Hoje Macau 22 NOV 2013 #2980

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PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEXTA-FEIRA 22 DE NOVEMBRO DE 2013 ANO XIII Nº 2980 •TRÁFICO HUMANO Juliana Devoy diz que vítimas cooperam pouco PÁGINA 8 • DEPUTADOS CRÍTICOS Responsabilização de dirigentes volta à discussão na AL PÁGINA 4 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB O presidente da Comissão Europeia vem a Macau no âmbito da sua visita à Ásia, onde reuniu com diversos países e regiões. No ano que se comemora o 10.º aniversário da parceria estratégica UE-China, Durão Barroso vê Macau como um território-chave nessa relação, até porque a a UE é o mais importante parceiro comercial da RAEM com 23,6% de quota de mercado. “As nossas relações bilaterais são excelentes.” hojemacau Valores comuns Durão Barroso vem testemunhar as boas relações com Macau PÁGINAS 2 E 3 PUB OLIVER TJADEN EXCLUSIVO • ECONOMISTA SUGERE FISCALIZAÇÃO ÀS CONTAS DOS SUPERMERCADOS DEVERIA AUMENTAR PÁGINA 7

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Edição do jornal Hoje Macau N.º2980 de 22 de Novembro de 2013

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Page 1: Hoje Macau 22 NOV 2013 #2980

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 S E X TA - F E I R A 2 2 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 3 • A N O X I I I • N º 2 9 8 0

•TRÁFICO HUMANO

Juliana Devoy diz que vítimas cooperam pouco

PÁGINA 8

• DEPUTADOS CRÍTICOS

Responsabilização de dirigentes voltaà discussão na AL

PÁGINA 4

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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O presidente da Comissão Europeia vem a Macau no âmbito da sua visita à Ásia, onde reuniu com diversos países e regiões. No ano que se comemora o 10.º aniversário da parceria estratégica UE-China, Durão Barroso vê Macau como um território-chave nessa relação, até porque a a UE é o mais importante parceiro comercial da RAEM com 23,6% de quota de mercado. “As nossas relações bilaterais são excelentes.”

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Valores comuns

Durão Barroso vem testemunhar as boas relações com Macau

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N EXCLUSIVO

• ECONOMISTA SUGERE

FISCALIZAÇÃO ÀS CONTAS DOS SUPERMERCADOS DEVERIA AUMENTAR

PÁGINA 7

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2 hoje macau sexta-feira 22.11.2013ENTREVISTA

GONÇALO LOBO [email protected]

N O ano em que se come-mora o 10.º aniversário da parceria estratégica global União Euopeia-

-China, o presidente da Comissão Europeia destaca uma estratégia comum de cooperação de enorme sucesso que terá continuidade no médio e longo prazo. Em entrevista exclusiva ao HM, José Manuel Du-rão Barroso refere o papel “espe-cial” de Macau enquanto parceiro comercial - congratulando-se pela criação da Câmara de Comercio Macau-UE -, mas também pela “combinação cultural e linguís-tica” que permite à RAEM ser a ponte entre Ásia e Europa, e a China e o mundo lusófono.

Como é que estão as relações en-tre a União Europeia e a China? Acabei de participar na 16.ª Cimeira entre a União Europeia (UE) e a China, em Pequim. Foi a minha 10.º Cimeira com a China. E posso considerar o resultado francamente satisfatório. Este ano, celebramos o 10.º aniversá-rio da parceria estratégica global UE-China e ao longo destes 10 anos a nossa relação bilateral tem crescido de uma forma espantosa. Em conjunto, a UE e a China representam mais de um quarto da população do mundo. Seis milhões de pessoas viajam todos os anos entre a UE e a China, três vezes mais do que em 2003. Nos últimos 10 anos a UE tornou-se também o maior parceiro econó-mico da China e em 2012 as nos-sas trocas comerciais atingiram os 433,8 mil milhões de euros (4.595,48 biliões de patacas, ao câmbio actual), o quádruplo de há dez anos. Esse crescimento tem sido fundamental para a criação de empregos e de oportunidades de negócio em ambos os lados.

O que é que a China pode trazer de positivo à Europa e vice--versa?A Cimeira não se limitou a cons-tatar o muito que tem sido feito. Também lançamos as bases para a nossa cooperação futura através da “Agenda UE- China 2020”, uma estratégia comum de coo-peração de médio e longo prazo,

DURÃO BARROSO, PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA,COM AGENDA BILATERAL PREENCHIDA

“Esta visita a Macaué muito oportuna”

o que eleva as nossas ambições e expectativas, tanto em termos de visão estratégica e de compromis-sos concretos.

E que compromissos são esses?Além do comércio, um assunto da maior importância, temos traba-lhado intensamente nas áreas da inovação, agricultura e mobilidade de pessoas. Pretendemos continuar a facilitar um maior intercâmbio entre europeus e chineses, em particular no quadro dos progra-mas Erasmus+, Horizonte 2020 e Europa Criativa. Numa relação tão interdependente como a nossa, há sempre espaço para aprofundar e diversificar a nossa cooperação. A UE é um dos cinco maiores inves-tidores na China, mas os números ainda são baixos para o nosso verdadeiro potencial. Precisamos de aumentar esses números, bem como incentivar mais investimen-tos da China para a EU e um melhor acesso do investimento europeu à China. Por isso acabámos de lançar as negociações para um acordo de investimento.

Grandes parceiros estratégicos, portanto.Claro que, enquanto parceiros es-tratégicos a nível global, temos um enorme interesse em trabalhar de forma mais estreita na resolução de problemas globais. Por exemplo, no quadro do G20 e da Organiza-ção Mundial do Comércio, e no quadro das negociações sobre as alterações climáticas pós-2015 onde a posição chinesa é muito importante. Estou convencido de que a nossa Parceria Estratégica

vai continuar a ser uma fonte de prosperidade e estabilidade para a União Europeia, para a China e para o mundo.

Qual o papel de Macau na re-lação da União Europeia e da China?Esta visita culmina uma sequência de reuniões e cimeiras que tivemos nestas últimas duas semanas com países asiáticos (as Cimeiras com a Coreia, com a China e com o Japão, e a minha visita à Mongólia e a Hong Kong) que demonstram bem o empenho da UE em man-ter relações estreitas com esta importante região do mundo. E naturalmente que no centro destas relações está a nossa cooperação com a China, Macau e Hong Kong. Enquanto Presidente da Comissão Europeia tenho procurado manter esta relação com Macau bem pre-sente e dinâmica. Visitei a região em 2005, já como Presidente da Comissão e o ano passado recebi o Chefe do Executivo em Bru-xelas. Macau é uma plataforma, mais, é uma ponte entre a China e a Europa.

Esta passagem pela RAEM é, por isso, obrigatória.É muito oportuna. Venho a Macau com uma intensa agenda bilateral. Durante a minha visita vamos comemorar o 20.º aniversário do acordo de comércio e cooperação entre Macau e a União Europeia. No início dos anos 90, enquanto Ministro dos Negócios Estrangei-ros de Portugal, estive envolvido de forma muito próxima no lança-mento deste acordo e também nas negociações para a transição de soberania. É por isso com imensa satisfação que vejo que este Acordo funciona e que tem sido uma pedra basilar na relação de Macau com a Europa e que constato também que a Lei Básica continua a ser respeitada.

Tudo corre sobre rodas entre Macau e a UE.As nossas relações bilaterais são excelentes - e espero que a minha visita o testemunhe! Temos va-lores comuns, e profundas raízes históricas e culturais comuns, mas estamos dispostos a expandir a nossa cooperação a novas áreas nas quais temos interesses comuns,

como a cooperação académica, ambiental, institucional e ainda na diversificação económica de Macau.

Está também prevista a criação da Câmara de Comercio Macau--UE.A União Europeia é o mais im-portante parceiro comercial de Macau com 23,6% de quota de mercado. Estou por isso muito

satisfeito que seja lançada por oca-sião desta minha visita a Câmara de Comércio Macau-UE. Vamos assinar também um Acordo de Serviços Aéreos, um marco im-portantíssimo no desenvolvimento das nossas relações aeronáuticas que vai contribuir positivamente para fortalecer os laços regionais entre a União Europeia e o Sudeste Asiático e, por fim, vamos manter o Programa Académico UE-Macau,

O que torna Macau especial e única é precisamente esta combinação cultural e linguística. É esta ponte entre a Europa e a Ásia, entre a China e o mundo lusófono

A UE é um dos cinco maiores investidores na China, mas os números ainda são baixos para o nosso verdadeiro potencial. Precisamos de aumentar esses números, bem como incentivar mais investimentos

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A União Europeia é também o mais importante parceiro comercial de Macau com 23,6% de quota de mercado. Estou, por isso, muito satisfeito que seja lançada por ocasião desta minha visita a Câmara de ComércioMacau-UE

3 entrevistahoje macau sexta-feira 22.11.2013

PERFILJosé Manuel Durão Barroso, 57 anos, é um político e professor português, actual presidente da Comissão Europeia, cargo que ocupa desde Novembro de 2004. Em Portugal, foi sub-secretário do Ministério dos Assuntos Internos, em 1985, e ministro dos Negócios Estrangeiros em 1992. Entre 2002 e 2004, ocupou o cargo de primeiro-ministro da República Portuguesa. A 23 de Novembro de 2004, Durão Barroso assumiu as funções de Presidente da Comissão Europeia, tendo sido reconduzido no cargo em Novembro de 2009, após ter sido reeleito pelo Parlamento Europeu a 16 de Setembro.

o intercâmbio de estudantes e a cooperação nos sectores cultural e audiovisual.

Voltando às relações com a Chi-na. Nas últimas décadas a mão--de-obra barata têm incentivado o investimento europeu. Uma vez que a tendência desse fenómeno é de acabar, que outras formas de cooperação prevê para o futuro?A UE é o maior parceiro comer-cial da China e a China é o segun-do maior parceiro comercial da UE. A nossa relação económica é uma das traves mestras do comér-cio mundial e tem acompanhado o desenvolvimento e afirmação da China enquanto potência económica mundial. Trata-se também de uma relação em cons-tante movimento, adaptando-se à

evolução das nossas economias e às diferentes necessidades do momento.

Em que aspectos?Por exemplo, a China tem de-monstrado um especial interesse em tornar a sua economia mais sustentável e mais “verde”, e em encontrar soluções para os desafios da urbanização maciça. Isto também oferece muitas oportunidades para a UE, designadamente na utilização de tecnologias na construção de cidades eficientes que ofereçam uma maior qualidade de vida aos seus habitantes; e pode abrir novas oportunidades de negócios para as empresas da UE. A nossa parceria para a urbanização sustentável, que lancei o ano passado com o Primeiro-Ministro Li Keqiang em Bruxelas, é uma excelente plata-

forma para o desenvolvimento desta cooperação. A mensagem é que a União Europeia é também o principal parceiro da China para novas fases de desenvolvimento futuras.

A UE ainda não vende armas à China desde o massacre de Tia-nanmen. Há progressos?Não houve alteração relativamente à posição da parte dos Estados mem-bros da União Europeia nessa matéria.

Comunidade portuguesa de Ma-cau. Enquanto português, mas porque não enquanto dirigente máximo da UE, como vê o papel desta comunidade?A diversidade linguística de um povo é de uma enorme importância civi-lizacional e cultural. Nós, na União Europeia temos 24 línguas oficiais, que tratamos de igual forma. As lín-guas são o que nos distingue enquanto países, enquanto sociedades com histórias e culturas muito particula-res. Mas, ao mesmo tempo, são as pontes com os outros e com as outras regiões do globo. O que torna Macau especial e única é precisamente esta combinação cultural e linguística é esta ponte entre a Europa e a Ásia, entre a China e o mundo lusófono. A própria estratégia de crescimento e diversificação económica de Macau está assente na sua especificidade e parece-me muito bem que assim seja.

O Português ser língua oficial da RAEM continua a valer a pena?A União Europeia tem apoiado de forma consistente a utilização da língua portuguesa em Macau, uma língua europeia. Por exemplo, através do programa Formação de intérpretes Chinês-Português. Esta-mos também a trabalhar no quadro do sistema jurídico de Macau, que é amplamente baseado no Direito por-tuguês. As actividades que apoiamos incluem o intercâmbio académico, a produção de publicações relevantes e formação profissional de quadros especializados.

Como é que vê o papel de Macau, enquanto plataforma, no âmbito da Lusofonia, CPLP e Fórum Macau?O Português é uma das línguas oficiais da União Europeia, do Mercosul, da União de Nações Sul-Americanas, da Organização dos Estados Americanos, da União Africana e dos Países Lusófonos. Macau tem o privilégio de conciliar uma história, uma cultura e uma língua de matriz europeia com uma localização geográfica singular, no seio de umas das mais prósperas economias do Mundo. Acredito que o papel de Macau beneficia todas as partes. Para os europeus serve de ponte para a China; e para a China, tem capitalizado as relações chinesas com três áreas estratégicas: África, Europa e América Latina. O Fórum de Macau é justamente uma iniciativa que concilia todas estas vertentes e que tem tido um assinalável sucesso.

OLIVER TJADEN

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4 hoje macau sexta-feira 22.11.2013POLÍTICA

Autocarros Florinda Chan esclarece que não está a estudar relatório do CCAC

Autocarros Ng Kuok Cheong pede audição sobre violações da lei em plenário

Florinda Chan promete actualização salarial para magistrados O Governo assegura que está a estudar a actualização salarial dos magistrados e assegura que “muito em breve entregará uma proposta” à Assembleia Legislativa. O problema da falta de actualização salarial destes funcionários foi levado ao plenário por Song Pek Kei, que relembrou que há cerca de dois anos que estão prometidos estes estudos. Em Novembro de 2011 e durante o debate das Linhas de Acção Governativa (LAG), a secretária para a Administração e Justiça, já tinha prometido aos deputados que seriam feitos “estudos” sobre a revisão dos salários dos magistrados em 2012. A actualização não acontece porque estes ordenados estão indexados aos do Chefe do Executivo, não recebendo aumentos como os da restante função pública. Ontem, ficou prometida uma proposta para breve.

Académicosna Comissãoque estuda saláriosda função pública A Comissão de Avaliação das Remunerações da Função Pública vai ter novos membros. O anúncio foi feito ontem pela secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, que assegura que a Comissão está a funcionar. Implementado para estudar as actualizações dos vencimentos dos funcionários da Administração, este grupo tem sido criticado pelos deputados por não apresentar medidas concretas que permitam uma actualização salarial automática. Florinda Chan diz que o problema reside num “desequilíbrio” entre as partes que dele fazem parte, que são representantes do Governo e das Associações de Trabalhadores da Função Pública. “Vamos tentar reestruturar a comissão, para introduzir mais académicos e especialistas, de forma a que as suas opiniões sejam ouvidas.”

AL GOVERNO CRITICADO POR FALTA DE REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO DE DIRIGENTES

Avaliações dentro de portasJOANA [email protected]

F LORINDA Chan considera que já existem diplomas que prevêem a responsabiliza-ção dos principais cargos.

A secretária para a Administração e Justiça falava em resposta aos deputados, ontem, na apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a sua tutela.

Os membros do hemiciclo questionaram a responsável sobre a responsabilização dos dirigentes do Executivo, tendo em conta que há um regime à espera de ser im-plementado desde o ano passado. “Todos os governantes, para além de assumirem a responsabilidade civil, penal e administrativa, tam-bém têm normas de avaliação e os outros deveres”, começou por justificar Florinda Chan, dando o exemplo da Lei de Disposições Fundamentais do Estatuto do Pessoal de Direcção e Chefia, que versa sobre a apreciação do desempenho desses funcionários.

