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Antes dos EuropeusOs Significados das Inscries RupestresOs primeiros habitantes do Rio Grande do Norte deixaram nas rochas e nas paredes das cavernas sinais incisos ou pintados. Em alguns stios, existem apenas inscries rupestres incisas (Fazenda Umburana, regio do Abernal, municpio de Serra Negra-RN) e em outros locais encontram-se, no mesmo painel, inscries incisas e pinturas (Fazenda Soledade, ApodiRN). Na atualidade praticamente impossvel saber quais foram os autores de tais legados. Mesmo assim, diante desse contexto, ainda se pode tirar algumas concluses. Em primeiro lugar, provvel que tenham ocorrido dois estgios culturais. O mais primitivo estaria representado, pelos desenhos incisos. O outro estgio, mais desenvolvido, estaria caracterizado pelas pinturas que requeriam uma tcnica mais complexa a elaborao de tintas. Para comprovar tal afirmao suficiente apontar como exemplo o stio que existe na Fazenda Flores, no municpio de Apodi-RN), onde os traos incisos eram feitos no cho e numa rocha, larga na base e que vai se estreitando medida que sobe. Na rocha tambm h pinturas representando pares de mos. Outro detalhe: os incisos esto quase apagados e grosseiramente desenhados. As mos pintadas, porm, so muito bem feitas e apresentam grande nitidez Esse stio poderia ser o testemunho de uma evoluo cultural. Outra questo que se discute - e esta universal - seria o significado, ou seja, o que representariam ser de fato as inscries rupestres: arte, escrita ou smbolos religiosos. Existe, em princpio, uma dificuldade: como interpretar o pensamento do homem primitivo pelas pessoas que vivem no sculo XX? possvel ao homem contemporneo penetrar na mentalidade de um ser nascidos sculos e sculos atrs? Por essa razo torna-se necessrio fazer um esforo para recuar no tempo e se despir da cultura na qual o pesquisador nasceu e vive. Seria isso possvel? Esse um problema de difcil soluo, que exige muita competncia e humildade por parte do pesquisador. Uma sada, provavelmente, pesquisar os caracteres daqueles povos que tiveram sua escrita decifrada. Estudar, por exemplo, os Astecas (Mxico) que possuam uma escrita "pintada" e uma fontica. A escrita estava ligada aos sacerdotes, como na Sumria. O significado, no dizer de Crdova Ituburu, era determinado pela deformao de certas partes e das cores. Os sacerdotes daquele povo lidavam com caracteres simblicos secretos. O contedo religioso de determinados smbolos no invadia a tese da escrita Richard E. Leakey estava certo quando disse que "as amostras de ocre que parecem em diversos stios da Europa de 200 mil anos ou mais de idade, certamente, sugerem ornamentao ritual das pessoas e dos artefatos. Ritual e simbolismo aludem francamente competncia lingstica". Tudo leva a crer que as inscries rupestres que existem no Rio Grande do Norte constituem de fato uma escrita. Diferente, naturalmente, de que se usa na atualidade. Mas com certeza era um instrumento de comunicao. Os autores das inscries possivelmente desenhavam ou pintavam para transmitir uma mensagem. O seu significado se perdeu no

tempo, mas no pode ser considerado arte, porque tais caracteres no eram produzidos para deleite espiritual, nem para expressar o belo. A razo disso muito simples: o homem primitivo, pelas dificuldades que enfrentava para sobreviver, era prtico e rude. Quando sentia fome procurava resolver de imediato o seu problema. No tinha condies de praticar uma atividade voltada para o embevecimento espiritual. Havia sim, grande necessidade de se comunicar. A reproduo de um objeto atravs de um desenho uma tentativa de fazer referncia a algo que impressiona, de mostrar a outro ou a uma comunidade o valor daquele objeto. Traos em formas de barras ou ento crculos ou pontos podem significar elementos de contagem. Mas na mente do homem primitivo poderiam tambm ter outra significao qualquer. Uma concluso pode ser considerada como certa: eles desenhavam ou pintavam para transmitir uma mensagem. E naqueles tempos difceis para a humanidade, a comunicao, certamente, era fundamental para a sobrevivncia de um grupo, de todo o gnero humano...

Etnias Mais Recentes e reas OcupadasO litoral norte-rio-grandense, na poca da descoberta do Brasil, era habitado pelos tupis, originrios do Paraguai e do Paran. Falavam o abanheenga que, segundo Varnhagen, era uma lngua aglutinativa, porm, com reflexes verbais. Receberam o nome local de potiguares. Tarcsio Medeiros descreve o tipo fsico dos potiguares: "tinham o porte mediano, acima de 1,65 cm, reforados e bem feitos no fsico, olhos pequenos, negros, encavados e erguidos, amendoados (...), eram mais ou menos baos, claros. Pintavam o corpo com desenhos coloridos (...), furavam os beios". Os tapuias, que moravam no interior, foram descritos da seguinte maneira, por Olavo de Medeiros Filho: "as mulheres eram, indistintamente, pequenas e mais baixas de estatura que os homens. Possuam a mesma cor atrigueirada, sendo muito bonitas de cara, obedecendo cegamente aos maridos em tudo que fosse razovel". E, mais adiante, acrescenta: "os tapuias andavam inteiramente nus. No usavam barbas e depilavam sistematicamente todos os plos surgidos no corpo, inclusive as sobrancelhas (...) Os tapuais pintavam hediondamente o corpo com tinta extrada do fruto de jenipapo, a fim de adquirirem um aspecto terrvel nos combates". Tarcsio Medeiros apresenta a seguinte classificao da populao nativa, formada por diversas naes, na poca da descoberta do Brasil: Litoral: potiguares. Serdo: arius, cariris, panatis, curemas, pebas e caics Chapada do Apodi: paiacus, cariris, pajus, pegos, moxois e caninds. Zona Serrana: pacajus, panatis, ics e parins.

Os EuropeusExpanso Europia Pela Via Martima

A Europa, no final do sculo XV, se encontrava presa em seus limites, sentindo a necessidade de se expandir. O comrcio das especiais, monopolizado pelas cidades italianas e desenvolvidas do Mediterrneo, prejudicava o restante dos pases do continente. A razo era muito simples: os produtos eram vendidos por um preo muito alto. A necessidade de quebrar esse monoplio passou a ser uma questo de sobrevivncia para uma economia monetria, como narrou Rolando Mausmier: "o numerrio totalmente insuficiente para as monarquias e para um comrcio em plena expanso". Era preciso, com urgncia , encontrar ouro. Como diversas lendas colocassem grandes tesouros na frica e na sia, os europeus sonhavam em se apossar dessas fortunas. Era preciso, tambm, acabar com os intermedirios, e o pas que realizasse tal feito obteria lucros fabulosos. Alm da necessidade de conseguir ouro, a Europa se encontrava apertada entre o mar e seus inimigos. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos, o caminho para o oriente se fechava para os europeus. A situao ficava crtica. Havia uma soluo apenas: atingir o Oriente pela via martima/ Portugal, por sua posio geogrfica, se lanou ao mar mais cedo. Adquirindo experincia nessas viagens, saa na frente em busca de um caminho martimo para o Oriente. Seria a salvao do imprio lusitano. Havia outro motivo: as condies eram precrias para as atividades agrcolas em Portugal, razo pela qual a sua populao tinha que tirar o alimento do mar. Pescando, os lusitanos foram se afastando do litoral, atingindo a Terra Nova, rica em bacalhau, salmo etc. Aos poucos, e como conseqncia dessas empreitadas, os portugueses foram aperfeioando os seus navios. No sculo XV, as galeotas e as gals de dois mastros haviam sido ultrapassadas, surgindo as barcas, barins e as caravelas, que se imortalizaram durante as grandes descobertas. A expanso martima, organizada de maneira sistemtica pelos lusos, comeou com a conquista de Ceuta, em 1415. Toda viagem atravs do Oceano Atlntico, naquela poca, era uma perigosa aventura, porque ningum garantia o retorno. Aps a conquista da Ceuta, os navegantes passaram a receber estmulos, sobretudo do infante D. Henrique que, por essa razo, foi chamado de "O Navegador". Acontece que a vida desse personagem foi envolvida por uma srie de lendas. Como resultado, a sua personalidade foi exaltada, at ao exagero, por alguns historiadores, quer portugueses, quer brasileiros. Pedro Calmon um deles: "deu-se perdidamente s cincias, casto e austero (...) de fulguraes de lenda, leitor insacivel, colecionador de tudo o que se escrevera sobre cosmografia e navegao, transferiu para Vila de Tera Naval, junto de Sagres e do Cabo de So Vicente, o squito de matemticos judeus, cartgrafos catales, pilotos de vrias origens, e outros que para isto educava e com eles criou um seminrio de estudos nuticos chamandolhe, sem rigor verbal, Escola de Sagres. Foi na verdade uma escola, mas de obstinado trabalho, em que era aluno e mestre aquele prncipe letrado". Tudo porm no passa de uma lenda. O infante D. Henrique no possua um vasto sobre a Escola de Sagres jamais existiu, seja qual for o sentido que se queira dar a ela. Nem como uma escola no significado clssico da palavra, nem como um grupo de especialistas que

discutissem problemas nuticos. Os avanos tcnicos ocorridos com os navios portugueses foram conseqncia da experincia adquirida atravs de suas inmeras viagens pelo Atlntico, o que, certamente, no diminuiu o mrito daqueles viajantes e das conquistas feitas pelo imprio lusitano. preciso tambm deixar bem clara a causa principal da expanso martima de Portugal. Para justificar sua expanso, os portugueses alegaram a defesa do cristianismo. Tinham como divisa "A propaganda da Igreja de Cristo e a converso dos infiis", dando a impresso de que se tratava de uma nova cruzada. Acontece que o objetivo era real outro bem diferente: a busca desesperada pelo ouro. A conquista da Ceuta demonstrou tal fato. O escritor Georg Friederici narrou com muito realismo o ataque portugus contra Ceuta: "entregaram-se, de sbito, a tremenda chacina, no respeitando a idade, nem sexo, no poupando mulheres nem crianas. Seguiram o saque e a devastao vandlica: os assaltantes devassavam, remexiam e escavavam. Depredavam os magnficos prdios preciosos e jias. Os lusitanos semi-brbaros arrebentavam as jias das mulheres e das moas, arrancado-lhes e cortando-lhes as orelhas e os dedos". A finalidade da expanso europia era, to somente, a busca de riquezas. E mais: durante o processo de colonizao no continente americano, portugueses, espanhis, franceses, holandeses e ingleses se igualaram no vandalismo. Contrariando, assim, os princpios cristos que diziam defender... A evangelizao dos gentios se resumia apenas ao trabalho dos missionrios. Os colonos, contudo, procuravam explorar os nativos, realizando s vezes, verdadeiros massacres. Frei Bartolomeu de Las Casas, considerado o "Apstolo dos ndios", denunciou as crueldades dos espanhis durante a conquista: "faziam apostas sobre quem, de um s golpe de espada, fenderia um homem pela metade, ou quem, mas habilmente e mais destramente, de um s golpe lhe cortaria a cabea, ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um s golpe".

Os EuropeusTese Ousada: Cabral no Litoral PotiguarLenine Pinto, pesquisador norte-rio-grandense, afirma que a expedio de Pedro lvares Cabral, que descobriu o Brasil, ao contrrio do que se tem dito at hoje, teria pela primeira vez atingido o Brasil provavelmente na praia de Touros, em abril de 1500. Klcius Henrique, reprter da TRIBUNA DO NORTE que entrevistou o escritor, escreveu o seguinte: "Lenine Pinto argumenta que Cabral em sua viagem rumo ndia teria seguido a volta do mar numa manobra a partir do Cabo Verde, a oeste, coroneando a corrente subequatorial do Atlntico que se bifurcava no Cabo de So Roque, numa aproximao dramtica do litoral potiguar, onde teria aportado em 22 de abril de 1500". Lenine Pinto desenvolveu, entre outros, o seguinte argumento: "Joo da Nova, em 1501, quando saiu procura de Cabral, de Cabo Verde, levou trinta dias para chegar ao cabo de So Roque. Como Cabral, no mesmo tempo, chegaria ao sul da Bahia?

