Honneth - Revista Cult Duas Perguntas Para Axel Honneth - Revista Cult

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7/23/2019 Honneth - Revista Cult Duas Perguntas Para Axel Honneth - Revista Cult http://slidepdf.com/reader/full/honneth-revista-cult-duas-perguntas-para-axel-honneth-revista-cult 1/2  Assine 0800 703 3000  SAC  Bate-papo E-mail Notícias Esporte Entr etenimento Mulher PagSeguro  BUSCAR Edições Berenice Bento Marcia Tiburi Renan Quinalha Welington Andrade CULT Educação Oficina Literária Espaço CULT Loja CULT na Cult na Web  Home > Edições > 136 > Duas perguntas para Axel Honneth Duas perguntas para Axel Honneth TAGS: dossiê Professor da Universidade de Frankfurt, o filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth é o atual diretor do Instituto de Pesquisa Social (instituo a partir do qual se originou a expressão “Escola de Frankfurt”). No início de sua carreira universitária, trabalhou como assistente de Habermas (1984 a 1990). Além de ser um dos principais especialistas sobre Teoria Crítica, Honneth é um dos pensadores mais citados no mundo no âmbito da filosofia moral contemporânea, em particular, nas relações entre poder, reconhecimento social e respeito. Pelo caráter inovador de suas reflexões, é considerado atualmente o pensador mais influente da terceira geração da “Escola de Frankfurt”. No Brasil, publicou Luta por reconhecimento (Ed. 34, 2004) e Sofrimento de indeterminação (Ed. Singular, 2007). Nesta pequena entrevista, Honneth avalia a contribuição de Habermas para a Teoria Crítica e situa sua própria obra em relação ao eixo da teoria habermasiana. CULT  Habermas teve um papel destacado na renovação e na reformulação da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Como seguidor de Habermas, quais seriam, na sua opinião, os pontos centrais da contribuição habermasiana para a refomulação da Teoria Crítica?  Axel Honneth  – No essencial, eles se resumem ao chamado “giro” da teoria da comunicação, ou seja, ao empenho de Habermas em fundamentar uma sociedade cujos traços essenciais não fossem a produção e as respectivas relações de produção, e sim um conceito do social, caracterizado em seu cerne pelo processo de compreensão linguística. Este é o giro da teoria da comunicação, que consiste igualmente em identificar a ação comunicativa, e não mais a ação instrumental, como o cerne do social – uma teoria que estabelece conexões com Durkheim e George Herbert Mead. Para mim, este foi o choque fundamental, e foi evidentemente o que transformou a arquitetônica da Teoria Crítica a partir de sua base: ela não estava mais remetida, no seu fundamento, a uma análise da socidade como estrutura de produção, e sim como estrutura de comunicação, o que tornava necessária uma reorientação sob a perspectiva normativa. Essa perspectiva normativa não era mais a de uma libertação do trabalho ou por intermédio do trabalho, mas a de uma liberação [  Entbindung] do potencial normativo da ação comunicativa. Para alguém que se vê mais como aluno de Habermas do que de Adorno, como é o meu caso, essa transformação foi decisiva. Com ela, a Teoria Crítica encontrou seu lugar no gênero da crítica social, que em certo sentido já havia sido formada pelos clássicos – por Durkheim, Max  Weber e também por Parsons. Isso não era possível antes. A partir de uma forte ligação com Marx, a antiga Teoria Crítica havia compreendido a sociedade como sendo, em princípio, apenas uma “estrutura de trabalho” [  Arbeitszusammenhang]. Creio que isso representou uma limitação para a sua perspectiva normativa, e avalio ainda que ela era, sob um aspecto específico, não-sociológica. Eu diria que a grande contribuição de Habermas no que concerne à Teoria Crítica foi precisamente esta transformação, isto é, a ultrapassagem deste paradigma de produção ou dessa herança histórico-filosófica que procede de Marx. CULT Isso significa que a carência do aspecto social na primeira Teoria Crítica, à qual o senhor se refere, foi superada por Habermas? Honneth – Sim. Ela foi superada, mas de uma maneira que considero incompleta. Isso se explica – e compõe a dramaturgia de meu livro Crítica do poder [  Kritik der Macht, inédito no Brasil] – pelo fato de Habermas ter trocado o paradigma da produção, central para a Teoria Crítica, pelo paradigma da compreensão, o que me parece deixar pouco espaço para a atualidade do conflito social, ou seja, para o fato elementar da atualidade do conflito ou de uma concorrência e de uma luta entre os sujeitos socializados [ vergesellschafteten]. Em consequência disso, minha investigação consistiu em ampliar ou corrigir a trilha aberta por Habermas rumo a uma concepção do social calcada nas relações de comunicação pela orientação mais rígida de uma teoria do conflito. E o paradigma que propus para substituir (ou talvez aprofundar) o modelo da compreensão foi o de uma luta pelo reconhecimento. (Tradução: André Medina Carone) EDIÇÃO 208 EDIÇÕES ANTERIORES  

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Duas perguntas para Axel HonnethTAGS: dossiê

Professor da Universidade de Frankfurt, o filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth é o atual

diretor do Instituto de Pesquisa Social (instituo a partir do qual se originou a expressão“Escola de Frankfurt”). No início de sua carreira universitária, trabalhou como assistente deHabermas (1984 a 1990). Além de ser um dos principais especialistas sobre Teoria Crítica,Honneth é um dos pensadores mais citados no mundo no âmbito da filosofia moralcontemporânea, em particular, nas relações entre poder, reconhecimento social e respeito. Pelocaráter inovador de suas reflexões, é considerado atualmente o pensador mais influente daterceira geração da “Escola de Frankfurt”. No Brasil, pu blicou Luta por reconhecimento (Ed.34, 2004) e Sofrimento de indeterminação (Ed. Singular, 2007). Nesta pequena entrevista,Honneth avalia a contri buição de Habermas para a Teoria Crítica e situa sua própria obra emrelação ao eixo da teoria habermasiana.

