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HOLGER KERSTEN

JESUS VIVEU NA NDIA

Jesus Viveu na ndia:

O que realmente sabemos sobre a existncia histrica de Jesus, a partir da Bblia e de algumas referncias da poca? Aps cinco anos de intensa pesquisa, o telogo alemo Holger Kersten chegou a essas impressionantes concluses:

Com cerca de 13 anos de idade,

Jesus entrou em contato com o budismo, adotando e ensinando seus princpios;

A crucificao ps fim sua misso como Messias, mas no lhe tirou a vida. Sua morte foi apenas aparente. Aps a "ressurreio", Jesus viveu na ndia at idade avanada.Seu tmulo est em Caxemira.

O autor percorreu todos os lugares histricos de Israel, Oriente Mdio, Afeganisto e ndia, e assim recolheu dados e provas que divulga nesta obra fascinante, que vem provocando polmica no mundo inteiro.

O autorSumrio

Prefcio9

Introduo11

CAPTULO 1 A Vida Desconhecida de Jesus

A Descoberta de Nicolai Notovitch17

O Evangelho Aquariano25

As Fontes Histricas27

Os Evangelhos29

O Testemunho de Paulo34

Concluses36

Minhas Viagens pelo Himalaia38

CAPTULO 2 Moiss e os Filhos de Deus

A Origem dos Hebreus49

Manu Manes Minos Moiss52

Quem Era Moiss?54

O Tmulo de Moiss em Caxemira59

Da Conquista ao Exlio63

Os Filhos de Israel66

Caxemira E a "Terra Prometida"?70

As Dez Tribos Perdidas de Israel72

A Expanso do Budismo78

Jesus Era um Judeu Ortodoxo?83

Uma Comparao entre Buda e Jesus85

A Influncia do Pensamento Budista na Doutrina de Jesus86

CAPTULO 3 A Sabedoria Oriental no Ocidente

A Estrela dos Magos95Quem Eram os Trs Magos. Ou: Como Descobrir uma Encarnao 98

A Fuga para o Egito104

Jesus Nazareno105

Os Essnios: A Cristandade Antes de Jesus110

Os Ensinamentos dos Essnios em Qumran119

CAPTULO 4

O Segredo de Jesus125

A Reencarnao no Novo Testamento128

Milagres de Jesus e na ndia132

Krishna e Cristo137

CAPTULO 5 A "Morte" de Jesus

Julgamento e Sentena141

A Idade do Sudrio150

Anlise Cientfica do Sudrio161

Ele No Morreu na Cruz!170

A Ressurreio na Perspectiva Histrica190

Paulo Encontra Jesus em Damasco197

CAPTULO 6 Aps a Crucificao

Jesus Volta ao Oriente201

O "Verdadeiro" Jesus do Isl215

Jesus em Caxemira218

O Tmulo de Jesus em Srinagar227

CONSIDERAES FINAIS237CRONOLOGIA 243/245

NOTAS247

BIBLIOGRAFIA251

CRDITOS263

Prefcio

Por mera casualidade, em 1973 tomei conhecimento da teoria de que Jesus teria vivido na ndia. No dei crdito, mas senti que no tinha opinio formada sobre o assunto e procurei acompanhar passo a passo a vida real de Jesus. Logo de incio deparei com o problema da falta de fontes de informao ao alcance do pesquisador e que pudessem confirmar a existncia histrica de Jesus. Quem de fato era esse homem? De onde veio? Para onde foi? Por que parecia to estranho e misterioso aos olhos de seus contemporneos? O que, afinal, pretendia?

No curso de minhas pesquisas, cheguei finalmente ndia, entrando em contato com pessoas profundamente interessadas na questo da presena de Jesus naquele pas. Delas recebi um nmero incalculvel de surpreendentes e valiosas informaes, alm de muito incentivo.

Neste livro procurei evitar um estilo demasiadamente acadmico, para no impedir a compreenso do contedo simples e lgico do texto, mas sem perder de vista os detalhes. Muitas de suas declaraes podem parecer ousadas e outras at improvveis. Esta obra abrir um vasto campo de investigaes em muitas reas afins, impossvel de ser esgotado pelo trabalho de um s indivduo. Alm disso, desafia as igrejas institucionalizadas a examinarem ad absurdum se puderem as teses nela contidas e a provarem o contrrio. Ser interessante acompanhar a reao das igrejas diante disso!

Meu desejo e meu objetivo no minar o ponto de vista cristo, nem colocar o leitor diante de um amontoado de elementos de uma crena fragmentada. O mais importante reencontrar a trilha que conduz s fontes, eterna e central verdade da mensagem de Cristo, esfacelada pelas ambies profanas de organizaes mais ou menos laicizadas, que se arrogam uma autoridade religiosa. Este livro, portanto, no proclama uma nova f, mas apenas tenta abrir passagem para um futuro firmemente alicerado nas verdadeiras fontes espirituais e religiosas do passado.

No penses que estou inventando mentiras, Ergue-te e prova o contrrio! A histria eclesistica, em sua totalidade, No passa de uma trama de erro e de poder.

Johann Wolfgang von Goethe.

Holger Kersten, Freiburg im Breisgau, maro de 1983

Levei mais de dois anos para realizar a verso inglesa de Jesus Viveu na ndia, uma obra que, na Alemanha, j est na stima edio. Esta traduo foi revista e atualizada diversas vezes para conformar-se a dados mais recentes. Fui informado de que meu estilo poderia estranhar a um leitor ingls; no entanto, minha nica inteno foi apresentar com clareza minhas convices sem atenuar os fatos. Sei que posso contar com a tolerncia e a compreenso desse pblico. Sobretudo, considerando que a Inglaterra um pas onde um bispo (rev. David Jenkins, bispo de Durham) tem a coragem de discorrer, no sermo da Pscoa, sobre dvidas pessoais a respeito do tradicional dogma da ressurreio do corpo de Cristo. (Daily Telegraph, 30 de maro de 1985.)

H. K., setembro de 1986

Introduo

A emergncia da cincia e da tecnologia foi acompanhada por uma rpida secularizao do nosso mundo e por uma recesso religiosa. A glorificao do racionalismo e o desejo de encontrar uma resposta para cada aspecto da existncia humana levaram, inexoravelmente, a graves perdas no campo da vida mstica, religiosa e emocional, inclusive em termos de "humanidade". Dentre os responsveis pelo aumento do abismo entre religio e cincia, f e conhecimento, est a postura das igrejas institucionalizadas. Temendo perder influncia nas esferas seculares, impuseram abusivamente sua autoridade no campo do conhecimento emprico. Este fato aprofundou ainda mais a necessidade de uma maior diferenciao no campo da autoridade. O cisma entre pensamento cientfico e f colocou o homem moderno diante de uma dicotomia aparentemente intransponvel. Os sentimentos espirituais se restringem cada vez mais com o crescimento do contingente daqueles que duvidam da verdade da mensagem de Cristo, e das discusses em torno da doutrina crist. At mesmo dogmas fundamentais sustentados pela tradio eclesistica, como Deus, Cristo, Igreja e Revelao se transformaram em objeto de veementes debates entre leigos e telogos, indistintamente.

Quando o cerne e a base dos ensinamentos religiosos no so mais aceitos como pura verdade, nem mesmo pela prpria elite e direo da Igreja, o cristianismo tradicional caminha, indubitavelmente, para o seu fim. sintomtica a realidade dos bancos vazios apontada por uma estatstica de 1979: somente um em trs cidados da Repblica Federal da Alemanha concorda com os ensinamentos das igrejas crists, ao passo que 77% acham possvel ser cristo sem pertencer a nenhuma igreja. Dentro dos segmentos da populao consultada, a maioria no acreditava em Cristo como o "emissrio divino" enviado por Deus. E isso ocorre porque as igrejas institucionalizadas, por medo, falharam, deixando de informar seus fiis sobre os progressos no campo do cristianismo e de dar um enfoque histrico e crtico religio. A insistncia na interpretao literal da Bblia e na cega observncia dos dogmas propiciou o declnio do cristianismo eclesistico, mesmo entre aqueles que no tinham uma postura frontalmente anti-religiosa ou anticrist.Realmente, o que chamamos hoje de cristianismo tem pouco a ver com os preceitos de Jesus e as idias que ele desejava difundir. O que temos atualmente seria melhor designado pelo nome de "paulinismo". Muitos princpios doutrinrios no se conformam absolutamente com a mensagem de Cristo. So, na verdade, antes de tudo, um legado de Paulo, que tinha um modo de pensar radicalmente oposto quele de Jesus. O cristianismo que conhecemos desenvolveu-se a partir do momento em que o "paulinismo" foi aceito como religio oficial. O telogo protestante Manfred Mezger cita, a respeito, Emil Brunner: "Para Emil Brunner a Igreja um grande mal-entendido. De um testemunho construiu-se uma doutrina; da livre comunho, um corpo jurdico; da livre associao, uma mquina hierrquica. Pode-se afirmar que, em cada um de seus elementos e na sua totalidade, tornou-se, exatamente, o oposto do que se esperava". Por isso vlido questionar as bases que aliceram a legitimidade das instituies vigentes. Uma pessoa que freqenta uma igreja crist no pode deixar de assumir uma postura crtica, frente proliferao de obscuros artigos de f, e dos deveres e obrigaes que a envolvem. Sem termos tido outros conhecimentos, e por termos crescido sob a nica e exclusiva influncia do estabelecido, somos levados a acreditar que, por subsistirem h tanto tempo, devem, necessariamente, ser verdade.Um homem surgiu no horizonte sombrio, trazendo uma mensagem cheia de esperana, de amor e bondade, e o que a humanidade fez com isso? Transformou tudo em papel, verbosidade, negcio e poder! Ser que Jesus quis que tudo isso fosse feito em seu nome? Dois mil anos transcorreram desde que o audacioso Jesus tentou, pela primeira vez na histria da humanidade, libertar os homens do jugo oficial das igrejas, caracterizado por burocracia, leis e figuras eminentes, por inflexibilidade, conflito em matria de exegese, por hierarquia e sua reivindicao de autoridade absoluta, pelo culto, idolatria e sectarismo. Jesus queria uma comunicao direta entre Deus e a humanidade e nunca tencionou patrocinar ambiciosas carreiras eclesisticas.

Hoje j no ouvimos diretamente a voz de Jesus em sua forma natural. Ela mediada por especialistas privilegiados e pela arbitrariedade de um corpo profissional. Jesus foi gerenciado, mercadejado, codificado e virou livro. Onde a f viva e verdadeira foi substituda por crenas mesquinhas e intolerantes, baseadas num racionalismo clerical, os mandamentos de Jesus, de tolerncia e amor ao prximo, desapareceram, assomando, em seu lugar, o dogmatismo e o fanatismo. A luta pela supremacia de uma "f verdadeira" exclusiva deixou um rasto de revezes, violncia e sangue no caminho percorrido pelas igrejas. Luta sem trguas, desde o tempo dos apstolos at nossos dias, e que ainda constitui o maior empecilho reconciliao entre os vrios credos cristos. O telogo protestante Heinz Zahrnt escreveu: "Fiquei profundamente traumatizado em minha carreira de telogo. Sinto-me aviltado, humilhado, insultado, desonrado, mas no por ateus, que negam a existncia de Deus, nem por gente zombeteira ou incrdula, que, embora indiferente religiosamente, conserva no corao um sentimento de humanidade, mas sim por dogmatis-tas. Por eles e por seus pastores que seguem apenas a letra dos ensinamentos que consideram ser o nico caminho para chegar a Deus. Fui ferido no ponto mais central, no ponto que, apesar de uma profunda melancolia, tem me mantido vivo: minha crena em Deus..."A confiana no valor das experincias religiosas tende a decrescer com o desenvolvimento das capacidades intelectuais. A crena no racional e no provvel ocupou o lugar reservado f luminosa e profunda como meio de captar a realidade. No processo de "amadurecimento" da sociedade moderna, o sentimento religioso relegado ao mbito do irracional, do improvvel e, conseqentemente, do irreal. Somente o pensamento lgico e a ao parecem determinar a realidade. A medida que cresce o nvel educacional, as categorias transcendentais decrescem, deixando de ser objeto de experincias profundas. A principal causa desse equvoco uma m interpretao do conceito de Deus. O divino no se coloca a uma distncia utpica, mas dentro de cada um de ns, inspirando uma vida em harmonia com o Infinito e o reconhecimento de que nossa curta existncia no passa de um momento da eternidade, da qual faz parte.