A secretária assegura que os regimes para a responsabilização estão a ser implementados “passo a passo” e relembrou que o Chefe do Executivo já publicou este ano um despacho que prevê as normas para o Regime de Avaliação de Desempenho dos dirigentes. Este regime, contudo, é mantido em segredo. “O secretário da tutela [a que o funcionário avaliado perten-ce] é submetido ao Chefe do Exe-cutivo. O dirigente avaliado tem de ter conhecimento do resultado da avaliação, mas esse relatório é confidencial, é uma relação entre a tutela e o Chefe do Executivo.” Mas, se Florinda Chan considera que essa avaliação é suficiente –

uma vez que pode haver prémios em caso de avaliação positiva ou até censuras ou cessação das funções, no caso negativo, já os deputados criticam esta escolha.

SECRETISMOS“Na equipa de Governação existem muitos problemas. Os resultados da avaliação desses dirigentes podem afectar a população, mas quais são os critérios ou padrões para essa avaliação? O público não sabe. Tal como não sabe se os resul-tados são negativos ou positivos ou sequer se o regime está a ser aplicado. Já o ano passado se falou na implementação deste regime [de responsabilização], mas não estou a ver o que foi feito este ano”, atirou Au Kam San. O deputado da bancada democrata voltou a falar no chamado ‘caso das cam-pas’, para referir que o facto de o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais estar sob a tutela de Florinda Chan – e ter sido levado a tribunal – deveria merecer respon-sabilização da secretária. Mas não

se fica por aí. “Existem diversos problemas com as concessões públicas. É uma catástrofe. Veja-se o modelo de autocarros e, antes, a Viva Macau. O Governo faz as concessões cheias de defeitos e à porta fechada, quando as conces-sões públicas deviam ser debatidas na Assembleia Legislativa.”

Florinda Chan assegura que após os relatórios do Comissariado contra a Corrupção ou do Comis-sariado de Auditoria, as instruções de melhoria são reforçadas. “Por outro lado, se houver ilegalidades há um regime próprio para essas situações. Em relação ao caso dos autocarros temos de estudar melhor e definir medidas para essa situação. Mas já se elencam exi-gências em relação aos dirigentes.” A secretária assegura ainda que o facto de existirem problemas com os contratos de concessões “não significa que não se teve por base a lei”. Au Kam San não ficou satisfeito com as respostas, atiran-do que é preciso uma “avaliação a sério, porque os cargos devem

ser desempenhados por quem tem competência”.

SUGESTÕES A maioria dos intervenientes de ontem no debate com Florinda Chan não deixou escapar a questão da responsabilização dos dirigen-tes. Si Ka Lon foi outro dos que colocou o dedo na ferida, referindo que os directores dos organis-mos públicos até podem não ser responsabilizados, uma vez que nada sai cá para fora. Dando como exemplo os apagões da CTM e os problemas com a TV Cabo e os anteneiros, o deputado quis saber se antes de qualquer promoção na carreira, serão tidos em conta os dados da avaliação aos dirigentes. À semelhança de Au Kam San, também o número dois de Chan Meng Kam referiu a necessidade de se tornarem públicos os dados de avaliação do desempenho, que agora são secretos.

Também Chui Sai Cheong deixou a sugestão de que fossem implementadas outras políticas de incentivo aos funcionários públi-cos, que não a actual atribuição de prémios, e criticou o que diz ser “falta de dialogo entre os subor-dinados e o pessoal de direcção e chefia”. A estes casos foi José Chu, director dos Serviços de Administração e Função Pública, quem respondeu, garantindo que tudo isto vai ser tido em conta. “Na altura da nomeação para comissões vai ser avaliado o desempenho [dos directores]. Se alguém tirar excelente pode encurtar o tempo de promoção na carreira e ainda ter férias extra”, referiu ainda sobre a hipótese de novos incentivos aos funcionários públicos. O debate continua hoje.

A secretária para a Administra-ção e Justiça, Florinda Chan,

não está a estudar o relatório emi-tido pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre as recentes violações da lei no novo modelo de autocarros. A respon-sável quis, ontem, no plenário, esclarecer a situação, depois de, esta semana, Lau Si Io ter dito que o relatório estava a ser estudado pela colega, a pedido de Chui Sai On. “O Chefe do Executivo não pediu para efectuar uma investigação ou estudo sobre o relatório. As competências do CCAC permitem que que o orga-nismo possa emitir directamente

instruções aos serviços públicos. Depois do relatório, o Chefe do Executivo pediu ao secretário Lau Si Io para acompanhar o assunto. A mim, foi dito pelo Chefe do Executivo que o meu gabinete se pronunciasse sobre a matéria jurídica, que elaborasse um parecer jurídico.”

A secretária assegura que os trabalhos dessa análise jurídica estão a ser feitos e que, poste-riormente, serão entregues os resultados a Chui Sai On, mas não esclareceu se o líder do Exe-cutivo está à espera deste parecer para arranjar uma solução para o caso. - J.F.

NG Kuok Cheong pediu ontem que o recente caso dos autocarros

viesse a ser discutido na Assembleia Legislativa (AL). Numa intervenção no plenário, onde Florinda Chan apresentava as Linhas de Acção Go-vernativa (LAG) da sua tutela para o próximo ano, o deputado da ala de-mocrática disse que tanto a secretária para a Administração e Justiça, como Lau Si Io, secretário para as Obras Públicas e Transportes, deviam ser substituídos em 2014. A vontade de Ng Kuok Cheong já não é novidade, mas ontem o deputado frisou que, só com a saída destes responsáveis, “é que se iam, efectivamente, imple-mentar acções”.

Ng Kuok Cheong trouxe ao plenário as recentes críticas do Comissariado contra a Corrupção à Direcção dos Serviços para os As-suntos de Tráfego (DSAT) e o caso das campas – que levou Raymond Tam, do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, a ser arguido em tribunal, mas ilibou Florinda Chan de qualquer acusação - como exemplo para o que diz ser a fraca competência destes dois secretá-rios. “Devia haver um mecanismo imparcial para a investigação [deste tipo de casos] e eu vou entregar alguns documentos ao presidente da AL para pedir uma audição na AL sobre o caso da DSAT.” - J.F.

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CONTAS FEITAS NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

5 políticahoje macau sexta-feira 22.11.2013

JOANA [email protected]

O S deputados acredi-tam que há dema-siados funcionários na Administração

Pública. Perante Florinda Chan, secretária para a Administração e Justiça - que ontem esteve na As-sembleia Legislativa -, os membros do hemiciclo acusaram o Executi-vo de permitir um “empolamento da máquina administrativa”, uma crítica que já não é nova.

É a sobreposição de funções que mais preocupa os deputados. Chan Meng Kam não poupou nas palavras e fez notar que os fun-cionários cujo trabalho não está a ser bem desempenhado passam a outra categoria ainda dentro da Administração. “Como é que se pode reduzir a actual estrutura da Administração? Um director passa a assessor quando se registam fa-lhas e isso vai continuar no futuro. A função do assessor é pouco clara, então os secretários vão ter cada vez mais assessores.” Recorde-se que, recentemente, houve um caso semelhante ao exemplo dado por Chan Meng Kam, quando Tou Veng Keong – então director dos Serviços de Regulação das Teleco-municações – passou a ser assessor das Obras Públicas.

A secretária não quis deixar passar a questão de Chan Meng Kam em branco e diz que, apesar de estar definido por regulamento o número máximo de assessores, há uma ressalva: se o secretário entender que deve aumentar o pessoal, então tem de entregar uma proposta detalhada e “fundamentos suficientes” para isso. Essa decisão de um secretário ter ou não mais assessores passa a ser, então, to-mada pelo Chefe do Executivo.

F OI uma promessa deixada já nas Linhas de Acção Governativa (LAG) de 2011, mas nunca aconteceu: a implementação de um

regime centralizado de produção legislativa. A ideia era aumentar a eficácia da criação de leis e acelerar esse processo, que os deputados se queixam de ter muitos problemas.

Ontem, a questão não faltou no debate entre os membros do hemiciclo e a secretária para a Administração e Justiça, que se deslocou à AL para apresentar as LAG do próximo ano para a sua tutela. As críticas não tardaram. “Fiquei decepcionada com as LAG, sobre a eficácia na execução da lei não dizem nada”, desabafou Kwan Tsui Hang. “Há tantos assessores nos de-partamentos do Governo que as interpretações da lei são diferentes e não há coordenação na

produção legislativa.” Também Kou Hoi In se juntou à colega, para referir que, se a apresen-tação de propostas de lei continuar a depender de cada serviço público, então “os trabalhos não vão melhorar”. O deputado diz que o melhor seria “um mecanismo de produção global” e a ele juntaram-se outros. “A produção legis-lativa precisa de um plano”, atirou Chui Sai Cheong. “Estamos com algumas deficiências, não há coordenação [na feitura das leis] e falta acompanhamento pelos serviços competentes. Deveria implementar-se o sistema de produção centralizada de legislação.”

Este é um pedido que já vem a ser feito há algum tempo, principalmente por causa dos atrasos na entrega das propostas de lei pelo Governo, nas mudanças constantes feitas pelo

Executivo a leis que já foram analisadas pelos deputados e ainda por serem constantemente apresentadas leis fora do planeamento inicial. Ainda assim, não deverá ser para breve que um regime centralizado venha a ser implementado. “Temos de estudar e vamos pedir ao Chefe do Executivo para que seja tido em conta esses pedidos. Não temos condições para uma pro-dução legislativa centralizada, há que estudar a matéria porque traz muitas dificuldades, uma vez que cada área tem a sua própria definição de políticas.”

Apesar do manifesto desagrado dos de-putados, Florinda Chan deixou no ar alguma satisfação. “A produção de leis entre o Governo e os deputados curou-se de sucesso, fizemos 150 leis.” – J.F.

• Há 45 conselhos consultivos em Macau e 42 membros que represen-tam o Governo em diversos deles

• Existem 59 directores nos diversos organismos do Governo

• Cerca de 140 países e regiões reconhecem sentenças ditadas por tribunais de Macau

• Macau tem 184 jardins e par-ques, sendo que 60 têm zona para crianças

• 7605 é o número de funcionários públicos prontos para se aposenta-rem até 2020

• Os serviços de segurança recebe-ram um reforço de 46% no número de funcionários, enquanto a área dos serviços sociais e culturais viu o seu numero de trabalhadores aumentar em 63%

• Há 20 funcionários públicos por cada residente

Directores que passam a assessores quando algo falha, novos serviços públicos, mais funcionários e sobreposição de funções. Estes são alguns dos principais problemas levados pelos deputados à presença de Florinda Chan, quando a secretária apresentou as LAG para a sua tutela na AL

FUNÇÃO PÚBLICA DEPUTADOS CRITICAM “EMPOLAMENTO DA MÁQUINA ADMINISTRATIVA” E ACUSAM FALTA DE REGRAS NOS SERVIÇOS PÚBLICOS

“Secretários vão ter cada vez mais assessores”

CONTRATOS REVISTOSE MAIS SUBSÍDIOS NA CALHA Florinda Chan assegurou ontem que está a ser estudada a revisão dos contratos de trabalho e que isso pode acontecer já no próximo ano. Na reunião plenária de ontem, a secretária para a Administração e Justiça disse ainda que o Governo está a analisar a implementação de outros subsídios de apoio aos funcionários públicos e que “uma proposta de lei será entregue à AL” o quanto antes. “Será que se deve adoptar a forma de subir pontos no índice salarial para definir subsídios? Estamos a estudar um rumo neste sentido.”

CRITICADA FALTA DE REGIME CENTRALIZADO PARA FAZER LEIS, PROMETIDO EM 2011

“Não temos condições para uma produção legislativa centralizada”

“Um director pode cessar a sua comissão de serviço como director, isso não está relacionado com uma sanção disciplinar. O secretário já disse que a [transferência de Tou Veng Keong] foi uma questão de mobilidade normal. Há base legal para isto. Agora, se a mobilidade foi adequada ou não, a entidade tutelar é que deve saber.”

NECESSÁRIOS E CONTROLADOSDesde a implementação da RAEM que o número de funcionários foi subindo, sendo agora de 29.598. Florinda Chan diz que o crescimento está relacionado com a quantidade de turistas, o aumento do PIB e a visão de Macau como plataforma e centro de lazer e afirma que as pes-soas que trabalham no Governo são necessárias. “Medidas para reduzir o número de pessoal? Há. Ao nível de recrutamento não se pode ultra-passar um determinado número, mas

não podemos eliminar totalmente o crescimento [de funcionários] se há necessidades”, ripostou. A secretária deu o exemplo actual, onde se prevê a entrada de mais pessoas na área da segurança e em carreiras especiais, como médico e enfermeiros, e disse ainda que tem de se pensar que há

funcionários prontos para a aposen-tação. “Nós controlamos com rigor o pessoal”, respondeu a Chan Hong, que disse que o Governo não tinha normas para controlar a quantidade de funcionários públicos contratados. “Quando saem uns, entram outros. Os serviços fazem previsões sobre os que se vão aposentar, por exemplo até 2020 cerca de 7605 têm condições [para o fazer]. Quando há saídas, permitimos crescimento e quando os serviços têm novas funções (como o IACM com o novo Centro de Segu-rança Alimentar) também temos de contratar.”

As respostas, contudo, não satisfizeram os deputados, que continuaram a insistir que há de-masiados serviços e trabalhadores

e recordam os encargos que isto exige. “As despesas dos serviços públicos aumentam significativa-mente e, uma vez subindo, depois é difícil parar”, disse Chan Meng Kam. “A sobreposição de funções nos serviços públicos é visível.”

A secretária descarta, contudo, problemas a este nível e diz que a despesa com o pessoal do Governo é “controlada a um nível adequa-do”. O debate das LAG para a tutela da Administração e Justiça continua hoje.

AL GOVERNO CRITICADO POR FALTA DE REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO DE DIRIGENTES

Avaliações dentro de portas

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DROGAEM NÚMEROS

6 hoje macau sexta-feira 22.11.2013SOCIEDADE

A Lei de combate à Droga dá a possibili-

dade de toxicodependentes cumprirem pena suspensa. O caminho, em oposição ao cumprimento de pena de prisão, passa pelo inter-namento em programas de desintoxicação.

Desde Dezembro de 2009, data de aplicação da legislação vigente, 408 pessoas escolheram o tra-tamento e foram, por isso, transferidas do sistema

judiciário para o centro de desintoxicação. Os núme-ros foram ontem divulga-dos pelo Departamento de Prevenção e Tratamento de Toxicodependentes do Instituto de Acção Social (IAS). No entanto, os dados não foram discriminados por ano, pelo que não é conhecida se há uma tendência de aumento ou diminuição destes casos.

Os utentes, que cum-prem o tratamento, são

também sujeitos ao pro-grama de aplicação de metadona. E, neste caso, há mais pessoas a frequentar este apoio à desintoxica-ção, fornecido pelo IAS, na Consulta Externa do Complexo de Apoio à Toxicodependência, junto ao hospital São Januário. “Nos primeiros 10 meses deste ano, o número ultra-passou o total de casos do ano passado, num total de 564. Mas apenas 97 destes

são considerados novos, os restantes são pedidos repetidos ou situações de continuidade”, esclarece a chefe de divisão Lei Lai Peng.

Na página online do IAS, é possível apurar ainda que 487 são utentes masculinos e 77 femininos. A maioria de casos novos são também homens (85) contra 12 mulheres. Os grupos etários onde se concentra maior número

de casos são adultos entre os 45 e 59 anos (24%) seguidos de jovens entre os 20 a 24 anos (18%). Há ainda 289 casos de tipo opiáceo. Lei referiu ainda que no ano passado houve 448 casos e, no início, em 2009, havia 434 utentes.

Sobre uma possível abstenção obrigatória, o IAS diz que existem opini-ões divergentes no seio da Comissão de Luta Contra a Droga.