"A durao da viagem de Cabral, Portugal-Brasil, muito importante. preciso, portanto, saber o tempo que se gastaria para realizar a viagem Portugal-Touros e a viagem Portugal-sul da Bahia, naquela poca. Lenine diz ainda o seguinte: "H muitos locais no RN semelhantes aos narrados por Caminha na carta ao rei D. Manuel". Acontece que fica difcil acreditar que os historiadores no tenham percebido antes o erro, afirmando que o lugar atingido por Cabral foi o sul da Bahia. A distncia muito grande. Como explicar tal equvoco? A tese foi lanada. A dvida poder ser dissipada quando Lenine Pinto publicar o seu livro "Reinveno do Descobrimento do Brasil".

Prioridade EuropiaOs Franceses no Rio Grande do NorteQuando os franceses foram expulsos do Sul do Pas seguiram rumo ao Norte, mantendo um ativo comrcio com os nativos. No conseguiram no entanto instalar uma colnia. Chegaram a contar com um intrprete: "Um castelhano tornado potiguar, beio furado, tatuado, pintado de jenipapo e urucu, falando o nheengatu em servio dos franceses com os quais se foi embora", narrou Cmara Cascudo. A base deles era o Rio Grande do Norte. Os franceses passaram a fazer investidas contra a Paraba, com o apoio dos potiguares. O ataque mais audacioso se realizou entre 15 a 18 de agosto de 1597. Portanto treze navios, o embate se deu com a fortaleza de Santa Catarina de Cabedelo, sob o comando do aventureiro Jacques Riffaul, que desembarcou trezentos e cinqenta homens. E mais: "Vinte outras naus reforaram a investida, esperando a ordem no rio Potengi". No foi um simples assalto de corsrios, mas se constituiu uma verdadeira batalha. A fortaleza foi defendida por apenas vinte soldados. A artilharia contava com cinco peas. Os portugueses resistiram ao ataque, forando os franceses a baterem em retirada. Vilma Monteiro analisa a importncia dessa vitria: "Determina os novos rumos da conquista da regio Norte. Permite a posse efetiva da Capitania do Rio Grande, seu povoamento e colonizao, com isso abrindo as portas para a expanso civilizadora sobre novos territrios". Os franceses, diante desse quadro, ameaavam a Paraba; aps a cada desta, a prxima conquista seria Pernambuco ... Foram eles que iniciaram o processo de miscigenao entre europeus e americanos na regio. Dois aventureiros se destacaram: Charles de Voux e Jacques Riffault. Ainda hoje um local guarda no nome a lembrana de Riffault, no bairro do Alecrim em Natal, onde se ergueu a Base Naval (Refoles).

A Era Lusitana e o Marco de PosseA primeira expedio que alcanou terras potiguares foi a de 1501. Essa viagem, iniciada no dia 10 de maio de 1501, se encontra envolvida em controvrsias. A comear sobre quem a teria comandado. Alguns nomes so apresentados: D. Nuno Manoel, Andr Gonalves,

Fernando de Noronha, Gonalo Coelho e Gaspar de Lemos - o nome mais aceito. Quem participou tambm dessa expedio foi Amrico Vespcio. Aps sessenta e sete dias de viagem, foi alcanado o Rio Grande altura do Cabo de So Roque e, segundo Cmara Cascudo, ali foi plantado o marco de posse mais antigo do Pas, registrando-se, na ocasio, contatos entre portugueses e potiguares. O povo, por causa dos desenhos em forma de cruz no Marco de Posse, acreditou ser ele milagroso, surgindo assim, um culto. Oswaldo Cmara de Souza disse o seguinte: "O culto popular chegava s raias do fetichismo, havendo a crena absurda do que um ch preparado com fragmentos da pedra tinha poderes milagrosos, trazendo alvio e cura s mazelas do corpo e do esprito". Nesse perodo, o governo lusitano, verificando que o litoral brasileiro estava sendo visitado por corsrios, entre eles aventureiros franceses, resolveu enviar expedies militares para defender sua colnia. Foram as chamadas expedies guarda-costas, sendo consideradas as mais marcantes aqueles que vieram sob o comando de Cristvo Jacques, entre 1516 a 1519 e 1526 a 1528. Uma iniciativa ingnua, considerando a imensa extenso do litoral. o prprio Cristvo Jacques que sugere o incio do povoamento como soluo para resolver o problema. Eminentes portugueses aprovaram e defenderam a idia. D. Joo III, ento envia uma expedio colonizadora chefiada por Martim Afonso de Souza. A base estava lanada e em 1532 fundava-se So Vicente, no Sudeste do Pas, o que era muito pouco pois o Brasil possua dimenses continentais. Cristvo Jacques, entre outras coisas, sugere que se aplicasse no Brasil um sistema que j vinha sendo feito nas ilhas do Atlntico: o das Capitanias Hereditrias. Uma, na realidade, j havia sido criada em 1504 por D. Manuel, a de Fernando de Noronha. D. Joo III adota oficialmente o sistema no Brasil, criando quatorze capitanias no perodo compreendido entre 1934 e 1936. Entre elas, a de Joo de Barros, no futuro Rio Grande, como lembra Cmara Cascudo, "comeando da Baa da Traio (Acejutibir, onde h cajus azedos, segundo Teodoro Sampaio), limite norte da Donatria Itamarac, pertencente a Pero Lopes de Souza, at a extrema indefinida". A capitania possua cem lguas de extenso. Em 1535, Joo de Barros, Aires da Cunha e Ferno lvares prepararam a maior esquadra particular que havia sado do Tejo at aquele momento:" Com cinco naus e cinco caravelas, novecentos homens e mais de cem cavalos". O comando coube a Aires da Cunha. O governo investiu tambm nessa expedio: "D. Joo III emprestara artilharia, munies e armas retiradas do prprio Arsenal Rgio", informa Cmara Cascudo. Por essa razo, muitos eram de opinio que Aires da Cunha pretendia, alm de fundar colnias no Norte do Brasil, atingir o Peru pelo interior... Formando mais uma controvrsia ... Varnhagen fala de um conflito entre nativos e portugueses altura do rio Cear-Mirim, Cmara Cascudo nega o incidente, afirmando que Varnhagen "arquitetou tal viagem". taxativo: "Aires da Cunha nunca esteve no Rio Grande do Norte". Passando pelo litoral potiguar, o navegante seguiu viagem rumo ao Norte.

A expedio foi um fracasso total com a morte de Aires da Cunha. Os portugueses conseguiram fundar, ao Norte, o povoado de Nazar, onde permaneceram trs anos. Morreram setecentos homens. Os expedicionrios partiram em busca de melhor sorte. Os resultados, porm, foram pssimos. Alguns foram jogados nas Antilhas; outros atingiram Porto Rico. E um grupo formado por So Domingos e Joo de Barros conseguiu reaver seus filhos que, quando regressavam de Nazar, numa tentativa infrutfera, procuravam colonizar o Rio Grande. Foi nessa oportunidade que teria ocorrido o conflito entre potiguares e lusitanos, mencionado por Varnhagen. Mesmo fracassando, essa foi, na opinio de Cmara Cascudo, "a primeira tentativa de colonizao no Rio Grande do Norte".

A Fundao de NatalDisputa Acaba em Unio PeninsularO cardeal D. Henrique assumiu o governo portugus em 1578. O prelado contava sessenta e seis anos e, como no tinha filhos, criava um problema para a sucesso do trono portugus. No dia 31 de janeiro de 1580, o governante morreu. Entre os diversos pretendentes ao trono, trs netos de D. Manuel se apresentavam com maiores possibilidades: D. Antnio, prior do Crato, D. Catarina e Felipe II, rei da Espanha renunciou a favor de Felipe II. A disputa se reduziu entre D. Antnio, que era filho bastardo do infante D. Lus, e o monarca espanhol, que era o mais poderoso pois contava com o apoio de importantes figuras da nobreza e do clero lusitano. Os dois rivais partiram para a disputa armada. D. Antnio enfrentou as tropas fiis a Felipe II, chefiados pelo duque de Alba, sendo posteriormente derrotado. A crise abalou profundamente Portugal e no dia 28 de junho, como narra Jnio Quadros, "iniciou-se a tomada de Portugal pelos duque de Alba, enquanto setenta e duas gals sob o comando do marqus de Santa Cruz, acompanhadas de setenta naus, chalupas e caravelas, encetavam as operaes navais. As cidades, vilas, lugares e povoaes caram uma a uma em poder dos invasores, a despeito, aqui e ali, dos esforos dos partidrios de D. Antnio em cont-los". D. Felipe no agiu somente pela fora das armas, fez praticamente, tudo. Propostas tentadoras aos membros da nobreza, alm do apoio da Companhia de Jesus. Em sntese, ele comprou o apoio recebido de seus adversrios com ouro e tambm atravs de seu poderio militar. Tudo isso porque Felipe II tinha grandes interesses na anexao de Portugal ao reino espanhol: "O grande palco dos efeitos polticos espanhis na era filipina havia sido, at aquela data, o Mediterrneo, seria atravs desta unificao que a Espanha passaria a tomar parte na grande era atlntica inaugurada por Portugal", segundo a "Histria Geral da Civilizao Brasileira", Vol. I. Por outro lado, os portugueses j participavam das atividades comerciais espanholas. Era importante para a Espanha a anexao do reino lusitano, justificando assim todo o empenho do monarca hispnico. No foi difcil ocupar Portugal. Venceu Felipe II e, em

1581, as cortes de Tomar aclamaram-se rei de Portugal. Estava efetivada a "Unio Peninsular", que terminaria apenas no ano de 1640. Para o Brasil, esse perodo foi uma fase altamente positiva. Exemplo: a conquista do Norte e Nordeste do Pas.

O Interesse de Filipe II Pelo Rio GrandeOs franceses se fixaram no litoral potiguar sem necessidade de dominar o nativo e, justamente por essa razo, tiveram a populao local como aliada. Escondiam suas naus no rio Potengi e, de sua base, se lanavam contra os colonos portugueses que se encontravam na Paraba. O Rio Grande era, de fato, uma rea estratgica. Da regio, os franceses podiam se deslocar para o norte e igualmente para o sul. Filipe II, ao anexar Portugal e suas colnias, sentiu a situao de abandono em que estava parte do Nordeste e todo o Norte do Brasil. E o que era pior: a constante ameaa que representava a permanncia dos franceses no Rio Grande. Tendo em vista essa situao, o monarca no perdeu tempo. Atravs de duas Cartas Rgis (9 - 11 - 1596 e 15 - 03 - 1597), determinou a expulso do inimigo e que fosse construda uma fortaleza e ainda, fundada uma cidade. Em sntese: conquistar o Rio Grande, consolidando tal feito atravs da colonizao. Por essa razo, um fato deve ficar bem claro: a expulso dos franceses do Rio Grande foi uma iniciativa de Filipe II, o que significa dizer, hispnica.

A Expedio de Manuel Mascarenhas HomemA conquista do Rio Grande no se apresentava como sendo uma tarefa fcil. E foi por assim compreender que D. Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, determinou que o capito-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, tomasse todas as providncias para que se organizasse uma grande expedio militar com o objetivo de que as ordens de Filipe II fosse executadas. Assim foi feito. Uma poderosa expedio foi organizada. Desta, uma parte iria por mar com uma esquadra formada por sete navios e cinco caraveles, sob o comando de Francisco de Barros; e outra seguiria caminhando por terra, liderada por Feliciano Coelho, capito-mor da Paraba. Manuel Mascarenhas Homem assumiu o comando geral, agindo com o mximo de empenho para que nada faltasse a fim de que os objetivos fossem alcanados: expulsar os franceses, construir uma fortaleza e fundar uma cidade. Participaram da jornada um grupo de religiosos: os jesutas Gaspar de Samperes (autor da planta da futura fortaleza) e Francisco Lemos, e mais dois franciscanos - Bernadino das Neves, que funcionava como intrprete, e Joo de So Miguel. Narra Cmara Cascudo: "Feliciano Coelho partiu por terra com as quatro companhias pernambucanas e uma paraibana capitaneada por Miguel lvares Lobo, num total de 178 homens e 90 indgenas guerreiros de Pernambuco e 730 da Paraba, com seus tuixauas prestigiosos e bravos: Pedra Verde (Itaobi), Mangue, Cardo-Grande etc. a 17 de dezembro de 1597 o exrcito marchou. Mascarenhas viera com as naus".

