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HISTÓRIA

1. Estrangeiros que fi zeram o Brasil: os imigrantes 52. Os primeiros anos da República no Brasil 233. Crise e ruptura: os últimos anos da República Velha 46

SUMÁRIO DO VOLUME

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3História

SUMÁRIO COMPLETOVOLUME 1

1. Estrangeiros que fi zeram o Brasil: os imigrantes2. Os primeiros anos da República no Brasil3. Crise e Ruptura: os últimos anos da República Velha

VOLUME 2

4. Neocolonialismo e Primeira Guerra Mundial5. Contexto Nacional: do Movimento Militar de 1930 ao Golpe Militar6. Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria

VOLUME 3

7. Movimentos de resistência ao Capitalismo e ao Regime Militar no Brasil8. Regimes militares na América Latina9. O processo histórico contemporâneo no Brasil

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4 História

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5HistóriaEstrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

1. ESTRANGEIROS QUE FIZERAM O BRASIL: OS IMIGRANTES

O povo brasileiro tem como característica uma diversidade étnica, cultural e religiosa que, em poucos lugares do mundo, pode-se perceber. A imigração que ocorreu no país, principalmente entre 1870 e 1930, levou à formação de um povo com inúmeras faces. Porém, questionamos: quais os motivos que provocaram essa imigração? O que gerou a saída de milhões de pessoas de suas terras e o que ocasionou a busca de novos caminhos, em lugares dos quais se sabia pouco ou até nada? A Europa foi responsável pela maior parte dos imigrantes que aqui chegaram, devido a uma conjuntura que tornava a vida de trabalhadores bastante difícil. Primeiramente, pode-se mencionar que houve um aumento demográ� co no Velho Mundo, devido à prática de novas medidas de higiene e à vacinação (notadamente a antivariólica), que levaram à diminuição da mortalidade. Esse aumento populacional conduziu também ao desemprego, gerando miséria e pobreza. Além desse fator, houve também as crises agrícolas, que provocavam a falta de alimento e, consequentemente, a fome. Outro fator que impulsionou a imigração foi a Revolução Industrial Europeia, que ocasionou a substituição da mão de obra humana por inovações tecnológicas (máquinas, por exemplo). O Brasil, por sua vez, necessitava de mão de obra para ocupar o espaço deixado pelo escravo, dando continuidade à ocupação do território. Atraídos por uma propaganda de enriquecimento fácil, de ascensão social e econômica, os imigrantes desembarcavam e aqui se deparavam com a dura realidade de horas de trabalho em más condições e o sonho da prosperidade � nanceira era algo distante para a maioria.

Disponível em: <www.laugalaekjarskoli.is>. Acesso em: 05 jul. 2010.O trabalho infantil nas fábricas.

Desembarque de imigrantes no porto de Santos, início do século XX.

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6 HistóriaEstrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Dentre os imigrantes que para o Brasil vieram, estavam os alemães cujo maior � uxo deu-se após a Independência, dentro de um plano governamental de ocupação do Sul do País, onde poderia ser desenvolvida a agricultura. A primeira colônia alemã foi fundada em 1824, com o nome de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Posteriormente outras colônias formaram-se. Atualmente, as colônias mais conhecidas são aquelas que passaram por um processo de desenvolvimento econômico com a industrialização, como é o caso de Blumenau, Joinville e São Leopoldo, que ainda conservam características da cultura original. Santa Catarina é considerado o mais alemão dos Estados do Brasil. Há uma estimativa de que 35% da sua população é de ascendência alemã. Muitas cidades do Sul preservam a cultura, a arquitetura, a língua e as festas populares alemãs.

Disponível em

: <ww

w.godela.com

.br>. Acesso em

: 05 jul. 2010.

A Oktoberfest, em Blumenau, Santa Catarina, reúne anualmente milhares de turistas. A festa é uma forma de preservar e divulgar tradições alemãs no Sul do País.

Além da imigração alemã, houve também a judaica, que foi mais expressiva no � m do século XIX. Porém, a partir dos anos 1920 e, principalmente, na década de 1930, devido à perseguição aos judeus pelos nazistas, o número de imigrantes cresceu consideravelmente. Eles se estruturaram, em sua maioria, no Estado de São Paulo. Na capital paulista, o bairro do Bom Retiro tornou-se reduto desses imigrantes que trabalharam em atividades comerciais.

