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Jason Chao e ex-alunos da UM promovem uma acção de protesto no campus da Ilha da Montanha contra o assédio sexual e pela liberdade académica. São sete as deputadas que actualmente marcam presença no hemiciclo local. Uma nova realidade de mulheres de poder dividas entre a política e a família. UNIVERSIDADE Sexo e liberdade Deputados e associações pedem acções mais severas no combate às pensões ilegais que proliferam, sem punição, em Macau. A prometida revisão da lei continua sem calendário, entre estudos e avaliações. São cada vez mais as vozes que pedem uma intervenção imediata para acabar de vez com esta actividade. DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 23 DE OUTUBRO DE 2014 ANO XIV Nº 3199 hojemacau REPORTAGEM PÁGINAS 2-3 LEI DE ALOJAMENTO ILEGAL REVER E CRIMINALIZAR PÁGINA 4 ANIMAIS Estranhos interesses POLÍTICA PÁGINA 5 SOCIEDADE PÁGINA 7 ANIMA envia carta à Assembleia Legislativa sobre a proposta de lei que vai ser votada sexta-feira. O presidente, Albano Martins, fala de favorecimentos no canídromo. POLÍTICA COM ELAS PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB PENSAO LOGO EXISTEM ˜

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Hoje Macau N.º3199 de 23 de Outubro de 2014

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Jason Chao e ex-alunos da UM promovem uma acção de protesto no campus da Ilha da Montanha contra o assédio sexual e pela liberdade académica.

São sete as deputadas que actualmente marcam presençano hemiciclo local. Uma nova realidade de mulheres de poder dividas entre a política e a família.

UNIVERSIDADESexo e liberdade

Deputados e associações pedem acções mais severas no combate às pensões ilegaisque proliferam, sem punição, em Macau. A prometida revisão da lei continua sem calendário,

entre estudos e avaliações. São cada vez mais as vozes que pedem uma intervençãoimediata para acabar de vez com esta actividade.

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 2 3 D E O U T U B R O D E 2 0 1 4 • A N O X I V • N º 3 1 9 9

hojemacau REPORTAGEM PÁGINAS 2-3

LEI DE ALOJAMENTO ILEGAL REVER E CRIMINALIZAR

PÁGINA 4

ANIMAISEstranhos interesses

POLÍTICA PÁGINA 5

SOCIEDADE PÁGINA 7

ANIMA envia carta à Assembleia Legislativa sobre a proposta de leique vai ser votada sexta-feira.O presidente, Albano Martins, falade favorecimentos no canídromo.

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hoje macau quinta-feira 23.10.20142 REPORTAGEM

LEONOR SÁ [email protected]

H OJE em dia, a Assembleia Legislativa (AL) conta com a presença activa de sete deputadas, ainda

que nem todas tenham entrado ao mesmo tempo. Kwan Tsui Hang é quem há mais tempo se mantém no círculo pela lista União pelo Desenvolvimento, lutando pela melhoria da qualidade de vida dos residentes operários. A mais recen-te aquisição da AL é Song Pek Kei que, na casa dos 20, ocupa um dos 33 assentos pela lista Aliança do Povo de Instituição de Macau, ao lado de Chan Meng Kam.

Para a professora de Estudos de Género da Universidade de Macau (UM), Victoria Lei, a emancipação das mulheres de Macau e o seu estatuto actual na comunidade está relacionada com a evolução da China. Em-bora a académica considere que há pontos a ser melhorados – os números de mulheres vítimas de violência doméstica, por exemplo – admite que a presente situação é benéfica para o território e para o sexo feminino.

MULHERES NA POLÍTICA LOCAL: EM DIRECÇÃO À IGUALDADE

Senhoras do seu cariz

“Podemos ver que, depois da transferência, muitos trabalhos importantes ao nível social são dominados pelas mulheres” ELLA LEI Deputada

a académica, considerando que é importante que haja um equilíbrio entre a cadeia familiar e a carreira.

A professora formada no Rei-no Unido aproveitou ainda para referir um facto curioso: é que a esmagadora maioria das deputadas pertence à classe média e não é abastada. “Isto é um factor positivo e que ajuda à representatividade da população, mostrando às pessoas que há efectivamente alguém semelhante a dar a voz por elas”, colmatou Victoria Lei.

É DE PEQUENINA...O HM falou com três das deputa-das que neste momento ocupam lugares no hemiciclo. Para Ella Lei, tudo começou no escritório da deputada Kwan Tsui Hang, mas a política não era algo que a fas-cinasse particularmente. “Inicial-mente, não pensava envolver-me efectivamente na política, mas já trabalhava como assistente, desde 2003, no escritório da deputada [Kwan Tsui Hang]. Sentia-me bem e sabia que era significativo ajudar os residentes que nos pe-diam ajuda”, conta.

Assim foi até 2008, tendo entretanto assumido o cargo de chefe do departamento de Direitos e Interesses dos Trabalhadores da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM). Hoje em dia, Lei confessa-se “feliz” por poder expressar as necessidades dos

cidadãos na AL. Na perspectiva da deputada, a Mulher está cada vez mais participativa em termos polí-ticos. Além disso, diz, a sociedade moderna apela para o esbatimento do preconceito entre os dois sexos.

“Podemos ver que, depois da transferência, muitos trabalhos

importantes ao nível social são dominados pelas mulheres”.

REGIME “BASTANTE ABERTO”O especialista de Política e Ad-ministração Pública da UM, Eilo Yu, considera “positivo” o facto de haver cada vez mais mulheres envolvidas na política local. “Se olharmos para a constituição da AL, há cada vez mais mulheres no hemiciclo e cada vez mais novas”, comenta o académico.

Ao HM, Eilo Yu diz ainda que o regime político do território é “bas-tante aberto” ao sexo feminino e não apenas na AL, mas sim noutros serviços governativos. Além disso, referiu ainda a existência de várias associações lideradas por mulheres e que se focam nos mais diversos assuntos sociais.

Como deputada, Ella Lei é reivindicadora por natureza e não deixou, por isso mesmo, de apontar os ainda existentes males na socie-dade local, no que diz respeito à desigualdade entre sexos. “É preciso melhorar o serviço das creches e centros para idosos, ajudando me-lhor as famílias em que ambos os pais precisam de trabalhar”, refere, frisando que não apenas na área da Política, mas também do Jogo. “O estado actual da sociedade e algumas das leis e conceitos mais recentes só mostram o estado de evolução que as coisas devem ter”. Ella Lei promete continuar a lutar pelos direitos de quem mais precisa, nomeadamente no campo dos assuntos laborais.

COM BICHOAo contrário de Ella Lei, o bichinho da política já habitava em Song

A LIDERAR NA FUNÇÃO PÚBLICA De acordo com dados dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), as mulheres são o sexo forte em termos de números, ocupando mais de metade dos cargos das Secretarias de Economia e Finanças e Assuntos Sociais e Cultura, bem como de outros serviços que incluem o Comissariado contra a Corrupção e a Assembleia Legislativa. Os números confirmam que, actualmente, 41,9% dos trabalhadores da Administração são do sexo feminino, sendo a Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura a que mais mulheres integra, com um total de 11751 funcionárias. Em 1996, os SAFP – incluindo serviços administrativos e Forças de Segurança – contavam com 6091 mulheres num universo de quase 17 mil trabalhadores, o que se traduz em 36% do total de funcionários da Administração, nessa altura portuguesa. Também os valores de há dez anos eram semelhantes, sendo que o sexo feminino perfazia 35,6% de todos os trabalhadores da Administração de Macau.

A Assembleia Legislativa conta actualmente com sete deputadas na sua constituição mas nem sempre foi assim na história do território. Como começaram Song Pek Kei, Ella Lei ou Kwan Tsui Hang a interessar-se pela política local? Como é hoje visto o poder das mulheres na política?

“Fiquei surpreendida e contente por saber que a grande maioria das deputadas também tem filhos”VICTORIA LEI Professorade Estudos de Género da UM

“Acho que é uma coisa boa, mas há sempre lugar para mais”, disse Victoria Lei ao HM, quando questionada sobre o número de de-putadas no hemiciclo local. “Fiquei surpreendida e contente por saber que a grande maioria das deputadas também tem filhos” acrescentou

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3 reportagemhoje macau quinta-feira 23.10.2014

A O contrário de Ella Lei e Song Pek Kei, a deputada mais antiga da AL, Kwan

Tsui Hang, lidou com problemas sociais na primeira pessoa, ten-do começado a trabalhar ainda durante a infância. Foi com cerca de 16 anos que começou a aperceber-se das principais neces-sidades e direitos dos operários, considerando que a protecção dos trabalhadores deve ser executada através da política.

Assim começou o interesse de Kwan, deputada da AL desde 1999. Quando questionada sobre a per-formance das duas ex-presidentes do hemiciclo, Anabela Ritchie e Susana Chou, a deputada disse nunca fazer distinções entre homens e mulheres, sendo a capacidade profissional de cada um que satis-faz, ou não, o cargo. “Nunca fico surpreendida com o facto de uma

KWAN TSUI HANG NO MESMO ASSENTO DESDE 1999

Somos todos iguais?

“No meu ponto de vista, não acho que as mulheres devam ser privadas de coisa alguma, o que equivale para o sexo masculino também”KWAN TSUI HANG Deputada

mulher poder assumir o cargo de presidente da AL. No meu ponto de vista, não acho que as mulheres de-vam ser privadas de coisa alguma, o que equivale para o sexo masculino também”, revelou Kwan ao HM.

DESEQUILÍBRIOSA deputada aponta, contudo, que ainda não se atingiu um

nível de igualdade em termos profissionais, justificando o baixo número de deputadas, comparativamente ao número de deputados. “Antigamente, não se dava atenção à educação das mulheres, que apenas serviam para cuidar da família. Outros dos aspectos era a contribuição das mulheres para a economia, antes reservado aos homens”, continua a deputada por dizer. No que diz respeito ao aumento do número de mulheres candida-tas a cursos de ensino superior, Kwan vê o facto como “positi-vo”, opinião que é partilhada por Victoria Lei. É que além de considerar que há mais vontade, por parte das mulheres, em obter mais conhecimento, acredita que a educação é “pedra basi-lar” para a tomada de igualdade entre sexos.

Pek Kei desde muito jovem. Na escola secundária, a actual depu-tada participava já em actividades sociais. No entanto, foi só depois de licenciada que compreendeu a importância da Política nos servi-ços sociais, o que permitiu que o seu interesse pela área crescesse exponencialmente. Para Song, é cada vez mais comum as mulhe-res assumirem um papel político

activo e terem marido e filhos em simultâneo.

“De certa forma, os cargos ofe-recidos às mulheres e aos homens são iguais”, explica a deputada, em declarações ao HM. Sobre a tão discutida dualidade entre sexos, Song considera que o conceito de inferioridade da mulher face ao homem é obsoleto. “Raramente se ouve dizer que a capacidade do sexo feminino é inferior à do masculino. A procura de mulheres tem aumentado exponencialmente em termos de recursos humanos e, hoje em dia, tudo tem que ver com as habilitações e capacidades das pessoas”, referiu a deputada.

Questionada sobre a eventua-lidade de sair do hemiciclo, Song Pek Kei confessou ao HM que irá sempre dedicar-se às necessidades sociais dos residentes. “A AL é apenas uma plataforma para melhor servir os residentes, mas mesmo antes de ser deputada, trabalhava numa associação, servindo a co-munidade”, disse. Para a deputada, não há diferenças na ajuda prestada dentro ou fora do cargo que actual-mente ocupa. “É uma questão de mentalidade”, acrescenta.

ONDE FICA A FAMÍLIA?No entanto e tal como tudo, tam-bém a ascensão do sexo feminino dentro da política local tem efeitos menos positivos, como é a escassez de tempo para a família, em detri-mento da necessidade de fazer face às responsabilidades profissionais. Se, por um lado, a mulher já deixou de ser vista como necessariamente dedicada aos filhos e às lides da casa, por outro, debate-se com o facto de ter que atender a todas as responsabilidades, seja na As-sembleia Legislativa ou no seio familiar. Para Eilo Yu, há que ter em conta os problemas familiares que mães e esposas passam devido à pressão para equilibrar os afaze-res da profissão e da família. Para Ella Lei, a emancipação feminina tem precisamente duas faces de uma mesma moeda. É que, de certo modo, possibilita uma maior representatividade da sociedade, mas por outro, deixa menos espaço e tempo para a família, nomeada-mente para o casamento e educação dos filhos. “Há mais pressão entre os campos profissional e familiar”, refere Ella Lei.

EMANCIPAÇÃO,PARA QUE TE QUERO?“No início do século XX, as mulheres ganharam uma voz bastante activa na sua própria emancipação. A liberdade para continuar os estudos, ingressar no serviço militar e contribuir economicamente catapultou as mulheres de casa para a praça pública”, explica Karilyn Moeller, autora de um artigo sobre as mulheres na China. É que a emancipação das mulheres chinesas adveio da necessidade de colocar mais pessoas a trabalhar no campo, devido às várias reformas da governação de Mao Tse Tung. “Hoje em dia, as mulheres da China têm os mesmos direitos e oportunidades dos homens. A educação está disponível de igual forma. As mulheres têm direitos iguais em termos de casamento, propriedade e herança, tal como oportunidades iguais em termosdo governação e política”, continua Moeller.