Acontece que as foras terrestres foram atingidas pela varola, sendo obrigadas a retroceder, com exceo de Jernimo de Albuquerque que se uniu expedio martima. Havia uma justificativa: Jernimo desfrutava de grande prestgio entre os nativos. A viagem pelo mar continuou e, no caminho, sete naus franceses fugiram para evitar um confronto com a esquadra lusitana. No dia 25 de dezembro, a frota luso-espanhola atingia o rio Potengi. No final do ano de 1997 esse fato completa exatos quatrocentos anos. A primeira providncia dos invasores foi fazer um entricheiramento com varas de mangue para que pudessem se defender das investidas dos potiguares. Medida acertada, porque no demorou muito os nativos atacaram com toda violncia. Era a guerra que comeava. Com o passar dos dias, os luso-espanhis comearam a perder terreno no conflito armado. A situao se agravou a tal ponto que ficou crtica, como narrou Vicente Salvador: "Depois de continuar os assaltos que puseram os nossos em tanto aperto que esacassamente podiam ir buscar gua para beber a uns poozinhos que tinham perto da cerca". O quadro era muito triste: mortos, feridos e doentes. O clima ficava, a cada momento, mais insustentvel. Foi quando, providencialmente, chegou Francisco Dias com reforo, evitando uma humilhante derrota. Servindo para que os luso-espanhis pudessem manter a posio onde se encontravam. No fosse a chegada de Feliciano Coelho, que partiu da Paraba com mais soldados, armas e munices, tudo estaria perdido. A situao, ainda assim, continuava delicada. Era preciso negociar a paz com urgncia.

A Imponente Fortaleza dos Reis MagosA fortaleza de madeira no foi construda, como pensava Cmara Cascudo, em um "arrecife a setecentos e cinqenta metros da barra do Potengi". A razo muito simples: naquele local, a construo no suportaria o impacto das guas. O edifcio, esclarece Hlio Galvo, foi erguido na praia. A planta da fortaleza, apesar de ser contestada por alguns autores, foi feita pelo padre Gaspar de Samperes. Segundo a arquiteta Jeanne Fonseca Leite, "a concepo 'antropomorfa' dos italianos encontrou acolhida por parte do padre Samperes que a introduziu no seu projeto destinado construo da Fortaleza dos Reis Magos". Fortaleza e no forte, Hlio Galvo esclarece a dvida: "Forte uma pequena edificao sem guarda permanente. Fortaleza, ao contrrio, um grande edifcio com um contingente de soldados permanente. A fortaleza, localizada na barra do Potengi, se destaca pela sua beleza e pela sua imponncia. No poderia ser de maneira alguma um forte'. Para Hlio Galvo, que pesquisou exaustivamente sobre a Fortaleza, o nome correto seria Fortaleza da Barra do Rio Grande. O problema no to simples. Naquela poca se usava de maneira indiferente mais de um nome para indicar um prdio pblico. Aquele edifcio pode ser chamado tambm de Fortaleza dos Reis Magos, o que no pode, certamente design-lo por "Forte dos Reis Magos", que por sinal a verso popular usada de maneira errada pelos cronistas tradicionais.

Os trabalhos de construo da fortaleza comearam no dia 6 de janeiro de 1598. Hlio Galvo explica o seguinte: "O trabalho se desenvolvia entre dificuldades e imprevistos, a ameaa constante de ndios e franceses, a ateno dos homens voltada para a vigilncia do acampamento. Diramos que Mascarenhas Homem lanou a pedra fundamental e a partir da ningum parou. O material foi chegando, as pedras que vinham de Lisboa lastrando os navios eram guardadas, acumulava-se cal e os implementos imprescindveis eram providenciados". A primeira fortaleza, a de madeira, foi concluda no dia 24 de junho de 1598. E tinha, como descreveu Cmara Cascudo, "a forma clssica do forte martimo, afetando o modelo do polgono estrelado". Em 1614, o engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita, realizou trabalhos na fortaleza, fazendo pequenas modificaes sem alterar a planta original. A obra foi concluda somente em 1628.

Paz Firmada e Posse Definitiva da TerraA capitania se chamava, no incio, do Rio Grande, passando a incluir "do Norte" quando surgiu outra de igual nome, no Sul do Pas. No houve, no Rio Grande, uma conquista. A expedio de Manuel Mascarenhas Homem estava praticamente derrotada. Os missionrios saram da fortaleza para se transformarem em embaixadores da paz. Um passo significativo nesse sentido foi dado quando os nativos conseguiram distinguir os militares e colonos dos sacerdotes. O padre Francisco Pinto foi, na realidade, o grande e incansvel apstolo. Percorreu o serto, enfrentou mltiplas vicissitudes. Nos momentos mais difceis conseguia reunir novas foras graas sua f, operando verdadeiros milagres na obra de persuaso. Primeiro, a catequese e, atravs dela, o padre Francisco Pinto e seus companheiros missionrios procuravam levar os silvcolas para o lado dos portugueses. O padre Pero Rodrigues, numa carta, transcrita por Hlio Galvo, registra o trabalho rduo e difcil dos religiosos. Os padres ajudavam ao exrcito com os acostumados exerccios da Companhia, que eram "a edificao de todos, pregando, confessando, fazendo amizades e no se negando a nenhum trabalho, de dia e de noite, como no acudir aos ndios nossos amigos, que nos ajudavam na guerra, por adoecerem gravemente de bexigas e, quando era possvel, acudiam a curar e consolar na morte". No processo de pacificao, os missionrios no agiram sozinhos. Contaram com o apoio de alguns chefes nativos: Mar Grande e Pau Seco, entre outros. Os lderes potiguares foram negociar a paz com os brancos porque as suas mulheres exigiram o fim das hostilidades. Contriburam tambm com o processo de cristrianizao de seus irmos ao lado dos missionrios. No se pode esquecer, igualmente, o desempenho de Jernimo de Albuquerque que foi de suma importncia. Filho de Jernimo Santo Arco Verde (Ubir - Ubi) que, por sua vez, era filha do chefe nativo Arco Verde. Mestio, possua sangue tupi em sua veia; corajoso e hbil,

falando o idioma nativo, desfrutava de grande influncia entre os habitantes de todo o Nordeste. A paz era o anseio das duas faces em luta e as negociaes obtiveram xito. Terminadas as hostilidades, Manuel Mascarenhas Homem partiu para a Bahia, com o objetivo de relatar os acontecimentos ao governador, D. Francisco de Souza que, sem demora, determinou que fossem solenemente celebradas as pazes. Isso aconteceu no dia 11 de junho de 1599, na Paraba, na presena de muitas autoridades - Mascarenhas Homem; Feliciano Coelho de Carvalho, ouvidor-mor geral, e Brs de Almeida; de diversos chefes nativos; do intrprete frei Bernadino das Neves e do apstolo dos potiguares, padre Francisco Pinto. As pazes foram finalmente ratificadas e estava assim assegurada a posse definitiva da terra, ou mais precisamente da Capitania do Rio Grande. Um presente dado por Felipe II ao imprio lusitano ...

Dvidas Histricas: A Cidade do NatalExpulso o francs, construda uma fortaleza, faltava apenas fundar uma cidade. E esse era, dos trs objetivos, provavelmente o mais fcil de ser executado. Acontece que, graas destruio de documentos pelos holandeses, a histria da fundao da capital potiguar se perdeu, talvez, para sempre. A luta dos historiadores norte-rio-grandenses para reconstruir tal acontecimento tem gerado uma grande controvrsia atravs dos tempos. As pesquisas comearam a dar bons frutos e a questo comea agora a ficar mais clara, com alguns problemas solucionados. Ainda hoje se discute quem teria sido o fundador da Cidade do Natal. Os primeiros cronistas indicavam o nome de Jernimo de Albuquerque, alegando que, por sua participao no processo de pacificao, com sua garra e valentia, teria sido o primeiro capito-mor do Rio Grande e logo depois fundado Natal. A informao se baseava muito mais na intuio do que em qualquer base documental. , portanto, compreensvel que os primeiros historiadores se confundissem. Frei Vicente Salvador, por exemplo, narra o seguinte: "Feitas as pazes com os potiguares, como fica dito se comeou logo a fazer uma povoao no Rio Grande a uma lgua do forte, a que chamam a Cidade dos Reis, a qual governa tambm o capito do forte que El Rei costuma mandar cada trs anos". Outro historiador, Francisco Adolfo Varnhagen, avana mais nas explicaes se valendo de detalhes: "Feitas as pazes com os ndios, passou Jernimo de Albuquerque a fundar no prprio Rio Grande uma povoao. E como era para isso imprpria a poro do arrecife ilhada (em preamar) onde estava o forte, segundo ainda hoje se pode ver, escolheu para isso o primeiro cho elevado e firme, que se apresenta s margens direitas do rio, obra de meia lgua acima de sua perigosa barra (...). A dita povoao, depois vila e cidade, de cujo nome no conseguiu fazer - se digna por seu correspondente crescimento, se chamou de Natal em virtude, sem dvida, de se haver inaugurado o seu pelourinho ou a igreja matriz a 25 de dezembro desse ano da fundao (1599)". Vicente de Salvador confundiu a "povoao dos Reis" com a futura capital do Rio Grande do Norte. Na realidade, durante a construo da fortaleza, Manuel Mascarenhas

Homem mandou erguer algumas casas para abrigar os oficiais que participaram da tentativa de conquista. Com isso, surgiu uma povoao que se chamou de Santos Reis. Natal seria fundada, posteriormente, e no tinha nenhuma relao com a povoao que nasceu prxima daquele edifcio militar... Varnhagen vai mais alm, descreve a evoluo daquele ncleo urbano: "A dita povoao, depois vila e cidade". Essa afirmao, porm, no sustentvel. Natal como disse Cmara Cascudo, "nasceu cidade". No h, desse modo, nenhuma relao com a primitiva povoao que floresceu nas proximidades da fortaleza. A razo clara: Felipe III mandou que se fundasse uma cidade e no uma povoao... Natal surgiu no local onde floresceu a povoao. Natal nasceu cidade, porm, sem casas e sem ruas, aumentando a controvrsia. A Capitania do Rio Grande possua dois ncleos: uma povoao em decadncia e uma cidade que, na prtica, no existia... Mas aos poucos, com o passar do tempo, comeava a surgir. Essa situao provocou muita confuso entre os autores, como demonstram as diversas denominaes que Natal recebeu: "Natal los Reys", "Cidade dos Reis", "Cidade do Natal do Rio Grande" e at o nome muito estranho de "Cidade de Santiago"...

