de vida, previa um déficit de 20%. Em tais condiçõ es, nadependência crescente de fontes externas, a antiga política isolacionista do agrado dos primeiros estadistas americanos,como Washington e Jefferson, e ainda sustentada em certas regiões do país, tornou -se impossível. Uma lei de embargoao comércio exterior, como a decretada pelo Presidente Jefferson, em 1807, seria hoje rejeitada como absurda antes dequalquer discussão.A dependência progressiva da economia germânica às fontes externas é também facilmente constatada. Bastaum rápido confronto entre as situações econômicas enfrentadas pela Alemanha durante as sucessivas guerras queenfrentou desde o fim do século XIX. Com efeito, durante os conflitos externos de envergadura, o esforço total exigidocoloca à prova não só a estrutura social e política da nação, mas também põe à mostra todas as suas possibilidades elimitações econômicas. Sem depender grandemente do exterior, a Alemanha venceu a França em 1870. O armamentode superior qualidade produzido pelo seu parque industrial em rápida ascensão não necessitava então de matérias -primas procedentes do ultramar ou mesmo de outros países europeus. Já na guerra de 1914 -18, o esforço de guerraalemão foi seriamente afetado pela dificuldade em conseguir determinados artigos essenciais no exterior. No Segun doConflito Mundial, mais uma vez privada das comunicações marítimas com a maior parte do mundo, a economia deguerra alemã exigiu decisões estratégicas de alta relevância. A Campanha da Noruega, em 1940, assegurou osuprimento de minério de ferro, cuja in terrupção teria feito cair a produção siderúrgica germânica em 50%. Entretanto,a falta de petróleo constituiu sempre um pesadelo para a Alemanha, que, em 1942, foi obrigada a orientar sua ofensivade verão na Rússia em busca dos poços do Cáucaso, abandona ndo objetivos de elevada significação como Moscou eLeningrado.Na verdade, os alemães, e muito menos os americanos, não se dedicam aos afazeres náuticos com o mesmovigor e a mesma eficiência dos povos que procuram o mar compelidos pelo ambiente geográfi co. A participaçãoamericana no transporte marítimo de suas próprias exportações e importações, por várias vezes no século XX, desceu apercentagens bem baixas. Mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, a Marinha Mercante dos Estados Unidos não temenfrentado vantajosamente a concorrência inglesa, norueguesa ou holandesa. Entretanto, o vulto do comércio

americano, por si só, é capaz de absorver toda a capacidade de transporte da frota mercante do país. Mediante algumaspoucas leis protecionistas, a frota de c omércio dos Estados Unidos tem podido desenvolver -se, visto estar garantida ademanda de seus serviços.A expansão comercial, mesmo sem incutir nos povos continentais a noção de dependência econômica do mar,cria um jogo de interesses que obriga os govern os a travarem contato com uma série de problemas, entre os quais o dodesenvolvimento marítimo é fundamental. Tanto na Alemanha como nos Estados Unidos, bem antes das duas guerrasmundiais, a ação estatal se fez sentir na esfera marítima, visando à salvagu arda de interesses nacionais de primeiramagnitude. Com o surto do comércio alemão, Bismarck, em 1885, iniciou as subvenções a companhias de navegaçãogermânica e posteriormente veio a interessar -se por colônias. De forma semelhante a política exterior ame ricana,coincidindo com a expansão mercantil do país, adquiriu caráter até então inédito, assumindo, inclusive, aspectoimperialista no fim do século XIX e começo do XX. Em ambos os países, essa mudança foi seguida de aumentoconsiderável das respectivas marinhas de guerra.A influência do comércio no desenvolvimento das atividades oceânicas implicitamente estabelece identidadeentre os povos de espírito mercantilista e os de espírito marítimo. Essa identificação é flagrante entre as diversas naçõesde características marítimas. Com exceção dos vikings, que permaneceram mais ligados à pesca e à pirataria, os demaispovos de acentuadas tendências marinheiras descambaram também com vigor para a exploração marítimo -comercial.Duas ordens de razões explicam o f ato: primeiro, nos países de solo pobre ou limitado, como acontece na maioria dasnações marítimas, uma fração importante dos habitantes é forçosamente desviada do trabalho da terra para as atividadescomerciais e industriais, em busca de amparo econômico; o comércio assume assim uma relevância dificilmenteatingível nas nações de economia agrária. Segundo, só pela importação podem ser obtidos certos produtosindispensáveis à alimentação do povo e ao funcionamento da indústria, o que implica, em contraparti da, um esforçopara desenvolver o comércio exportador que equilibre o sistema de trocas.Viu-se que na Grécia antiga a população de Atenas dependia do suprimento de trigo das regiões do mar Negro.O azeite, os artigos de cerâmica e os produtos espículas c onstituíam os elementos com que os gregos efetuavam astrocas indispensáveis. De forma idêntica, os venezianos, muitos séculos depois, foram encaminhados para o comércio,visto não haver possibilidade de encontrar no solo da República recursos suficientes ao abastecimento dos habitantes. Osal, primeiro, e depois os vidros e as sedas permitiram o desenvolvimento de um comércio capaz de contrabalançar asimportações. Também o reconhecido espírito mercantil do povo holandês provavelmente nasceu da necessidade decomprar fora das fronteiras produtos agrícolas para a população adensada num território de escassa área.Dos países do Báltico, da Alemanha e da França procediam grande parte dos alimentos com que,quotidianamente, cada holandês completava suas refeiç ões de peixe, e da Grã-Bretanha chegava a lã indispensável aofuncionamento das indústrias têxteis. O arenque seco e o queijo serviram de base inicial à prosperidade mercantil dos37Países Baixos, possibilitando a importação dos variados produtos de que care ciam. Tal vulto atingiu o comércioholandês depois que se converteu na principal preocupação do Estado.Semelhantemente, a expansão comercial da Inglaterra, a partir do século XVIII, estabeleceu um sistema detroca, cuja preservação tem sido até os dias a tuais o propósito número um dos estadistas britânicos. Não tanto paraatender aos reclamos básicos da população de um país marítimo, mas principalmente visando consolidar a posse dafonte de seu poderio, o vasto Império ultramarino, o povo inglês tem -se dedicado com ardor inigualável aosempreendimentos oceânicos.Chega-se aqui ao ponto em que a expansão comercial, o colonialismo e o desenvolvimento marítimoentrelaçam-se.De uma maneira geral, os povos marítimos são também os povos colonizadores. As mesm as causas que os

fazem procurar o mar, os propelem também a emigrar em busca de amparo econômico noutras plagas.O colonialismo, entretanto, nem sempre apresenta a mesma feição. Alguns movimentos colonizadores foramespontâneos, obedecendo a condições na turais, nascendo da ânsia de conseguir terras férteis ou as riquezas fáceisrepresentadas pelos minérios nobres. A expansão grega nos séculos IX e X aC constitui um exemplo típico de uma obracolonial nascida da penúria das terras. As invasões vikings, par te da obra colonial portuguesa, inglesa, espanhola emesmo holandesa constituem outros exemplos nos quais populações se transladaram em massa para outros continentes,levando o sangue, a língua e os costumes, fundando, em suma, novas pátrias em novos ambie ntes. Mais comumente,porém, o movimento colonial tem possuído raízes comerciais. É a ânsia de assegurar o controle das fontes de matéria -prima e de mercados consumidores que tem determinado a maioria delas.O caráter comercial da colonização fenícia, car taginesa, veneziana, genovesa, pisana e holandesa, e algumasvezes o da inglesa e da lusitana, já foi acentuado. Sobretudo na Ásia e na África, os povos europeus visaram, antes detudo, o estabelecimento de pontos de apoio onde pudessem efetuar as trocas m ercantis. Também na América aspotências colonizadoras não viram prolongamentos da Mãe -Pátria, mas campos a serem explorados comercialmente, doque resultou, por fim, a revolta dos habitantes. Tanto a Inglaterra como a Espanha e Portugal, seguindo o espíri to daépoca, cercearam, com as leis odiosas, o desenvolvimento econômico das colônias, desde que o mesmo pudesse poralguma forma ferir seus interesses.O colonialismo, baseado na posse de mercados produtores de matérias -primas e consumidores de produtosmanufaturados, levou mesmo alguns países continentais, como a França, a Alemanha e a Rússia, a dele participarem. Aobra colonial foi aí mais resultante da ação estatal, tendo sido mínima a participação direta do povo, com poucadisposição para se deslocar em massa, em caráter definitivo, para ambientes geográficos inteiramente outros. Todavia,qualquer que seja sua feição, os impérios coloniais têm dependido sempre da interligação marítima, impondo,conseqüentemente, o desenvolvimento dos empreendimentos o ceânicos para sua preservação e para atender ao intensosistema de trocas.Com a expansão comercial nos mares e com o colonialismo, devemos considerar um outro aspecto da históriado desenvolvimento marítimo: o que se prende às contendas pela supremacia n as rotas oceânicas, lutas essas que têmcondicionado os destinos de muitos povos.Conforme se verificou na Primeira Parte, a maioria das evoluções marítimas processou -se sob o império daforça. Raros países lograram atingir preponderância nos negócios mar ítimos sem terem apelado para a guerra. Quasenenhuma nação entrou em decadência nos mares que não fosse em conseqüência de luta armada. Na antiguidade osfenícios procuraram eliminar todos os possíveis concorrentes nas rotas oceânicas, não poupando meios para alcançaresse fim. Eles foram suplantados pelos gregos, na porção oriental do Mediterrâneo, depois de uma luta secular. Na parteocidental do Mediterrâneo, os cartagineses, que também eram fenícios de origem, suplantaram os etruscos e rechaçaramas investidas gregas, mas foram, por sua vez, derrotados pelos romanos nas guerras surgidas em disputa das colônias naSicília. Durante todo o fim da Idade Antiga, Roma exerceu um benevolente domínio sobre o Mediterrâneo, no qual foipossível, aos povos de suas praias comerciarem dentro dos limites que convinham. Ela era Senhora do Mundo Antigo.Na Idade Média, as cidades marítimas da Itália, tendo provocado a ruína comercial de Bizâncio e vencedorasdos sarracenos no Mediterrâneo, entraram em luta entre si, qu ando seus interesses foram idênticos nas colônias doOriente. No século XVI Portugal aniquilou a tiros de canhão o comércio egípcio e árabe na Índia, sendo depoisespoliado de suas conquistas pelos ingleses e holandeses. Esses povos do Norte da Europa já a ntes se dedicavam com

afinco ao assalto do transporte espanhol e por fim se defrontaram em luta em disputa do bocado todo. No século XVII, aFrança procurou ascender à categoria de potência colonial e comercial, ganhando, em conseqüência, a inimizade daHolanda e, sobretudo, da Inglaterra, com quem guerreou desde os tempos de Richelieu até Napoleão. Ainda no fim doséculo XIX a Inglaterra e a França eram nações rivais, com interesses coloniais antagônicos bem acentuados. Surgiu,porém, ameaça maior obrigando os dirigentes da França e da Grã -Bretanha a fazerem uma revisão fundamental napolítica exterior. O desenvolvimento marítimo -comercial germânico preocupou não apenas a Inglaterra, mas também osEstados Unidos, que já haviam eliminado a Espanha como nação influente nas Antilhas. Duas guerras mundiaisaniquilaram as pretensões alemãs nas rotas marítimas.Os russos chegaram ao mar Báltico lutando contra os suecos e os germânicos, e ao mar Negro, guerreandocontra os turcos. Suas ambições na Manchúria e na C oréia provocaram a agressão japonesa de 1904. O Japão,convertendo-se em importante potência comercial marítima, passou a ser no Oriente o inimigo potencial da Inglaterra,da Holanda e dos Estados Unidos. A Segunda Guerra Mundial pôs fim às aspirações nipô nicas de domínio naquelaparte do mundo.38Não se pode atribuir apenas à rivalidade marítimo -comercial colonial a causa de desencadeamento de tantasguerras que tão decisivamente influíram nos destinos dos novos, mas, sem dúvida alguma, sua contribuição não foipequena, e a repercussão dessas lutas na esfera marítima foi imensa.Às margens dos conflitos internacionais, desde a remota Antiguidade até pelo menos o século passado, foramos mares teatro de lutas quase permanentes, pois populações numerosas vive ram consagradas ao assalto das riquezastransportadas pelos navios. Todos os povos do Mediterrâneo, de uma forma ou de outra, mesmo os mais civilizados,dedicaram-se, com bastante intensidade, à prática do roubo em alto -mar.Os habitantes das ilhas do mar Egeu, em particular, faziam da pirataria a indústria nacional por excelência. Elesjá preocupavam os Atenienses na época de Temístocles, cinco séculos aC, sendo combatidos por César, Pompeu eAugusto, muitas gerações depois, e durante toda a Idade Média, italianos, bizantinos e sarracenos sofreram seus ataquesde rapina.Os comerciantes pisanos, genoveses e venezianos, por seu turno, também eram corsários quando aoportunidade surgia. Amálfi, Gênova, Pisa e Veneza eram centros de pirataria organizada. El as deveram à pirataria umaboa parte de suas riquezas. Tão normal eram considerados os ataques aos navios de outras nacionalidades que o termocorsário, empregado nos atos genoveses, nada tinha de reprovável ou pejorativo. Numerosos foram os mercadoresitalianos que, tendo dívidas a cobrar de algum grego e não o podendo fazer, se tornaram corsários a fim de arrancar pelaforça o que não obteriam de outra forma.Ainda nos séculos XVI e XVII as companhias inglesas e holandesas, destinadas à exploração comerc ial naAmérica e no Oriente, usavam métodos de rapina que mais se assemelhavam aos utilizados por verdadeiros piratas.Algumas nações, a exemplo dos Estados berberes do Norte da África, tinham mesmo na pirataria a principal fonte derenda. Até meados do século XIX a concessão de cartas de corso foi de uso corrente em todos os países envolvidos emguerra, constituindo um meio para bandidos internacionais ou aventureiros sequiosos de riquezas se aproveitarem dashostilidades. Os corsários foram alguns dos mel hores marinheiros da Grã-Bretanha, como Drake, Hawkin e Releigh, eda França, como Jean Bart, Duguay-Trouin e Surcout.A necessidade de proteger o tráfego marítimo dos assaltos das potências inimigas ou dos piratas e aconveniência em privar o adversário das vantagens das rotas sobre as águas, conduziram à formação, desde épocas bemremotas, das marinhas de guerra. A necessidade de marinha de guerra, no sentido restritivo da palavra, surge, portanto,

da existência do transporte marítimo e desaparece com el e, exceto no caso de a nação ter tendências agressivas e mantera marinha mercante como um ramo da organização militar. A ligação da marinha de guerra ao transporte marítimo é tãoíntima que por muito tempo não houve nítida distinção entre o navio de comba te e o navio mercante. Principalmente naAntiguidade, os traficantes cuidavam, eles próprios, da proteção de suas frotas mercantes, armando os navios, e tambémdos ataques ao transporte dos rivais. O comerciante era ao mesmo tempo marinheiro e guerreiro, adotando oprocedimento mais conveniente conforme as circunstancias.Assim agiam os fenícios, os cartagineses, os gregos e os italianos cujas maonas não eram mais do queexpedições marítimo-comerciais apoiadas na força militar. Ainda nos séculos XVI e XVI I, os traficantes portugueses,ingleses, franceses e holandeses resolviam muitas de suas disputas a tiros de canhão, malgrado a paz reinante entre seuspaíses. Foi da amálgama de corsários, aventureiros, comerciantes, navios de comércio, navios particulare s ou armadospelo Estado, que nasceram as Marinhas de Guerra inglesa e holandesa. Desde que se constituíram definitivamente asmarinhas de guerra sob a égide do Estado, o apoio das forças navais ao comércio passou a ser reflexo da políticaadotada pelo governo. Foi apoiado nos canhões das marinhas de guerra que as potências européias, do século XVII aoséculo XIX, alargaram seus domínios coloniais e comerciais na Ásia, África e Oceania. Foi devido à presença daesquadra do Comodoro Perry que o Japão se viu constrangido a reatar relações com o resto do mundo.Sem dúvida alguma, a interligação das histórias do comércio, da expansão colonial e do poderio marítimoremonta aos fenícios. Sem o apoio de marinha de guerra, própria ou de potência aliada, nenhuma naç ão logroubeneficiar-se por muito tempo do transporte oceânico. O lento trabalho do estabelecimento de uma rede comercial e aformação de uma frota mercante, devidamente apoiada em terra, servidora dessa rede mercantil, são obras de alento queexigem décadas de labor continuado em setores múltiplos, por parte de milhares de indivíduos.Em caso de guerra, a falta de poder no mar tem representado o fim de toda essa obra em pouco tempo. Como aeventualidade de um conflito armado nunca pôde ser afastada do esp írito de dirigentes responsáveis, pois a Históriamostra que os ciclos guerreiros se repetem num intervalo menor do que o tempo exigido pelo completodesenvolvimento marítimo-comercial de um país, resulta que quase sempre as marinhas militares expandem -se àmedida que a esfera do comércio marítimo da nação se amplia. Muitas vezes, porém, a exigüidade de recursos materiaisimpede o desenvolvimento da Marinha de Guerra de acordo com suas responsabilidades, e o país é obrigado a confiar aproteção de seus interesses marítimos a potências estrangeiras, valendo -se de alianças. Foi para a proteção recíproca docomércio marítimo que as cidades gregas fundaram as chamadas Ligas Délicas. Foi procurando o apoio do poderionaval britânico, necessário à preservação de s eu Império, que Portugal, enfraquecido no mar, renovou constantementesua aliança com a Inglaterra.Durante as duas guerras mundiais, sem a proteção da Royal Navy e da US Navy, as frotas mercantes, ocomercio e a maior parte das colônias dos demais países aliados teriam sido destruídos ou capturados. Enquanto amarinha de comércio e as atividades mercantis de países poderosos como a Alemanha, a Itália e o Japão eram quasetotalmente eliminadas dos mares, nações de pequeno poderio naval como a Noruega, a Ho landa e a Grécia encontraramna aliança com as potências anglo-saxônicas a relativa segurança que preservou de catástrofe total seus interessesmarítimos e coloniais.39A expansão do comércio marítimo de uma nação tem o efeito paradoxal de estimular o desen volvimento dasmarinhas de guerra dos inimigos eventuais, pois no exercício do poder marítimo as potências não visam apenas utilizara rota oceânica, mas também negar seu uso ao inimigo. Desde que se torna evidente a dependência de um país às rotasmarítimas, é quase certo procurarem as potências rivais dispor dos meios para, em caso de guerra, atacarem esse elo

vital. Foi por essa razão que no século XVII a Marinha Real inglesa se desenvolveu até ultrapassar a Marinha de Guerrabatava, numa época em que os Países Baixos tinham uma frota mercante quatro vezes superior à britânica, dominando ocomércio mundial. Com as derrotas de sua esquadra e conseqüente paralisação do comércio, a Holanda se viu obrigadaa pedir a paz, embora nenhum exército inglês ameaçass e seu território metropolitano.Substituindo a Holanda no tráfego mundial, daí em diante a situação se inverteu para a Grã -Bretanha e, emtodos os conflitos seguintes de que participou, o seu comércio marítimo foi o alvo predileto dos ataques navaisinimigos. Não podendo atacar o território da própria Inglaterra, protegida por poderosa Marinha de Guerra, os esforçosnavais das potências que contra ela guerreavam voltaram -se sempre com fúria para as ligações marítimas na esperançade obter o seu estrangulamento econômico. O assalto ao comércio marítimo inglês incentivou por quase três séculos oscorsários franceses, holandeses e americanos. Empresas e estaleiros foram fundados com o único fim deproporcionarem recursos a tais ataques.Na Primeira Guerra Mundial, a partir de 1917, grande parte do esforço bélico alemão foi orientado no sentidode eliminar o comércio marítimo aliado, principalmente britânico, última esperança de alcançar a vitória. Centenas desubmarinos foram construídos em série, com a máxima rapidez, na tentativa desesperada de obter a solução. Antes daSegunda Guerra Mundial a Marinha de Guerra germânica foi planejada, tendo ainda como fim principal o ataque aosistema de transportes marítimos dos inimigos eventuais. Também é a dependência a o comércio marítimo por parte daspotências anglo-saxônias que determinou a ascensão da Marinha de Guerra russa no século XX.Pelas razões acima expostas, pode -se afirmar que a expansão comercial foi um estímulo dos mais decisivospara o desenvolvimento marítimo, pois hoje como nos últimos três mil anos o transporte sobre as águas é o mais baratoe muitas vezes o único viável. Todavia, enquanto nas evoluções marítimas de determinados povos o desenvolvimentocomercial apareceu como elemento derivado do ambi ente geográfico ao qual ele se somou incrementando ainda mais osempreendimentos oceânicos, nas evoluções do Egito, Alemanha etc, foi a expansão comercial fator inicial e decisivo damarcha dessas nações para as aventuras sobre as superfícies líquidas. Não se pode dizer, com efeito, que foi o hábito danavegação que levou os egípcios antigos, os alemães ou os americanos a se transformarem em traficantes nos mares,mas sim a necessidade de comerciar que os compeliu a cuidarem das empresas marítimas.Paralelamente, verifica-se constituir a capacidade de utilizar as vias marítimas em quaisquer circunstâncias,negando ao mesmo tempo sua utilização às potências inimigas, a expressão ultima e almejada do desenvolvimento deuma nação nos oceanos.40CAPÍTULO IIAS NAÇÕESPortugal:Projetada sobre o Oceano Atlântico, a Península Ibérica é a região mais ocidental da Europa.Desde épocas pré-históricas, povos lígures e iberos, talvez provenientes do norte da África, se estabelecer am naregião, seguidos dos celtas, oriundos do centro da Europa, nos fins do século VII aC. misturaram -se, formando umapopulação que se convencionou chamar de celtibero. Fenícios, gregos e cartagineses, povos marítimos e comerciantes,freqüentaram a costa mediterrânea da península, localizando -se, eventualmente, em trechos dessa costa fundandofeitorias ao mesmo tempo em que impregnavam os seus costumes nos habitantes.A disputa entre Roma e Cartago pela supremacia no Mar Mediterrâneo salientou a importân cia estratégica daregião. A vitória de Roma abriu as portas da Ibéria ao seu domínio. Tornou -se célebre a resistência de Viriato, chefe

destemido dos Lusitanos, que enfrentou as legiões romanas a partir de 147 aC, conseguindo um acordo de paz em 141aC. A luta prosseguiu, terminando com o assassinato de Viriato 139 aC por três traidores. A destruição de Numância133 AC consolidou a conquista romana. A elevada cultura romana exerceu, então, sobre os povos mesclados da região,uma forte influência, em especi al nos costumes, na língua (latim vulgar, que era falado pelos comerciantes e soldados) ena religião, com a assimilação do cristianismo.Com o enfraquecimento do Império Romano, no século V, povos bárbaros penetraram em seus domínios,apoderando-se das terras que lhes apraziam. Em 409, álanos, vândalos e suevos conquistaram a Península Ibéricasobrepondo-se à população existente e, em parte, cristianizada. Nada construíram, antes, guerrearam entre si e nãopuderam resistir à penetração dos visigodos em 41 4, chefiados por Ataulfo. Em pouco tempo, os visigodos estenderamo seu poder sobre a península e, quando, em 586, morreu o Rei Leovigildo, formavam um poderoso reino. Seu filhoRecaredo adotou o cristianismo como religião oficial (587).Ao mesmo tempo em que a religião cristã impregnava os habitantes da Península Ibérica, outra religião,recentemente formada por Mafoma (Maomé), espalhava -se entre os povos do norte da África. Atrair mais elementos,mesmo empregando a Guerra Santa, passou a ser a meta prior itária dos recém-convertidos.O Rei visigodo Rodrigo não se mostrou com capacidade para detê -los. Derrotado na batalha próximo do LagoJanda, em julho de 711, reorganizou as forças em Segoyuela, mas, neste local, perdeu o reino e a vida (713).Rapidamente, os invasores muçulmanos, em sua maioria berberes, ocuparam a região, impondo seus hábitos àpopulação amedrontada.Alguns visigodos cristãos não aceitaram a nova soberania. Refugiaram -se nas montanhas das Astúrias e,dirigidos pelo nobre Pelagio, inici aram a reconquista, Ao mesmo tempo, os invasores exerciam na população (chamadamoçárabe) forte influência, dando início à cultura do arroz e da cana -de-açúcar, criando a manufatura da seda e da lã,produzindo uma arquitetura de rara beleza, restando muito s exemplos na região sul da atual Espanha.Pouco a pouco, os cristãos, espremidos ao norte, organizaram -se e recuperaram territórios aos mouros (isto é,aqueles que não professavam a fé católica), transformando -os em mudéjares.Depois da vitória alcançada na batalha de Covadonga, em 718, os cristãos formaram o reino das Astúrias.Sucessivamente, constituíram os reinos de Leão, Navarra, Aragão e Castela. A luta contra os mouros excitava osnobres, alguns provenientes de outras terras, ávidos de glórias mil itares e que nela divisavam uma verdadeira cruzada.Raimundo, filho do Conde da Borgonha, e seu primo Henrique ofereceram -se ao Rei de Leão e Castela, Afonso VI,para participarem das lutas.E os dois jovens francos tão bem se houveram que o rei lhes prem iou largamente. Raimundo recebeu ogoverno da Galiza e a filha do rei, Urraca, em casamento. Henrique ganhou um pequeno condado, chamadoPortucalense, cujo nome deriva de uma antiga povoação romana na foz do Rio Douro e a mão de outra filha de AfonsoVI, Taraja.O Conde Henrique de Borgonha combateu os mouros com vigor. Seu filho, D. Afonso Henriques, obteve, em25 de julho de 1139, uma notável vitória contra os mouros (talvez na região de Bela ou nas planuras de Ourique),intitulando-se REX nesse mesmo ano, atitude legitimada graças ao amparo dos papas Lúcio II e Alexandre III em trocada vassalagem oferecida. Em 1143, o Rei Afonso VII confirmou, ao Conde de Portucale o título de REX (Tratado deZamora). Estava fundado o Reino de Portugal.A dinastia de Borgonha começa com D. Afonso Henriques. Seguiram-se Sancho I, primogênito de D. AfonsoHenriques, Afonso II, Sancho II, deposto pelo Papa Inocêncio IV, com isso acarretando luta civil em Portugal,terminada com a subida, ao trono, de Afonso III, D. Dinis, seu filho, em cujo reinado foram criadas a Universidade(1290), a princípio em Lisboa e depois (1308) sediada em Coimbra, e a Ordem de Cristo (Bula de João XXII de 15 demarço de 1319), D. Afonso IV, D. Pedro I, que coroou Inês de Castro rainha depois de m orta, e, finalmente, D.Fernando, falecido em 1383. Entretanto, foi ele quem aumentou o espaço geográfico do reino, tomando -o, palmo apalmo, aos mouros, conquistando, também, o reino do Algarve, ao sul.Esta fase da história portuguesa é caracteristicame nte militar, como conseqüência da Reconquista. A principal

41atividade econômica é a agricultura. O rei governava seus súditos com firmeza, convocando, quando lhe aprazia, umaassembléia, intitulada Cortes, composta por representantes dos nobres, clero e pov o, Portugal não experimentou umsistema feudal como ocorria em outras regiões européias, em decorrência do poder exercido pela realeza.Essa política centralizadora só foi possível graças à criação de vários funcionários incumbidos do sistema fiscale judiciário, capazes de transitar no emaranhado de leis que se encontravam em vigor. A primeira tentativa de ordenar alegislação ocorreu no reinado de Afonso III; chamou -se Livro das Leis e Posturas.Com a morte de D. Fernando, pretendeu o trono D. João, rei de Castela, casado com D. Beatriz, filha do reifalecido. O povo e pequena parte da nobreza apoiaram a D. João, mestre da Ordem de Cavalaria de Avis, filho bastardode D. Pedro I. Na batalha de Aljubarrota (1385), o Mestre de Avis, ajudado pelo condestável D. Nuno Álvares Pereira,venceu as pretensões dos castelhanos e deu início à dinastia de Avis. D. João I instalou -se firmemente no trono,caminhando para o absolutismo monárquico. Ligado à burguesia, reduziu os direitos dos nobres e do clero, ao mesmotempo em que se voltou para o alargamento dos horizontes comerciais, exigidos por essa mesma burguesia, quecobiçava as riquezas das distantes índias. Diversas cidades litorâneas transformaram -se em entrepostos comerciais; apesca se desenvolveu.D. João I faleceu em 1433, substituído por seu filho D. Duarte, que instituiu a Lei Mental (08/04/1434) queassim se chamou porque já se achava estruturada na mente de D. João I, possivelmente com a ajuda do doutor João dasRegras. Em síntese, ela proibia que os não -primogênitos, mulheres, ascendentes e colaterais pudessem herdar bensdoados pela Coroa. Foi, assim, um duro golpe na nobreza.No reinado seguinte, de D. Afonso V, as leis de Portugal foram reunidas nas Ordenações Afonsinas quereceberam publicação em 1446.Depois dos vikings, os portugueses foram os primeiros que lançaram as vistas para a imensidade do oceanoAtlântico. Diversas causas concorreram para dar a esse pequeno povo uma hegemonia mercantil de caráter colonial.Portugal só aparentemente está ligado ao planalto castelhano, pois o curso alto dos rios peninsulares não é navegávelpor causa da estiagem e da irregularidade do fundo do leito. Em compensação, a navegabilidade do curso baixo dosrios, juntamente com os grandes portos do litoral, deu cone xão econômica às regiões ocidentais, de maneira quePortugal constitui um Estado costeiro com interesses marítimos perfeitamente definidos. As aspirações nacionaisorientaram-se assim necessariamente para o mar.Por outro lado, no Portugal primitivo, a pr odução industrial, excluindo-se a da marinha de sal, mal bastava àsmais elementares necessidades da vida cotidiana. Por escassas que fossem, e de fato o eram, as aspirações de confortoou de luxo então existentes, só pelo comércio de importação poderiam s er satisfeitas. Em contrapartida, haviaexcedentes quanto a certos produtos agrícolas, pecuários e apícolas e neles se encontraria natural fundamento deequilibradas trocas comerciais. Porém só com os progressos da constituição territorial do País essas tr ocas seestabeleceram em acentuado ritmo, criando -se então condições adequadas e, como, ao tomarem vulto, elas impunham ouso da via marítima, também só então verdadeiramente se estabeleceu o contato entre o Homem e o Mar na orla doocidente peninsular em que se instituíra o Estado português.A conquista de Lisboa (1147), transferindo para os portugueses a posse de um porto natural de excepcionalvalor, abria à expansão comercial portuguesa por via marítima as mais lisonjeiras perspectivas; e a posse de Si lves,temporária primeiro (1189-1191), definitiva desde os meados do século XIII, privando os muçulmanos do último dosseus grandes portos ocidentais, bases de ação naval depredadora dos litorais cristãos - consolidou as condições desegurança necessárias àquela expansão.Pode dizer-se que até o fim do século XII não houve marinha da Espanha Ocidental. As lutas de reconquistaeram exclusivamente por terra, e a imperícia marítima dos cristãos, juntamente com os relativos progressos dos árabes,concorriam para tornar difícil a conservação das praças litorâneas conquistadas. Os primeiros dispunham apenas depequenas lanchas costeiras, enquanto os outros, tinham navios regularmente armados e equipados, com que percorriamtoda a costa ocidental, refrescando nos seus portos, abastecendo-os de munições e gente quando estavam cercados e

desembarcando amiúde com o fim de atacar os campos dos cristãos e cativar os indefesos. Mas, desde meados do séculoXII o exame das armas de cruzados, com cujo auxílio Lisboa e depoi s Alcácer foram tomadas, tinha vindo acrescentaros conhecimentos, demonstrando ao mesmo tempo que sem o império no mar, jamais poderia levar -se a cabo aconquista do sul do reino.A conquista de Constantinopla pelos turcos em 29 de maio de 1453, seguida p ouco depois pela da Ásia Menore da Península dos Bálcãs, acarretou o dano e, por fim, a supressão do tráfego que as cidades comerciais da Itália,especialmente Gênova, mantinham com os Portos do Bósforo, do mar Negro e do Cáspio. A conquista deConstantinopla marcou o início de um crescente movimento de destruição das vantagens e regalias comerciais queVeneza e Gênova usufruíam a muito tempo. Tornaram -se dia a dia mais difíceis as relações das colônias italianasestabelecidas no antigo Império Bizantino c om as cidades pátrias, não só pelas dificuldades do intercâmbio, como pelasdepredações, confiscos e perdas de foros que elas próprias sofriam. Por fim, os descobrimentos portugueses noAtlântico deslocaram as correntes mercantis que cruzavam o Mediterrâne o da Ásia para a Europa. Quando PedroPasqualigo, embaixador de Veneza em Lisboa, comunicou que os portugueses tinham achado uma nova rota para asÍndias e oferecido especiarias mais baratas que os venezianos, esse acontecimento foi considerado um desastre público.Em conseqüência, os venezianos fizeram saber ao sultão do Egito que seu país e sua religião estavam em perigo eofereceram-lhe armas e braços para exterminar os recém-vindos. A ajuda veneziana aos camorins hindus não impediu,contudo, o estabelecimento dos portugueses na Índia e noutros pontos do Oriente. Assim, outra das principais fontes daprosperidade da República mudou de explorador.42Veneza, provida de uma marinha grandiosa, superior a de qualquer outro Estado, pôde conservar ainda noséculo XVI um prestígio invejável e uma importância política e comercial incomum. As fontes de sua prosperidade e deseu poderio se achavam, entretanto, já cortadas, e a decadência processou -se inexoravelmente daí por diante, até o finaldo século XVIII, quando Napoleão extinguiu o Estado Veneziano.A empresa de Silves, no tempo de Sancho I, já tinham navios portugueses. Essa marinha existe nos reinados deSancho II e de Afonso III, como o provam as expedições marítimas que terminaram pela conquista definitiva doAlgarves e as façanhas do lendário Fuás Roupinho. Havia então já um corpo de tropas especiais de embarque e nasterceiras navais se construía, sob direção de mestres estrangeiros, navios de alto bordo para as frotas militares do rei. Afrota de navios grossos que ajudara a tomada de Faro, as fustas, as barcas, as caravelas, as pinaças e as bojudas naus dotempo deviam, em caso de guerra, defender eficazmente o magnífico estuário do Tejo. No tempo de Afonso III, já opoder marítimo português é de tal ordem que os navios vão em socorro à Castela, e o Papa convida os lusitanos aacompanhar as gentes do Norte às cruzadas.Livre da ameaça árabe, graças à conquista das principais cidades costeiras e sendo propelidos para o mar emvirtude de razões já citadas, o comércio português pôde iniciar seus primeiros passos. Já em 1194 há notícias de ternaufragado um navio português que se destinava a Bruges, e os portugueses são encontrados nos meados do século XIIna feira anual de São Demétrio em Tessalônica. Em 1202, João Sem Terra tomava sob sua proteção os mercadoresportugueses que fossem residir nos seus domínios. Em 1290, as relações comerciais com a França eram já tãoimportantes que Filipe, o Belo, concedeu aos mercadores portugueses que freqüentavam o porto de Honfleur,importantes privilégios, confirmados depois por vários monarcas franceses que àquele sucederam. Inversamente, oscomerciantes estrangeiros começaram a interessar -se por Portugal. Os armadores da Normandia, do Flandres e daInglaterra já no fim do século XIII demandavam o Tejo para mercadejar.Com o desenvolvimento do comércio, o da marinha, sua servidora, impulsionou por sua vez a indústria deconstrução naval nas margens do Tejo. Em 1237 e 1260, fazem -se referências muito claras ao arsenal régio e à carreirade construção em Lisboa.O reinado de D. Diniz marca uma segunda era na história da Marinha nacional. Sendo a Marinha Mercante e aMilitar reciprocamente indispensável, os cuidados do rei administrador dirigiram -se principalmente a fomentar aprimeira, cuja importância o tratado de comércio, feito em 1308 com a Inglaterra, acusa. D. Diniz na sua eficientemissão organizadora, tendo criado o serviço de recrutamento nas povoações marítimas.

As condições de navegação nessa época de pirataria in frene impunham caráter militar à Marinha Mercante,confundindo-se assim as duas marinhas nacionais, cujo incremento levou D. Diniz a criar, em 1307, para suasuperintendência, o cargo de Almirante Maior.A obra de D. Diniz foi continuada por D. Fernando, que assistiu ao pleno desenvolvimento de uma potênciacomercial e marítima. O rei em pessoa era armador e negociante de certos gêneros exclusivos. Criou o rei bolsas deseguros marítimos mútuos, em Lisboa e no Porto, com o produto de uma taxa especial lanç ada sobre o comércio,instituindo o cadastro ou estatística naval. Reduziu à metade os direitos de importação dos gêneros trazidos por naviosnacionais, estabelecendo assim um direito diferencial de bandeira, a cuja sombra se multiplicou o número dos navio smercantes portugueses. Deu, aos que desejassem construí -los, a faculdade de cortar as madeiras nas matas reais. Oscuidados do rei em favor da Marinha Mercante abraçavam também a Marinha de Guerra. A armada que foi bloquearSevilha (1372) era no dizer do cronista – formosa campanha de ver – e contava trinta e duas galés e trinta nausredondas. Vinte e três meses teve bloqueado o Guadalquivir e retirou -se o bloqueio com o decreto de paz. Outra frotaquase tão poderosa como essa foi ainda ao Mediterrâneo, n a seguinte guerra de Castela, para sofrer o desastre de Saltes(1381).A Marinha foi, pois, uma criação da monarquia e um produto da nação, depois de constituída o carátermarítimo é histórico, não é primitivo em um povo rural, como o era o português dos p rimeiros tempos. Desde a reuniãodas esquadras cruzadas no Tejo para a conquista de Lisboa, desde a introdução dos genoveses, que vieram ensinar anavegar, vê-se começar a se formar essa nação cosmopolita, destinada à vida comercial, marítima e colonizador a. Todaa atenção administrativa se aplica para o desenvolvimento da navegação e do comércio pelo magnífico porto aondetodos os navios, em viagem dos mares do Norte para o Mediterrâneo, vinham refrescar, desde que Lisboa era cristã.O desenvolvimento do comércio, da navegação e de outras atividades correlatas, como não podia deixar de ser,promoveu em Portugal a ascensão da burguesia que até então pouca importância tivera no quadro social da nação. Estaburguesia comercial, rica, ativa, inteligente, não po dia deixar de sentir as mesmas aspirações das suas congêneres dasrestantes nações marítimas da Europa. E a sua influência na gênese da expansão marítima portuguesa não se podenegar. Influência bem poderosa, porquanto é certo que desde meados do século XI V a sua ação política era progressiva.No século seguinte, os reis portugueses já dispunham do instrumento marítimo indispensável a obras mais vastas.Portugal inicia em 1415, conquistando Ceuta, uma obra de expansão com um horizonte tão vasto que emmenos de um século realizou todos os objetivos econômicos da Europa, duplicou os conhecimentos geográficos e feriude morte o poder muçulmano no Oriente. Duas ordens de razões explicam a primazia de Portugal, desde que a expansãoultramarina perdeu a feição de mero tentame, característico dos séculos XIII e XIV: por um lado, a incapacidade dasdemais nações marítimas; por outro, o grau de aptidão que Portugal atingira.Veneza, Gênova e Aragão, sobre não disporem de recursos financeiros e militares exigidos por uma naçãocompleta e demorada, eram potências mediterrâneas, portanto com uma situação geográfica que as colocava em nívelde inferioridade relativamente à expansão por via atlântica. Castela e França estavam a braços com alarmantesproblemas políticos e militares de que dependia a sua definitiva constituição territorial. Em Portugal, pelo contrário,tudo se congregava no sentido de tornar viável a obra de expansão com que sonhavam todos os grandes espíritos43europeus. A extensão territorial e a independênci a nacional eram problemas definitivamente resolvidos; Portugal podiaconsagrar todos os seus esforços a outro qualquer empreendimento. Estreita faixa de terra debruçada sobre oAtlântico,a situação geográfica e uma remota atividade marítima dos habitantes já de antemão estabeleciam o sentido atlântico daexpansão portuguesa.Em meio ao primeiro quartel do século XV, a virtual capacidade portuguesa para a tarefa do descobrimento

marítimo foi valorizada pela clarividente e firme intervenção de um homem o in fante D. Henrique, comumenteconhecido pelo epíteto de Navegador, não porque largamente tivesse navegado, pois não excederam Marrocos os seusmaiores percursos marítimos, mas por se reconhecer que à sua ação decisiva se deveram o início e os primeiros êxit osda expansão ultramarina portuguesa. Fundando a Escola de Navegação e o Observatório, em Sagres, o infante D.Henrique não só proporcionou aos marinheiros portugueses elementos para mais arrojadas investidas contra o oceano,como também sistematizou as expedições marítimas que passaram a serem organizadas em obediência a diretrizesseguras. A bússola, o astrolábio e o quadrante já guiavam as expedições marítimas enviadas anualmente de Sagres peloInfante a sondar o oceano, ou a descer a costa para o sul. As ilhas de Porto Santo, Madeira e os Açores foram por estaforma descobertas.Com o ano de 1434, abriu-se na história de Portugal um período de sistemáticas explorações marítimas que,lançadas cadencialmente como vagas contra a costa de todo o sul da Áfri ca, em sessenta e quatro anos rasgara ocaminho pelo oceano até à índia. A primeira que se registra é a de Afonso Gonçalves Balda e de Gil Eanes que, comuma barca e um barínel, foram para além do Bojador cerca de cinqüenta léguas. Nos anos seguintes, outr osexploradores avançaram cada vez mais, para o sul, tendo Nuno Tristão ultrapassado o cabo Branco. A mais baixalatitude geográfica (10ºN) logrou-a em 1446 Álvaro Fernandes, sobrinho do Capitão Zarar, que foi para o sul do caboVerde cento e dez léguas.Na data da morte do Infante (1460) estavam, por conseguinte, descobertos, reconhecidos, estudados eexplorados cerca de dois mil quilômetros de costa para além do cabo Bojador.No reinado de Afonso V, as expedições foram em pequeno número. As campanhas mar roquinas desviavam aatenção da conquista do oceano. Todavia, o golfo da Guiné foi reconhecido graças às viagens empreendidas poriniciativa de Fernão Gomes, cidadão de Lisboa. Destacaram -se as expedições de Fernando Pó, Lopo Gonçalves, RuiSequeira, Diogo Cão e Pero de Sintra, que em 1471, segundo consta, foi o primeiro navegante português a atingir ohemisfério sul.A empresa iniciada pelo infante D. Henrique prosseguiu nas mãos do rei D. João II que tomou a peito descobriros mundos remotos. O seu poder naval era já tão grande, que o Tejo via com pasmo o famoso galeão de mil tonéis,monstro boiando n'água, eriçado de canhões. Nunca os estaleiros tinham produzido navio tão grande. Mandou o reiaperfeiçoar as bússolas, desenhar cartas marítimas para orient ação das rotas, cometendo esses estudos a uma junta quefez as primeiras tábuas de declinação do Sol.As expedições marítimas foram reiniciadas com maiores recursos. Em 1486 Bartolomeu Dias dobrou o cabo daBoa Esperança e em 1498 Vasco da Gama finalmente chegou a Calicut na Índia. A ligação marítima imediata entre aEuropa e as Índias tinha sido conseguida. O encontro dessa rota marítima foi somente o primeiro passo para overdadeiro fim. A questão mais difícil estava ainda de pé: estabelecer nas costas i ndicas mediante pacíficas negociaçõescom os chefes indígenas ou por imposição da força, pontos de apoio para o comércio e adquirir depois, em face dosárabes, uma posição dominante. Os árabes tinham em seu poder, havia vários séculos, toda a navegação com ercial pelomar Vermelho e do golfo Pérsico até Malaca, depósito principal dos produtos da Ásia Oriental. Era preciso arrebataraos árabes essa situação de predomínio.Mal Vasco da Gama chegou com as provas do resultado feliz de sua viagem, treze navios s e fizeram à vela sobo comando de Pedro Álvares Cabral, levando mil e duzentos soldados para vencer os hindus. Ao demandar o cabo daBoa Esperança, a frota aportou ao litoral brasileiro, acrescendo dessa forma os domínios do rei de Portugal, tomandoposse das terras demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas. Na Índia, Cabral recebeu por toda parte votos de amizade evoltou para Portugal carregando riquezas nos poucos navios que haviam escapado às desventuras da expedição. O rei,

encorajado por esse primeiro ensaio, equipou quinze navios de alto bordo, sendo confiado o comando a Vasco da Gama.O almirante português reduziu vários estados à condição de tributários, destroçou a frota do samorim de Calicut, e apresa enorme que encontrou nesses navios valeu -lhe uma acolhida entusiástica no regresso.Em viagem posterior, Francisco de Albuquerque obteve consentimento do rei de Cochin para construir o Fortede Santiago e a Igreja de São Bartolomeu. Assim foi colocada a primeira pedra do domínio espiritual e temporal d ePortugal no país, domínio que iria durar até 1961. A heróica resistência no Forte Santiago, com Eduardo Pacheco àfrente de um punhado de bravos, contra a investida de dezenas de milhares de soldados do samorim consolidou aposição portuguesa na Índia. A partir desse momento, Portugal se considerou senhor dessas paragens. Não satisfeito deretirar ricas mercadorias, enviou Francisco de Almeida na qualidade de Vice -Rei. A prudência e o valor de Almeidaforam coroados do mais feliz sucesso. Ele submeteu as tribos dos reis de Quiloa, de Mombaça e de outros Estados,construindo também muitos fortes. Lourenço, seu filho, abordou a ilha de Ceilão. A posição e os portos dessa ilhafazem com que ele seja o centro do comércio da África e da China. Nenhum porto é co mparável, nesses mares, ao deTrinquernale.O Plano de domínio português acha -se esboçado na carta que o primeiro Vice -Rei, Francisco de Almeida,enviou a D. Manuel I. É esse um dos documentos mais importantes da história portuguesa no Oriente: "Toda a nos saforça seja no mar, desistamos de nos apropriar da terra. As tradições antigas de conquista, o império sobre reinos tãodistantes não convém. Destruamos estas gentes novas [árabes, afegãos, etíopes, turcomanos] e assentemos as velhas enaturais desta terra e costa e depois iremos mais longe. Com as nossas esquadras teremos seguro o mar e protegidos os44indígenas em cujo nome reinaremos de fato sobre a índia, e se o que queremos são os produtos dela, o nosso impériomarítimo assegurará o monopólio português contra o turco e o veneziano”.Perante a ameaça portuguesa e instigado por Veneza, o sultão do Egito enviou para a índia, mar Vermelhoabaixo, uma numerosa frota de guerra. Porém em Diu, a 3 de fevereiro de 1509, Francisco de Almeida a destroçou,apesar de os egípcios contarem com o concurso de artilheiros italianos.Nos anos seguintes, os portugueses iniciaram uma política de conquista que, graças aos eminentes dotesmilitares de Afonso de Albuquerque, se traduziu numa série de extraordinários êxitos. A ssaltou Goa, na costa deMalabar; depois ocupou as Molucas e após uma desesperada luta apoderou -se da rica cidade de Malaca. A notícia dasinvencíveis esquadras estrangeiras, estendendo -se ao longo dos países litorâneos do oceano Índico e de todas as parte s,acudiram embaixadores de reis indígenas para fazer alianças e tratados de comércio. Esses acordos permitiram oestabelecimento de feitorias e a construção de firmes fortalezas para protegerem os comerciantes portugueses. Dessemodo, ficou o Extremo Oriente submetido à esfera de interesse da Lusitânia. Mas Albuquerque percebeu, comextraordinária perspicácia que, para aniquilar totalmente a hegemonia mercantil dos árabes (mouros, como diziam osportugueses), era preciso obturar a rota de importância mundi al até então, que atravessava o mar Vermelho e o golfoPérsico. Todos os seus recursos militares fracassaram diante dos muros de Aden, mas no ano de 1515 conseguiu forçara cidade de Ormuz e, levantando nela uma grande fortaleza, cortou ao comércio arábico a ligação com o Mediterrâneo.Ormuz, Goa e Malaca, os três pontos cardeais do império fundado por Albuquerque no breve período de cinco anos,valiam o domínio em todo o mar das Índias e a vassalagem de todas as costas, desde Sofala, em África, ao cabo de Jar-Hafum; desde Khor Fakhan, na Arábia, até o golfo Pérsico; desde o Indo até ao cabo Kumari; daí às bocas do Ganges e,descendo pelo Arakan e pelo Pegu, até Malaca com as ilhas dispersas de Madagascar e Sokotra, Anjediva, osarquipélagos de Lakha (Laquedivas) e de Malaca (Maldivas), Sinala (Ceilão) e Sumatra e Java, Bornéu e as Molucas até

os pontos extremos de Banda e Ambon.Decaídos os árabes de sua privilegiada posição de intermediários entre o Oriente e o Ocidente, a corrente deprodutos orientais, que da Ásia anteriormente ia para a Europa através do Mediterrâneo, foi encaminhada diretamentepara Portugal, seguindo a via marítima.A expansão portuguesa na Ásia continuou no decorrer de quase todo o século XVI, exigindo freqüentemente orecurso às armas, o que absorvia grande parte dos recursos do reino. Durante esse tempo, os portugueses mantinhamsuas pretensões no Marrocos, sustentando diversas guerras, embora de pequena envergadura. Ao mesmo tempo, seusnavegantes descobriram várias ilhas no Atlânt ico Sul, chegaram às costas do Canadá e exploraram quase todo o litoraldo nascente da América do Sul. A partir da terceira década desse século também foi iniciada a colonização do Brasil, ePortugal soube defender com indomável energia a posse das novas t erras, enfrentando a crescente agressividade demarinheiros ingleses, franceses e holandeses. Num extremo do mundo, seus marinheiros, comerciantes e religiososchegaram ao Japão e se estabeleceram em Macau, na China; no outro, seus pescadores, ao largo da Terra Novacomeçaram a retirar dos mares o bacalhau ali encontrado em cardumes imensos e, segundo consta, auxiliaram onavegante francês Jacques Cartier nas suas primeiras explorações no Canadá. Assim, os portugueses, que não tinhamquarenta mil homens sob armas, faziam tremer o Império de Marrocos, os Berberes da África, os mamelucos, os árabese todo o Oriente de Ormuz à China, do cabo da Boa Esperança até Cantão, exercendo seu domínio sobre mais de quatromil léguas, por meio de uma cadeia de empórios e fortalezas.Apesar dos sintomas de decomposição, o império comercial português atingiu, no fim do século XVI, o seuapogeu. As frotas singravam carregadas de preciosidades até os mares do Japão e da China, requerendo o serviço demais de quatrocentos navios de alto bordo, além de duas mil caravelas e vasos menores. Considerada a obra toda dopequeno reino, convém reconhecer a sua grandeza excepcional em relação às limitações de recursos. Portugal era umpequeno Estado com escassa população e condições econô micas limitadas. Fundando sua expansão política eeconômica no comércio marítimo e no império colonial viu -se face a face com as grandes potências marítimas queambicionavam por igual a implantação de colônias e linhas de comércio oceânicas. Exangue em hom ens, sem recursos,principalmente devido às funestas campanhas no Marrocos, e tendo perdido a independência para a Espanha após odesastre de Alcácer-Kibir22, Portugal não pôde manter a maior parte de seu grandioso império ante à investida cada vezmais pertinaz das novas potências marítimas surgidas na Europa. Enquanto os Países Baixos solapavam o poder lusitanonas índias Orientais, seja por ações diretas, seja fomentando a rebelião dos indígenas já submetidos, a Inglaterracolaborava na ruína do império p ortuguês, ajudando em 1622 a Pérsia a reconquistar Ormuz. A Espanha, que seesforçava para proteger suas colônias na América, deixou em pleno abandono as possessões portuguesas. No Brasil,onde já havia uma população de origem portuguesa relativamente nume rosa, as investidas holandesas fracassaram, masna África e no Oriente os empórios e fortalezas lusitanas, que dispunham de limitadas guarnições e com ascomunicações precariamente mantidas com a metrópole, foram sendo tomadas uma a uma.22 O desastre de Alcácer-Kibir corresponde ao falecimento do rei de Portugal D. Sebastião, que combatendo no norte daÁfrica os mulçumanos, ainda como parte das guerras de recon quista e das cruzadas, desaparece em batalha. Sua mortegera duas situações históricas: a primeira é que ele tinha 23 anos de idade à época e ainda não tinha herdeiros. Após suamorte, assumiu o trono seu tio que era cardeal da Igreja Romana e que ao morre r também não tinha herdeiros,permitindo a tomada do trono de Portugal pelos espanhóis, correspondendo este período à União Ibérica. A segundasituação é que seu desaparecimento fomentou histórias de que ele havia sido arrebatado ao reino dos céus e de láretornaria comandando hordas celestiais para combater os infiéis mulçumanos. Deste fato surgem os movimentosreligiosos conhecidos como sebastianistas, com ações principalmente na colônia portuguesa do Brasil.45Em 1640, Portugal conseguiu sacudir o domínio espanhol. D. João IV, elevado ao trono pelo voto popular,

encontrou o reino arruinado por 61 anos de servidão (União Ibérica), sem exército, sem navios, sem artilharia.Seguiram-se quase vinte anos de guerras antes que a indepe ndência portuguesa fosse formal e definitivamentereconhecida pelas demais potências européias. Os portugueses recobraram o Brasil, mas perderam as Molucas, Cochim,Ceilão, o cabo da Boa Esperança e tudo mais de que os holandeses se haviam apoderado nas ín dias Orientais. Por outrolado, já não havia condições nos séculos XV e XVI para serem recomeçadas as aventuras oceânicas. O tempo do valorpessoal havia passado. No lugar das navegações aventurosas estavam estabelecidas linhas de comércio regularcontroladas por rivais poderosos. Dessa forma, a Holanda e a Inglaterra foram as herdeiras do império econômicoconstruído por Portugal.Espanha:A Espanha, com seu planalto extenso cercado de ásperas cordilheiras, é um país nitidamente continental. Osrios caudalosos na época das chuvas e secos no verão, fechados quase sempre por bancos em sua desembocadura,prestam-se pouco à navegação. Também não tem a Espanha bons portos, e mesmo o tráfego pela costa é difícil. Emoposição a Portugal, é, pois, a Espanha um pa ís interior, no qual, ao lado da agricultura, da viticultura e da criação dobicho-da-seda, teve grande importância a indústria pastoril. Além disso, o país era bastante extenso para alimentardevidamente a população, de maneira que esta não sentia necessi dade alguma de arriscar -se em empresas ultramarinaspara aquisição de novas terras.Embora houvesse ao longo do litoral uma população de arrojados marinheiros, como os de Barcelona eValência, os quais enfrentaram na Idade Média lutas porfiadas contra as frotas das cidades marítimas italianas, osespanhóis não teriam empreendido, possivelmente, o caminho dos descobrimentos, se um estrangeiro, o genovêsCristóvão Colombo, não lhes tivesse mostrado as rotas do oceano.Pouco antes de a expansão marítima port uguesa atingir o objetivo de chegar às Índias, a Espanha acabou pororganizar expedições atlânticas, tornando -se a segunda monarquia européia a fazê -lo. A primeira viagem espanhola,bastante modesta, foi concebida em 1492 por Cristóvão Colombo. Partiu em a gosto daquele ano, em três pequenascaravelas, com o projeto de atingir as Índias contornando o globo terrestre, navegando sempre em direção ao Ocidente.Assim, buscava-se uma rota alternativa àquela controlada pelos portugueses no sul, em torno da África.Colombo chegou ao continente americano, acreditando ter alcançado as Índias, e morreu acreditando nisso.Somente em 1504 desfez-se o engano, quando o navegador Américo Vespúcio confirmou tratar -se de um novocontinente.A essa altura, portugueses e espa nhóis, espalhados pelo Atlântico, detinham o monopólio das expediçõesoceânicas, sendo seguidos por outras nações a partir do início do século XVI, especialmente França e Inglaterra.Entretanto, os dois reinos ibéricos já haviam decidido a partilha do mund o antes mesmo que outras nações começassema se aventurar nos novos territórios: em 1493, as bênçãos do papa Alexandre VI a esse acordo levou à edição da BulaIntercoetera, substituída no ano seguinte pelo tratado de Tordesilhas. Este estipulava que todas as terras situadas a oestedo meridiano de Tordesilhas (por sua vez situado 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde) pertenceriam àEspanha, enquanto as terras situadas a leste seriam portuguesas. O Acordo anterior previa apenas 100 léguas, mas ainsistência por parte dos portugueses se deu não apenas para garantir as posses de terras já parcialmente conhecidas nolitoral da América do Sul, mas principalmente as terras ocupadas nas Índias, já que a linha imaginária dividia o globoterrestre ao meio.Desse modo, iniciou a Espanha uma política que não correspondia ao seu caráter continental, na qual, aprincípio, o povo não participou de maneira alguma. Não obstante, o recém -fundado Império Colonial Espanholconseguiu adquirir um imenso poder, graças à sua favorável situação geral em relação às novas rotas marítimas. Alémdisso, os fabulosos êxitos dos primeiros aventureiros excitaram o afã dos demais, fazendo com que fossem realizadasverdadeiras façanhas. Sob o comando de chefes da têmpera de Pinzon, Vespúcio, Cortez, Pizarro, Del Cano, Magalhães,Narvaez, Ayolas, De Soto, Balboa e muitos outros mais, os espanhóis, a partir dos primeiros anos do século XVI,

transformaram grande parte do mundo em palco de suas arrojadas expedições de conquista. Embora e m pequenonúmero, esses aventureiros edificaram o maior império colonial do século, conquistando regiões imensas em meio adificuldades e perigos incontáveis. Sucediam-se as conquistas com tal rapidez, que durante o meio século seguintequase não passava um ano sem que o Império Colonial Espanhol ganhasse um grande território. Durante esse período, aEspanha foi a potência mais importante do mundo. Abarcavam seus territórios o sul da Itália, a Holanda, a Bélgica, aEspanha, Portugal e partes consideráveis da Franca, toda a América Central e Meridional, a maior parte dos territóriosocidentais e meridionais dos Estados Unidos, as ilhas Filipinas, Madeira, Açores, Cabo Verde, a Guiné, o Congo,Angola, Ceilão, Bornéu, Sumatra, Molucas, com numerosos estabeleci mentos em outras terras similares e continentaisda Ásia. Nessa época, o exército espanhol era reputado o melhor da Europa. No mar, o prestígio das armas espanholasfoi assegurado pela vitória sobre os turcos em Lepanto (1571). Entretanto, a dispersão geog ráfica dos países submetidosà lei dos Habsburgos foi uma causa de enfraquecimento para a Espanha, considerando que, para realizar a coesãopolítica de suas possessões disseminadas pelo mundo inteiro, ela tinha que ser toda poderosa no mar, o que não foiconseguido, se bem que tentado constantemente. As numerosas guerras que a Espanha sustentou na Europa esgotaramos tesouros tirados do México e do Peru. Por outro lado, essas guerras impediram -na de consagrar suas energias e suasriquezas na manutenção do poderio marítimo que lhe asseguraria o controle dos territórios mais preciosos: os daAmérica e os dos Países Baixos.46A Espanha, depois de anexar Portugal (União Ibérica de 1580 a 1640), estava quase tão em contato com o marcomo a Inglaterra e dispunha, a lém disso, de uma frota de guerra com tradição naval, mas era frota de galés, comescravos por remadores, e as suas tradições eram as do Mediterrâneo. A esquadra que triunfou sobre os turcos emLepanto, com a tática de Salamina e Actium, não poderia resist ir à descarga simultânea de Drake, não poderiaatravessar o Atlântico e de pequena utilidade seria na baía de Biscaia e no canal da Mancha. A Espanha possuía, é fato,os seus navios para a navegação oceânica que velejavam ao longo da costa americana ou atr avessavam o Atlântico deCádiz ao Novo Mundo, serviam para levar imigrantes e trazer a prata e o ouro, mas, não sendo navios de guerra, caíramcomo presa fácil nas garras dos piratas ingleses. Na realidade, a Espanha só começou a construir navios capazes d ecombater a Inglaterra nas vésperas da deflagração da guerra regular.O momento mais crítico de toda a história da Espanha chegou quando a Armada que enviara contra as costasda Inglaterra sofreu irreparável derrota em 1588; cento e sessenta navios, dois mil e seiscentos canhões, oito milmarinheiros e vinte e dois mil homens de tropas, tal foi a força. Veio o desastre e atrás dele as extraordinárias aventurasque afligiram o resto da frota: tempestades, fome, enfermidades. Menos da metade dos navios cons eguiu retornar àEspanha. Se bem que fosse ainda preciso deixar passar três séculos para ver consumar -se a perda de suas últimascolônias, o domínio do seu vasto império colonial achou -se imediatamente abalado por aquele primeiro golpe nahegemonia marítima. Se bem que a Espanha houvesse ainda podido manter grandes frotas até as guerras de Napoleão,nunca mais foi potência verdadeiramente temível.Assim, por falta de um comércio próprio para cimentar o poder marítimo espanhol, apesar de toda a forçapolítica e militar de Felipe e do seu império sobre milhões de indivíduos dispersos por metade do globo, ruiu ante oataque de um pequeno Estado insular e de algumas cidades rebeldes das planícies lamacentas e das dunas da Holanda.Os espanhóis tinham magníficos soldados, mas para o recrutamento indispensável de marinheiros nãodispunham da classe numerosa e enérgica de mercadores e homens do mar particulares, tais como os que eram a riquezae o orgulho da Inglaterra. Em conseqüência, permanecendo grande potênci a em terra, não mais foi possível à Espanhacompetir no mar com a Holanda e a Inglaterra. Enfraquecida no mar, que serviu de ligação entre as várias partes doImpério durante dois séculos, tornou -se a Espanha inimiga natural de grande número de potências q ue se esforçavam

em arrancar o pavilhão de Castela das terras conquistadas ou das riquezas extraídas dos novos territórios. Em todas ascolônias de alguma importância, foram os espanhóis obrigados a levantar fortificações custosas, a fim de garantir umaproteção relativa contra os ataques de piratas e das frotas das potências inimigas. Embora decadente, a Marinha deCastela não estava, porém, ausente dos mares e soube por mais de uma vez impor -se a seus contendores, como sucedeuao largo dos Abrolhos por ocasião das invasões batavas no Brasil (Jornada dos Vassalos).A ameaça contra as rotas marítimas, cada vez maior com o decorrer dos anos, obrigou a Espanha a tomarmedidas extremas.Todo o tráfego era regulado de maneira a encher as máximas condições poss íveis de segurança contra osnavios corsários das nações rivais. Uma vez por ano, dos portos de Cádiz, Sevilha e S. Lucas partiam dois comboios denavios mercantes escoltados por navios de guerra. Um desses comboios, chamado Frota, fazia vela para o México , e ooutro chamado Galeão, se dirigia para a América do Sul. A Frota levava a Vera Cruz as mercadorias destinadas à NovaEspanha. Os galeões destinados ao abastecimento de Caracas, da Nova Granada, do Peru, do Chile, desembarcavamsuas mercadorias em Cartagena e em Porto Bello. Galeão e Frota reuniam-se em Havana carregados de metais preciosose dos produtos do México e da América do Sul, e entravam juntos em Cádiz. Os comboios não seguiam cada ano amesma rota, a fim de evitar o ataque dos navios corsário s e o itinerário era rigorosamente fixado pelo governo central.Todos os mercadores que quisessem exportar mercadorias para as colônias ou importar na Espanha produtos coloniaistinham que se servir das duas frotas armadas pelo Estado.Paralelamente ao declínio da Marinha espanhola, se processou o esfacelamento do outrora majestoso Impériode Felipe II. Ainda nos séculos XVI e XVII, após o desastre da "Invencível Armada”, A Espanha perdeu, na Europa,quase todo o território extrapeninsular e algumas ilhas nas Antilhas. No século XVIII, em conseqüência da Guerra deSucessão de Espanha, na qual a frota de Castela sofreu sérias derrotas, Málaga, Gibraltar e a ilha de Minorca, no próprioterritório metropolitano, caíram sob os golpes da Marinha britânica. A ilh a de Minorca voltou, anos após, ao poder daEspanha, graças ao apoio da Marinha francesa, mas Gibraltar até hoje está sob o pavilhão inglês.O progressivo esfacelamento do Império, de onde provinham os principais recursos para o tesouro de Madri, asguerras incontáveis e desastrosas aliadas à infeliz situação social e econômica do próprio território metropolitano,colocaram a Espanha no caminho da decadência. A agricultura ibérica, que na Idade Média fora a mais adiantada daEuropa, entrou em colapso e por volta de 1700 já mal podia alimentar a população do país. Também as principaisindústrias, como a da lã e da seda, minguaram.O período napoleônico trouxe novas desgraças ao vacilante reino. Com indomável energia e ferocidade, o povoespanhol enfrentou a invasão francesa, mas enquanto sustentava a luta heróica, a maior e melhor parte do seu vastoImpério Colonial alcançava a liberdade. Em conseqüência, a população declinou, e a miséria espalhou -se.Até a segunda década do século XIX, quase todas as colôn ias da América Central e do Sul se haviam separadodo Governo de Madri. No decorrer do século XIX, a Espanha deixou de vez de ser uma grande potência. Sua populaçãopouco havia crescido em confronto com a dos demais países europeus. Desprovida de recursos naturais, não pôde anação ibérica acompanhar o ritmo acelerado da revolução industrial processado noutros países da Europa. Não dispondode colônias ricas, sem indústria de vulto, sem outros recursos internos que permitissem o desenvolvimento comercial,dilacerada por graves dissensões internas, a Espanha era uma sombra do que fora. Em 1898, depois das derrotas navaisde Manilha e Santiago, a Espanha foi obrigada a concluir a infeliz guerra contra os Estados Unidos, perdendo Cuba,Porto Rico e as Filipinas.47Holanda:Os estuários dos rios flamengos ofereciam na Idade Média portos naturais ideais, pois penetravam

profundamente nas terras e eram acessíveis aos grandes navios da época, permitindo, ao mesmo tempo, aos pequenosbarcos avançar bem longe no inte rior. As condições naturais do país eram, portanto, propícias ao desenvolvimento dascidades comerciais, e já durante o reino de Carlos Magno, sob a influência de uma situação política estável, podia -seprever o incremento que tomariam mais tarde nos Paíse s Baixos as manufaturas e o comércio de lã. A criação doImpério de Carlos Magno e sua extensão até o Elba mudaram a posição geográfica relativa dos Países Baixos e ostornaram eminentemente próprios ao comércio. As regiões em torno do Reno, do Mosa e do E scalda Inferior ocupavamdaí por diante não mais uma posição terminal ou fronteiriça como haviam ocupado sob os romanos, mas uma posiçãocentral, no interior do Império Carolíngio.O desenvolvimento econômico precoce dos Países Baixos foi paralisado pelas invasões normandas (vikings) epelo esboroamento do Império Carolíngio. Os rios que facilitavam o tráfego facilitavam também a entrada dosnormandos que no decorrer do século IX destruíram numerosas cidades e levaram suas devastações ao Sul, até o Artoise a Picardia.Depois de cessadas as incursões dos homens do Norte, as cidades dos Países Baixos desenvolveram asindústrias têxteis, e a população do país adensou -se. A prosperidade das cidades dos Países Baixos foi incrementada nodecorrer do século XV por um estranho fenômeno. Com efeito, entre 1417 e 1425 os cardumes de arenquedesapareceram do Sund. Por razões ainda desconhecidas, os arenques cessaram de fugir do mar do Norte. Qualquer quetenha sido a razão dessa mutação, ela teve efeitos marcantes, p ois constituiu perda sensível para as cidades hanseáticas,principalmente para Lubeck, e foi um ganho notável para os holandeses.A descoberta do processo de secar o peixe forneceu aos holandeses a matéria para exportação bem como para oconsumo interno e veio a constituir a pedra angular de sua riqueza. Para a Holanda como para Veneza, a pesca junto àindústria e ao comércio de peixe salgado e seco marcou o estágio inicial de sua carreira marítima e comercial. O mar doNorte, pouco profundo, oferecia colh eitas mais ricas que as terras baixas e mal drenadas das planícies do Flandres. Osbarcos flamengos passaram a explorar as localidades vizinhas às ilhas Faroe e à Groenlândia, trazendo arenque emquantidade crescente. Numa palavra, a Holanda procurou e enc ontrou recursos no mar e não somente tornou -se comBruges, na Idade Média, um centro internacional da navegação e da finança, mas também, como Veneza, uma grandepotência naval.A luta vitoriosa para a libertação do jugo espanhol favoreceu a criação de um Estado forte e consciente daimportância do mar na vida nacional. Se já antes, pelo ocaso do poder mundial espanhol, os holandeses eram vizinhosincômodos, converteram-se depois da Guerra da Independência em adversários triunfantes que, protegidos pela fo rcapolítica de seu Estado naval, orientavam todos os esforços no sentido de conseguirem a máxima grandeza para seucomércio. Não se contentaram eles em abalar totalmente o comércio hanseático para o Ocidente, mas com singularatrevimento avançaram para o verdadeiro domínio da Hansa, o Mar Báltico, reduzindo nele, cada vez mais, a influênciadas cidades alemãs. Mais tarde, favorecidos por uma posição geográfica intermediária entre o Báltico, a França, oMediterrâneo e a foz dos rios alemães, os holandes es absorveram rapidamente quase todo o tráfego comercial europeu,e, no fim do século XVI, Espanha e Portugal, não menos que Veneza e as Cidades Hanseáticas, viram -se despojadas damaior parte de seus transportes marítimos pelos atrevidos marinheiros e com erciantes batavos.A Holanda procurou em primeiro lugar satisfazer as necessidades dos países marítimos mais próximos situadosa leste e a oeste, trocando madeiras e cereais que produziam uns, por sal e vinhos que produziam outros. O arenqueseco, os mercadores batavos transportavam para as embocaduras de todos os rios vindos do Sul, desde o Vístula até o

Sena, e ao longo do Reno, do Mosa, do Escalda. Seus navios iam procurar lã em Chipre, seda em Nápoles e, daNoruega, traziam uma grande parte da madeira necessária à construção de seus barcos. Das planícies da Prússia e daPolônia e mesmo da Rússia, eles traziam o linho e, sobretudo, os gêneros alimentícios que constituíam um artigo deimportância indispensável, visto o solo da Holanda só poder então, segu ndo uma autoridade competente da época,alimentar um oitavo de seus habitantes.Se bem que os holandeses se tivessem assenhoreado de uma grande parte do comércio europeu, não tirarammenor proveito e o melhor de suas glórias nas suas relações com as índia s Orientais. A indiferença dos portugueses emprimeiro lugar e em seguida a dos espanhóis pelo transporte e venda das especiarias nos mercados europeus, permitiuaos mercadores flamengos e holandeses dele se apoderarem. As medidas proibitivas adotadas por Felipe II (da Espanha)para aniquilar a navegação e o comércio das Províncias do Norte e em particular da Holanda, que tinha sido colocada àfrente da nova Confederação Republicana (1609), longe de enfraquecer o inimigo, estimularam -lhe a resistência e aagressividade. A interdição feita pela Espanha aos navios holandeses de entrarem seus portos colocou os mercadores danova confederação em situação precária, visto a interdição impedi -los de se aprovisionarem de especiarias e de produtoscoloniais. A Holanda foi, portanto, obrigada a enfrentar contra a Espanha uma luta de morte. De todos os atos hostis quea Holanda dirigiu contra a Espanha, a empresa nas índias foi a que mais assustou o rei e a nação, e a que feriu maisfundo, imprimindo por outro lado, pod eroso desenvolvimento aos Países Baixos.Os primeiros mercadores holandeses que no declinar do século XVI atingiram Java e as Molucas, depois deterem violado por intermédio de Cornelius Hontmann o segredo da rota marítima, limitaram -se a obter dos príncipeslocais, em troca de produtos mais baratos do que os vendidos pelos portugueses, as reduções dos direitos alfandegáriose a concessão ao longo da costa, para instalar depósitos, representações e etc., com o fim de criar uma corrente deatividade comercial baseada na troca de produtos nacionais ou importados pelos mais procurados do Oriente. Nessaépoca, a autoridade governamental não interveio suficientemente nesse setor, e o tráfego marítimo foi confiado a48numerosas companhias privadas que se tinham con stituído nos diversos portos da Holanda e que armavam frotas decomércio e de guerra contra os portugueses na índia. Para eliminar os perigos da concorrência recíproca e para resistirenergicamente aos espanhóis e portugueses, procedeu -se a fusão das diversas sociedades numa só companhia,constituída em 1602, sob o nome de Companhia Holandesa das Índias Orientais, com o capital inicial de cerca de setemilhões de florins. A Companhia recebeu do Estado o privilégio, para um período de vinte anos, do pleno co ntrolesobre a navegação e o tráfego com o Oriente, por seu lado, ela se dedicou a armar os navios, a combater os inimigos, acontratar aventureiros para o serviço, a redigir tratados, a criar empórios e estabelecimentos financeiros nas índias. Naépoca de maior atividade bélica contra os portugueses e espanhóis, a Sociedade chegou a ter uma esquadra de cento eoitenta navios de trinta a sessenta canhões, guarnecidos por doze a treze mil homens.Depois da criação da Companhia das índias Orientais, a ativid ade comercial holandesa se fez cada vez maiseficiente. O Almirante Warwick, verdadeiro fundador das colônias holandesas no Oriente, fazendo -se a vela comquatorze navios para aquelas paragens onde a frota portuguesa não o podia enfrentar, fortificou no te rritório do rei deJohor, em Java, um empório que dispunha de uma baía abrigada, e fez aliança com vários príncipes de Bengala. Novosempórios foram criados nas costas do Malabar, em Sumatra e Amboina, o que permitiu aos holandeses tornar maisefetiva a concorrência dirigida contra portugueses e espanhóis. Os antigos estabelecimentos e os primeiros empóriostransformavam-se, pouco a pouco, em núcleos de ocupação militar. Foi procedida depois a conquista direta dos

territórios. O socorro prestado pelos holan deses ao imperador de Mata valeu-lhes pouco a pouco a posse de toda a ilhade Java, e, em 1641, a aliança com o rei de Atch serviu para tomar os portugueses Malaca e as mais importantes ilhas deespeciarias. A luta se prolongou na costa de Malabar onde os portugueses tinham raízes mais fortes, mas os holandesesacabaram por triunfar e se apoderaram de Cochin, de Cananor e de Ceilão (1656). Já nos meados do século XVII, ascostas e ilhas do oceano índico achavam-se praticamente submetidas ao pavilhão holandê s. Assim, a Companhia dasíndias Orientais, depois de se ter enriquecido com os despojos do Império Colonial Português, estendeu suas conquistasaté o arquipélago de Sunda, estabelecendo o centro de seu domínio entre a Ásia e a Austrália. A ilha de Java, e emparticular o porto de Batávia, se encontrava na confluência das rotas marítimas do Oriente. Quase todo o tráfegoexercido pelos árabes, hindus e chineses ficou assim submetido ao controle holandês.Os comerciantes holandeses penetraram com facilidade no Japão, onde foram bem acolhidos e substituíram osportugueses já ali estabelecidos havia várias décadas. Também na ilha de Formosa se estabeleceram os ousadostraficantes batavos.Com a ocupação do cabo da Boa Esperança (1652), transformado em ponto de apoio e em escala para as frotascomerciais e de guerra em caminho das colônias da Ásia e Austrália, os holandeses tornaram -se senhores absolutos dasrotas marítimas do Oriente, conseguindo centralizar em suas mãos quase todo o monopólio do tráfego de esp eciarias.As expedições holandesas na América não foram coroadas de tão brilhante sucesso, entretanto, elas voltavamsempre com rico saque feito sobre espanhóis ou portugueses. O maior triunfo no gênero foi a captura por Pieter Heinem 1628 de uma frota de galeões espanhóis procedentes do México e carregados de prata e ouro. Esse fato se deu logoapós a primeira invasão holandesa no nordeste brasileiro, na Bahia, quando os holandeses, após serem expulsos doBrasil, deram com o carregamento em sua viagem de volta. O apresamento desta carga financiou a formação de umafrota mais equipada e poderosa que voltou ao Brasil e invadiu o nordeste em Recife e Olinda.De forma semelhante à sua congênere das índias Orientais, a Companhia das Índias Ocidentais, formada em1611, para responder às necessidades de guerra e da luta comercial contra a Espanha, conseguiu conquistar algumasilhas nas Antilhas e os portos de Recife e Olinda na costa brasileira. No Brasil, contudo, a Companhia enfrentou umaguerra quase perene em face da hostilidade dos habitantes de língua portuguesa, o que lhe consumiu grande parte doslucros. A resistência brasileira obrigou a Companhia a abandonar o solo sul -americano depois de menos de vinte e cincoanos de precário domínio.A principal fonte de renda da Companhia das índias Ocidentais ficou sendo o ataque à navegação espanhola eportuguesa. Ela despendeu entre 1623 e 1636 quatro milhões e quinhentos mil libras para equipar oitocentos navios,mas aprisionou quinhentos e quarenta navios cuja c arga valia cerca de seis milhões de libras. A essa soma cumprejuntar três milhões resultantes da pilhagem e saque contra os portugueses. Também na América do Norte, procuravamos batavos se estabelecer e, ao longo do território atualmente compreendido ent re Nova York e Nova Jersey, surgiramnumerosas colônias holandesas que tiveram por centro comercial a cidade de Nova Amsterdã (atual Nova York).Dessa forma, no fim do século XVI e no começo da segunda metade do século XVII, a Holanda, graças àsconquistas de suas principais companhias, formou um vasto domínio colonial que lhe permitiu controlar as rotasmarítimas do oceano índico e do Atlântico. Foi o apogeu da Holanda.A Holanda tornara-se a Fenícia dos tempos modernos. As manufaturas de fazendas, tecid os de linho etc., queempregavam seiscentas mil almas, abriram novas fontes de ganho ao povo, anteriormente limitado ao comércio doqueijo e do peixe. A pesca apenas já os havia enriquecido. O arenque salgado alimentava cerca de um terço dapopulação da Holanda, sendo sua produção de trezentas mil toneladas de peixe salgado que rendiam mais de oitomilhões de francos anualmente. O poderio naval e comercial da República desenvolvera -se rapidamente. Só a frotamercante da Holanda tinha dez mil velas com cento e sessenta e oito mil marinheiros e sustentava duzentos e sessentamil habitantes.

Os portos, os golfos, os braços de mar holandeses estavam cobertos de navios, e todos os canais do interior dopaís pululavam de embarcações. Dizia -se, exagerando, que havia na Holanda tanta gente habitando sobre as águas comosobre terra firme. Contavam-se duzentos grandes e trezentos médios navios, tendo por porto principal Amsterdã. Umafloresta sombria e espessa de mastros avançava até a cidade. Nessas condições, Amster dã tinha alcançado, com efeito,uma importância extraordinária. No espaço de trinta anos, a cidade experimentou por duas vezes aumentos49consideráveis. Uma viagem às índias era coisa corrente. Aprendia -se a navegar com qualquer vento. Cada casa era umaescola de navegação; por toda parte havia cartas náuticas. Entretanto, situadas entre a França e a Inglaterra, foram asProvíncias Unidas, depois que se libertaram da Espanha, constantemente envolvidas em guerras, ora contra uma, oracontra outra. Essas guerras exauriram suas finanças, aniquilaram sua Marinha e causaram o rápido declínio de seutráfego, das manufaturas e do comércio. Primeiramente a Holanda se viu envolvida numa série de guerras contra aInglaterra. Desde muito tempo a prosperidade britânica no s oceanos fazia prever um conflito entre as duas potênciasmarítimas. O “Ato de Navegação” de Cromwell tornou o conflito inevitável. Com esse Ato a Inglaterra procurou obtero monopólio do transporte marítimo para a América, Ásia e África, só permitindo às demais nações usar seus naviosnessas rotas marítimas para a condução de seus próprios produtos, sob pena de confisco e captura. A Holanda não podiaaceitar essa medida sem protestar, pois era ela a grande intermediária no comércio de especiarias orientai s. Estalouimediatamente a guerra.A primeira guerra, embora desfavorável aos Países Baixos, não foi decisiva. Como resultado dela, que duroujustamente um ano e onze meses (1653 -54), os ingleses afirmam ter sido vitoriosos em cinco ações gerais e tercapturado mil e setecentos navios avaliados em seis milhões de libras, enquanto os holandeses capturaram apenas umquarto desse total.A excessiva dependência às rotas marítimas foi desastrosa para os holandeses. O alimento, as vestimentas, omaterial para confecção de suas manufaturas, muita madeira e cânhamo com que construíam e equipavam seus navioseram importados exclusivamente por via marítima. Ao atingir a guerra dezoito meses, os negócios marítimos tinhamcessado. As principais fontes de recursos do E stado, como a pesca e o comércio, nada rendiam. As oficinas pararam, e otrabalho foi suspenso. O Zuyder -Zee tornou-se uma floresta de mastros, o país se encheu de ruínas, e o capim cresceunas ruas de Amsterdã. Era a conseqüência inevitável da perda do do mínio do mar. Os mais brilhantes almirantesbatavos e ingleses do século surgiram nessa guerra: Tromp e de Ruyter de um lado; Blake e Monk de outro.Dez anos de paz restabelecera, em parte, a prosperidade holandesa, e por conseguinte as razões de atrito c om aInglaterra. Em breve, rompeu a Segunda Guerra Anglo -Holandesa que, como a precedente foi exclusivamente marítimae teve as mesmas características gerais. Três grandes batalhas foram travadas: a primeira, ao largo de Lowestoft; asegunda, conhecida como Batalha dos Quatro Dias, no Estreito de Dover; a terceira, ao largo de North Foreland. Naprimeira e na última delas, os ingleses conseguiram um sucesso decisivo; na segunda, a vantagem ficou com osholandeses.Apesar da Segunda Guerra Anglo-Holandesa marcar mais uma etapa de ascensão marítima da Grã -Bretanhaem detrimento dos Países Baixos, não significou a desaparição nos oceanos dos navios batavos. Em 1666, a tonelagemmundial da Marinha Mercante orçava por dois milhões de toneladas, das quais 900 mil cabiam à Holanda, 500 mil àGrã-Bretanha, 250 mil a Hamburgo, Dinamarca, Suécia e Dantzig e 250 mil à Espanha, Portugal e Itália. O comércioeuropeu não podia ficar, dessa forma, privado repentinamente dos navios batavos.Após uma trégua de sete anos , a guerra recomeçou, tendo a Holanda que enfrentar o poderio combinado anglo -

francês durante dois anos (1672-74). De Ruyter alcançou então a vitória de Solebay. Três batalhas navais tiveram lugarem 1673, todas próximas à costa das Províncias Unidas: as d uas primeiras, ao largo de Schoneveld, e a terceira queficou conhecida como a batalha de Texel. Nenhuma delas foi decisiva. A batalha de Texel, fechando a série de guerrasem que os holandeses e ingleses lutaram de igual para igual pela posse dos mares, v iu a Marinha holandesa na mais altaeficiência, e seu maior expoente, de Ruyter, no cume de sua glória. Mas o poder, sendo relativo, mostrava por outrolado que a balança estava pendendo pouco a pouco para o lado britânico.Com notável perspicácia os estadistas ingleses perceberam a mudança de pesos nos pratos da balança do poder.A Holanda já não era o fator de maior peso, mas sim a sombra crescente da França, unida, populosa e sob aadministração eficiente de Colbert e a ambição de Luiz XIV. Os ingleses, com realismo, firmaram a paz com os PaísesBaixos, paz essa que não mais foi perturbada. A retirada da Inglaterra, que ficou neutra durante os remanescentes quatroanos de guerra, necessariamente tornou o conflito menos marítimo. O teatro de operações nav ais transferiu-se para oMediterrâneo, onde os holandeses, dessa feita aliados aos antigos inimigos espanhóis, enfrentaram o recém -criadopoderio marítimo da França. Contudo, a esquadra francesa, sob o comando de Duquesne, foi vitoriosa em Stromboli eem Agosta. Na última dessas batalhas, de Ruyter encontrou a morte.No decorrer dessa guerra o comércio marítimo holandês, depredado pelos piratas franceses, sofreupesadamente, perdendo, inclusive, indiretamente, a preferência dos países estrangeiros que pass aram a dar preferênciaao transporte feito por pavilhões neutros. Quando, finalmente, os ataques de Luiz XIV forçaram a Holanda a consagrara sua riqueza e energia à defesa do próprio solo, essa nação decaiu gradualmente perante a Inglaterra, na corrida pe lahegemonia comercial.A guerra de Sucessão da Espanha (1702 -13) virtualmente eliminou as Províncias Neerlandesas da esfera dealta política. Em verdade elas eram aliadas da Grã -Bretanha e, portanto, do lado vitorioso na guerra. Entretanto, osesforços que haviam sido obrigados a despender, quer em terra como no mar, exauriram -nas completamente. Suascontribuições em navios, homens e dinheiro declinaram continuamente até a paz de Utrecht, quando então sódispunham de pouca influência. Os ganhos nesse trat ado foram quase nulos. Mas se o visível declínio das ProvínciasUnidas data da paz de Utrecht, o declínio real começara antes. A Holanda deixou de ser citada entre as grandespotências da Europa. Sua Marinha não seria no futuro um fator militar na diplomac ia, e seu comércio tambémacompanhou a decadência geral do Estado.Até o final do século XVIII, a Marinha Mercante dos Países Baixos ainda se manteve como a maior emtonelagem da Europa, mas pouco a pouco foi cedendo lugar à britânica, que era amparada pe la política segura do50Governo de Sua Majestade e pelos canhões do Royal Navy. Assim, como a Holanda fora a herdeira do comérciomarítimo hanseático, português e espanhol, a Grã -Bretanha foi a herdeira do comércio batavo.Grã-Bretanha:A Grã-Bretanha teve sempre seu destino ligado ao mar e aos portos e rios que desde os tempos primitivosabriram suas regiões interiores ao oceano. Assim, muito antes que aspirasse dominar os mares, a eles esteve sujeita. Dospovoadores iberos e celtas aos saxões e dinamarqu eses, dos comerciantes pré-históricos e fenícios aos senhoresromanos e normandos, sucessivas vagas de colonos guerreiros, os mais enérgicos homens do mar, agricultores etraficantes da Europa vieram pelas águas para habitar a Ilha ou para insinuar os seus conhecimentos e espírito aosantigos habitantes. Entretanto, os primeiros povos que habitaram a Grã -Bretanha não se notabilizaram no mar. AInglaterra vivia então da agricultura e do pastoreio. Seus homens eram pastores e fazendeiros antes que mercadores oumarinheiros, e antes da conquista normanda, por longo tempo, nem o Estado nem a Marinha insular estiveramhabilitados a defender a Ilha. Exceto quando protegida pelas galés e legiões romanas, a antiga Grã -Bretanha esteve,portanto, particularmente expos ta à invasão. Mas se invadir a Grã -Bretanha era extraordinariamente fácil antes daconquista normanda, tornou-se extraordinariamente difícil depois. A razão é clara. Um Estado bem organizado, com um

povo unido em terra e uma força naval no mar, podia defen der-se por detrás do Canal contra qualquer superioridademilitar. Assim, nos tempos antigos, a relação da Inglaterra com o mar foi passiva e receptiva e nos tempos modernos,ativa e adquiridora. Num e noutro caso é a chave de sua evolução.Nos séculos seguintes à conquista normanda, embora permanecesse a Inglaterra um país sobretudo agrícola, oadensamento progressivo de uma população de pescadores, marinheiros e mercadores nos magníficos e inúmeros portosmarítimos e fluviais começou a revelar a futura te ndência do povo da Ilha. Essa classe aumentou em prestígio e emriqueza, primeiro em conseqüência das Cruzadas e depois em virtude da Guerra dos Cem Anos.No decurso da longa série de conflitos com a França nos séculos XIV e XV, é curioso observar, tão ce do nahistória, que os principais traços da política inglesa já aparecem impostos pela situação do país. A Inglaterra tinhanecessidade da supremacia no mar, na falta da qual não podia continuar o comércio, nem enviar tropas ao continente,nem se manter em ligação com as tropas já enviadas. Enquanto a superioridade naval foi mantida, a Inglaterra manteve -se em solo francês, graças à ligação constante com seus exércitos desembarcados no continente. Todavia, ascomunicações foram perturbadas várias vezes pela investida de marinheiros gauleses e a reação de um país populosocomo a França obrigou, no fim da longa luta, os ingleses a se retirarem. De qualquer forma, o solo britânico se viu asalvo dos ataques inimigos, a não ser das suas rápidas e pequenas invest idas. A verdadeira expansão marítima inglesacomeçou, porém, mais tarde e pode ser datada da criação da Marinha Real.Na realidade, a Inglaterra, em 1485, era ainda um país pastoril. A fonte principal de riquezas derivava não daconstrução naval ou da manufatura de têxteis, mas de fazendas de ovelhas, do crescimento da lã. Os principaismercados para esses produtos eram as ricas cidades dos Países Baixos no estuário do Reno. Durante a Guerra dos CemAnos, o canal da Mancha fora defendido, na medida do poss ível, pelos combativos marinheiros da frota mercante,lutando, por vezes, separadamente como piratas, por vezes como em Sluys, sob comando nomeado pelo rei. Henrique Vcomeçara a construir uma esquadra real, mas a sua obra não passara dos primórdios e foi posteriormente descontinuada.Henrique VII encorajara a Marinha Mercante; no entanto, não armou uma frota exclusivamente para fins deguerra. Coube a Henrique VIII criar uma armada efetiva de navios reais de combate, com estaleiros reais em Woolwiche Deptford; fundou também a corporação da Casa da Trindade. A política marítima de Henrique VIII teve importânciadupla. Não só criou navios especialmente tripulados e apetrechados para o combate em serviço nacional, como tambémos seus arquitetos navais planeja ram muitos desses navios segundo um modelo aperfeiçoado. Eram veleiros melhoradaptados ao oceano do que as galés a remos das potências mediterrâneas, e melhor adaptadas à manobra em batalha doque os navios redondos do tipo medieval, a bordo dos quais nav egavam os mercadores ingleses, e os espanhóisatravessavam o Atlântico. Ao mesmo tempo, o descobrimento da América veio incentivar a atividade comercial daInglaterra.As Ilhas Britânicas tinham sido, durante a Idade Média, um setor marginal relativamente pouco importante domundo civilizado; um país conhecido, no máximo, como fornecedor de lã ou de estanho. É verdade que já se achavamnas Ilhas as premissas geográficas de seu poderio ulterior; os magníficos portos marítimos e abundantes portos fluviais,aos quais, durante a maré alta, podiam chegar as embarcações de maior calado; a técnica perfeita, a experiência navalque os habitantes da costa tinham adquirido em sua luta contra os elementos e, sobretudo, a esplêndida posiçãomarítima, a coberto dos ataques do continente e a posição mercantil posteriormente tão elogiada entre os Estados maisprogressivos da Europa e as terras virgens das colônias americanas.Gradualmente, durante os reinados Tudors, os ingleses perceberam que a sua remota posição insular semodificara e passara a ponto central, dominando com vantagem as modernas rotas de comércio e de colonização. O

poder, a riqueza e a aventura os esperavam no longínquo termo de viagens oceânicas fabulosamente longas. A luta pelasupremacia comercial e naval sob as novas condições se travaria claramente entre a Espanha, a França e a Inglaterra;todos esses países estão voltados para o oceano Atlântico, que subitamente se tornara o principal centro decomunicações do mundo, e cada um deles encontrava -se em processo de unificação sob um Estado moderno, comconsciência étnica agressiva e sob uma monarquia poderosa. Dessa forma, dos tempos Tudors em diante, a Inglaterratratou a política européia simplesmente como um meio de firmar a sua própria segurança face à invasão e de levaravante os seus planos ultramarinos. A sua insularidade, convenientemente aproveitada, deu -lhe imensa vantagem sobrea Espanha e a França na concorrência marítima e colonial.51Com a sua configuração estreita e irregular, com uma linha de costa grandemente recortada, por fim em pazcom seu único vizinho terrestre, a Escócia, bem fornecida de portos, grandes e pequenos, apinhados de marinheiros epescadores, o Estado encontrava -se sujeito à influência e às idéias dos homens de comércio e da armação naval, queformavam uma única classe com as melhores famílias provinciais nos condados marítimos. Dado que nenhum ponto naInglaterra se situa a mais de setenta milhas da costa, uma elevada proporção dos seus habitantes tinha algum contatocom o mar, ou pelo menos com as populações marítimas. Acima de tudo, Londres está sobre o mar, ao passo que Parisestá no interior e Madri fica o mais distante possível da costa. Por conseguinte, na Inglaterra, embora a população totalfosse pequena em comparação com a francesa ou a espanhola, havia uma grande comunidade marítima acostumada háséculos a sulcar as tempestuosas vagas do mar no Norte. Em breve, os representantes da comunidade marítima inglesacomeçaram a estender o raio de ação de suas atividades, já agora contando com a proteção da Marinha de Guerra Real,construída e armada segundo princípios modernos, e que dava apoio profissional aos esforços guerreiros de mercadorese piratas particulares.A fim de encontrar saída para a nova manufatura têxtil , os mercadores aventureiros da Inglaterra, desde oprincípio do século XV, procuraram vigorosamente novos mercados na Europa, não sem o constante derramar desangue, por mar e por terra, numa época em que a pirataria era tão geral que dificilmente podia s er consideradadesonrosa e em que os privilégios comerciais eram freqüentemente recusados e conquistados ao gume de espada. Como fito de aproveitar uma situação vantajosa, foram fundadas, com o apoio da Coroa, várias companhias de comércio, e,naturalmente, a Marinha Mercante inglesa teve forte impulso. Assim, de 76 navios com mais de cem toneladas, que aGrã-bretanha dispunha em 1560, o número subiu a 177 em 1582, quase todos pertencentes às quatro principaiscompanhias: a das índias, a do Levante, a de Moscou e a da Guiné.Lado a lado com as mais guerreiras empresas de Drake, roubando aos espanhóis e abrindo o comércio com ascolônias pela força dos canhões, também houve muito tráfego de caráter mais pacífico na Moscóvia, na África e noLevante (mar Negro). No entanto, era impossível traçar uma clara linha divisória entre os comerciantes pacíficos e osguerreiros, porque, por seu lado, os portugueses atacavam todos os que se aproximavam das costas africanas ouindianas. Não raras vezes, na costa africana, repercutiu o estrépito da batalha entre os contrabandistas ingleses e osmonopolizadores portugueses, e, para o fim do reinado de Isabel, os mesmos ruídos começaram a quebrar o silêncio dosmares indianos e do arquipélago malaio. Um combate naval com um p irata ou com um rival estrangeiro constituíaincidente inevitável na vida do mais honesto comerciante, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra.Em Londres, formaram-se companhias para suportar as despesas e os riscos das necessárias hostilidades; aRainha passou-lhes cartas de concessão de autoridade diplomática e militar para o outro lado do globo (Cartas deCorso)23, onde nunca chegaram navios do rei ou embaixadores reais. Os comerciantes ingleses, viajando para aproveitar

as suas oportunidades legais, foram os primeiros a representar o país na corte do Czar, em Moscou, e do Mongol, emAgra. Os comerciantes isabelinos não hesitavam também em atravessar o Mediterrâneo, apesar da guerra com aEspanha. A Companhia do Levante comerciava com Veneza e as s uas ilhas gregas, e com o mundo muçulmano maispara além. Dado que os inimigos navais eram os venezianos e os espanhóis, o Sultão acolheu bem os heréticos inglesesem Constantinopla. Mas na rota até aí tinham que se defender das galés espanholas, próximo d o estreito de Gibraltar edos piratas da Barbaria, ao longo da costa argelina. Tais foram os princípios do poder marítimo inglês no Mediterrâneo,se bem que não fosse antes dos tempos Stuarts que a Marinha Real seguiu até onde a frota mercantil travara já tantasbatalhas.A guerra entre a Espanha e a Inglaterra, tanto tempo adiante, eclodiu enfim em 1587. Felipe II enviou no anoseguinte contra a Grã-Bretanha uma grande esquadra, a Invencível Armada, conduzindo um exército de vinte e dois milhomens que deveria ser reforçado pelos terços espanhóis estacionados nos Países Baixos (Holanda). Os números dasduas esquadras chefiadas, respectivamente, por Howard e pelo Duque de Medina Sidônia não eram desiguais. Osingleses, combinando a Marinha Real com a Marinh a Mercante armada, dispunham de esmagadora superioridade decanhões bem como de arte náutica e arte de artilharia. Os espanhóis só eram superiores em tonelagem de naviossecundários e em soldados que alinhavam no convés, mosqueteiros e piqueiros, esperando em vão que os ingleses seaproximassem, segundo as antigas regras de guerra naval. Mas os ingleses preferiam o duelo entre a artilharia e ainfantaria a distância. Não admira por isso que a esquadra espanhola sofresse terrível estrago, ao passar pelo Cana l.Já desmoralizados ao chegarem à baía de Calais, manobraram mal os navios, em face dos barcos de fogo deDrake, e fracassaram em todas as tentativas de embarcar o exército do Príncipe de Parma que os aguardava.Depois de outra derrota, em grande batalh a diante de Gravelines, os espanhóis deveram a uma mudança dosventos conseguirem escapar da total destruição nos baixios arenosos da Holanda; os navios correram enfunados pelatempestade, sem provisões, sem água e sem abrigo, à roda das costas penhascosas da Escócia e da Irlanda. Os ventos, asvagas e as rochas do remoto noroeste completaram muitos naufrágios começados pelo canhão no canal da Mancha. Osgrandes navios, às fornadas de dois e de meia dúzia ao mesmo tempo, amontoaram -se nas costas onde os homens dastribos célticas, que tudo ignoravam e nada se preocupavam com as lutas dos povos civilizados que arremessavam essacolheita de náufragos para as suas regiões, chacinaram e esbulharam, aos milhares, os melhores soldados e os maisaltivos nobres da Europa.A primeira tentativa séria da Espanha para conquistar a Inglaterra foi também a última. O esforço colossaldespendido em construir e equipar a Invencível Armada, filha de tão ardentes preces e expectativas, não podia, como o23 A diferença entre o pirata e o corsário era apenas que o segundo tinha autorização de um Estado para suas ações,tendo obrigações com este Estado de partilha dos bens pilhados ou no cumprimento de uma missão em nome do rei.52futuro mostrou, repetir-se efetivamente, embora daí em diante a Espanha mantivesse no Atlântico uma frota de guerramais formidável do que nos dias em que Drake pela primeira vez viajara até o continente espanhol. Mas o resultado daluta decidira-se logo em princípio por esse ac ontecimento único que toda a Europa imediatamente reconhecera comoum ponto de inflexão da História. O destino da Armada demonstrou a todo o mundo que o senhorio dos mares passarados povos mediterrâneos para as gentes do Norte.A Inglaterra não elaborara ainda um sistema financeiro e militar capaz de suportar o seu recente poder naval.Ao término do reinado de Isabel, com escassos cinco milhões de habitantes, não era bastante rica e populosa para

anexar as possessões espanholas ou fundar um império coloni al próprio, mesmo a colônia estabelecida por Raleigh, naVirgínia, era prematura, em 1587.Quando na época Stuart, a riqueza acumulada e a população supérflua da Inglaterra lhe permitiram retomar aobra colonizadora, dessa vez em paz com a Espanha, o rumo dos puritanos e outros imigrantes levou -osnecessariamente às paragens setentrionais da América onde não se encontravam espanhóis.Enquanto a Marinha espanhola exerceu o exclusivo domínio do Mar das Caraíbas, do oeste do Atlântico e doleste do oceano Pacífico, nenhuma ocupação britânica foi possível, quer nas Índias Ocidentais, quer no litoral daAmérica do Norte. Enquanto a Marinha portuguesa dominou o Atlântico Sul e o oceano índico, o comércio com oOriente pela rota do Cabo esteve fora de questão. Ao ser destroçado em conjunto o poderio naval peninsular na guerraque depois da derrota da Armada continuou até 1604, ficaram abertas ambas, a leste e a oeste, ao comércio inglês e àcolonização. Entretanto, por falta de apoio do Estado, a expansão marítima comercial da Grã-Bretanha não atingiu, nosprimeiros anos do século XVII, toda a pujança de que já era capaz; houve mesmo um período de retrocesso durante oreinado de Jaime I, o único rei Stuart que desprezou totalmente a Marinha. A Inglaterra continuava a ser umacomunidade marítima, mas durante trinta anos deixou de ser uma potência naval. A incúria com a Marinha anuloualguns dos efeitos benéficos da paz com a Espanha. Os termos do tratado que encerrou a guerra isabelina davam aosmercadores ingleses liberdade de comércio com a Espanha e com as suas possessões na Europa, mas não mencionavamas pretensões dos marítimos isabelinos no tráfego com a América Espanhola e com as regiões monopolizadas porPortugal na África e na Ásia. O governo inglês não conti nuou a apoiar tais pretensões e deixou decair a Marinha Real,ao passo que procurava com toda a sua força não consentir na pirataria. Nestas circunstâncias, prosseguiu a guerraprivada com os espanhóis e portugueses, sem o auxílio do Estado.Durante o próprio reinado de Jaime I, a Companhia Inglesa das índias Orientais fundou uma frutuosa feitoriaem Surate e no reinado de Carlos I edificou a fortaleza de São Jorge, em Madrasta, e ergueu outras feitorias emBengala. Tais foram as humildes origens comerciai s do domínio britânico na índia. Mas de início esses comerciantesdas índias Orientais não eram apenas feitores: destruíam o monopólio português pela ação diplomática, nas cortes dospotentados gentios, e pela metralha dos navios, no mar.Ao governo regicida (de Cromwell) cabe o crédito da ressurreição do poder naval inglês e do estabelecimentoda Marinha, numa base de permanente eficiência que todos os governos subseqüentes, qualquer que fosse a sua feiçãopolítica, honestamente esforçaram-se por manter. As medidas que se tomaram, escreve Julius Corbett, transformaram aMarinha, de modo a adaptar -se à sua finalidade moderna, e estabeleceram a Inglaterra como a grande potência naval domundo. O renascimento da Marinha de Guerra, com Blake, e o Governo do Es tado, por uma classe de homens emcontato estreito com a comunidade marítima e especialmente com Londres, fizeram reviver inevitavelmente a rivalidadecom os holandeses.Durante uma geração, os marinheiros da Holanda tinham dominado, freqüentemente, com b astante insolência,os mares da Europa Setentrional e da América e os oceanos Atlântico e Índico; tinham pescado nas áreas de pescabritânicas e quase monopolizado o comércio de transportes da Inglaterra e das suas colônias americanas. Oreaparecimento sério da concorrência inglesa foi marcado pelo Ato de Navegação e pela Guerra Anglo -Holandesa de1653-54. Mas o desfecho da luta contra a supremacia marítima da Holanda não foi decidido antes dos primórdios doséculo XVIII. Já há muito, no reinado de Ricardo II, os Parlamentos tinham promulgado Leis de Navegação, a fim delimitarem a entrada de navios estrangeiros nos portos ingleses, mas devido à escassez da Marinha inglesa, não foipossível fazê-las cumprir. A situação mudou durante a ditadura de Cromwell. O “Ato de Navegação” votado em 1651pelo Longo Parlamento, por proposição de Cromwell, e que foi designado pelo nome de Magna Carta da Marinha

Inglesa tinha um duplo fim: arruinar o poderio comercial holandês e por conseguinte desenvolver a Marinha inglesa.Pelo Ato de Navegação, as mercadorias procedentes dos países extra -europeus e desembarcadas na costainglesa deveriam ser importadas em navios de construção e de proprietário inglês ou comandado por comandante inglês.Pelo menos três quartos das tripulaç ões deveriam ser formados de marinheiros ingleses. Além do mais, reservavam -seexclusivamente aos navios ingleses as cabotagens, a relação entre as colônias e as comunicações entre a Inglaterra esuas colônias. O comércio de importação das mercadorias euro péias não foi permitido senão aos ingleses e aos naviosdos países de origem, isto para evitar os intermediários holandeses. Essas medidas tiveram por efeito imediato umaumento da navegação britânica e por conseguinte estimularam a fabricação dos navios. O próprio Estado contribuiulargamente, encorajado pelos preços dos grandes armadores e dos importadores de trigo, o que permitiu aos primeirosdesenvolver uma grande atividade. Para que os armadores pudessem facilmente recrutar as tripulações necessárias aosseus navios, os órfãos foram obrigados a se tornarem marinheiros, facilitou -se a naturalização de marinheirosestrangeiros, prometeram-se auxílios aos marinheiros velhos ou doentes, às viúvas e aos órfãos dos desaparecidos nomar. Para dar confiança ao público e levar os armadores a aumentarem as frotas mercantes, esquadras poderosas faziama política dos mares, e mediante um pagamento módico, um engenhoso sistema de seguro protegia os negociantescontra todo acidente. Bem cedo os estaleiros nacionais e ram impotentes para atender ao ritmo sempre crescente dotráfego marítimo.53O “Ato de Navegação" foi dessa forma um repto a todas as navegações marítimas e em especial umadeclaração de guerra lançada aos holandeses. O conflito declarado entre as duas potê ncias marítimas começou em 1653,e, apesar do valor de seus marinheiros, a Holanda foi vencida depois de quase dois anos de guerra. A Holanda sofreumais do que a Inglaterra, porque possuía menos recursos em terra e porque, pela primeira vez, desde que con stituía umanação, defrontava uma potência hostil que bloqueava o canal da Mancha às frotas mercantes que lhe traziam de longe avida e a riqueza.As alterações profundas surgidas na política interna da Grã -Bretanha após a morte de Cromwell já não maisafetaram o desenvolvimento marítimo do país. A corte e o Parlamento da Restauração aceitaram as tradições deesquadra de guerra da República. Carlos II e seu irmão Jaime mostraram interesse pessoal pelas questões navais e oAlmirantado continuou a ser bem se rvido. O Parlamento Cavalheiro e o Partido Tory consideravam a Marinha comespecial favor.Em breve eclodiu outra guerra marítima com a Holanda, o reacender da luta entre as duas comunidadesmercantes, iniciada durante a República. Por ambos os contendore s ela foi conduzida com as mesmas esplêndidasqualidades de perícia naval combativa e na mesma escala colossal da primeira vez. De novo a nação maior levou amelhor na guerra, e, pelo Tratado de Breda, a Holanda cedeu Nova Amsterdã à Inglaterra que passou a chamar a cidadede Nova York.Ainda mais uma vez, em 1672, a Inglaterra, aliando -se à França, entrou em luta contra a Holanda, mas dela seretirou um ano e meio após. O Parlamento Cavalheiro acabara por compreender que essa guerra, bem analisada, não er aa continuação da antiga luta entre a Inglaterra e a Holanda pela supremacia naval. O desaparecimento da Holanda comopotência independente encerraria em si a ameaça à segurança marítima inglesa, porque o delta do Reno cairia nas mãosda França. A França também era um concorrente marítimo, potencialmente até mais formidável do que a Holanda, ecaso se estabelecesse em Amsterdã, rapidamente poria fim à supremacia naval inglesa.A partir das guerras anglo-holandesas, a política externa da Inglaterra caiu ca da vez mais sob a influência deconsiderações mercantis. No fim do período Stuart, a Inglaterra era a maior nação manufatureira e comercial do mundo.