“A procura de mulheres tem aumentado exponencialmente em termos de recursos humanos e, hoje em dia, tudo tem que ver com as habilitações e capacidades das pessoas”SONG PEK KEI Deputada

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4 POLÍTICA hoje macau quinta-feira 23.10.2014

FLORA [email protected]

JOANA [email protected]

O S deputados e mem-bros de associações estão cansados de esperar. Song Pek

Kei, Leong Veng Chai e Chan Tak Seng, por exemplo, querem que as pensões ilegais sejam punidas de forma mais severa e criminalmente.

Tse Heng Sai voltou recente-mente a assegurar que está a ser ponderada a criminalização da actividade de alojamento ilegal, algo que já tinha sido dito pela directora dos Serviços de Tu-rismo (DST), Helena de Senna Fernandes. Contudo, a directora substituta da DST assegura não ter qualquer data ou decisão concreta para dar.

Numa resposta a uma interpela-ção escrita da deputada Song Pek Kei – feita em Setembro, mas que só ontem foi tornada pública – a responsável do Turismo volta a di-zer o que já tinha sido referido este ano na Assembleia Legislativa.

AJUDA PRECISA-SEA responsável do Turismo garante que é preciso ajuda dos residentes para que se consiga distinguir que residências estão a servir de pensões ilegais. “Sendo que os actos que envolvem crimes muitas vezes têm lugar em fracções residenciais, uma das condições cruciais para o sucesso das acções policiais reside na recolha de informação e no recebimento oportuno da denúncia. Assim, faz-se necessário que o público em geral preste atenção às anomalias que acontecem à sua volta e faça por iniciativa própria a denúncia.”

LEI DE ALOJAMENTO ILEGAL PEDIDA REVISÃO E CRIMINALIZAÇÃO

Um imperativo inadiável

446é o número de fracções suspeitas

de alojamento ilegal que estão

também indiciadas por infracções

penais. Isto representa 48%

do total das 501 violações à lei

contadas até 24 de Abril deste ano

esta não está na linha da frente e, por isso, deve comunicar com a entidade que realmente executa a lei”, começou por apontar ao HM a deputada.

Song Pek Kei diz-se desapon-tada pelo facto de não lhe ter sido dada qualquer resposta face a um calendário para a revisão da Lei de Alojamento Ilegal, em vigor

desde 2010, e garante que esta deveria passar por criminalizar a actividade.

“É difícil dizer [se vai ou não ser criminalizada], mas espero absolutamente que esse conceito seja realizado”, frisa.

Quem concorda é Leong Veng Chai. Em declarações ao HM, o deputado afirma que “se as auto-ridades tiverem vontade, conse-guirão criminalizar a actividade de alojamento ilegal”.

Leong critica o facto de as san-ções atribuídas pela DST a quem infringe a lei serem “demasiado leves”, mas lança mais aspectos negativos. “Os inspectores fazem muito, mas não há resultados, por-que não têm o direito de bloquear os sítios ou prender as pessoas, pelo que a [eficácia] é baixa e eles só podem esperar pelos polícias”, aponta o deputado. “Os infractores conseguem até fazer negócio com a actividade de pensões ilegais.”

Leong Veng Chai partilha da mesma opinião de Song Pek Kei: há falta de comunicação entre os departamentos do Governo. O deputado dá até como exemplo “os casos de residências que são

usadas como pensões ilegais que, depois de serem bloqueadas du-rante sete meses, tornam-se outra vez pensões ilegais”.

CRIMINALIZAR JÁ Recorde-se que, actualmente, é a DST a entidade responsável por fazer cumprir a lei. Contudo, devi-do à falta de um poder semelhante aos das autoridades policiais, este organismo não pode fazer muito mais do que encerrar as fracções e chamar a atenção dos infractores.

Por isso, Leong Veng Chai acredita que a revisão da lei deve oferecer mais poder à DST, para que os inspectores tenham direito a investigar e a nem sequer ter de chamar a polícia para abrir as portas.

Song Pek Kei também diz que devem ser “as autoridades com poder penal” a fazer acusações e a aplicar sanções penais, assim como devem ser “os tribunais a tomar uma decisão”.

Gabriel Tong, deputado, referiu ao HM que “há inúmeras possibili-dades” no que diz respeito à forma como esta actividade de alojamen-to ilegal pode ser considerada cri-me. O deputado não assume quem poderá ser a entidade a executar a lei, mas concorda que o Governo deve dar mais esclarecimentos sobre o assunto.

MUITO TEMPOPara Chan Tak Seng, director da Aliança do Povo de Instituição de Macau, esta actividade não só deve ser criminalizada, como se deve fazer a revisão da lei “de imediato”.

Para Chan, a falta de sanções penais faz com que quem infrinja a lei o faça mais do que uma vez, sem qualquer receio. “A lei já entrou em vigor há quatro anos, mas existem ainda tantas falhas, que influenciam a nossa vida e até a ordem da sociedade. Podemos ver que muitos casos de pensões ilegais envolvem crimes de droga ou prostituição, o que influencia também a imagem da RAEM”, realça. “A DST não deve dizer constantemente que ‘pondera todos os factores’, tem que rever a lei imediatamente.”

Chan considera também que uma das falhas da lei é a permissão de reincidências, uma vez que os infractores não são sancionados penalmente.

As afirmações de que a lei iria ser revista já se fazem ouvir desde 2013. Nesta resposta, contudo, pouco ou nada é adiantado. A directora substituta da DST diz apenas que o organismo “tem uma postura aberta quanto às medidas a tomar no combate à prestação ilegal de alojamento”, estando disposta a recolher opiniões da sociedade. Para já, contudo, con-tinua a “não haver um calendário” para a revisão da lei, sendo que vão ser feitos mais estudos e ava-liações sobre o assunto.

A falta de sanções penais para quem tenha pensões ilegais leva a que sejam cada vez mais as vozes que pedem a criminalização desta actividade. Só assim, dizem, é possível haver um efeito dissuasor, até porque as reincidências acontecem devido à falta de punições

HÁBITOS ALTERADOS Na resposta a Song Pek Kei, Tse Heng Sai diz ainda que o modo de funcionamento da actividade de prestação ilegal de alojamento sofreu alterações nos últimos anos, sendo que a maioria das pessoas apanhadas a infringir a lei já não têm “pensões” que se destinam a turistas, mas sim as que “estão mais ligadas às actividades associadas ao Jogo e a diversas ilicitudes”.

“Considerando a complexidade da questão em causa e seus impac-tos, merece ser feito um estudo científico sobre as medidas mais eficazes para pôr termo à prestação ilegal de alojamento”, começa por apontar Tse Heng Sai. “O estudo poderá ponderar, entre outras vertentes, a criminalização do acto ilícito, a tomada em paralelo das sanções penais e das sanções ad-ministrativas e qual será o serviço mais adequado para o desempenho do papel de entidade executora principal.”

REVER, SIMAs declarações das responsáveis do Turismo não agradam aos deputa-dos. Song Pek Kei, por exemplo, diz ao HM que a atitude do Governo e da DST está a ser a “de não fazer nada”, mas a deputada frisa que a culpa até nem é da DST, uma vez que não é este o organismo responsável pela revisão da lei.

“Parece-me que é preciso comunicar mais. A DST exerce a lei, pelo que entende melhor os problemas existentes, mas a Direc-ção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) é quem tem de fazer a revisão da lei. Só que

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5 políticahoje macau quinta-feira 23.10.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

D EPOIS das de-clarações feitas à imprensa, a Socie-dade Protectora

dos Animais de Macau (ANI-MA) vai entregar formal-mente uma carta à Assem-bleia Legislativa (AL) onde revela a sua posição sobre a proposta de Lei de Protecção

T ENDO em conta a necessi-dade da redução de resíduos, a Direcção dos Serviços de

Protecção Ambiental (DSPA) informou ontem, em comunica-do à imprensa, que o Governo pretende elaborar mais diplomas legais sobre este assunto, sendo que a criação de um regime onde quem polui mais, paga mais, está em cima da mesa.

No comunicado ontem envia-do, a DSPA assegura que o Governo “irá dar mais importância à redução de resíduos a partir da fonte”. Pelo que, futuramente, o Executivo irá “através do aperfeiçoamento do planeamento, do desenho e da gestão de construção” criar condições para que exista uma redução dos resíduos dos materiais de construção.

Sob as orientações definidas pela política de tratamento de resíduos sólidos contempladas no plano de redução de resí-duos na fonte e reciclagem de recursos, que pretende diminuir a pressão existente no Aterro para Resíduos de Materiais de

“Em 1985, o Canídromo pagava 50% dos impostos sobre receitas brutas, em 1988 passou a pagar apenas 35% e em 2005 passou a pagar apenas 25%. Claramente que se estão a favorecer interesses estranhos a Macau”, acusa a ANIMA

ANIMAIS ANIMA ENVIA CARTA À AL SOBRE LEI DE PROTECÇÃO

Proposta mal tratadaA Sociedade Protectora dos Animais vai entregar uma carta ao hemiciclo que expressa a sua posição sobre a proposta de lei que será debatida e votada esta sexta-feira, chamando a atenção para a ineficaz protecção dos direitos dos animais

EMISSÃO DE GASES COM REGULAMENTOAlém do Plano de Apoio Financeiro para o Abate de Veículos Altamente Poluidores, o Governo diz ainda estar também a efectuar outros trabalhos dedicados ao ambiente. Na sequência da publicação das normas de emissão de gases de escape aplicáveis aos novos automóveis aquando da sua importação e do lançamento do benefício fiscal para incentivar as pessoas que necessitam de adquirir veículos a optarem prioritariamente por eco-veículos em 2012, foram também efectuados, no início de 2013, trabalhos de consulta sobre as normas de emissão de gases de escape de veículos em circulação e o aperfeiçoamento do regime de inspecções, que fazem parte das medidas de controlo a longo prazo. Agora, a DSPA e a DSAT asseguram “estar a analisar as opiniões recolhidas durante a consulta e dizem que terminaram o estudo complementar, esperando que o projecto do regulamento administrativo esteja concluído ainda este ano.”

AMBIENTE DIPLOMA BASEADO EM REGIME DE “POLUIDOR-PAGADOR”

Diz-me quanto sujas...Construção, o Governo irá lançar um novo regime.

GERIR A LONGO PRAZOSegundo o documento, o Executivo pretende, a longo prazo, “elaborar um regime de gestão de resíduos dos materiais de construção com base no princípio do ‘poluidor--pagador’, nomeadamente o plano de cobrança de taxas de tratamento de resíduos e a elaboração de di-plomas legais relacionados”.

A DSPA informa ainda que brevemente será lançada uma consulta pública que pretende reunir as opiniões e sugestões de todos os interessados sobre este assunto.

Paralelamente a estes novos planos, a DSPA informa ainda que estão concluídas as “Instruções para a Separação dos Resíduos nos Locais de Construção”, de

forma a atingir os objectivos a que o Governo se propôs e permitindo também a atenuação da “pressão sobre a operação das instalações de infra-estruturas ambientais”.

O organismo apela assim ao

sector da construção civil para “cumprir, com seriedade” todo o trabalho de separação de resíduos da fonte, reutilizando e efectuando tratamentos apropriados dos resí-duos recuperáveis. - F.A.

dos Animais. Recorde-se que os deputados vão votar o diploma na generalidade esta sexta-feira.

A carta começa por lem-brar que o diploma deveria chamar-se “Lei de Defesa dos Direitos dos Animais”.

A lei “não situa a questão da protecção dos animais no quadro do que modernamen-te se intitula de direitos de animais. Em nenhuma parte da lei alguma vez se faz refe-

rência a direitos dos animais. Fala-se de maus tratos, de vez em quando de crueldade, mas não se típica as situações de maus tratos”, pode ler-se na carta, uma versão inicial do

documento que será entregue no hemiciclo e que consiste na “primeira posição da ANIMA com opiniões recolhidas até agora”, como explicou o seu presidente, Albano Martins.

Apesar de destacar al-guns aspectos positivos a associação denuncia que a proposta de lei é uma cópia do documento elaborado em 2008, e alerta para o facto de não ser considerado aban-dono a entrega de animais nos canis. “A ANIMA acha que o melhor caminho a seguir é limitar a oferta de animais e o licenciamento desses operadores [lojas] e penalizar fortemente quem os abandona, mesmo que seja em centros de recolha ou no próprio canil”, aponta.

GALGOS E GATOSA entidade chama ainda a atenção para a permissi-vidade face às corridas de galgos, posição que Albano Martins já tinha revelado ao HM. A carta diz mesmo que as corridas de galgos no Canídromo, “a fazer fé nas suas contas oficialmente publicadas, têm acumulado prejuízos até 2007 e só recentemente começaram a gerar lucros, mas as receitas para o Governo são absurda-mente insignificantes”.