Afinal, quem fundou Natal?A primeira verso que contou no incio com a quase unanimidade dos historiadores, inclusive dos pesquisadores da terra, era a que apontava Jernimo de Albuquerque como fundador da Cidade do Natal. Essa teoria, que tem entre seus defensores ilustres nomes, como Vicente Lemos, Tavares de Lyra e Tarcsio Medeiros, em sntese seria a seguinte: Mascarenhas Homem nomeou Jernimo de Albuquerque comandante da fortaleza e depois seguiu para a Bahia com a finalidade de prestar contas da misso que desempenhara, por determinao do governador-geral do Brasil. Veio a seguir a pacificao dos nativos e, em seguida, a fundao da cidade. Como Jernimo se destacou no processo e era o capito-mor da Capitania do Rio Grande, logo fora ele o fundador de Natal. Tavares de Lyra chega at a afirmar que " de presumir". Portanto, no se tratava de fato e, sim, de uma possibilidade. Com o avano das pesquisas, ficou provado que Mascarenhas Homem no designou Jernimo de Albuquerque para exercer a funo de capito-mor do Rio Grande e, o que mais importante, Jernimo no se encontrava presente na data da fundao da cidade e portanto no pode ser considerado como sendo seu fundador ... Lus Fernandes (1932) defendeu ter sido Manuel Mascarenhas Homem o fundador da Cidade do Natal. Alegava que, construindo o primeiro edifcio (a fortaleza) e ainda as casas que deram origem povoao que se formou prxima fortaleza, seria o verdadeiro padrinho da cidade. Argumentao falha, considerando que o novo centro urbano no possua nenhuma relao com tudo o que existia anterior data da sua fundao. Jos Moreira Brando Castelo Branco publicou em 1950, na revista Bando, o texto "Quem fundou Natal", onde defendia a tese de ser Joo Rodrigues Colao o provvel fundador da capital potiguar. Posteriormente, esse estudo foi publicado na revista do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do Norte, em 1960, provocando uma polmica. Cmara Cascudo chegou inclusive a apoiar a teoria defendida por Castelo Branco (1955). Pouco tempo depois

mudou de opinio, acreditando que o fundador da cidade teria sido outro: "Para mim, o padrinho da Cidade do Natal foi Mamuel de Mascarenhas Homem, capito-mor de Pernambuco, comandante da expedio colonizadora:. E argumenta: "Continuava to interessado no cumprimento das reais determinaes que fora Paraba, em juno desse 1599, assistiu solenidade do contrato das pazes com os potiguares, ato possibilitador da criao da Cidade seis meses depois. Acontece que, nessa poca, Mascarenhas Homem estava em Natal onde concedeu, a 9 de janeiro de 1600, data nesta fortaleza dos REIS MAGOS (...), a primeira sesmaria, margem esquerda do rio, numa gua a que chamam da Papuna, justamente ao capito Joo Rodrigues Colao, seu subalterno. No abandonaria funes de governaa se no tivesse deveres de suma importncia, como satisfazer a ltima parte das instrues do rei, participando da fundao da cidade. No outra explicao para a sua presena em Natal. Tinha sido encarregado da misso e deveria cumpri-la at o final". Essa teoria se fundamenta nos seguintes pontos: 1 - A presena de Manuel Mascarenha em dois eventos: a) Solenidade da ratificao da paz com os nativos. b) Data da fundao da cidade. 2 - E, ainda, os seguintes argumentos: a) Doou a primeira sesmaria no Rio Grande do Norte a Joo Rodrigues Colao, ato administrativo que provaria que estava frente do governo da capitania. b) Mascarenhas Homem tinha como misso expulsar os franceses, construir uma fortaleza e fundar uma cidade. Deveria executar objetivos e, assim, teria para cumprir a ltima misso: a fundao de Natal. Manuel Mascarenhas Homem prestigiou os eventos citados como representante do governador-geral do Brasil e foi representando D. Francisco de Souza que doou a sesmaria a colao. bom lembrar que, como comandante de uma expedio militar, ele no poderia doar sesmaria ... Mascarenhas Homem construiu a fortaleza de madeira, lanando os fundamentos da fortaleza definitiva. Expulsou os franceses, mas no fundou a cidade do Natal porque em dezembro de 1599 j existia um governante, o capito-mor Joo Rodrigues Colao, habilitado legalmente para fundar a cidade e iniciar o processo de colonizao... No se pode esquecer, tambm, que no documento da doao de capito da fortaleza, D. Manuel Mascarenhas Homem disse claramente que "por mandato do dito Senhor vim conquistar este Rio Grande e fazer nele a fortaleza dos Reis Magos". No afirma que veio fundar uma cidade e, no entanto, Natal j estava fundada! Chega-se a uma concluso: Manuel Mascarenhas no fundou a Cidade do Natal. Falta examinar apenas a teoria que defender ter sido Joo Rodrigues Colao o verdadeiro fundador. Vicente Lemos foi o primeiro historiador a afirmar que Joo Rodrigues Colao teria sido o homem que exerceu, pela primeira vez, a funo de capito-mor do Rio Grande, numa nota publicada na revista do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do Norte, Vol. 6, pgina 138: A conquista iniciada em princpios de 1598, e na qual tanto distinguiu-se Jernimo de

Albuquerque, remete no ano seguinte, e, ciente D. Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, de bom xito da empresa, nomeou capito-mor do forte a Joo Rodrigues Colao, o primeiro que realmente governou a capitania". Depois, entretanto, Vicente de Lemos muda de opinio. No seu livro "Capites Mores e Governadores do Rio Grande do Norte", declarou que Jernimo de Albuquerque foi o fundador da Cidade do Natal.

Domnio HolandsDe Joo R. Colao Invaso HolandesaEsta uma fase das mais obscuras da Histria do Rio Grande do Norte, por uma razo muito simples: "nos arquivos do Estado no se encontrava nenhum documento anterior conquista holandesa. Nesse perodo, que se estende 1633 a 1654, foram todos destrudos", como narra Tavares de Lyra. Fica difcil inclusive de se estabelecer a data da posse de alguns governantes. Atualmente foi desfeita a dvida sobre quem teria sido o primeiro capito-mor do Rio Grande do Norte: Joo Rodrigues Colao, fundador da Cidade do Natal. A primeira casa que serviu de sede da administrao da capitania foi a Fortaleza da Barra do Rio Grande ou, como mais conhecida, Fortaleza dos Reis Magos. Falando sobre esse fato, disse Lus da Cmara Cascudo: "era a residncia do capito-mor, sendo administrativa, comando militar, quartel e refgio dos raros moradores. Os soldados moravam dentro do forte e qualquer comoo geral levava os colonos, s carreiras, para as muralhas imponentes que garantiam o avano no setentrio do Brasil". Foi nessa fortaleza que moraram e governaram a Capitania do Rio Grande, os capites-mores, at a invaso holandesa. Alguns historiadores elaboram listas, procurando estabelecer, por ordem cronolgica, os sucessores de Joo Rodrigues Colao. Vicente Lemos escreveu um clssico sobre o assunto: "Capites-Mores e Governadores do Rio Grande do Norte". Acontece, entretanto, que permaneceram algumas dvidas. Varnhagen, Tavares de Lyra, Vicente Lemos e Cmara Cascudo classificam como sendo os primeiros governantes da Capitania do Rio Grande: Manuel Mascarenhas Homem (comandante da expedio que tentaria a conquista), Jernimo de Albuquerque, Joo Rodrigues Colao e novamente Jernimo de Albuquerque. Equvoco que, felizmente, j foi devidamente esclarecido: o primeiro capito-mor do Rio Grande do Norte foi Colao. Manuel Mascarenhas Homem no governou o Rio Grande, apenas foi o capito da conquista que, por sinal, no houve, porque a posse foi efetivada atravs de um processo de pacificao... A lista dos governantes do Rio Grande do Norte comea, portanto, com Joo Rodrigues Colao, sendo que Jernimo de Albuquerque governou apenas uma s vez!

Os sucessores desses dois foram os seguintes: Loureno Peixoto Cirne, Francisco Caldeira de Castelo Branco, Estevo Soares de Albergaria, Ambrsio Machado de Carvalho. Como sucessor desse ltimo, era apontado, por alguns, Bernardo da Mota. Hoje, o equvoco foi corrigido: o sucessor de Ambrsio Machado de Carvalho foi, na realidade, Andr Pereira Temudo, que foi nomeado a 18 de maro de 1621. Tavares de Lyra pergunta: "Quem substituiu Francisco Gomes de Melo?", para depois, com base no que escreveu Domingos da Veira, ele mesmo responder: "a ordem de sucesso foi esta: Francisco Gomes de Melo, Bernardo da Mota, Porto Carreiro". Cmara Cascudo, escrevendo em 1961, confirma Tavares de Lyra. Depois de Francisco Gomes de Melo, os sucessores foram: Bernardo da Mota e Cipriano Porto Carreiro. Quando os holandeses atacaram o Rio Grande, Pero Mendes de Gouveia governa a capitania.

A Preparao Para Conquistar o RNA Fortaleza da Barra do Rio Grande, pela sua beleza, impunha respeito. Os holandeses sabiam da importncia de cunho estratgico daquele edifcio militar. Possuam, ao mesmo tempo, um certo temor. Comear, ento, a recolher o maior nmero de informaes para elaborar um plano eficaz para captur-la. A 19 de julho de 1625, o capito Uzel Johannes de Laet fez um reconhecimento, encontrando no Rio Grande um engenho e muito gado. Em 1630, Adriano Verbo vinha com a "misso especial de ver, ouvir e cantar", como resumiu Cmara Cascudo. Mesmo com essas informaes, os flamengos no se arriscaram a armar uma esquadra e tentar se apossar da fortaleza. No outro ano, o nativo Marcial, fugitivo dos portugueses, se apresentou ao Conselho Poltico do Brasil Holands. Objetivo: realizar uma aliana com os batavos. Fornecendo, naturalmente, preciosos dados aos flamengos. O Conselho Poltico, contudo, foi prudente... Enviou Elbert Simient e Joost Closte ao Rio Grande, em 1631, para adquirir maior conhecimento da regio. Foi nessa expedio que os batavos conseguiram, por sua sorte, importante dados que se encontravam em poder dos portugueses e que facilitaram, posteriormente, a conquista do Cear. Os documentos se encontravam com um portugus chamado Joo Pereira, que foi morto.

O Fracasso do Primeiro AssaltoAps tantos estudos, os holandeses decidiram, finalmente, realizar a conquista do Rio Grande. Narra Cmara Cascudo: "A 21 de dezembro de 1631 partiram do Recife quatorze navios, com dez companhias de soldados veteranos. Dois conselheiros da Companhia assumiram a direo suprema, Servaes Carpenter e Van Der Haghen. As tropas eram comandadas pelo Tenente-Coronel Hartman Godefrid Van Steyn-Gallefels. Combinaram desembarcar em Ponta Negra, trs lguas ao sul de Natal, marchando sobre a cidade".

O capito-mor Cipriano Pita Carneiro reagiu, ordenando que seus liderados abrissem fogo contra os invasores. Os holandeses, contudo, desistiram de realizar a conquista. Depois, passaram por Genipabu, agindo como verdadeiros salteadores, legando duzentas cabeas de gado... Fracassou, assim, a primeira tentativa dos flamengos para dominar o Rio Grande.

