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Universidade Federal de Itajubá Instituto de Recursos Naturais Ciências Biológicas Licenciatura HUGO JOSÉ COELHO CORRÊA DE AZEVEDO O ENSINO DE ZOOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DAS PRINCIPAIS ABORDAGENS PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DA CIDADE DE ITAJUBÁ. ITAJUBÁ-MG 2016

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Universidade Federal de Itajubá Instituto de Recursos Naturais

Ciências Biológicas Licenciatura

HUGO JOSÉ COELHO CORRÊA DE AZEVEDO

O ENSINO DE ZOOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DAS PRINCIPAIS ABORDAGENS PRESENTES

EM LIVROS DIDÁTICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DA CIDADE DE ITAJUBÁ.

ITAJUBÁ-MG

2016

HUGO JOSÉ C.C DE AZEVEDO

O ENSINO DE ZOOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DAS PRINCIPAIS ABORDAGENS PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DA CIDADE

DE ITAJUBÁ.

Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Federal de Itajubá, como parte das exigências para a conclusão do curso de Ciências Biológicas Licenciatura. ORIENTADORA: Profª Drª Janaina Roberta dos Santos

ITAJUBÁ-MG 2016

i

HUGO JOSÉ C.C DE AZEVEDO

O ENSINO DE ZOOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DAS PRINCIPAIS ABORDAGENS PRESENTES

EM LIVROS DIDÁTICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DA CIDADE DE ITAJUBÁ.

Itajubá, 01 de novembro de 2016.

BANCA AVALIADORA

________________________________ ______________________________ Profª Drª Janaina Roberta dos Santos Profª Drª Simone Policena Rosa

(Orientadora) Avaliadora

ii

Dedico este trabalho a todos os biólogos de todas as áreas formados em instituições federais.

Os quais sabem o quanto dói possuir uma mente curiosa.

iii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente eu gostaria de agradecer a professora Drª Janaina Roberta dos

Santos, minha orientadora, por me acompanhar durante este percurso de minha

formação.

A formação de um professor depende de outro professor. Ela com seu ensino de

qualidade conseguiu agregar muito a minha formação como graduando.

O começo de minha formação se deu na área da biotecnologia, que produz a

mudança hormonal dos organismos para fins de consumo humano. Fato este, que me

levou a desistir do curso e procurar um curso de biologia clássica. Até este momento não

sabia o que eram os valores utilitaristas e antropocêntricos e por que me deixavam

incomodado, pois não conseguia organizar estas informações dentro de minha mente.

A professora Janaína, me ajudou a organizar esses conceitos em minha mente

com maestria. E muitos outros mais.

Encontrar na vida uma pessoa que nos ajuda a nos entender quanto pessoa crítica

de uma sociedade, é para poucos. Logo, me sinto sortudo em tê-la como professora e

orientadora. Por isso, meus agradecimentos são todos dela.

iv

“É da guerra da natureza, da fome e da morte que o mais

elevado objetivo que somos capazes de conceber, ou seja, a

produção dos animais complexos advém naturalmente. A

grandeza dessa visão de vida, de enquanto este planeta foi

girando de acordo com a lei da gravidade, a partir de um início

muito simples, infinitas formas de vida evoluíram e continuam

evoluindo”.

(Charles Robert Darwin)

v

RESUMO

O livro didático é um recurso amplamente utilizado pelas escolas públicas com a

finalidade de ser fonte de informação em sala de aula, tanto dos alunos quanto dos

professores. Cada livro possui um tipo de abordagem de determinado conteúdo, o qual

tem relação direta com a formação do aluno como cidadão, uma vez que participa do

processo de constituição tanto de conceitos quanto de valores que os estudantes levarão

para vida cotidiana. Nesse sentido, entender e analisar de forma crítica o modo como os

livros didáticos abordam os mais diversos conteúdos se torna necessário dado ao fato de