“Em 1985, o Canídromo pagava 50% dos impostos sobre receitas brutas, em 1988 passou a pagar apenas 35% e em 2005 passou a pa-

gar apenas 25%. Claramente que se estão a favorecer in-teresses estranhos a Macau”, acusa a ANIMA.

A ANIMA defende ainda o licenciamento dos gatos, como previa o projecto de lei de 2008. “A razão é simples: a China é uma região endémica de raiva, que não se transmite apenas através dos cães. Havendo mais gatos nas ruas e nos lares do que cães, seria importante que isso fosse acautelado, seguindo-se a nossa sugestão de permitir que o licenciamento desses pequenos animais fosse gratuito para evitar o seu abandono maciço”, refere.

DA CRUELDADEÉ ainda apontado o dedo às experiências com animais em laboratório, sendo a ANIMA “totalmente contra elas”. Contudo, “aparecendo no texto da lei, nunca deve-riam ser colocadas da forma como são no artigo 19, em que se aceita que possam ser cortados membros ou retirados órgãos para esse tipo de experiências, admi-tindo mesmo que daí resulte sofrimento, caso em que se preconiza o abate do animal. A isso chama-se crueldade”, frisa a ANIMA.

No geral, a entidade de-fende que Macau “precisa de um quadro legislativo integrado no que respeita a animais, pois não há regu-lamentação de veterinários, lojas de animais, clínicas”.

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hoje macau quinta-feira 23.10.20146 política

A deputada dá voz às associações que dizem que o Fundo das Indústrias Culturais impõe medidas demasiado rígidas e dá apoios insuficientes

CECÍLIA L [email protected]

A deputada Wong Kit Cheng sugeriu ontem ao Governo que alte-rasse os requisitos de

qualificação para a atribuição do Fundo das Indústrias Cultu-rais (FIC) ou utilizasse alguns terrenos ou propriedades para criar uma zona dedicada às artes e às indústrias culturais e cria-tivas. Isso mesmo foi referido

FIC WONG KIT CHENG PEDE ALTERAÇÃO DE REQUISITOS

Exigências a mais, espaços a menos

Os requisitos devem servir para bem seleccionar os pedidos e aproveitar o dinheiro público de forma correcta. Contudo, estes são demasiado rígidos e o fundo considera apenas as oportunidades comerciais, ignorando a criação artística e cultural

em interpelação escrita, onde a deputada criticou a rigidez de critérios para a atribuição deste subsídio. “Houve associações das indústrias culturais e criativas que me disseram que o apoio do Governo aos agentes do sector é insuficiente e as medidas ins-tauradas dificultam a promoção e desenvolvimento deste sector”, lê-se no documento.

Segundo Wong Kit Cheng, falta um espaço fixo para o trabalho e criação nesta área, bem como uma plataforma de promoção e um local de venda de produtos. Além disto, a deputada reforça ainda que o pedido do FIC está dependente de um processo complicado.

“Se a situação continuar assim, o desenvolvimento do sector vai ser afectado”, explica. A falta de um estúdio de trabalho, diz Wong, deve-se ao aumento exponencial das rendas. “Os tra-balhadores têm que estar sempre a mudar de local de trabalho, porque não conseguem encontrar um local ideal. Isto pode obrigá-

pudessem fazer face ao aumento das rendas.

CRITÉRIOS COMERCIAISPor outro lado, Wong também considera que o FIC também criou

requisitos demasiado rígidos para os concorrentes. “Os requisitos devem servir para bem seleccionar os pedi-dos e aproveitar o dinheiro público de forma correcta. Contudo, estes são demasiado rígidos e o fundo considera apenas as oportunidades comerciais, ignorando a criação artística e cultural, porque são pou-cas as pessoas que estão elegíveis”, explica a deputada, em interpelação.

“Será que as autoridades vão alterar os requisitos dos pedidos, baseando-se na situação real de Macau?”, questionou a deputada, referindo que tal medida poderia ajudar à um maior número de obtenção do subsídio, assim de-senvolvendo o sector.

Wong Kit Cheng perguntou ainda ao Executivo se será possível ceder terrenos públicos para a cria-ção de espaços de arte e estúdios, exemplificando com a “casa de vidro, no Tap Seac” e espaços de lazer junto dos lagos Nam Van. Finalmente, a deputada sugeriu que estes mesmos espaços fossem, si-multaneamente, espaços de criação e de turismo.

-los a abandonar a sua carreira”, adverte a deputada. Wong Kit Cheng sugeriu ao Executivo que fosse criado um plano de revi-talização de prédios industriais, de modo a que os trabalhadores

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hoje macau quinta-feira 23.10.2014 7SOCIEDADE

FIL IPA ARAÚJO*[email protected]

J ASON Chao anunciou ontem que vai realizar um protesto em conjunto com ex-alunos da Universidade

de Macau (UM) pela liberdade aca-démica e contra o assédio sexual.

Depois de tornados públicos documentos confidenciais que terão estado na origem da saída de Bill Chou, ex-docente de Ciência Política, da instituição académica ao fim de 12 anos, Jason Chao considera que esta é a altura opor-tuna para um novo protesto pela liberdade académica.

O encontro com data marcada para 31 de Outubro, e início às 18h30, tem como espaço escolhido as “ruas e pracetas do novo campus da universidade”, situado na Ilha da Montanha.

“Não estamos a falar das ins-talações da própria universidade, mas sim das ruas e pracetas. Será o primeiro protesto alguma vez organizado na Ilha da Montanha”, disse o activista. No comunicado enviado mais tarde aos jornalistas, a Praça da Biblioteca Central é o local escolhido para o encontro.

Apesar do protesto ser or-ganizado por ex-alunos da UM, Jason Chao acredita, e espera, que “muito mais gente se una ao encontro”.

“Gostaríamos que todas as pes-soas que estão sensíveis ao tema da liberdade académica, e também do assédio sexual, participassem neste protesto”, explicou.

À ESPERA DO SIMRelativamente à autorização obri-gatória do Instituto para os Assun-tos Cívicos e Municipais (IACM) e da Polícia da Segurança Pública (PSP) para a organização de qual-quer tipo de actividade em espaços públicos, Jason Chao explica que irá apresentar o pedido. O activista diz que, caso este seja negado, irá recorrer, mais uma vez, ao tribunal. Chao fez o mesmo com o pedido

C OMO referiu ontem Jason Chao, o protesto na Ilha da Montanha será também con-

tra o alegado caso de assédio sexual de um professor a uma aluna da instituição. O caso foi avançado pela Associação Novo Macau (ANM) na semana passada, mas ao que parece aconteceu o ano passado.

ÉRIC SAUTEDÉ AUSENTEQuestionado pelo HM se iria marcar presença no protesto, o ex-docente da USJ, Éric Sautedé, informou que “não sabe” se se irá juntar porque não se considera “um activista”, apesar de ter sido “vítima de descriminação política”. “Eu não acredito que haja algum plano do perseguição por parte do Governo a académicos”, afirmou, defendendo que o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior “deveria ter avançado com uma investigação mas não o fez”, nem no caso do seu colega Bill Chou, nem no seu. “Achei altamente pouco ético, em todo o caso não é o mesmo que falar de perseguição política”.

Ex-alunos da UM unem temáticas diferentes e organizam um protesto no campus da instituição, na Ilha da Montanha. Ainda sem o aval do IACM, Jason Chao pretende chamar o maior número de pessoas num encontro agendado para o último dia do mês

ASSÉDIO SEXUAL PELA EDUCAÇÃO NAS UNIVERSIDADES

“Convidada a ter sexo com professor”

FIL IPA ARAÚ[email protected]

de realização do ‘referendo civil’ nas ruas de Macau, que foi negado pelo IACM.

Esta autorização tem de ser pedida tendo em conta que o es-

UM JASON CHAO ORGANIZA PROTESTO NO CAMPUS DA ILHA DA MONTANHA

Pela liberdade e contra o assédio sexual

Gostaríamos que todas as pessoasque estão sensíveis ao tema da liberdade académica, e também do assédio sexual, participassemneste protesto

paço destinado a Macau na Ilha da Montanha está sob alçada e legislação do Governo da RAEM.

Tal como o activista indicou ontem, o protesto tem dois pontos

de manifesto: além do assédio se-xual (ver texto abaixo), a liberdade académica, altamente relacionada com os casos dos ex-docentes Bill Chou e Eric Sautedé, este último, docente da Universidade de São José despedido por fazer comen-tários políticos.

FANTASIASJason Chao insurgiu-se ainda contra declarações emitidas pela UM face ao caso de Bill Chou, de que “os académicos são meros observadores passivos” no que a assuntos políticos diz respeito.

“Há um número notável de académicos que são também acti-vistas, no Ocidente. O argumento [da UM] não é mais do que uma desculpa para justificar a opressão à liberdade e à liberdade de expressão dos académicos”, sublinha Chao em comunicado. “Consideramos que o processo disciplinar contra Bill Chou foi injusto (...). Uma ‘uni-versidade de classe mundial’ deve existir na fantasia da administração da UM e em mais lado nenhum”, ironizou ainda o activista, em re-ferência ao novo lema da UM. - * com Joana Freitas

JOANA [email protected]

Um grupo de alunos da UM publicou esta semana num grupo do Facebook dedicado a assuntos da instituição uma fotografia que pedia “para se parar com os casos de assédio sexual na UM”.

Os alunos revelaram emails enviados à direcção da UM, onde indicavam que a aluna foi convi-dada a ter sexo com o professor e pediam mais esclarecimentos sobre o assunto.

“[Isto] tem levantado preo-cupação pública. O ano passado, uma aluna foi convidada por um

professor da [Faculdade de Ciências Sociais], que é do continente, a ter sexo com ele. Depois de uma in-vestigação, o professor foi suspenso apenas por 12 dias”, pode ler-se no email enviado por Haochi Kiang, que assina como director geral de uma associação de estudantes da UM. “Como um grupo de estudan-tes que amam a UM, importamo-nos com estas questões de desigualdade [no tratamento] dos géneros, até por-que isto deveria ser um dos valores a ter em conta nas universidades de qualquer parte do mundo.”

EXPLICAÇÕES FURADASOs alunos pedem explicações: se o caso aconteceu porque é que a punição foi apenas uma suspensão de 12 dias. “Os alunos esperam uma universidade que nos dê respostas e preste contas [sobre estes casos].”

A UM, contudo, não disponi-biliza quaisquer informações. Nos emails a que o HM teve acesso, como resposta lê-se apenas que se “trata de todos os casos de acordo com a lei” e que “tendo em conta que o grupo não está directamente envolvido, não se podem dar mais informações sobre o caso”. O email vinha assinado por Sylvia Ieong, directora do gabinete do reitor.

A responsável disse apenas que “em qualquer caso de processos disciplinares, só as pessoas directa-mente envolvidas ou com interesse legítimo” poderiam ser informadas e citava os artigos do Código de

Procedimento Administrativo que indicam que “os particulares têm o direito de ser informados pela Administração, sempre que o requeiram, e sobre o andamento dos procedimentos em que sejam directamente interessados” e que “não podem ser prestadas informa-ções sobre peças ou elementos que estejam classificados como secretos ou confidenciais”.

EDUCAÇÃO SEXUALNAS UNIVERSIDADESJason Chao considera que este é um assunto que deve ser levado para a praça pública e, por isso, diz que faz todo o sentido que o protesto assuma esta temática.

“Não considero que os dois motivos do protesto entrem em con-fronto, acho até que são dois temas com os quais a população se deve preocupar”, disse. Jason defende ainda que “é necessário que a UM assuma uma posição e explique aos alunos o que aconteceu”.

O activista, que vai, então, rea-lizar um protesto por estes motivos, diz ainda que apoia a necessidade de existir uma “educação sobre os abusos sexuais”, sejam eles de que tipo forem, nas universidades.

Até porque, como referiu ante-riormente o activista, não há leis que criminalizem estes actos.

Jason Chao falou à imprensa nas instalações da ANM, associação que, na voz do presidente, Sou Ka Hou, “apoia este protesto”.

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hoje macau quinta-feira 23.10.20148 sociedade

Uma revisão no contrato de concessão da Galaxy permite à operadora transformar um hotel inicialmente previsto para ser de quatro estrelas para um de cinco estrelas e dá mais tempoà operadorapara construir

JOANA [email protected]

O Governo autorizou a alteração da finalidade de dois lotes da Galaxy Macau no Cotai, sendo

que esta revisão passa a dar mais tempo à operadora para construir.

De acordo com um despacho ontem publicado em Boletim Ofi-cial e assinado pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas,

GALAXY MAIS TEMPO DE CONSTRUÇÃO APÓS REVISÃO DO CONTRATO

Cinco estrelas na Taipa

175,3milhões de patacas, valor do

prémio adicional ao contrato de

concessão pago pela Galaxy

Lau Si Io, foi permitido à Galaxy transformar o hotel destinado para os lotes I e II da operadora no Cotai num de cinco estrelas, mais uma do que o inicialmente previsto. Mas, mais ainda, a empresa vai poder ter novos prazos para construir.