Londres ultrapassara Amsterdã como o maior empório mundial. Havia um comércio próspero com o Oriente, oMediterrâneo e as colônias americanas, baseado na venda de artigos têxteis ingleses, cujo transporte até o outro lado doglobo se efetuava nos grandes navios de navegação oceânica dessa nova era. Já então as classes governantes estavamresolvidas a gastar o que fosse necessário na Marinha e o mínimo no Exército.Ao período da guerra mercantil anglo -holandesa sucedeu o da luta sustentada entre a Inglaterra e a França pelahegemonia do mar, bem como para manter o equilíbrio europeu. Essa série de guerras, conh ecidas como a segundaguerra dos cem anos perdurou, nos mares, até a batalha de Trafalgar, em 1805, e, em terra, até Waterloo dez anosdepois. Na realidade, o conflito consistiu de sete guerras, separadas umas das outras por pequenos intervalos de pazindecisa. Cada vez mais se começaram a perceber, especialmente depois que o gênio iluminado de Pítt tornou claro ofato, que o objetivo supremo era o senhorio dos mares e a manutenção do império nele baseada.Desde a guerra dos Trinta Anos o Estado francês, s ob a enérgica direção de Richelieu, havia robustecido seupoder em tais condições, que já podia intervir com probabilidade de êxito nos mares. Tinha -se apropriado de ricaspossessões coloniais, e uma poderosa frota estava disposta a defender o comércio ult ramarino. O conflito entre as duasgrandes potências européias em ascensão tornou -se inevitável. A primeira guerra da longa série foi a chamada da Ligade Augsburgo, que durou de 1689 a 1697. Graças à eficiente Marinha criada por Colbert, no início a vitór ia sorriu àsarmas francesas. Em 1690, a Esquadra francesa, sob o comando de Tourville, derrotou a frota aliada anglo -holandesa nabatalha de Beachy Head, mas a vitória não foi devidamente aproveitada. Os cortesãos da terrestre Versailles não tinhamo sentido da oportunidade naval que raras vezes faltou aos estadistas que atentavam ao fluxo e refluxo do mundo atravésdas marés que batem o Tâmisa.Dois anos depois, os aliados triunfaram sobre Tourvílie na batalha naval de La Hougue. La Hougue mostrou -setão decisivo quanto Trafalgar, porque Luiz XIV, tendo desafiado com sua política grosseira e arrogante toda a Europapara uma guerra terrestre, não conseguiu manter a Marinha francesa à altura de suas necessidades, devido ao esforçodespendido com os exércitos e fortalezas necessários à defesa simultânea de todas as suas fronteiras terrestres. Asuperioridade temporária da Marinha de Guerra francesa, em 1690, resultara da política bélica da corte e não se fundarano mesmo grau que as marinhas da Inglaterra e d a Holanda em recursos proporcionalmente elevados de navegaçãomercantil e riqueza comercial. Quando, portanto, a política guerreira de Luiz XIV o induziu a descuidar -se da Marinha,a favor das forças terrestres, o declínio naval francês precipitou -se e tornou-se permanente, com o que sofreram ocomércio e as colônias francesas.Os marinheiros da França, quando a sua grande esquadra deixou de ter missão a cumprir, voltaram as suasenergias para a pirataria. O Almirante Tourville foi eclipsado por Jean Bart. O comércio inglês sofreu com a sua ação ea dos outros corsários, mas prosseguiu a despeito desses entraves, ao passo que o comércio francês desapareceu dosmares. Ao se fecharem as fronteiras da França, devido à posição de exércitos hostis, essa nação te ve de passar asustentar-se dos seus próprios recursos decrescentes, enquanto a Inglaterra se abastecia em todo o mundo, desde a Chinaa Massachusetts. Assim, em paralelo com o desenvolvimento da Inglaterra deu -se a decadência marítima e financeira daFrança.A Guerra da Liga de Augsburgo terminou pelo indeciso Tratado de Ryswick. Após um intervalo difícil dequatro anos, estalou de novo em escala ainda mais ampla a Guerra de Sucessão da Espanha, que terminou com o tratadode Utrecht em 1713. Esse tratado, que abre o período estável e característico da civilização do século XVIII, assinala oadvento da supremacia marítima, comercial e financeira da Grã -Bretanha.54A primeira condição de guerra vitoriosa contra Luiz XIV, quer no mar, quer em terra, era a alia nça da

Inglaterra e da Holanda. A colaboração apresentava -se menos difícil porque a inveja comercial da Inglaterra pelaHolanda diminuía à medida que os navios holandeses baixavam ante os recursos pela primeira vez mobilizados de seualiado. A Inglaterra prosperou durante a guerra, ao passo que o fardo das contribuições para a guerra e o esforço na lutaminaram lentamente a grandeza artificial da pequena república. A Grã -Bretanha, em conseqüência, acentuou ainda maissua primazia naval. O fato é tanto mais de espantar por ter sido a guerra destituída de qualquer ação notável. O domínioanglo-holandês nos mares era tão completo que não pôde ser desafiado, e isso condicionou todo o curso da guerra.Apenas uma vez grandes esquadras se encontraram, e os resultad os foram indecisos. Desistiram então os franceses daluta pelo mar e se concentraram na guerra pela destruição do comércio. Os aliados puderam assim enviar seus exércitos,quando e como quiseram.O feito mais notável da Marinha durante a guerra foi a capt ura de Gibraltar por Rooke e Shovel, em 1704, e aconquista de Minorca com a magnífica baía de Porto Mahou, por Stanhope e Leake, em 1708.O esmagador poderio naval da Inglaterra foi o fator determinante na história européia durante o períodomencionado, mantendo a guerra no estrangeiro enquanto conservava seu próprio povo em prosperidade no territóriometropolitano e construía o grande Império. Mas nenhuma das conquistas territoriais, ou todas juntas, comparou -se emgrandeza e muito menos em solidez com o ganho da Inglaterra de seu inigualável poderio naval, que começara durantea Guerra da Liga de Augsburgo e que recebeu seu acabamento na de Sucessão da Espanha. Com ele a Inglaterracontrolou o grande comércio oceânico, graças a navios de guerra que não t inham rivais e que as outras nações,exauridas, não podiam enfrentar. Esses navios estavam agora seguros, baseados em sólidas posições em todos os cantosdisputados do mundo. O comércio, que havia assegurado sua prosperidade e a de seus aliados e a sua efi ciência militardurante a guerra, embora atacado e perturbado pelos corsários inimigos (aos quais ele só pôde prestar atenção parcialem vista das constantes exigências noutros setores) começou, com um salto, vida nova quando a guerra acabou.O Tratado de Utrecht juntamente com o Tratado suplementar de Raistádt, feito em 1714, inauguraram umquarto de século de paz quase perfeito. Exaurido pelo sofrimento, em todo o mundo o povo ansiava pelo retorno daprosperidade e do comércio pacífico. Não havia nenhum país apto como a Inglaterra, com riqueza, capital e navios, paralevar a cabo essa missão e colher as vantagens. Durante a guerra de Sucessão da Espanha, a eficiência da Marinha Realsignificara viagens seguras e, mais ainda, utilização dos navios mercante s. Os navios mercantes ingleses, sendomelhores protegidos que os holandeses, ganharam a reputação de oferecer mais seguro transporte, e o tráfegonaturalmente passara cada vez mais para suas mãos. Essa conquista de preferência mundial foi mantida em tempo depaz. Mas do que nenhuma outra potência, a Inglaterra consolidou então as bases sólidas do poderio marítimo, o qualnão residia meramente na sua grande Marinha. A França tivera tal Marinha em 1688, que desaparecera corno uma folhano fogo. Nem residia só no comércio próspero; poucos anos depois da época em questão, o comércio da França tomariamagníficas proporções, mas o primeiro tiro de guerra o varreria dos mares como a Marinha de Cromwell já anteseliminara o da Holanda. Foi com a união dos dois (Com ércio e Marinha), cuidadosamente compensados, que aInglaterra conquistou o poderio naval sobre e a despeito dos outros Estados. Assim, essa conquista, se acha associada àGuerra de Sucessão da Espanha. Antes dessa guerra, a Inglaterra era uma das potência s navais; depois dela passou a sera potência naval, sem uma segunda. Esse poderio ela alcançou só, sem compartilhar com amigos ou disputar cominimigos. Ela só era rica e, no seu controle dos mares e da navegação intensiva, tinha a fonte de riqueza já tão seguranas mãos, que não havia, na época, perigo de um rival no oceano.Seguiu-se uma era de paz. Uma certa interferência, é verdade, foi causada no começo do período pelos esforços

espanhóis para recobrarem as ilhas de Sardenha e Sicília que, pelos trat ados, haviam sido cedidas à Áustria e à Sabóia,respectivamente. Uma frota inglesa, entretanto, sob o comando do Almirante George Byng, restaurou a tranqüilidadeem agosto de 1718, ao largo do cabo Passaro, graças a uma esmagadora vitória sobre a esquadra espanhola.A longa luta só recomeçou em 1739. No começo, a França permaneceu neutra, e a Inglaterra disso seaproveitou para iniciar uma série de ataques contra a sua secular inimiga, a Espanha. O Almirante Vernon começoubem a guerra, capturando com apen as seis navios a cidadela fortemente defendida de Porto Bello (1739), mas essesucesso preliminar foi contrabalançado pelos fracassos de Cartagena (1740 -41) e de Santiago de Cuba (1741). NoMediterrâneo, uma esquadra combinada franco -espanhola de vinte e sete navios chocou-se ao largo de Toulon com aesquadra inglesa de vinte e nove navios do Almirante Mathews. A batalha foi violenta, mas indecisa. O conflito crucial,entretanto, entre a Grã-Bretanha e a França, ocorreu não na Europa, mas na índia e na Amér ica do Norte, ondepequenos esquadrões bateram-se com violência e habilidade.A paz de Aix-la-Chapelle, que pôs fim a essa guerra chamada de Sucessão da Áustria, marcou apenas umatrégua de oito anos, e nada decidiu em definitivo.Mais uma vez o longo conflito recomeçou em 1756. Os ingleses aplicaram seu esforço diretamente no conflitomarítimo, colonial e comercial. A Inglaterra estabeleceu como objetivo precípuo o completo domínio do mar paraexpulsar os franceses da América do Norte e para os impedir d e estabelecer um império na Índia. Noutras palavras, elesreconheceram pela primeira vez, claramente, a natureza do conflito em que estavam mergulhados, intermitentemente,por mais de um século.A guerra não começou bem para a Inglaterra. A ilha de Minorc a foi capturada por tropas francesasdesembarcadas da esquadra de La Galissonière (1757), e uma frota inglesa enviada em socorro da ilha foi repelida. Doisanos depois, porém, as vitórias navais de Lagos e Quiberon eliminaram a ameaça de uma invasão das Il has Britânicas.Nesse predestinado ano de 1759, os franceses perderam, ao todo, não menos de trinta e cinco navios de linha e ficaramassim reduzidos à impotência nos mares. A Espanha, entretanto, que até então se conservara fora da guerra, tinha aindauma armada de cerca de 50 navios. Em 1762, ela foi atraída ao conflito pela promessa de recobrar Gibraltar e Minorca.55Sua entrada na guerra meramente serviu para completar o triunfo britânico. Em agosto de 1762, Havana foi capturada ecom ela doze navios de l inha, para não mencionar tesouros avaliados em mais de três milhões de libras. Dois mesesdepois, Manilha e todas as Ilhas Filipinas foram capturadas por uma expedição enviada da Índia.A paz de Paris (1763), que pôs fim à Guerra dos Sete Anos, deu à Ingl aterra a supremacia absoluta na Américado Norte e na Índia, além da posse de importantes ilhas no mar das Caraibas. Ao mesmo tempo, a Marinha Mercanteinglesa, que a despeito de todas as guerras crescera de 1.320 navios em 1666 para 5.730 em 1760, alcanço u asupremacia que iria durar até o século XX.Seguiram-se cerca de quinze anos de paz, durante os quais a França reconstruiu sua frota de guerra. O levantedas Colônias Inglesas na América do Norte deu ensejo à França e à Espanha de lutarem novamente pel a posse das rotasmarítimas. Na Índia, Souffren, com poucos navios, conseguiu lutar algumas vezes vantajosamente contra as forçasnavais inglesas, superiores em número. Em 1781, a supremacia inglesa nas águas americanas foi perdida. Uma esquadrafrancesa, sob o comando do Conde de Grasse, muito mais numerosa e de melhores navios que o esquadrão inglês, sob ocomando do Almirante Graves, cortou as comunicações da Ilha com a força principal britânica, conduzida por LordeCromwelI, em Yorktown, e compeliu -a à rendição. A queda de Yorktown marcou o fim virtual da Guerra daIndependência Americana, mas a vitória decisiva alcançada pelo Almirante Rodney na batalha de Santas restituiu em

parte a supremacia naval britânica e permitiu à Inglaterra alcançar melhores t ermos de paz (1783). As perdas de suasmelhores colônias e o renascimento da Marinha francesa pareceram indicar uma próxima decadência da Inglaterra.Todavia, as ligações vitais das outras partes do Império Britânico foram mantidas, como durante todas as g uerras doséculo XVIII, e, após a derrota de 1783, a Inglaterra entrou rapidamente em fase de recuperação, tirando de suascolônias os recursos necessários.Em breve, por ocasião da Revolução, a Marinha francesa se auto destruiu, e, quando, em 1792, o con flito entreas duas potências recomeçou, não havia competidor sério para a Royal Navy.A guerra final entre a França e a Inglaterra, fechando a secular luta, durou mais de vinte anos (1793 -1815),durante os quais só houve breves tréguas de meses. A suprem acia marítima britânica nunca foi seriamente ameaçada emqualquer ocasião da guerra, salvo, talvez, por um curto período de 1797, quando uma série de motins irrompeu nasfrotas inglesas. Em vão, a França tentou restabelecer o balanço naval, assumindo suces sivamente o controle, por ummeio ou outro, das frotas da Espanha, Holanda e Dinamarca. Todas elas, uma a uma, foram derrotadas pelos grandeschefes ingleses do tempo: Howe, Jervis, Duncan e Nelson. Em 1794, Howe derrotou Villaret Joyeuse no canal daMancha; em 1797, Jervis, ao largo do cabo de São Vicente, destroçou uma frota espanhola; oito meses depois, Duncanderrotava os holandeses ao largo de Camperdown, e no ano seguinte, Nelson alcançou a vitória de Aboukir.Durante os dez anos de guerra da Primeir a Coligação (1792-1802), o comércio ultramarino britânico expandiu -se extraordinariamente a despeito dos corsários franceses. As importações que tinham sido em 1781, cerca do fim daguerra da América, de 318 milhões de francos, e, em 1792, no começo da Rev olução, de 491 milhões, elevaram-se, em1799, a 748 milhões. As exportações em produtos manufaturados da Inglaterra, que tinha sido, em 1781, de 190milhões, em 1792 de 622 milhões, elevaram-se, em 1799, a 849 milhões. Assim, tudo havia triplicado desde o fim daguerra da América e pouco mais ou menos dobrado depois da guerra da Revolução. Em 1788, o comércio inglês haviaempregado 13.827 navios e 107.925 marinheiros; utilizou, em 1801, 18.877 navios e 143.661 marinheiros. Nesse últimoano, a Grã-Bretanha possuía 814 navios de guerra de todos os tamanhos em construção, em reparos, armando -se ou emoperações. Nesse número, incluíam-se 100 navios de linha e 200 fragatas sob velas, distribuídos por todos os mares; 20naves e 40 fragatas de reserva, prontas para sair dos portos. Não se podia, portanto, estimar sua forca efetiva em menosde 120 vasos de linha e 250 fragatas, guarnecidos por 120 mil marinheiros.Ao recomeçar a guerra em 1803, depois da pequena trégua resultante do Tratado de Amiens, a França procu rounão disputar a hegemonia naval, mas obter uma superioridade momentânea no canal da Mancha, que permitisse atransposição do exército de 150 mil homens reunidos em torno de Boulogne. Napoleão engendrou vários planos visandoreunir diversas esquadras francesas e espanholas bloqueadas em Brest, Rochefort, Cádiz, La Coruña e Toulon, mas tudodesabou com a esmagadora derrota de Trafalgar.Com a vitória de Lorde Nelson, a supremacia naval britânica foi estabelecida, na verdade, em todos os mares,eliminando qualquer ameaça por mais de um século. Napoleão, contudo, não abandonou a disputa naval, mas mudou detática. Foram construídos numerosos bons navios que, isolados ou em pequenas flotilhas, depredaram o comérciobritânico. Os corsários causaram grandes est ragos, pois era extremamente difícil capturá -los. Entre os anos de 1805 e1815, os corsários capturaram 5.314 navios ingleses. Ao todo, de 1792 a 1815, a Grã -Bretanha perdeu nos oceanoscerca de 9 mil navios de comércio, o que não impediu sua frota mercant e aumentar de 1.540.000 para 2.616.000toneladas. Em compensação, os navios franceses obrigaram a esquadra inglesa a se concentrar nas águas européias detal maneira que, quando uma guerra com os Estados Unidos da América irrompeu em 1812, os pequenos navi os

ingleses enviados através do Atlântico sofreram um certo número de derrotas humilhantes numa série de ferozes duelosnavais. No fim, entretanto, o poderio naval prevaleceu. Todos os portos americanos foram bloqueados, e o comércio dosEstados Unidos foi inteiramente varrido dos mares.O completo domínio dos mares, que a grande vitória de Nelson em Trafalgar conferiu à Inglaterra, teve efeitodecisivo nas fases finais da Guerra Napoleônica: frustrou a tentativa de Napoleão para, por meio do BloqueioContinental, eliminar o comércio inglês da Europa; quebrou sua projetada colisão naval contra a Grã -Bretanha, pelacaptura da esquadra dinamarquesa em 1807; tornou possível a continuação vitoriosa da Guerra Peninsular (1808 -14) naqual os recursos militares de Napoleão ficaram isolados; cortou a França das fontes vitais de suprimento. O poderiomarítimo também afetou profundamente o desenvolvimento do Império Britânico durante esses vinte e dois anosgloriosos. Datam de então novas conquistas coloniais inglesas na América, na África do Sul e na índia.56A derrota de Napoleão deu à Grã -Bretanha o senhorio sobre os mares, senhorio que não foi seriamentedesafiado durante cem anos. Esse domínio a elevou a proeminência do mundo, de uma forma que ela nunca antesalcançara. A Inglaterra ficou numa posição comparável à de Veneza na Idade Média ou a da Holanda na primeirametade do século XVII. Nesses cem anos a Grã -Bretanha esforçou-se para não se envolver em qualquer conflito deimportância, exceto na breve Guerra da Cr iméia de 1854-56.Devido à supremacia industrial da Grã -Bretanha vitoriosa, o advento da idade do vapor e do ferro nos maresredundou inteiramente em sua vantagem, tanto mais que tinha então dificuldades em obter madeiras. E o frete de ida decarvão, vendável na maioria dos portos de todo o globo, constituiu forte estímulo para a navegação britânica. Através doresto do século, a Marinha insular continuou a desenvolver -se sem rivalidade séria. Assim, em 1870 a Grã -Bretanha jádispunha de 1.202.000 tonelada s de navios a vapor, enquanto os Estados Unidos só contavam com 192.000, e a Françacom 154.000. Entretanto, a revolução industrial, tornando obsoletos os antigos navios de madeira que por séculoshaviam engrandecido o Império Britânico, permitiu, ao mesmo tempo, às demais potências industriais consagrarem-se àconstrução de novos tipos de vasos de guerra, ameaçando, por conseguinte, o poderio naval inglês.Depois da Guerra da Criméia, a França iniciou a construção de navios de guerra de novo tipo, extrema mentepoderosos. Também a Rússia, analisando as conseqüências fatais de sua importância naval, tanto no mar Negro comono Báltico, durante a mesma guerra, empenhou -se em construir uma armada do novo tipo. Após 1870, tanto aAlemanha como a Itália começaram a construção de navios, embora as respectivas atividades não causassem alarma atépróximo ao fim do século. As crescentes marinhas dos Estados Unidos e do Japão, também, a princípio, não causaraminquietação.A partir de 1897, von Tirpitz, apoiado pelo Kaiser, deu início ao grandioso programa naval alemão. O altonível alcançado pela indústria germânica bem cedo fez ver que uma nova potência ia surgir nos mares. A Inglaterra sealarmou ante essa possibilidade e começou a grande corrida armamentista naval entre as duas nações. Ao deflagrar aPrimeira Guerra Mundial, a Alemanha dispunha da segunda Marinha de Guerra do mundo, e sua frota de comérciocrescia cada ano mais, levando os produtos germânicos a todos os cantos da Terra. A Alemanha manteve -se, contudo,na defensiva nos mares ante a superioridade da Marinha Real aliada às Marinhas francesa, russa e italiana. Asupremacia na superfície dos mares pela Grã -Bretanha e seus aliados se deu realmente desde o princípio mais absolutodo que fora em qualquer gue rra precedente. Ao romperem as hostilidades, a Alemanha tinha para mais de dois milnavios-vapor e cerca de três mil navios a vela empregados no comércio. Em poucas semanas, cada um deles foracapturado ou internado, e durante o decorrer dos quatro anos de guerra nenhum voltou a navegar como navio mercante.O imenso e lucrativo comércio exterior da Alemanha foi inteiramente eliminado. A Alemanha teve, é verdade, um novo

e poderoso poder no submarino. O submarino era e ainda é um mero instrumento de destruiç ão. Ele foi completamenteincapaz de fazer qualquer coisa para reviver o extinto tráfego da Alemanha.Comparadas ao bloqueio inglês dos Impérios Centrais e à campanha submarina alemã, as outras operaçõesnavais de guerra foram relativamente insignificante s, pouco ou nada contribuindo para o desenrolar do conflito. A FrotaAlemã de Alto Mar nunca se atreveu a um teste decisivo e perdeu oportunidade após oportunidade para influirdecisivamente nos acontecimentos. A fuga do Goeben e do Breslau no Mediterrâneo , a escaramuça ao largo deHeligoland (agosto de 1914), a batalha de Coronel (novembro de 1914) com a sua seqüência ao largo das IlhasFalklands (dezembro de 1914), a caça ao largo de Dogger Bank (janeiro de 1915), a longa e penosa aventura dosDardanellos (abril de 1915-janeiro de 1916), todos foram meros episódios dramáticos e espetaculares, custosos masindecisos. A batalha da Jutlândia (31.5.1916), de longe a mais considerável ação naval da guerra, poderia bem ter sidodecisiva, mas não o foi. Na verdade, Jutlândia foi seguida por dois anos e meio de agonia desnecessária. No fim, porém,o poderio naval teve sua parte decisiva, derrotando a campanha submarina, assegurando o trânsito seguro das forçasinglesas e americanas, conservando abertas todas as com unicações aliadas.Em 11 de novembro de 1918, a Grande Guerra acabou, e, pouco depois, toda a frota alemã se rendeu; dezenoveencouraçados, cinco cruzadores de batalha, dezesseis cruzadores ligeiros, noventa e dois contratorpedeiros, cinqüentatorpedeiros e cento e cinqüenta e oito submarinos. Nessa mesma época, a Grã -Bretanha dispunha de quarenta e novenavios de linha, oitenta e oito cruzadores de vários tipos e para mais de trezentos contratorpedeiros. Nunca antes foratão esmagador o domínio dos mares pela Inglaterra, como em fins de 1918.Rapidamente, após a guerra, a Grã -Bretanha recuperou a primazia da Marinha Mercante que perdera, por efeitoda campanha submarina, para a crescente frota de comércio dos Estados Unidos. A Inglaterra, que perdera na g uerramundial 7.923.023 das 21.445.439 toneladas possuídas por sua frota mercante antes das hostilidades, já em 1921dispunha de 19.288.000 toneladas. Em 1925, a Grã -Bretanha já estava com sua frota mercante inteiramente restaurada evoltou a participar do tráfego mundial mais ou menos na mesma proporção de antes da guerra. Além de atender àspermutas do vasto Império, a Marinha de comércio inglesa cobria deficiências de transporte em regiões afastadas detodo o mundo. Nos portos brasileiros, argentinos, ch ilenos, chineses e etc, era a bandeira do Reino Unido a mais vista;35% das exportações americanas eram feitas em porões ingleses. Já não era, entretanto, a Grã -Bretanha a única potênciamarítima, nem permitiam mais seus recursos financeiros manter a supre macia absoluta, conservada por cerca deduzentos anos. Entre as duas guerras, ela procurou nas conferências de desarmamento salvaguardar sua posição, mas foiobrigada a aceitar a paridade naval com os Estados Unidos.A par disso, outras potências navais s urgiram ameaçadoras: a Itália, no Mediterrâneo, e o Japão, no ExtremoOriente, se bem que contrabalançados pelas Marinhas americana e francesa, respectivamente.Desde que começou a Segunda Guerra Mundial, o principal esforço da Alemanha no mar foi orienta do nosentido de cortar as ligações oceânicas do Império Britânico, recorrendo principalmente à arma submarina e à aviação.A batalha do Atlântico, que começou no primeiro dia da guerra, foi assim a campanha naval chave de todo o conflito.57Seu desenrolar não pôde ser determinado pelos resultados de um encontro decisivo, mas pelas listas anotadas numafolha onde figuravam navios perdidos em face de navios construídos, navios afundados em face de submarinos alemãesdestruídos. Referindo-se à batalha do Atlântico, assim se expressou Winston Churchill: "A única coisa que sempre meatemorizou realmente durante a guerra foi o perigo dos submarinos. A nossa linha vital mesmo através dos amplosoceanos e particularmente nas entradas para a Ilha estava em perigo. Sen tia-me ainda mais ansioso a respeito dessabatalha do que me sentira a respeito da gloriosa luta aérea chamada Batalha da Grã -Bretanha”.A conservação da supremacia do Atlântico pelos britânicos, a despeito das forças aéreas e marítimas do Eixo,

durante os dois terríveis primeiros anos de guerra, conta -se entre os feitos mais extraordinários da História. O principalproblema naval das nações unidas na Segunda Guerra Mundial foi, até pelo menos o meio do ano de 1943, o de acharum número de navios de guerra para assegurar a proteção conveniente da navegação comercial. Ante a destruiçãogigantesca sofrida pelas marinhas de comércio aliadas, as disponibilidades de navios de transporte tornaram -se ofundamento da estratégia de guerra aliada. Os aliados perderam quatro milhões de toneladas de barcos mercantes em1940 e mais de quatro milhões em 1941. Em 1942, foram postos a pique quase 8 milhões de toneladas da navegaçãoaliada, então já aumentada depois que os Estados Unidos se tinham tornado aliados. Até fins d e 1942, os submarinosafundaram navios mais depressa do que os aliados podiam construí -los. Em começos de 1943, o nível das novastonelagens foi subindo nitidamente, e as perdas diminuíram. Antes do fim daquele ano, a nova tonelagem haviafinalmente ultrapassado as perdas marítimas oriundas de causas diversas. O segundo semestre presenciou, pela primeiravez, as perdas de submarinos excederem a sua capacidade de poderem ser substituídos. Logo viria o tempo em queseriam afundados no Atlântico mais submarino s do que navios mercantes. “A batalha do Atlântico", afirmou aindaWinston Churchill, foi o fator dominante durante toda a guerra. Jamais podíamos esquecer que tudo que acontecessealgures, em terra, no mar ou no ar, dependia em última instância do resulta do daquela batalha, e, em meio a todas asoutras preocupações, considerávamos os seus altos e baixos, dia a dia presos de esperança ou apreensão.Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a Grã -Bretanha havia sido ultrapassada nos mares pelos EstadosUnidos. Entretanto, enquanto os Estados Unidos encostavam uma grande parte de seus navios mercantes construídos emregime de urgência durante a guerra, a Inglaterra mantinha seus estaleiros em plena atividade. Tendo perdido 12milhões de toneladas de navios de comércio durante o conflito, já estava em 1946 com 90% da tonelagem de 1939 e trêsanos depois com 100%. Mais uma vez voltou assim a recuperar sua posição a frota de comércio inglesa, mas em quasetodos os mares encontrou a concorrência de novas bandeiras .O período de pós-guerra viu a Grã-Bretanha perder a posição que ocupara no cenário marítimo durante trêsséculos.Ao mesmo tempo que diminuía a percentagem da participação da Marinha Mercante inglesa no tráfegomarítimo, era perdida a supremacia naval para os Estados Unidos e União Soviética, e desmembrava -se o antigoImpério Colonial.França:A história marítima da França não apresenta, como ocorre com a da Inglaterra, interesse especial antes doséculo XVI. Até aquela época, principalmente durante a Guerra dos Cem Anos, o canal da Mancha foi teatro de grandescontendas navais entre ingleses, flamengos, frísios e franceses, sem que dessas pugnas surgisse uma potência decaracterísticas eminentemente marítimas, dominando as rotas oceânicas com suas fr otas de guerra e mercante, comofaziam então, no Mediterrâneo, as repúblicas italianas. As próprias batalhas navais da Guerra dos Cem Anos foram maisentrechoques de exércitos embarcados que procuravam cruzar um largo fosso de água salgada.No século XVI, contudo, nas cidades marítimas da Normandia e da Bretanha, por espírito de aventura e desejode lucro, começou-se a armar navios para ousadas expedições que seguiam nas esteiras das frotas portuguesas eespanholas, as senhoras dos mares da época. Não falt avam nas cidades marítimas francesas marinheiros arrojados ehábeis navegantes desde muitos séculos afeitos às aventuras pesqueiras nas perigosas paragens da Bretanha e do mar doNorte. Certos cronistas franceses mencionam viagens realizadas por esses intr épidos navegantes ao longo da costa daÁfrica, anos antes das expedições portuguesas terem explorado aquelas regiões. Não há, porém, provas concretas dessasaventuras marítimas. Se não se pode estabelecer sobre muitos sólidos fundamentos que os franceses p recederam aos

portugueses ao longo das costas ocidentais do continente africano, ao menos se sabe, sem dúvida, que eles os seguiramde bem perto. Suas excursões foram mesmo, desde o começo, um motivo da reclamação dos reis de Portugal.Desde 1488, um comandante de nome Cousin freqüentava as costas da Guiné, e seis anos, apenas, após Vascoda Gama ter dobrado o cabo da Boa Esperança para se lançar à conquista das Índias Orientais, um navegador normando,Birot Paulmier de Gouneville, partiu de Honfleur, no c omeço de junho de 1503, para seguir a rota do célebre português.A partir de 1510, a Terra Nova se tornou a meta dos pescadores bretões, e bem depressa a costa da França pululou decorsários que espreitavam a navegação espanhola e portuguesa no Novo Mundo, procurando deitar mão no ouro e nosprodutos americanos.O primeiro monarca francês que se interessou pelas aventuras ultramarinas foi Francisco I. Ele determinou em1523 as viagens à América de Verazzani, florentino a serviço da França. Nos anos seguint es, os irmãos Parmantierchegaram ao mar das Índias e à Sumatra, e Jacques Cartier e Roberval iniciaram a exploração do litoral canadense. Aomesmo tempo, os armadores franceses iniciaram um vigoroso contrabando de pau -brasil no Atlântico Sul, sendotenazmente perseguidos pelos lusitanos. Em seguida, por questões religiosas, os franceses procuraram fundar umacolônia na baía de Guanabara, mas também aí foram repelidos pelos portugueses.58Nos sessenta anos seguintes, os franceses tentaram ainda fixar -se no Brasil e na América do Norte.Conseguiram descobrir e colonizar algumas ilhas das Antilhas, (Martinica, São Domingos, Santa Lúcia) eestabeleceram-se firmemente na Guiana e no Canadá. Quase todos esses empreendimentos foram, porém, realizados poriniciativa privada dos armadores das cidades do Atlântico, principalmente Saint Malô, Dieppe, Honfleur e La Rochelle,pois, após Francisco I, por uma razão ou outra, os reis de França abandonaram de vista as realizações no além -mar.Com Henrique IV, o Estado francê s voltou a ocupar-se das atividades marítimas, sendo aplicados grandesesforços para o ressurgimento da Marinha Mercante e a retomada da política colonial de Francisco I. Pela convenção de1606, confirmou o Estado francês a situação privilegiada que disput avam desde muito tempo os navios franceses noLevante e nos Estados Barbarescos, e assegurou à França a posse da maior parte do tráfego do Canadá. Paralelamente, aMarinha francesa com sanguinolenta determinação procurou cercar as correrias dos corsários a rgelinos e tunisianos.A atividade desenvolvida por Henrique IV no domínio econômico foi continuada, seguindo um princípio maiscentralizado por Richelieu, pois ele representava um incomparável elemento de prestígio, força e prosperidade. “ Aqueleque é mestre do mar tem grande poder na terra ” disse Richelieu (1558-1642), quando ministro de Luiz XIII, foi oprimeiro a compreender a importância do poder marítimo para garantir a influência internacional da França. Oregulamento marítimo é o mais característic o das diferentes medidas tomadas por Richelieu, para estimular e protegereficazmente o comércio francês. Foi interditada a exportação de mercadorias francesas, exceção feita do sal, em naviosde outras nacionalidades, ficando estabelecido que a cabotagem deveria ser feita em navios nacionais e sendo proibidoaos franceses se servirem dos navios dos estrangeiros. Além do mais, foram criados institutos de hidrografia e escolaspara pilotos e carpinteiros. Richelieu favoreceu em seguida a criação das companhi as de comércio, conferindo mesmotítulos de nobreza aos armadores e negociantes mais eminentes, tudo no sentido de desenvolver poderosamente aMarinha e o domínio colonial francês por ele considerados essenciais à grandeza da nação. Em suma, Richelieuantecipou-se mesmo, em suas medidas, às que seriam adotadas na Grã -Bretanha, poucos anos depois, no “Ato deNavegação”.A fim de garantir a expansão da grande obra, Richelieu tomou medidas enérgicas para expandir a Marinha deGuerra. E para comandá-la e guarnecê-la apelou para os melhores marinheiros da costa, atraindo -os com soldos

elevados. Todo o vasto complexo industrial que serve de base ao desenvolvimento marítimo foi criado ou desenvolvido.No Havre e em Bronage, fundiam-se os canhões necessários ao armamento dos navios. Importantes estaleiros deconstrução foram instalados em Indret, no Loire, ao abrigo dos assaltos de surpresa. No Levante (Mediterrâneo), o portoprincipal das galeras ficou sendo Marselha, como era da tradição, e Toulon, cuja importânci a começou a crescer, serviade base aos navios a vela. Mas todo esse progresso foi de qualquer forma artificial, pois não chegou a criar interessesduradouros que afetassem as camadas numerosas e importantes da população francesa.A Marinha de Guerra, reaparelhada por Richelieu, distinguiu-se em lutas porfiadas contra ingleses e espanhóis,no Atlântico e no Mediterrâneo (La Rochelle e Guaretaria), mas o Cardeal morreu em 1642, deixando inacabado ogigantesco empreendimento. A Marinha de Guerra havia começa do a viver, mas sua estrutura era ainda frágil e poderiadesmoronar se não fosse cercada de cuidados inteligentes ou se fosse negligenciada. A única parte sólida da obra deRichelieu era, aliás, a Marinha de Guerra, mais fácil, mais rápida e mais necessári a, na época, de ser colocada emprimeiro plano. As partes referentes ao desenvolvimento colonial e à Marinha Mercante foram incomparavelmente maisfrágeis.Nos anos seguintes à morte de Richelieu, não sendo mais a Marinha sustentada por uma vontade possan te,corroída pelo terrível flagelo das discórdias internas, declinou lentamente. A Marinha, que é essencialmente uminstrumento de política exterior, deveria mais do que nenhuma outra instituição sofrer dos conflitos interiores. Daí emdiante, ela não recebeu mais dinheiro.Em 1659, a paz dos Pirineus pôs fim à interminável guerra com a Espanha. A França triunfara em terra, masnos mares ela havia caído do lugar brilhante a que fora alçada pela lúcida vontade do grande Cardeal. Os espanhóishaviam tomado Tortuga em 1653 e os ingleses a Arcádia em 1656. Fato mais grave e pesado de conseqüências foi ofato de que a Companhia das Ilhas da América e depois a Companhia da Nova França haviam sido constrangidas, paraescaparem à ruína, a renunciar a seus direitos. Assim, enquanto as companhias inglesas e holandesas auferiam lucrosfantásticos de suas atividades nos oceanos, integrando cada vez mais um número elevado de habitantes na vidamarítimo-comercial, na França ocorria o inverso.A depressão econômica e polí tica que a França sofreu durante dezoito anos sob o ministério de Mazarino,sucedeu um período de grande prosperidade e de novo poderio, conseqüência da hábil política econômica de colbert queficou no poder de 1661 a 1683. Sua aparição marca o ponto culmi nante do mercantilismo e da época mais próspera,mais gloriosa do comércio e do movimento colonial francês. Um dos atos mais importantes de Colbert foi a publicaçãoem 1673 das "Ordenanças do Comércio". A fim de que as exportações fossem constantemente sup eriores àsimportações, Colbert colocou a indústria e o comércio em condições favoráveis para o desenvolvimento e os tornoucapazes de resistir vitoriosamente à concorrência estrangeira. Interditou a exportação das matérias -primas necessárias àindústria, reservou mais uma vez o comércio de cabotagem aos navios franceses, encorajou a pesca em alto -mar e,enfim, estimulou, por prêmios, a exportação de produtos manufaturados franceses. Essa política, entretanto, eraentravada pela falta de navios, pois em 166 4 os ingleses possuíam quatro mil navios de comércio, os holandesesdezesseis mil e a França dispunha de apenas duzentos.Ante essa situação, Colbert ocupou -se particularmente do desenvolvimento e do aumento da MarinhaMercante, com o fito de centralizar em mãos francesas o comércio dos transportes. Criou arsenais e estaleiros em Brest,Rochefort: e no Havre, protegeu as florestas de madeiras de lei para obter a matéria necessária à construção naval,encorajou por meio de prêmios e subvenções o armamento d e navios mercantes, favoreceu a compra de navios59construídos e armados no estrangeiro. Ao mesmo tempo, os navios mercantes pertencentes a outras nações foramsubmetidos, nos portos franceses, a uma taxa de cinqüenta sous por tonelada, na entrada e na saída . Pela OrdenançaMarítima de 1681, criou escolas de aprendizes, destinadas a formar um corpo numeroso de marinheiros hábeis e depilotos experimentados. Por conseguinte, Colbert procurou seguir com maior vigor a política anteriormente adotada por

Richelieu, a mesma, aliás, que a Inglaterra então procurava aplicar.Paralelamente à expansão da Marinha Mercante e do comércio exterior, Colbert atacou o problema dareorganização da Marinha de Guerra francesa, pois ele bem compreendia o papel capital da Marinha no processo globaldo desenvolvimento marítimo. Na perseguição de seu grande ideal e na realização de seu sonho grandioso, Colbert nãofoi bem entendido, nem bem secundado. Desaparecido ele, ninguém saberia continuar sua obra, mas, enquanto viveu,soube imprimir um desenvolvimento econômico à França, nunca antes igualado. Estaleiros, depósitos, hospitaissurgiram da terra e se abrigaram atrás de fortificações. O trabalho desses arsenais foi organizado e regulamentado. NaHolanda, foram procurados os engenhe iros que deveriam servir de iniciadores. Em breve, das carreiras dos arsenais, osnavios de guerra começaram a sair numerosos, todos semelhantes nas proporções. Em 1671, eram já 120 os navios deguerra de linha e 70 os brulotes, fragatas e galeras nas cost as do Atlântico e de Provença. Em 1677, duzentos naviosmilitares estavam à disposição do governo. Um amplo recrutamento de marinheiros assegurava 52 mil homens deguarnição. A Marinha Mercante, enquanto isso sob a administração do grande ministro, superav a a cifra de milunidades.Faltou tempo a Colbert para orientar o povo para o mar, ligando -o pecuniariamente à prosperidade do comérciomarítimo. Essa tarefa também ultrapassava as forças de um homem. Só o tempo poderia agir, mas faltaramcontinuadores. A Marinha de guerra não se fundou sobre uma frota de comércio poderosa que por simples jogo deinteresse lhe teria assegurado a longevidade. Criação artificial, toda de prestígio, ela não sobreviveria à vontade que ahavia feito ressurgir. Seignelay, plasma do por seu pai, encontraria ainda esse caráter artificial da Marinha de Guerraque, depois dele, cairia de toda a sua altura. Mas, sob o impulso fecundo dos dois Colbert, ela iria conhecer umesplendor que não deveria jamais alcançar no decorrer da sua lon ga história.Nas primeiras ações bélicas a que foi chamada a participar, a magnífica frota construída por Colbert cobriu -sede glórias, derrotando, sob o comando de Tourville e Duquesne, espanhóis, holandeses e ingleses nas batalhas deStromboli, Palermo e Beachy Head.Em aparência, Seignelay, ao morrer, deixou a Marinha poderosa, vitoriosa, florescente. Na realidade, essaMarinha era um colosso com pés de argila. Ela era o fruto de uma vontade, a de Colbert, prolongada, mas desvirtuadapor seu filho.Quando pela política ambiciosa de Luiz XIV foram desencadeadas diversas guerras terrestres, pesaram sobre oEstado francês encargos tão grandes que para a frota de guerra só houve disponíveis parcos recursos. Por outro lado, aInglaterra, Estado puramente na val, pôde aplicar, em conseqüência da sua posição insular, todas as suas energias aocuidado da frota, relativamente segura contra um ataque por terra. Valendo -se de seus aliados continentais, a Inglaterrapôde manter, ao mesmo tempo, as forças terrestres da França empenhadas, impedindo a frota francesa de sedesenvolver. Se, com suas rivais, Inglaterra e Holanda, a frota da França tivesse, para proteger numerosos e importantesinteresses comerciais, o espírito de nação, não se teria jamais afastado dela. M as tudo estava para ser feito nesse sentido,e era necessário mais do que a vontade e a vida de um homem para obter resultados bem assentes. As deficiênciasbásicas do desenvolvimento marítimo francês em breve manifestaram -se. Já Tourville não pôde deixar Brestsuficientemente cedo em 1690, devido à falta de marinheiros. As guerras em terra absorviam todos os recursos humanose materiais da nação.Mal tinha morrido Seignelay, e um memorial foi apresentado ao rei, propondo suprimir a Marinha, que custavamuito caro e que só servia para guardar as costas, função que, segundo ainda esse documento, poderia muito bem serdesempenhada por recrutas do exército.A partir da segunda fase da Guerra do Augsburgo, a Marinha francesa sofreu uma série de reveses, culmin andocom o desastre de La Hague. Foi o fim da grandiosa Marinha de Guerra construída por Colbert.O declínio da Marinha francesa acentuou -se em decorrência da Guerra de Sucessão da Espanha. Para que ela

pudesse renascer, seria preciso dinheiro e vontade. Não havia, porém, nem uma nem outra coisa. Desencorajados pelasexperiências infelizes de quase um século, os comerciantes franceses estavam menos do que nunca dispostos a arriscarno mar interesses cuja proteção exigia uma forte Marinha. A extraordinária vitalidade não tardaria a recolocar a Françaem plena saúde. Seu comércio conheceu novos dias de esplendor, mas daí por diante ele se fez, na maior parte, sobpavilhão estrangeiro, mais especialmente o inglês.Por conseguinte, nem interesses políticos, nem interesses particulares exigiram a manutenção de uma frota deguerra. Foi tacitamente admitido que a França devia abandonar definitivamente toda pretensão ao tridente de Netuno. AMarinha desdenhada e considerada inútil davam-se apenas os créditos necessários para impedi-Ia de morrer de vez.Nas décadas seguintes, nada foi feito de notável para alçar novamente a França à categoria de potência navalcapaz de disputar a hegemonia britânica. No conflito seguinte entre as duas grandes nações rivais, a Guerra de Sucessãoda Áustria, não houve encontros navais de importância. A guerra revestiu -se do caráter das guerras às comunicações. Osfranco-espanhóis perderam 3.400 navios mercantes e os ingleses 3.200. Se os números foram sensivelmente iguais emvalor absoluto, foram incomparavelmente mais desastrosos em valor relativo para as Marinhas da França e da Espanha,considerando suas fraquezas numéricas em relação à frota mercante do Reino Unido.A Guerra dos Sete Anos pouco depois teve características diferentes . A França tentou enfrentar a Inglaterra nosmares com uma frota inferior em número e qualidade, sofrendo, em conseqüência, uma série de derrotas que a privaramdas ligações com os territórios ultramarinos. Uma a uma, suas principais colônias, na Índia e n o Canadá, foram60ocupadas pelo inimigo. Custou essa guerra à Marinha francesa 37 naus e 56 fragatas. Em 1763, ao ser assinado oTratado de Paris, pondo fim ao conflito, praticamente não existia Marinha francesa, e a Marinha Mercante estavareduzida a poucos navios.O orgulho nacional ferido e a certeza agora dominante nos círculos governamentais de que a perda dasmelhores colônias fora fruto da ausência de marinha poderosa levaram a França, a partir de 1770, a empreender umgrande esforço no sentido de ree quipar a frota de guerra. Sob a brilhante administração de Choiseul, os estaleirosfranceses do Atlântico e do Mediterrâneo voltaram à atividade. Um grande número de municipalidades financiou aconstrução de navios. Os comerciantes e o povo em geral contri buíram, nas várias províncias, para a construção de umanova frota de guerra, desejosos de tirarem a desforra dos ingleses.Toda uma esquadra renasceu assim da generosidade pública, do patriotismo de uma nação. Mas essa ofertagenerosa era, ela também, ma rcada pelo caráter artificial que conservava a Marinha inteira. Ela era fruto de um elãsentimental, tanto mais efêmero quanto mais violento e não o resultado durável de uma sólida discussão de interessescomprometidos. Richelieu e Colbert: tinham pelo men os tentado fundar sobre a rocha sólida de uma Marinha mercantepróspera a torre orgulhosa da Marinha de Guerra. A de Choiseul não iria repousar senão sobre a areia, malgrado a belaaparência que deveria adquirir. Ela estava destinada a desmoronar, desde qu e soprasse o vento de uma borrasca.A guerra recomeçou em 1778, a propósito da independência das colônias inglesas da América do Norte,estendendo-se rapidamente às Índias, como sucedera durante a Guerra dos Sete Anos.A nova Armada francesa, sob o coman do de Guichen, De Grasse e sobretudo de Suffren, conheceu novamentedias de glória, desempenhando papel decisivo no desenrolar da guerra. A rendição de Cornwallis marcou o fim daguerra ativa no continente americano. O desenrolar da luta estava na verdade assegurado desde o dia em que a Françadevotou seu poderio marítimo à causa das colônias.A paz foi assinada em 1783. A França tinha enfim uma bela Marinha, adquirida ao preço de terríveis provas,mas a paz ia ter uma duração bem curta, e a Marinha, suste ntáculo de tantas esperanças, iria retroceder, ficandoreduzida a quase nada. Sua decadência faria com que, malgrado uma colheita de vitórias terrestres como o mundojamais havia presenciado, malgrado o gênio do maior chefe militar dos tempos modernos, a F rança sucumbiriafinalmente diante do antigo adversário, forte numa só arma que se mostraria decisiva: uma frota, senhora dos mares.Com a Revolução Francesa, recomeçaram os dias negros da Marinha gaulesa. Esse corpo tão robusto ainda em

1789 iria bem cedo entrar em decomposição. Pela chaga da emigração, seu sangue mais puro se perdeu. Mais da metadedos oficiais foram para o estrangeiro. A Marinha não era mais do que um corpo exangue. A centelha vivificante quehavia feito da França a Grande Nação não hav ia tocado sua Marinha. Essa Revolução não trouxe senão sua ruína, suadesorganização, sua indisciplina, sem lhe comunicar seu entusiasmo, sua fé criadora. A grande agitação acusava, maisnitidamente que nunca, o divórcio de fato existente entre a Marinha e o país. As razões desse divórcio eram as mesmasdo século XVIII. As longínquas previsões de Colbert confirmaram -se. Sem Marinha Mercante, sem interessespecuniários no mar, a França não se poderia interessar senão superficialmente, passageiramente, pela M arinha. Ela nãoera carne de sua carne como a Marinha inglesa o era da Grã -Bretanha.Mas uma vez caiu a Marinha francesa, agora vítima das dissensões internas e, conseqüência desastrosa, levouna sua queda a Marinha do comércio. Quando foi assinada a paz de Amiens (1802), havia já muitos anos que nenhumpavilhão de comércio francês tremulava nos mares do globo. Sem elementos para enfrentar a Marinha inglesa, maisuma vez a França recorreu à guerra de corso. O decreto de 23 thermidor, do ano III, definiu o fim a atingir: devastar ocomércio do inimigo, destruir, aniquilar suas colônias, forçá -lo a uma bancarrota vergonhosa. Bem cedo, dos portos doAtlântico saíram para o oceano, armados em corsários, quase todos os navios capazes de navegar e iniciaram o ata queàs rotas marítimas britânicas. Face à devastação crescente exercida no seu comércio, os ingleses se viram obrigados arecorrer ao sistema de comboios. Frotas imensas (de 500 e mesmo de 1.000 navios) atravessavam as regiõesparticularmente perigosas, sob escolta de navios de guerra. Em 1801, os resultados, ao todo, desde o começo da guerra,eram os seguintes: 5.557 navios mercantes haviam sido capturados; 593 corsários tomados; 41.500 marinheirosfranceses feitos prisioneiros. Ao ser assinada a paz de Am iens, a perda anual média da Marinha Mercante inglesa era de500 navios, mas ela contara com 16.728 navios, em 1795 e 17.885, em 1800. A guerra de corso havia, por conseguinte,fracassado na sua fase inicial.Paralelamente à guerra de corso, Napoleão proc urou aparelhar a Marinha de Guerra francesa de maneira a, pelomenos, obter uma supremacia temporária no canal da Mancha, mas a batalha de Trafalgar marcou o fim de tal intenção.A batalha de Trafalgar, esmagando totalmente a remanescente Marinha francesa e comprometendo por longo tempo seufuturo, resolveu de maneira definitiva o grande problema da rivalidade pela hegemonia marítima, nascida sob Luiz XIV.Como único recurso, a França continuou a guerra de corso. No total de 11 anos de guerra (1803 -14), 5.314 naviosmercantes ingleses foram capturados, mas os britânicos por seu turno destruíram ou colocaram fora de estado de osatacar, 440 corsários guarnecidos por 27.600 marinheiros. No fim dessa longa guerra, a França não tinha mais que 100corsários armados. Na mesma época, perto de 25.000 navios mercantes faziam tremular o pavilhão britânico em todosos mares do globo. Dos 1.500 navios franceses de longo curso existentes na abertura das hostilidades não restavam maisde 200 em 1814. A Marinha Mercante da França estava morta ao lado da Marinha de Guerra. Depois do esboroamentodo Império e da última convulsão dos Cem Dias, a França renunciou à marinha. Com a paz, a Marinha Mercantefrancesa recuperou-se, graças ao vigor do comércio interno e à existência de estaleiros eficientes no país. Mais lento foio renascimento da frota de guerra. Cerca de quarenta anos durou a convalescença da Marinha de Guerra francesa.Malgrado a ação por ela desenvolvida em várias demonstrações de força contra o Brasil (1828), Algé ria (1830),Portugal (1831), México (1837) e Argentina (1845), só voltou a ser poderosa de fato durante o Segundo Império, porocasião da guerra da Criméia.

61A política imperialista de Napoleão III e a revolução industrial processada pouco mais ou menos no mesmoperíodo favoreceram o desenvolvimento da Marinha francesa. Com efeito, depois da Grã -Bretanha, era a França a maiorpotência industrial da época, seguida de perto pela Alemanha e pelos Estados Unidos. Em 1864, contavam -se 430 altosfornosem 55 departamentos que produziam 1.213.000 toneladas de ferro. A França compreendeu que se apresentavauma oportunidade única para alcançar a supremacia marítima, já que as antigas esquadras de madeira não poderiamsubsistir na era do ferro e do vapor. Sob a orient ação de hábeis técnicos, como Depuy de Lome, foi a França em muitosaspectos a vanguardeira da evolução marítima. De seus estaleiros saiu o primeiro navio encouraçado, o Gloire. Todaviaa Grã-Bretanha, nação também tecnicamente evoluída, enfrentou a corrid a armamentista, conseguindo manter a suasupremacia, malgrado a ameaça francesa, construindo o HMS Warrior, também encouraçado.A corrida armamentista anglo-francesa sofreu um hiato com a Guerra Franco -Prussiana em 1870-71. Poucosserviços relativamente prestou a Marinha francesa nessa guerra, apesar de seu imenso aparato bélico. A Prússia, naçãocontinental por excelência, dispondo de pequena Marinha, não disputou o domínio dos mares à sua inimiga. A guerra sedecidiu totalmente em terra, e, ante a ameaça cada vez maior dos exércitos invasores prussianos, os marinheirosfranceses muitas vezes desembarcaram de seus magníficos navios, para lutar em trincheiras na defesa do solo pátrio.Depois do conflito, uma só questão dominava todas as outras: retomar as províncias perdidas a revanche. Nãose tinha em absoluto necessidade da Marinha para isso e convinha reduzi -Ia para não desperdiçar créditos que eramnecessários noutros lugares. Como a França não tinha interesses no mar para justificar a existência da Mar inha, uma vezainda, conforme a frase de seu ministro, o Almirante Pothuan, a Marinha deveria sacrificar -se no altar da pátria. Denovo desabava a grandeza da Marinha, grandeza toda artificial, criada por um regime de prestígio e ligada à sorte deste.O programa de 1872 fixou os destinos da Marinha Republicana. Dos 400 navios do Império, foram conservados apenas217. A Marinha foi, portanto, sacrificada no altar da pátria. Thiers reduziu brutalmente seu orçamento, qualificando -ade arma de luxo. O próprio Ministro da Marinha, Almirante Pothuan, declarou do alto da tribuna: “Todos os esforçosdevem ser feitos do lado da terra. De que nos serviria agora uma marinha?".A partir da oitava década do século XIX, a França começou a perder a sua posição privilegiad a de grandepotência econômica. Foi ultrapassada em produção industrial e desenvolvimento comercial, pela Alemanha e pelosEstados Unidos. As causas desse fenômeno eram a paralisação, acusada desde vários anos, do processo demográfico,assim como da falta de suficientes reservas carboníferas, circunstâncias que dificultavam o crescimento da grandeindústria. O tráfego ultramarino francês mostrou crescente empenho em se servir das companhias de navegação deoutros países, mas baratas e rápidas, em vez de nav egar sob o pavilhão nacional. Foi essa a causa da navegação naFrança não participar do florescimento da frota mundial. De 1866 a 1900, ela permaneceu quase estacionária em ummilhão de toneladas, e a construção naval chegou quase à paralisação durante o ú ltimo decênio anterior à PrimeiraGrande Guerra.Em oposição, a França retornou aos empreendimentos coloniais paralisados desde a conquista da Algéria e daaventura no México. A primeira das grandes operações coloniais foi a conquista da Tunísia em 1881. Seguiu-se a daIndochina em 1884-85 e a de Madagascar em 1893, sem falar noutras menores levadas a cabo em vários pontos daÁfrica e da Oceania. Em todos esses empreendimentos, a Marinha de Guerra francesa teve atuação de primeira plana,ou destruindo as forças navais inimigas, ou reduzindo as fortificações terrestres, ou, enfim, apoiando as tropas dedesembarque.Data também do final do século XIX o movimento chamado de “Jovem Escola” o qual causou não pequenosprejuízos ao desenvolvimento da Marinha de Guerra francesa. A Jovem Escola defendia a construção de uma esquadranumerosa de pequenos navios, sobretudo torpedeiros. A aparição do torpedo e da mina perturbou os espíritos e o debate

veio a público. Bem menos que por uma reforma administrativa das ins tituições, uma opinião incompetente malesclarecida apaixonou-se por uma reforma de concepções da guerra naval. Uma grave crise de idéias se declarou e emconseqüência a Marinha francesa viu sua força profundamente abalada. Agradava ao espírito francês mal avisado dasrealidades navais desprezar uma força que achava brutal, substituindo -a pelos recursos de um espírito inovador efecundo. A França que nunca antes se tinha interessado pela Marinha ficou com febre. Dessa falta de uniformidade devistas e das contínuas mudanças de governo resultou uma armada numerosa, mas heterogênea. Malgrado os sacrifíciosconsentidos pelo país, a Marinha francesa, nas vésperas da Primeira Grande Guerra, havia caído para o quinto lugar, sebem que seu Império Colonial fosse o segundo do mundo. A razão básica dessa queda devia de novo ser procurada nafraqueza da Marinha Mercante que, malgrado todos os esforços freqüentemente grandes do Governo, não conseguiuacordar de seu longo sono.Tivesse tido a França uma Marinha Mercante florescente, rica e poderosa, com numerosos interesses no mar,não haveria lugar para discussões bizantinas como a da Jovem Escola. A voz dos interesses ameaçados faria prevalecera verdadeira doutrina de que, numa questão de força como a guerra, deve -se ter poder. Mas a Marinha Mercantefrancesa em 1914 era menos da metade da alemã e apenas um décimo da britânica. Tendo perdido cerca de 920 miltoneladas durante a guerra, graças ao tratado de paz, a Marinha Mercante francesa recuperou a tonelagem afundada ,alcançando, em 1921, a 2 milhões e trezentas mil toneladas. Entre os dois conflitos mundiais, pouco progresso realizou.Enquanto a Inglaterra voltava a ter nos mares mais de 20 milhões de toneladas de navios mercantes e a Alemanha,partindo novamente do zero, ultrapassava os cinco milhões, a França, em vinte anos, aumentava sua Marinha decomércio de 2 milhões e trezentas mil para dois milhões e setecentas mil toneladas.A Marinha de Guerra, em contraste, tendo adotado linhas seguras para sua evolução, e se beneficiando dalonga continuidade ministerial de Georges Leygues, passou a ocupar o quarto lugar na tonelagem. As forças navaisfrancesas perderam seu antigo aspecto heterogêneo, e a qualidade do material ganhou reputação. Todavia, quase todasua magnífica obra de mais de vinte anos desapareceu com a Segunda Guerra Mundial.62Depois do término do conflito, a França tem mantido uma frota de guerra bem inferior à de 1939, mas mesmoassim conserva-se entre as mais importantes potências navais do mundo. Ent retanto, da mesma forma que a sua antigarival, a Grã-bretanha, a França viu sua presença nos mares ofuscar -se ao mesmo tempo que desaparecia seu antigoImpério Colonial.Rússia:A Rússia, país continental por excelência, não ofereceu sob o ponto de vis ta marítimo, nenhum interesse até aépoca moderna. A despeito do caráter continental de seu povo, a Rússia por muitos séculos manifestou um movimentoinstintivo e uma consciência política urgindo pelo oceano. Esse movimento foi barrado, no Báltico, pela Li ga Teutônicae pelos poloneses, e, no Mar Negro, pelo Kanato da Horda de Ouro. Durante séculos a atividade econômica do grandeEstado permaneceu, assim, pois, muito limitada. No século XVI, Ivan IV, o Terrível, abriu a Rússia ao tráfego dealgumas potências ocidentais como a Inglaterra, mas isso não foi o bastante para formar uma verdadeira classe indígenade comerciantes e industriais que soubessem aproveitar os produtos naturais da imensa região.Por um século e meio os comércios inglês e holandês conser varam a Rússia em contato com a EuropaOcidental, fazendo com que o mundo oriental eslavo - que primeiro sofrera a influência bizantina e posteriormente a domundo asiático dos mongóis e tártaros - se tornasse consciente, muito lentamente, de suas afinidad es culturais com aEuropa e, afastando-se de seus mestres orientais, procurasse aproximar -se dos países cristãos mais adiantados do oeste.

Por outro lado, o czar procurou alcançar portos no Báltico e depois da guerra com a Livônia conseguiu Dorpat e Narva,mas os esforços para ampliar essa estreita faixa costeira foram bloqueados pela Polônia e pela Lituânia bem como pelossuecos. Em conseqüência, só ao tempo de Pedro, o Grande (1689 -1725), foi Possível a mutação. Esse soberano que uniaà brutalidade própria de seu povo visão genial e tenacidade sem par, enquanto afirmava com suas reformas econquistasterritoriais a superioridade militar e política da Rússia na Europa Oriental, fundava, ao mesmo tempo as bases daindústria e do comércio a golpes de ukase e de knut.Cercado de estrangeiros Pedro Alexvitch, desde a infância, compreendera a importância do mar. Em 1693, foraa Arkangel, o único verdadeiro porto que então possuía a Rússia, e compreendera de Vista a necessidade do comérciomarítimo. A partir dessa época, ocupou-se seriamente dos problemas marítimos considerando as possibilidades domarBranco, do mar de Azov e do mar Negro, decidindo apoderar -se das embocaduras do Don e do Dnieper. Pode -se dizerque Pedro, o Grande, firmou então as diretrizes da p olítica externa russa seguida nos séculos seguintes com notávelconstância pelos seus sucessores que consistiu, em essência, na conquista de portos livres de gelo durante o inverno noBáltico e no Pacífico e na procura do acesso ao Mediterrâneo.Pedro, o Grande, no início de seu reinado, orientou o esforço nacional para o sul, isto é, propondo comoproblema imediato a ratificação e a proteção das fronteiras meridionais. Com esse objetivo, procurou garantir a possedas margens do mar Negro e do mar de Azov e fortificá-las. Assim foi no mar de Azov que surgiu a primeira frotarussa, e onde foram construídos os primeiros estaleiros e portos. Posteriormente, porém, os esforços de Pedro, o Grande,deslocaram-se das margens dos mares Negro e de Azov para o mar Bá ltico, pois, desde um século antes, os suecoshaviam fechado a estreita janela que lvan, o Terrível, conseguira a tanto custo abrir para o Báltico. A nova capital doEstado passou a ser não Azov ou Tangarov, mas São Petersburgo. A idéia da retificação da f ronteira do sul foiabandonada e cedeu lugar à defesa da fronteira do noroeste. Com o início da Guerra do Norte, abandonou -se, emconseqüência, a esquadra de Azov.Sem dúvida alguma, o motivo principal que levou Pedro, o Grande, a guerrear contra a Suécia foi o desejo depossuir um porto, ainda que fosse um só, nas bordas do mar Báltico. O momento pareceu -lhe oportuno devido àsguerras sustentadas por Carlos XII na Polônia. Os esforços de Pedro dirigiram -se então para a criação da frota báltica.Já em 1701, planejava ter nesse mar oitenta grandes navios. Em 1703, ano da fundação de São Petersburgo, o estaleirode Lodeissoe-Polé lançava ao mar seis fragatas, sendo esta a primeira frota russa que apareceu no mar Báltico. Nos onzeanos subseqüentes, o esforço em prol da Marinha continuou apesar das dificuldades, e, em 1714, com a frota crescentedo Báltico, Pedro derrotou em Hangut a esquadra sueca, soberana antiga desse mar. A vitória de Hangut era a primeiraverdadeira vitória naval a ativo da nova Marinha ru ssa. Com dois devastadores desembarques na Suécia (1719 e 1720),a frota russa contribuiu posteriormente para pôr fim à guerra. No fim do reinado, podiam contar -se na esquadra doBáltico 48 navios de linha, 800 galeras e outras pequenas unidades, com 28.00 0 homens de guarnição.A 30 de agosto de 1721, a paz foi assinada em Nestadt. A Rússia recebeu a Carélia, a Ingria, a Estônia e aLivônia. Todo o litoral balta, deste Petersburgo até a fronteira prussiana, estava nas mãos dos russos. Depois de séculosde uma luta penosa e de numerosos anos de esforços encarniçados, a Rússia arrancara aos suecos a soberania do marBáltico.A expansão da Rússia sob Pedro, o Grande, tornara -se possível por ter Carlos XII falhado em executar atradicional política sueca de se manter antes como potência marítima do que potência terrestre. Carlos XII tentou fazer aSuécia suprema em ambas as esferas e fracassou. A criação e expansão da Marinha russa só fora possível graças ao

desenvolvimento industrial que paralelamente o czar f omentou por todos os meios. Sob Pedro, o Grande, havia vinte ecinco arsenais de construção que lançaram ao mar mais de mil navios, sem contar os que foram comprados ouencomendados no estrangeiro. A indústria metalúrgica recebera cuidados especiais. No fi m do reinado, existiam naregião de Ekatrenburgo 17 fundições de ferro e cobre pertencentes à coroa e a particulares. Essa exploração mineirapermitiu que Pedro armasse a Marinha e o Exército e lhes fornecesse munições de fabricação russa. Quando morreu oczar, deixou mais de 16 mil canhões sem contar os da esquadra.63Pedro não se interessara menos pelo escoamento das mercadorias para o comércio interior e principalmentepara o comércio exterior, no qual a Rússia era escrava dos navegadores ocidentais. Todo o imenso esforço despendidona longa Guerra do Norte tivera como único fito abrir a Rússia ao contato com o Mundo Europeu através de rotasmarítimas mais acessíveis que as do longínquo mar Branco. Em 1700, a Rússia não desfrutava senão de um papelinsignificante no tráfego do Báltico, e os únicos escoadouros marítimos que possuía no próprio território eram os portosdo mar Branco, notadamente Arkangel que ficava aberto à navegação apenas seis ou sete meses em doze. A vitória naGuerra do Norte deu à Rússia sete portos no mar Báltico: Riga, Pernov, Reval, Narva, Viborg, Cronstadt e SãoPetersburgo, os dois últimos construídos por Pedro, o Grande. Essas conquistas suscitavam já em 1714, talvez mesmoantes, a questão das modificações a introduzir nas trocas co merciais com a Europa Ocidental, as quais se haviamefetuado até então, pelo mar Branco, por Arkangel, único porto marítimo do Estado antes de Pedro. Após a fundação dePetersburgo e à proporção que se firmava nas margens do mar Báltico, o czar pretendeu d esviar o comércio do marBranco para o Báltico e dirigi -lo para a nova capital. Essa revolução comercial, porém, atentava contra numerososinteresses e muitos hábitos antigos; contrapunham-se ao czar os holandeses, que desde muito haviam constituído umsólido centro em Arkangel, e bem assim os mercadores russos acostumados ao caminho aberto pelo Dvina do Norte.Assim, além da Inglaterra, da Holanda e da Dinamarca, com as quais as relações estavam já estabelecidas, o czarprocurou interessar outros países ma is afastados. Enquanto em 1714 só 16 navios estrangeiros tinham lançadoâncoraem Petersbugo, em 1772 o número subiu para 116 e em 1724 para 180. No conjunto dos portos do Báltico, excetuadosPernov e Krondstadt, contaram-se, em 1725, 914 entradas de navio s mercantes de diferentes países da EuropaOcidental.Das duas tarefas que Pedro se impusera em matéria de comércio exterior, uma resolveu -se favoravelmente: aexportação russa tornou-se notavelmente superior à importação. Dois anos após a sua morte, a Rú ssia exportava2.400.000 rublos e importava 1.600.000. Não logrou bom êxito, porém, na segunda tarefa: a criação de uma frotamercante para libertar o comércio exterior das mãos estrangeiras; não encontrou armadores russos. O que a vontadepoderosa do grande czar não logrou, também não o conseguiram nenhum de seus sucessores no Governo do país.Exceto a pesca, que sempre nasce onde o homem fica em contato com a água, e uma atividade limitada da sua frotamercante no mar Negro e no mar Báltico, a Rússia até época bem recente jamais desempenhou papel de relevo na esferamarítima não relacionada com a Marinha de Guerra. Nenhum dos governos autocratas que assumiram o controle daRússia nos últimos dois séculos conseguiu alterar essa situação, derivadas eminentem ente da natureza continental dopaís.Com a morte prematura de Pedro, o Grande, em 1725, a gigantesca empresa de ocidentalização da Rússiasofreu um rude golpe. A Marinha ressentiu -se particularmente. A vontade e o caráter de Pedro, o Grande, faltavam aopaís. Seus antigos comandantes e as guarnições estavam ainda presentes a bordo dos navios, mas sua energia estavaextinta. Uma triste situação financeira precipitou a decadência da Marinha. Pedro, o Grande, tivera freqüentemente queenfrentar dificuldades desse gênero e soubera sempre resolvê -las, graças a medidas enérgicas tomadas a tempo. Seussucessores não o souberam fazer e ficaram em presença de situações difíceis em virtude de uma série de guerras longas

e encarniçadas. Em conseqüência, a Marinha rus sa pouco ou nada fez nas campanhas levadas a cabo no períododecorrido até a ascensão ao trono de Catarina, a Grande, e sofreu derrotas humilhantes tanto no Báltico como no marNegro. Os turcos, que não tinham então em alto conceito o poderio naval do czar , chegaram a incendiar toda umaesquadra russa em 1734. Face à sucessão de desastres, os trabalhos navais no Dnieper e no Don foram suspensos,mantendo-se estaleiros só em São Petersburgo e Arkangel. Coube à Catarina, a Grande, continuar a marcha para osmares iniciada sob Pedro, o Grande. Subindo ao trono da Rússia, a Imperatriz Catarina II empreendeu a obra deredenção da Marinha, do Exército e da Rússia, de uma maneira geral. A esquadra, de há muito negligenciada, foi o seuprimeiro cuidado. Criou-se uma junta especial cujas funções eram de reequipá -la e torná-la capaz de se fazer ao mar. Aenergia e a solicitude empregadas para melhorar a frota deveriam dar bem rapidamente brilhantes resultados. A Rússia,nação continental que era, tomar -se-ia uma das grandes potências navais, chegando a se colocar em terceiro lugar. Aatenção dispensada à Marinha por Catarina, a Grande, é bem evidenciada pelas cifras das construções e dos orçamentos.Durante todo o seu reinado, de 1762 a 1796, construíram -se, no Báltico, 90 navios de linha e 58 fragatas, no mar Negro,15 naus e 50 fragatas. As despesas da Marinha passaram de 1.200.000 rublos para 5 milhões de rublos. Ocupando -se dafrota de guerra, Catarina não esqueceu a Marinha Mercante, que considerava um dos fatores p rincipais do progressocomercial do país. Durante todo seu reinado, medidas enérgicas foram tomadas para aumentar a importância daMarinha de comércio, tanto marítimo como fluvial.Coube à Marinha, restaurada por Catarina, terminar a obra iniciada por Ped ro, o Grande, no mar de Azov e nomar Negro, sessenta anos antes. Graças às repetidas vitórias navais sobre os turcos, a Rússia conquistou a Criméia emais uma vasta porção do litoral do mar Negro. Não foi senão após 1774, com um tratado concluído com os t urcos,pelo qual obteve o direito de navegar no mar Negro e nos estreitos de Bósforo e Dardanellos, que a Rússia pôde utilizaro litoral recém-adquirido sobre o mar Negro e o mar de Azov. Em 1790, Tangarog, que se encontra a oeste do estuáriodo rio Don, era o principal porto russo no mar Negro. Odessa só foi aberta como porto em 1795 e, em 1805, contava jácom 15 mil habitantes. Em 1804, Sebastopol, com suas excelentes enseadas, foi escolhida exclusivamente para basenaval. Entretanto, o comércio de Odessa e, a bem dizer, de todos os portos do mar Negro foi muito pouco importante até1800, mesmo comparado ao do mar Branco, e quase desprezível comparado ao do Báltico. O tráfego desses portosestava na maior parte nas mãos da Marinha Mercante grega do Império Otomano, que transportava as mercadorias aConstantinopla e a Smirna. O fim do século XVIII viu aparecerem navios austríacos e ingleses nos portos russos do marNegro.64No decorrer de todo o século XIX e começo do século XX, a evolução marítima da Rússia se processousegundo as mesmas linhas gerais do século XVIII. O crescente comércio exportador do país pelo Báltico e pelo marNegro, representado sobretudo por madeiras, trigo e peles, não estimulou grandemente o crescimento da frota mercanterussa, cabendo aos navios das outras nações o transporte da maior parte dessas volumosas transações.Assegurado o domínio do mar Negro começou o governo de Moscou a considerar o acesso ao marMediterrâneo, e desde as guerras napoleônicas que forças navais russas começ aram a navegar cada vez com maiorfreqüência nas águas do Mediterrâneo Oriental. Já em 1827, os navios do czar participaram da batalha de Navarino, aolado dos ingleses e franceses, por ocasião das lutas pela independência da Grécia. Mas, se havia interess es comuns dasgrandes potências européias com as da Rússia, a propósito da independência grega, tal coincidência cessou uma vezlibertado aquele país do jugo turco. Dessa forma, na determinação da Grã -Bretanha e da França em impedir a Rússia deobter o controle do Mediterrâneo Oriental e a sua decisão de conservar a Turquia, como guardiã do Bósforo, reside a

causa da Guerra da Criméia.No início da Guerra da Criméia, em 1853, o Almirante Nakhimov destruiu inteiramente, na batalha de Sinope,uma esquadra turca, mas a intervenção da França e da Inglaterra, no conflito, arrebatou à Rússia o domínio do marNegro. A Marinha russa pouco ou nada fez para impedir os desembarques aliados na Criméia, recolhendo -se à BaseNaval de Sebastopol, em cuja defesa se concent rou. Quase todos os navios da frota do mar Negro foram afundados parabarrarem as entradas do porto, e os marinheiros desembarcaram para guarnecerem bastiões em terra. QuandoSebastopol caiu em poder do Exército aliado depois de longo cerco, o poderio nava l da Rússia esta aniquilado.Terminada a guerra, a Marinha russa entrou em fase de recuperação. De 1855 a 1863 foram construídos 132navios a hélice, grandes e pequenos, dos quais; apenas cinco encomendados no estrangeiro. Os demais foramconstruídos nos arsenais russos com material russo. Esses números mostram bem a energia com que foi empreendida aconstrução naval, sobretudo se considerarmos a pobreza da organização metalúrgica do país naquela época. A novafrota, contudo, não teve participação de vulto na guerra russo-turca de 1877-78, que foi nitidamente terrestre. Naverdade, a Rússia tinha a desvantagem de possuir sua esquadra dividida por vários mares e dessa forma, no Negro, nãodispunha de meios flutuantes suficientes para se opor à esquadra turca . A guerra foi, entretanto, decidida em terra, ondea superioridade russa era esmagadora. Com o Tratado de Berlim que pôs fim ao conflito, mais uma vez a Rússia tevesuas pretensões de acesso ao Mediterrâneo barradas pelas grandes potências da Europa Ocide ntal.Menos resistência encontrou a Rússia na sua expansão para o Leste e, assim, desde meados do século XIX, elaconsolidou sua posição no Pacífico, em cujas águas foram fundadas as cidades de Vladivostok e Petropalovsk, ambasbloqueadas pelo gelo durante o inverno.Por fim, no final do século XIX a Rússia arrancou da China desmoralizada a posse de Porto Arthur, situada emexcelente baía, cujas águas não gelavam nos meses frios. Ali foi iniciada a construção de uma grande base naval,acirrando a desconfiança japonesa.No reinado do czar Alexandre III (1881 -94), foi organizado um plano de vinte anos para a construção de umaesquadra moderna que atendesse às ambições imperialistas da Rússia. A construção de navios de guerra motivou acriação de usinas metalúrgicas e de instalações mecânicas e obrigou a formação de engenheiros e especialistas. Umaparte dos navios do novo programa foi encomendada ao estrangeiro. O atraso técnico do país fez com que fossemconstruídos navios de tipos muito diferentes, não sen do constituída assim uma força homogênea. As despesasenormesocasionadas por essas construções obrigaram a economizar noutra parte. Os navios passaram a navegar cada vez menos,e o pessoal sofreu as conseqüências. Durante esse período, a qualidade do pess oal piorou à medida que melhorou a domaterial. Em treze anos construíram-se 114 navios, dos quais 17 encouraçados, 10 cruzadores encouraçados, 14canhoneiras encouraçadas e 80 navios de menor tonelagem. Nesse total, apenas dois cruzadores, três canhoneira s e 20torpedeiros foram encomendados ao estrangeiro. Os demais foram totalmente construídos em estaleiros russos,inclusive máquinas e artilharia. A tonelagem do conjunto atingiu 300 mil toneladas. Nos dez anos que se seguiram, de1894 a 1904, já no reinado de Nicolau II, a Rússia fez ainda um esforço mais considerável. Foram construídos, então,sete encouraçados, quinze grandes cruzadores e trinta navios de outros tipos. A tonelagem da frota russa atingiu a 500mil toneladas.Assim, ao começar o século XX, a Rússia possuía uma grande frota que a colocava em terceiro lugar entre aspotências navais. Com esses meios materiais, que pareciam suficientes, ela empreendeu uma política agressiva noExtremo Oriente para chegar ao mar livre. Para possuir um porto q ue não gelasse, a Rússia tinha absoluta necessidadeda Mandchúria e da Coréia que, por outro lado, eram necessárias ao Japão, como acesso ao continente. Dessa forma,houve o choque inevitável das pretensões russas no Extremo Oriente com os interesses japon eses e, em 1904, começou

a guerra.Após sofrer a perda de quase todas as unidades da Esquadra do Pacífico em combate, por ação de minas e nacaptura da Base Naval de Porto Arthur, a Rússia teve aniquilada inteiramente a esquadra enviada do Báltico numsupremo esforço. Na batalha de Tsushima, trinta dos quarenta e sete navios russos foram postos a pique, uma perda emtonelagem de 137.000 toneladas num total de 156.000. Três navios apenas escaparam, pois os demais se renderam.Depois da conclusão da paz com o Japão, o que restava da esquadra russa voltou para o Báltico, onde nãoficara, por assim dizer, nada mais do que um encouraçado a flutuar e dois outros em construção. Os navios chegados doExtremo Oriente constituíram o núcleo em torno do qual deveria r enascer a frota russa. Todavia, nove anos depois, aesquadra não fora ainda construída. Nenhum dos navios do novo programa estava pronto. A esquadra não compreendia,portanto, senão as unidades sobreviventes da guerra russo -japonesa e as construídas durant e aquela guerra.A contribuição da Marinha russa na Primeira Guerra Mundial foi modesta. Ela não foi capaz de ameaçar emnenhum movimento o domínio naval alemão no Báltico, apesar da maior parte da esquadra germânica ter ficado65concentrada no mar do Norte . A esquadra russa dedicou-se principalmente às operações de minagem, no que logroualgum sucesso, até que em 1917 a infiltração comunista solapou os últimos vestígios da sua eficiência militar.A revolução vermelha aniquilou praticamente com o que ainda existia da Marinha russa, e, até poucos anosantes da Segunda Guerra Mundial, os dirigentes comunistas pouca atenção deram à sua restauração. Na década detrinta, contudo, a Rússia iniciou um programa de construção naval relativamente grande, compreendendo ,principalmente, cruzadores, contratorpedeiros e submarinos. Parte desse programa foi realizada, em encomendas aosestaleiros italianos.A contribuição da Marinha russa na Segunda Guerra Mundial não foi decisiva. Mais uma vez ela não disputouà Marinha alemã o domínio do mar Báltico. Seus navios atuaram mais como baterias flutuantes no flanco do Exércitoque se apoiava no mar ou na defesa das cidades marítimas atacadas pelos exércitos nazistas. A Marinha russa gozou derelativa supremacia no mar Negro, o que facilitou a prolongada defesa de Sebastopol, em 1942, e posteriormente areconquista da Criméia. As forças navais soviéticas, por outro lado, pouco auxilio prestaram às nações ocidentais naescolta dos comboios para Murmansk.Após a Segunda Guerra Mundial, a Rússia iniciou um vasto programa naval que a colocou mais uma vez, emsegundo lugar entre as potências marítimas. Os ganhos territoriais da Rússia depois da Segunda Guerra Mundialcolocaram-na numa posição estrategicamente mais favorável para sua e xpansão nos oceanos.Hoje a URSS está consciente de seu futuro como potência marítima, e a nação que pôde no passado serchamada de “animal terrestre” está adquirindo consciência marítima. Ela não só desenvolveu consideravelmente suaMarinha de Guerra utilizando-se principalmente do potencial da energia nuclear para a propulsão das embarcações ecomo arma de guerra, como também tem procurado mais que nenhuma outra potência expandir sua Marinha Mercante etodas as atividades ligadas ao mar.A expansão marítima russa não é um anseio de seu povo, que, aliás, não dispõe de muitas maneiras demanifestá-lo, mas o resultado dos interesses em jogo nos oceanos. Nada alterou tanto nos últimos anos a balança depoderes nos mares como a crescente presença da bandeira s oviética em todos os oceanos.Alemanha:Abstraindo a intensa atividade marítimo -comercial desenvolvida nos fins da Idade Média e nos primórdios daIdade Moderna pelas cidades hanseáticas, a participação alemã nos empreendimentos oceânicos foi diminuta a té épocabem recente.O povo alemão, habitando dezenas de diferentes Estados, muitos dos quais não dispunham de limitesmarítimos, dizimado por seguidas e prolongadas guerras, não participou da investida para os mares iniciada pelosportugueses e prosseguida depois pela Espanha, Holanda, Inglaterra e França. O comércio alemão para o além -mar caiuassim nas mãos dos holandeses.A partir do século XVIII, a Prússia começou a emergir como o mais poderoso dos Estados germânicos, mas,

cercada por nações rivais, também ela não pôde cogitar do desenvolvimento marítimo, nem sequer empreender aconstrução de uma esquadra que protegesse o litoral do Báltico contra os ataques inimigos. Assim, durante todo oséculo XVIII, não se encontra nenhum traço da Marinha de Guer ra da Prússia. A necessidade de haver uma se fizerasentir no país por várias vezes durante esse período perturbado, mas o estado precário das finanças do reino fez sempreadiar a realização dessa empresa. Suecos e dinamarqueses disso se aproveitaram para levar a bom termo váriascampanhas em solo da Alemanha, no decorrer dos séculos XVII e XVIII.Em meados do século XIX, a Prússia criou uma pequena Marinha de Guerra. Ela surgiu por força da guerracontra a Dinamarca e foi planejada levando em conta as pec uliaridades da campanha contra aquele país nórdico.Terminada a guerra, seguiu-se novamente um período de esquecimento para a nascente Marinha prussiana. Os recursosmilitares que se davam aos navios alemães em serviço eram fracos. Era o resultado pouco br ilhante de uma políticanaval sempre entravada e sacrificada. Por conseguinte, antes de 1870 a esquadra alemã aumentou apenas por golpes.Como a Marinha Mercante era pouco desenvolvida para poder incrementar a construção naval, acompanhando os novosprocessos, a Marinha de Guerra era obrigada a recorrer quase sempre ao estrangeiro.Decorreram assim longos anos antes que a Alemanha se convertesse em potência naval. Somente quandovárias circunstâncias favoráveis coexistiram surgiu a Marinha que iria disputa r à Grã-Bretanha a supremacia dos mares.A razão principal desse retardamento pode ser atribuída à posição geográfica do país. Com efeito, o território alemão équase todo fechado por terra e onde ele toca o mar este é dominado por potências situadas mais favoravelmente. Emterra, a Alemanha dispunha sobre os seus vizinhos das facilidades de milhares de comunicações interiores. No mar, osterritórios das potências inimigas, ocupavam posições estratégicas mais favoráveis, permitindo o controle dos acessosoceânicos aos portos germânicos.Dentro de uma estratégia nitidamente continental, a Prússia iniciou em meados do século XIX uma série deguerras expansionistas, visando firmar -se como grande potência européia. Nas guerras de 1864 (contra a Dinamarca) e1866 (contra a Áustria), não houve encontro naval de qualquer espécie, e na guerra franco -prussiana de 1870-71 houveapenas um combate no mar, entre dois pequenos navios.Depois, porém, que a Alemanha constituiu um Império, em 1871, pela união dos vários Est ados germânicos, anecessidade de um poder naval capaz de defender os interesses alemães no ultramar tornou -se patente.O rápido desenvolvimento do comércio alemão sob o estímulo das indenizações francesas e tarifas protetorasexigia novas fontes de matér ia-prima e novos mercados. O maior incremento da população, por outro lado, indicava anecessidade de lugar para a expansão germânica no ultramar. Por muitos anos a emigração de alemães da terra -pátria,66em média cerca de dois mil por dia, dirigira -se em grande fluxo para os Estados Unidos, para o Brasil, para a Argentinae outras regiões onde o Governo Imperial não tinha controle. Parecia claro que colônias eram desejadas e mesmonecessárias. Em 1884, a Alemanha, sem mover um navio ou disparar um canhão, ac hou-se possuidora de território naÁfrica, cuja área combinada excedia a mais de quatro vezes a área do Império Germânico na Europa. Depois daInglaterra, da França e dos Estados Unidos, a Alemanha ocupava, enfim, posto eminente no comércio internacional,posição essa que se consolidou com o passar dos anos.Entre todas as potências mercantis foi a Alemanha a que relativamente acusou o mais grandiosodesenvolvimento até a Primeira Guerra Mundial.A indústria metalúrgica, que já na primeira metade do sécul o avançava com sucesso, no fim dos oitocentos eno primeiro decênio do século XX, prosperou a passos gigantescos, graças à descoberta de jazidas de minério de ferrono subsolo da Alemanha. Em 1871, a produção de ferro alemã não superava 1.563.000 toneladas e mantinha 23 miloperários, e em 1904, a produção passava a 10 milhões de toneladas e ocupava 35 mil pessoas. A produção de açoaumentou da mesma maneira. Em 1912, ela era avaliada em 17 milhões de toneladas contra 1.100 mil em 1887.

Desse modo, se antes de 1880 a Alemanha ocupava o quarto lugar no comércio mundial, em 1914 ocupava osegundo. De 1898 a 1914 o comércio externo da Alemanha aumentou em 100%, dos quais três quartos eram decomércio marítimo cuja escala era em Roterdam e Antuérpia.As cidades costeiras do mar do Norte e do Báltico beneficiaram -se amplamente do cuidado incessante dado àMarinha e da expansão comercial alemã no ultramar. Hamburgo, na embocadura do Elba, agigantou -se. Porto francodesde 1881, possuía em 1914, 1.087 navios que de slocavam 1.362.000 toneladas. Todo ano entravam e freqüentavamseu porto mais de 30 mil navios. A importação subia a 12 milhões de toneladas, e a exportação a nove. Naturalmente ascompanhias marítimas de Hamburgo cresceram em número e como entidade, de mo do extraordinário. A partir de 1885,Bismarck começou a autorizar fortes subvenções do Governo Imperial à Marinha Mercante germânica.Em 1870, uma só companhia existia, a Hamburg Amerika Line; em 1914, depois de quarenta anos, portanto,havia não menos de quarenta companhias orgulhosas. Só a Hamburg dispunha de um capital não inferior a 125 milhõesde marcos, sendo proprietária de 388 navios com uma tonelagem que, em 1910, subia a 1.021.963 toneladas.Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, a frota merca nte alemã era a segunda do mundo. Ela compreendiamais de quatro mil navios com mais de cinco milhões de toneladas. Oitenta mil marinheiros guarneciam esta frota. Apercentagem da Alemanha na frota mercante mundial, que era, em 1874 -75, somente 5,2%, elevou-se até o começo daguerra a 10,8%.Estimulados pelo desenvolvimento da Marinha Mercante e amparados por uma sólida indústria siderúrgica, osestaleiros alemãs proliferaram. Em 1870, havia no país apenas sete estaleiros. Esse número elevou -se a 107 em 1912.Enquanto até o nono decênio do século XIX os grandes navios transatlânticos só procediam da Inglaterra, as conhecidasfirmas de armadores de Hamburgo e Bremen fizeram daí por diante suas encomendas aos estaleiros alemães,estimulando-os com isso a desenvolverem uma capacidade de produção cada vez mais elevada. Em poucos anos,converteram-se esses estaleiros em empresas construtoras de primeira categoria, e a contínua ampliação de suasexplorações demonstrou o desenvolvimento crescente dessa indústria.O aumento do comércio alemão depois de 1871 e o crescimento da Marinha Mercante mostraram anecessidade de uma Marinha de Guerra. Essa necessidade foi posteriormente acentuada pelo estabelecimento doImpério Colonial. Contudo, somente quando o jovem Kaiser Guilherme II subiu ao trono é que a construção de umaforte Marinha foi encarada. A impotência da Alemanha devido à falta de Marinha foi amplamente demonstrada em1896, quando o Kaiser foi incapaz de enfrentar o Presidente Kruger, do Transwaal, com outro meio que não maistelegramas. Ainda mais efetivamente foi demonstrada em 1889, quando começou a guerra Anglo -Boer. O Kaiser seenfurecia quando os navios mercantes alemães, carregados de armas e munições para os Boers, eram detidos peloscruzadores ingleses e condenados ao confisco por tribunais britânicos. Usando a experiência sul -africana como um meiopara inflamar a opinião pública alemã (que é altamente inflamável), ele conseguiu as duas primeiras das quatro LigasNavais sob as quais foi construída a gr ande frota que custou ao povo alemão 200 milhões de libras. O zelo do Kaiserpela construção naval foi posteriormente estimulado pela Guerra Hispano -Americana de 1898, na qual a influênciadecisiva do poderio naval foi demonstrada conspicuamente. Depois de 1896, o Kaiser passou a contar com o concurso,na pasta da Marinha, do Almirante Von Tirpitz, que foi a alma do desenvolvimento naval da Alemanha.Ao raiar o século XX, a Alemanha reunia as condições fundamentais necessárias a uma potência naval:comércio, atividade industrial, sentido militar, aptidão para a organização, amor ao trabalho, poderio do Estado epatriotismo. Bem cedo os programas modestos das duas primeiras Ligas Navais foram abandonados (1898 e 1900). Osegundo ato naval acelerou e quase do brou o programa de 1898, procurando criar uma frota de combate com 34encouraçados, 38 grandes cruzadores e 106 pequenos cruzadores. A Inglaterra evidentemente não deixou de consideraro desenvolvimento da Marinha alemã e, sob o pulso firme de Lord Fisher, ampliou, por seu turno, o programa deconstrução naval. As duas grandes potências européias iniciaram então uma corrida armamentista que durou até o início

da Primeira Guerra Mundial.Em agosto de 1914, a Alemanha tinha a segunda Marinha de Guerra do mun do. Sua esquadra compunha-se de13 encouraçados modernos, 30 encouraçados antiquados, 5 cruzadores de batalha, 60 cruzadores pesados, 12 cruzadoresligeiros, 152 contratorpedeiros, 45 torpedeiros e 40 submarinos. O emprego dessa formidável força naval no c onflito de1914-18 presta-se até hoje a controvérsias. A Marinha alemã bateu -se com denodo, e a alta qualidade de seus navios foicomprovada por mais de uma vez. Ela não impediu, contudo, que a Marinha Mercante alemã abandonasse todos osmares, com exceção do Báltico.67A supressão do comércio germânico no além-mar teve conseqüências funestas para as armas do Kaiser. Aocontrário da guerra de 1870, relativamente curta, o domínio das rotas oceânicas foi adquirindo, com o correr dos meses,cada vez maior importância, uma vez perdido o elã inicial do avanço dos exércitos alemães na França. Com aestabilização dos exércitos beligerantes na luta de trincheiras, a guerra assumiu um aspecto de desgaste que tornavaproblemática a vitória da Alemanha, cortada das prin cipais fontes de suprimento do mundo. A guerra de corso começoua ser considerada, por certo círculos na Alemanha, como o único recurso capaz de quebrar o esforço da guerra aliada. Osubmarino tinha-se revelado capaz de ameaçar a vida econômica da Inglater ra malgrado a proteção de suaesquadra. Aíntima dependência que a Inglaterra se achava de sua Marinha Mercante permitia a esperança de ver o Estado insulartão profundamente atingido que não pudesse prosseguir na luta. Quatro quintos dos víveres e das mat érias-primas queconsumia, com exceção do carvão e da metade do minério de ferro, procediam do além -mar. Levou muito tempo,porém, para felicidade dos aliados, antes que a Alemanha se empregasse a fundo na guerra de corso submarina. Todo oesforço naval do país, antes da guerra, tinha sido consagrado a Forças de Alto -Mar e relativamente pouca atenção setinha dado à Força de Submarinos. Além do mais, havia os problemas políticos, que eram os principais. A guerrasubmarina irrestrita fatalmente arrastaria pa ra o campo aliado outras potências.No decorrer de 1915, a média mensal de afundamento de navios mercantes por submarinos foi de 120 miltoneladas. Antes de iniciada a guerra submarina, o comércio marítimo procedente da Inglaterra ou a ela destinado nãotinha sofrido apreciavelmente. O encarecimento do frete mantinha -se em limites razoáveis, e o povo inglês, em suma,sofria pouco. Não havia carência, e o encarecimento da vida era suportável. A guerra submarina, ao contrário,modificou sensivelmente as condições de vida na Inglaterra. O frete se elevou notavelmente. De janeiro a maio de 1915,dobrou; em janeiro de 1916, era em média dez vezes mais elevado que antes da guerra (janeiro de 1914). Os preços docomércio, grosso modo, seguiram a ascensão antes mes mo que as importações tivessem sofrido reduções bastantes parase falar em penúria de mercadorias. No fim de 1916, a perda de tonelagem tornara -se já sensível. Era evidente que oproblema da guerra submarina reduzia -se a uma questão de tonelagem. Os argume ntos a favor da campanha submarinairrestrita eram fortes em face dos resultados já alcançados com a campanha moderada empreendida até então. Noentender de von Tirpitz e von Scheer não se poderia atingir a Inglaterra senão no seu comércio marítimo. O meio parase alcançar o objetivo era a guerra submarina sem restrições à qual a Inglaterra não poderia sustentar por mais de seis aoito meses, considerando os recursos de que os aliados dispunham então.Os estaleiros tinham estado bastante ativos em 1915 par a fornecer um número de submarinos satisfatório, mastinha-se perdido um ano precioso. Durante o ano de 1916 a Inglaterra teve tempo para tomar, metodicamente, ascontramedidas. O resto do ano de 1916 se passou em discussões entre o Estado -Maior Geral, a Marinha e o Governo do

Império; o Chefe do Estado-Maior Geral procurando forçar o Governo a empreender a guerra submarina sem restrições,enquanto tentava fazer o Comandante -Chefe recomeçar a guerra comercial restrita.A guerra submarina sem restrições começou enfim a 1º de fevereiro de 1917. Tratava -se de quebrar aresistência da Inglaterra, destruindo seu comércio marítimo, malgrado a superioridade de sua esquadra. Dois anos emeio de guerra se tinham passado sem ter sido iniciada essa tarefa, até que as autoridades responsáveis se viram naobrigação de utilizar os meios de que dispunham para evitar o desastre ameaçador. Começou então a fase crucial daguerra marítima, e todas as nações beligerantes compreenderam que o seu resultado seria talvez mais impor tante aindaque a decisão da batalha do Maine. Nunca potência alguma colocou tal empenho e tantos recursos em cortar as viasmarítimas da nação inimiga como fez a Alemanha em relação à Inglaterra em 1917 e 1918. Esforço semelhante só viriaa ser empreendido em idênticas circunstâncias na Segunda Guerra Mundial. Nenhuma campanha mobilizou tantosrecursos no mundo todo quanto essa primeira batalha do Atlântico. Enquanto a guerra de corso, realizada pelosfranceses nos conflitos dos séculos XVII, XVIII e XIX, não chegou a impedir o crescimento da Marinha Mercanteinglesa, a campanha submarina irrestrita em poucos meses causou uma diminuição sensível na tonelagem mundial.O número de submarinos cresceu sempre mesmo com as contramedidas aliadas. No começo do ano de 1915, onúmero de unidades consagradas à guerra no comércio era de 24. A tonelagem afundada durante o ano de 1915 nãoatingiu o número de seis semanas de guerra sem restrições. Em 1916, o número de submarinos foi acrescido para 87entre os vários tipos, mais 14 estavam em experiência e 151 em construção. Trinta e cinco submarinos não haviamregressado às bases desde o início das hostilidades. No primeiro dia de guerra submarina sem restrições havia já no mardo Norte 57 submarinos, no Báltico, oito, em Flandres, 38, e as bases do Mediterrâneo dispunham de 31. A tonelagemafundada aumentou brutalmente, atingindo a mais de um milhão de toneladas nos meses de abril a junho de 1917, fatonão registrado em nenhum mês na Segunda Guerra Mundial.As potências aliadas tomaram uma série de contramedidas eficazes não só organizando comboios de naviosmercantes fortemente escoltados como também aperfeiçoando a técnica do combate ao submarino e realizando, emtodos os países possíveis, principalmente nos Estados Unid os, um programa de construção naval em massa capaz decompensar as perdas experimentadas. Tais medidas lograram sucesso, e os submarinos alemães pagaram pesado tributo.Durante a guerra foram utilizados ao todo 360 submarinos; 184 não regressaram.O sucesso da campanha submarina achava -se comprometido. Os alemães procuraram reunir todos os seusrecursos industriais para aumentar a produção de submarinos. Cento e vinte haviam sido encomendados em dezembrode 1917 e mais duzentos e vinte em janeiro de 1918, mas destes, até setembro de 1918, apenas 74 haviam sidoentregues.Enquanto isso a poderosa frota alemã poucas saídas realizara depois da batalha de Jutlândia em maio de 1916.Os navios parados nas bases, em contato com as forças desmoralizantes que grass avam na retaguarda, acabaramcontaminados, e já em 1917 os primeiros indícios de indisciplina surgiram nos encouraçados.68Ante a ameaça do colapso na Frente Ocidental, o Alto Comando Alemão decidiu realizar uma surtidadesesperada com toda a esquadra, mas a 29 de outubro de 1918, ao ser conhecida a ordem, explodiram desordens emvários navios, sobretudo nos encouraçados. A surtida teve que ser suspensa.Com o fim da guerra, a frota alemã foi enviada para Scapa Flow onde se auto -afundou ao se difundir a suspeitade que os navios seriam entregues aos vencedores. Em águas inglesas, foram dessa forma afundados 19 encouraçados, 5cruzadores de batalha, 16 cruzadores, 92 contratorpedeiros, 50 torpedeiros e 152 submarinos.Sem frota de guerra e com a Marinha Merca nte reduzida a 600 mil toneladas, assim terminou a primeira faseda expansão alemã nos mares.Embora derrotada de forma esmagadora e malgrado as dificuldades sem conta surgidas em conseqüência doconflito, revolução, inflação, indenização etc, a estrutura sólida da economia alemã permitiu uma rápida volta do país àstransações comerciais. O renascimento do comércio acarretou, logicamente, o incremento da Marinha Mercante. Em1923, só a Companhia Norddenstcher Lloyd tinha já em construção 28 novos navios co m 232 mil toneladas, e 34

grandes transatlânticos de outras companhias estavam sendo construídos numa série de estaleiros. A Marinha de Guerra,porém, não pôde acompanhar o crescimento da frota de comércio em virtude de cláusulas do Tratado de Versailles epermaneceu reduzida até o advento do nazismo.No começo da terceira década do século, a Alemanha já era novamente uma das três importantes naçõescomerciais do mundo. Sua Marinha Mercante ultrapassava cinco milhões de toneladas. Com a subida dos nazistas aopoder, a Alemanha iniciou febrilmente seus preparativos para a guerra. Todavia Hitler e seus auxiliares imediatos nãoencararam o aspecto naval do futuro conflito com grande zelo. Faltou à Alemanha a firme vontade de um von Tirpitz,bem como a megalomania de Guilherme II. Em confronto com o rápido desenvolvimento do Exército e da Força Aérea,a Marinha germânica aumentou pouco. Também não foi considerada no começo pelo Alto -Comando a eventualidade deuma guerra contra a Inglaterra. O Almirante Raeder, c ontudo, não aceitou esses pontos de vista e, apontando a VonBlomberg a expansão da Marinha francesa, conseguiu maiores verbas. Com esses fundos ele iniciou os fundamentos deuma pequena e equilibrada esquadra.O Tratado de Londres, assinado em 1935, permitiu à Alemanha possuir uma esquadra equivalente a trinta ecinco por cento da frota de superfície inglesa, e acordos posteriores estipularam que a força de submarinos germânicospoderia ser igual à britânica. A Alemanha podia construir, pelos tratados, ci nco navios de linha, dois porta -aviões, vintee um cruzadores e sessenta e quatro destróieres. Na verdade, porém, tudo o que possuíam por ocasião do começo daguerra eram 2 encouraçados, 11 cruzadores e 25 destróieres. Cinqüenta e sete submarinos estavam j á construídosquando a guerra começou.Em 1937, Hitler alterou os planos da expansão alemã, tornando a guerra com a Inglaterra quase uma certeza.Para a Marinha alemã tornou-se preciso uma revisão dos planos estabelecidos noutras hipóteses. Era necessário tempo,e Hitler prometeu que não haveria guerra contra a Inglaterra até 1944 ou 1945. Foi elaborado, então, com base nessahipótese, um plano para aumentar o poderio naval tanto quanto possível. Esse plano, conhecido como Plano Z, foibaseado na capacidade total dos estaleiros alemães e no tipo de guerra a ser engajada. A concepção do AlmiranteRaeder da guerra naval contra a Inglaterra visava evitar grandes ações e concentrar os ataques contra a MarinhaMercante. Submarinos e rápidos e poderosos navios de superfície, operando independentemente ou com porta -aviões,eram encarados como os melhores meios de levar adiante essa linha de ação. O desenvolvimento da Aviação Naval,também cogitado, foi fortemente combatido por Goering.Na primavera de 1939, a anexação da Tcheco-Eslováquia e as ordens preliminares para a invasão da Polôniatornaram claro a Raeder e ao Estado -Maior da Armada que a, guerra com a Inglaterra teria lugar muito antes doprevisto. Raeder mostrou a Hitler a falta de preparo naval da Alemanh a, mas a invasão da Polônia não foi adiada,deflagrando o conflito.No mesmo dia da declaração de guerra foi afundado o primeiro navio mercante inglês, dando início àcampanha que, conhecida como batalha do Atlântico, tornou -se a maior, mais importante e mais monótona batalha daguerra. Em essência, foi ela uma luta entre a Alemanha e os Aliados, visando cada qual estrangular a linha desuprimento do inimigo. Começada no dia da abertura das hostilidades ela durou até dois dias antes do armistício, cincoanos e oito meses mais tarde, mas antes de chegar ao fim, 4.783 navios mercantes com mais de 21 milhões de toneladase 635 submarinos foram afundados.Em linhas gerais, a guerra no Atlântico foi repetição da do Primeiro Conflito Mundial. Em poucos dias, abandeira de comércio germânica desapareceu dos mares exceto no Báltico. A frota de superfície alemã empreendeualgumas investidas sem grandes resultados, a não ser na Campanha da Noruega, onde, à custa de pesadas perdas, atingiuplenamente seu objetivo. Pouco a pouco os navios de superfície alemães deixaram de constituir preocupação séria, e o

submarino cresceu cada vez mais em importância.A orientação seguida pelos dirigentes alemães na guerra naval também foi a repetição da política obedecidapelo Governo do Kaiser na Primeira Guerra Mundial. No começo, durante mais de um ano, confiança ilimitada nosresultados das fulminantes campanhas terrestres. Com o prolongamento da guerra, maior atenção à guerra naval, e, porfim, concentração angustiosa dos recurso s disponíveis no ataque às comunicações aliadas, visando a uma decisão jáimpossível.Nos oito primeiros meses da guerra, a Alemanha, dispondo de menos de sessenta submarinos, não causougrandes danos à navegação aliada. As perdas sofridas foram compensad as pelas novas construções e pelos navios doEixo capturados.Depois da queda da França e com a entrada em serviço de um número crescente de submarinos, a devastaçãodas frotas mercantes atingiu ritmo alarmante. Em maio de 1942 havia, operando nos oceanos , 124 submarinos alemães e69mais 114 estavam em experiência no Báltico. No decorrer de 1942, o pior ano da batalha do Atlântico, foram afundados1.570 navios mercantes com quase oito milhões de toneladas. A Alemanha estava vencendo a batalha, tendo perdido,até agosto de 1942, 105 submarinos, ou seja, uma perda mensal de 4,9% das unidades em operação. Todavia, emfevereiro de 1943, foram afundados 19 U Boats, em março, 15 e em abril, 16. Essas perdas já eram elevadas, mas, emmaio, uma série de ataques aeronavais no golfo de Gasconha afundou 37 submarinos, ou seja, aproximadamente 30%de todos os submarinos no mar.A batalha do Atlântico assumiu aspecto mais animador para os aliados que no decorrer desse ano de 1943perderam menos da metade dos navios afunda dos no ano anterior. A Alemanha procurou elevar a produção desubmarinos de 30 para 40 por mês com sacrifício da produção numa série de setores importantes. O número desubmarinos em operação cresceu sempre, mas as escoltas aliadas eram cada vez mais efici entes. Em dezembro de 1943,a frota submarina consistia em 419 unidades, das quais 161 para operações, 168 em experiência e 90 usadas paratreinamento. Em junho de 1944, havia 181 U Boats em atividade, número que caiu para 140 em dezembro, em virtudede perdas no mar e dos bombardeios aéreos dos estaleiros. Entretanto, a produção de submarinos fez uma recuperaçãoespetacular apesar de todas as dificuldades, e, em fevereiro de 1945, Doenitz informou a Hitler que 237 U Boatsestavam sendo preparados. O total de 450 submarinos em comissão foi o máximo que a Alemanha possuiu, mas essemáximo, coincidiu justamente com um dos mínimos na destruição de navios aliados. Na última ofensiva submarina, emabril de 1945, 57 submarinos foram destruídos, 33 no mar e 24 nos portos, por bombardeio aéreo, ao passo que apenas13 navios mercantes aliados foram afundados.A frota de superfície alemã durante todo o conflito viu o número de seus navios diminuir. Uma a uma asprincipais unidades foram sendo destruídas: primeiro o Gr af Spee, ainda em 1939, depois a campanha da Noruegadesfalcou a esquadra de vários cruzadores e de mais de uma dezena de contratorpedeiros. Em 1941, o Bismarck foiafundado; em 1943 o Schanhorst, em 1944 o von Tirpitz. No final da guerra, os bombardeios a éreos afundaram oudanificaram outros navios mais. As perdas não foram substituídas, em virtude de a Alemanha ter consagrado aos naviosde superfície baixa prioridade no esforço de guerra, depois de 1942. Dessa forma, a construção do navío -aeródromoGraf Zepelin foi suspensa, e depois do fracasso de um ataque de cruzadores germânicos a um comboio inglês escoltadopor contratorpedeiros por ordem de Hitler, não se cogitou mais da construção de navios de superfície de porte alentado.Hitler chegou mesmo, na sua ira, a determinar a retirada dos canhões de grosso calibre dos navios maiores, para utilizá -los como artilharia de campanha.

No final da guerra, os marinheiros dos navios de superfície alemães foram reunidos em divisões especiais emarcharam para lutar nas trincheiras em defesa do solo ameaçado, tal como os franceses haviam feito em 1870, e osrussos em 1854.Ao terminar a guerra, 156 submarinos germânicos renderam -se aos aliados e 221 foram destruídos pelaspróprias guarnições. Os poucos navios da Mari nha de Guerra alemã, encontrados nos portos ocupados, foramdistribuídos pelas nações vencedoras. Da Marinha Mercante também restava pouca coisa.Assim, pela segunda vez, em menos de trinta anos, a Alemanha perdeu a expressão como país marítimo; comodepois da Primeira Guerra Mundial, a vitalidade da economia germânica iria permitir em poucos anos o renascimentoda Marinha Mercante.Na Guerra Fria iniciada em 1949 são criadas a República Federal da Alemanha (RFA, ou AlemanhaOcidental), capitalista, e a República Democrática Alemã (RDA, ou Alemanha Oriental), socialista. No governo doprimeiro-ministro Konrad Adenauer (de 1949 a 1963), da União Democrata -Cristã (CDU), a RFA vive uma fase deprosperidade, estimulada pelo Plano Marshall, projeto de reconstru ção da Europa capitalista, comandado pelos EUA.As duas repúblicas alemãs tornam-se o centro do conflito entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. Em 1948,os soviéticos ordenam o bloqueio de Berlim, que é rompido por uma gigantesca ponte aérea dos EUA. Em 1 955, aAlemanha Ocidental ingressa na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar ocidental. AAlemanha Oriental reage e adere, no mesmo ano, ao Pacto de Varsóvia, bloco militar liderado pela URSS. Em 1961,autoridades orientais constroem o Muro de Berlim, com a finalidade de deter o fluxo de refugiados para o Ocidente. Aaproximação entre as duas Alemanhas inicia -se no fim dos anos 1960. Em 1973, RDA e RFA entram na Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) como dois Estados soberanos.A queda do Muro de Berlim: o dirigente alemão oriental Erich Honecker, no poder desde 1971, resiste àliberalização no bloco comunista, deflagrada em meados da década de 1980, pela URSS. Em 1989, milhares de alemãesorientais fogem para a Alemanha Ocidental pela Hungria e pela Áustria. Em outubro, manifestações pró -democracialevam à substituição do linha-dura Honecker por Egon Krenz. No mês seguinte, sob pressão, Krenz ordena a aberturado Muro de Berlim, que logo é derrubado pela população. O episódio dá i nício ao processo de reunificação.Na primeira eleição livre da RDA, em 1990, vence a Aliança pela Alemanha, pró -unificação. Impulsionadapelo chanceler da RFA, Helmut Kohl (da CDU), realiza -se a união monetária (julho) e política (outubro). O novoParlamento confirma Kohl no cargo de chanceler.Alemanha reunificada: o país paga um preço alto pela reunificação, com aumento do desemprego. Num climasocial tenso, imigrantes sofrem atentados de grupos neonazistas. O governo impõe, em 1996, um programa deausteridade, com corte de benefícios previdenciários. A vitória do Partido Social -Democrata (SPD) nas eleições de 1998representa a maior derrota eleitoral da CDU no pós -guerra. Como não obtém maioria parlamentar, o SPD coliga -se como Partido Verde e elege chanceler o líder social-democrata Gerhard Schröder. Um dos compromissos da coalizão éfechar as usinas nucleares alemãs até 2021.Fatos Recentes Como conseqüência dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, o Parlamento alemãoaprova em novembro a participação do país na intervenção militar no Afeganistão. As investigações revelam que os70atentados foram planejados na Alemanha, na chamada célula de Hamburgo. Em dezembro, o Parlamento aprova umpacote de medidas antiterrorismo. Suspeitos são presos, gru pos radicais islâmicos banidos e dezenas de milhões deeuros são confiscados de contas suspeitas de financiar o terror.Imigração: nas últimas décadas, a Alemanha atrai milhares de imigrantes, o que alimenta um crescentesentimento xenófobo. Ao mesmo temp o, a estagnação demográfica – marcada por baixas taxas de natalidade e oenvelhecimento da população – torna o país dependente de mão-de-obra estrangeira. Depois de intensos debates, emmarço de 2002 o Parlamento aprova uma lei de imigração que favorece a entrada no país de estrangeiros altamentequalificados e impõe ações mais rigorosas contra a imigração ilegal. O projeto é criticado pela oposição, que teme oaumento da xenofobia. Oficialmente, mais de 7 milhões de estrangeiros, na maioria turcos, vivem e m solo alemão, mas

estima-se que haja mais 1,5 milhão de ilegais. Os atentados de extremistas de direita contra imigrantes aumentam a cadaano.A vitalidade do povo alemão novamente demonstrou ao mundo sua capacidade de superação e a economiaalemã é uma das mais fortes na atualidade.Japão:Até a restauração Meiji (1868), o Japão era quase unicamente um país agrícola. A terra japonesa é, entretanto,muito estéril, havendo pouco espaço para o desenvolvimento progressivo das lavouras, pois a natureza mont anhosa dasilhas e as rígidas temperaturas na grande ilha nórdica de Yeso impedem a expansão agrícola. Assim sendo, as terrasdisponíveis no Japão nas quais se pode colher com aproveitamento oscilam apenas entre 15 a 20%. Em grande parte, asterras aproveitáveis destinam-se às culturas do arroz e da cevada que, com a pesca abundante nos mares circunvizinhos,constituem a base da alimentação japonesa.A restauração Meiji marcou uma mudança de época, transformando completamente o Japão numa modernanação industrial. A restauração teve lugar cerca de um século após a revolução industrial inglesa. A visita dos naviosnegros conduzidos pelo Comodoro Perry à Uraga levantou a nação japonesa do estado sonolento que havia durado maisde dois séculos devido à reclusã o do mundo exterior. A abolição dos clãs governamentais e a completa mudança detodas as instituições políticas, sociais e econômicas introduziram o Japão no período de industrialização capitalista.Durante dez anos, porém, a agitação interna provocada pel o novo estado de coisas impediu o progresso do país.Com o término da Rebelião Saigo em 1877, várias indústrias surgiram em rápida sucessão, e pouco a pouco ocomércio exterior se desenvolveu.A navegação japonesa era então quase inteiramente costeira, e o comércio exterior era feito em porõesestrangeiros. Entretanto, com o correr dos anos o desenvolvimento do intercâmbio comercial com as outras naçõesconduziu à fundação de várias companhias de navegação, todas elas amparadas pelo Governo.Querendo ampliar cada vez mais o campo das atividades nacionais, o Japão adotou uma política de linhasimperialistas, cuja finalidade principal era a conquista de novos mercados consumidores e fontes de matérias -primas.Em conseqüência, o Governo japonês procurou desd e cedo criar uma Marinha de Guerra capaz de atender à sua políticaexterior.A primeira manifestação concreta do imperialismo japonês foi a inesperada agressão à China em 1894. Arecém-criada Marinha logo alcançou o domínio absoluto do mar Amarelo, com a vitória de Yalu, abrindo caminho àsforças terrestres que não tiveram grande dificuldade em derrotar o Exército chinês. O efeito dessa guerra vitoriosa nosnegócios foi extraordinário. A guerra não só chamou a atenção do mundo para o Japão, como estimulou seu comércioexterior. Além do mais, o Japão recebeu uma indenização da China de 400 milhões de taels para não mencionar aaquisição de Formosa e a hegemonia na Coréia. Acima de tudo, a guerra deu confiança ao país na própria força ecapacidade. Não é, pois, de estranhar que o comércio e os meios industriais, inativos por muitos anos, de súbitoentrassem em período de grande animação e desenvolvimento. A vitalidade da nação, adormecida nos anos dedepressões, surgiu com energia durante a guerra e depois de seu término transladou-se para o comércio e para osempreendimentos industriais. O comércio exterior recebeu impulso considerável, e o seu desenvolvimento continuounos anos seguintes. A lei de apoio à navegação, promulgada em 1896, acelerou o crescimento da navegação ultramarinapelas Companhias Japonesas. Até 1887, cerca de 87% das exportações japonesas e 88% das importações eram feitas emnavios estrangeiros. Em 1901, as exportações em navios mercantes estrangeiros eram de apenas 48%. A partir dessaépoca, a posição da navegação na economia nacional do Japão tornou -se muito importante, ocupando lugar de destaque,na balança internacional de pagamentos do país.Com interesses no ultramar acrescidos e não pretendendo abandonar as linhas -mestras de sua políticaimperialista, o Japão não se deteve, após a guerra contra a China, na ampliação de sua frota de guerra. Em 1895, foiestabelecido e aprovado pelo Parlamento um programa naval com uma despesa global de 95 milhões de iens para a

construção de navios e o equipamento dos portos. No ano seguinte, desde que se soube da intenção da Rússia deconcentrar uma frota poderosa no oceano Pacífico, um programa suplementar foi estabelecido o qual subia a 118milhões de iens. O parlamento sancionou sem explicações esse esforço que impunha um fardo extremamente pesado atodo o povo japonês. A maior parte dos navios foi encomendada no estrangeiro, principalmente na Inglaterra, pois oestado da indústria de construção naval no Japão, que apenas nascia, não permitia contar com a execução rápida eperfeita demanda.Percebendo que os interesses antagônicos russo -japoneses só tenderiam a aumentar com o tempo, o Governojaponês, assim que se sentiu forte no mar e em terra, determinou o ataque, sem declaração de guerra, à esquad ra tzaristafundeada em Porto Arthur.71Os japoneses assumiram vigorosamente a ofensiva em terra e no mar, desde o início das hostilidades, nãodando oportunidade aos russos para se recobrarem dos golpes iniciais ou concentrarem recursos. Bem treinados e be mcomandados, os nipônicos pouco a pouco cercaram de perto a Base Naval de Porto Arthur, por terra e mar. As diversastentativas russas para romper o cerco fracassaram. Depois de uma prolongada resistência, a praça se rendeu em janeirode 1905. Já então a esquadra russa no Pacífico praticamente deixara de existir. Os combates e as minas tinham destruídoum grande número de navios. As unidades restantes foram sabotadas em Porto Arthur quando a queda da Base setornou certa.Num esforço supremo, a Rússia reu niu os navios das esquadras do mar Báltico e do mar Negro e os enviou,sob o comando do Almirante Rodjestvensky, para o Extremo Oriente. Essa força naval, heterogênea e desorganizada,empreendeu uma longa e exaustiva viagem do norte da Europa aos mares do Japão, contornando o sul da África. Aesquadra russa sofreu esmagadora derrota no estreito de Tsuchima, onde o Almirante Togo a interceptou com seusnavios mais rápidos, melhor comandados. Apenas três navios russos conseguiram escapar à destruição e ao cat iveiro eatingir Vladivostok. Com essa vitória naval, o Japão se colocou entre as grandes potências mundiais.A vitória deu nova vida aos negócios, e em 1906 o povo tomou -se de febre por novos empreendimentos. Ocomércio de exportação mostrou um increment o notável. As indústrias expandiram-se em ritmo mais acelerado ainda.Em 1892, o número de operários nas fábricas era de aproximadamente 300 mil. Em 1897, já eram 440 mil e, em 1911,setecentos e noventa mil. De todas as indústrias as que mais se desenvolv eram foram a de construções navais e asrelacionadas com as atividades marítimas para fins pacíficos ou não. Desde a guerra russo -japonesa, quando constituírae armara a maior parte de sua esquadra em estaleiros estrangeiros, o Japão procurou desenvolver a s própriasconstruções navais de maneira a não depender de ninguém no futuro.Esse objetivo foi alcançado completamente, e em breve o Japão conseguiu não somente utilizar os própriosaços, pólvoras, carvão e víveres, mas também as próprias produções técni cas para o Exército e para a Marinha. Daí pordiante o progresso não cessou, e já na Primeira Grande Guerra a maioria dos navios japoneses era de construçãonacional. Osaka, Kioto, Yokoama, Nagasaki, Kobe, Wakudate transformaram -se em centros marítimos e industriais deimportância mundial. A capacidade anual dos estaleiros japoneses já então ultrapassava 600 mil toneladas, facilitando orápido desenvolvimento da Marinha Mercante que de 528 navios com 330 mil toneladas em 1895 alcançou 1.390unidades em 1905 com 930 mil toneladas, para atingir em 1929 mais de quatro bilhões de toneladas.Da segunda década do século XX até a Segunda Guerra Mundial, o Japão teve a terceira Marinha Mercante domundo, só sendo ultrapassada pela Inglaterra e pelos Estados Unidos. De todos os empreendimentos levados a cabo nopaís desde a restauração Meiji, nenhum tivera maior sucesso, embora o progresso noutros setores também fosse notável,bastando notar que o número-índice de produção geral do Japão foi 475 em 1931, tomando como base 100, em 1905, aotérmino da guerra russo-japonesa com o número de fábricas aumentando de 32.390, em 1909, para 67.318 em 1932.

Outro setor de atividade onde o povo japonês se distinguiu foi na pesca marítima. A linha da costa nipônica éirregular e daí ser longa em comparação com a área das ilhas. As ilhas também são cercadas em alguns lugares porcorrentes marítimas quentes e noutros por correntes frias o que favorece, sobremodo, o aparecimento de espéciesdiversas. A posição natural e as proximidad es dos centros de consumo fizeram, naturalmente, a pesca se desenvolverdesde a Antiguidade. Antes, porém, de se ocidentalizar, a pesca no Japão era, sobretudo, costeira, enquanto maisrecentemente a esfera de atividade de pesca dos japoneses é muito grand e, ocupando um terço das áreas de pesca domundo. Ela cobre o estreito de Behring, a Austrália, a Nova Zelândia e o oceano índico.Premido pela pobreza do solo e pelo aumento da população a buscar no mar os recursos indispensáveis à vida,nenhum povo retira das águas tantas riquezas quanto o japonês. A pesca fornece mais de cinco milhões de toneladas depeixe, anualmente. A pesca em águas russas foi um importante direito concedido ao Japão pelo Tratado de Portmouth,que pôs fim à guerra de 1904/05, o que r evela a preocupação constante do Governo nesse particular. Ainda é do marque os japoneses retiram algas utilizadas na alimentação do povo e uma série de outras riquezas para a exportação,Outrossim, a participação de produtos marítimos na exportação japon esa é realmente notável, oscilando em torno de10% do total.Por conseguinte, tanto para a subsistência do povo como para manter sua atividade econômica, o Japãodependia do mar e de fontes de matéria -prima externas. A gigantesca industrialização do país e o aumento da populaçãotornaram cada vez maior a dependência do exterior. Em relação a carvão, cobre, depósito de ferro sulfuroso, enxofre, oJapão era auto-suficiente, mas os depósitos eram inadequados. Por essa razão, o Japão procurou ansiosamente font espermanentes de suprimento. A China, a Rússia, as índias Orientais Holandesas e os Estados Unidos forneciam ao Japãoa maior parte das matérias-primas que faltavam, mas todas essas nações ou eram possíveis inimigas, ou controladas porpotências rivais.Prosseguindo na sua política imperialista, o Japão invadiu a Manchúria em 1931 de onde passou a extrair ferroe carvão. Em 1937 atacou a China, ocupando as regiões mais ricas daquele pais. Em 1940, depois da queda da França,ocupou a Indochina e, por fim, aproveitando as dificuldades das potências anglo -saxônias na Europa, lançou as vistaspara as Índias Orientais Holandesas, ricas em petróleo, borracha e muitas outras matérias -primas. A Holanda, aInglaterra e os Estados Unidos evidentemente não estavam in clinados a cederem as ricas áreas da Indonésia, e o Japãodecidiu pela guerra.Os japoneses tinham, no começo, a intenção de fazer uma guerra relâmpago. O plano fundamental consistia emavançar rapidamente para o sul, a fim de se apoderarem das regiões on de se encontravam os recursos cuja importânciaestratégica era vital. Eles contavam estabelecer, em seguida, um perímetro em defesa, a leste e a oeste, ao abrigo doqual esses recursos poderiam ser explorados. Esperavam organizar assim uma defesa escalonad a em profundidade, cuja72ruptura se poderia mostrar tão difícil que os Estados Unidos seriam susceptíveis de cessar a guerra e procurar uma pazde compromisso.A condição fundamental para o sucesso desse plano era a realização de uma batalha decisiva com a esquadraamericana no início das hostilidades, a fim de destruí -la antes que o imenso poderio industrial da América se fizessesentir no teatro de guerra. Para levar a cabo o plano, o Japão dispunha da terceira Marinha de Guerra do mundo a qual,entre as duas guerras, fora notavelmente desenvolvida com pesados sacrifícios para o povo.A primeira parte do plano foi executada ultrapassando as previsões mais otimistas. As Filipinas, as ÍndiasOrientais Holandesas e a Malásia, com a Base Naval de Singapura, c aíram antes das datas previstas. A Marinha

japonesa expulsou ou destruiu em sanguinolentos encontros as forcas navais holandesas, americanas e inglesas. Asegunda parte do plano foi cumprida apenas em parte. A Marinha americana sofrera um rude golpe em Pea rl Harbour,mas impunha-se um outro encontro para reduzi -la à impotência. A batalha do mar de Coral não trouxe, também, adecisão almejada. Essa esperança desvaneceu -se em junho de 1942, em Midway, em conseqüência de uma operaçãoimaginada pelo Almirante Yamamoto para criar a ocasião almejada para a batalha. No decorrer da operação, osjaponeses perderam quatro de seus melhores navios -aeródromo e com eles a melhor oportunidade que tiveram deconseguir a batalha final.O que Midway começara foi terminado pe la Campanha das ilhas Salomão que, de agosto de 1942 até fins de1943, causou desgaste considerável à Marinha japonesa. Tolhida pelo número de seus navios e tendo falta de pilotostreinados, a força de navios aeródromos japoneses se encontrou reduzida à im potência. A idéia de apoiar a defesa doperímetro, pela Marinha, foi abandonada no fim de 1943, e quando os americanos desembarcaram nas Marshall, aesquadra deixou Truk pelas Carolinas Ocidentais, abandonando à sua sorte as guarnições avançadas. Cada vez maisinferiorizado face à Marinha americana em meios de superfície e aéreos, o Japão perdeu a iniciativa no Pacífico.Além da perda de poderio ofensivo de sua esquadra, dois outros graves problemas pesavam na estratégiamarítima japonesa. Em primeiro luga r, era preciso proteger seu tráfego marítimo, sangue do Império. Fato estranho: osjaponeses negligenciaram completamente a ameaça submarina a despeito dos sucessos alcançados pela Alemanha nodecorrer das duas guerras mundiais, erro tanto mais grave em vi rtude de o Japão não poder construir navios senão emnúmero limitado. As conseqüências dessa falta capital foram agravadas pelas perdas em contratorpedeiros e outrosnavios de escolta no decorrer da longa campanha das Salornão, o que colocou o Comando Nava l na impossibilidade deproteger eficazmente a Marinha Mercante. O acréscimo súbito da destruição ocasionada pelos submarinos, no fim de1943, prometia levar ao desastre uma nação cuja capacidade de continuar a guerra repousava unicamente nointercâmbio marítimo.Enfim, os japoneses foram terrivelmente prejudicados pela falta de combustível, falta essa que aumentouconsideravelmente suas dificuldades militares. Eles tinham entrado na guerra com uma tonelagem de petroleiroscompletamente insuficiente, e os sucessos logrados pelos submarinos americanos agravaram rapidamente a situação. Seo Japão pôde conquistar no primeiro arranco as regiões mais ricas em petróleo do mundo, não resolveu jamais oproblema dos transportes e dos suprimentos de combustível líqui do, elemento essencial à guerra moderna. Os estoquesdisponíveis não cessaram de diminuir até o fim do conflito.Entretanto, a despeito de todas as dificuldades, a ameaça criada pela invasão de Saipan obrigou o Japão aarriscar a esquadra. A aviação dos n avios-aeródromo estava mais ou menos reconstituída e treinada. Reinava um grandeotimismo a respeito do resultado que ela poderia obter. Na batalha do mar das Filipinas, a 19 e 20 de junho de 1944, osjaponeses tiveram a registrar, entretanto, a perda de t rês navios-aeródromo (dos quais dois foram afundados porsubmarinos que furaram a barreira insuficiente dos contratorpedeiros), mais outro navio -aeródromo foi avariado, e aaviação embarcada foi quase totalmente destruída.Pelo meio do verão de 1944, o Ja pão se encontrava em grande perigo. Enfraquecido intensamente pelas perdasexperimentadas em certas categorias de armas, cambaleando sob os golpes sucessivos e incessantes dos americanos, osjaponeses não tinham realizado o desejo de travar uma batalha nav al decisiva. A destruição de navios de comérciorealizada pelos submarinos e pelos aviões dos navios -aeródromo paralisava cada vez mais eficazmente a economia deguerra, e os laços que ligavam a metrópole às regiões do sul, onde encontravam os recursos ind ispensáveis, afrouxavamdia a dia.Em outubro de 1944, ante o desembarque americano nas Filipinas, que ameaçava cortar definitivamente as

comunicações marítimas da metrópole com as fontes de matéria -prima do sul, o Japão lançou todos os navios e aviõesremanescentes de sua Marinha em busca de uma batalha decisiva. De 21 a 26 de outubro, feriu -se a grande batalha deLeyte que praticamente pôs fim à Marinha do Mikado como força combativa. Em cinco dias o Japão perdeu quatronavios-aeródromo, três encouraçados, seis cruzadores pesados, quatro cruzadores ligeiros e onze contratorpedeiros.Muitos outros navios foram gravemente avariados. A derrota causou uma confusão e uma desorganização que tornaramos navios remanescentes presas fáceis para as aeronaves dos po rta-aviões americanos, para os submarinos e naviosligeiros. No fim de janeiro novas perdas haviam custado ao Japão um encouraçado, dois grandes navios -aeródromo, umnavio-aeródromo de escolta, três cruzadores e vinte e um contratorpedeiros.Ao todo, no decorrer da guerra, a Marinha Imperial japonesa perdeu 328 navios dos 489 que estiveram emserviço. Quanto à Marinha Mercante, perdeu 4.780.000 toneladas de navios, a maior parte dos quais, 63%, afundadospelos submarinos americanos. Restava apenas pouco ma is de 1 milhão de toneladas de navios mercantes, em agosto de1945. Os vinte e dois estaleiros existentes no Japão não conseguiram construir mais do que um milhão de toneladas porano, o que não bastou para compensar as perdas.No final da guerra, o Japão tinha seus exércitos praticamente intactos e ainda uma grande Força Aérea, mas aMarinha de Guerra, a Frota Mercante e as áreas industriais estavam devastadas. Sem Marinha para proteger as linhas de73suprimentos, sem navios para carregar as matérias -primas e sem fábricas para efetivar a transformação desse materialem equipamento, a nação japonesa era incapaz de continuar a luta. Seria erro supor que a sorte do Japão foi determinadapela bomba atômica. Sua derrota era coisa certa antes mesmo que tivesse caí do a primeira bomba e foi provocada peloesmagador poderio naval. Somente isso é que tornou possível o domínio das bases oceânicas de onde se desfecharia oataque final e forçaria o exército metropolitano a capitular sem tardança.No pós-guerra, o Japão, desmembrado de suas antigas possessões em Formosa, na Manchúria, na China, naCoréia e nas ilhas do Pacífico, atirou -se mais uma vez para o mar em busca do amparo econômico.Em Agosto de 1945, quando o imperador anuncia ao povo japonês a capitulação, um q uarto das cidadesencontravam-se destruídas pelos bombardeamentos e a frota mercantil, que era a terceira no mundo, tinha sidoafundada.Em 1948 a produção agrícola tinha diminuído 60%, o consumo 55% e a produção industrial 65%,relativamente aos valores que detinham no período anterior à guerra. A inflação tornou -se praticamente incontrolável eo mercado negro expandiu-se. Apesar de ter perdido 2 milhões de soldados e 700 mil civis durante a 2ª Guerra Mundial,o Japão teve de suportar a pressão demográfi ca originada pelo acolhimento de 6,2 milhões de japoneses repatriados daManchúria, da Coréia e da Formosa, e pelo "baby -boom" provocado pelo regresso dos soldados a casa.A miséria e o desemprego aumentavam, enquanto o iene, a moeda nacional, deixou de s er cotada no mercadomundial. A par desta situação econômica e social catastrófica, o Japão vai ter de pagar indenizações de guerra,encontrando-se à mercê dos vencedores.Ocupado pelos EUA que lhe impõe a sua Constituição, o Japão esqueceu o seu passado militarista e concentraseexclusivamente na sua reconstrução. Os EUA vão proteger militarmente o Japão e prestar -lhe auxílio econômico. Aajuda americana tem como objetivo promover a recuperação da economia nipônica e simultaneamente garantir umaliado na região, num período em que se verificava a expansão soviética ao Sudeste Asiático e ao Extremo -Oriente.A reconstrução do Japão vai ser, sobretudo, conduzida pelo Comando Supremo das Forças Aliadas (SCAP).São-lhe atribuídas várias tarefas:Desarmamento - Renunciando o Japão a usar a guerra como meio de regular conflitos.A democratização da sociedade japonesa - Através da atribuição de uma relativa autonomia ao poder local,da aplicação de uma legislação sindical menos rígida, de um ensino mais democrá tico, etc.