Atualmente, as atividades dos seus descendentes são as mais variadas, como industriais, pro� ssionais liberais e empreendedores diversos. Ainda mantêm sua cultura e preservam o judaísmo. Os sírios e libaneses também migraram em maior quantidade no � nal do século XIX. Fixaram-se, também, no Estado de São Paulo, e dedicaram-se às atividades comerciais. No início trabalhavam como mascates, indo às cidades do interior oferecendo suas mercadorias. Depois, abriram seus próprios estabelecimentos comerciais e tiveram importante papel no comércio da borracha. Os espanhóis foram a terceira maior etnia que imigrou para o Brasil a partir de 1880, principalmente para trabalhar nas fazendas de café no Estado de São Paulo. A partir da década de 1920, ampliaram suas atividades para a área urbana, incluindo os setores de “ferro-velho” e de restaurantes. Em suma, o processo imigratório produziu, no Brasil, uma formação étnica e cultural sem precedentes. Nas características físicas e na alma do povo brasileiro, estão incorporados sinais dos quatro cantos do mundo. Um país formado por multiplicidade de cores e sabores e com uma cultura de imenso valor histórico.

Trabalhando com imagensTrabalhando com imagens

Observe esta imagem e perceba a diversidade cultural representada.

Adaptado para o Acervo CNEC

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7HistóriaEstrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

1 De acordo com a imagem, que aspectos culturais você pôde perceber?

2 Pesquise, nas mais diversas fontes, sobre a origem das culturas branca, negra e indígena.

3 Em sua cidade ou região, há variedade cultural? Qual a origem da cultura da sua região?

Quando os portugueses chegaram às terras brasileiras, encontraram-se com os índios. Após a sua � xação nessas terras, tentaram utilizar o índio como mão de obra, porém não obtiveram o resultado esperado. Então passaram a usar a mão de obra escrava provinda do continente africano. Com a extinção do trá� co negreiro e a abolição da escravatura, dentre outros motivos, imigrantes vindos de diversas partes da Europa � xaram-se no Brasil, reforçando a diversidade cultural. A partir do somatório das culturas desses povos, formou-se a brasileira que, mesmo não sendo una, representa a Nação. Mas, no decorrer da história do Brasil, o País sempre esteve ligado aos acontecimentos europeus. No século XVIII, a França vivenciou um período de profunda insatisfação popular que levou à eclosão da Revolução Francesa, em 1789, cujos ideais eram de liberdade, igualdade e fraternidade. Esse movimento deixou claro que as antigas práticas sociais, políticas e econômicas estavam sendo rejeitadas. O desejo era romper com o Regime Absolutista, que se baseava no direito divino de governar, ou seja, os reis a� rmavam que Deus lhes havia concedido o poder, e o Estado era soberano nas decisões e no estabelecimento de leis. Os reis contavam com o apoio do clero e da nobreza, os quais usufruíam das benesses do Estado, enquanto o povo sofria com a má distribuição de renda e com os impostos cobrados pelos nobres e clérigos. As ideias iluministas in� uenciaram grandemente os movimentos da Revolução Francesa. Os intelectuais, como John Locke, Montesquieu e Voltaire, defenderam e difundiram a ideia de liberdade de pensamento e de ação, os direitos dos cidadãos e a igualdade social.

HOUËL, Jean-Pierre. Prise de La BastilleA queda da Bastilha, fortaleza que representava o poder do Absolutismo, marcou o início da Revolução Francesa.

Ocorreu, nesse período, a transição do Feudalismo para o Capitalismo; do Absolutismo para formas governamentais mais democráticas, como, por exemplo, a República, e, no meio artístico, as in� uências dos pensadores franceses mudaram as produções, abandonando a poética neoclássica, um estilo voltado para o equilíbrio e a simplicidade. Surgia um novo estilo, o Romantismo. Para compreendê-lo melhor, entenda que Romantismo com letra maiúscula refere-se ao movimento artístico; já o com letra minúscula, designa um sentimento afetivo, um comportamento. O historiador Nelson Werneck Sodré reforça a ideia de que o Romantismo tem ligações com o período histórico quando diz:

“...o advento do Romantismo, pois, só tem uma explicação clara e profunda, a explicação objetiva, quando subordinada ao quadro histórico em que processou.”

NICOLA, José de. Literatura Brasileira, das origens aos nossos dias.São Paulo: Scipione, 1998

Essa nova tendência, que teve início na Europa, no século XVIII, foi percebida na literatura, na pintura, na música, nas artes plásticas e, de forma menos expressiva, na arquitetura.