436 toxicodependentes

+ 23,5% do que em 2012*

19,7% mulheres (-4,7% do que 2012*)

50,7% com registo criminal

30,6% consumo de Heroína

29,1% consumo de Ketamina

21,8% consumo de Metanfetamina

2,9% consumo de Cocaína

2,7% Consumo de Triazolam

6,682 patacas de média de despesa com drogas (+13,9% em 2012*)

39,7% consome em casa (-11,1% em 2012*)

*comparação com período homólogo

ALUNOS E ENCARREGADOS RECEBEM SMS DE ALERTAO IAS enviou cerca de 900 mensagens telefónicas - metade para jovens e a outra metade para os encarregados de educação - de alerta para fiquem fora do mundo das drogas. O trabalho é feito em colaboração com as forças policiais. “É um trabalho realizado no âmbito do trabalho de abstenção para que estejam sempre alertados sobre os efeitos malignos que as drogas podem provocar”, explica Lei Lao Peng.

Não há consenso para preparação de uma revisão à lei de combate à droga. Uma das situações de divergência entre os membros da Comissão de Luta contra a Droga prende-se com agravamento da responsabilização penal do traficante e do consumidor de estupefacientes. Há apenas um ponto de acordo comum: introduzir de forma célere e recorrente novas drogas à lista de produtos ilícitos

COMBATE À DROGA COMISSÃO SEM CONSENSO SOBRE AGRAVAMENTO DE PENAS

Revisão longe da vistaRITA MARQUES [email protected]

A data de conclusão para recolha e estudo de opiniões não está tão próxima como se pre-

via. Mais longe ainda está um con-senso que sustente a formulação de um revisão à Lei de Proibição da Produção, do Tráfico e do Consu-mo Ilícitos de Estupefacientes e de Substâncias Psicotrópicas, que data de finais de 2009. Ou seja, é pouco realista considerar que have-rá trabalho conclusivo até ao final do ano como indicou o Instituto de Acção Social (IAS).

Da 2.ª sessão plenária da Co-missão de Luta contra a Droga, que decorreu ontem de manhã à porta fechada, saiu a incapacidade de consenso. Os motivos da discórdia prendem-se com pontos ligados à legislação, nomeadamente, o agravamento da responsabilização penal do traficante e do consumidor de estupefacientes, no reforço da estimulação da desintoxicação vo-luntária, na introdução de medidas de suspensão do processo judicial e da criação de juízos específicos

para os casos de droga. “É um desafio para esta comissão [chegar a um consenso no sector]. Ainda não temos nenhuma conclusão sobre as diferentes alternativas que encontrámos. Temos de es-tudar para encontrar as melhores soluções”, avalia Hon wai, chefe de departamento de prevenção e tratamento da toxicodependência do IAS, sem se comprometer com novo calendário. Ao mesmo tempo, indica, é preciso fazer a

Incriminados por consumo de droga escolheram a via da desintoxicação

comparação do regime jurídico de combate à droga com os das regiões vizinhas.

No entanto, há uma avaliação feita pelo Grupo de Trabalho para a Execução e Acompanhamento da Lei de Combate à Droga que reco-nhece o efeito positivo de algumas medidas implementadas após a en-trada em vigor da lei. Por exemplo, enumera Hon, a desintoxicação no período da pena suspensa [ver texto abaixo], o programa de aplicação de

ANÁLISES À URINA NAS ESCOLAS NÃO AVANÇAMA detecção dos jovens consumidores de drogas não vai passar pela implementação de análises à urina nos estabelecimentos de ensino. “Desde que Hong Kong aplicou esta medida não conseguiu detectar nenhum caso. Macau não vai adoptar esta medida, sobretudo, tendo em conta os resultados alcançados pela região vizinha”, refere Hon Wai.

metadona, o impulsionamento do controlo eficaz das pré-substâncias químicas para a produção de estu-pefacientes, o serviço extensivo ao exterior de apoio aos jovens que abusam de drogas e a criação do programa de recolha de seringas.

Para já, há algumas questões com prioridade que merecem aten-ção geral: a integração de novos tipos de droga no mapa anexo à lei. “É um processo que tem de ser agilizado porque só havendo uma actualização da lista de drogas [ilícitas] na lei poderemos actuar. O processo é sempre mais longo do que o lançamento de novos

produtos de droga no mercado. Temos de acompanhar esse ritmo”, lembra o responsável.

E há uma medida a concretizar: o reforço do intercâmbio e da coo-peração com as comissões de luta contra a droga das regiões vizinhas para explorar estratégias conjuntas.

NOVO CONSUMO, EM CASA,É MAIS PERIGOSOAqui entram os novos dados de consumo de droga referentes ao primeiro semestre deste ano. O Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau dá conta de que se tem registado uma subida contínua da percentagem relativa aos jovens que consomem “Ice”, em 52,6%, enquanto que o valor de consumo da Ketamina baixou para os 29,8%. “O Ice está mais na moda para os jovens. Substitui outros medicamentos como a Ketamina, que estava numa situação mais grave. Agora é o Ice. A Ketamina causa tonturas mas o efeito maligno não é tão grave como o Ice porque a primeira causa diferentes sentimentos psicológi-cos agravantes e incita à violência dos consumidores”, explica o chefe de departamento.

Por outro lado, o acréscimo contínuo da percentagem relativa ao consumo de drogas no domicí-lio [ver tabela] revela que Macau está a propiciar uma “tendência para o consumo clandestino, que pede a atenção da sociedade e, em especial, dos encarregados de educação”, salienta Hon.

(1.º semestre de 2013)

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7hoje macau sexta-feira 22.11.2013

ANDREIA SOFIA [email protected]

N A hora de encher a despensa, qual o super-mercado mais barato para se fazer compras?

Segundo uma lista do Conselho de Consumidores (CC), relativa a Outubro último, os supermercados da cadeia Tai Fung, localizados no Caminho das Hortas, rua Chiu Chau, na Taipa, edifício La Baie du Noble, rua Praia do Manduco e Fai Chi Kei, são os que possuem o maior número de produtos baratos de entre um total de 92 supermercados.

O supermercado New Horse, na Rua da Praia do Manduco, consta na quarta posição.

As cadeias de supermercados mais conhecidas, como o Royal, Park n’ Shop e San Miu só come-çam a surgir a partir do 9.º lugar. O San Miu situado no NAPE é o mais caro de toda a cadeia, tal como o Royal localizado no Yue Xiu Gardens. O Park n’ Shop de Pou Seng é o mais caro.

Já o supermercado Bem-vindo, perto do Colégio Dom Bosco, está em 22.º lugar. O Seng Chong, si-tuado junto ao edifício residencial Taipa Oceano, está em 25.º. O mais caro é o San Fa Seng, situado na

Inflação em 5,51%

A taxa de inflação em Macau nos 12 meses terminados

em Outubro contra os 12 me-ses imediatamente anteriores fixou-se em 5,51% devido a aumentos verificados nas componentes de habitação e combustíveis e bebidas alco-ólicas e tabaco, foi anunciado.

Dados relativos ao Índice de Preços no Consumidor no mês de Outubro salientam que o aumento dos preços nas secções “habitação e combus-tíveis” e “bebidas alcoólicas e tabaco” no período em análise registaram uma subida de, res-pectivamente, 9,58% e 8,87%.

Em sentido inverso es-tavam os preços da “educa-ção” e das “comunicações” que caíram, respectivamente, 2,26% e 2,20%, acrescentam os mesmos dados.

Face a Outubro de 2012, os preços em Macau registaram uma subida de 6,18% “im-pulsionados” pelo aumento do custo das “refeições adquiridas fora de casa, das rendas de casa e dos produtos hortícolas”, sublinha a nota dos Serviços de Estatística de Macau.

É que, acrescenta o docu-mento, entre Outubro de 2012 e o mesmo mês deste ano, os preços da “habitação e com-bustíveis” subiram 12,88%, da saúde 6,93% e dos produtos alimentares e bebidas não al-coólicas 6,70%. “Tais subidas deveram-se ao aumento das rendas de casa, dos preços do gás de petróleo liquefeito, do preço dos produtos hortíco-las, dos preços das refeições adquiridas fora de casa e das consultas externas”, refere a nota.

Em queda estiveram os pre-ços na secção de comunicações com uma queda de 2,54%.

Em termos mensais, de Setembro para Outubro, os pre-ços em Macau subiram 0,15% com os preços do “vestuário e calçado” e da “habitação e combustíveis” a subirem, res-pectivamente, 1,42% e 0,86% devido aos aumentos dos pre-ços de vestuário de inverno e das rendas de casa.

O Governo poderia obrigar esses supermercados a terem a contabilidade registada e a controlar as suas contas, para declararem os lucrosALBANO MARTINS economista

Dentre 92 supermercados, o Tai Fung é o que tem o maior número de produtos baratos, aponta uma lista do Conselho dos Consumidores. Albano Martins diz que preços poderiam ser mais controlados se Governo tivesse mão na contabilidade dos comerciantes e diz que há sérios riscos de haver acordo sobre preços, o que é proibido em muitos países

SUPERMERCADOS ECONOMISTA DEFENDE QUE FISCALIZAÇÃO DO GOVERNO DEVIA AUMENTAR

Tai Fung é o mais barato

Taipa Hoi Yee. O Vang Kei ou Tai Chon também está entre os mais caros.

Ao HM, o CC explicou que os cereais, enlatados, temperos, produtos de utilização diária, guar-danapos ou produtos de higiene, são os mais baratos no Tai Fung, comparando com outros locais.

No total, foram analisadas 13 categorias de produtos em 92 supermercados, o que gerou uma base de dados com 340 preços.

PREÇOS E ZONAS DIFERENTES O economista Albano Martins ex-plicou, ao HM, que “os supermer-cados praticam preços diferentes, consoante as zonas onde estão. E nas zonas mais pobres, onde há grande massa populacional, o preço mais barato não significa que percam dinheiro, porque mais gente vai comprar. A redução do preço é compensada pela procura”.

Joey Lao, economista e presi-dente da Associação de Economia, referiu a influência das rendas. “Há diferentes decisões e proprietários.

E especialmente em relação às ren-das há custos diferentes. E isso vai afectar de certeza a razoabilidade dos preços. Se um supermercado tiver numa zona muito populacio-nal, ou numa zona comercial, as rendas do supermercado vão ser maiores e os preços vão ser com certeza maiores.”

Joey Lao considera que deveria existir “uma maior extensão de supermercados nas novas zonas residenciais, como por exemplo no novo complexo habitacional de Seac Pai Van”. Algo que poderia introduzir “produtos com preços mais baixos”.

CONTABILIDADE SEM CONTROLO Albano Martins chama a atenção para o facto de não haver controlo quanto ao facto dos preços, na mesma cadeia de supermercados, variarem consoante as zonas. “Não há maneira de controlar isso. O Governo poderia obrigar esses supermercados a terem a conta-bilidade registada e a controlar as suas contas, para declararem os lucros. 90% das empresas tem,

mas não é registada, e acabam por declarar mais prejuízos. Na maior parte das vezes os supermercados declaram o que querem e podem pôr os preços que querem.”

“Devia haver inspecções a es-sas contabilidades, o que existe em qualquer país desenvolvido. Isso obrigava logo a que eles controlas-sem mais os seus preços, porque estariam a pagar mais impostos por causa disso. Aqui em Macau o facto do fisco seja muito baixo faz com que seja difícil controlar isto.

PREÇOS SÃO COMBINADOS?Mais do que não ver as reais con-tas da contabilidade, o Governo também não controla se há ou não cartelização por parte dos co-merciantes. “(Os supermercados) provavelmente seguem os preços da zona, e se calhar a cartelizar, o que significa que fixam os preços uns com os outros. Pode haver um acordo para a fixação de preços, o que nos países desenvolvidos é proibido. Aqui, podem fazer perfei-tamente isso que não há controlo. Se calhar na mesma zona os preços não diferem muito, mas entre zonas diferem. Porque o poder de compra é maior e podem puxar os preços.”

Albano Martins diz ainda que “o mercado não é assim tão livre e podem haver acordos entre super-mercados para que os preços sejam praticamente os mesmos”.

sociedade

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8 sociedade hoje macau sexta-feira 22.11.2013

RITA MARQUES [email protected]

H Á mais trabalho a fazer mas o caminho seguido mostra-se acertado. É assim

que Juliana Devoy define a actuação da Administração no combate ao tráfico humano de cariz sexual. “O Governo está a fazer esforços para reduzir o problema. Talvez os resultados sejam menores do que estávamos à espera mas, independentemente disso, acho que se têm registado progressos constantes desde a implementação da lei em 2008. O Governo quer de facto combater o problema. Mas é grande e é preciso trabalhá-lo constantemente”, disse a directora do Centro Bom Pastor, que organiza a projecção do documentário “Nefarious: Merchant of Souls”, numa campanha “Contra a Violência sobre as Mulheres” [ver caixa].

O entrave com que o Go-verno se depara passa pela dificuldade de reconhecer todos os casos existentes no território. Números oficiais indicam que, em 2012, 31 mulheres foram vítimas de tráfico humano, mas há outros casos escondidos, indica. Por isso, reconhece,

AS empresas de jogo em Macau gastam apenas

31% das suas receitas, indicam dados estatísticos oficiais do inquérito ao sec-tor do jogo no ano de 2012.

Os dados ontem divul-gados indicam que a per-centagem das despesas das empresas de jogo se mantêm idênticas a 2011, mas bai-xam um ponto percentual contra 2010 e dois pontos percentuais contra 2008 e 2009, quando representa-vam 33% da receita global.

Apesar da manuten-ção do peso da despesa, o aumento das receitas das

empresas de jogo faz com que o valor acrescentado bruto tenha, entre 2011 e 2012, aumentado 15,7% para 186.449 milhões de patacas, fruto de um cres-cimento da receita de jogo e serviços relacionados para 306.487 milhões de patacas, mais 13,5% do que em 2011.

Só em juros as empre-sas de jogo receberam 335 milhões de patacas, mais 141%, fruto do aumento do fluxo monetário, referem as estatísticas oficiais.

No campo das despesas, o pessoal representa um gasto de 14.469 milhões de

patacas, mais 16,7%, a ex-ploração de 17.544 milhões de patacas, mais 23,5% e as compras de mercadorias, comissões pagas e despe-sas de ofertas a clientes de 102.516 milhões de pata-cas, mais 8,2%, num total global de 134.530 milhões de patacas.

Em queda estiveram as despesas não relacionadas com a exploração que di-minuíram 1,3% para 3.110 milhões de patacas.

Nas estatísticas oficias é ainda referido que a forma-ção bruta de capital fixo das empresas de jogo aumentou

42,3% para 3.188 milhões de patacas. O aumento dos lucros das empresas de jogo antes da dedução do imposto especial de 35% sobre as receitas brutas deriva de uma maior subida da receita que “foi superior ao dobro do valor das despesas”.

Em Macau estavam no final de 2012 registadas dez empresas relacionadas como o jogo apesar de apenas existirem seis ope-radores do sector.

No final de 2012, Macau tinha 35 casinos que dispo-nibilizavam 5.485 mesas e 16.585 máquinas.

TRÁFICO HUMANO JULIANA DEVOY DIZ QUE GOVERNO TEM CONSEGUIDO COMBATER O PROBLEMA

Vítimas têm medo de cooperarMacau esconde mais casos de exploração sexual do que os dados oficiais mostram. Juliana Devoy entende que “o Governo está a fazer esforços para reduzir o problema” mas, de facto, não é fácil encontrar os casos escondidos, por exemplo, em casas de massagens e saunas

Estatística Empresas de jogo apenas gastam 31% da receita

não apenas a aplicação da lei de combate ao crime de trá-fico humano pode fazer face a esta violação. “Mesmo que a vítima seja resgatada, depois não coopera. Elas não confiam nas pessoas e têm medo que as suas famílias sofram represálias. Se não conseguimos que cooperem, não temos o caso nem as provas (...) O número das [vítimas] que cooperam é pequeno”, lembra a irmã,

depois de dar o exemplo de uma estrangeira - a quem fo-ram retirados os documentos - em Macau, passando a ser obrigada a prestar serviços sexuais. Este caso apenas foi conhecido porque a “vítima” tentou o suicídio.

Por essa razão, acredita, há mais trabalhadoras em casas de massagens e saunas - estabelecimentos legais - na mesma situação de impotên-cia e escravidão sexual.