A reforma agrária - Baseada na redistribuição pelos camponeses (42% da população ativa no final da guerra)de terras confiscadas aos proprietários pouco produtivos - a alteração da estrutura fundiária conduziu àmodernização da agricultura no Ar quipélago.A eliminação do poder de alguns Zaibatsu - Em nome da "livre concorrência", em particular daqueles quetiveram um papel importante durante o conflito mundial, contribuindo para alimentar a máquina de guerrajaponesa.Os Zaibatsu são grupos econômico-financeiros, pertencentes a famílias e regidos pela tradição, que tem vindo adesenvolver-se desde a época Meiji (1868-1912). Inicialmente, apoiaram-se na existência de uma mão-de-obra barata eabundante, passando depois a dominar a indústria pesada, a navegação comercial e o comércio externo.Em quatro décadas (1950-1990), o Japão conheceu um processo de desenvolvimento econômico e socialconsistente, transformando-se na segunda maior potência econômica do mundo. Durante a década de 50, o PNBaumentou 150% em termos constantes.Entre 1958 e 1961 foram criados 3 milhões de novos empregos, enquanto que o subemprego e o desempregodeixaram de ser significativos. A estrutura da população ativa e do PIB alterou -se, acentuando-se o peso dasatividades associadas aos setores secundário e terciário.Os japoneses tiveram de responder com eficácia, uma vez que necessitavam de multiplicar as suas exportaçõespara pagar as crescentes importações de bens energéticos, de produtos alimentares e de ma térias-primas.A estrutura das importações era dominada pelos hidrocarbonetos, o carvão e o ferro, em vez do algodão, e asexportações passaram a ser constituídas por aço, navios e máquinas, em substituição dos tecidos de algodão e de outrosbens de menor qualidade. Os mercados abastecedores e de destino também sofreram alterações. Embora o comércioexterno Japonês continue a se concentrar na região da Ásia, os EUA passaram a ser o principal país cliente efornecedor.A afirmação do poderio econômico, c omercial e financeiro do Japão só foi possível pela conjugação de fatoresque atuaram simultaneamente:O papel do Estado;Uma base industrial sólida e variada, orientada para os sectores de ponta; eAs características dos recursos humanos.O papel desempenhado pelo Estado em matéria econômica foi bastante importante. Canalizando os recursosfinanceiros para as empresas e efetuando vultosos investimentos nas telecomunicações, nos caminhos -de-ferro e naengenharia rural, o governo fomentou uma política de ob ras públicas que chegou a representar 20% do PNB. Destemodo, criou emprego e estimulou a procura interna ao construir importantes infra -estruturas – como as planíciesroubadas ao mar ou os túneis ferroviários.Simultaneamente, o Estado Japonês desenvol veu uma planificação indicativa, incentivou a inovação, limitouos fatores de riscos de certas atividades consideradas importantes apoiando as reestruturações industriais, controlando ovolume das importações e protegendo as empresas nipônicas da concorrên cia.74Para além do importante papel do Estado, o outro fator que fez com que o Japão saísse da crise, foi os recursoshumanos.O povo japonês foi muito importante para o desenvolvimento do país, a sua qualidade baseia -se num sistemaescolar muito competitivo - Desde o nível de escolaridade mais elementar, que exige um grande esforço por parte dosestudantes, mas que garante um elevado grau de qualificação e permite o acesso a empregos garantidos nas grandesempresas a todos os lugares da hierarquia. Num n ível de formação elevado - Que permite que todos os trabalhadorespossam estar permanentemente capacitados para exercer com competência a sua atividade.A qualidade de mão-de-obra permite implementar nas empresas processos de produção com níveis deexigência muito elevados, como os círculos de qualidade, e generalizar a produção "sem defeitos". A adoção rápida dainovação e a capacidade de invenção, que são geralmente reconhecidas como importantes atributos para o sucesso doJapão, devem-se em grande parte à qualidade da mão-de-obra.Na pesca e sobretudo na construção naval voltaram os japoneses a se destacar no cenário mundial. Não é decrer, entretanto, que a China ou a URSS permitam o ressurgimento do Poder Marítimo japonês na sua antiga plenitude.Estados Unidos:

A América colonial era basicamente um país de fazendeiros. Havia também criadores, alguns artífices,mercadores e funcionários, mas seu número não representava senão uma pequena minoria em face da massaconsiderável de fazendeiros. Na Nova I nglaterra, contudo, o solo não era fértil. Um fazendeiro podia, por seu trabalho,ganhar o sustento e talvez economizar um pouco, mas não lhe era possível prosperar e acumular reservas, Por outrolado, o avanço para o interior era dificultado por formidáve is barreiras geográficas. Esta razão e o litoral com seusmagníficos portos e angras e a vizinhança de farta pesca prenderam a população à costa. Assim, nessa parte da Américaos colonos orientaram-se, desde o início, para o mar, tornando -se pescadores, marinheiros, construtores de navios emercadores, contrastando com a população agrícola das outras regiões da Colônia. Portanto, desde cedo a NovaInglaterra converteu-se numa comunidade anfíbia cuja capital era Boston, uma cidade comercial junto ao oceano. Asflorestas que vinham até a beira -mar facilitavam a construção naval. O oceano era fonte de alimentos para os colonos, ealgumas espécies de peixe seco mais abundante eram vendidas na Europa, fornecendo a base de um prospero comercioexterno. Com o tempo, outros produtos da colônia, tais como peles, fumo, cereais e carne defumada, foram acrescidos àexportação, transformando o comércio com o além-mar no fator principal da vida econômica da região. A maior partedas exportações destinava-se às Índias Ocidentais, à Inglaterra e à Espanha. As colônias, em troca, recebiam melaço enumerosos produtos manufaturados que não fabricavam.As transações comerciais, entre as próprias colônias também dependiam das vias líquidas, pois as longasdistâncias e as florestas tornavam sumamente difíceis as comunicações terrestres, enquanto o mar, juntamente com suasnumerosas baías e rios navegáveis, oferecia um meio rápido e mais fácil de transporte interno.Por mais de duzentos anos, as vias aquáticas naturais constituíram as únicas vias dignas de menção naAmérica, não somente para o transporte de mercadorias, mas também para os viajantes de longas jornadas.A necessidade do transporte interno e o crescimento do comércio externo favoreceram a aparição de umapróspera indústria de construções navais à qual as magníficas florestas forneciam excelentes madeiras. Depois de 1676mais de setecentos navios foram construídos somente no Massachusetts. Em 1775, dos 7.694 navios empregados nocomércio da Grã-Bretanha, 2.342 eram de construção americana. Cerca de 1.769, o volume do comércio colonial noalém-mar beirava um milhão de toneladas com o valor aproximado de 5.500.00b libras. O comércio externo tornara -se averdadeira razão de ser da Nova Inglaterra. Era um assunto de primordi al importância do Hudson ao Chesapeake. Maispara o sul, o povo dedicava -se principalmente à agricultura de produtos exportáveis, mas também lá a economiadependia de forma vital do transporte no oceano. Por essa época, os navios da colônia, carregando pro dutos coloniais eguarnecidos por marinheiros americanos, freqüentavam os principais portos da Europa e das Índias Ocidentais, entãouma importante região comercial. Cerca de mil navios da colônia trafegavam nos Domínios Britânicos. Além disso, umnúmero substancial era encontrado em toda parte. Mais de trezentos navios eram empregados na pesca da baleia emuitos mais, menores, dedicavam-se à pesca do bacalhau. Tão íntima era a conexão entre o comércio marítimo e aprosperidade das Colônias que elas se apre stavam a lutar mesmo contra a Mãe -Pátria quando esta interferiu fortementeno intercâmbio marítimo.Ao longo de todo o período colonial, a partir do século XVII, a grande causa de irritação dos colonos contra ametrópole eram as Leis de Navegação. O famos o “Ato de Navegação" posto em vigor por Cromwell, em 1660,interditou às colônias inglesas a importação e exportação de toda mercadoria, a não ser em navios ingleses ou coloniais.Proibiu, além disso, que certos artigos, tais como o fumo, açúcar, algodão, lã, madeiras comuns, madeiras de tinturaetc., fossem encaminhados para outros países que não a Inglaterra ou domínios seus. A essa lista juntaram -se mais tardeoutros artigos. Havia ainda outras leis do mesmo gênero: as leis sobre os cereais e as leis con tra as manufaturas; as

primeiras, feitas para favorecer o fazendeiro inglês, entraram em vigor cerca de 1666. Elas interditavam, praticamente, omercado inglês aos cereais cultivados nas colônias. Esse procedimento levou Nova Inglaterra e Nova York a fabri caremobjetos manufaturados, ao que a Inglaterra respondeu, interditando a produção industrial nas colônias. A lei inglesamais dura nessa campanha de supressão do comércio colonial foi provavelmente a sobre o açúcar, em 1733. O Governobritânico procedia dessa forma baseado no princípio, então admitido por todas as nações européias, de que as colôniasexistiam para enriquecer a Mãe -Pátria. Esse princípio levava a subordinação dos interesses coloniais aos interesses dametrópole. O fim da Grã-Bretanha era exportar para a América produtos manufaturados e ao mesmo tempo importar75matérias-primas, fazendo inclinar a balança comercial a seu favor. Em 1759, o total de exportações da Nova Inglaterrapara a Grã-Bretanha elevou-se a 38.000 libras e as importações a 6 00.000 libras.Num ponto a política inglesa estimulou grandemente a indústria americana: a construção de navios da NovaInglaterra em virtude das Leis de Navegação colocaram os navios construídos nas colônias no mesmo pé dos navios deorigem inglesa.Essas leis exclusivistas motivaram a insatisfação dos colonos com o domínio da metrópole, e bem cedo,sobretudo depois da Guerra dos Sete Anos, outras causas vieram aumentar o mal estar. A irritação foi crescendo com ocorrer dos anos, e por fim, eclodiu a re belião aberta. Com a guerra surgiu a necessidade de ser criada uma força naval,mas os colonos preferiram, na luta no mar, dedicar -se sobretudo à rendosa guerra de corso. Numerosos naviosparticulares foram empregados como corsários e destruíram um número muito grande de navios mercantes ingleses.Quase todos os Estados enviaram corsários contra o inimigo. Massachusetts forneceu mais de quinhentos, a Pensilvâniaquase o mesmo número.Em 1775, o Congresso ordenou a construção de uma frota nacional, e um ano depois treze navios estavamterminados. Alguns desses navios não chegaram a se fazer ao mar; quase todos os outros foram capturados ouqueimados antes do fim da guerra, não, todavia, sem terem prestado antes grandes serviços ao país.Concluída a aliança com a França, a poderosa frota desse país foi empregada no serviço da causa patriota.Juntou-se a ela, posteriormente, a Frota espanhola com a declaração de guerra da Espanha à Inglaterra em 1779. AInglaterra iria contar, ainda, com um outro inimigo. Pelo fim de 1780, arrebentou a guerra com a Holanda, e, desdeentão, foi necessário à Grã-Bretanha lutar contra três grandes potências européias além da América.Nos mares, coube à Marinha francesa o papel preponderante. Com a Royal Navy dispersa por todo o m undo,lutando contra três grandes potências navais, a Inglaterra perdeu para a França o controle dos mares junto às colôniasrevoltadas, e suas forças de terra, desamparadas da metrópole, foram obrigadas à rendição, face ao Exército franco -americano.A Grã-Bretanha vencida assinou a paz em 1783. Também nesse Tratado percebe -se a importância que osdirigentes britânicos sempre deram aos assuntos marítimos. O Mississipi ficava aberto aos navios americanos e ingleses.Os americanos continuavam com direitos de pesca nas costas da Terra Nova e do golfo de São Lourenço.Foi assim que no decorrer da Guerra da Independência surgiu a Marinha americana, mas a massa heterogêneaque a constituía (corsários particulares, navios pertencentes às colônias e navios armados pelo Congresso) dissolveu-seno caos que se seguiu à guerra. Em 1785, ano da venda do último navio, os Estados Unidos não possuíam um só naviode guerra. Entretanto, muito pouco tempo depois do fim da Guerra da Independência, a necessidade de uma marinhafez-se sentir em virtude da captura de navios mercantes americanos pelos corsários do Bei de Alger. Em 1793, oscorsários argelinos espalhavam-se no Atlântico e em um mês capturaram onze navios americanos. Essa situaçãovergonhosa levou enfim o Congresso a tomar medidas, e no ano seguinte foi iniciada a construção de várias fragatas. Os

navios recém-construídos não tiveram, porém, o batismo de fogo em luta contra os piratas do Norte da África e sim naguerra contra os corsários franceses das Antilhas. As op erações navais contra a França duraram ao todo cerca de doisanos e meio. A guerra nunca foi formalmente declarada, desenrolando -se apenas nas Antilhas e foi muito proveitosa àjovem Marinha americana. O grande acréscimo das exportações, devido à proteção dada pelos cruzeiros de naviosamericanos e os brilhantes sucessos obtidos nos combates navais deram à Marinha uma popularidade necessárianaqueles dias em que a manutenção de um navio de guerra parecia a muitos ameaça de monarquismo.Mal terminadas as lutas contra os corsários franceses, a Marinha americana levou a cabo uma série deoperações navais no Mediterrâneo contra o Bei de Trípoli. A guerra contra os norte africanos serviu para proporcionaruma certa expansão à Marinha. A duração relativamente lon ga da luta (1801-05) nesse teatro afastado de operações,aprimorou o valor combativo das guarnições. Estas vantagens seriam apreciadas devidamente cerca de dez anos depoisna guerra contra a Inglaterra.Apesar do contratempo representado pelas operações n as Antilhas e no Mediterrâneo, o comércio marítimoamericano expandia-se rapidamente. As guerras napoleônicas absorveram de tal forma as populações da Europa queuma parte sempre crescente do comércio marítimo coube à América. Durante vinte anos os lucros desse comércio foramenormes, e a navegação mercante progrediu a passos de gigante. Em 1790 o valor total das exportações dos EstadosUnidos elevara-se a 19 milhões de dólares; cinco anos mais tarde, 26 milhões de dólares de mercadorias procedentessomente das possessões francesas, holandesas e espanholas foram importadas para serem em seguida reexportadas. Em1806, o valor das reexportações elevou -se a 60 milhões de dólares. Não é de estranhar que a Inglaterra se tenha sentidoalarmada quanto ao futuro de sua supremacia marítima e, dedicando -se ainda à fase econômica de sua luta contraNapoleão, ela pôs em vigor medidas restritivas. A Inglaterra declarou então bloqueio geral da França, desde o Elba atéBrest, com um bloqueio cerrado do Sena e Ostende (ato d o Conselho de 16 de maio de 1806). Napoleão respondeu como famoso decreto de Berlim (21 de novembro de 1806), o qual declarou as Ilhas Britânicas, dali por diante, em estadode bloqueio. O comércio americano encontrava -se assim entre as duas pedras de mó. O remédio previsto peloPresidente Jefferson para todos esses problemas foi a coerção pacífica. Em 1807, ele decretou para todos os naviosempregados no comércio exterior um embargo que durou quinze meses e que custou oito milhões de dólares só aoscomerciantes da Nova Inglaterra. O embargo foi extremamente impopular nos Estados Unidos que sofreram bem maisque a Europa. O espetáculo oferecido pelo país era o mais desolador. Os navios ficavam a apodrecer nos portos.Cereais, algodão, fumo e outros produtos acumulavam-se nos celeiros dos fazendeiros do Norte, dos plantadores do Sule ao longo do cais nos portos de mar. A maior parte dos historiadores vê no voto e na aplicação do embargo um grandeerro de Jefferson. As conseqüências do embargo para a França f oram mínimas. Napoleão lançou o decreto de Bayonneque determinou a captura de todos os navios americanos encontrados nas águas francesas, espanholas e italianas. Ele76confiscou assim mais de duzentos navios americanos. O embargo afetou mais a Inglaterra, m as mesmo lá os efeitosforam inferiores aos esperados. A guerra contra a Inglaterra foi, contudo, adiada para o período presidencial seguinte.Durante a presidência de Madison, no quatriênio que se seguiu, ante a inquietante situação internacional, foiproposta no Congresso a construção de uma esquadra relativamente poderosa de 10 navios de linha e 20 fragatas, porémo Congresso, dominado pela oposição Jeffersoniana contrária à política armamentista naval, julgou a proposta custosa eperigosa para a liberdade pública. Em conseqüência, ao ser iniciada a guerra contra a Inglaterra em 1812, a Marinha

americana compunha-se de apenas dezesseis navios em estado de servir. Além disso, havia 257 chalupas canhoneirasconstruídas nos anos precedentes, pois Jefferson, que se opunha tão violentamente à Marinha, tinha grande confiançanesse tipo de embarcação, destinada à defesa das costas. Tais embarcações, entretanto, se mostrariam sem valor.Durante esse conflito, as fragatas americanas, melhor construídas, venceram u ma série de combates singulares contracongêneres ingleses. Esses êxitos parciais, todavia, não puderam evitar o absoluto controle dos mares pela esmagadorasuperioridade naval dos britânicos. O comércio americano foi banido dos oceanos, e os ingleses dese mbarcaram tropasa seu bel prazer no litoral dos Estados Unidos, chegando mesmo a incendiar Washington. O que restava da pequenaMarinha americana ficou bloqueado nos portos. A retaliação americana foi a guerra de corso. A perda que sofreu ocomércio marítimo inglês durante os dois anos e meio de guerra foi incalculável. O Congresso autorizou cerca deduzentos e cinqüenta corsários que varreram os oceanos à cata dos infelizes navios mercantes, capturando centenasdeles. Estima-se em 600 o número de navios mercantes ingleses vítimas dos corsários e dos navios de guerraamericanos. Um grande número deles, porém, foi retomado pelos ingleses, antes de atingir portos americanos.Com o fim da guerra em 1815, a Marinha Mercante americana voltou à senda do progress o. Na NovaInglaterra, a construção naval atingiu elevados índices de perfeição, e de suas carreiras saíram os famosos Clippers, osnavios mais velozes da Marinha a vela, os quais chegavam a navegar mais de 420 milhas em 24 horas.A partir de meados do século, a Marinha de Comércio americana entrou em decadência. Vários fatoresconcorreram para esse fim, mas o principal foi o fracasso da construção naval do país em acompanhar a evolução davela para o vapor e da madeira para o ferro. Outra razão foi a marc ha para o Oeste que então se processava, absorvendotodas as atenções e todos os interesses, com o correspondente crescimento das estradas de ferro. O deflagrar da GuerraCivil foi o sopro que acabou com a fase áurea da Marinha Mercante dos Estados Unidos. Paralelamente, a Marinha deGuerra dos Estados Unidos não fez grandes progressos após a paz de 1815. Ela foi empregada numa série de operaçõessecundárias, tais como na guerra contra o Bei de Alger e nas operações que suprimiram a pirataria nas Antilhas. Suaação contra o México foi muito restrita em face da não existência de oposição nos mares. Digna de nota foi a ação doComodoro Perry no Japão em 1854, abrindo aquele país ao comércio mundial.Ao começar a Guerra Civil, a Marinha dos Estados Unidos esta va em precário estado. A 4 de março de 1861,quando o Presidente Lincoln prestou juramento assumindo as funções, ela tinha em serviço, compreendendo navios detransporte e auxiliares, 42 navios, dos quais apenas 23 movidos a vapor poderiam ser considerados de algum valor. Porsua cegueira e indiferença, o Congresso havia desorganizado a Marinha quase tanto quanto havia feito a administração.Em seguida ao desastre financeiro de 1857, a renda da Nação tinha diminuído, e, nos esforços de economia, oCongresso havia destruído a Marinha. A oposição às construções e mesmo aos reparos dos navios vinha tanto dosEstados do Norte quanto dos Estados do Sul, Os membros do Congresso pelo Ohio e o Illinois conduziam o ataque aoorçamento da Marinha e à Marinha propriame nte dita. No seu conjunto, o Congresso era apático.A Guerra Civil começou com o bombardeio do Forte Sumter a 12 de abril de 1861. O novo Ministro daMarinha, capaz, ocupou-se logo com vigor da direção dos assuntos navais. Foram estabelecidos rapidamente planospara o rearmamento naval. O orçamento da Marinha votado pelo Congresso precedente, que era de 13 milhões dedólares, foi elevado para 43.500.000. Os Arsenais do Norte, onde o trabalho tinha sido quase inteiramente suspensodurante os anos que precederam a guerra, tornaram-se o teatro de grande animação. Alguns meses depois dobombardeio do Forte Sumter, o Norte tinha onze mil homens ocupados em recolocar em atividade velhos naviosdesarmados, a reparar os navios chegados das estações longínquas e a c onstruir novos navios adaptados especialmentepara os serviços previstos. Ao mesmo tempo, o Ministro da Marinha, apelando para todas as fontes, comprava eadaptava navios mercantes. Os navios incorporados à esquadra exigiam guarnições para armá -los, e, antes do fim do

ano, o número de marinheiros elevava -se de 7.600 para 22 mil.Durante a guerra, as duas grandes tarefas da Marinha foram o bloqueio das costas confederadas e a separaçãoem duas porções da confederação, pelo domínio do rio Mississipi. Essas d uas operações eram essenciais para impedir achegada de munições e aprovisionamento aos exércitos confederados, batendo -se no Leste. A captura de Port Royal, obizarro combate de Hampton Road, as operações no baixo Mississipi, a batalha da baía de Mobile, os encontros da baíade Albermale marcaram o desenrolar das duas ações fundamentais.A rigor, o bloqueio e a ocupação dos portos confederados puseram fim ao comércio do Sul. Durante a guerra, aesquadra bloqueadora capturou ou destruiu 1.150 navios com as respectivas cargas, representando um valor total de 30milhões de dólares. Por outro lado, a Marinha Mercante americana sofreu forte redução no decorrer da guerra. De2.500.000 toneladas em 1861, ela caiu para 1.500.000 em 1865, ao acabar o conflito, conc orrendo para o declínio nãosó a destruição oriunda das operações bélicas, mas também a perda do mercado de transporte para a Marinha inglesa.Em condições normais, a navegação comercial americana poderia renascer após a Guerra de Secessão como serestabelecera depois da guerra de 1812. A razão pela qual ela não retomou vida, residiu na mudança das circunstânciaseconômicas acarretadas, ao menos, em parte, pelo aumento dos impostos que tornaram impossível construir e armarnavios de forma barata, como fazi am os rivais estrangeiros. Também foram nocivas certas leis de navegação queinterditavam a compra de navios estrangeiros para navegar sob pavilhão americano. Essas medidas tiveram efeitopenoso sobre a Marinha Mercante e levaram o capital americano a não mais ser empregado em navios mas de77preferência nas empresas ferroviárias, usinas e minas. Em conseqüência, rapidamente a percentagem do tráfegomarítimo efetuado em porões de navios americanos decaiu. Ela era de 66,5% ainda em 1860. Em 1865 caíra a 27,7% ecerca de 1901 baixara a 8,2%.O desenvolvimento da ciência da Guerra Naval que tinha sido tão rápida nos Estados Unidos durante a guerrade Secessão, parou bruscamente com ela. Durante vinte anos os Estados Unidos não tiveram um só navio encouraçado.No decorrer do período do Presidente Hayes, a Marinha americana era inferior a de qualquer nação européia, e mesmoos dois encouraçados do Chile, bem guarnecidos, teriam constituído uma força superior a todos os navios de guerraamericanos reunidos. A Marinha nessa época parecia não ter nenhum defensor junto ao Governo, e o país, em geral,parecia inteiramente indiferente às suas necessidades. Todos os créditos arrancados ao Congresso eram destinados àmanutenção dos navios existentes, e uma boa parte desse d inheiro era esbanjado porque os parlamentares estavam bemmais interessados em atender aos casos de seus eleitores do que em fazer reparar os navios. A sombra da negligênciahavia quase completamente obliterado a Marinha em 1881, quando dificilmente um úni co navio estava preparado paramissões de guerra e poucos estavam em condições para um cruzeiro normal.O ano de 1881, em que Garfield assumiu a presidência, marca o ponto mais baixo atingido pela Marinha desdeos dias em que os Estados Unidos tinham pago tributo ao Bei de Argel. Não é de espantar que os comandantesamericanos dessa época tivessem vergonha de levar seus navios às águas européias.Se o ano de 1881 marca o mínimo atingido pela Marinha americana, também marca o início da recuperação.Embora dificultado pela má vontade do Congresso, o Presidente Arthur conseguiu dar início à regeneração da Marinhaamericana. Em 1885, ainda foi preciso recorrer ao estrangeiro para a montagem de canhões modernos nos navios emconstrução, mas cinco anos depois a criação de um mercado americano de navios de guerra e de canhões fezdesenvolver nos Estados Unidos estabelecimentos industriais capazes de fabricar os modelos mais aperfeiçoados deequipamentos bélicos. As perspectivas de um conflito próximo com a Espanha vieram acelerar o renascimento daMarinha de Guerra americana e quando a guerra deflagrou, em 1898, ela não teve dificuldades em esmagar em Manila,em Santiago de Cuba, as frotas obsoletas da Espanha.Em lugar de declinar depois da assinatura da paz, com o acontecera nas outras vezes, a Marinha de Guerra

americana progrediu a passos de gigante, contrastando com a decadência da frota de comércio. Embora o comércioexterno houvesse aumentado enormemente entre 1880 e 1914, o número de navios empregados nesse tráfego continuaraa diminuir. Em 1880, cerca de 1.200.000 toneladas eram registradas como dedicando -se ao comércio com o estrangeiro;em 1914 só havia um milhão de toneladas.A Primeira Guerra Mundial forçou a terceira expansão da Marinha Mercante americ ana. A ameaça dainterrupção das rotas marítimas aliadas por parte dos submarinos alemães obrigou os Estados Unidos a dedicarem àconstrução de navios mercantes uma parte considerável de seus recursos.O programa gigantesco de construções da Emergency Fle et Corporation permitiu o lançamento ao mar em1917 de três milhões e meio de toneladas. Graças a esse esforço, em poucos anos os Estados Unidos passaram a contarcom a segunda frota mercante do mundo a qual só era sobrepujada pela inglesa. Ela passou de p ouco mais de quatromilhões de toneladas, em 1914, para 14.574.000 em 1920, ou seja, de 4% para 23% da tonelagem mundial. Também aMarinha de Guerra americana sofreu grande expansão em virtude da Primeira Guerra Mundial e bem cedo ocupou osegundo posto.Entre as duas guerras, a frota mercante americana declinou ante a concorrência européia. Embora continuandoa ocupar o segundo posto, sua participação na tonelagem mundial caiu de 22%, em 1923, para 14% em 1939, quandodispunha em serviço de 6 milhões de t oneladas, ou seja, menos da terça parte da Marinha de Comércio britânica.Apenas 25% das transações mercantis com o além-mar eram efetuados em porões americanos. A construção navalultrapassava de pouco a cifra de cem mil toneladas anuais. A Marinha de Gue rra, entretanto, não foi descuidada epermaneceu em nível próximo ao da Grã -Bretanha.A Segunda Guerra Mundial elevou os Estados Unidos à primazia incontestável nos mares. O perigo crescentede um conflito na Europa levou o governo de Roosevelt a pôr em e xecução um gigantesco programa naval que já iabem adiantado quando do ataque a Pearl Harbour. Empregando -se a fundo em dois oceanos, a Marinha dos EstadosUnidos rapidamente se recuperou dos golpes iniciais e empreendeu ação decisiva tanto na batalha do A tlântico comocontra o Japão. No Atlântico, a quantidade fabulosa de navios de escolta e aeronaves que a América colocou na lutaanti-submarina teve efeitos decisivos. No Pacífico, a esmagadora superioridade americana bem cedo varreu osnipônicos das principais áreas por eles conquistadas na arrancada inicial da guerra e por fim atingiu o próprio territóriometropolitano japonês.Os estaleiros dos Estados Unidos, nos quais chegaram a trabalhar mais de novecentos mil operários em 1944,produziram navios para a América e para quase todos os países aliados, conseguindo compensar as perdas tremendasoriundas da campanha submarina. Só em 1942 foram lançados ao mar mais de oito milhões de toneladas de naviosmercantes e, em 1943, dezenove milhões. No fim das host ilidades, a Marinha de Guerra dos Estados Unidosultrapassava três milhões de toneladas, e a Marinha Mercante cinqüenta milhões.No pós-guerra, mais uma vez a Marinha Mercante americana cedeu ante a recuperação das frotas de comércioeuropéias. A Grã-Bretanha voltou ao primeiro posto em tonelagem de navios de comércio com a passagem para areserva de um grande número de unidades americanas. Em 1946, já 33% do comércio exterior americano eramtransportados em porões estrangeiros, proporção que se elevou a 5 0% em 1950. Nesse mesmo ano, a frota mercante dosEstados Unidos, em serviço, estava reduzida a 11 milhões de toneladas, cerca da metade do Reino Unido, sendo bemverdade que os armadores americanos também dispunham de mais alguns milhões de toneladas sob as bandeiras doPanamá, Libéria e outros países.78Onde os Estados Unidos conservaram a primazia absoluta, sem mostrar a mínima intenção de perdê -la, foi naMarinha de Guerra. Se depois da Guerra de Sucessão da Espanha restou apenas uma grande potência nava l, a Inglaterra,depois da Segunda Guerra Mundial coube aos Estados Unidos essa situação privilegiada.7980CAPÍTULO I

A “DESCOBERTA” DO BRASILAntes de qualquer coisa, fica necessário explicar o termo descobrimento para a invenção do Brasil. Diferenteda conotação de achado, de ocasional, o termo descobrimento está mais relacionado à “destapamento”, a retirar acobertura, demonstrando ao mundo as propriedades aqui pertencentes à coroa portuguesa.Pedro Álvares Cabral recebeu a incumbência, dentre todas as ordens que compunham sua missão, de realizaruma pequena exploração da terra a descobrir e registrar a presença portuguesa na “Ter ra Nova”. Para tal, mandouescrever uma extensa carta, através de seu escritor oficial Pero Vaz Caminha, contando e descrevendo os achados naterra, a qual juntou com diversos suvenires como aves, plantas, pequenos objetos das tribos indígenas, e mandou devolta a Portugal em um dos seus treze navios recebidos para a empreitada.Para melhor compreensão, vamos descrever os fatores que pré -existiram ao descobrimento do Brasil.As Razões da Expansão Marítima:Durante o século XIII, a população européia red escobriu o comércio e o valor da moeda, conseqüência domelhor emprego da força motriz da água, nova utilização da tração animal (aperfeiçoamento da atrelagem), presença deoutros instrumentos de trabalho e difusão da aveia, capaz de nutrir melhor os anima is, servindo, também, para aalimentação dos homens. Cresceram os bens de consumo, e as trocas se reanimaram, permitindo aparecer um novo tipode profissional: o mercador, e uma nova classe social: a nobreza mercantil, ou simplesmente, a burguesia.Abrindo suas próprias rotas, os comerciantes acampavam em locais de sua escolha e exibiam suas mercadorias.Nasciam, assim, as feiras, sendo famosas as de Flandres e Champagne. Aos poucos, esse comércio foi sendo transferidopara as cidades (burgos), que crescer am em tamanho e população. O europeu, agora mais bem alimentado, por causa daintrodução de novas técnicas agrícolas com melhor aproveitamento do solo, torna -se exigente e refinado.A busca de novas mercadorias provocou o aparecimento das especiarias, que vinham principalmente dasíndias. Os mercadores organizavam caravanas e as transportavam até Constantinopla ou Alexandria, onde eramapanhadas pelos navegantes italianos, especialmente os de Gênova e Veneza, que as distribuíam no mercado europeu.Ao lado do cravo, canela, gengibre, açúcar, pimenta etc., usados na farmácia e culinária, misturavam -se o incenso,mirra, tecidos e tapetes, pérolas, pedras preciosas, tudo em pequena quantidade e por preços elevados, tendo em vista osimpostos (pedágios, câmbio monetário e tarifas alfandegárias) que nelas incidiam, nos diversos lugares por ondepassavam. Existia, assim, uma ligação comercial com as índias, que ninguém sabia bem onde ficavam, mas que todosfalavam de suas fabulosas riquezas e costumes extravagantes . As viagens de Marco Pólo, fantasiosamente descritas emseu “Livro das Maravilhas do Mundo”, excitavam o espírito dos aventureiros.Assim, os mercadores acumularam riquezas e se agruparam em associações de proteção ao seudesenvolvimento. Essas associações eram chamadas de Guildas. Alguns mercadores conseguiram edificar impérioseconômicos fabulosos. Um vasto circuito se originou, abrangendo o mar Mediterrâneo, o mar Báltico, o oceanoAtlântico e o mar do Norte. No Báltico, a presença de comerciantes alem ães (prussianos, teutões, germânicos, etc.)permitiu surgir uma das mais famosas formas de associação de comércio: a HANSA, que congregava várias cidades,como Lübeck, Hamburgo, Antuérpia, Leipzig, Bremen etc., provocando o enriquecimento dos portos interm ediários,como Lisboa.Mas esse progresso viria a ser bruscamente afetado. As migrações dos povos mongóis convulsionaram a Ásiano século XIII. Seus parentes próximos, povos turcos, procuraram o ocidente, estabelecendo -se na Ásia Menor,fazendo de Brussa sua capital. Atravessaram os Dardanelos, em 1354, e ocuparam Galipoli. Invadiram a Trácia,comandados pelo Sultão Murad, que enfrentou, com êxito, os sérvios na batalha de Kosovo (15/06/1389). Bajazet I,filho de Murad, completou essa conquista e venceu o s cristãos na batalha de Nicópolis (1396). Restava o ImpérioBizantino, quase restrito à área da cidade de Constantinopla, último reduto de cristianismo encravado nessas conquistasturcas. O Sultão Maomé II dispôs -se a conquistá-lo, entrando em Constantinopla em 29 de maio de 1453 (queda deRoma Oriental).Esses eventos perturbaram o comércio europeu, ocasionando uma crise na segunda metade do século XIV.Dificuldades climáticas e ebulição política causada pela Guerra dos Cem Anos contribuíram para essa cr ise, agravada

pela presença da peste bubônica proveniente da Ásia nos porões dos navios cruzados. Enquanto a população enfurecidacaçava bruxos e endemoniados, proliferavam tranqüilamente os ratos doentes, transmissores da doença. Os camponeses,irrequietos, pilhavam as caravanas, reduzindo a segurança das rotas terrestres. Na França, conhecida ficou a Jacquerieque era uma associação de ladrões. A tríade guerra -peste-fome reduziu drasticamente a população européia e foi umduro golpe no comércio que se viu prejudicado na fonte fornecedora e no mercado consumidor.O estabelecimento turco em Constantinopla, transformada em capital das terras conquistadas e rebatizada deIstambul, provocou a ruína do comércio mediterrâneo, dificultando a obtenção das especiar ias, menos abundantes e,portanto, mais caras. Era mister encontrar um meio de se chegar às Índias, fontes das especiarias, e impedir o avanço81turco. E como o ideal de cruzada ainda se encontrava latente, o desejo de difundir o cristianismo mesclou -se aosinteresses econômicos. Igualmente, tornava -se urgente, para a Europa, achar ouro. As raras minas européias desse metalse exauriram no mundo antigo, e o progresso exigia ouro, base das transações comerciais modernas.Esse plano, simples, esbarrava em vári os e complicados problemas para a ciência da época, amarrada em falsasnoções, especialmente quanto ao formato da Terra e às verdadeiras distâncias geográficas, e ao misticismo religioso.Tais desconhecimentos levaram os homens a acreditarem em muitas fant asias, relativas às Índias, ao Mar Tenebroso(Oceano Atlântico), achando que era povoado por monstros e com abismos em suas bordas (a cultura da época pregavaque a Terra era reta e quadrada), ou no fabuloso reino cristão do Preste João, situado no centro da África, que seriacheio de riquezas incontáveis.Com o progresso comercial, surgiram nas cidades mais ricas redutos de saber chamados de "universidades”.Nestes redutos, o conhecimento dos antigos estudiosos gregos e romanos começou a ser reencontrado e analisado(citemos, em especial, a Geografia, de autoria do grego Claudio Ptolomeu), associado aos conhecimentos de matemáticae astronomia, adquiridos dos árabes.Alguns sábios chegaram a sustentar a esfericidade da Terra, principiaram a observação das estrelas, verificarammapas antigos. Pierre d'Ailly, bispo de Cambrai, resumindo o que se conhecia da geografia da época, escrevia “ImagoMundi” (1483).Ao mesmo tempo, penetravam no continente europeu, provenientes da China, através dos árabes, váriasinvenções que, em conjunto, marcariam o início dos tempos modernos: a bússola, que permitia a orientação para osnavegantes; a pólvora, que provocou a invenção das armas de fogo, facilitando a defesa dos aventureiros eintensificando as ações dos usurpadore s; e o papel, que aliado à descoberta da técnica tipográfica (Gutenberg entre 1440e 1450) difundiu os conhecimentos. A mais importante dessas invenções ocorreu em Portugal. Partindo das antigasembarcações mediterrâneas, os portugueses aperfeiçoaram lenta mente a caravela, comprida, leve, popa quadrada, proalevantada, utilizando três velas latinas, que mais tarde foram trocadas por velas redondas, capaz, assim, de viagensarrojadas em alto-mar. O astrolábio, círculo de bronze graduado (provavelmente uma in venção grega, adaptada porMartin Behaim, de Nüremberg), servia para medir a altura dos astros e estrelas e determinar a posição do viajante,utilizando-se, para o mesmo fim, o quadrante e a balestilha.A figuração dos continentes se aperfeiçoa com a pres ença de "cartas", contendo inúmeras fantasias, chamadas“portulanos”. Granjearam fama o alemão Martin Behaim e o holandês Mercator (Gerhard Kremer), que vinculou seunome ao primeiro sistema científico de representação cartográfica.O grande problema da náutica da época consistia em não se conhecer qualquer processo que permitisse adeterminação da longitude a bordo.Os Portugueses se Espalham pelo Mundo:Foi Portugal, pequeno país ibérico, com privilegiada posição em frente ao oceano Atlântico, que tom ou adianteira nas navegações. Barrado em suas pretensões a Este, pelo crescente poderio de Castela, o mar apresentava -se

como seu destino natural.A expansão ultramarina portuguesa começou quando D. João I, por desejos de seus filhos, os infantes D.Duarte, D. Pedro (mais tarde D. Pedro II de Portugal) e D. Henrique (o Navegador), ordenou a conquista da cidademarroquina de Celta, que caiu em seu poder a 21 de agosto de 1415.A cristandade acompanhava com grande interesse a atividade do único povo cristã o que começou a lutar contraos infiéis (árabes, mulçumanos ou mouros) e a obter vitórias.D. Henrique, o Navegador (assim chamado porque se dedicou às navegações e não porque tenha navegado), foia alma da expansão marítima portuguesa. A partir de 1418, exerceu a função de governador da Ordem de Cristo:tornava-se quase um sacerdote. Provavelmente em 1418, fixou a sua residência em Sagres, longe da Corte, onde maisfacilmente poderia dedicar -se à sua cruzada: a descida pelo litoral africano e a sua conseq üente identificação. Ele sentiua necessidade de conseguir boas informações, quase todas obtidas em Celta, local de concentração caravaneira.Juntou mapas, narrativas de pilotos, velhos manuscritos, livros da época. Rodeou -se de vários personagens,como Jaime de Maiorca e o astrônomo Abraão Zacuto, autor do “Almanach Perpetuum”, na tentativa de aperfeiçoar osconhecimentos geográficos para que a sua empresa não representasse mera aventura, mas traduzisse o resultado deinvestigação científica, matemática.. . Ele não tinha interesse em descobrir riquezas; o seu desejo era apenas expandir aFé de Cristo.Lançaram-se, então, os portugueses (e todos os estrangeiros que em Portugal oferecessem os seus serviços) nadescoberta do desconhecido litoral africano. Em 1418, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira encontram a ilhade Porto Santo; no ano seguinte, alcançaram a Madeira, onde aclimataram a vinha. Em 1427, Diogo de Silves descobriuos Açores. Em 1434, Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador. Em 1441, Antão Gonça lves atingiu um rio que chamou doOuro. Logo depois (1442), Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco e ilha de Arguim. Em 1445, Lançarote, Gonçalo deSintra e Dinis Dias acharam o Cabo Verde. Nesse mesmo ano, o veneziano Alvisse Da Mosto atingiu o Rio Gâmbia;nova viagem fez em 1457, quando, então, divisou uma desconhecida constelação, batizando -a de Cruzeiro do Sul. Em1460, Pedro de Cintra navegou até Serra Leoa.Este período coincide com o advento do humanismo em Portugal, em decorrência do intenso relacionam entocom as cidades comerciais italianas e o Papado. Vários intelectuais, procedentes de distintas regiões européias,procuram o reino português.82A morte do infante D. Henrique, ocorrida em 1460, arrefeceu o ritmo das navegações, dando uma esfriada nosânimos dos navegadores que, timidamente, continuaram por meios próprios os estudos do oceano. Prosseguiram maistarde os portugueses, orientados pelo próprio Rei D. João II que somente subiu ao trono em 1481.Nesta oportunidade, já estava maduro e definido um plano sistemático para serem alcançadas as índias.Revestindo as viagens de cauteloso sigilo, substituindo as cruzes de madeira por padrões de granito, o rei desdobrou aidéia do infante seu irmão, dedicando -se a descobrir a rota para as índias.Em 1482, Diogo Cão aportou no Rio Zaire. Pouco depois (1485), em nova viagem, descobriu o Cabo doPadrão. Como Diogo Cão não encontrara o término do continente africano, o rei resolveu solucionar esta questãoincumbindo Bartolomeu Dias para prosseguir na rota ma rítima, a Pero da Covilhã de ir, por terra, até o Mar Vermelho ea Afonso de Paiva para encontrar o suposto reino do Preste João. Partiram os dois últimos de Lisboa em 8 de maio de1487.Covilhã alcançou Sofala e percorreu as costas da África Oriental. Fi nalmente, em janeiro de 1488, BartolomeuDias dobrou a ponta terminal do continente africano, chamando -a de Cabo das Tormentas, denominação essa trocadapelo monarca para Boa Esperança.Essa expansão vinha ao encontro de desejos cristãos. A cristandade es tava apreensiva, desde a derrota deNicópolis (1396) e da queda de Constantinopla (1453), com o avanço turco. Por isso, Portugal obteve, da Santa Sé,seguidas e proveitosas concessões que, em resumo, doavam todas as terras, descobertas e por descobrir, par a os

portugueses (Bulas Rex regnume, Et sisuscepti, de Eugênio IV; Cuncta mundi, de Nicolau V, Interccetera quée, deCalisto III; Aeterni regis, de Xisto IV, e Orthodoxóe fidei, de Inocêncio VIII).A América Descoberta:O reino português transformou-se num centro de aventureiros, sábios e navegantes de várias nacionalidadesque se empenhavam na tarefa da descoberta do caminho para as índias. Entre eles, destacou -se Cristóvão Colombo, umadas figuras mais discutidas da História.Genovês de origem, filho de Domenico Colombo, talvez nascido em 1451, pouco sabemos de seus primeirosanos de vida. Não parece ter feito grandes estudos (Eu, que não sou um sábio... escreveu), mas, com certeza,impressionou-se pelo movimento das descobertas, nas quais vários compa triotas seus participavam. Lançarote,Usodimare, os irmãos Vivaldi, Antonio da Noli, eram todos genoveses ao serviço do Infante. O livro de Marco Pólodevia ser sua leitura preferida, especialmente este trecho o impressionava: "Cipango (Japão) é uma ilha d o Oriente queestá no mar alto, longe da terra firme 1.005 milhas... chamam a este mar o de Cin, mas ele é o grande mar do Ocidente".É possível que Colombo tenha navegado à Islândia, onde entrou em contato com as notícias que osdescendentes dos vikings guardavam de Vinland, a futura América, reunidas na Erik Saga Rhauda (seus drakkars jáforam encontrados nas costas americanas). Depois dessa viagem, estabeleceu -se em Portugal.Mas, os conhecimentos ou ignorâncias deste genovês ainda constituem um enigma para os estudiosos de suavida. Para sobreviver, realizou algumas viagens comerciais por conta de firmas genovesas. Nessa oportunidade, 1481,casou-se com Filipa Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo, já, na ocasião, falecido. Esse casamento lhe permitiu refletirsobre seu grande projeto; Colombo passa a viver na ilha de Porto Santo, próxima da Madeira, onde nasceu seu filhoDiego. É possível, também, que tenha efetuado algumas viagens em caravelas portuguesas pelo litoral africano. Aospoucos, foi amadurecendo a idéia de chegar às índias pelo caminho do Ocidente, ao mesmo tempo que muito aprendiacom os portugueses.Incentivado pelo conteúdo da carta do sábio florentino Paolo Toscanelli (por alguns tida como apócrifa), queacreditava na esfericidade da Te rra, enviada ao cônego Fernão Martins, em Lisboa, da qual deve ter tomadoconhecimento, Colombo instalou-se em Lisboa onde já vivia seu irmão Bartolomeu e, certamente em 1484, conseguiuque o Rei D. João II examinasse o seu projeto para chegar às índias po r meio mais rápido: atravessaria o MarTenebroso. Para melhor convencer o soberano, argumentou com a redondeza da Terra e determinou que cada grautivesse 56,5km (o certo é 111km), tornando pequena a distância entre Lisboa e a costa da Índia. Ouvido por umconselho de homens de saber, foram seus planos desaprovados e recusados em seguida pelo rei, não propriamenteporque os portugueses não aceitassem as suas idéias, nessa fase das navegações bem válidas, mas porque Colomboexigia demais, podendo muitos port ugueses fazer o mesmo pelo amor à Pátria.Colombo não queria tentar a sua aventura sem o respaldo de um soberano. Em 1485, dirigiu -se para Castela.Passou um tempo no convento franciscano de La Rabida, causando forte impressão a Frei Antonio de Marchena, que oencorajou. Dirigiu-se a Sevilha, ligando-se ao banqueiro florentino Berardi. Este o apresentou ao Duque de Medinaceli,que se propôs financiar o projeto. Mas Colombo desejava o apoio real. Fernando e Isabel, reis de Aragão e Castela,empenhavam-se em vencer o último reduto mouro: o reino de Granada. Auxiliado, também, pelo Duque deMedinasidonia. Colombo conseguiu uma entrevista com a rainha em Córdova e uma promessa para o futuro.Colombo instalou-se junto à Corte, que se fixara em Córdova, e aguard ou até que se se transferiu com a Cortepara Salamanca no final do ano de 1486. Nesta cidade, os reis católicos fizeram reunir uma comissão de sábios visandoa apreciar o projeto de Colombo. Esta comissão conclui ser o mesmo inviável. Desanimado, Colombo r etornou a Lisboae tentou retomar as conversações com o Rei D. João II, sem qualquer êxito. No final do ano de 1489, encontrava -se emterras espanholas, no acampamento real diante de Baza.O tempo passou; suas esperanças iniciais diminuíram. O prior do co nvento, Padre Luan Pérez, convenceu -o ater paciência, ao mesmo tempo em que enviava uma carta à rainha, que convocou Colombo à sua presença. Novamenteexpôs seus planos. Meses depois, em 2 de janeiro de 1492, Granada rendeu -se: estava aberto o caminho par a Colombo.

83Os reis católicos aceitaram as suas imposições nas Capitulações de Santa Fé (17 de abril). Com dinheiroadiantado à Coroa pelos banqueiros Luis Santángel e Francisco Pinelo e alguma ajuda dos armadores de Palos, Martime Vicente Pinzón, totalizando 1.170.000 maravedis (pequena moeda de cobre em uso), Colombo reuniu duas caravelas,a Pinta (140t) e a Nina (100t) e a nau Santa Maria (250t), guarnecidas com 110 homens.Partiu de Palos a 3 de agosto. A 8 de setembro, suspendeu das Canárias e entrou no desconhecido. Descobrindono percurso o fenômeno da declinação magnética, Colombo chegava, a 12 de outubro, na ilha de Guanaany, por elechamada San Salvador (hoje Watling Island, uma das Bahamas).Como não se acharam sinais de civilização, a viagem p rosseguiu; Colombo encontrou Cuba (chamada deJoana) e Haiti (batizada de Espanhola); nesta ilha, construiu um forte com os restos da Santa Maria, chamado Navidad,deixando uma guarnição sob o comando de Diego Arana. Ao regressar, Colombo aportou primeiro em Lisboa,comunicando ao Rei D. João II que descobrira as Índias. Colombo ainda realizou mais três viagens ao Novo Mundo: em1493, com 17 navios e tripulação de 1.500 homens, de caráter colonizador; algumas ilhas foram descobertas, e Colombofundou Isabela, na Espanhola; em 1498, tendo atingido terras continentais americanas; e, em 1502, quando explorou olitoral da América Central, morrendo pouco depois (20/05/1506), em Valladolid, sem saber que achara um continentenovo.O Acordo de Tordesilhas:A existência de diversas bulas papais assegurando aos portugueses terras não descobertas fez com que os reisda Espanha logo recorressem ao Papa Alexandre VI, pertencente à família aragonesa dos Bórgias (portanto primo dorei), para que lhes confirmasse a posse das terras encontradas por Colombo. Através das Bulas Eximin e devotionis (de03/05/1493) e das duas Inter coetera (de 04/05/1493), o papa estabeleceu uma demarcação para a soberania de Castela,imaginando um meridiano que, distante 100 léguas das ilhas d e Açores e Cabo Verde, daria início às posses castelhanas.D. João II não se conformou e disse: “ficou mui confuso e creo verdadeiramente que esta terra descoberta lhepertencia”. Tentou, diplomaticamente, a anulação das Bulas, sem resultado. Mandou que Ruy de Sande propusesse umparalelo, o das Canárias, para servir de divisão entre as posses de Castela e Portugal, que guardaria o domíniomeridional. Recusada essa proposta, enviou a Castela Rui de Pina e Pero Dias, os quais não obtiveram resultadossatisfatórios. Apelou, então, para a ameaça, aparelhando forte esquadra que disputaria, pelas armas, as terrasdescobertas.Os reis católicos espanhóis não se interessaram, porém, em medir forças com Portugal; a fatigante luta contraos mouros e os negócios da Itália aconselhavam uma política pacífica. Assim, Castela procurou negociações diretas. Napequena cidade castelhana de Tordesilhas, reuniram-se os negociadores (D. Gutierrez de Cárdenas, D. Enrique Enriqueze o dr. Rodrigo Maldonado, por parte de Castela , e Rui de Sousa, seu filho João de Sousa, Ayres de Almada eDuartePacheco Pereira, representando Portugal), que assinaram, a 7 de junho de 1494, a Capítulacíon de La Partícion del MarOceano, por meio da qual ficavam fixadas as áreas de influência dos do is países, através de um meridiano (em toda aextensão da Terra) que passasse a oeste de 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde: as terras não européias a lesteseriam de Portugal e as situadas a oeste ficavam espanholas.Esse tratado representou uma gra nde vitória da diplomacia lusa, pois defendia a rota africana que os nautasportugueses há tantos anos perseguiam. Por outro lado, sem esclarecer de qual ilha partiria a contagem e nem qual otipo de légua a ser usado, o tratado nunca pôde ser realmente de marcado, nem respeitado por ambos os países, que seinteressavam na persistência da dúvida.A Capitulação de Saragoza (22/04/1529), conseqüência da descoberta das Molucas por Fernão de Magalhães,

procurou solucionar esse problema. Reconheceu Portugal, gov ernado por D. João III, serem as Molucas pertencentes àEspanha, adquirindo-as por 350 mil ducados. Com isso, firmava -se o meridiano de Tordesilhas, na América, entrandona posse portuguesa a Banda Oriental do Uruguai, as terras do Chaco Paraguaio e grande parte da região amazônica.O Caminho das Índias Decifrado:A viagem de Pero de Covilhã permitiu ao Rei D. João II entrar na posse de um cálculo de distância entre acosta da África e o Malabar (costa ocidental da Índia); isso em 1491. Estava completada , embora empiricamente, atriangulação do caminho para as Índias: Lisboa, Cabo da Boa Esperança e Calecute.Morreu D. João II em 1495. Seu substituto, D. Manuel I, o Venturoso, reuniu homens (160) e armas usuais eartilharia em quatro naus (S. Gabriel, S. Rafael, Bérrio, e um transporte para mantimentos), cujo comando deu a Vascoda Gama, "experimentado nas coisas do mar, em que tinha feito muito serviço a El -Rei D. João".A 8 de julho de 1497, a armada partia da praia do Restelo, pequena língua de areia colada à Torre de Belém. Aviagem foi penosa. Depois de dobrarem o Cabo da Boa Esperança, as naus de Vasco da Gama alcançaram a Baía de S.Brás, onde destruíram a nau transporte; chegaram a Moçambique a 22 de março e em Mombaça a 7 de abril. Nesteslocais observaram a hostilidade dos habitantes. Em Melinde, Vasco da Gama conseguiu um prático, Ahmad lbn Madjid,que conduziu os portugueses a Calecute, chegados neste local a 20 de maio de 1498. Durante três meses, Vasco daGama demorou-se em Calecute, esforçando-se, em vão, por atar relações amigáveis com o governante local, o Samorin.A 29 de agosto, resolveu regressar a Portugal. Em Cananore, adquiriu muitas especiarias. Atacada de escorbuto, atripulação ficou reduzida; somente a 7 de janeiro (1499) a expedi ção aportou a Melinde, confiando o nauta português aopotentado local um padrão (Monumento de pedra que os portugueses erguiam em terras por eles descobertas) "por84nome Santo Espírito". Em fins de agosto, dava entrada em Lisboa, com metade dos navios e da tripulação, rendendo, aaventura, 5.000 %.A Viagem de Cabral:As riquezas que as índias ofereciam afiguravam-se imensas. Era necessário, porém, que os portugueses seimpusessem aos habitantes e aos monopolizadores do comércio das especiarias. Resolveu, então, D. Manuel reunir umatripulação escolhida em uma forte esquadra, entregando o seu comando, com o titulo de capitão -mor, a Pedro ÁlvaresCabral, que, além de pequenos conhecimentos náuticos, possuía provada capacidade de administração. Secundava -lheno comando Sancho de Tovar.Serviam-lhe de orientação instruções escritas sob a inspiração de Vasco da Gama (o original, incompleto, acha -se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa).A expedição partiu de Lisboa a 9 de março de 1500. Nela embarc aram hábeis pilotos, como Bartolomeu Dias eseu irmão Diogo, Gaspar de Lemos, Nicolau Coelho, Simão de Miranda, Duarte Pacheco Pereira; destacava -se, ainda, omestre João, físico de bordo, Pero Vaz de Caminha, escrivão da feitoria a ser fundada, Frei Henri que Soares, quearcava, junto com poucos religiosos, com a tarefa de evangelização dos infiéis, e Aires Correia, que ia ser o feitor.Somavam 1500 homens em 10 naus e três navios menores.Dificuldades entravaram a viagem. Perto de Cabo Verde, desapareceu a nau comandada por Vasco de Ataíde,"comida pelo mar” como se dizia. Afastando -se da costa da África, os portugueses tomaram a direção sul -sudoeste, coma intenção de achar terras. A 21 de abril, pressentiram sinais de terra; no dia seguinte, viram pequen a elevação, querecebeu o nome de Monte Pascoal. A 23, chegaram junto à praia, na foz do Rio Caí, onde foram travados os primeiroscontatos com os indígenas. Procuraram um ancoradouro mais ao norte, fundeando numa enseada, por eles batizada dePorto Seguro (hoje Baía Cabrália, no litoral do Estado da Bahia). Verificaram -se novos contatos amigáveis com osnaturais; rezaram-se duas missas, uma no ilhéu da Coroa Vermelha e outra em terra firme, e tomou -se posse da terra

levantando-se uma grande cruz de madeira . Batizou-se a terra, que se supunha ser uma ilha, com o nome de Vera Cruz.Pedro Álvares resolveu notificar ao rei o acontecido. Extensa carta foi escrita por Pero Vaz de Caminha, levada porGaspar de Lemos, que, a 2 de maio, retornava a Portugal. No mesm o dia, Cabral partia para as índias, onde cumpriu asua missão.Sobre o achamento do Brasil existem três documentos importantes: a carta de Caminha (encontrada noArquivo da Torre do Tombo por José de Seabra da Silva e publicada em 1817 por Aires do Casal ), a carta do mestreJoão ao Rei D. Manuel I e a carta deste aos reis católicos, verdadeira comunicação oficial. Ainda podemos citar aRelação do Piloto Anônimo (publicada no livro Paesi Nuovamente Ritrovatí, de Montalbocido) e o manuscritoValentím Fernandês, publicado em 1940, pela Academia Portuguesa da História.Não há hoje dúvida de que a expedição, de quatro caravelas, comandada por Vicente Yanez Pinzón atingiu, emjaneiro de 1500, o litoral do atual Estado do Ceará (ponta de Mucuripe), dando, assim, a prioridade do descobrimentoaos espanhóis. Pinzón prosseguiu a sua viagem para o Rio Oiapoque. Na sua esteira navegou outro espanhol, Diego deLepe, com dois navios, tendo reconhecido as regiões do atual Amapá, após haver alcançado Pinzón na foz do RioAmazonas.85CAPÍTULO IIA COLONIZAÇÃO DO BRASILPeríodo Pré-colonial (1500 – 1530):De 1500 a 1530, Portugal preocupou -se exclusivamente em desvendar a terra encontrada, inexistindo um planode colonização. Por isso, se chama de Pré-Colonial a esta fase.Não se sabe ao certo em que data, em 1500, Gaspar de Lemos chegou a Lisboa com as notícias da terra achada.Mas foram estas notícias, sem dúvida, que motivaram o monarca a organizar uma expedição com destino à terradescoberta, no ano seguinte, com três naus; nela embarcou Américo Vespúcio como observador comercial. Elapercorreu grande parte do litoral, batizando e mapeando os acidentes, de acordo com as festas do calendário religioso.As informações obtidas ocasionaram a mu dança do nome da terra descoberta para Terra de Santa Cruz, masdecepcionaram o rei: ela não passava de uma região vasta e sem possibilidades econômicas imediatas. Nesse mesmoano de 1501, ainda foi armada a expedição de João da Nova, sobre a qual pouco sa bemos, mas que, possivelmente,encontrou a Ilha de Ascensão. Em 1502, percorreu a costa Estevão da Gama, tendo achado a ilha da Trindade. Entre1502 e 1503, Fernão de Loronha esteve no Brasil, tendo descoberto a ilha que chamou de São João ou Quaresma (hoj eFernando de Noronha).A instauração de uma colônia portuguesa no território americano não se deu imediatamente após a tomada deposse por Pedro Álvares Cabral em 1500. Portugal mantinha seus recursos voltados para o comércio oriental, deixandoo Brasil, por alguns anos, numa posição secundária, visto que aqui não haviam sido encontrados metais preciosos ouprodutos similares aos do rentável comércio afro -asiático. A única preocupação com o território recém-conquistado eraa de garantir a sua posse diante das contínuas investidas de outros países europeus.A primeira expedição exploradora enviada ao Brasil, em 1501, foi chefiada por Gaspar de Lemos. Além denomear diversas localidades litorâneas, como a baía de Todos os Santos e o lugarejo de São Sebastiã o do Rio deJaneiro, confirmou a existência do pau -brasil, madeira da qual se extraía um corante já utilizado na Europa paratingimento de tecidos. Em 1503, outra expedição chefiada por Gonçalo Coelho fundou feitorias no litoral fluminense,visando à armazenagem da madeira e ao carregamento de navios. Administrados pelos feitores, muitos dessesentrepostos eram fortificações que garantiam a posse lusa em detrimento de outros conquistadores. Ao formaremplantios e dedicarem-se à criação de animais para o sus tento, transformavam-se, também, em núcleos colonizadores.Devido à abundância do pau-brasil no litoral brasileiro, Portugal estabeleceu o estanco, ou seja, o monopólioreal sobre a exploração do produto. Mais à frente, diante da inexistência de braços e uropeus suficientes nasembarcações e nas feitorias, e devido a extração começar a adentrar ao território em algumas localidades, utilizou -se

mão-de-obra dos nativos indígenas para garantir a extração das madeiras. Por meio do escambo (troca) os indígenasrealizavam o corte e o transporte da madeira e recebiam por isso objetos vistosos, mas de pouco valor, como espelhos emiçangas.A extração do pau-brasil atraía também os contrabandistas estrangeiros, o que levou o governo português aenviar, sob o comando de Cristóvão Jacques, expedições militares ao litoral brasileiro, em 1516 a 1519, 1521 a 1522 e1526 a 1528 com práticas de extrema violência contra qualquer navio ou pessoa não portuguesa encontrados em águasbrasileiras.Concluía-se que a região encontrada aparecia em época inoportuna para Portugal, apesar de possuir um pau -detinta,logo declarado monopólio da Coroa. Desprezá -la não traduzia uma boa política, pois era conveniente mantersempre garantida a rota marítima para as Índias. Por isso, o rei resolveu alugar a terra. Foi feito, então, o “Trato”, isto é,uma concessão por três anos a Fernão de Loronha, Bartolomeu Marchione e Benedito Morelli (provavelmente cristãosnovos), para explorar as riquezas da terra, mediante o pagamento de 4.000 cruzado s anuais e o compromisso de enviar ànova terra seis navios pelo mesmo espaço de tempo. Concedia -se ao primeiro comerciante uma capitania hereditária: oarquipélago por ele descoberto. Pouco sabemos hoje dos aspectos jurídicos desse Trato e o seu funcionam ento.Esses arrendatários armaram, então, a expedição de 1503, sob o comando de Gonçalo Coelho, integrando -aAmérico Vespúcio, que, assim, retornava ao Novo Mundo. Dividida em duas esta expedição, depois das ilhas deFernando de Noronha, onde naufragou o navio capitânia, ignora-se por onde andou o seu comandante, que sóreapareceu em Portugal quatro anos depois. Parece que Vespúcio explorou a costa até Cabo Frio, onde fez uma entradae construiu um pequeno reduto fortificado (primeira feitoria em terras br asileiras).O fato de a América ter hoje esse nome prende -se a este personagem e suas viagens na costa brasileira. Umgrupo de humanistas da cidade de Saint -Dié, França, protegido por Renato, Duque da Lorena, imaginou reimprimir aGeografia de Ptolomeu, com uma introdução que ilustrasse aos leitores sobre a importância desse geógrafo antigo.Incumbido dessa introdução, Waldssemüller compôs uma primeira parte de cosmografia geral e uma segunda, formadapela narrativa das viagens de Vespúcio contidas nas car tas enviadas a seu amigo Soderini (consideradas por muitoscomo apócrifas) e a Lourenço de Médicis. O mapa que acompanhava o estudo de Waldssemüller trazia o nome Américacolocado na costa brasileira, passando depois a designar todo o continente, em detrim ento do seu verdadeirodescobridor.86Em 1511, situa-se a viagem da nau Bretoa (cujo nome provém de sua construção em algum estaleiro daBretanha), comandada por Cristóvão Pires e tendo por piloto João Lopes de Carvalho, provavelmente ainda pertencenteao Trato. Do Brasil arrecadou 5.008 toros de pau -de-tinta, 35 indígenas e 70 animais. A expedição de Estevão Fróis,que navegou no litoral norte em 1513, acabou por ser apreendida pelas autoridades espanholas nas Antilhas. Em 1514,esteve em nossas costas a expedição armada por D. Nuno Manoel (pilotava um dos dois navios João de Lisboa),conhecida pela Nova Gazeta da Terra do Brasil (publicada na Alemanha e sem data sob o título original NewveilZeytungauss Pressillglandt) e que, talvez, tenha percorrido o Rio da Prata antes dos espanhóis.Acredita-se que, por essa ocasião, terminou o Trato com Fernão de Loronha ou que o mesmo possuísse novoarrematante, o armador Jorge Lopes Bixorda.Diversos navios ou armadas aportavam nas costas brasílicas em demanda das Ín dias ou delas, de retorno,paravam para se abastecerem de água e alimentos.Foram essas expedições que, por vezes, largaram degredados ou que, sofrendo naufrágios, proporcionaram oaparecimento, em diversos pontos da costa, de portugueses que representara m o traço de união entre os indígenas e afutura colonização. Destacaram-se Diogo Álvares Correia, apelidado Caramuru, João Ramalho, Cosme Fernandes,

conhecido como o Bacharel de Cananéia, Antônio Rodrigues, Francisco de Chaves e Aleixo Garcia, que chegou a terrashoje pertencentes ao Paraguai e Bolívia precedendo, nessas regiões, os espanhóis, encontrando a morte nas mãos dosíndios guaranis.Por essa época, a terra descoberta começou a ser chamada de Brasil. A origem desse nome pode se prender àcor de brasa da madeira (vermelha) que existia em abundância no litoral, pode ser uma corruptela do italiano versíno ouversil, nome de madeira de tinta proveniente do Oriente ou da geografia medieval que havia inventado uma ilha no MarTenebroso (oceano Atlântico) chamada Barzil ou Bersil, onde existiam muitas riquezas, inclusive e sobretudo o versil.Ora, fácil foi os navegantes identificarem a terra encontrada com a lendária ilha. Lá, em 1503, Giovani da Empoli dizia:"... la terra della Vera Croce ouer del Bres il cosi nominata" (in Viaggio Fatto nell’India, Venetia, 1554). Denominavam -se brasileiros todos aqueles que comerciavam com o pau -de-tinta.Durante esse período, andou velejando em nosso litoral o português João Dias de Solís (1515 a 1516) a serviçode Castela, na tentativa de encontrar uma passagem para as índias. O mesmo fez outro português (igualmente a serviçode Castela), Fernão de Magalhães (1519), o qual, tendo permanecido 13 dias na Baía de Guanabara, nos últimos dias dedezembro, batizou involuntariamente a região com o nome de Rio de Janeiro. E, mais feliz que seus antecessores,descobria a tão cobiçada passagem no extremo sul da América. Mais tarde, 1526, o veneziano Sebastião Cabotopercorreu a costa brasileira (suas viagens de ponto a ponto da costa deu origem ao estilo de navegação que foi batizadomais tarde de cabotagem).O pau-de-tinta atraiu também os franceses, corsários a mando do Rei Francisco I (este monarca desconhecia o"Testamento de Adão” que havia dividido o mundo em duas metades para os reis de Portugal e Espanha, seus primos).Ele enviou corsários (entrelopos) com o objetivo de apanhar a madeira. Conhecemos bem a expedição do navio Espoir,comandado por Binot Paulmier de Gonneville, que percorreu a Baía de Todos os Santos, em 15 04. Jean Parmentier,francês de Dieppe, velejou do Amazonas ao Prata, por volta de 1525 (citado em Ramúsio: Delle Navigationi ed viaggi,III); mas muitos outros navios dos estaleiros de Jean Ango certamente aqui estiveram. Hábeis no trato com osindígenas, esses mairs (como eram chamados os franceses pelos indígenas) gozavam de maior simpatia. Por isso, D.Manuel I determinou que Cristóvão Jaques, descendente de ilustre família aragonesa e fidalgo da Casa Real, e os doisnavios a seu comando policiassem o l itoral, o que pouco adiantou. Essa viagem durou de 21 de junho de 1516 a 9 demaio de 1519; Jaques fundou uma feitoria na Ilha de Itamaracá (em Pernambuco).De novo, o rei enviou Cristóvão Jaques ao Brasil, com dois navios, em 1521, em uma viagem dereconhecimento pela costa meridional: a crítica história moderna, baseada em documentação irrefutável (carta de Juande Zúniga ao Imperador Carlos V, existente no Arquivo Geral de Simancas), conclui que Jaques penetrou no Rio daPrata e explorou o Rio Paraná.Morrendo D. Manuel I em 1521, subiu ao trono D. João III; as noticias que chegavam à Corte de Lisboa de quenavios franceses estavam sendo armados para efetuarem o corso nas terras brasileiras levaram o monarca a incumbir omesmo Cristóvão Jaques, em 1527, de idênticas funções policiadoras, com uma nau e cinco caravelas, mas Jaquesprocurou desencumbir-se da missão. Sabemos ter havido cruento combate na Baía de Todos os Santos. É possível quetenham ocorrido outros encontros com corsários, mas, sozinho, pou co podia fazer. Em 1528, Jaques regressou aPortugal, Substituiu-o Antônio Ribeiro, sobre o qual nada sabemos. E, finalmente, exerceu esta atividade DuarteCoelho, entre 1530 e 1531, tendo combatido os índios caetés que favoreciam os franceses.Durante esses trinta anos, os portugueses, pêros para os indígenas, mantiveram contatos amistosos com os

naturais, os quais se prestaram bem na exploração da madeira. O homem de pele branca despertava curiosidade e umirresistível atrativo para a mulher indígena. El e significava superioridade.Algumas feitorias, escassamente habitadas, começaram a povoar a costa: havia a de Cabo Frio, uma na Baía deTodos os Santos, cujo feitor chamava -se João de Braga, e outra no litoral de Pernambuco.87O Período Colonial (1530 – 1808):A Expedição de Martim Afonso de Sousa:Tendo em vista a rápida decadência das índias, nas quais Portugal estava perdendo homens e dinheiro e nãomais adquirindo os fabulosos lucros iniciais, resolveu D. João III voltar -se para o Brasil. O próprio Cristóvão Jaquespropunha ao rei começar a colonização.Passados 30 anos da chegada de Cabral, diante da progressiva crise do comércio com o Oriente e das ameaçasestrangeiras ao domínio sobre seu território na América, Portugal voltou -se para a efetiva colonização dessas terras.Foram organizadas expedições colonizadoras, sendo a primeira delas a comandada por Martim Afonso de Souza, queaqui chegou em 1531.Nomeado capitão-mor da esquadra e das terras coloniais pelo rei de Portugal, Martim Afonso chegou trazendohomens, sementes, plantas, ferramentas agrícolas e animais domésticos. Estava imbuído de amplos poderes paradescobrir novas riquezas, combater estrangeiros, policiar, administrar e povoar as terras coloniais. Consigo embarcaramcerca de 400 colonos, entre os quais Vicente Lourenço, piloto -mor, Pedro Anes, que conhecia a língua dos indígenas,Pero Cápico, depois escrivão em S. Vicente, Henrique Montes, que acompanhara Solis na expedição ao Prata eregressara a Portugal com Caboto, e o seu irmão Pero Lopes de Sousa. Todos em duas naus, um galeão e duascaravelas.Partiram de Lisboa, a 3 de dezembro de 1530. Em janeiro chegaram ao cabo de S. Agostinho, onde apresaramtrês navios franceses, sendo os mesmos incorporados à armada portuguesa. Dio go Leite recebeu incumbência de, comas duas caravelas, percorrer o litoral norte, acreditando -se que, provavelmente, velejou até a foz do Rio Gurupi. Aesquadra continuou viagem rumo sul, parando na Baía de Todos os Santos, onde os portugueses entraram em contatocom Caramuru. Prosseguindo, em meio a fortes ventos e chuvas, aportaram, a 30 de abril, na Baía de Guanabara, ondeMartim Afonso permaneceu três meses. Reaparelhou os navios, ordenou a confecção de dois bergantins de 15 bancos,fez pequenas explorações perto do litoral e mandou construir uma casa sólida na embocadura de um rio, a qual foichamada pelos índios de carioca (a casa do branco).Além de organizar expedições que penetraram no território para reconhecimento e busca de riquezas, MartimAfonso dirigiu-se à foz do rio da Prata, no sul, para efetivar o domínio luso diante da crescente presença espanhola naregião. Lá aprisionou vários navios piratas franceses.Colocando em prática sua política colonizadora, iniciou a distribuição de sesmarias (lotes de terra) aos novoshabitantes que se dispusessem a cultivá -las, bem como a plantação da cana -de-açúcar e a construção do primeiroengenho da colônia. Um ano antes de partir para Portugal, havia fundado, em 1532, as vilas de São Vicente e SantoAndré da Borda do Campo, respectivamente, no litoral e no interior do atual estado de São Paulo.Suspenderam em direção sul até a Ilha de Cananéia (atual ilha de Bom Abrigo), onde ficaram 44 dias.Instado por Francisco de Chaves e pelo Bacharel de Cananéia, que afirmavam serem grandes as riquezas do interior, ocapitão-mor mandou que alguns homens (talvez 80), chefiados por Pero Lobo, penetrassem em busca delas guiados porChaves, mas eles nunca voltaram. Continuaram rumo sul. Na entrada da Lagoa dos Patos u m bergantim desapareceu,em virtude do mau tempo. Tendo o capitânia naufragado, na Punta del Este de Maldonado, pararam na ilha da Palma.Martim Afonso determinou que seu irmão inspecionasse o Rio da Prata, com um bergantim e 30 homens. Pero Lopes

nada encontrou de importante. Martim Afonso aguardou o retorno do irmão e, juntos, rumaram para o norte. No dia 20de janeiro, entraram na enseada de São Vicente. A terra pareceu tão convidativa que decidiram erigir neste local umapovoação. Assim, no dia 22 de ja neiro de 1532, Martim Afonso fundou uma vila na ilha de São Vicente. Nessa regiãovivia um português entre os índios chamado Antônio Rodrigues. No alto da serra onde João Ramalho, tambémportuguês, vivia, Martim Afonso lançou as bases de outra povoação: Pi ratininga (de curta vida). Iniciou -se a agriculturade tipo europeu e aclimatou-se a cana-de-açúcar.Tendo em vista o mal estado dos navios, resolveu -se que Martim Afonso permaneceria em São Vicente e quePero Lopes retornaria a Portugal (utilizando as me lhores embarcações), a dar conta ao rei do que se havia passado. A 22de maio, partiu Pero Lopes.No litoral de Pernambuco deu combate e se apoderou de duas embarcações francesas; em seguida, atacoupoderoso fortim francês, comandado pelo Senhor de La Mot te, guarnecido com 70 homens, conseguindo dominar seusocupantes, depois de 18 dias de lutas. Pero Lopes fez erigir uma fortificação (em Igaraçu), na qual deixou homenscomandados por Vicente Martins Ferreira,Nessa mesma ocasião, a esquadra portuguesa de Antônio Correia aprisionava, na costa espanhola daAndaluzia, a nau La Pélerine (15/08/1532), contendo muitos toros de pau -brasil, algodão, papagaios e outrasmercadorias. D. João III amadurecia os planos de colonização mais abrangente.O Dr. Diogo de Gouveia, que dirigia em Paris o Colégio de Sainte Barbe, argumentou a necessidade de umacolonização mais eficaz; sua carta ao soberano português, escrita em Rouen, é datada de 01/03/1532. Em carta enviadaa Martim Afonso (por João de Sousa), escrita em 28 d e setembro, o rei lhe comunicava o propósito de dividir o Brasilem capitanias hereditárias. Martim Afonso regressou ao reino depois de 13 de março de 1533, deixando o PadreGonçalo Monteiro para dirigir os negócios de sua capitania.88O Projeto Agrícola da Exploração Colonial Portuguesa:A partir do século XV, políticas colonizadoras diferenciadas marcaram a integração do continente americano àvida política e, principalmente, econômica européia. Parte da América do Norte foi colonizada por ingleses co mo umaregião de povoamento, embora o Sul do território dos atuais Estados Unidos fosse uma região de exploração.Já a colonização ibérica na atual América Latina caracterizou -se por basear-se no domínio monopolistametropolitano, a serviço do Estado e de sua classe mercantil, que tinha interesse em assegurar a posse e a exploraçãocolonial e executar a administração e a fiscalização.Pelas características peculiares tanto da realidade da colônia portuguesa quanto da expansão lusa, acolonização optou pela agricultura. Também diferentemente das colônias espanholas, caracterizadas pela atividademineradora, não foi possível a utilização em larga escala da mão -de-obra indígena. Pelo menos não em longo prazo,visto que na colônia (a essa altura já denominada Brasil), a população nativa era relativamente pouco numerosa e foirapidamente exterminada na faixa litorânea.Para viabilizar a ocupação e o povoamento da colônia, a Coroa portuguesa recorreu ao cultivo da cana -deaçúcar,pois aqui, ao contrário do que o correra nas áreas de dominação espanhola, não foram descobertas jazidas demetais preciosos.Levado da Ásia para a Europa por árabes e cristãos engajados nas cruzadas durante a Idade Média, o açúcar erauma especiaria das mais valiosas no início do século XV. Chegou a fazer parte de dotes de rainhas e princesas e eracomercializado a preços elevados, garantindo alta lucratividade aos mercadores.Embora Portugal já conhecesse a agricultura da cana -de-açúcar desde o século XIII, foi só na segunda metadedo século XIV, com D. Henrique, o navegador, que a atividade açucareira ganhou amplitude e deixou de ser umaprodução limitada e isolada, Essa mudança deu -se graças à instalação de engenhos na ilha da Madeira, seguida deavanço das técnicas de cultivo e grand e utilização da mão-de-obra escrava, trazida das regiões conquistadas da costaafricana. Assim, as lavouras de cana espalharam-se pelos arquipélagos atlânticos, ganhando importância também nos

arquipélagos dos Açores, de Cabo Verde e nas ilhas de São Tomé e Príncipe.A conseqüente aproximação de Portugal com os mercadores e banqueiros de Flandres (norte da Europa),responsáveis pelo financiamento, refino e distribuição do açúcar, possibilitou o acesso dos portugueses à infra -estruturacomercial européia, controlada pelos holandeses, bem como ao seu abundante capital, para o financiamento doempreendimento agrícola brasileiro.De posse dessas condições, Portugal tinha ainda a solução para o problema da mão -de-obra, podendo dar inícioa um empreendimento de tão vastas proporções. A escravidão era a muito praticada por europeus e árabes na Áfricanegra. Foi considerada uma instituição justa, quando, no seu início, os portugueses escravizavam os mouros,considerados infiéis pelos cristãos. A "infidelidade" reli giosa acabou sendo também estendida aos negros africanos nãoislâmicos, legitimando sua escravização.Os negros africanos compunham mão -de-obra compulsória e abundante, fundamental para a implantação daindústria canavieira em um extenso território. Dois fatores explicam, em resumo, o emprego do trabalho escravoafricano em maior escala quando comparado ao indígena: os interesses ligados ao tráfico negreiro, que logo se tornouum empreendimento altamente lucrativo para a Coroa e mercadores portugueses, e o simples desaparecimento dapopulação indígena da área açucareira.O Sistema de Capitanias Hereditárias:Os resultados proveitosos que o sistema de capitanias alcançou em diversas ilhas portuguesas, especialmentena Madeira, levaram o rei a empregá -lo igualmente no Brasil. Resumia -se em doar o uso de pedaços de terra a cidadãosescolhidos, que possuíssem fortuna própria e que pudessem correr os riscos existentes.Devemos, hoje, admirar a notável estratégia empregada pelo governo português: destituído de recursospecuniários para empreender a ocupação da terra brasileira, acenou com largas perspectivas para que algunsempresários arcassem com o ônus e enfrentassem o incógnito, permanecendo a Coroa à espera dos lucros futuros.Foi, então, o Brasil dividido em 15 grandes lotes de terra, mediante várias paralelas que partiam de pontoconhecido da costa (na verdade 14 capitanias) e terminavam na incerta linha de Tordesilhas, entregues a 12 homens deconfiança durante o ano de 1534. Pertenciam à baixa nobreza e já haviam prestado importantes serviços ao rei. Épossível que o mapa de Gaspar Viegas tenha servido de base para as divisões territoriais.Cada donatário recebia uma Carta de Doação, documento pelo qual se efetivava a doação do uso, com adescrição da terra e a outorga da governança da mesma, com o título de capitão -mor, explicitando seus direitos edeveres; e um Foral, que fixava os direitos, deveres, foros, tributos e coisas que os futuros colonos deviam ao rei ou aocapitão-donatário.O capitão-donatário não se tornava proprietário da capitania: ficava na sua posse, que era transmitidahereditariamente em linha masculina, preferentemente, sem ser objeto de negociações ou partilha. Exercia a justiça,podendo até condenar à morte, nomeava funcionários, doava terras para cultivo (sesmarias), mantinha propriedadeplena em determinada área escolhida, cobrava impostos à população (5% do pau -brasil e do pescado, 1% dos impostospagos à Coroa, postagens e 500 reis anuais dos tabeliães). Podia acoitar e homizi ar réus julgados e condenados no reinoe em outras capitanias, com a finalidade de facilitar o povoamento. Tinha o direito de fundar vilas, o que, em Portugal,era atribuição exclusiva do rei. Era -lhe permitido reduzir os naturais ao cativeiro e vendê -los em Portugal até o máximo89de 39 por ano. A Coroa reservava -se o direito de cunhar moedas e estipulava como rendas o quinto (20%) dos metais epedras raras, a dizima das colheitas (10%), a vintena do pescado (5%) e o monopólio do pau -brasil (estanco).Aos donatários cabia ocuparem as suas terras e iniciarem o povoamento e a obtenção de lucros. Os que seaventuraram em plagas americanas tiveram de enfrentar dificuldades enormes com os índios, que não compreenderam,com o ambiente geográfico hostil e com a fal ta de recursos. Por isso, formou-se a opinião que o sistema resultou em umfracasso, que é um erro, Foram as capitanias que iniciaram a ocupação efetiva do litoral e mantiveram um estado dealerta, impedindo a conquista estrangeira, ao mesmo tempo em que o português impunha a sua cultura ao gentio.Vejamos como os donatários se houveram com suas capitanias. Antônio Cardoso de Barros não se preocupou

com sua terra. João de Barros, Fernão Álvares de Andrade e Aires da Cunha associaram -se e enviaram uma expediçãoque alcançou poucos resultados, perdendo a vida este último no naufrágio da capitânia. A vila de Nazaré desapareceuem três anos. A tentativa de Luis de Melo em 1554 acabou fracassando, motivo pelo qual as capitanias ao norte da deItamaracá ficaram sem colonização.A capitania de Pero Lopes (que, como seu irmão, não regressou ao Brasil, desaparecendo em naufrágio nacosta de Madagascar), em Itamaracá, permaneceu vítima das incursões de franceses que instigavam os indígenas contraos portugueses; administrou-a Francisco de Braga e, após a morte de Pero Lopes, João Gonçalves. As lutas contra osselvagens não permitiram o seu progresso e o da pequena vila de Conceição. Os outros quinhões de Pero Lopes nãoreceberam atenção. Pero Góis da Silveira erigiu n a sua capitania de São Tomé a vila da Rainha, mas não conseguiuapaz com os índios goitacás, e a região permaneceu no abandono. Vasco Fernandes Coutinho emigrou com toda a suafamília para sua capitania do Espírito Santo; fundou uma vila (Vila Velha) e in iciou a plantação do açúcar. Em 1558,fundou a vila de Vitória. Retirou-se para a Europa (Lisboa), deixando em seu lugar D. Jorge de Menezes, que não soubeevitaras dissensões com os indígenas. Coutinho renunciou, após vinte anos, os seus direitos. Em Port o Seguro, Pero deCampos Tourinho fundou a vila do mesmo nome e, facilitado pela acolhida dos índios tupiniquins, pôde expandir opovoamento em direção ao interior com o nascimento de núcleos, como Santo Amaro e Santa Cruz. Essa harmonia foiquebrada em 1550 quando morreu Tourinho, e seu filho, Fernão, mostrou -se incompetente e despertou a fúria dosíndios aimorés. A irmã de Fernão, Isabel, vendeu os direitos da capitania ao Duque de Aveiro. A capitania da Bahiapossuía habitantes antes da criação das donat árias; seu capitão, Francisco Pereira Coutinho, transportou -se para ela comcolonos em sete navios e teve o apoio de Diogo Álvares. Foi levantada uma vila, chamada do Pereira (1535). Após osprimeiros momentos de tranqüilidade, os abusos dos portugueses pr ovocaram a revolta indígena, e Coutinho e sua gentemorreram nas mãos dos tupinambás. Em 1548, esta capitania reverteu à Coroa. Jorge de Figueiredo Correa, donatáriode Ilhéus, mandou instalar uma povoação com o nome de São Jorge dos ilhéus, mas nunca piso u em suas terras,deixando a sua administração para o castelhano Francisco Romero. Seus filhos e herdeiros, Jorge e Jerônimo,venderam-na ao comerciante italiano radicado em Lisboa, Lucas Giraldes.Duas capitanias, a de Pernambuco, de Duarte Coelho, e a d e São Vicente, de Martim Afonso (que não maisretornou ao Brasil), prosperaram, tendo em vista o êxito da plantação de cana e a aliança com os índios locais.Engenhos moíam a cana, e o português ia substituindo a simples exploração do pau -brasil pela produção açucareira.Duarte Coelho fundou, na sua capitania, a vila de Olinda, em 9 de março de 1535, recebendo muitos colonos do reino ede outras capitanias; Recife, à beira d'água, nasceu no ano seguinte. Na de São Vicente, Braz Cubas deu início aopovoado de Santos (1545) que se desenvolveu com rapidez. Alguns estrangeiros (os Adorno de Gênova e os Schetz daHolanda) contribuíram para o progresso da capitania. Um engenho, chamado de São Jorge dos Erasmos, foi o primeiroexistente. Enfrentaram, também, as sua s dificuldades: a primeira, o ataque a Igaraçu pelos índios, descrito por HansStaden, e a segunda, a desconhecida "guerra do Iguape", motivada pelo Bacharel de Cananéia e espanhóis de RuyMosqueira, foragido da expedição de Caboto, que naquele local passa ram a residir (1534), expulsos todos pela gente deSão Vicente. Seus habitantes compreenderam a necessidade de organizarem uma defesa; seguindo o modelo português,a ordenança foi formada em 9 de setembro de 1542, integrada por portugueses e tupiniquins am igos. Nesse mesmo ano,a primitiva vila mudou-se para terra firme.

Durante 15 anos uma nova paisagem se criara. Onde antes existiam matas e algumas feitorias para arrecadaçãodo pau-brasil, agora frutificavam povoados e vilas. Em 1539, Belchior Camacho re cebeu em capitania a ilha daTrindade.Apesar de iniciado o povoamento, os corsários não tinham desistido do Brasil, edificando feitorias nos locaisabandonados pelos portugueses. Em muitos pontos, com o êxito da colonização dependia de se organizar a lut a contraos indígenas a fim de permitir o desenvolvimento da agricultura. Esses fatos e mais a decadência do comércio com asíndias levaram o Rei D. João III ao estabelecimento de uma administração centralizada na terra do Brasil.A Centralização do Governo:Diante das dificuldades existentes, os donatários e vários colonos apelaram ao rei, pedindo o seu auxílio. D.João resolveu atendê-los, dando um corretivo no sistema instituído, sem, contudo, modificá -lo.Encarregou D. Antônio de Ataíde, Conde da Ca stanheira, de organizar uma regulamentação que, aprovada a 17de dezembro de 1548, criava um governo no Brasil, sem extinguir o sistema de Capitanias Hereditárias, antes,completava-o, centralizando-o. O Regimento Castanheira possuía 41 artigos e sete supl ementares regulando as funçõesdo governador.Ao governador (que só foi denominado geral depois de 1577) incumbia “ dar favor e ajuda as outraspovoações e se ministrar justiça e prover nas cousas que comprirem a meu serviço e aos negócios de minha fazenda e abem das partes”. Colocava-se, ele, acima dos donatários pois representava a própria pessoa do rei. Ficava, assim, com a90alçada judicial, única modificação expressiva na autoridade dos donatários. Estes continuavam a comandar as forçasmilitares em suas respectivas capitanias; mas o governador detinha a autoridade militar sobre todo o território brasileiro.O governador não devia interferir nas capitanias a não ser quando solicitado, para restabelecer a ordem ou pordesrespeito do donatário. Ao governa dor cabia desenvolver a economia e aumentar a produção açucareira. O mesmoregimento criava os cargos de ouvidor geral, superior aos magistrados existentes, provedor -mor da Fazenda, parafiscalizar a arrecadação de impostos de todas as capitanias, e capitã o-mor da Costa, para comandar as operações navaiscontra invasores. Tais cargos deviam melhor prover a administração. Finalmente, proibiu a escravização do silvícola,exceto para os que fossem capturados em "guerra justa".Para a sede do governo, D. João III escolheu a Capitania da Bahia, retomada pela terça (pensão) de 400 mil réisanuais ao filho de Francisco Pereira Coutinho, falecido. Surgia, assim, a primeira Capitania Real ou da Coroa. Aomesmo tempo, estabelecia que nela fosse fundada a primeira cid ade, Salvador, capital da Colônia.Os Governadores Gerais:1) Tomé de Souza:O primeiro governador tinha de reunir boas qualidades de administração e comando. A Carta Régia de 7 dejaneiro de 1549 nomeava Tomé de Souza (primo de Martim Afonso e do Cond e da Castanheira) para exercer o difícilencargo; fidalgo austero, adquirira fama nas guerras da África como militar de valor. A 29 de março, aportava na vilado Pereira trazendo Pero Góis da Silveira como Capitão -mor da Costa, Antônio Cardoso de Barros, c omo Provedor-morda Fazenda, Pero Borges, Ouvidor -geral, e o Padre Manoel da Nóbrega, chefiando seis jesuítas, além de colonos,seiscentos soldados, quatrocentos degredados e operários sob as ordens do mestre Luis Dias.Escolheu um sítio elevado, em frent e à vila do Pereira, e nele ergueu Salvador, que permaneceu a capital daColônia por dois séculos. Dedicou os primeiros momentos da sua administração a essa tarefa, recebendo ajuda deCaramuru, de um castelhano chamado Filipe Guilhem e dos índios tupinambá s, aos quais apavorou com os canhões quetrouxera.Desenvolveu a cultura da cana -de-açúcar, introduziu o gado vindo de Cabo Verde, doou sesmarias, tendo -setornado famosa a Casa da Torre de Garcia d'Ávila, que se dedicou à criação extensiva de bovinos. Or ganizou umaentrada em busca de metais preciosos, comandada pelo castelhano Francisco Brueza de Espiãosa, que nada encontrou.

Tomé de Sousa revelou-se um sábio administrador: a todos cativou, apesar de, algumas vezes, ter sido muitoenérgico. Fez uma viagem demorada pelas capitanias; encantou -se com a beleza selvagem da Guanabara; admirou oprogresso de São Vicente, acabando de erguer a fortaleza da Bertioga; reconheceu a fundação das vilas de Santos eSanto André de Borda do Campo (08/04/1553), iniciativa de João Ramalho, e criou a vila de Itanhaém. Durante o seugoverno, em 1551, o Papa Júlio III criou o primeiro bispado, vindo exercer a função D. Pero Fernandes. Os jesuítasiniciaram a catequese e o ensino, tendo sido fundado o colégio da Bahia, ao lado da igreja da Ajuda, por eles construída.Em 1551, diversas moças órfãs chegaram a Salvador.Entregou a administração ao seu sucessor, em 13 de julho de 1553. Por essa época, esteve Hans Staden, pelasegunda vez, em terras brasileiras, Embarcado na armada de Diego de Senabria que se dirigia ao Prata, naufragou,sendo acolhido em São Vicente na casa de seu patrício Heliodoro Eoban. Foi contratado para servir na Bertioga, mas sedescuidou e caiu prisioneiro dos indígenas. Outro alemão, Uirich Schmidel, natura l de Straubing, acompanhou D. Pedrode Mendonça ao rio da Prata, aventurando -se, depois, em nossas terras, atingindo São Vicente em junho de 1553,deixando interessante relato muito elucidativo desta fase de nossa história.2) Duarte da Costa:Para substituir Tomé de Sousa, o rei escolheu Duarte da Costa, Armeiro -mor do reino, nomeado a 1º de março,mas só a 13 de julho de 1553 chegava a Salvador, trazendo 260 pessoas, entre as quais estava um filho seu, Álvaro,herói das lutas nas índias, e o jesuíta Lu is da Grã, com alguns padres e o irmão José de Anchieta.Talvez animado de bons desejos, Duarte da Costa não pôde demonstrá -los. Faltavam-lhe a prática do mando ea experiência da guerra. O seu governo foi logo agitado pelo desentendimento entre seu filho , mais liberal, e o bispo,intransigente. A população dividiu -se, prejudicando a administração, diminuindo a autoridade do governador. O reichamou o bispo a Lisboa, a fim de pessoalmente lhe relatar os acontecimentos. Embarcou no navio N. S da Ajuda, e,quando este passou nos Baixios de D. Rodrigo, naufragou; apanhado pelos caetés (onde hoje é a praia do Francês,Maceió, Alagoas), junto com os 95 que se salvaram, sofreu suplício, a 15 de junho de 1556, em ritual mágico -religioso(escaparam um português, "l íngua", e dois escravos índios, portadores das notícias). A atitude dos caetés valeu -lhesrepresália implacável e uma mudança política em face das populações indígenas.Difícil, hoje, concluir quem estava com a razão; contudo, sem o concurso de D. Álvaro, os indígenas nãoseriam expulsos do Recôncavo (1555).A 25 de janeiro de 1554, os jesuítas, tendo à frente Nóbrega, Provincial da Companhia, fundavam o Colégiodos Meninos de São Paulo, em Piratininga, origem da cidade de São Paulo.Sem que Duarte da Costa pudesse impedir, os franceses, comandados por Nicolau Durand de Villegagnon,instalavam-se, em 1555, na Baía de Guanabara. Amargurou -o a impossibilidade de reagir, bem como a morte do rei D.João III, seu protetor (11/06/1557); na vila do Pereira, morr ia Diogo Álvares, o Caramuru. Duarte da Costa terminou o91seu governo (1558) enfrentando revoltas indígenas em Pernambuco, no Espírito Santo, em Porto Seguro, bem como, nosul, os tamoios, liderados pelo feroz Cunhambeba, ameaçaram os colonos.3) Men de Sá:Para substituir Duarte da Costa, o Rei D. João III escolheu um homem (Carta régia de 23/07/1556) consideradovirtuoso e de grande cultura jurídica (era desembargador da Casa de Suplicação e irmão do poeta Francisco Sá deMiranda). Men de Sá aportou em Salvador a 28 de dezembro de 1557 (mas só assumiu o cargo a 3 de janeiro), sabendoque teria dois problemas graves a enfrentar: pacificar a população da capital, agitada com os eventos do governoanterior, e expulsar os franceses da Guanabara.Começou por adotar diversas medidas repressivas contra os abusos do povo, especialmente o jogo.Desenvolveu a agricultura da cana -de-açúcar, em parte negligenciada. Construiu um engenho real, a fim de atender aoslavradores mais modestos. Incentivou a formação de ald eamentos indígenas, proibindo que se dessem aguardente earmas aos índios. Combateu os goitacás (do Espírito Santo), que se submeteram após vários combates (sendo mais

importante a batalha dos Nadadores), num dos quais faleceu seu filho Fernão. Ao mesmo te mpo, Vasco RodriguesCaldas reduziu à obediência as tribos do Rio Paraguaçu, e Braz Fragoso amansou os aimorés. Organizou duas entradas,confiando uma à direção de Vasco Rodrigues Caldas (1561) e outra a Martim Carvalho (1568).Os caetés, declarados "fora da lei", acabaram desaparecendo, vítimas da “Guerra Justa”. E muitos outros índiostambém sucumbiram em decorrência da epidemia de varíola, que, trazida por embarcadiços portugueses, alastrou -seentre as povoações do litoral e interior próximo.Men de Sá chefiou uma expedição contra os franceses alojados na Baía de Guanabara; em virtude depersistirem esses estrangeiros na mesma região, a metrópole enviou reforços, sob o comando de Estácio de Sá, quetrazia instruções para fundar um núcleo português, a ci dade de São Sebastião, na área cobiçada pelos franceses, o quefoi executado em 1º de março de 1565. Permaneceram em lutas intermitentes cerca de dois anos. Men de Sá resolveu,então, retornar à Guanabara, em 1567, participando da expulsão dos franceses e transferindo a cidade para local maisadequado, visando ao seu desenvolvimento.A Sucessão de Men de Sá:A tarefa de Men de Sá estava cumprida, e ele pediu que o substituíssem. Estava velho, enfermo e saudoso dapátria. Numa carta desabafava: "... não parece justo que por servir bem, a paga seja terem -me degredado em terra deque tão pouco fundamento se faz ".Em 1570, o Rei D. Sebastião (governando desde 1568) designou D. Luiz Fernandes de Vasconcelos. Este,porém, não chegou ao Brasil. Suas seis naus, com colonos e 40 jesuítas, chefiados pelo Padre Inácio de Azevedo, foramatacadas por piratas franceses sob o comando de Jacques Sore (13/09/1571), na altura das Canárias. Conseguiu, o futurogovernador, escapar (o mesmo não acontecendo com parte dos jesuí tas atirados ao mar), tomando a direção dasAntilhas, rumando, em seguida, para os Açores. Com alguns reforços, dirigiu -se novamente para o Brasil, encontrando -se no caminho com outro pirata francês, Jean Capdeville. O governador morreu no combate que se t ravou, bem comooutros portugueses, sendo martirizados os jesuítas, em número de 13, que ainda restavam. Esses jesuítas foram todosbeatificados com o título de Os 40 Mártires do Brasil.Men de Sá prosseguiu governando, não mais contando com um auxiliar v alioso: o Padre Manoel da Nóbregafalecia no Rio de janeiro em 18 de outubro de 1570.Em 2 de março de 1572, morria Men de Sá em Salvador, deixando apreciável fortuna pessoal e rica em paz aterra que por tanto tempo governara. Foi sepultado na igreja dos padres da Companhia de Jesus.O Ouvidor-geral, Fernão da Silva, passou a responder interinamente. A vastidão territorial da Colônia levou ogoverno português a uma nova experiência para mais bem administrar. Assim, por ato de 10 de dezembro de 1572, oBrasil foi dividido em duas partes: o norte, com capital em Salvador, e estendendo -se até o Porto Seguro, e o sul, tendopor sede o Rio de janeiro.Recebeu o governo do norte Luis de Brito e Almeida, ficando com o do sul Antônio Salema, ambosexperimentados na administração. Luis de Brito preocupou -se com a exploração do interior, organizando diversasentradas com o objetivo de encontrar riquezas. Valeu -se de Sebastião Fernandes Tourinho, que subiu o Rio Doce, e deAntônio Dias Adorno, que entrou pelo Rio Ca ravelas. Nada, porém, descobriram. Os metais continuavam escondidos,desafiando a argúcia e o apetite dos colonizadores. Lutou contra os potiguares de Itamaracá, com pouco êxito. Iniciou,também, a conquista de Sergipe, obtendo resultados negativos, como a ntes já ocorrera com Garcia d'Ávila. AntônioSalema expulsou os franceses de Cabo Frio, numa audaz expedição de quatrocentos homens e setecentos índios, aomesmo tempo em que submeteu os tamoios. Isso permitiu a tranqüilidade para a população carioca,Por regresso ao reino de Antônio Salema (1577), Luis de Brito assumiu o governo voltando -se à administraçãounificada, por Alvará de 12/04/1577, nomeado, nessa mesma data, Lourenço da Veiga. Foi então, por isso, denominado

de Governo Geral.Luis de Brito exerceu o governo por mais alguns meses, passando -o a 1º de janeiro de 1578, Durante aadministração de Lourenço da Veiga houve tentativas de conquista da Paraíba e verificou -se a União Ibérica. Veigafaleceu em Salvador, a 04/06/1581.92A União Ibérica (1580 – 1640):O rei D. Sebastião (1557 a 1578), que substituía seu avô D. João III (que nove filhos tivera sem que algumtenha sobrevivido) aos três anos de idade, representou para os portugueses uma esperança. O monarca envolvido poruma educação anacrônica, acalentou a conquista do Marrocos. Seus conselheiros tentaram, em vão, demovê -lo. Ojovem rei arregimentou voluntários, alugou mercenários em Flandres, obteve homens da Espanha, sob o comando doCoronel Alonso Aguilar. Aprestou, assim, um exército de 18 mil homens que, sem algum preparo militar, desembarcavaem Tânger, na África. Caminharam a pé até Larache, seu objetivo. Contra eles Mulei Abdel -Malek reuniu grandesforças e os cercou em Kar -el-Kebir (Alcazer-Quebir) a 4 de agosto de 1578. A luta foi sang renta, e o rei sucumbiu como seu exército.Portugal ficava sem a sua mocidade, sem dinheiro, sem o seu rei e sem a vitória para compensar tão grandesperdas. O único herdeiro de D. Sebastião, seu tio -avô, era o cardeal D. Henrique, que, dos 13 filhos de D. Manuel I,conservava-se vivo. O Cardeal de 66 anos conseguiu governar Portugal durante dois anos, cercado de gente malévola einescrupulosa. Morreu sem indicar um sucessor, extinguindo -se com ele a dinastia de Avis (31/01/1580).Declarada a vacância do trono, diversos pretendentes apareceram, emergindo três candidatos compossibilidades concretas, por serem netos do Rei D. Manuel I: D. Catarina, Duquesa de Bragança, filha de D. Duarte,Duque de Guimarães; D. Antônio, Prior do Crato (isto é, chefe do ram o português da Ordem de Malta), filho de D.Luís, Duque de Beja; e Filipe II, que reinava na Espanha, filho de D. Isabel.As pretensões da duquesa se esmaeceram, preferindo, o povo, a D. Antônio; mas este tinha contra si ser filhonatural de mãe judia, pois D. Violante Gomes era uma cristã -nova. Venceu o rei da Espanha, inicialmente corrompendocom ouro a nobreza portuguesa; depois, com um rápido argumento: um exército de 25 mil infantes invadiu o reino lusosob o comando do Duque d'Alba.Aclamado em Santarém, aceito na capital, D. Antônio, que chegou a ter um curto reinado de um mês, esboçouuma fraca reação, com forças minguadas e irregulares, no encontro da Ponte de Alcântara. D. Antônio perdia e fugiapara os Açores. A 16 de abril de 1581, as Cortes re unidas em Tomar reconheceram Filipe II, Rei de Portugal, com otítulo de Filipe I. Abria-se uma nova fase histórica, comumente denominada de DOMNIO ESPANHOL. Na verdade, adesignação é imprópria, uma vez que existiu, apenas, uma UNIÃO REAL ou UNIÂO IBÈRICA , não se concretizando aanexação de Portugal à Espanha.Dos Açores, D. Antônio tentou uma reação. Pediu auxílio à rainha -mãe de França, Catarina de Médicis, quelhe enviou o primo, Filipe Strozzi, conhecido nauta florentino, com 50 navios. O prêmio para essa ajuda francesa era aparte sul do Brasil, sempre cobiçada pela França. O mesmo florentino rondou, com três navios, o Rio de janeiro:portava o título de vice-rei... Mas não conseguiu apoderar -se da cidade graças à habilidade da mulher do governador,Salvador Correia de Sá, ausente na ocasião. De Sevilha e Lisboa, lançou -se ao seu encontro D. Álvaro de Bazán,Marquês de Santa Cruz, com 34 galeões. A batalha ocorreu perto da Ilha Terceira (25/06/1582), com a derrota de D.Antônio e a morte de Strozzi e de D. Francisco Portugal, ativo auxiliar do Prior do Crato. O Brasil seria mesmo daEspanha, por algum tempo.A promessa de Filipe II de preservar relativa autonomia de Portugal e manter suas colônias sem submetê -las àEspanha, garantiu à colônia portugues a na América poucas mudanças políticas significativas. Houve apenassubstituição da metrópole que exercia o monopólio comercial e o controle administrativo. No entanto, o domínioespanhol acabou por abolir, na prática, as determinações do tratado de Tordes ilhas, o que favoreceu o avanço dos

colonos portugueses em direção ao interior, permitindo a expansão do território, estimulada principalmente pela buscade metais preciosos.Como se pode constatar, durante a União Ibérica, o Brasil teve governantes exclu sivamente portugueses.Contudo, uma nova paisagem se criara como conseqüência do período dos “Filipes”: o Nordeste e o Norte integravam -se ao território luso; a penetração para o interior se intensificara; criou -se um intercâmbio comercial no Cone Sul comos centros espanhóis localizados no Rio da Prata; nasceram diversos povoados e vilas; e expeliu -se os estrangeiros emquase todos os pontos litorâneos que tentaram se estabelecer.A Restauração em Portugal:O domínio dos Filipes reduzira, gradualmente, Portugal à miséria. Conduzido pelo Conde -duque de Olivares,mantinha-se dócil província de Espanha. A cobrança do imposto extraordinário de quinhentos mil cruzados fez explodirtumultos populares em Évora que se alastraram no Alentejo e Algarve, passando a o Minho, atingindo o Porto e Lisboa.Tropas espanholas investiram sobre terras lusas cometendo os mais reprováveis atropelos.O envolvimento da Espanha em diversos conflitos militares na Europa, porém, pôs seus inimigos contra acolônia portuguesa. Ingla terra, França e Países Baixos realizaram várias invasões ao território da colônia. Issoenfraqueceu a economia lusitana, acarretando um movimento pela restauração da autonomia.Uma revolução na Catalunha, tendo por fulcro Barcelona, ajudou os portugueses. Em 1639, começou afervilhar uma conspiração que encontrou apoio na nobreza e no clero, em especial os jesuítas. O povo aceitou satisfeito,pois jamais compactuara com o domínio espanhol.Depois de alguns momentos de indecisão, o Duque de Bragança foi ac lamado rei, em 1º de dezembro de 1640,com o nome de D. João IV, após uma rebelião vitoriosa em Lisboa. Os restauradores só se libertaram do domínioinaugurando o governo da dinastia de Bragança.93O Brasil recebeu a notícia em fevereiro de 1641 com alegria . O Marquês de Montalvão tratou de reconhecer onovo monarca (embarcando as poucas tropas espanholas e napolitanas existentes), o mesmo fazendo Salvador Correiade Sá e Benevídes no Rio de janeiro. Em São Paulo, a aclamação de Amador Bueno 24 não tem maior expressão: elareflete as ligações da capitania com as terras platinas.Para combater as dificuldades econômicas herdadas do período anterior, o novo monarca intensificou aexploração e reforçou a administração colonial, criando o Conselho Ultramarino. A c entralização política colonial e arigidez fiscalizadora da metrópole intensificaram-se com a ampliação dos poderes administrativos dos governos -gerais,que subordinaram colonos e donatários, e a eliminação progressiva das capitanias particulares. Os inúme ros choquesentre a Coroa e os interesses locais semearam as primeiras manifestações contra a autoridade metropolitana.As Invasões do Território Português Brasileiro:Os Franceses:Durante o século XVI, os corsários franceses freqüentavam o litoral br asileiro, retirando o ibirapitanga nativo,atividade que se mostrava cada vez mais arriscada, tendo em vista o progresso da colonização portuguesa. Melhor seriaempenharem-se na fundação de um núcleo permanente. A França vivia dias agitados; católicos e ca lvinistas(huguenotes) não se entendiam, e a intolerância desses grupos antagônicos provocava distúrbios políticos. Uma colôniana América serviria de refúgio a todos que desejassem viver e prosperar em paz.Constituíram, estas, as razões que nortearam a criação da França Antártica. Henrique II, reinando na França,resolveu enviar às terras brasileiras o piloto e cartógrafo do Havre, Le Testu, com o objetivo de colher informaçõessobre a costa. Essa viagem, ocorrida em 1551, teve a duração de seis meses. L e Testu confeccionou 56 portulanos.Concebeu a expedição colonizadora o Vice -Almirante da Bretanha (cargo político e não militar). NicolasDurand de Villegagnon, cavaleiro de Malta, senhor de Tercy, Marquês de Villegagnon e personagem de destaque naCorte francesa. Com habilidade, despertou o interesse do cardeal de Lorena, acenando -lhe com a difusão do

catolicismo, e do Almirante Gaspard de Coligny, simpático à Reforma, possuidor de valimento junto ao Rei HenriqueII. Uma viagem exploratória foi realizada por Villegagnon ao Brasil (com um ou dois navios), tendo os francesesvisitado a área de Cabo Frio e adjacências. Villegagnon concluiu ser a Guanabara o melhor sítio para instalar a suacolônia. Ao retornar para a França, conseguiu a aprovação de seu plan o e a dotação de dez mil francos.Com dois navios de 200t e um menor para carga e quatrocentos homens, católicos e huguenotes da ralé deParis e Rouen, a expedição largou do Havre em agosto de 1555 e entrou na Baía de Guanabara a lº de novembro domesmo ano, instalando-se numa ilha que os índios chamavam de Serigipe (hoje Villegagnon, onde funciona a EscolaNaval). Todos ajudaram a levantar um forte, que tomou o nome de Coligny, para servir de abrigo e defesa da posição.Villegagnon desenvolveu uma grande atividade. Impôs uma disciplina férrea entre os colonos que, por isso,passaram a detestá-lo, urdindo, mesmo, uma conspiração para matá -lo que, descoberta, levou à morte, na forca, doisresponsáveis. Conseguiu, porém, o chefe francês o desenvolvimento da colônia, a implantação de uma agricultura e aamizade dos índios tamoios (que o chamaram de Paicolás), por ele cativados com astúcia.Em 1557, chegou à Guanabara Bois -le-Comte, sobrinho de Villegagnon, com três navios, neles embarcadostrezentos colonos, cinco mulheres e teólogos calvinistas (Pierre Richer e Guillaume Chartier), provocando muitasdiscussões, bem ao sabor da época. Alguns insatisfeitos preferiram retirar -se do forte, estabelecendo-se na Carioca,construindo, ao lado, uma olaria: 1ª Briquete rie. Outros se embrenharam pelas matas.Desiludido, Villegagnon retornou à Europa (em 1559), prometendo voltar, o que nunca cumpriu, ganhando,assim, dos calvinistas, o apelido de Caim da América. Conseguiu, no entanto, uma indenização por parte do govern oportuguês e, do governo francês, uma carta de corso contra os portugueses; mas não a usou, preferindo negociá -la comPortugal, recebendo a soma de trinta mil ducados.O Governador Men de Sá encontrava -se em Ilhéus quando recebeu notícias dos franceses p or um quedesertara: Jean de Coynta, senhor de Bouléz, que, em troca da liberdade, lhe forneceu as informações que precisavasobre a posição militar de seus patrícios e do Forte de Coligny.24O primeiro fato histórico significativo e pitoresco do Brasil se deu por o casião da proclamação do paulistano Amador Bueno de Ribeira como reide São Paulo. Após a separação das coroas lusa e espanhola, e iniciada a restauração do Reino de Portugal, em 1640, parte da população da cidade,em geral de origem espanhola, decide proc lamar rei um de seus filhos mais ilustres. Alguns desejavam continuar fiéis ao reino de Castela, poisacreditavam que em breve estariam de novo sob sua autoridade. Mas, para não dar mostras de seu intento, esse grupo dizia apen as proclamar um filhode São Paulo como seu rei.Amador Bueno, entretanto, consciencioso e percebendo a artimanha das famílias espanholas, declinou o convi te. Porém,chegaram a jurá-lo de morte, caso ele não aceitasse a coroa paulistana.Ele, então, já seguido pelos gritos de muitos, refugia-se no Mosteiro de São Bento. O Abade e a comunidade monástica saíram para deter a multidão,que logo se conteve em respeito aos religiosos. Bastava gritar ao lado de fora do mosteiro sua aclamação. Aos poucos, os reli giosos foramconvencendo a população da falacidade do intento, até acalmarem-se e desistirem de vez do que planejavam fazer.