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8 HistóriaEstrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Os artistas abandonaram a arte voltada para a nobreza, rejeitaram os preceitos de calma, harmonia, equilíbrio, racionalidade que eram típicos do Classicismo e do Neoclassicismo. Os artistas românticos valorizaram o sentimento, a emoção, a individualidade, a liberdade de criação, o amor platônico, a morte heroica na guerra e a espontaneidade. Eles valorizaram os conceitos de pátria e de República; enalteceram o que era nacional e folclórico. Isso implicou conhecer a própria terra, sua cultura e seus valores. Através do nacionalismo, os povos de mesma origem e cultura procuravam se unir; assim, surgiu o conceito de nação. Dessa forma, os povos começaram a valorizar suas singularidades e seu passado histórico, passando a defender, também, sua independência nacional. A ideia de que o rei representava o Estado era abandonada, sendo assim, defendiam também a escolha da forma de governo e um território unificado. A Inglaterra destacou-se com artistas românticos, porém quem divulgou e fez espalhar o movimento para outros lugares, como o Brasil, foram os artistas franceses. No período romântico, as músicas foram compostas com o intuito de emocionar o público e levá-lo para as raízes regionais, folclóricas e nacionalistas. Muitos desses artistas, como Beethoven, Rossini, Verdi, Berlioz, Wagner, Liszt, Tchaikovsky são conhecidos até hoje. A pintura foi um meio que difundiu com grande propriedade o Romantismo. Ela trazia em si uma narração que era transmitida com forte impacto. Eugène Delacroix, nascido no país das revoluções, a França, foi um pintor visto como revolucionário. Entre suas obras, a mais conhecida é A Liberdade Guiando o Povo, de 1830. Nesse trabalho, o pintor retrata a multidão nas ruas, mobilizada pela ideia de conquistar a liberdade e o nacionalismo na França. Era a luta do povo para pôr fim ao Absolutismo, que havia retornado ao País, após o Congresso de Viena, em 1814, que devolveu o poder à Dinastia dos Bourbon.

Delacroix, Eugène. A Liberdade Guiando o Povo.

Após a derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo e a sua deportação para a ilha de Santa Helena, onde faleceu, as nações europeias, entre elas Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia, reuniram-se no Congresso de Viena para decidir o futuro do continente. Boa parte da Europa estava em ruínas, e as nações queriam tirar proveitos, reorganizando o espaço territorial. O objetivo do Congresso era retomar as antigas práticas absolutistas de antes da Revolução Francesa sob um princípio legítimo. Eles defendiam a tese de que os governantes legítimos seriam aqueles que descendiam das famílias dinásticas conhecidas como os Romanov (Rússia), Bourbon (França), Habsburgo (Áustria), Hohenzollern (Prússia), Bragança (Portugal), entre outros. Assim, o Congresso restaurou o Absolutismo, retornando as dinastias destituídas aos seus tronos. Houve uma divisão territorial, um novo desenho do mapa da Europa, porém tomaram o cuidado de haver um equilíbrio territorial entre as nações a � m de evitar o fortalecimento de uma delas. Contudo a Áustria, a Prússia, a Rússia e a Inglaterra receberam direitos especiais. A Inglaterra foi grandemente bene� ciada. Ela recebeu o direito de livre navegação dos mares e rios, suas relações comerciais desenvolveram-se. Para assegurar a paz e o cumprimento das decisões tomadas no Congresso, foi criada a Santa Aliança, que nada mais era do que uma força militar cuja função era realizar intervenções armadas contra movimentos revolucionários e sufocar qualquer anseio de revolta e movimentos nacionalistas que não aceitassem as imposições do Congresso e emancipacionistas (movimentos nas colônias pela independência).

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9HistóriaEstrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Na França, retomou o poder a Dinastia dos Bourbon, com Luís XVIII. Uma nova constituição foi redigida determinando que o poder executivo � casse nas mãos do rei; o legislativo seria dividido entre duas câmaras: a Câmara dos Pares, em que os deputados seriam nomeados pelo rei e teriam cargos vitalícios e hereditários e, a Câmara dos Deputados, que eram eleitos segundo a renda individual (voto censitário). O governo de Luís XVIII apesar de perseguir duramente os bonapartistas adotou uma postura moderada em sua relação com a alta burguesia e assim evitou confrontos mais sérios em seu reinado. Após a morte de Luís XVIII, quem assumiu o trono foi Carlos X, que era líder de um grupo profundamente reacionário conhecido como ultra-realistas. O rei tentou gradualmente restaurar o absolutismo na França. Em 1830, decidiu extinguir a liberdade de imprensa e alterar a Constituição do país.

Episódio da revolução de 1830 na Bélgica.

Essas atitudes desencadearam uma nova revolução na França. Em 1830, ocorreram revoltas, que duraram três dias e � caram conhecidas como os três dias gloriosos. Ao � nal, os parisienses depuseram o rei Carlos X e, em seu lugar, assumiu o Duque de Orléans, Luís Filipe de Orléans, considerado “O Rei Burguês”. O grande escritor Victor Hugo, através da literatura, relatou a vida da população nesse período revolucionário. Através do livro mundialmente conhecido, Os Miseráveis, ele narra a situação política, social e econômica da França após 1830. Foi nesse clima que eclodiram movimentos contra os regimes políticos em várias regiões da Europa, na década de 1830.