Outro dos problemas com o qual se deve lidar é a pre-venção. “Preveni-las antes de entrar pelas fronteiras de Macau. É preciso estar atento a estes casos de raparigas menores que chegam sem a companhia de adultos às quais devem ser feitas mais perguntas”, adverte Devoy.

“Mas [os polícias], o que tentam fazer é abordá-las, as que trabalham na sauna e em sítios de entretenimento, nos ‘check-ups’ mensais de saúde na clínica do Governo, ao pé do hospital público. E desenvolveram agora um questionário para abordá-las e, em alguns casos, deram conta de algumas vítimas.”

A directora do Centro Bom Pastor realça ainda que é nos casinos onde mais menores são exploradas sexualmente. Este problema foi assinalado num relatório do Comité dos Direitos da Criança. Em resposta, o Gabinete do Secretário para a Segurança avançou que, no ano passado, 12 casos de menores foram detectados pelas autoridades locais.

É preciso estar atento a estes casos de raparigas menores que chegam sem a companhia de adultos às quais devem ser feitas mais perguntasJULIANA DEVOY directora do Centro Bom Pastor

LIVRARIA PORTUGUESA EXIBE “NEFARIOUS: MERCHANT OF SOULS”O documentário “Nefarious: Merchant of Souls”, realizado pela organização cristã Exodus Cry, vai ser exibido na Livraria Portuguesa, nos dias 25 de Novembro (19h), 1 de Dezembro (15h) e 10 de Dezembro (19h). O filme pretende chamar a atenção para o “tráfico sexual”, uma vez que o tráfico humano é já hoje como a segunda indústria que gere mais dinheiro.

TESTEMUNHO NA 1.ª PESSOA

• “Um dia entrei num carro de um homem que, quando dei por mim me levava para um lugar incerto, questionei-o e disse-me ‘o único sítio para onde vais hoje é o Inferno’. Comecei a bater-lhe e a tentar abrir a porta”

• “Mesmo quem promove a prostituição tem de fazer “folhas de factos” para não morrermos (eles não dizem literalmente assim), entre estas dicas, está o descobrirmos se os clientes não têm algemas e não usar saltos altos para conseguirmos correr”

Helene Evans, ex-prostituta

• “Fui violada, roubada, espancada e estrangulada”Ex-prostituta

• “Tive uma pistola na boca. Obrigou-me a ligar à minha família e a dizer que nunca mais os iria ver”

Ex-prostituta

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TIAG

O AL

CÂNT

ARA

9 sociedadehoje macau sexta-feira 22.11.2013

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O estudo sobre a “Análi-se dos Riscos de Ma-cau” encomendado

pelo Gabinete de Informação Financeira (GIF) à consultora Delloite é, afinal, resultado de uma exigência da Financial Action Task Force (FATF), (Grupo de Acção Financeira em português). Trata-se de uma organização intergover-namental à qual Macau, atra-vés da China, aderiu em 1997.

Ao HM, o GIF garante que “é a primeira vez que Macau realiza este tipo de estudo”, o que significa que só 16 anos depois a RAEM dá finalmente resposta a uma exigência da FATF, especificamente ao Grupo sobre branqueamento de capitais da Ásia-Pacífico (Asia Pacific Group on Money Laundering, ligado à FATF). “O objectivo do estudo é o de responder aos requisitos de determinadas organizações internacionais, em especial a FATF que determina que todas as jurisdições serão obrigadas a levar a cabo uma análise de risco no domínio

Bairros Antigos Conselho Consultivo reuniu ontem

LAVAGEM DE DINHEIRO ESTUDO DA DELOITTE RESPONDE A EXIGÊNCIA DA FATF

Análise financeira 16 anos depois

do branqueamento de capitais e financiamento ao terroris-mo”, aponta o GIF.

O gabinete coordenado por Débora Ng não diz, contudo, qual o valor que será pago por este relatório à Deloitte Touche Tohmatsu – Sociedade de Auditores. “Na

sequência desta exigência da FATF o Governo de Macau de-cidiu contratar os serviços de consultadoria duma entidade independente com o objectivo de levar a efeito esse estudo. Foi efectuado um concurso do qual resultou a adjudicação deste contrato à Deloitte.”

Macau, tal como a Chi-na, aderiu à FATF em Julho de 2007, seis anos depois de Hong Kong o ter feito. As primeiras recomendações nesta área surgiram em 1990, tendo sido revistas em 1996, 2001, 2003 e o ano passado. - A.S.S.

DEPOIS do Governo ter retirado a pro-

posta de lei sobre o Re-ordenamento dos Bairros Antigos da Assembleia Legislativa (AL), é prová-vel que a nova legislação comece a ser delineada a partir de Março do pró-ximo ano.

Esta é a principal conclusão que saiu da ter-ceira reunião do Conselho Consultivo dos Bairros Antigos, que serviu para os seus membros analisa-rem de perto a nova Lei de Terras, do Planeamento Urbanístico e da Salva-guarda do Património Cultural. “Essas três leis têm partes que interessam ao novo Reordenamento dos Bairros Antigos. Por isso, só depois da entrada em vigor dessas três leis é que vamos estudar como vai ser o novo regime, sobre o embelezamento das ruas ou a manutenção dos monumentos”, disse Lao Iong, responsável da Direcção das Obras Públicas e Transportes.

“Este regime foi reco-lhido na última legislatu-ra. Como temos três leis temos de fazer um ajus-tamento, que depende da entrada em vigor dessas três leis. Nesse período vamos comunicar com a população.”

O objectivo passa, agora, mostrar os con-teúdos da legislação “à população e aos jovens”. “Essas três leis vão entrar em vigor a partir do dia 1 de Março por isso já estamos a acelerar os trabalhos. Esperamos apresentar mais con-teúdos dessas três leis à população, para que possamos recolher mais opiniões”, acrescentou.

Recorde-se que o Regime Jurídico de Re-ordenamento dos Bairros Antigos começou a ser redigido em 2006, tendo a legislação sido entregue aos deputados em 2011. Votado na generalidade em Março deste ano, se-ria retirado da AL meses depois. - A.S.S.

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10 CHINA hoje macau sexta-feira 22.11.2013

MARIA JOÃO BELCHIOREm Pequim

S ÃO biliões de dóla-res que se dividem em inúmeras par-tículas, e algumas

bem pequenas, de lixo. Tudo se recicla, tudo se revende hoje em dia. E além dos produtos novos e baratos que enchem contentores da China para a Europa, no sen-tido contrário, toneladas de lixo, sucata e restos de tudo, embarcam em contentores do Ocidente para a China.

Adam Minter, jornalista norte-americano a trabalhar há vários anos como corres-pondente na China, lançou agora o seu primeiro livro sobre o lixo e o espantoso negócio da reciclagem inter-nacional. “Junkyard Planet: Travels in the Billion-Dollar Trash Trade”, numa tradução livre leva-nos numa viagem ao planeta da sucata. Um tema ao qual se dedica há vários anos, para o jornalista nascido no Minnesota, é quase uma questão de tradição familiar.

Adam Minter cresceu a ver os pais trabalharem no negócio de compra e venda de sucata e de certa maneira, fascinado pela arte do velho

TUDO SE RECICLA, TUDO SE REVENDE HOJE EM DIA

O lixo como negócio

A China continua a ser o maior importador de sucata e igualmente o maior reciclador. No que se refere ao cobre, uma matéria-prima imprescindível na produção de quase todos os aparelhos electrónicos que marcam a vida nas sociedades modernas, a China é o maior produtor e ocupa igualmente o número um na reciclagem

transformado em novo e por ver como tudo tem, cada vez mais, um valor de troca.

ÁRVORES DE NATAL Os negócios seguem todos o mesmo modelo. Uma oferta

que responde a uma procura. Por mais globalizada que seja a economia, o modelo é o mesmo desde há séculos. E a venda da sucata também não é uma novidade do sé-culo XXI. A diferença é que

agora vale muitos milhões de dólares.

Adam Minter observou este modelo de negócio du-rante vários anos até concluir que à medida que a procura por matérias-primas nos países em desenvolvimento aumentava, também crescia a quantidade de lixo produ-zida pelos países desenvol-vidos durante vários anos habituados a uma cultura de usar e deitar fora.

Shijiao, uma das cidades referidas no livro agora publicado, é apenas um dos exemplos de como o negócio da reciclagem se globali-zou. A pequena vila no sul da China especializou-se na reciclagem de luzes de árvores de natal que vêm directamente dos lixos das casas dos norte-americanos para o sul da China onde são divididas em todas as partículas possíveis e onde se extrai o maior valor acres-centado do produto, isto é, o cobre que contém. Com os preços dos materiais a

aumentarem, a reciclagem contribui para a maior oferta de matérias-primas que vêm de produtos já feitos, proces-sados e deitados fora.

A indústria de recicla-gem representa actualmente mais trabalhos no mundo do que qualquer outro sector, para além do sector primário da agricultura. Se por um lado, nos países em desen-volvimento, os respingado-res do lixo vêm das classes mais pobres, à medida que o negócio se vai separando, os valores recebidos também aumentam.

Enviar a sucata do Esta-dos Unidos para a China por barco é mais barato do que enviar a mesma quantidade de Los Angeles a Chicago por comboio ou camião. A este factor junta-se outro, relacionado com a viagem de regresso dos contentores que vão da China para o Oci-dente cheios de produtos para vender, e que regressariam vazios. Ao enviar a sucata, o chamado desperdício, nesses contentores que fazem de novo a viagem até à Ásia, torna-se muito mais rentável para empresas dos dois lados.

NEGÓCIOS FAMILIARESA reciclagem de plásticos e outros materiais apareceu

na China como negócio desde os primeiros anos da reforma e abertura económica. Cantão foi um dos primeiros locais onde estas indústrias nasceram, favorecidas pelo desenvol-vimento das fábricas em redor. Uma característica deste tipo de negócio no sul da China é que continua a ser feito em modelos fami-liares, pequenas unidades onde, por vezes, toda a família recicla os produtos a céu aberto. Além dos riscos para a saúde de quem faz o trabalho, este tipo de ne-gócio que cresceu sem ser regulamentado, criou mui-tos problemas ambientais nas áreas em redor destes modelos caseiros de reci-clagem. O aparecimento das vilas onde se reciclam computadores e telemóveis do mundo inteiro levou a organização Greenpeace há alguns anos a lançar um alerta sobre os riscos para a saúde que a reciclagem de lixo electrónico coloca.

Não sendo um problema exclusivo da China, e que afecta países da África subsariana, assim como a Índia, a indústria da recicla-gem não tem apenas o lado negro. Como negócio, as matérias extraídas dos pro-dutos, tornam-se cada vez mais necessárias para fazer novos produtos, nomeada-mente a nível electrónico. E o valor aumenta a cada vez que se revende.

A China continua a ser o maior importador de su-cata e igualmente o maior reciclador. No que se refere ao cobre, uma matéria--prima imprescindível na produção de quase todos os aparelhos electrónicos que marcam a vida nas so-ciedades modernas, a China é o maior produtor e ocupa igualmente o número um na reciclagem.

Como um negócio mul-ti-milionário e com vários intermediários, segundo Adam Minter, é de esperar que a China continue com um lugar de referência no sector. Porém, tratando-se de uma indústria altamente poluente, em parte pela própria falta duma regu-lamentação forte, também será de esperar que a Chi-na queira abandonar este primeiro lugar da lixeira e reciclagem do mundo inteiro. E, de acordo com o autor, a acontecer, esta nova tendência pode vir a obrigar o próprio Ocidente a repensar os seus modelos de produção e consumo.

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11 chinahoje macau sexta-feira 22.11.2013

Japão “Salas de sesta” exclusivaspara mulheres são nova modaAs “salas de sestas” exclusivas para mulheres, onde as japonesas podem recuperar horas de sono perdidas devido ao excesso de trabalho, são a última tendência no Japão em matéria de saúde e beleza. “Há poucos sítios no local de trabalho nos quais as mulheres podem descansar e, por isso, procuramos oferecer um lugar para fazer uma sesta e recuperar energias”, disse à agência noticiosa espanhola EFE Masahiro Ota, um dos responsáveis do ‘Ohirune Café Corner’, o mais recente lugar deste tipo a abrir em Tóquio. Inaugurado esta semana, o café situa-se na zona de Jinbocho, no centro da capital japonesa, onde se encontram algumas das principais editoras do país. Ota explicou que um dos públicos-alvo são as trabalhadoras destas empresas. O ‘Ohirune Café Corner’ oferece camas com lençóis brancos, cortinas que caem do tecto, aromas refrescantes e as utilizadoras podem escolher até 14 tipos de almofadas. Para Ota, uma “boa sesta” deve durar entre 15 e 20 minutos diários.

Japão Ilha descoberta a cerca de 1.000 quilómetros a sul de TóquioUma pequena ilha, com 200 metros de diâmetro, foi descoberta na quarta-feira no oceano Pacífico, a cerca de mil quilómetros a sul de Tóquio, segundo imagens ontem divulgadas pelas autoridades japonesas, devido a uma intensa actividade vulcânica. Situada a sul-sudeste da ilha vulcânica inabitada de Nishinoshima, do pequeno arquipélago Ogasawara, a ilha foi avistada pela primeira vez na quarta-feira por um avião da guarda-costeira. É a primeira descoberta de uma ilha na região nos últimos 40 anos.

UM bebé chinês, que tinha sido declarado

morto por um hospital, começou a chorar antes da cremação, o que o salvou de ter sido cremado vivo, informou ontem a imprensa chinesa.

Os pais do bebé, com menos de um mês e que estava gravemente doen-te, tinham aceite desistir do tratamento médico num hospital pediátrico da província chinesa de Anhui, informaram fontes hospitalares citadas pela agência Xinhua.

O certificado de óbito

foi passado e o bebé, do sexo masculino, foi envia-do para uma funerária na cidade de Hefei, tendo os funcionários da empresa ouvido a criança a chorar. O bebé, que nasceu com uma malformação congénita do sistema respiratório, foi logo levado de regresso ao hospital, onde estava ainda a receber tratamento na noite de quarta-feira. Um médico foi suspenso e uma enfermeira foi demitida, tendo sido lançada uma investigação ao incidente, indicou o hospital, citado pela Xinhua.

A China poderá não con-seguir acabar com a

dependência no crescimen-to dos investimentos e das exportações nos próximos três a cinco anos, apesar dos planos para uma reestrutu-ração económica, afirmou Song Guoqing, membro académico do comité de política monetária do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês).”A curto prazo, entre três a cinco anos, será difícil para a China reestruturar a economia devido às altas taxas de poupança da nação. Isto significa que a China

irá depender primariamen-te de investimentos para crescer”, afirmou durante um seminário financeiro.

O membro do PBoC explicou que a alta taxa de poupança decorre parcial-mente do envelhecimento da população e de uma falta de confiança na rede de segurança social. Ao falar sobre o sector imobiliário, Song disse que os preços devem enfrentar alguma pressão negativa, já que as autoridades querem expan-dir os impostos actualmente em vigor em Xangai e em Chongqing.

AVISORecrutamento do pessoal

Pretende admitir-se, em regime de contrato individual de trabalho, o seguinte:

- 3 Auxiliares, 3.° escalão (Área de Transporte) (N.° de recrutamento: AUXT/1) .

O prazo de inscrição é de 22/11/2013 até 11/12/2013, inclusive. Para mais pormenores, deve consultar o aviso de abertura afixado no quadro informativo no 2o andar do Edifício Sede da Direcção dos Serviços de Correios, sito no Largo do Senado, em Macau. Pode também consultar o aviso em causa no “Website” da mesma Direcção (http://www.macaupost.gov.mo/ - “Recrutamento”). Para qualquer esclarecimento, por favor contacte-nos através do telefone 83968207.

Aos 19 de Novembro de 2013.

