Histórias Cortazar

2
  His tór ias de cro nóp ios e d e fam as Julio Cortázar, 1962 FILANTROPIA Os famas são ca az!s "! #!stos "! #ra$"! #!$!rosi"a"!, como or !%!m lo &ua$"o !ss! fama !$co$tra uma o'r! !s !ra$(a ca)"a ao * "! um co&u!iro, !  o $" o+ a !m s! u au to m -! l a l! -a a ra sua ca sa ! s! oc u a "! ali m! $t á+la ! of!r!c!r+l.! "istra(ão at* &u! a !s !ra$(a #a$.! for(as ! s! atr!-a a su'ir outra -!z $o co&u!iro/ O fama s! ac.a muito 'om "! ois "!st! #!sto, ! $a r!ali"a"! * muito  'o m, s &u ! o l. ! ocorr! !$sa r & u! "a) a ouc os "ias a ! s!ra $(a -ai cair outra -!z "o co&u!iro/ 0$tão !$&ua$to a !s!ra$(a !stá $o-am!$t! ca)"a ao * "o co&u!iro, !ss! fama $o s!u clu'! s! ac.a muito 'om ! !$sa $a ma$!ira como a u"ou a o'r! !s !ra$(a &ua$"o a !$co$trou tom'a"a/ Os cro$ios $ão são #!$!rosos or ri$c) io/ Passam ao lar#o "as coisas mais como-!$t!s, como s! a uma o'r! !s !ra$(a &u! $ão sa'! amarrar os cor" !s "os sa atos ! #!m!, s!$ta"a $a '!ira "a cal(a"a/ 0ss!s cro$ ios $!m ol.am ara a !s !ra$(a, ocu a")ssimos &u! !stão !m s!#uir com os ol.os uma 'a'a "o "ia'o/ Com s!r!s como !ss!s $ão s! o"! raticar a cari"a"! "! mo"o co!r!$t!3 or isso $as soci!"a"!s fila$tr icas as autori"a"!s são to"as famas ! a 'i'liot!cária * uma !s !ra$(a/ 4os s!us car#os, os famas a u"am muito os cro$ios, &u!  se ne freg an . O5 0PLORA4OR05 Tr7s cro$ios ! um fama s! associam !s !l!olo#icamc$t! ara "!sco'rir as fo$t!s su't!rr8$!as "! um ma$a$cial/ C.!#a"os 'oca "a ca-!r$a, um cro$ io "!sc! sust!$ta"o !los outros, l!-a$"o $as costas um !m'rul.o com s!us sa$"u)c.!s  r! f!r i"os :"! &u!io;/ Os "ois cro$ios+ca 'r!sta$ t!s o "!i%am "!sc!r o uc o a o uc o, ! o fama !scr!-! $um ca"!r$o #ra$"! os "!tal.!s "a !% !"i(ão/ Lo#o c.!# a a  rim! ira m!$ sa#!m "o cro $io < !$fu r!ci"o or&u ! s! ! $#a$a ram ! us! ram sa$ "u) c.! s "! r!su$t o/ A#it a a cor"a ! !%i#! &u! o sus !$"am/ Os cro$ ios+ca'r!sta$t! s! co$sultam aflitos, ! o fama s! !r#u! !m to"a a sua t!rr)-!l !statura ! "i z< N=O, com uma -iol7$cia tal &u! os cro$ios soltam a cor"a ! corr!m a acalmá+lo/ Nisso !stão &ua $"o c.! #a out ra m! $s a#! m, or &u! o cro $ io ca iu u st am !$t! so 'r ! as fo$t!s "o ma $a $cial, ! "ali comu$ ica &u! tu"o -ai mal , ! !$t r! i$> ria s ! lá#r ima s i$fo rma &u! os sa$"u)c.!s são to"os "! r!su$to, &u! or mais &u! !l! ol.! ! ol.!, !$tr! os sa$"u)c.!s "!  r!su$to $ão .á um s "! &u!io/

description

Cortazar

Transcript of Histórias Cortazar

Histrias de cronpios e de famas

Histrias de cronpios e de famas

Julio Cortzar, 1962FILANTROPIA

Os famas so capazes de gestos de grande generosidade, como por exemplo quando esse fama encontra uma pobre esperana cada ao p de um coqueiro, e pondo-a em seu automvel a leva para sua casa e se ocupa de aliment-la e oferecer-lhe distrao at que a esperana ganhe foras e se atreva a subir outra vez no coqueiro. O fama se acha muito bom depois deste gesto, e na realidade muito bom, s que no lhe ocorre pensar que da a poucos dias a esperana vai cair outra vez do coqueiro. Ento enquanto a esperana est novamente cada ao p do coqueiro, esse fama no seu clube se acha muito bom e pensa na maneira como ajudou a pobre esperana quando a encontrou tombada.

Os cronpios no so generosos por princpio. Passam ao largo das coisas mais comoventes, como seja uma pobre esperana que no sabe amarrar os cordes dos sapatos e geme, sentada na beira da calada. Esses cronpios nem olham para a esperana, ocupadssimos que esto em seguir com os olhos uma baba do diabo. Com seres como esses no se pode praticar a caridade de modo coerente; por isso nas sociedades filantrpicas as autoridades so todas famas e a bibliotecria uma esperana. Dos seus cargos, os famas ajudam muito os cronpios, que se ne fregan.

Os exploradores

Trs cronpios e um fama se associam espeleologicamcnte para descobrir as fontes subterrneas de um manancial. Chegados boca da caverna, um cronpio desce sustentado pelos outros, levando nas costas um embrulho com seus sanduches preferidos (de queijo). Os dois cronpios-cabrestantes o deixam descer pouco a pouco, e o fama escreve num caderno grande os detalhes da expedio. Logo chega a primeira mensagem do cronpio: enfurecido porque se enganaram e puseram sanduches de presunto. Agita a corda e exige que o suspendam. Os cronpios-cabrestante se consultam aflitos, e o fama se ergue em toda a sua terrvel estatura e diz: NO, com uma violncia tal que os cronpios soltam a corda e correm a acalm-lo. Nisso esto quando chega outra mensagem, porque o cronpio caiu justamente sobre as fontes do manancial, e dali comunica que tudo vai mal, e entre injrias e lgrimas informa que os sanduches so todos de presunto, que por mais que ele olhe e olhe, entre os sanduches de presunto no h um s de queijo.