HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DE HISTÓRIA · 1 Graduada em História pela Universidade do...
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HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DE HISTÓRIA
Autora: Ionice Pereira da Silva 1
Orientador: Flávio M. M. Ruckstadter2
RESUMO
O presente artigo é resultado de pesquisa desenvolvida com alunos de sétima série do ensino fundamental, na Escola Estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes Ensino Fundamental, na cidade de Nova Fátima (PR). Através do estudo realizado nos anos 2010 e 2011 no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, uma proposta de estudos proporcionada pela Secretária de Estado da Educação – SEED, Governo do Estado do Paraná, foi realizada a intervenção pedagógica tendo como objeto de estudo a formação étnica da região do Estado do Paraná. Esta pesquisa levou em consideração a compreensão das idéias dos sujeitos escolares no contexto do ensino de História. Teve como objetivo central, diversificar metodologias no ensino de História que possibilitassem ao aluno, desenvolver com autonomia a habilidade de compreensão na forma de ler, compreender e representar conteúdos históricos. Visou também investigar sobre as elaborações de histórias em quadrinhos como uma ferramenta de ensino de História, e analisar a compreensão histórica dos alunos a partir das produções das mesmas. As produções de histórias em quadrinhos foram analisadas como uma das formas de construir conhecimento histórico, pois tal recurso possibilita ao aluno um raciocínio histórico na construção das histórias, observando a construção de uma narrativa em determinado tempo e espaço.
Palavras Chaves: Ensino de História, História do Paraná, Histórias em Quadrinhos
1 Graduada em História pela Universidade do Oeste Paulista especialista em Didática e Metodologia do ensino pela Universidade do Norte do Paraná. Atua como professora no Colégio Estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes no município de Nova Fátima, PR.2 Doutor em Educação. Docente do Centro de Ciências Humanas e da Educação – Colegiado de História – Universidade Estadual do Norte do Paraná / Campus de Jacarezinho (UENP-CJ).
ABSTRACT
This article is the result of research carried out with students from seventh grade at Public School Aloysio de Barros Dr. Tostes Elementary School in the city of New Fatima (PR). Through the study of the years 2010 and 2011 in the Educational Development Program - PDE, a proposal of studies provided by the State Secretary of Education - SEED, State Government of Paraná, the educational intervention was performed where the object of study, ethnic background region of the state of Parana. This research took into account the understanding of the ideas of school subjects in the context of history teaching. Aimed mainly, to diversify the teaching methodologies of history that would enable the student with autonomy to develop comprehension skills in order to read, understand and represent historical contents. Also aimed to investigate the elaborations of comics as a tool for teaching history, and analyze the historical understanding of students from the productions of the same. Productions of the comics were analyzed as a way of constructing historical knowledge, as this feature allows the students a historical reasoning in the construction of stories, noting the construction of narrative in a given time and space.
Keywords: Teaching History, History of Paraná, Comics
1. INTRODUÇÃO
Em 18 de dezembro de 2001, o então governador do Estado do Paraná,
Jaime Lerner, sancionou lei estadual decretada pela Assembléia Legislativa do
Estado, que tornou obrigatório um novo tratamento dos conteúdos referentes à
História do Paraná, na Rede Pública Estadual de Ensino, nos níveis
fundamental e médio. Um dos objetivos expressos na lei, em seu primeiro
artigo, é o de que se formem cidadãos conscientes da identidade, potencial e
valorização do Estado. (PARANÁ, 2001).
A lei estadual em questão, n.º 13.381/01, impôs como atividade escolar,
para o ensino fundamental e para o ensino médio, a tarefa de constituir uma
identidade local e regional. No entanto, compreende-se que mais do que a
importância que uma lei possa sugerir, existe também a relevância em se
conhecer a história regional e o cotidiano do viver dos homens. Nesse sentido,
uma das funções do ensino de história é fornecer bases para a construção de
determinadas identidades, entre elas também a identidade regional.