94A situação não permitia delongas; os jesuítas aconselhavam a fund ação de um núcleo na Guanabara: Nóbrega,em carta de 2 de setembro de 1557 ao Padre Miguel de Torres, em São Vicente, afirmava esse ponto de vista, "comosempre se desejou".Chegados, enfim, os reforços tão insistentemente pedidos, a 30 de novembro de 155 9, chefiados porBartolomeu de Vasconcelos da Cunha, Men de Sá reuniu mais homens, em duas naus e três navios menores, e dirigiu -separa a Guanabara. O ataque ao Forte de Coligny verificou -se a 15 de março de 1560; resistiram os intrusos por doisdias, Orientados por Bouléz, dois portugueses (Manoel Coutinho e Afonso Martins Diabo) conseguiram entrar no fortee explodir seu paiol de pólvora, causando grande confusão. Os franceses se retiraram escondendo -se nos matospróximos, com a ajuda dos tamoios; 74 ren deram-se, Esse combate é historiado em carta do Padre Nóbrega, que oassistiu, datada de 01/06/1560, ao Cardeal D. Henrique.Men de Sá limitou-se a arrasar o forte. Não dispunha de gente nem meios para criar um núcleo de povoamentopermanente, o que seria aconselhável. Da Guanabara, dirigiu -se a São Vicente e, depois, para Salvador. No EspíritoSanto, aceitou a renúncia do donatário Vasco Fernandes, nomeando Belchior de Azevedo para administrara região.Bouléz ficou em São Vicente mas, hostilizado pelos ha bitantes, foi remetido para Salvador, onde enfrentou processo

como herege, mandado, em seguida, preso, para a Inquisição de Lisboa e desterrado para a índia.Os franceses, orientados pelos tamoios, tomaram novas posições na Ilha de Paranapuan (hoje Govern ador).Insuflando os indígenas, conseguiram que o chefe Cunhambeba os reunisse para o ataque a São Vicente e ao Colégiodos Meninos de São Paulo. Compreendendo o perigo que se avizinhava das povoações portuguesas, o Padre Manoel daNóbrega e o irmão José de Anchieta entrevistaram-se com os chefes indígenas. Duraram cinco meses as negociações,três dos quais Anchieta ficou como refém (quando então compôs o poema à Virgem), terminando com o armistício deIperoig (próximo de Ubatuba): os portugueses não mais s eriam atacados (14.09.1563).Da terra do Brasil não cessavam de chegar a Lisboa pedidos no sentido de se fundar uma povoação no Rio deJaneiro. Constitui documento valioso a carta de Brás Cubas a D. Sebastião de 25 de abril de 1562.O Governador Men de Sá confiou a Estácio de Sá (seu primo ou sobrinho) a delicada tarefa de obter, na Corte,novos recursos contra os franceses e a licença para a fundação de uma cidade.A metrópole, compreendendo o perigo que representavam os franceses na Guanabara, resolvia enviar reforçossob o comando de Estácio de Sá, igualmente incumbido de fundar uma cidade, ponto de apoio para garantir o êxito daempresa.Com seis caravelas e duzentos homens, Estácio de Sá aportou a Salvador, em 1º de maio de 1563, onde obtevealguns voluntários. Logo, iniciou viagem para o sul, passando no Espírito Santo, ali apanhando o chefe Araribóia e seustemiminós, que se incorporaram à expedição com a finalidade de se vingarem dos tamoios. Estácio de Sá entrou naGuanabara, apresou uma nau francesa, tendo permanecido por dois meses observando as posições (janeiro/fevereiro de1564). Seguiu, depois, para São Vicente, onde passou o resto do ano em preparativos. No principio do ano de 1565,reuniu todos e, a 1º de março, chegou ao Rio de janeiro, d esembarcando em ponto estratégico previamente escolhido(hoje é a praça de esportes da Escola de Educação Física do Exército, na Urca), fundando, assim, a cidade de SãoSebastião do Rio de janeiro. Ergueram-se casas rústicas, em torno do marco da fundação, cercadas por um muroartilhado de madeira e barro; no centro instalaram a câmara e cadeia, a casa do governador e a capela, sob a orientaçãodo Padre Gonçalo de Oliveira e do irmão Anchieta, abrigando a estátua do Padroeiro. Nada de grandioso, apenas umestabelecimento militar. Os primeiros funcionários receberam suas incumbências.Durante dois anos, ficaram portugueses e franceses em luta, sem haver, contudo, um encontro aberto. Famosoficou o Combate das Canoas, durante o qual se diz ter aparecido o pró prio São Sebastião em auxílio dos lusos.Instado por Anchieta que, passando pelo Rio de janeiro, observara quão frágil era a posição dos portugueses,resolveu o governador dar uma ajuda pessoal. Aproveitando estar no porto de Salvador a esquadra (três gal eões) deCristóvão de Barros, nela embarcou -se, acompanhado do Bispo D. Pero Leitão, do Padre Inácio de Azevedo (visitadorda Companhia) e de muitos voluntários. Chegaram ao Rio a 18 de janeiro de 1567. Acertaram iniciar o ataque a 20, diado Santo Guerreiro, protetor da cidade e do Exército de Portugal. Em Uruçu -Mirim (hoje Glória), os franceses perderamheroicamente. Alvejado por uma seta ervada, Estácio de Sá entrou em agonia, morrendo um mês depois. A raridade dedocumentos não nos permite hoje conhecer esse personagem; situa-se entre os muitos jovens idealistas que Portugalproduziu, plasmando, com sua presença, os instantes decisivos do nascimento da cidade (a Igreja de S. Sebastião guardaseus restos mortais). Seguiu-se o ataque ao reduto de Paranapua n, com dois dias de duração.Expulsos os estrangeiros, resolveu o Governador Men de Sá garantir a posse da região contra outros ataques.Assim, no primeiro dia de março de 1567, transferiu a cidade para o Morro do Descanso, depois chamado do Castelo (jádemolido), porque todo o conjunto lembrava um castelo medieval, excelente sob o ponto de vista estratégico e livre dosares pouco salubres da baixada. Nomeando seu sobrinho Salvador Correa de Sá (04/03/1568) para o governo da cidade,

rumou satisfeito para o norte. Para Araribóia deu terras onde hoje é o Rio Comprido: em 1573, o chefe índio mudou -se,com sua gente, para o lado oposto da baía, conhecido por Praia Grande, fundando o aldeamento de São Lourenço, quedeu origem a Niterói (= água escondida). Toda a região foi erigida em capitania da Coroa, a segunda portanto. Apesarde pertencer a Martim Afonso de Sousa, que ainda vivia, por ele não foi reclamada.Os corsários franceses fixaram-se, então, em Cabo Frio. E não tardaram em investir sobre a desguarnec idaCidade do Rio de Janeiro. Em 18 de maio de 1568, surpreenderam os seus habitantes entrando, de imprevisto, na baíacom quatro naus, oito lanchas e várias canoas e se prepararam para o ataque à taba de Araribóia que ainda não se haviatransferido para a Praia Grande. Contando com pequeno reforço (35 homens) enviado pelo Governador Salvador Correade Sá, Araribóia optou por desferir um ataque de surpresa. O êxito obtido foi notável: em pouco tempo os invasorespartiram confusos e envergonhados.95Os habitantes da cidade, animados por essa vitória, resolveram persegui -los. Embarcaram em canoas e, a 8 dejunho, avistaram o reduto francês em Cabo Frio, protegido por uma nau de 200t. Iniciou -se o combate que pendeu paraos lusos após a morte do comandante franc ês atingido na viseira de sua armadura por certeira flecha. A nau, abordadaem seguida, caiu em mãos portuguesas; conduzida para o Rio de janeiro, teve a artilharia aproveitada para as defesas dacidade.No segundo governo de Salvador Correa (1577 a 1598) , o Rio de janeiro sofreu outra incursão de francesescomo resultado da ajuda que a Rainha Catarina de Médicis prestou a D. Antônio, Prior do Crato, a fim de que estepudesse obter o trono português vago com a morte do Cardeal D. Henrique em 1580. O floren tino Filippe Strozzi,primo da rainha, recebeu o título de vice -rei do Brasil e se apressou em vir apoderar -se do Rio de janeiro. Três nausapresentaram-se à entrada da Baía de Guanabara (1583). O governador achava -se ausente; mas a população, lideradapor sua mulher, D. Inês, acendeu fogueiras e iludiu os intrusos com falsos movimentos que deram a impressão degrande número de pessoas. O ataque não chegou a se consumar.Poidemil de Soson, capitão da nau Le Volant, guarnecida de 116 homens, aportou (1595) em Sergipe no desejode retirar madeira; capturados por Diogo de Quadros, foram, na condição de prisioneiros, para Salvador, morrendotodos enforcados. No mesmo ano, Elisee de La Tramblade, capitão da nau Le Saige, com 75 homens, visava igualmenteao comércio do pau-brasil; o Governador D. Francisco de Sousa, que os capturou, concedeu -lhes a liberdade, Ainda nomesmo ano, outros franceses desembarcaram em Ilhéus, afugentando os moradores e procuraram saquear as casas;alguns poucos destemidos, liderados pel o mestiço Antônio Fernandes, alcunhado de Catucadas, organizaram -se erevidaram contra os intrusos, logrando eliminar vários, inclusive o chefe, motivo pelo qual os gauleses se retiraram.Entre 15 e 18 de agosto de 1597, uma armada francesa, composta de 1 3 navios, investiu sobre o Forte doCabedelo, na Paraíba; o comandante, contando com 20 homens e cinco peças de artilharia, resistiu, morrendoheroicamente. Os franceses retiraram-se para o norte.Para os franceses seria mais seguro o estabelecimento de u ma empresa definitiva onde lançariam as bases deuma ocupação permanente. A costa equinocial do Brasil servia aos seus intentos.Entre 1596 e 1597, o Capitão Jean Guerard, de Dieppe, andou explorando a costa norte. É quase certo queoutros marujos franceses comerciaram com os tupinambás. Acredita -se que em 1594, Jacques Riffault, bom conhecedordesta costa norte do Brasil, imaginou criar uma colônia na região que permanecia abandonada. Regressando ao seu país,Riffault cativou um gentil -homem de Saint Maure de Touraine, chamado Charles des Vaux com o projeto de umestabelecimento duradouro no Maranhão. Armaram três navios e partiram em 15 de março de 1594, mas acabaramperdendo um deles em frente à Ilha Upaomeri (depois batizada de São Luís). Os franceses d eixaram-se ficar nela,misturando-se aos gentios, obtendo a sua estima. Desgostoso com seus companheiros, Riffault, reduzido a um úniconavio, retornou à França deixando ainda vários colonos sob a orientação de Charles des Vaux. Depois de alguns anos

aproveitando um dos navios de Dieppe, des Vaux conseguiu regressar à Europa e procurou interessar a Corte francesano sentido de erguer uma colônia naquelas paragens.O Rei Henri IV determinou a Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, de seguir para o Ma ranhão paraassegurar-se do que dizia des Vaux. La Ravardière deixou Cancale em 12 de janeiro de 1604 regressando em agosto. E,com o posto de vice-almirante da costa do Brasil, velejou, outra vez, para a América, em 1607, estando entre os seustripulantes des Vaux. Após 18 meses, retornou à França acreditando ser possível a colonização francesa na costaequinocial.O assassinato do rei (14/05/1610) impediu um apoio oficial e rápido. Parece que La Ravardière se entusiasmoucom as possibilidades da região. Mas a empresa exigia dinheiro. Depois de alguns meses, La Ravardière obteve oamparo de François de Rasilly, senhor de Aumelles, que obteve os bons ofícios do Conde de Soissons, Charles deBourbon, príncipe de sangue, bem como do banqueiro Nicolas de Harla y de Sancy, Barão de Bolle e de Gros -Boís. Em1612, concluíam-se os aprestos da expedição. Em três navios (Régent, Charlotte e Sainte Anne), Daniel de La Toucheembarcou colonos, soldados, fidalgos e quatro padres capuchinhos.Partiram de Cancale a 19 de março de 1612; passaram por Fernando de Noronha, costearam o Nordeste e, a 26de julho, aportaram a ilha do Maranhão. A 6, de agosto, começaram a erguer um povoado fortificado, com a ajudaindígena, inaugurando-o no primeiro dia de novembro de 1612, com o nome de São Luís.Na verdade, os franceses não alcançaram as riquezas prometidas nem encontraram metais e pedras com osquais sonhavam. Doenças e dificuldades várias geraram descontentamentos, diante das regras estabelecidas peloschefes, em observância aos desejos dos padres capuchos. A ausência da continuidade do amparo oficial contribuiu parao desânimo geral, apesar de Rasilly, que retornou à França em 7 de dezembro, ter pelejado pela empresa do Maranhão,conduzindo, mesmo, consigo alguns índios, que r eceberam batismo diante de Luís XIII. A ajuda que recebeu, de seismil escudos, da rainha-mãe serviu apenas para armar de novo o Régent e fazê -lo retornar ao Maranhão com algunsreforços (15/07/1614) e transportando dez padres capuchinhos sob o comando do Padre Archange Pembroke.Sabedores, os portugueses, desse estabelecimento francês, procuraram logo eliminá -lo antes que aumentasse. OGovernador Gaspar de Sousa organizou uma expedição com oito navios e a confiou a Jerônimo de Albuquerque, netodo tuxaua Arcoverde, tendo como segundo o Sargento -mor Diogo de Campos Moreno (que, em 1615, escreveu Jornadado Maranhão); a esta expedição agregou -se Martim Soares Moreno quando passou pelo Ceará. Nessa região, emJericoaquara, construíram um forte costeiro (N. S. do Rosário) e exploraram a terra e a marinha em direção aoMaranhão. Em cumprimento desta missão, Martim Soares fez -se tanto ao largo com o seu navio que se viu arrastadopelas correntes até as Antilhas de onde se passou à Europa.96Com segurança, avançou Albuquerque e desembarcou com seus homens em Guaxenduba (hoje Tajuaba), a 26de outubro de 1614; construíram um reduto, sob orientação de Francisco de Frias de Mesquita, e lhe deram o nome deS. Maria; contavam com trezentos soldados e duzentos índios.Não perderam tempo os franceses em atacá -los, a 11 de novembro, tomando três embarcações e fazendoprisioneiros, e a 19 (Combate de Guaxenduba) com duzentos homens brancos e 1.500 índios, todos em sete naus e 46canoas, combatendo-se com água pela cintura a maior parte desse dia. Ficaram mortos 115 franceses e prisioneiros,nove; Albuquerque teve 11 mortos e 18 feridos, entre estes um filho.Apesar da superioridade numérica, os franceses sofreram derrota tão grande que La Ravardière solicitou umarmistício, aceito imprudentemente por Albuquerque. Seguiram representantes diplomáticos para as respectivas corteseuropéias (Capitão Du Prats e Gregório de Albuquerque para Paris e Sargento -mor Diogo Moreno e Mathieu Maillardpara Lisboa), onde não despertaram inter esse. Albuquerque passou-se para a ilha, nela fundando o Fortim de S. José deItapari.

Ignorando a autorização do Rei Filipe II permitindo que os franceses permanecessem em terras do Maranhão, oGovernador Gaspar de Sousa determinou que Alexandre de Moura , Capitão-mor de Pernambuco, se preparasse pararepelir os franceses. O próprio governador deslocou -se para Recife a fim de, pessoalmente, incentivar os derradeirosaprestos.Assim, em outubro de 1615, grossos reforços (seiscentos soldados em nove navios) portugueses aportaram aoMaranhão, chefiados por Alexandre de Moura, que, juntando as suas forças com as de Jerônimo de Albuquerque,cercou a fortificação francesa (São Luís), guarnecida com duzentos homens e 17 peças de artilharia. La Ravardièreoptou pela capitulação firmada no dia 4 de novembro de 1615; no dia imediato, o forte foi entregue aos portugueses.Os franceses retiraram-se quase todos. La Ravardière e des Vaux foram conduzidos a Pernambuco e destacapitania para Lisboa, onde permaneceram enca rcerados na Torre de Belém, nela morrendo des Vaux. La Ravardière foisolto após três anos.Jerônimo de Albuquerque, que apos ao seu nome o de Maranhão, foi designado governador das terrasconquistadas.As Ações de Corsários Franceses no Rio de Janeiro:Nascera a Cidade do Rio de janeiro da luta contra os franceses de Villegagnon. Nascera militar. Encastoara -senuma elevação estratégica, logo conhecida como Morro do Castelo, provendo a sua defesa na construção de baterias epequenas fortificações. Eliminado o perigo francês, alijados estes do litoral sul, pôde os cariocas procurar os terrenossecos da várzea, onde se desenvolveu a cidade durante o século XVII. Caminhos e ruas se foram formando sem ordem,à medida que as casas iam sendo construídas ou que se erguiam as igrejas e conventos, maciços trabalhos que até hojeafrontam o tempo. Dedicando-se ao cultivo da cana-de-açúcar, à pesca da baleia dentro da baía, mas, principalmente, aocomércio, sendo importante o de escravos, a população da cidade prospe rou e aumentou no decorrer do século XVII,atingindo a casa dos dez mil. A descoberta do ouro no planalto trouxe a euforia a todos, sacudindo seus moradores damansa vida que por mais de cem anos desfrutavam. Trazia notoriedade para a cidade.E constituiu essa a razão principal que moveu Jean François Duclerc a tentar tomar o Rio de Janeiro em 1710.A cobiça do ouro. Auxiliou-o a política européia: Portugal aliara -se à Inglaterra pelo célebre Tratado de Methuen(1703), contrário à subida de Filipe d'Anjou, neto de Luis XIV de França, ao trono espanhol, como Filipe V.Com uma nau (L'Oríflame), quatro fragatas (L’Atlante, La Díane, La Valeur e La Venus) e 1300 homens,decidiu o Capitão-de-Navio Duclerc tomar o Rio de janeiro. Soubera quão fracas eram a tropa e a defesa da praça sob ogoverno de Francisco de Castro Moraes, o qual, em vão, havia clamado junto ao rei sobre a necessidade dereaparelhamento geral. A 17 de agosto, surgiram os franceses na entrada da barra, arvorando bandeiras inglesas,estratagema que não funcionou. Tiros cruzados impediram maior aproximação. Rumaram para o sul, desembarcando nailha Grande; nela saquearam fazendas e obtiveram quatro escravos de Bento do Amaral da Silva que, daí por diante,lhes serviram como guias. A tentativa de a tingirem as areias de Sacopenapan (Copacabana hoje) foi frustrada peloTenente Rodrigo de Freitas e por alguns populares. Mas, a 11 de setembro, entraram por Guaratiba sem seremmolestados.Duclerc caminhou, com seus comandados, pelos capinzais da Tijuca, pilhando e depredando. Tocada a rebatena cidade, acorreram os homens a se apresentarem aos seus oficiais. Somavam dois mil, ao todo, e mais algunsvoluntários. Em conjunto levantaram uma trincheira que ia do Morro da Conceição ao de S. Antônio (já demoli do) eaguardaram o invasor. Na Lagoa da Sentinela, houve combate com a Companhia dos Estudantes, comandada por Bentodo Amaral Coutinho, sem resultados. Os franceses prosseguiram pelo caminho de Mata -Cavalos (hoje Rua Riachuelo),encontrando, na Lagoa do Desterro, um punhado de homens liderados por Frei Francisco de Menezes. Mas o frade, que

já fora militar, não logrou barrar o passo do invasor, que avançou em direção do Morro do Castelo. Não puderam subi -lo e tomar o Forte de S. Sebastião, dada a resistênc ia movida por populares. Desistiu Duclerc de se apoderar dessemorro, embrenhando-se pelas ruas até chegar ao Largo do Carmo (hoje Praça XV), desnorteado e com a sua formaçãomilitar dispersa. No largo, se generalizou o combate. Tentou o chefe francês abri gar-se no Convento do Carmo,desconhecendo que os seus ocupantes eram exímios na arte da pancadaria. O governador, oficiais e suas praçaschegavam ao largo, procedentes da trincheira, cuja defesa não mais se fazia necessária. Quase bloqueado, Duclercinvadiu o trapiche de Luis da Mota, esboçando uma resistência anulada pela presença de canhões apontados contra aconstrução. Preferiu capitular: 220 ficaram feridos; mortos, 450. Por parte da cidade as perdas tinham se elevado atrezentos, com igual número de feridos. Alguns prédios estavam em chamas.97Distribuíram-se os soldados franceses nas guarnições militares em regime de prisão (600 provavelmente); oscomandantes dos navios que conduziram os invasores, inteirando -se do sucedido por um aviso mandado pelo próprioDuclerc, deliberaram rumar para a Martinica. Dias depois, os oficiais franceses receberam ordem de embarcar paraSalvador. E o Capitão Duclerc ficou encerrado no Colégio dos jesuítas, de onde saiu, para uma casa da Rua daQuitanda, com a cidade por menagem; apesar da guarda que o protegia, quatro mascarados invadiram -na e oassassinaram (18/03/1711), constituindo esse crime, até hoje, um mistério.Nova ação francesa:Homem habituado ao mar (era Capitão -de-Navio), Duguay-Trouin já havia concebido o ataque ao Rio dejaneiro e encontrava-se em preparativos, quando as notícias do malogro de Duclerc e, logo depois, seu assassinatoecoaram na Corte francesa. Esses fatos lhe deram um pretexto emocional. Reunindo navios dados pelo rei ao capital deacionistas (1,200.000 francos obtidos com de Coulange, de Beauvais, de La Sandre -le-Fer, de Belle-Isle-Pepin, deL'Espine d'Anican, de Chapdelaine e do Conde de Toulouse) que acreditavam nas riquezas que devia possuir a cidade,Duguay-Trouin pôde compor uma esquadra de 17 navios (capitânia Le Lys, 74 peças) e obter 5.764 homens. Durante aviagem apresou um navio inglês.Prevenido pela metrópole, o Governador Castro Moraes organizou a defesa, concitando o General -de-Batalhado-Mar Gaspar da Costa Ataíde, apelidad o "o Maquines", a que colaborasse, utilizando os homens e os recursos de seusquatro navios, que estavam casualmente no porto do Rio. O efetivo total da cidade atingia 3.270 homens, muitos dosquais índios, ou populares, pouco afeitos à profissão das armas .A 12 de setembro de 1711, despontaram os franceses na entrada da barra, forçando -a, graças a um pequenonevoeiro. Os tiros dos fortes litorâneos não impediram a entrada dos franceses, apesar de terem provocado trezentasbaixas. Navegaram, lentamente, em direção da ilha de Villegagnon, sem serem molestados, pois a fortificação nelainstalada encontrava-se inoperante por causa da explosão do paiol de pólvora. Bombardearam a cidade, ao mesmotempo em que procuraram tomar as naus do Maquines, conseguindo ape nas uma, pois as outras foram inutilizadas porordem de seu comandante.Solicitou, o governador, que o Maquines garantisse, com seus homens, a ilha das Cobras, ponto vulnerável.Mas não sabemos até hoje porque esse militar, tão famoso em guerras passadas, negligenciou a sua parte, permitindoque os franceses tomassem a ilha nessa mesma noite. Tiros foram trocados com peças assestadas no Mosteiro de S.Bento, mas sem proveito algum. Na manhã de 14, Duguay -Trouin desembarcou seus homens na praia de S. Diogo,perto da Bica dos Marinheiros, e ocupou os morros de S. Diogo, Livramento e Conceição, instalando, neste último, nacasa do bispo, o seu quartel general. Do dia 15 ao 18, os invasores fustigaram a cidade com seus canhões. CastroMoraes procurou resistir, ao mesmo tempo em que pedia ajuda às capitanias vizinhas. Apenas de Parati chegavam 580homens, sob o comando de Francisco do Amaral Gurgel.No dia 19, um emissário francês exigia a rendição. Castro Moraes respondeu: "... Enquanto a entregar -vos acidade pelas ameaças que me fazeis, havendo-me ela sido confiada por El -Rei, meu Senhor, não tenho outra resposta adar-vos senão que a hei de defender até a última gota de meu sangue". Mas, na tarde do dia seguinte, os militares e

notáveis da cidade, reunidos em conselho pelo governador, votaram unanimemente pelo abandono da praça e aconcentração em outra posição, com o auxílio de reforços, para se proceder a um contra -ataque. Ordenada a retirada,esta se verificou no correr da noite, transformando -se numa fuga desordenada e vergonhosa, em meio a um temporalfantástico, onde não foram poucos os saques às propriedades da área rural. Concentraram -se todos em Moxambomba(hoje Nova Iguaçu).Os próprios prisioneiros da expedição anterior, logrando evadirem -se, avisaram, na manhã de 2 1, aocomandante francês, que a cidade encontrava -se em suas mãos. Os fortes se renderam.Donos da cidade, os franceses procederam a uma completa pilhagem, enquanto se calavam as últimasresistências esparsas, momento em que morreu Bento do Amaral Coutinho. Duguay-Trouin não ficou satisfeito com osaque: exigiu do governador um resgate, para não terminar de destruir a cidade. Tentou ganhar tempo Castro Moraes,mas, pressionado pelos principais, que temiam perda de suas propriedades, acabo u cedendo em pagar a soma de610.000 cruzados, além de cem caixas de açúcar e duzentos bois. Como se imaginava, chegaram os reforços doplanalto, comandados por Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que, inexplicavelmente, não se empenhou emnenhuma ação militar com os seus seis mil companheiros.A 13 de novembro, partia Duguay-Trouin com uma expressiva presa, cujos lucros foram fixados em 95%.Pensou atacar Salvador a pretexto de livrar os oficiais de Duclerc ainda presos. Ventos difíceis o impediram , perdendo,mesmo, dois navios. Do rei francês, recebeu a promoção a Chefe -de-Esquadra e a comenda de S. Luis e, da História, afama de marujo audaz. Escreveu depois um livro de memórias.O povo do Rio de janeiro atribuiu a Castro Moraes a sua desventura. Alcunhou-o de grosseiro nome e instoupara que Albuquerque assumisse. Realmente, o governador não estava à altura de exercer um comando militar; tiveraêxito em 1710, como conseqüência do malogro do adversário, não por sua tática militar. A sua incapacida de sedemonstrava diante de um chefe como Duguay -Trouin. Castro Moraes foi preso, bem como outros oficiais, abrindo -selogo uma devassa, com ouvidores da Bahia, que concluíram pela culpabilidade de todos, remetidos, em seguida, para oReino. O governador perdeu os seus bens e partiu, deportado, para o Indução, somente reabilitado em 1730; os militaresreceberam castigos severos e destinos semelhantes. Menos o Maquines, contra quem nada se imputou. Uma segundadevassa aberta em Lisboa e terminada em 1716 con cluiu pela culpabilidade de Gaspar da Costa, condenado à prisão,98pena que não se aplicou por falecimento do réu. Antônio de Albuquerque foi, também, censurado pela sua atitude,perdendo a governança.Os Ingleses:Os ingleses interessaram-se pelas riquezas nativas do Brasil ainda no século XVI. William Atkins, emcomando do navio Paul of Plymouth, realizou três viagens proveitosas à costa brasileira em 1530, 1536 e 1540. Mas, ascorrerias de flibusteiros ingleses nos mares brasileiros ocorreram quando o B rasil, seguindo o destino de Portugal,passou a ser administrado pela Espanha. A rivalidade existente entre esta potência e o reino de Elizabeth I, queprojetava a Inglaterra nos mares, explica as incursões inglesas nos lados meridionais do Oceano Atlântic o. Devemos,também, assinalar a existência das cartas de John Whithali, inglês radicado em Santos, enviadas a parentes, narrando apresença de pepitas de ouro; elas aguçaram os corsários, contribuindo, assim, para as viagens de alguns deles.Em 1583, Edward Fenton, com dois navios, investiu sobre a vila de São Vicente, travando combate com trêsgaleões espanhóis, comando de André de Equino, que se encontravam no local. Depois de cinco dias, Fenton desistiu daempresa, apesar de ter afundado um dos galeões. Um dos navios ingleses, capitaneado por Luke Ward, rumou imediato

para a Inglaterra; Fenton ainda fez aguada no Espírito Santo e tentou comerciar com o donatário Vasco FernandesCoutinho.Em 21 de abril de 1587, Robert Withringhton e Christopher Lister, cada um comandando uma nau de guerra econtando com mais duas embarcações, entraram na Baía de Todos os Santos, apresando pequenos navios mercantes. Acidade de Salvador resistiu, mas os dois corsários saquearam as fazendas do recôncavo até junho. Durante esse período,houve diversos pequenos combates com perdas de ambos os lados.Quando Thomas Cavendish (o corsário elegante) resolveu excursionar no Brasil, já havia realizado a famosaviagem de circunavegação do globo, a terceira que se tinha notícia. Sua esquadra era composta de um galeão, duas nause dois navios menores, com quatrocentos homens de guarnição. Em Cabo Frio, apresou um navio português;desembarcou na ilha Grande, onde fez aguada e provocou desordens. Em seguida, atacou a Vila de Santos (15/1 2/1591)e dela se apoderou, saqueando-a. O mesmo destino encontrou a Vila de São Vicente. Cavendish deixou as parcialmentedestruídas e incendiadas. Satisfeito, levantou ferros em 03/02/1592, velejando litoral sul. Atingiu o Estreito deMagalhães. Dificuldades várias o pressionaram a regressar pelo Oceano Atlântico. Perto de Santos obteve algunsvíveres. Resolveu atacar, de novo, a vila, mas os habitantes repeliram os intrusos. Cavendish rumou para o norte,atingiu Vitória e desembarcou uma força de ocupaçã o. Em renhido combate, os habitantes e mais índios guerreirosdestroçaram o contingente inglês. Na ilha de São Sebastião abandonou 20 feridos, dos quais apenas dois sobreviveram,sendo um deles Antony Knivet, que escreveu curioso relato de suas aventuras. Cavendish faleceu, com 37 anos, nessaviagem de retorno à Inglaterra.James Lancaster, tendo como colaborador Edward Fenner, se apresentou diante de Recife e Olinda com umaarmada de 12 navios em abril de 1595. Os moradores não dispunham de forças para ef etuar uma resistência. Recife foitomada. Quatro dias depois, chegaram três naus e dois navios menores sob o comando do francês Jean Noyer que seassociou aos ingleses. Durante 31 dias, a vila do Recife foi saqueada. Os recifenses hostilizaram os corsários comguerra de guerrilhas e muitos foram mortos, inclusive Jean Noyer. Mas o resultado econômico da empresa mostrou -seexcelente para os invasores.Os ingleses ambicionaram se estabelecer na região amazônica, com visíveis interesses de colonização. Em1604, Charles Leigh comerciou com os indígenas locais; o mesmo ocorreu com Robert Harcourt em 1609. A partir deabril até o final do ano de 1610, Sir Thomas Roe realizou minucioso reconhecimento hidrográfico, visando à descobertade riquezas. Retornou à Ingla terra, mas enviou duas expedições até 1614, época em que deve ter sido construídopequeno reduto na embocadura do Rio Amazonas. Sabedor que a região amazônica podia proporcionar muitasvantagens, o Capitão Roger North obteve uma concessão real (1619) e for mou, com nobres e pessoas de dinheiro, umacompanhia de exploração. North, escolhido governador da colônia a ser implantada, organizou uma expedição que selançou ao mar em 30.04.1620. Em sete semanas, alcançou a foz do Amazonas navegando até a confluência do RioJenipapo, onde já existiam ingleses. Nesse local estacionou. North regressou, depois, à Inglaterra.Na Amazônia, o posto avançado da colonização portuguesa era o Forte do Presépio; governava -o, desde 18 dejunho de 1621, Bento Maciel Parente, que tudo informava à metrópole do avanço dos ingleses. De Lisboa, chegava aoBrasil uma nau artilhada, de reforço, sob o comando de Luiz Aranha de Vasconcelos. Aranha penetrou no RioAmazonas até o Xingu, tendo destruído os fortes holandeses de Maturu e Nassau ; retornou a Belém com muitosprisioneiros. Na mesma ocasião, Parente excursionou no Rio Amazonas combatendo o posto inglês fundado por North.Pouco depois, as duas expedições, de Parente e de Aranha, juntaram -se, ocasião em que foi atacada uma nau holande sacomandada por Pieter Adriaansz, que preferiu atear fogo ao seu navio para que o mesmo não caísse em mãos dosportugueses. Parente erigiu um forte no Gurupá e o guarneceu com 50 homens.Os estrangeiros não desistiram das luxurientas terras amazônicas! E m 1625, o irlandês James Purcell e oholandês Nikolaas Ouclaen fixaram-se na foz do Xíngu (Mandiutuba). Tão logo as notícias chegaram ao Forte do

Presépio, Parente determinou que Pedro Teixeira, Jerônimo de Albuquerque e Pedro da Costa Favela, conduzindocinqüenta soldados e trezentos índios, desalojassem os intrusos. Participava desta expedição Frei Antônio da Marciana.Atacaram o inimigo no dia 23 de maio de 1625, bipartindo as forças por terra e embarcadas em canoas. Durante a noite,os ingleses e holandeses fugiram agasalhando-se em outras duas casas-fortes que possuíam rio abaixo. Pedro Teixeiraperseguiu-os, juntamente com Costa Favela, matando alguns e fazendo muitos prisioneiros, inclusive Purcell, queobteve a liberdade em seguida. No meio do ano de 1627, Roger North, Robert Harcourt e mais 55 associados fundaram99a Companhia da Guiana. No início do ano de 1628, 112 colonos deslocaram -se para a Amazônia, chefiados por JamesPurcell. Sem serem incomodados, ergueram fortim de madeira no Tucuiu, nas vizi nhanças do estabelecimento quePedro Teixeira arrasara quatro anos antes. Pedro Teixeira recebeu a incumbência de combater os estrangeiros; emsetembro de 1629, fortificou-se perto dos inimigos. Teixeira contava com 120 soldados e 1.600 índios. Com essa ge ntecercou o forte que tinha o nome de Torrego. Em 24 de outubro, os do forte se entregaram. Teixeira fez 180 prisioneirosincluindo James Purcell que, pela segunda vez, caía em mãos dos portugueses. A Companhia da Guiana não esmoreceu:em outubro, logo após a rendição do Forte Torrego, e perto dele, duzentos colonos ergueram o Forte North eprosperaram. Somente em 1631, mês de janeiro, pôde o Governador do Pará, Jácome Raímundo de Noronha, organizaruma expedição contra estes ingleses. O combate foi sangre nto em razão da resistência oferecida pelos ingleses. Com afuga e morte destes, Noronha desmanchou o reduto e retomou a Belém.A última tentativa inglesa ocorreu ainda nesse mesmo ano de 1631, financiada pelo Conde de Berkshire. OCapitão Roger Fry, conduzindo um navio e quarenta homens, erigiu o Forte de Cumau, próximo à foz do Rio Matari.Contra eles partiu Feliciano Coelho de Carvalho, com 240 soldados e cinco mil índios, utilizando 127 canoas. Frymorreu nos combates que se travaram. Os ingleses retir aram-se, e Feliciano Coelho arrasou o forte.Os Holandeses:A inabilidade com que o Rei Filipe II tratou o problema religioso nos Países Baixos originou uma guerra delibertação que acabou sendo vitoriosa. Nascia um novo país, a República das Províncias Unidas dos Países Baixos, afutura Holanda, em rivalidade com a Espanha. Esta fechou seus portos aos navios batavos, cônscia do poderio marítimoque desfrutava. Para a Holanda que surgia afigurava -se indispensável a libertação dos mares, mas só a iria obt er atravésde lutas. Desenvolvendo-se rapidamente, graças aos capitais judeus provenientes da Península ibérica, a Holandaorganizou empresas mercantis que deram origem ao seu império. A primeira foi a Companhia das índias Orientais(1602), seguindo-se a das índias Ocidentais, criada por Willen Usselinx. A sua administração compunha -se de 19diretores, o chamado Conselho dos Dezenove, que funcionava em Amsterdã e Midelburg. Essas duas companhiasconstituíam empresas mercantis paraestatais, de amplos poderes , pouco influindo nelas os stathouders dessa Repúblicadas Províncias Unidas dos Países Baixos durante esse período que interessa ao Brasil (Moritz, de 1584 a 1625,Frederich-Henrich, de 1625 a 1647, Willen II, de 1647 a 1650, e Johan van Witt, de 1650 a 1 672).Para justificar a expansão marítima de sua pátria, Hugo von Groot escreveu Maré liberum, em 1609, tendoprovocado uma grande polêmica na Europa.Deduz-se, portanto, que o procedimento de Filipe II atiçou os holandeses a procurarem nas próprias font es osprodutos que distribuíam na Europa; a paralisação do mecanismo de revenda dos mesmos representaria a morte danação, que fundamentava a sua economia no comércio.O desejo de dominar as terras produtoras de açúcar não consistiu a única razão das inva sões holandesas emterras do Brasil; desestabilizar o império espanhol (e português) no Atlântico consistia objetivo primordial.Por isso, alguns holandeses andaram investigando o nosso litoral. Os quert, comandando uma urca holandesa,participou do assalto à Bahia impetrado pelos corsários ingleses Withringhton e Lister. Em 9 de fevereiro de 1599,Olivier van Noortt, utilizando as boas qualidades do seu navio Eendracht, tentou desembarcar no Rio de Janeiro, mas

foi repelido. No mesmo ano, Hartman e Broer, com sete embarcações, assolaram o recôncavo baiano conseguindoalguma presa. Em 1604, Paulus van Carden, com sete navios, aventurou -se na Bahia, apoderando-se de muito açúcar.Dez anos depois, Joris van Spilberg, com seis navios, ocupou a ilha Grande, efe tuando depredações em São Vicente eem Santos. Pouco depois, em 1615, o Governador do Rio de janeiro, Constantino Menelau, afugentou holandeses que seencontravam em Cabo Frio, logrando fazer alguns prisioneiros, enviados para o governador geral.Os holandeses interessaram-se, também, pela Amazônia; sabe -se que Pieter Adriaansz fundou, em 1616, umacolônia na margem do Rio Paru. Um comércio intenso e regular se estabeleceu. Os portugueses reagiram enviando umaexpedição sob o comando de Luís Aranha de Vasc oncelos, que destruiu redutos holandeses e apresou uma naucapitaneada por Adriaansz. Um outro holandês, Nikolaas Oudaen, associou -se ao irlandês Purcell e fundou um núcleona foz do Rio Xingu (Mandiutuba) arrasado por Pedro Teixeira, Jerônimo de Albuquerq ue e Pedro da Costa Favela(23.05.1625). Ouclaen escapou levando muitos em sua companhia. Teixeira e seus companheiros perseguiu -osatingindo os fortes da ilha dos Tucujus, que combateram e tomaram no dia seguinte, regressando a Belém comprisioneiros. Oudaen morreu no campo de batalha.Afigurava-se melhor, concluíram, ocupar a Zuickerlând, isto é, a terra do açúcar. Foi o que aconselhou àCompanhia, em 1624, Jan Andries Moerbeeck no escrito que intitulou “Motivos porque a Companhia das ÍndiasOcidentais deve tirar ao rei da Espanha a terra do Brasil”.A Invasão da Bahia (1624 a 1625):O Governador do Estado do Brasil, Diogo de Mendonça Furtado, prevenido pela metrópole da iminenteinvasão, recebera ordens de preparara defesa. Organizaram -se milícias e todos aguardavam os holandeses, que nãoapareceram. Mas o Bispo D. Marcos Teixeira, cioso da Sé que estava construindo, não admitiu a paralisação dostrabalhos; desentendeu-se com o governador prejudicando a defesa.Quando, na manhã de 9 de maio de 1624, c hegaram os holandeses, Salvador estava desguarnecida.Apresentaram-se com um total de 26 navios e 3.300 homens, sob o comando do Almirante Jacob Willekens, sendo oCoronel Joan van Dorth o encarregado do desembarque e ocupação.100Os holandeses pisaram em te rra entre o Forte de Santo Antônio e a cidade; a população masculina, armada emguerra, procurou resistir. Sentindo a inutilidade de barrar o passo do inimigo, fugiram todos para o interior e ergueram oArraial do Rio Vermelho, permanecendo o governador e 17 auxiliares, bem como os jesuítas, que foram aprisionados eenviados para a Holanda. Estavam vitoriosos os intrusos! Haviam conquistado com facilidade a capital da Colônia.Apesar de uma proclamação democrática e do apelo que fez para que todos voltassem aos seus afazeres, van Dorthgovernou uma cidade vazia. A população havia se reunido em torno do bispo e decidiu cercar Salvador e empregar ométodo de emboscadas, levando em conta o conhecimento melhor do terreno. Formaram 27 companhias de ataque, comvinte a quarenta homens em cada, que apareciam nos lugares mais diversos e mantinham o inimigo assustado. Numadessas emboscadas (17 de junho), Francisco Padilha e seu primo, Francisco Ribeiro, mataram van Dorth, e, noutra, oseu sucessor, Albert Schouten (3 de setembro).Durante quase um ano permaneceram em luta; o bispo, esgotado pelas duras fainas, durante as quais seprocurara redimir de suas atitudes iniciais, faleceu a 8 de outubro, substituído, em 3 de dezembro, por Francisco deMoura, que apertou o cerco contra Salvador.Com morosidade, o Rei Filipe IV (e III de Portugal) organizou uma expedição militar de libertação, conhecidacomo Jornada dos Vassalos, composta de 38 navios espanhóis, 20 portugueses e 4 napolitanos, todos sob o comando deD. Fadrique de Toledo Osório, Marquês de Valdueza; os napolitanos achavam -se dirigidos pelo Marquês de Coprani,sendo seu Sargento-mor Giovani Vicenzo Sanfelice, feito depois Conde de Bagnoli com notável atuação na invasãoholandesa em Pernambuco.Entraram na Baía de Todos os Santos em 29 de março, exatamente 86 anos depois da chegada de Torné deSousa. Durante o mês de abril, procedeu -se o desembarque das tropas e se destruiu ou apresou o material flutuante

inimigo; alguns combates ocorreram no centro de Salvador. Cercados, os holandeses, pela mão de seu chefe, JohannErrist Kijf, assinaram a paz e se retiraram do Brasil no primeiro dia de maio de 1625.A Companhia das índias Ocidentais não obtivera os lucros que sonhara. Antes, só adquirira prejuízos advindosdos graves erros de planejamento da empresa. Pensou que atacando a capital conquistaria toda a Colônia; menosprezouo adversário, supondo que ele não teria competência ou que não se unisse; não conservou sua força naval, perdendo,assim, o domínio do mar. Contudo, aprendera que o melhor ponto da costa era Pernambuco.Nesse mesmo ano de 1625, 12 e 13 de março, Pieter Hein investiu sobre Vitória, no Espírito Santo; mas oshabitantes repeliram os intrusos. Em 1627, o mesmo Hein, com nove navios e 1.500 homens, e fetuou uma sortida contraSalvador apresando diversos navios mercantes. Hein continuou assolando o recôncavo; em um desses combates, no RioPitanga (12 de junho), com os habitantes perdeu a vida o Capitão Francisco Padilha. No ano seguinte, Hein conseguiuapreender 15 naus componentes da esquadra da Prata, comandada por D. Juan de Benavides. Foi com o lucro dessapresa, calculado em 15 milhões de florins, que a Companhia pôde preparar outra expedição contra o Brasil. Mas, PieterHein não ganhou as glórias do comando: morreu em 1629.Invasão de Pernambuco (1630 a 1654):Entretanto não se acreditava em uma segunda invasão, nem nas advertências de Frei Antônio Rosado, queclamava que “de Olinda para Holanda não havia mais que uma diferença de um i para um a” ... Os espanhóis, tomandoconhecimento que se tramava a ocupação de Pernambuco, determinaram que o seu Capitão -mor, Matias deAlbuquerque, regressasse ao Brasil, concedendo -lhe uma ajuda de 27 soldados e três caravelas. Albuquerque fez o quepôde para a defesa da capitania.Em 14 de fevereiro de 1630, surgiram os holandeses em frente a Olinda. Era uma armada de 69 velas, entre asquais 35 grandes naus, e 7.280 homens, entre marujos e soldados. Todos comandados pelo Almirante HendrickComeliszoon Lonck e do Coronel Diederik van Waerdenburch. Forçaram o porto sem conseguir entrar, por estar a barraobstruída, preferindo desembarcar 2.948 homens mais ao norte, na praia do Pau Amarelo, guiados pelo judeu AntônioDias, que morara em Pernambuco. Matias de Albuqu erque, com 850 homens, ofereceu combate junto ao Rio Doce,perdendo, apesar da bravura de seus comandados. Ainda houve resistência em Olinda, mas Matias de Albuquerqueretirou-se para Recife onde ainda esboçou um contra -ataque. Percebendo que a permanência em Recife mostrava-searriscada, destruiu os armazéns, navios com preciosas cargas e se retirou para as margens do Rio Capiberibe, a umaigual distância entre os dois núcleos, fundando o Arraial do Bom Jesus (04/03/1630), formado com todos aqueles quefugiam dos holandeses. Com a capitulação do Forte de São Jorge, comandado por Antônio Lima, os holandesesocuparam Recife (03/03/1630).Enquanto o arraial se tornava uma fortificação capaz de resistir aos inimigos, os nossos organizaram -se nosistema de guerrilhas que bons resultados dera na primeira invasão. Os mais diversos elementos se confraternizarampara combater os intrusos, destacando -se os índios do bravo Poti (depois Antônio Filipe Camarão) e diversos negros sobo comando de Henrique Dias.As guerrilhas predispunham os invasores a um permanente estado de sobreaviso, causando, assim, intensonervosismo nos holandeses, que se viram em situação constrangedora. Por isso, construíram as fortificações do Brum,de Cinco Pontas e Três Pontas.Logo receberam reforços: 16 navios e cerca de mil homens sob o comando de Adriaen Iansen Pater. Por isso,animaram-se a ocupar a ilha de Itamaracá, onde ergueram o Forte Orange. Entretanto, o governo espanhol aprestou umaesquadra que visava a compelir os invasores a uma capitulação. Comandava-a D. Antonio de Oquendo. Este atingiuSalvador em 13 de junho (1631); em setembro, fez -se ao mar para conduzir reforços para Matias de Albuquerque. Osholandeses estavam, porém, vigilantes; Oquendo tentou safar -se se dirigindo para o sul; Pater seguiu-o.101

Encontraram-se as duas esquadras no dia 12 de setembro de 1631, em Abrolhos, travando o primeiro combatenaval de larga envergadura da história brasileira. Oquendo dispunha de vinte navios de guerra, com 439 peças,comboiando navios que transportavam açúcar e 12 caravelas com tropas de apoio, sob o comando do Conde de Bagnoli.Pater tinha 16 navios com 472 peças. Às nove horas de manhã, começou a batalha que durou até o anoitecer. Oquendorepeliu o ataque adversário provocando a su a fuga, tendo sido, portanto, o vencedor, apesar de ter tido tantas perdasquanto Pater, que morreu nesse dia, afundando com sua capitânia Prinz Wíllen. Complementando a sua missão,Oquendo conseguiu desembarcar o destacamento militar comandado pelo Conde de Bagnoli; pouco depois, esta forçajuntou-se aos que seguiam Albuquerque.A posição dos holandeses estabilizara -se. Dispunham, nesse momento, de sete mil homens. Seu comandante,Coronel Waerdenburch, firmou-se na Ilha de Itamaracá; a direção do Forte Or ange foi entregue ao Coronel Crestofled'Artischau Arciszewsky, mercenário polonês.Por ordem de Albuquerque, Bagnoli e trezentos napolitanos dirigiram -se para o Cabo de Santo Agostinho,onde erigiram o Forte de Nazaré.Em 25 de novembro, Waerdenburch in cendiou Olinda e se concentrou no Recife. Tentou conquistar o ForteCabedelo, na foz do Rio Paraíba, sem sucesso; a pequena expedição do Capitão Smient atingiu o Forte Ceará e não foimais feliz; e a investida sobre o Forte dos Reis Magos redundou em fraca sso.Mas, a traição de Calabar (20 de abril de 1632) mudou a sorte dos acontecimentos. Domingos FernandesCalabar era um natural da terra, nascido em Porto Calvo; seu interesse residia na ambição de enriquecer.Desentendendo-se com Albuquerque, talvez por causa do contrabando de alimentos, foi expulso do arraial. osholandeses, agora dirigidos por um homem de valor, o General Sigmund von Schkoop, e tendo o apoio de umconhecedor da terra, conseguiram desarticular as guerrilhas e alcançar inúmeras vitórias: partindo do Forte de Orange,na Ilha de Itamaracá, dominaram toda a ilha, expulsando o Capitão Salvador Pinheiro e sua gente; assaltaram Igaraçu;cercaram o forte do Rio Formoso, onde o Capitão Pedro de Albuquerque e vinte homens resistiram a quatro ataqu esmas morreram 19; o capitão, ferido, foi conduzido ao Recife e se restabeleceu, seguindo para as Antilhas e daí para aEuropa. Waerdenburch retirou-se para a Europa, sendo substituído (24/03/1633) pelo Major Rembach. Ainda com aparticipação de Calabar, uma expedição, sob o comando de Lichtardt, ocupou Natal e cercou o Forte dos Reis Magos,no Rio Grande do Norte, capitulando a sua guarnição (12/12/1633). Em 16 de dezembro (1634), os holandesesconquistaram o Forte de Cabedelo na Paraíba; em seguida, assa ltaram o Forte de Santo Antônio, situado na margemesquerda do Rio Paraíba, e investiram sobre Filipéia, que passou a se chamar Frederícia. Continuando sob a orientaçãode Calabar, os holandeses ocuparam Porto Calvo e obtiveram a rendição do Forte de Nazar é (02/07/1635). Em seguida,cercaram o Arraial do Bom Jesus, que se rendeu em 8 de julho, apesar dos esforços de seu comandante, Coronel AndréMarin.Cerca de sete mil pessoas encetaram penosa marcha para o sul, em direção a Alagoas. Reagiu Sebastião doSouto cercando Porto Calvo e obrigando a render -se o Major Picard, com seus 402 homens, entre os quais se encontravaCalabar. Albuquerque, sabedor deste episódio vitorioso, acorreu em Porto Calvo e ordenou o enforcamento de Calabar,que, assim, ocorria, por ironia da História, na terra que nascera (22 de julho de 1635).Esses fatos sacudiram a Corte do rei espanhol que mandou um reforço de 1.700 soldados, sob o comando doGeneral D. Luis de Roias y Boria, Duque de Gandía, substituto de Albuquerque, recolhid o preso ao Reino. Resolveu oafoito duque oferecer combate aberto. Em Mata Redonda, próximo a Porto Calvo, alinhou seus combatentes, 1.100,contra 1.300 do Coronel Arciszewsky, perdendo espetacularmente, sendo morto logo aos primeiros tiros (18/01/1636).Seu exército contou duzentas baixas e recuou para Porto Calvo; os holandeses tiveram quarenta mortos e 85 feridos,

mas não souberam aproveitar a vitória. O duque foi substituído por Bagnoli, que prudentemente volveu ao sistema deguerrilhas.Governo de Nassau (1637 a 1644):Firmava-se, assim, o Domínio Holandês. As exportações de açúcar aumentavam gradativamente, bem como opau-brasil e outros produtos; a população voltava aos seus afazeres normais. Por isso, a Companhia procurou umhomem que reunisse o gênio militar à capacidade administrativa para consolidar seus domínios. A escolha recaiu noConde Johan Mouritz von Nassau-Siegen, natural de Dilenburg (17/06/1604), dotado de aguda inteligência e educaçãohumanista esmerada; falava alemão, holandês, franc ês e latim com fluência. Contava, então, com 33 anos de idade. Opríncipe alemão chegou ao Recife a 23 de janeiro (1637), com o título de governador geral, capitão -general e almirante,enfeixando, assim, todos os poderes militares e civis. Trouxe soldados, colonos, artesãos, cientistas e artistas.Desenvolveu-se logo uma atividade militar. Expulsou Bagnoli de Alagoas, após a vitória de Comandatuba(18.02.1637), ribeiro que deságua no Rio das Pedras, ao sul de Porto Calvo, Alagoas. Nassau atacou, com 4.400homens, o destacamento de 1.180 do Tenente -Coronel Alonso Ximenes de Almirón, que sofreu grandes perdas(Henrique Dias teve a metade de seu braço esquerdo amputada). Bagnoli retirou -se para o sul com sua gente, deixandoainda alguns no forte de Porto Calvo que capitulou em 6 de março.Em Penedo, à margem do São Francisco, Nassau levantou um forte; devastou Sergipe e absorveu parte doCeará até Fortaleza, No ano seguinte, 16 de abril, uma esquadra holandesa, comando de Joan van der Mast, contandocom a presença do Conde de Nassau, entrou na Baía de Todos os Santos desejando ocupar Salvador. Desembarcaramem praia deserta e avançaram sobre a cidade defendida pelo Conde de Bagnoli e sua gente. O Governador geral, Pedroda Silva, depois cognominado “o Duro”, a tudo proveu, Verificaram-se vários combates isolados, salientando-se ataque,noturno, de Nassau em 18 de maio, ganho pelos nossos graças à investida que Luis Barbalho fez na retaguarda do102inimigo. No dia 25, Nassau desistiu de ocupar Salvador: regressou co m sua gente aos navios velejando paraPernambuco. O Rei Filipe IV recompensou o governador dando -lhe o título de Conde de São Lourenço e ao Conde deBagnoli, a dignidade de príncipe e o feudo do Monteverde. Nassau dirigiu, então, o seu interesse para a cos ta da África:conquistou São Jorge da Mina, de onde obteve muitos escravos. Recife foi feita sua capital, com o nome de CidadeMaurícia (Mouritzstadt). Nela levantou o seu palácio, o Vriburg (Retiro), cujo chão é ocupado hoje pela sede dogoverno de Pernambuco (Palácio das Princesas).Nassau caracterizou o seu governo pela inteligência, sobriedade e bom senso. Procurou logo embelezar a suacapital a fim de dotá-la de todo o conforto, melhorando o padrão de vida da população. Diversas ruas e praçasreceberam calçamento de tijolos esmaltados à moda holandesa; pontes foram construidas e os alagados foram drenadospor meio de canais, muitos dos quais projetados pelo engenheiro Frederik Pistor. Fundou o primeiro observatórioastronômico da América, dirigido por Georg MarcGrave. Nele, também, atuou o cosmógrafo Michiel de Reyter.MarcGrave associou-se a Willen Piso, que era médico do conde e ambos escreveram a História Naturalis Brasiliée(Leyclen, 1648). Algumas expedições procuraram devassar o interior e descobr ir riquezas, destacando-se aquela queGidean Morris de Jorge dirigiu.As artes floresceram, com os pintores Franz Post (irmão de Pieter), o alemão Zacharías Wagener, o desenhistaAlbert Ekhout.Estabeleceu a liberdade de fé, cada qual podia ter a religiã o que quisesse. Com essa política, Nassau conseguiuatrair muitos brasileiros e portugueses, chegando a conceder -lhes assentos nos conselhos de Escabinos (Schepenen), quesubstituíram as câmaras de vereadores, cujo presidente, o escolteto, defendia os inte resses da Companhia e possuía opoder de polícia. Os judeus abriram sinagogas, sendo duas na capital do Brasil Holandês: Zur Israel e Maguen Abrahan.A lavoura da cana renasceu, permitindo lucros fabulosos, graças ao funcionamento de engenhos, cujos antig os

senhores receberam atenções e mercês. Um desses, João Fernandes Vieira, nascido na Ilha da Madeira, obteveimportante posição. Nassau preocupou -se com a plantação da mandioca, alimento popular, e impediu a derrubada decajueiros, cujos frutos serviam pa ra alimentação dos pobres.A importância que Recife atingiu no século XVII como sede do Brasil Holandês explica, igualmente, apresença de estrangeiros, devendo-se registrar o comerciante francês Louis Heins, católico, mas existiram algunscalvinistas, como Joachim Soler (franceses aderiram aos luso -brasileiros contra os holandeses, sendo interessantelembrar a figura de François Dumont, que se especializou em artifícios militares de fogo). Diversos ingleses viveram noRecife como mercenários da Companhia das índias. Os irlandeses dedicaram-se ao comércio ambulante. Numerosos,também, foram os alemães, alguns mercenários, como o Coronel Von Schkoppe. Muitos israelitas se estabeleceram noRecife, aproveitando-se do clima de liberdade; é o caso do médico Abra ão Mercalo e do rabino Isaac da Fonseca.Não haviam desanimado os nossos. Da metrópole, vinha o Conde da Torre, D. Fernando de Mascarenhas, novogovernador, com 26 galeões e outros navios menores transportando reforços. Era 20 de janeiro de 1639. André Vi dal deNegreiros e Antônio Dias Cardoso dirigiram-se para a Paraíba, para organizarem guerrilhas contra os holandeses. Nessaoportunidade, diversos paulistas, incluindo Antônio Raposo Tavares, atingiram Salvador a fim de integrar a força doConde da Torre.O conde preparou-se por quase um ano, fazendo-se ao mar em novembro, com 48 navios de guerra e váriostransportes, levando uma tropa de reforço de diversas capitanias brasileiras, todas sob o comando do Príncipe deBagnoli. Nassau mandou-lhe ao encontro uma esquadra de 41 navios, dirigida pelo Almirante Willelm CornellizoonLoos, A 12 de janeiro, encontraram-se ao norte de Itamaracá, na altura da Ponta de Pedras, morrendo Loos nesse dia;segundo combate travou-se no dia seguinte em frente ao Cabo Branco; o terceiro, no dia 14, ocorreu na altura daParaíba, havendo perda de ambos os lados; o último encontro verificou -se no dia 17, perto da baía Formosa, tendo oConde da Torre repelido os holandeses que perderam três navios. O conde determinou o desembarque de 1.400soldados em Touros (Rio Grande do Norte). Estes, conduzidos por Luis Barbalho, atravessaram território inimigo,travando vários combates, atingindo, enfim, Salvador após quatro meses de marcha.Substituído o Conde da Torre, mandado preso para Lis boa, onde findou nos cárceres de S. Julião, chegava D.Jorge de Mascarenhas, Marquês de Montalvão, o primeiro a possuir o título de vice -rei do Brasil, empossado a26.05.1640, sem que o Brasil fosse elevado à categoria de vice -reinado.A Luta de Reconquista (A Insurreição Pernambucana):Devido aos elevados custos das guerras européias, a Companhia das índias Ocidentais adotara nova políticafinanceira e administrativa para a região nordestina. A nova estratégia impunha crescentes restrições aos gastos ecobranças dos empréstimos feitos aos senhores de engenho, o que contrariava o caminho escolhido por Nassau. Seudescontentamento levou-o a ser destituído do cargo e a regressar ao seu país em 1644.Os últimos anos da administração de Nassau foram de cresc entes dificuldades na economia açucareiranordestina, com o declínio de preços no mercado europeu, a perda de safras por incêndios, pragas e inundações, aelevação dos juros dos empréstimos e a conseqüente falência de muitos senhores, de engenho.Com a saída de Nassau, foi retomado o confronto com a Companhia das índias Ocidentais. Antes mesmo queele deixasse o Brasil, a luta havia -se reacendido no Maranhão, culminando com a expulsão dos holandeses de São Luís.A insurreição alastrou-se por todo o Nordeste, atingindo, em 1645, Pernambuco, onde a situação se tornava cada vezmais tensa, dada a intensificação da cobrança das dívidas contraídas na época de Nassau. Logo depois, eclodiu omovimento que determinou a expulsão definitiva dos holandeses da região, a Insurreição Pernambucana.103A inteligente administração de Nassau afastou a possibilidade de uma grande reação contra os holandeses. Suasaída provocou o desejo de expulsar os intrusos. Um conselho de três negociantes fanáticos (Hamel, de Amsterdã, Bas,de Harlen, e Bullestrate, de Midelburg) substituía Nassau, direcionando -se por restringir a liberdade religiosa. A repulsaao luteranismo embasou um forte sentimento popular contra os holandeses.Cumpre consignar, porém, que os eventos que culminaram com a saída dos holandeses principiaram no

Maranhão, a 30.09.1642, ainda na administração nassoviana. Antônio Muniz Barreiros tomou, aos invasores, o Forte doCalvário, no Itapecuru, e derrotou-os em Cotim; Antônio Teixeira de Melo, que passou a exercer o coman do, venceu abatalha do Outeiro da Cruz, em 22 de fevereiro de 1644, obrigando os batavos a se retirarem no dia 28, atravessando oCeará. André Vidal de Negreiros coordenou a insurreição: ele conseguiu atrair o rico português João Fernandes Vieira.Vários senhores de engenho aderiram à causa que não podia ser oficial, tendo em vista o Tratado de Paz.Os colonos não contaram inicialmente com a ajuda de Portugal (preso à trégua dos Dez Anos) e defendiaminteresses próprios discordantes da política oficial lu sa. Após as primeiras vitórias dos colonos, o movimento foiganhando apoio metropolitano, com o envio de reforços. O fortalecimento da luta, que tinha entre seus líderes o negroHenrique Dias e o indígena Felipe Camarão, ganhou mais força com o apoio dos g randes senhores de engenho às forçaspopulares.De tudo sabia o Governador geral Antônio Teles da Silva, que recebera instruções secretas do rei no sentido dedesencadear uma guerra subversiva nos domínios holandeses.O Sargento-mor Antônio Dias Cardoso recebeu incumbência de penetrar na região da Paraíba e Pernambucopara treinar homens. Seu nome, hoje, emerge como figura exponencial na atividade militar, que precede à açãopropriamente dita.Assim, a "guerra brasílica", que teve tão bons resultados ini ciais, cedeu lugar à presença de profissionais combom nível de treinamento. E como não era possível alcançar uma vitória somente com a tropa de linha, procedeu -se aum amplo recrutamento nos interiores próximos e distantes. Relatório holandês resume como se afiguravam as forçasluso-brasileiras: "É um exército composto tanto de soldados como de moradores, mamelucos, índios e negros ".Sob o pretexto de vencer índios em revolta, ardilosamente provocada por Filipe Camarão com seus seguidores,atingiu Pernambuco uma força sob o comando de Henrique Dias. E, para "prenderem" João Fernandes Vieira, umatropa de infantaria foi mandada para Pernambuco, comando de André Vidal de Negreiros e Martim Soares Moreno. Oplano contava, ainda, com a adesão de Dirk Hoogstrat en, que comandava o Forte de Nazaré, e Gaspar van der Ley,casado com uma brasileira. Marcou-se o início da conjura para 24 de junho de 1645. Os insurgentes se denominaram deindependentes.Souberam de tudo os batavos por causa das denúncias de Sebastião Carvalho e Fernando Vale, obrigando osnossos a se apressarem e a deflagrarem o movimento a 13 de junho. Encontraram -se, perto do monte das Tabocas(03/08/1645), os 1.600 homens conduzidos por Antônio Dias Cardoso contra os 1500 homens comandados peloCoronel Hendríck van Haus, resultando em uma vitória dos independentes. Vieira recebeu o comando geral e marchousobre Recife, compelindo os batavos a uma capitulação no Engenho de Nassau (Casa -forte) em 17 de agostoOs êxitos dos independentes conduziram à o rganização, na Bahia, em 1644, de uma força naval para auxiliá -los, Esta força improvisada, comandada pelo Coronel Jerônimo Serrão de Paiva, abrigou -se na Baía de Tamandaré,litoral de Pernambuco. No dia 9 de setembro de 1645, o Almirante Lichthardt resolv eu atacá-la. Os navios portugueses(sete naus, três caravelas e quatro menores) estavam fundeados. Os holandeses investiram com oito navios. Os marujose soldados portugueses atiraram-se na água e fugiram: uma derrota completa de Serrão de Paiva.Apesar deste revés, Fernandes Vieira e seus seguidores prosseguiram em direção a Recife. Para quartelfundaram o Arraial Novo do Bom Jesus, na Várzea. Sua construção começou a partir de 15 de outubro de 1647.A luta foi intensa em 1647, Sigmund von Schkoop assolo u a ilha de Itaparica e obteve algumas vantagens.A possível ameaça a Salvador motivou o rei português a preparar uma força naval. Denomina -a "Armada deSocorro do Brasil", dando o comando a Antônio Teles de Menezes, feito Conde de Vila Pouca de Aguiar. E m 24 dedezembro de 1647, os vinte navios dessa armada chegavam a Salvador.Von Schkoop não aguardou a presença deste reforço; abandonou Itaparica em 15 de dezembro. E qual seria oefetivo holandês nesta oportunidade? Os holandeses deviam contar com uma f orça de, aproximadamente, cinco milhomens, além de uns mil indígenas. Excetuando estes, os homens estavam treinados segundo o sistema europeu, próprio

da Guerra dos 30 Anos. Mas o moral da tropa já começava a enfraquecer.Desejando evitar o prolongamento das hostilidades, o Rei D. João IV efetuou gestões diplomáticas neste anode 1647. Enviou à Holanda o Padre Antônio Vieira com a oferta de três milhões de cruzados em troca da devolução dasterras, o que não foi aceito. Pensou o jesuíta em oferecer a Hola nda, a título precário, a capitania de Pernambuco, peladesistência das outras terras; expôs suas idéias em documento que o rei português apelidou de "Papel Forte"(14/03/1647). Mas a sugestão do Padre Vieira foi recusada pelo Conselho da Coroa,O mesmo jesuíta, então, elaborou o plano de uma companhia de comércio,no estilo holandês; esta deveriacolaborar para a expulsão dos holandeses em troca de vantagens comerciais futuras. A Companhia Geral de Comérciodo Brasil somente se constituiu com capitais dos cristãos-novos que obtiveram do rei a suspensão do confisco de seusbens (06.02.1649).Não havendo como escapar da luta armada, o rei deliberou enviar um experimentado militar para comandar osindependentes. Escolheu Francisco Barreto de Menezes (que tinh a 30 anos de idade), que recebeu o posto de Mestre -de-Campo-General. Após acidentada viagem, Barreto conseguiu chegar ao Arraial Novo, onde tomou posse de seu cargoem 16 de abril de 1648. Barreto soube valer -se de André Vidal e Dias Cardoso, prováveis pla nejadores dos movimentosque precederam os combates nos arredores de Recife, Percebendo a intenção do comando holandês de impor à104população civil, que apoiava o movimento insurrecional, pesadas perdas, Barreto se antecipou e se postou em localfavorável a uma batalha, isto é, nos Montes Guararapes (cuja significação é: nos tambores).Em 19 de abril de 1648, Barreto obteve uma vitória expressiva nesse local. Contava com 2.220 homensprovenientes da Paraíba, de Igaraçú e Goiana e da Bahia. Os holandeses devi am contar com 4.500 homens e, talvez, 500indígenas. A batalha travou-se mais precisamente no Boqueirão, abaixo do Morro do Telégrafo.A batalha durou cinco horas: holandeses tiveram 515 mortos e 523 feridos; os independentes sofreram 80baixas (contando-se entre estas o índio Poti, que veio a falecer em 24 de agosto). No dia seguinte, Barreto apoderou -sede Olinda e estreitou o cerco sobre Recife.No Rio de janeiro, o seu governador, Salvador Correa de Sá e Benevides, aprestou expedição com a finalidadede reconquistar Angola. Com novecentos homens e guarnições distribuídos em 21 navios, Benevides partiu para aÁfrica em 12 de maio de 1648, logrando êxito em sua missão.A impossibilidade de continuar sustentando o domínio do mar conduziu a situação difíc il para os invasores.Por isso, o Coronel Van den Brinck deliberou desferir outra batalha. Com 4.200 homens e seis canhões, ocupou osMontes Guararapes. Os nossos, dispondo de 2.600 infantes e 150 cavalarianos, tentaram desalojá -los, sem conseguir; às13 horas do dia 19 de fevereiro (1649), os holandeses desceram das posições que se encontravam, travando -se a luta naplanície, decidindo-se favoravelmente para os independentes. Brinck faleceu na refrega, juntando -se às mil baixasinimigas.A guerra ainda prosseguiu por mais cinco anos; os holandeses não se expunham além de Recife, e osindependentes não dispunham de artilharia de sítio nem de engenheiros para acometer as fortificações da cidade.Ao mesmo tempo em que os holandeses sofriam derrotas na colôn ia, como na batalha do monte das Tabocas enas duas batalhas de Guararapes, enfraqueciam-se também no cenário europeu diante da Inglaterra, que se transformarana sua principal concorrente no comércio internacional.Vários holandeses compreenderam que a l uta estava próxima do fim e por isso buscavam refúgio nas Antilhas.E as guerras navais que se abriram entre a Holanda e a Inglaterra, em decorrência do Ato de Navegação, de Cromwell,concorreram para apressar o desfecho. Os Atos de Navegação, decretados p elo governo inglês de Oliver Cromwell apartir de 1650, protegiam os mercadores ingleses e suprimiam a forte participação holandesa no comércio inglês. Astensões crescentes deram início à guerra entre Países Baixos e Inglaterra (1652 -1654), o que favoreceu a maior

aproximação entre ingleses e portugueses. Diante da derrota militar para os britânicos, os holandeses, enfraquecidos edesgastados, também perderam para as forças luso -pernambucanas, que, em 1654, puseram fim à sua dominação sobreo BrasilSchkoop e seus homens se viram reduzidos ao Recife, perdendo as suas praças fortes, cercados por mar pelos64 navios mercantes e 13 de guerra, comando do Almirante Francisco de Brito Freire, armados pela Companhia Geralde Comércio do Brasil. Assim, capitulou o Forte do Rego (14/01/1654). Na margem esquerda do Rio Capibaribe,rendeu-se o reduto Altenar (Major Berghen e 180 homens); no dia 23, pediu armistício o Forte Cinco Pontas,comandado por Waulter van Loo. Três dias depois, este, Cilbert de With e Huybrecht Brest assinaram com FranciscoÁlvares Moreira, o Capitão Manoel Gonçalves Correa e o Capitão Afonso de Albuquerque uma capitulação, com 27artigos, no local chamado Campina do Taborda (nome de um pescador residente no local). Barreto recebeu as chaves deRecife no dia 28. Os holandeses retiraram-se, em seguida, das terras brasileiras; alguns, porém, permanecerammisturando-se à população local.A Companhia das índias Ocidentais não se deu por vencida: em 1657 declarou guerra a Portugal e formalizouo bloqueio naval à entrada do Rio Tejo. Diante da resistência portuguesa, as hostilidades se abriram, passando emseguida às negociações diplomáticas graças à interferência do Rei da Inglaterra, Carlos II.Tantas exigências impôs o governo holandês que, somente a 6 de agosto de 1661, o Rei Afonso VI conseguiu aassinatura do Tratado de Haia, pelo qual a Companhia das índias Ocidentais desistiu do Brasil, indenizada com quatromilhões de cruzados e a posse do Ceilão, Málaca e Molucas.Os Anos do 1700:A Descoberta do Ouro:A pobreza da inicialmente próspera capitania de São Vicente, frente ao sucesso do empreendimento açucareirono Nordeste, levou à organização de bandeiras, expedições cujo objetivo era procurar riquezas no interior da colônia eapresamento de nativos, além de ataques contratados a quilombos, como ocorreram posteriormente.Diante da ocupação de Pernambuco e da região africana de Angola pelos holandeses, as demais capitanias nãotinham acesso a carregamentos de escravos. Assim, embora as primei ras bandeiras de apresamento de índios visassemobter mão-de-obra para a pequena lavoura paulista ou a venda para regiões próximas, progressivamente passaramtambém a sanar as dificuldades dos senhores de engenho do Nordeste, onde se localizava a maior pro dução agrícolabaseada em mão-de-obra escrava.Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do Oeste e Sul da colônia, capturando milhares de nativos ecobrando um valor mais alto pelos aculturados por estarem adaptados ao trabalho agrícola.A atividade apresadora de índios entrou em decadência, com o fim do domínio espanhol e a retomada docomércio de africanos pelos portugueses, normalizando o abastecimento de escravos para a colônia. Os paulistasorganizados em bandeiras dedicaram-se, então, a atacar aldeamentos de nativos insubmissos e de negros fugidos queviviam em quilombos. Essas expedições, a serviço dos fazendeiros ou da administração colonial, eram chamadas de105bandeiras de contrato, destacando-se a de Domingos Jorge Velho, que venceu a resist ência dos cariris e janduís edestruiu o quilombo de Palmares, em fins do século XVII.As mais importantes bandeiras foram, contudo, as destinadas à procura de metais preciosos, incentivadas pelametrópole devido ao declínio da economia açucareira nordest ina na segunda metade do século XVII devido ao sucessodo empreendimento exercido pelos holandeses nas Antilhas após a expulsão do Brasil. O financiamento das expediçõespaulistas trouxe a descoberta de ouro na região de Minas Gerais - como em Vila Rica, atual Ouro Preto, e Sabará -,depois Mato Grosso e Goiás, dando início à atividade econômica mineradora na colônia.Portugueses, estrangeiros e colonos de outras áreas, apelidados pelos paulistas de emboabas ("forasteiros"),foram atraídos para a região da s minas, entrando em conflito armado com os descobridores das jazidas e terminando por

expulsá-los da região. Os bandeirantes paulistas dirigiram-se, então, para a região central da colônia; em 1719, PascoalMoreira Cabral descobriu ouro em Cuiabá e, em 17 22, Bartolomeu Bueno Filho achou riquezas em Goiás.Apesar de terem dizimado e submetido à escravidão muitos grupos indígenas, é inegável a contribuição dasbandeiras para a ocupação e povoamento do interior do Brasil, fundando povoados, criando vilas, da ndo início àexploração mineradora e, sobretudo, ampliando as fronteiras da colônia além dos limites estabelecidos pelo tratado deTordesilhas.Os Vice-Reis na Bahia:A descoberta do ouro e dos diamantes e o conseqüente progresso da Colônia despertaram a administraçãoportuguesa, que passou a olhar com maior interesse para o Brasil, Coincidiu com o desabrochar do iluminismocartesiano entre os pensadores europeus, que influenciaram os governantes a assumir atitudes mais justas para com ospovos. Reinou D. João V de 1706 a 1750.A partir de 1714 os governadores gerais, que tinham por capital Salvador, ostentam o título de vice -rei, sem,contudo, existir qualquer ato de elevação do Brasil a vice -reino; foram enviados ilustres homens e administradorescapazes, que empreenderam obras de vulto.O Marquês de Angeja (D. Pedro Antônio de Noronha) realizou ótimo governo (1714 a 1718); serviu -se doBrigadeiro Jean Massé, calvinista francês, que ergueu fortificações no estilo Vauban e reformou e ampliou os fortes deS. Marcelo e do Barbalho, ambos em Salvador. Reabriu a Casa da Moeda, aumentou a Sé, enquanto a população iaconstruindo suas casas sem regularidade alguma. La Barbinnais, francês, visitou Salvador nessa época deixandointeressante descrição da cidade e de seu povo devoto e indolente.O Conde de Vimieiro (D. Sancho de Faro) sucedeu -lhe (1718) e, já doente, morreu a 13 de outubro de 1719,ficando uma Junta a exercer a administração. Conseguiu celebridade em razão do castigo aplicado aos piratas ingleses,cujo navio encalhara na costa fluminense, em Macaé, enforcando 27.Trazia a experiência, por ter sido vice -rei da índia, o Conde de Sabugosa (Vasco Fernandes Cesar de Menezes),que assumiu em 1720, estendendo, por 15 anos, o seu governo. Completou as obras d e fortificações e visitou diversascapitanias; severo e disciplinador, condenou sete soldados à morte, conseqüência de um motim em Salvador(10/05/1728); esclarecido, criou a Academia Brasílica dos Esquecidos, a 7 de março de 1724, em dependências de seupalácio, tendo se reunido 18 vezes. Iniciou a cobrança do donativo para perfazer o dote da Infanta D. Maria Bárbara(1727), num total de sete milhões de cruzados (a serem pagos em 25 anos).Substituiu-o Conde das Galveias (André de Meio e Castro), assumindo a 11 de maio de 1735; favoreceu acapital, concorrendo para a construção de três conventos de freiras: Lapa, Mercês e Soledade, este, iniciativa do jesuítaGabriel Malagrida.Sucedeu-lhe o Conde de Antouguia (D. Luis Pedro Peregrino de Carvalho de Meneze s e Ataíde) em 1749,permanecendo como vice-rei até 1755.Governou, em seguida (primeira intervenção do Marquês de Pombal), o 6º Conde dos Arcos (D. Marcos deNoronha), de 1755 a 1760. O conde reedificou o fortim do Rio Vermelho, bem como cobrou impostos q ue facilitaramPombal na reconstrução de Lisboa, vitimada pelo terremoto de 1755. O 1º Marquês do Lavradio (D. Antônio deAlmeida Soares e Portugal), último dos vice -reis que teve Salvador como capital, exerceu sua atividade por apenas seismeses, porque logo faleceu, ficando uma junta em seu lugar até 1763, quando houve a transferência da capital para oRio de janeiro.Progressos do Rio de janeiro:A tomada da cidade por Duguay-Trouin repercutiu fundo no espírito de seus habitantes: sacudiu -os da letargiado século anterior, fez-lhes nascer idéias patrióticas. A metrópole, por sua vez, preocupou -se com a defesa da praça,escoadouro natural da riqueza do planalto. Enviou o Brigadeiro João Massé com a incumbência de relatar as falhasmilitares e propor os meios de saná-las. O brigadeiro imaginou cercar o centro urbano de forte muro, o qual o protegeriados lados de terra, mas deixaria indefesa a marinha. Contudo, a sua construção começou a ser feita.Em 1719, começa a governança de Ayres de Saldanha e Albuq uerque, em cuja administração foi erguido o

Aqueduto da Carioca, uma dupla fila de arcos ligando o morro do Desterro (depois Santa Teresa) ao de S. Antônio (jádemolido), para que pudesse ser conduzido o precioso líquido até o chafariz, na ocasião construí do, que se chamou daCarioca, dando nome também ao largo e à Rua do Piolho, que dele saía em direção ao Campo dos Ciganos (hoje PraçaTiradentes).106Substituiu-o (1725 a 1732) Luis Vahia Monteiro, o Onça, assim apodado pela sua valentia pessoal e ousadia nocombate à marginalidade que proliferava na cidade. Opôs -se com tenacidade ao descaminho do ouro; ergueu umafortaleza na ilha das Cobras, retomada aos padres bentos; abandonou a construção do muro de defesa por entender queele nada defendia. Suas atitudes contrariaram a muitos notáveis que começaram a lhe mover oposição. Desgostou -se eadoeceu, momento em que a Câmara se aproveitou para afastá -lo do cargo.Inicia-se, então, o longo governo de Gomes Freire de Andrade, depois, em 1758, feito Conde da Bobadel a.Servindo-se do engenheiro e artista, Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, levantou a Casa do Trem (trem =conjunto de apetrechos militares), hoje servindo de sede do Museu Histórico Nacional, ergueu a casa do governador, noLargo do Carmo (hoje Praça XV de Novembro), construiu o Convento de S. Teresa (onde se encontra enterrado),acreditando nos ideais religiosos de Madre Jacinta de São José. Perto da Lagoa do Boqueirão, mandou levantar oConvento da Ajuda (demolido em 1913). Na Ilha de Villegagnon, a rrasou pequena elevação para edificar umaimponente fortificação, da qual ainda se guardam restos encastoados na Escola Naval. Seu devotamento à cultura lhepermitiu apadrinhar a criação das Academias dos Felizes e dos Seletos, bem como a instalação da tip ografia de AntônioIsidoro da Fonseca. incumbido pelo Marquês de Pombal de chefiar a comissão demarcadora meridional do Tratado deMadri, esteve ausente da governança por vários anos, empenhando -se arduamente na tarefa que lhe fora confiada.Faleceu no Rio, a 12 de janeiro de 1763. já estava amadurecida a idéia de transferir a capital de Salvador para o Rio,onde melhor se atenderia à mineração e às fronteiras platinas.Durante esse período, a cidade se alargou em direção norte, ocupando terras pertencente s aos jesuítas, ou emdireção de Botafogo, onde João de Sousa Pereira Botafogo possuía extensa propriedade. Lagoas vão sendo aterradas,transformadas em largos e praças, Mas as ruas, tortuosas, ainda não tinham iluminação nem calçamento. Apresentava -seflorescente a vida econômica, quer por causa dos contratos das baleias, quer pelo mercado de "peças" da África, oumesmo pela produção de açúcar e aguardente. A indústria naval encontrava -se em franco progresso. A crescenteprosperidade de seus habitantes, al iada ao forte espírito religioso, permitiu a construção de suntuosas igrejas.A Administração do Marques de Pombal:Grandes mudanças se operaram no início do reinado de D. José I, que ascendeu ao trono português em 1750.Nomeando Sebastião José de Carvalho e Melo, antigo representante em cortes da Inglaterra, 1738, e Áustria, 1744,onde se casou com Leonor Daun (da nobreza austríaca), ministro do Estrangeiro e Guerra, o rei depositou,gradativamente, em suas mãos confiança e poderes. Dignificou -o como Conde de Oeiras e Marquês de Pombal. Suapresença e atuação apagaram o rei: o verdadeiro monarca foi Pombal.O Iluminismo forneceu o respaldo para a atuação do Marquês de Pombal, em Portugal e no Brasil.Percebeu, o esclarecido ministro, que os padres inac ianos dificultavam a execução dos acordos diplomáticos noSul do Brasil, agitado pela Guerra Guaranítica. Por isso, determinou a liberdade dos índios (Carta -régia de 4 de abril de1755 para o Estado do Grão-Pará e Maranhão e 8 de maio de 1758 para o Estado do Brasil), acabando com aadministração dos sacerdotes nas aldeias.Mas os jesuítas desfrutavam de grandes poderes. Chegaram, mesmo, a conspirar contra a vida do rei, junto como Duque de Aveiro; D. José I escapou com ferimentos de um atentado (03/09/17 58) ocorrido perto do Palácio da Ajuda.Condenados diversos implicados, entre os quais os marqueses de Távora, Pombal conseguiu o assentimento do rei paraexpulsar os jesuítas de terras portuguesas (03/09/1759). Os 550 inacianos residentes no Brasil foram compelidos a sair.

O prosseguimento da Guerra Guaranítica conduziu a acertar com a Espanha o Tratado de El Pardo (1761): aguerra indígena chegava ao fim, mas novos conflitos se abriam nas fronteiras sulinas tendo por antagonistas os aliadosanteriores.Pombal anulou todas as regalias dos antigos capitães donatários, acabando por abolir as primitivas capitanias,em 1759, através de concessões aos donatários existentes. Conservou -se apenas o nome, como divisão administrativa.Reuniu as capitanias de Porto Seguro e Ilhéus à da Bahia. Criou as de São José do Rio Negro, Rio Grande de São Pedroe Piauí. Tendo em vista a extração do ouro e o cuidado com a fronteira sulina, achou o marquês ser melhor transferir acapital para o Sul, escolhendo a Cidade do Rio de Janeiro. Elevou a Colônia à categoria de vice -reino (1763), abrindouma época faustosa para o Brasil.Extinguiu, em 1774, o Estado do Maranhão, centralizando a administração. Numerosas vilas nasceram e sedesenvolveram em todo o território. Instalou -se, no Rio de janeiro, um tribunal da Relação (1751), bem como diversasjuntas de justiça, nas capitanias.Pombal preocupou-se com a situação econômica do Brasil, criando as Companhias de Comércio do Grão -Paráe Maranhão e de Pernambuco e Paraíba. Acabou com o s contratos de diamantes.Dos Açores, conseguiu enviar perto de vinte mil colonos a fim de contrabalançar a medida de liberdade dosíndios. Ao mesmo tempo, estimulou os casamentos entre portugueses e nativas. Aboliu a discriminação entre cristãosvelhos e novos, estes de procedência judia (25/05/1773). Diminuiu os poderes do tribunal da Inquisição (01/09/1774).A morte do Rei D, José I (24/02/1777) interrompeu a atuação do Marquês de Pombal. A nova soberana, D.Maria I, derrubou o marquês, perseguiu -o e condenou-o a viver a vinte léguas de Lisboa; esse movimento ficouconhecido como a "Viradeira". D. Maria I governou somente até 1792, quando, pela insanidade que a perturbou, ocupoua regência seu segundo filho, D. João (mais tarde D. João VI).107O Governo dos Vice-Reis no Rio de janeiro:A transferência da capital para o Rio de janeiro e a elevação a vice -reino, medidas tomadas pelo Marquês dePombal, em 1763, marcaram uma nova etapa para o Brasil: um amadurecimento, lento, mas decisivo, caracteriza ogoverno dos vice-reis no Rio de janeiro.Homens de reconhecida capacidade administrativa e militar, dedicados funcionários, pertencentes à nobreza eligados à monarquia, os vice-reis conduzem o Brasil a uma época de esplendor dentro do período colonial, enc erradacom a chegada da Corte, em 1808.O Conde da Cunha (D. Antônio Álvares da Cunha), primeiro desses vice -reis, preocupou-se com a organizaçãomilitar. Recebeu o Tenente -General João Henrique Böhm, com seus auxiliares, Jacques Funck e Francesco Roscio, e osregimentos portugueses, para os quais construiu quartéis. Criou uma companhia de dragões de cavalaria, para a guardado vice-rei. Reaparelhou diversas fortificações costeiras, especialmente as do Rio de janeiro e a de S. Antônio do MonteFrio, em Macaé. Como ponto alto de sua administração, criou o Arsenal de Marinha do Rio de janeiro. Teve, também,de executar a Carta-régia de 1766, que extinguiu o ofício de ourives em Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.Substituiu-o, em 31.08.1767, o Conde de Azambuja, D. Antônio Rolim de Moura, continuador de sua obra.A partir de 1769, comanda os destinos do Brasil o Marquês do Lavradio (D. Luis d'Almeida Portugal). Durantenove anos, foi um incansável administrador, incrementando as atividades agrícolas, int roduzindo as culturas do chá, doarroz, da anileira (para a fabricação do anil ou índigo), do cânhamo, protegendo as primeiras plantações de café,despertando o interesse pela amoreira e a cultura do bicho -da-seda e da cochonilha, pequeno inseto nativo do Méxicocapaz de produzir matéria tintorial (ácido carmínico). Mandou arruar parte da capital, dando origem ao bairro da Glória,

que dotou de um chafariz que se conserva até hoje. Reaparelhou as defesas do Rio de janeiro e edificou o Forte doLeme. Durante sua gestão partiram as tropas luso-brasileiras para o sul, obtendo, o Tem-General Böhm, a restauraçãodo Rio Grande. Houve, contudo, a perda da ilha de Santa Catarina. Não se descuidou o marquês da instrução, criandouma Aula de Comércio, para caixeiros.Sucedeu-lhe outro grande estadista: Luis de Vasconcelos e Sousa (30/04/1778 a 09/05/1790), dedicado aoembelezamento da capital. Preparava -a, sem o saber, para receber a monarquia. Ajudado por Mestre Valentim(Valentim da Fonseca e Silva), construiu o Passe io Público, onde se espalhava, pestilenta, a Lagoa do Boqueirão, comterras do morro das Mangueiras, que desapareceu; ganhava a cidade um salão ao ar livre. E, em frente ao portãoprincipal, nascia a rua das Belas Noites (Marrecas, depois), em aclive suave , a encontrar-se com a dos Barbonos (hojeEvaristo da Veiga). Inaugurou a iluminação pública a óleo de baleia ou peixe, com 73 lampiões e povoou a cidade dechafarizes, em especial o da Pirâmide, da lavra de Mestre Valentim. Criou a Casa dos Pássaros, orig em do MuseuNacional. Reedificou a Igreja e Recolhimento do Parto, vítimas de grande incêndio (1789). Perseguiu oscontrabandistas de ouro e conseguiu encarcerar o famoso bandido Mão -de-Luva, alcunha de Manoel Henriques, quedesencaminhava o ouro que encontrara em um arraial (hoje cidade de Cantagalo - RJ). Uma conjuração, tendo porcenário Vila Rica, pretendeu emancipar parte do Brasil; seus líderes, denunciados, acabaram presos.O Conde de Resende (D. José Luis de Castro), que assumiu em seguida (até 14/1 0/1801), não se tornou bemvistopela população, que lhe deu o apelido de “Conde da Resinga”; levantou o segundo andar do palácio dos vice -reis;abriu algumas novas ruas na capital. Apressou a devassa contra os conjurados mineiros, que se concluiu em sua g estão.Fechou a Sociedade Literária, crendo ter esta implicações com o movimento de Minas. Ocorreu, também, a ConjuraçãoBaiana.Seguiram-se D. Fernando José de Portugal e Castro (14/10/1801) e D. Marcos de Noronha e Brito, 8º Condedos Arcos (até 22/01/1808).Progresso Econômico:O século XVIII corresponde ao ciclo do ouro, conseqüência lógica do encontro das minas e veios auríferospelos bandeirantes e desbravadores. Os mineradores e tropeiros vão lentamente sedimentando a conquista obtida,também, graças ao aventureiro ávido de riquezas, que termina por se fixar no interior após a dissolução de seus sonhosde grandeza.Em 1702, 19 de abril, a metrópole organizou o Regimento dos Superintendentes, Guardas -Mores e Oficiais-Deputados para as Minas de Ouro e, para cumpri-lo, instituiu a Intendência das Minas.Qualquer descoberta devia ser comunicada à intendência; os guardas -mores demarcavam o local e distribuíamas "datas" (porções de terra), exclusão de uma, do descobridor, e de outra, da Coroa. As demai s entravam em sorteiopara os candidatos possuidores de, no mínimo, 12 escravos.A princípio, os mineradores apenas afastavam o cascalho da margem dos ribeirões com toscos instrumentos;passo importante representou a adoção da bateia, de origem africana. A presença da água consistia em necessidadeelementar: apanhava-se ouro nos córregos (ouro da água), nas margens dos rios (ouro de tabuleiro) e nas encostas secas(ouro de grupiara), utilizando-se a água para o desmonte do cascalho. A "cata" do ouro era si mples nos dois primeiroscasos, mas complicava-se no terceiro, devendo-se levar a água, por força humana ou animal, a regos de madeira,provocando, pela atuação da gravidade, a lavagem das faldas dos montes e a formação de uma "cata" artificial. Daí aimportância das águas, origem de muitas desavenças. Obtinha -se o ouro de veio talhando a rocha e triturando ospedaços em pilões.Ao rei cabia 20% do ouro encontrado: consistia no "quinto", imposto que aparece nas Ordenações e regimentosmineiros, desde os primeiros tempos coloniais. Em virtude das dificuldades de arrecadação e de fiscalização, a108Intendência estipulou, em 1713, por proposta dos mineradores, a finta, anuidade fixa cobrada ao distrito mineiro,montante em trinta arrobas de ouro; em 1718, reduziu -se para 25. Esta fórmula não suprimia a sonegação; por isso, a

metrópole criou as Casas de Fundição em 1720, mas com atuação efetiva a partir de 1725, destinadas a converter o ourominerado em barras seladas, proibindo -se, igualmente, a circulação do ouro não quintado, A produção diminuiu tantoque a Intendência das Minas aplicou a capitação, a partir de 1º de julho de 1735, sem eliminar a arrecadação dosquintos. A capitação consistia numa taxa fixa (quatro oitavas e 3/4) que o minerador pagava por cada e scravo de maisde 14 anos empregado na sua lavra; as lojas, vendas e boticas da região mineira contribuíam com uma capitação quevariava entre oito e 24 oitavas (cada oitava equivalia a 3,586 gramas). Avolumaram -se os protestos contra esse sistema,injusto, pois devia ser pago mesmo nas fases de pesquisa ou ainda que nenhum resultado se chegasse, Assim, a Coroaretomou ao quinto, depois de 3 de dezembro de 1750, exigido sob a forma de finta, equivalente a cem arrobas.Somaram-se os déficits por causa da exa ustão dos veios auríferos, arrecadados compulsoriamente sob a forma dederrama, a qual não consistia em novo imposto.Mas o contrabando do ouro ou o "descaminho", bem como a falsificação dos selos reais para a fabricação debarras sem a retirada do impost o, floresceu em todo o século XVIII, apesar das medidas repressivas e da vigilância dosregistros, postos de fiscalização nos caminhos das Minas. Através de trilhas pouco freqüentadas, o ouro era levado aSalvador ou ao Rio de Janeiro e, desses portos, par a outros lugares, como Açores, Buenos Aires, Antilhas, de onde setransportava para a Europa. Contribuía a venalidade de muitos funcionários públicos, mesquinhamente pagos.Utilizava-se qualquer fardo para esconder o ouro, tendo ficado famosos os santos -de-pau-oco. O governador do Rio,Luis Vahia Monteiro, sobre tudo isso preveniu a Coroa, não tendo desta recebido apoio devido. Célebre ficou aquadrilha de Inácio de Souza Ferreira que tinha uma fundição clandestina na serra de Paraopeba e agentes espalhadosnas principais cidades.Calcula-se a produção aurífera em 982t, o que representa boa parte do ouro circulante no mundo. Entretanto, acondição política do Brasil não lhe permitiu aproveitar -se dessa riqueza para próprio desenvolvimento. Serviu paraPortugal levar uma vida luxuosa e de ócio, adquirindo produtos manufaturados ingleses e entregando à Inglaterra, aospoucos, o ouro brasileiro. Mas o sonho das minas não durou muito: antes de terminar o século XVIII, o ouro já estavaesgotado. Deficiências técnicas e ignorância dos mineradores aliaram-se para impedir a extração de depósitosprofundos.As primeiras notícias de diamantes datam de 1714, Pouco depois, em 1727, Bernardo da Fonseca Lobo achouas primeiras pedras no sítio de Morrinhos, em Cerro Frio. Vários mineradores acorreram à região. Em 1734, Portugalcriou a Intendência dos Diamantes, submetida a uma legislação especial, o Regimento das Terras Diamantinas(conhecido como Livro da Capa Verde), datado de 1771. Até 1740, permitiu -se a livre exploração; depois, contratou-secom particulares a obtenção dos diamantes, delimitando -se o Distrito Diamantífero, cujo centro localizava -se no Arraialdo Tijuco (hoje Diamantina). O contratador devia pagar, aproximadamente, £40.000 anuais. Famosos ficaram Felisb ertoCaldeira Brant, que encontrou falência depois de vários infortúnios, e João Fernandes Oliveira, que não mediu dinheiropara contentar Xica da Silva.Calcula-se em três milhões de quilates o fornecimento durante a época colonial, provocando uma baixa de75%, por quilate, na venda de diamantes em mercados da Europa.A exploração das minas acarretou um rápido povoamento do interior. Sendo o ouro a preocupação maior,ninguém pensou em plantar e criar, o que gerou uma grande dificuldade de vida, pela defi ciência dos meios desubsistência. A comida vinha de muito longe e chegava às Minas por preços absurdos. Assim, surgiram as fortunasalicerçadas no comércio e na criação de gado. O ouro mudou o posicionamento social: nos séculos anterioresimportavam as grandes sesmarias agora a situação social fundamentava -se nas riquezas móveis, Com o tempo,dispersam-se os mineradores; arraiais, povoados e vilas se formam; desenvolve -se o comércio com o litoral, ao mesmo

tempo em que são abertos caminhos percorridos pelo s tropeiros. A parte Sul, com o Rio de Janeiro à frente, progrediumuito, enquanto o Nordeste entrou lentamente em decadência.Corria o dinheiro português quer cunhado no Reino, quer produzido nas casas de moeda em Minas. De ouroexistiam: a dobra de oito escudos e valor de 12,800 réis, a dobra de quatro escudos, com valor de 6.400 réis, a meia -dobra, de 3.200, o escudo, de 1.600 réis, o meio -escudo e o quarto de escudo, chamado cruzado. De 1724 a 1727,existiram os cruzados-novos, com valor de 480 réis. A unidade da moeda de prata chamava -se tostão, com valor de 100réis. Havia moedas de cobre de 40 e 20 réis, A diversidade de moedas e a variedade de cunhagens produziram umsistema monetário verdadeiramente anárquico, isso sem contar com a presença de moed as falsificadas pelas própriascasas de moedas ou por particulares.O açúcar, grande riqueza do século XVII, ocupou, no século XVIII, lugar secundário. Fazendas sedespovoaram por causa das minas, coincidindo com a baixa do preço do produto que já começav a a enfrentar aconcorrência do produzido nas Antilhas. Contudo, a Bahia exportava, em 1798, de 14 a 18 mil caixas de açúcar, ePernambuco, de 12 a 13 mil.O cultivo do tabaco intensificou-se pelo desenvolvimento do vício de fumar. Antonil dedicou 12 capí tulos deseu livro ao tabaco. Havia, em Lisboa, uma Alfândega do Tabaco, reorganizada por Pombal em 175 1. Em certos anos,o lucro com o tabaco subia ao dobro do que se obtinha com o ouro. Provavelmente em 1757, Pombal enviou à Vila deCachoeira, na Bahia, André Moreno com a incumbência de preparar o tabaco em folhas para a fabricação de charutos.O cacau conseguiu um lugar de destaque, existindo plantações em Ilhéus, sul da Bahia.Somente no final do século, renasceu a economia agrícola vinculada ao algo dão, vegetal têxtil nativo daAmérica. O nascimento de indústrias fabris mecanizadas, resultado da descoberta da máquina a vapor (James Watt em1769), ofereceu ao Brasil a oportunidade de produzir algodão e vendê -lo à Inglaterra, que começou a encontrar109dificuldades de extrair de suas próprias colônias americanas. Em 1775, a produção atingia cinco milhões de libras(peso), aumentando, em 1791 para 26 milhões. O cultivo do algodão concentrou -se no Maranhão, espalhando-se,depois, em outros pontos do litoral. As atividades ficaram vinculadas ao escravo, usando -se o descaroçamento manual;a máquina inventada por Eli Whitney, em 1793, não chegou a ser conhecida no Brasil.Os colonizadores aproveitaram-se de muitas espécies vegetais indígenas, neste século XVIII já participando daalimentação dos habitantes, como procuraram plantar os vegetais que normalmente integravam a sua dieta européia; otrigo e a uva não chegaram a se desenvolver, apesar dos esforços despendidos; diversas árvores frutíferas se deram beme passaram a ser cultivadas, Merece citação especial o coqueiro, proveniente da Ásia e da Oceania. O vice -rei, 2ºMarquês do Lavradio, iniciou o cultivo do arroz e do chá, este plantado com sucesso nos arredores do Rio de Janeiro.Não sendo alimentícias, mas de alto interesse, lembremos o cultivo da amoreira, da anileira e do cânhamo. Utilizou -se,também, o mate, proveniente das missões guaraníticas.O café, introduzido no Pará, em 1727, pelo ajudante Francisco Xavier Palheta, que transportou a planta daGuiana Francesa, cumprindo ordem do governador do Estado do Maranhão, João Maia da Gama, ainda estava em fasede aclimatação.Percorrendo a costa norte do Brasil lentamente e sem muito sucesso, o café chegou ao Rio de Janeiro, trazidopelo desembargador do Maranhão João Alberto Castelo Branco, ocasião em que governava a Repartição do Sul GomesFreire de Andrade (1760). Apenas duas mudas foram plantadas em chãos do Convento dos Barbonos, na rua do mesmonome (hoje Evaristo da Veiga). Apesar dos desvelos dos pa dres, uma delas morreu, mas a outra se desenvolveu dandofrutos que, apanhados pelo holandês J. Hoppman, este os plantou em suas terras de Mata Porcos (hoje Estácio),

formando extenso cafezal, protegido pelo vice -rei Marquês do Lavradio. Rapidamente, os pé s de café se espalharam naterra carioca, principalmente na fazenda do Mendanha, de propriedade do Padre Antônio Couto da Fonseca, que osplantou na vila de Resende, fundada pelo vice -rei Conde de Resende. Ao final do século, podiam ser vistas plantaçõesde café em São Paulo e Minas Gerais.Durante o século XVII, o gado bovino subiu morosamente pelas duas margens do Rio São Francisco até assuas nascentes. Criado extensivamente, ele se multiplicou em terras mineiras, atingindo, neste século XVIII, o planal togoiano e mato-grossense. De São Vicente, foi o gado levado para Paranaguá, e de tal maneira ele se desenvolveu, queos criadores procuraram os "campos de cima", fundando Curitiba. De Curitiba, o gado caminhou para o sul,encontrando bons pastos nos pampas sulinos. Nessa região, o gado cavalar começou a ser criado com bastante proveito,barateando o preço da montaria até então acessível a poucos, No fim do século, a área sulina produzia excelentecharque, distribuído para todo o Brasil, ocasionando a deca dência parcial do gado nordestino.A circulação de riquezas, resultado da descoberta das minas, provocou o nascimento de pequenas manufaturas:cerâmica, metalurgia, ourivesaria, tecelagem e outras menores, o que não foi bem -visto pela metrópole. Em 1766,ficava proibida a profissão de ourives. O alvará de 5 de janeiro de 1785 proibiu a instalação de estabelecimentos fabris.Em conseqüência, as tecelagens paralisaram-se, com exclusão daquelas destinadas ao fabrico de tecidos para osescravos e sacaria. Bastante desenvolvida mostrou-se a pesca da baleia, cetáceo abundante no litoral sul, em especial naBaía de Guanabara; no Rio de janeiro, funcionaram armações que industrializavam a carne, azeite, barbatanas e oespermacete (cera branca existente na cabeça de baleias e cachalotes empregada na fabricação de cosméticos). Oscurtumes necessários a obtenção de couro, utilizável para a exportação, existiram em vários centros urbanos. E asfábricas de anil, no Rio e no Pará, chegaram a exportar para a metrópole até quinhentas arrobas anuais.Continuamos, neste século XVIII, a enviar para a metrópole os produtos nativos brasileiros, recebendo, emtroca, os manufaturados de origem portuguesa ou estrangeira, através de comerciantes portugueses. Chamava -se, esseintercâmbio, de Pacto Colonial, estando vedado a qualquer nação fazer o comércio direto em portos brasileiros. Mas,em algumas vezes, navios ingleses burlavam esse acordo e, alegando arribada forçada, efetuavam trocas comerciaisdiretas, com alguns subornos às au toridades locais. O comércio interno, via terrestre, com as terras espanholas, tornou -se muito importante e até hoje pouco conhecido, dado o seu caráter de contrabando. Muitos “peruleiros” embrenhavam -se pelas regiões desconhecidas, visando lucros com as p opulações andinas, brancas ou nativas.Apesar de a Companhia Geral de Comércio do Brasil ter sido extinta em 1720, a idéia renasceu durante a épocade Pombal, que criou, em 1755, a Companhia de Comércio do Grão -Pará e Maranhão e, em 1759, a Companhia dePernambuco e Paraíba. Ambas conseguiram altos lucros praticando abusos na venda de produtos que monopolizavam.Foram extintas por D. Maria I em 1778 e 1779, respectivamente.O comércio negreiro mostrou-se ativo e compensador durante este século XVIII, graç as às necessidades dasminas, onde o africano não vivia muito tempo. Havia um trânsito permanente de tumbeiros para os mercadosbrasileiros, enriquecendo a quantos a esse negócio se dedicavam.Relativamente ao comércio interno, não possuímos dados suficie ntes. Tratavam-se de mercadorias destinadas àexportação e que eram transportadas aos portos de embarque; e os produtos estrangeiros que, a partir desses mesmosportos, se distribuíam no resto do país. Tropas de muares percorriam os caminhos conhecidos sol idificando a conquistaque os bandeirantes haviam iniciado.110As Revoltas Coloniais - Inconfidências e Sedições:No final do século XVII, o Brasil começou a entrar numa fase de profundas transformações. Reinóis, nativos eescravos amalgamavam-se nas duras tarefas de conquistar a terra, domesticar o gentio e, sobretudo, expulsar invasores.Formava-se lentamente a argamassa do povo brasileiro, provocando movimentos sediciosos ainda inconsistentes e de

fundo nitidamente econômico, uma reação contra o fí scalismo exagerado. A amplitude territorial e a heterogeneidade dapopulação não permitiram a presença de movimentos amplos e sim regionais.Estão entre as principais revoltas a Aclamação de Amador Bueno (SP), A Sedição do Rio de Janeiro, ARevolta de Beckman (MA), A guerra dos Emboabas (SP/MG), A guerra dos Mascates (PE), O Motim do Maneta (BA),A Revolta de Vila Rica e A Conjuração do Rio de Janeiro, todas de caráter nitidamente terrestre e sem participação defatos marítimos.Houve também movimentos de Emancipação como a Conjuração ou Inconfidência Mineira e a ConjuraçãoBahiana.Nesta parte veremos apenas a revolta que teve alguma participação naval.1) Conspiração ou Conjura de Nosso Pai:Logo depois da expulsão dos holandeses de Pernambuco, veri ficou-se um motim popular no Recife contra apessoa do seu terceiro capitão-general, Jerônimo de Mendonça Furtado, o “Xumberga" (assim apelidado por usarbigodes iguais a von Schomberg), que todos sabiam tirano e desonesto.O pretexto surgiu quando o gove rnador ofereceu festejos ao Marquês de Mondevergue, comandante de umaesquadra francesa de 12 velas procedente de São Lourenço em direção a Madagascar. A cordialidade pareceu traição.Conspiraram o ouvidor André de Barros Rego, os vereadores de Olinda, Lou renço Cavalcanti, João Ribeiro e algunsprincipais.Organizada uma falsa procissão de Nosso Pai ou Viático (destinada à extrema -unção dos moribundos), na tardede 31 de agosto (1666), esta tomou a direção da casa do governador, que não hesitou em acompanh á-la. Emdeterminado momento, os conjurados dominaram a escolta do governador, o colocaram no Forte do Brum, remetendo -opreso, no dia seguinte, para o Reino (em Portugal, recebeu condenação de cárcere perpétuo na Ásia). No mesmo dia, apopulação depredou casas e atacou aos marujos franceses.O vice-rei não castigou o delito; nomeou André Vidal de Negreiros para prover o cargo, nele permanecendoseis meses.2) A Revolução Pernambucana de 1817:As antigas tradições de bravura e liberdade da terra pernam bucana explodiram em 1817, já sob administraçãodireta de D. João, como uma conseqüência direta da atuação da maçonaria, ainda não definitivamente implantada entrenós, bem como por causa do esclarecimento de muitos de seus filhos, principalmente sacerdote s, os quais haviamadquirido largueza intelectual no seminário de D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho em Olinda. Nãofaltavam, em Pernambuco, sociedades secretas, como o Areópago de Itambé, responsável pelo plano de trazerBonaparte para o Brasil, no que se convencionou chamar a Conspiração dos Suassunas (1801), fato um tanto brumosoem razão da escassez de documentos, a Academia do Cabo, a Loja Restauração, a Academia do Paraíso, a UniversidadeSecreta, de Antônio Carios, e a Escola Secreta, de Vi cente Ribeiro dos Guimarães Peixoto. Divergências entre reinós ebrasileiros aumentaram as dificuldades nos relacionamentos entre os habitantes, agravadas por uma crescente alta docusto de vida, resultado de diversos matizes de atravessadores e da baixa d o produto básico da região, o açúcar, nosmercados estrangeiros.A situação econômica agravara -se em virtude de exigências do governo estabelecido no Rio de janeiro; acresceter sido assolado o Nordeste, em 1816, por intensa seca.Governava a capitania Caetano Pinto de Miranda Montenegro, desde 1804, o qual havia feito, durante seteanos antes, excelente administração em Mato Grosso, criando a fortificação de Miranda. O povo de Pernambuco,maliciosamente, dizia ser ele Caetano no nome, Pinto na coragem, M onte na altura e Negro nas ações, o que nãocorresponde à realidade. Estavam descontentes os pernambucanos, conforme apontou o depoimento de Antônio CarlosRibeiro de Andrada.Nessa ocasião, o capixaba Domingos José Martins, que vivia em Londres como sóci o de importante firmacomercial (Barroso, Martins, Dourado & Carvalho), chegou a terras pernambucanas assumindo a liderança de ummovimento republicano de independência, tal como prometera a Francisco de Miranda. Fundou a loja maçônica

Pernambuco do Ocidente. Na sua casa do Recife, ou no engenho do Cabo, reuniam -se os conjurados, sendo os maisexaltados o Padre Miguelinho (Miguel Joaquim de Almeida e Castro), o Padre João Ribeiro Pessoa, o Padre Roma (JoséInácio Ribeiro de Abreu e Lima), Frei Joaquim do Am or Divino e Caneca, Antônio Gonçalves da Cruz, vulgo"Cabugá", Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, o Capitão Domingos Teotônio Jorge Pessoa, Guimarães Peixoto,Manoel Correia de Araújo, Antônio de Morais Silva (famoso por seu Dicionário da Língua Portuguesa ).111Um alferes do regimento dos Henriques, Roberto Francisco Cabral miliciano preto, surrou um português queinjuriava os brasileiros; este fato, ocorrido na festa anual da Estância, em fevereiro, que comemorava a derrotaholandesa, provocou tensão na tropa.Delatado o movimento por José da Cruz Ferreira, procurou o governador aplaca -lo. Em ordem do dia de 4 demarço, recomendou aos oficiais e praças dos regimentos andarem em paz no tratamento cotidiano; no dia 6, o ConselhoMilitar, por ele reunido, deliberou sobre a prisão dos maiores suspeitos, logo efetivada pelo Marechal José RobertoPereira da Silva, em relação aos paisanos, o mesmo não conseguindo o Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro,no caso dos militares, pois encontrou a morte na espada d o Capitão José de Barros Lima, conhecido como LeãoCoroado. Sabedor do ocorrido, mandou o governador seu ajudante -de-ordens, Tenente-Coronel Alexandre Tomás, aoquartel revoltoso, onde foi recebido a tiros, morrendo.O governador refugiou-se no Forte do Brum (este nome deriva da corruptela do nome holandês Bruyn),enquanto o Tenente Antônio Rabelo soltava os conspiradores presos. A população vibrava e dava gritos de morte aos"marinheiros", isto é, aos portugueses. A 7 de março, Caetano Pinto assinou uma c apitulação, sendo-lhe permitidoembarcar, no dia 10, para o Rio de janeiro.Os revoltosos organizaram um governo republicano provisório de cinco membros (Domingos José Martins,Domingos Teotônio Jorge, José Luís de Mendonça, Padre João Ribeiro e Manoel Co rreia de Araújo) e de um conselhoconsultivo, com igual número, fundamentada a sua situação jurídica pela publicação de um folheto conhecido pela suaprimeira palavra: Preciso, de José Luis de Mendonça. Esse governo revolucionário adotou algumas medidas fú teis eoutras sem expressão, bem como determinou enviar delegados a países estrangeiros. "Cabugá" partiu para os EstadosUnidos, ligando-se aos emigrados franceses que queriam tirar Napoleão de Santa Helena; o inglês Kesner, paraLondres; e Félix José Tavares de Lira, para Buenos Aires, a fim de solicitarem ajuda a esses governos. Ideou -se umabandeira desenhada por Antônio Alves, redigiu -se um projeto de Constituição, no qual vinha assegurada a liberdade deimprensa e de religião e a igualdade de todos per ante a lei.Aderiu ao movimento a capitania da Paraíba, por causa da anuência do Tenente -Coronel Francisco José daSilveira, um dos que detinha o poder legal, seguindo -lhe a do Rio Grande do Norte, com liderança do Coronel André deAlbuquerque Maranhão. O governo revolucionário mandou logo para o Ceará o seminarista José Martiniano deAlencar, que, apenas, provocou ligeiro motim no Crato, preso pelo Capitão -mor José Pereira Filgueiras. Na Bahia, ondehavia simpatizantes, o seu governador, o Conde dos Arcos , não teve dúvidas em fuzilar o Padre Roma, emissário dospernambucanos, no Campo da Pólvora (29/03/1817), atual Praça Pedro II.O mesmo governador da Bahia iniciou a contra -ofensiva. Três navios mercantes, armados em guerra,comandados pelo Capitão-Tenente Rufino Batista, bloquearam Recife, enquanto os 1.500 homens liderados peloMarechal Joaquim de Melo Leite Cogominho de Lacerda efetuavam penosa marcha por terra, passando por Vila Nova ePenedo.De tudo soube D. João, a 25 de março, com a chegada de Ca etano Pinto, recolhido à fortaleza da ilha dasCobras. Mandou aprestar uma força naval (fragata Tetis, capitânia, Capitão -de-Fragata Luís da Cunha Moreira, brigues,Benjamim, Capitão-Tenente Fernando José de Melo, e Aurora, Capitão -de-Fragata José Félix Pereira de Campos, e a

escuna Maria Teresa, Capitão-Tenente Nuno José Manoel de Melo) e a entregou ao Chefe -de-Esquadra Rodrigo Lobo.Este içou velas e partiu em 2 de abril.Diversos voluntários se alistaram no Rio de janeiro, formando um contingente, sob o comando do BrigadeiroLuis do Rego Barreto; dirigiram-se para as capitanias conflagradas em uma divisão de transporte, a 4 de maio,totalizando três mil homens.As capitanias que aderiram ao movimento entraram logo na legalidade. A tropa baiana vencia os bisonhosrevolucionários no engenho do Utinga. O Marechal Cogominho atravessava a região de Alagoas e se avizinhava dalocalidade de Serinhaérn, onde o Capitão Antônio dos Santos logrou prender Domingos José Martins, colocado em umdos navios da esquadra bloqueadora. A 13 de maio, Cogominho atacou e venceu o Coronel Luis Francisco de Paula noTrapiche do Ipojuca, evadindo-se, este, em veloz montaria.Domingos Teotônio, aclamado ditador nesses dias agitados, ainda tentou uma reação, mas preferiu abandonarRecife, com quase dois mil adeptos, que se dissolveram na marcha para o interior. As forças legais entravam em Recife,20 de maio.Alguns rebeldes foram encaminhados para Salvador, à exceção do Padre João Ribeiro, que se suicidouenforcando-se em uma árvore.Julgados por um tribunal militar, recaiu a execução em 12, entre os quais Domingos José Martins, DomingosTeotônio Pessoa, Capitão José de Barros Lima e o Padre Miguelinho, sacrificados no Campo da Pólvora. O reiconcedeu alguns perdões isolados como júbilo pela sua aclamação; em 1821, 6 de fevereiro, decretou anistia geral.Entre os anistiados, Monsenhor Francisco Muniz Tavares notabilizou -se pelo relato que fez dos fastos revolucionários.Amadurecia o ideal de independência que cinco anos mais tarde seria uma realidade concreta.112As Questões de Fronteiras:1) Tratados de Utrecht:Desde o século XVI, corsários franceses farejaram as costas brasílicas contrabandeando o pau -de-tinta. Suastentativas de fixação na terra, em toda a região do Atl ântico Sul, foram frustradas pelos portugueses, que sempreconseguiam alijá-los, empurrando-os para o Norte. Localizados bem acima da foz do Amazonas, empenharam -se emuma expansão em terras, não bem definidas, de Portugal. Invadiram o Amapá, chamado de Gu iana brasileira. OGovernador do Estado do Maranhão, Antônio de Albuquerque, apressou -se em enviar tropas que iniciaram difícil eprolongada luta, solucionada pelo Tratado de Utrecht de 1713.As negociações diplomáticas de Utrecht representaram o fim da g uerra de Sucessão da Espanha. Delas fezparte Portugal por ser aliado da Inglaterra, enviando João Gomes da Silva, Conde de Tarouca, e D. Luis da Cunha, queobtiveram com a diplomacia o que teria sido muito dispendioso com a força das armas. No Tratado de 11 de abril, aFrança renunciava as suas pretensões às terras do Cabo do Norte, situadas entre os rios Amazonas e Oiapoque ouVicente Pinzón, aproveitando-se este último para servir de fronteira entre as duas nações. Representou um êxitodiplomático português.No segundo Tratado de Utrecht, 6 de fevereiro de 1715, a Espanha restituiu a Colônia do Sacramento aPortugal, sem, contudo, provocara calma na região. A reabertura das lutas, entre 1735 e 1737, predispôs Portugal a sedesfazer da Colônia.2) As Cortes Ibéricas Assinam o Tratado de Madri:A rápida expansão dos portugueses em todo o Brasil, pelo Amazonas até o Javari, no Mato Grosso até oGuaporé, e no Sul até o Prata, exigia um convênio entre os países ibéricos, pois não mais era aceitável o acordo de1494. Obcecados pelos diversos incidentes envolvendo a Colônia do Sacramento, os espanhóis não perceberam apenetração pelo planalto central e pela planície amazônica. Diversos diplomatas lusos foram incumbidos, entre 1715 e1731, de obter um acordo com Espanha, malogrando as tentativas por que defendiam a posse da Colônia.A ocasião mostrou-se particularmente favorável quando D. Maria Bárbara, filha do Rei de Portugal D. João V,casara-se com o de Espanha, Fernando VI. A harmonia das Cortes Ibéricas f oi a responsável pelas negociações quetiveram lugar em Madri, em 1750. Deve -se a um brasileiro, Alexandre de Gusmão, que possuía a confiança do rei, aelaboração dos princípios que nortearam esse acordo. Sua sabedoria histórica e geográfica, aliada ao amo r à terra em

que nascera, empolgou-o numa tarefa difícil. Seu objetivo residiu em convencer a Espanha a aceitar os novos limites,tendo por base a ocupação real da terra, o “utipossidetis”, extraído do Direito Romano. Gusmão preparou, calcado nessateoria, o Mapa dos confins do Brasil com as Terras de Espanha com a América Meridional, conhecido como Mapa dasCortes, fonte cartográfica das negociações.Reunidos os representantes (D. Tomás da Silva Teles, Visconde de Vilanova da Cerveira, por parte dePortugal, e D. José Carbaial y Lencaster, delegado da Espanha) em Madri, assinava -se o Tratado, a 13 de janeiro de1750. Pelo artigo 21, as partes reconheceram violado o acordo de Tordesilhas, que foi, assim, abolido. Pelo artigo 16,Portugal abria mão do principal fator de disputa, a Colônia do Sacramento, recebendo, em troca, o território situado aonorte do Rio Ibicuí, onde os jesuítas espanhóis haviam fundado sete missões de índios guaranis (S. Angelo, S. Borja, S.Miguel, S. João, S. Lourenço, S. Luis Gonzag a e S. Nicolau), bem como todas as terras do Centro e Norte do Brasil,consideradas de pouco valor. Determinava -se, também, que as guerras européias não deviam ser transferidas para aAmérica; por isso, alguns historiadores têm querido ver em Gusmão o fund ador do Pan-americanismo.O Convênio de 1750 situa-se como o mais importante entre os assinados na época colonial, pois serviu de baseà configuração de nossas fronteiras com os países de origem espanhola. Ratificou o crescimento, legalizou as conquistase coroou a expansão lenta e sistemática da Colônia.Entretanto, o Tratado de Madri encontrou opositores entre os espanhóis e portugueses, provocando um climade desconfiança nas Cortes Ibéricas. Antônio Pedro de Vasconcelos, que comandara a Colônia, ataco u Gusmãoabertamente, obrigando-o a refutar os argumentos.3) A Guerra Guaranítica:Duas comissões mistas se constituíram com o propósito de demarcar as novas fronteiras. A comissão do suliniciou os seus trabalhos em 1752. Achava -se integrada pelo Marquês de Valdelirios, delegado espanhol, e pelo Condeda Bobadela, representando Portugal. O Conde fez -se acompanhar de numerosos técnicos e homens de saber: oBrigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, o Coronel Miguel Angel Blasco, genovês, geógrafo, autor de quatro cartaspanorâmicas, o Dr. Tomás Ruby, três padres italianos matemáticos (Panigai, Pinceti e Miguel Ciera), o Capitão Jean -Barthélemy Houel, suíço (que, depois, se passou a serviço do governo de Buenos Aires), o Capitão Karl Reverend,alemão, e o desenhista Ponzone, de Milão. A região a ser percorrida era apreciavelmente conhecida.Os demarcadores do norte, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, e D. José deIturriaga, depararam com imensas dificuldades telúricas. Fizeram -se acompanhar dos astrônomos Giovani AngelBrunelli e padres Haller e Stzentmartony, engenheiros Cronsfeld, Galluzzi, este de Mântua, Sambucetti e do desenhistaitaliano Antonio Landi. Seus trabalhos mal começaram, tendo sido quase nulos os resultados. D. Antônio Rolim de113Moura Tavares, que substituiu Mendonça Furtado, fundou um destacamento militar, em 1760, origem do Forte deNossa Senhora da Conceição (Rondônia).Apesar da clareza do Tratado, os colonos do Sacramento negaram -se a abandonar a Colônia, ao mesmo tempoem que os índios guaranis rebelavam-se na localidade de Santa Tecia, instigado pelos jesuítas.Gomes Freire, com o objetivo de cumprir a sua missão, mandou levantar, 1752, na confluência dos rios Pardo eJacuí, uma fortificação, denominando-a de Jesus-Maria-José (esse forte deu origem à cidade do Rio Pardo).Portugueses e espanhóis combinaram um ataque conjunto às Missões, mas que redundou em fracasso, já que oGovernador de Buenos Aires, D. José de Andonaegui, não prosseguiu em sua marcha en volvente. Gomes Freire,exposto ao ataque dos índios tapes e goanoas (ou minuanos), travou algumas escaramuças sangrentas e se retirou, emnovembro de 1754, para o reduto de Jesus -Maria-José.Inutilmente o Padre Luis Altamirano, enviado do Geral dos jesuí tas, instava para que a luta cessasse e quetodos (deviam somar uns trinta mil) abandonassem as novas posses portuguesas; obedeceram os Povos de S. Borja, S.Luís e S. Lourenço, recusando-se os demais. Alegavam a importância geográfica dos Povos e a perda das extensas

plantações de erva-mate, fonte substancial da riqueza da região, que os portugueses iriam se apoderar e controlar daí pordiante.A teimosia dos jesuítas repercutiu mal nas Cortes Ibéricas, provocando o aparecimento de um acentuadoespírito anti-jesuítico. O rei da Espanha afastava o seu confessor, o Padre Rábago, poderoso advogado da Companhia.Ordens expressas chegavam a Gomes Freire e a Valdelirios para que tomassem a região das Missões e acabassem com aGuerra Guaranítica. No primeiro dia de fevereiro de 1756, as forças conjuntas se reuniram ao lado do arroio Jaguari:somavam 2.500 infantes, dirigidos por Bobadela, Andonaegui, D. José Joaquim de Viana, Governador deMontevidéu,e Tomás Luis Osório, Coronel de Dragões do Rio Grande. Os indíg enas aglomeravam-se em torno da liderança deNeenguiru, que havia sido batizado com o nome de Nicolau.Combateram em Vacacaí no dia 7 e em Caiboaté no dia 10, onde a mortandade indígena transformou -se emverdadeira hecatombe (1.500 mortos). Em 10 de maio, foi vencida a última resistência dos índios no combate deChurieby; a 17 de maio, conquistava -se o povo de S. Miguel, submetendo -se os demais. Os nativos que sobraramrefugiaram-se nos matos.Empossado governador de Buenos Aires, em 4 de novembro 1756, D . Pedro de Cevallos, inimigo do Tratadode 1750, prometeu aos jesuítas sua simpatia, ao mesmo tempo em que permitiu que os índios retornassem aos Povos.Por isso, Gomes Freire retirou-se para o Rio de janeiro (aonde chegou a 20 de abril de 1759), permanece ndo precária aposse das Missões. Na Colônia, a luta prosseguia sem solução.4) O Distrato de El Pardo:Já tinha começado na Europa a Guerra dos Sete Anos, diante da qual Portugal permanecera neutro. Mas atendência de Carlos III de Espanha ligar -se à França no chamado Pacto de Família e a conseqüente necessidade para oreino português de manter a aliança inglesa, somando -se ao incômodo que a Guerra Guaranítica ocasionava em terrasamericanas, embasaram a proposta do Marquês de Pombal ao Rei D. José I d e anulação do Tratado de Madri. O Tratadode El Pardo, assinado a 12 de fevereiro de 1761, não foi um outro tratado de limites, mas um simples distrato. E nempor isso sobreveio a paz. No ano seguinte, combatiam espanhóis e portugueses em sua fronteira eur opéia, estes ajudadospor Lorde Abermale. Pombal estava certo: a Inglaterra não lhe faltara.Essa campanha européia não se revestiu de grande importância; serviu, porém, para demonstrara fraqueza daorganização militar portuguesa e, logo em seguida, para melhorá-la a contratação de um famoso militar de Frederico daPrússia, o Conde reinante de Schaumburg -Lippe.5) Perda e Restauração do Rio Grande:D. Pedro de Cevallos, oficial de excelente reputação, pôs cerco à Colônia, com cerca de seis mil homens ecinco navios de guerra, obrigando-a à rendição, em 27 de outubro de 1762. Depois de 26 dias de assédio, o BrigadeiroVicente da Silva da Fonseca, que a comandava, capitulou (Fonseca foi preso no Rio de Janeiro e remetido nestacondição a Lisboa; faleceu nove anos depois na prisão do Limoeiro).Tentou uma reação o corsário inglês John Macnamara, que se encontrava a serviço de Portugal, com doisnavios ingleses, uma fragata portuguesa e mais oito transportes incorporados no Rio de janeiro. Macnamara dirigiu -separa o sul e atacou Sacramento; mas sua capitânia, a fragata Lord Clive, incendiou -se, nela falecendo.Diante da investida espanhola, o Coronel Tomás Luis Osório partiu do Rio Pardo com quatrocentos dragões edez canhões rumo sul, fundando (04/12/1762 ) a fortificação que batizou de Santa Teresa.Após cinco meses, a 8 de abril de 1763, Cevallos avançou pelo litoral atlântico com,/um efetivo de três milhomens e 24 peças de artilharia; conquistou os fortes de Santa Teresa, comandado pelo Coronel Tomás L uis Osório,que capitulou com seus 150 homens no dia 19 (posto em liberdade pelos espanhóis, Osório foi preso, em seguida, pelosportugueses, encontrando a morte na forca, em Lisboa), e de S. Miguel, defendido pelo Capitão João Alves Ferreira.