“Por requerimento apresentado em 15 de Outubro de 2012, a con-cessionária solicitou a junção dos lotes I e II e a consequente revisão do contrato de concessão, de forma a uma melhor adequação do desen-volvimento dos lotes (...)”, começa por explicar o despacho. “ Em 21 de Janeiro de 2014, a concessio-nária apresentou um novo pedido de revisão da concessão com vista a eliminar [nos lotes I e II] as finalidades ‘hotel-apartamento de 4 estrelas’ e ‘estacionamento do hotel-apartamento de 4 estrelas’, passando as respectivas áreas brutas de construção a integrar as finalidades ‘hotel de 5 estrelas’” e respectivo estacionamento.

PRAZO ALARGADOContudo, não foi apenas isto que foi autorizado. “[A concessionária apresentou um pedido de] altera-ção do prazo para apresentação do projecto de arquitectura de cada um dos lotes e conclusão das respectivas obras”, indica ainda o despacho.

Estas autorizações vão permitir à Galaxy mais tempo para a cons-trução: com a concessão do terreno em 2009, a operadora tinha até 2017 para aproveitar os terrenos e finalizar as construções, mas com esta revisão passa a ter mais entre dois a três anos.

“O aproveitamento do terreno deve ficar concluído até 20 de Ou-tubro de 2020. O aproveitamento global [do lote I/II] deve ficar con-cluído até 31 de Dezembro de 2019, o do lote III deve ficar concluído até 31 de Dezembro de 2018 e o do lote IV deve ficar concluído até 20 de Outubro de 2020.”

Os lotes I e II – que a Galaxy já tinha por concessão por arren-damento – passam a estar unidos, mas o terreno total fica com o mesmo tamanho – 440,248 metros quadrados.

As autorizações já entraram em vigor – tendo tido a concordância de Francis Lui e Jorge Neto Valen-te, como administradores represen-tantes da Galaxy - e a operadora teve de pagar um prémio adicional ao contrato de concessão, no valor de 175,3 milhões de patacas.

A Galaxy traz, assim, ao Cotai quatro hotéis, um apart-hotel, um casino e um centro de convenções, tendo agora mais 180 dias para a apresentar os projectos de arqui-tectura para o terreno.

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ADVOGADOS DE MACAU PRESENTES EM CONGRESSO NO BRASIL

9 sociedadehoje macau quinta-feira 23.10.2014

Sessão de apoiopara quem quer estudar na SuíçaOs alunos que pretendam continuar os seus estudos superiores na Suíça vão ter direito a uma sessão de esclarecimento gratuita, promovida pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES). A sessão vai decorrer no próximo dia 8 de Novembro, entre as 15h30 e 17h00, no Centro dos Estudantes do Ensino Superior.

HKS Consultoriapara novo hospitalO ateliê de arquitectura HKS volta a colaborar num projecto de concepção do novo Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas. Segundo um despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), caberá ao ateliê HKS – Arquitectura Limitada o trabalho de consultoria de design do novo hospital. Recorde-se que a atribuiÁ„o da concepÁ„o do Hospital das Ilhas foi feita a Eddie Wong atravÈs de um concurso por convite. Agora, o HKS presta consultadoria. Contudo, não são revelados valores a pagar pelo Governo. O ateliê tem representações não apenas em Macau mas também no continente, Brasil ou México.

Dez trabalhadores sem cartão de segurançaO novo Regime do Cartão de Segurança Ocupacional para os Trabalhadores da Construção Civil entrou em vigor no passado dia 6 e, segundo a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), de um total de 181 trabalhadores, dez foram encontrados sem terem o cartão em sua posse, sendo que o processo da aplicação da multa já foi iniciado. A DSAL garantiu ainda que há mais de 90 mil trabalhadores que possuem este cartão. Recentemente muitos trabalhadores do Jogo apresentaram várias exigências a este departamento, mas a DSAL garante que, até agora, não foi descoberta nenhuma situação contra a lei, sendo que não é necessário abrir um processo.

CECÍLIA L [email protected]

O desenvolvimento rá-pido da economia, o aumento das rendas das lojas e casas e a

inflação leva a que muitos estu-dantes do ensino secundário e até do ensino superior tenham de ter um trabalho a tempo parcial para suportar as despesas do dia-a-dia. Isso mesmo diz o jornal Ou Mun, num artigo onde vários jovens revelam que os seus hábitos de

T RÊS arquitectos portugueses decidiram criar o CURB – Centro de Arquitectura e

Urbanismo, que ficará sediado na zona do Porto Interior, onde o arquitecto Nuno Soares, um dos fundadores, tem o seu ateliê.

Segundo um despacho publica-do ontem em Boletim Oficial (BO), o CURB pretende, sobretudo, focar-se em estudos e trabalhos sobre o território. O objectivo é “desenvolver estudos e investiga-ções no âmbito da arquitectura, ur-banismo, design e cultura urbana”, com o “intuito de contribuir para a produção de conhecimento e divul-gação da cultura arquitectónica e urbana de Macau”. O CURB quer

Jovens e adultos encontram cada vez mais dificuldades para conseguirem chegar ao fim do mês e pôr algum dinheiro de lado

FINANÇAS MAIOR CUSTO DE VIDA, MENOS ESPÍRITO DE POUPANÇA

Ao ritmo da economia

consumo estão a mudar, uma vez que não conseguem poupar no fim do mês.

Wong, um aluno que estuda na zona de Toi Son, disse ao Ou Mun que gasta cerca de duas mil patacas por mês em alguns encontros com amigos ou compras. Contudo, se apenas dependesse do dinheiro que a família lhe dá, não seria suficiente. Por isso Wong afirma trabalhar a tempo parcial.

Lam, outra estudante, afirma que trabalha a tempo parcial num casino onde ganha seis mil patacas

por mês, como empregada numa sala VIP. Diz ainda que 70% dos gastos mensais vão para a compra de roupa e cosméticos, sendo que não gasta muito com refeições.

“Não tenho o hábito de poupan-ça e gasto quase tudo o que ganho. No fim do mês tenho sempre de reduzir as despesas, porque não me sobra muito”, disse Lam ao jornal.

COMER FORAOutra razão que origina o fenóme-no da ausência de poupança são o número de refeições fora de casa.

A senhora Chan, que trabalha no sector do Jogo, contou que, como tinha de trabalhar por turnos, era difícil fazer refeições em casa.

“As três refeições principais tenho de fazer em restaurantes e como há muitas pessoas que têm uma vida parecida com a minha, é normal que os restaurantes tenham sempre clientes e que os preços subam”, disse.

Contudo, Chan admitiu que, como o salário nos casinos é um pouco mais elevado do que noutros sectores, o aumento das despesas ainda é “aceitável”. Porém, a funcionária refere que, com o aumento do custo de vida, é cada vez mais difícil às pessoas pouparem, defendendo que os jovens normalmente gastam tudo quanto ganham.

“Especialmente nos últimos anos, em que os produtos electró-nicos se tornaram mais populares, é difícil os jovens não os comprarem, o que faz com que seja mais difícil pouparem”, disse Chan.

ARQUITECTURA CENTRO PARA ESTUDAR O TERRITÓRIO

Mais esboços sobre Macauainda que estes estudos tenham um contexto global, com uma ligação à China e países de língua portu-guesa, incluindo Portugal.

PARA A HISTÓRIAOutro dos objectivos do CURB é ainda “constituir uma biblioteca e centro de documentação com base de dados e arquivos de publicações, imagens, projectos e documentos sobre arquitectura e urbanismo de Macau”, pode ler-se nos estatutos.

Além da constituição do acer-vo documental, o CURB quer também “promover o ensino nos campos da arquitectura, urbanis-mo, design e cultura”, bem como a realização de eventos, exposi-ções e competições na área, sem esquecer o estabelecimento de “parcerias e programas de inter-câmbio e cooperação”.

A entidade pretende fornecer serviços de consultadoria para universidades e para o próprio

Governo. “Internacionalizar a associação através do estabeleci-mento de pólos noutras cidades estratégicas, com o intuito de contribuir para a afirmação inter-nacional da cultura arquitectónica e urbana de Macau” é ainda outro desejo dos profissionais.

O HM tentou chegar à fala com o arquitecto Nuno Soares por forma a saber mais informações sobre esta entidade, mas até ao fecho da edição não foi possível. - A.S.S.

• Uma delegação de advogados da RAEM

participou no III Congresso Internacional

dos Advogados de Língua Portuguesa,

que terminou ontem no Rio de Janeiro.

Jorge Neto Valente, presidente da

Associação dos Advogados de Macau

(AAM), presidiu à sessão de abertura

do congresso, que reuniu cerca de 500

advogados, presentes em seis painéis

de debate. O congresso também contou

com a presença de uma delegação de

advogados oriundos do continente.

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hoje macau quinta-feira 23.10.2014

A CONFISSÃO • John GrishamA poucos dias de ser executado, só um assassino o pode salvar. Em 1998, numa pequena cidade do Texas, Travis Boyette raptou, violou e estrangulou uma rapariga da sua escola. Enterrou o seu corpo para que nunca fosse encontrado e em seguida, assistiu com espanto à prisão e con-denação de Donté Drumm, uma estrela local do futebol. O Corredor da Morte foi o seu destino. Agora, nove anos depois, Donté está a quatro dias da sua execução e Travis, pela primeira vez na vida, decide fazer o que está certo e confessar. Mas como pode um homem culpado convencer advogados, juízes e políticos de que estão prestes a executar um homem inocente?

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

A VERDADEIRA HISTÓRIA DOS PÁSSAROS • Valter Hugo MãeO vento anda muito sozinho a soprar pelos céus. Muito cansado dessa solidão, resolve então ensinar a voar algumas criaturas - uns passarocos e umas galinholas que andam a bicar o chão. Escolhe uns que sejam bem leves, pois assim será mais fácil elevá-los no ar, e dá-lhes uns empurrõezinhos até eles se conseguirem manter sozinhos a voar. Foi assim que tudo começou e é por isso que hoje os nossos céus estão cheios de aves de todos os tipos.

10 EVENTOS

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Fotografia Obras premiadasno jardim Lou Lim IeocAs obras premiadas no concurso de fotografia “Momentos felizes da vida em Macau” vão estar expostas no jardim Lou Lim Ieoc, a partir de amanhã e até à próxima segunda-feira, das 9 às 19 horas. No auditório Chun Chou Tong estarão patentes as 51 obras premiadas de entre as mais de mil que foram a concurso, da autoria de 242 residentes locais. No entanto, foram Chan Chi Hong, Ng Hoi Kei e Vong Kuok Kei que chegaram aos três primeiros lugares do pódio. O concurso e a exposição foram organizadas pelo Gabinete de Comunicação Social (GCS) e 12 associações locais e de média, incluindo a Associação de Fotógrafos de Macau, a Associação de Arte Fotográfica de Macau e o Clube Foto-Artístico de Macau. As películas premiadas deverão servir para ilustrar a capa e o interior do Livro do Ano editado pelo GCS.

Caligrafia Zhang Biaono Fórum de MacauInaugurou ontem no átrio principal do Fórum de Macau, no Centro de Actividades Turísticas, a “Exposição de Caligrafia de Zhang Biao em Memória da Guerra Sino-Japonesa de 1984”, uma actividade que conta com a organização da Fundação Macau, Associação de Amizade Estrangeira da China e Associação de Amizade da China em Macau. No total, estarão patentes cerca de cem trabalhos do calígrafo oriundo do interior da China, podendo ser visitados pelo público até ao próximo sábado, dia 25. No ano em que se comemoram 120 anos da Guerra Sino-Japonesa Zhang Biao escreveu e caligrafou um texto com cerca de 19 mil caracteres para lembrar o acontecimento. Zhang Biao é conselheiro da Associação de Calígrafos da China e presidente da delegação de Zhong Zhi da mesma associação.

ANDREIA SOFIA [email protected]

N EM só de negócios se vai fazer a 19ª edição da Feira In-ternacional de Ma-

cau (MIF), que arranca hoje no Venetian. Tal como já é habitual, o Macau Fashion Festival vai ter lugar no meio de pavilhões de produtos e serviços vindos de todo o mundo, por forma a mostrar o que de melhor se faz na indústria da moda local.

A estilista macaense Ana Cardoso vai apresentar, no sábado, dia 25, a colecção Primavera-Verão da marca ‘Anna Noir’, intitulada “Ro-mantismo”.

Conforme disse a designer ao HM, vão subir à passerelle 15 conjuntos que pretendem ser diferentes do que Ana Cardoso tem vindo a mostrar até então.