Em nossa experiência docente, como professora da rede estadual de
ensino no Paraná, reconhecemos a ausência desses conteúdos locais e a vaga
e superficial valorização histórica regional. No entanto, o estudo da história do
estado se tornou uma meta com vistas ao reconhecimento da diversidade
cultural que o constitui. Nesse sentido, entendemos que o aluno passa a
identificar que faz parte desse processo como sujeito histórico.
Para discutir as temáticas relacionadas à história do Paraná, com alunos
de ensino fundamental, procuramos desenvolver este estudo por meio da
produção discente de histórias em quadrinhos. Esta metodologia que permite
ao aluno autonomia na busca do saber. Dentre as diversas possibilidades na
construção do conhecimento histórico, o uso didático de histórias em
quadrinhos pode ser de grande valia, pois apresenta uma forma de
comunicação visual e verbal na qual o aluno pode transformar textos
historiográficos em diálogos e ao mesmo tempo demonstrar nos desenhos os
espaços geográficos, modo de se vestir, alimentação, religião, danças, como
também o trabalho, conhecendo assim a realidade social permeada de
contradições, conflitos e diversidade.
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo discutir o uso de uma
metodologia no ensino de História que possibilite ao aluno desenvolver a
habilidade de compreensão na forma de ler e narrar conteúdos históricos. Visa
também investigar o recurso didático como uma ferramenta de ensino de
História, e analisar a compreensão histórica dos alunos a partir das produções
das Histórias em quadrinhos.
Ninguém valoriza aquilo que não conhece. Assim, para que o aluno
possa valorizar sua realidade local, é necessário conhecê-la. As produções das
histórias em quadrinhos, bem como o estudo sobre as formas de viver e pensar
através de diferentes tempos e espaços possibilitou aos alunos uma reflexão
sobre a história do Paraná e suas particularidades. O ser humano, desde os
primórdios, desenvolveu inúmeras formas de se comunicar; dentre essas
formas, pode-se destacar o desenho: através de imagem gráfica, por exemplo,
o homem primitivo desenhava nas paredes das cavernas o relato de suas
atividades e isso era o seu registro e por meio disso ele se comunicava e
registrava informações que se constituem hoje em importantes fontes para o
estudo de sua história.
Este artigo apresenta, pois, os resultados da pesquisa que foi
desenvolvida entre agosto de 2010 e julho de 2012, no Programa de
Desenvolvimento Educacional, PDE, no Estado do Paraná. Após realizar
estudo teórico sobre o ensino de História na atualidade, e verificarmos a
necessidade de diversificação de metodologias em seu processo de ensino-
aprendizagem, utilizamos a temática “formação étnica no estado do Paraná”,
para propor aos alunos que elaborassem histórias em quadrinhos. Os
resultados da pesquisa são apresentados e analisados neste texto.
2. DESAFIOS E PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA NA
ATUALIDADE
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino de História,
bem como as Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs) paranaenses, quanto
aos fundamentos teórico-metodológicos da disciplina, afirmam que os
processos históricos relativos às ações e às relações humanas praticadas no
tempo, bem como a respectiva significação atribuída pelos sujeitos, tendo ou
não consciência dessas ações, devem ser objeto de estudo da história escolar.
As relações humanas produzidas por essas ações podem ser definidas como
estruturas sócio-históricas, ou seja, são as formas de agir, pensar, sentir,
representar, imaginar, instituir e de se relacionar social, cultural e politicamente.
Para Carla Pinsky a cultura escolar pode desempenhar, sob certas
circunstâncias e dentro de limites, o papel de um importante pólo gerador de
debates e pensamentos críticos sobre os efeitos da mídia e da massificação
cultural (Carla Pinsky, 2009, p. 83).
Assim é importante analisar as mudanças e permanências, semelhanças
e diferenças, ruptura ou continuidade que se processam nas sociedades para
construção da identidade na qual contribuem com a construção de nossa
história, levando o aluno a perceber aquilo que nos aproxima e nos separa das
sociedades do passado, descobrindo assim as especificidades de sua própria
cultura, conhecendo assim a realidade social permeada de contradições,
conflitos e diversidade, cuja importância possibilita refletir a História e pensar a
sociedade em que vive tanto do ponto de vista regional, como com as
instâncias mais amplas.