Durante sculos, o homem ocidental foi induzido a considerar-se uma criatura separada de Deus; e hoje, no "esclarecido" sculo 20, esse mesmo homem parece mais do que nunca incerto quanto s possveis respostas s mais antigas questes sobre Deus e sobre o sentido da vida. Atualmente florescem em todo o mundo novos centros espirituais que, diante dessas questes, procuram oferecer uma soluo no encontrada em uma igreja oficial intransigente. Est surgindo uma espcie de religio universal sincrtica que se move na direo de uma plena auto-realizao, atravs da contemplao, autoconhecimento e meditao em busca da iluminao religiosa e do entendimento mstico-global da natureza csmica que existe dentro de cada indivduo.

O impulso decisivo para esse intimismo da religio nos veio, como sempre, do Oriente, e sobretudo da ndia. A humanidade precisa, agora, "reorientar-se", no verdadeiro sentido da palavra; o Oriente o bero de nossas mais profundas experincias.

No devemos temer nem a morte de Deus, nem o declnio definitivo da espiritualidade e da moral. Ao invs, devemos aguar dar a germinao da semente do esprito, a emergncia do interior transcendental que at agora nos tinha sido prometido somente para depois da morte. No devemos temer o fim da religiosidade, porque est se abrindo silenciosamente em ns a flor de uma conscincia mstica que no abrange apenas uma elite ou uns poucos "privilegiados", mas todo o contexto ecumnico de uma religio universal. A meta dessa religio no ser um mundo "superficial" e transitrio, nem colocar excessiva nfase em aparncias, mas se ocupar, inteiramente, em despertar uma espiritualidade baseada em valores transcendentais. Este o verdadeiro caminho que nos "libertar do mal".

O conhecimento da verdade destri todo o mal.

Como o sol que brilha num cu sem nuvens, o verdadeiro iluminado permanece firme, apartando os vus da iluso.

Buda

Captulo 1

A Vida Desconhecida de Jesus

A Descoberta de Nicolai Notovitch

Em 1887, o historiador russo Nicolai Notovitch1, ento com 29 anos, em uma de suas numerosas viagens ao Oriente, chegou a Caxemira, no norte da ndia, de cuja capital, Srinagar, pretendia alcanar o Ladakh pelo Himalaia. Tinha disposio recursos suficientes para se equipar adequadamente, contratar um intrprete e dez carregadores, alm de estar acompanhado de um criado particular. Aps uma jornada cheia de aventuras, superando muitos desafios e provaes com bravura, a caravana avistou o desfiladeiro de Zoji-la, a 3 500 metros de altitude, fronteira natural entre o "vale feliz" de Caxemira e a rida "paisagem lunar" de Ladakh.

Ainda hoje, o desfiladeiro de Zoji-la a nica via de acesso para se chegar, atravs de Caxemira, at aquela estranha e longnqua regio. Notovitch escreveu em seu dirio: "Quando deixei Caxemira senti um grande desnimo diante do contraste entre sua natureza exuberante e seu belo povo e as nuas e speras montanhas de Ladakh com seus rudes e imberbes habitantes". Em breve, porm, a populao de Ladakh provou ser gente fraterna e "muito sincera" e, assim, Notovitch bateu, finalmente, s portas de um mosteiro budista, onde foi recebido com uma cordialidade maior, por exemplo, que aquela esperada por um muulmano. Ao perguntar o motivo de ter sido recebido melhor que um islamita, ouviu esta resposta:

Os muulmanos nada tm em comum com nossa religio. Para falar a verdade, h pouco tempo, aps uma vitoriosa campanha, eles coagiram um grande nmero de budistas f islmica. Tivemos a maior dificuldade para reconduzir ao caminho real que leva ao Deus verdadeiro estes novos muulmanos que haviam se desviado das trilhas do budismo. Os europeus diferem, essencialmente, dos muulmanos. No somente reconhecem o princpio fundamental do monotesmo, como tambm respeitam Buda, e com isso se aproximam muito dos lamas do Tibete. A nica diferena entre ns e os cristos que estes, aps terem aceito os sublimes ensinamentos de Buda, afastaram-se dele, adotando seu prprio Dalai Lama. S em nosso Dalai Lama se perpetua a graa divina, a majestade de Buda, sua viso transcendente e o poder de servir como intermedirio entre o Cu e a Terra. Quem esse Dalai Lama cristo de quem o senhor fala? perguntou Notovitch. Ns veneramos o "Filho de Deus", a quem dirigimos as nossas mais fervorosas oraes, junto ao qual buscamos refgio e que intercedeu por ns, junto ao Deus Uno. No, no ao "Filho de Deus" que eu me refiro, Sahib! Ns tambm reverenciamos aquele que vocs adoram como o Filho de Deus. Porm no o consideramos realmente como um filho, mas como o ser mais evoludo entre os eleitos. Na verdade, Buda, como um ser meramente espiritual, encarnou-se na pessoa sagrada de Issa e, sem necessidade de recorrer fora, difundiu por todo o mundo os nossos mais elevados princpios religiosos. Gostaria de falar sobre o seu Dalai Lama terreno, que vocs chamam de "Pai da Igreja Universal". Foi um pecado muito grande, e espero que as ovelhas que tomaram esse falso caminho sejam perdoadas.Terminando, o lama voltou a rezar.

Notovitch compreendeu que ele aludia ao Papa e ousou ir alm.

O senhor est me revelando que um filho de Buda, Issa, escolhido entre todos, propagou vossa f em todo o mundo. Quem ele?

Diante desta pergunta o lama arregalou os olhos, encarou o visitante e disse algumas palavras que tocaram Notovitch. Em voz baixa, ele murmurou:

Issa um grande profeta, um dos primeiros que vieram depois dos sublimes Budas. E infinitamente maior que qualquer Da-lai Lama, porque faz parte da essncia espiritual de nosso Senhor. Ele instruiu vocs, reconduziu as almas transviadas ao seio de Deus; tornou-os merecedores das graas do Criador e deu a todos os seres humanos a possibilidade de distinguir entre o bem e o mal. Seu nome e suas obras esto registrados em nossos livros sagrados.

A esta altura, Notovitch ficou bastante desconcertado pelas declaraes do lama sobre o profeta Issa2, seus ensinamentos, seu testemunho e suas referncias a um Dalai Lama cristo, pois tudo isso recordava muito Jesus Cristo.

Pedindo ao intrprete que nada omitisse da resposta, perguntou ao monge:

Onde esto esses textos sagrados e quem os escreveu? Os mais importantes escritos surgiram em vrias pocas, na India e no Nepal, e podem ser encontrados aos milhares em Lhasa. Alguns dos grandes mosteiros possuem cpias desses textos. Essas cpias foram feitas por monges visitantes e doadas aos mosteiros, como uma lembrana do tempo que passaram junto ao nosso mestre-supremo, o Dalai Lama. O senhor ento no possui nenhum documento original sobre o profeta Issa? No, nenhum. O nosso mosteiro pequeno e, desde a sua fundao, os nossos lamas reuniram apenas algumas centenas de escritos, enquanto os grandes mosteiros possuem milhares deles. Porm, essas so coisas sagradas, s quais o senhor nunca ter acesso.

Nicholas NotovichNotovitch decidiu que examinaria tais escritos em outra oportunidade. Dirigiu-se a Leh, capital do Ladakh e, dali, seguiu para Hemis, um dos mais famosos mosteiros da regio, onde assistiu a uma das vrias festividades religiosas tradicionais que ali se realizam anualmente. Como convidado de honra, teve a oportunidade de obter uma srie de riqussimas informaes sobre os usos e costumes dos monges. Com habilidade, conduziu a conversa para o tema de seu real interesse, e ficou sabendo que, de fato, existiam no mosteiro de Hemis escritos sobre o misterioso profeta Issa, com histrias incrivelmente parecidas com aquela de Jesus de Nazar. Viu-se, porm, obrigado a adiar o curso de suas investigaes, dada a grande dificuldade em localizar esses livros entre os milhares que ali existiam. Voltando a Leh, enviou presentes valiosos ao abade do mosteiro, na esperana de, num futuro prximo, examinar os escritos.

J de regresso, nas proximidades de Hemis, sofreu um acidente e fraturou a perna direita, precisando permanecer entre os monges. Aps insistentes pedidos, trouxeram-lhe dois livros de folhas soltas e amareladas pelo tempo. Durante os dois dias que se seguiram, o reverendo abade lia e Notovitch tomava nota dos versos, s vezes incompletos, que o intrprete traduzia. Mais tarde, ordenou-os cronologicamente e conseguiu unificar os textos esparsos em uma narrativa coerente.

Daremos a seguir um resumo desse documento extraordinrio, baseado na sua traduo francesa.

Aps uma rpida introduo, a antiga histria do povo israelita e a vida de Moiss so narradas de maneira sucinta. Depois, o texto explica como o Esprito eterno resolveu se fazer homem a fim de nos mostrar, com seu exemplo, como alcanar a pureza moral e libertar a alma dos grilhes do corpo, atingindo a perfeio necessria para entrar no reino dos cus, que imutvel e regido pela felicidade eterna.

Foi assim: um menino divino nasceu no longnquo Israel, e foi chamado Issa. Em um dado momento, durante os primeiros catorze anos de sua vida, ele chegou regio de Sindh (ou Indo) em companhia de mercadores, "e se fixou entre os Arianos, na terra amada por Deus, com o propsito de aperfeioar-se e estudar as leis do grande Buda". O jovem Issa cruza a regio dos cinco rios (Pundjabe)3, permanece algum tempo entre os "jainistas enganados" e prossegue para Jagannath, onde recebido pelos sacerdotes de Brama, com grande alegria. L Issa aprende a ler e a interpretar os Vedas e passa a instruir as castas inferiores dos sudras, incorrendo no desagrado dos brmanes, que sentiram sua posio e poder ameaados. Aps viver seis anos em Jagannath (Pu-ri), Rajagriha (Rajgir), Benares (Varanasi) e em outras cidades santas, foi obrigado a fugir da ira dos brmanes, que se voltaram contra ele, enfurecidos, por ele ensinar que as diferenas de valor entre pessoas de castas diversas no foram ordenadas por Deus.

Com a surpreendente e extraordinria proximidade entre o contedo dos textos encontrados por Notovitch e o Novo Testamento, a personalidade de Jesus ganha um destaque todo particular. O Issa dos textos de Notovitch se insurge contra os abusos do sistema de castas que nega s classes inferiores os mais elementares direitos humanos, justificando-se com as seguintes palavras: "Deus, nosso Pai, no faz diferena entre seus filhos, amando a todos igualmente". Ele questiona a rgida e desumana interpretao literal da lei, declarando que "a lei foi feita para indicar o caminho aos homens", e consola os oprimidos: "O juiz eterno, o eterno Esprito, que fez a alma-mundo, nica e indivisvel, julgar com severidade aqueles que se arrogam privilgios".