A Rendio e a Tomada da FortalezaAo que parece, os holandeses temiam encontrar uma fonte resistncia por parte dos defensores da fortaleza. Precisavam conquistar o Rio Grande, sobretudo porque a captura desta capitania significava a soluo para o abastecimento de carne bovina para os batavos. Richshoffer, quando esteve em Genipabu, no escondeu o seu entusiasmo: "consumimos mais carne fresca do que no decurso de todo o ano anterior"... Em 1632, no se realizou nenhum ataque. Por que a tomada da fortaleza foi to fcil? A Fortaleza da Barra do Rio Grande estava apenas com um efetivo de oitenta homens, sendo seu capito-mor Pero Mendes de Gouveia, que lutou como um bravo, mas cometeu um erro que lhe seria fatal: abandonou as dunas prximas da fortaleza. Essas dunas deveriam ser defendidas. Caso contrrio, se os inimigos colocassem ali sua artilharia, transformariam aquele edifcio num alvo fcil de ser atingido. Foi exatamente o que aconteceu. O capito-mor Pero Mendes Gouveia agiu como se acreditasse que as muralhas da fortaleza fossem inexpugnveis... Erro ttico, que o levou para uma derrota inglria... Os holandeses, ao contrrio dos lusitanos, agiram como verdadeiros profissionais da guerra, segundo interpretao de Hlio Galvo: "A operao foi pr-traada, dentro do quadro militar rgido: uma operao combinada". No dia 5 de dezembro de 1633, partiu do Recife a esquadra sob o comando do almirante Jean Cornelis Sem Lichtard. Comandava as tropas o tenente-coronel Baltazar Bijma. Afirma Cmara Cascudo: "Todo o dia 9 de artilharia. Os holandeses montam as peas de 12 libras e os morteiros lana-granadas erguem trincheiras com cestes e sobem os canhes para os morros, a cavaleiro do forte. De l atiram, quase de pontaria, desmontando as peas portuguesas. Assim 10, com trocas de descargas, gritos, toque de cornetas e granadas. Dia 11 foi a mesma tarefa". Tenente-coronel Bijma intimou o capito-mor Pero Mendes Gouveia para que se rendesse, atravs de uma carta. Resposta de Gouveia: "V. Excia. deve saber que este forte foi confinado minha guarda por S.M. Catlica e s a ela ou algum de sua ordem o posso entregar". Atitude herica, porm intil. A artilharia flamega, montada nas dunas prximas da fortaleza falava mais alto... Segunda-feira, dia 12 hasteada a bandeira branca pelos sitiados. O capito-mor Gouveia estava gravemente ferido. Por essa razo, no participou das negociaes para a entrega da fortaleza ao inimigo. Enfermo, no possua mais o comando. Fala-se, inclusive, em traio... Na realidade, as negociaes da rendio foram realizadas por pessoas estranhas,

como registra Hlio Galvo: 'Sargento Pinheiro Coelho, foragido de uma priso na Bahia; Simo Pita Ortigueira, preso na fortaleza, condenado morte; Domingos Fernandes Calabar, que viera na expedio". Caa a Fortaleza da Barra do Rio Grande. Comeava, a partir daquela data, o domnio holands no Rio Grande do Norte.

A Destruio na Capela de CunhaSegundo Cmara Cascudo, "o engenho Cunha foi construdo na sesmaria dada por Jernimo de Albuquerque em 2 de maio de 1604 aos seus filhos Antnio e Matias. Constava de 500 quadradas na vrzea de Cunha e mais duas lguas em Canguaretama". No incio do sculo, o engenho exportava acar para Recife. Possua um fortim, sob o comando do capito lvaro Fragoso de Albuquerque. Foi construdo por marinheiros de Dunquerque. Esse fortim foi atacado, vencido e destrudo pelo coronel Artichofski, em outubro de 1634. A Companhia confiscou o engenho de Antnio Albuquerque Maranho. Depois, o engenho passou por vrias mos. No dia 15 de julho de 1645, sbado, Jacob Rabbi apareceu em companhia dos jandus, liderados por Jererera, no engenho de Cunha. A simples presena dos tapuias e de potiguares causou pnico na populao. Jacob Rabbi trazia instrues de Paul Linge. Publicou um documento, convidando a populao para, no domingo, comparecer capela para participar de uma reunio, quando seriam transmitidas determinaes do Conselho Supremo. A capelinha tinha como padroeira Nossa Senhora das Candeias. A maioria do povo atendeu ao convite, lotando o templo. Tiveram, entretanto, que deixar suas armas do lado de fora. O padre Andr de Soveral, paulista de So Vicente, missionrio e tupinlogo, comeou a celebrar a missa, considerando que a reunio seria realizada aps o ato religioso. Possua entre 70 e 90 anos. Era muito querido pelos seus paroquianos. Os nativos se aproximaram da capela. Fecharam as portas. Os fiis compreenderam o que iria acontecer. Tarde demais. Quando o padre Andr Soveral elevou a hstia, era o sinal combinado, comeou o massacre. As vtimas mal tiveram tempo de pedir perdo de seus pecados. Gritos, splicas, gemidos. Alguns tapuias procuraram atingir o sacerdote, Andr Soveral, ento, disse: - "Aquele que tocar no padre ou nas imagens do altar ter os braos e as pernas paralisados!" Os tapuias recuaram, porm Jererera acertou um golpe violento no sacerdote, que caiu. Ainda conseguiu se erguer, mas por pouco tempo, tombando sem vida. Morreram, ao todo sessenta e nove pessoas.

A notcia se espalhou, provocando revolta. Iniciando, pouco depois, a fase das represlias. Em outubro de 1645, apareceu o capito Joo Barbosa Pinto, matando holands, com fria selvagem. Em janeiro de 1646, Felipe Camaro e o capito Paulo da Cunha s no fizeram o mesmo porque no encontraram inimigo para matar. Aps a expulso dos holandeses, em 1645, a capela foi reconstruda pela famlia Albuquerque Maranho, conforme registrou Fernando Tvora.

Ataque a um Arraial FortificadoAps o massacre de Cunha, os colonos, receosos de um novo ato de violncia, procuraram se refugiar na casa-forte de Joo Losto Navarro, casado com Luzia da Mota, cuja filha Beatria Losto se casou com Joris Gardtzman (governante holands no Rio Grande). Segundo Olavo Medeiros Filho, o Grande Conselho Holands mandou prender Joo Losto Navarro, apontado como lder do movimento rebelde contra a dominao flamenga. Numa regio prxima de Natal foi construdo um arraial fortificado, que abrigava famlias, inclusive com seus escravos. Os holandeses, temendo que aquele ncleo de luso-brasileiros se transformasse num forte centro de resistncia e, ainda , obedecendo ordens vindas de Recife, resolveram destruir aquele arraial. Jacob Rabbi e seus aliados foram enviados para realizar tal misso. Era setembro de 1645. Da mesma maneira como agiu em Cunha, Jacob Rabbi solicitou a entrega das armas e exigiu a rendio. Os luso-brasileiros no aceitaram tais ordens. As armas eram para a defesa contra os nativos. Rabbi insistiu na rendio. Criado o impasse, comeo o ataque. Foram trs investidas sem xito. O judeu-alemo, no firme propsito de acabar com aquela resistncia, foi ao Castelo Ceulen (ou Keulen, como os holandeses passaram a chamar a Fortaleza dos Reis Magos) e retornou com um tenente e dois canhes. Os sitiados, para evitar um novo massacre, resolveram se entregar, depondo as armas. Seguiram para a Fortaleza, como refns, as seguintes pessoas: Estevo Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, Joo da Silveira e Simo Correia. Era 1 de outubro de 1645.

Torturas Lendrias de UruauNenhum massacre tinha ocorrido aps o de Cunha e no havia, igualmente, sinais de algum levante prximo ao Rio Grande. Acontece que, no dia 2 de outubro de 1645, chegou de Recife o conselheiro Bullestraten. E se reuniu, secretamente, com Gatdtzman. Tudo indica que trazia ordens para executar os portugueses. Pelo menos, os acontecimentos futuros levaram a pensar em tal hiptese. No dia seguinte, 3 de outubro de 1645, os colonos que se encontravam no Castelo Ceulen foram levados para Uruau: Antnio Vilela, Cid, seu filho, Antnio Vilela Jnior, Joo Lostau Navarro, Francisco de Bastos, Jos do Porto, Diogo Pereira, Estevo Machado de

Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, Joo da Silveira, Simo Correia e o padre Ambrsio Francisco Ferro, que exercia as funes de vigrio de Natal. Ao chegar em Uruau, a tropa formou um quadrado e, no interior desse quadrado, ficaram o sacerdote mais os colonos. Foi dada a seguinte ordem: que eles se despissem e se ajoelhassem. Os portugueses compreenderam, ento, o que iria acontecer. O padre Ambrsio Ferro, com tranqilidade, deu a absolvio. O pastor Astetten fez uma exortao para que os prisioneiros abjurassem a f catlica. Obteve, entretanto, uma resposta negativa de todos, numa atitude firme e corajosa dos portugueses. Os colonos se despediram uns dos outros, praticando atos de devoo. Isso irritou profundamente o pastor e seus companheiros. Comearam a torturar as vtimas com tanto dio, que somente o fanatismo religioso poderia explicar tal insanidade. No ficam satisfeitos. Jacob Rabbi chamou os nativos para que eles completassem o massacre. Fizeram corpos em pedaos. Arrancaram olhos, lnguas, etc. Esse foi apenas o primeiro ato. O segundo no demoraria muito tempo. Os holandeses se dirigiram at o arraial, afirmando que chegaram ordens do Supremo Conselho, determinado que eles deveria assinar alguns documentos. Os homens se despediram de seus familiares, chorando, porque sabiam que iriam caminhar para a morte. Durante o caminho, rezavam. Os pressentimentos se realizaram. Os cronistas fizeram relatos minuciosos. Narram, entre outros detalhes, o seguinte: "Antnio Baracho foi amarrado a uma rvore e arrancam-lhe, quando ainda estava vivo, a lngua. Abriram o corpo de Matias Moreira e tiraram o seu corao. Antes de morrer, ele disse: "Louvado seja o Santssimo Sacramento". Espatifaram, com o pau, a cabea de uma criana, filha de Antnio Vilela. A filha de Francisco Dias teve o seu corpo partido em duas partes. A mulher de Manuel Rodrigues Moura, depois que o marido morreu, teve cortado os ps e as mos. A vtima sobreviveu, ainda, trs dias ao lado do marido morto. Os nativos procuraram salvar oito rapazes. Os holandeses ofereceram uma oportunidade para que os jovens conseguissem a liberdade: eles teriam que passar para o lado dos holandeses. Joo Martins deu a seguinte resposta: "no me desamparar Deus dessa maneira, a minha Ptria e o meu rei. Matai-me logo, pois tenho inveja da morte e da glria dos meus companheiros". Uma moa, muito bonita, foi vendida aos nativos, ou melhor, trocada por um co de raa. Dois jovens, Manuel lvares e Antnio Bernardes, com vrias feridas, puxaram suas armas brancas, investindo contra os tapuias, matando alguns inimigos antes de morrer. Uma menina, de nome Adriana, ao saber que seus pais seriam mortos, se recolheu a uma casa, chorando, em seguida. Foi quando a Virgem Santssima apareceu, procurando consolar aquela criana. E prometeu que seus pais seriam vingados".

Pouco tempo depois, Camaro foi at o Rio Grande, punindo, com energia, os batavos. "D. Beatriz, esposa de Joris Gardtzman, comandante do Castelo Ceulen, por piedade crista, levou as vivas dos portugueses que tinham falecido em Uruau, para Natal. Durante a noite, Gardtzman e sua mulher, juntamente com outros holandeses, ouviram uma msica, belssima vindo do local onde ocorreu o morticnio". No se discute, at hoje, a veracidade dessas informaes. Diferem apenas em alguns detalhes. No essencial, ou seja, que os holandeses promoveram dois grandes massacres, liderados por Jacob Rabbi, com a participao dos jandus, constituem um fato indiscutvel. Com relao aos dois ltimos itens que, de uma maneira geral, existem dvidas, colocando, ambos no plano das lendas, fruto do esprito religioso e da ingenuidade do povo daquela poca. Na atualidade, contudo, preciso ir alm dos simples relatos para fazer uma anlise de toda a problemtica.