“É uma colecção apenas feminina, com inspiração nos séculos XVIII e XIX, onde foram predominantes o estilo Rococó, Barroco e Ro-mântico. Então, vou ter sedas e brocados. A ‘Anna Noir’ é uma marca que utiliza muito o preto, mas como vai ser uma colecção de Verão, vou usar cores mais leves, como os brancos e os beiges, para

A 19ª edição da Feira Internacional de Macau volta a receber o Macau Fashion Festival. Ana Cardoso vai mostrar a colecção de Primavera-Verão da sua marca, a ‘Anna Noir’, com menos preto e mais cortes clássicos

MIF ANA CARDOSO MOSTRA COLECÇÃO “ROMANTISMO”

Brocados na passerelle

‘ANNA NOIR’ PRESENTE EM DESFILE DE SOLIDARIEDADEÉ já no próximo domingo, dia 26, que a marca ‘Anna Noir’ se vai juntar aos projectos Cocoberryeight, da estilista Bárbara Barreto Ian, e de Cristina Vinhas, por forma a realizar o evento “Pinktober”. O desfile, acompanhado de um menu de jantar no Hard Rock Café, pretende servir de solidariedade e apoio para com as vítimas do cancro da mama.

além de misturar com o preto, que é o logótipo da marca”, explicou a designer.

TRABALHO E MODERNIDADEAna Cardoso garante que o público poderá assistir a um desfile onde as peças serão mais trabalhadas, quase a

fazer lembrar um trabalho de alta-costura, mas ainda assim sem abandonar por completo o pronto-a-vestir.

“Será uma colecção com um trabalho de melhor qualidade, digamos assim. Como o século XVIII e XIX puxa mais pelos corpetes, então vou ter camisas

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hoje macau quinta-feira 23.10.2014

A CONFISSÃO • John GrishamA poucos dias de ser executado, só um assassino o pode salvar. Em 1998, numa pequena cidade do Texas, Travis Boyette raptou, violou e estrangulou uma rapariga da sua escola. Enterrou o seu corpo para que nunca fosse encontrado e em seguida, assistiu com espanto à prisão e con-denação de Donté Drumm, uma estrela local do futebol. O Corredor da Morte foi o seu destino. Agora, nove anos depois, Donté está a quatro dias da sua execução e Travis, pela primeira vez na vida, decide fazer o que está certo e confessar. Mas como pode um homem culpado convencer advogados, juízes e políticos de que estão prestes a executar um homem inocente?

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11 eventos

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Livros Designer portuguesa vence prémio mundial

O “Livro (de actividades) para Massajar a imaginação”, de Catarina Gomes,

acaba de vencer o grande prémio do con-curso internacional “Art Books Wanted”. Nesta terceira edição, a organização do concurso recebeu cerca de 250 propostas de 37 países.

O júri atribuiu o grande prémio do con-curso, dividido em 11 categorias, ao livro de Catarina Gomes. O anúncio do prémio foi formalizado, no início de Outubro, durante a Semana de Moda e Design, que decorreu em Praga (República Checa).

Na página do ‘Art Books Wanted’, o júri explica que selec cionou o livro da autora portuguesa porque as suas pági-nas “relembram os jovens ou adultos as sensações que sentiam ao ler livros para crianças (…) uma vez que oferece uma boa ligação entre texto e imagem e estimula a participação do leitor”.

Oferecendo várias actividades, “o livro convida o leitor a completar as páginas com desenhos ou pequenas frases. É um livro que celebra o desenho e a singularidade que existe em cada um de nós”, acrescenta a organização do prémio.

Catarina Gomes, de 31 anos, tirou o

MIF ANA CARDOSO MOSTRA COLECÇÃO “ROMANTISMO”

Brocados na passerelle

“É uma colecção apenas feminina, com inspiração nos séculos XVIII e XIX, onde foram predominantes o estilo Rococó, Barroco e Romântico. Então, vou ter sedas e brocados

mais elaboradas. São peças com um ponto de modernidade, mas misturadas com peças mais ela-boradas e diferentes do que há no mercado. Acho que o público da Ásia gosta mais de coisas trabalhadas”, disse a mentora da marca ‘Anna Noir’.

No mesmo dia em que desfila a colecção “Romantis-mo”, outros designers locais prometem mostrar as suas colecções, como é o caso das marcas Dress Crafter, L.A.C.Y ou NB Nubiano.

De frisar que outros de-signers, saídos dos cursos do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM), irão apresen-

tar os seus trabalhos, bem como outros estilistas que receberam apoios do Instituto Cultural.

Para Ana Cardoso, a pre-sença de mais estilistas de Macau é positiva para o sec-tor. “É bom para mostrarmos mais trabalhos. Acho também que o público está sempre à espera de algo novo. A marca tem sempre a sua linha, mas

dentro disso com um tema, ou uma nova inspiração, o público pode ver coisas novas e era mais por aí que eu queria projectar. O ano passado tive mais vestidos e saias, este ano vou mais para calças e vou mostrar outra coisa ao cliente. Tenho peças que não tenho mostrado em colecções anteriores”, disse a designer.

curso de Design Gráfico na Universida-de do Porto e fez Erasmus na cidade de Bratislava (Eslováquia). A jovem autora recebeu um prémio monetário de 1.000 euros pela distinção e viu o seu livro exposto na semana de Moda e Design ao lado de outros projectos distinguidos.

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12 CHINA hoje macau quinta-feira 23.10.2014

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O S líderes estu-dantis dos pro-testos em Hong Kong acusam

as autoridades locais de não oferecerem algo de signifi-cativo que possa levar ao fim das manifestações e dizem estar a considerar abandonar as negociações.

As negociações entre os manifestantes e o Governo de Hong Kong têm sido apontadas como o único meio de pôr fim a um pro-testo que já dura há quase um mês, sem ter de recorrer à força.

No entanto, a primeira negociação formal, que aconteceu na terça-feira, não surtiu efeitos e terminou com os estudantes a acusar o Governo de ser “vago” nos compromissos que está disposto a fazer.

A Liga da Juventude Comunista da Chi-na está a apelar ao

boicote aos trabalhos dos artistas que apoiam o mo-vimento pró-democracia em Hong Kong, um apelo res-pondido por mais de 200.000 cibernautas até ontem.

Os apelos visam particu-larmente os actores Anthony Wong e Chapman To e a cantora Denise Ho, também conhecida pela defesa dos direitos dos homossexuais.

Os três artistas são pouco conhecidos no ocidente, mas celebridades na China.

A Liga, que lançou o apelo na sua conta oficial de blogue, tem a missão de promover a ideologia comu-nista entre os adolescentes e jovens adultos chineses.

Este órgão do Partido Comunista Chinês sugere assim a censura na Inter-

Mong KokPolícia impede taxistas de retirar barricadas Um grupo de taxistas de Hong Kong derrubou ontem as barreiras colocadas por manifestantes em Mong Kok, mas não conseguiu abrir o trânsito na totalidade devido à intervenção da polícia. Caixotes do lixo, placas de madeira e varas de bambu foram retiradas por membros de uma associação de taxistas e colocadas em carrinhas, ao mesmo tempo que os manifestantes tentavam impedir a destruição das barricadas, sentando-se sobre o material ou abraçando os objectos, descreve o South China Morning Post. A polícia interveio para acalmar os ânimos e evitar violência. “Conseguíamos remover as barreiras, mas a polícia disse que iria causar o caos”, disse Eddir Ng Yip-pui, director-geral da Associação de Operadores e Condutores de Táxis, acrescentando que os taxistas não vão regressar ao local para nova tentativa, mas devem avançar com um pedido para o tribunal “estender a medida cautelar na sexta-feira”. O taxista não excluiu a possibilidade de uma acção “de grande escala”, se a decisão do tribunal for favorável.

BOICOTE AOS ARTISTAS QUE APOIAM MANIFESTANTES

Celebridades a arder

Do encontro entre estudantes e as autoridades da ex-colónia britânica pouco ou nada saiu

HONG KONG PROTESTOS SEM FIM À VISTA APÓS NEGOCIAÇÃO

Na estaca zero

“Ainda não está decidido se haverá mais negociações no futuro”, disse ontem Alex Chow, secretário-geral da Federação de Estudantes de Hong Kong.

“O Governo tem de arranjar uma maneira de resolver este problema, mas o que oferece não envolve

qualquer conteúdo prático”, acrescentou Chow, garan-tindo que os manifestantes não vão deixar as ruas num futuro próximo.

PROMESSAS QUESABEM A POUCOOs estudantes estão contra a proposta apresentada pe-

-lo Governo central para a eleição do chefe do exe-cutivo em 2017, que prevê que os candidatos sejam pré-seleccionados por uma comissão.

A nomeação civil pedida pelos estudantes foi afas-tada pelos representantes do Governo local, durante o encontro de terça-feira, que insistiram que Pequim jamais autorizaria esse ce-nário.

Prometeram, no entanto, informar as autoridades da

China Continental sobre os mais recentes aconteci-mentos e sugerir que fosse criada uma plataforma para discutir a reforma política além de 2017.

Os líderes estudantis consideraram estas ofertas pouco concretas e pedi-ram que o Governo local avançasse com informação clara sobre as consequências dessas promessas.

“O Governo deve indi-car, até ao fim da semana, o que este relatório [para Pequim] vai incluir e como é que a nova plataforma pode resolver os problemas que temos agora”, disse Joshua Wong, líder do movimento Scholarism.

“O Governo tem de arranjar uma maneirade resolvereste problema, mas o que oferece não envolve qualquer conteúdo prático”ALEX CHOW Secretário- -geral da Federação de Estudantes de Hong Kong

Chow Yun-fat

net dos nomes dos artistas que apoiam os militantes democratas dos protestos pró-democracia em Hong Kong.

É igualmente proposta a ideia de neutralizar as contas de blogues dos artistas em questão.

CAUTELAS Vários artistas, de Hong Kong e Taiwan, adoptaram uma postura prudente sobre as manifestações em Hong Kong, por receio de serem banidos no interior da China, escreve a AFP.

Muitos disseram desejar que a situação não se deteriore, sem no entanto assumirem um apoio público aos mani-festantes.

A indústria cinemato-gráfica de Hong Kong está bastante dependente da distribuição das obras no interior da China.

Os actores Andy Lau e Chow Yun-fat, citados pela imprensa, desaprovaram o uso de gás lacrimogéneo pe-las forças da ordem de Hong Kong, enquanto a estrela dos filmes de kung fu Jackie Chan manifestou-se preocupado com o custo económico do movimento de ocupação do centro financeiro e comercial da antiga colónia britânica.

Wang Zang, o artista de Pequim que publicou um foto em apoio aos manifes-tantes de Hong Kong, foi de-tido no início de Outubro.

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13DESPORTOhoje macau quinta-feira 23.10.2014

MARCO [email protected]

A fase decisiva da edição de 2014 do Open de Squash de Macau arranca

ao início da tarde de hoje e entre os atletas que disputam a competição estão alguns dos melhores praticantes da modalidade à escala global. Este ano – a exemplo do que sucedeu, de resto, há um ano – as atenções deverão concentrar-se sobretudo na prova feminina. O torneio traz ao território algumas das principais referências mundiais do squash femi-nino, a começar pela líder do ranking da Women’s Squash Association, a ma-laia Nicol David. A atleta, que conquistou a medalha de ouro há pouco mais de um mês na 17ª edição dos Jogos Asiáticos, é a prin-

LIU KWAI CHI REPRESENTA MACAU NA COMPETIÇÃO

Elenco de luxo luta por vitória no feminino

O torneio traz ao território algumas das principais referências mundiais do squash feminino

cipal candidata ao triunfo no certame do território e estreia-se na prova frente à indiana Joshana Chinappa.

As egípcias Raneem El Welily e Nour El Sherbini deverão ser os principais obstáculos de Nicol David no que se adivinha que possa vir a ser a caminhada rumo ao título. El Welily venceu a edição de 2014 do Open de Squash da Malásia, con-solidando a terceira posição no ranking mundial da mo-

dalidade. Nour El Sherbini, terceira cabeça-de-série do torneio do território, ocupa actualmente a nona posição do ranking da Women’s Squash Association, mercê do triunfo alcançado nos Estados Unidos da América, na última edição do Open do Texas. Em Macau, Nour El Sherbini vai tentar garantir a presença nos quartos-de--final do torneio do territó-rio frente à inglesa Emma Beddoes, vigésima colo-cado do ranking mundial. Raneem El Welily reedita o duelo Egipto-Reino Unido ao final da tarde, frente a Emily Whitlock, atleta que saiu incólume das andanças do qualifying e garantiu a presença na fase decisiva do Open de Squash de Macau depois de ter derrotado a norte-americana Latasha Khan pelos parciais de 11-7,11-4 e 11-7.

Victoria Lust e Delia Arnold foram as duas outras atletas que conseguiram ga-rantir a presença no leque das dezasseis finalistas do Open de Squash do território. A atleta britânica derrotou Liu Tzs-ling da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong, por 11-5, 11-9 e 11-4. A malaia Delia Ar-nold, por sua vez, garantiu o acesso à fase mais apetecida

do certame com um triunfo sobre Tong Tsz-wing, de Hong Kong, pelos parciais de 11-7, 11-4 e 11-3.

Esta tarde, Delia Arnold volta aos courts frente à irlandesa Madeline Perry, décima primeira classificada do ranking mundial. Victoria Lust, por sua vez, tenta a passagem aos quartos-de--final da competição frente à compatriota Jenny Duncalf,

décima sexta posicionada da tabela da Women’s Squash Associaition. A Liu Kwai Chi cabe a responsabilidade de representar o território na fase decisiva da competição. A jovem atleta estreia-se na prova frente a Annie Au, da vizinha Região Administra-tiva Especial de Hong Kong.