Quando os sacerdotes pediram a Issa que realizasse milagres para provar a onipotncia de seu Deus, ele respondeu: "Os milagres de nosso Deus foram manifestados no primeiro dia da criao do mundo e se renovam a cada dia e a cada momento. Quem no tem capacidade para perceb-los, acha-se privado de um dos mais belos dons da vida". Ao questionar a autoridade da classe sacerdotal, ele assim se justifica: "Quando os povos no tinham ainda sacerdotes, eles eram guiados pela lei natural e conservavam a pureza de alma. Suas almas encontravam-se na presena de Deus e, para entrar em comunho com Ele, no tinham necessidade da mediao de um dolo ou de um animal, nem do fogo, como ocorre com vocs, que afirmam que o sol deve ser adorado, assim como os espritos do bem e do mal. Eu porm lhes digo que esses ensinamentos so abominveis, porque o sol nada pode sozinho. Ele depende, nica e exclusivamente, da vontade do Criador Invisvel, a quem deve sua existncia e que lhe deu a misso de iluminar a terra e aquecer o trabalho e a semente do homem".Da, Issa segue para o Nepal, atravs do Himalaia, onde, durante seis anos, dedica-se ao estudo das escrituras budistas. Os ensinamentos que ele comea a difundir so extremamente simples, cristalinos e, sobretudo, justos para com os fracos e oprimidos, aos quais revela a hipocrisia e a deslealdade da classe sacerdotal. Depois, rumando para o oeste, atravessa vrios pases, como um pregador itinerante, sempre precedido por sua famosa reputao.

Na Prsia entra em choque com a classe sacerdotal que, uma noite, o expulsa, na esperana de que seja devorado pelas feras, mas a Providncia conduz o Santo Issa so e salvo at a Palestina, onde os sbios perguntam-lhe:

Quem voc e qual seu pas de origem? Nunca ouvimos falar de voc e nem mesmo sabemos seu nome.

Sou israelita responde Issa. No dia de meu nascimento, vi as muralhas de Jerusalm, ouvi os gemidos de meus irmos escravizados e o pranto de minhas irms, condenadas a viver entre os gentios. Senti profunda dor ao saber que meus irmos tinham se esquecido do Deus verdadeiro. Ainda criana, deixei o lar paterno para viver entre outros povos, mas, ao ter notcia do sofrimento de minha gente, retornei casa de meus pais, para reconduzi-la f de nossos antepassados, uma f que nos convida a sermos pacientes na terra para alcanarmos a mais completa e sublime felicidade no alm.

Estas palavras coincidem com os ensinamentos dos evangelhos bblicos e os confirmam.

Os dois manuscritos que o lama do mosteiro de Hemis leu em voz alta para Notovitch, selecionando os trechos que falavam de Jesus, constituam uma antologia de vrios textos tibetanos. Os originais tinham sido escritos em pali, uma antiga lngua indiana, nos dois primeiros sculos de nossa era e preservados em um mosteiro prximo a Lhasa4 (lha + sa = lugar dos deuses). O mosteiro estava agregado ao Palcio Ptala do Dalai Lama.

Voltando para a Europa, Notovitch procurou entrar em contato com vrios altos dignitrios da Igreja para comunicar-lhes a incrvel descoberta. O metropolita de Kiev, sem maiores comentrios, apressou-se a aconselh-lo a no divulg-la. Em Paris, o Cardeal Rotelli explicou que a publicao dos textos inflamaria os blasfemos, os escarnecedores e os protestantes, insistindo em dizer que sua publicao era ainda prematura. No Vaticano, uma pessoa de confiana do Papa deu sua opinio:

Por que public-la? Ningum lhe atribuir grande importncia e voc granjear muitos inimigos. Voc ainda muito jovem! Se uma questo de dinheiro, poderamos pagar uma quantia pelo seu tempo e trabalho gastos na obra.

Notovitch rejeitou a proposta.

Somente Ernest Renan, historiador da Igreja, crtico e orientalista, foi quem mostrou um vivo interesse pelas notas de Notovitch. No entanto, como membro da Academia Francesa, queria simplesmente utilizar esse material em seu prprio benefcio, com o que Notovitch no concordou.

Finalmente o manuscrito foi publicado, mas sem causar muito impacto, porque a Igreja usa seu grande poder, influncia e autoridade para impedir o questionamento da autenticidade de seus ensinamentos cannicos. Os crticos e cticos so condenados como ateus e herticos, sendo amordaados ou simplesmente repudiados. Notovitch no tinha meios de reunir material suficiente para provar cientificamente sua descoberta. Por conseguinte, no foi levado a srio.

Entretanto, hoje em dia as pesquisas fornecem dados suficientes para acreditarmos na presena de Jesus na ndia. Nenhuma fonte histrica confivel e nenhuma passagem do Novo Testamento faz meno vida de Jesus no perodo que vai dos 12 aos

30 anos. Parece at que a vida de Jesus teve incio somente depois de ter completado 30 anos e ser batizado por Joo. O nico que toca no assunto Lucas em um breve versculo: "E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graa, diante de Deus e dos homens". (Lucas 2,52).

Os manuscritos que Notovitch descobriu no so os nicos documentos que atestam a passagem de Jesus pela ndia. Em 1908, foi publicado nos Estados Unidos um trabalho isolado, intitulado O Evangelho Aquariano de Jesus Cristo*. O autor era um misterioso Levi. Este evangelho relata os anos vividos por Jesus na ndia e corresponde exatamente histria da Vida do Santo Issa.

O Evangelho Aquariano

Levi H. Dowling nasceu em 1844, em Belleville, no Ohio. Era filho de um pastor protestante de origem escocesa e galesa e, ainda muito jovem, entregou-se contemplao dos aspectos mais profundos da vida. Comeou a pregar com a idade de 16 anos, aos 18 era pastor de uma pequena comunidade e, aos 20, capelo do Exrcito americano. Mais tarde estudou medicina e, durante alguns anos, trabalhou como clnico geral, antes de se devotar, inteiramente, ao estudo de obras espirituais. Quando ainda jovem, em uma viso, foi incumbido de construir a "Cidade Branca", que na verdade era uma convocao simblica a escrever a crnica da vida de Jesus. Levi Dowling preparou-se durante quarenta anos para cumprir essa misso por meio da orao e da meditao.

Na nica obra de Levi, O Evangelho Aquariano, encontramos dados referentes vida de Jesus entre seus 12 e 29 anos. O livro recebeu esse nome porque foi escrito pouco antes do incio da Era de Aqurio e, possivelmente, com a inteno de fazer uma ampla divulgao nessa "Nova Era".

Elihu, dirigente de uma escola proftica, em Zoan, no Egito, disse h 2 000 anos atrs: "O futuro pouco entender de pureza e amor, no entanto, no se perder uma s palavra, nem um pensamento, nem qualquer ao importante. Tudo ser conservado nas crnicas de Deus".5 Sintonizando-se com estas crnicas, conhecidas como Documentos de Akasba6, Levi, profundamente concentrado, recebeu nas horas quietas da noite, entre duas e seis da madrugada, a revelao de um novo e mais completo evangelho.

Akasha conserva a memria universal, to discutida pelos metafsicos. Quando o esprito do homem encontra-se em perfeita harmonia com o Esprito csmico, ele entra, conscientemente, em sintonia com os Documentos de Akasha, que os mestres hebreus chamavam de Livro das Memrias de Deus.

Nos captulos 6 e 7 do Evangelho Aquariano, Levi relata a presena de Jesus na ndia. Conta-nos que o nobre prncipe indiano Ravanna de Orissa7 encontrou e ouviu Jesus aos 12 anos no templo e que depois levou-o para a ndia, para que pudesse aprofundar seus estudos. Jesus foi colocado na escola do templo de Jagannath8, onde estudou seriamente as leis de Manu e os Vedas. Como nas pginas de Nicolai Notovitch, Jesus surpreende seus mestres com suas inteligentes e profundas respostas e atrai sobre si a ira dos brmanes por causa da postura crtica que o caracterizava.

Ele discorre sobre os conceitos de verdade, sabedoria, poder, entendimento, f e humanidade. Exorta-nos a no nos atermos a ditos ou escritos de outrem, porque no atravs de leis e tradies que se adquire o verdadeiro conhecimento. Toda a sabedoria que expressa nestes textos apresenta-se sob a tpica forma das parbolas e com uma fora e extenso semelhante quelas dos evangelhos.

O captulo 7 do Evangelho Aquariano descreve a viagem de Jesus atravs do imenso Himalaia, at o Tibete, onde ele estuda os antigos manuscritos dos mestres no templo de Lhasa. Depois disso volta para a regio do Sindh, passando por Lahore, e finalmente, de l, volta ao Oriente Prximo.

Logicamente, o mundo moderno e "racional" dificilmente se impressiona com um texto como este do Evangelho Aquariano, por ter sido mediado por uma pessoa de f. No entanto, os anncios profticos dos livros cannicos da Bblia so geralmente aceitos sem discusso, talvez por causa de sua antiguidade. Porm, interessante frisar que o Evangelho Aquariano, em muitos pontos, coincide com os textos descobertos por Notovitch.

Se Jesus esteve mesmo na ndia, seremos obrigados a reformular completamente a idia que fazamos dele. Diante de 2 000 anos de histria eclesistica e de reflexo teolgica, seria normal chegarmos concluso de que no existe mais nada a ser dito nesse campo, como se soubssemos tudo a respeito de Jesus. Assim, a vida de "Jesus na ndia" seria somente fruto da fantasia. No se pode facilmente abalar o que foi aceito por 2 000 anos como verdade absoluta.

Nestas circunstncias, de vital importncia examinar as pesquisas modernas sobre a historicidade de Jesus para podermos determinar o que de fato incontestvel em tudo isso.

As Fontes Histricas

Nada no mundo causou tanto impacto, foi tema de tantas obras e suscitou discusses to apaixonadas como Jesus de Nazar. E, apesar disso, a personalidade do Jesus histrico nunca foi bem esclarecida pelos estudiosos. Foi somente em finais do sculo 18 que alguns telogos mais destemidos passaram a estudar mais sistematicamente a vida de Jesus. A teologia protestante alem foi quem mais se aprofundou no estudo objetivo, crtico e histrico da religio. Um dos maiores pesquisadores nesse campo foi o mdico e telogo Albert Schweitzer, que considerava o estudo sobre a vida de Jesus como o mais poderoso e ousado passo rumo a uma conscincia religiosa independente. Hoje, difcil para ns avaliar as complicaes do parto que trouxe luz a idia que hoje temos da vida de Jesus. E, na opinio de Schweitzer, foram a insatisfao e at mesmo a revolta os fatores que mais contriburam para o enfoque cientfico dessa questo. E conclui: "A pesquisa sobre a vida de Jesus converteu-se, afinal, em uma lio de honestidade para a Igreja e em uma inaudita e penosa luta em prol da verdade".

Contamos, atualmente, com cerca de 100 000 monografias sobre Jesus, mas, mesmo assim, os resultados desse esforo pouco contriburam para aclarar sua figura histrica. As fontes disponveis tendem a confirmar a irrefutvel afirmao de que Jesus o Messias e o filho de Deus e portanto devem ser consideradas mais como documentos de f. So raros os testemunhos realmente objetivos, mesmo entre as fontes leigas. At hoje, os telogos ainda no dataram precisamente o ano do nascimento de Jesus. E possvel que tenha nascido sete ou quatro anos antes da data tradicionalmente reconhecida, durante o reinado de Herodes, que morreu quatro anos antes da nossa era crist (4 a.C). Os evangelhos ignoram quase totalmente a infncia e adolescncia de Jesus, um perodo extremamente importante na formao do carter de uma pessoa. Quando narram sua vida pblica, primam pela brevidade e pela ambigidade. Os historiadores contemporneos parece nunca terem ouvido falar de Jesus ou, pelo menos, no o consideram digno de meno. E difcil entender por que os historiadores silenciam sobre todos os milagres fantsticos e os fatos extraordinrios citados nos Evangelhos.