Cevallos apoderou-se da vila do Rio Grande e da margem sul do canal (12.05.1763), retirando -se, os habitantes, paraViamão acompanhados do Governador Coronel Inácio Elói Madureira.114A paz européia, assinada em Paris em 10 de fevereiro de 1763, determinou a devolução d essas conquistas; masCevallos só entregou a Colônia, conservando a posse do Rio Grande, tentando transformar em definitiva aquelaocupação transitória.Contra os invasores, os habitantes locais, reforçados por aventureiros paulistas, abriram uma guerra d eguerrilhas, Em março de 1764, o novo governador da região, José Custódio de Sá e Faria, concluiu o Forte de SãoCaetano e erigiu o do Tebiquari (Taquari atual).A guarnição militar do Rio Grande desejava uma ação imediata contra os espanhóis; aumentada comcontingentes vindos do Rio de janeiro em comando do Coronel José Marcelino de Figueiredo (cujo nome verdadeiro eraManoel Jorge de Sepúlveda), acordaram, os chefes, desfechar um ataque contra a vila do Rio Grande. Atravessaram ocanal de acesso da Lagoa dos Patos na noite de 28 de maio de 1767; pressentidos pelos inimigos, manobrando mal odesembarque, optaram pela retirada. Não esmoreceram; realizaram uma segunda investida em 5 de junho com êxito. Osportugueses firmaram-se em São José do Norte.O Marquês de Pombal, governando efetivamente Portugal, não pensava em desamparar a região: transferiu acapital do Brasil para o Rio de janeiro (1763) e deu minuciosas instruções ao Conde da Cunha, primeiro vice -rei. Em1767, a 5 de outubro, desembarcava no Rio de Janeiro o Tenente-General João Henrique Böhm, alemão, trazendoconsigo o Brigadeiro Jacques Funck, sueco, o Capitão italiano Francesco Giovanni Roscio, além de 70 oficiaisportugueses de todos os postos hierárquicos e três regimentos (Estremós, Braganç a e Moura). Böhm desenvolveunotável atividade para realizar a campanha no Sul.Os espanhóis não se mostravam inativos. Em novembro de 1773, D. Juan Vértiz y Salcedo, governador deBuenos Aires, deslocou-se de Montevidéu com 574 infantes em três colunas, em direção da vila do Rio Pardo, onde seencontrava o Coronel José Marcelino, nomeado governador da região conflagrada. No caminho, Salcedo ergueu asfortificações de Santa Tecla (esta localizada próxima da atual cidade de Bagé) e São Martinho. Uma dessas três colunasinvasoras chocou-se com as forças comandadas pelo Capitão Rafael Pinto Bandeira (em 2 de janeiro), obtendo estaimportante vitória (Santa Bárbara). Segunda derrota (em 14 de janeiro) em Tabatinga, perto de Rio Pardo, acrescido dodesgaste de suas cavalhadas, obrigaram a Salcedo a desistir da empresa. Ele recuou para a vila do Rio Grande,atingindo-a em 9 de fevereiro.Chegara o momento da reação luso-brasileira. Pombal preparou um minucioso plano político -militar e oenviou, sob sigilo, ao Marquês do Lavradio. Em dezembro de 1774, Böhm concentrou forças em Santa Catarina,transportadas pelos navios comandados pelo Capitão -de-Mar-e-Guerra irlandês Robert MacDouall (duas fragatas, cincocorvetas, quatro sumacas e um bergantim, guarnecidos com 1.0 50 homens e 172 canhões). Seu efetivo era de 6.717homens. Acamparam em São José do Norte.Comandados por D. José de Molina, os espanhóis aguardavam o combate com 2.200 homens aquartelados navila do Rio Grande e distribuídos nos fortes da Barra, de Santa Bárbara, Trindade, Mangueira e Ladino. Uma forçanaval, liderada por D. Francisco Xavier de Morales, completava a defesa.O Tenente-General Böhm articulou o seu ataque determinando, primeiro, que o Capitão Rafael Pinto Bandeirainvestisse sobre o entrincheiramento de S. Martinho localizado em frente a Rio Pardo. Pinto Bandeira optou pelo ataquede surpresa pela retaguarda: em 31 de outubro de 1775 obteve êxito. Segundo, que o mesmo capitão dominasse o Fortede Santa Tecla; com 619 homens, Bandeira iniciou o combate em 10 de março (1776). Os espanhóis (comando doCapitão Luiz Ramirez) resistiram, mas preferiram capitular no dia 26.Livre, assim, o interior, Böhm passou a desencadear a terceira fase, em parte desenvolvida ao mesmo tempo:MacDouall tentou um desembarque (19/02/1776) que redundou em fracasso. Os espanhóis passaram a denominar oForte de Santa Bárbara de Triunfo em homenagem a esta vitória.MacDouall retirou-se para Santa Catarina deixando no comando naval o Capitão -de-Mar-e-Guerra GeorgeHardcastle. Mas Böhm não se deu por vencido. Aguardou o momento oportuno.

As 2 horas da madrugada de 1º de abril, depois de iludirem os adversários com demonstrações festivas(comemoração do aniversário da Rainha D. Mariana Victória), os luso -brasileiros atravessaram o canal em jangadasorganizados em dois destacamentos. O primeiro dirigiu -se para o Forte do Mosquito, conquistando o seu objetivo às4h30min; o segundo encaminhou-se para o Forte da Trindade, dominando -o com alguma dificuldade. Obtidas essascabeças de ponte, o assalto dos luso-brasileiros passou a ser total. O Forte da Barra caiu ao amanhecer, o mesmoocorrendo com o da Mangueira. A esquadra portuguesa, sete navios, passou a combater contra as posições espanholas;o Forte Ladino cedeu ao peso do ataque, na madrugada do dia 2. Os navios espanhóis tentaram a fuga; metade deles,três, encalharam, safando-se os outros em comando de D. Francisco Moralles, para o Rio da Prata. Somente às 17 horas,rendeu-se o Forte do Triunfo. Pela madrugada do dia 3, o s espanhóis abandonaram a vila do Rio Grande e as últimasposições que detinham.Esses sucessos militares ecoaram fortemente na Europa. Carlos III, rei espanhol, armou poderosa esquadra de19 navios de guerra e 97 mercantes, guarneceu -a com 13 mil homens, e a entregou a D. Pedro de Cevallos, com o títulode vice-rei do Prata. Na madrugada de 20 de fevereiro (1777), surgiu Cevallos em frente à Ilha de Santa Catarina,provocando pânico na população e no seu comandante militar, o Marechal -de-Campo Antônio Carios Furtado deMendonça, que não reagiu frente ao inimigo. Diante da força espanhola, MacDouall retirou -se, cauteloso... Disparaalguns tiros o Forte de S. José da Ponta Grossa. Diante da inexistente reação, Cevallos ocupou as diversas fortificações,a maioria das quais abandonada. Em 5 de março, o Brigadeiro Custódio de Sá e Faria, mais inclinado aos espanhóis,assinou uma capitulação; alguns militares se internaram no continente, indo à procura do Exército do Sul.Cevallos mandou, embarcados, o governado r da ilha, Pedro José Gama de Freitas, e o tíbio Marechal Furtadode Mendonça para o Rio de Janeiro. Cevallos permaneceu 22 dias na ilha, velejando, depois, para a vila do Rio Grande115no desejo de retomá-la, mas fracassou por causa de ventos contrários que dispersou a sua esquadra. Dirigiu-se, então,para Sacramento. Com sete mil homens, sitiou a praça (29 de maio), que estava sob o governo do Coronel FranciscoJosé da Rocha, exigindo a rendição, o que ocorreu em poucos dias. Cevallos demoliu tudo que encont rou.6) O Tratado de Santo Idelfonso e a Paz de Badajós:A morte de D. José I (24/02/1777) conduziu ao trono português sua filha D. Maria I. A rainha pensou em obterum definitivo acordo de fronteiras. Depois das confabulações diplomáticas de D. Francis co Inocêncio de SouzaCoutinho com o Ministro Marquês de Florida Blanca, as Coroas Ibéricas assinaram, a 1º de outubro de 1777, o Tratadode Santo Ildefonso. A área da Colônia do Sacramento e os Sete Povos ficavam em poder da Espanha, reconstituindo -se,acima do Rio Pepiri-Guaçu, a linha do Tratado de 1750. A Ilha de Santa Catarina foi devolvida sem dificuldades (artigo22) ao Coronel Francisco Antônio da Veiga Cabral (23/03/1778). Apresentando erros geográficos, esse Tratado aduziumais benefícios para Espanha, graças à inteligência de Florida Blanca, digno representante da Ilustração.As quatro comissões demarcadoras iniciaram a sua difícil tarefa em meio a muitas discussões e desavençaspessoais. A primeira partida, no sul, esteve a cargo de Sebastião da Veiga Cabral e D. José Varela y Ulloa, destacando -se o matemático Dr. José de Saldanha, que escreveu importante relato; dirigiu a segunda partida o Coronel FrancescoRoscio e D. Diogo de Alvear, não conseguindo encontrar o Rio Igurei; as outras duas ocupa ram-se de Mato Grosso eAmazonas.Os trabalhos demarcatórios se estenderam de 1780 a 1790, época em que se obteve a pacificação dos índiosmuras, habitantes da região do Alto Amazonas.Mais uma vez não chegaram a completar a sua incumbência: desentendime nto entre as Coroas Ibéricas. D.

Lázaro de Ribera, governador do Paraguai, invadiu o sul de Mato Grosso e atacou o Forte de Nova Coimbra(16/09/1801), sem conseguir intimidar o Tenente -Coronel Ricardo Francisco de Almeida Serra e suas 40 praças.José Borges do Canto e Manoel dos Santos Pedroso, campeadores que percorriam as coxilhas sulinas, reuniramaventureiros e invadiram, em 1801, os Sete Povos, logrando anexar a disputada região. Ao mesmo tempo, o Governadordo Rio Grande, Sebastião da Veiga Cabral, d eterminou a ocupação de Cerro Largo (povoação fortificada que deuorigem à atual cidade uruguaia de Melo) por tropas do Coronel Manuel Marques de Souza: o forte espanhol capitulouem 30 de outubro, tendo sido desmantelado. Uma outra coluna, comando do Tene nte-Coronel Patrício José Correia daCâmara, perseguiu os espanhóis rumo sul; encontrou o Forte de Santa Tecla abandonado e, em três semanas, o arrasoupara que não pudesse ser mais ocupado.A Paz de Badajós, concluída a 06/06/1801, encerrou esses movimen tos armados e restabeleceu as relaçõesentre Portugal e Espanha, deixando em poder do primeiro os Sete Povos. Em 19/09/1807, o Rio Grande passou acapitania independente, com o nome de Capitania de São Pedro.116CAPÍTULO IIIBRASIL: REINO UNIDO A PORTUGAL E ALGARVESAs idéias revolucionárias e republicanas dos enciclopedistas e a pouca habilidade da monarquia francesaprecipitaram a Grande Revolução. Ela representou o fim do Antigo Regime e o princípio da preocupação dos r eiseuropeus, que desejavam que as "abomináveis idéias francesas" se restringissem à França. A desordem dos primeirosmomentos revolucionários sucedeu-se a organização devida ao gênio de Napoleão Bonaparte. Grande administrador,deliberou moldar a Europa a seu critério, formando alianças, subjugando povos, impondo novos monarcas, criando oPacto de Família, com o intuito de garantir a supremacia francesa e a sua permanência no poder. A estes planos opôs -sea Inglaterra, que progredia graças à Revolução Indu strial; à tentativa de invasão do Almirante Villeneuve, respondeucom o ardor combativo de uma eficaz Marinha: o Almirante Lorde Nelson encontrava a vitória em Trafalgar(21/10/1805) e igualmente seu túmulo. O Grande Corso solucionou o problema imaginando um bloqueio continental,por meio do qual os países da Europa fechariam seus portos aos navios ingleses, instituído pelo Decreto de Berlim(21/11/1806); seu objetivo consistia em arruinar a Inglaterra e obrigá -la a pedir a paz.Viu-se Portugal em situação difícil; esquivando-se à política francesa, ficava à mercê de Napoleão em suasdesabrigadas fronteiras; filiando-se à política do bloqueio, estava arriscando a perda do Brasil. Governava o Reinoportuguês o Príncipe D. João, filho segundo de D. Maria I e Pedro III (o primogênito D. José morrera em 1788), comoregente, já que a rainha se encontrava interditada por insanidade mental desde 1792. Seu aspecto físico não o ajudava; orotundo Bragança aparentava ser um débil. José Bonifácio o apelidou de "João Bu rro" com visível antipatia. Mas opríncipe ocultava uma inteligência atilada por debaixo da timidez e morosidade de suas resoluções. Adiava -as, jogavaentre si seus conselheiros e ministros: dividia para reinar. Triunfava, cansando seus adversários, como b em disse PandiáCalógeras. Sua mulher, a Infanta Carlota Joaquina de Bourbon, filha mais velha de Carlos IV de Espanha, reunia o maugênio intempestivo dos Habsburgos à fealdade. Não foram felizes.Intimou, Napoleão, a 12/08/1807, por intermédio de seu re presentante, M. de Rayneval, que Portugal aderisseao bloqueio. D. João respondeu-lhe com evasivas e procurou ganhar tempo, fechando os portos do Reino aos naviosingleses e resolvendo mandar o primogênito, D. Pedro, para o Brasil, com o título de condestá vel, onde permaneceriaresguardado. Em 22 de outubro, assinava, por meio de seus representantes, em Londres, uma Convenção Secreta com aInglaterra, que logo resultou em ocupação da ilha da Madeira pelos ingleses.Em face da indecisa atitude do regente po rtuguês, Napoleão deliberou invadir o Reino luso. A 27 de outubro de

1807, assinou com a Espanha o Tratado de Fontainebleau, extinguindo a monarquia portuguesa e dividindo o Reino emtrês partes: uma para o Rei da Etrúria (Luís II), outra para Godoy, Prínc ipe da Paz, e outra para si próprio, com a qualpensava em fazer permuta de Gibraltar com a Inglaterra. Um exército francês -espanhol, sob o comando do MarechalAndoche Junot, agraciado com o título de Duque de Abrantes, marchou rápido para as fronteiras po rtuguesas.A 1º de novembro, chegava a Lisboa D. Lourenço de Lima, ministro português em Paris, com notícias dainvasão. D. João achou prudente tomar medidas que a evitassem: expulsou os ingleses, juntamente com LordeStrangford, representante da Inglater ra; todos os comerciantes britânicos puderam colocar a salvo seus interesses etransferir seus bens, tendo em vista uma possível ocupação francesa.Uma esquadra inglesa, comando de Sir Sidney Smith, entrou no Tejo a 14 de novembro; trazia de volta o hábildiplomata Lorde Strangford, que muito influiu no espírito do regente para abandonar Portugal. O Marquês de Alornadespachou seus ajudantes de campo para a fronteira, retornando, céleres, com a informação de que em poucos dias osfranceses alcançariam Lisboa. Permanecer equivalia sofrer a mesma sorte de Ferdinando VII de Espanha: abdicaçãoimposta e encarceramento em Valençay (liberado em dezembro de 1813). O refúgio no Brasil apresentava -se lógico,idéia anteriormente esboçada por diversos administradores portugueses, como o Marquês de Pombal, no caso desalvaguardar a monarquia em perigo. Ainda: transformava o vasto oceano em proteção natural, patrulhado pelaesquadra inglesa que o dominava. O Conselho de Estado, reunido na noite de 24./11/1807, aprovava a medida deimediata transferência da monarquia para o Brasil. No dia seguinte, o regente anunciou -a ao povo. Relutando, embora,embarcou-se, o príncipe, com sua real família, e mais todos aqueles que puderam, inclusive o corpo diplomáticoacreditado em Lisboa, em 15 navios, sob o comando do Chefe -de-Esquadra Manoel Souto Maior; estes, em 29 denovembro, desferraram em direção ao Brasil, comboiados por navios ingleses ao comando de Sir Sidney Smith. Inéditoevento: a mudança de um governo, com tudo necessári o à administração e seu acervo histórico. Deixava -se, aosinvasores, uma região sem expressão política. No dia seguinte ao da partida, entrava o Marechal Junot em Lisboa eainda apresava a escuna Curíosa, que, retardatária, tentava alcançar os transmigrado s.Dispersados em alto-mar por ventos difíceis, em 9 de dezembro, alguns navios dirigiram -se para o Rio dejaneiro e outros buscaram a proteção do porto de Salvador, encontrando -se entre estes a nau Príncipe Real, queconduzia o Regente D. João (22/01/180 8).A população, surpresa, recebeu com entusiasmo o Bragança e seu séqüito; engalanaram a antiga capital naesperança de vê-la transformada em sede da monarquia. Seu governador, o 6º Conde da Ponte, D. João de Saldanha daGama Meio e Torres, não mediu esf orços em agradar o príncipe, aconselhando -o a extinguir o Pacto Colonial, a partirdaquele momento inoperante. Estava na lógica dos acontecimentos: o Brasil salvaria a Inglaterra do bloqueio.117Convencido também ficara o Marquês de Aguiar (D. Fernando José d e Portugal e Castro), ministro de Estado, com osargumentos expostos por José da Silva Lisboa: haveria maior lucro nas exportações e as mercadorias manufaturadaspoderiam ser adquiridas a baixo preço. Assim a 28 de janeiro de 1808, uma Carta -régia abria os portos brasileiros àsNações Amigas, beneficiando-se a Inglaterra no início. Antes de deixar Salvador, o príncipe criou uma Escola Médico -Cirúrgica, a 18/02/1808, por influência do pernambucano Dr. José Correia Picanço, que se encontrava entre ostransmigrados.A 26 de fevereiro, D. João e comitiva partiam para o Rio de janeiro, chegando nesta cidade a 7 de março.O Governo Português no Rio de janeiro:A alegria do povo carioca ao receber o príncipe, que não esperava a efusiva e espontânea demonstração , oconquistou. D. João instalou-se no palácio dos vice-reis, transformado em Paço da Cidade; desalojou os padrescarmelitas de seu convento para nele colocar a rainha e mais a ucharia e transformou a igreja do convento em CapelaReal. Do rico comerciante Elias Antônio Lopes recebeu suntuosa propriedade na Quinta da Boa Vista, adaptada parapaço residencial por Manoel da Cunha e acrescentou o imponente portão, presente do Duque de Northumberland.

Enquanto isso, os componentes de sua comitiva, em maioria no bres, cerca de 15 mil pessoas, apoderaram-sedas melhores residências da cidade, valendo -se da lei de aposentadoria emanada pelo príncipe, evidenciada pelasiniciais PR apostas à porta principal; o povo sempre irônico apelidou de "ponha -se na rua". E, ainda, espalharam-se pelacidade os ociosos fâmulos da casa real, sempre pretensiosos e exigentes, ficaram conhecidos com os "toma -larguras".O regente tratou de organizar o seu ministério: não se mudara somente a Corte, mudara o Estado. A pasta dosNegócios Estrangeiros e Guerra ficou com D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Conde de Linhares; a da Marinha eUltramar, com o Conde de Anadia, D. João Rodrigues de Sá e Meneses; e a dos Negócios do Reino, com D. FernandoJosé de Portugal e Castro, Marquês de Aguiar. Lin hares foi o braço direito de D. João até 1812, quando faleceu.Entre as primeiras providências, o Príncipe D. João criou a Intendência Geral de Polícia da Corte, a 5 de abril,tendo sido escolhido para prover o cargo de intendente o Desembargador Paulo Fe rnandes Viana (10 de maio),verdadeiro governador do Rio, a quem a cidade muito deve. Novas repartições começaram a funcionar: o Conselho deEstado, Mesas de Consciência e Ordens e do Desembargo do Paço, Casa da Suplicação, Conselho de Fazenda. Criou -sea Impressão régia, com tipografia vinda de Londres, nela imprimindo -se o primeiro jornal, Gazeta do Rio de janeiro,órgão oficioso, e a primeira revista, O Patriota; ambos contaram com a dedicação de Manuel Ferreira de AraújoGuimarães, que, em 1821, começou a publicar O Espelho, folha política. Em Londres, Hypolito José da Costa PereiraFurtado de Mendonça redigiu, entre 1808 e 1822, o Correio Brasiliense, que muito influiu na elaboração daindependência, Outras tipografias se organizaram nas províncias; reg istre-se, na Bahia, o jornal idade d'ouro do Brasil(1811 a 1823), redigido por Diogo Soares da Silva e Padre Inácio José de Macedo.No mesmo ano de 1808, ficou estruturado o Arquivo Real. A Biblioteca Real, constituída da livraria trazidapelo príncipe, ganhou dependências no Hospital da Ordem 3ª do Carmo, na Rua Direita; utilizada pelos estudiosos, foifranqueada ao público em 1814.Os assuntos militares não podiam deixar de estar na lógica das preocupações governamentais.Uma das primeiras medidas consistiu em instalar a Academia Real dos Guardas -Marinha, comando do Chefede-Divisão José Maria Dantas Pereira, que, com seus alunos, lentes e instrutores, acompanhara a Corte (embarcada nanau Conde D. Henrique), nas hospedarias do Mosteiro de São Bento (0 5/05/1808). A 13 de maio, o regente instituiu oposto de Almirante-General, nele investindo o infante D. Pedro Carlos, seu sobrinho. Dantas Pereira conservou -se nasua comissão até 1817, substituído pelo Capitão -de-Mar-e-Guerra Francisco Maria Teles. Criou a Academia RealMilitar, por portaria de 4 de dezembro de 1808, provisoriamente sediada na Casa do Trem, depois, em 1812, transferidapara o edifício inacabado da Sé, no Largo de São Francisco de Paula; seu curso totalizava sete anos letivos. Presidia aJunta Militar da Academia, o que vale dizer que a comandava, o Tenente -General Carlos Antônio Napion, cargo queexerceu até a sua morte em 1814. Este italiano de Turim, radicado em Portugal desde 1800, ainda ativou o Arsenal Realdo Trem, antes chamado de Casa do Trem, e a Casa das Armas, situada no Morro da Conceição. Nomeado inspetorgeral da Real Junta da Fazenda dos Arsenais, Fábricas e Fundições, estabeleceu uma Fábrica de Pólvora à margem daLagoa Rodrigo de Freitas, em cuja administração ficou o Marqu ês de Sabará, que criou o Real Horto, transformado, em1º de março de 1811, em Real Jardim Botânico. Napion também exerceu a comissão de inspetor geral da Artilharia,dedicando-se ao reaparelhamento das fortificações do Rio de janeiro.Funcionaram imediatamente o Conselho Supremo Militar bem como o seu arquivo.O Real Hospital Militar ocupou as dependências do Colégio dos jesuítas, no Morro do Castelo, adotando osnovos métodos do médico francês Philippe Pinel para o tratamento das doenças mentais; vincul ada a esse hospital,nasceu a Escola Cirúrgica da Corte (05/11/1808), cujo incentivo se deve ao Frei Custódio de Campos Oliveira,cirurgião-mor da Armada e do Exército.Reestruturando a organização militar, transformou o Corpo da Brigada Real da Marinha e m Regimento de

Artilharia, com três batalhões de oito companhias cada.A Política Externa de D. João:A característica fundamental da política externa de D. João residiu na estreita aliança com a Inglaterra,permitindo a esta nação vencer o bloqueio co ntinental e lograr os intentos de Napoleão. Mal chegara, lançou D. João118uma proclamação, a 1º de maio de 1808, explicativa da sua vinda para o Brasil, no novo império que viera criar,terminando por declarar guerra à França.No dia 13, criou a Ordem da Torre e Espada (um medalhão para condecorações) para assinalar “estamemorável época”.Enquanto Portugal permanecia ocupado pelos franceses, sua colônia americana tornou -se centro políticoadministrativodo Império Luso, sediando a instalação da família rea l. Chegando a Salvador em 1808, D. João logodecretou a abertura dos portos às nações amigas, liberando a importação de quaisquer produtos vindos de países quemantivessem relações amigáveis com Portugal, beneficiando diretamente a Inglaterra, então em ple na RevoluçãoIndustrial. Essa nova situação punha fim ao “exclusivo colonial” português no Brasil, aliviando o pacto colonial.No mesmo ano, D. João revogou a proibição de se instalarem manufaturas e indústrias no Brasil, imposta peloAlvará de 1785. Isso, entretanto, não foi suficiente para promover um surto manufatureiro na colônia, dada aimpossibilidade de nossos produtos concorrerem com os ingleses, abundantes e a preços mais baixos.A fim de ampliar ainda mais seu predomínio econômico sobre o Brasil , a Inglaterra pressionou Portugal aassinar os tratados de 1810 (os principais tratados foram os de Comércio e Navegação e Aliança e Amizade, que lhegarantiam a taxação privilegiada de 15% de imposto sobre seus produtos vendidos no Brasil, enquanto as me rcadoriasportuguesas pagariam 16% e as dos demais países, 24%). Esses tratados foram uma imposição direta de LordeStrangford que agiu por diplomacia.Essas ações eram nitidamente para agradar aos ingleses, mas foram também nítidas as contribuições para aemancipação econômica do Brasil que preparam para a emancipação política.Além de vantagens econômicas, os ingleses conseguiram outros benefícios, como o de que qualquer cidadãoinglês que infringisse a lei dentro do Império Luso seria julgado por leis e juízes ingleses. Estabeleceram ainda ostratados de liberdade de culto protestante para cidadãos ingleses, até então proibido. Na medida em que o governoportuguês dependia da proteção britânica diante da ameaça napoleônica, na prática, a Inglaterra cons eguia subordinar osinteresses lusos aos seus.Transformado na capital do Império Luso, o Rio de Janeiro ganhou ares europeus, com a instalação de órgãospúblicos, como ministérios e tribunais, da Casa da Moeda e do Banco do Brasil. Além disso, foram cria dos o JardimBotânico, as escolas de medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, o Teatro Real, a Imprensa Real, a Academia RealMilitar, a Academia Real de Belas -Artes, a Biblioteca Real, que constituíram estímulos à produção artística, científica ecultural da colônia.A administração Joanina também propiciou a vinda da missão artística francesa, como mostra de boas relaçõesapós o fim da guerra contra a França. A missão retratou paisagens e costumes de brasileiros, tanto dos sertões quanto dacorte no Rio de Janeiro, e cujo principal representante foi o pintor Jean -Baptiste Debret.A Conquista da Guiana Francesa:A Guiana, o mais próximo território francês, apresentava duplo interesse para a política de D. João:militarmente indefeso, prestava -se a um revide, ao mesmo tempo em que permitiria fixar, em definitivo, a linhafronteiriça.Arregimentou a tropa invasora, após ser consumada a declaração de guerra, em 10 de junho, o Tenente -GeneralJosé Narciso de Magalhães e Menezes, governador da capitania do Gr ão-Pará e Rio Negro. Compunha -se de 751homens, comando do Tenente -Coronel Manuel Marques, que de Belém partiu em 8 de outubro, auxiliada por uma forçanaval de transporte sob o comando do Capitão -de-Mar-e-Guerra (inglês) James Lucas Yeo: fragata Confiance ,capitânia, brigues Voador (Capitão-de-Fragata José Antônio Salgado), Infante D. Pedro (Capitão -Tenente Luis daCunha Moreira), escuna General Magalhães, cuters Vingança e Leão, três barcas canhoneiras e três barcas -transporte.A expedição montou o Cabo do Norte e fundeou perto do Oiapoque (1º de dezembro). Travou -se combatecontra o reduto do Rio Aproak (15/12/1808), que foi conquistado, rendendo -se o governador regional, M. Grimardi.

Outra posição chamada Colégio caiu nas mãos dos atacantes. Prosseguira m os invasores desembarcando, 7 de janeiro,na costa oriental da ilha de Caiena: Lucas Yeo apoderou -se da bateria de Diamant, morrendo seu comandante, CapitãoChevreuil; o Major Joaquim Manuel Pinto investiu sobre Degras -des-Carines, tomando esta praça apó s violentoscombates; e o Tenente-Coronel Manuel Marques, com 350 brasileiros, iniciou o ataque à bateria de Trió, apoiado porforça naval, dominando, ao final da tarde, essa fortificação. O contra -ataque francês nessa noite, dirigido por VictorHugues, governador da Guiana, resultou em nada. A força atacante marchou para Beauregard (09/01/1809). Após umatrégua, que durou 24 horas, Hugues capitulou em Bourda (Ilha de Caiena) a 12 de janeiro, sendo concedida à guarniçãoas honras de guerra e o transporte pa ra a França. Conduziu-os o Capitão-Tenente Luís da Cunha Moreira no navio quecomandava.No dia 14, quatrocentos homens cansados mas glorificados pela vitória entravam em Caiena.O Príncipe Regente D. João escolheu, para governar a Guiana, João Severiano Maciel da Costa (depoisMarquês de Queluz), a quem os franceses reconheceram reais méritos de administrador. Durante essa ocupação, foramintroduzidos no Brasil o abacateiro, a fruta -pão, a canforeira, a nogueira, a toranja (grape -fruit), o cravo-da-índia e acana-caiana, superior à que possuíamos. A Guiana retornou ao domínio francês a 21 de novembro de 1817, comoconseqüência dos acordos do Congresso de Viena e da missão diplomática do Duque de Luxemburgo ao Rio de janeiro,no ano anterior.119A Primeira Invasão no Prata:É provável que um ataque a posses espanholas, no Sul do Brasil, estivesse maturando na esfera do governoportuguês como represália à invasão do seu território, ao mesmo tempo em que ocorria a investida contra a GuianaFrancesa. Consistia, na verdade, um único plano com dois desdobramentos.Em nota datada de 13 de março de 1808, portanto poucos dias depois de chegar ao Rio de janeiro, D. Joãooferecia ao Cabildo de Buenos Aires a sua proteção e ameaçava usar a força para que a mesma foss e aceita. O momentoapresentava-se conveniente, pois os cabildos americanos recusavam -se a aceitar a autoridade do Rei D. José I (1808 a1813), irmão de Napoleão.Para alcançar o seu objetivo, D. João enviou ao Prata o Brigadeiro Joaquim Xavier Curado (de pois Conde dasDuas Barras). Mas o Cabildo de Buenos Aires já firmara a sua posição aceitando o Rei Fernando VII e não queriacogitar da proposta portuguesa. O Brigadeiro Curado sequer foi recebido pelo vice -rei Liniers em Buenos Aires. Suamissão fracassou por ser inoportuna.Foi, então, que entrou em cena D. Carlota Joaquina, mulher de D. João, filha de Carlos IV e irmã de FernandoVII de Espanha. Em 19 de agosto, a Infanta dirigiu manifesto aos espanhóis da América, logo remetido a diversospersonagens no Rio da Prata, tendo ganhado a simpatia de Manuel Belgrano, Juan Martin de Poyrredón e outros. D.Carlota Joaquina comprometia -se a organizar novo império para ser entregue a seu irmão Fernando VII ou o manteriapara sua própria descendência.Tanto uma como outra proposta colidia com as pretensões do governo de Buenos Aires que visava àhegemonia nesse mesmo vice-reino e com as idéias de José Gervásio Artigas, que pensava organizar uma federação dasprovíncias vizinhas ao Prata. Artigas bateu os espanhói s em Lãs Piedras, e os argentinos enviaram tropas, comando doGeneral José Rondeau, para sitiar Montevidéu.A conjuntura mostrava-se favorável a uma intervenção promovida pelo governo português. Assim, em 1811,D. João organizou um Exército de Observação, que estacionou na capitania de São Pedro do Rio Grande, comandadopelo Capitão-General D. Diogo de Sousa, auxiliado pelos brigadeiros Manoel Marques de Sousa e Joaquim XavierCurado, com a finalidade de intervir na Banda Oriental do Uruguai a pedido de Fr ancisco Javier Filho, vice-rei do Rio

da Prata, o qual não lograva conter a rebelião de Artigas. Pacificação e não domínio, desejava o Príncipe D. João.Os luso-brasileiros iniciaram a marcha em 17 de junho, invadindo, assim, a Banda Oriental; totalizavam quatromil homens. Ocuparam Melo em 23 de julho; prosseguiram em direção ao arroio Chuí ultrapassando -o, Permaneceramum mês no Forte de Santa Teresa, abandonado por forças artiguistas. Atingiram Maldonado, onde acamparam (12 deoutubro). No dia 20 de outubro, Elio e os portenhos firmaram um acordo: Rondeau e seus comandados foram paraBuenos Aires, e Artigas rumou para a região das Missões com seu exército acompanhado de população civil, fixando oseu acampamento nas margens do Rio Ayuf, afluente do Urugu ai, em terras argentinas.Cientificado dos termos do acordo de 20 de outubro, D, Diogo de Sousa desviou -se de Montevidéu.Em 16 de março de 1812, as tropas luso -brasileiras se trasladaram para Paissandu e foram vencendo asreduzidas forças de Artigas em pequenos embates.Os ingleses não se compraziam com essa investida lusa, tal era o desejo de obterem uma das margens do Rioda Prata; forçaram a abertura de negociações diplomáticas, com a presença do representante inglês no Rio de janeiro,Lorde Strangford.Em 27 de maio de 1812, em Buenos Aires, o Tenente -Coronel João Rademaker, dinamarquês a serviço dePortugal, representando os luso-brasileiros, assinou com Nicolas de Herrera um Armistício Ilimitado. Este acordodesagradou ao governo português e tudo leva a crer que Rademaker não se encontrava à altura da missão que lhe foraconfiada. Ou, então, seguiu a risca os interesses ingleses.Em 13 de julho, o Exército de Observação movimentou -se em direção do Rio Grande do Sul, reentrando emterras dessa capitania em setembro. Pelos seus serviços, D. Diogo de Sousa recebeu o título de Conde do Rio Pardo.Remanescentes dessa tropa, comando do Brigadeiro Curado, bivacaram nas terras sulinas.A Incorporação da Banda Oriental do Uruguai:A Banda Oriental do Uruguai não encontrara a ordem. Continuava assolada pelas hostes de Artigas e seusprincipais subordinados, Femando Otoguês e Frutuoso Rivera, e dominada pelos espanhóis (General D. Gaspar deVigodet) a cidade de Montevidéu. Pela segunda vez, os argentinos i nvadiram a região; sua pequena força naval,comando do irlandês William Brown, derrotou a flotilha espanhola: em 20 de junho de 1814, obtiveram a capitulaçãode Montevidéu. Mas Artigas acabou por expulsar os argentinos e seu General, Carios Maria Alvear, n o ano seguinte.Pouco depois, 9 de julho de 1816, no Congresso de Tucumã (Tucumán), nascia a República Argentina que não escondiao desejo de incorporar a região que Artigas exercia domínio.No Rio de janeiro, concluiu-se que a Banda Oriental pertenceria a quem a ocupasse com disposição de nela semanter. Os interesses argentinos e ingleses mostravam -se claros, e como as fronteiras brasileiras, ainda não bemdefinidas, encontravam-se ameaçadas, o Príncipe D. João deliberou intervir militarmente, com um cer to aplausoargentino em razão da fatal derrota e eliminação de Artigas, que estendera sua influência em terras argentinas, visando aarrebanhá-las para o país que almejava criar. A missão de Manoel José Garcia ao Rio de janeiro, enviado por BuenosAires, demonstra essa afirmativa. Artigas não teve escrúpulos em mandar emissários à região das Missões em poder dePortugal pela paz de Badajós de 1801. D. João não desconhecia esse perigo pois fora avisado pelo Capitão -General doRio Grande, Marquês de Alegrete (Luís Teles da Silva Caminha e Menezes).120Organizada uma tropa em Portugal, esta aportava ao Rio de janeiro em 30 de março de 1816; somavam 4.830homens sob o comando do Tenente -General Carlos Frederico Lecór. Enquanto isso, o Marquês de Alegrete tomavaprovidências para melhor atuação de seus comandados, sujeitando -os a treinamento intensivo.Esses preparativos bélicos não escaparam ao conhecimento de Artigas, que recrutou homens e organizou suashostes subdividindo-as com o Coronel Rafae Verdun (que não era militar de carreira) e André Artigas, mais conhecidopor Andresito, índio adotado como filho por Artigas, Pantaleão Sotelo e os já citados Ortoguês e Rivera.É provável que Artigas tenha planificado invadir a região das Missões e, depois, atacar os lu sos pelaretaguarda. O plano português resumia -se em marchar em linha reta até a capital, deixando ao Marquês de Alegrete a

defesa do oeste. Assim, a Divisão de Voluntários Reais, comando de Lecór, embarcou na esquadra liderada pelo Chefe -de-Divisão Rodrigo José Ferreira Lobo, atingiu Santa Catarina (Vila do Desterro) em 26 de junho e, desse local, a pé,tomou a direção sul; a essa força principal, juntaram -se os soldados do Brigadeiro Curado, que teve a missão deproteger a região do Rio Santa Maria, evita ndo que as tropas de Artigas obstaculizassem a investida de Lecór; entreessas tropas de Curado encontravam-se os "barrigas verdes" de Santa Catarina e dragões de São Paulo.Algumas ações se desenvolvem rápidas e sem resultados efetivos: combate em Santan a e a investida doCoronel José de Abreu na margem direita do Ibirapuitãchico que resultou em notável vitória. André Artigas atacou SãoBorja, posição defendida pelo Coronel Francisco das Chagas Santos. Informado que Sotelo iria engrossar as forçassitiantes de São Borja, o Coronel José de Abreu movimentou suas forças, atingiu São Borja e caiu de surpresa sobre osinimigos obtendo importante vitória e anulando o plano estratégico de Artigas. Este êxito permitiu que se atacasseVerdun que estacionava em Ibir aocaí; com 150 homens, o Brigadeiro João de Deus Mena Barreto derrotou as forças deVerdun (800 homens) decisivamente (18 e 19 de outubro de 1816).Prosseguiram os luso-brasileiros na ofensiva. O Brigadeiro Joaquim de Oliveira Alvares marchou contraArtigas com 760 homens, cujas forças permaneciam na margem do Rio Guaraffi. 0 combate ocorreu em Carumbé (27de outubro); o fraco dispositivo de Artigas, apesar de seus 1.600 homens, não suportou o choque de cavalaria e nem ainvestida de baioneta da infantaria : os remanescentes fugiram perseguidos pelos nossos. Tivemos 26 mortos e 44feridos; os inimigos, 600 mortos. Observe -se que essas ações militares verificaram-se em território reconhecidamentebrasileiro.Ao mesmo tempo em que os combates ocorriam no inte rior, Lecór deslocava-se com os seus soldados,acrescidos na vila do Rio Grande, passando a seis mil homens, pelo caminho litorâneo. Tentando impedir esse avanço,Frutuoso Rivera, com 1.700 homens, atirou -se contra a vanguarda, 957 homens, comando do Briga deiro Sebastião Pintode Araújo Correia, nas margens do arroio Índia Muerta, 19/11/.1816; depois de quatro horas e meia de luta, Rivera foiderrotado, escapando com 100 homens. Outras pequenas ações ocorreram, mas não impediram que Lecór atingisseMaldonado, em janeiro de 1817, e, no dia 20, alcançasse Montevidéu.Artigas escapara ileso do combate de Carumbé; reorganizara -se nas margens do Rio Arapeí. À frente dos luso -brasileiros postou-se o Marquês de Alegrete (15/12/1816). Este decidiu atacar Artigas em seu acampamento e, para isso,enviou forças sob o comando do Coronel José de Abreu. O encontro se verificou no Arapeí (03/01/1817) com felizresultado para Abreu. Mas, Artigas conseguiu evadir -se com pequeno número de seguidores. No dia seguinte, o Corone lJosé Latorre atacou o acampamento do Marquês de Alegrete, ao lado do arroio Catalã, vitória mais uma vez obtida pelaimpetuosidade do Coronel Abreu. Os orientais tiveram 900 mortos e Alegrete perdeu 224 homens, dos quais 78 mortos.Com o retorno do marquês para o Rio Grande, Curado reassumiu o comando.A luta continuou no interior; Chagas Santos atravessou o Rio Uruguai (14/01/1817) e arrasou diversaspovoações na margem direita desse rio, mas não logrou apanhar André Artigas. Procedeu a nova investida e m 18 demarço. Recomposto, André Artigas atravessou o Rio Uruguai e atacou Chagas Santos, obrigando -o a uma retirada;correu em seu auxílio o Coronel Abreu destroçando as forças dos invasores ao sul do Rio Piratini (6 de junho).Andresito escapou mas foi descoberto por uma patrulha, preso e remetido para o Rio de janeiro, encarcerado naFortaleza de Santa Cruz. Artigas invadiu pela terceira vez a capitania do Rio Grande e obrigou a José de Abreu a recuar(17/12/1819) até Passo de Rosário; com o concurso das forças do Coronel Bento Correia da Câmara, repeliu osinvasores (27/12/1819). Artigas trasladou -se, com 2.500 homens, para o rincão Taquarembó; no dia 22 de janeiro de1820, o Conde de Figueira, Capitão-General do Rio Grande, contando com as tropas de Abr eu e Câmara, atacou-os

causando verdadeira catástrofe. Os artiguistas perderam 500 homens, contando -se entre os mortos Sotelo; foramfeitos505 prisioneiros.O desentendimento entre Artigas e Francisco Ramirez, um de seus seguidores e vitorioso contra o G eneralRondeau, provocou uma luta entre ambos, a derrota do líder e a sua fuga para território paraguaio. O ditador Francia ointernou em um convento. Artigas morreu em Assunção em 23 de setembro de 1850. Frutuoso Rivera bandeou -se parao lado português, após rendição. Outros chefes artiguistas também se renderam.Pôde, assim, o governo português no Brasil anexar a Banda Oriental com o nome de Província Cisplatina, em31 de julho de 1821, depois de habilidosa manobra de D. João junto à Corte de Madri, inut ilizando os esforços dadiplomacia espanhola, jogando com a amizade inglesa e o casamento de seu herdeiro com uma arquiduquesa austríaca.121O Regresso da Corte para Portugal:Inconformados os portugueses com a permanência do governo em terras do Bra sil: sentiam-se desprezados ealguns tinham medo de se tornarem colonos tendo em vista que a corte estava no Brasil.A agitação no Reino ganhou corpo em 1817, no mesmo momento da revolta pernambucana, liderada peloGeneral Gomes Freire de Andrada, grão -mestre da maçonaria portuguesa, que conspirou para eliminar Beresford. Atraição abortou a revolta e os chefes foram executados.Logo no início do ano de 1820, surgia no Porto uma sociedade secreta, o Sinédrio, que, apoiada pela maçonariae entrando em contato com os constitucionalistas da Espanha, articulou um movimento para fazer regressar o rei. Aviagem de Beresford ao Rio de janeiro precipitou a revolta, que estalou a 24 de agosto, e lhe deu êxito: Beresford, deregresso, foi impedido de desembarcar pel o Desembargador Manoel Fernandes Tomáz e pelo ouvidor José da SilvaCarvalho, enquanto se espalhava a revolta, Adotando provisoriamente a Constituição espanhola, os revoltososorganizaram uma junta Provisional de Governo, a qual convocou as Cortes Gerais E xtraordinárias da Nação Portuguesa.As noticias da revolução portuguesa chegaram ao Brasil em datas variadas aderindo o Pará, por instigação dojovem Filipe Alberto Patroni, derrubando -se a Junta Governativa e elegendo-se outra, presidida pelo Bispo Romua ldoAntônio de Seixas, Em Salvador, a guarnição do Forte de S. Pedro, comandada pelo Tenente -Coronel Manuel Pedro deFreitas Guimarães, amotinou-se em 10 de fevereiro, insuflada pelo Dr. Cipriano José Barata de Almeida, originalconspirador; nada pôde cont ra ela o Governador Conde da Palma. Triunfante a revolta, aclamou -se uma junta, ligadaaos eventos que se desenrolavam em Portugal.A noticia desses acontecimentos chegaram ao Rio de janeiro a 17 de fevereiro, Palmela e o Conde dos Arcospensavam que o rei devia regressara Portugal, deixando o herdeiro no Brasil; opôs -se o Ministro Tomás AntônioVilanova Portugal, que arrancou do rei um decreto, de 18, determinando a partida de D. Pedro. Essa medida nãoagradou a ninguém, menos ao príncipe herdeiro: urdira m intrigas.No dia 26 de fevereiro, a tropa lusitana, inflamada pelos brigadeiros Francisco Joaquim Carreti e Jorge deAvilez Zuzarte de Sousa Tavares, reuniu -se no Rossio Pequeno (hoje Praça Tiradentes), à qual se juntou o povo,insuflado pelo Padre Marcelino José Alves Macamboa. Exigiam que o rei jurasse e aprovasse previamente a Carta queestava sendo elaborada em Lisboa. E clamavam pela saída do ministério.Não foi possível a D. João VI fugir a esses pedidos, por ele prontamente atendidos, para júbilo de todos. Caía oretrógrado Ministro Vilanova Portugal, passando a ocupar as pastas de Estrangeiros e Guerra o liberal Silvestre PinheiroFerreira. Enquanto isso, protelava o seu retorno, colecionava desculpas e adiava... Convocava, também, eleições noBrasil para a escolha dos deputados às Cortes.Finalmente, D. João VI preparou-se para voltar. O Decreto de 7 de março anunciava essa resolução e incumbiao Príncipe D. Pedro da Regência do Brasil. Marcou o embarque para 24 de abril. Mas, na noite de 20, os eleitores doRio de janeiro, reunidos na Praça do Comércio, tumultuaram a sessão por causa dos discursos do Padre Macamboa e deLuis Duprat e exigiram ser a bagagem do rei revistada. A conselho do Conde dos Arcos, o Príncipe D. Pedrodeterminou dissolver a reunião por uma companhia de caçadores, sob o comando do Maior Peixoto, às três da

madrugada: três mortos e 20 feridos como resultado, além de algumas prisões e abertura de devassa.Com data desse mesmo dia 20, o rei designou o ministério para o governo do Regente D. Pedro. Recomendoulhe,dois dias antes de partir: "Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que paraalgum desses aventureiros". Na tarde de 24 de abril, embarcou -se na nau D. João VI, velejando, a 26, p ara Portugal,juntamente com muitos transportes mercantes.Até hoje, não reconheceram os historiadores pátrios a importância de D. João VI para o Brasil: a fim de bemgovernar montou uma aparelhagem administrativa, social, econômica e militar, que não foi desfeita ao partir.122123CAPÍTULO IA REGÊNCIA DE D. PEDROO retorno de D. João VI a Portugal abriu uma nova época para o Brasil.O período em que D. Pedro exerceu a re gência baliza-se entre 26 de abril de 1821 e 7 de setembro de 1822,fase definitiva no processo da elaboração da independência. Seu ministério constituiu -se do Conde dos Arcos (D.Marcos de Noronha e Brito), o Conde de Louzã (D. Diogo de Menezes), o Marech al Carlos Frederico de Caula e oMajor-General da Armada Manoel Antônio Farinha, respectivamente nas pastas do Reino, Fazenda, Guerra e Marinha.O que o príncipe recebia, na verdade, eram dois “Brasis”; um composto do Rio de Janeiro, Minas Gerais e SãoPaulo, beneficamente influenciado com a estadia da Corte, amadurecido para uma emancipação, permeável àsinfluências ideológicas da época, absorvendo os primeiros passos da industrialização, as regiões ao sul, indefinidas emsuas fronteiras, vivendo épocas de quase abandono do Estado e em conflitos locais eternos entre espanhóis, índios eportugueses, e um outro formado pelas províncias do Norte e Nordeste, onde o espírito português mostrava -se maisacentuado. O interior planáltico e a impenetrável Amazônia d ependiam do litoral mais povoado.Tratou, logo, o príncipe de se preocupar com a questão financeira do País. D. João VI deixara o tesouro vazio,levando todo o dinheiro existente no reino Brasil. Igualou os militares brasileiros aos portugueses. Franqueou a entradade livros. Aboliu a censura de imprensa. Ao mesmo tempo, procedia -se a eleição dos deputados que deviam representaro Reino do Brasil nas Cortes de Portugal.Por decreto de 24 de abril, as Cortes Constitucionais em Portugal determinaram que as Juntas Provinciaisestabelecessem um vínculo administrativo direto com Lisboa. Rompia -se, assim, a unidade política, diminuía -se aautoridade do príncipe. Houve confusões no Rio de Janeiro e, ouvindo o príncipe as exigências, acordou em jurar asBases Constitucionais. Preparou-se para regressara Portugal.Havia um desabrochar de sentimento liberal ainda preso e favorável ao movimento português. Mas, à medidaque a Assembléia elaborava a Carta, com desencontrada participação dos representantes brasileiros, via-se que ela nãoestava disposta a respeitar o Reino do Brasil em sua integridade. Perceberam os patriotas que a única fórmula capaz desalvar o país de um colapso residia na libertação sob forma monárquica com a cooperação de D. Pedro. Foi essa a razãopara que muitos portugueses aqui residentes preferissem conservar a fórmula de Reino Unido, se declarandoabertamente pela independência.O envolvimento de D. Pedro redundou de habilidosa manobra executada pela maçonaria, que possuía diversaslojas espalhadas nos principais centros urbanos, ligadas pelo ideal de emancipação política. Diversos jornais e outrosperiódicos preparavam a nação para a emancipação.A primeira reação veio de Pernambuco. Na vila de Goiana os patriotas se insurgiram, a 25 de agosto , contra ogoverno autoritário do Tenente -General Luis do Rego. Intimaram aos lusos o embarque e ameaçaram Olinda. Repelidospor Luis do Rego no ataque à povoação de Afogados (arredores de Recife), chegaram a uma solução pacífica a 5 deoutubro com a assinatura da Convenção de Beberibe, Luis do Rego passava o governo a uma junta, eleita a 26 deoutubro, presidida por Gervásio Pires Ferreira, retirando -se, nesse mesmo dia, para Portugal.O príncipe se aborrecia com tudo que se passava no Brasil e tomou mesm o a decisão de retornar. Mandou, paraisso, preparar a fragata União. D. Pedro mostrava total acatamento às Cortes e ao rei, podendo -se isto comprovar pelacorrespondência por ele mantida.No dia 9 de dezembro, aportava no Rio de janeiro o brigue Infante D. Sebastião portador dos decretos das

Cortes Constitucionais, datados de 29 de setembro, 12 e 18 de outubro, ordenando a volta de D. Pedro, extinguindo osTribunais de justiça, nomeando chefes militares, colocando os governos provinciais diretamente ligad os a Lisboa. Nessemesmo dia, o regente escreveu ao rei, seu pai, confirmando -lhe que aceitava as novas determinações e que seencontrava disposto a regressar.Agitaram-se os maçons e movimentaram-se os patriotas, organizando um Clube da Resistência; sua finalidadeconsistia em evitar a saída do príncipe, apoiados todos na informação de Francisco Gordilho Veloso de Barbuda,guarda-roupa de D. Pedro, que afirmava estar o jovem príncipe disposto a desobedecer às Cortes.A 9 de janeiro de 1822, uma manhã de domingo, saíram todos em procissão da Igreja de N.S. do Rosário e S.Benedito e se dirigiram para o Paço da Cidade. Na sala do trono, José Clemente Pereira entregava ao príncipe a petição,longa de oito mil assinaturas, e deitava extensa fala para que D. P edro ficasse. Mas o príncipe vacilou: sua resposta,dúbia, provocou descontentamento. Mas, ao entardecer, chamou o mesmo José Clemente para corrigir o Auto daVereação, que assim ficava riscado e apensado da frase: "Como é para bem de todos e felicidade ge ral da Nação, estouPronto, diga ao Povo que fico". Comprometia -se D. Pedro com a causa brasileira. Sua permanência representou fatoraglutinante na libertação que se avizinhava, impedindo a fragmentação do território.A reação das tropas portuguesas, ain da comandadas pelo Brigadeiro Jorge de Avilez, não se fez esperar,Ocuparam o Morro do Castelo, no dia 12, e exigiram o cumprimento das ordens das Cortes pelo regente. Contando compopulares, soldados brasileiros, padres, Guarda de Polícia, todos sob o com ando do Tenente-General Joaquim XavierCurado, logrou o regente cerca -los, compelindo-os a retirarem-se para Niterói e dali, a 15 de fevereiro, para Portugal.124D. Pedro organizou um novo ministério em 16 de janeiro, após os pedidos de exoneração dos minist ros“portugueses”, dele participando o paulista José Bonifácio de Andrada e Silva, incumbido da pasta do Reino e NegóciosEstrangeiros, e mais Caetano Pinto de Miranda Montenegro, o Marechal Joaquim de Oliveira Álvares e o Major -General-da-Armada Manoel Antônio Farinha. Nesse momento, José Bonifácio tornou -se o verdadeiro artífice daindependência, congregando as tendências, influindo no príncipe, liderando os patriotas.No dia 21 de fevereiro, uma portaria de José Bonifácio determinava que as leis proveni entes de Portugal sóteriam validade no Reino do Brasil após beneplácito do príncipe regente (Lei do Beneplácito ou “Cumpra -se”).O “Fico” deu coragem aos baianos e a luta abriu -se na capital da província em fevereiro. A 19, ocorreusangrento encontro entre militares brasileiros e portugueses: estes, vitoriosos, mataram, na porta do convento da Lapa, oPadre-capelão Daniel Lisboa e a Madre Superiora Joana Angélica, que, em vão, tentaram impedir que entrassem embusca de patriotas refugiados.Fracassadas as tentativas de conseguir a volta de D. Pedro, o governo português enviou uma divisão navalcomandada pelo Chefe-de-Divisão Francisco Maximiano de Souza, portadora das tropas do Coronel Antônio JoaquimDamasceno Rosado, todos com ordens de obrigar o prínci pe a voltar. Esses navios chegaram à barra do Rio de janeiro a5 de março, nela esbarrando com os navios que Rodrigo de Lamare conseguira reunir. Compelidos os oficiais aassinarem um termo de obediência ao príncipe, só depois se concedeu lançarem ferros j unto à Ilha da Boa Viagem. Estamissão não alcançou o objetivo que se propunha. Diversos integrantes desta Divisão Naval, 894 ao todo, optaram poringressar no serviço do Reino do Brasil; D. Pedro exigiu que lhe fosse entregue a fragata Real Carolina que f oirebatizada de Carolina e permaneceu no Rio de Janeiro.No fim do mês de março, a 23, seguiu D. Pedro para Minas Gerais, onde havia dúvidas quanto à suaautoridade, logo desfeitas com a sua presença em Barbacena, S. João del Rei e S. José del Rei, Quelu z e Vila Rica, quefoi, então, elevada à categoria de cidade e rebatizada de Ouro Preto.. Aceitou em 13 de maio o título de DefensorPerpétuo do Brasil, por influência e ação da maçonaria. A 3 de junho, convocava eleições para uma AssembléiaConstituinte.

A 2 de junho, os partidários de José Bonifácio criavam o Apostolado, em defesa da causa monárquica. Logolhe tomou à frente o príncipe, com o título de Arconte -Rei. Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa agruparam aspequenas lojas maçônicas fundando, a 17 de junho, o Grande Oriente do Brasil, inicialmente com sede na Rua do Fogo,para, depois, se estabelecer na do Lavradio (onde se encontra), sendo escolhido como Grão -Mestre José Bonifácio;iniciado o regente, feito maçom a 5 de agosto, recebia nome d e Guatimozim.Os eventos se precipitavam: em 12 de agosto, o regente fez publicar uma proclamação, redigida por GonçalvesLedo, exortando os brasileiros à união, na qual lemos: "Do Amazonas ao Prata não retumbe outro eco que não seja aindependência". Seguiu-se a este manifesto um outro datado do dia 6 aos governos das nações amigas, escrito por JoséBonifácio, expondo as atitudes das Cortes Constitucionais e as suas ações conciliatórias para salvar a unidade damonarquia portuguesa. A independência foi pr oclamada no Grande Oriente, em assembléia de 20 de agosto, coroláriodos manifestos de 1º e 6 de agosto.A Vila de Cachoeira, na Bahia, revoltou -se contra a autoridade do Brigadeiro Inácio Luiz Madeira de Mello e aLegião Constitucional Lusitana por ele comandada. Depois de prolongado combate contra uma canhoneira portuguesa,os habitantes instalaram um conselho interino de governo. Em pouco tempo, a província aderia à causa, menos a capital,controlada por Madeira de Mello. Deliberou D. Pedro ajudar os p atriotas, enviando homens sob o comando de PierreLabatut, ex-General de Napoleão I (Bonaparte), contratado para o serviço brasileiro, embarcados nos navios do Chefe -de-Divisão Rodrigo Antônio de Lamare. Os principais combates iriam ter lugar após o mês de setembro.Realmente, a posição do regente inclinava -se decididamente para a causa brasileira. Tomou, mesmo, a decisãode mandar homens de confiança ao exterior, a fim de sondar a atitude de alguns governos, Em Londres, começou aatuar Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta (futuro Marquês de Barbacena), observando o interesseinglês no comércio com o Brasil e o desejo em ver a escravidão extinta. Os Estados Unidos estavam atentos aossucessos no Brasil; seu Presidente, Monroe, fazia -se campeão das liberdades americanas e enviava dois agentes, JohnGrahan e Henry Hill, ao Rio de janeiro. Para a França, D. Pedro designou Manoel Rodrigues Gameiro Pessoa, quepartiu em agosto de 1822, chegando a Paris em outubro, desenvolvendo uma atividade já ap ós a independência.Face às agitações ocorridas em São Paulo, D. Pedro dirigiu -se para esta província, a 14 de agosto, a fim deacalmar os ânimos. No caminho para a capital da província, recebeu o Major Antônio Ramos Cordeiro, em cujacompanhia estava o correio Paulo Bregaro, que, a galope, lhe trazia os últimos decretos das Cortes, chegados no navioTrês Corações, a 28 de agosto. Diziam: 1. mandava instalarem juntas de governo nas províncias e nomeava novoministério; 2. ordenava uma investigação criminal à propósito da ausência dos deputados de Minas Gerais às Cortes; 3.declarava nulo o decreto do regente de 16 de fevereiro (o que havia convocado um Conselho de Procuradores dasProvíncias); e 4. determinava a abertura de processo contra os membros da jun ta governativa de São Paulo, que haviampermitido as assinaturas do Manifesto (e do Fico), bem como responsabilizava o ministério que José Bonifácioencabeçava. Cartas da Princesa D. Leopoldina (que no Rio ficara como regente) e de José Bonifácio o aconsel havam anão mais contemporizar. O Patriarca desejava que o cenário da independência fosse São Paulo.Estava a pequena comitiva ao lado do riacho Ypiranga: havia parado para refresco. Eram 4 da tarde de umsábado de sete de setembro. O príncipe irritou -se à medida que se inteirava das novas ordens; sentiu -se humilhado. E obrado de Independência ou Morte ecoou grave e sincero. Não traduziu uma atitude impensada, mas sim o epílogo noprocesso de maturidade política.125CAPÍTULO IIO PRIMEIRO REINADODas margens do Ypiranga, D. Pedro dirigiu -se à capital paulista, onde a notícia do ocorrido espalhara -se

rapidamente. Na mesma noite, recebeu calorosa manifestação no teatro, nele aclamado rei do Brasil, aos acordes de umhino que pouco antes compusera para a letra que Evaristo da Veiga escrevera em 16 de agosto. A 14, já estava no Rio.Na noite seguinte, compareceu ao Teatro S. João com uma braçadeira onde se lia: Independência ou Morte.À testa do ministério conservava -se o Patriarca José Bonifácio, pleno de atitudes moderadas. Por decreto dodia 18, instituiu-se a bandeira, segundo o risco do pintor Jean Baptiste Debret, bem como o escudo de armas. Nessemesmo dia, concedeu-se anistia geral aos criminosos políticos, visando à união. Trabalhavam todos para tornarembrilhantes as festas da aclamação e coroação.Ficou decidido que D. Pedro seria imperador, idéia provavelmente surgida nas reuniões maçônicas desetembro, vindo ao encontro dos desejos do próprio monarca e do patriarca conservador. A 7 de outubro , D. Pedroassumia o cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente. Assim, a 12 de outubro, aniversário de D. Pedro, foi ele aclamadoImperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, no palacete do Campo de Santana, logradouro daí em diantechamado da Aclamação, presentes a corte, a tropa e o povo. Salvas de 101 tiros completaram a cerimônia. Seguiu -se umTe Deum na capela imperial e o beija -mão no Paço da Cidade.Surgia o novo Império. Surgia envolto às paixões políticas. A agitação causada pelos maçons, partidários deJoaquim Gonçalves Ledo, refletiu -se na imprensa em ataques violentos, principalmente no Correio do Rio de Janeiro,do português João Soares Lisboa. José Bonifácio determinou o banimento deste e influiu no imperador para fechar aslojas maçônicas e D. Pedro I suspendeu os trabalhos da maçonaria. Não encontrando no imperador disposição, que, a25, somente fechou o Grande Oriente, José Bonifácio demitiu -se no dia seguinte, juntamente com seu irmão MartimFrancisco, o que foi aceito pelo imperado r no dia 28; voltou ao cargo após grande manifestação popular (no dia 30)frente à sua casa, no Caminho Velho de Botafogo, a qual aderiu o imperador. Recompunha -se o ministério comsubstituição dos ministros da Guerra (Coronel João Vieira de Carvalho) e da Marinha (Capitão-de-Mar-e-Guerra Luísda Cunha Moreira).Acalmados os ânimos, pôde-se proceder à bênção da Bandeira, a 10 de novembro, na Capela Imperial, sendo oestandarte entregue ao Tenente Luis Alves de Lima e Silva, primeiro militar a recebê -lo. No mesmo dia, a esquadra içouo pavilhão nos mastros de seus navios, sendo, segundo a tradição oral, o primeiro militar da Marinha a içar o pavilhãonacional a bordo de uma embarcação o Tenente Joaquim Marques Lisboa (Futuro Almirante Tamandaré).A 12 de dezembro, realizou-se a coroação, na Capela Imperial, com rígido protocolo e pompa napoleônica. Oimperador trajava grande uniforme e extenso manto de veludo verde com murça de papos de tucano. Prestou seujuramento em latim. À tarde, diante da multidão que se aglomerava no Largo do Paço, comprometia -se a adotar erespeitar a futura Constituição, enfatizando: "... se for digna do Brasil e de Mim”. Por três dias, houve festejospopulares, regados a bom vinho e aguardente nativa. Por júbilo de sua coroação, o i mperador criou a Ordem doCruzeiro, a sua Guarda de Honra e concedeu o primeiro título de nobreza ao Coronel Antônio Joaquim Pires deCarvalho, feito Barão da Torre de Garcia d'Ávila .A Formação da Marinha do Brasil:Para a Marinha que nascia, estavam reservadas grandes atividades e papel destacado nas lutas deindependência e defesa da costa. Para ela dispensou cuidados especiais por ser mais necessária, dada a grande distânciade nossas fronteiras marítimas, eliminando núcleos de lusitanos litorâneos e transportando tropas de terra. Contou com aeficiente colaboração do Capitão-de-Mar-e-Guerra Luis da Cunha Moreira, primeiro brasileiro a ocupar o cargo deMinistro da Marinha (22/10/1822), tendo sido agraciado com o título de Visconde de Cabo Frio (1858 ) em substituiçãodo Major-General da Armada Manoel Antônio Farinha, que sendo português aderiu à causa brasileira e foi o PrimeiroMinistro da Marinha, durante a fase de regência de D. Pedro.Feitos os reparos nos poucos navios existentes e compra de nav ios, feitos com crédito mediante subscrição

pública, e até a compra de um navio pelo próprio imperador, compôs -se a nossa esquadra da nau Pedro I (ex -Martins deFreitas), fragatas Ypiranga (ex-União), Paraguaçu (ex-Real Carolina) e Nictheroy (ex -Sucesso), corvetas Maria daGlória (ex-Horácio) e Liberal (ex-Gaivota), e brigues Cacique (ex-Reino Unido), Real Pedro, Rio da Prata (ex -Leopoldina), Guarani (ex-Nightingale) comprado à firma inglesa Brown Watson, Caboclo (ex -Maipu) e Atalanta, bemcomo várias lanchas e outras pequenas embarcações. Entre estas, deve -se citar a barca Bragança (ex-Swift) primeironavio a vapor existente em nossa esquadra, vindo de Nova York em 182 1.Para guarnecê-los, contava o Império com diversos oficiais e marujos, sendo muitos os portugueses queaderiram à independência (ao todo 98 homens, sendo dez oficiais -generais; alguns poucos retornaram a Portugal nobrigue dinamarquês Aurora). Afigurou -se, contudo, necessária a contratação de mercenários, em sua maioria ingleses,encabeçados por Lorde Thomas Cochrane, que ocupou o posto, exclusivo, de Primeiro -Almirante e, ainda, os oficiaisJohn Taylor, Thomas Crosbie, James Thompson e James Norton que receberam o posto de Capitão -de-Fragata;126Benjamim Kelmare e Bartholomew Heyden para serem Capitães-Tenentes; John Pascoe Grenfell, James Sheperd,Estevem Charles Clewley, Francis Clair, William Parker, John Roger Glecidon, Vincent Chrofton, James Nicoli,Samuel Chester, Raphael Wright, Samuel Gillet e George Clarence para ocuparem o posto de P rimeiro-Tenente e, comoSegundos-Tenentes, George Manson, Adrian Mynson, William Eyre, Charles Watson, Duncan Macrieghts, WilliamInglis, Ambroise Chafles, George Cowan, Charles Mosselen, Joseph Litscottan, Charles Xell e George Broom.Quinhentos marujos completavam a contratação. O monarca procurou, ainda, incentivar a carreira naval: diversosdecretos, de outubro de 1822 a março de 1823, visavam a completar as guarnições dos navios.Conservou-se a mesma hierarquia naval: Vice -Almirante, Chefe-de-Esquadra, Chefe-de-Divisão, estes oficiaisgenerais,seguindo-se o Capitão-de-Mar-e-Guerra, Capitão-de-Fragata, Capitão-Tenente, Tenente, primeiro e segundo, eGuarda-Marinha.Para chegar ao oficialato o jovem devia ingressar na Academia de Guardas -Marinha, ainda instaladaprecariamente nas hospedarias do Mosteiro de São Bento, nelas permanecendo até 1840.Os fardamentos do Corpo da armada ficaram regulados pelo Decreto Imperial de 27 de outubro de 1823;quanto ao Batalhão de Artilharia da Marinha (que, em 1847, receberá a denominação de Corpo de Fuzileiros Navais),conservou o uniforme português, recebendo, pelo decreto de 17/08/1826, seu plano de fardamento.No correr do Primeiro Reinado, o material flutuante cresceu com os navios apresados durante a guerra deindependência e com outros construídos por causa da guerra contra as Províncias Unidas; isso provocou umapermanente atividade nos estaleiros e arsenais, alguns vindos do período colonial, outros novos, como os de Ladário eSantos. Em 1826, nossa força naval apresentava-se com 94 unidades e um total de 690 canhões. Ao terminar a guerra daCisplatina a esquadra formava com 1 nau, 2 fragatas, 4 corvetas, 13 brigues, 7 brigues -escunas, 9 escunas, 15 barcascanhoneiras, 16 transportes e outros menores, havendo alguns em construção. Ao Ministro Villela Barbosa (19/11/1823a 16/01/1827) deve a Marinha vasta soma de empreendimentos e realizações, enfatizando -se a construção do primeirodique seco da ilha das Cobras.As tropas de terra, posto que não tão bem organi zadas logo no início, como as de mar, apresentavam-se maisnacionais, predominando nelas o elemento brasileiro. Não escapou o Exército, contudo, da formação de um batalhão deestrangeiros composto de alemães e irlandeses. Criou o governo imperial o Quartel -General da Corte, a 20 de fevereiro(1824), com sede no Campo da Aclamação (Campo de Santana), em prédio que vinha da época do Conde de Linhares,precedendo à organização e instituto legal que receberam as Forças Armadas com a Constituição de 1824 e com odecreto de 1º de dezembro do mesmo ano.A Guerra nas Províncias (Guerras de Independência):A presença de forças militares fiéis ao governo português, sediadas em algumas províncias, constituía o maior

empecilho à rápida organização interna. Tornava -se necessário expulsá-las, acarretando um período de lutas, as quais jáse desenrolavam durante o mês de setembro de 1822.Ao novo país importava possuir uma força militar com que pudesse contar para a sua defesa. Por isso, D.Pedro, declarando-se dela seu generalíssimo, permitiu que portugueses optassem pelo Brasil, sendo -lhes concedido oprazo de quatro meses; abriu o voluntariado e criou um batalhão de estrangeiros, engajando bávaros e irlandeses.Merece destaque, além de Pierre Labatut, já citado, outro francês, Emille Louis Mallet, que, em 1822, ingressava comocadete na Academia Imperial, tornando -se brasileiro quando segundo tenente.O imperador sabia que a sorte da independência seria travada no mar: uma marinha de guerra eficaz era o quecontava no momento. Por isso, reaparelhou todos os navios que pôde obter, no Arsenal do Rio de janeiro, graças ao quese apurou de uma subscrição pública, e, mesmo, chegou a comprar o brigue Maipu com seus dinheiros, do norte -americano David Jewett, que na nossa Mari nha se engajou, recebendo o posto de Capitão -de-Mar-e-Guerra. Seguindo asugestão de Felisberto Caldeira Brant, contratou o inglês Lorde Thomas Cochrane, 10º Conde de Dundonald, queacabara de distinguir-se na guerra de independência do Chile, apodado pelo s espanhóis de “El Diablo”, por causa desuas incríveis façanhas. Com ele, vinham diversos oficiais para ocuparem, precipuamente, os postos inferiores equinhentos marujos ingleses completavam a contratação.1) A Guerra na Bahia:Pierre Labatut desembarcara em Alagoas no Porto de Jaraguá; recebeu reforços pernambucanos, alguns índiosatraídos para a aventura, e se juntou às forças baianas. Estes eram os voluntários do príncipe, apelidados de periquitos.O efetivo total atingia 9.515 homens. Imediatamente , Labatut estabeleceu o cerco contra o Brigadeiro Madeira deMello, desde 2 de novembro, dificultando a sua posição, embora a esquadra do Chefe -de-Divisão João Felix Pereira deCampos (nau D. João VI. fragata Constituição, corvetas Dez de Fevereiro, Regene ração e Princesa Real, charruasPrincesa Real e Orestes, brigues Audaz e Prontidão) permitisse o domínio do mar. No combate de Pirajá (8 denovembro), depois de cinco horas de luta, venceram os nossos, obrigando a Madeira de Mello a concentrar -se emSalvador. Mantinham os nossos o cerco, onde freqüentes eram os lances heróicos, distinguindo -se Maria Quitéria deJesus que, como soldado, demonstrou desempenho notável.Com a patente de Primeiro-Almirante, Cochrane arvorou o seu pavilhão na nau Pedro I e rumou em 3 de abrilpara águas baianas. Sete navios ao todo; pobre em tamanho mas não em valor: os voluntários brasileiros (entre elesJoaquim Marques Lisboa) lutavam pela sua Pátria. Cochrane não confiava, porém, nos portugueses. A 4 de maio de1823, encontra-se com Felix de Campos travando um combate indeciso, prejudicada sua atuação pelo motim dos127marujos portugueses na capitânia (como previra Cochrane), permitindo -lhe, contudo, cercar o Porto de Salvador,baseado na enseada do Morro de São Paulo.Alguns pequenos combates deram continuidade à ação bélica, todos sem resultados expressivos. Em 7 dejaneiro, tentaram os lusos firmar -se em Itaparica, mas o marinheiro português João de Oliveira Bottas, depois tenente daMarinha Imperial, organizou uma pequena flot ilha de barcos pesqueiros que muito incomodou os adversários,impedindo-os de ocuparem esse ponto estratégico.Houve, depois, encontro das forças oponentes em Conceição (15 de fevereiro). E, em 22 de fevereiro,chegaram reforços para Labatut: o Batalhão d o Imperador, em cujas fileiras se encontrava o alferes Luís Alves de Limae Silva (Futuro Duque de Caxias). Outro encontro em Itapuã (3 de maio) dava vitória aos imperiais. Madeira de Melloperdia a esperança de abrir uma brecha no anel de assédio que o su focava.Sentindo que a sua posição apresentava -se difícil de sustentar, Madeira de Mello preferiu retirar -se. Embarcoua sua gente e todos os que desejaram partir na maior ordem, em 48 navios, entre os de guerra e mercantes, e, a 2 dejulho, velejaram para o Reino. Saiu-lhes ao encontro o primeiro-almirante com o desejo de impedir que arribassem paraoutro porto brasileiro, onde o ideal de separação não estivesse firmado. Concluindo, porém, que se dirigiam mesmo para

Lisboa, encarregou ao comandante da Nic theroy, John Taylor, proceder à continuidade da perseguição. Escreveu, então,a elegante fragata e sua tripulação uma das páginas mais destemidas e belas da Marinha de todos os tempos. Taylorapresou 16 navios componentes do comboio português utilizando -se de uma tática de guerra naval denominada “Guerrade Desgaste”.2) A Guerra no Maranhão e Piauí:O presidente da junta governativa do Maranhão, Bispo D. Joaquim de Nazaré, liderava o partido luso,encontrando aliado no Coronel João José da Cunha Fidié, governador de armas do Piauí. Proclamada a adesão àindependência, a 19 de outubro, na Vila de S. João da Parnaíba, contra ela dirigiu -se o Coronel Fidié, restabelecendo aautoridade portuguesa: os patriotas revoltavam a Vila de Oeiras e solicitavam auxíli o do Ceará, tendo sua juntagovernativa enviado o Coronel José Pereira Filgueiras com soldados voluntários. Encontraram -se em 13 de março de1823 em Genipapo, Piauí, vencendo Fidié, que, em seguida, sem tirar proveito dessa vantagem, retirou se para a Vila deCaxias, no Maranhão. Ficou o Piauí em mãos dos partidários da independência, os quais juntaram suas forças com asmaranhenses, impondo a Caxias longo cerco, capitulando Fidié a 31 de julho. Remetido preso para a Bahia e daí para oRio de janeiro, permitiu-lhe o imperador retirar-se para Portugal, onde veio a ser diretor do Colégio Militar de Lisboa.No dia 26 de julho, chegava Lorde Cochrane a S. Luís do Maranhão (onde não se sabia dos eventossertanejos), a bordo da nau Pedro I, dizendo -se a vanguarda de poderosa esquadra, ameaçando de destruição a cidadeindefesa com disparos elevados. Os habitantes, ciosos de seus haveres, preferiram aderir à independência (28 de julho).Cochrane considerou a cidade sua presa, apoderando -se de várias propriedades móveis.3) A Guerra no Pará:Na região do Pará, a fidelidade a Lisboa mostrava -se sólida. Conspiraram os patriotas paraenses provocandoum levante a 14 de abril de 1823, sufocado pela guarnição portuguesa, comandada pelo General José Maria de Moura,que prendeu a todos na fortaleza da barra e na cadeia pública.Determinou o primeiro-almirante que John Grenfell se dirigisse a Belém do Pará, no brigue Infante D. Miguel,apresado e rebatizado de Maranhão. Grenfell chegou a Belém a 10 de agosto e usou do mesmo estratagema deCochrane, obtendo da junta, na reunião do dia seguinte, a adesão à independência.Verificando-se grande agitação popular (15 de outubro), incitada pelo cônego Batista Campos, Grenfellrestabeleceu a ordem, apoiando-se em seus marujos e alguns habitantes. Prendeu muitos, fuzilou cinco para exemplo,remeteu o cônego preso para o Rio de janeiro e confinou 256 exaltados no porão do navio S. José Diligente (depoischamado Palhaço), os quais sofreram atrocidades da sede, agonizando, depois de vár ios acessos de furor, com a calvirgem derramada pelos seus guardas (comando do Tenente Joaquim Lúcio de Araújo). Somente quatro escaparam comvida. Submetido a Conselho de Guerra, Grenfell logrou demonstrar a sua inocência, escrevendo nas páginas de nossahistória uma das mais tristes, covardes e vergonhosas façanhas.A 9 de novembro, quando Lorde Cochrane retornou ao Rio de janeiro, recebeu grandes homenagens e o títulode Marquês do Maranhão.4) A Guerra na Cisplatina:Na Província Cisplatina, as tropas de Carlos Frederico Lecór (português de nascimento) aderiram ao Ato de D.Pedro e sitiaram a Divisão de Voluntários Reais, que se recusava a aceitar a independência, com D. Álvaro da CostaSouza de Macedo em comando na cidade de Montevidéu. Completava o bloqueio os navios de Rodrigo Lobo, queempregava a fragata Thetis por capitânia, recebendo mais reforços de David Jewett que partiu do Rio de Janeiro em 14de novembro de 1822, com as fragatas Ypiranga e Paraguaçu, estas logo retornaram à capital em jan eiro de 1823,corveta Liberal e cinco transportes. Em janeiro de 1823, seguiu para Montevidéu o Capitão -de-Mar-e-Guerra PedroAntônio Nunes, nomeado comandante das forças navais em operações na Cisplatina, a bordo do brigue Real Pedro. O

sítio prolongou-se por 17 meses. Ainda tentou D. Álvaro uma reação; mas perdeu o combate naval de Montevidéu (21128de outubro), no qual nenhum dos contendores se engajou a fundo, havendo, apenas, troca de tiros. D. Álvaro e sua genteretiraram-se, 18 de novembro, para Portuga l.Estava, assim, consolidada a independência no território que a história consagrara como Brasil. O sanguederramado, os sacrifícios que se impuseram e os embates vigorosos não produziram uma simples vitória de armas, masa definição do sentimento nacional. Forjara uma epopéia.A proclamação da independência garantiu ao Brasil autonomia em relação a Portugal, afastando o risco darecolonização, e transformou D. Pedro I no eixo da nova ordem política, que nascia sem as amarras do dirigismo dascortes portuguesas, mas que necessitava ainda ser definida e inserida no sistema internacional.Diferentemente do que ocorreu em outras ex -colônias americanas, que após longas lutas por sua independênciaadotaram o regime republicano, no Brasil foi instituído rapidam ente o regime monárquico, pela sua condição temporáriade sede da monarquia lusitana. A fragmentação político -territorial observada na América Espanhola e a amplaparticipação da população nas guerras de libertação não se fizeram notar na ex -colônia portuguesa, que manteve aintegridade territorial e política e delegou às elites um papel predominante na luta pró -independência.Embora a ordem socioeconômica não tenha sofrido alteração significativa, nem mesmo em suas estruturaspredominantemente coloniais, como o escravismo, o latifúndio e o domínio político da aristocracia.O Reconhecimento de Nossa Independência:A independência brasileira ocorreu em meio à reação absolutista européia que se seguiu à derrota de NapoleãoBonaparte, em 1815. O Congresso d e Viena havia instituído o princípio da legitimidade e a Santa Aliança, dificultandoo avanço das idéias liberais na Europa e emancipacionistas na América e, portanto, o reconhecimento internacional denossa independência.Sob a presidência de James Monroe, os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência doBrasil, em 1824. A Doutrina Monroe procurava barrar a intervenção recolonizadora européia no continente americano,adotando a máxima "A América para os americanos". Dessa forma, gar antia para os norte-americanos o controlepolítico sobre a região e, conseqüentemente, os promissores mercados latino -americanos.A Inglaterra atuou como mediadora junto às cortes portuguesas pelo reconhecimento de nossa independência, oque ocorreu em agosto de 1825. Emprestou ao Brasil cerca de 2 milhões de libras esterlinas para o pagamento daindenização exigida por Portugal, embora o dinheiro não tenha chegado a sair de Londres, já que os ingleses logocobraram de Portugal uma dívida no mesmo valor.Segundo o tratado de Paz e Aliança entre Portugal e Brasil, D. Pedro I ficava obrigado a ceder o títulohonorário de Imperador do Brasil a D. João VI e a não aceitar união com qualquer outra colônia portuguesa.Após sua assinatura, o tratado foi oficialme nte reconhecido pela Inglaterra, seguida por outras nações européiase por repúblicas da América Latina. A ação mediadora do reino britânico permitiu -lhe reafirmar, em 1827, os tratadosde 1810, ratificando, sobretudo, as tarifas aduaneiras pagas pelos pro dutos britânicos ao entrar no mercado brasileiro.Outras exigências inglesas incluíam a abolição do tráfico de escravos africanos até 1830, o que contrariava os interessesdas elites escravistas e proprietárias nacionais.D. Pedro I inaugurou uma política livre-cambista quando, em 1828, estendeu a tarifa alfandegária de 15%, atéentão restrita à Inglaterra, a vários outros países. Contudo, comparativamente, o baixo preço das mercadorias queingressavam no Brasil, especialmente as britânicas, inviabilizou o desenvolvimento da produção industrial interna eprovocou um crescente déficit em nosso comércio internacional (balança comercial desfavorável).Essa situação obrigou o país a recorrer a freqüentes empréstimos, o que o endividava cada vez mais eaumentava a dependência econômica em relação à Inglaterra. Consolidava -se, assim, a divisão capitalista das funçõeseconômicas: o Brasil abastecia o mercado internacional de produtos primários e permanecia dependente do núcleoeconômico capitalista, liderado pela Inglaterra.A Organização Política do Estado Brasileiro:A fim de organizar o novo Estado independente, por meio da criação de leis e regulamentação da

administração, reuniu-se, em maio de 1823, uma Assembléia Constituinte composta por 90 deputados pert encentes àaristocracia (grandes proprietários, membros da Igreja, juristas...).A maioria dos deputados constituintes defendia a monarquia constitucional que garantisse os direitosindividuais e limitasse os poderes do imperador, sem, contudo, promover a lterações estruturais que afetassem o domínioaristocrático-escravista ou que dessem origem a um regime amplamente democrático.O deputado Antônio Carlos de Andrada, irmão de José Bonifácio, apresentou à Assembléia um projeto deconstituição, no qual se destacavam dois princípios básicos: a soberania do poder legislativo (deputados e senadores), aquem estavam subordinados tanto o poder executivo (do imperador) como as Forças Armadas, e a instituição do votocensitário - o eleitor ou o candidato ao legisla tivo teria de comprovar elevada renda, conseguida, especialmente, pormeio da atividade agrícola e avaliada segundo quantidade de terras e escravos.Assim, o projeto constitucional de Antônio Carlos de Andrada, apelidado de "Constituição da Mandioca",impedia o acesso da grande maioria da população brasileira à participação política, visto que somente uma pequena elitedetinha terras e escravos. Excluía também os comerciantes, a maioria deles portugueses com rendas obtidas em outrasatividades que não a agrícola, portanto sem a utilização, ou posse, de terras e escravos.129D. Pedro I, vendo seu poder limitado por esse projeto e usando como pretexto a crítica oposicionista veiculadapor jornais ligados aos irmãos Andrada e aos militares e burocratas portugues es, recorreu à força para interromper ostrabalhos da Constituinte. Em novembro de 1823, ordenou a prisão e o exílio de muitos deputados, entre eles os irmãosAndrada (José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos).A Constituição de 1824:Após dissolver a Assembléia Constituinte, D. Pedro I nomeou um Conselho de Estado, formado por seisministros e quatro personalidades políticas, para ajudá -lo a redigir a constituição. Destacou-se José Joaquim Carneiro deCampos, futuro marquês de Caravelas, consid erado o principal redator do texto constitucional.Antes da outorga da constituição, em 25 de março de 1824, foram enviadas cópias do texto aos municípiospara que dessem sugestões a respeito. Dessa forma, disfarçava -se o autoritarismo do imperador, que j á havia definido aestrutura básica do documento, inspirado na Carta outorgada de Luís XVIII, da França, em 1814, sendo, portanto, nossaprimeira constituição inspirada no modelo francês.Entre outras coisas, a constituição de 1824 estabelecia monarquia h ereditária, divisão dos poderes do Estadoem 4 poderes: executivo (imperador e ministros de Estado, responsáveis pela execução das leis), legislativo (Câmara deDeputados e Senado, encarregados da elaboração das leis), judiciário (juízes e tribunais, que z elariam pelo cumprimentodas leis e julgamento dos infratores) e moderador (atribuição exclusiva do imperador, que regularia os outros poderes),combinando o constitucionalismo a elementos absolutistas.Os deputados teriam mandato de quatro anos e seriam escolhidos por eleições indiretas, em duas etapas: oseleitores de paróquia escolheriam os eleitores de província, responsáveis pela escolha dos deputados e senadores numasegunda eleição. Tanto uns como outros tinham de ser maiores de 25 anos (exceto os b acharéis ou oficiais - como eramchamados os militares) e do sexo masculino.Como o voto era censitário, o eleitor ou candidato deveria comprovar uma determinada renda mínima anual.No caso, 100 mil réis para votante de paróquia, 200 mil réis para eleitor de província, 400 mil réis para deputado e 800mil réis para senador. Os senadores vitalícios eram escolhidos pelo imperador com base em uma lista tríplice elaboradaem cada província.

A constituição previa ainda a oficialização do Conselho de Estado, co mposto de conselheiros vitalícios,nomeados pelo imperador, cujo "número não excederia a dez", devendo possuir idade mínima de 40 anos e renda nãoinferior a 800 mil réis. Estabelecia a divisão do país em províncias, dirigidas por presidentes nomeados pelo imperador,a oficialização da religião católica e a subordinação da Igreja ao controle do Estado, sendo seus membros consideradosfuncionários públicos, recebendo a côngrua, e reservando ao imperador o Regalismo, ou seja, as ordens do Papa sótinham valor no Brasil após o beneplácito do imperador, que também escolhia os bispos e outros líderes da IgrejaCatólica. Determinava também a liberdade de culto às outras religiões, desde que em recinto particular (igrejas) oudoméstico.Em suma, a Carta outorgada de 1824 impedia qualquer participação política dos grupos sociais menosfavorecidos e mantinha a essência elitista da "Constituição da Mandioca", diferenciando -se pela implantação do podermoderador. Assim, somente ele tinha o direito de nomear ministros, dissolver a Assembléia, controlar as ForçasArmadas (o imperador era o chefe supremo das forças armadas), nomear os presidentes das províncias e juízes,constituindo-se como o principal poder político. Essa Constituição vigorou até 1889.A Confederação do Equador ou a Revolução de 1824:Alguns, insatisfeitos com o absolutismo de D. Pedro I, conspiraram e atentaram contra a vida do imperadorincendiando o Teatro de São João, na noite de 25 de março, mas o imperador nada sofreu. Tais fatos convulsionaram aProvíncia de Pernambuco.A oposição a D. Pedro I e a dissolução da Constituinte manifestaram -se forte em Pernambuco, região deacentuado nativismo e espírito autonomista, sede da agricultura canavieira em fase de crise.Depois da expulsão das tropas por tuguesas, governara o Capitão Pedro da Silva Pedroso, conhecido pela suaambição, não agradando aos pernambucanos. Seguiu -lhe Afonso de Albuquerque Maranhão, deposto em 15 desetembro de 1823, permanecendo em seu lugar Francisco Pais Barreto. A 13 de dezem bro, nova junta governativa seorganizou, presidida pelo intendente da Marinha Manoel de Carvalho Pais de Andrade.De acordo com lei votada pela Assembléia, a 11 de outubro, D. Pedro nomeou para presidir a província omorgado do Cabo, Francisco Pais Barre to, a 23 de fevereiro de 1824. Este encontrou oposição de Pais de Andrade e umambiente adverso preparado pela propaganda do jornal Typhis Pernambucano, do carmelita Frei Joaquim do AmorDivino e Caneca (Frei Caneca), considerado uma das mais cultas inteli gências naquele momento. Secundava -lheCipriano Barata, que escrevia artigos inflamados no seu jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, bemcomo de seu sucessor, o Padre João Batista da Fonseca, existindo, ainda, o Desengano dos Brasileiros, folha doportuguês João Soares Lisboa.Pais Barreto conseguiu o apoio militar dos Batalhões de Caçadores de Linha, que efetuaram a prisão de seuopositor no Forte do Brum (20 de março); mas este obteve a liberdade pela guarnição do mesmo, cedendo aos des ejosdo Coronel José de Barros Falcão de Lacerda. Apesar de proclamar a sua fidelidade ao regime, Pais de Andrade pediuao governo norte-americano que alguns de seus navios pudessem estacionar no Recife a fim de "defender a nossaliberdade".130No porto do Recife encontravam-se os brigues Bahia e Independência ou Morte e as escunas Maria Zeferina eCamarão. Só o primeiro, comandado pelo Capitão -Tenente Bartholornew Heyden, manteve -se fiel ao Império,incorporando-se os outros às ordens de Pais de Andrade, que alterou o nome do segundo para Constituição ou Morte.Com o desejo de evitar uma conflagração na província, D. Pedro determinou que John Taylor efetuasse obloqueio do porto do Recife com as fragatas Nictheroy e Ypiranga e a charrua Gentil Americana. Res olveram oshabitantes recorrer ao imperador: uma comissão deslocou -se para o Rio de janeiro e expôs ao monarca a situação. D.Pedro atendeu aos peticionários, destituindo Pais Barreto, julgando, com isso, encerrar as divergências; escolheu paraprover o cargo José Carlos Mayrink da Silva Ferrão, que não logrou tomar posse, renunciando ao mesmo. O frustradomorgado do Cabo concentrou-se em Barra Grande (Alagoas), aguardando ordens do Governo imperial.

Pais de Andrade se aproveitou para insuflar a população, afirmando que tudo estava pronto para nova uniãocom Portugal. Concitou aos habitantes das províncias vizinhas a seguirem -lhe a idéia, enviando emissários beminstruídos. Na Paraíba se insurgiu a Vila do Brejo de Areia, que elegeu para o governo Felix Ant ônio Ferreira deAlbuquerque, reconhecido por outras vilas, e, em abril de 1824, o Ceará, apoiando -se no Coronel José PereiraFilgueiras, colocou Tristão Gonçalves de Alencar no governo da província, depondo o Presidente Costa Barros,nomeado pelo imperador. A insurreição principiou com o ataque ao morgado do Cabo e suas forças, que repeliram ossitiantes. Taylor suspendeu o bloqueio a chamado do imperador (28 de junho), diante da possibilidade de um grandeataque português.Pais de Andrade prevaleceu-se da oportunidade. Desligando-se do Império, proclamou uma república a 2 dejulho de 1824, com a adesão do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Alagoas (estas três últimas províncias sónominalmente), dando origem à Confederação do Equador. Adotava -se, provisoriamente, a Constituição da Colômbia,bem como uma bandeira com o lema "Religião, Independência, União e Liberdade". Pais de Andrade nomeou seusecretário o poeta José da Natividade Saldanha. O Coronel José de Barros Falcão de Lacerda encarregou -se doComando das Armas. Os agitadores João Metrovich (maltês) e João Guilherme Ratcliff (luso -polonês) trabalhavameficientemente.Estava, assim, concretizada uma secessão, cuja causa fundamental residia nos desejos caudilhescos de Pais deAndrade, habilmente apoiado no desorientado nativismo da região.Outra não podia ser a atitude do governo imperial: o combate à revolta impunha -se. A 17 de julho, desferrou deSalvador a corveta Maria da G16ria, em seu comando Teodoro de Beurepaire, atacando, no dia 25, os navios inimigosno Porto das Pedras. O imperador criou o Exército Cooperador da Boa Ordem, formado por três batalhões de caçadorese um esquadrão de cavalaria do Rio de janeiro, quatro batalhões de caçadores, um corpo de cavalaria e outro deartilharia de Pernambuco, e entregou o seu comando ao Brigadeiro Francisco de Lima e Silva (pai de Caxias).Movimentaram-se os navios da Marinha Imperial (nau Pedro I, corveta Carioca, brigue Maranhão e transportesHarmonia e Caridade) com o Primeiro -Almirante Lorde Cochrane em comando, cabendo transportar a tropa atéAlagoas, em Jaraguá, onde houve desembarque e junção com forças de Pais Barreto. Cochrane cercou o porto do Recifee procurou uma solução pacífica, tendo dela sido intermediária a inglesa Maria Grahan, recém-chegada da Inglaterra,com a finalidade de ser preceptora das filhas de D. Pedro I. As tentativas de suborno de Pais de Andrade foramaltivamente recusadas por Cochrane. A 5 de setembro, retirou -se para Salvador, ocupando o seu lugar o Chefe -de-Divisão David Jewett.Envolvidos no Recife, os confederados esperaram as forças legais certos de poder vencê -las. A 12 de setembrode 1824, o Brigadeiro Lima e Silva marcha do engenho Suaçuna, flanqueia os revoltosos que o esperavam na Ponte dosCarvalhos, vence a ala direita no engenho de Santana, avança sobre Recife e apodera -se da Ponte Motocolombó, doForte das Cinco Pontas, do bairro de Santo Antonio e da Ponte da Boa Vista. Por volta das cinco da tarde, osconfederados perdiam as esperanças no bairro de A fogados. Pais de Andrade fugiu em urna jangada e asilou -se nafragata inglesa Tweed, conseguindo alcançar a Europa, de onde retornou em 1831.Continuou o combate no dia seguinte, já que os confederados ainda resistiam nos fortes do Brum, do Buraco edo Picão e com o brigue Constituição ou Morte e mais uma galera e uma canhoneira armados em guerra. Destaqueespecial para o Capitão-de-Fragata Antônio Pedro de Carvalho que conseguiu calar o fogo do brigue por volta dasquatro da tarde. No final do dia, as for ças de Falcão de Lacerda retiraram-se para Olinda. Prosseguiu o combate nos doisdias seguintes. A 16, o Brigadeiro Lima e Silva intimou os rebeldes à rendição. Não obtendo resposta, iniciou grandeataque às 2 da madrugada do dia 17, auxiliado pelos trezen tos marujos do Capitão-de-Fragata James Norton, que, comdenodo e valentia, apoderou-se da artilharia inimiga e rendeu o Forte do Brum. Ao mesmo tempo, as tropas doBrigadeiro Lima e Silva ocupavam o Forte do Buraco e entravam em Olinda, às 8 da manhã. Os revoltosos se retirarampara o interior. Natividade Saldanha logrou chegar até Bogotá. Falcão de Lacerda fugiu para os Estados Unidos.A resistência no Ceará demorou até a chegada, a 17 de outubro, da nau Pedro I e da fragata Ypiranga. LordeCochrane investiu sobre Fortaleza, dela se apossando. Os que foram repelidos de Recife e Olinda reagruparam -se no

interior da Paraíba e travaram com os legais os combates de Couro d'Anta e do Agreste. Cercados no Engenho do Juiz(Ceará) pelas forças do Major Lamenha Li ns, renderam-se.Lima e Silva instalou um tribunal para apurar as responsabilidades que conduziram, em Pernambuco, sete àforca (Capitão Lázaro de Souza Fontes, Antônio Macário de Morais, Maior Agostinho Bezerra Cavalcanti e Souza,Capitão Antônio do Monte Oliveira, Tenente Nicolau Martins Pereira, Francisco Antônio Fragoso e o norte -americanoJames Heide Rodgers) e um fuzilamento, o de Frei Caneca, pois ninguém o quis enforcar, e cinco em Fortaleza (PadreGonçalo Inácio de Loiola Albuquerque e Melo, conhe cido como Padre Mororó, Francisco Miguel Ibiapina, FelicianoCarapinima, Coronel João de Andrade Pessoa e o Maior Luís Inácio de Azevedo). Para o Rio de janeiro foramremetidos Ratcliff, Metrovich e o pernambucano Joaquim da Silva Loureiro, enforcados no L argo da Prainha (hoje131Praça Mauá) a 17 de março de 1825. O mesmo destino aguardava o Padre José Antônio Caldas; preso na FortalezadeSanta Cruz, logrou evadir -se (1825) obtendo refúgio no Uruguai, servindo como secretário de Lavalleja. Planejou, comRivera, o Ouadrilátero, isto é, a reunião do Uruguai, Rio Grande do Sul e as províncias argentinas de Corrientes e EntreRios, as quais deveriam formar novo país; sua influência em Bento Gonçalves e na Revolta Farroupilha foi notória,financiando a revolução.Essa revolta sediciosa atrapalhou as negociações para o reconhecimento da independência do Brasil naInglaterra.A perda da Província Cisplatina:A Cisplatina não passava de uma área dominada militarmente pelo Império, onde tradições e culturaapresentavam-se diferentes das do Brasil. A República das Províncias Unidas (Argentina hoje) ansiava incorporá -la,chegando mesmo a tentar fazer tratos diplomáticos no Rio de janeiro, efetuadas por D. José Valentim Gomez. Apesar decompreender claramente estar a re gião anexada, o Império não desejava entregá -la à referida República, que delapossuidora fecharia o Rio da Prata aos navios brasileiros, única comunicação com Mato Grosso. Por esse aspecto,afigurava-se importante ao nosso governo a manutenção da Cisplati na.Apresentou-se aos patriotas da Banda Oriental do Uruguai uma oportunidade propícia para desfraldarem abandeira de sua independência. D. Juan Antonio Lavalleja e 32 companheiros (sendo 16 uruguaios, 11 argentinos, 2africanos, 1 francês, 1 paraguaio e 1 brasileiro - o Padre José Antônio Caldas), provenientes em dois grupos de BuenosAires, pelo Rio Uruguai, desceram na praia da Agraciada, a 19 de abril de 1825, conseguindo adesões, como a doprestigioso D. Frutuoso Rivera, que era brigadeiro no Imperia l Exército Brasileiro, e principiaram a luta. A 7 de maio,Lavalleja cercou Montevidéu. O Marechal -de-Campo José de Abreu, comandante de armas da Província de S. Pedro,atravessou o Rio Arapeí com mil milicianos em ajuda aos que se encontravam na capital d a província e estacionou pertode Mercedes.Ao mesmo tempo que lutava contra o Império, Lavalleja articulou um governo provisório que funcionou navila de Florida. Nesse mesmo local, instalou -se a Sala dos Representantes que, em 25 de agosto, declarou aindependência da Banda Oriental, anulando os atos de incorporação ao Império; no mesmo dia, reuniam -se àsProvíncias Unidas do Rio da Prata. Em Buenos Aires, a população exaltada apedrejou o consulado brasileiro.A reação de D. Pedro I não se fez esperar: designou o Chefe-de-Esquadra Rodrigo José Ferreira Lobocomandante de uma força que velejou para o Rio da Prata bloqueando -o, ao mesmo tempo em que ocupou a ilha deMartim Garcia. Nossa esquadra era formada, nesse momento, por 3 corvetas, 5 brigues, 11 esc unas e 9 barcascanhoneiras.Para Rivera impôs-se a necessidade de vencer Abreu em Mercedes antes que pudesse tomar a ofensiva. Atacousem muito êxito. Por ordem de Abreu, Bento Manuel Ribeiro tentou uma decisão em campo aberto. Encontraram -se osimperiais com os rebeldes em Arbolito, vencendo -os. Em Rincón de las Gallinas, pequena península entre os rios Negro

e Uruguai, Rivera emboscou o 25º de Cavalaria (Coronel Jerônimo Gomes Jardim), destroçando -o, e, logo depois, o 24º(Coronel José Luís Mena Barreto), cujo comandante morreu combatendo. Rivera apoderou -se de uma reserva de seismil cavalos. Tivemos 120 mortos e prisioneiros. A cidade de Mercedes teve de ser abandonada. Em Sarandi, BentoManuel, com 1.500 homens, enfrentou as forças uruguaias de Lavall eja e Rivera reunidas (2.600 homens). Foramvencidos Alencastro, Bento Gonçalves e Bento Manoel.A aceitação, por parte do governo das Províncias Unidas, da incorporação da Cisplatina e a sua comunicaçãoao governo imperial, provocaram a declaração de gue rra em 10 de dezembro de 1825, por representar uma afronta ànossa soberania. A luta concentrou-se em Colônia e Montevidéu, ainda em poder do império, pois o centro da provínciaencontrava-se em mãos dos orientais.Em dezembro, partiam os primeiros reforç os da Corte, e em janeiro, o comando militar da Cisplatina foisubstituído pelo Tenente-General Francisco de Paula Magessi.Com o intuito de desmantelar o bloqueio naval, os argentinos contratavam o irlandês William George Brownpara comandar os seus navios. Às 6 da manhã de 9 de fevereiro de 1826, a esquadra argentina ofereceu combateconhecido pelo nome de Corales, conseguindo os nossos afugentar os inimigos. Estes atacam, a 24 de fevereiro, aColônia, que estava sitiada por terra. O comandante da praça, Brigadeiro Manoel Jorge Rodrigues, auxiliado pelosnavios do Capitão-Tenente Frederico Mariath, a defendeu com galhardia, perdendo Brown o brigue Belgrano. A 11 deabril, o Capitão-de-Fragata James Norton, comandando a Nictheroy, trocou tiros com Brown (f ragata 25 de Mayo ebrigue República) em frente a Montevidéu. Pensou então o chefe argentino empreender a abordagem da fragataImperatriz, de conseqüências morais importantes para nós; partiu de Buenos Aires a 27 de abril, com pessoal treinado,mas foi reconhecido quando se avizinhava de Montevidéu, o que permitiu que a guarnição da fragata, em comando oCapitão-de-Fragata Luis Barroso Pereira, manobrasse para receber os inimigos; o combate durou uma hora e quinzeminutos, batendo em retirada os argentinos, deixando entre os mortos Barroso Pereira. Abandonávamosinexplicavelmente a Ilha de Martim Garcia, onde Brown estabeleceu sua base de operações. Em 3 de maio, a fragataNictheroy combateu a corveta 25 de Mayo no Banco de Ortiz.Nesta oportunidade, o governo imperial substituiu Rodrigo Lobo pelo Chefe -de-Esquadra Rodrigo PintoGuedes. Em 11 de junho (1826), travou -se o combate de Los Pozos, sem resultados práticos em razão dos naviosoponentes não terem se aproximado suficientemente para o aproveitamento d e suas artilharias. A inatividadeincomodava aos nossos combatentes; por isso, o recém promovido a Capitão -de-Mar-e-Guerra, James Norton, resolveuprovocar os argentinos; a 30 de julho encontraram-se as duas esquadras na Ponta de Lara, conseguindo Norton i nfringir132séria derrota a Brown (nesse combate uma bala feriu gravemente Grenfell, obrigando -o a amputar o braço). No final doano, a 16 de dezembro, Cesar Fournier, corsário francês a serviço argentino, com um lanchão e oito baleeiras, e maisduzentos homens, tentaram apoderar-se do brigue Rio da Prata, inutilmente, tal a reação despendida pelo seucomandante, o Segundo-Tenente José Lamego Costa, oficiais e praças. Dias depois, a 29, Brown atacou alguns denossos navios (comando de Jacinto Senna Pereira) na foz do Rio Jaguary (entrada do Rio Negro, afluente do RioUruguai), estando os mesmos fundeados. Senna Pereira repeliu o ataque desse dia e a investida do dia seguinte.Enquanto se desenvolviam esses eventos navais, reuniam -se os argentinos do General Ma rtin Rodriguez comos patriotas uruguaios em Durazno, totalizando uns 12 mil homens. Mantivemo -nos em defensiva estratégica, incidindoo Brigadeiro Rosado no erro de concentrar suas forças em Santana, em local insalubre e sem bons pastos para acavalhada.Impacientava-se a opinião pública brasileira. Por isso, decidiu o imperador colocar -se à frente das operaçõesmilitares, iniciando, a 24 de novembro, a viagem para o sul, tendo desembarcado em Santa Catarina e atingido PortoAlegre. Chamado de volta às pr essas por causa do falecimento da imperatriz (11 de dezembro), deixou no comando denossas forças o Marechal Felisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena, que, assumindo o posto a 12 de janeiro,

teve de disciplinar e organizar nossos soldados mal pagos, doentes e desanimados, auxiliado pelo seu chefe de Estado -Maior, o Marechal-de-Campo (alemão) Gustavo Henrique Brown, que recebeu a missão de reunir os homens dispersosna fronteira.Adotando a alternativa de deslocar -se ao encontro do inimigo, interpond o-se entre ele e a capital da provínciainvadida, o Marquês de Barbacena iniciou pesada marcha em 13 de janeiro (1827), com 4.500 homens e 12 peças deartilharia, em direção a Bagé. No dia seguinte, reuniu -se com a lª Brigada de Cavalaria Ligeira, comandad a peloCoronel Bento Manuel Ribeiro. Em 5 de fevereiro, juntaram -se as forças do Marechal Brown. A manobra só pode seradjetivada como perfeita. Barbacena designou a brigada de Bento Manuel para observar os argentinos e obterinformações.Enquanto isso, os argentinos e orientais, conduzidos pelo General Alvear, deixaram Durazno e dirigiram -separa Bagé. Entraram nesta localidade, desocupada pelos seus habitantes, entre 24 e 26 de janeiro. A cidade foisaqueada. Somente a 3 de fevereiro, prosseguiu a marcha em direção ao Rio Santa Maria. Alvear objetivava bater porpartes as tropas brasileiras. Mas, como a junção destas se concretizou, Alvear resolveu atravessar o Passo de Rosárioantes de Barbacena, o que, afinal, não ocorreu, por estar o rio invadeável.Sabedor Barbacena que os inimigos tentavam atravessar o Rio Santa Maria no Passo de Rosário, dirigiu -serápido para o local. E nele travou -se uma importante batalha campal, talvez a maior de toda a América Latina.O Exército imperial dispunha de 6.338 home ns, incluindo-se os 560 paisanos patriotas que formavam a colunade vanguarda ao comando do Marechal -de-Campo José de Abreu, Barão do Serro Largo. O exército comandado porAlvear contava com um total de 9.803 homens, incluindo -se os orientais sob as ordens do General Lavalleja. Vantagemnumérica argentina a que se somava o terem acomodado suas forças em cotas mais elevadas do terreno.Os primeiros movimentos ocorreram às oito da manhã de 20 de fevereiro. Os combates foram duros e, a umada tarde, acabava a munição na linha de frente, estampava -se o cansaço e a fome no rosto dos homens.Diante da impossibilidade de prosseguir a luta, Barbacena ordenou a retirada, após oito horas consecutivas, aqual se fez em ordem. Na opinião de oficiais e soldados a batal ha já estava virtualmente ganha, bastando um poucomais de empenho. Alvear também determinou a retirada de suas forças, que tiveram 542 baixas. O Exército Brasileirocontou 1.300 baixas, com os extraviados.Paixões à parte, a batalha de Passo do Rosário ( ou ltuzaingó, corno preferem os argentinos) pode serapresentada como exemplo de batalha indecisa. Não houve vencedor nem vencido. O Marquês de Barbacena foisubstituído pelo General Lecór, Visconde de Laguna. Alvear reocupou Bagé.Nesse mesmo ano de 1827, ao amanhecer do dia 18 de janeiro, a corveta Maceió, fundeada perto do banco dePlaya Honda, foi abordada pelos argentinos; o Capitão -de-Fragata Frederico Mariath, que a comandava, logrou rechaçaros atacantes com cargas de artilharia. Nos dias 8 e 9 de fevereiro, a Divisão Naval de Jacinto Roque de Sena Pereira eraderrotada no combate de juncal (ilha do Rio Uruguai, na confluência com o Prata).Com o intuito de prejudicar o comércio marítimo nas costas brasileiras, a Argentina autorizou a atividade decorsários; quinhentas embarcações chegaram a ser apresadas. Tinham o seu ponto de reunião na localidade de Carmende Patagones. Tornou-se imperioso desalojá-los. Aprestou-se uma expedição naval à Patagônia (duas escunas e umacorveta), comandada por Shepe rd, desbaratada pelo Coronel Bysson, após o desembarque, nos combates que setravaram (09/03/1827), completando os insucessos brasileiros a morte do comandante e o aprisionamento de várioshomens (entre eles os tenentes Joaquim Marques Lisboa, futuro Marqu ês de Tamandaré, e Joaquim José Ignácio, depoisVisconde de Inhaúma, que se safaram revoltando o transporte Ana, onde estavam confinados, libertando os demaisprisioneiros que retornaram ao Brasil). Assinale -se, contudo, a vitória naval de Monte Santiago ( 07 e 08/04/1827)obtida graças à astúcia de James Norton e de nossos bravos marujos que conseguiram destruir dois bons navios deBrown, gravemente ferido numa perna nesse combate. Tão profundo foi o abalo causado pela perda desse combate queo Presidente Rivadávia enviou ao Rio de janeiro um plenipotenciário, Manoel José Garcia, acordando -se em terminar a

guerra e se devolver a Cisplatina ao Império. Mas o povo de Buenos Aires não se conformou, e o clamor popularimpediu o cumprimento do Tratado e provocou a queda de Rivadávia, substituído por Manoel Dorrego, que prosseguiua luta. Ao contrário do que acontecia na República vizinha, a guerra entre nós alcançava notário índice deimpopularidade, mais ainda na província ameaçada, o Rio Grande, contribuindo par a o desprestígio do imperador, quenão se preocupou em esclarecer a opinião pública.133A guerra se mostrava bem evidente no mar, onde os corsários, fundamentados com a autorização que recebiamda vizinha república, agiam prejudicando a navegação mercante. P or isso, o Almirante Pinto Guedes concebeu umasegunda expedição à Patagônia, visando à Baía de San Brás. Em comando do Capitão -de-Fragata William Eyre,partiram os nossos no dia 26 de setembro (1827) atingindo o objetivo em 21 de outubro. A falta de conhe cimentos daregião provocou o fracasso da missão, perdendo -se dois navios e vários homens que caíram prisioneiros.A guerra de corso e a paralisação do comércio na região provocaram a interferência da Inglaterra e França.Chegou, mesmo, o Almirante francê s Barão de Roussin exigir, de forma vexatória para o Brasil, no Rio de janeiro, adevolução dos navios de sua pátria por nós apresados no Prata (05/07/1828). Lorde Possomby e Robert Gordon,representantes da Inglaterra na República das Províncias Unidas e no Império, respectivamente, atuaram com decisão.Verificada a desnecessária continuidade da guerra pelo governo imperial, este concordou na criação de um novo país.Assim, os generais argentinos Juan Ramón Balcarce e Tomás Guido chegaram ao Rio de janeiro , entrando emnegociações com o Marquês de Aracati, o conselheiro José Clemente Pereira e o General Joaquim de Oliveira Álvares.Dessas conversações resultou a Convenção Preliminar de Paz, assinada a 27 de agosto de 1828, aceitando os dois paísesbeligerantes a independência da Cisplatina com o nome de República da Banda Oriental do Uruguai, não existindo,portanto, um plano preconcebido pela política inglesa. Abria -se uma nova era na diplomacia brasileira no Prata: adefesa do Uruguai.A guerra nos custara 80 mil contos de réis e 8 mil baixas.A Abdicação de D. Pedro I:A balança comercial deficitária e o aumento da dívida externa, em virtude de freqüentes empréstimossolicitados à Inglaterra, fragilizaram a economia do Primeiro Reinado. A diminuição da s receitas obtidas com ocomércio exterior deveu-se a duas principais razões: a queda das importações por parte dos países europeus, resultantedas dificuldades causadas pelas guerras napoleônicas, e a crescente oferta de produtos primários, como açúcar ealgodão, graças ao aumento de produtividade de outros países.A partir de 1820, o café produzido na Baixada Fluminense começou a despontar na pauta de exportaçõesbrasileiras, das quais representava cerca de 20%. Contudo, sua importância econômica só ultr apassaria a do açúcar e doalgodão na década seguinte, não servindo ainda para aliviar as dificuldades financeiras do império.Os elevados gastos com a organização do Estado e a inexistência de uma significativa fonte nacional derecursos levaram D. Pedro I a autorizar sucessivas emissões de dinheiro, desvalorizando a moeda circulante eproduzindo crescente inflação, o que levou à decretação da falência do Banco do Brasil, em outubro de 1829.A alta inflacionária barateava os produtos de exportação, ao me smo tempo que encarecia as importaçõesnecessárias ao abastecimento do mercado interno. Essa situação aumentou a hostilidade contra os comerciantesportugueses, que controlavam boa parte do varejo e usufruíam de importantes privilégios com o imperador.O autoritarismo de D. Pedro I, que governou o Brasil sem o poder legislativo até 1826, descontentava a eliteagrária e os grupos urbanos e desgastou as relações políticas entre eles. Muitos jornalistas, como Líbero Badaró eEvaristo da Veiga, passaram a crit icar a atuação do imperador.Em artigos publicados em periódicos, centravam suas críticas no autoritarismo imperial e, especialmentedepois do episódio da Confederação do Equador, acusavam o imperador de antibrasileiro. Também alertavam osleitores em relação às intenções recolonizadoras de D. Pedro I, ao evidenciarem a sua proximidade dos gruposportugueses.A Guerra da Cisplatina e a Guerra de sucessão portuguesa impediram D. Pedro I de permanecer à frente dogoverno brasileiro. Os enormes gastos gerado s pelos dois conflitos, que não resultaram em êxito para o Brasil,aumentaram as dificuldades financeiras do Estado. Ao mesmo tempo, o recrutamento forçado de soldados paraparticipar dos combates provocou insatisfação e revolta entre essas pessoas simples e pobres, que ansiavam por

melhores condições de vida após a independência.O conflito que gerou a independência do Uruguai, de vantagens duvidosas para o Brasil e marcado porsucessivas derrotas das forças militares brasileiras, onerou os cofres do gove rno imperial, obrigando-o a pedir novosempréstimos aos bancos ingleses, o que aumentou a dívida externa e a fragilidade econômica nacional.As críticas à obstinação do imperador em manter anexada a Cisplatina ao território brasileiro aumentaram coma sua participação na questão sucessória de Portugal, por ocasião da morte de seu pai, D. João VI, em 1826. Apossibilidade de ascensão de D. Pedro I ao trono lusitano reacendeu nos brasileiros o temor da recolonização. Oimperador passou a ser pressionado para abdicar da Coroa portuguesa em favor de sua filha Maria da Glória, de seteanos de idade. Até a sua maioridade, ela seria substituída por um regente, seu tio, D. Miguel.Entretanto, D. Miguel proclamou-se o novo rei de Portugal, assumindo sozinho o poder . D. Pedro I iniciouuma guerra contra o irmão para garantir a Coroa à filha, o que trouxe enorme prejuízo ao Brasil, na organização efinanciamento de tropas.Para refutar as violentas críticas feitas ao imperador, vindas principalmente da imprensa, seus aliados políticosassassinaram em 1830, em São Paulo, seu ferrenho opositor, o jornalista liberal Libero Badaró. Após esse episódio,manifestações contrárias ao governo agitaram as províncias, condenando o despotismo imperial. Em Ouro Preto, MinasGerais, o imperador foi recebido com faixas negras em sinal de luto pelo jornalista assassinado.No Rio de Janeiro, os partidários de D. Pedro I, portugueses em sua maioria, decidiram organizar umarecepção para compensar as hostis manifestações mineiras. A opos ição dos brasileiros, porém, deu origem a numerososconflitos de rua, cujos contendores carregavam paus e garrafas - foi a chamada “Noite das Garrafadas” (13 de março de1341831). Essa manifestação assemelhava -se às lutas liberais ocorridas na Europa contra a restauração aristocrática impostapelo Congresso de Viena.Para reconciliar-se com os brasileiros, o imperador nomeou, em 19 de março, um ministério liberal compostoapenas por brasileiros. Diante das agitações crescentes, no entanto, o imperador demitiu esse ministério, nomeandooutro composto por colaboradores de tendência absolutista, o chamado "Ministério dos Marqueses".Apoiadas pelas tropas do exército e pela crescente movimentação popular, as elites nacionais contrárias aoimperador exigiram a demissão desse ministério. Na madrugada de 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou do tronobrasileiro em favor de seu filho de cinco anos, D. Pedro de Alcântara. Embarcou para Portugal, onde enfrentou e venceuseu irmão D. Miguel, tornando-se o novo monarca português com o título de D. Pedro IV Em 1834, abdicou novamentedo trono português em favor de sua filha, Dona Maria da Glória.Aqui no Brasil, como D. Pedro de Alcântara era menor de idade, obedecendo à constituição de 1824, decidiu -se, com a abdicação, que o governo seria exercido por uma regência e o futuro imperador ficaria sob os cuidados deJosé Bonifácio.A volta de D. Pedro I a Portugal afastava definitivamente a ameaça recolonizadora que assombrava o país,consolidando a nossa independência. Ao mesmo tempo, tinha início um período de transição política no qual seconcretizou a hegemonia da elite agrária, comercial e burocrática, apesar de inúmeras manifestações contrárias. Aorganização do Estado brasileiro, ao fim do conturbado período regencial, estava, portanto, calcada na monarquia,unidade, centralização, elitismo e escravismo.135CAPITULO IIIO CENÁRIO INTERNACIONAL:Apesar de não estar direto no contexto de nossa matéria, faz -se necessário esclarecer os movimentos ocorridosna formação de nossos países vizinhos.A direta relação entre as nações Inglaterra e Estados Unidos com os países que se formaram nas Américas éevidente. Apesar de terem um destino diferente do brasileiro, os movimentos de independência da América Espanholareceberam as mesmas influências e apoios que o Brasil das principais nações capitalistas daquele momento:1) A América Espanhola:O desenvolvimento econômico capitalista, o triunfo do liberalismo, o imperialismo e a efervescêncianacionalista e socialista européias também envolveram as Américas no século XIX, seguindo, porém, as peculiaridades

históricas regionais. Conquistadas e colonizadas por europeus, as Américas (do Sul, Central e do Norte) exerceram econtinuaram exercendo um decisivo papel no desenvolvimento capitalista ocidental, especialmente com o crescente evolumoso comércio transatlântico e, mais tarde, entre o Norte e o Sul do próprio continente americano.As independências políticas latino-americanas não resultaram em desenvolvimento socioeconômico autônomo,e sim em dependência em relação aos centros dinâmicos do capitalismo, especialmente Inglaterra, no início, e EstadosUnidos, a seguir. No final do século XIX, este país, já então poderoso economic amente e acompanhando oexpansionismo imperialista europeu, impôs seu controle geopolítico sobre boa parte dos assuntos americanos, processoque se completaria no início do século seguinte.Na passagem do século XVIII para o XIX, com o declínio do Antigo Regime (o Absolutismo), o liberalismopolítico e econômico forneceu a base ideológica para a superação definitiva dos entraves que barravam o progressocapitalista. Enquanto os Estados Unidos lutavam por sua independência, as metrópoles ibéricas continuava m envolvidascom as práticas mercantilistas e colonialistas, que dificultavam o livre comércio e o desenvolvimento manufatureiro,requisitos fundamentais para a autonomia e sucesso econômico no mundo da época. Foi nesse período que, emrepresália à não-obediência ao bloqueio continental, as tropas napoleônicas invadiram Portugal e ocuparam a Espanha,desencadeando o processo de independência da América Latina.Os criollos (filhos de espanhóis nascidos nas colônias), membros das elites hispano -americanas, desejavamromper com a metrópole monopolista, que lhes dificultava as transações mercantis, sobretudo com a Inglaterra,principal pólo econômico do mundo. Para os colonos, a Coroa espanhola restringia os setores produtivos, além delimitar o acesso aos cargos administrativos e políticos. Para a Inglaterra, por outro lado, interessava a independência dascolônias, uma vez que eliminaria as barreiras monopolistas comerciais e ativaria novos mercados, indispensáveis ao seuprogresso industrial. Criollos e ingle ses tinham, portanto, interesses comuns, que convergiam para o mesmo objetivo: aindependência das colônias espanholas na América.Com a derrota napoleônica na Europa, em 1815, as metrópoles ibéricas, apesar de tentarem retomar ocolonialismo, não tiveram sucesso, já que os ingleses respaldaram a vitória das elites coloniais contra os espanhóis nasguerras de independência de 1817 a 1825. Também a Doutrina Monroe, instituída pelos Estados Unidos, ajudou aconsolidar a independência latino-americana, ao apoiar a guerra de libertação dos criollos.As Guerras de Independência da América Espanhola:O enfraquecimento da metrópole espanhola, com a intervenção napoleônica e as renúncias sucessivas dos reisda família Bourbon, Carlos IV e Fernando VII, e a cor oação do tio do imperador francês, José Bonaparte, estimularam omovimento autonomista liderado pelos criollos. Organizados em cabildos (câmaras municipais), os colonos formaramjuntas governativas, depondo as autoridades metropolitanas e assumindo a admin istração das colônias. Entre 1810 e1814, os centros urbanos coloniais hispano -americanos transformaram-se nos grandes irradiadores dos ideaisseparatistas, contando com o apoio inglês e a adesão de parte da população.A restauração da dinastia Bourbon na Espanha (1814) e a aliança entre Espanha e Inglaterra nas lutas contraNapoleão permitiram que os espanhóis reorganizassem a repressão aos movimentos separatistas, que, sem ajuda inglesa,acabaram derrotados. Embora frustrados os ideais de independência, o espírito libertador se fortalecia entre os colonos.A revolução que libertaria a maioria dos países latino -americanos aconteceu entre 1817 e 1825, tendo comolíderes Simón Bolívar e José de San Martín, que percorreram quase toda a América Latina, com o apoio efetivo daInglaterra e dos Estados Unidos. Os rebeldes foram favorecidos ainda pela distância da metrópole e pela situaçãointerna da Espanha, envolvida numa revolução liberal entre 1820 e 1823, o que dificultou a remessa de tropas contra -revolucionárias à América.136

Em 1822, Itúrbide proclamou -se imperador, com o título de Agustín I, sendo deposto e fuzilado logo a seguirnum levante republicano. Em 1824, o México tornava -se efetivamente independente e elegia seu primeiro presidente, ogeneral Guadalupe Vitória, sem que fosse minimamente arranhada a estrutura agrária e social que mantinha a maioriada população submetida ao controle das elites mexicanas.Na América do Sul, o Paraguai constituiu uma república em 1813, chefiada pelo criollo Gaspar Fran cia. Aatual Argentina proclamou sua independência em 1816, que, entretanto, só seria consolidada pelos êxitos militares deManuel Belgrano e San Martín. O Uruguai, que desde 1821 estava incorporado ao Brasil com o nome de ProvínciaCisplatina, transformou-se em Estado independente, em 1828, com o nome de República Oriental do Uruguai.O Chile foi libertado por San Martín, à frente de cerca de 5 mil homens no chamado Exército dos Andes, em1818, após as batalhas de Chacabuco e Maipú. Bernardo O'Higgins, lí der do movimento de libertação na região, foinomeado dirigente do Estado chileno.Dirigindo-se para o Peru, acompanhado pelo mercenário inglês lorde Cochrane, San Martín alcançou e libertouLima, principal centro de resistência espanhola, em 1821. Simón Bolívar, por sua vez, apoiado pela Inglaterra e pelosEstados Unidos, organizou um exército regular e libertou a Venezuela em 1817, a Colômbia em, 1819 e o Equador em1821, dirigindo-se ele também ao Peru.As forças de ambos se encontraram em Guayaquil, n o Equador, no ano seguinte, quando San Martín desistiude seu projeto monárquico, aderindo à proposta republicana de Bolívar, a quem coube consumar a independência doPeru, só conseguida definitivamente com a batalha de Ayacuche, em 1824.No Congresso do Panamá (1826), quando quase toda a América Latina já estava independente, Bolívar tentouconcretizar seu ideal de unidade política, defendendo alianças entre os Estados hispano -americanos, a criação de umaforça militar comum e a abolição da escravidão, en tre outras medidas. Seus esforços de solidariedade continental, noentanto, encontraram a oposição dos ingleses e norte -americanos, contrários a países unidos e fortes, e dos interessesdas próprias oligarquias locais e seus dirigentes, como a brasileira, recém-instalada, comprometida com a monarquiaescravista de D. Pedro I.Inicialmente unida ao México, a América Central proclamou em 1824 a sua independência, formando asProvíncias Unidas da América Central, unidade que pouco durou, pois as pressões ingl esas e norte-americanasfragmentaram a região, levando à divisão em repúblicas autônomas a partir de 1838: Guatemala, Honduras, ElSalvador, Nicarágua e Costa Rica.Embora tivessem acabado com o pacto colonial e obtido liberdade política, os novos Estados latinos assumiamoutra forma de dependência, agora econômica. Atendendo aos interesses do desenvolvimento capitalista, a AméricaLatina, dividida em vários Estados governados pela aristocracia criolla, assumiu a função de fornecer matérias -primas econsumir manufaturados ingleses. Mantinham-se, dessa forma, as antigas estruturas, apenas adaptando -as aos novostempos.No aspecto político, chefes locais, em geral líderes oriundos das forças militares mobilizadas pelos criollos nasguerras de independência, passaram a disputar o poder de suas respectivas regiões. Tais chefes - comandantescarismáticos, autoritários, personalistas, que irradiavam magnetismo pessoal na condução de seus comandados -foramdenominados caudilhos.Essa divisão de poderes criou um quadro de anarquia e de dificuldades para a consolidação dos novos Estadosnacionais. Desunião e instabilidade deram forma ao caos que devorou o ideal de Simon Bolívar de plena soberania eliberdade popular nas novas nações.2) A Inglaterra:As primeiras décadas do século XIX foram marcadas pela confirmação da Inglaterra como principal potênciamundial, favorecida principalmente pela modernidade da revolução industrial, situação que durou até o início do séculoXX (1ª GM), não sem contestações e disputas .