DOS HOMENSNo quadro masculino, o grande candidato à vitória é o egípcio Tarek Momen. Dos atletas que disputam o Open de Squash de Macau, Momen é o único a integrar o top ten dos melhores joga-dores da actualidade. Omar Mosaad, atleta que venceu há um ano a edição de 2013 do Open de Squash do ter-ritório e que agora regressa para defender o título, deve-rá ser o principal adversário de Momen na corrida pelo triunfo na competição.

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14 hoje macau quinta-feira 23.10.2014

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MÁRIO CLÁUDIOTRIUNFO DO AMOR PORTUGUÊS

N ÃO sei se o que vou profe-rir é presunção, mas creio--me pioneiro na percepção de que a vasta obra de Má-

rio Cláudio respeita mais aos ambien-tes e às atmosferas que identifica no corpo dos seus textos, nomeadamente na ausência do tempo no tempo ou no rumor das coisas e das vozes que por ele trespassam, do que propriamente às histórias que narra.

De uma maneira geral, a persona-gem nos seus textos é sempre uma figu-ra simbólica interligada à cultura ou aos grandes e pequenos feitos históricos, da mesma forma que a história se caracte-riza quase sempre por uma especulação intimista e cultural do próprio escritor, que se espraia mais por um imaginário sempre inconcluso e propenso à fixa-ção do mito, do que à realidade autên-tica das personagens a que recorre. É pois pelo recurso aos ambientes cir-cunstanciais, à explanação do inefável e mais ao espírito subjacente a estes recursos, que Mário Cláudio organiza as suas narrativas e recria os seus he-róis, corporizando-os e sublimando-os à margem do realismo vero das suas existências e percursos, impondo-nos, se me é permitida a expressão, a crença sobre acontecimentos que talvez nunca tenham existido. Assim este conjunto de histórias de amor, recriadas a partir de alguns ícones amorosos afins à nossa sensibilidade, nada biográficas porque inteiramente criativas.

Há uma expressão de Camilo, a que aliás Mário Cláudio recorre como epígrafe do seu romance, “Camilo Broca”, que assegura o seguinte: A vida é uma farsa de cordel e o homem um cordel com muitas farsas...

Nestas doze estórias que Mário Cláudio nos apresenta a farsa corre a meias com o amor e este com a sexua-lidade.

Refere Agustina Bessa-Luís, no pre-fácio, que esta obra com todo o seu desprendimento da realidade e de grau histórico dos factos, é uma obra de es-pírito – ao que acrescenta na página seguinte em complemento: o espírito di-viniza a vida - atribuindo ao mesmo uma actualidade pura sob o efeito duma ma-gia de valores ligados ao amor eterno (pp.10).

Que o presente título de Mário Cláudio é uma obra de espírito, é coi-

sa evidente para quem a ler, tal como a asserção de que o espírito diviniza a vida. Agora que o mesmo se adapte à sublimação do amor português, em razão destas narrativas, é pretensão controversa, porventura mais afim aos escritos de Camilo senão mesmo aos de Júlio Dantas.

Na verdade, o que está em causa verdadeiramente nestas narrativas, para além da visão pessoal do escritor e da irónica e bem-humorada desmistifica-ção que sobre as mesmas exerce, ainda que num ou noutro caso afine pela su-blimação enternecida, é a função que o ser exerce sobre o seu oposto, macho

ou fêmea, a coberto do poder, do seu estatuto ou condição, a par ou não da imposição da libido. Amor puro, eter-no, nestas narrativas, só o da primeira que, não por acaso, tem por génese uma história infanto-juvenil, na qual a donzela convive com um monstro e ao beijá-lo o faz ressuscitar como príncipe encantado.

Eventualmente poderemos encarar a condição de amor eterno à narrativa que dá a conhecer os amores de Tomás António de Gonzaga, enquanto Dir-ceu, e a Marília de sua invenção, que vulgarmente é dada como recriação de Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, a jovem enamorada de Gon-zaga em terras brasileiras. Acontece, porém, que tal convicção não possui sustentabilidade capaz, quer pelo mo-tivo de Gonzaga caracterizar a amada tanto morena como loira, quer, ainda, pelo facto de ter sido um dos conjura-dos da capitania de Minas Gerais, aca-bando preso e degredado para Moçam-bique, tendo aí casado com a filha de um negreiro e aí também falecido, rico e considerado, sem nada mais constar sobre os seus amores primeiros.

Esta sua Marília visivelmente não passa de uma figura simbólica decor-rente do processo literário imitativo da poesia dos antigos. De forma que se amor puro, eterno, nesta narrativa existe, resulta somente do imaginário do poeta que se deu à fantasia de re-criar a existência bucólica e romântica de dois pastores amorosos. De res-to, Mário Cláudio ao abordar o tema compraz-se, por um lado, em sublimar o amor de Gonzaga pela jovem brasi-leira, e por outro, por via da separação dos amantes, dá o primeiro casado com uma megera, filha de um negreiro, que inclusive o sova habitualmente com um pau de embondeiro, e a segunda em vida sexual desregrada à medida que avança na idade e no estado de solteira.

Podemos adicionar a esta visão de amor eterno, a outra narração afecta aos amores de Robert Machin e Ana de Arfet, referidos por D. Francisco Manuel de Melo, na “Epanáfora Amo-rosa”, que descreve a lenda da desco-berta da Madeira por estes amantes fugitivos de Inglaterra, mas que, pelo exposto, não cabem na utopia do amor português triunfante. Mais afim se me afiguram os amores de D. Pe-

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15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 23.10.2014

dro V e Dona Estefânia, que na visão do escritor nunca se consumaram pela afecto da carne, antes pela gentileza e mocidade dos nubentes, a par da fragilidade da jovem rainha e da ex-trema delicadeza do rei, que parece ter assumido a coroa como uma cruz, impondo-lhe um modelo de responsa-bilidade tal que destruiu a sua condi-ção de simples humano e o impediu de trocar fluidos carnais com a esposa até ocorrer a morte de ambos.

De transgressão total é o episódio que autor consagra a Leonor Teles e a João Andeiro, particularmente pelos desvarios libidos de Leonor, que fa-cilmente enfeitiça o pobre de D. Fer-nando, alquebrado e debilitado pela doença, fazendo dele um bobo nas suas mãos e artes sexuais.

Bem mais comedido é o episódio sobre Camões, cujas bravatas, poesias e ousadias, visam fascinar a Infanta D. Maria, mas de final inconclusivo. Por aqui, seguramente, esta narrativa não mereceria o desagravo de quaisquer deputados no parlamento no tempo do outro senhor, como foi a ocorrência a propósito do livro de Aquilino, “Prín-cipes de Portugal. Suas grandezas e misérias.”

Dos amores de Mariana e Chami-ly, se acaso foram verdadeiros, temos a visão particularmente interessante de Mário Cláudio sobre a freira de Beja no estado de velhice, através das refle-xões de uma outra, noviça ou irmã, que parece ter por missão acudir-lhe dia-riamente nas suas necessidades: lavar--lhe os pés, vesti-la, ouvi-la no despejo das suas memórias, etc. Trata-se duma narrativa de grande sensibilidade e que equaciona esta pergunta terrível: como foi possível que um corpo a caminho do fim tenha algum dia seduzido um galante apaixonado?

De feição bem diferente é a narra-tiva sobre Dom João V e madre Paula.

Desde logo pela excelência do relato, verdadeira obra-prima de escrita barro-ca, associada a pormenores incomuns, irónicos e satíricos, fazendo dela uma festa de imaginação e de assento obri-gatório na história da nossa literatura. E assim também a dos amores da Severa e do Conde de Marialva, valiosa pela ex-planação dos costumes da época, onde a chulice emparceira com a sensibilida-de e a boa vivência dos poderosos.

Diferente, a todos os títulos e de grande intensidade dramática, é o rela-to (a)fim aos amores de Camilo e Ana Plácido.

Apresentado sob a forma do depoi-mento de Ana Plácido, Mário Cláudio dá-nos uma visão terrível do que foi a existência desta mulher em fins de vida de Camilo. Sobre ela tudo recai, desde a manutenção da casa e das ter-ras às crises violentas de Jorge ou às exigências de Nuno, que aparece em casa com uma malta do piorio, joga-dores, cocheiros, mulheres perdidas e contrabandistas, na procura de mais dinheiro e animálias, fora os cuidados

que mais a inferniza são as maldições e as condenações que ouve da sua boca, a par da ausência de amor que os filhos lhe manifestam.

Erro e maternidades amaldiçoadas, amor e culpa instalados no quotidiano dos amantes de outrora, mais do que vi-sões infernais são condenações existen-ciais recriadas pelos próprios, cada qual convivendo com a culpa que em vão tenta endossar para o outro. Assim Ca-milo, que nesta narrativa parece ter por castigo o espectro de Pinheiro Alves, sob a ameaça de por ele ser garrotado, e em razão do qual insulta, amaldiçoa e tortura Ana Plácido, dando-a como cul-pada do inferno em que vivem.

A obra conclui-se com a narrativa da amizade entre António Nobre e Alberto de Oliveira, que é duma deli-cadeza estreme, narrando uma quase aventurança entre estes dois seres, ape-sar de nas entrelinhas surgir, a espaços, as angústias terríveis que Nobre expe-rimenta face à crescente autonomia de Alberto de Oliveira em relação a si.

Nobre teve sempre como certo, com muita dose de ingenuidade e não menos narcisismo, ser capaz de do-minar as paixões dos outros, fazê-los apaixonar por si, torná-los rendidos ao seu fascínio, estabelecendo as regras do jogo, desde o começo das amizades às do abandono. No caso da Purinha, como do condezinho de Tolstoi, assim denominava ele Alberto de Oliveira, sempre acreditou no domínio sobre ambos, não lhe passando pela cabeça que algum deles pudesse romper sem ele o permitir.

Concluído que está a leitura sobre esta obra de Mário Cláudio, importa reconhecer ao escritor o seu preclaro perfeccionismo. No caso em apreço, para além dos registos que aqui se co-mentam, nomeadamente os pormeno-res circunstanciais com que são deco-radas as personagens e as situações de que resultam, há subjacente na cons-trução das narrativas uma estrutura que dá ao conjunto o carácter de quase en-ciclopédica de estilos de escrita, afins ao tempo ou época das personagens que recria. Assim, desde logo, o modo infanto-juvenil da primeira, prolixo em diminutivos e fantasias. Depois segue--se o modo medieval, o estilo barroco, romântico, realista, etc., dando-nos a sensação de estarmos a usufruir um presente intemporal através de todas as vivências e nostalgias que temos em memória e mais o seu duplo sentido simbólico e especular.

(Ficha: Triunfo do Amor Português, Mário Cláudio. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2014. 2ª edição)

NESTAS DOZE ESTÓRIAS QUE MÁRIO CLÁUDIO NOS APRESENTA A FARSA CORRE A MEIAS COM O AMOR E ESTE COM A SEXUALIDADE

HÁ UMA EXPRESSÃO DE CAMILO, A QUE ALIÁS MÁRIO CLÁUDIO RECORRE COMO EPÍGRAFE DO SEU ROMANCE, “CAMILO BROCA”, QUE ASSEGURA O SEGUINTE: A VIDA É UMA FARSA DE CORDEL E O HOMEM UM CORDEL COM MUITAS FARSAS...

com Camilo, uma alma penada, hi-pocondríaco, que nunca sabe o quer e que se queixa de tudo, exigindo-lhe toda a sorte de serviços, seja o de des-cobrir em que obra antiga existe uma passagem que necessita para o que está a escrever, à leitura de outra que ele já não alcança com a visão, senão mesmo sobre os rascunhos que produz, inca-paz já de os ler, a par do que pretende comer, dos banhos, das consultas mé-dicas, da correspondência, etc. Mas o

No comum das demais narrativas o que emerge e melhor caracteriza as personagens é a sexualidade, a posse e o domínio do macho sobre e fêmea ou vice-versa, as mais das vezes de forma irracional, transgressora e amoral.

Regressando ao prefácio de Agus-tina, diz ela: Podemos constatar, no livro de Mário Cláudio, uma sublimação da li-bido que não é reconhecível nas suas obras anteriores.

Assim Pedro e Inês, que muito tem preenchido o imaginário de outros romancistas, biógrafos, poetas e ci-neastas, com os quais comungamos na crença do amor eterno, subvertendo não digo os amores ilícitos entre am-bos, mas a loucura de D. Pedro na ir-racionalidade e no horror da exumação e coroação de Inês, cujo cadáver, no dizer de Mário Cláudio, foi objecto do seguinte tratamento: Ordenou El-Rei que empreendessem a tarefa de religar o esqueleto, juntando-lhe com cordel a caveira ao resto, de feição a que configurasse o cavername de uma figura humana.