Tcito9 (55-120 d.C) faz referncia a um homem chamado Cristo, crucificado por Pncio Pilatos, durante o reinado do imperador Tibrio. Esta aluso, baseada principalmente em histrias que circularam no segundo sculo, foi feita pelo grande historiador romano em 117 d.C, aproximadamente noventa anos depois da crucificao. Suetnio10 (65-135 d.C.) e Plnio, o Moo 11 (61-114 d.C.) mencionam a seita dos cristos, mas no dedicam uma nica linha a Jesus Cristo. O historiador judeu Flvio Josefo publicou, por volta de 93 d.C, uma obra grandiosa, intitulada Antiguidades Judaicas, que cobre um espao que vai desde a criao do mundo at a poca de Nero, onde narra acontecimentos considerados mais importantes. Cita Joo Batista, Herodes e Pilatos; detalha, com mincias, fatos polticos e sociais, mas no escreve uma s palavra sobre Jesus. No terceiro sculo, surgiu uma obra escrita por um cristo, intitulada Testimonium Flavianum12, onde o historiador judeu Josefo aparece inesperadamente, narrando e confirmando os milagres e a ressurreio de Cristo. Os padres da Igreja, Justino, Tertuliano e Cipriano, nada sabiam a esse respeito e Orgenes13 nos lembra, repetidas vezes, que Josefo no acreditava em Cristo. O escritor Justo, judeu contemporneo de Jesus, que vivia em Tiberades, prximo a Cafarnaum, onde se diz que Jesus esteve por vrias vezes, nos legou uma extensa crnica, partindo do tempo de Moiss e chegando at sua poca, mas no diz absolutamente nada sobre Jesus. Um outro contemporneo de Jesus foi Flon de Alexandria, um erudito judeu que nos deixou cinco textos. Era um grande entendido em assuntos bblicos e em seitas judaicas, mas tambm ele no menciona Jesus14. Podemos conhecer alguma coisa atravs da obra de Celso, um acirrado anticristo, porm ele nos passa simplesmente uma imagem idealizada de Jesus. Seus escritos polmicos nos fornecem algumas informaes que sero, mais tarde, analisadas. Enfim, a nica fonte disponvel para a pesquisa histrica sobre a vida de Jesus seria a coleo dos textos do Novo Testamento.

Os Evangelhos

A palavra evangelho vem do grego evangelion e significa boas e alegres novas. O conceito j era conhecido bem antes que o cristianismo o aplicasse mensagem de Jesus. O imperador Augusto, por exemplo, foi chamado de "salvador do mundo" e o dia de seu nascimento ficou conhecido como "o dia do evangelho".

O Novo Testamento contm quatro evangelhos, atribudos a Marcos, Mateus, Lucas e Joo. Constituem uma seleo arbitraria dentre uma srie de evangelhos que eram utilizados nas diversas comunidades e seitas do cristianismo primitivo. Os textos rejeitados eram chamados apcrifos e muitos deles foram destrudos, mas alguns daqueles que restaram lanam uma estranha e misteriosa luz sobre a personalidade de Jesus de Nazar. A multiplicidade de interpretaes ameaou dividir as antigas comunidades crists em inmeras faces e suscitar uma verdadeira revoluo no seio do cristianismo. O romano Ammianus Marceli-nus tece o seguinte comentrio a respeito da situao: "Nem mesmo animais selvagens, sedentos de sangue, se lanariam uns contra os outros como muitos cristos o fizeram contra seus irmos na f."15 Tambm Clemente de Alexandria, mestre da Igreja, viu nessa discordncia o maior obstculo difuso da f16. Celso, sincero crtico do cristianismo, escreveu, no sculo 2, que o nome "cristo"17 era a nica coisa em comum que aqueles grupos apresentavam. Com toda essa gama desconexa de opinies expressas sobre a vida, gestos e ditos de Cristo, alguns lderes da Igreja primitiva chegaram concluso de que a nica maneira de evitar o caos que levaria destruio dessas comunidades em conflito seria a colao de um grupo selecionado de textos aceitos por todos. Por volta de 140 d.C, Papias, um Padre da Igreja, tentou fazer essa colao, mas falhou devido resistncia das diversas comunidades. Foi com a ameaa da ira divina que no fim do sculo 2 Irineu conseguiu "canonizar" os quatro evangelhos, hoje considerados vlidos para todos. Para isso ele sustentava que eles haviam sido escritos por discpulos do prprio Jesus. Logicamente, isto no foi muito fcil. Ainda hoje impossvel determinar com exatido quando e como surgiram esses evangelhos, uma vez que se desconhecem os originais e que no h indcios de que esses originais tenham, efetivamente, existido. Nem mesmo uma data aproximada lhes pode ser conferida, tal o grau de incerteza. Os resultados da ltima pesquisa realizada nessa rea indicam que o evangelho de Marcos foi escrito pouco antes de 70 d.C; logo depois, o evangelho de Mateus; e o evangelho de Lucas, entre 75 e 80 d.C^Outros evangelhos surgiram pelo ano 100 d.C. Quanto ao evangelho de Joo, parece no ter sido escrito antes das primeiras dcadas do sculo 2. Se Jesus foi crucificado em 30 d.C, os primeiros textos sobre sua vida s foram escritos aps duas ou trs geraes (com exceo das cartas de Paulo que merecem uma ateno especial).

Os Evangelhos de Lucas e Mateus parecem ter, em grande parte, derivado do evangelho de Marcos. Portanto, o evangelho de Marcos deve, seguramente, t-los precedido.

O evangelho cannico, atribudo a Marcos, contm trechos no encontrados em Mateus ou Lucas. Eles foram substitudos por outras passagens, muitas vezes em contradio com Marcos, ou narrados de modo muito diferente, dando margem suspeita de que tenham se baseado em uma fonte anterior a Marcos e que poderia tratar-se do primeiro esboo de seu evangelho.

Um grande nmero de telogos acredita na hiptese de que, realmente, deve ter existido um documento original, se bem que, na opinio de Gunther Bornkamm, "seria intil a reconstruo de um esboo original do evangelho de Marcos".

O evangelho de Mateus revela, claramente, a existncia de um mistrio a respeito de Jesus como o Messias. Jesus no se apresenta como o Messias e, de fato, chega a proibir seus discpulos que o faam (Marcos 8,30). No entanto, Jesus retratado por Mateus como o cumprimento da religio mosaica e como o Messias anunciado pelos profetas. H muito, os telogos concordam que este evangelho se refere a Jesus simplesmente como a Revelao encarnada, e com isso devemos dizer que quem escreveu o evangelho de Mateus no era nem um historiador, nem um bigrafo muito preciso.

Embora o redator do evangelho de Lucas associe fatos histricos a fatos da vida de Jesus, no resulta, da, uma biografia coesa. Neste caso, como no dos outros evangelhos, falta, devido escassez de dados biogrficos, um alicerce histrico e cronolgico, pois as antigas comunidades crists perderam logo os dados de fato sobre a vida de Jesus. A figura histrica de Jesus j havia sido relegada a um segundo plano, dando-se uma nfase toda particular a sua figura religiosa. O evangelho de Lucas j parece sofrer menos a influncia judaica que aquela greco-romana, pois nele Jesus no mais descrito como um Messias nacional, mas como o Messias de todos os povos.

Em um dado momento, o evangelho de Lucas entra em contradio com os evangelhos de Marcos e Mateus: eles no mencionam o convite de Jesus a seus discpulos para permanecerem em Jerusalm, ao passo que Jesus lhes diz textualmente: "permanecei na cidade at que sejais revestidos da fora do Alto" (24,49).

Tambm nos Atos dos Apstolos, atribudos a Lucas, encontra-se uma clara referncia presena dos discpulos em Jerusalm. O evangelista, sem dvida, tenta mostrar que o cristianismo tinha como sede Jerusalm, apesar de naquela poca j existirem comunidades crists em outros lugares. Ele apresenta o dia de Pentecostes como a explicao da existncia de seitas crists fora da Palestina; nesse dia, de repente, aconteceu um milagre que deu aos apstolos o dom de falar vrias lnguas estrangeiras, e com isso superou-se facilmente o problema da barreira idiomtica.

O evangelho de Joo , certamente, o ltimo dos quatro documentos cannicos escritos sobre a vida de Jesus. Os antigos textos cristos o mencionam pela primeira vez na metade do segundo sculo. Algumas linhas de um papiro em grego antigo, descoberto pelo historiador ingls Grenfell, provam que o evangelho de Joo no poderia ter sido escrito antes do comeo do sculo 2. Trata-se de uma obra com contedo mais filosfico que, embora baseada nos trs primeiros evangelhos, pode ser considerada como sua complementao. O Padre da Igreja Irineu atribui a Joo, discpulo favorito de Jesus, a autoria do evangelho, mas isto pode ser questionado, pois um simples pescador da Galileia dificilmente teria escrito sozinho uma obra que contm amplos conhecimentos de teologia, filosofia e do estilo epistolar grego.

O autor do evangelho de Joo apresenta todos os acontecimentos da vida de Jesus luz de uma filosofia religiosa baseada nos ensinamentos de Cristo. Este fato, somado ao espao de pelo menos oitenta anos entre a crucificao e a redao do evangelho, impede que uma pesquisa sobre a vida do personagem histrico Jesus se apoie no evangelho de Joo como um ponto de referncia.

Mais recentemente, uma obra chamada Livro dos Ditos assumiu um papel de grande importncia em toda a literatura referente aos evangelhos (e na Igreja Luterana). Rudolf Bultmann acredita que esses ditos provm das primeiras comunidades palestinas e que pertencem mais antiga tradio crist. Mas ele acrescenta: "No sabemos com certeza se a antiga tradio oral foi utilizada textualmente por Jesus. muito provvel que esta poca tivesse complicados antecedentes histricos. A tradio rene as palavras do senhor, altera-lhes a nfase e as amplia atravs de adies. Alm disso, outros ditos lhe so acrescentados, de forma que muitas das palavras atribudas a Jesus no Livro dos Ditos no lhe pertencem".

Atualmente, os historiadores tm meios de reconstituir, com mincias, a vida de Pncio Pilatos ou de Herodes, personagens que s se projetaram por causa de sua relao com Jesus Cristo. Informaes sobre outras importantes personalidades contemporneas ou anteriores a Jesus podem ser encontradas em abundncia. No entanto, sobre a vida de Jesus at os 30 anos contamos com bem poucas e frgeis informaes que no podem ser utilizadas como fonte de pesquisa. Ernst Ksemann, de Tbingen, um especialista no Novo Testamento, resumiu os resultados das pesquisas sobre a vida de Jesus com estas palavras: "E deprimente verificar quo pouco do que narrado sobre Jesus no Novo Testamento pode ser considerado autntico... A figura histrica de Jesus s pode ser reconhecida em algumas palavras do Sermo da Montanha, nas discusses com os fariseus, em algumas parbolas e em algumas outras narrativas"18.