CULT – Habermas teve um papel destacado na renovação e na reformulação daTeoria Crítica da Escola de Frankfurt. Como seguidor de Habermas, quaisseriam, na sua opinião, os pontos centrais da contribuição habermasiana para arefomulação da Teoria Crítica?

 Axel Honneth – No essencial, eles se resumem ao chamado “giro” da teoria da comunicação,ou seja, ao empenho de Habermas em fundamentar uma sociedade cujos traços essenciais nãofossem a produção e as respectivas relações de produção, e sim um conceito do social,caracterizado em seu cerne pelo processo de compreensão linguística. Este é o giro da teoria dacomunicação, que consiste igualmente em identificar a ação comunicativa, e não mais a açãoinstrumental, como o cerne do social – uma teoria que estabelece conexões com Durkheim eGeorge Herbert Mead. Para mim, este foi o choque fundamental, e foi evidentemente o quetransformou a arquitetônica da Teoria Crítica a partir de sua base: ela não estava maisremetida, no seu fundamento, a uma análise da socidade como estrutura de produção, e simcomo estrutura de comunicação, o que tornava necessária uma reorientação sob a perspectivanormativa. Essa perspectiva normativa não era mais a de uma libertação do trabalho ou porintermédio do trabalho, mas a de uma liberação [ Entbindung] do potencial normativo da açãocomunicativa.

Para alguém que se vê mais como aluno de Habermas do que de Adorno, como é o meu caso,essa transformação foi decisiva. Com ela, a Teoria Crítica encontrou seu lugar no gênero da

crítica social, que em certo sentido já havia sido formada pelos clássicos – por Durkheim, Max Weber e também por Parsons. Isso não era possível antes. A partir de uma forte ligação comMarx, a antiga Teoria Crítica havia compreendido a sociedade como sendo, em princípio,apenas uma “estrutura de trabalho” [ Arbeitszusammenhang]. Creio que isso representou umalimitação para a sua perspectiva normativa, e avalio ainda que ela era, sob um aspectoespecífico, não-sociológica. Eu diria que a grande contribuição de Habermas no que concerneà Teoria Crítica foi precisamente esta transformação, isto é, a ultrapassagem deste paradigmade produção ou dessa herança histórico-filosófica que procede de Marx.

CULT – Isso significa que a carência do aspecto social na primeira Teoria Crítica,à qual o senhor se refere, foi superada por Habermas?

Honneth – Sim. Ela foi superada, mas de uma maneira que considero incompleta. Isso seexplica – e compõe a dramaturgia de meu livro Crítica do poder [ Kritik der Macht, inédito noBrasil] – pelo fato de Habermas ter trocado o paradigma da produção, central para a TeoriaCrítica, pelo paradigma da compreensão, o que me parece deixar pouco espaço para a

atualidade do conflito social, ou seja, para o fato elementar da atualidade do conflito ou deuma concorrência e de uma luta entre os sujeitos socializados [ vergesellschafteten]. Emconsequência disso, minha investigação consistiu em ampliar ou corrigir a trilha aberta porHabermas rumo a uma concepção do social calcada nas relações de comunicação pelaorientação mais rígida de uma teoria do conflito. E o paradigma que propus para substituir(ou talvez aprofundar) o modelo da compreensão foi o de uma luta pelo reconhecimento.

(Tradução: André Medina Carone)

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2 Comentários 1

• •

illiam Schweickardt  • 

Inter essante essa análise não mais voltada essencialmente ao quesito laboral daconstrução social. Entretanto, eu ainda acredito que Marx conseguiu decifrar 

muitos desdobramentos sociais que perpetuam e até se acentuaram atualmente.

 Analisar só pelo trabalho pode ser incompleto, mas que a sociedade está

profundamente fixada em torno de sua mão de obra e a forma como essa é

vendida e administrada é inegável.

• •

Lucas  • 

Só um complemento ao seu comentário William. Eu particularmente,

concordo muito com Marx na questão dos meios de produção

influenciarem nas superestruturas, realmente foi um conceito importante

elaborado por ele, pois nós conseguimos ver claramente como as f ormas

de produção afetam diretamente na forma como vivemos, vide que hojetudo e todos estão de alguma forma subordinados ao capital. É o laboral

influenciando o social.

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Leia trecho de artigo de Cláudia Perrone‑Moisés

sobre Hannah Arendt publicado na edição 208

da revista CULT.

  revistacult.uol.com.br/home/2015/12/u…

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Leia crítica de Welington Andrade sobre o

espetáculo "Mistérios Gozósos", em cartaz no

Teatro Oficina Uzyna Uzona: ht.ly/VRJJV

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Leia no blog da filósofa @marciatiburi: "Política

da Escuta – Voz, protagonismo e disputa

política". ht.ly/VRrBv

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Hoje, a poeta mineira Adélia Prado completa 80

anos. Leia entrevista que ela concedeu à CULT

de abril de 1999: ht.ly/VMgl5

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