Alguns fracassaram, e a população não conseguiu se libertar dos regimes absolutistas, como é o caso da Alemanha, da Itália e da Polônia. Porém, em alguns países, os manifestantes conseguiram implantar novos regimes governamentais. Outros conquistaram sua independência: a Bélgica, que foi anexada à Holanda em 1815, tornou-se independente em 1831, e a Grécia, que estava sob o domínio dos Otomanos, também teve sua independência em 1832.

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Victor Hugo (1802-1885) é considerado o maior escritor romântico da França. Sua vida é marcada pelo intenso envolvimento com os problemas da sociedade. Em 1848, por exemplo, o poeta foi favorável à adoção da República e combateu o imperador Napoleão III. Consequentemente, passou 20 anos exilado. Entre suas obras, destaca-se a coletânea Folhas de Outono e o romance Notre Dame de Paris, ambos escritos em 1831. Mas o seu trabalho que melhor registrou os problemas sociais franceses foi Os Miseráveis, escrito em 1862.

Nessa obra, Victor Hugo descreve a vida do personagem Jean Valjean, um camponês que, levado pelas circunstâncias, comete um crime. O intuito do escritor é trazer à tona uma situação social que deveria ser encarada pela sociedade em geral e, principalmente, pelas autoridades políticas da época.

Veja o seguinte trecho de Os Miseráveis:

“Jean Valjean, de humilde origem camponesa, fi cara órfão de pai e mãe ainda pequeno e foi recolhido por uma irmã mais velha, casada e com sete fi lhos. Enviuvando a irmã, passou a arrimo da família, e, assim, consumiu a mocidade em trabalhos rudes e mal remunerados (...). Num inverno especialmente rigoroso, perdeu o emprego, e a fome bateu à porta da miserável família. Desesperado, recorreu ao crime: quebrou a vitrina de uma padaria para roubar um pão (...). Levado aos tribunais por crime de roubo e arrombamento, foi condenado a cinco anos de galés. (...) Mesmo na sua ignorância, tinha consciência de que o castigo que lhe fora imposto era duro demais para a natureza de sua falta e que o pão que roubara para matar a fome de uma família inteira não podia justifi car os longos anos de prisão a que tinha sido condenado.”

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Através desse trecho, é possível comprovar a situação de extrema miséria vivenciada pelos franceses. Victor Hugo a utiliza como justifi cativa para o roubo promovido por seu personagem, atitude comum também na atual sociedade.

4 Após a leitura do texto, descreva quais eram as condições sociais e econômicas desse cidadão francês.

Outro artista que abalou a sociedade com suas obras foi o espanhol Francisco de Goya (1746- 1828). Goya retratou a família real espanhola, as personalidades da corte, as pessoas do povo, os horrores das guerras e as cenas históricas decorrentes das lutas pela liberdade. Um dos exemplos de suas obras que retrata cenas históricas é Os Fuzilamentos de 3 de maio de 1808. No ano de 1808, a Espanha era controlada pelas forças napoleônicas e, devido à revolta dos espanhóis contra o exército francês, houve um verdadeiro massacre de cinco mil civis espanhóis. A pintura foi a forma encontrada pelo artista para demonstrar a sua indignação. Nas palavras do estudioso Lionello Venturi, “a pintura de Goya é um símbolo externo de revolta popular contra a opressão”.

GOYA (Francisco José Goya y Lucientes). Os fuzilamentos de 03 de maio de 1808.

A escultura retratou atos heróicos e cenas de luta. Devido à preocupação com o nacionalismo, os monumentos deram ênfase aos atos patrióticos.

François Rude. A partida dos voluntários de 1792Essa obra é conhecida também como A Marselhesa, nome dado ao hino da França. Ela representa a Pátria, com as asas abertas, chamando os voluntários para lutar pela Nação. Ela faz parte do Arco do Triunfo, em Paris.

A arquitetura também visava recuperar a identidade nacional. Assim, ela valorizava a vida urbana e evidenciava a cultura da época. Em relação à vida urbana, a Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, transformou as grandes cidades que passaram a receber um contingente de pessoas que vinha do campo à procura de melhores condições de vida. A urbanização da Europa determinou mudança nas construções que deveriam suprir as necessidades da classe média e burguesa. Os edifícios eram construídos a fim de atender essas classes, deixando as classes baixas abandonadas em bairros sem as mínimas condições de infra-estrutura. A poluição tornou-se um grande problema das cidades industrializadas. A falta de saneamento básico (abastecimento de água, esgoto e instalações sanitárias) provocou diversas doenças. Como se pôde observar, as artes passaram a ter um forte papel de protesto, de denúncia, de mobilização e de influência sobre a sociedade, mostrando as realidades vividas e os sonhos que se desejavam alcançar.