A Directora dos Serviços,

Lau Wai Meng

ORGANIZAÇÃO DE DIREITOS DOS ANIMAIS CONTRA TORTURA DE COELHOS ANGORÁ

A sangue-frioREGIÃO

Bebé declarado morto escapou da cremação ao chorar

Pequim ainda depende de investimentos, diz membro do PBoC

A organização de defesa dos direitos dos animais PETA apelou esta quarta-feira ao boicote dos produtos feitos

com lã angorá, acusando os fabricantes chineses de arrancar o pêlo aos coelhos vivos.

Num vídeo divulgado pela PETA, vêem-se várias explorações de coelhos angorá e animais presos a bancadas de madeira em salas repletas de jaulas, com os operários a arrancarem-lhes o pelo à mão enquanto os coelhos guincham em agonia.

Sem pêlo na maior parte do corpo e com a pele com feridas extensas, os animais são novamente atirados para as jaulas, tentando lamber as feridas. Quando o pelo cresce novamente, são sujeitos à mesma tortura.

Os pêlos arrancados desta maneira rendem mais dinheiro aos comerciantes, porque são mais longos e de melhor quali-dade. “A PETA apela aos clientes que vão comprar prendas de Natal e de Ano Novo chinês. Leiam as etiquetas das camisolas ou cachecóis”, declarou o vice-presidente do ramo asiático da organização.

Um investigador infiltrado visitou dez explorações entre Junho e Setembro deste ano. Em metade delas, os pelos eram ar-rancados. Nas outras, os pelos são cortados ou rapados, processos que também fazem sofrer os animais.

As explorações vistas no vídeo localizam--se nas províncias de Jiangsu e Shandong e nelas contam-se desde algumas centenas até cerca de dez mil coelhos.

Segundo a PETA, 90 por cento da lã angorá do mundo, conhecida pela sua textura sedosa e leve, vem da China.

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hoje macau sexta-feira 22.11.201312 publicidade

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hoje macau sexta-feira 22.11.2013 13XADREZ

JOÃO VALE [email protected]

O mítico Garry Kas-parov, por mui-tos considerado o melhor xadrezista

de todos os tempos, esteve em Macau durante a passada quarta-feira, dia 20, acompa-nhado do actual vice-presidente da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), onde manteve reuniões conjuntas com o Insti-tuto do Desporto de Macau (ID), com a Direcção dos Serviços da Educação e Juventude (DSEJ) e com as associações de jogos mentais em Macau

A PÓS realizadas oito das doze partidas do ‘match’ para o título

mundial de xadrez em disputa na Índia, em Chennai, que coloca frente a frente o ac-tual campeão, Vishvanathan Anand e o candidato Magnus Carlsen, este último lidera com dois confortáveis pontos de vantagem, por 5-3.

CAMPEÃO PEDIU MAIS INFRA-ESTRUTURAS PARA A PRÁTICA

Garry Kasparov bem recebido por Macau

CAMPEONATO DO MUNDO CONTINUA

Dois empates balsâmicosConforme já aqui tínha-

mos noticiado, nas partidas 5 e 6, Carlsen obteve duas vitó-rias consecutivas e esperava--se que Anand aparecesse para

as partidas seguintes decidido a lutar do primeiro ao último lance em busca da vitória para poder acalentar esperanças de revalidar o seu título.

(xadrez, xadrez chinês e “Go” – xadrez japonês), sobre a possível implementação de um plano de divulgação e ensino do xadrez em todas as escolas de Macau, a lon-go prazo, visando, por um lado, o desenvolvimento das gerações vindouras no plano mental e, por outro lado, lançar as infra-estruturas para que Macau possa vir um dia a produzir um ou mais verdadeiros talentos xadrezistas. Na mira está também a camada sénior da população de Macau.

Como bem o referiu o antigo campeão do mundo,

o mais importante não é o número de habitantes, mas as infra-estruturas e deu precisamente o exemplo da Islândia, que tem uma po-pulação de apenas 331.000 habitantes, onde existem vários Grandes-Mestres de topo, um deles, Fridrik Ola-fsson, tendo mesmo vindo a ser Presidente da FIDE entre 1978 e 1982. Para Kasparov, Macau está numa área geo-gráfica privilegiada, numa zona de confluências de Pa-íses onde o xadrez está bem desenvolvido e tem todas as condições para ter sucesso no xadrez. Acompanhando-

-o veio Ignatius Leong, vice-presidente da FIDE e responsável pelo xadrez de Singapura, onde existem, em paralelo, um forte apoio das entidades públicas e uma das maiores academias privadas deste desporto, arte e ciência. Kasparov fez questão de salientar o bom acolhimento que recebeu em Macau e a boa receptividade às suas ideias por parte do IDM e da DSEJ e parece que uma vez delineado em concreto este projecto a sua implementa-ção no terreno pode mesmo vir a ser uma realidade. Boas notícias, sem dúvida.

Todavia, o golpe psico-lógico sofrido por Anand com aquelas duas derrotas deve ter sido tão forte que este optou por não correr

nenhuns riscos, jogando partidas curtas e sem his-tória, almejando somente evitar nova derrota.

Daí que as partidas 7 e 8 se saldaram por dois empates curativos, visando o cam-peão somente recompor-se do choque sofrido nas duas partidas anteriores. Espera--se que o seu espírito de luta

seja outro para as próximas partidas, caso contrário muito dificilmente poderá manter o seu título.

Podem acompanhar as partidas ao vivo, com co-mentários e em tempo real, em diversos websites, aqui ficando o site oficial do evento: http://chennai2013.fide.com. - J.V.R.

Assine-oTELEFONE 28752401 | FAX 28752405

E-MAIL [email protected]

www.hojemacau.com.mo

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14 EVENTOS hoje macau sexta-feira 22.11.2013

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ALFABETOS • Cláudio Magris“Alfabetos” é uma viagem pela literatura, através dos livros – ou melhor, uma entre milhares de viagens possíveis à descoberta dos livros, dos seus autores, e de nós próprios. Os livros que nos formam, os que nos ferem, os que nos curam, os que permitem que conheçamos o mundo e organizemos a visão que temos dele. Alfabetos é também uma reflexão sobre as contradições trágicas da literatura e dos seus autores, capazes de fazer chegar a todos princípios de humanidade, mas também de os violar. Daí também a reflexão final – apaixonada e lúcida – sobre a relação da literatura com a ética e a política, reflexão essa que destaca a necessidade que a contemporaneidade tem do empenho e, por outro lado, a necessidade da irresponsabilidade da poesia.

O PASSADO É UM PAÍS ESTRANGEIRO • Ali SmithEra uma vez um homem que, certa noite, durante um jantar social, entre o prato principal e o doce, subiu as escadas e fechou-se num dos quartos da casa. À medida que as horas se transformam em dias, e os dias, em meses, as consequências deste estranho ato repercutem-se para o exterior, afetando os donos da casa, os outros convidados, a vizinhança e todo o país.

JOSÉ [email protected]

É já este sábado que tem início pelas 15h, na Pra-ceta do Centro Cultural, a 9.ª edição do Festival de

rock, HUSH, que conta este ano com a participação de 15 bandas. Do exterior estarão presentes grupos como os Girugamesh, de Tóquio, Sugar Plum Ferry de Taipé, Supper Moment, de Hong Kong, Thinman de Pequim e Deja Voodoo Spells, da Malásia, que se juntam a 10 bandas locais, numa mistura de velhos conhecidos e sangue novo. Aos repetentes L.A.V.Y., Frontline Cast ou Scam-per, entre outros, junta-se o grupo português João Pedro e Banda que participa pela primeira vez naque-le que é considerado por muitos como o maior palco de rock da cidade. Para este português, radi-cado em Macau há cerca de vinte anos a música da banda pode ser descrita como de fusão. “Tocamos

A exposição daquele que é considerado como um dos mais

importantes nomes da arte contemporânea chinesa, Yue Minjun, abriu portas esta terça-feira com a presença do artista. Reconhecido internacionalmente, vive e cria na cidade de Pequim.

Desde o inicio da década de noventa, Yue trabalha sobre a sua própria imagem sobre tela e nos anos mais recentes, em escultura e im-pressão. Por vezes, esta ima-gem surge individualmente, outras vezes em séries. “Ele” ri-se com a boca bem aberta e os olhos fechados. “Ele” age de forma exagerada,

HUSH, MARATONA DE ROCK ARRANCA ESTE SÁBADO NA PRACETA DO CCM

Sempre a abrir

EXPOSIÇÃO DE YUE MINJUN INAUGURADA NO MAM

“O sorriso é a minha alma”mas plenamente conscien-te, lê-se no comunicado de imprensa da organização.

O sucesso destas expe-riências valeu-lhe ser capa da revista Time em 2007, e aí considerado uma das “Personalidade que Con-tam”. Das personalidades internacionais escolhidas nesse ano - Putin, Barack Obama, Hilary Clinton, entre outras, Yue Minjun foi o único chinês e o único artista. A revista Time des-

um tipo de música que mistura o som tradicionalmente português, com influências de Rock e New wave e funky”, diz João Pedro, acrescentando como referências grupos como os “Xutos e Ponta-pés” ou os “UHF”.

Na conferência de imprensa realizada esta quarta-feira os músicos locais presentes foram consensuais em afirmar que o território tem vindo a assistir ao aparecimento de um número crescente de bandas que no en-tanto se debatem com inúmeras dificuldades para ensaiar. “Há cada vez mais bandas, mas os locais para ensaiar ou apresentar concertos tem vindo a diminuir”, afirma Vincent Cheang, vocalista dos L.A.V.Y, que se prepara para apresentar novas canções na ma-ratona de sábado. O líder da banda destaca ainda a importância de existirem festivais como este para dar a conhecer ao público aquilo que por cá se faz em matéria de rock. “ Este tipo de iniciativas é

fundamental para podermos mos-trar a nossa música. O HUSH tem crescido e ganho notoriedade na região,” afirmou, acrescentando que a rádio também poderia dar uma ajuda na divulgação da mú-sica local.

Pakeong Sequeira, dos Bla-demark, que este ano apresenta

uma nova formação, concorda com a importância do festival de rock e deixa no ar a sugestão do prolongamento do mesmo. “ Em vez de ser feito apenas num dia, O HUSH podia ser prolongado pelo fim de semana, ou então ser realizado duas vezes por ano. Há muitas bandas de Macau e também

de Taiwan que querem participar neste evento”, disse.

Para este sábado são espera-das cerca de seis mil pessoas na Praceta do CCM, para assistir à maior maratona de rock da cidade, que conta para além dos grupos já citados com os Experience, Ma-tchbox , Bomber e WhyOceans.

creveu Yue com as seguintes palavras: “Se grande questão dos nossos tempos é saber que retrato fazer da China, então este é o homem para o pintar”.

Desde que Yue parti-cipou na 48.ª edição da Bienal de Veneza, onde foi o primeiro artista chinês convidado, revelou que o seu contributo artístico não deve ser menosprezado. As suas características únicas são re-levantes para a arte e cultura contemporânea Chinesa, e devem ser consideradas a nível mundial, acrescenta a nota de imprensa.

Para Feng Boyi, curador da exposição, a criatividade

artística de Yue é uma nar-rativa publicitada, rendida à imaginação e à contínua experimentação, reflectindo sobre o essencial da existên-cia através do absurdo.

Questionado pelo HM sobre o poder do sorriso, Yue Minjun, respondeu de forma categórica. “É a minha alma”, acrescentando que a vida é a sua verdadeira fonte de inspiração.

A exposição agora inau-gurada, conta com 52 traba-lhos do artista, incluindo pin-turas, gravuras, esculturas e em obras em técnica mista vai estar patente ao público até 16 de Fevereiro de 2013. A entrada é gratuita. - J.C.M.

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hoje macau sexta-feira 22.11.2013

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

15

Manuel de alMeida

V ELAS, S. Jorge, Açores, a fre-guesia das freguesias de um só sentido, a partida. Direcção Oriente, destino Macau.

Foi este o percurso de José Silveira Ma-chado - «o Professor».

Aportou Macau, numa época difícil, de transição e contradição – anos 30 –, para estudar no Seminário de S. José, entre a idí-lica adolescência e a indesejada vida adulta.

Fez-se Homem.Homem de pensamento rigoroso e crí-

tico, criador e bondoso, teve sempre mais dúvidas que certezas: era assim José Silvei-ra Machado. Não se fechava ao mundo. Abria-se ao conhecimento.

Calcorreava a Cidade de lés-a-lés. Fazia parte da sua geografia sentimental. A ale-gria de viver estava em descobrir, receber, transmitir coisas – ser personagem e autor – e ser espectador lúcido e atento.

A sua mundividência «crescia» num aspecto crucial (pouco ou nada valorizado nos dias de hoje): o diálogo, aberto e fran-co – sincero. Os Livros, a Amizade e a Ci-dade eram sempre tema para dois dedos de conversa. Na conjugação do exercício das palavras, na boémia nocturna das ideias, jorravam discussões, sempre retrabalhadas pela memória. Lutava contra o pessimis-mo colectivo, conjugado sempre com um optimismo subjectivo, apesar de alguns dissabores. A fragmentação da identidade de Macau, a perda do ideário da língua e cultura portuguesa e, no abandono que é dado aos seus cidadãos, aos pobres e aos desprotegidos – uma sociedade que apesar rica que se torna pobre (de espírito).

Poesia, prosa e crónica são marcos na obra de Silveira Machado. Há dois impor-tantes livros – na opinião de um simples leitor -, que são uma referência obrigató-ria na bibliografia macaense. São os casos de «Macau, Mitos & Lendas» (1998) e «O Outro Lado da Vida» (2005).

«Macau, Mitos & Lendas» são as no-tas ao programa do Prelúdio da sua Oratória «Amor a Macau» - para quando a sua ree-dição? O livro está esgotado há anos e faz falta nos escaparates das Livrarias. «O Ou-tro Lado da Vida» é o poslúdio da sua obra – é o olhar crítico, contestatário de Silveira Machado, sobre a sociedade de mercado, de dissimulação, “aos que vivem do lado positivo da vida: os abastados, os ricos, os poderosos”.

O autor mostra o seu lado generoso, tolerante, humanista, idealista; pensa que

QUANDO FAZEM SEIS ANOS DA PARTIDA DO GRANDE PROFESSOR...

José Silveira Machado (1918 – 2007)

A MEMÓRIA DA CIDADE

“a sua leitura seja motivo para um rebate de cons-ciências e mudança de mentalidade e leve muitos ri-cos e poderosos a praticar a verdadeira e necessária solidariedade (...) para que, num futuro breve, não sejam tantas as crianças e jovens, tantos os homens e mulheres, a viver do «outro lado da vida» - a pobreza e a marginalização como o maior défice social da sociedade.

Foi co-fundador e jornalista do semaná-rio católico «O Clarim». Colaborou ainda na «Voz de Macau», na «Revista Renasci-mento» e na «Comunidade» - onde assi-nou vários artigos de grande valor, sobre as indústrias de Macau –,foi correspondente do «Diário da Manhã» e da revista de cine-ma «Plateia» - outra grande paixão.

Paixão que se viria a traduzir, no guião que escreveu para o primeiro filme rea-lizado em Macau - «Caminhos Longos» (1956).

Quanto mais pobre teria sido a litera-tura macaense e Macau mais triste e menos Macau, sem José Silveira Machado, um nome incontornável na história recente na «nossa» Cidade.

A sua escrita celebra, relembra e revi-sita Macau.

Finou-se, como sempre viveu – discre-tamente -, recolheu-se ao fim da tarde, do dia 19 de Novembro de 2007.

A melhor homenagem que se lhe pode-ria prestar – no meio de tantas outras que se lhe prestaram -, era editar e reeditar, ler e reler, a sua obra (é preciso saber mostrar que sabemos preservar a memória da Cida-de) – o Homem parte, a Obra fica... vamos todos saber perpetuar a sua memória.

Bibliografia: « Macau, Sentinela do Pas-sado» (1956); «Rio das Pérolas» (1993); «Macau, Mitos & Lendas» (1998); «Duas Instituições Macaenses» (1998) – em co--autoria com João Guedes - ; «Macau na Memória do Tempo» (2002); «O Outro Lado da Vida» (2005).