o livro didático, na maioria das vezes, representar um dos poucos recursos de informação

que o aluno possui. No que tange ao ensino de zoologia, interessou entender de que

modo os livros didáticos utilizados pelas escolas públicas de ensino médio de Itajubá/MG

abordam o conteúdo de zoologia, buscando compreender também de que forma essas

abordagens contribuem para a construção da relação entre o ser humano com os demais

animais. Após a análise de quatro obras, verificou-se que as principais abordagens

empregadas pelos livros didáticos utilizados nessas escolas foram: a abordagem

utilitarista, a evolutiva e a ecológica, indicando que alguns livros precisam reavaliar o

modo como suas abordagens se mostram relacionadas à compreensão dos animais como

produtos a serem consumidos. Além disso, verificou-se que a abordagem ecológica foi

pouco empregada nos livros analisados.

PALAVRAS-CHAVE: Livro didático; ensino de zoologia; ensino médio.

vi

ABSTRACT

The textbook is a resource widely used by public schools in order to be a source of

information in the classroom, both students and teachers. Each book has a kind of

approach to certain content, which is directly related to the education of students as

citizens, as part of the creation process and both concepts as values that students take to

everyday life. In this sense, understand and critically analyze how textbooks address the

most diverse content becomes necessary given the fact that the textbook, in most cases,

represent one of the few information resources that the student has. Regarding the

zoology teaching, interested to understand how the textbooks used by public high schools

Itajubá / MG approach Zoology content, also seeking to understand how these approaches

contribute to the construction of the relationship between being human with the other

animals. After the analysis of four works, it was found that the main approaches employed

by the textbooks used in these schools were the utilitarian approach, evolutionary and

ecological, indicating that some books need to reevaluate how some approaches show

related to the understanding of animals such products to be consumed. Furthermore, it

was found that the ecological approach is rarely used in books analyzed.

KEYWORDS: Textbook; zoology teaching; high school.

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1……………………………………………………………………………………………19

Figura 2……………………………………………………………………………………………25

Figura 3……………………………………………………………………………………………26

Figura 4……………………………………………………………………………………………27

Figura 5……………………………………………………………………………………………27

Figura 6……………………………………………………………………………………………28

Figura 7……………………………………………………………………………………………28

Figura 8……………………………………………………………………………………………29

Figura 9……………………………………………………………………………………………29

Figura10……………………………………………………………………………………………30

Figura 11...…………………………………………………………………………………………32

Figura 12 …………………………………………………………………………………………33

Figura 13………………………………………………………………..…………………………33

Figura 14………………………………………………………………………………………..…34

Figura 15………………………………………………………………………………………..…35

Figura 16………………………………………………………………………………………..…35

Figura 17………………………………………………………………………………………..…36

Figura 18………………………………………………………………………………………..…36

Figura 19………………………………………………………………………………………..…37

Figura 20………………………………………………………………………………………..…40

Figura 21………………………………………………………………………………………..…41

Figura 22………………………………………………………………………………………..…41

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1………………………………………………………………………………………..…9

Tabela 2……………………………………………………………………………………….…22

Tabela 3………………………………………………………………………………………….23

Tabela 4………………………………………………………………………………………….24

Tabela 5………………………………………………………………………………………….24

Tabela 6………………………………………………………………………………………….34

Tabela 7………………………………………………………………………………………… 39

Tabela 8………………………………………………………………………………………….39

Tabela 9………………………………………………………………………………………….40

ix

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

1.1. Histórico .................................................................................................................. 1

1.2. Ensino de Zoologia ................................................................................................. 4

2. PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................... 6

2.1. Relação das escolas e dos livros analisados: ........................................................ 8

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 14

3.1. O LIVRO DIDÁTICO: ............................................................................................ 14

3.1.1. PNLEM: ................................................................................................................ 15