Uma Pequena Anlise Sobre as Aes CruisOs massacres que os flamengos promoveram no Rio Grande do Norte no constituem um caso isolado da colonizao europia (ingleses, franceses, espanhis, portugueses e holandeses), nas terras americanas. Herbert Aptheker, resumiu numa palavra de ao inglesa, com relao aos nativos: GENOCDIO! Frei Bartolomeu de Las Casas, como lembra Eduardo Bueno, chamou os espanhis de "sujos ladres", "tiranos cruis" e "sangrentos destruidores". Georgi Friederici, em texto citado anteriormente no fascculo I desta coleo, descreve com realismo como foi feita a conquista de Ceuta pelos portugueses. Os conquistadores no respeitavam nada, interessados apenas em conseguir ouro e, na falta desse metal, qualquer mercadoria que desse lucro... Tudo dentro da filosofia mercantilista. Os europeus se julgavam detentores da "civilizao" nas terras incultas da Amrica, agiram como se fossem verdadeiros brbaros... No caso especfico do Rio Grande, porm, ocorreram determinadas circunstncias, que merecerem algumas observaes. Em primeiro lugar, os flamengos resolveram eliminar duas coisas ao mesmo tempo: os portugueses e a religio catlica. O morticnio de Cunha, por exemplo, foi realizado dentro de uma capela, durante uma missa, justamente na hora em que o celebrante erguia a hstia, numa demonstrao clara de desmoralizao da religio das vtimas. Em Uruau no havia um templo catlico. Existe, entretanto, a presena de um pastor que pretendia os catlicos para a sua doutrina. A recusa firme dos colonos em mudar de crena, provocou nos holandeses um dio insano, inclusive do pastor que, de maneira incompreensvel, participou do processo de tortura. Fizeram coisas terrveis com o vigrio Ambrsio Francisco Ferro, quando ele ainda estava vivo. Somente um dio muito grande justificaria tal atitude. Provocado pelo fanatismo religioso.

Outro aspecto, que no possvel esquecer: os holandeses s iniciavam o massacre quando estavam certos de que as vtimas no tinham a menor chance de reagir. Apareciam com promessas de paz para, desarmadas as vtimas, praticarem a violncia. No foi igualmente uma luta de um povo dominado contra seu opressor. No a iniciativa partiu do dominador para eliminar o povo subjugado. Os jandus receberam ordem para matar. Agiram como soldados. Dentro de um contexto onde a violncia fazia parte do existir. Os batavos, sem dvida, contrariaram os seus princpios, ou seja, "no matar", que dizer, massacrar! E at a maneira de viver de pessoas CIVILIZADAS ... A Igreja Catlica do Rio Grande do Norte iniciou, recentemente, um processo para a canonizar os mrtires de Cunha e Uruau. A questo deve ser colocada da seguinte maneira: as vtimas foram sacrificadas porque no renunciaram sua f ou, na realidade, porque defenderam a causa lusitana? Eliminar o portugus teria sido um problema poltico. Acontece que matar mulheres e crianas inocentes, sem nenhum envolvimento poltico, no justificvel, a no ser pelo dio do grupo dominador ao catolicismo. Estava tudo preparado. Os tapuias s entrariam em cena caso os colonos no aceitassem passar para o lado flamengo e renegassem a f dos dominadores. Foi, ao mesmo tempo, uma demonstrao de patriotismo e, sobretudo, de f. Quando tomaram conscincia de que seriam mortos, pronunciaram frases como, por exemplo, "LOUVADO SEJA O SANTSSIMO SACRAMENTO". No se pode, tambm, colocar Jacob Rabbi como o nico responsvel. Aps o morticnio de Cunha, ele deveria ter sido afastado de suas funes. No foi, entretanto, demitido, por uma razo muito simples: os holandeses precisavam de Rabbi e da presena dos jandus para, pelo terror, assegurar o domnio do Rio Grande. Os holandeses optaram, portanto, pela violncia. Antes dos massacres, vieram ordens de Recife. A concluso clara: o governo holands, localizado no Recife, o responsvel pelos massacres na Capitania do Rio Grande!

O Fim de Jacob Rabbi e do MorticnioExiste uma unanimidade entre os historiadores sobre o carter violento e desnecessrio dos massacres promovidos pelos batavos, e seus aliados jandus, na Capitania do Rio Grande. A execuo dessas matanas foram comandadas, como j foi demonstrado, pelo judeu-alemo Jacob Rabbi, que veio para o Brasil com o conde Joo Maurcio de Nassau, em 1637, originrio de Waldeck. Para Cmara Cascudo, ele era violento e astuto, cruel e sem escrpulo, saqueador e mandante de assassinatos, a figura mais sinistra e repelente do domnio holands no Nordeste brasileiro, denegrida e acusada por todos os historiadores do seu tempo". Olavo de Medeiros Filho completa o perfil de Jacob Rabbi, afirmando que o judeualemo possua "certa cultura, poliglota (pelo menos falava os idiomas alemo, holands,

portugus, tupi e taraiui). De sua pena deixou uma crnica famosa, ou relao de viagem contendo preciosas informaes sobre a geografia da capitania, bem como sobre a etnografia dos tapuias". Cmara Cascudo chama a ateno para outro aspecto: "todos os assaltos, saques, tropelias, morticnios dos jandus rendiam gado, roupa, jias, ao amigo Rabbi". Como resultado, o judeu conseguiu acumular uma pequena fortuna. Jacob Rabbi permaneceu durante quatro anos vivendo entre os selvagens. Com o passar do tempo, crescia a afinidade entre o europeu e os tapuias, Rabbi foi assimilando os costumes nativos. Passava por um processo de indianizao. De fato, na interpretao de Cmara Cascudo, "o srdido e desconfiado europeu inteligente e branco, que era por dentro um cariri autntico, desde o temperamento aos costumes dirios". Rabbi vivia com uma nativa, de nome Domingas, num stio de sua propriedade, chamado "Cear". Segundo Olavo de Medeiros Filho, "o stio corresponde atualmente localizao denominada Araa, ribeira do Cear-Mirim entre Massagana e Estivas, e mesmo ao norte da cidade de Extremoz". No massacre de Uruau, foi morto Joo Lostau Navarro, sogro de Gardtzman que, revoltado, decidiu se vingar, afirmando "que o mundo nada perderia se desembaraassem de semelhante canalha". Chegou, inclusive, a entrar em contato com dois homens para que matassem Jacob Rabbi. Primeiro foi com Wilhelm Jansen, que colocou uma srie de dificuldades. A outra pessoa foi Roeloff Baron, que concordou em realizar a sinistra misso, caso recebesse ordens do Alto Conselho Secreto. Nesses contatos, portanto, Gardtzman no conseguiu efetivar seu intento. Mas no desistiu de eliminar Rabbi. Mais adiante, convidou o seu desafeto para uma reunio, com a finalidade de promover um entendimento e esquecer as mgoas passadas. O judeu-alemo aceitou, finalmente, participar de uma ceia que aconteceria na casa de Dirk Mulden Van Mel, a qual, segundo Cmara Cascudo, estava localizada nas proximidades de Refoles. Olavo Medeiros afirma que a casa de Muller "fica margem direita do ento chamado riacho Guaja (gua dos caranguejos), entre os distritos de Igap e Santo Antnio do Potengi. Dista cerca de 10,5 km da matriz". Ainda participaram desse encontro outros militares: Wilhelm Becke, Roulox Baro, Jacob de Bolan, Denys Baltesen, Johannes Hoeck, Wilhelm Tenberghe etc. Aps a realizao da conferncia ente os dois desafetos, Gardtzman saiu primeiro. Pouco depois que Rabbi saiu. E no demorou muito tempo para que se ouvissem dois disparos de fuzil. Caa, mortalmente ferido, Jacob Rabbi. A vtima recebeu, alm dos tiros, golpes de sabre que deformaram partes do cadver. Ficou provado, mais, uma vez, que a violncia provoca violncia, Jacob Rabbi, que praticou assaltos e crimes, sendo um dos responsveis, pelos massacres de Cunha e Uruau, morreu como conseqncia do dio, tendo seu corpo deformado por golpes de sabre. Olavo Medeiros descreve a situao em que o corpo foi encontrado: "Um dos tiros penetra-lhe do lado esquerdo do corpo, fazendo-lhe um ferimento muito profundo, em que Muller pudera

introduzir at o fim dos seus dedos. A outra bala varara-lhe o lado direito das costelas falsas. Seis golpes de armas branca haviam-lhe deformado o rosto, a cabea e o brao direito. Um dos olhos do cadver estava aberto; as suas algibeiras achavam-se voltadas e esvaziadas. Faltava-lhe um anel de ouro, que ainda trazia no dedo quando se retirara da casa de Muller". O crime ocorreu na noite de 4 de abril de 1646. Jacob Rabbi foi sepultado no lugar onde morreu. Gardtzman, ao ser informado do crime, cinicamente disse: - "Antes ele do que eu". Apesar de ter negado se o mandante do crime, ficou provado que houve um acordo entre Gardtzman e Bolan para matar e depois roubar os bens de Jacob Rabbi. Domingas foi despojada, totalmente, dos bens de seu companheiro. Os jandus, decepcionados, voltaram para o serto. No houve mais morticnio na Capitania do Rio Grande.

O Braso Holands do Rio GrandeO conde Maurcio de Nassau, e, 1639, deu a cada capitania o seu braso. O do Rio Grande foi descrito por Barlu desta maneira: "A provncia Rio Grande tinha por armas um rio, em cujas margens pisava ave. Havia, ainda, uma estrela de prata, na parte superior e o mote: velociter". Para alguns autores, a ema foi escolhida para ilustrar o braso, porque essa ave existia em grande nmero na referida regio. Cmara Cascudo, contudo, discorda e afirma: "a ema nunca foi em tempo algum caracterstica da fauna norte-rio-grandenses e especialmente no domnio holands ". Mais um argumento apresentado por Cmara Cascudo" "caso Nassau desejasse colocar algo caracterstico da capitania, teria, naturalmente, escolhido o gado, uma das razes para a conquista da regio". E aponta outro motivo para a escolha da ema: uma homenagem de Nassau a um grande chefe cariri, Jandu, amigo dos holandeses, desenvolvendo uma argumentao convincente: "Jandu o chefe das tropas fiis, prontas, irresistveis (...) Jandu nome tupi, corruo de NHANDU, uma pequena e por autonomia, o corredor, o que corre muito. Da o lema, VELOCITER", num estudo publicado na regista do Instituto Histrico e Geogrfico do Rio Grande do Norte. Cmara Cascudo chegou a dizer o seguinte: "sem Jandu a companhia no sustinha o Rio Grande duas semanas. Natural, portanto, que Nassau prestasse uma homenagem ao fiel amigo. E, ainda, os jandus eram notveis pela rapidez com que se deslocavam. Justificando, assim, o mote "VELOCITER". Razo, portanto, tem Cmara Cascudo quando concluiu que "Jandu a ema do braso holands no Rio Grande do Norte".

O Governo Holands no RNAs se apossarem do Rio Grande, os holandeses mudaram o nome da fortaleza para Castelo Ceulen. Natal passou a se chamar Amsterd (ou Nova Amsterd). Logo aps a conquista, Joris Gardtzman assumiu o governo sozinho.

Em 1637 foram criadas as Cmaras dos Escabinos, presididas pelo esculteto, cargo que correspondia ao de prefeito, na atualidade. Havia ainda os curadores autonomia. O Rio Grande no possua autonomia administrativa, "dependia da justificao da Paraba onde residia um diretor". Durante o domnio holands, nada foi feito que dignificasse um governo. Havia somente duas preocupaes: dominar e explorar economicamente a regio. Isso significa dizer eliminar qualquer resistncia, que poltica, quer religiosa, para assegurar a explorao econmica. Subjugar pelas armas para garantir o fornecimento de carne bovina e de farinha. Nesse aspecto, a administrao batava, no Rio Grande, obteve xito, garantindo o alimento necessrio para que os invasores pudessem ser mantidos em Recife. Caso contrrio, eles teriam duas opes: abandonar Pernambuco ou morrer de fome... Como mostra Tarcsio Medeiros, "a mestiagem continuou no perodo holands: a dos bugres com portugueses ou holandeses, que produzia, no dizer de um cronista flamengo "belos tipos de mulheres e homens. Do contato de mulheres brasileiras, tanto com portugueses como com neerlandeses, nascem muitos bastardos, entre os quais no raro se encontram formosos e delicados tipos quer de homens, quer de mulheres". Tarcsio Medeiros transcreveu essa ltima parte do texto do livro de "Histria do Brasil", vol. 2. De Ernani Silva Bruno. E cita o testemunho de Gilberto Freyre: "Seriam tais louros, em alguns casos, restos de normandos ou de flamengos do sculo XVI". Em 1654 termina, para a felicidade dos que ainda restavam da populao, o domnio holands no Rio Grande. Quando o capito Francisco de Figueirora, comandando 850 soldados,. Vinha reassumir o governo da capitania, o Rio Grande era apenas abandono e runas, inclusive a capital que praticamente foi destruda.