Segundo Circe Bittencourt (p.19, 2005) o ensino de história com vista à
formação de um cidadão crítico não é um objetivo recente. A constituição de
um pensamento crítico é uma meta necessária para as sociedades em
transformações que exigem atuações criativas, no entanto a inovação que
ocorre aos objetivos é a ênfase atual do papel do ensino de História para
compreensão do “sentir-se sujeito histórico” e em sua contribuição para a
“formação de um cidadão crítico’’. (BITTENCOURT, 2005).
Essas inovações remetem a um grande desafio no ensino de História
que é a formação de cidadãos críticos e atuantes, capazes de perceber,
analisar, interferir e modificar a realidade.
Considerando a relação entre o ensino de História e o papel formativo de
uma cidadania crítica, espera-se da História uma contribuição relevante no
sentido de tirar o indivíduo da imobilidade diante dos acontecimentos para que
possam entender que cidadania se constituiu através de lutas constantes.
(BITTENCOURT, 2005).
Para Maria Auxiliadora Schmidt (2005, p. 57) o professor de História
pode ensinar o aluno a adquirir as ferramentas de trabalho necessário; o saber-
fazer, o saber-fazer-bem, lançar os germes do histórico. Ele é o responsável
por ensinar o aluno a captar e a valorizar a diversidade dos pontos de vistas.
Ensinar História passa a ser, então, dar condições para que o aluno possa
participar do processo do fazer, do construir a História.
Considerando um rigor maior nos estudos históricos, verifica-se
superação pelo discurso demagógico e populista e os esquemas teleológicos
decorrente de novos objetos e novas metodologias que penetram no universo
limitado da velha história. Esmagando duplamente, de um lado pelo herói, de
outro pelo processo do qual era vítima passiva, o homem começa a ser
descoberto como agente real da história, como aquele que atua para que ela
possa ocorrer. Aos poucos a diferença entre a história natural e a história social
deixa de ser apenas uma concepção teórica e passa a entrar na vida do
historiador. (PINSKY, 1992).
Portanto, a História deslocou-se das metodologias que insistiam na
memorização das datas e na exaltação de heróis para a formação de um modo
de pensar crítico, voltado a construção do valor da cidadania e a tomada de
consciência do aluno sobre o papel na sociedade, refletindo e problematizando
os vários significados historicamente construídos em torno da participação ativa
dos indivíduos em cada lugar, a cada tempo.
3. AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO LINGUAGEM PARA
ENSINAR HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
De acordo com as Diretrizes Curriculares de História para a Educação
Básica, da Educação Pública do Estado do Paraná as imagens, livros, jornais,
Histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas, gravuras, museus, filmes,
músicas são documentos que podem ser transformados em materiais didáticos
de grande valia na constituição do conhecimento histórico. (PARANÁ, 2008,
p.49).
Para Marjory Palhares, a utilização das diferentes linguagens para o
ensino de História, vem contribuindo para a dinamização do cotidiano da sala
de aula diversificando a prática do ensino da disciplina, permitindo melhor
compreensão por parte dos alunos da mensagem que o professor deseja que
ele receba (PALHARES, 2008).
Um dos grandes desafios do ensino de história está em levar os alunos
à compreensão dos processos e dos sujeitos históricos como também as
relações que se estabeleceram entre grupos humanos em diferentes tempos e
espaços. Nesse sentido, a elaboração de histórias em quadrinhos pode
contribuir para a dinamização do cotidiano na sala de aula.
Reconhecendo as histórias em quadrinhos como um material didático e
a necessidade do uso de diferentes linguagens para diversidade da prática do
ensino de História, consideramos de grande valia, pois se tem nela uma nova
forma de ver, de ler, além de desenvolver habilidades de compreensão.
As histórias em quadrinhos são artefatos culturais que podem mediar a
relação entre a cultura dos alunos e a cultura do ambiente escolar, incluindo ali
o conhecimento histórico, fazendo com que os alunos possam sentir satisfação
em conviver no ambiente de sala de aula. (FRONZA, 2007).