As autoridades na Bblia ainda discordam entre si sobre quais citaes" devem ser atribudas realmente a Jesus. Em seu livro, As Palavras Desconhecidas de Jesus, o historiador eclesistico Joaquim Jeremias aponta apenas 21 citaes como insuspeitas19. E o telogo e crtico Bultmann afirma: "O carter de Jesus, a definio clara de sua personalidade e de sua vida, perdeu-se na noite dos tempos".20

O Testemunho de Paulo

Os mais antigos documentos sobre Jesus so os escritos de Paulo. Ele provm de uma famlia judia religiosa, mas adquiriu a cidadania romana, pela qual seu pai teve que pagar um alto preo. Isto lhe permitiu mudar seu nome judeu Saulo para Paulo. Pertencia elite e foi educado dentro da rigorosa tradio farisaica. Recebeu uma vasta e esmerada instruo, conhecia muito bem a lngua, a poesia e a filosofia gregas. Entre os 18 e 20 anos (aps a crucificao de Jesus) foi a Jerusalm, onde se aprofundou no estudo da teologia, sob a orientao de Gamaliel I. Nessa poca, ele era um zelota fantico, intolerante, inflexvel, um observador da lei e ferrenho inimigo das primeiras comunidades, por constiturem um obstculo sua carreira de fariseu. Essa obstinao acabou levando-o a pedir permisso ao sumo sacerdote para perseguir os cristos fora de Jerusalm. Achava que, com esse zelo excessivo, poderia impressionar os sacerdotes. Numa ocasio, perto de Damasco, foi arrebatado pelo fascnio que emanava de Jesus e de seus ensinamentos. Empolgado, percebeu a fora da posio que ocupava e acabou sendo atrado pela possibilidade de tornar-se lder espiritual de um imenso movimento que se projetaria no futuro.

Como no caso de Jesus e dos apstolos, existem pouqussimas referncias histricas sobre Paulo. Tudo que sabemos dele atravs das cartas, que lhe so atribudas, e dos Atos dos Apstolos, textos estes adulterados no todo ou em parte ou compilados de outros fragmentos de textos. As Cartas a Timteo, a Tito e aos Hebreus so totalmente questionveis. A autenticidade das Cartas aos Efsios e aos Colossenses, assim como a Segunda Carta aos Tessalonicenses, uma questo muito debatida.

O que conhecemos hoje como cristianismo no passa de uma vasta e artificial doutrina de regras e preceitos criados por Paulo, e que pode ser melhor designado pelo nome de "Paulinismo". O historiador eclesistico Wilhelm Nestle, comentando a questo, diz que: "o cristianismo foi a religio fundada por Paulo, que substituiu o evangelho de Cristo por um evangelho sobre Cristo."21 Paulinismo, nesse sentido, significa desvirtuamento e mesmo falsificao dos verdadeiros ensinamentos de Jesus por Paulo. H muito tempo os telogos modernos e os estudiosos de histria da Igreja vm afirmando abertamente que o cristianismo da Igreja organizada, cuja questo central a compreenso da salvao como fruto da morte e do sofrimento de Jesus, se apoiou em fundamentos incorretos. "Tudo o que h de bom no cristianismo provm de Jesus e tudo o que h de mau, de Paulo", escreveu o telogo Overbeck22. Associando a morte do Unignito de Deus redeno de nossos pecados, Paulo retrocedeu s primitivas religies semticas, em que os pais deviam imolar seus primognitos. Paulo tambm o responsvel pelos dogmas do pecado original e da trindade, posteriormente incorporados pela Igreja.

J no sculo 18, o filsofo ingls Lord Bolingbroke (1678-1751) reconhecia, no Novo Testamento, duas religies completamente diferentes: a de Cristo e a de Paulo23. Kant, Lessing, Fichte e Schelling tambm faziam distino entre os ensinamentos de Jesus e o de seus "discpulos". Um grande nmero de renoma-dos telogos modernos aceitam e defendem essa tese.

Paulo, o impaciente zelota, completamente diverso dos primeiros apstolos, considerado "um caso tpico de intolerncia" pelo telogo Deissmann24. Ele abriu um profundo abismo entre crentes e incrdulos, passando por cima de muitos dos ensinamentos de Jesus. Colocou Jesus num pedestal e o transformou no Cristo que Jesus nunca quis ser. Se quisermos, porventura, encontrar alguma veracidade dentro do cristianismo, teremos que rejeitar uma srie de bvias falsidades que foram consideradas intocveis, e voltar aos verdadeiros e puros ensinamentos de Jesus e s questes essenciais da religio. No entanto,

fcil perdoar todas as interpretaes de Paulo se considerarmos que, sem ele e outros dogmatistas, hoje no conheceramos nenhum detalhe sobre Jesus. Sobre isso, o telogo Grimm diz que: "Por mais enraizados que estejam tais conceitos no pensamento cristo, eles tm pouco a ver com o verdadeiro Jesus"25.

Concluses

Resta-nos agora analisar at que ponto as fontes conhecidas podem elucidar a historicidade de Jesus. Os manuscritos descobertos em Ladakh por Nikolai Notovitch podem, indubitavelmente, preencher uma importante, inexplorada e inexplicvel lacuna na vida de Cristo. Entretanto, esta descoberta precisa ser bem fundamentada e corretamente apresentada para no ser interpretada como uma tentativa fantstica e repentina de lanar uma luz nas trevas que revestem a origem do cristianismo. Um retrato fiel de Jesus s pode ser obtido atravs de uma extensa e objetiva investigao histrica, livre do dogmatismo eclesistico e apoiada nos melhores recursos da pesquisa moderna.

Como professor de religio crist, tenho tido a oportunidade de verificar que um nmero cada vez maior de telogos esclarecidos esto encontrando dificuldades em aceitar determinados "mitos" que lhes foram impostos, tais como o dogma da imaculada concepo ou da morte na cruz, seguida de uma extraordinria ressurreio e ascenso do corpo de Cristo, sobretudo aps ter descoberto (somente na universidade) alguns novos elementos a respeito da histria dos textos bblicos. Vem-se forados, de uma forma absurda, a calar sobre esses conhecimentos e a continuar a repetir as ingnuas histrias da Bblia, como se fossem a verdadeira palavra de Deus. Mais recentemente, em 18 de novembro de 1965, a Igreja Catlica Romana declarou na reviso de sua constituio dogmtica (Vaticano II), seu mais solene e importante documento, que a Bblia emana diretamente de Deus, o que faz dela um texto santo e cannico nas suas partes e na sua totalidade, escrito sob inspirao do Esprito Santo. "Tudo o que foi escrito pelos autores inspirados deve ser considerado como tendo sido escrito pelo Esprito Santo." A Bblia, para a Igreja, mestre confivel, infalvel e fiel. Milhares de catlicos recebem esse ensinamento e, como bem sabemos, a "f", na Igreja Catlica, um elemento fundamental. Esta postura particularmente penosa para aqueles que so os responsveis pela divulgao dos dogmas da Igreja e que esto bem informados sobre o atual estado da questo. Crises pessoais e tragdias humanas so frutos que nascem, invariavelmente, desse conflito.

A direo da Igreja comete quase uma blasfmia ao conferir autoridade "divina" a textos repletos de erros, omisses, contradies, falhas lgicas, falsas concluses, equvocos, deficincias, distores, mal-entendidos, confuses, perjrios e mentiras bvias.

O bispo anglicano John A. T. Robinson desafiou oficialmente toda a Igreja a expor seu ponto de vista em relao Bblia. Um amplo exame dos fundamentos da religio crista poderia redundar em uma reforma dogmtica. A Igreja, porm, ainda parece esquivar-se de qualquer forma de esclarecimento e continua a tratar progressistas corajosos, tais como Kng, o telogo de Tbingen, de uma forma medieval. E esta mesma Igreja que exige, e espera de seus adeptos, correo, franqueza, honestidade e amor pela verdade. Isto ou no uma fraude? Mas qual a razo disso tudo? Ser que a Igreja est interessada no bem-estar das almas dos homens, que s podero se salvar respeitando o dogma da redeno, ou est simplesmente preocupada em preservar e manter o poder? A Igreja tem procurado, por todos os meios, evitar que o mistrio que envolve Jesus seja elucidado, evitando que tenha sucesso qualquer tentativa racional de investigar o fenmeno Cristo.

A verdade sobre Jesus, e sobre o que ele realmente pregava, mil vezes mais fascinante que todas as histrias inventadas a seu respeito.

Jesus, com certeza, no pregou a institucionalizao de uma igreja organizada, reduto de arrogantes neofariseus, sediados na infalibilidade; nem a converso, sob ameaa de morte ou de eterna danao. Ele nunca aconselhou nem autorizou ningum a ocupar, na terra, importantes cargos divinos; nunca se considerou a encarnao de Deus; nunca perdoou pecados ou conferiu a outros esse dom, nem nunca prometeu a vinda e a permanncia de um Esprito Santo fora dele. Tambm no pediu a seus discpulos que escrevessem um evangelho; se quisesse ele mesmo o teria feito. O que Jesus realmente desejava? E uma questo difcil de ser resolvida, pois a tradio o apresenta a ns simplesmente como uma figura de grande integridade moral e possuidora de profundos sentimentos humanos e espirituais.

Hoje, mais do que nunca, so atuais as palavras de Albert Schweitzer, pronunciadas em 1913: "O cristianismo moderno tem que encarar a possibilidade do passado histrico de Jesus ser revelado a qualquer momento."26 E Rudolf Butmann acrescenta: "Eu no ficaria nem um pouco chocado se os ossos de Jesus fossem encontrados hoje!"27

As "lacunas" que caracterizam essa poca canonizada pelas crnicas da Igreja poderiam ser providencialmente resolvidas com uma viagem ao Oriente, que tem-se demonstrado muito importante na compreenso dos atuais movimentos espirituais do mundo. Os muulmanos sempre preservaram a histria; isto, juntamente com os vinte sculos de acumulao de documentos hoje em acelerado processo de pesquisa, muito contribuir para os esclarecimentos desses pontos omissos.

A alma de Jesus est intimamente ligada ao esprito que impregna a atmosfera caracterstica da antiga ndia. Vamos, agora, ao encontro desse Jesus Oriental, pois Ex Oriente Lux, do Oriente vem a luz e a promessa.

Minhas Viagens pelo Himalaia

Em 1973, um semanrio alemo28 publicou uma reportagem sobre um professor que afirmava ter descoberto o tmulo de Jesus Cristo. O artigo trazia at fotografias do suposto tmulo, e esse professor declarava, abertamente, que Jesus no apenas tinha passado a juventude na ndia, mas que tambm tinha sobrevivido crucificao e que, voltando para esse pas singular, l viveu como mestre itinerante, ou guru, at sua morte, em idade avanada, tendo sido possivelmente enterrado em Srinagar, capital da Caxemira.

Essa foi uma revelao estarrecedora, e a revista que ousou estamp-la recebeu milhares de cartas indignadas e protestos veementes. Porm, o artigo despertou interesse em algumas pessoas de mente mais aberta, que sempre olharam com desconfiana para as pias histrias sobre a imaculada concepo, sobre a ressurreio e assuno de Jesus.

Ainda hoje, aps dez anos, continuam a chegar cartas, com perguntas que no podem ser corretamente respondidas, porque a afirmao de que Jesus viveu na ndia no foi levada a srio, praticamente, em nenhum dos milhares de livros escritos sobre Jesus. Parece incrvel que nenhum ctico tenha-se colocado a questo do possvel lugar em que Jesus foi sepultado. Ainda que possamos dar uma explicao aos milagres realizados por Jesus, o fato de seu corpo ter simplesmente desaparecido no ar e, segundo a Bblia, ter sido levado para o cu, inacreditvel!

Cansado das respostas evasivas e insuficientes de meus professores sobre a figura histrica de Jesus, depois de ter completado meus estudos de professor de religio, decidi partir para a ndia e ver o que poderia descobrir por mim mesmo. Na primavera de 1979, voei para a ndia com escala no Egito e desembarquei em Bombaim. Segui por terra at Dharmsala, aos ps do Himalaia, onde reside o Dalai Lama desde sua fuga do Tibete em 1959. Pedi-lhe uma apresentao para o abade do mosteiro de Hemis, a fim de obter permisso para folhear o material escrito por Notovitch, h cerca de cem anos. Precisei esperar quatro dias para obter uma audincia, mas finalmente pude ter o documento desejado, assinado por Sua Santidade, o dcimo-quarto Dalai Lama.