A rainha Vitória ocupou o trono inglês durante a maior parte desse século XIX, pois nasceu em 1819 e faleceuno início de 1901, governando o reino por mais de 60 anos (1837 -1901). Com os seus gabinetes do Partido Conservador(tories) e Partido Liberal (whigs), adotou uma política marcadamente burguesa e impulsionadora do liberalismo,emprestando o nome de Era Vitoriana a esta fase de apogeu britânico.O rápido crescimento industrial, a poderosa marinha mercante e o Estado solidamente estruturado garanti am opoderio britânico, que desde a derrota de Napoleão Bonaparte, em 1815, não encontrava nenhum rival suficientementeforte que fosse capaz de ameaçar de forma decisiva sua estabilidade, liderança e hegemonia internacional. Vigorava,enfim, o que se denominou “Pax Britannica” (uma alusão a Pax Romana dos primeiros séculos) a era da libra esterlina.3) Os Estados Unidos:A organização política do novo Estado norte -americano, após a declaração de sua independência (1776),realizou-se em meio a duas tendências partidárias: a republicana, defendida por Thomas Jefferson, que desejava maiorautonomia para os Estados e que deu origem ao atual Partido Democrata, e a federalista, sustentada por AlexanderHamilton, que defendia um forte governo central e que foi o embrião do atual Partido Republicano.As duas tendências foram combinadas na constituição de 1787, elaborada por deputados dos 13 Estadosiniciais, com a organização de uma república federativa presidencialista e assegurando a cada estado da federação odireito de ter sua própria constituição. O poder executivo ficaria com o presidente eleito por seis anos e o legislativo,137com a Câmara de Deputados e o Senado. A Suprema Corte de Justiça caberia o poder judiciário e a função de zelar pelaconstituição. Em 1789, o Congresso elegeu George Washington o primeiro presidente dos Estados Unidos.O avanço territorial norte-americano, justificado pelo papel que os Estados Unidos se impunham de dominar asáreas entre o Atlântico e o Pacífico - doutrina do Destino Manifesto -, processou-se em função da expansão capitalistainternacional. A conquista da Costa Oeste até o oceano Pacífico deu aos Estados Unidos acesso direto ao Oriente e lhespropiciou os cobiçados mercados da China e do Japão. A anexação da Flórida, po r sua vez, abriu caminho para o golfodo México e o mar das Antilhas, pontos importantes para alcançar toda a América Latina.A Guerra de Secessão (1861-1865):Ao mesmo tempo em que se dava a expansão territorial e econômica e o desenvolvimento capital ista dosEstados Unidos, crescia a rivalidade econômica, social e política entre os Estados do Norte e os do Sul. Suas diferençasremontavam à época colonial.Por volta de 1860, o Norte dos Estados Unidos, industrializado e progressista, encontrava no Sul poderososentraves ao seu desenvolvimento, interessando -lhe eliminar a escravidão, base do trabalho latifundiário. Issorepresentaria um aumento expressivo de mão -de-obra assalariada para suas indústrias, barateando a produção, além deampliar o mercado consumidor.Os nortistas defendiam também a elevação das tarifas alfandegárias, medida que visava proteger sua produçãoindustrial da concorrência externa. Para o Sul, ao contrário, cuja produção estava voltada para o atendimento domercado externo, interessava o livre-cambismo com relação às tarifas alfandegárias, o que lhes garantiria asexportações.Os partidos que representavam as divergências políticas norte -americanas eram o Partido Republicano, maisrepresentativo das ambições burguesas e industriai s nortistas, e o Partido Democrata, controlado pela aristocraciasulista, firme defensora das autonomias dos Estados.Devido à auto-suficiência de sua economia, que garantia o uso de armas e navios construídos por eles mesmos,os Estados do Norte (federal istas) conseguiram derrotar as forças sulistas (confederadas). Na guerra, que durou quatroanos e mobilizou mais de 2,5 milhões de homens, utilizaram -se recursos bélicos modernos, como o telégrafo, asferrovias para transporte de tropas e suprimentos, trin cheiras e embarcações que eram protótipos dos couraçados ecruzadores.138CAPÍTULO IV

SEGUNDO IMPÉRIOA) O Período Regencial:O período regencial é dividido em: Regência Trina Provisória (abril a junho de 1831), Reg ência TrinaPermanente (1831 a 1835), Regência Una de Feijó (1835 a 1837) e Regência Una de Araújo Lima (1837 a 1840).O período regencial ficou marcado pela instabilidade política, fruto da inconsistência da jovem nação e dopapel frágil de um imperador que não imperava. Estando a nação sob comando de grupos políticos que por vezes eramantagônicos, as forças que os compunham buscaram a todo tempo facilitar seus anseios. A conseqüência foram asrevoltas, por vezes sediciosas, que buscavam seus interesses nas regiões onde ocorreram.A pós o período regencial é formalizado o Segundo Império.1) Regências Trinas:Filho de D. Pedro I com D. Leopoldina, o segundo imperador nascera a 2 de dezembro de 1825 e, portanto, nãopodia governar, nem mesmo suas irmãs, todas menores, A Carta de 1824 previa, para esse caso, a formação de umaregência, composta de três personalidades, que administrasse em seu nome, exercendo apenas algumas atribuições doPoder Moderador.Quando D. Pedro I abdicou, a Assembléia Geral e stava em recesso. Somente 26 senadores e 36 deputadosencontravam-se na Corte; estes, reunidos no Paço do Senado, em caráter extraordinário, designaram uma regênciaprovisória, composta do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva (pai de Caxias) e dos senador es Nicolau de CamposVergueiro e José Joaquim Carneiro de Campos, Marquês de Caravelas. O governo assim constituído reintegrou oministério demitido (com exceção de Holanda Cavalcanti que não aceitou), procedeu a aclamação de Pedro II, dois diasdepois, e concedeu anistia para os criminosos políticos. Todo o país recebeu o impacto de uma onda de liberalismo,numa euforia de liberdade, misto de confusão entre democracia e anarquismo. Por isso, a regência provisóriarepresentou, naquele momento, a fórmula sal vadora diante da crise política.A Assembléia Geral se instalou no dia 3 de maio, apoiando Lima e Silva a causa do Imperador Pedro II,sinônimo de ordem. Na sessão de 17 de junho (1831), escolhia a regência, esta conhecida por permanente, compostapelo Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, com isso procurando -se com o apoio militar, e pelos deputados João BráulioMuniz e José da Costa Carvalho.Nunca estivemos tão próximos da secessão, da desagregação territorial, quanto nesse ano de 183l; o súbitodesaparecimento da figura centralizadora do imperador possibilitou o aparecimento de várias figuras secundárias,representantes de interesses particulares e regionais. É essa a razão dos vários movimentos sediciosos quase todoscontendo idéias separatistas.Percebeu Lima e Silva o quanto seria difícil governar o País convulsionado pelos extremistas. Como militar eraum homem da ordem, avesso a excessos prejudiciais. Bráulio Muniz afastou -se, alegando moléstia, e Costa Carvalhoretirou-se para São Paulo. Não esmoreceu. Chamou para ocupara pasta da justiça o Deputado Padre Diogo AntônioFeijó, liberal, maçom e hábil político. Podemos dizer que ele consolidou o Império pelas severas medidas que aplicounesse momento convulso. Tomou posse a 4 de julho de 1831. No di a 18, tiveram lugar os festejos de sagração ecoroação de D. Pedro II.Após o 7 de abril, formaram-se grupos que se hostilizavam: entre eles os liberais moderados, que seposicionaram contra a regência, presididos por Pierre Labatut. José Bonifácio, Tuto r imperial, liderou, por ironia daHistória, os restauradores, que apelavam para a volta de Pedro I, congregaram -se na Sociedade Conservadora daConstituição Brasileira (1832). Deixaram de existir por morte do ex -imperador.Desde os primeiros momentos, a regência se viu envolvida em diversas rebeliões que disseminaramindisciplina pela cidade. O regente reuniu a família imperial, o Parlamento e seus ministros no Paço da Cidade. Recebeuadesões esparsas de militares, com as quais formou o Batalhão Sagrado, composto apenas de oficiais, comandado peloBrigadeiro José Manoel de Moraes e tendo como sub -comandante o Major Luis Alves de Lima e Silva, o idealizadordessa tropa. Este Corpo e o Batalhão de Artilharia da Marinha debelaram os movimentos revoltosos no d ia 16. Nessemesmo dia, compôs-se novo ministério, conservando-se o Padre Feijó à frente da pasta da justiça.Os exaltados não encontraram satisfação nas medidas policiadoras e ordeiras da regência; os jornais ligados a

essa tendência insuflavam os ânimos . Foi isso que provocou o incidente ocorrido em 28 de setembro de 1831, com oassassinato do jornalista Clemente de Oliveira, diretor do jornal Brasil Aflito. Dois dias depois, revoltava-se o Corpode Artilharia da Marinha, com quartel na ilha das Cobras, por instigação de Cipriano Barata, ali preso; comandando aescuna Jacuipe, fundeada próximo à ilha, achava -se o Primeiro-Tenente Joaquim José Ignácio, que percebeu a manobrae avisou ao Arsenal. O movimento não produziu maiores conseqüências: bombardeada pelos navios da esquadra e139assaltada a ilha por tropas legais (2.500 homens), comando do Marechal -de-Campo José Maria Pinto Peixoto,secundado pelo Maior Luis Alves de Lima e Silva, conseguiu a regência a rendição dos rebeldes.Não descansava o turbulento Maior Frias. A 3 de abril (1832), sublevou a Fortaleza de Villegagnon, arrastandoa de Santa Cruz. E, por causa da data, o episódio ficou conhecido como Abrilada. Feijó, avisado de que um movimentorebelde estava prestes a ocorrer, recolheu -se ao Arsenal de Marinha com os demais membros do Ministério e nestaunidade permaneceu até o término dos eventos. Os revoltosos tentaram tomar o Rio de Janeiro. Vencidos e dispersadosos conjurados, Frias alcançou a residência do desembargador Nabuco onde se escondeu, conseguindo fugir para osEstados Unidos.Augusto Hugo Hoiser, que se dizia Barão von Büllow, mercenário alemão, encabeçou urna caricata intentonano mesmo mês, provavelmente arquitetada pelo Tutor Imperial. Com 250 homens e 2 morteiros, que serviam de pr áticaao imperador, desceu de São Cristóvão para o Campo da Honra, a 17 de abril. No Rossio Pequeno encontrou a GuardaNacional (comandante o Marechal -de-Campo José Maria Peixoto), o Corpo de Guardas Permanentes (comando do jácitado Tenente-Coronel Theobaldo) e Corpos da Marinha (comandante John Taylor), os quais, agindo em conjunto,desbarataram os amotinados. Büllow foi preso e, em seguida, deportado,A agitação restauradora atingiu o Maranhão e o Ceará. Nesta província, Joaquim Pinto Madeira estabelece u umgoverno separatista no Crato (1831). Atacado por tropas de Pierre Labatut, acabou preso e fuzilado (1834), fatoincomum, posto que em quase todas as rebeliões a anistia constituía a fórmula preferida.Novamente voltou o Recife a se agitar, no dia 14 de abril de 1832: tropas do Exército se rebelaram com aadesão do Forte do Brum. A reação legal manifestou -se imediatamente através do Coronel Joaquim José Coelho, quecontou com o Primeiro-Tenente Joaquim Marques Lisboa, em comando da escuna Rio da Prata. O tiroteio durou doisdias: a 16, o Forte do Brum içou bandeira branca.Os cabanos do interior de Pernambuco e Alagoas (significando nessas províncias partidários da restauração)começaram a agir com o aparecimento do bando de Antônio Timóteo, espalhando -se, ganhando forças, em 1832. Foramcombatidos pelo Exército e pacificados com as palavras do Bispo de Olinda, D. João.As agitações continuavam: começara outro movimento rebelde na capital Pernambucana. Francisco CarneiroMachado Rios tentou depor o Pr esidente Pais de Andrade. Forças legais atacaram os rebeldes entrincheirados em BoaVista e os derrotaram. Houve também rebeliões em diversos estados como Minas Gerais e Mato Grosso.No Pará, uma revolta chamada de Cabanagem (1835 -1840), conflagrou essa província, originando-se na suacapital e contaminando o interior. Ficaram conhecidos por cabanos os nacionalistas que se opunham aos portugueses;eram os revolucionários de condições humildes, que habitavam em cabanas ou similares.Tudo começou com as agitações provocadas pelo cônego João Batista de Campos que desejava se impor nogoverno da província, liderando os liberais exaltados. Envolveram -se as unidades militares sediadas na capital,causando intranqüilidade.Contra ele partiu um destacamento mili tar, enviado pelo Presidente Lobo de Sousa, que foi atacado edispersado pelos rebeldes (outubro de 1834). Uma expedição militar -naval, chefiada pelo Capitão-de-Fragata JamesInglis e pelo Coronel Sebastião Marinho Falcão, atingiu o Acará e ateou fogo na f azenda de Malcher (principalrevoltado). Pouco depois, Malcher foi preso e colocado na Fortaleza da Barra. Na ocasião, o cônego Batista de Campos

morreu enfermo na região sertaneja. Os cabanos deflagraram, então, uma revolta geral, assaltando Belém (07/01/ 1835)e assassinando o Presidente Lobo de Sousa, o comandante de armas, Coronel Joaquim Silva Santiago, e o comandanteda força naval, James Inglis. Malcher, solto, foi aclamado presidente da província.Desentenderam-se, porém, Malcher e Vinagre (seu prin cipal parceiro), ocasionando uma luta sangrenta entre asduas facções, nos dias 19 e 20 de fevereiro. Vitorioso, Vinagre recebeu o governo da província pela Câmara Municipale exigiu que lhe fosse entregue Malcher, refugiado em navio de guerra (brigue Caci que), sendo assassinado pelo cabanoQuintiliano Barbosa, quando era conduzido para a Fortaleza da Barra. Vinagre assumiu a liderança da revolta.Uma divisão naval, comandada pelo Capitão -Tenente Pedro da Cunha, chegou a Belém em 17 de abril (1835),com a missão de restabelecer a ordem. Suas propostas, repelidas por Vinagre, conduziram a sangrento combate nas ruasde Belém (12 de maio) sem resultados decisivos, O Marechal Manoel Jorge Rodrigues, designado presidente daProvíncia, obteve o auxílio naval de J ohn Taylor, entrando em Belém em 19 de junho; a legalidade voltavaaparentemente à capital da província.Mas, o ataque de Antônio Vinagre e seus seguidores ao município de Vigia desencadeou a reação do governoque prendeu inocentes e culpados. Francisco P edro Vinagre (irmão de Antonio) foi enviado preso para a Corte ecumpriu dez anos de degredo em Fernando de Noronha.Os cabanos revidaram e atacaram Belém a 14 de agosto; no dia 23, o governo e diversos civis abandonaram acidade embarcando nos navios da legalidade e se fixando na ilha de Tatuoca. Belém encontrava -se, mais uma vez, nasmãos dos rebeldes. Antônio Vinagre morrera nessa refrega mas Eduardo Francisco, o Angelim, se fez aclamarpresidente.Concluía a regência que a origem de muitos movimentos sediciosos encontrava-se no próprio Paço Imperial,na pessoa do Tutor José Bonifácio. O Padre Feijó propôs a sua demissão, aceita pela Câmara (45 votos contra 31), masrejeitada pelo Senado por um voto de diferença.Todos os ministros e a regência pediram demissão. Feijó tentou articular um golpe de estado, mas foi vencido eretirou-se para São Paulo. Outro gabinete se formou.Sem o seu maior opositor, sentiram-se fortes os restauradores: transformaram a Sociedade Conservadora emSociedade Militar que visava a atrair militares para a sua causa. O governo deliberou intervir: dissolveu a SociedadeMilitar e determinou a ocupação do Paço. Ocorreram grandes tumultos de rua provocados por liberais exaltados. No dia140seguinte, José Bonifácio perdia o cargo de tut or, condenado a viver no exílio em Paquetá. O imperador passava a ternovo Tutor..Havia uma geral concordância de que a Carta de 1824 devia ser modificada em alguns itens. A iniciativa partiuda Câmara dos Deputados, onde se confeccionou projeto liberal encaminhado ao Senado. Apesar da oposição inicialdessa Câmara Alta, evidentemente conservadora, o que foi útil, porque refreou os excessos liberais, o projeto recebeuaprovação e retornou à Câmara dos Deputados. Com extrema habilidade, conseguiu Evaristo da Veiga que se reunissemas duas Casas, decidindo-se a revisão da Constituição.Publicada a 12 de agosto, esta Lei, com 32 artigos, alterava e acrescentava a Carta de 1824. Por isso, recebeu obatismo de Ato Adicional. Passava a regência a ser exercitad a por um só homem, escolhido pelos eleitores e não pelaAssembléia Geral, suprimia o Conselho de Estado, criava Assembléias Legislativas Provinciais, com mandato bienal,dava certa autonomia financeira às províncias, que passavam a cuidar de seu ensino de primeiras letras, bem como deum Corpo de Polícia próprio, e, finalmente, criava o Município Neutro ou da Corte, abrangendo a área urbana eadjacências do Rio de janeiro.Para o cargo de regente único candidataram-se o Padre Feijó, apoiado por Lima e Silv a e pelos moderados, eHolanda Cavalcanti, que representava os exaltados e descontentes. Feijó venceu com uma diferença de 600 votos.2) A Regência (Una) de Feijó:

Animado em poder desenvolver um plano de grandes realizações, o Padre Feijó tomou posse a 12 de outubrode 1835. Não possuía maioria na Câmara dos Deputados, antes, uma forte oposição. Na verdade, Feijó não era umpolítico habilidoso; faltava-lhe a capacidade para enfrentar os adversários e absorver as críticas ao seu procedimentoarbitrário. Seu posicionamento inclinado para a eliminação do celibato clerical conduziu a Bernardo de Vasconcelos,auxiliado pelo Arcebispo da Bahia, D. Romualdo Antônio de Seixas, a concentrar seus ataques nessa direção. Assim,Vasconcelos conseguiu destruir a imagem do padre-regente com a classe política, esvaziando o seu governo,Poucos momentos antes de iniciar o seu mandato, a 20 de setembro, principiara, no Rio Grande do Sul, umaluta civil que tomaria grandes proporções. Os chefes farroupilhas, José Gomes de V asconcelos Jardim, Onofre Pires daSilveira Canto e Major João Manoel de Lima e Silva (irmão do ex -regente e tio de Caxias, foi o primeiro generalpromovido pela Revolução, sendo mais tarde assassinado em São Borja, em 1837. ) com vários gaúchos destemidos,entraram em Porto Alegre, no dia 21, quase sem resistência. O Presidente da província, Antônio Rodrigues FernandesBraga, refugiou-se na escuna Rio-Grandense e rumou para a cidade do Rio Grande, enquanto o Coronel (de milícias)Bento Gonçalves da Silva, l íder dos farrapos, recebia adesões. Conseguiu atrair o paulista Coronel Bento ManuelRibeiro, que na terra gaúcha se encontrava. Parte da província se conflagrava, em conseqüência de um movimentofederalista e republicano exposto no jornal Constitucional R io-Grandense, bem como no jornal O Republicano, de29/04/1835, e influenciado pelo italiano Conde Tito Livio Zambeccari que, desde 1831, freqüentava as terras gaúchas, aespalhar as idéias dos carbonários mazinistas, agradável aos desejos expansionistas do ditador argentino D. JuanManoel de Rosas. Este chegou a enviar Manuel Ruedas, Gregório Lamas, D. Antonio Lavalleja e sua mulher, AnaMonterroso, para obterem as simpatias farroupilhas. Expulso o presidente deposto, vencidas algumas reações legalistas,como a do Marechal Sebastião Barreto, a regência aceitou o convulsionamento da província como fato consumado.Feijó acreditou pacificar o Rio Grande nomeando presidente da província o gaúcho José de Araújo Ribeiro,que se empossou na vila do Rio Grande, gan hando a adesão de seu parente Coronel Bento Manuel Ribeiro, arrependidodas primeiras atitudes revolucionárias. Os legalistas obtinham outra vantagem: conseguiam retomar a cidade de PortoAlegre graças a conduta do Maior Manuel Marques de Sousa. Conduzidos por Bento Manuel, partiram ao encontro dosfarroupilhas, infligindo-lhes a derrota da Ilha do Fanfa (no Rio Jacuí), nos dias 3 e 4 de outubro de 1836; contaram como auxílio da flotilha comandada pelo Chefe -de-Esquadra John Grenfell, composta do vapor Lib eral, escuna Legalidade equatro canhoneiras. Bento Gonçalves, Onofre Canto, Zambeccari e 900 homens caíam prisioneiros,Preso no Forte de S. Marcelo (Salvador), Bento Gonçalves fugiu em 10 de setembro, com o auxílio damaçonaria, e chegava ao Rio Grande assumindo, de novo, a liderança do movimento. A oposição incriminava o regente,que não conseguia debelar a revolta; Feijó nomeava Presidente da província o Marechal Antonio Elisário de Miranda eBrito.Para a agitada província do Pará, ainda dominada pel os cabanos, Feijó designou o Brigadeiro Francisco José deSouza Soares de Andréa (depois Barão de Caçapava), auxiliado por uma força naval comandada pelo Capitão -de-Fragata Frederico Mariath. Atingiram a Ilha de Tatuoca no dia 9 de abril (1836). A ação bél ica principiou nos povoadospróximos a Belém, logo cercada e retomada a 13 de maio; os cabanos fugiram. Ganhara paz a província.A saúde já faltava a Feijó. Cindiam-se os moderados, e, em vão, Feijó tentou fundar um partido que sechamaria de Progressista. Por isso, no ano de 1836, Bernardo Pereira de Vasconcelos e outros políticos oposicionistascriavam o Partido do Regresso, que visava a congregar os políticos moderados para combater os excessos dofederalismo; no ano seguinte, transformou -se em Partido Conservador. Em sua oposição, nasceu o Partido Liberal, em

princípio de 1838. A morte de Evaristo da Veiga abalou o regente, conduzindo -o a renunciar o cargo, passando-o a seusopositores políticos. Nomeou Pedro de Araújo Lima, ministro do Império e, no di a seguinte, materializou a suademissão.1413) A Regência (Una) de Araújo Lima:Os Regressistas no Governo:Designado interinamente regente, apoiado pelo seu partido, o Conservador, logrou Araújo Lima facilmenteeleger-se, tendo corno opositor Holanda Cavalcanti. Assumiu efetivamente o cargo a 6 de outubro de 1838. Nãoacumulara grande cultura nem possuía inteligência apurada; conhecia, porém, o jogo político, a ponto de apelidarem -node "Maquiavel do Lavradio", pois nessa rua do Rio de Janeiro residia. Formou um Gabinete de homens de valor,chamado Ministério das Capacidades, contando com Bernardo Vasconcelos (justiça), Miguel Calmon (Fazenda),Joaquim Rodrigues Torres (Marinha), Maciel Monteiro (Estrangeiros) e Sebastião Rego Barros (Guerra).Araújo Lima e seu partido, que tanta oposição desenvolveu contra o Padre Feijó, provaram o amargo sabor dasrevoltas. Os farrapos ganhavam terreno, no Sul, derrotando as forças legais: o Marechal -de-Campo Sebastião Barretoperdia a batalha do Rio Pardo contra as t ropas de Bento Manuel e Antônio Neto (30/04/1838).Para examinar a região conflagrada, dirigiu -se ao Sul o Ministro da Guerra, levando em sua comitiva diversosmilitares, inclusive o Tenente-Coronel Luis Alves de Lima, que pôde, assim, estudar os problem as da luta que setravava, o que muito lhe serviria depois para pacificar a província.Era necessário aos farrapos, senhores no interior, ocupar algum porto, bem como organizar uma flotilha deguerra. Montaram um estaleiro na barra do Rio Camaquã e inicia ram a construção de lanchões sob a orientação donorte-americano John Griggs. Nessa ocasião, talvez em maio de 1838, Giuseppe Garibaldi ofereceu seus serviços aosfarroupilhas, juntamente com outros italianos que, do Rio de janeiro onde se encontravam asil ados, haviam atingido oRio Grande conduzindo a garoupeira Mazzini. Garibaldi recebeu o posto de Capitão -Tenente e a missão de efetuar ocorso na Lagoa dos Patos. Garibaldi atingiu o citado estaleiro e, com os lanchões Rio Pardo e Republicano, perturbou atranqüilidade das águas da lagoa. Diversos italianos colaboravam com os farroupilhas.Dispensado Grenfell do comando da força naval, a seu pedido (29/09/1838), substituiu -o o Capitão-de-Mar-e-Guerra Frederico Mariath, que assumiu no dia 25 de outubro. As forças imperiais sofreram revés no Rio Caí, em 1839.A conquista de Santa Catarina impunha -se aos rebeldes. Objetivo: a vila de Laguna. Uma tropa, conduzida porDavi Canabarro, iniciou marcha por terra. Garibaldi e sua gente deviam atingir Laguna por mar. Mas, para tanto, eramister passar pelo canal da lagoa (canal do Junco, em frente a saída do rio S. Lourenço e de Pelotas), controlado pelasforças imperiais. Concebeu, então, o destemido italiano, o plano de transportar dois lanchões, por terra, da marge m doRio Capivari em direção à Lagoa Tramandaí, em cima de carretas puxadas por 50 juntas de bois. Assim, os doislanchões atingiram o mar e se dirigiram para Laguna. No trajeto pelo litoral catarinense, um violento pampeiro (ventosul) fez naufragar o Rio Pardo. Não desistiram. O ataque à vila de Laguna ocorreu a 21 de julho (1839) em combinaçãocom a força de terra. Dois dias depois, os farrapos ocupavam Laguna após lutas com a guarnição da praça, comando doCoronel Vicente de Oliveira Vilas Boas, que a a bandonou, e dos combates havidos no Rio Tubarão. No dia 29,proclamavam a República Juliana, entregue a sua presidência ao Padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro. EmLaguna, Garibaldi conheceu Ana de Jesus Ribeiro, sua mulher, que o seguiria nas suas a venturas até o movimento deindependência e unificação da Itália.Voltou Grenfell ao comando da força naval no Sul (maio de 1839); encontrava -se com a missão de destruir aesquadrilha de Garibaldi. No começo de agosto, ordenou um ataque ao estaleiro rebel de de Camaquã. Após rápidocombate, apresaram-se os lanchões Independência, Setembrina e Republicano. A força legal retornou à sua base em SãoJosé do Norte.

O governo imperial, compelido a uma ação mais enérgica, designou presidente e comandante de armas deSanta Catarina o Marechal -de-Campo Francisco José Soares de Andréa, apoiado pela divisão naval de FredericoMariath, num total de 14 navios, 31 canhões e 379 homens. Atacaram os rebeldes em Massiambu a 28 de agosto,depois, a 28 de setembro e a 17 de o utubro. Em Imbituba, Garibaldi trocou tiros com a escuna Bela Americana e opatacho Patagônia (3 de novembro). Aproveitando -se da escuridão, Garibaldi esgueirou -se em direção à Lagunaatingindo-a no dia seguinte. Colocando-se na defensiva, aguardou o ataque inevitável das forças legais.Mariath forçou a barra de Laguna a 15 de novembro (1839), por volta das 16 horas; em uma hora estavavitorioso e a pequena força naval revolucionária desbaratada, mortos os seus chefes, exclusão de Garibaldi (e de suamulher Anita) que se incorporaram aos retirantes de Davi Canabarro.Os farroupilhas tentaram um ataque a São José do Norte (16/07/1840); malogrado, tomaram o caminho do sulno que se convencionou chamar a Retirada Desastrosa. E Bento Manuel, que percebeu o qua nto se afigurava perniciosaaquela guerra fratricida, passou-se para as forças imperiais.Parece que alguns farrapos nutriram pálidas idéias separatistas, insufladas pelo federalismo portenho e algunsagitadores extremados, como o Padre José Antonio Calda s, constituindo essa guerra um capítulo típico do caudilhismode origem espanhola. Mas a Argentina exultava com essa guerra civil, que poderia diminuir a grandeza do Brasil.Refletia-se no Norte a agitação do Sul: na capital da Província da Bahia, o médic o Francisco Sabino Álvares daRocha Vieira provocou uma sedição de caráter separatista, iniciada a 6 de novembro de 1837, denominada de Sabinada(1837-1938). O Corpo de Artilharia, a Guarda Nacional e a polícia aderiram. Fugindo o Presidente Francisco Para ísopara bordo do brigue Três de Maio, os sediciosos proclamaram o "Estado Livre Baiense", com forma republicana. Paracomandar os legais, chegou, em 21 de fevereiro, o Marechal -de-Campo João Crisóstomo Calado. O Chefe -de-DivisãoTeodoro de Beaurepaire dir igiu as operações do bloqueio naval com duas corvetas, três brigues, um patacho, sendocapitânia a fragata Príncipe Imperial. Vencidos os rebeldes após os combates de 13 a 15 de março (1838), lamentou -se o142incêndio de Salvador. Distinguiu-se o Capitão-Tenente Joaquim José Ignácio, comandando o brigue Constança, aoperseguir uma barca austríaca que furou o bloqueio.Mais ainda: no Maranhão, Raimundo Gomes Vieira Jutaí provocou um movimento sedicioso, começado a 13de dezembro (1838), na Vila da Manga, ao q ual se juntaram Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, conhecido comoBalaio, pois vivia de fabricar balaios na vila do Brejo, e negros fugidos, dirigidos por Cosme Bento das Chagas, que seintitulou "tutor e defensor das liberdades bentevis" (bentevi era si nônimo de liberal). Esse movimento, conhecido porBalaiada (1838-1841), fora instigado pelos liberais contra o governo da regência, representado pelo Presidente VicenteCamargo, transformando-se em onda de banditismo infrene em todo o sertão.Contra eles partiu uma força legal destroçada na localidade de Angicos (março de 1839); os prisioneirosmorreram em meio às maiores atrocidades. A cidade de Caxias foi sitiada por 46 dias e dominada pelos rebeldes (12 dejulho). O Maior Clementino de Souza Martins con duziu, do Piauí, poucos homens em defesa desta região; mas tomboumorto com seus soldados, Em Caxias, morria o Balaio, vítima de gangrena de um ferimento de bala. Em agosto de1839, seguia para o Maranhão o Capitão -de-Fragata Joaquim Marques Lisboa, comand ando a força naval,acompanhado de uma plêiade de jovens oficiais, os capitães -tenentes Joaquim José Ignácio, Barroso, Lamego Costa,Gomensoro. Diversos iates foram transformados em canhoneiras. A 2 de novembro, uma ação conjunta permite areconquista da vila de Icatu.Para pacificar a província, o Conde de Lages, Ministro da Guerra, escolheu o Tenente -Coronel Luis Alves deLima (promovido a coronel em 02/12/1839). Suas tropas receberam o nome de "Divisão Pacificadora do Norte". Ummês depois, iniciou o combate contra os revoltosos. Luis Alves conduziu, quase sempre, pessoalmente, a ação. A cidadede Caxias foi abandonada pelos rebeldes: estava em ruínas. Nos dias seguintes, Luis Alves atacou o Cosme em seu

quilombo das cabeceiras do Rio Preto. Subia e desc ia os rios a flotilha imperial em ação conjunta com as tropas de terra.A notícia da maioridade (o golpe da maioridade dado pelo “Clube da Maioridade” na Corte Brasileira) chegava àprovíncia, a 23 de agosto, quase toda pacificada; grandes festejos ocorrer am em São Luís.A Situação Militar do País Durante a Regência:Salvar a unidade territorial e política, permitindo, ao mesmo tempo, que a opinião se cristalizasse em partidospolíticos, eis a grande obra da regência. Por outro lado, as múltiplas agitaçõ es reprimidas com habilidade e presteza dosmilitares conduziram à formação do forte prestígio monárquico, tão nítido durante o governo pessoal de D. Pedro II.O período regencial foi marcado por uma clara política de desprestígio militar. Houve redução n o efetivo,congelamento dos soldos, etc. Grave era a situação das promoções. O interstício entre capitão e major podia durar de 10a 15 anos. No entanto, os estrangeiros desapareceram das Forças Armadas e o próprio elemento português já não eraencontrado na quantidade existente no Primeiro Reinado.A Marinha achava-se bem aparelhada, contando, o seu material flutuante, com 2 naus, 10 fragatas, 20 corvetas,18 brigues-escunas, 2 canhoeiras, 12 bombardeiras, 14 transportes e 3 barcas a vapor. Bastante ativa a construção navalem diversos arsenais, ressaltando-se a barca Liberal, a vapor, confeccionada em estaleiro particular do arroio S.Bárbara, no Rio Grande do Sul (08/09/1832), incorporada à Marinha, e primeiro vapor a ser empregado em operaçõesde guerra.O Regente Feijó instituiu as Companhias Fixas de Marinheiros, em 15 de outubro de 1836, com cem praçascada, germens do Corpo de Imperiais Marinheiros, criado por decreto do Regente Araújo Lima em 26 de março de1840.Assinalemos o nascimento do Hospit al da Marinha, em terrenos da ilha das Cobras. No campo da instrução,observamos a presença, a bordo, do cargo de mestre -escola, que se incumbia de alfabetizar as praças; na fragataPríncipe Imperial funcionava uma Escola de Marinhagem.Ainda como parte da política de erradicação, uniu, a regência em 1832 (9 de março), as duas escolas militares,da Marinha e do Exército, numa única, com o nome de Academia Militar e de Marinha da Corte. Verificada ainoperância da medida, a Lei de 22 de outubro de 1833 sepa rou-as, conservando a do Exército o nome de AcademiaMilitar, trocado, em 1839, para Escola Militar. Quanto ao preparo dos oficiais de Marinha, passou o curso a serministrado a bordo da nau Pedro II, com o nome de Academia de Marinha, com duração de três anos, instalando-se omesmo somente em março de 1839, o que equivale a dizer que durante cinco anos permaneceu fechada a carreira aosjovens.Uma Lei de 1837 permitia aos recrutados apresentar substitutos (às vezes escravos) ou pagar 400$000(quatrocentos contos de réis) para isenção do serviço, medida que apenas facilitava aos ricos e contribuiu paradespopularizar a instituição militar. Para a Marinha era comum pegar -se, a força, mestiços e índios que vinham incautosàs cidades. O tratamento pouco humano e a prática de castigos físicos, parte da cultura de uma sociedade escravocrata,produziam uma imagem do militar como grosseiro e violento.A Pacificação do Rio Grande do Sul:Durante o Segundo Reinado, a rebelião Farroupilha entrou em declínio, especi almente diante da repressãoempreendida pelo governo central, comandada pelo então Visconde de Caxias. Diante de sucessivas derrotas, osrevoltosos assinaram, em 1845, um acordo chamado “Paz de Ponche Verde”, que garantia anistia geral aos revoltosos,incorporação dos oficiais farroupilhas ao exército imperial, devolução das terras ocupadas aos antigos proprietários,taxação de 25% sobre o charque platino e libertação dos escravos que lutaram na revolução. Fez também parte do143acordo de paz a encampação das dívidas contraídas pelos governos criados pelos revolucionários. Por sua importanteatuação durante a revolta, Caxias recebeu os títulos de Conde e de "Pacificador do Império", durante visita doimperador as províncias, onde foi entusiasticamente recebido pelo povo.A Revolução Farroupilha foi a maior em proporções e ações e a mais longa de nossas contendas internas. Foi

também um laboratório para a administração do império e para os militares tanto do Exército quanto da Marinha,preparando todos para o conflito externo.B) A Ascensão de D Pedro II:Em pouco menos de três anos, após a decretação de sua maioridade, D. Pedro II tornou -se conhecedor dacomplexa administração imperial e começou a compreender as diversas facetas da política. Favoritos e corte sãosdesaparecem para emergir a figura isolada do imperador na plena consciência de suas funções. Socialmente agradável,bom dançarino e amante dos bailes e saraus, o jovem monarca provocou diversas paixões entre as moças casamenteirasda Corte.Seu casamento celebrou-se, afinal, a 30 de março de 1843, por procuração (sendo procurador o Conde deSiracusa, irmão da noiva), em Nápoles, com a Princesa italiana Teresa Cristina Maria de Bourbon, filha do ReiFrancisco II das Duas Sicílias. A futura imperatriz d esembarcou no Rio de janeiro, a 3 de setembro, depois de viagemna fragata Constituição, pisando no Valongo, logo conhecido como cais da Imperatriz.Dessa união matrimonial do imperador, nasceu, 29 de julho de 1846, a Princesa D. Isabel e, no ano seguinte ,13 de julho, sua irmã D. Leopoldina.De hábitos simples, Pedro II não se dedicou nem às guerras nem às pompas; foi, sobretudo, um administrador,um modelo de honestidade, com raro senso de justiça. Monarca modesto e retraído, quase tímido, orgulhava -se dossessenta mil volumes de sua biblioteca, muitos dos quais anotava de próprio punho, em cuja quietude rabiscava algumaspoesias. De seu avô, D. João VI, herdara o instinto da economia, observável na ausência de festas suntuosas, nainexistência de palácios luxuosos, de criadagem, fâmulos e áulicos de qualquer espécie e no seu modesto trajar. Viam -no sempre de casaca preta, com calças da mesma cor; raras vezes envergava os trajes majestáticos; nas cerimôniasmilitares optava pela farda de almirante. Só demonstrava liberalidade nas esmolas que distribuía e nas bolsas queconcedia. Da mãe recebera o dom do intelectualismo, capaz de mortificantes estudos nos raros ócios que lhe deixavamas atividades de governo.Mostrava-se, porém, cioso de seu poder, que exe rceu com rigor e disciplina. Não perdoava as condutasdesonestas, os funcionários levianos, os militares incapazes, os censurados de qualquer origem. O moderador, seu poderprivativo, prestava-se antes à qualidade de magistratura do que de autoridade, usad o com discrição e bom senso.Impunha-se, corno tarefa cotidiana, a permanente leitura dos jornais, pela qual tudo sabia e provia, ora com rapidez, oracom lentidão, aliando-se ao tempo como fator de soluções. Honrava a majestade de sua função e a dignidade do Trono;trono que, fisicamente, só existiu o do Senado.Seu governo enfrentou também uma revolta regional e, principalmente, uma guerra de graves conseqüênciasinternas e externas.A questão da mão-de-obra escravista e imigrante foi muito importante durante o segundo reinado, enfrentando,sobretudo, as pressões inglesas na questão do escravismo.Sua política externa foi voltada às relações de boa vizinhança e marcada pela falta de força perante os governoscapitalistas centrais. A maior herança que r ecebeu de seu avô e de seu pai foi negativa: a dependência das economiasexternas em contraposição da frágil economia agrário -exportadora.Os principais produtos exportados eram borracha, açúcar (enfrentando a concorrência externa) e cacau, todoscom pouca representatividade, e o crescimento de um novo produto: o café.A Revolução Praieira (1848-1850):Ocorrida em Pernambuco, cujo nome de Praieira vem por causa da Rua da Praia, no Recife, onde se editava ojornal Diário Novo, de propriedade de Luiz Roma e do intelectual socialista Abreu e Lima, local onde, provavelmente,planejou-se a revolta. De tendências liberais e burguesas, os praieiros se opunham aos "marinheiros" (apelido dosportugueses), e aos "gabirus”, isto é, os conservadores.Os praieiros dirigiam os seus clamores contra o Presidente da província, Herculano Ferreira Pena, acusado decriar dificuldades ao comércio do açúcar e a impedir a nacionalização do comércio varejista. Opunham -se, também, aopoderio da família Cavalcanti e de suas aliad as, proprietários de latifúndios, o que lhes permitia dispor de força política,

controle policial e da Guarda Nacional. A reforma da Lei de Terras constituía uma das metas dos praieiros.Inserida no contexto da primavera dos povos, conjunto de revoluções populares que varreram a Europa até oano de 1848 e atingiram várias localidades na América, a Praieira teve suas origens nas difíceis condições econômicas esociais da província de Pernambuco e na enorme concentração fundiária nas mãos de poucos proprietá rios.Em dezembro de 1847, grupos de desordeiros espancaram portugueses; a 26 de julho (1848), ocorreram novosdistúrbios em Recife, morrendo alguns pacíficos lusos diante da turba enfurecida que gritava: "mata marinheiro".Decididos a deflagrar um movime nto armado, os praieiros concentraram-se na região de Igaraçu, sob as ordens deManoel Pereira de Moraes, bloqueando as comunicações da capital com o interior. A 7 de novembro (1848), atacaram oRecife, sendo derrotados pelos imperiais (legais). Chegado da Corte, o desembargador Joaquim Nunes Machadoassumiu a liderança do movimento, repeliram os legais, utilizando com vantagem a operação de guerrilhas. Mas a firme144determinação do Exército desalojou os praieiros, que tomaram o rumo de Goiana, ocupada e saqu eada; depois,atingiram Cruangi.O governo imperial agiu rápido: substituiu o presidente da província por Manoel Vieira Tosta, Marquês deMuritiba, objetivando a pacificação, enviando, igualmente, o Brigadeiro José Joaquim Coelho, Barão da Vitória, queassumiu o comando das armas. Coelho dirigiu -se contra os rebeldes e infligiu -lhes urna derrota em Cruangi (20 dedezembro), retirando-se para Igaraçu. Iludindo o Brigadeiro Coelho, investiram sobre Recife; o Presidente Vieira Tostaorganizou pessoalmente a defesa.Dez navios da Esquadra (capitânia a fragata Constituição), comandados pelo Capitão -de-Fragata Joaquim JoséIgnácio, cercavam o porto do Recife. Achava -se presente, acidentalmente, o Capitão -de-Mar-e-Guerra JoaquimMarques Lisboa, em comando do vapo r D. Afonso, o qual também participou da ação com seus comandados.Contingentes de marinheiros e fuzileiros foram desembarcados a fim de auxiliar a defesa da capital do estado;destacaram-se os tenentes José da Costa Azevedo (depois Barão do Ladário) e Eli siário Antonio dos Santos (depoisBarão de Angra).A rebelião foi derrotada em 1850 pelas tropas governamentais, e nos dois anos seguintes toda a região estavapacificada. Sufocadas as insatisfações e conciliados os interesses da elite dominante, foi poss ível ao governo de D.Pedro II viver seu período de apogeu, propiciando o desenvolvimento de um novo setor da economia exportadoranacional: o café. O imperador concedeu anistia aos implicados nesta revolta em 1852.A Questão do Tráfico Negreiro:O fim do tráfico negreiro representaria o primeiro passo para a gradual abolição da escravatura. Exigiu aInglaterra essa condição para efetuar o reconhecimento da Independência mas o Brasil achava -se por demais subjugadoa essa forma econômica.José Bonifácio pensou num projeto de extinção progressiva que não chegou a ser executado. O Marquês deBarbacena propôs ao Senado uma lei para terminar com o tráfico, a qual, discutida por seis anos, acabou sendopromulgada pela Regência, em 1831, sendo inexeqüível, poi s os escravos que entrassem no Brasil, a partir daquela data,deveriam ser devolvidos à África.Ao contrário do que se pudesse pensar, o tráfico crescia, alicerçado na opinião geral, que lhe era favorável,apesar da vigilância inglesa e da condenação de a lguns traficantes. O Bill Aberdeen (08/08/1845) representou umaatitude inglesa de repressão ao tráfico (que a Inglaterra abolira em 1807), estipulando severas medidas contra osnegreiros, reservando-se o direito de visita aos navios suspeitos para a liber ação da "carga". Em vez de refrear o tráfico,desencadeou o contrabando das “peças” e uma reação nacionalista popular. Mesmo assim, os ingleses apresaram 634embarcações negreiras, entre 1837 e 1847, e 90 de 1849 a 1851. No ano de 1850, a 30 de junho, o na vio inglêsCormorant trocou tiros com baterias de terra na Baía de Paranaguá, depois de apreender uma galera e dois briguesnegreiros. De todos os importadores, famoso ficou Manoel Pinto da Fonseca, estabelecido na Corte, possuidor de umafeitoria em Cabinda, destruída pelos ingleses em 1841.Este posicionamento inglês permitiu formar um ambiente favorável à extinção do tráfico, com habilidadeaproveitada por D. Pedro II e os intelectuais. Formulada a Lei nº 708, pelo Ministro da Justiça, Euzébio de Queiro zMatoso Câmara, conseguindo aprova -la a 3 de setembro de 1850, logo regulamentada pelo Decreto nº 584. A Lei ficou

conhecida com Lei Eusébio de Queiroz.Alguns sorrateiros desembarques de "peças" ainda continuaram, verificando -se o último em Serinhaém,Pernambuco, a 13 de outubro de 1855, resultando na prisão dos implicados. O Império havia dado uma soluçãobrasileira ao problema do tráfico.Se a ausência de recém-chegados africanos aumentou o preço do escravo já existente no Brasil, permitiu,também, maiores investimentos de capitais ingleses no desenvolvimento de sua economia interna. Em 1869, o governoinglês abolia o Bill Aberdeen.A Consolidação Política:Os conservadores, liderados por Honório Hermeto Carneiro Leão, que formara, a 20/01/1843, for te gabinete,mantiveram-se no poder até 1844, quando subiram os liberais moderados ou chimangos, conhecido como ministério das"vacas gordas", à frente dos quais encontrava -se o Senador José Carlos de Almeida Torres. Estes puderam, apenas,impor as primeiras tarifas protecionistas alfandegárias, aproveitando o término do Tratado de Comércio com aInglaterra (09/11/1844), conhecidas como "Tarifas Alves Branco", elevando de 30% a 60% o imposto sobre produtosestrangeiros. Extinguia-se, na mesma oportunidade, o cargo de juiz conservador da nação inglesa. Respondeu aInglaterra com o Bill Aberdeen (08/08/1845).Três gabinetes se sucederam: o de Almeida Torres, que começou em 26/05/1845, o de Visconde deAlbuquerque (02/05/1846) e o de Alves Branco (22/05/1847). Pedro II, a 20 de julho de 1847, pelo Decreto nº 523 criouo cargo de presidente do Conselho de Ministros, convocando Manoel Alves Branco para exercer, pela primeira vez, tãodelicada função. Esta sábia medida do imperador, que restringia as suas atividad es monárquicas aos mais importantesaspectos do Poder Moderador, permitiu ao Império atingir a culminância política. Assim, em conformidade com a novasituação, o ministério, passava a exercer as funções executivas.O bom funcionamento do parlamentarismo exigia que o gabinete possuísse permanente apoio na Câmara dosDeputados Gerais e confiança do imperador. Havia divergência entre o ministério e a Câmara, mas o Senado, órgão de145equilíbrio, não participava desse jogo político. Seguia -se, assim, o modelo britânico, com algumas adaptações àrealidade brasileira.Disputavam o poder dois partidos: os Conservadores e os Liberais. Opinava o povo através das eleições paradeputados gerais, deputados provinciais e vereadores, estes municipais. Não se formara, poré m, uma consciênciaeleitoral. E o processo, corrupto, dava sempre a vitória ao partido que se encontrava no poder, o qual se escudava emsenhores locais (Coronéis).O ano de 1848 caracterizou-se por grande efervescência política, por causa da revolução qu e em Paris derrubouo Rei Luiz Philipe25. Caía, em março, o gabinete Alves Branco. Seguiu -lhe o de Visconde de Macaé, Almeida Torres (8de março a 31 de maio de 1848), e o de Francisco de Paula Souza (até 29/09/1848). As desordens que se manifestaramnesse mês de setembro, no Rio de janeiro, provocando novo surto de lusofobia, exaltaram os ânimos e acarretaram aqueda dos liberais. A ascensão dos conservadores tornou -se irresistível.Organizou o primeiro gabinete conservador o Visconde de Olinda, atuando o mesmo de 29 de setembro de1848 a 11 de maio de 1852, com a substituição de Olinda pelo Visconde de Monte Alegre (José da Costa Carvalho), em1849, Esse gabinete distinguiu-se pela Lei nº 582, de 05/09/1850, que criou a Província do Amazonas, desligando -a doPará, e pela extinção do tráfico africano, Lei Euzébio de Queiroz (1850), o que demonstrou amadurecimento dasinstituições.A política da Conciliação prolongou -se no Ministério Caxias (até 4 de maio de 1857); no do Marquês deOlinda (até 12/12/1858), e no do Visconde de Abaeté (até 10/08/1859), quando se formou a ala progressista.Ângelo Muniz da Silva Ferraz, chamado a ocupar a presidência do Conselho, em 10 de agosto de 1859,compôs o seu gabinete com conservadores, terminando, assim, com a Concilia ção. O Marquês de Caxias, a 2 demarço de 1861 assumiu o ministério. Pela primeira vez nomeava -se um ministro da Agricultura, escolha que recaiu no

Chefe-de-Divisão Joaquim José Ignácio, que também comandava o recém -criado Corpo de Bombeiros da Corte, por eleregulamentado. Durante essa época surgiu a "Liga Progressista", aliança entre os liberais e os conservadores moderados.A 30 de março de 1862, inaugurou-se no Rossio (hoje Praça Tiradentes), a magnífica estátua eqüestre de D. Pedro I,traçada por Maximiniano Mafra e fundida em Paris pelo francês Louis Rochet: representava a consagração daMonarquia.Esse ministério caiu a 24 de maio de 1862; o imperador convocou o político liberal Zacarias de Góis eVasconcelos, que se manteve apenas por 7 dias; o pov o, irreverente, apelidou-o de “Ministério dos Anjinhos”, poissofrera do mal de sete dias... Convocado o Marquês de Olinda, este organizou um gabinete de velhos políticos, por isso,chamado "dos velhos", que governou até 15 de janeiro de 1864, quando o der rubou o mesmo Zacarias de Góis,exercendo a presidência do Conselho até 31 de agosto de 1864, ocasião em que foi substituído por Francisco JoséFurtado. Durante esse ministério, combatemos o governo de Aguirre e aceitamos a guerra contra o Paraguai(26/01/1865). Em setembro (1864), aportavam ao Rio de janeiro o Conde d'Eu, Gastão d'Orleans, filho do Duque deNemours e da Duquesa de Saxe Coburgo Gotha, e o Duque de Saxe, para se casarem com a Princesa Isabel e sua irmã aPrincesa Leopoldina.A 12 de maio (1865), o Marquês de Olinda compunha o “Ministério das Águias”, assim conhecido por causados elementos que o integravam, necessário em razão das lutas externas. Sua atuação estendeu -se até 3 de agosto de1866, seguindo-se o terceiro gabinete presidido pelo conselheiro Zacarias (até 16/07/1868), época da ofensiva militarnos campos paraguaios. O decreto de 7 de dezembro de 1866 abriu os rios Amazonas, Tocantins, Tapajós, Madeira,Negro e São Francisco à navegação mercante internacional. Seguiu -se o gabinete do Visconde de ltaboraí (até29/09/1870), conservador, durante o qual a "Liga" se desfez e terminou a Guerra da Tríplice Aliança.As Questões Externas:1) A Questão do Prata:As questões platinas em que o Império se viu envolvido não passaram de uma her ança colonial. A via fluvialpara Mato Grosso era vital. Eram precárias e inexistentes as comunicações terrestres. Ainda: não interessava ao nossogoverno uma possível união entre Argentina, Uruguai e Paraguai; desejávamos a permanência do equilíbrio sul -americano.25 Logo após a Revolução Francesa foi instaurada uma república na França. A ascensão de Napoleão refez oimperialismo. Com a queda de Napoleão foi restabelecida a dinastia dos Bourbon, subindo ao trono Luiz XVIII. Em1830, Luiz Philipe de Orléans deu um golpe político, assumindo o trono, mas sendo deposto em 1848 por uma novaproclamação da República (a segunda francesa). Luís Bonaparte (sobrinho de Napoleão) foi eleito presidente, e,carismático, fez um plebiscito, sendo aclamado imperador Napoleão III. Em 1870 a França perde a guerra contra aAlemanha e junto seu imperador, iniciando a terceira república francesa.146A Guerra de Oribe e Rosas:Desde a sua independência (Congresso de Tucuman, 1816), as Províncias Unidas do Prata não logravamorganizar-se: debatiam-se unitários e federalistas. Em 24 de dezembro de 1826, foi sancionada uma Constituição d andoà nação o nome de República Argentina. Em meio a anarquia que se seguiu, Juan Manoel Ortiz de Rosas recebeu daSala dos Representantes de Buenos Aires o governo por cinco anos. Corria o ano de 1835. Seu poder estendia -seditatorialmente pelas demais províncias. Não escondia o ditador o desejo de reconstruir o vice -reinado do Prata, o quefatalmente neutralizaria a política que o Império desenvolvia na região platina.A guerra civil que conturbou a província do Rio Grande do Sul serviu aos seus propósi tos; ajudou aos farraposmaterial e moralmente. E Bento Gonçalves apoiava a D. Antonio Lavalleja e seus seguidores, que, por sua vez,fomentavam a discórdia e a separação dessa província brasileira, envolvendo -a nos assuntos do Prata.O Uruguai encontrava-se igualmente agitado. Em 24 de outubro de 1830, depois do juramento da Constituiçãodo novo país (a 18 de julho), os notáveis elegeram o General Frutuoso Rivera para governá -lo. Procurou o governanteda Argentina, Rosas, externar a sua política em Montev idéu aliando-se a Lavalleja e a Manoel Oribe, o "CortaCabeças", os quais colocaram dificuldades no governo de Rivera. Este se esforçou para deter as ambições de seuscompatriotas, vencendo Lavalleja nas várias correrias que programou e chamando Oribe para seu ministro da Guerra.

Oribe, aliado argentino e contrário ao Brasil, mostrou -se tão astuto que se elegeu presidente da República em 1835, Apartir do ano seguinte, seus partidários ficaram conhecidos como Blancos ou Unitários, e os adeptos de Rivera, co moColorados ou Federalistas, mais simpáticos ao Brasil. Oribe começou a fazer a política de Rosas e a destruir o que forarealizado por Rivera, que acabou perdendo o seu comando militar em 1836. Os dois caudilhos lutaram a partir desetembro de 1836, convulsionando o país, até o combate decisivo em Palmar, sendo Oribe derrotado, renunciando aoseu mandato e buscando refúgio em Buenos Aires, enquanto Rivera entrava em Montevidéu à frente de seu exército etomava posse do governo.O ditador Rosas não perdeu a oportunidade: deu a Oribe o posto de general no exército argentino e tropas, comas quais investiu contra Rivera. Nas margens do Arroyo Grande deu -se o combate: Rivera, derrotado, recuava, com seuspartidários, para a capital, posta sob sítio.Essas perturbações políticas prejudicavam o comércio estrangeiro. Por isso o governo francês de Luiz Phillipeenviou nove de seus navios, com o Almirante Lê Blanc em comando, a fim de bloquear Buenos Aires (1838). A atitudefirme de Rosas granjeou-lhe apoio popular. Recuaram os franceses; o Almirante Barão Armand de Mackau concluiu umtratado de não intervenção nos negócios do Prata.Mandou Rosas que seu representante no Rio de Janeiro, General Thomas Guido, acertasse um infeliz tratadocom o governo imperial, col igando ambos contra os farrapos e Frutuoso Rivera em 1843. Mas Rosas resolveu nãoratificar o próprio tratado que pedira. Montevidéu continuava sitiada por terra.A esquadra argentina, que ainda se encontrava sob o comando do Almirante George Brown, bloqu eava acapital uruguaia por mar. As esquadras inglesa e francesa, que estacionavam no Prata, reconheceram o bloqueio, masdeclararam Montevidéu cidade aberta. Não cogitava Oribe destruir a capital, visando, somente, a reduzi -la pela fome:absteve-se de bombardeá-la.Para exercer o posto de ministro, o governo imperial enviou a Montevidéu João Lins Vieira Cansanção deSinimbu (1843). Este, consultado pelo Capitão -de-Mar-e-Guerra Frederico Mariath sobre o bloqueio que a esquadraargentina criara contra Montevidéu negou o seu reconhecimento. Frederico Mariath comandava dois navios de guerrabrasileiros na área. Essa atitude provocou ruidosas manifestações do povo de Montevidéu a favor do Império e muitahostilidade em Buenos Aires.O nosso representante em Buenos Aires, Duarte da Ponte Ribeiro, retirou -se para o Rio de janeiro, e Sinimbu,que não recebeu aval do governo brasileiro para a sua atitude, regressou, igualmente, para a capital do Império.O governo imperial começava a se convencer de que teria de p restar auxílio a Montevidéu. Assim, destacou,para Assunção, José Antônio Pimenta Bueno, que assinou o tratado de reconhecimento da República do Paraguai(14/09/1844), enviando para este país armas e munições, bem como oficiais que serviram de instrutores (o Brasil iria searrepender depois). Ao mesmo tempo, mandava à Europa, em julho de 1844, o Visconde de Abrantes, Miguel Calmon,em missão especial junto aos governos inglês e francês. Suas instruções consistiam em consultar e obter apoio para aposição brasileira, que achava que deveriam ser mantidas as independências do Paraguai e do Uruguai, bem como deinteressá-los em conseguir uma solução pacífica para a guerra entre a Argentina e o Uruguai.Rivera travou alguns combates nas cercanias de Montevidéu, mas perdeu e refugiou-se no Brasil e, como o seumandato já havia expirado, passou a governar Montevidéu Joaquim Suárez.Esses fatos não podiam deixar de prender a atenção do Império, pela repercussão que acarretavam na provínciado Rio Grande do Sul, por vezes invadida, ocasionando represálias dos estancieiros, liderados por Francisco Pedro deAbreu, Barão de Jacuí, apelidadas de "califórnias", pois lembravam as cenas violentas da expansão americana para o

oeste.Motivados pelo Brasil, os governos da Ing laterra e França acertaram uma intervenção para resolver o litígio,mas sem a participação brasileira. Continuávamos a manter a neutralidade e acabamos por conceder asilo a Rivera,primeiro, no Rio Grande do Sul e, depois, no Rio de janeiro.As tentativas anglo-francesas redundaram em fracasso: começaram com uma demonstração militar em 18 denovembro de 1845, a tomada de Obligado. Acreditando que esta demonstração de força vitoriosa bastasse para demoverRosas, passaram às negociações diplomáticas, pois somente retirando o bloqueio inglês sobre Buenos Aires, mantendoo francês sobre Montevidéu.. Rosas emergia com sua popularidade aumentada.147Em março de 1850, Rosas obteve da Sala de Representantes autorização para anexar o Paraguai. Seu delegadono Rio de janeiro, o General Guido, retirou-se, a 23 de setembro, concretizando a ruptura com o governo imperial.O governo brasileiro, na tentativa de manter uma relativa neutralidade na contenda, chama o maior empresáriobrasileiro da época a realizar uma tarefa p átria. Irineu Evangelista de Souza (depois Barão e Visconde de Mauá)financiou Montevidéu, de acordo com pedido de André Lamas, representante do governo legal Uruguaio no Rio dejaneiro, com isso encobrindo a ação do gabinete. Ao mesmo tempo, obteve -se a aliança do Paraguai (25/12/1850).Gradativamente, formou-se na mente do povo uruguaio o desejo de pacificação, de acabar com aquela guerra civil, nãoexistindo nem vencedores, nem vencidos.A hora mostrava-se propícia a uma intervenção brasileira no Prata. Conhecíamos a insatisfação do GeneralJusto José de Urquiza, governador da província argentina de Entre Rios, que rompera publicamente com Rosas.Chegou-se, assim, facilmente ao acordo assinado em 29 de maio de 1851, entre o representante brasileiro emMontevidéu, o representante do General Urquiza, e o delegado do governo uruguaio. O exército de Oribe se esvaziava,restando nele um núcleo de tropas argentinas.O gabinete imperial determinou a ofensiva naval: uma força da Marinha, composta de 17 unidades, sob ocomando do Chefe-de-Esquadra John Pascoe GrenfelI, com seu pavilhão arvorado na fragata Constituição, desferrou doRio de Janeiro, para o Prata, a 16 de abril, e cercou o porto de Montevidéu. A 16 de junho, nomeava o Conde de Caxiaspresidente da Província do Rio Grande e Comandante -em-Chefe do Exército em Operações no Uruguai. Em dois meseso Conde de Caxias considerava apto o seu efetivo para cumprir a missão que o governo brasileiro lhe confiara.Articulados, teve início a invasão a 4 de setembro . Sentindo-se sem condições para lutar e já destituído dogeneralato argentino, Oribe preferiu capitular, a 8 de outubro. Caxias encontrou -se com Urquiza no acampamento doArroyo Pantanoso. Bivacaram juntos e acertaram o plano de ataque a Rosas. Os brasile iros entraram em Montevidéu,impedindo, as forças navais, que os vencidos se agasalhassem em território argentino.Assumiu interinamente o governo uruguaio o presidente do Senado, Bernardo Berro, realizando com o Brasilquatro tratados de Aliança e Comérc io (12/10/1851), sem quaisquer perdas territoriais uruguaias em benefício nosso.Ao mesmo tempo, acertaram com os generais argentinos, Urquiza e Benjamin Virasoro um acordo contraRosas . A participação brasileira consistiu em subvenção aos homens de Urqu iza, no prestígio de nossa Esquadra noPrata, servindo como força-tarefa de transporte, no emprego de quatro mil homens, sob o comando do BrigadeiroManoel Marques de Souza, e na permanência dos restantes 12.000, sediados em Colônia, comando de Caxias, pro nto aintervir.Conseqüentemente, recebeu Grenfell a incumbência de conduzir de Colônia, pelo Rio Paraná, a divisão deMarques de Souza, para se juntar aos homens de Urquiza, em Diamante. Esses transportes eram as corvetas a vapor D.Afonso, D. Pedro II, D. Pedro e Recife, as corvetas a vela D Francisca (CMG William Parker) e União e o brigueCalíope. No Passo de Tonelero, perto da barranca Acevedo, artilhada com 16 peças, dois mil homens aguardavam anossa Divisão Naval, comandados pelo General Lucio Manc illa (cunhado de Rosas), com a missão de impedir apassagem de Grenfell. Era 17 de dezembro de 1851 quando se defrontaram em Tonelero. Durante 80 minutos, aesquadra suportou o fogo nutrido dos rosistas, respondendo com precisão; combatíamos com ardor, a p eito nu,

encorajados pelo almirante que, de grande uniforme, tudo observava no passadiço de sua capitânia, juntamente com oBrigadeiro Marques, seu estado-maior e os refugiados argentinos. No dia seguinte, a corveta D. Januária e mais osvapores Paraguai e Imperador, auxiliados pela divisão de Parker, passaram por Tonelero.Sem ter logrado seu intento, Mancilla abandonou a sua posição e sem notícias do que se passava, o Conde deCaxias procedeu, a 17 de janeiro (1852), a uma inspeção no porto de Buenos Air es, utilizando o vapor D. Afonso, sempisar terra.A operação para transpor o Rio Paraná, obstáculo de vulto, começou a 23/12/1851. Em 03/02/1852, apósvários combates, estava tudo encerrado e a vitória era brasileira.O derrotado ditador Rosas apressou-se em procurar abrigo no navio inglês Centaur, passando, em seguida, parao de guerra, também inglês, Conflit. Este aportou em Salvador, em sua viagem para a Inglaterra; permitiu -se a visita deRosas à cidade, sinal evidente da tolerância brasileira.A guerra contra o caudilho estava encerrada; em 18 de fevereiro, Urquiza entrou triunfalmente em BuenosAires, participando do desfile a divisão brasileira que, no início de março, se retirou, atingiu Montevidéu no dia 7 eentrou no Rio Grande, por Jaguarão, em 4 de junho, sempre recebida com entusiasmo.Urquiza dispôs do poder na Argentina. As relações diplomáticas se recompuseram e, em 1856, celebraram asduas nações tratados de Amizade, Comércio e Navegação.2) A Questão com a Inglaterra:Compreende três incidentes a questão que redundou em atrito diplomático internacional e ruptura das relaçõescom a Inglaterra, em parte exagerados pelo representante inglês na Corte do Rio de janeiro (desde fevereiro de 1860),William Dougal Christie, homem convencido, violento e demasiadamente imbuído da supremacia britânica. Osinúmeros atritos que prendiam ao desejo inglês de extinguir o tráfico, a aplicação do Bill Aberdeen, a recusa da Grã -Cruz da Ordem do Cruzeiro pela Rainha Vitória e o escândalo que causou na Cor te de São Cristóvão o embaixador SirEllis (1842) contribuíram para o desgaste do bom entendimento entre os dois governos.Os incidentes foram que, marujos da fragata inglesa Emerald, que aportara ao Rio de janeiro em julho de 1860,tripulando um escaler em águas da Baía de Guanabara, travaram luta corporal com remadores, dois soldados e ummarinheiro que se encontravam na barca de registro da alfândega, morrendo o soldado naval Vicente Ramos Ferreira.148Presos os culpados ( Francis Maye e William Langford) e remetidos para um navio britânico, acobertou -os Christie,recusando entregá-los na fragata Constituição, a fim de aguardarem julgamento. Quase um ano depois, em junho de1861, o cargueiro Prince of Wales naufragou em costa do Albardão, no Rio Grande do S ul, tendo sido sua cargaroubada por desconhecidos. E, por fim, a 17 de julho de 1862, três oficiais da fragata Fart (Tenente Eliot Pringle,guarda-marinha Geoffrey Homby e o capelão George Clemenger), em passeio pela Tijuca, embriagaram -se edesacataram o soldado Manoel Luiz Teixeira, sentinela do posto policial. O Alferes Braz Cupertino do Amaral, quecomandava o posto, os colocou em prisão, desconhecendo suas identidades. Foram entregues, no dia seguinte, ao Vice -Almirante Warren, comandante da estação n aval inglesa, sediada no Rio de janeiro, independente de processo criminal.Reunindo tudo num caso único, Christie exigiu a indenização de £ 6.525, pela carga roubada no Sul, esatisfações exageradas (castigo contra o soldado e demissão do alferes, estes diretamente implicados na prisão dosoficiais ingleses, bem como pública censura ao Chefe de Polícia, Dr. Agostinho Luís da Gama) pelo vexame quehaviam sofrido os oficiais de S. Majestade, a Rainha Vitória. Contava, assim, poder apresentar serviços notáve is ao seugoverno, arrancando um tratado de comércio com tarifas preferenciais. Eis a causa real.Recusou-se o governo imperial a atender a tais reclamos. Perderia a coroa antes de permitir intervenções dessegênero, afirmou Pedro II. Na verdade, a conjun tura internacional não favorecia ao Império: os Estados Unidos daAmérica se debatiam em guerra fratricida (Guerra de Secessão), a França pretendia ingerir no México e dificuldades noPrata ameaçavam o equilíbrio da América Meridional conduzindo o Brasil a uma intervenção militar.Christie, que recebera de Lorde Russell John, lº Conde de Russell (à frente do Foreing Office) instruções paraagir firmemente, surpreendeu a Corte com um ultimato, a 5 de dezembro, renovado a 20, diante da resposta altiva do

Marquês de Abrantes (Miguel Calmon du Pin e Almeida), nosso Ministro dos Estrangeiros. Ordenou, então, que oAlmirante Warren apresasse cinco de nossos mercantes, conduzidos para a Enseada das Palmas (31/12/1862),bloqueando, em seguida, o porto do Rio de jan eiro.Esse tipo de represália, pela primeira vez empregado contra nós, ao contrário do que Christie imaginava,causou intensa exaltação pública. O povo, indignado, solidarizou -se com o imperador, que permaneceu no Paço daCidade para observar os acontecimentos, providenciando alguns preparativos militares. Da efervescência política dessemomento, resultou a formação da "Liga", aliança dos liberais com os conservadores moderados.O governo imperial resolveu pagar, sob protesto, £ 3.200 ao governo inglês, c omo indenização da carga doPrince of Wales, "por não convir à dignidade do Brasil ocupar árbitros em negócios tão mesquinhos de dinheiro..."Christie restituiu, então, os navios apresados.Quanto ao procedimento das autoridades brasileiras no caso dos of iciais e da forte retaliação inglesa,entregava-se ao arbitramento do Rei Leopoldo I, da Bélgica, com a finalidade de apurar onde se encontrava a razão.Incompatibilizado, Christie solicitou uma audiência ao imperador, que não a concedeu; resolveu deixar o país, sendosubstituído por Corniwallis Elliot, seu auxiliar.O nosso representante em Londres desenvolvia negociações para obter as satisfações das ofensas ao Brasil.Tentou Lorde Russell uma reparação. Não a obtendo, pediu seus passaportes, dirigindo -se para Paris, rompendorelações diplomáticas com a Inglaterra.Em Bruxelas, o representante do Brasil, Joaquim Tomás do Amaral ( 2º Visconde de Cabo Frio) e LordeHoward, representando o governo inglês, apresentavam ao rei belga as suas posições no caso d os oficiais da fragataFort. A 18 de junho de 1863, o Rei Leopoldo I, no castelo de Laecken, emitiu parecer favorável à atitude brasileira,condenando, assim, as represálias do Almirante Warren.Seguindo instruções do Rei de Portugal, D. Luis I, sobrinho de nosso imperador, o Conde de Lavradio iniciou,em Londres, uma mediação para o reatamento das relações, efetivado a 23 de setembro de 1865, quando o delegadoinglês, Edward Thornton, apresentou as suas credenciais, em Uruguaiana, ao Imperador Pedro II.O incidente diplomático colocara em evidência o patriotismo do imperador e de seus súditos, mas também afraqueza militar da Nação. Por isso, a Praça do Comércio do Rio de janeiro realizou uma subscrição pública, com cujoproduto o Chefe-de-Divisão Joaquim de Lamare, então Ministro da Marinha, contratou a construção de um navioencouraçado com a Societé Nouvelle des Forges et Chantiers de La Mediterranée, de Toulon (França). Primeiro nessegênero, pois todos os outros ainda utilizavam a madeira, recebeu o n ome de Brasil, que entrou em serviço a 31/07/1865.Ocorreram diversas reuniões entre os chefes militares; numa delas, lançou o Marquês de Caxias a idéia do serviçomilitar obrigatório, bem como a criação do cargo de ajudante -general, cujas atribuições corr esponderiam hoje às dochefe do Estado-Maior. Nasceram diversos quartéis, se bem que com material precário e perecível. E, como proteçãopara o Rio de janeiro, encetou-se a construção da fortaleza de São José, no morro da Urca, e se procedeu a uma amplareforma na fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. A prontificação desses melhoramentos militares ocorreu em 1872.3) Nova Questão no Prata: a Guerra de Aguirre:Com a morte do General Eugenio Garzón (01/12/1851), militar respeitado e capaz de reconstruir o Uruguai,elegeu-se presidente da República daquele país Juan Francisco Giró, do partido Blanco, que colocou óbices à ratificaçãodos acordos de 1851. A sua atitude política forçou -o a abandonar o poder, asilando-se na legação francesa, quandoentão se organizou uma Junta composta por Lavalleja, Rivera e Venâncio Flores. Falecendo os dois primeiros, recebeuo último um mandato de dois anos, época em que surgiu um terceiro partido, o Conservador, moderado, Flores solicitouum auxílio ao Brasil, em dinheiro e armas. Envolveu-se, mais uma vez, o Império nos negócios internos uruguaios,sempre visando à proteção de nossa fronteira, não completamente firmada. Em fins de março de 1853, quatro milhomens do Exército foram para o Uruguai. Retornaram ao território bra sileiro em dezembro de 1855, na mesma ocasião149em que Flores terminava o seu período governamental, Gabriel Antonio Pereira, que o sucedeu, tentou ser imparcial,

sem resultados; acabou por cometer diversos desatinos, deportou militares e enfrentou uma revol ução provocada pelopartido Conservador, terminada no massacre dos revolucionários pelas forças governistas em Quinteros (02/02/1858).Bernardo Berro, que lhe seguiu (1860 a 1864) apesar de boa política econômica, continuou os desmandos, provocando areação de Venâncio Flores, refugiado na Argentina. Flores invadiu seu próprio país (19/04/1863) com guerrilheirosarmados e um certo apoio de Bartolomeu Mitre, presidente da Confederação Argentina e de brasileiros residentes noRio Grande do Sul. Depois de vitórias e derrotas, iniciaram-se negociações que falharam.Em 1º de março de 1864, por término do mandato, Bernardo Berro passou o cargo ao presidente do Senado,Atanazio Cruz Aguirre, sem ter havido eleições por causa da revolução que o país se encontrava.O estado de beligerância entre os caudilhos uruguaios sobressaltou os brasileiros da fronteira que, prejudicadosem seus direitos por tropelias e injustiças, e não tendo sido atendidos pelo governo uruguaio, resolveram organizar suaspróprias milícias, sob o comando de Francisco de Abreu, Barão de Jacuí. A pressão política no Império fez cair oministério conservador, ao mesmo tempo que crescia a indignação da opinião pública.Em missão especial, dirigiu-se a Montevidéu, a exigir o desagravo e impor respe ito, em 27 de abril de 1864, oconselheiro José Antonio Saraiva, que levava como secretário Tavares Bastos. Saraiva chegou em Montevidéu a 6 demaio, entregando a 18 uma nota cortês, procurando alcançar as satisfações que desejava o nosso governo. Na mesmaocasião, a 16 de maio, aportava a Montevidéu o Vice -Almirante Barão de Tamandaré, Comandante -em-Chefe dasforças navais no Rio da Prata, arvorando seu pavilhão na corveta Niterói. Começaram as negociações amistosas,animadas pela presença do Ministro ingl ês em Buenos Aires, Edward Thornton, e Rufino Elizalde, ministro dasRelações Exteriores da Argentina. Desejava -se, principalmente, atingir um entendimento entre os beligerantes noUruguai, propondo-se um governo de transição que realizasse eleições.Ao mesmo tempo, o Presidente Mitre mandava ao Rio de janeiro o Ministro José Marmol, com o objetivo deenfatizar o interesse argentino na continuidade da soberania uruguaia. Outra não era a intenção brasileira. Em junho,oferecia Solano López, ditador paraguai o, seus bons ofícios de mediador, polidamente recusados (sendo usado comorazão para a agressividade ao Brasil).Os diplomatas concluíram a redação de um protocolo, e pronto estava para receber assinaturas, quando Aguirrealterou o texto. Saraiva retirou-se (julho) para Buenos Aires, de onde apresentou ao ministro uruguaio, D. Juan JoséHerrera, um ultimato (04/08/1864), de perfeito acordo com Mitre, sendo -lhe o mesmo devolvido, sob a alegação de quenão poderia constar dos arquivos da República. Represent ava o rompimento formal; Aguirre escudava -se na ajudasecreta que lhe prometera Solano López.Saraiva retornou para o Rio de janeiro, ficando a direção dos acontecimentos entregue ao Barão de Tamandaré,que, a 20 de outubro, assinou com o General Flores, a bordo da Jequitinhonha, o acordo reservado de Santa Lúcia.Enquanto nossas tropas (com um efetivo total de seis mil homens) transpunham a fronteira, sob o comando doMarechal-de-Campo João Propício Mena Barreto, a força naval imobilizava o vapor de guer ra General Artígas, no portode Montevidéu, ao mesmo tempo que o Chefe -de-Divisão Francisco Pereira Pinto, com as canhoneiras Jequitinhonha,Araguaia e Belmonte, recebia a missão de subir o Rio Uruguai. No dia 25 de agosto, avistou o vapor de guerra Villa delSanto e o intimou a parar; mas o navio uruguaio conseguiu fugir. Esse incidente provocou o rompimento formal dasrelações diplomáticas (30 de agosto). De novo, a 7 de setembro, Pereira Pinto avistou o Villa del Santo, perseguindo -o,em frente a Paissandu o vapor inimigo encalhou, sendo incendiado por sua tripulação.As forças de terra obtinham a Vila de Meio (16/10/1864) e a rendição de Salto, 28 de novembro, defendidapelo Coronel Palomeque, graças, também, ao apoio naval prestado pelas canhoneiras It ajaí e Mearim. Concentraram osesforços para a tomada de Paissandu, iniciando -se o cerco e ataque a 2 de dezembro, interrompidos a 8, a fim de seesperar o contingente que Mena Barreto conduzia pelas coxilhas. Voltaram ao ataque no dia 31. O assalto a essafortaleza, com 1.270 homens e 15 peças de artilharia, conduzido, em pessoa, pelo Almirante Tamandaré, tornou -se o

maior feito dessa campanha. Caiu Paissandu a 2 de janeiro (1865), depois de 52 horas de combate, tendo sidodisparados mais de quatro mil tiros das baterias, dirigidas pelo Coronel Emilio Mallet. Tivemos 519 homens fora decombate. Caíram prisioneiros setecentos, entre os quais 97 oficiais. Deslustrou essa vitória o fuzilamento docomandante da praça, General Leandro Gómez, ordenado pelo Corone l Gregorio (Goyo) Suarez (uruguaio), atoreprovado pelo governo imperial. Evento principal da campanha, a tomada de Paissandu produziu efeito moraldefinitivo e abriu caminho para Montevidéu.Desesperado, Aguirre queimou publicamente os tratados assinados com o Brasil. E ordenou o ataque econquista da cidade brasileira de Jaguarão, entre 27 e 28 de janeiro. Divididos os 1.500 uruguaios em dois Corpos,comando do General Basílio Mufloz e Coronel Timóteo Aparício, enfrentaram o Coronel Manoel Pereira Vargas , comcavalarianos e infantes da Guarda Nacional: ataque repelido. Fez, então, Aguirre arrastar pelas ruas de Montevidéu umabandeira brasileira, afirmando ter sido a mesma apresada em Jaguarão; de nada serviu -lhe essa mentira: a 2 de fevereiro,tropas de Flores e as brasileiras, bem como a esquadra imperial, cercavam a capital uruguaia.No dia 15 de fevereiro (1865), o mandato de Aguirre como presidente do Senado (e interino da República)expirou, este passou o governo ao presidente do Senado, Tomás Villa lba, que, valendo-se dos bons ofícios do Ministroitaliano Barbolani, assinou com o Visconde do Rio Branco, nosso plenipotenciário especial, uma capitulação e oTratado de 20 de fevereiro de 1865, que encerrava a nossa intervenção.Aclamado presidente provisório, Flores declarou nulos os atos contra o Brasil, desagravou nossa bandeira,içando-a no Forte de S. José e saudando-a com 21 tiros de salva, ao mesmo tempo que respondia a corveta Bahiana,com a bandeira uruguaia no mastro grande. E, de inimigo, o U ruguai passou a aliado, colocando-se ao lado do Impériona campanha contra Solano López.150A Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai):Logo depois de independente, governou o Paraguai José Gaspar Rodrigues de Francia, que estabeleceu umforte centralismo, dedicando-se à cultura do mate e evitando contatos com nações estrangeiras. Carlos Antonio López,que o sucedeu, em 1840, preparou o país para realizar o "Paraguai Mayor". Seus dois filhos, Francisco e Benigno,receberam esmerada educação, estagiand o Benigno no Rio de Janeiro, por pouco tempo, na Academia de Marinha, e oprimeiro aprimorando-a em viagem à Europa entre 1853 e 1854. Durante esses dois anos, as tendências militaristas deFrancisco Solano López se estimularam, graças ao desenvolvimento p or que passava o governo de Napoleão III, bemcomo pelas suas ligações com Elisa Alice Lynch, irlandesa de nascimento, com quem se casou, e que o convenceu quepodia ser o árbitro da política sul -americana. Ao retornar ao Paraguai, em janeiro de 1855, Fran cisco Solano Lópezencontrava-se seguro de poder concretizar seus grandes sonhos de conquista. Ocupou, então, no governo de seu pai, aspastas da Marinha e da Guerra, iniciando o desenvolvimento militar paraguaio. Ao morrer Carlos López, em 1862,Francisco Solano o substituiu, tornando-se presidente da República sem eleições. Iria ser o "Napoleão do Rio da Prata".Francisco Solano López demonstrou possuir dotes de estadista; honesto, trabalhador, administrador eficaz,querido do povo que o envolvia de espe cial carisma. Procurou transformar o país numa potência, organizando umexército de oitenta mil homens, provido dos equipamentos que comprara na Europa. Sua esquadra compunha -se de 23vapores (acrescida, depois, de seis apresados, três ao Brasil e três à A rgentina) e muitas chatas, engenho terrível edestruidor. Ergueu formidável sistema de defesa, antes e durante a guerra, destacando -se os fortes de Itapiru, quedominava o Passo da Pátria (no Rio Paraná), Curuzu, Curupaiti e Humaitá, estes três ao longo do Rio Paraguai e abaixodo seu afluente, o Rio Tebiquari. Uma linha de 70km de trincheiras ligava Curupaiti - Espinillo - Humaitá, formando oque se convencionou chamar de Quadrilátero. Acima do Tebiquari, situavam -se as imponentes defesas do Rio Piquiciri,outro afluente do Rio Paraguai. Criou várias fábricas de material bélico, sendo a maior a de Ibicuí; construiu uma

ferrovia, ligando Assunção ao Paraguari, e uma rede telegráfica. Seu principal engenheiro era Wisner von Morgenstem(húngaro ou austríaco), secundado por George Thompson, Ficher, Watts, Whythead e outros, existindo, ainda, diversostécnicos ingleses nos arsenais e fábricas.O maior problema paraguaio consistia na sua posição mediterrânea, sem acesso ao mar, condição que não lhepermitia desenvolvimento, pois o comércio, difícil, dependia dos vizinhos. Entre estes, destacava -se o Brasil, por ser omais temido, a quem Carlos López se referia como "El Coloso". Realmente, a interferência política e diplomáticabrasileira no Prata constituía fato i nconteste: o Império desejava manter o livre trânsito pelo Rio Paraguai, objetivandoatingir a província de Mato Grosso. O Paraguai sentia a necessidade natural de romper o cerco geográfico que o afligia,bem como desejava recuperar territórios que, acredi tava, lhe pertenciam desde a fase colonial. A fronteira entre os doispaíses não ganhara solidez, desejando o Paraguai a linha dos rios Branco e Ivinheima, enquanto o Brasil pleiteava a dosrios Apa e Iguatemi. A diplomacia brasileira não se conduziu bem n a busca de seus intentos: fracassara a missão deFilipe José Pereira Leal, seguida da intimidação do Chefe -de-Esquadra Pedro Ferreira de Oliveira, em 1855, com suaforça composta de uma fragata, cinco corvetas, quatro canhoneiras e cinco navios menores. A pouca densidade dapopulação brasileira na linha divisória preservava de atritos as relações diplomáticas. Com habilidade, o Visconde doRio Branco obteve o Tratado de 12 de fevereiro de 1858, assinado em Assunção, que liberava a navegação do RioParaguai a qualquer nação.Todo o desejo de López resumia -se em abrir um corredor por território brasileiro, até o Oceano Atlântico, egarantir para futuro essa conquista bélica. Armado convenientemente, esperou pretexto. Este surgiu, quando Aguirreenviou a Assunção o Dr. Carreras, instando para que López interviesse na contenda com o Império. De Montevidéupara Assunção outros emissários dos blancos transitaram seduzindo López para que ele utilizasse a sua força militar.López ofereceu, finalmente, a sua mediação no conflito Brasil-Uruguai através de uma nota, datada de 17 de junho,respondida pelo conselheiro José Antonio Saraiva, a 24, agradecendo e declarando que esperava obter a solução direta.No mesmo teor, respondia, a 7 de julho, nosso Ministro de Negócios Estrangeiros, Senador João Pedro Dias Vieira. Eramuita humilhação para alguém que dispunha de forças militares consideráveis e almejava mais que um lugar dedestaque. Tomando essa recusa como ofensa, em nota de 30/08/1864, entregue ao Ministro brasileiro residente emAssunção, Cesar Sauvan Viana de Lima, considerava atentatória ao equilíbrio platino uma possível invasão do Uruguai.López iniciou a primeira represália em 12/11/1864, mandando seu navio de guerra Taquari aprisionar o vaporbrasileiro Marquês de Olinda, pouco acima de Assunção; a bordo encontrava -se o Presidente da Província de MatoGrosso, Coronel Frederico Carneiro de Campos, bem como elevada quantia (4.000.000$000) que os paraguaios nãopuderam usar, pois declarou-a sem valor o nosso governo. O Marquês de Olinda, de propriedade da Companhia deNavegação do Alto Paraguai, foi artilhado e incorporado à Marinha paraguaia. Os tripulantes, distribuídos em prisõesvárias, acabaram falecendo por maus -tratos, Carneiro de Campos morreu de fome a 03/ 11/1867 em Passo Pocu.A apreensão do Marquês de Olinda materializou o rompimento da guerra.Viana de Lima tentou resolver a situação por via diplomática; mas da troca de notas nada resultou. Pediu seuspassaportes e só conseguiu sair de Assunção, com a família e funcionários da Legação, graças à intervenção de CharlesWashburn, ministro norte-americano.A guerra foi, portanto, desencadeada pelo governo paraguaio.O plano de Solano López consistia em dividir o seu exército num ataque conjunto a Mato Gro sso e ao RioGrande do Sul, ocupando territórios que lhe permitisse decidir a guerra, colocando -se em posição de negociar uma pazque lhe fosse favorável. A indefesa província de Mato Grosso ainda lhe oferecia a vantagem de uma vitória fácil,concorrendo para a elevação do moral de suas tropas. A Argentina antevia, com prazer, a perspectiva de uma guerra que

esgotaria o Império e enfraqueceria o Paraguai, proporcionando riqueza às margens do Prata (o que aliás ocorreu).151Dando início ao seu plano, 4.200 homens, chefiados pelo Coronel Vicente Barrios (seu cunhado), embarcarama 24/12/1864, em 13 navios comandados pelo Capitão -de-Fragata Pedro Inácio Meza, subiram o Rio Paraguai echegaram, a 26, ao sul do Forte Coimbra. Neste posto militar avançado, de pouco valor defensivo, encontrava-se,acidentalmente, o Tenente -Coronel Hermenegildo Portocarrero (que fora instrutor de López), comandante do DistritoMilitar do Baixo Paraguai e do Corpo de Artilharia de Mato Grosso; assumiu ele a direção da resistência, duran te osdias 27 e 28 de dezembro, com 155 oficiais e praças que dispunha, tendo colaborado os presos e as mulheres, lideradaspor D. Ludovina, que acompanhara o marido Portocarrero na sua inspeção. Às duas horas da tarde de 28, o ComandanteLuíz Gonzales atacou a praça, sendo repelido. Estando esgotadas as munições, optou -se pelo abandono do forte. Assim,na noite de 28, procedeu-se a hábil retirada no vapor Anhambaí para Corumbá. No dia seguinte, Forte Coimbraencontrava-se em mãos inimigas.Houve pânico em Albuquerque e Corumbá. A população se retirou desordenadamente de Albuquerque (2 dejaneiro) nos vapores Anhambaí e Jauru e na escuna (argentina) Jacobína. Esta, muito ronceira, foi ficando para trás;decidiu o Segundo-Tenente João de Oliveira Melo desemb arcar todos no dia seguinte, e, marchando entre os pantanaisperto de Corumbá, os pôde ir levando em direção à capital, nela chegando a 30 de abril, com 230 praças, civis e outros.Barrios ocupou Albuquerque a 3 de janeiro e, a 4, Corumbá, encontrando, ape nas, localidades vazias. Na primeira,apossou-se de trinta mil cabeças de gado e permitiu o saque completo na segunda. Barrios ordenou ao Tenente Herrerosperseguir os retirantes, causando mortes aos retardatários; a 6 de janeiro, apresou o Anhambaí e assa ssinou a tripulaçãoque tentou fugir. Na mesma ocasião, ocupou o posto fluvial de Dourados.Uma outra coluna invasora, sob direção do Coronel Isidoro Resquin, partiu de Concepción, em dezembro de1864, talvez com três mil homens, e se dirigiu para Nioac, enquanto seu segundo comandante, Maior Martin Urbieta,investiu sobre a colônia militar de Dourados (29/12/1864). Em sua defesa, encontravam -se 15 praças e o TenenteAntônio João Ribeiro que se sacrificou, escrevendo uma bela página de heróico patriotismo.Para repelir o avanço paraguaio, o Chefe -de-Esquadra Augusto Leverger, francês (naturalizado a 13/11/1844),nomeado comandante da Guarda Nacional, estabeleceu um campo entrincheirado nas colinas de Melgaço, 20 léguasabaixo de Cuiabá (Leverger recebeu a 07/07/1865 o título de Barão de Melgaço).As duas colunas invasoras não alcançaram a capital bem como não conseguiram efetuar uma junção, provávelpensamento do ditador.Enquanto isso, outras tropas paraguaias se movimentavam no sul, solicitando, a 14 de janeiro, passagem aogoverno argentino por seu território, que, com isso, não concordou. Resolveu López pela invasão, grande erro tático,colocando outro país contra si. Sob a direção do General Venceslau Robles, os paraguaios ocuparam a cidade deCorrientes, aprisionando dois vapores argentinos (13 e 14/04/1865). Concentrados em Encarnación, dez mil homens,sob a chefia do Coronel Antonio de La Cruz Estigarribia, marcharam para o Passo de S. Borja através da provínciaargentina de Corrientes.As forças militares disponíveis no Império apresentavam-se em número inferior ao efetivo paraguaio. Haviadiversas deficiências, como falta de sapatos e outras peças de fardamento, doenças, em especial o tifo, por causa daqualidade da água ingerida, pouco número de cavalos e a presença de muitos recrutas inexperientes. Osório,comandante das tropas, usou de energia e procurou minimizar as dificuldades.O Governo preparou-se para a luta, criando 57 batalhões chamados Voluntários da Pátria. Assim, sessenta milhomens arregimentaram-se, como nos velhos exércitos, ao som das marchas militares e embarcaram para o Sul, numacompreensão tácita de que a invasão precisava ser repelida e a honra nacional desagravada.A situação da Marinha apresentava -se aparentemente melhor: havia um total de 42 navios, sendo 13 a vela e 29a vapor. Entretanto, nem todos se achavam em condição de operar nos rios, por causa de seu grande calado; ainda,processava-se naquele momento o aparecimento dos primeiros encouraçados, ficando os existente s, repentinamente,

obsoletos. De efetivo contava -se com 602 oficiais e 2.787 praças. O governo procurou suprir essas deficiênciasdesenvolvendo um esforço gigantesco para melhor aparelhar a Esquadra, mandando construir 11 encouraçados, 6monitores, 6 canhoneiras e 11 transportes. Entraram em serviço em datas variadas após o inicio das operações navais.Ao mesmo tempo, o governo agia diplomaticamente, obtendo uma aliança com a Argentina e o Uruguai.Francisco Otaviano de Almeida Rosa, nosso delegado especia l, celebrava o Tratado da Tríplice Aliança, secreto, a 12 demaio de 1865, com D. Rufino Elizalde (Argentina) e D. Carlos de Castro (Uruguai). Estabeleceram os signatários aexistência de um comando único, de acordo com a área onde se desenvolvessem as ope rações militares, aimpossibilidade de ser acertada a paz em separado com o Paraguai, da deposição de López, como término dasatividades bélicas, realçando-se que a guerra não era movida ao povo mas ao governo paraguaio. A esquadra brasileiraescapava ao Comando-em-Chefe aliado (que ficaria com o presidente argentino nas operações militares fora do Brasil),visto que somente o Império possuía força naval.A diplomacia imperial ganhou a confiança das nações européias e o apoio financeiro indispensável à cam panhamilitar de banqueiros ingleses somente interessados nos lucros do capital, época em que se devia adquirir todo omaterial bélico no estrangeiro. Recusamos, polidamente, o oferecimento de bons ofícios do Peru (21/06/1866).Completou essa política a franquia mercante internacional dos rios Amazonas, Tocantins, Tapajós, Madeira, Negro eSão Francisco (07/12/1866), apressava -se o Brasil em conceder nos seus rios navegáveis o que desejava no Prata.Desta guerra aproveitaram-se comerciantes, fornecedores e atravessadores dos mais variados matizes e dediversas nacionalidades, sendo puramente folclórica a afirmação de que a Inglaterra, como país, pudesse ter provocadoo conflito no Prata e nutrisse interesses em seu prolongamento.O contingente que se encontrava perto de Montevidéu passou a ser o 1º Corpo do Exército com o mesmoBrigadeiro Osório no seu comando (assumido em 01/03/1865). No comando da Esquadra, foi confirmado o Vice -152Almirante Marques Lisboa, Visconde de Tamandaré, que, imediatamente, determin ou o bloqueio do Rio da Prata(10/04/1865).Tamandaré decidiu retomar a cidade argentina de Corrientes e ativar o bloqueio. A 11 de abril, a 3ª Divisão,em comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra José Secundino de Gomensoro, desferrava do porto de Buenos Aires , com oseu pavilhão içado na corveta Jequitinhonha; chegava a Rosário, a 16, e 2 de maio, fundeava em Bela Vista. Outrosnavios saíam de Buenos Aires, a 30 de abril, igualmente destinados a Bela Vista, conduzidos pelo Chefe -de-DivisãoManoel Barroso da Silva, que, a 20 de maio, assumiu, nessa localidade argentina, o comando da divisão. Transportava a9ª Brigada do Coronel João Guilherme de Bruce. Os argentinos encontravam -se presentes também, com 1.200 praças emais artilharia, liderados pelo General Vence slau Paunero.Apresentaram-se, a 25 de maio, diante de Corrientes ocupada pelo Coronel Martinez e 1.500 paraguaios. Ocombate, iniciado por volta das 14 horas, só terminou às 17, com a derrota dos adversários, os quais tiveram 520 baixase 80 prisioneiros; nossas baixas atingiram 16 homens. O General Paunero, porém, não achou prudente conservar -se emCorrientes.A Batalha de Riachuelo:A perda de Corrientes, sofrida pelos paraguaios, permitiu refluir as tropas do General Robles, que se orientouem direção sul e fez acampar os seus soldados no Riachuelo, cerca de cinco milhas abaixo daquela cidade. A 3ª DivisãoNaval lançava ferros nessa mesma área do Rio Paraná, perto do grupo de ilhas chamadas Palomeras, em frente às quaisfluíam suas magras águas o Ria chuelo. A liberdade das vias fluviais representava, para López, fator de sobrevivência;por isso, planejou eliminar aquela força bloqueadora. Uma bateria volante a hostilizou, atirando contra a canhoneiraMearim (2 de junho); dois dias depois, a Iguatemi r ecebeu alguns tiros.López dirigiu-se para Humaitá, base de operações, onde articulou os preparativos. Pensava lançar o ataque nanoite de 10 para 11 de junho. Escolhendo seus melhores navios (corvetas Taquari, capitânia, e Paraguari, vapores