Narrada esta história por discurso indirecto, pelo dizer do filho de D. Pedro e de sua mulher legítima, Dona Constança, na caminhada que se inicia de Coimbra a Alcobaça, nela vamos tomando conhecimento de outras pos-síveis transgressões, seja o do encanta-mento de D. Afonso IV por Inês antes do de seu filho, seja, finalmente, a su-gestão de amores ilícitos entre Dona Constança e Inês.

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16 hoje macau quinta-feira 23.10.2014(F)UTILIDADESTEMPO MUITO NUBLADO MIN 23 MAX 29 HUM 60-95% • EURO 10.2 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

wJoão Corvo fonte da inveja

H O J E H Á F I L M E

ACONTECEU HOJE 23 DE OUTUBRO

C I N E M ACineteatro

SALA 1FURY [C]Um filme de: David AyerCom: Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman14.00, 16.30, 19.00, 21.30

ALEXANDER AND THE TERRIBLE, HORRIBLE, NO GOOD, VERY BAD DAY [B]Um filme de: Miguel ArtetaCom: Steve Carell, Jennider Garner14.30, 16.00, 17.45, 21.30

SALA 2LET’S BE COPS [C]Um filme de: Luke Greenfield

Com: Jake Johnson, Damon Wayans Jr.19.30

SALA 3THE GIVER [C]Um filme de: Phillip NoyceCom: BrentonThwaites, Odeya Rush, Jeff Bridges14.30, 16.30, 19.3, 21.30

WHIPLASH [C]Um filme de: Damien ChazelleCom: Miles Teller, J.K.Simmons, Paul Reiser, Melissa Benoist19.30

FURY

O QUE FAZER ESTA SEMANA?

Nasce Pierre Larousse, pedagogo que transportou o conhecimento ao povo• Hoje é dia de recordar Pierre Larousse, pedagogo, editor e enciclopedista francês, que se deparou com métodos e manuais de ensino que considerou arcaicos e partiu para uma obra que persiste, como marca de conhecimento, na actualidade.Pierre Larousse nasceu em 23 de Outubro de 1817, na cidade de Toucy, França. Aos 16 anos, ganhou uma bolsa para concluir os estudos em Versalhes e com 21 anos, volta à terra natal para trabalhar como professor.Os métodos arcaicos do ensino funcionam como estímulo para a sua grande obra. Em 1840, abandonou a escola em que leccionava para se dedicar à sua vocação. Em virtude dos parcos recursos, aproveita cursos gratuitos, numa altura em que não havia diplomas para ‘oficializar’ cursos. Pierre Larousse era um autodidacta.Em 1848, publica a primeira obra, uma gramática, chamada ‘A Lexicologia das escolas’, uma obra pioneira. Quatro anos mais tarde, ao lado do professor Augustin Boyer, funda a livraria Larousse & Boyer.Estava dado o primeiro passo para a verdadeira revolução do ensino protagonizada por Pierre Larousse, que estimulava a criatividade, a inteligência e a capacidade de raciocínio das crianças.O ‘Novo Dicionário da Língua Francesa’ é lançado a seguir, com grande êxito, o que funciona como incentivo para que Larousse materializasse o grande projecto que tinha guardado na memória: a elaboração de uma enciclopédia de prestígio.Pierre Larousse pretendia, com esta obra, que “fosse possível encontrar, por ordem alfabética, todo o conhecimento que enriquece o espírito humano”, não para uma elite, mas a toda a sociedade, para “instruir a o mundo sobre todas as coisas”.Esse projecto é criado a 27 de Dezembro de 1863, com o lançamento do primeiro fascículo do Grande Dicionário Universal.Mas o destino foi cruel para com Pierre Larousse, que sofreu uma embolia cerebral, causada por excesso de actividade, e em 1871 é afectado por uma paralisia. Morre a 3 de Janeiro de 1875, aos 57 anos, sem chegar a ver sua obra finalizada.

• HojeVISOR DO CINEMA ASIÁTICO APRESENTA “UMA VEZ EM QUCHI” (TAIWAN)Centro Cultural de Macau, 19h3060 patacas

“PINKTOBER” – CONCERTO DE ANGARIAÇÃO DE FUNDOS PARA VÍTIMAS DO CANCRO DA MAMA COM A BANDA CONCRETE/LOTUS Hard Rock Café Macau, 21h00150 patacas, com oferta de uma T-Shirt

ESPECTÁCULO DE MÚSICA E DANÇA DOS PALOPLargo do Senado, 19h00 – 23h00Entrada livre

• AmanhãI MUSICI APRESENTAM “ÓSCARES E FANTASIA DE DESENHOS ANIMADOS” (FIMM)Teatro D. Pedro V, 20h00200 a 250 patacas

VISOR DO CINEMA ASIÁTICO APRESENTA “A RAVINA DO ADEUS” (JAPÃO)Centro Cultural de Macau, 21h3060 patacas

• SábadoVISOR DO CINEMA ASIÁTICO APRESENTA “EM FLOR” (GEÓRGIA)Centro Cultural de Macau, 16h3060 patacas

I MUSICI APRESENTAM “AS QUATRO ESTAÇÕES” (FIMM)Teatro D. Pedro V, 20h00200 a 250 patacas

VISOR DO CINEMA ASIÁTICO APRESENTA “CARVÃO NEGRO, GELO FINO” (CHINA)Centro Cultural de Macau, 21h3060 patacas

• DiariamenteOKTOBERFEST (ATÉ DIA 25/10)MGM, 18h00 às 24h00120 patacas

FESTIVAL DE GASTRONOMIA MACAENSE (ATÉ 5 DE NOVEMBRO)Hotel Four Seasons, Cotai18h00 às 22h00498 patacas por adulto, 249 para crianças até aos 12 anos

EXPOSIÇÃO “BEYOND PIXELS” DE VICTOR MARREIROS (ATÉ DIA 31/12)Signum Living Store, Rua Almirante SérgioEntrada livre

“VIAGEM À TERRA DOS SONHOS” DE SU JIAN LIANG (ATÉ DIA 23/10)Galeria da Fundação Rui CunhaEntrada livre

WORLD PRESS PHOTO (ATÉ 2 DE NOVEMBRO)Casa GardenEntrada Livre

“PERFUME DE MULHER”(MARTIN BREST, 1992)

Mais uma vez, e como em tantas outras, Al Pacino dá vida a uma das personagens mais marcantes da década de 90, numa personagem simultaneamente doce, incompreendida e amargurada. É com “Perfume de Mulher” que o actor da famosa sequela de “O Padrinho”, mostra o seu lado mais sensível no papel de Frank Slade, um ex-militar que fica invisual durante um incidente com uma granada enquanto dava uma formação no exército. Esta obra ilustra os valores da amizade entre um jovem e um homem amargurado e ferido pelo passado. Contracenando com Al Pacino está Chris O’Donnell, o jovem Charlie Simms, contratado para auxiliar o ex-militar durante os dias que espera serem os seus últimos. “Perfume de Mulher” é baseado numa obra italiana de nome homónimo, realizada em 1974. - Leonor Sá Machado

E não há machado que corte o nariz ao parlamento?

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hoje macau quinta-feira 23.10.2014 17OPINIÃO

S ER estrangeiro num local tão distante e culturalmente tão antagónico como a China significa submeter-se a um fútil mas interessante exercício de adaptação a certos valores, alguns deles absolutamente intragáveis à luz do que con-sideramos serem princípios elementares, e sem os quais

não é possível sustentar as relações huma-nas. Estes princípios foram-nos emanados por períodos ou episódios da História que não tiveram na China um paralelo que lhes sirva como referência, e mais importante do que isso, que os torne quantificáveis – os chineses só levam em conta aquilo que se pode quantificar. A este ponto é possível que já haja quem me esteja a acusar de estar a cometer uma generalização injusta, e que em última instância possa ter que pagar por isso. Aí está, é exactamente aqui que reside a grande diferença entre as nossas culturas, e é essa reacção que esperam de nós: im-petuosa, derivada de um juízo que é feito logo após a segunda frase do texto, e uma repreensão com num intimidatório implíci-to, um sermão que ninguém encomendou.

Aquilo que nós chamamos de “racismo” é algo que para os chineses adquire a qualidade de “abstracto”, não se quantifica e portanto não serve um fim específico – é portanto “inú-til”. O povo chinês faz uma diferenciação entre a sua própria etnia com base na origem, condição social, e se for mesmo pertinente, a ancestralidade ou o apelido. Se isto já é complicado, o que seria caso tivessem um contraponto que ao mínimo “toque” levan-tasse a questão da descriminação e do prin-cípio da “igualdade”? Este é um raciocínio que por muito que eles tentem entender não conseguem tirar o sentido: qual igualdade, se a primeira noção que adquirem é a do indivíduo, e de que a diferença é algo que é dado a saber logo pelo sentido da visão? E o que é isso, “descriminação”? Alguma vez viram os chineses da diáspora a fazer “lobby” no sentido de serem integrados no país de acolhimento, ou a queixarem-se que são “guetizados”, ou outra designação que nós ocidentais nos damos ao trabalho de produzir e com isso levantar questões que levam debates intermináveis, onde existe necessariamente um agressor e uma vítima?

Quando se comete a audácia de fazer uma análise a este povo há algo que temos que ter sempre em conta: são uma civilizaçāo com um passado de cinco mil anos, e onde não houve nada semelhante a um Renascimento ou uma Revolução Francesa. Não significa que os chineses não prezem valores como a liberdade, ou valorizem a justiça, mas é tudo encarado de uma forma tão pragmática que não permite deambulações do foro ideo-lógico, e onde as convicções valem o que valem. Reparem como os autores chineses de referência continuam a ser Confúcio e Sun Tzu – a obediência, ou em alternativa a guerra, o vencedor e o vencido, o poder

Simpáticos antípodasbairro do or ienteLEOCARDO

Reparem como os autores chineses de referência continuam a ser Confúcio e Sun Tzu – a obediência, ou em alternativa a guerra, o vencedor e o vencido, o poder que se conquista pela espada. Onde estão os equivalentes chineses de Montesquieu, de Shakespeare, de Voltaire ou de Nietzsche?

que se conquista pela espada. Onde estão os equivalentes chineses de Montesquieu, de Shakespeare, de Voltaire ou de Nietzsche? Mesmo a poesia era uma audácia reser-vada aos intelectuais caídos em desgraça – ninguém foi estudar para se tornar poeta. Du Fu era um oficial do governo afastado devido ao seu carácter íntegro que o tornou incorruptível, Li Bai é pelos padrões actuais considerado um “louco”, quem bastava olhar para a Lua para fazer um poema, e vivia praticamente de esmolas oferecidas por quem procurava entretenimento.

Sax Rohmer, escritor inglês do início do século XX celebrizou-se por ter criado o

personagem do Dr. Fu Manchu, o estereótipo do vilão oriental, neste caso o chinês. Como o próprio nome indica, este Fu Manchu era um médico, ou cientista (a origem do personagem foi sendo alterada de acordo com a própria história da China), um génio do mal, metódico, calculista, conhecedor da mente humana e especializado em venenos, e eventualmente tinha duas ambições: a ri-queza material e o segredo da imortalidade. Rohmer nunca terá viajado pela China, ou sequer por Hong Kong, e inspirou-se nas qualidades que observou nos chineses e que parecem mais evidentes depois do choque cultural: a ambição desmedida, a perfídia,

a ausência de valores considerados próprios da cultura cristã, casos da misericórdia ou da compaixão. Nada disto é racional, claro, mesmo que interpretemos algumas das dife-renças que nos separam como vestígios deste arquétipo – é a reacção normal de quem não se identifica com algo e impulsivamente vê nisso uma luta entre o bem e o mal.

Não surpreende portanto que a tabela com que avaliamos certas atitudes, com-portamentos ou juízos de valor nos deixem muitas vezes chocados e a pensar por vezes que existe qualquer coisa de desumano em tudo isto, algo que é identificado mas poucos procuram entender a razão de ser. Essa é uma tarefa que se reveste de uma presun-ção tamanha que seria o mesmo que tentar encontrar o princípio e o fim do universo. Mas podemos aprender sempre mais um pouco, e enquanto eles não ambicionam a ser igual a nós, vão dando umas pistas enquanto se divertem a observar como as seguimos, utilizando a lógica como régua e esquadro para desenhar o seu perfil. Somos um Li Bai à procura do Dr. Fu Manchu.

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18 hoje macau quinta-feira 23.10.2014

N UNCA, como por estes dias, me pareceu tão acertada a ambiguidade devidamente velada daquele provérbio chinês sobre os “tempos interessantes”, algures en-tre a bênção e a maldição. Tudo o que se tem passado em Hong Kong remete para esses “tempos interes-

santes”, agitados, turbulentos e inquietos. Desassossegados.

Mas o que uns vêem como ameaça, insegurança, instabilidade e perigo, outros, menos interessados na placidez da harmonia que não mexe nem por nada, entendem ser um rumor, uma impaciência, um anseio que vem com o sonho e a esperança. Uma espécie de mal necessário.

Por esta altura, sobre o que estará em causa no conflito já só se poderá lamentar a impossibilidade de que o espaço que separa uns e outros não possa ser reduzido por um diálogo genuíno e construtivo, em que, de parte a parte, se revele abertura e disposição para negociar. E, claro, ceder.