Dirigi-me a Caxemira onde me informaram que, dentro de alguns dias isto , entre o nono e o dcimo-primeiro dia do quinto ms tibetano , seriam encerradas as famosas peas de mistrio, que tanto deleitaram Notovitch. O festival, chamado Cham ou Setchu, era uma homenagem ao santo profeta e budista Padmasambhava.

Hoje pode-se chegar de nibus a Leh, capital de Ladakh, com relativo conforto, aps uma viagem de dois dias atravs do Himalaia. Quando finalmente cheguei a Hemis, as festividades j tinham comeado. Havia muita gente e, apesar de ter sido permitida a presena de estrangeiros h apenas cinco anos, havia muitos turistas ocidentais por l. No quis anunciar o motivo de minha visita naquela ocasio e, deixando Hemis, voltei a Leh. Regressei trs semanas depois. Hemis o maior, mais rico e mais importante mosteiro de Ladakh. Seu nome deriva da palavra indiana Hem ou Hen (do snscrito Hima, que significa neve, frio), de onde se pode concluir que a regio j devia ter sido habitada antes da atual cultura tibetana.

O mosteiro de Hermis, situado a 4000 metros de altitude, no Himalaia, a 34 quilmetros de Leh, capital do Ladalh

Pacincia e perseverana so duas virtudes que o estrangeiro deve cultivar nessas paragens, porque, a princpio, nos do pouca ateno. Eu participava do convvio dos monges apenas na cozinha, que mais parecia o laboratrio de um alquimista medieval, onde experimentei o ch de manteiga salgada. Ao anoitecer, um monge, com um gesto silencioso, levou-me at minha cela. Os dias seguintes passei praticamente sozinho, percorrendo os arredores ou explorando os corredores do mosteiro. S reencontrava meus amigos quando a fome apertava. Na manh do quarto dia, um jovem monge apareceu em meu quarto e me fez sinal para segui-lo. E eu o segui, atravs de estreitos corredores e ngremes escadas de madeira, at o terrao do grande templo, onde os monges estavam reunidos ao redor de uma enorme mesa. Um deles, de meia-idade e aspecto solene, dirigiu-se a mim num ingls perfeito. Era Nawang-Tsering, secretrio e intrprete do abade, que explicou que Sua Santidade, o Rimpoche Dung-sey, soubera de meu interesse e desejava falar-me.

Enquanto aguardava, ouvi uma histria curiosa, contada por Nawang-Tsering, a respeito do antigo abade de Hemis e chefe espiritual da seita tibetana Dukpa Kargyupa, dado como desaparecido depois da invaso comunista chinesa. O abade, que nessa ocasio estava mergulhado em profundos estudos no Tibete, sua ptria, no teve permisso para partir porque insistiu em levar os pais, que no queria abandonar naquele momento difcil. Algum tempo depois o governo comunista lhe proibiu qualquer correspondncia e, segundo a ltima notcia que se teve dele, estava num campo de prisioneiros.

Quinze anos mais tarde foi oficialmente declarado morto e comeou a ser procurado sob a forma de uma nova reencarnao. Seis anos aps a data presumida de sua morte, os lamas encontraram em Dalhousie (Darjeeling) um menino de 2 anos, consagrado como Rimpoche Drugpa, em 1975, com a idade de doze anos. Este jovem tinha um mestre idoso, chamado Rimpoche Dungsey, que at a consagrao do menino tinha dedicado todo o seu tempo ao estudo e disciplina.

Durante minha estadia entre os monges, me chamou a ateno um homem alto, de aproximadamente 30 anos, que, por suas feies, no demonstrava ser tibetano, mas sim um ocidental. Descobri que era australiano. Interessando-se pelo meu trabalho de pesquisa, ofereceu-se para servir de intrprete, durante minha entrevista com o Santo Dalai Lama, que s falava tibetano.

Solene e j idoso, Sua Santidade me esperava, sentado na posio de Buda, sobre um pequeno trono numa sala magnificamente decorada. Diante dele, sobre uma mesa baixa, estava uma xcara de ch de prata ricamente decorada. Curvei-me diante dele com os braos cruzados, de acordo com o cerimonial, e fui convidado a me sentar no tapete sua frente. Seus olhos vivos e brilhantes, cravados em um rosto enrugado, sorridente e adornado por uma rala barba branca, irradiavam bondade e sabedoria. Entreguei-lhe a carta de apresentao e procurei convenc-lo de quo importantes seriam aqueles textos para toda a cristandade.

Com um sorriso complacente, o sbio lama aconselhou-me a, antes, descobrir a verdade por mim mesmo, para depois querer endireitar o mundo. Naquele momento no consegui entender suas palavras. O australiano s traduziu uma parte daquilo que o lama me disse. Por fim, o Santo Lama me informou que os manuscritos que eu procurava no haviam sido encontrados.

Essa notcia caiu sobre mim como um raio. Desapontado e um tanto confuso, me retirei, com a forte impresso de que o mosteiro queria guardar para si, ainda por muitos anos, este segredo to precioso.

Apesar disso, consegui reunir vrias informaes sobre Notovitch e os textos por ele descobertos, chegando at mesmo a uma fonte anterior.

Em 1854, bem antes da chegada de Notovitch a Hemis, uma senhora de nome Harvey j tinha falado sobre os escritos sobre Issa em sua obra, intitulada Aventuras de uma Senhora na Tartaria, China e Caxemira (Vol. II, pg. 136).

Sir Francis Younghusband, embaixador da Coroa Britnica junto corte do Maraj de Caxemira, relata pgina 214 de seu livro O Corao de um Continente o encontro que teve com Notovitch, no desfiladeiro de Zoji-la, e recorda que passaram a noite em um acampamento. Nessa ocasio Notovitch vinha de Caxemira, em viagem para Skardu.

Em 1890, o renomado hindulogista de Oxford Max Mller (nascido em Dessau em 1823) quis tachar a descoberta de Notovitch de fraudulenta. Mller, que nunca esteve na ndia, declarou que, aps consultar autoridades inglesas de Caxemira, foi informado de que no havia nada nos registros locais sobre a estadia de um europeu de perna quebrada em um dos mosteiros locais. Podemos perceber melhor o contexto intelectual de Mller, atravs de uma carta que ele enviou em 1876 a um amigo: "A ndia est muito mais preparada para receber o cristianismo que a Roma e Grcia do tempo de So Paulo (...) e gostaria de participar da misso destinada a destruir o prfido sacerdcio indiano para abrir as portas da ndia aos ensinamentos cristos."29

E quanto aos textos citados por Notovitch, h informao de que outras pessoas os folhearam, como por exemplo o Swami Abhedananda, da Misso Ramakrishna de Calcut que, em 1922, aps ler A Vida Desconhecida de Jesus, partiu para Hemis. Ctico diante da afirmao de Notovitch, queria ver com os prprios olhos. Para sua surpresa, encontrou os referidos documentos e, sendo versado na lngua pali, fez uma traduo direta do texto. Mais tarde nos fala dessa descoberta, em seu livro de viagens Kash-miri O Tibetti, escrito em bengali.

Tambm o professor e artista russo Nicholas Roerich visitou, em 1925, o mosteiro de Hemis e fala desses documentos em sua obra O Corao da sia.

Lady Henrietta Merrick, em seu livro de viagens publicado em 1931, intitulado No Teto do Mundo, confirma a existncia dos documentos.

Ainda no sculo 19, o dr. K. Marx, grande conhecedor do Tibete, nos deixou um dirio (ver ilustrao), que foi encontrado em uma misso da Igreja Morvia em Leh, no qual comentava a visita que Notovitch fez ao mosteiro de Hemis.

Uma pgina do dirio do missionrio dr. Max, onde se menciona o tratamento de uma dor de dente de Notovich.Logo aps meu retorno a Leh, procurei pela misso da Igreja Moravia, fundada em 1885 pela ordem dos irmos leigos de Herrnhutter.

Alguns zelosos missionrios cristos tinham ido para o Tibete muito antes daquela data. Os monges capuchinhos residiram em Lhasa desde o sculo 14, na esperana de converter tibetanos ao cristianismo, esforo esse que, no entanto, no teve sucesso. Isto porque quando os missionrios contaram que Cristo tinha se sacrificado na cruz pela redeno da humanidade e que tinha ressuscitado em seguida, os tibetanos acharam tudo muito natural e exclamaram entusiasmados: "E ele!"

Os pios budistas estavam totalmente convencidos de que Cristo era uma encarnao de Padmasambhava. Tratava-se da mesma pessoa.

Os missionrios acabaram desistindo de converter a populao, no por terem encontrado muita resistncia, mas sim porque seus ensinamentos eram simplesmente interpretados como uma ulterior confirmao dos ensinamentos que foram proclamados por Sakyamuni, Padsambhava, e outros santos budistas30. Atualmente, existem somente 185 cristos entre toda a populao de Ladakh.

Fui recebido pelo diretor da misso, o padre Razu, um tibetano, que, com muita cordialidade, durante um ch, contou-me a histria da misso. No pde, porm, me mostrar o dirio porque, trs ou quatro anos antes, ele havia desaparecido misteriosamente. Nessa ocasio, uma delegao de Zurique passou por Leh, e o neto do renomado dr. Francke (colega do dr. Marx) hospedou-se, por um certo tempo, na misso. O amigvel padre no sabia explicar como o livro tinha desaparecido, mas lembrou que o professor Hassnain, de Srinagar, havia fotografado suas partes principais quatro anos antes (ver ilustrao). Hassnain foi quem forneceu ao reprter da revista Stern os dados que, em 1973, causaram tanta celeuma.

Aps fazer ainda algumas investigaes sobre o dirio desaparecido, na biblioteca municipal local e na de Chaglamsar, uma cidadezinha prxima, habitada por refugiados tibetanos, decidi abandonar a "paisagem lunar" de Ladakh e voltar ao "vale feliz" de Caxemira.

Ao atravessar o vilarejo de Mulbek, tive a oportunidade de admirar, esculpido em uma rocha vertical de 12 metros de altura, um baixo-relevo de Maitreya, o salvador dos budistas, cujo advento foi profetizado por Sakyamuni. O nome Maitreya parece corresponder ao aramaico Meshia, o messias que os judeus continuam a esperar como seu salvador.

Caxemira possui vales frteis, grandes e serenos lagos e rios de agua lmpidas, e por isso chamada a Sua da ndia. Construda aos ps do "Teto do Mundo" (Himalaia), rodeada por montanhas cobertas de vegetao, este paraso, desde tempos imemoriais, atraiu gente de todas as partes, principalmente no perodo ureo da Caxemira, quando chegaram peregrinos de todo o mundo para estudar os ensinamentos do Buda Gautama, guiados pelos renomados mestres de Caxemira. Esta cidade conhecida como o centro do budismo Mahayana e sede dos mais elevados valores espirituais e culturais. O fogo devastador do Isl varreu aquelas paragens deixando poucos vestgios dos grandes mosteiros, dos templos e das lies dos ascetas.

Apesar de sua idlica localizao, Srinagar uma cidade comercial, agitada e barulhenta. Rodeada de lagos, foi construda margem esquerda do grande lago Dal (dal = lentilha) e toda recortada por inmeros canais que a fazem parecer uma Veneza do Oriente.

As provncias de Jammu e Caxemira no norte da ndia.

Uma parte considervel da populao vive em casas flutuantes, que podem variar de simples "dongas" a verdadeiros palcios, ancorados s margens dos lagos, entre jardins tambm flutuantes, ou nos canais da cidade velha.

Durante o tempo em que estive em Srinagar, morei num velho barco, em um pequeno lago, de onde eu podia tomar um "txi" a remo para qualquer parte da cidade. Uma verdadeira frota de barcos dirigidos por comerciantes distribua as mercadorias populao. Havia at um correio itinerante, que prestava servios dirios. No preciso salientar o encanto deste belo lugar, procurado por muitos turistas americanos e europeus que costumam passar longos perodos nessas casas flutuantes estudando snscrito ou apenas aproveitando a agradvel atmosfera.