Quanto à aplicabilidade das histórias em quadrinho na construção do
conhecimento histórico, Vilela propõe trabalhar conceitos relevantes ao ensino
de História, como o tempo e suas dimensões, sucessões, durações e
simultaneidade. (VILELA, 2008, p. 107).
Essas informações devem estar presentes dando sentido às seqüências
de quadrinhos para uma compreensão do leitor; esses elementos contribuirão
para a transmissão do conteúdo que se deseja, possibilitando ao aluno uma
análise sobre os fatos narrados, identificando ponto-de-vista de diferentes
personagens, compreendendo a existência de diferentes versões da História.
Ao se produzir história em quadrinhos no ensino de História é
interessante desenvolver diferentes tipos de atividades em sala de aula, como
dissertações, atividades envolvendo leituras, interpretações e discussão de
quadrinhos, permitindo a interdisciplinaridade da História, Língua Portuguesa e
Artes. (BARBOSA, 2009, p. 128).
Compreende-se que as histórias em quadrinhos se constituem em um
material reflexivo, artístico e pedagógico no processo ensino aprendizagem, o
que exige planejamento, ajustamento do material ao conteúdo a ser trabalhado.
Tal prática pedagógica exige do profissional da educação constante desafios
na busca de desenvolver com eficiência essa nova metodologia.
Para que não se perca de vista a especificidade da disciplina de História,
deve-se propor a criação de histórias em quadrinhos que explorem os
conteúdos específicos da disciplina, uma vez que tal atividade pode ser
interpretada como documentos históricos, pois são construídos, em uma
determinada sociedade e em um determinado contexto social.
Segundo Circe Bittencourt (2008, p.361), o interesse pelas imagens que
circulam em diferentes espaços e momentos por diversas sociedades e
culturas aumentou nas últimas décadas. As diversas imagens têm-se tornado
em fontes importantes da pesquisa historiográfica, sobretudo para os
especialistas da história social e cultural, saindo do âmbito dos historiadores da
Arte. Além disso, como fontes históricas que são, as histórias em quadrinhos
também se constituem em fontes didáticas interessantes para o trabalho com
alunos na educação básica.
Diante da ampliação das fontes históricas, as histórias em quadrinhos
tornam-se uma produção significativa na construção do conhecimento,
promovendo leituras de imagens e textos historiográficos, o que permitirá aos
alunos se situarem na sua realidade cotidiana e se reconhecerem como parte
desse processo na condição de sujeitos históricos.
4. PRODUÇÕES DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COM ALUNOS DA
ESCOLA ESTADUAL DR. ALOYSIO DE BARROS TOSTES ENSINO
FUNDAMENTAL
Durante o período de estudos no Programa de Desenvolvimento da
Educação (PDE) elaboramos um caderno pedagógico, material didático a partir
do qual, trabalhou-se com os alunos em sala de aula enfocando a formação
étnica da região do Estado do Paraná com a proposta de utilização de histórias
em quadrinhos. Para a elaboração das histórias em quadrinhos sobre a
formação étnica do Paraná, foram prevista ações que cumpriram trinta e duas
horas de atividades.
A apresentação do Projeto para a Direção, Equipe Pedagógica,
professores e funcionários ocorreu durante a semana pedagógica, quando
houve incentivo e sugestões que contribuíram no trabalho. A Equipe
Pedagógica acompanhou e avaliou as etapas de aplicação observando o
empenho dos alunos.
A apresentação do Projeto aos alunos da 7ª série foi bastante positiva.
Eles demonstraram interesse, pois apreciam leituras de gibi e consideraram
importante aprender a produzi-los, também receberam um comunicado
informando aos pais o objetivo do projeto.
O desenvolvimento das atividades ocorreu em duas aulas por semana
no horário normal e uma aula em horário alternativo. O planejamento das aulas
seguiu o seguinte roteiro:
• Formação dos grupos;
• Organização dos materiais necessários para a confecção de histórias
em quadrinhos (gibis, folhas sulfite, tesoura, cola, etc);
• Estudo do caderno pedagógico, elaboradas a partir do material didático
(Formação étnica da região do Estado do Paraná e os Elementos
Fundamentais para as produções de histórias em quadrinhos). Enviado
por email. Esse material foi apresentado como recurso de estudo para
as produções das histórias e como transformá-las em histórias em
quadrinhos.