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A cultura europeia desse período influenciou a vida e a formação da cultura brasileira. A vinda da família real para a Colônia portuguesa, em 1808, transformou a vida política, social, econômica e cultural das pessoas. Uma esquadra contendo de 10 a 15 mil pessoas desembarcou trazendo riquezas, documentos, arquivos do governo português, uma máquina impressora e uma vasta biblioteca, que formou a Biblioteca Nacional, além de uma coleção de arte.

Disponível em: <http://i.olhares.com>. Acesso em: 05 jun. 2010.

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

A partir desse momento, o acesso à cultura na Colônia deixou de ser privilégio de poucos que tinham condições de viajar para a Europa e estendeu-se às outras camadas sociais, uma vez que a sociedade também se diversi� cava. Foram criadas várias Escolas e Academias, entre elas a Academia de Belas Artes, onde, em 1816, mestres da arte francesa, como Debret, ensinavam técnicas de pintura. Foi fundado o Museu Nacional e o Observatório Astronômico, além da Biblioteca Real. O Imperador criou a Imprensa Régia que editava várias obras de escritores. Em 1808, foi publicado o primeiro número do jornal A Gazeta, no Rio de Janeiro, que era controlado pelo Império e possuía um caráter o� cial.

Através das obras de Debret é possível reconstituir parte do cotidiano do Brasil.

Porém, também começaram a surgir jornais independentes que continham críticas à política portuguesa. Era o caso do Correio Brasiliense, de Hipólito José da Costa. A vinda da família real inovou o mundo colonial, porém, para manter e suprir as necessidades da Corte houve um aumento de impostos que não agradou à maioria da população. A insatisfação popular gerou atritos com a corte e a família real. Em 1821, por fim, D. João VI retornou a Portugal e deixou o trono nas mãos de seu filho D. Pedro I, que, em 1822, proclamou a Independência do Brasil. Após a Independência, iniciou-se uma discussão em torno da questão do “ser brasileiro”. Passou-se a buscar uma identidade para o povo, marcado pelas diferenças raciais e culturais. A identidade nacional deveria ser criada a partir dos próprios aspectos do País. A imagem que se buscava deveria representar seus próprios valores, sua própria cultura e suas próprias características. A França e a Inglaterra tiveram grande parcela de influência nos movimentos que aconteceram no Brasil. O Romantismo, que há muito tempo permeava a cultura europeia, desempenhou um importante papel histórico no País.

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Ampliando o conhecimentoAmpliando o conhecimento

Como já foi dito, durante o Período Imperial, o Brasil passou por grandes transformações. Alguns acontecimentos tiveram mais relevância que outros e acabaram se destacando na história brasileira. Para melhor compreensão desse assunto, é importante conhecermos esses acontecimentos.

5 Vamos trabalhar em grupo! A sala poderá ser dividida em sete grupos, número de décadas do Período Imperial. Cada grupo fi cará responsável por pesquisar sobre os acontecimentos políticos, econômicos, sociais e culturais da década defi nida pelo professor. Para fi nalizar, cada grupo apresentará o resultado de sua pesquisa em sala de aula. Não se esqueçam de produzir cartazes para ilustrar sua pesquisa. Bom trabalho!

Com um reinado marcado pelo autoritarismo, D. Pedro I renunciou ao trono, e seu � lho, D. Pedro II, foi proclamado Imperador do Brasil. E com o intuito de formar uma identidade brasileira, buscaram-se, nas tradições, na religião e na natureza, os meios para uma imagem ideal. Contribuindo com essa construção, foi publicado, em 1836, na revista Niterói – Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes, um manifesto escrito por jovens brasileiros. O manifesto intitulava-se “Tudo pelo Brasil e para o Brasil” e exaltava os valores nacionais, principalmente os indígenas, que se tornariam o elemento básico de nossa brasilidade. Em 1838, a criação do Instituto Histórico e Geográ� co Brasileiro também acirrou as discussões sobre a construção da nacionalidade brasileira. A partir do governo de D. Pedro II e contando com o seu apoio, os intelectuais tornaram a valorização do índio um projeto o� cial. O Romantismo tornou-se uma verdadeira política cultural ligada à criação de uma história nacional feita de continuidades e sem con� itos. Idealizou-se um índio heroico e uma natureza paradisíaca que simbolizariam a história do País, enquanto questões como a escravidão eram esquecidas.