De onde eu estava, podia chegar em dez minutos moderna universidade de Caxemira, onde tinha disposio extensa e interessante literatura no meu campo de estudo.

Foi nessa ocasio que conheci o professor Hassnain.

Ele era um erudito de fama internacional, doutor em hindulogia e arqueologia, autor de vrios livros, diretor do "Centro de Pesquisas de Caxemira para Estudos Budistas" e de todos os museus, colees e arquivos de Caxemira, alm de professor convidado, no Japo e Estados Unidos, e membro da Conferncia Internacional da Pesquisa Antropolgica, de Chicago. Mas, apesar de toda essa bagagem, era uma pessoa simples e afvel. Depois de lhe falar sobre minhas intenes e planos, ele discorreu com grande entusiasmo sobre suas prprias pesquisas, adiando todos seus compromissos para o dia seguinte. Ao final de nosso encontro, convidou-me para visit-lo em sua casa.

No curso de nossa conversa, falou-me de tudo que havia descoberto, nos ltimos vinte anos, sobre a presena de Jesus na ndia. Grande parte de seu conhecimento derivava de uma obra pioneira, intitulada Jesus no Paraso Terrestre, fruto de dez anos de trabalho de um advogado erudito chamado Al-Haj Khwaja Nazir Ahmad, e publicada em 1952, no Lahore.

Mas todos os acontecimentos histricos, todas as descobertas,

Srinagar vista do "Trono de Salomo", com suas casas e jardins flutuantes, ao longo das margens do lago Dal.

correlaes e provas apresentadas so incompreensveis e podem ser interpretadas como hipteses absurdas, se no forem consideradas luz das mais recentes pesquisas sobre a vida de Jesus. At que se tenha em mos uma prova irrefutvel da historicidade de Jesus, impossvel afirmar se ele, em sua mocidade, esteve ou no na ndia, se sobreviveu crucificao, se ocorreu ou no a ascenso, se voltou ndia e l morreu em idade avanada.

Sem essa fundamentao, qualquer pessoa criada dentro do cristianismo descartaria a possibilidade de Jesus ter vivido na ndia, talvez com um sorriso divertido ou complacente. E realmente difcil desvencilhar-se de uma tradio de 2 000 anos. Entretanto, embora essa tradio subsista h tanto tempo, isto no significa que, por isso, ela seja verdadeira ou completa.

Talvez pudssemos comear observando mais de perto um fato que no se perdeu por entre mitos e lendas, na noite dos tempos, e que tem um grande significado para a tese de que Jesus viveu na ndia: a presena de tribos judias no leste de Israel e mesmo em Caxemira. Antes disso, porm, voltando um pouco mais no tempo para ampliar o nosso contexto, queremos examinar a impressionante figura bblica de Moiss, o grande profeta do Antigo Testamento.Captulo 2

Moiss e os Filhos de Deus

A Origem dos Hebreus

Na opinio de modernos pesquisadores, Abrao, patriarca dos hebreus, foi, realmente, um personagem histrico, que nasceu por volta de 1700 a.C, a quem o Deus Jav ordenou: "Sai da tua terra, da tua famlia e da casa de teu pai, para a terra que eu te indicarei". (Gnesis, 12,1). Qual a terra natal dos antepassados de Abrao? Blavatsky sustenta que as primeiras lnguas semticas derivam de corruptelas fonticas da antiga lngua indiana, o snscrito. A palavra Adima, em snscrito, quer dizer "a primeira pessoa" (adi significa primeiro de todos) e Hava ou He-va poderia significar "o que torna a vida completa" (hava significa oferenda sacrificial; hevakin, devotado a, absorto em). Em sua obra A Doutrina Secreta1, H. P. Blavatsky escreve que os hebreus eram descendentes dos Chandalas, indianos de condio social humilde, que no pertenciam a nenhuma casta. Muitos deles eram ex-brmanes que se refugiaram na Caldeia, em Aria (Ir) e no Sindh e que pertenciam aos a-brmanes ou no-brmanes, l pelos idos de 8000 a.C Em um remoto perodo dessa histria os a-brmanes insurgiram-se contra a desumanidade do sistema de castas, mas nada puderam fazer contra a casta dominante dos brmanes, e por isso precisaram emigrar. De acordo com o captulo 29 do Gnesis, o filho de Abrao, Jac, foi visitar Labo na terra dos "Filhos do Oriente". Alm disso, no livro de Josu, est escrito que o povo de Israel originrio do Leste (isto , da regio ao leste de Israel)."Assim diz o Senhor Deus de Israel: Alm do dilvio habitavam outrora os vossos pais, Tar, pai de Abrao e de Nacor, e serviram a outros deuses. Porm, tirei vosso pai Abrao do outro lado do dilvio e o conduzi s terras de Cana, e multipliquei sua descendncia e lhe dei Isaac."

(Josu 24,2-3)

Diversas passagens do Gnesis afirmam que a verdadeira ptria de Abrao situava-se em Har. Segundo Gnesis 11,32, Abrao morava em Har quando Deus lhe ordenou que partisse. Ento Abrao disse ao seu servo mais velho: "irs minha terra e minha parentela e escolhers uma esposa para meu filho Isaac". (Gnesis 24). Geralmente supe-se que Har estivesse localizada na Baixa Mesopotmia, hoje em dia conhecida como Eski-Chrran. Porm, no norte da ndia, existe uma pequena cidade chamada Har, a poucos quilmetros ao norte de Srinagar, capital de Caxemira, onde existem restos de antigos muros que os arqueougistas atriburam a um perodo muito anterior Era Crist. Apesar da impossibilidade de reconstruir a rota das tribos nmades, um estudo cuidadoso dos elementos de que dispomos nos leva a crer que, em 1730 a.C, os nmades, liderados por Jac, tomaram o rumo do Egito.

Manetho, sacerdote e historiador egpcio, escreve: "Inesperadamente, um povo de origem humilde surgiu do Oriente, entrou corajosamente em nosso pas e o dominou pela fora, sem ter encontrado grande resistncia". Alguns murais das cmaras morturias representam estes conquistadores como pessoas de pele clara e cabelos escuros.

Pinturas murais cm um tmulo egpcio: um oficial egpcio recebe nmades semitas, pintados com uma cor de pele mais clara e com um perfil diferente daquele dos egpcios. Com um grupo como este, Jos chegou ao Egito.

No stimo captulo dos Atos dos Apstolos, Santo Estevo nos conta, em poucas palavras, como Abrao, o patriarca dos judeus, foi impelido para a terra que o Senhor da glria lhe queria mostrar. Ele saiu "da terra dos caldeus, indo morar em Har", viajando atravs da Mesopotmia. E possvel que as tribos nmades, lideradas por Abrao, tenham dado um nome familiar ao lugar onde temporariamente se estabeleceram, a noroeste da Mesopotmia. Forado pela fome, o grupo seguiu para o Egito, porque Jac, o filho de Abrao, soubera que "havia trigo no Egito". Em breve, porm, foi obrigado a retornar Palestina. Apesar das divergncias que caracterizavam o relacionamento entre os filhos de Abrao, isto , entre Isaac, Esa e Jac, com a gerao seguinte, o cl se transformou numa tribo unida.

No tempo dos hiesos, os doze filhos de Jac, abatidos pela fome, retornaram ao Egito, fixando-se, primeiramente, na provncia de Goshen. Vestgios de agrupamentos semticos, datados dessa poca, foram encontrados a nordeste do delta do Nilo.

Para comear, os hebreus se multiplicaram rapidamente, espalharam-se por todo o pas, tornando-se ricos, poderosos e influentes. Porm, antes do fim da dinastia dos hiesos, em 1583 a.C, sua posio j tinha se deteriorado devido a conflitos intestinos.

Assim, podemos dizer que a palavra "hebreu" no significava originalmente um grupo nacional ou tnico, mas qualquer pessoa, sem direitos e sem teto permanente, cujo destino era servir aos egpcios, como mo-de-obra barata (mais tarde, foram condenados a trabalhos forados), como se depreende das fontes que chegaram at ns, datadas dos sculos 13 e 14 a.C. O texto de xodo (1,11) narra que os antepassados dos israelitas foram obrigados a construir como escravos as cidades de Piton e Ramss. Foi por essa poca que as tribos semticas, guiadas por Moiss, deixaram o Egito, rumo terra de seus ancestrais, a terra abenoada que lhes havia sido prometida pelo Deus Jav.

Manu Manes Minos Moiss

As coisas se tornam mais fceis e claras se partirmos de algumas figuras representativas das principais linhas culturais do Oriente. No sculo 19, foi levantada a hiptese de certos paralelos. Assim, na ndia antiga, o legislador e poltico era conhecido pelo nome de Manu. No Egito, por Manes. Minos era o nome do rei de Creta que foi estudar no Egito as leis que ele pretendia introduzir na Grcia. O lder do povo hebreu que nos legou os dez mandamentos chamava-se Moiss. Manu, Manes, Minos e Moiss, dada a enorme influncia que exerceriam na histria da humanidade, estavam destinados a mudar a face do mundo. Todos os quatro estaturam as leis que continuariam a ter fora no futuro, alicerando as sociedades sacerdotais e teocrticas. Todos procederam de acordo com um modelo arquetpico muito mais evidente que as meras semelhanas dos nomes e instituies que eles criaram.

Manu uma palavra snscrita que significa "um homem de qualidades excepcionais, um dispensador da lei". Os quatro nomes acima citados tm uma origem snscrita comum.

Sempre, na aurora de todas as civilizaes, surgem seres predestinados a grandes feitos, a conduzir as massas, a mover as engrenagens do progresso ou a governar. Ao invs de se deixarem dominar pela sede de poder que tanta atrao exerce sobre pessoas incultas, preferem, como lderes espirituais e culturais, usar do poder que lhes foi concedido, para viver em harmonia com o Ser Supremo que existe na conscincia de todos os homens. Envoltos por uma aurola de mistrio, suas origens e suas vidas transformam-se em lendas. So chamados "profetas" ou "emissrios de Deus" e reformulam as obscuras revelaes do passado que s eles sabem interpretar. Em suas mos habilidosas, toda a realidade pode ser transformada numa manifestao do poder celestial que eles tm condies de invocar ou aplacar. Magos da ndia e de Israel podiam, por exemplo, colocar uma serpente em estado catatnico, exibi-la como um cajado diante de todos e depois faz-la voltar ao seu estado normal. Esse , alis, um truque muito popular no repertrio dos faquires.

Os adeptos e intrpretes literais das leis de Manu, aliando-se a mais influente casta dos brmanes e dos sacerdotes, desequilibraram a estrutura social dos Vedas, causando assim o declnio e a runa de seu povo que, posteriormente, iria ser sufocado sob crrupto domnio sacerdotal. Da mesma forma, aqueles que documentaram a tradio oral de Moiss, se apegaram, sobretu-do, ao comportamento desptico de seus predecessores, quando no governo do povo de Israel (ou filhos de Deus).

Quem Era Moiss?