O Potiguar Antonio Felipe CamaroExiste uma controvrsia na historiografia norte-rio-grandense a respeito de um chefe nativo, dos potiguares, chamado Poti (Potiguau), que ao receber o batismo, passou a se chamar Antnio Felipe Camaro. Para alguns historiadores, em lugar de um tuixaua, teriam existido dois com o mesmo nome Poti, sendo que o primeiro participou das negociaes de paz entre portugueses e potiguares na Capitania do Rio Grande. E o outro, filho dele, se destacou com brilhantismo durante a guerra contra os holandeses. Olavo de Medeiros Filho, no seu mais recente livro "Aconteceu na Capitania do Rio Grande", divulgou parte de uma carta escrita por Felipe Camaro, que diz o seguinte: "mi Padre fue ator de loss pazes tan desseadas que mi nacion, y gente hizieron com los portugueses". Antonio Felipe Camaro, ao dizer que seu pai foi o autor das pazes, comprovou a existncia de dois chefes potiguares, com o mesmo nome, seu pai e ele. Segundo o grupo de pesquisadores, o pai seria norte-rio-grandense e o filho teria nascido em terras pernambucanas.

Essa tese, entretanto, no apresenta uma slida argumentao. A grande prova, apresentada pelos defensores dessa teoria, , a existncia, na Torre do Tombo, em Lisboa, de um depoimento prestado por Antonio Felipe Camaro, num processo instaurado pela Inquisio de Lisboa contra o padre Manuel de Moraes, quando o chefe potiguar afirmou que morava na aldeia de Meratibi. O historiador pernambucano Mrio Mello colocou a aldeia de Meraribi (Miritiba) nas terras de sua famlia. Ingenuidade ou simples coincidncia? Pedro Moura constata, atravs "de uma carta de doao e sesmaria, passada por Ordem do Capito do Rio Grande na Cidade de Natal, em 28 de fevereiro de 1706, SEBASTIO NUNES COLLARES, mais de trs lguas de terra de rio abaixo anexados com s que os religiosos Carmelitas j tinham obtido anteriormente. Esta fazenda do Carmo est situada margem da estrada real que vai da cidade de Assu cidade de Mossor, na ribeira do Panema, cujo rio corre e desgua em territrio exclusivamente rio-grandense do Norte, com o mesmo leito que tinha, quando nasceu, viveu e morreu Potyguau. Aps transcrever esse texto, Pedro Moura fez o seguinte comentrio: "Foi nessa ribeira do Panema, no seu afluente Meiritupe, que se encontrava a aldeia Meretipe ou Meretibe, aonde residia DOM ANTNIO FELIPE CAMARO, como diz ele no seu depoimento, no processo do padre MANOEL DE MORAES e foi desse SERTO DONDE DESCEU, trazendo consigo todos os ndios que lhe eram sujeitos, como todas as suas mulheres e filhos, como diz Calado. Meretibe ou Merebiti, aldeia de potiguares, jamais pertenceu Capitania de Pernambuco e sim do Rio Grande. Estava ao lado do rio do mesmo nome, descoberto por GEDEO MORRIS, com mais outro dois rios, oo lwypanim e Wararacury, quando l esteve em 1641".

Campanha Republicana No Rio Grande do NorteNo Rio Grande do Norte atravs de um documento, enviado ao Clube Republicano do Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 1817, que aconteceu a primeira adeso coletiva s idias republicanas. Os signatrios desse documento eram fazendeiros, comerciantes, senhores de engenho, alm de trs vice-presidentes da provncia. Foram eles: Antnio Baslio, Ribeiro Dantas, Manuel Janurio Bezerra Montenegro E Estevo Jos Barbosa de Moura. A reao ao movimento republicano no Rio Grande do Norte era representada pelos partidos Liberal e Conservador. No havia, entretanto, unidade ideolgica entre esses dois partidos. Ao contrrio as divergncias internas eram muito acentuadas o que, de certa maneira, iria facilitar o desenvolvimento da campanha pela substituio do regime monrquico no Brasil. O jornal "A Gazeta de Natal" faria a contrapropaganda pelo partido Conservador, enquanto que a dos liberais era mantida pelo "Correio de Natal". A reunio que marcou a fundao do Partido Republicano aconteceu na residncia de Joo Avelino, situada na Praa Bom Jesus, no bairro da Ribeira, Natal, em 27 de janeiro de 1889, com a participao de Pedro Velho de Albuquerque Maranho, que passou a liderar a campanha.

A ata do nascimento do Partido Republicano registra a primeira diretoria, composta por Pedro Velho, presidente; Hermogenes Tinco, vice-presidente; Joo Avelino, primeiro secretrio; Joo Ferreira Nobre, segundo secretrio; e Manuel Onofre Pinheiro, tesoureiro. Teria sido em 1851, atravs do Jornal "Jaguarari", dirigido por Manuel Brando, o incio oficial da propaganda republicana no Rio Grande do Norte. Seguiu-se, em 1873, a revista "Eco Miguelinho", de Joaquim Fagundes Jos Tefilo. O movimento cresce e adquire uma maior organizao no perodo entre 1857 e 1875, com a participao de Joaquim Teodoro Cisneiro de Albuquerque. Ampliando-se ainda mais o iderio republicano wuando, em 1886, Januncio Nbrega e Manuel Sabino da Costa fundam um ncleo republicano em Caic. Nasce, em seguida, o jornal "A Repblica", rgo oficial do partido recentemente fundado.

Incio do Governo Republicano em NatalFoi um telegrama assinado por Jos Leo Ferreira Souto, dirigido ao Partido Republicano, que trouxe a notcia da vitria da campanha republicana pela mudana do regime, para o Rio Grande do Norte. Os monarquistas se inteiraram da novidade tambm por telegrama, esse assinado por Umbelino Ferreira Gouveia, datado de 16 de novembro de 1889. A proclamao da Repblica no foi comemorada, nem despertou reaes. Supe-se que o povo norte-rio-grandense, como os demais brasileiros, no teve conscincia da mudana que se operava. Aqui, tambm, o povo foi "arrastado" para a causa republicana. Os liberais ainda tentaram fazer Antonio Baslio Ribeiro Dantas permanecer frente do governo da provncia. Porm a designao de Pedro Velho, chefe do Partido Republicano, que chegou a Natal assinada por Aristides Lobo, acabou com as pretenses liberais. Pedro Velho foi aclamado governador do Estado, mas governou por poucos dias. No dia 30 de novembro, o Dr. Adolfo Afonso da Silva Gordo era nomeado governador, pelo governo provisrio do novo regime. Apesar da frustrao, o chefe republicano no Rio Grande do Norte aceitou a nova nomeao. A designao de Adolfo Gordo (paulista de Piracicaba) ensejou passeatas de protestos, muitos telegramas e alguns boatos de conspirao e discursos muito inflamados. Posteriormente, Pedro Velho foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte com expressiva votao. Finalmente, no dia 28 de fevereiro de 1892, Pedro Velho de Albuquerque Maranho foi eleito governador, pelo Congresso Estadual, administrando at 25 de maro de 1886.

As Especialidades de Pedro VelhoLus da Cmara Cascudo afirma que Pedro Velho era um "orador esplndido, claro, empolgador, espalhando uma vibrao incontida de movimento e de seduo, jornalista magnfico, cultura literria disciplinada, oportuna, justa e certa na citao inflvel, memria de estatstica, gesto largo, teatral, majestoso, impressionador, voz quente, plstica, apta a qualquer desejo de queixa ou de estertor, vocabulrio rico, luzidio, vestindo de novo a velha idia aposentada pelo uso, mmica insubstituvel, escolhida com requintes de conhecedor,

todos os detalhes que a inteligncia e a vontade podem dar a um homem, Pedro Velho conseguira ou findara possuindo". Pedro Velho nasceu em Natal, na rua Chile, no dia 27/11/1856. Filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranho e de D. Feliciana Maria da Silva e Albuquerque. Aprendeu as primeiras letras com o professor Antonio Ferreira de Oliveira. Comeou seus estudos secundrios no Ginsio Pernambucano, de Recife e, depois, na Bahia concluiria os referidos estudos, no Colgio Ablio. Iniciou o curso de Medicina em Salvador, porm, teve que se afastar da faculdade por problemas de sade. Voltando a estudar obteve grau em bacharel em cincias mdicas, defendeu a tese sobre "Condies Patognicas das Palpitaes do Corao e dos Meios de Combat-los:, no dia 4 de abril de 1881. Casou-se com D. Petronilha Florinda Pedrosa, em 27 de abril de 1881. Pedro Velho, ento, regressou ao Rio Grande do Norte, fixando residncia em So Jos de Mipubu, onde passou pouco tempo, explorando uma farmcia. Foi, posteriormente, morar em Natal definitivamente, na rua Visconde do Rio Branco, n 55. Como mdico, destacou-se nas especialidades de cardiologia, ginecologia e obstetrcia. Professor, fundou o Ginsio Rio-Grandense (1882 a 1884) e ensinou Histria Geral e do Brasil no Atheneu Norte-Rio-Grandese. Tavares de Lyra ressalta que "foi na ltima fase do movimento em favor da emancipao dos escravos que iniciou triunfalmente a sua carreira poltica, tornando-se o chefe intimerato da propaganda, que fazia pela imprensa, em companhia de abnegados correligionrios, e pela tribuna, em excurses sucessivas aos lugares do interior, emancipado, s vezes, de chofre, ao efeito de sua palavra inspirada e fulgurante". Lder poltico, teve uma grande atuao. Fundou o partido republicano e, para divulgar suas idias, o jornal "A Repblica". Foi o primeiro governador do Rio Grande do Norte na fase republicana. Quando se pensou em fazer Pedro Velho senador, houve um problema: ele no tinha idade... Foi ento eleito deputado para a Constituinte. Perdeu o mandato porque foi eleito, posteriormente, governador, administrando o Estado de 28 de fevereiro de 1892 at 25 de maro de 1896. Nesse ano, com a morte de Junqueira Alves, abriu-se uma vaga na Cmara de Deputados, possibilitando que Pedro Velho continuasse na luta poltica. Foi reconduzido Cmara de Deputados, comprovando sua extraordinria liderana. Por essa razo, Jos Augusto de Medeiros, afirmou: "Pedro Velho era um condutor de homens, era um chefe". E mais: "por 18 anos consecutivos, desde a proclamao da Repblica at o dia de sua morte, o chefe invencvel das hostes republicanas no Rio Grande do Norte. Nunca houve em qualquer poca da histria daquele Estado da Federao, um homem que gozasse de tanto prestgio". Pedro Velho, pouco dias antes de morrer, recebeu um documento, assinado por todos os presidentes das intendncia do Rio Grande do Norte, inclusive o capital, cujas palavras iniciais eram as seguintes: " a voz do povo do Rio Grande do Norte, pelo rgo das suas municipalidades, que vem trazer a V. Excia, nesta modesta mensagem, as mais afetuosas expresses do seu aplauso".

"Numa data que, preciosa para a famlia, tornou-se pela fora natural das coisas, preciosa para o Estado inteiro, partem de todos os extremos do Estado, de Natal a S. Miguel e de Macau a Jardim, os votos de nosso afeto com as homenagens da nossa admirao". A sua liderana se estendeu alm-fronteiras do Rio Grande do Norte, com polticos de outras terras vindo at Pedro Velho, para pedir conselhos: Quintino Bocayuva, Manoel Vitorino etc. Rui Barnosa, quando ouviu Pedro Velho fazer uma saudao de improviso, comentou: "admirvel orador". Pedro Velho morreu no dia 9 de dezembro de 1907, quando estava no vapor Brasil, em Recife.