No início das produções houve dificuldades ao produzir as histórias,
faltavam argumentos e sentido na seqüência dos quadrinhos, após o estudo
dos Elementos Fundamentais para as Produções em Quadrinho, como se
segue abaixo se pode, identificar as dificuldades, passaram a estudar mais e
discutir o que gostariam de contar em suas histórias.
1. Argumento: a idéia da trama de forma resumida com início,
meio e fim.
2. Escaleta: é a organização de todas as cenas a serem criadas
de maneira que sustente a História em Quadrinhos.
3. Roteiro: Todas as cenas com cenário, diálogo, apresentação
dos personagens, desenvolvimento do enredo, os dramas e as
finalizações.
4. Traço: definição do estilo de desenho a ser utilizado.
5. Formato: Estabeleça o número de páginas, para indicar o ritmo
da narrativa.
6. Distribuição dos espaços gráficos: define o formato da História
em Quadrinhos, reservando espaço para os diálogos e
legendas.
7. Arte final: é a fase de acabamento que vai desde o traço até o
momento de dar cor às ilustrações.
8. Capa: uma das principais formas de chamar atenção do leitor.
9. Revisão geral: fundamental para evitar deslizes encontrados
em História em Quadrinhos (CAIADO, 2011).
Foram três os temas trabalhados por eles com pesquisa, estudo, e
produção: Indígenas que viviam na região do Paraná; A chegada dos europeus
na região do Paraná; Migrações indígenas e os caminhos dos tropeiros. Vimos
algumas imagens e cenas de filmes, como a Missão, musicais como Meu
Paraná Querido, o Hino do Paraná e imagens sobre a região: rio, estradas,
vegetação, povos com seus hábitos e a diversidade cultural existente na região
até os dias atuais.
O estudo sobre as formas de viver e pensar através de diferentes
tempos e espaços possibilitou uma reflexão sobre a história do Paraná e suas
particularidades.
A princípio tudo seria feito manualmente, balões, escrita e desenhos, no
entanto resolvemos juntos aperfeiçoar o trabalho buscando recursos
tecnológicos para melhorar a qualidade na leitura das histórias e das imagens.
Fomos ao laboratório de informática e usamos sistema simples de tabela para
dividir os quadrinhos e ali inserimos os balões e a história foi digitada. Algumas
imagens foram impressas de sites da internet; outras foram recortadas de gibis
velhos; e outras foram desenhadas pelos próprios alunos.
Após a confecção das histórias em quadrinhos, os alunos organizaram
uma exposição. Nela, os alunos montaram os slides sobre o município, sobre a
região do Paraná e sobre eles desenvolvendo este trabalho; fizeram um mural
das histórias feitas por eles e os três gibis encadernados e expostos
juntamente com todo acervo de livros que a biblioteca dispunha sobre o Paraná
da qual eles utilizaram para suas pesquisas.
A exposição foi o resultado avaliativo dessa experiência. Todas as
etapas do trabalho em sala de aula foram muito gratificantes, os alunos
souberam se organizar aprendendo a dividir tarefas e responsabilidades para
produzir as histórias em quadrinhos.
Este projeto e o material didático, através do GTR, uma modalidade de
curso online, cujo objetivo é fazer uma troca de experiências e reflexão sobre o
tema estudado permitiu que a história em quadrinho fosse debatida e discutida
com professores que já trabalharam e outros que não. No entanto, nesses
debates recebemos muita contribuição, na medida em que os professores
interagiam sobre a importância no ensino de História, de fazer uso de uma
metodologia que leve os alunos a uma autonomia na busca do saber se
reconhecendo sujeito histórico e criando uma afetividade muito carente nos
dias de hoje entre professor e aluno. Diante desse posicionamento considero o
resultado das discussões do GTR fundamentais para o aperfeiçoamento do
projeto.