AMOÊDO, Rodolpho. O último Tamoyo

Muitos escritores destacaram-se. Entre eles, Gonçalves de Magalhães, autor de Suspiros poéticos e saudades e Confederação dos Tamoios, esta última obra � nanciada por D. Pedro II. Outro grande destaque do Romantismo no Brasil é Gonçalves Dias, autor de poemas, como I-Juca-Pirama, Os Timbiras, Canção do Tamoio, que também reforçavam a ideia do indígena como símbolo nacional. Também se destacaram os romances Iracema e O Guarani. Na obra O Guarani, de José de Alencar, o índio foi idealizado ao extremo.

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HERÓI NACIONAL

“Das três raças que formaram a etnia brasileira, apenas o índio se tornou herói em nossa literatura. O branco não poderia ser o herói nacional naquele momento, em razão de estar identifi cado com o colonizador português, isso entraria em choque com o sentimento nacionalista e antilusitano que surgiu após a Independência. O negro, por sua vez, representava o alicerce econômico daquela estrutura social, a mão de obra escravizada e compelida ao trabalho. Seria, portanto, um contra-senso econômico e social elevá-lo à condição de herói, uma vez que muitos escritores e leitores da época faziam parte da classe dominante e compactuavam com o regime escravocrata. Desse modo, coube ao índio, isento de conotações negativas, quer sociais, quer econômicas, o papel de herói nacional em nossa literatura romântica.”

William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães. Literatura Brasileira. 2a ed. – Reformulada – São Paulo. Atual, 2000

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A pintura seguiu o mesmo caminho da literatura. Os pintores procuraram recriar, em suas obras, os acontecimentos históricos do país, a natureza, o indígena e a vida do brasileiro em geral. D. Pedro II tornou-se um verdadeiro mecenas (patrocinador dos artistas) através da distribuição de prêmios e de bolsas de estudo para o exterior. A Academia Imperial de Belas Artes, por exemplo, criada em 1826, passou a ter grande importância a partir do apoio � nanceiro do Império. A busca pela brasilidade não se restringiu às artes. Nessa época, procurou-se criar uma história nacional, que ressaltava momentos e nomes de personagens considerados importantes. Também as ciências naturais buscaram conhecer melhor o País, identi� cando, catalogando e classi� cando os minérios e as espécies da fauna, da � ora. Apesar da intenção de criar a imagem de um País onde as diferenças sociais e raciais conviviam harmoniosamente, não foi possível abafar os con� itos que existiam, principalmente no que diz respeito à escravidão. A arte, a partir da década de 1870, voltou-se para a realidade política e social de forma crítica, até porque a própria luta dos negros e de grupos abolicionistas tornava o problema mais visível. Entre as décadas de 1850 e 1890, o Brasil passou por profundas transformações. O café tornou-se o principal produto das exportações e possibilitou o desenvolvimento comercial na região Sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. O � lósofo e historiador João Cruz Costa, em sua obra Pequena história da República, descreveu a estrutura da sociedade brasileira no � nal do século XIX: “No quadro da sociedade brasileira da segunda metade do século XIX, é possível perceber também a existência de uma incipiente classe média composta de elementos ligados à atividade comercial, ao que se chamaria de ‘alto comércio’, aquele que se ligava à exportação e importação, gravitando na órbita da classe senhorial, e o comércio tout court, ligado às limitadas transações de um pequeno mercado interno. Além desta classe comercial, contava-se com o funcionalismo, o numeroso funcionalismo que deriva da amplidão do aparelho do Estado e de características normais à estrutura econômica brasileira em que o Estado se apresenta como empregador por excelência, a válvula propícia à compensação das limitações de um mercado de trabalho onerado pelo escravismo; os elementos das pro� ssões liberais, em grande parte oriundos da classe comercial e do funcionalismo; os militares, quase todos moços que ingressavam na carreira das armas para conseguirem instrução que as condições de vida lhes negavam; os intelectuais, quase todos funcionários (como o grande romancista Machado de Assis); os sacerdotes, boa parte oriunda, como os militares, de família pobre, que procuravam os seminários para obterem a instrução que sua família não lhes podia dar; os pequenos produtores agrícolas e, en� m, os trabalhadores, na sua maioria escravos; os trabalhadores livres e os representantes, ainda poucos, das primeiras levas de imigrantes.”