Constituio Federal Fixa IndependnciaNo perodo compreendido entre a proclamao da Repblica a 15 de novembro de 1888 e a revoluo de 3 de outubro de 1930, o Brasil viveu o que os historiadores convencionaram chamar de "Primeira Repblica" ou "Repblica Velha". As ento "Provncias do Imprio" passaram condio de Estado da Federao, que na poca eram vinte. A Lei Maior do Pas passou a ser a Constituio federal de 1891, tendo cada Estado a sua Constituio. Dentre as determinaes constitucionais estavam: a independncia entre os trs poderes - Executivo, Legislativo e Judicirio -; presidente eleito pelo voto direto para um mandato de quatro anos, sendo eleitores os maiores de 21 anos, do sexo masculino e alfabetizados. Houve ainda a separao entre a Igreja e o Estado.

Inaugurao do Sistema OligrquicoDurante a Primeira Repblica (1889/1930), a exemplo da demais unidades da Federao do Rio Grande do Norte conheceu o sistema de oligarquias. Coube ao fundador do Partido Republicano, Pedro Velho de Albuquerque Maranho, inaugurar o sistema olugrquico no Estado. A base econmica dessa primeira oligarquia, caracteriza como "personalista que evoluiu, mais tarde, para uma oligarquia tribal", segundo Mariz (1980), foi o acar. A marca registrada do governo de Pedro Velho foi manter sempre os interesses da sua oligarquia, antecedendo aos do partido. Prova dessa tendncia foi o empenho do nosso primeiro oligarca em indicar o seu irmo Augusto Severo de Albuquerque Maranho para disputar a sua vaga, na Cmara Federal, aberta quando veio assumir o governo. Apesar da oposio de outros chefes polticos, Augusto Severo foi eleito a 2 de maio de 1892, Entretanto, essa eleio no foi homologada, sendo posteriormente anulada em todo o Pas. Finalmente, no novo pleito realizado a 23 de abril de 1883, onde mais uma vez Pedro Velho imps a candidatura do seu irmo, Augusto Severo de Albuquerque Maranho foi eleito para a Cmara Federal. Pedro Velho conseguiu ainda nomear seu outro irmo, Alberto Maranho, secretrio da sua administrao.

O substituto de Pedro Velho no governo foi o desembargador Joaquim Ferreira Chaves que, mesmo no pertencendo famlia Albuquerque Maranho, era ligado por estreitos laos de amizade aos membros da primeira oligarquia estadual. Por volta de 1920, o eixo econmico do Estado se desloca do litoral (acar e sal) para o interior (exportao de algodo e pecuria). nesse contexto que aparece a segunda oligarquia, liderada por Jos Augusto Bezerra de Medeiros, com bases polticas no Serid, onde predominava a atividade econmica de plantao e exportao do algodo. A segunda oligarquia interrompida no governo de Juvenal Lamartine, quando eclode a revoluo de 3 de outubro de 1930, que modificou significativamente o panorama do Pas.

Indstria Incipiente e Sistema FinanceiroNo Rio Grande do Norte, o setor industrial era insignificante. Mesmo no contexto regional, ocupava o stimo lugar. Em nmero de indstrias, estvamos apenas acima do Maranho e do Piau. Os setores de alimentao e txtil predominavam na incipiente atividade industrial. Quanto ao setor financeiro, o primeiro estabelecimento bancrio s apareceu no Rio Grande do Norte no governo de Augusto Tavares de Lyra, em 1909. Era o Banco de Natal que, futuramente, daria origem ao Bandern. Quase todo o Nordeste j possua agncia do Banco do Brasil, mas o Rio Grande do Norte s foi inaugurar a sua primeira agncia no dia 14 de abril de 1917. No setor financeiro ainda devem ser lembradas as iniciativas de Juvenal Lamartine, responsvel pela criao de bancos rurais e de caixas em algumas cidades do interior, como Acari, Caic, Macau etc. Ulisses de Gis e Jovino dos Anjos foram responsveis pelo aparecimento de cooperativas, com o objetivo de facilitar o crdito.

A Passagem da Coluna Prestes no EstadoNa Repblica Velha, foram freqentes os protestos de militares e civis contra as fraudes eleitorais, que a inexistncia do voto secreto ensejava. Movimentos como "Os 18 do Forte de Copacabana", no Rio de Janeiro, em 1922; a rebelio gacha de 1923, e a paulista, de 1924, atestam a insatisfao do povo contra o processo eleitoral vigente. Foi no governo do presidente Artur Bernardes, que praticamente cumpriu o seu mandato sob "Estado de Stio:, com as garantias constitucionais suspensas, que se organizou a "Coluna Prestes". O principal objetivo dos comandados de Lus Carlos Prestes e Miguel Costa era percorrer o Brasil, levantando o povo contra o que consideravam "autoritarismo do presidente". Os rebeldes entraram no Estado pela zona Oeste. Governava o Rio Grande do Norte o Dr. Jos Augusto Bezerra de Medeiros (1924/1927), que procurou imediatamente se comunicar com o presidente, recebendo a promessa de que seriam tomadas providncias para melhorar a segurana do Estado. Enquanto isso, o governo mobilizava civis e militares para fazer frente aos revolucionrios.

A 26 de janeiro de 1926, o primeiro contingente da polcia militar, sob o comando do tenente Joo Machado, seguiu para a zona oeste. Algumas cidades do Serid, temendo uma invaso pelo sul do Estado, colocaram em alerta suas foras policiais. Os combates entre rebeldes e as foras policiais do Rio Grande do Norte ocorreram quase totalmente na regio oeste. Pela cidade de Luiz Gomes, os integrantes da coluna Prestes seguiram para a Paraba. Coube ao governador Juvenal Lamartine recolher as armas que haviam sido distribudas. A passagem da Coluna Prestes o ltimo acontecimento significativo da Repblica Velha no Rio Grande do Norte.

Duas Administraes de Alberto MaranhoAlberto Frederico de Albuquerque Maranho nasceu em Macaba, no dia 2 de outubro de 1872, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranho e D. Feliciana Pedroza de Albuquerque Maranho. Os seus estudos iniciais foram realizados, primeiro, em Macaba e, depois, em Natal. Mais tarde, foi para Recife, onde se formou em Direito pela Faculdade de Cincias Jurdicas e Sociais de Pernambuco, no dia 8 de dezembro de 1892, com 20 anos. Alberto Maranho se casou com D. Ins Barreto. Teve seis filhos: Paula, Laura, Judite, Juvino, Cleanto e Caio. Segundo Meira Pires, "sua educao esmerada, sua formao moral, sua cultura, seu invulgar esprito (...) um largo pendor diplomtico pois sabia solucionar, com finura e habilidade exemplares, as mais difceis questes". Participou, com brilhantismo, do "Congresso Literrio", que mantinha o jornal "A Tribuna". Com outros companheiros, fundou o "Grmio Polymathico". Dirigiu o jornal "A Repblica", onde, como afirma Meira Pires, "teve o ensejo de reafirmar o seu invencvel valor de jornalista e homem de letras escrevendo, sem assinar, crnicas, tpicos e editoriais". Exerceu a funo de promotor pblico em Macaba. Ocupou o cargo de secretrio de Estado na administrao de Pedro Velho. A 14 de junho de 1899, foi eleito governador do Estado, dirigindo os destinos do Rio Grande do Norte no perodo de 1900 a 1904. Durante sua administrao, aprovou a lei n 145, de 6 de agosto de 1900, pela qual " o governador autorizado a premiar livros de cincia e literatura produzidos por filhos domicialiados no Rio Grande do Norte, ou naturais de outros Estados quando neste tenham fixa e definitiva a sua residncia". Essa lei promoveu o desenvolvimento cultural do Estado, constituindo-se em fato indito no Pas. No dia 24 de maro de 1904, o governador inaugurou o Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranho), com sua renda destinada para ajudar aos flagelados, vtimas da seca, que se encontravam em Natal.

Concluda sua administrao, foi eleito deputado federal, e durante o exerccio de seu mandato fez parte da Comisso de Diplomacia. Em 1908 voltava a assumir o governo do Estado, realizando uma profcua administrao: fundou o Conservatrio de Msica; o Hospital Juvino Barreto (hoje Onofre Lopes); o Derby Clube (para incentivar o hipismo), e construiu a Casa de Deteno e o Asilo de Mendicidade. Implantou a luz eltrica em Natal e, posteriormente, os bondes eltricos. Inaugurou a Escola Normal, em 3 de maio de 1908. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, que atualmente tem o seu nome, dando-lhe as feies atuais e que foi entregue ao pblico no dia 19 de julho de 1912. Alberto Maranho estendeu sua ao tambm ao interior, como mostrar Itamar de Souza: "em So Jos de Mipibu, ele mandou as guas de uma fonte natural e permanente para o abastecimento dgua daquela cidade. Em Macaba, sua terra natal, construiu o cais de atracao, melhorando assim o transporte fluvial entre aquela cidade e a capital do Estado. Em Macau, mandou fazer um aterro, numa extenso de quatro quilmetros, ligando esta cidade estrada do serto, margem do rio Assu". "Para facilitar o deslocamento de pessoas e produtos entre o serto e as cidades porturias, ele construiu trs mil quilmetros de estradas carroveis em direo s cidades de Canguaretama e Natal". O segundo governo de Alberto Maranho surpreendeu pelo dinamismo, sendo considerado, por unanimidade, como a melhor administrao durante a Repblica Velha. Nem tudo, porm, foi positivo na segunda administrao do oligarca potiguar que procurou, abertamente, imortalizar os membros de sua famlia. O municpio de Vila Flor teve o seu nome mudado para "Pedro Velho". Alm dessa homenagem, mandou fazer um busto do irmo que foi colocado na "square Pedro Velho". Fazendo uma crtica ao ilustre poltico potiguar, disse Itamar de Souza: "Este segundo governo de Alberto Maranho teve trs caractersticas bsicas: primeiro, procurou imortalizar os membros da oligarquia aponto seus nomes em municpios, reparties pblicas, monumentos e praas; segundo, monopolizou importantes setores da economia estadual, favorecendo, assim, os amigos e correligionrios, em detrimento do errio pblico; e, terceiro, realizou uma grande e inovadora administrao com o dinheiro tomado emprestado no estrangeiro". Alberto Maranho, aps deixar o governo, em 31 de dezembro de 1913, foi deputado federal, representando o seu Estado nessa funo, de 1927 at 1929. Abandonado a vida poltica, saiu do Rio Grande do Norte e foi morar com a famlia em Parati, no Rio de Janeiro. Em 1918, publicou dois trabalhos: "Na Cmara e na Imprensa" e "Quatro discursos histricos". Faleceu no dia 01 de fevereiro de 1944, em Angra dos Reis, sendo sepultado no outro dia, em Parati.

As Lutas sem Trgua de Jos da Penha

Jos da Penha Alves de Souza nasceu a 13 de maio de 1875, na cidade de Angicos. Foram seus pais: Jos Flix Alves de Souza e Maria Incia Alves de Souza. Em 1880, Jos da Penha foi para Fortaleza, onde estudou no Colgio Militar. Depois, seguiu para o Rio de Janeiro, onde, seguindo Aluzio Alves, fez toda a carreira militar; praa a 2 de agosto de 1890, alferes a 3 de novembro de 1894, tenente a 8 de outubro de 1898 e capito a 2 de agosto de 1911". Desde jovem, participava de polmicas, conseguindo se destacar mesmo quando seus adversrios eram do nvel de um Medeiros e Albuquerque ou de um Jos Verssimo. Nasceu, ao que parece, para debater. Discutir. Liderar. "Seu ardente ideal republicano, impregnado da proteo de Benjamim Constant, o gosto pelo estudo da Histria dos Povos, a vivncia jornalstica conduzindo-o anlise dos fatos dirios, principalmente os de formao da Repblica emergente, participao militar caracterstica dos primrdios do novo regime, o esprito polmico, fariam inevitavelment