Igureí, Iporá, Marquês de Olinda, Jejuí, Salto Oriental, Pirabebé e seis chatas), guarnecendo -os com os homens maisadestrados, em número de 2.500, entregou -os ao comando de Pedro Meza. A avaria na máquina do vapor Iberá impediuque efetuassem a surpresa desejada. Só às 9 horas da manhã de 11 de junho, deram-se vistas as duas esquadras. Adivisão brasileira (fragata Amazonas, com 58m de comprimento, capitânia, convertas Parnaíba, Jequitinhonha, Beberibee Belmonte, canhoneiras Iguatemi, Araguari, Mearim e Ypiranga, com 2.227 homens no total) executara as fainasmatutinas normais quando a Mearim içou, às 9 horas, sinal de inimigo à vista. Da Amazonas sucederam -se as ordens:‘Preparar para o combate’, “Safa geral”, “despertar os fogos das máquinas” “O Brasil espera que ca da um cumpra o seudever”, “Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder”.Encontraram-se as duas esquadras, em passagem de linha, descarregando as suas bandas. O inimigo dirigiu -separa a jusante, dando a volta na ponta de S. Catalina e estacionand o na embocadura do Riachuelo, onde havia umaartilharia paraguaia de 30 peças, sob a direção do Tenente -Coronel Bruguez, embuçada nas barrancas, e diversosatiradores isolados. Os nossos completaram a volta, tendo de ir em busca do inimigo, em campo que es colhera, eretornaram rumo a Riachuelo. Tiros por todos os lados. A fumaça da artilharia envolve os beligerantes e, levada porfresca aragem. A Jequitinhonha recebe avarias e encalha; a Belmonte é rudemente maltratada e encalha na Ilha Cabralpara não soçobrar. A Parnaíba tenta ajudar a Jequitinhonha, mas quebra o leme na orla de um banco, ficando só no meioda linha inimiga, sendo abordada por três navios paraguaios que tinham tentado, em vão, se apoderar da Jequitinhonha.A luta que, em seu convés, se travou foi terrível; morre Marcílio Dias, símbolo e exemplo do marinheiro, o guarda -marinha João Guilherme Greenhalgh e os infantes Capitão Pedro Afonso Ferreira e Tenente Feliciano Maia.Aproximavam-se às 13 horas: a batalha estava sendo ganha pelos paraguai os. A Amazonas e os demais completavam avolta na ponta de S. Catalina.Em pleno ardor do combate, o chefe Barroso imaginou utilizar o seu navio, construído com a dura madeira tecaindiana e carvalho, como um aríete; a Amazonas sobe o rio e destrói sucess ivamente o Jejuí o Marquês de Olinda, SaltoOriental, Paraguari e uma chata. Os remanescentes da guarnição da Parnaíba, livre dos abordantes, ainda apresam o quesobra do Salto. Os outros fogem, levando mortos e feridos (provavelmente mil homens), entre es tes o comandanteMeza. Nossas baixas somaram 104 mortos, 123 feridos e 20 extraviados.Riachuelo representou o aniquilamento da força naval paraguaia, permitindo à esquadra brasileira dominar oRio Paraná, até a embocadura do Prata; cortou as comunicações com as tropas invasoras que avançavam por territóriodo Rio Grande do Sul, colocando-as em dificuldades logísticas; permitiu uma mudança na opinião pública mundialinicialmente a favor de López: uma vitória sempre produz aliados... Mas não se constituiu u ma vitória tática definitiva.Barroso permaneceu ainda nas águas de Riachuelo, que dominara, até o dia 18, tentando safar a Jequitinhonhasem êxito, havendo pequeno combate no dia 13, contra a artilharia do Tenente -Coronel Bruguez. Com o intuito deanular os efeitos da vitória brasileira, Robles ergueu, em Mercedes, uma bateria de 36 canhões. Informado dessatentativa de bloquear a sua divisão, Barroso navegou rio abaixo e se apresentou, a 18, no Passo de Mercedes; a fuzilariafoi enorme, mas os nossos pas saram com 12 feridos e 2 mortos. Barroso lançou ferros um pouco abaixo e executoureparos urgentes.Mas o inimigo, ainda Bruguez, instalava em Cuevas uma bateria de 40 canhões, com o mesmo objetivoanterior. Barroso e a Divisão Naval enfrentaram o perigos o passo a 12 de agosto, atravessando-o com grandes avarias,38 feridos e 21 mortos.153A Guerra Continua:Enquanto se desenrolavam esses sucessos em águas do Rio Paraná, o Coronel Estigarribia avançava no Sul.Tínhamos poucas forças a proteger a província . Entre 11 e 12 de junho, após a travessia do Rio Uruguai, os paraguaios

tomaram, de surpresa, São Borja, saqueando a vila. A 7 de julho, Itaqui foi ocupada e saqueada por sete dias. Revelou -se decisiva a atuação do Primeiro-Tenente Floriano Peixoto à frente de uma esquadrilha composta do rebocadorUruguai, armado com uma peça de artilharia, e dos lanchões S. João e Garibaldi, causando problemas aos invasores,dificultando as suas comunicações em ambas as margens do Rio Uruguai.Em seguida, Estigarribia ocupou, em 5 de agosto, a cidade de Uruguaiana, com fraca resistência. Mas odesastre de sua gente em Riachuelo, separando as comunicações, permitiu que uma força de quatro mil homens,conduzida pelo General Venâncio Flores, presidente do Uruguai, destruísse a coluna do Major Pedro Duarte. Os aliadoscercavam Uruguaiana, presentes Mitre e Flores; o próprio imperador encetou viagem marítima até Porto Alegre e, destacidade, percorreu a província, atingindo Uruguaiana, em 11 de setembro, para incentivar a reaçã o dos brasileiros, emcujo comando encontrava-se o General Manuel Marques de Souza, Visconde de Porto Alegre. Uma divisão navalbloqueava Uruguaiana pelo Rio Uruguai, chefiada pelo Almirante Tamandaré.Ante a recusa de Estigarribia de aceitar a rendição, decidiu-se, a 17, oferecer batalha no dia seguinte.Encontravam-se já todos predispostos ao ataque quando se entabularam negociações de rendição. Estigarribiaentregava-se, com 5.515 homens, ao Ministro Ferraz, que recebeu sua espada, e, por sua vez, a lev ou ao imperador(18/09/1865).López passou para a defensiva, esperando, encastelado em seu território, a invasão dos aliados. Confiava nopoderio de suas fortalezas e na terra pantanosa, desconhecida e letal do Chaco. Acreditava, especialmente, nasdificuldades que a ausencia de cartas topográficas poderia causar.A luta continuava em vários pontos dos territórios brasileiro, paraguaio e argentino. Da argentina marcharamas tropas aliadas para a confluência dos rios Paraná e Paraguai. Em dezembro, as forç as aliadas estacionavam em frenteà terra paraguaia, aproximando-se devagar e protegidas pela Esquadra. Os brasileiros obedeciam ao comando deManoel Luiz Osório, promovido a Marechal -de-Campo. Compunham seis divisões comandadas por Generais, sendo a9ª Brigada do Brigadeiro Bruce, embarcada na Esquadra. Ao todo 32.868 homens, organizados em 20 batalhões delinha, 28 de Voluntários da Pátria e 10 da Guarda Nacional. A Esquadra ainda obedecia ao Visconde de Tamandaré, quearvorava sua insígnia no Apa, sendo Manoel Barroso, feito Barão do Amazonas pelo glorioso dia em Riachuelo, seuchefe de estado-maior.Provocavam os paraguaios algumas investidas, com êxito variado, sobre os homens de vanguarda. Defendia oPasso da Pátria o Forte de Itapiru, auxiliado por c hatas. Os nossos navios procediam a diversos trabalhos dereconhecimento a fim de concluir qual o melhor local para a invasão. Procuram os paraguaios dificultar essas fainasempregando, sobretudo, a artilharia das chatas; por isso essa fase do início do an o de 1866 é conhecida como a "guerradas chatas". A 27 de março, uma bala conseguiu atingir a casamata do couraçado Tamandaré, matando e ferindo váriosde sua tripulação; o seu comandante, o Primeiro -Tenente Antônio Carlos de Mariz e Barros, veio a falecer de gangrena,na madrugada do dia seguinte.Ficou assente que o desembarque se processaria na margem esquerda do Rio Paraguai. Os aliadosdesembarcavam (16 de abril) em território inimigo após uma bem -sucedida operação de transporte em várias etapas.Osório foi o primeiro a pisar nele.Os ataques continuaram, sendo tomados o forte de Itapiru, o Passo da Pátria e Estero Bellaco. A batalhacampal de Tuiuti foi a mais notável da América do Sul.O ataque a Curuzu começou a 2 de setembro; às 14 horas, o enco uraçado Rio de Janeiro encostou em doistorpedos, morrendo afogados 53 homens de sua tripulação (salvou -se, a nado, o imediato, Primeiro-Tenente CustódioJosé de Mello, e mais alguns oficiais e 56 praças). No dia seguinte, a posição foi levada de assalto p elas forças doVisconde de Porto Alegre e a praça ocupada.López necessitava de tempo para refazer -se e concentrar suas forças no Sauce. Solicitou uma entrevista aoschefes aliados. A 12 de setembro, López e Mitre mantiveram uma conversação que durou cinc o horas. Polidoro não

compareceu; Flores permaneceu alguns instantes. Propôs López que se firmasse a paz, com a condição de permanecerno poder; Mitre não aceitou. Se o encontro não produziu uma paz, permitiu um ligeiro arrefecimento na investidaaliada, dando tempo aos paraguaios de reforçarem a defesa de Curupaiti.Depois de passarem alguns dias inativos por causa de fortes chuvas, os aliados atacaram Curupaiti no dia 22 desetembro (1866), defendida pelos seis mil homens do General José Díaz (herói naci onal do Paraguai). Compunha aforça de assédio de dez mil brasileiros e nove mil argentinos, sob a direção do General Mitre. A partir das 7 horas damanhã, o Almirante Tamandaré começou o bombardeio da praça. As 12:30, as tropas lançaram -se ao ataque, chegandoaté o primeiro fosso de defesa; entre 2:30 e 3 horas, Mitre ordenou a retirada pois acreditou ser impossível ultrapassar osegundo. Os aliados sofreram cinco mil baixas, sendo de 250 as dos que defendiam a fortificação.A perda em Curupaiti além de t er abatido o moral militar dos aliados produziu oposição interna nos países quecompunham a Aliança. O General Mitre retomou à Argentina para abafar distúrbios políticos. O General Flores retirou -se para Montevidéu, enfrentou dificuldades internas e veio a ser assassinado tempos depois (19/02/1868). O Viscondede Porto Alegre acampou em Curuzu. Cresceram as idéias de se acertar uma paz a qualquer preço.Nessa oportunidade, o mundo diplomático tomou conhecimento do texto do Tratado da Tríplice Aliança,mantido em segredo, obtido de Lettson, encarregado de negócios da Inglaterra em Montevidéu, graças à amizade quedesfrutava junto a Carlos de Castro, Ministro das Relações Exteriores do Uruguai. Remetido o texto ao Ministro Lorde154Russell, este o divulgou ao Pa rlamento inglês. Houve protestos do Peru, Bolívia, Chile e Equador. Os Estados Unidosofereciam seus bons ofícios para uma arbitragem, condição repelida pelo governo imperial.A opinião geral, no Brasil, pendia para colocar o Marquês de Caxias como comand ante de nossas forças. Mas,ocupava o poder o partido Liberal, e Caxias militava no Conservador, momentaneamente na oposição. Assim, ogabinete liberal, presidido por Zacarias de Góis, vencido pelas circunstâncias, decidiu -se pelo grande soldado; Zacariasdeliberou ir, pessoalmente, buscá -lo em sua casa, ouvindo do marquês ao aceitar a difícil incumbência: "Sou sobretudomilitar". A 10 de outubro, o Marquês de Caxias recebia a nomeação para o comando -em-chefe das forças brasileiras e apromoção ao posto de Marechal-de-Exército. Pouco depois, 3 de dezembro, o Chefe -de-Esquadra Joaquim José Ignáciorecebia o comando-em-chefe da esquadra. Adoentado, o Almirante Tamandaré retirava -se do teatro de operações (ogoverno reconheceu-lhe os méritos elevando-o a conde em 16/121867). Com Caxias retomavam à guerra Osório,comandante do 3º Corpo recém-criado, Argolo Ferrão, chefe de seu estado -maior, e o Coronel Miguel de Frias eVasconcelos. O marquês tomou posse, em Tuiuti, a 19 de novembro (1866), e Joaquim J. Ignácio a ssumiu o seucomando a 22 de dezembro; em janeiro era promovido a Vice -Almirante.Caxias encontrou os dois acampamentos, Tuiuti e Curuzu, em deplorável estado; a tropa mal nutrida, semuniformes, doente, amolecida por longa inércia, explorada por comercia ntes aproveitadores e mulheres de váriasprocedências. Chuvas intermitentes pioravam a situação de higiene. Sua atitude não poderia ser outra: fez reinar sobretodos uma disciplina férrea; solicitou novos armamentos: melhorou as comunicações precárias; exp lorou as posiçõesinimigas, utilizando um balão cativo que se elevava a 300m, ou pequenas torres de madeira (mangrulhos). O moral datropa recebeu particular atenção: mandou construir uma igreja e organizaram -se pequenos teatros e espetáculos dediversões. Esbarrou o esforço do grande chefe no cólera que atacou os acampamentos, onde, nos improvisadoshospitais, muito se distinguiu Ana Justina Ferreira Nery (modelo da enfermeira brasileira). Uma atenção especial foidada aos cavalos não só no recompletamento , mas na melhoria das rações.O Vice-Almirante Joaquim Ignácio estruturou a Esquadra em quatro divisões, escolhendo o Capitão -de-Mar-e-Guerra Elisiário Antonio dos Santos para seu chefe de estado -maior. Manteve as unidades sob o seu comando em

permanente atividade e conduziu pessoalmente diversos ataques a Curupaiti, enquanto o Marquês de Caxias completavaa sua reorganização.Ao mesmo tempo, o Arsenal de Marinha do Rio de janeiro ativava a construção de navios monitores de ferro,tipo que mais convinha para a guerra fluvial, modelo brasileiro desenhado por Napoleão Level e Carlos Braconnot,rasos com a água, calado mínimo, oferecendo pequeno alvo, espessa couraça e armados de poderoso canhão de 70mmem torre giratória elíptica. Desse mesmo arsenal provinh a todo o apoio logístico para a esquadra.E como havia uma certa possibilidade do Presidente da Bolívia, Mariano Melgarejo, unir -se ao ditador López,o governo imperial enviou o Deputado Filipe Lopes Netto à capital boliviana, em missão especial, resultan do desta aassinatura do Tratado de La Paz de Ayacucho (27/03/1867), que, se baseando em informações errôneas quanto àsnascentes do Rio Javari, firmava a fronteira entre os dois países praticamente no escuro.Com a melhoria de condições, Caxias iniciou em 22 de julho de 1867 a marcha de flanco com o objetivo decontornar a fortaleza de Humaitá, que se acreditava inexpugnável. Ao mesmo tempo, a Esquadra aprestava -se para oforçamento de Curupaiti. Arvorando seu pavilhão no encouraçado Brasil, o Vice -Almirante ordenou a passagem poressa fortaleza a 15 de agosto 1867. A operação durou cerca de duas horas; não deixaram os paraguaios, comandadospelo Coronel Paulíno Alende a dificultar com tiros certeiros. Coroada de êxito, apesar dos três mortos e 22 feridos(entre estes Elisiário Barbosa, que perdeu o braço esquerdo), permitiu que os navios da Esquadra fundeassem em vistade Humaitá e se iniciassem, nesse mesmo dia, as ações de guerra. Em reconhecimento, o imperador agraciou o Vice -Almirante com o título de Barão de Inhaúma (27/09/1867). Organizou -se um fundeadouro, chamado de Porto Elisiário,e, pela margem direita do rio, soldados do Batalhão Naval e dos Voluntários construíram um caminho até a embocadurado riacho Quiá, onde se encontrava a Esquadra de made ira. Depois, sobre ele, o Segundo-Tenente Luiz de PaulaMascarenhas dirigiu o assentamento de linha férrea com dormentes preparados no Arsenal de Marinha do Rio de janeiroe trilhos comprados em Montevidéu. Esta foi a artéria que supriu a Esquadra.Prosseguiam nossas tropas chegando a Taií a 2 de novembro. O General João Manuel Mena Barreto atacou osparaguaios comandados por Villamayor logrando apoderar -se da posição: meteu a pique o vapor Olimpo e uma chata eproduziu incêndio no vapor Vinte y Cinco de Mayo. Perdeu o inimigo 900 homens; suas comunicações entre Assunçãoe Humaítá se romperam.Decidiu o ditador López desfechar uma contra -ofensiva ao acampamento de Tuiuti onde se achavam 7.800brasileiros e 700 argentinos espalhados em diversas posições cuj as defesas se faziam prover. Mandou, assim, atacá -lopelo General Barrios, com nove mil homens, ao amanhecer de 3 de novembro, quase transformando esse ataque numavitória, não fosse a bravura de Porto Alegre, que apresentou enérgica reação, tomando, mesmo , a ofensiva. Já às 10horas da manhã os invasores empreendiam a fuga, deixando 2.227 mortos. As perdas aliadas atingiam a 294 mortos,1.316 feridos, sendo feito prisioneiros os componentes do batalhão do Major Cunha Matos.Em 14 de janeiro (1868), o Gene ral Mitre passou o comando-em-chefe ao Marquês de Caxias, Terminado oseu mandato presidencial, nesse ano, substituiu -o Domingos Sarmiento, que, não sendo militar, não pleiteou a direçãoda guerra.155A Passagem de Humaitá:Urgia transpor Humaitá, fortaleza defendida por 199 canhões (98 sobre o rio e 101 contra a terra), dominandouma apertada curva do Rio Paraguai, com 2.400m, cheia de bancos de areia e correntezas entrecruzadas. Três fileiras degrossas correntes bloqueavam a navegação. Durante seis m eses, Inhaúma bombardeou Humaitá e procurou, com tiroscerteiros, inutilizar as correntes, destruindo os três pontões de ferro e as canoas que as sustentavam; sem esse apoio

intermediário, as correntes cederam e afundaram no leito do rio. Chegavam, nesse m omento (1868), os novos monitores(Pará, Alagoas e Rio Grande), em comando do Capitão -de-Mar-e-Guerra Delphin Carlos de Carvalho.Achando o momento apropriado, por causa da elevação das águas, o Almirante (promovido a este posto a21/01/1868) determinou que parte da Esquadra, formando a Divisão Avançada, forçasse o passo, sob o comando domesmo Carlos de Carvalho, que içou seu pavilhão no Bahia. Seguiam -se os encouraçados Barroso e Tamandaré e ostrês monitores recém-chegados, atracados aos encouraçados po r bombordo. Madrugava o dia 19 de fevereiro de 1868.Sob intensa chuva de fogo e metralha os navios brasileiros enfrentaram a temível fortaleza. Do lado de terra, a artilhariado Exército maltratava Humaitá, desviando a atenção dos que a defendiam. Passava m os navios anunciando, porfoguetes, o êxito ao Almirante; só não o fizera o Alagoas, que, estraçalhada sua amarra de reboque por bala inimiga,retomara ao ponto de partida. ordenou, o Almirante, a seu comandante, o Primeiro -Tenente J. A. Cordovil Mauriti , quedesse fundo; mas este, fingindo não escutar, retornou a sua trajetória e, sozinho, ultrapassou Humaitá. O imperadoragraciou a Carlos de Carvalho com o título de Barão da Passagem e elevou o de Inhaúrna a Visconde com grandeza(23/03/1868), promovendo, por bravura, diversos oficiais.Esse grandioso evento militar decidiu o destino da guerra e consagrou as forças navais brasileiras. Na verdade,ninguém o julgava possível.No mesmo dia, Caxias tornava o forte estabelecimento ou reduto Cierva, apesar d a heróica resistência. Lópezabandonou Humaitá, navegando, em canoas, sorrateiramente, rio acima. Na madrugada de 23, o Chefe -de-DivisãoTorres e Alvim atacou os navios paraguaios Igurei e Taquari que foram ao fundo do rio. Acabaram abandonando,também, Humaitá, a 25 de julho, depois de inutilizar as peças que não podiam transportar. Caxias ocupou Humaitá eaproveitou essa fortaleza para nela estabelecer uma base de operações.O exército paraguaio, ou, pelo menos, o que dele restava, retirou -se pelo Chaco, organizando fortificações emS. Fernando, às margens do Tebiquari. O Barão da Passagem ordenou ao Capitão -Tenente Antônio Luiz von HoonhoItz(depois Barão de Teffé), comandante do Bahia, para investir sobre o passo do Tebiquari, onde se sabia existir umaamarra fechando o rio e canhões a defendê -la. A 24/07/1868, o encouraçado enfrentou o passo, arremetendo sobre aamarra e destruindo a extremidade que a fixava, com tiros de seus canhões, sofrendo, porém, várias avarias em suacouraça. O Marechal Caxias pr osseguiu a marcha no encalço de López, avançando ao longo da margem esquerda doRio Paraguai; mas o ditador havia se transferido para o norte do Rio Piquiciri, preferindo aparar a invasão nasfortificações que erguera nesse local.O Visconde de Inhaúma determinava, a 1º de outubro, que a divisão do Barão da Passagem forçasse as bateriasde Angostura. Convenceu-se Caxias que não devia atacar frontalmente os 9krn de fortificações do Piquiciri: imaginouum desbordamento a fim de envolver os paraguaios. Com es sa opção, tornava-se necessário enfrentar o Chaco, regiãoalagadiça e de difícil acesso, na qual se impunha a abertura de uma estrada. A Esquadra dominava o rio, dando apoiologístico ao ousado empreendimento, forçando e ultrapassando várias vezes.López recebera reforços, ficando com 7.600 homens. Os brasileiros, também reforçados, contavam com 15.984homens. Caxias dirigiu o ataque a Itá -lbaté no dia 27. Apesar da resistência paraguaia, López foi completamentederrotado, conseguindo, porém, fugir. Os ali ados conquistaram a colina. No seu quartel -general, em Itá-lbaté, Lópezhavia mandado executar, no dia 21, diversas pessoas, sob a acusação de conspirarem contra o seu governo; entre osmortos, seu irmão Benigno, seu cunhado, o General Barrios, o Ministro Borges, o cônsul português Leite Pereira, oBispo de Assunção, D. Manoel Antonio Palácios, e o armador italiano Simão Fidanza. A fortaleza de Angostura rendeu -se no dia 30.Por fim, a entrada em Assunção, completamente deserta, a 5 de janeiro (1869). Caxi as mandou, em seguida,ocupar Luque, a mais importante cidade depois da capital. Sentia -se doente; sofreu, mesmo, um desmaio em plenoofício religioso, resultado certo da estafa em que se encontrava. Retirou -se para o Rio de janeiro por estar sua saúde

abalada. Ficou, interinamente, no comando, o Marechal Guilherme Xavier de Souza. Recebeu, o Marquês de Caxias,pelos seus méritos, do imperador, o título de duque (23/03/1869) e a Grã -Cruz da Ordem de Pedro I, jamais concedidafora da família imperial, e do p ovo, a consagração e o reconhecimento perenes. O Visconde de Inhaúma tambémretornava à Corte, muito doente, falecendo em seguida (08/03/1869); substituiu -o, no comando da Esquadra, o Chefe -de-Divisão Barão da Passagem.López retirara-se para a cordilheira do Ascurra com o que sobrara de seu exército. Precisava -se de umcapacitado militar para enfrentar o momento, necessariamente final, mas difícil e complexo. O imperador escolheu oConde d'Eu, com isso desejando atrair a simpatia dos brasileiros por seu g enro. Chegando a Assunção a 14 de abril(1869), dois dias depois assumia o seu comando, Contou coma participação de Osório, Polidoro, Correia da Câmara eoutros distintos militares. A Esquadra passou ao mando do Barão de Angra, Elisiário Antonio dos Santos , quedeterminou o reconhecimento do Rio Manduvirá, onde se ocultavam barcos inimigos. O apoio logístico às tropas deterra mantinha a Esquadra em plena atividade.Os primeiros encontros com Solano Lopez se travaram a 4 de agosto, com o bravo Osório na li derança; a 6iniciou-se a subida da cordilheira. Aproximaram-se de Peribebuí (dia 10), engajando combate dois dias depois, onde os156paraguaios tiveram perto de 700 mortos, entre estes o seu comandante, o Tenente -Coronel Pablo Caballero, caindo,ainda, 1.100 prisioneiros. As baixas aliadas subiram a 557 homens, incluindo o General João Manuel Mena Barreto.Seguiu-se o combate de Campo Grande ao qual se encontrava presente o Conde d'Eu; o General BernardinoCaballero, que defendia a posição, perdeu dois mil militares, um mil extraviados, ficando 1.300 prisioneiros, entre osquais expressivo número de jovens entre 15 e 16 anos compelidos pelo governo à luta. O avanço brasileiro resultou emdesalento para López, que decidiu destruir os últimos navios de sua esqu adra, incendiando-os (eram eles: Iporá, Salto deGuará, Rio-Apa, Pirabebé. Anhambaí este brasileiro, e Paraná).A 20 de setembro, o General Resin (argentino) ocupou a povoação de S. Joaquim. Prosseguindo na captura deLópez, o Conde d'Eu chegou a S. Estan islau (13 de outubro) e estabeleceu o seu quartel -general em Potrero Capivari.Em marcha penosa, López subiu a Serra de Maracaiu e acampou em Cerro -Corá; havia a possibilidade que se asilassena Bolívia, e, por isso, o Coronel Hermes da Fonseca recebeu a m issão de estacionar em Corumbá. Outro combate, a21, em Potrero Recalde: o Coronel Carlos de Oliveira Neri derrotou uma coluna de mais de 400 paraguaiosextenuados.Em Cerro-Corá, à margem esquerda do Aquidabanigui, López e o milhar de homens que ainda o acompanhavaforam surpreendidos pelo 9º Batalhão de Infantaria. Após a batalha, López tentou fugir, mas foi perseguido e morto.O governo provisório do Paraguai assinou a rendição e um tratado preliminar de paz com o conde D’Eu. Essetratado, por imposição do conde, continha a abolição da escravatura no Paraguai.A Argentina não concordou com o tratado assinado com o Brasil, pois a diplomacia brasileira não determinoua demarcação de fronteiras pelos países vencedores. A Argentina com isso invadiu territó rios paraguaios, e o Brasil fezum acordo em separado com a Paraguai.Em janeiro de 1872, através de quatro tratados: um de paz, um de limites, um de amizade, comércio enavegação e, o último, de entrega de criminosos e desertores.A atitude brasileira produziu grande celeuma na imprensa argentina, que atacou o Império, provocandorelações diplomáticas tensas. Acusaram, os argentinos, de querer o Império estabelecer um protetorado sobre oParaguai. Coube ao Presidente Sarmiento a iniciativa de aliviar ess a tensão: incumbiu o General Mitre de visitar o Riode janeiro, como enviado especial, havendo recepção condigna, firmando -se um acordo em clima de harmonia.Somente a 3 de fevereiro de 1876, as nações da Tríplice Aliança celebraram um conjunto de três tr atados: oprimeiro de paz, o segundo de limites e amizade e o terceiro de comércio e navegação. Mas a questão de fronteiras entre

o Paraguai e a Argentina só encontrou solução a 12 de novembro de 1878, por arbitragem do Presidente dos EstadosUnidos, Rutherford Hayes, que atribuiu ao Paraguai a posse do Chaco e da Vila Ocidental, garantindo a vitória dadiplomacia brasileira.A divida de guerra, exigida pelo governo imperial, como indenização, nunca pôde ser paga, resolvendo oPresidente Getúlio Vargas ext ingui-la (decreto de 04/05/1953), por ocasião da visita do Presidente do Paraguai, GeneralHigino Morinigo, ao Brasil.Política de Fronteiras:As nossas fronteiras com a República Argentina eram imprecisas quanto à região das Missões ou de Palmas,em verdade colonizada por brasileiros criadores de gado. O governo imperial tomou a iniciativa de demarcá -la, em1857; acertado um tratado, em dezembro, não recebeu o mesmo ratificação. A guerra contra o governo de Solano Lópeznão permitiu retomar o assunto. Voltou à carga o Ministro argentino Irigoyen, em 1876, sem que o Império aceitassesuas propostas. Novas negociações se abriram em 1889, concluindo, ambas as partes, submeter a questão aoarbitramento do presidente norte -americano, acordo assinado em Buen os Aires, a 7 de setembro de 1889.A questão com a Guiana Francesa originou -se com a descoberta de ouro na área, questionando, os franceses, aque rio se daria o nome de Oiapoque. Aproveitando a instabilidade política decorrente da Cabanagem, os francesescriaram um posto militar às margens do Lago Amapá, nada valendo os nossos protestos (1835).A interferência inglesa permitiu a retirada desse posto. Em dezembro de 1854, o Império enviou o Visconde deUruguai, em missão especial, ao governo de Napoleão I II. O nosso representante investigou os arquivos lisboetas e, emParis, consultou a Biblioteca da Marinha e Colônias e a Biblioteca Imperial. A 15 de junho (1855), concluía a suaMemória sobre os direitos do Brasil, conferenciando 15 vezes com His de Buten val, encarregado do Império francês,pelo espaço de seis meses, sem resultados positivos, apenas se concordou em uma exploração conjunta da região; ogoverno brasileiro designou o Capitão -Tenente José da Costa Azevedo (tempos depois recebeu o título de Bar ão doLadário), que deu excelente desempenho à sua missão. Mas o governo francês não indicou ninguém. Em 1862, umacordo determinou onde deviam ser julgados os crimes cometidos no Amapá. Esse modus vivendi não tranqüilizou aregião; por isso, um geógrafo f rancês, Jules Gros, fundou, em 1886, a República do Cunani, com diversos atributos deuma nova nação, mas de duração efêmera.As agitações causadas por Schomburgk na fronteira com a Guiana Inglesa mereceram resposta do nossogoverno a 08/01/1842, propondo que a região contestada recebesse declaração de neutralidade. As tentativas que seseguiram (1843) do nosso Ministro em Paris, Araújo Ribeiro, e as do Barão de Penedo, em 1888, não surtiram resultadoalgum.A mais complexa dessas questões, a do Acre, env olvia a Bolívia e o Peru. Ocupado por brasileiros desde aépoca colonial, o Acre globalizava uma área que não nos pertencia. A Bolívia enviou ao Rio de janeiro, em 1834, aMissão Mariano Armaza, na tentativa de encontrar uma solução, sem obter resultados. A necessidade de se evitar que aBolívia participasse da Guerra da Tríplice Aliança, em favor de Solano López, conduziu o governo imperial a franquear157a navegação do Amazonas e outros rios (1866) e a mandar, àquele país, o Deputado Filipe Lopes Netto, em f evereiro de1867. Recebido pelo ditador Mariano Melgarejo, concluiu, em 27 de março, o Tratado de La Paz de Ayacucho, baseadono Mapa da Linha Verde, elaborado sete anos antes por Duarte da Ponte Ribeiro, errôneo quanto às nascentes do RioJavari, que se tomava por um dos pontos da linha imaginária de fronteira. Continuaram a entrar brasileiros no Acre,interessados, a partir dessa época, na borracha oriunda do caucho.A verdadeira posição das nascentes do Rio Javari só pôde ser demarcada em 1874, graças à comissão mistaconstituída pelo Capitão-de-Fragata Antônio Luis von Hoonholtz (pelo Brasil) e Capitão -de-Fragata D. GuilhermoBlack (pelo Peru). Em razão de seus notáveis feitos como demarcador, o monarca concedeu ao nosso representante o

título de Barão de Teffé.Com o Uruguai, celebraram-se tratados, em 12 de outubro de 1851, já citados; concluiu -se acordo dois anosdepois, com a República de Nova Granada; em 1859, com a Venezuela; e, em 1874, com o Peru.Variante de raça e língua no continente sul -americano, o Brasil foi visto, com hostilidade, por seus vizinhos,que achavam ser a forma imperial de governo uma flor exótica. Resolveram os Estados Unidos empunhar a bandeira desolidariedade americana.As agradáveis sugestões de boa convivência entre os povos americanos não impediram a cobiça da naçãonorte-americana sobre a Amazônia. Esta seria ocupada por colonos e escravos provenientes dos estados sulinos e sededicariam à produção da borracha e do algodão. A campanha foi liderada, a partir de 1850, pe lo Tenente da MarinhaMattew Maury com apoio velado do governo de Washington, que enviou instruções sigilosas ao seu representante noRio de Janeiro, William Trousdale. Foi, então, montada uma política agressiva junto aos governos dos países quebordejam a Amazônia brasileira e se programaram expedições corsárias que teriam por objetivo iniciar o processo dedomínio da área. A estratégia brasileira, tão logo o governo percebeu as manipulações de Maury, consistiu em fazerfracassar a ousada atitude de Trousdale, ao mesmo tempo em que estruturava uma ação diplomática e jurídica a respeitodo direito dos rios; para isso, visando a fortalecer o Amazonas, apoiou a iniciativa do Barão de Mauá em criar umaCompanhia de Navegação e Comércio do Amazonas em 1852.Para minimizar a ação norte -americana, o governo enviou a diplomacia brasileira, agindo com habilidade, mastambém com coragem, colocou a importância o comércio bilateral entre os dois países; e como os Estados Unidos já seencaminhavam para o conflito civil , a proposta de Maury começou a se esvaziar. Entretanto, nossos estadistasconcluíram que o Brasil devia ceder de alguma parte, por isso, ouvido o Conselho de Estado, e para envolver a Bolívia,atraindo-a para a nossa esfera, decidiu -se fazer a abertura da navegação do Rio Amazonas. Foi um passo tambémimportante na questão do Paraguai.A Situação Militar Durante o Segundo Reinado:Não sendo o nosso segundo imperador um militar de espírito e prosseguindo o nosso país na situação deeconomia agrícola, não pudemos absorver as novidades da arte militar, conseqüência da industrialização da máquina avapor e da siderurgia.Em 1842, o Exército passou por uma reforma: ouve reorganização administrativas das forças. Os oficiaisficaram classificados em quatro cat egorias: efetivos, agregados, avulsos e reformados. Havia, porém, demasiado tempode interstício entre os postos, sendo o de capitão o que maior demora ocorria. A preocupação com o aperfeiçoamento dainstrução conduziu o governo a criar a comissões para ad estrar a tropa, adotando os modelos franceses e ingleses dearmas..O recrutamento continuava a ser um problema grave. O sistema usado utilizava o voluntário ou o recrutaforçado, afluindo aos quartéis os elementos menos recomendáveis da população. A exig üidade do soldo não atraía osjovens e de nada adiantavam as recompensas em dinheiro como compensação. Por isso, o governo contratou milmercenários alemães, principalmente para prover a campanha contra os farrapos. As mesmas dificuldades pecuniáriasatingiram os que conquistavam o oficialato, elementos que viviam de seus soldos, integrando uma classe média dapopulação. Uma lei de 6 de setembro de 1850 revolucionou a estrutura do corpo de oficiais, atribuindo aos portadoresde diploma da Academia Militar privilégios em relação aos que não o possuíssem, bem como estabeleceu requisitos deidade para o progresso na carreira. Isso representou grande avanço nas idéias militares da época.A Marinha possuía menos efetivo que o Exército. Os oficiais estavam dividi dos em armada, náutica, artilharia,cirurgiões (que formavam o Corpo de Saúde), capelães e fazendários, este organizado a 30 de junho de 1857. O Corpode Artilharia, cujas origens remontam a 1797, com o nome de Brigada Real de Marinha, recebeu, em 1847, o nome de

fuzileiros navais, alterando essa denominação, em 1852, para Batalhão Naval. Em decorrência do uso do vapor, nasceuo Corpo de Maquinistas, a 11 de julho de 1857. Os uniformes, mescla das tradições portuguesa e inglesa, apresentavam -se regulados por dois decretos: um, de 13/12/1842, e outro de 04/10/1856, com algumas modificações em 1863.O recrutamento mostrava-se tão ruim quanto no Exército: aliciavam-se menores órfãos e desvalidos, bem comorapazes desocupados. Recebeu definitiva organização o C orpo de imperiais marinheiros em 1845, mas, somente em1861, ficou fixado em 24 o número de companhias.A maior parte dos nossos navios provinha de estaleiros estrangeiros, empregando o sistema duplo de vapor evelas com casco de madeira. Citemos as corve tas Niterói e Berenice, as fragatas D. Afonso e Amazonas, com páslaterais, Os primeiros navios a utilizarem o hélice foram as corvetas Magé, Beberibe, Viamão e Jequitinhonha,compradas na Inglaterra em 1853. De 1857 a 1858, recebemos 12 canhoneiras encome ndadas a Miers & Hastor,Inglaterra (Araguaia, Araguari, Anhambaí, Ibicuí, Ivaí, Iguatemi, Itajaí Tramandaí, Mearim e Tietê) e aos estaleirosNormand, no Havre (Belmonte e Parnaíba), próprias para a navegação nos rios da Bacia Platina. Vários navios também158saíam dos Arsenais de Marinha nacionais (Rio de janeiro, Bahia, Pernambuco e Pará), assinalando -se as corvetasBahiana e Imperial Marinheiro. Nos estaleiros da Ponta da Areia, Niterói, executou -se os vapores Recife, D. Pedro II eParaná e a canhoneira Taquari.Entretanto, a Marinha estava despreparada para uma guerra por falta de navios encouraçados e de outros quepudessem atuar em águas rasas. As grandes transformações da técnica naval apanharam -na desprevenida. O MinistroJoaquim Raimundo de Lamare ainda teve tempo de encomendar à Societé Nouvelle des Forges et Chantiers de laMediterranée a confecção do encouraçado Brasil, que entrou em serviço a 29 de julho de 1865, quando chegou ao Riode janeiro.Relatório de 1864 informa: havia 2.787 praças, 602 o ficiais e 42 navios, 13 a vela e 29 a vapor, com 239canhões no total.Repercutiram, nos meios militares, os ensinamentos da longa campanha paraguaia, refletindo -se as novascondições de material decorrentes da Revolução Industrial, estas muito significat ivas. Brotou um sentimento de unidadecooperativa e de amargura para com os civis que apenas souberam enumerar críticas durante a guerra.A despreocupação governamental com os assuntos militares provocou o abandono da classe; a maioria daoficialidade voltou-se para a rotina profissional, enquanto alguns se envolveram na fermentação política. O efetivodecaiu para 15.000 homens, em 1880, oscilando entre 11.000 e 13.000, na última década do império. Em 1889,contavam-se trinta batalhões de infantaria e dez regimentos de Cavalaria. Continuavam, as Forças Armadas, a seremvistas como instituições dispensáveis.Em 1871, criou-se uma comissão de promoções, composta de quatro generais; extinta em 1878 e restabelecidaem 1880. Mas o problema dos montepios não enc ontrou solução satisfatória, permanecendo ao desamparo as famíliasde mortos e inválidos.Cuidou-se, também, do recrutamento, chegando -se, pela Lei de 26 de outubro de 1874, a regulamentar oalistamento obrigatório e o sorteio para o preenchimento das fil eiras; contudo, essa lei não teve aplicação prática dada àfalta de espírito cívico em nosso País, aliado ao tratamento desumano que se dispensava ao recruta. Os chefesalmejavam uma tropa de homens instruídos e profissionalmente dotados. Muitos militares passaram a ver na imediataextinção da escravatura um fator positivo capaz de prodigalizar para uma expressiva parte da população um lugar nasfileiras, isto é, uma oportunidade nova de vida.Velhos generais, vultos gloriosos de Caxias, Osório e Porto Ale gre, morriam, deixando em seu lugar homensmais jovens e menos leais à Monarquia. Esses redigiram O Soldado e a Tribuna Militar, apontando falhas, procurandosoluções.O Positivismo penetrou decisivamente nas cabeças jovens do Exército, contribuindo para o alastramento dasidéias republicanas e a subestimação da História.

A situação da Marinha não apresentou as mesmas tendências do Exército. Tendo em vista sua própriaorganização e a presença marcante de jovens egressos das famílias aristocráticas, a Mari nha não se impressionou pelastendências positivistas, nem desempenhou papel destacado nas questões militares e abolicionistas que tumultuaram opanorama político após a Guerra da Tríplice Aliança.Apesar da política antibelicista do Governo, a administra ção naval contratou em estaleiros franceses, em 1874,a construção dos monitores Solimões e Javari, enquanto outros menores navios se executavam em estaleiros nacionais.Depois, em 1884, adquiriu na Inglaterra os encouraçados Riachuelo e Aquidaban. Na admi nistração notamos umacréscimo; em 1875, o governo criou a Repartição de Hidrografia, sendo seu primeiro diretor o Barão de Teffé.O Ensino Militar:A Academia de Marinha, principal organismo de formação do oficial, funcionava, inicialmente, a bordo da nauPedro II, ainda regida pelos estatutos portugueses. Em 1849, passou a ocupar o prédio do Largo da Prainha (atual PraçaMauá, no Rio de janeiro, onde se encontra o prédio que pertenceu ao jornal A Noite). Reestruturada por grande reforma,em 1858, recebeu a denominação de Escola de Marinha, adaptando seus currículos à nova era da propulsão a vapor. Em1º de julho de 1867, foi transferida para bordo da fragata Constituição.Visando a proporcionar aos jovens melhores condições de ingresso na Escola, o gov erno criou, a 17/01/1871, oExternato da Marinha, instalado a 14 de julho, em prédio do Arsenal, ainda hoje existente (ocupado pela Diretoria deEnsino). Viveu o externato até 1876, constituindo uma experiência. A 28 de dezembro (1876), a administração nav alinstituía o Colégio Naval, com curso de três anos e a mesma sede do externato. A enorme despesa que onerava àdotação acarretou a sua extinção, dez anos depois, anexado à Escola de Marinha que, reestruturada, recebeu o nome deEscola Naval; seu currículo, de três anos, completava-se com um ano de especialização e uma viagem de longo curso abordo de navio de guerra.A primeira Escola de Aprendizes Marinheiros passou a funcionar em 1840, no Rio de janeiro; demonstrada asua validade, o governo criou mais duas, em 1857, em Pernambuco e Santa Catarina, seguindo -se a do Espírito Santo,em 1862, e a de Fortaleza, em 1864. Estavam, portanto, sendo dados os primeiros passos para o aprimoramento domarujo, conhecido na gíria de bordo como "quinca".159As Questões da Queda do Trono:A partir da década de 1870, começou a surgir uma série de sintomas de crise no Segundo Reinado, como oinicio do movimento republicano e os atritos do governo imperial com o Exército (questão militar) e a Igreja (questãoreligiosa – do beneplácito e do padroado). Além disso, o encaminhamento do problema da escravidão provocoudesgastes nas relações entre o Estado e suas bases sociais de apoio (questão sócio -econômica). Esses fatores nãotiveram um peso igual na queda do regime monár quico, explicável por um conjunto de razões onde estão presentes astransformações socioeconômicas, que deram origem a novos grupos sociais, e a receptividade às idéias de reforma.A extinção da escravatura foi encaminhada por etapas até o final, em 1888. A maior controvérsia quanto àsmedidas legais não ocorreu em 1888, mas quando o governo imperial propôs a chamada Lei do Ventre Livre, em 1871.A proposta declarava de condição livre os filhos de mulher escrava nascidos após a lei, os quais ficariam em po der dossenhores de suas mães até a idade de oito anos. A partir dessa idade, os senhores podiam optar entre receber do Estadouma indenização ou utilizar os serviços do menor até ele completar 21 anos.O projeto partiu de um gabinete conservador, presidi do pelo visconde do Rio Branco, arrebatando desse modoa bandeira do abolicionismo das mãos dos liberais.A partir da década de 1880 o movimento abolicionista ganhou força, com a aparição de associações, jornais e oavanço da propaganda em geral. Pessoas de condição social e percepções diversas participaram das campanhas

abolicionistas. Entre várias figuras de elite destacou -se Joaquim Nabuco, importante parlamentar e escritor, oriundo deuma família de políticos e grandes proprietários rurais de Pernambuc o. Negros e mestiços de origem pobre, como Josédo Patrocínio (Patrocínio era filho de um padre fazendeiro e dono de escravos com uma escrava de ganho que vendiafrutas), André Rebouças (engenheiro) e Luís Gama (ex -escravo, escritor de jornais e poesias, a dvogado autodidata),foram também figuras centrais do abolicionismo.A abolição chegou pela mão da princesa Isabel em 1888, aproveitando a ausência de D. Pedro II que estava naEuropa cuidando da saúde.Apesar das variações de acordo com as diferentes r egiões do país, a abolição da escravatura não eliminou oproblema do negro. A opção pelo trabalhador imigrante nas áreas regionais mais dinâmicas da economia e as escassasoportunidades abertas ao ex-escravo em outras áreas resultaram em uma profunda desig ualdade social da populaçãonegra.Questões Militares:Na verdade, não existiu uma questão militar, mas pequenos incidentes os quais não alcançavam justificativapara proporcionarem os fatos tão graves que se seguiram. O que parece realmente importar f oi o estado deincompreensão entre o Exército e a elite dirigente.As intervenções no Prata e a Guerra da Tríplice Aliança demonstraram ser necessárias uma força armada maisnumerosa, composta de elementos do povo, e cobriram de glórias aos que briosamen te defenderam a Pátria. Formou-se,então, uma mentalidade militar ciosa de suas responsabilidades, e, principalmente no Exército, a juventude militarabsorveu as teorias filosóficas de Augusto Comte, tornando -se francamente positivista, o que equivale a di zerrepublicana. Defenderam a tese do que podia manifestar livremente seu pensamento e fazer críticas pela imprensa.Esses militares aspiravam uma posição social e política melhor, aperfeiçoamento profissional adequado, desenvolvendoum sentimento de desprezo pelos "casacas", isto é, os civis, que ocupavam os cargos administrativos e manobravam ogoverno. O imperador não se identificara com o militarismo, nem mesmo durante as guerras externas, demonstrandocerta indiferença que provocou a penúria na década de 1870 a 1880.A visão dos militares, se bem que correta sob o ponto de vista da Defesa Nacional, desconsiderava que oesforço de guerra debilitara as finanças e abandonara outros setores do País que, àquele momento, precisavam seratendidos.Para os militares, o organismo social e político adoecera. Tornava -se necessário saneá-lo, surgindo, entre osmais jovens, a certeza de que se depositava em suas mãos a responsabilidade de alterar e reformar a Nação. Da França,vinha a inspiração "boulanguista": o General Boulanger reavivava o nacionalismo; e, dos Estados Unidos, a experiênciade republicanismo, com êxito. E a propaganda abolicionista apaixonava os "cadetes filósofos" da Escola Militar, osquais, irmanando-se aos jovens oficiais científicos, aceitavam a liderança do Tenente -Coronel Benjamim ConstantBotelho de Magalhães, professor de matemática da mesma Escola Militar e positivista convicto. Os oficiais maisvelhos, trilhando a via hierárquica, optaram pelas venerandas figuras do liberal Tenente -General José Antônio Correa daCâmara, Visconde de Pelotas, e do conservador Marechal Deodoro da Fonseca, os quais não souberam conter ashostilidades que se avolumavam.O primeiro incidente verificou-se tendo como personagem central o Tenente -Coronel Alexandre Augusto FriasVilar, em 1882, que solicitou reforma por não se conformar com a ordem de transferência para o Rio Grande do Sul,alegando moléstia. Uma junta médica declarou -o doente, mas apto para viajar; antes de solicitar reforma, Frias Vilaresteve preso na Fortaleza de Santa Cruz e, possivelmente, tenha sido esta a razão do pedido de reforma.Em 1883, o conselheiro Visconde de Paranaguá apresentou à Câmara um projeto de montepio militar e civil,contribuição obrigatória que a maioria repudiou, pois p rejudicava os vencimentos. Manifestou -se contrário a esseprojeto o Tenente-Coronel Antônio de Senna Madureira com tal veemência, em vários artigos no jornal do Commércio,

que o mesmo caiu no esquecimento, sem gerar conseqüências.160Tornou-se Senna Madureira apaixonado abolicionista e, estando em comando da Escola de Tiro de CampoGrande (Realengo, RJ), recebeu, aparatosamente, o jangadeiro Francisco do Nascimento, herói da Abolição no Ceará,assim desrespeitando ordens do Ajudante -General do Exército, Manoel Antônio da Fonseca Costa, Marquês da Gávea.Demitiu-o do comando o Ministro da Guerra, Deputado Felipe Franco de Sá, repreendendo -o pela atitude. Mas tarde,criticado no Senado pelo mesmo Franco de Sá, Senna Madureira, que ocupava a direção da Escola de Tiro do Rio Pardo(Rio Grande do Sul), defendeu-se com inflamado artigo publicado no jornal A Federação, de 16/08/1886, órgãorepublicano fundado por Júlio de Castilhos, recebendo apoio de Deodoro da Fonseca, vice -presidente e comandante dearmas da Província do Rio Grande do Sul. Com esta atitude, Deodoro colocou -se como líder do movimento.Repreendido, Madureira pediu demissão do cargo, protestando publicamente. No mesmo jornal, o Visconde de Pelotasestampava carta de solidariedade.Outro incidente envolveu o Tenente-Coronel Ernesto Cunha Matos (junho de 1886), atacado, na Câmara, peloDeputado Simplício Coelho de Resende, por ter punido o Capitão Pedro José de Lima, quando de sua inspeção no Piauí.Defendeu-se o oficial pela imprensa. Foi punido pelo Ministro da Guerra, Alfredo Chaves, com prisão de 48 horas. Ofato alcançou ampla repercussão; da tribuna do Senado o Visconde de Pelotas o defendeu.Graças à ação pessoal do Barão de Cotegipe, chefe do Gabinete (de 20 de agosto de 1885 a 10 de março de1888), amigo pessoal de Deodoro, a pressão política existente aliviou. Tentou o barão contemporizar, emcorrespondência particular mantida com Deodoro; tudo, porém, não passou de paliativo.O marechal pediu exoneração de seu cargo no Sul e viajou para a Cor te, aonde, ao chegar, encontrou recepçãocalorosa, recebendo a comissão de quartel -mestre-general. Afeiçoado aos seus camaradas, desejava a anulação daspenas disciplinares impostas pelo governo aos dois militares citados. Ouvido o Conselho Supremo Militar , este opinouque os militares podiam ter acesso à imprensa, mas não aconselhava a discussão entre militares sobre objeto de serviço;assim sendo, as punições haviam sido injustas.A 2 de fevereiro de 1887, reuniram-se duzentos oficiais da guarnição da Co rte, sob a presidência de Deodoroda Fonseca, no Teatro Recreio Dramático (já demolido), a fim de acordarem sobre a atitude da classe. Concluiu -se queDeodoro escreveria uma carta de apelo ao imperador, a qual, executada no dia seguinte e entregue a 5, fic ou semresposta, perdendo o marechal a sua comissão, o que o levou a escrever segunda carta, em 12 de fevereiro, também semresposta.Resolveu-se, então, redigir um manifesto, dele se incumbindo o conselheiro Manuel Dantas, tarefa que passoupara o seu assessor Rui Barbosa, o qual, dirigido ao Parlamento e à Nação, com data de 14 de maio de 1887, vinhaassinado por Deodoro e o Visconde de Pelotas. Tomou a iniciativa o Senado (por proposta do Senador General Gasparda Silveira Martins), para dirimir o impas se, convidando o Ministério a declarar sem efeito as notas punitivas. AcedeuCotegipe, acrescentando que saíra com arranhões na dignidade (20/05/1887).A conscientização de um espírito de classe permitiu a fundação do Clube Naval, em 1884 (a 12 de abril), emprédio do Largo do Rossio nº 43 (hoje Praça Tiradentes; o prédio não mais existe), graças ao lúcido espírito do Capitão -de-Mar-e-Guerra Luiz Phelippe de Saldanha da Gama. Mas os jovens oficiais do Exército, à frente Tomás Cavalcanti,pensavam numa entidade mais ampla. Algumas reuniões prévias ocorreram no Clube Naval e na casa de SerzedeloCorreia, entusiasta da idéia, na Rua da Passagem, na Corte, Uma reunião definitiva se fez, a 2 de junho (1887), na casade Serzedelo, fundando-se, a 26, o Clube Militar, em dependências do Clube Naval. Seu primeiro presidente: oMarechal Deodoro da Fonseca.Logo depois, a prisão do Capitão-Tenente Antônio José Leite Lobo por soldados do Corpo policial

(28/02/1888) na Rua do Hospício (hoje Buenos Aires) e os maus -tratos que o oficial recebeu na estação policial,provocaram grave conflito urbano entre o Corpo e marujos, a 1º de março, repetindo -se nos dois dias seguintes.Determinou o governo que o Corpo policial se recolhesse aos quartéis, ficando o policiamento urbano a cargo dasunidades do Exército sediadas no Rio de janeiro. O inquérito apurou a responsabilidade do alferes de polícia HenriqueJosé Rodrigues Batista, sendo, por isso, demitido. A Regente Princesa Isabel também insistiu na substituição do chefede Polícia, o que não concordou o Barão de Cotegipe (ainda na chefia do Gabinete), provocando a sua queda.Com a intenção de evitar que os cadetes da Escola Militar fossem receber Lopes Trovão 26, que regressava daEuropa (04/11/1888), o Ministro da Guerra, Tomás C oelho, programou visita à Escola para esse dia; ficou clara a suaatitude, pois era um domingo. Entraram alguns cadetes em acordo para darem vivas à República, certos de que osdemais os seguiriam. Falho o plano, irritou -se o aluno Euclides da Cunha, que s argenteava um pelotão, tirando o sabredo cinturão e o jogando ao chão. Desligado, esteve preso na Fortaleza de Santa Cruz, liberado por ato do imperador(voltou, depois, à Escola, reformando-se em 1896, 1º Tenente de Infantaria).Nesse mesmo mês de novembro de 1888, um incidente grave ocorria em São Paulo, envolvendo soldados dapolícia e do Batalhão de Infantaria do Exército. Dirigiu -se o chefe de Polícia ao quartel do batalhão e, com palavrasásperas, reprovou o procedimento diante de vários oficiais. D isso se fez grande alarde, exigindo os militares a demissãodo descortês Chefe de Polícia, que, aliás, se verificou, produzindo o caso grande irritação na classe.A possibilidade de uma guerra entre a Bolívia e o Paraguai (janeiro de 1889) conduziu o gove rno a destacardois batalhões para Mato Grosso, a fim de reforçar a guarnição local; em comando, o Marechal Deodoro da Fonseca. Aescolha, que poderia equivaler tanto a uma prova de confiança como a intenção de afastar o líder da Corte, suscitou26 José Lopes da Silva Trovão, nascido 23/05/1848, natural de Angra dos Reis - RJ, foi um profundo defensor dorepublicanismo. De formação acadêmica em medicina, foi jornalista, diplomata, deputado federal. Chegou ao cargo desenador durante o fim do Império, conservando o cargo nos primeiros anos da Rep ública.161polêmicas e reparos. Apressou-se o imperador em conceder ao ínclito General Severiano da Fonseca, irmão deDeodoro, o título de Barão das Alagoas, que pouco efeito alcançou.Essas questões militares adicionaram, assim, relevante importância ao ambiente da época, pr oduzindo umestado de incompreensão entre o Exército e as classes dirigentes, constituindo a dinâmica que tornaria realidade a quedado Trono.Vejamos, ainda, o posicionamento da oficialidade naval a todos esses acontecimentos que inquietavam oExército. Existiam vários oficiais que simpatizam com o regime republicano. Mas o devotamento à Monarquiaapresentava-se mais nítido do que no Exército. A razão residia em que os jovens que procuravam a carreira do marprocediam da aristocracia, de famílias abastada s, capazes de sustentá-los no dispendioso curso da ilha das Enxadas.Ligava-se, assim, à elite dirigente do País, sendo esta, por sua vez, monarquista. E, também, porque refletia a postura domarquês de Tamandaré, que acabou por se tornar amigo de D. Pedro II, em respeitar o regime que ele representava. Aoficialidade da Marinha não desejava molestar o venerando almirante. Apesar de se mostrar sólida essa posição, oCapitão-de-Fragata Frederico Guilherme de Lorena e os Capitães -Tenentes João Nepomuceno Bati sta e José E. GarcezPalha estreitaram contatos com Benjamim Constant. Na Escola Naval os professores Magalhães Castro, Carlos Sampaioe Magalhães Júnior transmitiam valores republicanos aos aspirantes. Armou -se um Clube Republicano, presidido peloaspirante Vital Brandão Cavalcanti, nele se discutiam várias propostas, especialmente as matérias contidas no jornal OClarim, editado pelo jornalista paraense João do Rego.162CAPITULO VREPUBLICAA Queda do Trono (O Brasil se Torna Republicano):A necessidade de reformas, aliadas às dificuldades políticas, exigiam um ministério capaz de enfrentar ambos

os problemas com rapidez, decisão e argúcia. Por isso, o imperador escolheu, a 7 de junho de 1889, o Visconde de OuroPreto, Afonso Celso de Assis Figueiredo, para compor o gabinete, que devia realizar inúmeras mudançasindispensáveis, a fim de calar os reacionários e agitadores. O gabinete demonstrou habilidade ao convidar militares paraas respectivas pastas, ocupando a da Guerra o Marechal -de-Campo Rufino Galvão, Visconde de Maracaiu (primo deDeodoro da Fonseca), e a da Marinha o Chefe -de-Esquadra José da Costa Azevedo, Barão do Ladário. Contava,também, com o General Floriano Peixoto, Ajudante -General do Exército, enigmático personagem, já nessa épocaadepto do positivismo.O Visconde de Ouro Preto leu sua plataforma política perante a Câmara dos Deputados Gerais, a 11 de junho,que, por 79 contra 20 votos, recusou -lhe a confiança. Dissolvida a Câmara, em 15 d e junho, posto que o imperadordecidira-se apoiar o seu ministro, convocaram-se imediatamente eleições para a formação de outra que iniciou seustrabalhos em 20/11.Ainda nesse mês de junho, a 15, um jovem de origem portuguesa, Adriano Augusto do Valle, d eu um viva àRepública quando o imperador saía do Teatro de Santana; como não encontrasse apoio, Valle desferiu um tiro para o arquando passou o coche imperial. Preso em seguida, nada se apurou se havia implicações políticas ou se resultara estaação de um caso isolado.Qualquer episódio servia de pretexto para ridicularizar o governo. Vaiado pelos estudantes de medicina, à portada Escola Cirúrgica, enquanto chupavam as laranjas que a Sabina vendia, o Visconde de Ouro Preto não duvidou emdesencadear sua fúria contra a preta quitandeira, que nada tinha com o incidente, menos ainda as suas frutas. Proibidade vendê-las, despertou simpatias nos estudantes, tão injusta mostrava -se a medida, organizando eles uma comissão queprocurou entender-se com as autoridades e o chefe de Polícia. Inútil: mantinha -se intransigente o governo. Então, a 25de julho, os estudantes organizaram uma passeata e se dirigiram ao Largo de São Francisco, recebendo a adesão daEscola Politécnica e, dali, partiram todos para a Rua 12 d e Março, gritando palavras de ordem contra o governo"laranjofobo". Sabina voltou com suas laranjas à porta da faculdade às vésperas da República.Procedente de Mato Grosso, chegava à Corte, a 13 de setembro, o Marechal Deodoro da Fonseca, que naquelaprovíncia se encontrava como comandante das Forças de observação.Novo episódio militar ocorria entre o presidente do Conselho, Ouro Preto, e o Tenente Pedro Carolino Pinto deAlmeida, comandante da guarda do edifício do Tesouro, preso pelo primeiro por tran sgressão disciplinar. Comentáriosdesencontrados e boatos se sucediam a propósito de transferências de batalhões, recomendadas pelo General FlorianoPeixoto como rotineiras.O mês de outubro evoluiu em clima de franca efervescência, já agora com a anuênc ia do Marechal Deodoro daFonseca e do General Visconde de Pelotas, que desejavam, tão -somente, mudar o gabinete sem pensarem em tirar o“velho” do Trono. Marcou-se um levante para o dia 19 de novembro. A recepção aos oficiais chilenos que, a 22 deoutubro, aportavam à capital no encouraçado Almirante Cochrane, comando de D. Constantino Bannen, não podia tersido mais expressiva no discurso que proferiu Benjamim Constant, na Escola Militar, pregando francamente arevolução. Os cadetes saudaram o orador aos gritos de "viva a República... do Chile", forçando a pausa. O baileoferecido aos visitantes na Ilha Fiscal (9 de novembro) não contou com a presença de nenhum oficial do Exército,muitos dos quais se achavam reunidos no Clube Militar quando, então, deram liberdade a Benjamim Constant para agir,após memorável discurso, por este proferido, entre palmas.Dois dias depois, houve reunião em casa do Marechal Deodoro que se mostrou esquivo e reservado. A maioria,porém, já se definira em favor da República, esp ecialmente os comandantes de Corpos. Mandado chamar pelo mesmoMarechal, em sua casa, no dia 13, aderiu o General Floriano Peixoto ao movimento de derrubada do gabinete, dizendo:"Enfim, se a coisa é contra os casacas, lá tenho a minha espingarda velha." B enjamim Constant procurou, então, alguns

oficiais da Marinha e conseguiu adeptos. Os elementos civis, em grande parte trabalhados por Clodoaldo da Fonseca,sobrinho do Marechal Deodoro, aceitaram o convite para comparecer a algumas reuniões; destacavam -se QuintinoBocaiuva, Francisco Glicério, Aristides Lobo, Campos Salles, o Dr. Ennes de Souza, Rui Barbosa etc.Impacientam-se os republicanos com a espera do levante, afinal antecipado, graças a um ardil do MaiorFrederico Sólon Sampaio Ribeiro, que espalha ra, na tarde de 14, na Rua do Ouvidor, ter o governo expedido ordens deprisão para Deodoro da Fonseca e Benjamim Constant, bem corno iria fazer movimento de tropas para o interior. Ànoite revoltaram-se alguns batalhões e oficiais -alunos da Escola Superior de Guerra, sediados em São Cristóvão,dirigindo-se para o Campo de Santana; transportavam 16 canhões.Sabedor desses acontecimentos, Benjamim Constant tomou um carro e se dirigiu para São Cristóvão, enquantoseu irmão, o Maior Marciano, seguia para a Pr aia Vermelha a fim de obter a adesão dos cadetes. Deodoro recebeu orelato do que se passava. Acedeu o marechal em se colocar à frente das tropas revoltadas, com elas se encontrando no163caminho de São Cristóvão, no Aterrado do Mangue. Um piquete de reconhec imento, sob o comando do Capitão ManuelJoaquim Godolphim, abriu o caminho; postaram-se todos em frente à Secretaria da Guerra: nove horas da manhã.Tudo se sabia do lado do governo; o chefe de Polícia, Dr. José Basson Osório, tomara providências e avisar a oministério que se reunira no Arsenal de Marinha. Percebeu Ouro Preto que a situação inspirava cuidados e enviou umtelegrama ao imperador, que se encontrava em Petrópolis, sem que o mesmo tenha sido recebido de pronto. Algumasprovidências desencontradas foram determinadas pelo Visconde de Maracaiu, sem êxito prático. Do Arsenal deMarinha, os ministros passaram para o Quartel -General do Exército; amanhecia o dia 15 de novembro.Dispunha Ouro Preto de dois mil homens sob as ordens do General Floriano P eixoto. Eram compostos peloCorpo policial da Corte, pelo Corpo de bombeiros, 196 imperiais marinheiros sob comando do Primeiro -TenenteManuel Dias Cardoso e 160 fuzileiros navais sob comando do Capitão -Tenente Quintino Francisco da Costa.Encontravam-se de prontidão os imperiais marinheiros em seu quartel, como determinara o Barão do Ladário, o qual,depois, dirigiu-se sozinho para a Secretaria da Guerra, onde não entrou, impedido pelo Tenente Penna, que lhe deu vozde prisão e ainda o feriu na testa. O pi quete do Marechal Deodoro disparou contra ele sem o atingir, e os soldados lhecaíram em cima; mas o marechal acudiu bradando: "Não matem o barão!" Auxiliado por populares, Ladário foiremovido para o saguão do Palácio Itamaraty e medicado sendo que depois o colocaram num bonde fechado que seguiupara sua casa, no Cosme Velho.O Marechal Deodoro da Fonseca incumbiu o Tenente -Coronel Batista da Silva Teles de comunicar aoministério que ele não mais existia. Diante disso, Ouro Preto determinou que o General Floriano Peixoto, com a suaforça, procedesse a retirada dos manifestantes, o que foi negado, demonstrando que se encontrava de acerto com omovimento. O General Almeida Barreto, em comando das forças da Secretaria da Guerra, evidenciava o mesmoprocedimento. Ouro Preto informou a deposição do gabinete em segundo telegrama ao imperador, este recebido às 10horas da manhã.A vitória pendia para Deodoro, que entrou no prédio da Secretaria da Guerra sob aclamação e assomou àsacada. Dirigindo-se a Ouro Preto e demais ministros tirou um papel do bolso e disse: "Aqui tenho o ministério que vouapresentar à sua majestade o imperador". Não havia, por parte do velho soldado, intenção de derrubar a Monarquianaquele momento. Permitiu que os ministros se retirassem para suas casas e dirigiu-se para o Arsenal de Marinha.Juntaram-se a ele diversos militares e muitos populares. No Arsenal, foram recepcionados pelo Almirante EduardoWandenkolk e pelo Barão de Santa Marta, Ajudante -General da Armada. Esgotado pelas faina s de tão longo dia, omarechal retornou à sua casa, no Campo de Santana, para repouso.O imperador descera de Petrópolis e se dirigira ao Paço da Cidade. Ali reuniu o Conselho de Estado, ouviu oVisconde de ouro Preto e vários políticos e tentou reorganiz ar novo ministério, o que não se mostrou tarefa simples;somente pela tarde encontrou o conselheiro Saraiva disposto a enfrentar a situação. Procurou comunicar -se com o

Marechal Deodoro, enviando os senadores Dantas e Correa que não se avistaram com o mare chal. O mesmo tentou oConde d'Eu, por intermédio de oficiais amigos, sem êxito.Os republicanos sentiam-se esbulhados: tão-somente havia sido derrubado o gabinete. Às três horas da tarde,conseguiram redigir um decreto, na Câmara Municipal do Rio de jane iro, por proposta do vereador José do Patrocínio, oqual proclamava a República. Nessa oportunidade, hastearam a bandeira republicana que vinha sendo usada na redaçãodo jornal Correio do Povo, semelhante à norte -americana, com listras horizontais verde e amarelas (esta bandeira éguardada no Museu da República). Em comissão, dirigiram -se à casa de Deodoro que se recusou a assinar o referidodecreto, só o fazendo quando o Major Solon Ribeiro trouxe a notícia, falsa, de que o governo se constituíra com oGeneral Gaspar da Silveira Martins, de quem não gostava. Vários republicanos o incitavam a assumir o governo.Quando o conselheiro Saraiva propôs um entendimento com o marechal, através do Major Roberto Trompowsky,portador de uma carta, a república se consumara.O País não apoiava os republicanos, nem o Marechal Deodoro da Fonseca era tão conhecido pelo povo, nem acausa republicana contava com tantos adeptos. Acontecera que a Monarquia os perdera. Aristides Lobo nos mostra quea população da Corte tomou conhecimento dos fatos pelos jornais: "O povo assistiu aquilo bestializado, atônico,surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada."De várias partes chegavam telegramas pedindo confirmação dos eventos polí ticos. Sugeriu o Marquês deTamandaré ao imperador, logo que este recebeu das mãos do Major Solon Ribeiro (dia 16, às 15 horas) a comunicaçãoda sua deposição e exílio, uma contra -ofensiva pelos imperiais marinheiros (tradição oral). Houve vislumbres de re açãona Bahia, onde o comandante de armas, General Hermes Ernesto da Fonseca, irmão mais velho do Marechal Deodoro,só aderiu à República no dia 17, quando soube da partida do imperador. Mas Pedro II não desejou uma guerra civil; suanobreza e amor para com o Brasil não o permitiriam. Aceitou a derrota: com sua imperial família embarcou na noite de17, na corveta Parnaíba, passando-se para o navio Alagoas, na ilha Grande, que o levou para o banimento na Europa.Foram escoltados até Fernando de Noronha pelo encouraçado Riachuelo.O imperador deposto recusou o auxílio financeiro de cinco mil contos de réis oferecido pelo governoprovisório.Estava, assim, terminado um longo reinado de 49 anos caracterizado pela pacificação interna e pelo progressogeral que o Brasil atingiu, pleno de liberdade política, a ponto de se afirmar que Pedro II imperava numa república... E oGeneral Bartolomeu Mitre acrescentava: "Uma Democracia Coroada..." Durante o seu reinado consolidou -se aindependência, atingindo o País uma n otável supremacia continental, defendeu -se a nossa soberania com altivez,mesmo que, para tanto, fossem necessárias guerras indesejáveis.Pedro II ainda teve oportunidade de dizer ao Barão de Jaceguay: "Reinei 50 anos e consumi -os em carregarmaus governos."164A República Velha (1889-1914):Esse período é marcado pela instauração da República. Fica nítida a divisão de forças ocorrida no período,onde de um lado temos majoritariamente representados pelo Exército os republicanos 27, e do outro, encabeçados pelaMarinha, os imperialistas. Apesar de terem vencido, os republicanos ainda teriam muito pelo que lutar para consolidarseus ideais. Esse período é marcado pela presença de militares no governo de 1889 a 1894, sendo assim esse sub -período denominado de República da Espada.Esse período fica marcado também pela contendas internas e revoltas. Se para instaurar a República foi dadoapenas um tiro de revólver, para sustentá -la seriam necessários muitos de canhão.A Conjuntura Política do Governo Provisório:16 de novembro, o governo provisório prestava juramento perante a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Soba chefia de Deodoro da Fonseca, compunha -se de Benjamim Constant na Pasta da Guerra, Eduardo Wandenkolk na da

Marinha, Rui Barbosa na Fazenda, Campo s Salles na justiça, Aristides Lobo no Interior, Quintino Bocaiúva no Exterior,e Demétrio Ribeiro na Agricultura. O Decreto nº 1, datado do dia 15, estipulava a República Federativa como forma degoverno.Lacônicos telegramas comunicaram às províncias a vitória do movimento republicano derrubando, facilmente,os governos locais. Houve um esboço de reação na Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul. A vitória do movimentorepublicano no Estado gaúcho foi decisiva para a consolidação do governo provisório.Seguiram-se diversas medidas essenciais exaradas pelo governo provisório. Dissolveu o Parlamentomonárquico, bem como as Assembléias Provinciais e as Câmaras Municipais; instituiu a Bandeira, no dia 19,aproveitando-se o desenho da antiga, substituindo-se a parte central por uma esfera estrelada idealizando o céu do dia15 de novembro, tomando-se como referência o horizonte do Rio de janeiro, a cerca de 12 horas do dia sideral, emposição inversa para o observador da Terra, apensada do dístico Ordem e Progres so, de inspiração positivista; separou aIgreja do Estado (07/01/1890), sábia medida que acarretou, também, a secularização dos cemitérios; tornou obrigatórioo casamento com registro civil, determinou a Grande Naturalização (14 de dezembro), para o estran geiro que adesejasse, aumentando, assim, o número de eleitores; reorganizou o quadro de oficiais da Armada (30/12/1889), quepassou a ser composto de 1 Almirante, 2 VA, 10 CA, 18 CMG, 30 CF, 60 CT, 175 1T e 160 2T, estabelecendo,também, a reforma compulsória por limite de idade.Apesar de a minoria positivista ansiar por uma ditadura militar, o governo provisório escolheu, a 3 dedezembro, uma comissão para elaborar um anteprojeto de Constituição e, a 21 de dezembro, marcou eleições para querepresentantes pudessem se reunirem uma Assembléia. Ficava estabelecido o sufrágio universal, sendo consideradoseleitores todos aqueles que estivessem no gozo de seus direitos e soubessem ler e escrever. Reconheceu todos ostratados e compromissos internacionais acer tados pelo extinto Império. Decretou o aumento dos soldos militares.Benjamim Constant procedeu a uma reforma do ensino militar, conhecida como do soldado -político. Conservou o HinoNacional que se usava no Império e promulgou a reforma do Código Penal, in stituindo a Justiça Federal.Em manifestação pública de 15 de janeiro, Deodoro da Fonseca recebia o título de Generalíssimo, e BenjamimConstant, o de General-de-Brigada, sendo a mesma prerrogativa estendida aos demais membros do Ministério. Adistribuição de condecorações (maio de 1890) e as promoções de oficiais desgastaram o governo.Não correram calmos os dias do governo de Deodoro. Houve levantes militares sendo na Marinha a bordo dacorveta Niterói. Esta desordem acarretou o decreto do dia 21, conhe cido como "decreto-rolha", que limitava asliberdades e punia os que incitassem a indisciplina militar; mas esta se mostrava flagrante nos quartéis.Seguindo esta linha de ação, o governo suprimiu a liberdade de imprensa e criou diversos fatores de repres sãopública. Houve divergências com os membros do ministério que, coletivamente, se demitiram.Salvou o regime um monarquista, o Barão de Lucena, Henrique Pereira de Lucena, velho amigo de Deodoro,chamado nesse mesmo dia para organizar um novo ministério . O barão reservou-se a Pasta da Agricultura, Comércio eObras Públicas, acumulando também a da justiça; Tristão de Alencar Araripe, com Fazenda e Exterior; João BarbalhoUchoa Cavalcanti, Interior e Instrução Pública; Almirante Fortunato Foster Vidal, na Marinha, General Antônio NicolauFalcão da Frota, na Guerra. Apesar de o barão ser visto com reservas pelos republicanos, era um homem honesto epolítico capaz. O governo provisório procedeu a algumas mudanças nas administrações estaduais, convocou umaAssembléia Constituinte que, com poucas discussões, em três meses estava pronta, sendo solenemente promulgada a 24de fevereiro de 1891. A Carta apresentava nítidas influências constitucionais norte -americanas, suíças e argentinas,conseguindo os republicanos históricos conterem os excessos de federalismo.O Brasil tornava-se uma República Federativa Presidencialista, cujo território dividia -se em 20 Estados e umDistrito Federal (o antigo Município Neutro), administrada por três poderes harmônicos entre si. Coube à AssembléiaConstituinte eleger o primeiro presidente e vice -presidente da República, entre as duas chapas que se apresentaram:Deodoro da Fonseca com Eduardo Wandenkolk e Prudente de Morais com Floriano Peixoto. (não era necessário votar

na chapa, mas sim nos candidatos) Espalharam-se boatos de dissolução da Constituinte se Deodoro não fosse eleito.27 Temos os Republicanos Liberais, formados por cafeicultores paulistas, os Jacobinos, formados pela classe médiaurbana, e ainda os Republicanos Positivistas (com os ideais de Auguste Comte), formados principalmente por membrosdo Exército, que acreditavam em uma presença forte do estado na sociedade.165Venceu Deodoro da Fonseca (129 votos) e Floriano Peixoto (153 votos), empossados a 25 de fevereiro, em meio a umclima de apreensões (o vice-presidente foi eleito com mais votos do que o presidente). Declarou -se a guerra quando oCongresso recebeu o primeiro com frieza e ovacionou o segundo com exagero.O Marechal Deodoro assumiu a presidência em desprestígio, que se acentuou por causa da permanência doBarão de Lucena no Ministério, como titular da Pasta da Justiça. A intervenção realizada em vários Estados aumentou atensão.Vários fatos políticos ocorreram, levando Deodoro a dissolver o Congresso, seguindo -se um Manifesto àNação, explicativo de seu ato. Depois do primeiro momento de espanto, o presidente recebeu telegramas de adesão,com exclusão do presidente do Pará, o jovem militar positivista, Capitão Lauro Sodré.A reação não se fez esperar: os congressistas civis e militares de prestígio consp iraram. Vários movimentosocorreram pelo país. No Rio de Janeiro o Contra -Almirante Custódio José de Mello apoderou -se dos navios Riachuelo,1º de Março, Solimões, Aquidaban e outros menores, sublevando -os e intimando a deposição do Marechal Deodorocom um tiro enviado à cúpula da Igreja da Candelária.O presidente pensou, inicialmente, em resistir, ordenando às fortalezas cariocas que respondessem àprovocação dos revoltosos e nomeando o Contra -Almirante Luiz Phelippe de Saldanha da Gama, chefe do Estado -Maior da Armada. Com um pequeno destacamento, este oficial -general embarcou no monitor Solimões, dirigindo -se aoAquidaban, sem, contudo, poder acioná -lo, em virtude da recusa de seus oficiais. Preparou, então, um esquema decontra-ofensiva, não utilizado, pois Deodoro preferiu renunciar, já que a alternativa que se apresentava o conduzia àguerra civil. Chamado Floriano Peixoto, a este lhe foi entregue a chefia da Nação no dia 23/11/1891.O vice-presidente era um chefe nato, impávido, calmo; impunha a sua vontade pela frieza; confiava,desconfiando. Sua personalidade, cativante para uns, desagradável para outros, continua sendo um enigma para aHistória, na qual conquistou o epíteto de Consolidador. Estavam reservados para ele dias tumultuosos.Superou a revolta das unidades navais chamando Custódio de Mello para Ministro da Marinha. Anulou o atode dissolução do Congresso, suspendeu o estado de sítio e libertou os presos políticos. Determinou uma intervenção nosEstados com a finalidade de restabelecer a ordem, derrubando os presidentes de Estado que se solidarizaram com ogolpe de Deodoro.A morte do Imperador Pedro II, em Paris (05/12/1891), ocasionou um brusco sentimento de admiração pelomonarca banido. Diversas manifestações públicas, programadas pe lo jornal O Brasil, começaram a ter lugar. Naspáginas do jornal Cidade do Rio, José do Patrocínio exigia o repatriamento de seus restos mortais.Entendeu o vice-presidente que podia governar até o fim do mandato, apesar de ser claro que devia convocarnovas eleições, segundo o Artigo nº 42 da Constituição, pois não havia sido decorridos dois anos de mandato. Houvediversas contendas pelo fato.O ambiente mostrava-se explosivo. Sublevaram-se os marinheiros do navio 1º de Março (l3/12/1891). Em 18de janeiro, o 2º SG Silvino Honório de Macedo revoltou a Fortaleza de Santa Cruz (Niterói), seguindo -se a da Laje(RJ), levante facilmente dominado, sendo a primeira tomada de assalto pelo Tenente José da Veiga Cabral. Precipitou -se a situação quando 13 oficiais -generais do Exército e da Marinha publicaram nos jornais em 6 de abril umpronunciamento feito em 31 de março sugerindo novas eleições (Manifesto dos Generais). Desses oficiais 11 foramreformados e 2 transferidos para a 2ª classe. Houve diversos movimento s civis o que conduziu à decretação de estado desítio por três dias.Acabrunhado pelas ingratidões e minado por doença, falecia o venerando fundador da República a 23 deagosto de 1892 em modesta casa de Santa Teresa.As Revoltas:A Revolta Federalista:

O Congresso, em junho de 1892, decidiu pela legítima continuidade de Floriano. O que parecia ser o fimtornou-se o começo.No Rio Grande do Sul a oposição manifestou -se tão intensa que Castilhos abandonou o cargo em dezembro de1891. Floriano resolveu apoiar os castilhistas que puderam, por isso, retomar o poder no Estado. Castilhos voltou apresidi-lo em 1892. Poucos dias depois de Castilhos assumir a governança estadual, gasparistas, deodoristas erestauradores uniram-se, formando a União Nacional Fe deralista, e, liderados pelo General João Nunes da SilvaTavares, juraram lutar contra os adeptos de Júlio de Castilhos, partindo para a luta civil. A campanha arrebatava todosos descontentes, não se formando, por isso, um bloco oposicionista coeso. É pre ciso observar que a reivindicaçãoprincipal dos revolucionários residia no retorno do Estado a um governo representativo, na eliminação do autoritarismocastilhista e não em uma restauração monárquica.Floriano rotulou os revoltosos de restauradores; some nte alguns poucos federalistas nutriam respeito pelasinstituições monárquicas. Rui Barbosa, que, em maio de 1893, passara à direção do recém -criado Jornal do Brasil ,vibrava contra as arbitrariedades do governo em artigos severos.Com armamentos comprados no Uruguai, os federalistas (apelidados de maragatos) obtinham algunsresultados, vencendo algumas batalhas iniciais.Desejava o Almirante Custódio de Mello intervir no Sul; acreditava que podia, em pouco tempo, jugular essaincômoda revolta, estabelecendo eleições livres no Estado. Entretanto, Floriano não lhe dava autorização, pois anteviaque esta intervenção conduziria Gaspar da Silveira Martins a uma vitória certa, bem como prestigiaria o ministro e o166colocava como futuro candidato à Presidência da República. A 24 de abril, o Tenente Manoel Joaquim Machado,presidente de Santa Catarina, sublevava o Estado e aderia aos federalistas. Imediatamente, Floriano destacou oficiais desua confiança para Santa Catarina e incentivou a sublevação civil em Blume nau, liderada por Hercílio Luz, que partiucontra a capital. Um sangrento encontro se verificou em 31 de julho, e Hercílio Luz ocupou o governo estadual.Sentindo-se desprestigiado, Custódio de Mello renunciou (30/04/1893), o mesmo procedendo Rodrigues Alv es,desgostoso com a orientação do vice -presidente.Floriano mandou chamar Saldanha da Gama, que dirigia a Escola Naval, ao Itamaraty; eram 10 horas da noitede 29 de abril de 1893. O vice -presidente desejava que ele assumisse a Pasta da Marinha, mas Sald anha recusou oconvite. Não existia inimizade entre os dois veteranos da guerra contra o Paraguai, apenas Saldanha não aceitava aposição política do vice-presidente. Ficou, então, como ministro o Contra -Almirante Philippe Firmino RodriguesChaves.Resolveu o Almirante Eduardo WandenkoIk - um dos signatários do manifesto de 31 de março - definir a lutacivil em favor dos federalistas. Com um grupo de companheiros, dirigiu -se a Buenos Aires, aprisionou o vapor Júpiter,obrigando a tripulação a lhe obedecer. Com duas metralhadoras e 460 carabinas, tentou apoderar -se do Rio Grande, oque não conseguiu, falta de apoio de terra. A 12 de julho, desistiu e se fez ao mar. Preso pelo comandante do cruzadorRepública, que lhe fora ao encalço, respondeu, no Rio de jan eiro, a um Conselho de Investigação constituído pelosalmirantes Francisco Pereira Pinto, João Mendes Salgado e Carlos Balthazar da Silveira, sendo, afinal, liberado, sob aalegação de não ter havido flagrante...A Marinha mostrava-se irritada, demonstrando esse sentimento escolhendo o próprio WandenkoIk parapresidente do Clube Naval. Agitava -se a classe. Um levante militar de grandes proporções avizinhava -se terrível.Enquanto isso, o Congresso, liderado por Prudente de Morais, elaborava projeto de lei contra a elegibilidade dovice-presidente. O veto aposto por Floriano (05/09/1893) demonstrava suas idéias continuístas, servindo de causaimediata à nova revolta na Marinha.A Revolta da Armada:Na noite de 5 para 6 de setembro de 1893, reproduzindo fe itos ocorridos em 1891, Custódio de Mello revoltavatrês encouraçados, quatro cruzadores, sete torpedeiras, nove navios menores e alguns mercantes. Uma granada atingia aIgreja de N. S. da Lapa dos Mercadores. Pensou Custódio de Mello que a demonstração de força fosse suficiente paraabalar o governo. Enganou-se. Floriano mostrava-se inquebrantável. Não dispunha de imediatos recursos; por isso,

estabeleceu logo severa censura à imprensa, apresentando essa revolta como monárquica. O Exército e o povoimaginaram estarem diante de uma tentativa de restauração e formaram ao lado do vice -presidente. Seria realmenterestauradora a revolta? Não nos parece. Contudo, como os monarquistas se alistaram em favor da Constituição,obviamente ficaram com a revolta contra o s florianistas.Floriano usou, também, a diplomacia, obtendo dos navios de guerra estrangeiros, de países como Portugal,França e Itália, Inglaterra e Estados Unidos que estavam surtos no porto do Rio de janeiro, o apoio necessário paraevitar o bombardeio da capital. O Contra-Almirante Coelho Neto convocou os comandantes estrangeiros para umareunião, sendo que os mesmos não compareceram, aguardando as ordens de seus países. Os comandantes estrangeirosdeliberaram em conjunto declarar o Rio cidade aberta, com isso protegendo a vida e os bens de seus nacionais. OAlmirante Abel de Libran (francês), em contato constante com Custódio de Mello, a 2 de outubro, entregou um ultimatoredigido pelos comandantes solicitando o não bombardeamento da cidade e o comand ante português da corvetaMindelo, Augusto de Castilho, dirigindo -se ao Aquidaban, avisou que poderiam usar a força caso não fossem atendidos(exceção da Alemanha que declarou defender apenas os interesses de seus cidadãos). Custódio de Mello perdia, assi m,seu principal trunfo. Um acordo foi firmado a 5 de outubro. A tudo acompanhava com interesse o governo norte -americano do Presidente Stephen Grover Cleveland; o secretário de Estado, Walter Greshan, informado por Salvador deMendonça, representante bras ileiro naquele país, de que havia perigo de uma restauração monárquica, e instado pelaInglaterra, Itália e Portugal, não teve dúvidas em ajudar decididamente. Estava virtualmente vencida a revolta.Tiros isolados entre os navios e as fortalezas e bateria s de terra constituíram logo um espetáculo para a cidadeapreensiva. Os danos resultaram poucos de parte a parte. A 9 de outubro, aderiu à revolta o Corpo de fuzileiros navais.Conservava-se em estrita neutralidade o Contra -Almirante Luiz Phelippe de Saldanha da Gama, comissionadocomo diretor da Escola Naval, sediada na Ilha das Enxadas, procurando manter alheios os aspirantes da trama políticaque envolvia a Revolta. Ocupou a Ilha das Cobras e preparou o hospital para receber feridos.Perdiam, os revoltosos, o navio Javari, mas logravam passar pela barra do Rio de Janeiro com o República,cruzador Palas e torpedeira Marcílio Dias. A 29 de setembro, depois de fraca resistência de velhos canhões, tomam acidade de Desterro, capital de Santa Catarina, sendo nela instalado um governo provisório sob o comando do Capitão -de-Mar-e-Guerra Frederico Guilherme de Lorena e apoiado pelo Presidente Cristóvão Nunes Pires. Com este êxito,Custódio fez seguir para o Desterro os cruzadores Meteoro e Urano, transportando o ficiais do Exército revoltados,encabeçados pelo General Carlos Piragibe.Representando a antítese de toda a sua vida, viu -se Saldanha da Gama arrastado a participar da revolta. Algunscontatos prévios se processaram e, depois que os dois almirantes acert aram a divisão de forças, Saldanha aderiu a 9 dedezembro, lançando um manifesto que exigia um plebiscito nacional que, deturpado, vislumbrava idéias restauradoras.Acordaram os dois almirantes em ligar a revolta aos federalistas, já que os ideais demonstr avam identidade depropósitos.167Alguns navios estrangeiros retiravam-se, enquanto chegavam (29 de janeiro) os cruzadores pesados norte -americanos São Francisco e N. York em comando do Contra -Almirante Andrew E. K, Benham.Custódio de Mello rumou para o su l no Aquidaban e desembarcou em Paranaguá anulando a oposição doCoronel Eugênio de Melo. A 20 de janeiro, Custódio de Mello chegou a Curitiba de trem e congraçou -se comGumercindo Saraiva. Planejaram, então, atacar São Paulo, mas esbarraram na localidade de Lapa, defendida peloCoronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro, seu Estado -Maior e 750 homens. Em 17 de janeiro (1894), começou a lutacom uma resistência não esperada pelos sitiantes; mas a morte de Gomes Carneiro (9 de fevereiro) amainou oentusiasmo e a praça se rendeu a 11. Vencedores, mas esgotados, temerosos diante das notícias de que 5.800 homensatravessavam o passo de Itararé, preferiram recuar.Nas águas da Guanabara reiniciaram-se os bombardeios sem maiores conseqüências; Saldanha apoderava -sedas Ilhas de Paquetá e do Engenho. Decidiu tomar Niterói; desembarcou, a 9 de fevereiro, na ponta da Areia, onde

travou combate repelindo os legalistas do General Francisco de Paula Argolo e avançou para a Armação, ondeprosseguiu o combate. A vitória lhe s orriu, mas não pôde manter -se nas posições conquistadas por falta de homens.Com três ferimentos sendo um grave, Saldanha reembarcou com a sua gente. Pensou, o almirante, em arrancar oNordeste de sua mansa fidelidade à república de Floriano; o sargento Si lvino de Macedo, já reformado, participara darevolta, chefiando os artilheiros do navio Guanabara que bombardeava o Rio de Janeiro. Resolveu viajar para osEstados Unidos; o navio em que estava embarcado fez escala em Recife, dando oportunidade para o sar gento baixarterra; enquanto fazia uma ligeira refeição no restaurante Chaline foi preso, sob a alegação de que premeditava sublevara cidade, e, em seguida, fuzilado por ordem pessoal do vice -presidente. E o República e o Aquidaban, que saíram daGuanabara com destino ao Recife, não chegaram, o primeiro por avarias na máquina e o segundo por que seucomandante, Capitão-de-Fragata Alexandrino de Alencar, seguiu para o Sul, cumprindo as ordens de Custódio deMello...Não ficara passivo o governo: conseguiu adquirir uma força naval no estrangeiro, apelidada pelo povo de"Esquadra de Papelão" e nela colocou gente fiel sob o comando do Almirante Jerônimo Gonçalves, herói da guerra daTríplice Aliança. Concentrada em Salvador, rumava rápido para o Rio. Saldanha abandonava a ilha do Governador eperdia a localidade de Magé; havia falta de munições e viveres; seus homens estavam cansados, feridos e atacados peloberibéri28. Um ambiente adverso formara -se, contudo, à reeleição de Floriano. Apresentara -se, como candidato único,Prudente de Morais, que um apático pleito elegeu.Percebendo não ser viável um ataque contra a força naval que se aproximava, conhecedor dos fracassosfederalistas e o recuo para o Sul, preferiu Saldanha pedir asilo às corvetas portuguesas e, n a noite de 12 de março,passou-se com seus homens para a Ilha das Enxadas e desta para os navios portugueses. Não era possível aocomandante Augusto de Castilho rumar para a Europa imediatamente: optou pelo caminho do Prata, o que desgostou aFloriano.No Sul, a revolta entrava em colapso: o Tenente Altino Correa, no comando da torpedeira Gustavo Martins,atingia o Aquidaban (16/04/1894), e as tropas legais dominavam o Desterro, onde o Tenente -Coronel Moreira Cesardesenvolveu dura repressão, prendendo e f uzilando vários (o Barão de Batovi e o CMG Lorena). Tropas legais, emcomando o General Francisco Raimundo Everton Quadros, avançavam com rapidez. A repressão em Curitiba mostrou -se igualmente cruel, morrendo fuzilado o Barão do Serro Azul, que não partici para da revolta, envergonhando a obra deconsolidação da República. Em vista da defecção de Custódio de Mello, que se asilara na Argentina, GumercindoSaraiva decidiu abandonar o Paraná, rumando para Carovi (Rio Grande do Sul); neste local, reconhecido por umsoldado que estivera prisioneiro na Lapa, recebeu certeiro tiro no pulmão, vindo a morrer três horas depois. A retiradase transformou em fuga.Enquanto fundeadas as duas corvetas portuguesas em frente à cidade de Buenos Aires, muitos se evadiam; aopinião pública portenha era favorável aos asilados. Os dias se passavam difíceis. Na noite de 26 de abril, Saldanhaconseguiu escapar, com 243 homens, asilando -se em Montevidéu. Viajou então à Europa a fim de pleitear melhorescondições para seus companheir os que se conservaram sob a tutela portuguesa, em número de 170. Nada obteve e,depois de despender dois meses em Paris, volveu ao Prata decidido a continuar a luta: as notícias lhe chegavamdesencontradas e dizia-se que Floriano não entregaria o Poder a P rudente de Morais. Durante esse período manteveinteressante correspondência com Rui Barbosa, Trocando o passadiço pela sela do cavalo, o almirante reuniu as forçasrevolucionárias dispersas registrando suas andanças em um Diário pacientemente escrito.Floriano Peixoto passa o governo a Prudente de Morais que tomou posse a 15 de novembro de 1894 em meio auma total indiferença. Terminava a República militarista e se abria a fase da República dos Conselheiros.O Quadro Militar:A Revolta da Armada provoc ara um expressivo desgaste na Marinha; encontrava -se desfalcada de oficiais de

valor, asilados no Uruguai e na Argentina, e com o seu material flutuante de valor bélico inexpressivo, incluindo -se osnavios comprados pelo Marechal Floriano Peixoto.Fazia-se necessária uma renovação. Nasceu, então, o Programa Júlio de Noronha que englobava navios deregular tonelagem a serem adquiridos e a construção de um formidável arsenal. Os estudos para a instalação do arsenal28 Doença provocada pela falta da vitamina B1 (tiamina), comum em pessoas desnutridas ou mal alimentadas,ocasionando problemas neurológicos.168apontaram para a enseada de Jacuecanga, na Baía da ilha Grande. E já iam adiantados estes estudos quando o MinistroNoronha enviou um seleto grupo de almirantes e oficiais para conhecer o local cogitado, embarcados no encouraçadoAquidaban: às dez horas da noite de 21 de janeiro de 1906 explodiu o navio, morrendo 200 militares no sinistro.Na reforma administrativa que procedeu, Júlio de Noronha criou o posto de Capitão -de-Corveta, equivalenteao de Major no Exército.Em 15 de novembro de 1906, passou o cargo para o Almirante Alexandrino de Alenca r que já vinha apontandovárias críticas ao Programa Naval do Almirante Noronha. Assim, o programa foi alterado sendo encomendados: umencouraçado tipo dreadnought, com deslocamento de 27.000t, que não chegou a ser incorporado à Marinha Brasileira(vendido à Turquia em 1913 e incorporado à esquadra inglesa no ano seguinte), dois encouraçados tipo dreadnought,com deslocamento de 19.280t (Minas Gerais e São Paulo), dois cruzadores de 3.150t (Bahia e Rio Grande do Sul), dezdestróieres de 560t, tipo Pará, doi s rebocadores (Laurindo Pitta e Guarani) e três submersíveis. (F1, F3 e F5) Estesnavios constituíram a esquadra de 1910. Por causa dos submersíveis criou -se a flotilha de submarinos.A todos, Alexandrino empolgava com o lema "Rumo ao Mar", frase signific ativa e que se tornou muitopopular. Como continuação de seu plano, Alexandrino deu inicio à construção do dique e novo arsenal na ilha dasCobras e adquiriu a Ilha Fiscal (na Baía de Guanabara), entregando ao Ministério da Fazenda, que até então era o seuproprietário, o vapor Andrada (setembro de 1913).Como Alexandrino permaneceu dilatado tempo à testa do ministério (doze anos, oito meses e 14 dias, nãoconsecutivos, falecendo no cargo), chegou a projetar mais três programas navais que não atingiram a p raticidade.Encomendou outro submersível à Itália (Spezia) incorporado com o nome de Humaitá.Alexandrino teve o mérito de acreditar na aviação como arma. Pequenos aparelhos foram adquiridos; homens emáquinas ocuparam modestas instalações na Ilha das Enx adas, depois transferidos para a ponta do Galeão (Baía deGuanabara). O Ministro Alexandrino determinou, em 1914, que 25 oficiais fossem matriculados na Escola Brasileira deAviação, particular, de propriedade de Gino Bucelli & Cia. O Primeiro -Tenente Jorge Henrique Möller foi o primeirooficial brevetado. No mesmo ano, o ministro criou a Escola de Aviação Naval, que só funcionou dois anos depois. ADiretória de Aeronáutica nasceu em 1923 objetivando disciplinar a política aeronaval.Em 1914, 25 de fevereiro, foi criada a Escola Naval de Guerra (depois Escola de Guerra Naval), etapa final naformação dos oficiais que ficou ocupando o prédio do Almirantado.Um ilustre filho de Angra dos Reis, o General Honório de Souza Lima, conseguiu interessar o President eHermes da Fonseca nas belezas da região. A municipalidade, desejando atrair a atenção do presidente, presenteou -ocom a Ilha Francisca, onde Hermes passou a sua lua -de-mel com Nair de Teffé. E comprou terrenos a particulares naenseada da Tapera, constituindo um terreno vasto doado ao Ministério da Marinha para que nele fosse construído umeducandário militar. O próprio marechal bateu a pedra fundamental do prédio em 1911 na enseada rebatizada de Batistadas Neves. Prontificado o conjunto em 1914, a Marin ha resolveu nele instalar a Escola Naval, presentes, na solenidadede inauguração, o Presidente da República, Venceslau Braz, e o Ministro Almirante Alexandrino de Alencar.A Escola Naval viveu em Angra dos Reis até 1920, enfrentando dificuldades de infra -estrutura e ausência de

uma ligação rodo-ferroviária com a capital. Nesta última data retornou ao Rio de janeiro, provendo o solar da famíliaCampos Lage na ilha das Enxadas. Uma Escola de Grumetes ficou ocupando o prédio de Angra dos Reis. Em 1928 aMarinha criou um Curso Prévio, com dois anos de duração, ao da Escola Naval; nele se entrava após um concursorealizado em todo o País. O Curso Prévio só começou a funcionar em 1930.Visando melhor instruir a oficialidade naval e atendendo aos anseios de atua lização e dinamização da Força,solidificou-se a idéia de contratação de uma missão estrangeira. Apesar de alguns inconvenientes que este procedimentopoderia vir a causar, haveria a grande vantagem de pôr termo aos desencontros de idéias e opiniões entre os oficiaissobre a direção do caminho a seguir. Em 2 de março de 1922, o Presidente Epitácio Pessoa autorizou o Ministro(engenheiro João Pedro da Veiga Miranda) a decidir o contrato de uma missão estrangeira, recaindo a escolha naMarinha norte-americana. O contrato foi firmado em 06/11/22, tendo sido seu primeiro chefe o Contra -Almirante CarlTheodor Vogelgesang. O contrato renovou -se em 1926.O material flutuante não chegou a ser muito modificado no período. A Marinha conservou os navios dachamada “Esquadra de 1910”. Entre 1919 e 1920, os encouraçados Minas Gerais e São Paulo receberam grandestransformações nos Estados Unidos; outras velhas unidades ganharam reparos e alterações na sua artilharia. Em 1927, oDeodoro foi vendido para o México; o dinhei ro obtido permitiu o pagamento do submarino Humaitá.A presença de oficiais da Marinha norte -americana, para acompanharem os vários reparos que os encouraçadosbrasileiros Minas Gerais e São Paulo estavam passando, permitiu o nascimento de uma elite espec ializada em artilharia,que passou à História com o apelativo de arquiduques. Esse movimento renovador começou a se espalhar partindo doSão Paulo para outros navios da Esquadra a partir de 1920, tendo como líder o Capitão -de-Corveta Eleazar Carvalho.Não se apresentavam menores, no Exército, os desejos de modernização e aprimoramento profissional. Omundo caminhava decididamente para a industrialização, e notáveis descobertas científicas e tecnológicas permitiramavanços no material bélico e conduziram os exércitos a adaptações administrativas. O exército tinha como modelomilitar o francês, até a França perder a guerra contra a Alemanha, modificando o padrão para o Alemão, mantido até aprimeira guerra, quando foi modificado novamente.169A República dos Conselheiros:O primeiro presidente civil recebeu o governo de Cassiano do Nascimento, Ministro da justiça do MarechalFloriano que, silenciosamente, desaparecia. Manifestava -se uma intranqüilidade geral, fruto da guerra civil nãocompletamente terminada, A Marinha estava aniquilada.A grande preocupação do presidente foi, por conseguinte, encerrar a luta no Sul. Diversas tentativas ocuparamos primeiros dias de seu governo, resultando uma concessão de anistia para os que se apresentassem no prazo de 9 0dias. Ao mesmo tempo, cumprindo ordem presidencial, o General Inocêncio Galvão de Queiroz dirigiu -se para o Sul afim de acertar o término das hostilidades. Em nada disso acreditou o Almirante Saldanha da Gama; continuou a lideraras forças dispersas, prosseguindo a luta em terras fronteiriças. Cercado em Campo dos Osórios, 24 de junho de 1895,aceitou combate desigual, com a coluna do Coronel João Francisco Pereira de Sousa (1.200 homens); não restou outrasolução senão a fuga e, durante esta, o almirant e foi lanceado pelo Capitão Salvador de Sena e seu irmão alferesAlexandre, que acabaram de matá -lo quando caiu do cavalo. Inútil perda! A paz se concretizaria dias depois (10 dejulho) e, ironia da História, no entreato falecia Floriano Peixoto (29 de jun ho).A passividade desse presidente civil contrastava com a época do Consolidador.As Lutas Sociais:A Revolta da Vacina:Vista externamente como uma cidade doente, a cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil colonial, imperial eagora republicano, precisava de reformas.O período é agitado por transformações de todos os níveis. Da Europa vinham as transformações tecnológicas

nas áreas de engenharia, fruto da 2ª Revolução Industrial, e medicina, vindo principalmente da França de Pasteur, entreoutras modernidades. Dos Estados Unidos chegavam as transformações econômicas. Transformações na forma deprodução fabril pelo Fordismo, com reflexos nos hábitos de consumo da sociedade.O Rio de Janeiro, porta de entrada do Brasil, representava o atraso. Cor tiços e epidemias grassavam na cidade.Carlos Chagas, discípulo de Pasteur, trazia as novidades no cuidado da saúde pública. A população, analfabeta e envoltaainda em misticismos religiosos e culturais, não entendia situações como a obrigatoriedade da vac inação. Acreditavam,por exemplo, que produtos oriundos de animais os transformariam nos próprios animais, como a vacina de varíola,retirada das lesões variólicas de bovinos. Havia ainda a questão de que a varíola muitas vezes era confundida comsífilis, doença ligada aos mais baixos níveis sociais e a redutos de prostituição, que tendo feridas parecidas com avaríola, muitas vezes eram usadas para reprodução da vacina, disseminando a doença sífilis entre classes mais abastadasou famílias de conduta ilibada.Era difícil acreditar que simples mosquitos eram capazes de propagar doenças como a malária. De quehigienizar a cidade traria mais saúde a população, eliminando ratos que, quem diria tinham pulgas, e que estas simdisseminavam a peste bubônica. Era c omplicado, mas foi necessária a transformação e modernização da cidade.Nesse meio, a população vivendo ainda resquícios da escravatura, creditou as ações a repressão do Estado. Aeconomia vivia momentos difíceis e a dívida externa e interna do governo c rescia disparadamente apresar de ter ofunding-loan (1898) aliviando as pressões. O barril de pólvora já estava aceso pelas revoltas militares, agora, faltavadetonar os barris civis.Em 1904 inicia no Rio de Janeiro a revolta da vacina. O povo vai às rua s causando depredações e saques. Ogoverno decreta estado de sítio na cidade, mas nada disso adiantou, afinal, muitos membros da polícia eram tambémparentes de revoltados ou os próprios. Tentaram assaltar o Arsenal de Marinha, mas foram repelidos.Nesse meio, alguns militares tentam um golpe contra o governo de Rodrigues Alves.Acertado um plano, Lauro Sodré e o General Silvestre Travassos dirigiram -se à Escola Militar, na PraiaVermelha, prenderam o seu comandante, General Alípio de Macedo Costallat, e revoltaram a maioria dos cadetes. Estesse armaram e marcharam em direção ao Palácio do Catete, sem outras adesões. Enquanto isso, o Major Gomes deCastro chegava ao Realengo, em trem da Central do Brasil, com o intuito de revoltar os alunos da Escola de T ática;mas, no próprio pátio da Escola, foi preso pelo General Hermes da Fonseca, que percebeu suas intenções, sendoajudado pelos alunos; o mesmo ocorreu com o civil Luis Pinto de Andrade, desarmado a socos e coronhadas.Os cadetes se encontraram com as tropas legais da Brigada Policial e do Regimento de Infantaria do Exércitona Rua da Passagem à noite, ocorrendo uma fuzilaria cega por causa da ausência de luz. Muitos foram feridos (entreeles o cadete Eurico Gaspar Dutra) e, gravemente, o General Travas sos, retirando-se os cadetes para a Escola, certos desua derrota. A tropa do General Piragibe, espantada, debandou, obrigando este oficial a se apresentar sozinho no Catete,relatando a difícil situação. Sugeriu o Ministro da Marinha, Almirante Júlio Césa r de Noronha, que o presidente serecolhesse em um navio de guerra; mas, Rodrigues Alves recusou. Em pouco tempo, soube -se que os cadetes seretraíam aos alojamentos a esperar as conseqüências do desatino. Movimentaram -se os encouraçados Deodoro,Riachuelo, Aquidaban, República e Trajano e se postaram a pouca distância da Praia Vermelha; o Deodoro disparouduas vezes para a laje da Urca. Às 6 da manhã, o Ministro da Guerra, General Francisco de Paula Argolo, e mais oMinistro Lauro Müller, à frente de vária s unidades do Exército, dirigiram-se à Escola, onde os jovens aguardavamresignados. Presos, acabaram todos desligados.170Os desordeiros (500 talvez) ainda resistiam no bairro da Saúde, a que apelidaram de "Porto Artur", lideradospor um certo Manduca, vale ntão que residia na área. Ao perceberem as manobras do encouraçado Deodoro parabombardear o reduto, fugiram abandonando -o. O presidente, apoiado no Congresso, decretou um mês de estado de sítio,durante o qual a tropa fiel desbaratou os arruaceiros, efetu ando prisões, sendo vários deportados para o Acre. O GeneralTravassos morreu durante esse período, e Lauro Sodré ficou detido dez meses em navio de guerra. A Escola Militar foitransferida para o Realengo.Pouco depois, 1905, o Congresso concedeu anistia aos revoltosos, sendo o decreto assinado pelo presidente a 2

de setembro. Completaram-se as obras do Rio de janeiro; a Avenida Central, grande sala de visitas da cidade, povoou -sede novos edifícios imponentes: o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, a Escola Nacional de Belas-Artes, o novoClube Naval e outros que já desapareceram.A Revolta da Chibata e as Revoltas Marinheiras:A guerra Russo-Japonesa trouxera novas vertentes para as sociedades mundiais. Os própios desordeiros dobairro da Saúde se auto denominaram “Porto Arthur”.Apoiado pelo Senador José Gomes Pinheiro Machado, cercado de maus conselheiros, envolvido por seusfamiliares, que desejavam ajudar sem o saberem, Hermes Rodrigues da Fonseca iniciou o seu governo convencido queenfrentaria forte oposição, resultado da campanha civilista. Não possuía o porte de um estadista, oscilando seu bomcoração entre as opiniões que se chocavam ao seu redor.Dias depois da posse do marechal, ainda vivas as festividades e presentes autoridades estran geiras que asdignificaram, 23 de novembro, sublevaram-se os marinheiros do encouraçado Minas Gerais, liderados pelo cabo JoãoCândido Felisberto. Aderiram os navios São Paulo, Deodoro e Bahia. Secundavam João Cândido, na liderança, aspraças Gregório Nascimento, André Avelino, Ricardo Freitas e Francisco Dias Martins. Queriam melhores condições devida a bordo e a extinção dos castigos corporais (resquícios da escravidão).Se os novos encouraçados permitiram uma modernização dos meios flutuantes, não se c uidara de aprimorar oprocesso de seleção da marujada, cujo recrutamento, em algumas oportunidades executado à revelia, conduzia oshomens a um estado de exasperação quando embarcados, acrescendo -se a má qualidade do passadio (alimentaçãodiária) e da aplicação da chibata para as faltas mais graves; entre esses marinheiros, alcunhados de "quincas", e osoficiais persistiam uma defasagem de tratamento. Enquanto comissionavam os nossos navios na Inglaterra, nosestaleiros da firma Vickers Armstrong, os marujo s brasileiros contataram com as idéias comunistas que se espalhavamna Europa e avaliaram o amotinamento do encouraçado russo Potemkine sob a direção do marinheiro Matiuchenko(27/28 de junho de 1905).Pairava no ar um clima de insatisfação. Em novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes recebeu250 chibatadas no convés do Minas: representou a gota d'água, transbordando o copo da paciência. Sublevaram -se. Eranoite de 23 de novembro.O comandante do Minas Gerais, Capitão -de-Mar-e-Guerra João Batista das Neves, e outros militares que comele se encontravam regressavam de um jantar no navio francês Duguay -Trouin, preparavam-se para transpor o portalóàs 22 horas. Intimado a não subir as escadas, disso não fez caso, desencadeando -se uma luta que demorou dez minutos,morrendo nela, bem como o Capitão-Tenente José Claudio da Silva Junior e o Capitão -Tenente Mário Lahmeyer.Ferido, nesta mesma oportunidade, o Tenente Álvaro Alberto da Mota e Silva guardou para sempre as cicatrizes. Nonavio São Paulo, foi morto o Capitão-Tenente Américo Sales de Carvalho, e, no Bahia, pereceu o Primeiro -TenenteMário Alves de Souza. Nessas lutas alguns marinheiros também morreram.Cientificado sobre a ação revoltosa dos marujos, o Ministro da Marinha, Almirante Marques de Leão, desejouatacar os insubordinados, baseando-se na fidelidade dos contra-torpedeiros e seus oficiais e praças. Mas issorepresentaria sacrificar o poderio naval de que dispúnhamos e inutilizar os novos navios adquiridos com sacrifícios.João Cândido previa essa hipótese; movimentava -se na Guanabara e utilizava-se de seus menores canhões, atirandocontra Villegagnon e arredores a fim de intimidar o governo e provocar pânico na população.O presidente convocou, logo pela manhã, uma reunião no Palácio do Catete; achavam-se presentes PinheiroMachado, Campos Salles, Rodrigues Alves, Justiniano de Serpa e o Vice -Presidente Venceslau Braz. Pinheiro mostrou -se partidário de um acordo com os revoltosos; Rodrigues Alves discordou. Venceslau Braz propôs que se en carregasseo Deputado (mas igualmente oficial de Marinha) José Carlos de Carvalho para parlamentar com João Cândido. Aceita aincumbência, o deputado envergou a farda e se dirigiu para o Arsenal, onde conseguiu uma lancha que o levou aoMinas Gerais. João Cândido apresentou um memorial escrito ao deputado que, em seguida, o entregou ao governo.Rapidamente, o Senado votou uma anistia prévia (condição dos amotinados) seguindo -se a votação na Câmara dos

Deputados, assim tranqüilizando a população da cidade, q ue fora tomada de pavor, mas desagradando a oficialidadenaval. Chamaram-na a anistia do medo. No dia 27, os marinheiros sublevados entregavam os navios aos oficiaisdesignados para comandá-los.Os ânimos, porém, não se tinham acalmado; a 4 de dezembro, n a Piedade, foram presos 22 marujosconspiradores. Na noite de 9 de dezembro, um motim no navio Rio Grande do Sul, promovido pelos irrequietosmarujos, acabou por matar, a punhal, o Capitão -Tenente Francisco Xavier Carneiro da Cunha; seu comandante,Capitão-de-Fragata Pedro Frontin, conseguiu dominar a rebelião; graças à moderação do restante da guarnição que seretraiu.Nessa mesma noite, dez horas, rompia outra revolta no quartel do Batalhão Naval, na ilha das Cobras,desejosos, os fuzileiros, 616 praças de efetivo, de obterem as mesmas vantagens dos marinheiros. O governo, antes171tíbio, agiu de modo diverso: no dia seguinte, os canhões da Esquadra e do Exército varreram a ilha das Cobras eliquidaram os revoltosos. Muitos mortos e feridos como resultado. D iversos receberam pena de desterro para o Acre eoutras regiões do extremo norte do País. O cabo João Cândido foi preso no dia 10 de dezembro e, junto com outros 17possíveis participantes do movimento rebelde, encarcerado em uma cela do Quartel -General do Exército no dia 24 dedezembro; nela morreram 16 asfixiados, salvando -se João Cândido e um soldado naval. Permaneceu, ainda, preso por18 meses sob alegação de estar vinculado a essa revolta, tendo sido absolvido em Conselho de Guerra (02/06/1919).Alguns líderes, presos no navio Satélite, com destino ao norte, lá não chegaram, fuzilados a bordo, após tentativa demotim; a oposição política aproveitou -se desse incidente e explorou-o largamente.A Continuidade dos Governos:O presidente Hermes da Fonseca decidiu combater as oligarquias, no claro intuito de "salvar" os Estados porelas vitimados. A Política das Salvações consistiu em intervir militarmente nos governos estaduais, onde se assentavamsolidificados grupos políticos, como conseqüência da Políti ca dos Governadores, sustentada pelo Senador PinheiroMachado. Uma atmosfera de violências atingiu diversas cidades brasileiras.Governo e oposição estavam em pé -de-guerra. Houve diversos conflitos nos estados, fruto de desavenças entreinterventores e as oligarquias locais. Na Bahia, Salvador foi bombardeada pelo Exército, fato que desagradou aoMinistro da Marinha Marques de Leão que pediu sua demissão.No governo de Artur Bernardes, seguindo a política do café -com-leite, a morte do paulista RodriguesAlves deveria levar à presidência da República, em 1918, o mineiro Venceslau Brás. Entretanto, acabou sendoempossado interinamente o vice, Delfim Moreira, que, conforme previsto na constituição, realizou novas eleições, Asoligarquias paulista e mineira, não encontrando um nome de consenso, concordaram em apoiar o paraibano EpitácioPessoa, com a retomada da política do café -com-leite a partir de sua sucessão.No governo de Epitácio Pessoa, um experimentado político paraibano de pouca estatura e caráter f orte, recebiaa faixa presidencial num clima de confiança e otimismo. Organizou um ministério sem ligações políticas e com civisnas Pastas Militares: João Pandiá Calógeras, na Guerra, e Raul Soares na Marinha. Aos militares pareceu essa atitudeuma provocação; não era. E o presidente fez prevalecer a sua autoridade.Por ato de 3 de setembro de 1920, o governo revogou a Lei de Banimento da Família Imperial (DecretoLegislativo nº 4.120), ao mesmo tempo que autorizou a transferência dos restos mortais de D. Pedro II e de D. TherezaCristina para o solo pátrio. O príncipe Conde D’Eu trouxe a bordo do encouraçado São Paulo as cinzas de D. Pedro II ede D. Tereza Cristina. Viajaram junto os príncipes D. Pedro, D. Luís e D. Antonio (filhos de D. Isabel).Para as eleições de 1922, São Paulo e Minas lançaram a candidatura de Artur Bernardes. Os estados do RioGrande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, que ocupavam papel secundário na vida política nacional nesseperíodo, resolveram desafiar as elites domin antes, no movimento chamado Reação Republicana, e lançaram comocandidato o político fluminense Nilo Peçanha. O advento de uma dissidência oligárquica fez das eleições de 1922 umaverdadeira disputa, caso raro na República Velha.