“ Os bons vi sempre passarNo mundo graves tormentos;E para mais me espantarOs maus vi sempre nadarEm mar de contentamentos”

Camões

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16 hoje macau sexta-feira 22.11.2013h

Professor Agamben, em Março desenca-deou a ideia de uma “soberania latina” contra o domínio alemão na Europa. Consegue imaginar a grande repercussão que tal teria? Enquanto isso, o ensaio foi traduzido para muitos idiomas e apaixo-nadamente discutido na metade do con-tinente.Não, não esperava isso. Mas acredito no poder das palavras, quando são chamadas no momento adequado.

A brecha na União Europeia é na realida-de entre as economias e estilos de vida do norte “germânico” e do sul “latino?” Quero dizer antes de mais nada que minha tese foi exagerada pelos meios de comu-nicação e, portanto, distorcida. O seu tí-tulo, “O império latino deveria lançar um contra-ataque” foi criado pelos editores do  Libération  e assumida pelos meios de comunicação alemães. Não foi algo que eu disse. Como poderia opor a cultura latina à alemã, quando um europeu inteligente sabe que a cultura italiana do Renascimen-to ou cultura da Grécia clássica já estão

Dirk SchümerIN DIÁLOGO SUL

“A CRISE TRANSFORMOU-SE NUM INSTRUMENTO DE DOMINAÇÃO”

Giorgio Agamben

Giorgio Agamben é um dos mais importantes filósofos europeus da actualidade. Nesta entrevista, reflecte sobre a Europa e uma mentira chamada “crise”.

plenamente integrados na cultura alemã, que a repensou e deles se apropriou?

Portanto, nenhum “império latino” domi-nante? Na Europa, a identidade de cada cultura ainda reside nas suas fronteiras. Um ale-mão como Winckelmann ou Hölderlin poderia ser mais grego que os grego. E um florentino como Dante, assim como um alemão, podia sentir-se como o imperador Frederico II da Suábia. Isto é precisamen-te o que faz com que a Europa tenha uma característica que volta e meia ultrapassa as fronteiras nacionais e culturais. O ob-jecto de minha crítica não é a Alemanha mas sim a forma como se construiu a União Europeia, sobre uma base puramente eco-nómica. Portanto, não apenas as nossas raízes espirituais e culturais foram ignora-das, como também as nossas políticas e as nossas jurisprudências. Se isso foi enten-dido como uma crítica à Alemanha, é só porque a Alemanha, devido a sua posição dominante, apesar de sua destacada tradi-ção filosófica, actualmente parece incapaz

de imaginar uma Europa baseada em algo mais do que o euro e a economia.

De que maneira a UE negou suas raízes políticas e legais? Quando falamos da Europa de hoje, enfren-tamos o enorme peso de uma dolorosa e, no entanto, evidente verdade: a chamada Cons-tituição Europeia é ilegítima. O texto criado desde cima jamais foi votado pelo povo. Ou então, quando foi posto em votação, como na França e nos Países Baixos em 2005, foi repu-diada frontalmente. Legalmente falando, por-tanto, o que temos aqui não é uma constitui-ção, mas sim um tratado entre governos: do direito internacional, não do direito constitu-cional. Mais recentemente, o mais respeitado e erudito o jurista alemão, Dieter Grimm, lembrou que a Constituição Europeia carecia do elemento democrático fundamental, já que não foi permitido aos europeus decidir. E agora, todo o projecto de ratificação pelo povo foi silenciosamente congelado.

Na realidade, o famoso “défice democrá-tico” do sistema europeu...

Não se pode perder isso de vista. Os jor-nalistas, sobretudo na Alemanha, critica-ram-me por não entender a democracia, mas devem considerar em primeiro lugar que a União Europeia é uma comunidade baseada em tratados entre Estados tendo apenas uma constituição democrática para disfarçar. A ideia da Europa como potência constitucional é um fantasma que ninguém se arrisca invocar. No entanto, só tornando válida a constituição é que as instituições europeias poderiam recuperar sua legitimi-dade.

Isso significa que a União Europeia pode ser vista como uma organização ilegal?Não é ilegal, mas é ilegítima. A legalida-de é a questão das normas de exercício do poder, a legitimidade é o princípio que é a base destas normas. Tratados legais não são certamente só as formalidades, pois reflec-tem uma realidade social. Portanto, é com-preensível que uma instituição sem uma constituição não possa seguir uma política original, porém cada estado europeu con-tinua a agir de acordo com seus próprios

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 22.11.2013

interesses o que hoje significa, obviamente, acima de tudo os interesses económicos. O mínimo denominador comum de unidade é alcançado quando a Europa emerge como um vassalo dos Estados Unidos participan-do de guerras que em nenhum caso são de interesse comum, para não falar da vontade das pessoas. Vários dos países fundadores da UE – como a Itália, com suas numerosas bases militares dos EUA – estão mais no campo de protectorados do que de Esta-dos soberanos. Política e militarmente, há uma aliança atlântica, mas certamente não é uma aliança da Europa.

Na União Europeia, portanto, é preferível uma “soberania latina” como caminho de vida e os “alemães” deverão adaptar-se.Não, talvez eu tenha tomado o projecto de “soberania latina” de Alexandre Kojève por provocação. Na Idade Média, as  pes-soas pelo menos sabiam que a unidade das diferentes sociedades políticas deve ser mais que uma sociedade puramente políti-ca. Naquela época, o vínculo que unia (os estados) era o cristianismo.  Hoje em dia, acredito que é preciso procurar a legitimi-dade na história e nas tradições culturais da Europa. Diferentemente dos asiáticos e dos americanos, para quem a história significa algo completamente diferente, os europeus ainda confrontam a sua verdade em diálo-go com o seu passado. O passado significa para nós não apenas a herança e a tradi-ção cultural, como também uma condição antropológica fundamental. Se tivéssemos ignorado nossa própria história, só poderí-amos penetrar na passado por meio da ar-queologia. O passado para nós é como uma forma distinta de vida. A Europa tem uma relação especial com as suas cidades, os seus tesouros artísticos, as suas paisagens. É nisso que consiste realmente a Europa. E é aí que está a sobrevivência da Europa.

A Europa é sobretudo uma forma de vida, um sentido histórico da vida?Sim, foi por isso que, no meu artigo, des-taco incondicionalmente que devemos preservar as nossas distintas formas de vida. Quando os aliados bombardearam as cidades alemãs, sabiam que com isso pode-riam destruir a identidade alemã. Do mes-mo modo, os especuladores de hoje estão a destruir a paisagem italiana com betão e estradas. Isto significa não apenas a perda da nossa propriedade, mas da nossa identi-dade histórica.

De modo que a UE deveria focar nas di-ferenças, em vez da harmonização?Pode ser que fora da Europa não exista ou-tro lugar no mundo em que a grande varie-dade de culturas e formas de vida – pelo menos em seus momentos preciosos – seja notável. Anteriormente, na minha opinião, a política expressava-se com a ideia do Im-pério Romano, depois a do império roma-no-germânico. No entanto, no conjunto ainda se mantêm intactas as característica dos povos. Não é fácil dizer o que poderia surgir hoje no lugar disso. Mas, certamen-te, uma entidade política chamada Europa não pode surgir senão a partir desta consci-ência do passado. É precisamente por esta razão que a crise actual parece tão perigo-

QUANDO FALAMOS

DA EUROPA DE HOJE,

ENFRENTAMOS O

ENORME PESO DE UMA

DOLOROSA E, NO

ENTANTO, EVIDENTE

VERDADE: A CHAMADA

CONSTITUIÇÃO

EUROPEIA É ILEGÍTIMA

sa. É preciso imaginar a unidade pela pri-meira vez como uma tomada de consciên-cia das diferenças. Mas muito ao contrário disso, nos países europeus, as escolas e as universidades, as mesmas instituições que deveriam perpetuar a nossa cultura e criar um contacto vivo entre o passado e o pre-sente, estão a ser destruídas e comprometi-das financeiramente. Este trabalho furtivo faz-se concomitantemente com uma cada vez maior museificação do passado. Temos muitas cidades que se começam a conver-ter em áreas históricas, onde os habitantes se vêem obrigados a sentir-se turistas no mundo de suas próprias vidas.

Museificação desenfreada que é a contra-partida de uma pauperização progressiva? É evidente que não só estamos diante de problemas económicos, mas da existência da Europa em seu conjunto – a partir de

nossa relação com o passado. O único lugar onde o passado pode viver é o presente. E se isto já não é eleger o seu próprio passado como algo vivo, então as universidades e os museus convertem-se num problema. É ób-vio que há forças em trabalho na Europa de hoje que tratam de manipular a nossa iden-tidade, rompendo o cordão umbilical que ainda nos conecta com o nosso passado. Nivelam-se as diferenças. Só que a Europa não pode ser o nosso futuro se não deixar-mos claro que significa, antes de mais nada, todo o nosso passado. Mas o passado está a ser cada vez mais liquidado.

Isso significa que a crise, presente em to-dos os aspectos, é a forma de expressão de um sistema de regulação que dirige nossa vida quotidiana?O conceito de “crise” de facto transformou--se numa palavra de ordem da política mo-derna e, durante muito tempo, ela era parte da normalidade em todos os segmentos da sociedade. A palavra expressa duas raízes semânticas: uma médica, em referência à evolução de uma doença e a outra teoló-gica, do Juízo Final. Os dois significados, no entanto, sofreram uma transformação actual, que eliminou a sua relação com o tempo. Na medicina antiga, “crise” signi-ficava um julgamento, quando o médico se referia ao momento determinante se o paciente poderia sobreviver ou morrer. A compreensão actual da crise, por outro lado, refere-se a um estado sustentável. Portanto, esta incerteza estende-se indefi-nidamente no futuro. Este é exactamente

O OBJECTO DE

MINHA CRÍTICA NÃO

É A ALEMANHA MAS

SIM A FORMA COMO

SE CONSTRUIU A

UNIÃO EUROPEIA,

SOBRE UMA BASE

PURAMENTE

ECONÓMICA

o mesmo que, no sentido teológico, o Ju-ízo Final é inseparável do fim dos tempos. Hoje, no entanto, o julgamento divorciou--se da ideia de resolução e apresenta-se em várias ocasiões. Assim, a perspectiva de uma decisão é cada vez menor e o processo infinito de decisão nunca termina.

Isso significa que a crise da dívida, a crise das finanças estatais, a moeda, a União Europeia, são infinitas?Actualmente, a crise transformou-se num instrumento de dominação. Serve para le-gitimar decisões políticas e económicas que privam os cidadãos de toda possibilidade de decisão. Na Itália, é muito claro. Aqui, um governo foi formado em nome da crise e Berlusconi está de volta ao poder apesar de que ser radicalmente contra a vontade do eleitorado. Este governo é tão ilegítimo quanto a chamada Constituição europeia. Os cidadãos europeus devem perceber que esta crise sem fim – tanto como o estado de emergência – é incompatível com a de-mocracia.

Que perspectivas restam agora para a Eu-ropa? É preciso começar por restabelecer o sen-tido original da palavra “crise”, como um tempo de julgamento e de escolha. Não podemos adiá-lo para um futuro indefinido na Europa. Há vários anos, o filósofo Ale-xandre Kojève, alto funcionário da embrio-nária União Europeia, propôs que o homo sapiens tinha chegado ao fim da história e que só restavam duas possibilidades. Ser o “american way of life” que Kojève viu um acordo pós-histórico. Ou, o snobismo japonês, simplesmente continuar a cele-bração de rituais vivos da tradição, agora privada de significado histórico. Creio, no entanto, que a Europa poderia realizar a alternativa de uma cultura que seja ao mes-mo tempo humana e vital, tanto porque se encontrará em um diálogo com sua própria história, ao mesmo tempo que adquiriria uma nova vida.

A Europa, entendida como cultura, não só como espaço económico, poderia dar uma resposta à crise? Por mais de duzentos anos, as energias humanas concentraram-se na economia. Muitas coisas indicam que talvez tenha chegado o momento para o homo sapiens de organizar uma nova acção humana além desta única dimensão. A velha Europa pode aqui fazer com precisão uma contribuição decisiva para o futuro.

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18 hoje macau sexta-feira 22.11.2013h

metrópolis Tiago Quadros*

AS CASAS DE LEONOR

A NTES de mais e se calhar sem mais nada, é preciso dizer que sempre vi na literatura, muitas e muitas arquitecturas. Algumas

das questões mais importantes resultantes da experiência literária são a busca do sentido e da nossa identidade, na relação com outras identidades, e na forma como esta pode ser evocada e renovada. O processo da leitura pode constituir uma revisão de como nos vemos a nós próprios (o eu) e o outro, de como imaginamos e construímos (na espacialidade) o projecto do homem (na temporalidade). E assim também acontece com a arquitectura. A construção da nossa identidade, só pode ser feita no

corpo lembrado das nossas casas. Como num álbum de fotografias, em que nos reconhecemos apesar da imagem da casa se modificar continuamente.

Hoje, as sociedades organizadas concorrem para a satisfação da necessidade social da espécie humana, acumulando grupos que se identificam como entidades congénitas institucionais levadas ao paradigma da escala de poder onde uns parecem ser mais que outros. Que espécie humana permite essa escala que pejora a relação saudável da sociedade onde está sujeita a necessidade de presença do semelhante, como um castigo, e onde a quietude não tem lugar? Onde vamos

sem Emma Bovary? Para quem em toda a pergunta há uma ociosidade?

A razão da aglutinação nas grandes cidades, onde o espaço vital se deteriora, reside na exiguidade da liberdade de movimentos, mas também no número de regras indispensavelmente estabelecidas para salvaguardar o controle dos direitos do poder sob a capa da salvaguarda da igualdade de direitos. Quem o permite, esse poder, senão essa mesma sociedade que, faminta da presença das “massas” no seu círculo, consente subjugar-se a critérios ditados por alguns, em detrimento do próprio círculo onde se inscreve cada sociedade?

Poemas para Leonor é o mais recente livro de Maria Teresa Horta. Muito mais do que um conjunto de versos dedicado a Leonor de Almeida Portugal, estes poemas fazem parte do processo de escrita de As Luzes de Leonor. Escritos ao mesmo tempo que o romance, e ao longo dos mais de dez anos que durou a sua preparação, falam sobre a experiência da criação da personagem central, interrogam-na, acompanham-na, espelham-na e dialogam com ela.

Para além do mais, a escrita de Maria Teresa Horta é promessa de felicidade porque contraria a maneira de subordinar a cidade a uma só visão. Porque vivemos barricados num território de distopias, pequenos mundos organizados para uma função determinada, com as suas hierarquias, a poesia de Maria Teresa Horta combate um tempo em que todo o espaço seja já percurso para algo, em que toda a representação do corpo nos lugares seja invisível, em que o sujeito não reconheça em si mais que uma peça da engrenagem.

Neste poema, Maria Teresa Horta pensa ou percepciona a “casa” como visão de uma consciência que é a sua e que é intencional, subjectivamente virada para o seu objecto de pensamento (a realidade e o mundo). Em As Casas, Maria Teresa Horta diz-nos que os nossos mais recônditos pensamentos e as nossas acções, a alegria e a dor, exprimem a nossa necessidade de abertura ao sentido, sentido esse que impregna culturalmente comportamentos, emoções e vontades, em busca da felicidade, do prazer, da verdade, mesmo que situadas historicamente. E nós, mesmo que afastados desse tempo e desse espaço, lembramos os espaços que não conhecemos como um espelho sem lados falsos. Somo mais nós e menos os outros - à espera do dia em que a Casa, se nos revele.