3.2. O ENSINO DE BIOLOGIA E ZOOLOGIA: ............................................................ 17

4. O ENSINO DE ZOOLOGIA E SUAS PRINCIPAIS ABORDAGENS NOS LIVROS

DIDÁTICOS DE BIOLOGIA ............................................................................................... 22

4.1. ABORDAGEM UTILITARISTA .............................................................................. 22

4.2. ABORDAGEM EVOLUTIVA .................................................................................. 31

4.3. ABORDAGEM ECOLÓGICA ................................................................................ 38

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ................................................................................. 46

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Histórico

Para o desenvolvimento desse trabalho, é importante ressaltar o percurso histórico

do desenvolvimento das ciências biológicas enquanto objeto do conhecimento escolar, o

que segundo registros, ocorreu no período colonial.

Durante o Brasil colônia, o ensino era adequado aos preceitos jesuíticos, com o

intuito de catequizar os povos indígenas e ensinar-lhes a língua portuguesa. O ensino das

ciências estava atrelado ao que estava na Bíblia, de acordo com a ideia de um ser

humano criado por Deus para ser superior em relação a todas as criaturas, o que conferia

ao homem a permissão de utilizá-los.

Em 1570 os jesuítas já haviam construído cinco escolas de formação elementar,

estando elas localizadas em: Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, São Vicente e São

Paulo de Piratininga; e três colégios: Salvador, Rio de Janeiro e Olinda (ALVES, 2009).

Os mesmos também fundaram cursos de teologia, filosofia e ciências sagradas.

Nesse contexto, o curso de filosofia abarcava as ciências naturais como uma de suas

áreas de estudo. O ensino era gratuito, pois os colégios possuíam rendas estáveis vindo

de impostos. Os jesuítas, nessa época, estavam preocupados com o crescimento do

protestantismo na Europa, e seus métodos de ensino se baseavam na fé cristã e na moral

e não da conscientização do educando (ALVES, 2009).

O ciclo jesuítico permaneceu como estrutura de ensino durante 200 anos, até a

reforma pombalina, como defende Silva e Pereira (2011):

O ciclo jesuítico no Brasil durou em torno de duzentos anos encerrando-se em 1759 com a Reforma Pombalina, um conjunto de normas elaboradas pelo Marquês de Pombal, ministro do reino português da época, que visavam modernizar Portugal. Pombal atribuía o atraso de Portugal frente ao desenvolvimento científico e tecnológico das demais nações européias a influência educacional dos jesuítas. Com a Reforma, a Companhia de Jesus foi expulsa de Portugal e de suas colônias, o que levou à desarticulação do ensino escolar no Brasil. Tal situação começou a ser amenizada em 1800, com a fundação do Seminário de Olinda, Pernambuco pelo Bispo Azeredo Coutinho. [...] Seminário de Olinda privilegiava o ensino de uma Filosofia Natural, adotando a perspectiva de libertação da Filosofia do domínio da Teologia, incentivando os alunos a observações, experimentações e estudos acerca da natureza e dos princípios de funcionamento das máquinas, entretanto essas mudanças não se deram de forma desinteressada, ou em nome da Ciência e do progresso do conhecimento científico. A atuação desses “filósofos naturalistas” eram dirigidas por finalidades práticas servindo ao enriquecimento de Portugal (SILVA e PEREIRA, 2011, p.03).

Esta manifestação de Pombal contribuiu para a exploração de riquezas, logo, o

2

enriquecimento da metrópole. Os jesuítas voltam ao Brasil apenas em 1845 vindo da

Argentina, onde fundam colégios em Florianópolis (ALVES, 2009).

Com a chegada da família real em 1808 o ensino passou a se basear em música,

letras e um pouco de ciências naturais, junto ao Museu Nacional e o Jardim Botânico

situados no atual estado do Rio de Janeiro. Tal período é chamado de “efervescência

cultural” (AlVES, 2005), sendo que todos os recursos aplicados no Brasil colônia foram

destinados à corte portuguesa que vieram junto ao príncipe regente.