Nilo Peçanha e a Reação Republicana passaram a pregar a moralização política, numa flagrante contradiçãocom as origens oligárquicas do movimento, sensibilizando parte do crescente eleitorado urbano. A disputa se acirrouainda mais com a tomada de posição da imprensa, ora apoiando um, ora outro.Em outubro de 1921, o jornal carioca Correio da Manhã passou a publicar uma série de cartas atribuídas aArtur Bernardes, nas quais o candidato criticava o exército, afirmando a existência de corrupção e imoralidade nainstituição. O episódio das "cartas falsas" criou grande mal -estar entre o político mineiro e os jovens oficiais do exército- os tenentes -, por mais que a fraude tenha sido posteriormente apurada.Após eleições fraudulentas, em março de 1922, a vitória coube a Artur Bernar des. Apesar de todo odescontentamento no meio militar, a posse do novo presidente foi marcada para novembro daquele ano. Reagindo àvitória de Bernardes e tentando impedir sua posse, em 5 de julho de 1922 sublevou -se um grupo de oficiais do exércitono forte de Copacabana, na capital da república, Rio de Janeiro.O Capitão Euclides da Fonseca pensava contar com líderes operários para sua revolta, mas enganara -se: estavasó. O Presidente Epitácio lançou contra ele os Corpos fiéis do Exército e polícia mili tar, comando do Coronel JoãoNepomuceno da Costa, que atravessaram o túnel, depois chamado de Velho, e estacionaram.A Fortaleza de Santa Cruz não cessou de bombardear o forte rebelde. E os grandes encouraçados Minas Geraise São Paulo colaboraram com seus canhões de grosso calibre. Ironia: os revoltosos não puderam usar seus canhões de305mm por falta de energia nos geradores.Na madrugada de 6, o Ministro Calógeras comunicou -se, por telefone, com o forte impondo a sua rendição; oCapitão Euclides da Fonseca permitiu, então, a saída dos prisioneiros e soldados (272 homens), restando 29 em seuinterior. Em sua segunda comunicação ofereceu uma capitulação; para discutir os seus termos, o Capitão Euclides saiudo forte e dirigiu-se sozinho a Botafogo, residência do pai, onde foi preso pelo Major Marcolino Fagundes e levado aoPalácio do Catete, à presença do presidente da República, que ordenou a sua prisão,Os remanescentes, liderados pelo Tenente Siqueira Campos, resolveram sair do forte e enfrentar as tr opaslegais; 29 homens, logo reduzidos a 19, marchavam resolutos pela calçada da Avenida Atlântica com armas na mão.Nessa ocasião, o fotógrafo Zenóbio Couto, da revista O Malho, fixou um flagrante histórico no qual se vêem 18 homens(Siqueira Campos não aparece na foto, pois bebia água no Hotel Londres). Na altura da Rua do Barroso (hoje SiqueiraCampos), onze homens travaram combate desigual com as forças governamentais, salvando -se Siqueira Campos,Eduardo Gomes, Newton Prado (que morreu no hospital) e o soldado Manuel Ananias dos Santos.172O Presidente Epitácio agiu com severidade efetuando várias prisões. Diversos outros sinais da revoltamanifestavam-se pelo país. Essa seria a primeira grande rebelião tenentista, que, mesmo fracassada, teve grandeimportância, pois tornou público o movimento, e alguns de seus líderes seriam transformados em verdadeiros heróis eparticipando de vários fatos históricos brasileiros até o golpe militar de 64.O governo de Artur Bernardes caracterizou -se por intensa agitação política e militar. O presidente reeditou as"salvações" de Hermes da Fonseca, promovendo intervenções nos estados que não o apoiaram nas eleições,principalmente Rio de Janeiro e Bahia.Em 1923, explodiu a Revolução Gaúcha. Seu estopim foi a eleição - pela quinta vez consecutiva - do velhopolítico "pica-pau" (pertencente ao Partido Republicano Rio -grandense) Borges de Medeiros, para o governo do estado.Seus rivais, os maragatos, liderados por Assis Brasil, levantaram -se contra a reeleição, inclusive contando com o apoiodo presidente da República.A solução para o conflito só veio após meses de intensos combates, quando os dois lados firmaram o pacto dePedras Altas, que estabelecia que, concluído o mandato de Borges de Medeiros, ficavam proibidas as r eeleições paragovernador no estado. Abria -se, assim, espaço para uma nova geração de políticos gaúchos, dentre os quais logo sedestacariam Flores da Cunha, Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor e Getúlio Vargas.O Brasil na Primeira Guerra Mundial:O assassinato do Arquiduque da Áustria, Francisco Ferdinando, em Sarajevo, constituiu o motivo imediato da

guerra de 1914 a 1918. A política imperialista da Áustria e da Rússia nos Bálcãs, a paz armada que sucedeu à guerrafranco-prussiana de 1870, provocando um n ítido sentimento “revanchista” na França, e o agrupamento de grandespotências em dois sistemas rivais de alianças ocasionaram a guerra.A Tríplice Aliança formou-se em 1882, resultado da unificação do Império Germânico, planejado e realizadopor Otto von Bismark. A Alemanha, a Áustria -Hungria e a Rússia uniram-se em uma liga harmônica em 1875. Mas,após o Congresso de Berlim, em julho de 1878, o Império Russo afastou -se dos seus aliados, ao mesmo tempo em que aItália deles se aproximava, compondo a Trípl ice Aliança. A França, mantida em isolamento, acertava com o ImpérioRusso, em 1891, um acordo ofensivo -defensivo, contra os Impérios Centrais. A Inglaterra, até então em expectativa,uniu-se à França em 1904. Três anos depois, nascia a Tríplice Entente, q ue pretendia opor-se ao pangermanismo emdesenvolvimento pelo Império Alemão, o qual tinha em mira a hegemonia sobre a Europa Central, estendendo -se sobreo Império Otomano, aliada a uma agressiva expansão econômica.O barril de pólvora encontrava -se depositado na região balcânica. Pelo Congresso de Berlim, ficoudeterminado que a Bósnia e a Herzegovina, ambas de origem eslava, passariam para a tutela austríaca, apesar decontinuarem, nominalmente, pertencentes ao Império Otomano. A Sérvia, que alcançara s ua completa autonomia,desejava formar uma Sérvia Maior, com a incorporação das citadas regiões eslavas e sob a proteção do Império Russo,cujo objetivo voltava-se para a posse dos estreitos de Bósforo e Dardanelos. Contrariando estas expectativas, a Áustr iaanexou, em 1908, a Bósnia e a Herzegovina. Essa política recebera inspiração do herdeiro do trono, já que o ImperadorFrancisco José encontrava-se velho e doente. Compreenda -se o estado de espírito dos patriotas sérvios: sentiam-seoprimidos e esbulhados. Foi essa a razão que conduziu o estudante Printzip a assassinar o arquiduque e sua mulherquando visitavam a capital da Bósnia (28/06/1914). A Áustria declarou guerra à Sérvia, e a Rússia entendeu de protegê -la. Começara a guerra, com envolvimento dos p aíses formadores das alianças rivais.O kaiser Guilherme II, embevecido com as vitórias retumbantes de 1866 e 1870, aceitou a formação de umaesquadra, cuja potência estaria fundamentada na artilharia de enormes dimensões, inspiração do Almirante von Tirp itz,mas acreditou que a sua influência seria mínima em uma guerra que pensava ser travada, exclusivamente, em áreacontinental. Os ensinamentos das campanhas napoleônicas e a doutrina expressa por Clausewitz em seu livro VonKriege ainda se encontravam por demais presentes, subordinando todos os princípios da guerra ao da iniciativa.Por isso, acrescido ao alto poder destruidor dos armamentos, imaginava -se que poucos embates, rápidos edecisivos, fariam apontar os vitoriosos.O governo brasileiro, atravé s de seu Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, decretou arigorosa neutralidade. As elites brasileiras, sempre voltadas culturalmente para a França e a Inglaterra, sofreram nosprimeiros momentos quando parecia certa a vitória dos Impérios C entrais. Pânico e incertezas dominaram o mundo dosnegócios.O governo do Presidente Venceslau Braz desejou manter -se alheio ao conflito e, por isso, conservou umaatitude de neutralidade, posição há muito observada pela política externa brasileira. No en tanto, a guerra estabilizou-sena monotonia das trincheiras, e as potências beligerantes recorreram aos produtos e matérias primas brasileiras.Reanimavam-se nossas atividades econômicas: antigas indústrias renasciam e novas se criaram. Qualquer mercadoriapodia ser negociada com lucros expressivos.Havia desejo de que o Brasil se posicionasse. Rui Barbosa, pronunciando discurso em 14 de julho de 1916, naFaculdade de Direito de Buenos Aires, condenou a atitude neutra do governo brasileiro, excitando a opi nião pública.Pouco depois, em 7 de setembro de 1916, Olavo Bilac e outros patriotas promoviam o nascimento da Liga de DefesaNacional; o grande poeta afirmava: "A caserna é uma escola. Sendo soldados, sereis cidadãos." O Império Alemão não

havia conseguido angariar prestígio entre nós, a não ser nos meios científicos; poucas vozes se alçaram em seu favor,sendo a mais representativa Monteiro Lobato; mais tarde, retratou -se dizendo que o fizera para contrapor -se ao jornal OEstado de São Paulo.173Mas a influência alemã marcara o nosso Exército por causa do estágio que jovens oficiais brasileirosrealizaram no Exército alemão, divididos em três turmas (1906, 1908 e 1910) e que abertamente defendiam a presençade uma missão militar estrangeira, preferentemente alemã.Em decorrência da política alemã no mar ninguém duvidava que navios brasileiros seriam atacados. Oafundamento do navio brasileiro Paraná, a dez milhas de Banfleur, no Canal da Mancha, em 3 de abril (1917), comsaldo de três mortos, determinou o rompimento das relações diplomáticas com os Impérios Centrais no dia 11 de abril.O governo brasileiro procurou agir com cautela, adotando uma posição de expectativa, mas não encontrou acolhida desuas reclamações. No dia 3 de maio, exonerava -se o nosso Ministro das Relações Exteriores, General Lauro Müller.Segundo navio, o Tijuca, era afundado, a 20 de maio, em frente à cidade de Brest. Comunicando ao Legislativo essesincidentes, o Presidente Venceslau Braz solicitava a aprovação de medidas que julgava urg entes. Com parecer deAlberto Sarmento, a mensagem presidencial foi transformada em projeto dando origem ao Decreto Legislativo de 12 dejunho de 1917, que revogava a neutralidade brasileira e autorizava o Executivo a utilizar os navios mercantes alemães,em número de setenta, ancorados em portos brasileiros, procedendo -se o apresamento dos navios alemães. A canhoeiraEber, fundeada em Itapagipe, Bahia, foi incendiada e posta a pique por sua própria guarnição no dia 10/11/1917. Não seconstituiu este um caso isolado; as tripulações sabotavam como podiam os navios para que não fossem utilizados.Em 15 de outubro perdemos o navio Tupi, por encalhe, a dez milhas de Agadir. Em 25 de outubro, outro navio,o Macau, desaparecia vítima de um torpedo alemão na Baía de Biscaia; seu comandante, Saturnino Furtado deMendonça, foi feito prisioneiro pelo submarino alemão. No dia seguinte, o Presidente Venceslau Braz sancionava oDecreto nº 3.361, pelo qual ficava reconhecido e proclamado o estado de guerra iniciado pelo I mpério Alemão contra oBrasil. Uma semana depois, os alemães torpedearam o navio Acari, do Lóide Brasileiro, e o Guaíba, da Companhia deComércio e Navegação, que se encontravam perto de Cabo Verde, com carregamento de café.Considerando-se em guerra, o presidente da República decretou um estado de sítio para todo o país.E tiveram inicio os preparativos bélicos. Inicialmente, o Ministro Almirante Alexandrino de Alencar criou trêsdivisões navais, Norte, Centro e Sul, com missão de patrulhamento das água s costeiras. Em seguida, empenhou-se emorganizar uma força-tarefa que permitisse a participação efetiva brasileira de acordo com o que resolvera a Conferênciainter-aliada, reunida em Paris, de 20 de novembro a 3 de dezembro de 1917. Nasceu, assim, a Divi são Naval emOperações de Guerra, conhecida pela sigla DNOG, com a incumbência de patrulhar a área compreendida entre Dacar,Cabo Verde e Gibraltar. Ficava sob as ordens do Almirantado britânico, representado pelo Almirante Hischcot Grant.Para comandá-la, o ministro designou um dos oficiais de maior prestígio na época, o Contra -Almirante Pedro MaxFernando de Frontin, nomeado em 30 de janeiro de 1918.A DNOG era composta pelos cruzadores Rio Grande do Sul (José Machado de Castro Silva), capitânia, eBahia (Trancredo de Gomensoro), contratorpedeiros Piauí (Alfredo de Andrada Dodsworth), Rio Grande do Norte (JoséFelix da Cunha Menezes), Paraíba (Manoel José Nogueira da Gama) e Santa Catarina (Adalberto Guimarães Bastos),tender Belmonte (Benjamin Goulart), ex-Valésia, alemão apresado, muito conhecido pelo apelido de Guiomar Novais(porque, em cada porto, como a pianista, "fazia um conserto"), todos comandados por Capitães -de-Corveta, exceto

Gomensoro que era Capitão-de-Fragata, e o rebocador Laurindo Pitta ( 1º Tenente Nelson Simas de Sousa). Entreoficiais e praças totalizavam 1.515 homens embarcados pelo sistema de voluntariado.Esses navios concentraram-se no Rio de janeiro, onde receberam rápidos reparos não adequados à missão queiriam desempenhar: não havia o necessário no Brasil e não existiam técnicos capazes nem maquinaria pesada. Frontindesenvolveu uma tarefa hercúlea, junto com seu estado -maior, incluindo diversos e exaustivos exercícios de tiro real aolargo da Ilha Grande e na Baía de Jacuecanga.A partir de 7 de maio, os navios da DNOG iniciaram a viagem rumo ao litoral nordeste. Por Aviso Secreto nº235 do Ministro da Marinha, de 14 de maio, o Contra -Almirante Frontin achava-se investido de poderes excepcionais,dos quais nunca abusou. Pararam em Salvador, Recife e Natal, aproveitando, o seu comandante, para exercitar seussubordinados, cumprindo um programa de adestramento previamente traçado em diversas fainas de guerra.Em final de julho, agruparam-se em Fernando de Noronha. Cada homem em ca da navio sabia exatamente oque fazer em qualquer emergência que adviesse. A 1º de agosto de 1918, às 8 horas, a DNOG suspendeu com destino aGibraltar, objetivando varrer os mares de embarcações inimigas no percurso.A possibilidade desses navios deparar em com submarinos prontos para desativarem a modesta, mas orgulhosaforça, constituía motivo de preocupação permanente. Em uma época em que apenas se podia saber da presença doinimigo submerso quando se avistava o seu periscópio, avalie -se como aqueles homens encontravam-se tensos,especialmente quando a noite camuflava e produzia ilusões para os incansáveis vigias. Acrescentem -se as diversaspausas em alto-mar corno resultado de defeitos os mais diversos.No dia 9 de agosto, a DNOG aportou em Freetown, t endo o seu comandante se apresentado ao AlmiranteSheppard, sob cujo comando ficava a sua força. Os nossos navios permaneceram nesse porto 14 dias. Em uma dasmanobras normais de reabastecimento, uma bomba de profundidade desprendeu -se da popa do Paraíba caindo ao mar;com rapidez, o cabo José de Sousa Oliveira atirou -se n'água, segurando a bomba e impedindo que ela, chegando aofundo, explodisse danificando o navio e ceifando vidas. Durante essa estadia em Freetown, os brasileiros começaram acontrair o vírus da famosa "gripe espanhola", moléstia ainda desconhecida e que atacava, com furor, os nativos. Em 23de agosto, a DNOG suspendeu com destino a Dacar, navegação realizada com muito mau tempo.Na noite de 25 para 26 de agosto, na véspera da entrada em D acar, torpedos provenientes de submarinoinimigo passaram por entre a formação dos navios brasileiros. Os nossos abriram fogo logo que o avistaram em fase desubmersão, lançando, em seguida, bombas de profundidade. Não houve, contudo, certeza de sua destru ição; mas o174Almirantado britânico homologou a perda inimiga, creditando -a aos brasileiros. No dia 26, a Divisão fundeou emDacar.A permanência neste porto africano previa ser rápida, limitando -se ao reabastecimento e alguns reparos.Estendeu-se, porém, por causa da gripe espanhola que se espalhou entre os brasileiros contagiando a quase todos,paralisando os serviços, descontrolando os planos. Morreram 464 homens. Atendendo, porém, ao imperativo desejo doAlmirantado britânico, o Piauí partiu, 9 de setemb ro, para as ilhas de Cabo Verde; levava oito doentes da gripe. Em SãoVicente, a situação sanitária se agravou: a "gripe" espalhou -se e outros homens contraíram o mesmo mal. Contudo, o armais salubre contribuiu para o restabelecimento de muitos. Algumas p atrulhas foram executadas. Em 19 de outubro, oPiauí regressava a Dacar, deixando enterrados naquela possessão portuguesa quatro elementos de sua tripulação.Somente em 3 de novembro, a DNOG pôde reiniciar a viagem para Gibraltar com oficiais e praças vin dos doBrasil para completarem os claros, permanecendo em Dacar o Rio Grande do Sul, que precisava mudar a tubulação doscondensadores, o Rio Grande do Norte, com vários problemas nas máquinas, o Belmonte, com um carregamento detrigo para o governo francês, e o Laurindo Pitta, que se aprestava para retornar ao Brasil.No dia 10, a DNOG, assim desfalcada, fundeou em Gibraltar. No dia seguinte, era assinado o armistício. Osnavios foram docados e sofreram reparos vários, e os homens aproveitaram, em terra, m omentos de lazer. A viagem de

volta, alegre e descontraída, contou com a Inglaterra, França, Portugal e Itália nos portos de escala. Depois de regressarao Brasil, a DNOG foi dissolvida em 25 de junho de 1919, cumprindo, integralmente, a missão que lhe for a confiada.A atuação da Marinha Brasileira verificou -se, também, na ocupação militar da Ilha da Trindade, até aquelemomento desabitada e de inegável importância estratégica. Em 20 de maio de 1916, o cruzador Barroso, comando doCapitão-de-Mar-e-Guerra José Libânio Lamenha Lins de Sousa, partiu do Rio de janeiro para essa missão, levando onecessário para instalar uma estação de rádio e mais 30 operários civis, dois repórteres e um farmacêutico, o Barbosa,possuidor de antigo mapa sobre um tesouro de pira tas. Ergueu-se a estação na Praia das Tartarugas.A contribuição brasileira se fez sentir, igualmente, na formação de um contingente de aviadores militares quepartiu para a Inglaterra em janeiro de 1918; totalizavam oito da Marinha e um do Exército. Após um período detreinamento na Escola de Aviação de Eastbourne, participaram de diversas missões de combate.Por solicitação do ministro plenipotenciário da França no Brasil, o poeta Paul Claudel, estruturou -se umamissão médica, chefiada pelo Dr. Nabuco Gouveia, sob as ordens do General Napoleão Aché, composta de 5 médicosda Marinha, 5 do Exército e 90 civis, auxiliados por 17 estudantes de medicina, contando com 30 soldados parasegurança e guarda. Em 18 de agosto de 1918 embarcaram no navio La Plata com destino a Marselha. Em Paris,agregaram-se seis médicos brasileiros que já se encontravam na França. A missão médica instalou -se em prédio da RuaVaugirard, adaptado para desempenhar a função de hospital, contando com 300 leitos. A atuação dos médicosbrasileiros prolongou-se até seis meses após o término da guerra.Embora não muito numeroso, o concurso brasileiro à guerra mostrou -se bem significativo. Acrescente -se oempréstimo de trinta navios à França dos setenta apreendidos.Não sofremos, diretamente , as provas da guerra, mas reflexos indiretos nos atingiram em cheio.Economicamente, podemos observar que saíamos de uma estrutura agrária para a industrialização; o Brasil perdia a suacaracterística de exportador de café e açúcar e importador do resto; podíamos criar indústria, pois matéria -prima nãofaltava. A aproximação com os Estados Unidos em detrimento dos antigos laços ingleses, uma tomada de consciêncianacionalista e novas tendências literárias e artísticas completam o quadro das conseqüências. Enfim, esta guerramundial arrancava o Brasil de um recolhimento semi -colonial para lançá-lo na complexidade do mundo contemporâneo.Todos receberam com alegria a notícia do armistício de 11 de novembro; mas logo depois, a "gripe espanhola" atingia oBrasil tendo como vetor os próprios brasileiros que foram lutar na guerra, entrando pelos portos do Brasil,principalmente do Rio de Janeiro, ceifando vidas em todas as classes sociais, inclusive do presidente da RepúblicaVenceslau Brás.Uma Comissão formada por França, Inglaterra, Estados Unidos, Itália e Japão, na Conferência de Versalhes,decidiram os rumos dos países. As decisões tomadas seriam pretextos para a próxima guerra.O Período entre Guerras:O sucessor de Artur Bernardes na presidência da Rep ública foi Washington Luís, nascido no estado do Rio deJaneiro, embora toda sua carreira política tivesse sido feita em São Paulo. Decretou o fim do estado de sítio, mantidoquase ininterruptamente durante o mandato de Artur Bernardes, o fechamento de pri sões destinadas a presos políticos eo restabeleci mento da liberdade de imprensa. Não concedeu, no entanto, anistia política.A quebra da bolsa de Nova York, em 1929, com efeitos catastróficos para a economia mundial, deu início àGrande Depressão e à ruína da economia norte-americana, com a queda drástica na produção industrial, além daexpansão desenfreada do desemprego. O Brasil sentiu de imediato os efeitos da crise, com a queda brutal nos preços docafé. Os cafeicultores buscaram, como de hábito, sa lvação junto ao governo federal. Washington Luís rejeitou qualquerauxílio, argumentando que a queda nos preços do café seria compensada pelo aumento no volume das exportações, oque, aliás, não aconteceu.

A atitude do presidente gerou grande insatisfação entre os cafeicultores paulistas, sua principal base desustentação. Não se pode dizer que os cafeicultores tenham passado, a partir de então, a fazer oposição ao governo; noentanto, a sua disposição em defendê -lo na eventualidade de um golpe ou revoluçã o se viu diminuída.175As Eleições de 1930:Para concorrer às eleições presidenciais de 1930, Washington Luís indicou outro candidato paulista, JúlioPrestes, contrariando os princípios da política do café -com-leite. Desgostou, por isso, profundamente a o ligarquiamineira, que via no governador do estado, Antônio Carlos, o candidato natural à sucessão presidencial. Caminhava -separa mais um rompimento, e as eleições de março daquele ano foram realmente disputadas.Os mineiros formaram a Aliança Liberal, uma frente de oposição à candidatura oficial de Júlio Prestes. Deinício, ofereceram a vaga de candidato a presidente aos gaúchos, que prontamente aceitaram, lançando o nome dogovernador de seu estado, Getúlio Vargas. Em seguida, ofereceram a candidatura à vice-presidência a um estado menor,a Paraíba, sendo indicado o governador João Pessoa. Naturalmente, por mais fraudes que tivessem, os três estados nãoteriam como competir com os demais estados da república. Sendo assim, a Aliança Liberal buscou atrair os votos dosdescontentes com o regime oligárquico que, a essa altura, não eram poucos.As propostas da Aliança Liberal conseguiram atrair o apoio do eleitorado urbano, de setores da burguesia aoproletariado, passando pelas camadas médias. Enquanto isso, os tenentes, frustrados nas suas tentativas de derrubar oregime pela força, enxergaram no apoio à Aliança uma alternativa política para a ascensão ao poder.Finalmente, o Partido Democrático (PD) apoiou a Aliança. Formado em São Paulo, em 1926, defendia umprograma liberal, de âmbito nacional, reformista, incluindo em suas propostas o voto secreto.Em torno de Getúlio Vargas, em oposição à oligarquia dominante, agrupavam -se setores sociais díspares,quando não francamente antagônicos. Os próprios tenent es, supostamente contrários ao regime oligárquico,encontravam-se agora aliados a outros grupos oligárquicos.Entre roubalheiras de lado a lado, venceu o candidato da situação Júlio Prestes. Os candidatos de oposiçãoacataram a decisão do pleito.Em 26/07/1930, antes da tomada de posse do candidato eleito, João Pessoa era assassinado na capital daParaíba por motivos passionais, ardilosamente aproveitados como razão política.O Golpe Militar (A Revolução de 1930):A revolução iniciou seus movimentos ad quirindo proporções nacionais. Não era estrategicamente má asituação do governo, bem como surgiram alguns desentendimentos entre os revolucionários. Nas Forças Armadas aindafiéis a Washington Luís começou a se manifestar o repúdio a uma luta sangrenta, e nquanto o desânimo lavrava ao redordo presidente que, contudo, continuava calmo. A idéia revolucionária atingira os quartéis do Rio de janeiro, comexclusão da Marinha, que se mantinha neutra e em expectativa. O povo já apoiava a formação de uma junta queparlamentasse com os líderes revoltosos. Chegaram a essa mesma conclusão alguns generais. Outros militares doExército, no entanto, preferiram agir, invadindo e dominando o palácio presidencial. Washington Luís, deposto desciaas escadas do Guanabara e era conduzido para o Forte de Copacabana e, depois, para o exílio.Ao mesmo tempo que se consumava o episódio do Palácio Guanabara, grupos exaltados distribuíam tiros nasruas centrais da Capital Federal, e jornais eram fechados e edifícios eram incendiados . A calma retornou com a juntamilitar (generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e Almirante Isaias de Noronha). No mesmo dia, a junta recebiatelegrama de Curitiba informando que os revolucionários desejavam Getúlio Vargas no poder. E, no dia 31 de outubro,já de noite, a composição ferroviária que conduzia Getúlio Vargas e comitiva chegava à gare Pedro II, no Rio deJaneiro. Vargas hospedou-se no Palácio do Catete em cujo salão nobre, às 16 horas do dia 3 de novembro, recebeu dajunta militar o governo da República que se iniciava.O Governo Provisório:O governo provisório tomou posse no dia 3 de novembro; discursando na ocasião, Vargas expôs os 17 itensdaquilo que ele chamou de idéias centrais do programa de reconstrução nacional. Compunha o Ministério: Agricultura:

Assis Brasil; Exterior: Afrânio de Melo Franco; Fazenda: José Maria Whitaker; Guerra: General Leite de Castro;Justiça: Oswaldo Aranha; Marinha: Almirante Isaias de Noronha; Viação: Juarez Távora. Logo depois, nasceu oMinistério da Educação e Saúde Pública, cuja Pasta ficou com Francisco Campos. Oito dias depois, 11 de novembro, ogoverno provisório limitou os seus poderes por uma Lei Orgânica, elaborada pelo jurista Levi Carneiro, consultor geralda República.Prometendo honrar os compromis sos internacionais, o governo provisório não encontrou dificuldades em seraceito pelas demais nações.Os revolucionários não poderiam contentar -se com uma simples mudança de presidente. Exigiam umacompleta transformação nacional. Assim, pela Lei Orgânic a, ficou dissolvido todo o Poder Legislativo, federal, estaduale municipal. Interventores (nem sempre de grandes méritos) ocuparam os cargos dos antigos presidentes estaduais,excluindo-se o Estado de Minas Gerais, em cujo governo conservou -se Olegário Maciel. Juarez Távora, além doMinistério da Viação, que ocupou por pouco tempo, geria 12 Estados do Norte e Nordeste, e para eles escolheu osinterventores, ficando conhecido como o "vice -rei do Norte".Medida tida por básica pelos revolucionários, a apura ção das irregularidades administrativas do governoanterior começou com um tribunal especial, que, durante quatro meses, esmiuçou atos e vidas de velhos políticos,transformando-se em junta de Sanções para, em setembro de 1931, alterar -se para Comissão de CorreiçãoAdministrativa, extinguindo-se sem nada provar. Outras medidas: os Estados ficavam proibidos de contrair176empréstimos externos sem autorização do governo federal; gastar mais de 10% da despesa ordinária com a políciamilitar; dotar as mesmas de ar tilharia, aviação ou armá-las em proporção superior ao Exército.O governo forte e administrativamente centralizado gerou certa censura de imprensa e um cerceamento deliberdades individuais. A grande força política era o Tenentismo, cujas agremiações rep resentavam a sua ideologia,defendendo a continuidade de um regime forte e da situação do governo provisório, a fim de que se pudessem realizaras reformas ambicionadas e extinguir as oligarquias. Vargas submeteu -se aos princípios do Tenentismo e com eleformou nos primeiros momentos. Ainda em 1932, dizia em discurso: "Devia -se proceder antes da constitucionalização,à capina do terreno, das ervas daninhas que o esterilizavam."As dificuldades econômicas mundiais ainda influíam no ambiente brasileiro: grev es e reivindicações operáriasmarcaram os primeiros dias do novo regime Comícios apelavam para as pretensões da classe. Vargas criou o Ministériodo Trabalho entregue a Lindolfo Collor, ativo gaúcho que iniciou o contatos para as medidas cicatrizantes. Comperspicácia, Vargas soube captar a simpatias desses trabalhadores, regulando os sindicatos, em março de 1931,instituindo as Juntas de Conciliação e Julgamento (1933), complementando com elaboração de diversas leis embenefício dos trabalhadores.Em 12/06/1931, o governo provisório criou o Correio Aéreo Militar (depois Correio Aéreo Nacional), cujadireção ficou com o Maior Eduardo Gomes. Em 21/12/1931, criou o Tribunal Marítimo.A situação do café apresentava -se cruciante, resultado ainda do craque de 1 929. O governo americano deHoover suspendia todas as compras desse produto. Por isso, Vargas adotou medidas saneadoras na área econômica,defendendo os interesses e as reservas energéticas do país.Não se mostrava de satisfação a situação política brasil eira; havia indisciplina nas classes armadas,favoritismos para alguns enquanto que para outros humilhações.O Governo Provisório era para ser provisório. Como Vargas não demonstrava interesse em sair do governo,alguns grupos começaram a cobrar as medida s prometidas pela junta governamental. Fatos políticos ocorridos em SãoPaulo deflagraram uma revolta.A Revolta Constitucionalista de 1932:A 9 de julho em São Paulo deflagrava uma revolução com um tímido apoio de Mato Grosso, arvorando abandeira da constitucionalização. Assumiu o comando do movimento Bertholdo Klinger. Em pouco tempo, todos osprédios e repartições públicas se encontravam nas mãos dos revoltosos; vários elementos contrários (em número de1.400) encheram as prisões.Os paulistas pensaram em obter a adesão do Rio Grande do Sul, mas este Estado fora contido por Flores daCunha, que acabou preferindo apoiar Getúlio, e de Minas Gerais, onde seu principal revolucionário, Artur Bernardes,

nada conseguia. João Alberto, na Chefia de Polícia do Distrito Federal, reprimiu os entusiasmos no Rio de Janeiro. Arevolta ficou, assim, circunscrita a São Paulo. Com entusiasmo, certos de que derrubariam o governo de Vargas, ospaulistas criaram batalhões e recrutaram a juventude escolar para o serviço de guerra, alcançando cinqüenta milinscritos. Possuíam perto de quarenta mil fuzis e metralhadoras leves; o armamento que deveria ser comprado emquantidade, por Manuel José Ferreira, nos Estados Unidos, se reduziu, pois aquela nação não reconheceu o estado debeligerância. Mesmo esse material, embarcado no iate Ruth e no navio Jaboatão, não conseguiu chegar aosrevolucionários, porque foi apreendido no litoral paulista.As forças paulistas se abriram em quatro frentes: o Vale do Paraíba, a frente mineira, a frente paranaense e afrente costeira, tendo Santos como ponto principal.O governo provisório não perdeu tempo em reagir: efetuou o bloqueio naval do porto de Santos, enviouinfantes pelo Vale do Paraíba, sob o comando de Góis Monteiro, efetuou desem barques em Angra dos Reis e Parati,cercou a frente mineira, atacou a frente paranaense e a frente mato -grossense.A situação estratégica assemelhou-se à guerra de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Os revoltososcontinuavam a manter a resistência ocorrendo sangrentas batalhas. Não houve troca de tiros na frente costeira entre asunidades de Santos e os navios da Esquadra.Os paulistas dispuseram de dois aviões Potez e três Waco, aos quais se juntaram um Waco e um Nieuportconduzidos do Campo dos Afonsos (RJ), Em agosto, compraram no Chile nove aviões Curtis Falcon, transferidos paraos revoltosos por pilotos norte -americanos e chilenos; dois acidentaram-se e não operaram. Houve diversas ações aéreasnas áreas de conflito e, em 24 de setembro, o Tene nte Ribeiro e o civil Mario Machado Bittencourt morreram ao serabatido o avião Curtis no qual tentavam atacar o cruzador Rio Grande do Sul em Santos. É interessante observarmosque, pela primeira vez na América, o avião desempenhou papel decisivo na estra tégia militar, e talvez, por isso, SantosDumont tenha se suicidado (no Hotel de La Plage, em Guarujá, a 23/07/1932).Diante de tão apertado cerco, o esgotamento e dificuldades de munições conduziram a um recuo geral. Klingerpreferiu a rendição, que não foi discutida com todos os chefes revolucionários, assinada a 12 de outubro, sem quemuitos paulistas (especialmente a frente leste) concordassem. Os chefes ficaram detidos no navio Pedro I e depois noSiqueira Campos e desterrados para a Europa.177A Constituinte de 1934:Objetivando evitarem-se lutas partidárias inoportunas, a Assembléia Constituinte incumbiu -se de eleger,indiretamente, o primeiro presidente. Concorreram Getúlio Vargas e Borges de Medeiros, recaindo a escolha noprimeiro. A Assembléia Constituinte transformou-se em Câmara dos Deputados. Algumas dificuldades existiram emrelação aos interventores dos estados, sendo que no Estado do Rio, conservando -se interventor o comandante AryParreiras até 12/11/1935, quando foi eleito governador o Almirante Protógenes Guimarães, que ocupava o Ministério daMarinha.Vargas revelou intenções de pacificação, organizando o seu Ministério com membros de variadas correntespolíticas e até adversários, como o General Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Guerr a; e Almirante ProtógenesGuimarães, na Marinha.Ingressávamos, assim, no período constitucional, permitindo -se ampla manifestação do pensamento político.O mundo caminhava para o totalitarismo nazi -fascista ou comunista, crescendo, também no Brasil, ess as duastendências opostas. Benito Mussolini instalara, na Itália, o Estado Corporativo, com ausência de partidos políticos eoposição; os trabalhadores italianos, regidos pela Carta do Trabalho (1927), acreditavam que uma nova ordem seinstalara. Na Alemanha, o führer Adolf Hitler conseguira suplantar a inflação e a depressão do pós -guerra, valendo-sedo pangermanismo e dos conceitos de pureza e superioridade arianas. A observação externa, na época, relativa a essesdois países, era de ascensão e grandeza, contrastando com a política de Stalin que construía a grandeza comunista russa

baseando-se na repressão e nos campos de concentração siberianos.Em 1932 foi criada a Ação Integralista Brasileira (AIB): seu objetivo visava a combater o comunismo e aliberal-democracia. Seguindo exemplos europeus (Itália, Alemanha e Portugal), a AIB pretendia o estabelecimento do"estado integral". Enquanto isso, o Tenentismo morria: o Clube 3 de Outubro encerrava suas atividades (abril de 1935);muitos tenentistas aderiam ao integralismo ou ao comunismo, cujas atividades avultavam ameaçadoras. Foi nessemomento que nasceu a Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma frente ampla de comunistas, descontentes esimpatizantes esquerdistas, de âmbito nacional. Os sargentos e ofici ais jovens das Forças Armadas foramparticularmente atingidos pela propaganda dos "libertadores". Utilizando recursos de origem soviética.A Intentona Comunista de 1935:Os esquerdistas não podiam agir mais legalmente. Prestes articulou um golpe espelha ndo-se no que ocorreraem Petrogrado, em novembro de 1917. Conspiraram e desfecharam o golpe em novembro, em três locais diferentes. AIntentona explodiu primeiro em Natal, no Rio Grande do Norte, a 23 de novembro. Sargentos, cabos e soldados doBatalhão de Cavalaria com o auxílio de rebeldes civis dominaram o oficial de dia e se apoderaram de copiosoarmamento. O Governador Rafael Fernandes e vários elementos de seu governo refugiaram -se no consulado chileno; ocomandante do Batalhão de Cavalaria, Coronel José Otaviano Pinto Soares, juntamente com o Major Luís Júlio,comandante da Polícia Militar, organizaram com esse contingente estadual uma reação, rendendo -se na manhã de 24,por falta de munições. Os vários oficiais que não aderiram ao movimento ficaram presos em dois navios de guerramexicanos que se encontravam no porto. O movimento foi combatido pelo governo.O Estado Novo:A censura de imprensa e o fechamento dos partidos políticos deram mais força ao governo. Alguns liberais epolíticos não aceitaram o Estado Novo, a massa popular demonstrou indiferença, mas a burguesia e a classe médiaurbana o apoiaram muito bem, achando que Getúlio Vargas encarnava o tipo ideal para chefiá -lo. Revestiu-se de muitasignificação a atitude de oitenta deputados que saudaram Vargas após o fechamento do Legislativo; muitos admitiamque a abertura política de 1934 em diante representara um erro que, assim, se corrigia.Se o Estado Novo adotou como ideologia o anticomunismo, ele representou, também, a derrota do extrem ismode direita.Os integralistas supuseram que seriam chamados pelo presidente para desfrutarem, em conjunto, do poder. Mastal não se deu. Vargas fechou a AIB, provocando o descontentamento em especial na Marinha, onde havia elevadonúmero de integralistas.Na tarde de 10/03/38, alguns oficiais de Marinha (tenentes Jatyr de Carvalho Serejo, Álvaro Gonçalves GomesFilho e Arnoldo Hasselman Fairbainn) receberam notícias do Tenente Francisco Barbosa que se deflagraria no Rio dejaneiro um movimento naquel a noite. Encontraram-se ao anoitecer, perto da Rua Visconde de Inhaúma, com o Capitão -de-Fragata Otto de Faria. Este citado grupo de oficiais soube que alguns guardas -marinha se deslocariam até a ilha dasEnxadas, onde se encontrava a Escola Naval, para ob ter armamento. Serejo prontificou -se a acompanhá-los.Requisitaram uma lancha, embarcaram no Cais dos Mineiros, levando munição e fuzis, e alcançaram a Escola Naval, nailha das Enxadas, dominando em pouco tempo a ilha, aprisionando os que não aderiam. Log o depois, Hasselmantelefonava informando ter sido falsa a notícia do levante. Serejo retornou a terra e ainda pôde desfazer tudo; mas oincidente veio a público por causa da parte escrita pelo oficial fuzileiro de serviço, Capitão -Tenente Cândido da CostaAragão, Serejo foi preso e respondeu a um inquérito militar que resultou na sua expulsão da Marinha; o mesmo ocorriacom diversos guardas-marinha.178A polícia já seguia os passos de alguns conspiradores e houve diversas ações e prisões. Enquanto severificavam essas ações paralelas, Hasselman procurava cumprir a missão de assaltar e tomar o prédio do Ministério daMarinha, ocasião em que foi morto o Cabo (fuzileiro naval) Argemiro José de Noronha, no beliche onde dormia.

Hasselman contava com trinta homens; com eles conseguiu, inteligentemente, dominar os postos de guarda, mas, nopátio interno, foi baleado na espinha pelo oficial de serviço, Capitão -de-Mar-e-Guerra Silvino Pitanga.O grupo invasor não esmoreceu e, penetrando em bloco, travou tiroteio com v ários militares, submetendotodos os componentes da guarda, logo desarmada. Os invasores guarneceram as metralhadoras e os postos -chaves eassestaram metralhadoras pesadas no terraço do prédio para impedir o avanço dos fuzileiros navais pela ponte deligação com a ilha das Cobras. O Capitão -de-Fragata (FN) Artur de Freitas Seabra, que respondia pelo comando dacorporação, já que o Capitão-de-Mar-e-Guerra (FN) Milcíades Portella Ferreira Alves se achava em exercícios anfíbiosna Ilha Grande, decidiu por pronta ação. Com muitas baixas, o 2º Batalhão (Capitão -de-Corveta José Augusto Vieira)alcançou, pelas 4 e meia da manhã, o prédio, passando ao assalto à baioneta: perderam a vida os soldados Antônio SilvaFilho e Severino Motta de Souza. Canhões de 75mm atira ram contra o prédio e posições ocupadas pelos integralistas.Às 6 horas da manhã, um oficial do Exército serviu de parlamentar, obtendo a rendição dos revoltosos. Mesmo feridoHasselman foi conduzido à polícia e à prisão.Incumbido do ataque ao Palácio Gu anabara, Severo Fournier dispunha de oitenta homens que, com ele,deslocavam-se em dois caminhões para a Rua Farani, disfarçados com uniformes de fuzileiros navais. Fournier contavacom a participação de Júlio Barbosa que comandava a guarda do palácio. Bar bosa havia deixado para cada homemapenas um pente de balas. Diante do assalto de Fournier, a guarda logo esgotou a munição, sendo presa (foi ferido naocasião o Cabo (FN) Manoel Constantino dos Santos, morrendo em seguida). Vargas encontrava -se no interior doprédio, com seu ajudante-de-ordens, comandante Isaac Cunha e familiares. Alternaram -se alguns tiros entre sitiantes esitiados. Não havia muita possibilidade de defesa, mas, no entanto, conseguiram contato com as tropas de apoio queagiram sufocando a rebelião e prendendo os invasores. Às 7 horas estava tudo acabado. Fournier, Júlio Barbosa eBelmiro Valverde ficaram presos por sete anos.Uma outra ação desenvolveu-se a bordo do cruzador Bahia. O Capitão -de-Corveta Nuno Barbosa de Oliveirajunto com os primeiros-tenentes Tito Bardy, Álvaro Gonçalves Filho, José Pereira Filho e Dalmir da Costa Müller deCampos dirigiram-se para bordo do cruzador utilizando uma lancha civil; dominaram algumas reações e sublevaram onavio. A guarnição aderiu. O Bahia diri giu-se para a barra do Rio de janeiro, mas logo os revoltosos souberam pelorádio que o levante fracassara. Resolveram retornar e entregaram -se ao comandante da Divisão de Cruzadores.Este fracassado contragolpe dos integralistas resultou em aumento do po der do presidente. A 16 de maio,instituía a pena de morte, como Emenda Constitucional.Vargas voltou-se para a execução do programa de 1930, já que a concentração de poderes apresentava -se maiordo que fora no princípio da revolução. Seu Estado era apar tidário e sem contestações políticas. Aos poucos, o EstadoNovo obteve a adesão de seus opositores. Desenvolveu o nacionalismo: competições esportivas, jogos imponentes,desfiles, paradas militares e discursos bem elaborados.Na verdade, o apoio das Força s Armadas tornara-se decisivo para a implantação do Estado Novo. A suacontinuidade decorreu em função da guerra européia. Por isso, o presidente preocupou -se com a Marinha,reaparelhando-a; comprou três submarinos na Itália: Tupi, Tamoio e Timbira (1937 a 1938), construiu o prédio doMinistério (hoje sede do 1º Distrito Naval) e instalou a Escola Naval, na Ilha de Villegagnon (inaugurada em11/06/1938), o mesmo fazendo com o Exército, escolhendo a cidade de Resende para erigir nela a Escola Militar deResende, depois intitulada Academia Militar das Agulhas Negras. A 20 de janeiro de 1941, criava a AeronáuticaMilitar, sendo seu primeiro titular o Dr. Joaquim Pedro Salgado Filho. Em 1941 ficava pronta a base naval de Natal,cuja consecução se deve à alta competência do Vice-Almirante Ary Parreiras.A partir de 1943, com as vitórias dos aliados sobre o Eixo, observaram -se pequenos movimentos contra oEstado Novo; os comunistas se aproveitaram para reorganizarem -se ilegalmente, surgindo várias células.A Segunda Grande Guerra:Enquanto o declínio da Liga das Nações (órgão criado após a 1ª GM semelhante a ONU) se acentuava e novasdescobertas científicas aprimoravam o arsenal militar das nações industrializadas, toda a esplêndida arquitetura daFísica clássica estava se desmoronando. A Conferência de Genebra, em 1927, fracassou, o mesmo ocorrendo com o

Pacto Kellogg-Briand, de 1928, que condenava a prática da guerra, assinado por todos os países da Europa, A únicaconferência que produziu êxito reuniu -se em Lausanne, em 1932, na qual a Inglaterra e a França isentaram a Alemanhade grande parte do pagamento da divida que este país contraíra ao perder a Primeira Guerra Mundial. Tinha, assim,início a Política de Apaziguamento, que se fundamentava em concessões e m troca de tranqüilidade internacional. Masesta política estava fadada ao insucesso.Na Alemanha, o país derrotado na Primeira Guerra, desenvolveu -se uma exaltação nacionalista. Seus militaresnão se consideravam vencidos e sim traídos, inconformados com as cláusulas do Tratado de Versalhes. Às suasdificuldades internas e inflação crescente, somavam-se facções políticas que se debatiam, destacando -se, pela suaagressividade, o National Socialist Partei, que elevou seu líder, Adolf Hitler, em 1933, a chan celer do Reich. Comamorte do Presidente Hindemburg (02/08/1934), Hitler acumulou as funções de presidente e chanceler, após plebiscitodemonstrativo de prestígio, que se solidificava, graças às saneadoras medidas econômicas. Em pouco tempo, Hitlervoltou-se para o soerguimento do poder militar alemão. Envolveu ingleses e franceses enquanto se preparava para uma179guerra fulminante e vingativa. Acreditando em Goering, Hitler, que não era um militar a não ser de passagem, aplicourecursos no fortalecimento da Luftwaffe, negligenciando o domínio do mar. O erro de 1914 voltava a se repetir.Governada por um regime progressivamente totalitário, a Alemanha aproximou -se da Itália, de idêntico estilogovernamental, mas com aspectos próprios da personalidade de Beni to Mussolini, e, em 1936, os dois países criaram oEixo Roma-Berlim, completado, no ano seguinte, com a adesão do Japão, governado pelo Príncipe Konoe. Fortificadospor esta aliança, iniciaram uma política imperialista. A Alemanha anexou a Áustria, em 13 d e março de 1938, ocupandoa região dos sudetos na Tchecoslováquia em 1º de outubro, acabando por incorporar esse país em 14 de março de 1939.A Itália absorveu a Albânia em 7 de abril de 1939 e ocupou a Etiópia, na África, completando a conquista em maio d e1936. O Japão iniciou a guerra contra a China em 1937.As pretensões de Hitler sobre o corredor de Dantzig provocaram o ataque à Polônia, em 1º de setembro de1939, absorvendo-a em parte.A Participação Brasileira na guerra:Seguindo o exemplo do que ocorrera ao se deflagrar a Primeira Guerra, o governo brasileiro declarou -seneutro, conservando as relações comerciais com os beligerantes, portanto, de acordo com as resoluções das conferênciaspan-americanas de Buenos Aires (dezembro de 1936) e de Lima (dezembro de 1938), Nestas, o Presidente norte -americano Frank1in Roosevelt desenvolveu a tese da Política de Boa Vizinhança, procurando colocar os paísesprodutores de matérias-primas em sua área de influência, talvez prevendo uma abrangência maior do co nflito. Osbrasileiros pró-alemães defendiam a posição neutral. Vargas achava, porém, que "a verdadeira atitude neutral se traduzpela vigilância e isenção de ânimo em face de situações que não concorremos para criar e nas quais não desejamosintervir", De acordo com esse pensamento, adotou algumas medidas preventivas corroborando as resoluções daConferência de Panamá (setembro/outubro de 1939) que criara uma área de segurança envolvendo as águas territoriaisdo continente americano. O governo do III Reich comunicou ao presidente do Panamá que não aceitava o que as naçõesamericanas haviam deliberado naquele país.O governo brasileiro seguiu, porém, em sua postura neutral; proibiu os naturais dos países beligerantes depraticar atos que pudessem violar ess a neutralidade.A neutralidade americana não constituiu objeto de respeito por parte dos beligerantes. Em 13 de dezembro de1939, os cruzadores britânicos Exeter, Ajax e Achilles (Comodoro Henry Warwood) caçaram e combateram o cruzador -encouraçado alemão Admiral Graf Spee (comandante Hans Langsdorff) em águas territoriais do Uruguai. Refugiado noporto de Montevidéu, o navio alemão findou seus dias destruído por sua tripulação, no dia 17, em águas do Rio da

Prata. Um segundo caso teve como protagonista o c argueiro alemão Wakama, afundado pela tripulação, em 12 defevereiro de 1940, a 15 milhas da costa brasileira, quando ia ser atacado pela belonave inglesa Dorsetshire. Asautoridades brasileiras protestaram sem resultado; as forças do III Reich se encontra vam em uma ofensiva terrestrevitoriosa: em 14 de maio ocupavam Paris.A neutralidade brasileira sofria fortes pressões quer dos pró -aliados, quer dos simpatizantes do nazi -fascismo.Discursando a bordo do encouraçado Minas Gerais, em 11 de junho de 1940, aniversário da batalha do Riachuelo,Vargas deixou escapar a frase: "Passara o tempo dos liberalismos imprevidentes, com as democracias políticassubstituindo as democracias econômicas." Para muitos analistas pareceu que o governo de Vargas pendia ou pode ria vira se declarar favorável aos nazi -fascistas.Navios de guerra britânicos adotaram o direito de visita sobre navios mercantes brasileiros: o Buarque foidetido em Trinidad, o Itapé encontrou o mesmo destino, navegando em águas brasileiras, dele send o retirados 25passageiros alemães e dois italianos; o Siqueira Campos foi aprisionado em Gibraltar, em 11 de outubro de 1940,liberado por influência norte -americana, seguindo-se o Taubaté, em janeiro de 1941, no Mar Mediterrâneo, depoismetralhado por um avião nazista (22/03/1941), morrendo Francisco Fraga, conferente que integrava a sua guarnição. Osnossos marinheiros mercantes viviam e trabalhavam num ambiente apreensivo.A atitude agressiva dos beligerantes em relação aos neutros provocou a 2ª Reuniã o de Chanceleres, emHavana, 1940, da qual resultou o princípio de que um ato hostil a um país americano o estenderia aos demais. O Brasilachava-se presente e foi um dos signatários da referida tese.O governo, atento aos acontecimentos, reuniu a aviação militar em um só ministério, em 20 de janeiro de 1941.A aviação naval, isto é, seu pessoal e patrimônio, passou a integrar a nova pasta. Ao mesmo tempo, a Marinha começouos estudos para a construção de uma pequena base naval em Natal.O ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, seguido do que osorientais realizaram contra as instalações norte -americanas em Cavite e Corregidor, nas Filipinas, provocou estupefaçãogeral na América, envolvendo os Estados Unidos n o conflito. O governo brasileiro prontificou -se em solidarizar-se naConferência de Havana, rompeu relações diplomáticas e econômicas com os países formadores do Eixo, resoluçãoanunciada durante os trabalhos da 3ª Conferência de Chanceleres, reunida no Ri o de janeiro, no discurso do nossoMinistro de Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, pronunciado em 28 de janeiro de 1942. A conjuntura internacionalconduzia o Brasil a um posicionamento.A estratégia alemã baseou-se na força de submarinos, cujo ponderáve l poder ofensivo visava a paralisar asrotas marítimas de comunicações, comércio e abastecimento dos aliados. Subsidiariamente, utilizaram navios mercantescorsários armados, os “raiders”. Sem força naval de superfície, procurou, através desta ação, suprir os seus errosiniciais. A partir de 15 de julho de 1942, o Almirante Eric Raeder, por determinação de Adolf Hitler, desencadeou umaofensiva submarina nas costas brasileiras, em uma operação denominada de "Neuland" (dois submarinos de 700t e oito180de 500t reabastecidos pelo submarino-tanque U-460). Havia planos completos para a realização de ataques maciçoscontra portos brasileiros.Contudo, para o Alto Comando alemão, esta operação classificava -se de importância secundária, mas acabouconquistando outro inimigo, o Brasil, para o seu país.O governo brasileiro não podia, mesmo que o desejasse, paralisar as atividades da Marinha Mercante por causada quase total inexistência de rodovias e ferrovias interligando as importantes cidades do litoral. O transpor te aéreo,mais eficiente, encontrava-se sob o controle de linhas aéreas francesas (Air France), italiana (Latti) e alemã (Lufthansa).A expulsão dessas empresas e a substituição delas pela Pan -American ocorreram durante o final do ano de 194 1.Arrojando os mares perigosos, os nossos navios tornaram-se presas fáceis; foram afundados: Buarque, em 16de fevereiro de 1942, pelo U-432 comando do Capitão-Tenente Heinz-Otto Schultze; Olínda, dois dias depois, pelomesmo submarino; Arabutan, em 7 de março, pelo U -155, comandado pelo Capitão-Tenente Adolf Pieining; Cairu, nodia seguinte, pelo U-94, Capitão-Tenente Otto Ites; Parnaíba, a 1º de maio, pelo U -162, em comando do Capitão-

Tenente Jürgen Wattenberg; Comandante Lira, em 18 de maio, pelo submarino italiano Barbarigo, Capitão-TenenteEnzo Grossi, sendo o único mercante brasileiro que, atacado, não afundou; Gonçalves Dias, em 24 de maio, pelo U -502,em comando do Capitão-Tenente Jürgen von Rosenfield; Alegrete, em 12 de junho, pelo U -156, do Capitão-de-CorvetaWerner Hartenstein; Pedrinhas, em 26 de junho, pelo U -203, Capitão-Tenente Rolf Mützelburg; Tamandaré, em 26 dejulho, pelo U-66, do Capitão-Tenente Friedrich Markworth; Barbacena, em 28 de julho, pelo U -155; Piave, no mesmodia, pelo mesmo submarino; e Cabedelo, que desapareceu após a sua saída do porto de Filadélfia, em 14 de fevereiro de1942, constituindo, até hoje, um mistério. Nossas reclamações em Berlim, através da representação portuguesa, nãoforam ouvidas.A solidariedade brasileira à nação norte-americana atendia aos planos estratégicos de desembarque de tropasaliadas no Norte da África e a utilização das cidades de Belém, Natal e Recife, onde deveriam ser construídas basesaeronavais que serviriam a esse plano ou como postos intermediários n a direção do Oriente Médio e índia. Os portos deRecife e Salvador foram colocados à disposição dos americanos para reabastecimento, manutenção e lazer dostripulantes. Em 8 de fevereiro de 1942, o governo brasileiro aderiu à Carta do Atlântico (assinada e m 02/09/1940).Carente de meios militares que permitissem o apoio aos norte -americanos como eles o desejavam, o Brasil necessitavade um auxílio. Um acordo político-militar com os Estados Unidos, assinado em 23 de maio de 1942, permitiu a criaçãode duas comissões mistas, Brasil-Estados Unidos, com sede em Washington e Rio de janeiro. Integravam a primeira oVice-Almirante Álvaro de Vasconcelos, General -de-Divisão Leitão de Carvalho e Coronel -aviador Vasco Alves Secco.Após diversos encontros com o Major -General Garesché Ord, que presidia a delegação americana, foi assinado umconvênio político-militar, com vinte artigos, em 23 de maio de 1942; ficou decidido que os Estados Unidos forneceriammaterial para o equipamento de três divisões de infantaria, para q ue o Brasil pudesse organizar uma forçaexpedicionária e um grupo aéreo de apoio. Constariam do mesmo programa o envio de navios e de técnicos einstrutores militares. Tudo de acordo com o “Lend -Lease Act”.Enquanto transcorriam essas manobras diplomática s, outros navios mercantes brasileiros recebiam o impactodos torpedos alemães: Baependi, em 14 de agosto de 1942; Araraquara e Aníbal Benévolo, no dia seguinte; Arara eItagiba, no dia 17; e o veleiro Jacira, no dia 19, todos participantes de um mesmo com boio. Os três primeirosencontravam-se ao sul de Aracaju e os outros três, na costa da Bahia, afundados pelo U -507, comando do Capitão-de-Fragata Harro Schacht. O navio Comandante Alcídio, que também pertencia ao referido comboio, conseguiu escapar,entrando no porto de Salvador. Prosseguiram os torpedeamentos: Lajes e Osório, ambos em 27 de setembro, pelo U -514, comando do Capitão-Tenente Hans Aulfermann; Antonico, no dia imediato, pelo U -516, comando do Capitão-Tenente Gerard Wiebe; Porto Alegre, em 3 de novembro, pelo U-504, comandado pelo Capitão-Tenente Frist Poske; eo Apalóide, em 22 de novembro, pelo U-163, comandado pelo Capitão-de-Corveta Kurt Engelman. Empregou-se o usode canhões em navios mercantes; mas os proveitos se mostraram insignificantes. A Marinha Mercante assinalou umaperda total de 469 homens.No dia 22 de agosto de 1942, o governo brasileiro reconhecia a existência do estado de beligerância entre oBrasil e os países formadores do Eixo. O Decreto -Lei nº 4.611, de 24 de agosto, confis cou e incorporou à MarinhaMercante Brasileira os navios estrangeiros surtos em nossos portos em um total de 3 alemães, 11 italianos, 5dinamarqueses e 1 finlandês, que receberam a bandeira do Lóide. Não devolvemos os navios alemães, mas retornaram àItália sete dos seus: de todos os confiscados, nove foram fretados aos Estados Unidos. Quanto aos navios Wenduik,alemão, e Conte Grande, italiano, apresados no porto de Santos, suas tripulações os sabotaram, sendo, em seguida,vendidos aos Estados Unidos. As t ripulações desses mercantes ficaram confinadas na Ilha Grande.

Seguiu-se a declaração do estado-de-guerra, a 31 do mesmo mês e ano. No mesmo dia, o governo criou porDecreto os Comandos Navais do Norte (com sede em Belém), do Nordeste (Recife), do Leste ( em Salvador), Centro(Rio de Janeiro), Sul (Florianópolis) e Mato Grosso (Ladário). Seguiu -se a Mobilização Geral (16/09/1942).A Comissão de Defesa Brasil -Estados Unidos estudava como coordenar a ação das forças norte -americanas ebrasileiras, concluindo pela necessidade de um comando único para as operações aeronavais no Atlântico Sul. Já seencontrava em Recife, desde 16 de janeiro de 1942, A Força -Tarefa nº 3, da Marinha dos Estados Unidos, comandadapelo Almirante Jonas Howard Ingram transformada na 4 3ª Esquadra US Navy. A partir de 29 de setembro, o secretárioda Marinha dos Estados Unidos, Frank Knox, e o Almirante Ingran concluíram com as autoridades brasileiras umaestratégia naval a ser seguida.Convencionou-se que os Estados Unidos teriam de for necer navios de guerra e mais o material necessário paratornar efetiva essa colaboração. Oficiais e praças dirigiram -se para os Estados Unidos, especificamente para Miami,tendo sido o pioneiro o Capitão-Tenente Luiz Otávio Brasil, e para Key West, no sul da Flórida (a Fleet Sound School),181todos em comando do Capitão-de-Fragata Harold Reuben Cox, a fim de receberem instruções e transportarem os naviospara águas brasileiras. Essa instrução apresentou -se muito diversificada, tal como sobrevivência no mar, c ontrole deavarias, extinção de incêndios, utilização do sonar, observação de inimigo e camuflagens usadas, orientação médica deemergência e, principalmente, a mobilização, assunto, até hoje, pouco enfatizado entre nós. Outros oficiais tambémcursaram a Naval Diesel School, em Cleveland, e a Sperry, em Brooklin, Nova York, para agulhas giroscópicas.Como coroamento dessa política de entendimento, verificou -se o encontro histórico que o Presidente GetúlioVargas manteve com o Presidente Frank1in Roosevelt na cidade de Natal, em fevereiro de 1943. Roosevelt colocou aspreocupações e resoluções da Conferência de Casablanca sobre as medidas de segurança a serem tomadas em caso deataque proveniente da costa africana.Em agosto (1943), o Ministro da Guerra do Brasil, General Eurico Dutra, viajou aos Estados Unidos paraprosseguir nas negociações e acordos. Em seguida, uma missão diplomática de observação, chefiada pelo General -de-Divisão João Batista Mascarenhas de Moraes, coadjuvada por oficiais do Exército, o ficiais da Força Aérea, oficiaisnorte-americanos e o embaixador Vasco Leitão da Cunha, percorreu parte da África, ficando este último como delegadobrasileiro junto ao Comitê Francês de Libertação Nacional, criado em Argel, em junho de 1943. Logo depois, o GeneralMascarenhas de Moraes entrevistou -se com o General Dwghit Eisenhower, dirigindo -se, depois, para Caserta (Itália),onde conferenciou com o General Mark Clark, comandante do V Exército norte -americano.A nova colocação do Brasil proporcionou aos aliados as matérias-primas minerais de importância vital eestratégica, além da borracha natural, para cuja obtenção o governo deslocou quarenta mil nordestinos para os seringaisda Amazônia, bem como o arroz (para a Ásia). Essa grande contribuição, regula da por acordos posteriores, permitiuimediatamente a cessão, por parte do governo inglês, do controle acionário da Itabira Iron Ore Co, possuidora dasgrandes jazidas de ferro em Minas Gerais, fator de entrave para o início da siderurgia brasileira.A Marinha Brasileira desempenhou papel de especial relevo no que se convencionou chamar a Batalha doAtlântico. A nossa posição geopolítica e presença de uma ampla fronteira litorânea clamavam por uma responsabilidadedefinida. Sua atenção, bastante diversifica da, respaldava-se na carta do Atlântico. Dirigia a Pasta da Marinha, desde 19de novembro de 1935, o Almirante Henrique Aristides Guilhem.A Marinha estava despreparada para a missão que se avizinhava: faltavam equipamentos e o adestramentosempre ficara aquém do indispensável. Alguns oficiais deslocaram-se para os Estados Unidos onde, no Centro deAdestramento de Guerra Anti -Submarinos em Key West, aprimoraram conhecimentos.

Dos Estados Unidos, a Marinha recebeu, em seguida, oito caça -submarinos, "I", classe Javari, ou "cacinhas",de casco de madeira, também apelidado de "caça~pau", armados com um canhão de 40mm, três metralhadoras de20mm e duas calhas para o lançamento de bombas de profundidade; oito contratorpedeiros, "G", classe Guaporé, ou"cação", também chamados de "caça-ferro", casco de aço, armados com um canhão de 76mm na proa, um de 40mm ameia-nau, duas metralhadoras de 20mm e duas de 7mm e duas calhas para o lançamento de bombas de profundidade,equipados com radar; oito contratorpedeiros de e scolta, "B", que tiveram os nomes de Bauru (ex -Mac-Ann), Beberibe(ex-Herzog), Bertioga (ex-Pennvill), Bocaina (ex-Marts), Bracui (ex-Reybolt), Baependi (ex-Cannon), Benevente (ex-Christopher) e Babitonga (ex-Alger), com três canhões de 76mm, dois de 40mm, oito metralhadoras de 20mm, calhaspara lançamento de bombas, uma lança -bomba granada, diretor de tiro, dois radares e outros confortos; eram muitorápidos, atingindo facilmente 20 nós, e maneiros.Todos esses navios ficaram subordinados à Força Naval do Nordeste (transformada em Força Tarefa 45americana), criada em 5 de outubro de 1942, tendo sido nomeado seu comandante o Contra -Almirante Alfredo CarlosSoares Dutra, que arvorou seu pavilhão no tender Belmonte, atracado no porto do Recife. Neste, amarra do ao quebramar,permaneceu o encouraçado São Paulo, participando de sua defesa ativa, cabendo -lhe o serviço de fechamento eabertura da rede de proteção do porto, bem como um permanente estado de alerta do qual se empenhavam todos oselementos da guarnição composta de mil homens. Essa força englobava -se no comando da 4ª Esquadra norte -americana,ou Força Tarefa nº 3, cujo comandante, o Almirante Ingran, estabeleceu seu quartel -general em Recife. Os americanosinstalaram-se, assim, nesta cidade pernambucana, bem como em Natal e em Salvador, ao mesmo tempo que construíam,na Ilha da Ascensão, um campo de aviação, operativo a partir de julho de 1942. O estado -maior da Esquadra organizavagrupos-tarefa que partiam, sob maior sigilo, em missões de varredura; a duração dessas patrulhas variava de 12 a 14dias, com um percurso diário de quatrocentas milhas em média.A flotilha de submarinos também ficou incorporada a esta Força. Comandada pelo Capitão -de-Mar-e-GuerraÁtila Monteiro Aché, tinha a sua base na Ilha das Cobras.Papel preponderante exerceu a base naval de Natal organizada e comandada pelo Contra -Almirante AryParreiras: nela se instruíram mais de três mil homens, incorporados à Força do Nordeste. Criou -se uma companhia defuzileiros navais e se desenvolveu intenso programa logístico. Nesta base funcionou o comando do grupo de caças,dirigido pelo Capitão-Tenente José Santos de Saldanha da Gama, substituído, depois, por seu irmão Arthur Oscar; era abase operativa e logística do referido grupo.Assinale-se que a vida nos caças era muito sacrificada quer pela falta de água e outros confortos, quer pelospermanentes serviços dos quais o comandante compartilhava, quer pelos contínuos adestramentos e combates simulados(os postos de combate soavam duas veze s ao dia), na faina de colocar nossos homens a par dos equipamentoseletrônicos, como o sonar, que recebeu o apelido de araponga. Sobre o rancho nem é bom comentarmos... Um curiosocódigo, montado na mais desencontrada gíria, servia para comunicações.O Comando Naval do Leste, com sede em Salvador, dirigido pelo Contra -Almirante Alberto de Lemos Bastos,desempenhou papel importante na vigilância da área que lhe era afeto. Contou com o encouraçado Minas Gerais quepermaneceu atracado no molhe norte e, depoi s, no molhe sul. Merece especial citação a Companhia Regional de182Fuzileiros Navais que recebeu um quartel adaptado no solar do Unhão. Este comando colaborou, também, com ainstalação dos norte-americanos, na conhecida Base Baker, tendo sido montado um post o de detecção submarina ediversos outros serviços. Objetivava -se, principalmente, proceder à boa movimentação dos navios quer em comboios,quer isolados.A Força Naval do Sul, criada em 23 de abril de 1944, tinha por incumbência prover a vigilância do li toral

desde o Rio de janeiro até a fronteira com o Uruguai. Comandou -a o Contra-Almirante Gustavo Goulart, substituído,depois, pelo Contra-Almirante Octávio Figueiredo de Medeiros. Com esta força permaneceram os antigoscontratorpedeiros classe Pará.Graças ao incentivo do Ministro Aristides Guilhem, o Arsenal da ilha das Cobras, ativado com a construção domonitor Parnaíba, de 1936 a 1937, para a qual todo o Arsenal se modernizou, empregando material e mão -de-obranacionais, sob a orientação do Capitão-de-Mar-e-Guerra Júlio Regis Bittencourt, recebeu o encargo de construir seisnavios mineiros, classe "C", tipo Carioca, desempenhando -se da missão no período de 1937 a 1939. Esses naviospassaram a ter classificação de corvetas a partir de janeiro de 1944. Igualmente, o arsenal aprontou trêscontratorpedeiros, o Marcílio Dias, o Mariz e Barros e o Greenhalgh, tipo Cassin, norte -americano, sendo possível estaconstrução por causa da transferência de tecnologia; esses três contratorpedeiros foram incorporados em 29 denovembro de 1943. Ainda, prontificou o caça -submarino Rio Pardo com planos do nosso engenheiro Fernando GalvãoAntunes, e seis contratorpedeiros, classe Amazonas, de, estes somente incorporados em 1949.O estaleiro da Ilha do Viana, pertencente a Henrique Lage, encetou a construção de seis corvetas quereceberam os nomes de Matias de Albuquerque, Felipe Camarão, Henrique Dias, Fernandes Weira, Vidal de Negreirose Barreto de Menezes, com, incorporadas em 1943 e 1944; e sete caça -submarinos, classe Rio Negro, somente prontosem 1944.Em Natal, Recife e Salvador foram instaladas oficinas de reparos; 37 navios mercantes receberam artilharia.Assim, a Marinha passou a dispor de 69 navios modernos e 27 antigos, reformados.Objetivando adquirir o equipamento necessário para esses empreendi mentos, funcionou o Brazilian NavyPurchasing Office, primeiro localizado em Nova York e transferido, pouco depois, para Washington. Em seu trabalhoexaustivo incluía o embarque das compras com destino ao Brasil. Atuo u, como presidente desse escritório, o Capitão -de-Mar-e-Guerra Benjamim Sodré.Apesar de todo esse dispositivo, perdemos, em 1943, torpedeados, o Brasilóide, em 18 de fevereiro, pelo U -518, no litoral da Bahia; o Afonso Pena, em 2 de março, pelo Barbarigo ; o Vitória, em 30 de junho, pelo U-513, emcomando o Capitão-de-Corveta Friedrich Guggenberger; o Pelotaslóide, em 4 de julho, pelo U -590, 3º-Tenente WernerKrüer; o Bagé, em 31 de julho, pelo U-185, comandado pelo Capitão-Tenente August Maus; o Itapagé, em 26 desetembro, pelo U-171, comando do Capitão-Tenente Albrecht Achilles; e o Campos, em 23 de outubro, pelo U -170,comando do Capitão-Tenente Gunther Pfeffer.A atuação ofensiva da Marinha Brasileira desenvolveu -se múltipla e variada, sendo impossível estabelecer umarelação dos ataques efetuados contra os inimigos, os quais, comumente, se safavam. Na costa do Brasil foram afundadosdez U-boats alemães e um submarino italiano; desses eventos, houve participação direta na perseguição inicial do U -128, atacado pelo Jaguaribe, comando do Capitão -Tenente Paulo de Carvalho da Fonseca e Silva, na noite de 17 demaio de 1943. Lançou redes de proteção nos portos do Rio de janeiro e Salvador. Manteve severa vigilância paraimpedira presença de navios piratas [ru nners], de abastecedores de submarinos ou "vacas -leiteiras" e de "furadores debloqueio", isto é, navios mercantes que transportavam matérias -primas estratégicas da Ásia e Oceania para a indústrianazista. Procurou, assim, controlar a "cintura Atlântica", de Natal a Dacar, cuja extensão é de 1.700 milhas. Transportouóleo combustível e seus derivados das Antilhas e Venezuela, utilizando preferentemente o NT Marajó, permitindo acontinuidade dos estabelecimentos industriais. Exerceu atividades no campo da co ntra -espionagem procurandodesestabilizar uma vasta rede de sabotadores que se infiltrou em toda a parte, originada no procedimento do embaixadornazista no Brasil, Ritter, que criou organizações partidárias entre as minorias germânicas do Sul. Recolheu 6 54náufragos. Alguns foram alemães; retidos no quartel do Derby, em Recife, ficavam à disposição dos americanos.

Realizou varredura de minas, tendo sido recolhidas e desativadas algumas aliadas e alemães. A parte mais importanteconsistiu em comboiar os navios mercantes. Efetuou 195 comboios, 174 em águas brasileiras e 21 em águasestrangeiras, acrescentando-se 56 em cooperação com norte -americanos. Em outros números: escoltou 2.881 navios,incluindo os transportes norte -americanos que conduziram a Força Ex pedicionária Brasileira à Itália. Lembremos, coma finalidade de valorizar o serviço desempenhado, o quanto de sacrifícios importa uma escolta, já que os escoltados,variando de 45 a 60 mercantes, possuíam velocidades e características diversas, e a possib ilidade de um ataque desurpresa encontrava-se sempre presente. Daí, a permanente vigilância, cansativa, sem grandes emoções, mas necessária,exigindo redobrada atenção à noite, com navegação às escuras. Dentre os navios comboiados perderam -se apenas dois:o Pelotaslóide e o Fitz John Porter.Uma vez criado o Ministério da Aeronáutica (Decreto -Lei 2.961, de 20/01/1941), sentiu -se a necessidade dopreparo e adestramento do pessoal, aumentada em virtude da entrada do Brasil na guerra. No campo dos Afonsosinstalou-se a Escola de Aeronáutica, com precariedade de aviões para servirem à instrução. Por intermédio do citadodispositivo lend-lease, os Estados Unidos forneceram mais de trezentos aviões de instrução, trazidos daquele país porpilotos brasileiros em condições adversas.Em colaboração com a Marinha, a FAB efetuou operações de vigilância no Atlântico Sul, protegendo oscomboios ou descobrindo os "furadores de bloqueio"; atendia ao comando inglês em Freetown (Serra Leoa) e norte -americano em Recife, de acordo com a área oriental ou ocidental do Oceano. A Ilha de Ascensão desempenhou papel183destacado nessas operações. Em dezembro de 1944, no Rio de Janeiro, o governo norte -americano entregou 15aparelhos PBY, equipados com sonar para a guerra anti -submarinos.O Retorno da “Democracia”:Durante a guerra, os sucessos aliados na Europa cresciam na mesma proporcionalidade que enfraquecia ogoverno de Vargas. Com o fim da guerra, as tropas brasileiras eram recebidas no Rio de Janeiro sob aclamação pública,no entanto, o soldado, o aviador ou marujo que foi lutar na guerra lutou pela democracia, pela liberdade e pelo fim datirania, do totalitarismo e da ditadura. Aqui no Brasil o governo Vargas era sob ditadura, totalitário, inspirado nofascismo, os meios de comunicação eram censurados, não havia liberdade política.Após momentos conturbados de nossa política, coube a um grupo do Exército informar ao presidente que suasações não cabiam mais em um estado de direito. Governou o Brasil o Presidente do Supremo Tr ibunal Federal JoséLinhares por 4 meses.As eleições posicionaram no poder o General Eurico Gaspar Dutra. Ele iniciou seu governo sob Constituinte,reformando a Carta Magna do país, Inaugurou os trabalhos da Usina Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda. Em1948, criou o Parque de Paulo Afonso, e logo começaram as obras da barragem sobre o Rio São Francisco, com capitaismistos, para a obtenção de energia hidrelétrica, a futura redenção do Nordeste. Abriu e pavimentou uma nova rodoviaRio-São Paulo, que hoje, duplicada, leva o seu nome. Extinguiu o jogo em todo o território nacional (abril de 1946). Nosetor universitário merece destaque a implantação da Escola Nacional de Agronomia, a 37 quilômetros do Rio, hojeUniversidade Rural. Estimulou o prosseguimen to das obras das universidades de Porto Alegre e Belo Horizonte einiciou as da do Rio de janeiro, recaindo a escolha do local na ilha do Fundão. Ampliou a rede de escolas primárias emtodo o território nacional. O ponto alto de seu governo residiu na impl antação, após maio de 1947, do Plano SALTE(Saúde, Alimentação, Transporte e Energia), do qual emergiu a Campanha de Alfabetização de Adultos e a Campanhado Trigo. Dele também saiu o projeto para o nascimento do Ministério da Saúde (criado no governo segu inte) e acampanha de erradicação da malária. Elaborou o Estatuto do Petróleo, sendo construídas as primeiras refinarias emManguinhos (Grupo Peixoto de Castro) e Landulfo Alves (em Mataripe, na Bahia)

Seguindo conselhos desta Comissão, o governo adquiriu a E. F. Leopoldina RaiIway, aproveitando -se decapitais congelados na Inglaterra; apesar de ter sido onerosa essa medida, a alta dos preços do café conseguiu manter oequilíbrio da dívida externa. Mas os US$ 708 milhões de reservas disponíveis no estrange iro se esvaíram por causa daexcessiva liberdade da política financeira, caindo, essas reservas, para US$ 29 milhões depois da importação desupérfluos (automóveis, aparelhos eletrodomésticos, io -iôs etc.). Nessa fase, começaram a funcionar a Fábrica Nacio nalde Motores, a Acesita (em Minas Gerais) e a Klabin, no Paraná, produzindo celulose para papel.Sendo o presidente um militar, esse setor não foi por ele negligenciado: em 25 de julho de 1946, criou oEstado-Maior das Forças Armadas e, conseqüentemente , um instituto de altos estudos que recebeu a denominação deEscola Superior de Guerra, com curso aberto a civis e militares, logo conhecida como Sorbonne Brasileira; naAeronáutica nasceu a Escola de Comando e Estado -Maior, bem como o Instituto de Tecnolo gia de Aeronáutica (ITA),instalado em São José dos Campos. A Marinha ganhou dois cruzadores, o Tamandaré (ex -Saint-Louis) e o Barroso (ex-Philadelphia). Velhos navios deixaram o serviço ativo, destacando -se os encouraçados Minas Gerais e São Paulo. OArsenal de Marinha do Rio de janeiro incrementou a construção dos navios da classe Amazonas, atendendo àmentalidade estratégica e operativa, resultado dos ensinamentos da guerra.E, no contexto desta modernização, direcionou -se o Corpo de Fuzileiros Navais para o provimento dasoperações anfíbias e não somente de segurança, como até então se vinha fazendo. Para materializar essa concepçãoforam iniciadas as obras para a construção da sede da Força de Fuzileiros da Esquadra, na ilha do Governador (Rio dejaneiro).A Flotilha do Amazonas recebeu impulso renovado com a incorporação de três corvetas classe Carioca e onavio-tanque García d’Ávila, deixado pelos norte -americanos após a Segunda Guerra. Assim, a Marinha se fez presenteno cenário hídrico da Amazônia, quer no sentido militar quer no apoio às populações ribeirinhas. Para as três forças,nasceram as escolas preparatórias: o Colégio Naval, em Angra dos Reis, em prédio histórico que servira à Escola Navale à Escola de Grumetes.Vargas Volta ao Poder:Vargas foi eleito por eleição geral e com o apoio de seus correligionários que estavam desejando revanche dogolpe de 45 que os apeara do poder. Governo constitucional, diverso dos anteriores que exercera, Vargas teve deconviver com os partidos políticos e , em especial, com o PSD que lhe havia garantido a vitória, e com o PTB, ao qualestava ligado.A atividade principal de seu governo residiu no encaminhamento da questão do petróleo, exigência adiada eque se fazia necessária e imediata. As perguntas e dú vidas quanto à existência de petróleo, o modo como se poderiaefetuar a sua exploração, abriram debates e apaixonaram a opinião pública. As tendências nacionalistas iam desde aspropostas de Ildefonso Simões Lopes, Ministro da Agricultura de Epitácio Pesso a, e esbarravam-se nas idéias de livreconcorrência tão defendida por Monteiro Lobato. A polêmica mais significativa travou -se entre Juarez Távora,partidário da vinda de capitais estrangeiros, e o antigo presidente do CNP, General Denis Desiderato Horta B arbosa,que defendia pensamento contrário; a campanha extrapolou do âmbito do Clube Militar e ganhou foros de política. Emdezembro de 1951, Vargas enviou ao Congresso projeto de lei sobre a formação da Petróleo Brasileiro S.A., acabando184por ser aprovado em 1953. Nascia, então, uma empresa estatal que monopolizava a pesquisa, a lavra e o refino dopetróleo. Se muitos concordaram com a criação da Petrobras, outros, influenciados pelas multinacionais do petróleo e apropaganda que desencadearam, acreditavam q ue a atitude intervencionista governamental só prejudicava os interesses

brasileiros. Em pouco tempo, consumada a criação da Petrobras, a oposição à idéia de sua implantação transformou -seem oposição ao próprio governo que a gerara. Aquilo que poderia dig nificar Vargas e o converter em notável estadista,produziu, justamente, o grande desgaste político de seu governo.Outro motivo de desgaste ficou por conta da assinatura do Acordo Militar Brasil -Estados Unidos, em 15 demarço de 1952, enviado ao Congress o em 15 de abril, bastante combatido pelos nacionalistas, tendo causado a demissãodo Ministro da Guerra, General Newton Estillac Leal. O acordo estava sendo visto como desfavorável aos interessesbrasileiros e vantajoso para os programas militares norte -americanos. Na verdade, o Brasil se alinhava aos EstadosUnidos, uma vitória americana no contexto da Guerra Fria; os da esquerda, que pensavam jogar o Brasil nos braços docomunismo internacional, pelejaram como puderam com suas inverdades. No mesmo períod o que se processavam asconversações para a realização do Acordo Militar (1951), tinha lugar a sedimentação da Comissão Mista Brasil -EstadosUnidos para o Desenvolvimento com os entendimentos realizados por João Neves da Fontoura e Horácio Lafer emWashington. A comissão funcionou de 19 de julho de 1951 a 21 de dezembro de 1953.Que a Guerra Fria condicionava comportamentos internos não há, hoje, qualquer dúvida. As eleições do ClubeMilitar, em maio de 1952, atestam a afirmativa. A chapa situacionista per deu (General Estillac Leal), vencendo aoposição que adotara o dístico de Cruzada Democrática (General Alcides Etchegoyen).Por diversas ações políticas, desenvolveu -se contra o presidente uma tenaz oposição, encabeçada pelojornalista Carlos Frederico We rneck de Lacerda, ex-comunista e nessa ocasião filiado à UDN, nas páginas do jornalTribuna da Imprensa, baseada nas denúncias sobre escândalos que cercavam o Palácio do Catete e no aumento contínuoda inflação, causada pela liberação de importações e entr ada e saída de capitais. Sofriam os trabalhadores que semanifestavam em greves. Afirmava -se que o Ministro do Trabalho, João Belchior Marques Goulart, desejavatransformar o País numa república sindicalista, ao modelo peronista. Em fevereiro de 1954, prop ôs 100% de aumentoao salário mínimo. A crise evoluiu provocando um manifesto dos coronéis (com 81 signatários) redacionado peloTenente-Coronel Golbery do Couto e Silva já em 1954.Alguns elementos ligados à guarda pessoal do Presidente, e sem que este s oubesse, decidiram eliminar ojornalista Carlos Lacerda. O atentado, que ocorreu na noite de 05/08/1954, no número 180 da Rua Tonelero, porta doprédio onde residia, causou-lhe um ferimento no pé e a morte do Major -aviador Rubens Florentino Vaz que com ele seencontrava. Houve uma indignação geral. Instaurado inquérito, apurou -se ter sido o mandante Gregório Fortunato,chefe da guarda pessoal do presidente.Vargas viu, assim, liquidada a sua autoridade, apesar de nada se poder imputar à sua pessoa. A Marin ha e aAeronáutica propuseram o seu afastamento como medida para debelar a crise; falou -se em votação de "impedimento"pelo Congresso; correligionários apresentaram a fórmula do pedido de licença, mais conciliatória e do agrado doExército, que não via razão para medidas extremas.No dia 13, Vargas convocou o Vice -Presidente Café Filho e lhe comunicou que lhe passaria o governo. A criseevoluía sem que o presidente recebesse qualquer defesa. Carlos Lacerda prosseguia com suas denúncias estarrecendo aopinião pública. Dias depois, 21 de agosto, Café Filho sugeriu ao Ministro da Marinha, Almirante Renato Guilhobel,com a presença do General Zenóbio da Costa, a renúncia de ambos, presidente e vice, como fórmula para estancar acrise.Ainda no dia 21, o Clube de Aeronáutica foi palco de reunião inflamada, seguindo -se outra, no dia seguinte,aprovada proposta de Eduardo Gomes que exigia a saída do presidente. Incumbiu -se o marechal Mascarenhas deMoraes, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, a missão de comunicar estas decisões. Na mesma noite de 22,domingo, o marechal entregava ao presidente o documento elaborado na Aeronáutica. Vargas não concordou. "Nãopratiquei nenhum crime" disse ao marechal. "Ficarei no meu posto; se for preciso sairei banhado em san gue, mas não

posso ser escorraçado assim." No dia seguinte, vários generais se solidarizavam com o documento da Aeronáutica. OMinistro da Guerra, General Zenóbio da Costa, juntamente com outros, dirigiram -se na noite de 23 ao Catete paraexporem ao presidente a situação. Vargas convocou, então, o Ministério na madrugada de 24 de agosto (3 horas),concluindo-se que o melhor caminho era a renúncia. Havia, porém, dor no semblante de Vargas, que, intimamente, jáhavia encontrado outra solução. O suicídio se co nsumou às 8h35min de 24 de agosto de 1954. Ele consternouprofundamente a Nação que logo tomou conhecimento de uma carta -testamento; várias greves, paralisação de serviços,suspensão de aulas escolares, assalto à Embaixada norte -americana, no Rio de Janeiro, e o empastelamento do jornal OGlobo consistiram o saldo desse dia.Café Filho não Termina o Mandato:Chamado para ocupar a Presidência, Café Filho deveria, apenas, completar o mandato. Colocou EduardoGomes no Ministério da Aeronáutica, o Almirante Edmundo Jordão Amorim do Vale na Pasta da Marinha e o GeneralHenrique Teixeira Lott no Ministério da Guerra. Mas o suicídio de Vargas não aplacara a crise; transferiu -a e, apesar detodas as tentativas de restaurar a tranqüilidade, o País viveu dias difíc eis enquanto se aguardavam as eleições de 3 deoutubro de 1955, vencida por Juscelino Kubitschek.Novos momentos de instabilidade política alcançavam o governo. O aparecimento da Carta Brandi, documentoapócrifo sobre as relações entre João Goulart e o p eronismo argentino, provocou ataques do referido jornalista aoMinistro da Guerra, General Lott, cada vez mais inclinado a seguir a legalidade constitucional. Discutiu -se a "maioria185absoluta", mediante a qual seria ilegítima a posse de Juscelino e Goulart, apesar de o critério da "maioria absoluta" nãoser um dispositivo constitucional. Na Marinha e Aeronáutica avolumava -se o número de oficiais que desejava impedir aposse dos eleitos; em carta ao seu ministro, o Almirante Sílvio Camargo denunciava as tendê ncias da oficialidade.O discurso do Coronel Jurandir Bizarria Mamede no enterro do General Canrobert Pereira da Costarepresentou o estopim, pois enfatizava que o governo deveria impedir a posse dos eleitos: "Não será por acasoindiscutível mentira democrática um regime presidencial que, dada a enorme soma de poder que concentra nas mãos doExecutivo, possa vir a consagrar, para a investidura do mais alto mandatário da Nação, uma vitória da minoria?" OMinistro Lott desejou puni-lo, mas não o podia fazer já que o referido oficial encontrava -se agregado ao quadro daEscola Superior de Guerra, subordinada à Presidência da República. Café Filho adoeceu (doença mais política queorgânica disseram) e foi internado no Hospital dos Servidores do Estado. O Ministr o Lott, perseguindo o desejo depunir o Coronel Mamede, telefonou ao Brigadeiro Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, Chefe do EMFA, sob o qual seencontrava a subordinação militar do referido coronel; recebendo negativa, assinou o Aviso nº 289 solicitando ao Chefedo EMFA o desligamento do Coronel Mamede. No dia 6, Lott tentou falar com Café Filho sem o conseguir. No diaseguinte, ficou confirmado o afastamento oficial do presidente para tratamento de saúde.Carlos Coimbra da Luz, presidente da Câmara dos De putados, assumiu interinamente a Presidência; seupensamento era não dar posse aos eleitos. Logo após a reunião do Ministério, nesse mesmo dia, desentendeu -se com oMinistro Lott que exigia a punição de Mamede. Luz resolveu substituir Lott pelo General Álv aro Fiúza. Os oficiaisgenerais,deram contudo, apoio a Lott, que executou um golpe de estado preventivo, ocupando os principais pontos dacidade e obrigando o Presidente Luz a se refugiar no Ministério da Marinha, em cujo seio possuía simpatizantes,embarcando no cruzador Tamandaré, comando do Capitão -de-Mar-e-Guerra Silvio Heck, juntamente com o chefe daEsquadra, Almirante Carlos Pena Botto, com militares (Jurandir Mamede, Júlio de Sá Bierrembach, Nelson Cibulares) ecivis (Prado Kelly, Munhoz da Rocha, José Monteiro, de Castro, Carlos Lacerda), rumando para Santos, onde se faria a

resistência com o apoio do governador de São Paulo, Jânio Quadros, e parte da FAB, arregimentada pelo Ministro daAeronáutica, Major-Brigadeiro Eduardo Gomes, que conseguira al çar vôo para São Paulo. Apesar de ter sidobombardeado à saída da Baía de Guanabara, o Tamandaré fez -se ao largo. Mas o Exército já ocupara os pontos -chaves eobtivera a adesão do Coronel Ururai Magalhães, comandante da polícia militar.O Congresso, reunido desde as 6 horas desse dia 11, votou o impedimento de Carlos Luz, sendo a Presidênciaentregue a Nereu de Oliveira Ramos dia 11. Terminada a crise, retornaram Luz e acompanhantes no dia 13 ao Rio dejaneiro, asilando-se alguns em embaixadas estrangeiras .Café Filho sentiu-se apto para retornar à Presidência, no entanto o Congresso votou o seu impedimento (23 denovembro).Durante a Segunda Guerra, as nações aliadas preocuparam -se em estruturar a paz. A Declaração de Moscou,em 30 de outubro de 1943, representou o primeiro passo, concretizando -se a idéia na Conferência de Dumbarton Oaks,1944, complementada pela Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, na Criméia, a qual programou uma reuniãogeral, na cidade de São Francisco (Califórnia). Nesta cidad e norte-americana, representantes de 51 paísesconfeccionaram, entre 25 de abril e 26 de junho de 1945, a Carta das Nações Unidas, permitindo a inauguração daentidade em 24 de outubro de 1945. Como aliado, o Brasil integrou a lista dos membros fundadores, tendo como nossoprimeiro representante o embaixador Oswaldo Aranha, escolhido presidente da Primeira Assembléia -Geral, na qual seinstituiu o Estado de Israel (com o seu voto de minerva).A partir de 1947, desenvolveu-se a Guerra Fria, fruto das divergê ncias ideológicas entre o bloco democrático eo comunista. Essa divergência influenciou as elites dominantes.Alinhado no contexto da Guerra Fria ao poder exercido pelos Estados Unidos, o Brasil assinou o TratadoInteramericano de Assistência Recíproca (T IAR) em 2 de setembro de 1947, no Rio de Janeiro, com a presença dosecretário de Estado norte -americano George Catlett Marshall.O Brasil atuou no caso do Cardeal Mindszinsky, bem como em relação aos pastores protestantes da Bulgária eda Hungria, acusados, por seus governos, de traidores políticos. Procuramos mostrar que essas atitudes violavam osdireitos humanos. Por efeito de artigo publicado na Gazeta Literária, de Moscou, ultrajante ao chefe de Estado brasileiro(Eurico Dutra), este rompeu relações diplomáticas com a URSS. Em compensação, houve nítida aproximação com osEstados Unidos. Contudo, não participamos da guerra da Coréia (1950) nem nos interessamos pela constituição doTerceiro Mundo, fruto da Conferência de Bandung (1955), na qual o Brasil não se fez representar.Em 1956, o Presidente do Egito, Abdel Nasser, nacionalizou a Companhia do Canal de Suez, provocandoreações de Israel, que invadiu a Faixa de Gaza e a península do Sinai, acarretando o desembarque de tropas franco -inglesas em Porto Said e Porto Fuade. A Assembléia -Geral da ONU aprovou resoluções para debelar a grave crise quese manifestava, mas carecia de meios materiais para garantir o cessar -fogo na região. Foi, assim, criada uma Força deEmergência, comando do General E.L.M. Bums, do Canadá. Solicitado o nosso País a cooperar, o Congresso aprovou,em 17/11/1956, a Lei nº 2.953 e o Decreto Legislativo nº 61, em 22 do mesmo mês e ano. Constituiu -se, então, oBatalhão Suez, comando do Coronel Iracílio Ivo de Figueiredo Pessoa; apó s adestramento, embarcou no navio Custódiode Mello, atingindo Porto Said em 02/03/1957, mantendo -se na região até 19 de maio de 1967, engajados os militarespor período de seis meses, época que o secretário -geral da ONU extinguiu a força de paz.186O Governo Kubitschek:Juscelino tomou posse em 31/01/1956, recebendo a faixa presidencial de Nereu Ramos. Sua estratégia,estabelecida no programa de "metas", visava a expandir a economia brasileira, ajustando -a ao neocapitalismo ocidentale nas tendências contidas na "Doutrina Truman".De seu programa de 31 metas, destacamos obras de infra -estrutura, energia e sociais. Na área naval, criou oGEICON (Grupo Executivo da Construção Naval) que preparou a presença de estaleiros com capitais japoneses

(lshikawajima), no Rio de janeiro, e holandeses (Verolme), em Angra dos Reis. A indústria naval renasceu. A Marinharecebeu (em 06/12/1960) o navio aeródromo Vengeance, batizado Minas Gerais. Do Programa de Assistência Militardos Estados Unidos, incorporou dois submarinos (1957) batizados com os nomes de Humaitá e Riachuelo. Em 1956,reaparecia a Diretoria de Aeronáutica.As idéias desenvolvimentistas produziram, também, o nascimento do Instituto Superior de Estudos Brasileiros(ISEB), onde começaram a ser discutid os os problemas nacionais. Nele proliferaram algumas idéias marxistas, gerandoconfusões e soluções falsas para as reais necessidades brasileiras.A meta-síntese de Juscelino foi a construção de Brasília. Um projeto arrojado no meio do clarão que existia noterritório brasileiro. Apesar das despesas que acarretou, representou a materialização de um desejo histórico, de umanecessidade estratégica, cristalizando o otimismo e euforia dessa época. Em conseqüência da transferência da capital,Juscelino criou o Estado da Guanabara, constituído pela área geográfica do antigo Distrito Federal.A estratégia desenvolvimentista do governo, a qual logrou dinamizar a. economia, não aboliu a dependênciatecnológica, pois as empresas recém-criadas importavam equipamentos, e nem extinguiu a dependência financeira, poisos lucros dessas empresas continuaram a ser enviados para o estrangeiro. O resultado verificou -se já ao final do governocom emissões intensas, inflação e pedidos de empréstimo ao estrangeiro. O Fundo Monet ário Internacional (FMI)aconselhou austeridade e prudência, mas o presidente rompeu com o FMI e prosseguiu em seus programas, deixandopesado encargo ao seu sucessor. O meio circulante aumentara de 57 para 206 bilhões de cruzeiros, e a dívida externaalcançava US$ 3 bilhões e 800 milhões.O Presidente Kubitschek enfrentou duas revoltas durante o seu mandato: Jacareacanga e Aragarças, restos dapregação e influência de Carlos Lacerda com envolvimento de militares da Aeronáutica.Desferia-se a campanha da sucessão. Apresentado pela oposição (UDN), Jânio da Silva Quadros explorou umpopulismo demagógico e moralista (a campanha da vassoura) bem ao gosto da época.Ao terminar o seu mandato, Juscelino Kubitschek mudara o País: a cidade prevalecia sobre o ca mpo e aindústria sobre a agricultura. Contudo, as regiões Norte, Nordeste e Centro -Oeste não acompanharam essedesenvolvimento, provocando o aparecimento de disparidades regionais nítidas. Também a inflação assumira índicesalarmantes.O Governo Jânio Quadros:Jânio Quadros recebeu, já em Brasília, a faixa presidencial, dia 31 de janeiro de 1961. Não foi feliz opresidente, na tentativa de criar o Ministério da Defesa com predominância da concepção terrestre no campoestratégico, provocando reações na Marinha do Almirante José Santos de Saldanha da Gama e na Força AéreaBrasileira.Em pouco tempo, porém, o presidente marcou a sua administração por uma orientação desconcertante,orientando a política nacional no sentido de aproximação com os países comun istas, visando à ampliação de mercados.Essa política, chamada “independente”, aplicada por seu Ministro de Relações Exteriores, Afonso Arinos de MeloFranco, tinha bons intuitos. A recepção aparatosa ao Ministro de Cuba, Ernesto "Che" Guevara, condecorado com a grãcruzda Ordem do Cruzeiro, e o envio do Vice -Presidente João Goulart em missão especial na República Popular daChina, provocaram reações em alguns setores. Carlos Lacerda, governador do novo Estado da Guanabara, ergueu -secontra o presidente. Premido por "forças ocultas", conforme declarou o presidente, Jânio Quadros renunciou.Os Militares no Poder:O Governo João Goulart e o Movimento de 1964:A renúncia de Jânio Quadros provocou grave crise política. O Brasil viveu dias de intranqüilidad e e agitaçãoenquanto o vice-presidente, eleito por sufrágio popular, apressava -se a retornar ao País, dividiam-se as opiniões,achando uns que Goulart devia legalmente assumir a Presidência e outros (em especial os ministros militares AlmiranteSilvio Heck, Marechal Odílio Denys e Brigadeiro Gabriel Grün Moss) expressavam a inquietação de que o herdeiro

político de Vargas ocupasse a Presidência da República. O General Henrique T. Lott conclamou os companheiros apreservarem a Constituição, permitindo a pos se de Goulart; na noite de 26 de agosto, foi preso em uma fortaleza do Riode Janeiro. Mostrou-se favorável a Goulart seu cunhado, governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, o qualformou uma cadeia de rádio, a "Rede da Legalidade", destinada a movim entar a opinião pública. Recebeu a adesão dosgovernadores do Paraná e Goiás, Ney Braga e Mauro Borges, bem como do General José Machado Lopes.Em 31 de agosto, o Deputado Josué de Castro apresentava na Câmara dos Deputados um manifesto assinadopor 95 intelectuais identificados com a esquerda, contestando as inquietações dos militares.187Cogitou-se de um remédio que evitasse a guerra civil; é possível que Benedito Valadares tenha pensado noparlamentarismo que contentou, provisoriamente, a todos. Assim, ho uve por bem o Congresso, de acordo com o parecerdo Deputado Oliveira Brito, promulgar a Emenda Constitucional nº 4 (02/09/1961) à Constituição, criando oparlamentarismo, com isso resolvendo-se o impasse: assumiria João Goulart a Presidência como chefe de Estado, mas ogoverno seria exercido por um primeiro -ministro, sob a vigilância do Parlamento.Goulart entrou no Brasil pelo Rio Grande do Sul, pousando seu avião em Porto Alegre, rumando, em seguida,para Brasília. Falhou, nessa ocasião, a "operação mos quito", tentativa de oficiais da FAB de impedir a descida do aviãode Goulart em Brasília.João Goulart recebeu a faixa presidencial, na Capital, em 7 de setembro de 1961; logo indicou Tancredo deAlmeida Neves para primeiro-ministro, sendo organizado o gabinete. Na Pasta do Exterior, Francisco Clementino deSantiago Dantas mantinha uma política diplomática de aproximação com o bloco comunista, reatando as relaçõesdiplomáticas com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o que começava a preo cupar setores da vidanacional. Numa tentativa de obter as boas graças norte -americanas, o Presidente João Goulart efetuou uma viagem aosEstados Unidos e avistou-se com John Kennedy; mas só encontrou desconfiança dos setores financeiros por causa dosrumos que imprimia ao seu governo, justamente porque o primeiro governo parlamentar cancelara a concessão àCompanhia Mineração Novalimense (isto é, Hanna Corporation) de exploração de ferro no Vale do Paraopeba.Começavam a se manifestar os primeiros indício s de indisciplina militar: em março de 1962, nascia aAssociação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil.A União Nacional dos Estudantes (UNE), fundada no Estado Novo, passou a adotar posições cada vez maisradicais. Começaram diversos movimentos d e represália ao governo. Às dificuldades políticas somavam -se asdificuldades diárias da vida nas grandes cidades, onde gêneros de primeira necessidade escasseavam: filas imensas seformavam às portas de supermercados à espera de alimentos inexistentes.Políticos de todas as matizes agiam rápido objetivando as eleições de outubro. Sargentos das Forças Armadasdecidiram, em convenção, indicar candidatos à Câmara Federal.Durante a administração Hermes Lima ocorreram eleições em outubro de 1962, com a vitór ia de diversospolíticos de esquerda, como Miguel Arraes, em Pernambuco.O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) passou a ser órgão de assessoramento do Ministério do Trabalho.A eleição de alguns sargentos, contrariando Lei Eleitoral, suscitou debates e greves. O Partido Comunista promoveuCongresso Continental da Solidariedade a Cuba, instalado em Niterói, na sede do Sindicato dos Operários Navais, de28 a 30 de março de 1963. A inflação aumentava colaborando com o clima de insatisfação geral. A ação do s políticoscomunistas orientou-se no sentido de envolver o governo e o Presidente Goulart aproveitando -se de suas hesitações,ocupando postos importantes na administração pública.Apesar deste quadro de desorientação administrativa, houve avanços em dive rsos setores do país. Houvetambém diversos problemas de ordem política, o que obrigou o a retornar país à situação de presidencialismo.O ano de 1963 marcou um episódio de confronto entre o Brasil e a França em torno do direito de explorar osrecursos da plataforma continental nordestina: navios pesqueiros franceses capturavam lagostas, apoiados por seugoverno. Grande foi a reação da sociedade brasileira e da Marinha em particular. Por determinação do governo

brasileiro, unidades navais dirigiram-se para o Nordeste, enquanto um contratorpedeiro francês avizinhava -se da área deconfronto. Mas a chamada "guerra da lagosta" não chegou a ocorrer e o incidente foi encerrado.Apesar das desconfianças do governo norte -americano, a Marinha recebeu, em 1963, mais dois submarinos(pelo Programa de Assistência Militar) designados com os nomes de Bahia e Rio Grande do Sul.Em 12 de setembro de 1963, o Supremo Tribunal Federal cassou elegibilidade de sargentos, declarando que osargento Aimoré Zoch Cavalheiro não pod ia ocupar o seu mandato de deputado pelo Rio Grande do Sul. Sabedoresdesse fato, sargentos da FAB e da MB ocuparam, em Brasília, a Estação Central de Radiopatrulha, o Ministério daMarinha, o Departamento Federal de Segurança Pública e o Departamento de T elefones Urbanos e Interurbanos.Prenderam diversos oficiais e os conduziram à base aérea, também assim agindo com o Deputado Clovis Mota,presidente da Câmara Federal. Todos sob o comando do sargento Antônio Prestes de Paula, da FAB. Ouviram -setiroteios em diversas áreas e contra as praças do Ministério da Guerra, que não aderiram. No Rio de janeiro, o Ministroda Justiça, Abelardo Jurema, diligenciava junto ao Ministro da Guerra. Pela manhã, os blindados do Exército ocuparamdiversos pontos da capital e, em especial, a Esplanada dos Ministérios. Intimados os rebeldes a se renderem,entregaram-se os que ocupavam o Ministério da Marinha, às 8 e 30 da manhã (detidos 60 da FAB, 40 fuzileiros navais e15 marujos).Enquanto isso, os rebeldes prosseguiram em su as ações em outras áreas, conseguindo prender na base aérea oMinistro Victor Nunes Leal. No entanto, diante do cerco das tropas do Exército, entregaram -se, por volta do meio-dia.Às 15:30, a área alfa, a última em poder dos rebeldes, caía em mãos legalist as, cessando a rebelião. Alguns deputadosapoiaram e aplaudiram o movimento. O número de implicados presos atingia 536 militares; transportados para o Rio dejaneiro, receberam prisão no navio Raul Soares.Ao final do ano de 1963, o Presidente Goulart dem itia seu Ministro da Fazenda, professor Carlos AlbertoAlves Carvalho Pinto, uma exigência das esquerdas.Esses fatos alarmaram diversos setores civis e militares. Em 1962, constituía -se a Frente Patriótica CivilMilitar que reunia oficiais de prestígio (Marechal Odilio Denys, Almirante Silvio Heck) e civis (governador CarlosLacerda, jornalista Júlio de Mesquita Filho). O Congresso ensaiou uma tímida oposição ao presidente.O Deputado João Calmon polemizou com o Deputado Leonel Brizola, na Câmara, e em d ebates de televisão.Aos primeiros conspiradores juntaram-se o Almirante Augusto Rademaker Grünewald, o Brigadeiro Márcio de Souza e188Melo e o General Osvaldo Cordeiro de Farias (oficial mais antigo das três Forças). Diversos comandantes de Corposaderiam.Um grupo de coronéis, liderados pelo Coronel Euclides de Figueiredo, resolveu assumir a responsabilidade deuma revolução, acordando que o comando da mesma devia ficar com o General -de-Exército Humberto de AlencarCastello Branco que, desde setembro de 19 63, ocupava a chefia do Estado-Maior do Exército. Civis também semanifestaram preocupados, aderindo ao movimento políticos e cidadãos de reconhecido prestígio.O Presidente João Goulart decidiu, em outubro, negociar diretamente com o Partido Comunista e seusdirigentes. Das reuniões em Brasília resultou a formação da Frente Popular, cujo objetivo residia na unificação dasforças de esquerda. Projetaram diversas medidas, em especial a reforma agrária, chegando alguns setores mais radicais apregar a dissolução do Congresso. Falava-se, abertamente no governo, em implantar uma república sindicalista.A influência do Partido Comunista crescia e se fortalecia, mencionando -se, também, o apoio financeiro dogoverno cubano ao líder trabalhista Leonel Brizola.No comício de 13 de março, junto à Central do Brasil, frente a milhares de trabalhadores, Jango anunciou areforma da Constituição, visando a obter maiores poderes para o Executivo. Ali mesmo, assinou decretos denacionalização de empresas petrolíferas, de d esapropriação de áreas às margens de rodovias e ferrovias, tabelamento dealuguéis e expropriação de terras pela Superintendência da Reforma Agrária - SUPRA. Assinale-se a mobilização decinco mil praças do Exército para a proteção do comício; missão consi derada incompatível com o destino da forçamilitar terrestre, segundo o pensamento de seus comandantes.Seis dias mais tarde, em São Paulo, multidão, em maioria mulheres, participava da Marcha da Família com

Deus pela Liberdade, protestando contra essas medidas. Seguiu-se um manifesto do Governador de Minas Gerais, Joséde Magalhães Pinto, concitando o País à ordem, e uma circular reservada do General Castello Branco recomendandoaos chefes militares a manutenção da legalidade.Em 20 de março, marujos e fuzileiros se reuniram no Sindicato dos Securitários, no Rio de Janeiro, e váriosoradores atacaram o Almirantado, o Ministro da Marinha e outras autoridades navais. Quatro dias depois, alguns desseselementos foram detidos e expulsos da Marinha.No dia seguinte, em plena Semana Santa, liderados pelo cabo José Anselmo, rebelaram -se fuzileiros emarinheiros que se instalaram no Sindicato dos Metalúrgicos, igualmente no Rio de Janeiro. A indisciplina atingia oescalão superior na pessoa do Vice -Almirante (FN) Cândido da Costa Aragão, que comandava a corporação. Aconcentração no Sindicato dos Metalúrgicos mostrava -se nitidamente subversiva. Aos poucos, a Rua Ana Néri (sede doSindicato) ficou cheia de populares, curiosos e políticos que foram dar apoio aos re beldes; 26 soldados fuzileiros,componentes de uma patrulha que se destinava a desalojá -los do prédio, colocaram as armas no chão e entraram nosindicato, coniventes com os que já nele se encontravam. Houve, então, interferência da Polícia do Exército, querecolheu os insubordinados ao Batalhão de Guardas, logo libertados por ordem pessoal do presidente... Civisvasculharam quartéis para conferir o cumprimento das ordens presidenciais. Sentindo -se desautorado, o Ministro SylvioBorges de Souza Motta demitiu -se. Aproveitou-se Goulart para convocar para o Ministério o Almirante (reformado)Paulo Mário da Cunha Rodrigues, conhecido por suas ligações políticas com a esquerda, bem como o Almirante PedroPaulo de Araújo Suzano para a chefia do Estado -Maior da Armada. O Clube Naval e o Clube Militar entraram emsessão permanente, reprovando a degringolada da estrutura disciplinar.A indisciplina manifestou-se, também, em outras organizações militares; no Centro de Instrução AlmiranteTamandaré, em Natal, na mesma Sexta-feira Santa, trezentos marujos se solidarizaram com os do Rio de Janeiro,cruzando os braços ao toque de reunir para a faxina. Informado sobre o acontecimento, o Capitão -de-Corveta JoãoHumberto Cerchiaro tentou demover os manifestantes prendendo dois marujos e obtendo a dispersão dos demais; no diaseguinte, os presos eram libertados por ordem do novo ministro. Tal episódio denunciava o clima que minava as ForçasArmadas.As forças de esquerda estavam convencidas da vitória rápida e imediata.Em Pernambuco encontravam-se prontos os uniformes da milícia popular com o emblema da foice e martelo.Em 30 de março, às 20 horas, João Goulart participou de manifestação de mil sargentos de várias unidades noAutomóvel Clube do Rio de Janeiro; com o Almirante Aragão abraçado ao cabo Anselmo, discursou em programatelevisado, pronunciando um discurso radical.Diversos movimentos pelo país já estavam se organizando a espera da revolta. O secretário de Segurança doEstado da Guanabara, Coronel Gustavo Borges, re aparelhou a polícia militar e elaborou um plano de proteção aoPalácio Guanabara, provendo-o de meios para o governador irradiar, para todo o país, o que se estivesse passando.Diversos encontros de chefes militares se verificaram na madrugada de 30 para 31, no Rio de janeiro. A políciamilitar estava em rigorosa prontidão ocupando os prédios de sindicatos, não o fazendo com o da Confederação Nacionaldos Trabalhadores da Indústria, pois não pôde enfrentar os fuzileiros do Almirante Aragão nem os soldados da FAB,que se comprometera com o governo Goulart. Por isso, a Leopoldina e a Central do Brasil puderam entrar em greve.A 30 de março, correu de norte a sul a senha: "A criança vai nascer".No dia 31, levantou-se o Estado de Minas Gerais, liderado pelo seu governador, que leu, às 17 horas, ummanifesto por cadeia radiofônica, e por generais do. Três operações se verificaram: silêncio, que visou a assumir ocontrole dos meios de comunicações; gaiola, a prisão de líderes de esquerda; e a Popeye, a propriam ente militar. Osmilitares, principalmente do Exército, iniciaram seus movimentos, recebendo adesões do Estado de São Paulo. No Riode janeiro, os generais Castello Branco e Arthur da Costa e Silva assumiram a liderança do movimento, auxiliados por

inúmeros oficiais. A Escola Superior de Guerra e a Escola de Comando e Estado -Maior do Exército converteram-se em189centros de operações. Na noite de 31 para o 1º de abril, o General Moniz de Aragão e o Capitão Tarcísio Nunes Ferreirapercorreram unidades da Vila Militar concitando os camaradas a não mais servirem ao governo.O Presidente Goulart encontrava -se no Rio de Janeiro e logo deu ordens para combater os revoltosos. Tropasfieis ao presidente tentaram algumas ações. Em Brasília, o Congresso reunido tentava sem êxito votar o impedimento dopresidente. O povo desconhecia os detalhes dos eventos por causa da forte censura, formando -se nas rádios a chamada"rede nacional da legalidade”.No Nordeste, o comando do IV Exército anulava a ação do Governador de Pern ambuco, Miguel Arraes.Primeiramente, prendeu-se o comandante da polícia militar, Coronel Hancho Trench, substituído pelo Coronel SilvioCahu. Em seguida, o Almirante Dias Fernandes, do III DN, e mais tropas do Exército.Não houve possibilidade de resistê ncias, nem mesmo das atuantes Ligas Camponesas, tal a rapidez da açãorevolucionária.Vários Estados estavam a favor do movimento. No Rio de Janeiro, ainda havia incertezas devido às tropas fieisao governo. O Presidente Goulart rumou para o aeroporto Sa ntos Dumont, embarcando em direção de Brasília.A "Cadeia da Legalidade" (rádios Nacional e Mayrink Veiga) incitava contra os "gorilas" revoltados.Protegiam-nas os fuzileiros navais do Almirante Aragão, os quais, também, impediam o funcionamento da rádi o jornaldo Brasil. Às 15 horas, oficiais da Marinha e do Exército ocupavam os transmissores da "Cadeia da Legalidade". Osministérios da Marinha e da Aeronáutica já estavam em poder dos revolucionários.Chegando a Brasília, João Goulart dirigiu -se à Granja do Torto, de onde tentou organizar resistência, apoiando -se na fidelidade do comandante militar da Capital; este, porém, logo perdeu o controle de seus comandados. À noite,Goulart embarcou num avião da FAB com destino a Porto Alegre, local possível de uma reação. Mas a situação nacapital gaúcha havia mudado; os revoltosos já controlavam a cidade em nome da Revolução. Quase todo o País aderiraà Revolução, e o Congresso, às 3 horas da manhã do dia 2 de abril, decretava o impedimento do presidente e, dec laradovago o cargo, dava posse ao Deputado Ranieri Mazzilli, que, assim, pela 6 a vez, se tornava Presidente provisório. OGeneral André Fernandes assumiu a Casa Militar do novo presidente e estabeleceu ordem na capital. O Rio Grande doSul ainda viveu algumas horas agitadas, Ao chegar ao aeroporto Salgado Filho, João Goulart soube que só contava coma guarnição de Porto Alegre e não completamente; outras tropas marchavam para a capital gaúcha a fim de prendê -lo.Não contava, também, com a brigada, cujo comandante, Coronel Otávio Frota, manteve -se alheio aos apelos dopresidente impedido. Apesar de o Deputado Leonel Brizola insistir numa reação, João Goulart optou por uma retirada.Embarcou para sua estância em São Borja e, deste local, para Montevidéu.O Alto-Comando Revolucionário, composto do Almirante -de-Esquadra Augusto Rademarker Grünewald,General-de-Exército Arthur da Costa e Silva e Tenente -Brigadeiro Francisco Correia de Mello, promulgou, a 10 deabril, o Ato Institucional nº 1 (elaborado pelo jur ista Francisco Campos), mantendo as linhas gerais da Constituição de1946, mas atribuindo maiores poderes ao presidente da República, única autoridade que podia propor aumento dedespesas, e suspendendo as garantias dos cargos e funções públicas. Ainda, es se Ato atribuiu ao ComandoRevolucionário a autoridade de cassar, pelo prazo de dez anos, os direitos políticos de quaisquer cidadãos (441perderam seus direitos políticos).O Congresso Nacional, em eleição indireta, escolheu, no dia 11, o Marechal Humber to de Alencar CastelloBranco e o Deputado José Maria Alkmin para ocuparem os cargos de presidente e vice -presidente da República. Nessemesmo dia 11, o Presidente Mazzilli extinguiu o ISEB.Os Governos Oriundos do Movimento de 1964:O Presidente Castelo Branco:

O Marechal Castello Branco, veterano a 2ª GM, assumiu encargos e deveres pesados e antipáticos deestabelecer a ordem interna; dedicou -se a esta tarefa ao mesmo tempo em que continha a inflação, permitindo arevalorização da moeda pela criação d o cruzeiro novo, equivalente a mil cruzeiros antigos, de acordo com o Programade Ação Econômica (PAEG) para 1964 e 1965, segundo a política de seus ministros do Planejamento, Roberto deOliveira Campos, e da Fazenda, Otávio Gouveia de Bulhões.Rigorosa repressão se desencadeou contra políticos ligados ao regime anterior e contra os corruptos, tendo sidoinstaurados diversos inquéritos, sob a supervisão geral do Marechal Estevão Taurino de Resende, que concluíram pelasuspensão de direitos de implicados e cassação de direitos políticos e perda de mandatos de representação, sendoatingidos os ex-presidentes João Goulart, Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek, Senador pelo Estado de Goiás (este,em 8 de junho de 1964, pediu asilo a Embaixada da Espanha e retir ou-se para a Europa, no dia 13).Carlos Lacerda percorreu diversos países da América e Europa para explicar os sucessos políticos. Em todos ossetores, o governo deu mostras de grande trabalho.A 27 de outubro de 1965, o Ato Institucional nº 2 fechou os numerosos partidos políticos e determinou aeleição indireta para a Presidência e Vice -Presidência; o Ato Complementar nº 4 criou o bipartidarismo: a ARENA(Aliança Renovadora Nacional), congregando elementos do governo, e o MDB (Movimento Democrático Bra sileiro),reunindo os políticos da oposição. O Ato Institucional nº 3 (05/02/1966) estendeu o processo das eleições indiretas aosgovernadores de Estado; o Ato Institucional nº 4 (06/12/1966) fixou as normas para a elaboração de uma novaConstituição. Foi, então, votada e promulgada a Constituição de 1967, a 5ª da República, a 24 de janeiro, tendo entradoem vigor a 15 de março.190Um atentado terrorista ocorreu em 27 de julho de 1966: visava o Ministro do Exército, Costa e Silva, noaeroporto de Guararapes (Recife). Conseguiu matar o Almirante Nelson Gomes Fernandes e os jornalistas Edson Regise Haroldo Colares Barreto.O Presidente Castello Branco decidiu, no início do ano de 1965, que a FAB operaria aviões no NAEL MinasGerais, cabendo à Marinha a posse e operação apenas de helicópteros, determinando, ainda, que a Base Aeronaval deSão Pedro d'Aldeia passaria a ser um centro de instrução dos oficiais de Marinha que optassem por essa especialidade.Por iniciativa do Almirante José Santos de Saldanha da Gama nasceu a Fundação de Estudos do Mar, com instalaçãoprovisória na Pontifícia Universidade Católica do Rio de janeiro.O Exército participou, por apelo da OEA, de força interamericana que atuou na República Dominicana, em1965: Recebeu a denominação de FAIRBRÁS. Esta, permaneceu em território da República Dominicana até setembrode 1966, retornando ao Brasil em aviões da FAB e navios -transporte da Marinha.O Presidente Costa e Silva:Por eleição indireta, em 3 de outubro de 1966, o Marechal Arthur da Co sta e Silva foi eleito para o governoque se seguia ao do Marechal Castello Branco, juntamente com o vice Pedro Aleixo. Tomaram posse em Brasília em15/03/1967.A meta prioritária do Presidente Costa e Silva consistiu na continuação do programa antiinflac ionário e dedesenvolvimento econômico traçado pelo Ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto. Dele resultou o PED (ProgramaEstratégico de Desenvolvimento), ficou definitivamente instalada a Zona Franca de Manaus (SUFRAMA).Em 1968, ficou decidida a ins talação da primeira usina nuclear, localizada no município de Angra dos Reis.Transformou a Comissão de Marinha Mercante em Superintendência Nacional da Marinha Mercante (SUNAMAM) em1969.Sentindo necessidade de reaparelhamento naval, o governo assinou, em 02/04/1966, contrato com o estaleiroAbeking & Rasmussen, Lemwerder, Alemanha, para a compra de quatro navios varredores, classe Schultze. Em agosto,novo contrato se firmou com a Vickers para a construção de dois submarinos semelhantes ao Oberon da Mar inha

britânica. Começaram os entendimentos internacionais para a construção de navios -escolta, do tipo fragata.No campo político, o presidente conduziu uma abertura visando ao restabeleci mento do processo democrático.A vida política se animou e emergir am várias facções políticas inclusive de esquerda. O Deputado Márcio MoreiraAlves proferiu discurso considerado insultuoso pelas Forças Armadas (concitou o povo a boicotar o desfile militar deSete de Setembro), e como a Câmara dos Deputados negou -se a conceder licença para processá-lo, implantou-se umacrise. Na manhã de 13 de dezembro de 1968, o presidente participou da solenidade do Dia do Marinheiro na EscolaNaval, dirigindo-se, logo depois, para o Palácio Laranjeiras; conferenciou com os ministros mi litares, participando desteencontro o General Emílio Médici, Ministro do SNI, o General Jayme Portella, chefe do Gabinete Militar, e RondonPacheco, chefe do Gabinete Civil. Em seguida, o presidente convocou o Conselho de Segurança Nacional, quando sediscutiram medidas de exceção. Não se tratava somente do discurso do Deputado Moreira Alves, mas também a mortede um sentinela do Exército e o assassinato do Capitão norte -americano Chandler, em São Paulo. O Vice -PresidentePedro Aleixo colocou-se contrário às medidas propostas. Chegou-se, então, à redação de um documento, que recebeu onome de Ato Institucional nº 5, bem como o Ato Complementar nº 38, determinando o recesso do Congresso por tempoindeterminado. Foram cassados 88 deputados federais, 13 suplen tes, 5 senadores, encabeçando a lista o DeputadoMárcio Moreira Alves, e mais Carlos Lacerda e Adhemar de Barros. No inicio do ano de 1969, o Decreto -Lei nº 477proibiu atividades políticas a estudantes, professores e funcionários das universidades.Intencionando desestabilizar o governo, militantes de esquerda fundaram o grupo Ação de LibertaçãoNacional, sob a liderança de Carlos Marighella, que participava da atividade do Partido Comunista desde 1934. Outrogrupo, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) também nasceu nessa oportunidade.Diante da impossibilidade física do presidente, seus ministros militares, Almirante -de-Esquadra AugustoRademaker Grünewald, General–de-Exército Aurélio de Lira Tavares e Marechal -do-Ar Márcio de Souza e Mello,assumiram o poder temporariamente, promulgando o Ato Institucional n,º 2, de autoria do Ministro Carlos Medeiros.A Junta Militar decretou, ainda, uma nova Lei de Segurança Nacional, em 18 de setembro, um novo CódigoPenal e criou as cadeiras de Moral e Civi smo e Estudo de Problemas Brasileiros, para os níveis secundário euniversitário respectivamente. Outorgou a Emenda nº 1 à Constituição de 1967, suspendendo, dois dias depois, orecesso do Congresso; esta Emenda aumentava para cinco anos o mandato presiden cial, estabelecendo o sistema deproporcionalidade de eleitores para o número de deputados e pena de morte para os casos de "guerra revolucionária".A III Conferência Interamericana Extraordinária, Buenos Aires, fevereiro de 1967, alterou artigos da Cart a daOEA, ficando seus resultados conhecidos como Protocolo de Buenos Aires. Em 1969, constituiu -se o Pacto Andino,acordo entre o Equador, Peru, Bolívia e Colômbia; mas não logrou concretizar o que a ALALC não conseguiu.Dezessete de dezembro, faleceu o Presidente Costa e Silva, enquanto a escolha de seu sucessor recaía noGeneral Emílio Garrastazu Médici, comandante do III Exército, nome trabalhado pelo Almirante Rademaker (haviauma preferência para o General Afonso de Albuquerque Lima esboçada em vário s segmentos militares), que compôs achapa no cargo de vice-presidente da República. Ambos foram eleitos em 30/10/1969 exercendo o mandato até 31/03/1974.191O Presidente Médici:O novo presidente continuou o combate à inflação sem perder de vista a ace leração do desenvolvimentonacional. Desenvolveu a Marinha Mercante, ampliando a tonelagem existente e economizando divisas; merece destaquea FRONAPE (Frota Nacional de Petroleiros), cujas unidades já são fabricadas em estaleiros nacionais.Contribuiu com desenvolvimento de diversas áreas como na siderurgia (SIDERBRÁS), associando -se àKawasaki Steel Corp., do Japão, e à Finsider, da Itália. Na educação (Mobral), na área (PIS - Programa de Integração

Social, e o PASEP - Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público) entre outros. Iniciou as gestões para aconstrução da Hidrelétrica de Itaipu, desenvolveu a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER). Importantemedida militar consistiu no Projeto RADAM (Radar para a Amazônia).A partir de 1970, as elites intelectuais brasileiras procuraram sensibilizar a opinião pública no sentido de oBrasil se fazer presente no continente antártico. Diversas reuniões tiveram lugar no Clube de Engenharia (Rio dejaneiro), que programou uma expedição brasileira em 1972, que não se realizou. Nasceu, na ocasião, o InstitutoBrasileiro de Estudos Antárticos (IBEA) por iniciativa do Almirante Estanislau Façanha Sobrinho.E, testemunhando a pujança do País, os brasileiros comemoraram o Sesquicentenário da Independência . DePortugal, transportaram-se os restos mortais de D. Pedro I que repousam junto ao monumento do Ipiranga.O Presidente Geisel:O presidente Geisel preocupou-se com a situação energética. A criação de usinas nucleares, necessárias para aprodução energética, foi contratada uma empresa alemã para que pudéssemos adquirir o know -how alemão, assinandoseo acordo em 27 de junho de 1975 (envolvendo principalmente as firmas KWU, Siemens Steage Interaton),objetivando alcançar autonomia nesse setor. Assim, i niciaram-se as obras, a cargo de Furnas S.A., para a existência detrês usinas atômicas. Em fevereiro de 1977, começaram as obras de instalação da Nuclep (subsidiária da Nuclebrás) emItaguaí, na margem da rodovia Rio-Santos, cuja finalidade reside em prod uzir os equipamentos pesados para as usinasatômicas.No campo da Marinha, a primeira fragata (inglesa) a entrar em operação foi a Niterói (1976), enquanto oArsenal de Marinha do Rio de janeiro acelerava a construção da Independência e da União. No mesm o Arsenal, o navioaeródromo ligeiro Minas Gerais terminava (1976) longos reparos, tendo sido adquiridos helicópteros nesse mesmo ano.Em 1977, o segundo submarino, classe Oberon, com o nome de Tonelero, chegava ao Brasil.Prosseguindo na política antárti ca, o governo aderiu ao Tratado da Antártica (01/12/1959) em 16 de maio de1975, estabelecendo uma política nacional (POLANTAR) aprovada em 28/10/1976, que por sua vez, projetou umprograma antártico brasileiro (PROANTAR).Demonstrando bom animo para com a política nacional, em 1978 o presidente Geisel fez a abertura política,anistiando os exilados políticos.O Presidente Figueiredo:Assumindo em março de 1979, o novo presidente, o general João Batista de Oliveira Figueiredo, procurou darprosseguimento ao já traçado processo de abertura política, contando com a colaboração do onipotente general Golberydo Couto e Silva. No entanto, a intensa crise econômica que abateu o país durante sua gestão acabou por influenciarrumos da abertura. A segunda crise i nternacional do petróleo, em 1979, provocou novo desequilíbrio as contas externase, principalmente, uma diminuição no fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil.A moratória decretada pelo México, em 1982, assustou os bancos internacionais, que passara m a temer omesmo comportamento por parte do Brasil (cuja dívida, aliás, era maior do que a mexicana) e cancelaram novosempréstimos. A brusca elevação dos juros no mercado internacional também ajudou a comprometer a estabilidade daeconomia brasileira, agora impossibilitada de gerar recursos para "rolar" a dívida externa. Sequer era possível efetuar opagamento dos juros.Finalmente, a inflação, que já vinha crescendo desde a época do "milagre", escapou de qualquer controle,sendo alimentada até mesmo pel o mecanismo da correção monetária criado por seu governo. Na falta de recursosexternos, emitia-se dinheiro internamente, ativando o crescimento da inflação e ocasionando grande déficit das contaspúblicas. Assim, já no início da década de 80, o Brasil pas sava a viver uma situação marcada pela “estagflação”, isto é,estagnação econômica junto com inflação.192O Retorno da “Democracia”:Sucederam ao último presidente militar os presidentes Tancredo Neves (eleito ainda por voto indireto, não

assumindo por ter falecido as vésperas da posse), José Sarney (1985 -1990) que, sendo vice-presidente assumiu no lugarde Tancredo, Fernando Collor de Mello (1990 -1992), cassado por envolvimento em corrupção, Itamar Franco (1992 -1995) que era o vice-presidente do governo Collor, Fernando Henrique Cardoso (1995 -1999 e 1999-2002) e Luiz InácioLula da Silva, atual presidente do Brasil.Dentro da complexidade do mundo contemporâneo, a posição brasileira, determinante em busca de seudesenvolvimento, tem norteado uma p olítica externa de princípios democráticos, atuando intensamente no campointernacional, não só condizente com sua situação geopolítica, mas com tudo que ocorre no mundo.As Forças Armadas aprimoraram-se. No ano de 1996, foi regulamentado o serviço milita r feminino voluntáriopara as três Forças; a mulher já se encontrava presente desde 1981, na Marinha, em 1982, na Força Aérea, e, em 1989,no Exército. A Academia da Força Aérea já admite cadetes femininos para especialidade de intendência a partir de1999. Os colégios militares também abriram seus quadros para alunas e se revitalizaram, existindo 13 estabelecimentosmodelos em importantes cidades brasileiras. Deixaram de existir os ministérios militares, sendo criado o Ministério daDefesa, sendo cada Força administrada por um comandante subordinado ao ministro.