*Arquitecto, Mestre em Cor na Arquitecturapela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa

As Casas

Foram tantas as casasque tivesteao longo da tua vida

Moradas e endereçospaláciossítios de avesso

E outras casas aindaem países tão diversose cidades já esquecidas

Por entre matas, jardinsou moradias de sombraoutras de lua e jasmim

Casas com fontes e lagosalamedas recamadasrosas de cerca e cisterna

Habitando o teu passadode enigmas e de poemasencontros e calamentos

Casas de pedra e de mármorecom escadarias cansadassótãos, mistérios, patamares

Situadas em travessasruas, quintas e calçadascasas de escrita e de invento

Para ti casas sem temponelas passando apressadado destino o cruzamento

(Maria Teresa Hortain Poemas para Leonor)

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19 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 22.11.2013

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M UDANÇAS, mutações, me-tamorfoses. Tudo palavras para dizer mais ou menos a mesma coisa, sendo que este

“mais ou menos” tem a vastidão de um abis-mo. Ora estava eu relativamente sossegado a ler um tratado alquímico do século XVIII (Ennoea ou Aplicação do Entendimento so-bre a Pedra Filosofal, do português Ansel-mo Caetano), na extensa parte que concer-ne as mudanças, mutações e metamorfoses quando tombo numa passagem que pouco tinha a ver com as metástases do Mercú-rio, as efabulações do Sal ou as evolações do Enxofre. Nada disso. Para meu espanto, cita o autor o renomado Reverendíssimo Padre Kircker sobre um fenómeno que ocorre aqui mesmo, nos Mares do Sul da China. Passo a citar, adaptando a ortogra-fia, à excepção da toponomínia:

“Nos mares de Gaóxa, Ilha da China na Província de Quantungo, há um peixe, a que os Chins, segundo escreve Kircker, chamam Hoangeioyu, que vale o mesmo que peixe amarelo. Do princípio do Outono até entrar o Estio fica este peixe nas águas do mar, don-

Carlos Morais José

A PROLIFERAÇÃO DOS MONSTROS

de procuram os nacionais pescá-lo, porque é muito delicado e saboroso ao gosto; mas no princípio do Verão se transforma em Ave de pena amarela, e como as mais Aves, levanta o voo, e vai aos montes buscar o seu sustento. Porém em chegado o Inverno, passa do Ser-tão para as praias do mar, e metido nas on-das, converte as plumas em escamas, até que tornando a Primavera, lhe renascem as asas, e assim com perpétua revolução vai este anfíbio mudando de espécie.”

Está visto. A coisa não é de hoje. E quem somos nós para duvidar de uma douta fon-te, como o Reverendíssimo Padre Kircker. Está pois visto que aqui nestes mares do sul da China já há muito tempo pululam fenó-menos de fazer inveja aos nossos populares monstros do Entroncamento e do Funchal. Em termos de estranheza, de excepção à regra, de monstruosidade, numa palavra, por aqui pedimos meças. Temos de tudo, do mais estranho ao mais bizarro, do mais fantástico ao mais improvável. Até, segun-do o testemunho inabalável do Rev. Padre Kircker, um peixe que sazonalmente se transforma em ave. Cool, no mínimo...

Segue jogo. Um monstro, um mons-tro... afinal, o que é um monstro? Algo que se define por uma qualquer estranha exces-sividade em relação à norma. Sei lá... por exemplo, o King Kong é um monstro não por ser diferente nas suas formas dos outros gorilas mas por ser excessivamente grande. Às vezes o excesso pode ser parcelar, como no caso de algumas deformidades, etc.. Seja como for, o monstro tem sempre um carácter qualquer de excessividade. Ora é precisamente esta tendência para o exces-so que testemunhamos aqui em Macau, uma obsessão com a criação de monstros. “O meu monstro é mais monstruoso que o teu”, parecem querer dizer os grandes construtores deste Macau à beira do Rio das Pérolas abandonado. Claro que a cida-de fica transformada numa espécie de Par-que de Monstruosidades, sem referências nem filiações locais. Que uma parte seja assim, tudo bem, todos aceitam, mas que as bocas glutonas destes Godzillas abafem uma cidade com 500 anos de História, sem pejo nem respeito, pelo passado e sobretu-do pelo futuro, não dá mesmo para engolir

em silêncio, sob pena de virmos a ser a cha-cota dos vindouros.

Aqui há uns anos, com a liberalização do Jogo em processo, será que não se pensou em definir espaços na malha urbana? Será que não se antecipou a necessidade de estudo integrado de transportes, quer para zonas tu-rísticas quer para áreas residenciais? Será que não se pensou em criar regras para limitar a monstruosa fome dos concessionários e os seus desvarios arquitectónicos?

Mutatis mutantis, por falar de monstruosi-dades, estou a ficar realmente preocupado com a saúde mental dos responsáveis go-vernamentais para a área da Comunicação. É que todas as campanhas governamentais continuam a usar a mesma linguagem in-fantil ou infantilizada, com recurso a uma bonecada ainda por cima mal desenhada. Existe algum complexo de infantilidade neste governo, que assim se espelha na sua comunicação? Julgam que a população rea-ge melhor com estímulos infantis?

Sejam sérios com coisas sérias e tratem as pessoas como gente séria, sob pena de todos os levarem a brincar.

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GONÇ

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LOBO

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20 DESPORTO hoje macau sexta-feira 22.11.2013

MARCO [email protected]

O plantel da Casa do Sport Lis-boa e Benfica de Macau asse-

gurou ao início da noite de ontem a subida ao principal escalão do futebol de sete do território, ao derrotar o Ching Fung pela margem mínima, em partida a contar para as meias finais da edição de 2013 do Campeonato da Segunda Divisão.

Bem disputado, o desafio premeditava o reencontro entre as águias do território e Rui Cardoso, treinador que esteve na génese do projecto do Macau e Benfica. Depois de ter estado afastado do banco durante grande parte da última temporada, Rui Cardoso aceitou no último Verão o convite de João Rosa para orientar o Ching Fung com o objectivo de fazer

ENCARNADOS VENCEM CHING FUNG PELA MARGEM MÍNIMA

Benfica assegura subida de divisãoposição frontal à baliza do Ching Fung e não perdoou, fulminando o guarda-redes adversário com uma “bom-ba” indefensável.

O sete orientado por Fer-nando Silva quase marcou o segundo nos derradeiros instantes do desafio, numa espectacular tentativa de longe – um chapéu imperfei-to – que quase surpreendeu o guarda-redes da formação orientada por Rui Cardoso. Com a subida ao primeiro escalão já garantida, o Benfica vai agora procurar segurar a vitória no Campe-onato. As águias do território enfrentam o Weng Kei (que derrotou o Guia na lotaria das grandes penalidades) no encontro decisivo da prova. Fernando Silva assegura que a partida é para ganhar: “Não vou ser hipócrita e dizer que não queremos ganhar o título. Temos consciência de que não vai ser fácil porque qualquer das equipas que chegaram a esta fase são muito fortes. Se chegámos até aqui vamos, no entanto, fazer o que for possível para garantir a vitória neste último jogo”, esclarece o técnico encarnado.

NOTIFICAÇÃO EDITAL N.º 112/2013(Solicitação de Comparência do Trabalhador)

Nos termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 6.º do Regulamento da Inspecção do Trabalho, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 60/89/M, de 18 de Setembro, conjugado com o artigo 58.º e n.º 2 do artigo 72.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, notifica-se o residente Sr. TAM MAN LOK, então trabalhador do “ESTABELECIMENTO DE COMIDAS SAN ON KEI”,, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do primeiro dia útil seguinte à da publicação do presente édito, comparecer no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, a fim de prestar declarações no processo n.º 9912/2012, instaurado relativamente à matéria de contribuição para o F.S.S.

Mais se comunica que nos termos da alínea a) do n.º 2 do artigo 103.º do aludido Código, o procedimento é extinto quando por causa imputável ao notificado este esteja parado por mais de seis meses.

Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 18 de Novembro de 2013.

A Chefe do Departamento

Lurdes Maria Sales

do emblema campeão no segundo escalão e assegurar a ascensão ao convívio dos grandes do futebol de sete de Macau. O projecto do experiente técnico acabou por esbarrar na ambição dos jogadores que orientou ao serviço do Sport Lisboa e Benfica do território. O equilíbrio foi a nota domi-nante de um desafio pautado por boas oportunidades de parte a parte, mas as águias do território tiveram a sorte pelo seu lado e demonstra-ram maior eficácia no frente a frente com o guarda-redes adversário.

A formação orientada por Fernando Silva foi mais dominadora nos primeiros vinte e cinco minutos, mas não conseguiu traduzir por golos o ascendente ligeiro de que dispôs. O sete encarnado voltou a entrar melhor na etapa complementar, mas foi o Ching Fung quem mais

perto esteve de inaugurar o marcador. A formação orientada por Rui Cardoso desperdiçou aos cinco mi-nutos do segundo tempo uma oportunidade de ouro para saltar para a frente do marcador, mas isolado perante o guarda-redes do

Benfica, o costa-marfinense Patience Shako Omeonga não conseguiu corresponder da melhor forma a um passe rasgado do compatriota Arnold Mbuyu e falhou o enquadramento com o últi-mo reduto adversário.

A resposta do Benfica

dificilmente se poderia ter afigurado mais eficaz. As águias do território inau-guraram o placard aos 41 minutos, numa boa jogada de ataque concluída com um remate fulminante de Fabrício Lima. O avança-do brasileiro apareceu em

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C I N E M ACineteatro

hoje macau sexta-feira 22.11.2013 FUTILIDADES 21

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 19 MAX 24 HUM 60-85% • EURO 10.7 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

João Corvo

Quem vai à terra, dá, leva e ainda lhe cobram impostos.

fonte da inveja

SALA 1THE HUNGER GAMES: CATCHING FIRE [C]Um filme de: Francis LawrenceCom: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Philip Seymour Hoffman14.15, 16.45, 19.15, 21.45

SALA 2 BENDS [C]Um filme de: Iora IauCom: Carina Lau Kar-Ling, Chen Kun14.30, 16.15, 18.00, 21.45

SALA 3INSIDIOUS CHAPTER 2 [C]Um filme de: Kees van OostrumCom: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey, Lin Shaye19.45

Pu YiPOR MIM FALO

Vamos todos aprender a ser talentosos

M A C A U [ S Ã ] A S S A D OA NOVA MODA DA POLÍCIA Foto: Facebook

• Como pouco ou nada sabem fazer, a polícia da RAEM agora tem uma nova moda: a de multar ou, na pior das hipóteses, rebocar bicicletas. A ideia – que deve ter vindo de um desses superiores iluminados -, está a ser mal recebida pela população. Enfim, é caso para dizer que quando não há nada para fazer, fazem-se disparates...

EMMA SABE FAZER BOQUINHA

Aos 25 anos, Emma Frain sabe como se colocar em frente à câmara. Vestida ou sem roupa, a britânica costuma ser, regularmente, capa da revista Nuts em Inglaterra. Nunca realizou qualquer sessão fotográfica de nu completo mas é rodada em fazer topless. Dona de um corpo curvilíneo – e 100% natural -, a modelo também já apareceu noutras revistas para homens e os seus seios já foram considerados uns dos melhores de toda a Grã-Bretanha. E Deus criou a Mulher...

Bebé que fumava 40 cigarros por dia deixou o vício mas padece de obesidade• Lembra-se do menino indonésio que fumava dois maços de cigarros por dia? O pequeno Ardi Rizal, que reside numa ilha de Sumatra, surpreendeu o mundo com um vício nada recomendável, sobretudo para uma criança de dois anos de idade. O tempo passou e Ardi conseguiu deixar o tabaco, mas agora tem outro problema de saúde: é viciado em comida e padece de obesidade.

Mulher obriga namorado a passar no detector de mentiras todos os dias• A britânica Debbie Wood é extremamente ciumenta e faz a vida negra ao namorado, que tem de passar no detector de mentiras, todos os dias, e fica impedido de ver programas de televisão onde apareçam mulheres atraentes, ou ver revistas com o mesmo tipo de ‘concorrência’. Esta relação pouco saudável não termina porque, na verdade, Debbie padece de uma doença, chamada ‘síndrome de Otelo’.

Tenho cá para mim a ideia de que o talento nasce connosco, mas que também pode ser lapidado qual pedra preciosa. Por isso esta pequena missiva pode ser endereçada ao Governo e particularmente aos Serviços de Educação e Juventude. E se inserissem uma disciplina nas escolas cujo nome seria “ser talentoso – passos fundamentais”? Com tanto foco na palavra talento, acredito que o Chefe do Executivo até poderia pensar no assunto. Trata-se, contudo, de uma ironia da minha parte. E peço, desde já, por fazer uma comparação a Portugal, mas ontem li uma noticia que me remeteu para este assunto. O ministro da Economia português, António Pires de Lima, defendeu na Assembleia da República a criação da disciplina de empreendedorismo como obrigatória nas escolas. Está bem. Os títulos dessa disciplina deverão ser “como ser empreendedor e os desafios”. “Empreendedorismo

no mundo global”. “Como criar uma empresa num país sem dinheiro”. Ou ainda “Ter uma ideia empreendedora”. Ser empreendedor tem tudo a ver com o ser talentoso. O problema é que estas duas qualidades ou características humanas nascem com a pessoa, são espontâneas – não se ensinam. Não se ensina ninguém a ter visão, simplesmente se tem e pronto. No caso de Portugal, que sofre de falta de dinheiro no serviço público de educação, aconselho a focarem-se no que realmente interessa: disciplinas, pagar ao público e não ao privado, bons professores, turmas equilibras. No caso de Macau, já que estamos em altura de talentos, apostem na melhoria do serviço público de educação e, sobretudo, na sua uniformização. Flexibilizem as leis. Criem mais cursos superiores ao nível das ciências sociais e humanas e das artes. Acredito que, dessa forma, os talentos vão acabar por aparecer.

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22 OPINIÃOperspect ivasJORGE RODRIGUES SIMÃO

hoje macau sexta-feira 22.11.2013

“The balance of payments is an accounting device that records all international transactions between a particular country and the rest of the world for a given period.”

Thomas OatleyInternational Political Economy

A aliança do Estado e dos comerciantes insere-se no complexo jogo das rivalidades entre as três grandes potências do XVII, as Províncias Unidas que foi um Estado europeu, predecessor da actual Ho-landa, Inglaterra e a França e também desempenha

um papel decisivo na descompartimen-tação interna das economias nacionais. O contexto da crise económica fornece uma chave importante para a interpreta-ção das mudanças ocorridas nessa época.

Quer resultem das guerras e das epidemias que propagaram ou do declínio no afluxo de metais preciosos da América, pois os dois fe-nómenos não são independentes um do outro, a crise que se difunde da Espanha, em 1600 e da Itália em 1620 e das Províncias Unidas e da Inglaterra, em 1650, faz realçar os limites de um crescimento unicamente baseado no alargamento das exportações, reforçando assim as reivindicações dos negociantes em prol da liberdade e do comércio externo.

O comércio externo herdou da época feu-dal uma quantidade de obstáculos internos às trocas como as portagens que se sucedem ao longo dos caminhos, pontes, entradas das cidades, múltiplas unidades monetárias que obrigam o recurso frequente ao câmbio e regulamentos de cada cidade.

A tarefa de unificação do mercado interno, que tem algo de familiar para os Europeus no final do século XX, à qual se aplicam os Estados, abrange tanto a liber-dade de circulação das mercadorias como a harmonização das unidades monetárias e dos pesos e medidas.

A união aduaneira entre as províncias francesas, e apenas em três quintos do ter-ritório, realizou-se em 1664. O historiador francês, Fernand Braudel, quanto ao tema afirmou estar-se perante a formação de economias nacionais, ou seja de espaços económicos coerentes, formados com base em espaços políticos estruturados pelos Estados, algo distinto da tão desejada e cada vez menos conseguida união económica e monetária de uma Europa letárgica de lide-ranças cinzentas, assassina dos seus pares, como está a acontecer na Grécia, berço da civilização ocidental.

A estruturação política deve ser entendida como a imposição pela força de uma língua e de uma religião nacionais únicas, assim como o enquadramento das populações por administrações centrais poderosas e repres-sivas, transformação que o pensador francês, Michel Foucalt, reconstitui de forma assaz impressionantes nos seus escritos.