No Brasil República, ocorreu o destaque do “ideal positivista”, que defendia a ideia

de que somente a ciência poderia promover o desenvolvimento da humanidade,

objetivando introduzir novos padrões morais de cultura, com a partida idealista de levar a

cultura para as grandes massas incultas, sendo o poder civilizador da escola o

responsável pela disseminação da ciência (ALVES, 2005).

Durante o século XX, o ensino de maneira geral, sofreu muitas mudanças de

configuração. Consequentemente o ensino de biologia também apresentou modificações

com o passar das décadas.

No começo do século XX, o Brasil estava sofrendo reflexos vindos da Inglaterra, se

industrializando e aumentando centros urbanos. A educação não poderia ficar estagnada

perante este novo período. Como Romaneli (2007) defende:

Durante a década de 1930, o Brasil estava se industrializando e se urbanizando, gerando uma grande concentração populacional nas cidades. Surge então a necessidade de universalizar a educação. Se antes apenas os mais bem situados economicamente tinham acesso à escolarização, agora por uma necessidade do sistema de produção, tornava-se necessário uma flexibilização deste paradigma educacional, juntando-se a este fenômeno o fato de a população perceber a educação como uma oportunidade de se obter um posto no mercado de trabalho e uma possibilidade de ascensão social (ROMANELI, 2007, p. 04).

Em 1932, Fernando de Azevedo redigiu o “Manifesto dos Pioneiros”, sendo

considerado um marco inaugural no quesito de renovação da educação do Brasil, uma

vez que, defendia uma modalidade técnico-experimental valorizando a investigação

científica. Este documento é considerado o marco da história da educação brasileira.

Kamura e Teruya (2008) apontam que:

O Manifesto representa uma síntese e uma tentativa de avanço sobre propostas novas de educação. A preocupação primordial girava em torno da concepção de vida e do ideal que se desejava alcançar, considerando, também, a clientela de educandos (KAMURA e TERUYA, 2008, p.02).

3

Tal manifesto inovou com a proposição de um cenário promissor e revolucionário

desconhecido até então na área da educação. Este documento defendia o rompimento

com a velha estrutura educacional, deixando de lado os interesses de classe e o privilégio

da condição econômica social (KAMURA e TERUYA, 2008).

Em 1939 foi publicado o “Manifesto dos Geneticistas”, tendo como seu maior

defensor Herman Muller. Neste, a eugenia era defendida utilizando-se como

embasamento de tal ideia, a associação de caracteres genéticos. Era defendida a ideia de

uma raça superior e a esterilização em massa em países subdesenvolvidos.

No início da 2ª Guerra Mundial, Hermam Muller reuniu 22 geneticistas para

assinarem o manifesto que defendia o Eugenismo (teoria que buscava produzir uma

seleção e melhoramento racial entre humanos, baseada em leis genéticas), sendo que o

mesmo foi publicado na revista Nature da época. Além do mais, o manifesto tentava

instruir mulheres que possuíam ou não filhos a selecionar os melhores genitores, assim

como escolher ter filhos com os homens considerados “superiores” de acordo com as

características fenotípicas (NETO e MARIA, 2011).

O ideal eugênico não ficou restrito apenas ao âmbito social, mas influenciou o

campo educacional em um livro didático denominado “Biologia educacional” considerado

como referência até mesmo depois da metade do século XX.

Ainda no ano de 1939 foi publicado o livro didático “Biologia Educacional” do

professor Almeida Júnior. Sua formação era em medicina e no livro ele instruía futuras

professoras e donas de casa. O livro era coerente com o movimento de modernização da

era Vargas e seus conteúdos eram: Evolução, Genética, Fisiologia, inteligência,

caracterização racial, eugenia e eutecnia sendo esta uma teoria que defendia que o meio

condicionaria satisfatoriamente a constituição social do indivíduo. Inserido neste meio, a

abordagem evolutiva era utilizada. De acordo com Viviani e Bueno (2006), tal livro

também contribuiu com uma abordagem sanitarista, pois

[...] foi por intermédio do código de educação de 1933 que se insistiu no normal a secção de biologia aplicada à educação, abrangendo estudos sobre a fisiologia, conhecimentos médicos e higienista, bem como de elaboração eugênica (VIVIANE e BUENO, 2006, p.02).