Américo, Pedro. O grito do IpirangaA tela idealiza o momento em que D. Pedro I proclamou a Independência do Brasil. Retrata D. Pedro I, de forma imponente, enquanto que o povo, representado pelo agricultor do lado esquerdo, assusta-se com os acontecimentos.

que deriva da amplidão do aparelho do Estado e de características normais à estrutura econômica brasileira em que o Estado se apresenta como empregador por excelência, a válvula propícia à compensação das limitações de um mercado de trabalho onerado pelo escravismo; os elementos das pro� ssões liberais, em grande parte oriundos da classe comercial e do funcionalismo; os militares, quase todos moços que ingressavam na carreira das armas para conseguirem instrução que as condições de vida lhes negavam; os intelectuais, quase todos funcionários (como o grande romancista Machado de Assis); os sacerdotes, boa parte oriunda, como os militares, de família pobre, que procuravam os seminários para obterem a instrução que sua família não lhes podia dar; os pequenos produtores agrícolas e, en� m, os trabalhadores, na sua maioria escravos; os trabalhadores livres e os representantes, ainda poucos,

PORTINARI, Cândido. Lavrador de café

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OUTRAS RIQUEZAS BRASILEIRAS

Enquanto no Sudeste predominava a cafeicultura, outras regiões do País desenvolveram atividades produtivas que se destacaram na economia: na Bahia, o cacau; na Amazônia, a exploração da borracha extraída da seringueira, árvore da região. Algumas descobertas foram importantes para o cenário nacional: em 1839, o americano Charles Goodyer inventou a vulcanização (adição de enxofre à borracha); em seguida, a criação do primeiro automóvel, em 1885, por Raul Benz, que utilizava pneus de borracha vulcanizada. Essas descobertas impulsionaram a exploração do látex, matéria-prima para a fabricação dos pneus e de vários outros produtos. Nesse período, a região Norte, principalmente o Amazonas, alimentou o sonho de ser o Estado mais rico do País. Isso também atraiu migrantes de várias regiões, principalmente nordestinos que fugiam da terrível seca de 1877-1879, ocorrida no Ceará. Muitos latifundiários, donos dos seringais, adquiriram verdadeiras fortunas. Em Manaus e em Belém, foram construídos belos palacetes; ruas, hotéis e cafés fervilhavam, repletos de banqueiros ingleses, investidores americanos, dentre outros. Porém, essas transformações não atingiram os seringueiros, que permaneciam em condições miseráveis de sobrevivência. Por alguns anos, a borracha brasileira dominou o mercado internacional, até que os ingleses começaram a produzi-la em suas colônias asiáticas por um custo bem menor. Os seringais da Amazônia foram, aos poucos, abandonados. Da época áurea de Manaus e de Belém, restaram algumas marcas, como é o caso do Teatro Amazonas.

Disponível em: <http://seringalguapimirim.com.br>. Acesso em 06 jul. 2010.Seringueiro

Disponível em: <http://manaus1.fi les.wordpress.com>. Acesso em 06 jul. 2010.Teatro Amazonas

Com o desenvolvimento comercial, houve um crescimento da classe média urbana, o que também ocorreu devido ao aumento de funcionários do Estado durante o Segundo Reinado. Com a cafeicultura, surgiu também, em São Paulo, um número grande de ricos cafeicultores, defensores do � m da escravidão e das ideias republicanas. Em 1870, os cafeicultores fundaram o Partido Republicano Paulista (PRP), o que abalou as estruturas do sistema monárquico. O caminho para a República estava sendo traçado. Primeiramente, havia se extinguido o trá� co de escravos com a Lei Eusébio de Queirós de 1850; no ano de 1871, foi aprovada a Lei do Ventre Livre (crianças nascidas após essa data seriam livres); em 1885, foi assinada a Lei do Sexagenário (maiores de 65 anos tornar-se-iam libertos). Por � m, em 1888, foi assinada a Lei Áurea, que libertou todos os escravos. Na área política, durante o governo de D. Pedro II, havia uma união dos republicanos contra o governo. O exército havia conquistado prestígio com a Guerra do Paraguai (1864-1870). O Paraguai, que tinha se tornado República independente em 1811, governado por Solano López, era um país que produzia quase todos os alimentos de que precisava. Tinha, em sua capital, Assunção, uma fábrica de pólvora e de armas, e precisava se desenvolver economicamente, exportando seus produtos. O País, porém, não tinha saída para o Atlântico nem controlava a navegação do rio Paraná, importante para escoamento de produtos de exportação. Com o apoio do capital inglês, o Brasil uniu-se à Argentina e ao Uruguai, a � m de defender parte do território que interessava ao processo expansionista paraguaio.