A supremacia marítima era com efeito, a chave da expansão colonial e sobretudo do controlo do comércio com as colónias. A partir de 1700, a América, a Índia e África forneceram um terço das importações e um sétimo das explorações britânicas, proporções que aumentaram progressivamente no século XVIII

A utilidade da balança de pagamentosÉ no domínio do trabalho e no Reino Uni-

do, da terra que a ofensiva dos negociantes deparou com a oposição mais virulenta. A resistência das corporações à formação de um mercado de trabalho, ou seja, à desregu-lação das condições de emprego, manteve-se até ao final do século XVIII.

Os privilégios das corporações, na França, só foram suprimidos por Turgot, ministro das Finanças do rei Luís XVI de França, em 1776. O estatuto dos artesãos foi abolido, na Inglaterra, em 1814. O lento declínio das corporações de ofícios exprime o ascendente cada vez maior do capitalismo comercial sobre os fabricantes e dominando a actividade industrial desde a Idade Média.

As corporações só podiam conservar os seus privilégios no âmbito de uma estrutura produtiva atomística, caracterizada por inúmeras pequenas empresas artesanais de dimensões semelhantes. O aumento da concentração industrial e a deslocalização das actividades industriais das cidades para os campos e das cidades grandes para as pe-quenas permitiram aos comerciantes vencer essa resistência.

O fenómeno típico da época contempo-rânea é a deslocação das actividades para a periferia com vista a liquidar as conquistas do mundo do trabalho, revelando-se como uma simples reactualização de uma antiga estratégia.

Os campos, na época mercantil, ainda fazem parte da periferia de uma economia--mundo cujo desenvolvimento se fez por abertura ao exterior e penetração em espaços continentais, num movimento de fora para den-tro, do comércio internacional para o comércio interno, ao oposto da dinâmica das reformas económicas, encetadas no terceiro quartel do século XX, pelo partido comunista chinês.

O mercantilismo, mais do que verda-deiramente uma doutrina é um conjunto de práticas, que foi desde logo objecto de uma condenação sem apelo nem agravo, por parte dos pensadores económicos. A imagem ne-gativa que no presente se conserva remonta a Adam Smith que lhe fez um ataque cerrado em “A riqueza das nações”.

Tal imagem é mantida pela corrente liberal que tende a ver apenas arcaísmo e incoerência nas doutrinas e políticas económicas que precedem a publicação dessa obra. No entanto, com o decorrer do tempo e o testemunho menos parcial dos historiadores, o mercantilismo surge como o primeiro exemplo de intervenção sistemática e coerente do estado na vida económica. Essa intervenção assume todo o significado no contexto depressivo e belicoso do século XVII.

Após a expansão prodigiosa do século anterior, o abrandamento do movimento de trocas alimenta a convicção de que o enriquecimento de uns é sinónimo do empobrecimento de outros. Num mercado mundial em estagnação, o crescimento só pode provir dos lucros de partes de mercado.

Enriquecer é a palavra-chave, oposto no

presente pelas políticas macroeconómicas co-ercivamente impostas pela famigerada “troika” nos países intervencionados, cujo resultado é o empobrecimento dos Estados-membros. Erradamente, a crítica liberal atribuiu aos mercantilistas o equívoco de acreditarem que a acumulação de metais preciosos seria o critério mais seguro da riqueza nacional.

O sociólogo alemão, Max Weber, insurgiu-se contra essa ideia caricatural na sua “História Económica Geral”. Todos sabiam que uma população numerosa e in-dustriosa, um solo fértil em clima favorável, manufacturas e uma marinha activa são as verdadeiras fontes e garantes da riqueza. Se na época davam tanta importância ao saldo em metais preciosos, era porque o ouro e a prata continuavam na base de um sistema de crédito ainda rudimentar, e portanto seriam o recurso supremo do “príncipe”.

metais, raramente eficaz, como demonstrava o exemplo espanhol.

O estímulo à produção interna, através de uma protecção contra as importações e o encorajamento das exportações, era a sua palavra de ordem. Além do efeito positivo no saldo comercial, essa política devia per-mitir aumentar as receitas do Estado, por alargar o âmbito fiscal. Mais genericamente, a apologia do trabalho manufactureiro, do comércio e da expansão colonial são os te-mas principais dessa doutrina, inteiramente consagrada ao reforço do poder de Estado.

Significativamente, a sua reabilitação foi obra, no final do século XIX, de autores ale-mães, como o economista Gustav von Schmol-ler, que a transformaram numa teoria do “State making”. A Alemanha, na época, que acabava de realizar a unificação política, empenhava--se com todas as suas forças na construção de uma indústria pesada e na conquista colonial. O economista germano-americano, Friedrich List, apresentou argumentos a favor da pro-tecção das indústrias nascentes idênticos aos invocados no presente, com vigor por muitos países em desenvolvimento.

A partir do século XVII, a natureza agressiva do mercantilismo no plano externo exprimiu-se pelas leis da navegação britâni-cas. Segundo estes diplomas legais, só podiam entrar na Inglaterra as mercadorias transpor-tadas por navios ingleses ou pertencentes aos países de origem dos produtos e o comércio com as colónias só podia fazer-se sob pavilhão britânico. As Províncias Unidas, claramente visadas por estas medidas, não podiam deixar de reagir, e de 1652 a 1674, três guerras, nada menos, opuseram-nas à Inglaterra.

A supremacia marítima era com efeito, a chave da expansão colonial e sobretudo do controlo do comércio com as colónias. A partir de 1700, a América, a Índia e África forneceram um terço das importações e um sétimo das explorações britânicas, propor-ções que aumentaram progressivamente no século XVIII.

A concessão de monopólios para a ex-ploração de recursos coloniais é a segunda alavanca da expansão comercial. Seguindo o modelo da Companhia das Índias Orientais holandesa, fundada em 1602, foram criadas na Inglaterra, por iniciativa privada, e em França, na Dinamarca e na Suécia, por iniciativa estatal, empresas coloniais, as primeiras sociedades anónimas por acções.

No plano interno, o estímulo da oferta adquire a forma mais acabada em França, com a acção sistemática de Colbert, ministro da economia do rei Luís XIV, a favor das manufacturas. Estas beneficiam de isenções fiscais, encomendas do Estado e privilégios honoríficos, como o título de manufactura real. Controlos e regulamentos de fabrico permiti-ram elevar a qualidade da produção francesa a níveis inigualáveis na Europa. Um proteccio-nismo selectivo, que faz lembrar o praticado pelos novos países industrializados da Ásia actual, isenta fiscalmente as matérias-primas necessárias à transformação industrial.

A acumulação de metais preciosos era em primeiro lugar a forma de garantir o crédito do Estado e financiar a guerra, mas também a forma de manter um nível elevado de cir-culação monetária e, por essa via, impedir a baixa dos preços e a subida das taxas de juros. Segundo os mercantilistas, esta acumulação podia ser realizada com mais segurança por políticos que quisessem libertar excedentes comerciais do que pela proibição de saídas de

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Page 23: Hoje Macau 22 NOV 2013 #2980

23 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau sexta-feira 22.11.2013

H Á momentos em que ser jor-nalista nesta terra é difícil, mas mesmo muito difícil. Não me refiro aos obstáculos que se encontram todos os dias nas mais pequenas coi-sas. Não me refiro ao modo como os jornalistas são tra-tados nos mais importantes momentos da vida oficial da

terra. Não me refiro sequer ao desrespeito que, de quando em vez, existe pela língua em que escrevo por parte de quem apregoa, aos sete ventos para toda a gente ouvir, que o português é importante e os portugueses também. Não, nada disso. Difícil mesmo é ouvir respostas parvas a perguntas que eu – e graças ao nosso senhor a maior parte dos meus leitores – considero pertinentes.

É difícil manter a calma quando nos insultam a inteligência. Vai daí, por sentir isso na qualidade de jornalista, de cidadã com obrigação de fazer perguntas, tenho sempre dificuldade em perceber como é que outros cidadãos, com funções bem mais importantes do que a minha, não sentem a inteligência insultada quando colocam certas e determinadas questões a certas e determinadas pessoas e, na volta, levam com respostas parvas.

Caso prático: esta semana o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de seu nome Cheong U, e o director dos Serviços de Saúde, que responde pela graça de Lei Chin Ion, estiveram na Assembleia Legis-lativa para um encontro com a comissão permanente que está a analisar a proposta de lei do erro médico.

Contexto: a mesma comissão tinha anun-ciado que ia perguntar ao Governo quais os planos que tem para a área da saúde, por entender que o erro médico se evita também ao garantir serviços de qualidade, qualidade essa que ainda não está ao nível desejado (e são os deputados que o dizem). Pois bem, o secretário e o director lá foram à Assembleia.

Resultado: estatísticas que o mais leigo dos leigos na matéria sabe que não chegam para justificar a grande verdade anunciada por Lei Chin Ion. Diz o director dos Serviços de Saúde que os serviços de saúde estão melhor do que estavam. Para que não me falte o rigor, eis os parâmetros apontados para fundamentar semelhante conclusão: a esperança média de vida, que é elevada em Macau, a taxa de doentes com cancro que sobrevivem e o baixo número de mortes à nascença. E é com estes três dados que Lei Chin Ion elogia o trabalho de Lei Chin Ion. Tudo isto a acreditar no relato do presidente da comissão, o ilustre Cheang Chi Keong, que parece ter ido na conversa dos interlo-cutores governamentais.

Interessa-me saber que mestrado tem o Chefe do Executivo na área da saúde que não o ensinou a encher-se de ganas para ter o melhor hospital (público) do mundo. Ou da Ásia. Ou da Grande China, vá lá

Os parvos

Cheang Chi Keong só não alinhou no dis-curso quando se chegou à parte da discussão que interessa: a qualidade dos serviços de saúde e o erro médico. É que Lei Chin Ion acha que uma coisa e outra não têm relação directa. Pois está claro: um cirurgião a operar em série ou um médico que dá 27 consultas numa tarde corre poucos riscos de algum dia ser julgado por erro médico. Antes de chegar ao tribunal, morre de cansaço.

Curiosa, quis saber se por acaso algum deputado tinha querido obter o número de queixas que chegam aos serviços de saúde – uma pergunta que achei que poderia ser útil para se perceber da pertinência (ou não) da legislação que se está a querer aprovar. Parvoíce a minha, que desde já admito: numa reunião sobre o erro médico, não se falou de queixas por erro, negligência, mau atendimento ou qualquer outra coisa acompanhada da palavra médico.

Quanto a Cheong U, desconheço o que terá dito na reunião, mas aposto que não terá dito grande coisa, que do secretário responsável pela tutela da saúde não re-cordo declaração vigorosa sobre a matéria. Apesar de ser secretário como os outros, apesar de haver um hospital por construir há vários anos, apesar de aquele que existe estar a rebentar pelas costuras, apesar de os serviços de saúde estarem cada vez pior (e não sou eu que o digo, é basicamente toda a gente que se serve deles, grupo em que, verdade-verdadinha, deputados e membros do Governo não se incluem).

Conclusão: diz o presidente da comis-são que é preciso melhorar o software e o

hardware (sic) dos serviços de saúde, de qualidade desnivelada. E assim ficámos, sem tempo para mais perguntas entre jornalistas e Cheang Chi Keong na conferência que se seguiu à reunião com os representantes do Governo. Cheang Chi Keong estava com pressa, como de costume, para almoçar, que comer bem dá saudinha. Não houve tempo para mais perguntas nem mais respostas. E eu, curiosa, queria saber mais das ideias trocadas entre deputados e convidados, que a saúde é assim uma coisa que me interessa.

Interessa-me saber quando é que foi a última vez que um secretário, um filho de um secretário ou um cônjuge de um se-cretário ficou hospedado no São Januário. Também me suscita curiosidade saber onde o Chefe do Executivo e família se tratam das maleitas. Interessa-me saber quando é que foi a última vez que um secretário visitou uma enfermaria do São Januário. Quando é que foi a última vez que entrou numa casa de banho do São Januário. Quando é que foi a última vez que viu um lençol do São Januário. Quando é que foi a última vez que almoçou numa cama no São Januário. Tudo coisa de topo, digno de um hospital do terceiro mundo. São ninharias, eu sei.

Interessa-me saber quando é que foi a última vez que um secretário viu a lufa-lufa de enfermeiras e o rodopio de médicos num hospital que não tem espaço para camas, que não tem camas livres, que deixou de ter portas nos quartos para que fossem lá enfiadas mais camas, que tem bons profissio-nais mas que também tem profissionais que tratam os doentes às três pancadas, como se fossem papelada numa qualquer repartição da Função Pública, como se fossem números que não interessam a ninguém.

Interessa-me saber quando é que foi a última vez que um secretário levou com o nariz na porta enquanto esperava por notícias de um ente querido e com a indiferença de quem está a trabalhar no sítio errado ou com a incompetência de quem nunca parou para pensar no que faz. E interessa-me saber quando é que os outros, os que fazem bem e que fazem o possível e o impossível, vão ser mais. Muitos mais.

Interessa-me saber que mestrado tem o Chefe do Executivo na área da saúde que não o ensinou a encher-se de ganas para ter o melhor hospital (público) do mundo. Ou da Ásia. Ou da Grande China, vá lá.

Enfim, perguntas parvas. Para respostas nenhumas.

cartoonpor Stephff

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A LÂMPADA DO ACORDO

Page 24: Hoje Macau 22 NOV 2013 #2980

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hoje macau sexta-feira 22.11.2013

MARCO [email protected]

N O próximo domingo os olhos do mundo estarão voltados para Macau e entre os muitos milha-

res que não irão perder pitada ao duelo entre o filipino Manny Pa-cquiao e o norte-americano Bran-don Rios está David Beckham. O antigo internacional inglês é o mais notável dos convidados de honra da Sands China e vais assistir ao regresso de Pacquiao aos ringues a partir das bancadas da Arena do COTAI. A vinda ao território do antigo jogador do Manchester United, do Real Madrid e dos Los Angeles Gala-xy não tem, no entanto, o mítico confronto entre Pacquiao e Rios como móbil exclusivo. Beckham está em Macau também para fazer negócio e a Las Vegas Sands é o parceiro escolhido pelo antigo

ASTRO DOS RELVADOS VAI ASSISTIR AO DUELO RIOS-PACQUIAO

Beckham assina pela Las Vegas Sandsinternacional inglês para procurar exponenciar os seus interesses no mercado asiático.

David Beckham e o presidente da Sands China, Edward Tracy, vão dar a conhecer esta tarde no Vene-tian, os contornos de uma parceria válida para as propriedades da Las Vegas Sands no continente asiático. Para além de abarcar os casinos da operadora no território, a parceria prevê também que a imagem de David Beckham seja associada também ao Marina Bay Sands, o casino explorado pela empresa--norte americana em Singapura. A assinatura do acordo traz de resto também a Macau George Tana-sijevich, o presidente e Director Executivo do Marina Bay Sands.

Ao que o HM apurou junto da Associação de Futebol de Macau, David Beckham deverá ainda con-fraternizar por breves momentos com alguns dos jogadores das Es-colinhas de Futebol do Instituto do

Desporto, numa iniciativa que terá as próprias instalações do Venetian como palco. O antigo internacional inglês despediu-se dos relvados em Maio último depois de ter alinhado na última temporada nos franceses do Paris Saint Germain. Ao longo de uma carreira de quase duas décadas, Beckham conquistou um total de dezanove troféus. O antigo futebolista do Manchester United é o único jogador inglês a ter vencido o campeoanto em quatro países diferentes. David Beckham foi campeão em Inglaterra, em Espanha, nos Estados Unidos e em França e apesar de se ter despedido dos relvados, deixou claro que o seu futuro vai continuar ligado ao futebol. O ex-internacional inglês voltou a ser notícia no início da semana, depois de se ter tornado público que estaria a discutir com o basquetebolista LeBron James a criação de uma nova equipa de futebol em Miami.