Todavia, não há surpresa. Sabe-se há muito que, da China, se vê o futuro. Há um

próximo or ienteHUGO PINTO

Fim da históriaSabe-se há muito que, da China, se vê o futuro. Há um caminho traçado e não se admitem desvios. Mas o que poderia ser clarividência é apenas poder (que é sempre fátuo). É isso que se receia

caminho traçado e não se admitem desvios. Mas o que poderia ser clarividência é apenas poder (que é sempre fátuo). É isso que se receia.

O Partido Comunista continua com-prometido com a sua “meritocracia” de tecnocratas, um sistema que se diz estar enraizado profundamente (como explica Zhang Weiwei no famigerado artigo “Meritocracy Versus Democracy”, publicado no New York Times) na tradi-ção do Confucionismo e que se reflecte desde o antigo sistema Keju, apresentado como o primeiro exame de selecção de funcionários públicos (que em tempos se chamavam mandarins). Além deste “saber só de experiências feito”, argumenta-se, ainda, que neste modelo há limitação de mandatos e formas de prevenir a concen-tração de poder nas mãos de uma só pes-soa, numa liderança colectiva em que os escolhidos têm que passar com distinção por práticas governativas.

Em todo o mundo, não faltam defen-sores deste sistema e enquanto a robustez económica da China continuar mais apa-recerão.

A natureza e justificação económicas

desta “meritocracia” não são secretas, nem na China, nem em Hong Kong (ou Ma-cau), como o próprio chefe do Executivo C. Y. Leung mostrou, sem qualquer pudor, afirmando que um sistema democrático, ou seja, representativo da vontade popular, iria fazer com que a política do território fosse dominada pelos mais pobres, que certa-mente não partilham os mesmos interesses dos magnatas, uma minoria que deve ser protegida. A todo o custo.

É o devir histórico da “livre concorrência, com uma organização social e política cor-

respondente, com a supremacia económica e política da classe burguesa”. Marx e Engels sabiam o que diziam.

Mas além de podermos questionar o funcionamento de um mercado que, supostamente, favorece a livre concorrên-cia mas gera um dos maiores índices de desigualdade, há algo que não devemos esquecer e que é anterior a todas as clas-ses, tornando fúteis quaisquer distinções entre proletários e burgueses, pobres e ricos: não há meritocracia que nos salve da natureza humana que corrompe e se deixa corromper.

Pode haver, sim, contudo, um primado da lei e instituições judiciais independentes, direitos e garantias que assegurem, para todos, valores básicos e essenciais como a educação. E liberdades: de pensar, falar e de apontar o dedo ao que está mal e aos que não têm mérito. Mas estes são deveres apenas de um sistema político representativo, não de uma “elite” que estará permanentemente ocupada a defender os privilégios e a fazer crer que não somos todos iguais.

Se a economia é realmente o indicador que merece ser mais valorizado, então têm toda a razão. Fim da história.

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hoje macau quinta-feira 23.10.2014

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A AGRESSÃO ao motorista da Transmac não se trata de um acto isolado, como também não faz parte de nenhuma conspiração contra a empresa dos autocarros, do género da que existiu contra a Reolian. A verdade é que, à me-dida que a qualidade de vida dos residentes de Macau desce a olhos vistos, os níveis de agressividade tendem a aumentar. Sobretudo, quando falamos de transportes públicos.Para quem se desloca de um lado para o outro, sobretudo em traba-lho e com horários marcados, esta cidade revela-se um verdadeiro pesadelo. Os táxis não param e se param pretendem espoliar os passageiros. E os autocarros não apresentam um mínimo de racionalidade e não cumprem o calendário determinado. Logo, os níveis de ansiedade sobem e, cada vez mais, tendem a transformar--se em agressividade.Confesso que eu próprio já estive à beira do disparate quando tento apanhar um táxi. Dá vontade de pegar num calhau e esmagar um vidro, dar um pontapé numa porta ou qualquer acto estúpido deste género. Felizmente que, num esforço de racionalização, tal nunca me aconteceu. Mas que me passou pela cabeça, passou. Por isso compreendo os acontecimentos recentemente ocorridos. E podemos esperar mais e talvez pior.Entretanto, o Governo faz estudos e consultas públicas. Fala com este e com aquele, com fulano, sicrano e beltrano. Resultado: continua tudo na mesma. No caso dos táxis, bastaria aplicar a lei ou, através de um novo regulamento administrativo, acabar com o estado lastimável e vergonhoso em que nos encontramos.Já a questão dos autocarros é diferente. Se o Governo gosta de dar dinheiro a ganhar às empresas privadas, tudo bem. Contudo, deveria ser ele próprio a definir as rotas e os horários, de modo a transformar aquilo que é um caos num assomo de ordem. Macau é uma cidade pequena, logo não conseguir resolver um problema desta natureza é, no mínimo, ridículo.É também certo que o ridículo não mata. Mas mói e mói sobre-tudo quem precisa de apanhar transportes públicos. E agora, pelos vistos, também começa a moer os próprios condutores de autocarros.

O ridículonão mata...

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L I G U E - S E • PA R T I L H E • V I C I E - S E

POR CARLOS MORAIS JOSÉ

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

ATLETAS competem nos Jogos Paralímpicos Asiáticos de Incheon, na final de corridade homens de cinco mil metros. Os Jogos decorrem no Asiad Main Stadium, em Incheon,na Coreia do Sul

DIÁRIO 19DE BORDO

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UTSou dos sentidos perdidos, das notas por ecoar e vagueio dividido, por leito onde ancorar. Sou dos destinos boçais, emigrante de promessas, servo de muitas morais, habitante de travessas. Ri o demo e ri-o eu, quase caindo da frágua, riso em vão me prometeu, cruzar limpo o mar da mágoa. Se tudo à volta expira ou respira sem fervor, só faz sentido o que tira, só me faz sentir a dor. Por isso não vale a pena a triste consumação, acreditar nesta cena, neste passo ou no milhão. Prefiro então as alturas, programar a derisão e em terras de farturas, evitar o beija-mão. Tenho por certo o castigo de tanta audácia infeliz e se olho pró umbigo, vejo a ponta do nariz. Ao menos sabe-me a sal, a pimenta de outra terra, e por mais que faça mal, nada por aqui me aterra.

mauspensamen t o s

“Se os maus taxistas apresentarem centenas de assinaturas, queremos apresentar mais. Queremos que as pessoas de Macau mostrem que, de facto, querem uma mudança”ANDREW SCOTT• Presidente da MTPA sobreas mudanças no sector dos táxis

“Às vezes, os passageiros têm de esperar muito tempo por um autocarro, mas também não podemos aumentar mais a frequência, porque já estamos no máximo da capacidade. Penso que é necessário aumentar a frequência dos autocarros em 20% para responder às necessidades gerais dos passageiros”CHAN HIO IEONG• Directora da Transmac

“Será possível sair do hemiciclo daqui a três anos, por causa da idade. Mas, mesmo que não esteja na AL, se tiver capacidade, farei o máximo trabalho possível pelos assuntos sociais, incluindo a ajuda aos residentes”KWAN TSUI HANG • Deputada

“Há casos de residências que são usadascomo pensões ilegais que, depois de serem bloqueadas durante

sete meses, tornam-se outra vez pensões ilegais”.Leong Veng Chai, deputado | P. 4

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cartoon por Stephff

hoje macau quinta-feira 23.10.2014

DSAT Esclarecer repetição de obras Em resposta a uma interpelação assinada pelo deputado Chan Meng Kam, apresentada em Agosto, que questionava o Governo sobre a razão que levou à repetição das obras de escavação nas estradas do território, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) vem agora responder explicando que são sempre necessárias algumas obras de manutenção, devido aos comuns rebentamentos de tubos e cabos. O director da DSAT, Wong Wan, explica ainda que esse tipo de obras, por norma, não ocupam muito tempo. O responsável indica ainda que as autoridades se esforçam por cumprir os prazos e que, de todas as obras aprovadas pelo Governo desde 2012, apenas 78, entre as quatro mil, não cumpriram o prazo reflectindo-se, então, em multas aos empreiteiros. Na mesma resposta, Wong Wan explica que já foi criado um Grupo de Coordenação das Obras Viárias, permitindo uma melhor coordenação de técnicas e prazos para as obras.

FLORA [email protected]

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental lançou seis instruções para a avalia-

ção do impacto ambiental, mas Ho Wai Tim e Mak Soi Kun consideram que o âmbito das instruções para além de não ser amplo, não tem força. O presidente da Associação de Ecologia de Macau e o deputado juntam vozes para dizer que as pes-soas não se sentem na obrigação de cumprir as instruções.

Em declarações ao canal chinês da rádio Macau, os dois sugeririam que o Governo elaborasse um ca-lendário para fazer uma lei desta avaliação obrigatória aquando da feitura de obras, como forma de contorno dessa inércia.

Ho Wai Tim, presidente da Associação de Ecologia de Macau, considerou ainda que devem existir mais duas instruções de avaliação do impacto ambiental. “O fluxo de ar é mais importante, deve por isso fazer parte do relatório da avaliação. Tal como a polémica gerada pela ‘Lei de Sombra’ que está relacionada com a qualidade do ar. Portanto, sugiro que sejam adicionadas duas instruções, sendo elas, a “Instrução para avaliação

O deputado à Assembleia Legislativa (AL), Chan

Chak Mo, afirmou ontem ter receios quanto ao impacto que as mudanças na equipa governativa podem vir a ter nos projectos legislativos em curso. Segundo a Rádio Macau, o deputado eleito pela via indirecta e presidente da 2.ª Comissão Permanente acredi-ta, contudo, que o diálogo entre deputados e Executivo não vai ser afectado por uma mudança de Secretários.

Chan Chak Mo falava aos jornalistas depois da reunião que serviu para analisar a proposta de lei do Regime de Prevenção e Re-pressão dos Actos de Corrupção do Comércio Externo. Segundo Chan Chak Mo, o diploma “não é complicado”, mas o deputado teme que os dois meses até à to-mada de posse do novo Governo não sejam suficientes para levar o diploma ao plenário.

“A possibilidade de adia-mento depende do andamento

do trabalho, porque pode haver uma remodelação ao nível da equipa do Governo e temos de ver, temos de combinar melhor com o Executivo e com o presidente da AL, para ver se devemos acelerar o trabalho para que fique concluído antes da mudança do Governo ou se podemos estender para além do novo Executivo”, afirmou, segundo declarações reprodu-zidas pela Rádio Macau.

Em relação à proposta de lei, Chan Chak Mo disse que “muitos membros da Comissão e também o vice-presidente da AL, que esteve presente na reunião, perguntaram se o articulado pode ser mais deta-lhado, para ser mais explícito, especialmente sobre o conceito de empresas públicas e sobre as pessoas que desempenham, participam ou colaboram numa actividade compreendida na função pública, administrativa e jurisdicional.”

“Macau nãotem um curso especializado na protecção ambiental e por isso torna-se impossível formar especialistas locais”MAK SOI KUN Deputado

PROTECÇÃO AMBIENTAL INSTRUÇÕES PARA CONSTRUÇÕES “SÃO IGNORADAS”

Cumpra se estiver para aí virado

Governo Mudanças “podem ter impacto” nos processos legislativos

Ho Wai Tim e Mak Soi Kun alinham pela mesma bitola e declaramque as instruções de protecção ambiental exibem inúmeras fraquezas

de fluxo de ar” e a ‘Instrução para avaliação de visão de paisagem”, explicou.

O especialista acrescentou que a avaliação do impacto ambiental irá ser usada em obras públicas e privadas, mas a eficácia da lista é muito limitada, por isso na sua opi-nião, “é preciso fazer uma avaliação obrigatória”, caso contrário, afirmou o presidente, as instruções não serão significativas.

NO MESMO TOMIgual opinião tem Mak Soi Kun, que se mostrou defensor das instruções apresentadas por Ho Wai Tim, ape-lando por isso à elaboração do tal calendário, “o mais rápido possível”.

O sistema da educação, acha o deputado, deve também coordenar--se com a protecção ambiental, para que se formem talentos nessa área.

“As actuais empresas capazes de fazer avaliação do impacto am-biental em Macau são provenientes de Hong Kong, porque Macau não tem um curso especializado na pro-tecção ambiental e por isso torna-se impossível formar especialistas locais. Espero que o território possa ter uma equipa para elaborar o nosso relatório de avaliação, consolidando a racionalidade, exactidão e credi-bilidade do relatório”, concluiu.

Cheong U ausente por lesãoO Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, informou ontem que o Secretário sofreu uma queda na corrida de estafetas, uma das modalidades desportivas dos primeiros Jogos Desportivos Populares de Macau que se realizaram no sábado passado, o que lhe provocou uma lesão no pulso esquerdo. Depois de exames pormenorizados e tratamento médico, regressou ao trabalho. Contudo, está ligado e com um suporte de braço, não sendo aconselhável a sua participação em eventos públicos. Prevê-se um certo período para a sua recuperação completa, segundo o comunicado do Gabinete.