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15HistóriaEstrangeiros que fizeram o Brasil: os imigrantes

Nesse con� ito, houve milhares de mortes, principalmente de paraguaios; foi realmente uma tragédia. Ao � nal da guerra, havia morrido entre 60 e 70% dos seus habitantes, a maioria homens adultos. O Brasil e a Argentina conseguiram alguns milhares de quilômetros de terras paraguaias, porém perderam homens e se endividaram com a Inglaterra. Durante a guerra, soldados brasileiros conheceram o governo implantado nos outros países: a República. Assim, os militares aderiram às ideias republicanas e positivistas (cuja � loso� a enfatizava que o domínio social e político deveria ser exercido pelos sábios e fortes, e o progresso provinha da ordem: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por � m”) e se voltaram contra o Império. Havia, também, um grande descontentamento popular. A sociedade estava insatisfeita; os cafeicultores, os operários e a classe média desejavam ter sua cota de participação na política. A Igreja entrou em atrito com o governo por causa da maçonaria. No Brasil, vigorava o Regime do Padroado, no qual as determinações papais estavam sujeitas à aprovação do imperador, e, quando o papa desaprovou a maçonaria, o Estado defendeu e apoiou a permanência dos maçons atuando na Igreja Católica e em cargos eclesiásticos. Isso causou grandes problemas entre a Igreja e o Estado, o que levou à separação em 1891 e à extinção do Regime do Padroado. Todos esses pensamentos e mudanças que vinham se disseminando na sociedade geraram uma arte crítica, denominada Realismo. Na literatura, destacou-se Castro Alves, “o poeta dos escravos”, que, apesar de Romântico, denunciou os horrores da escravidão que ainda era mantida no Brasil. Escreveu Navio Negreiro, em meados de 1868, e fundou no País a “poesia engajada”, ou seja, aquela que é escrita em prol de uma causa política e ideológica, procurando conscientizar a população e despertar a contestação. Muitos outros poetas e também cantores continuaram a usar as palavras no século XX para despertar a população para os problemas sociais. Na segunda metade do século XIX, o novo estilo artístico passou a predominar nas produções europeias: O Realismo. Nesse período, o olhar voltou-se para a busca da representação da � el realidade, principalmente as decorrentes do desenvolvimento industrial da época. A Europa vivia a segunda fase da Revolução Industrial — movida pela transformação do ferro em aço, e a substituição do vapor pelo petróleo e pela eletricidade — iniciada na segunda metade do século

XIX e prolongada até as primeiras décadas do século XX. A Revolução Industrial possibilitou o crescimento e o desenvolvimento de cidades industriais, como Londres e Paris; transformou a vida humana; os problemas de urbanização, o abastecimento de água, esgoto e iluminação eram crescentes. O operário vivia sob condições de miséria, e a burguesia enriquecia. O trabalho absorvia a mão de obra de mulheres, de crianças e de homens. Os salários eram baixos, trabalhava-se muitas horas em condições precárias. Isso gerava revoltas e greves. Diante disso, surgem novas doutrinas sociais pregando a criação de uma nova sociedade, sem miséria e igualitária, como enfatizavam August Comte, Mikhail Bakunin e Karl Marx. No Brasil, o Exército, impelido pelo forte ardor republicano, estava insatisfeito com o reinado de D. Pedro II. Fortalecido pelo prestígio que adquiriu na Guerra do Paraguai, tendo como aliados os cafeicultores e liderado por Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889, proclamou a República no País, após um golpe militar que retirou D. Pedro II do trono.

Nesse con� ito, houve milhares de mortes, principalmente de paraguaios; foi realmente uma tragédia. Ao � nal da guerra, havia morrido entre 60 e 70% dos seus habitantes, a maioria homens adultos. O Brasil e a Argentina conseguiram alguns milhares de quilômetros de terras paraguaias, porém perderam homens e se endividaram com a Inglaterra. Durante a guerra, soldados brasileiros conheceram o governo implantado nos outros países: a República. Assim, os militares aderiram às ideias republicanas e positivistas (cuja � loso� a enfatizava que o domínio social e político deveria ser exercido pelos sábios e fortes, e o progresso provinha da ordem: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por � m”) e se voltaram contra o

Havia, também, um grande descontentamento popular. A sociedade estava insatisfeita; os cafeicultores, os operários e a classe média desejavam

A Igreja entrou em atrito com o governo por causa da maçonaria. No , no qual as determinações papais

estavam sujeitas à aprovação do imperador, e, quando o papa desaprovou a No Brasil foi construída a imagem de que Solano López, ditador sanguinário, deveria ser detido a qualquer custo.

aço, e a substituição do vapor pelo petróleo e pela eletricidade — iniciada na segunda metade do século

Monumento a Castro Alves, em Salvador. Há muitos anos, os trios elétricos de Salvador se reúnem, na terça-feira de carnaval, na praça Castro Alves.

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cesso em: 05 jun. 2010.

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