A etimologia do nome de Moiss muito discutida. No Egito, mos significa simplesmente criana ou, literalmente, "nasceu" (p. ex. Tutmsis). De acordo com outra interpretao, baseada no hebraico, o nome deriva de mo, gua, e useb, salvo, o que corresponde lenda segundo a qual Moiss foi encontrado flutuando nas guas de um rio, dentro de um cesto de vime (xodo 2,10). Quanto ao Moiss histrico, impossvel estabelecer um quadro preciso dele; a prpria tradio deixou muitas questes sem resposta, criando expectativa em torno do argumento. O Antigo Testamento prova que Moiss no poderia, absolutamente, ser o autor dos cinco livros que lhe so atribudos. O Pentateuco resultado de sculos de tradio oral e escrita, derivada de diversas fontes, como se deduz da variedade de estilo, das inmeras repeties e contradies, e das incompatveis variaes de alguns princpios teolgicos bsicos. Mas, apesar das sombras projetadas pelo passado, podemos afirmar com segurana que Moiss foi, de fato, um personagem histrico. E certo que ele cresceu na corte real e foi educado por sacerdotes, que era muito culto e que foi uma pessoa influente em todas as esferas de governo. Moiss utilizou-se de um sincretismo que somava s doutrina curiosas prticas mgicas, que combinava com elementos vdi-cos e com elementos da idolatria egpcia. Sua inteno era proclamar a existncia de um s Deus, o Deus de Israel, e pr fim adorao de todos os outros deuses. Para provar a vontade de Deus (na verdade, a sua) recorria a "milagres". Se a mitologia greco-romana foi descartada como fonte do cristianismo, no foi isso que aconteceu com os textos de Moiss, ainda que seja difcil reconhecer no Deus vingativo descrito por Moiss como um fogo devorador o mesmo Deus do Novo Testamento.Quem se opusesse sede de poder de Moiss era impiedosamente destrudo. E era geralmente atravs do fogo que Moiss costumava defender suas convices, ainda que conhecesse tambm vrios passes de mgicas. Aps sua exibio perante os magos egpcios (xodo 7 8-13), sua fama de grande feiticeiro chegou at a Grcia. Nos primeiros anos do cristianismo, surgiram alguns livros apcrifos completando o Pentateuco, e que atribuam o contedo mgico desse documento a Moiss. Depois do nascimento de Cristo, foram divulgados o sexto e stimo livros de Moiss que retomavam a tradio egpcia, apresentando uma srie de palavras e preces mgicas, feitiaria e textos de doutrinas secretas de diversas procedncias.

Em 1928, Jens Juergens2 publicou uma obra chamada O Moiss Bblico, onde prova que os sacerdotes egpcios sabiam fabricar a plvora h mais de 6 000 anos, e que a empregavam em fogos de artifcios e como uma espcie de luminria bengali. Uma outra informao vem do professor e arquelogo ingls Flinders Petri, que na sua obra Pesquisas no Sinai, de 1906, nos mostra que Moiss no tinha autoridade somente sobre os templos egpcios, mas tambm sobre as minas reais do Sinai e, conseqentemente, sobre a mina de enxofre, de "Gnefru", em atividade a partir do ano 5 000 a.C. Moiss tinha aprendido a fabricar plvora nos livros secretos sacerdotais e sua composio, base de enxofre, carvo e salitre, provou ser muito simples do ponto de vista tcnico. Assim, quando seus sditos recusavam-se a obedec-lo nas suas contnuas pregaes (xodo 18,13ss), ele enviava um fogo devorador que os fazia curvar-se sua vontade. (xodo, 19,18; 24,17; 33,9; Deuteronmio 4,11; 4,24; 4,33; 4,36; 5,4; 5,5; 5,23; 9,3; 32,22).

Como representante do Deus do Fogo, Moiss exercia um grande poder, e quando o povo se negava a cumprir os sacrifcios exigidos, bastava uma simples demonstrao do poder divino para que tudo voltasse ao normal. Veja-se, por exemplo, o incidente do Monte Sinai (xodo 19); a morte pelo fogo de 250 pessoas, apos a rebelio de Cor (Nmeros 16,1-35); e a morte dos milhares de outras em uma tempestade de fogo, por terem se insurgido contra Moiss (Nmeros 16,36-50).Os filhos de Aaro foram atingidos fatalmente por uma chama de fogo quando desobedeceram a vontade divina (Levtico 10,1-7); o prprio Moiss sofreu graves queimaduras resultantes, logicamente, de uma exploso e, por ter ficado com o rosto horrivelmente deformado, foi obrigado a cobri-lo com uma atadura especial (xodo 34, 29-35).

Moiss continua a ser considerado um grande legislador, porm, fato sabido que os Dez Mandamentos nada mais eram que o resumo de leis que vigoravam entre povos do Oriente Prximo e da ndia, muito antes do nascimento de Moiss, e que eram comuns tambm na Babilnia, j h 700 anos. A famosa lei do rei babilnico Hamurabi (728-1686 a.C.), inspirada no Rig-Veda dos hindus, j continha todos os dez mandamentos.

A idia de um Deus nico, onisciente, invisvel, pai do universo, ser de amor e bondade, pai de misericrdia da humanidade e da f, j existia entre os Vedas e no nrdico Edda, bem antes de Moiss. At mesmo Zoroastro era abertamente proclamado nico.

O papiro de Prissa (mil anos antes de Moiss) narra as seguintes palavras que Deus disse, a respeito de si prprio: "Eu sou o uno invisvel, oculto, criador do cu, da terra e de todas as criaturas. Sou o grande Deus incriado e nico. Eu sou o passado e conheo o futuro. Sou a essncia e a lei universal". No Egito, o princpio de unidade divina era considerado "indescritvel" muito antes que Moiss falasse do "inominvel". Nukpu Nuk significa "sou aquele que sou" (compara-se este texto com aquele de xodo 3,14: "Sou o que sou").

Hoje j no se duvida da existncia de Moiss como personagem histrico. No entanto, suas proezas hericas baseiam-se, em grande parte, em lendas muito mais antigas, como a lenda do deus Baco originalmente rabe. Baco, como Moiss, foi salvo das guas, cruzou o Mar Vermelho a p enxuto e escreveu leis em tbuas de pedra, tinha exrcitos guiados por colunas de fogo e emitia raios de luz pela testa.3

O Rig-Veda nos conta que Rama foi tambm um grande legislador e um poderoso heri. H pelo menos 5 000 anos, conduziu seu povo atravs da sia, at a ndia, e pelo caminho fez surgir fontes no deserto (cf. xodo 17), apresentou a seu povo uma espcie de man como alimento (cf. xodo 16) e dominou uma epidemia graas soma, uma bebida sagrada chamada tambm "gua da vida" da ndia. Finalmente conquistou a "terra prometida" (ndia e Ceilo) e invocou uma chuva de fogo contra o rei. Atingiu o Ceilo atravs de um banco de areia durante a mar baixa em uma localidade at hoje chamada "ponte de Rama". Como Moiss, Rama descrito com raios de luz saindo da cabea (os raios da iluminao; veja ilustrao).

Moiss, com as protuberncias em forma de raios, como Baco e RamaComo Moiss, tambm Zoroastro (Zaratustra) tinha um fogo sagrado sua disposio, com o qual ele podia realizar extraordinrias faanhas. De acordo com escritores gregos, como Exodus, Aristteles e Hermundorius, Zoroastro viveu 5 000 anos antes de Moiss. Como Moiss, tinha sangue real, foi tirado de sua me e abandonado. Aps completar trinta anos, tornou-se o profeta de uma nova religio. Deus, envolto em luz e anunciado pelo som de troves, apareceu-lhe, sentado em um trono de fogo, na montanha sagrada de "Albordj" e, em meio s chamas, anunciou-lhe sua lei sagrada. Zoroastro e seus adeptos tambm se colocaram a caminho de uma distante "terra prometida" e, com a ajuda de Deus, atravessaram o mar a p enxuto.

As narrativas judaicas, com que estamos mais familiarizados, comeam com a emigrao das tribos de Israel, sob a liderana de Moiss, partindo do Egito em busca de uma nova terra de liberdade.

Ainda no existe uma concordncia sobre a localizao da terra de Goshen (Gosen), onde os israelitas se reuniram inicialmente, mas parece ter sido margem oriental do delta do Nilo. A Bblia aponta para uma mudana de fara nesse perodo. Este fato coincide com a expulso dos hicsos no incio da dcima-oitava dinastia egpcia, sob Amsis I. A melhor rota para seguir rumo Palestina seria pelo nordeste, partindo do Mar Vermelho. Esta rota, entretanto, estava sob o controle filisteu. At hoje constitui um mistrio o fato de Moiss no ter seguido pela estrada de Beersheba, que seria o local mais seguro para os israelitas. Moiss preferiu o sul, chegando no terceiro ms ao Monte Sinai, on-

de acredita-se, tenha acontecido a impressionante demonstrao do Deus do Fogo de Moiss, Jav. Essa montanha hoje conhecida pelo nome de "Jebel-Musha", que significa a "montanha de Moiss". Segundo a Bblia, os israelitas permaneceram no Monte Sinai durante oito meses, de onde partiram em busca da terra prometida. Porm, esta tentativa falhou e o povo de Israel teve que se instalar no osis de Cades, onde, ainda segundo a Bblia, viveu durante quarenta anos (este nmero simboliza no entanto um perodo muito maior).

A esta altura dos acontecimentos, Moiss compreendeu que no viveria o suficiente para guiar seu povo at o fim do caminho (ver Deuteronmio 31,1). Por isso promulgou as leis que deveriam ser consideradas como sagradas na terra prometida, deu instrues sobre o perodo de transio aps a travessia do rio Jordo, cuidou dos ltimos detalhes, fez um discurso de despedida e, finalmente, com alguns companheiros, partiu para o paraso, "onde corre o leite e o mel" (Deuteronmio 34,1-7).

At hoje, ningum sabe onde foi sepultado, o que bem estranho, porque existe uma detalhada descrio do lugar:

"e Moiss subiu ento das plancies de Moab para o monte Nebo, at o cume do Pisga... diante de Bet-peor..."

Parece impossvel que o povo de Israel no tenha se preocupado em encontrar um lugar digno para sepultar seu grande profeta e salvador. Portanto, deve existir pelo menos algum vestgio dele... E, de fato, existe, mas no nas proximidades da Palestina, como seria de se esperar, mas sim no norte da ndia.

O Tmulo de Moiss em Caxemira

Encontramos na Bblia cinco pontos de referncia que nos levam ao tmulo de Moiss (cf. Deuteronmio 34): as plancies de Moab, o monte Nebo nas montanhas de Abarim, o cume do monte Pisga, Bet-peor e Hesebon. A "terra prometida" foi expressamente reservada para os filhos de Israel e no para todos os hebreus (Nmeros 27,12). Esta terra deve se situar alm do rio Jordo. Se fosse possvel encontrar os lugares acima mencionados, tambm seria possvel localizar a "terra prometida".

Literalmente, Bet-peor significa "lugar que se abre", como um vale, por exemplo, que se abre numa plancie. O rio Jhelum, situado ao norte de Caxemira, chama-se "Behat" em persa, e a pequena cidade de Bandipur, situada onde o vale do Jhelum se abre para a vasta plancie do lago Wular, chamava-se antigamente Behat-poor. Bet-peor transformou-se em Behat-poor, hoje Bandipur, na regio de Tehsil Sopore, a 80 quilmetros ao norte de Srinagar, capital de Caxemira. A aproximadamente 18 quilmetros de Bandipur, existe o pequeno povoado de Hasba ou Hasbal, que parece ser a Hesebon mencionada na Bblia (Deuteronmio 4,46), em co- , nexo com Bet-peor e Pisga. Nos rochedos de Pisga (hoje Pishnag), j ao norte de Bandipur e somente a 1,5 quilmetro da cidade de j Aham-Sharif, existe uma fonte famosa por suas qualidades medi- l cinais. Na Bblia, o vale e as plancies de Mowu so chamados j de plancies de Moab, terra ideal para pastagens, a cerca de cinco ] quilmetros ao norte do monte Nebo. O monte Nebo, tambm conhecido como Baal Nebu ou Niltoop, ocupa um lugar de destaque na cordilheira de Abarim e oferece uma vista maravilhosa da cidade de Bandipur e de todo o planalto de Caxemira, sendo sempre mencionado no contexto de Bet-peor4. Como se v, todos os cinco nomes encontram-se bem prximos uns dos outros.

"E o senhor lhe disse: Esta a terra que jurei dar a A