5. CONCLUSÃO
Os quadrinhos hoje têm uma repercussão muito interessante no meio
estudantil. Mesmo diante de meios de comunicação cada vez mais
diversificados e sofisticados, eles continuam a atrair um grande número de
leitores.
O ser humano, desde os primórdios, desenvolveu inúmeras formas de
se comunicar; dentre essas formas, pode-se destacar o desenho: através de
imagem gráfica, por exemplo, o homem primitivo desenhava nas paredes das
cavernas o relato de suas atividades e isso era o seu registro e por meio disso
ele se comunicava e registrava informações que se constituem hoje em
importantes fontes para o estudo de sua história.
Nas últimas décadas, há um intenso debate no campo do ensino de
História na educação básica, para que os professores se afastem de um ensino
tradicional, fundamentado na memorização e na repetição e se aproximem de
um novo ensino de história, que valorize a formação crítica dos alunos e sua
inserção como cidadãos ativos no todo social. Nesse sentido, sentir-se parte de
um grupo social assume uma importância muito grande na formação básica.
Conforme verificamos em nossa experiência docente, antes mesmo de
realizar esta pesquisa, poucos temas históricos locais e regionais são
valorizados na educação básica. A chamada História do Paraná e da ocupação
do território onde hoje se encontra este Estado, são ainda pouco estudados
pelos alunos nas escolas paranaenses. E temos inclusive uma lei estadual que
impôs como regra o estudo e a valorização destes temas na educação
fundamental e média.
Dessa forma, nosso trabalho procurou valorizar, por um lado, um ensino
de história menos fundamentado na memorização e repetição, e mais
fundamentado no trabalho ativo dos alunos na elaboração de seus saberes
históricos. Por outro lado, o trabalho procurou valorizar os temas históricos
regionais, da história da cidade e do Estado dos alunos, com vistas a atender
aquilo que propõem a legislação e as diretrizes curriculares estaduais, bem
como a atender a uma necessidade de uma formação crítica de um indivíduo
que se sinta parte de uma comunidade.
O uso das histórias em quadrinhos como atividade em sala de aula,
constitui-se, como se verificou no desenvolvimento do trabalho, em uma
possibilidade de ensinar e aprender. A utilização das histórias em quadrinhos
como um recurso metodológico, dentre as diversas possibilidades, é de grande
valia, pois apresenta uma forma de comunicação visual e verbal na qual o
aluno poderá transformar textos historiográficos em diálogos e ao mesmo
tempo demonstrar nos desenhos os espaços geográficos, modo de se vestir,
alimentação, religião, danças como também o trabalho, conhecendo assim a
realidade social permeadas de contradições, conflitos e diversidade o que
possibilita a verificação da aprendizagem dos conteúdos de História através
das pesquisas e produções.
Os procedimentos adotados no desenvolvimento deste trabalho foram
bem sucedidos, uma vez que houve estudo dos conteúdos propostos como
também a maneira de se produzir Histórias em Quadrinhos dessa forma se
verificou a aprendizagem dos alunos na qual conseguiram com este artefato
cultural elaborar conceitos históricos sistematizados em uma narrativa histórica.
O resultado foram os gibis elaborados no laboratório de informática, onde os
alunos puderam demonstrar seus conhecimentos através de suas histórias,
demonstrando criatividade, imaginação associando suas histórias com a
realidade estudada.
É fundamental reconhecer neste trabalho sua importância, mas
também os limites e as possibilidades. A principal dificuldade para a
consecução do trabalho de elaboração de histórias em quadrinhos foi em
relação ao tempo necessário para a tarefa. Nesse sentido, é fundamental em
um trabalho desta natureza, a organização e o estabelecimento dos critérios
para o início e término; em outras palavras, um bom planejamento prévio é
imperioso para a efetivação do trabalho docente-discente. Apesar das
dificuldades é uma opção de trabalho significativa que remete a uma reflexão
sobre o uso de novas metodologias.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Contexto, 2005.
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aula. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 2009.
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ed. São Paulo: Contexto, 2005.
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http://educador.brasilescola.com. Acesso em Maio de 2011.
FRONZA, Marcelo. O significado das historias em quadrinhos na educação
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