Tal vertente higienista possuía um objetivo geral de treinamento de professoras

para auxiliar os médicos em atuações de prevenção sob as diversas enfermidades. Viviani

(2014) aponta que:

Para isso, seria necessário cuidar da “base biológica” das crianças, atuando a professora como uma auxiliar do médico na prevenção de

4

enfermidades, encaminhamento de alunos doentes, ensino de hábitos higiênicos para alunos e suas famílias, bem como o ensino de puericultura para as futuras mães e donas de casa (VIVIANI, 2014, p. 87).

O livro se manteve como sucesso de vendas de publicações pedagógicas da época

por aproximadamente 30 anos, servindo como molde para formação de professores

durante todo esse tempo, tendo como objetivo social levar a educação civilizatória para

todas as regiões do Brasil (VIVIANI 2007).

Até 1960 o livro continuou em circulação, sofrendo configurações de acordo com a

demanda atual daquela década. É significativo apontar que nesta mesma década, na

esfera do ensino superior, as Ciências Biológicas substituem a graduação em História

Natural.

Em 1968 ocorre a reforma universitária, que passou a utilizar o vestibular como

método de ingresso para o ensino superior. Tal reforma implicou diretamente no conteúdo

e abordagens presentes no ensino básico, uma vez que, a partir daquele momento,

ocorreu uma demanda de disciplinas que passariam a ser avaliadas nas provas de

vestibulares das mais diversas universidades, influenciando assim os conteúdos

necessários para a compreensão das ciências biológicas.

Assim, verifica-se que as abordagens e conteúdos vão se modificando de acordo

com a década ou demandas, demonstrando o caráter dinâmico das propostas que

normatizam os currículos e a formação dos profissionais da educação.

1.2. Ensino de Zoologia

É possível verificar que tal ensino apresenta-se, muitas vezes, bastante

fragmentado e alicerçado no modo tradicional de ensino. Tal constatação se apoia no fato

de que, na maioria dos casos, o ensino de zoologia ocorre baseando-se no estudo e

memorização das características dos animais de cada filo, classe ou ordem. Sendo

possível verificar que não só a zoologia demonstra tais características, como a maioria

das áreas de estudo da biologia contempladas na educação básica (PEREIRA, 2012).

Segundo Oliveira (2013), o ensino de zoologia na educação básica só obteve

identidade própria na segunda parte do século XX.

Apesar de antiga a Zoologia somente alcançou importância no currículo escolar na metade do século XX. Nesse período ela era um dos principais componentes curriculares no Ensino de Ciências. Contudo a partir de 1970 foi perdendo espaço iniciando um negligenciamento constante e crescente no seu ensino o que é observado até os dias de hoje (OLIVEIRA, 2013, p.

5

02).

Atualmente, nos currículos da educação básica, a zoologia se encontra em duas

etapas do ensino. Na disciplina de ciências presente no ensino fundamental, e na

disciplina de biologia no ensino médio.

No livro didático, o conteúdo de zoologia destinado ao ensino médio se apresenta,

muitas vezes, de forma linear e sem divisão entre invertebrados e vertebrados. O enfoque

presente neste livro pode ser diverso, sendo que, na maioria das vezes, o mesmo tem a

função de auxiliar tanto o professor quanto o aluno na execução de atividades

relacionadas à aprendizagem conceitual, objetivando tornar a mensagem científica mais

didática e acessível. Como defende Saviani (2007):

os livros didáticos serão o instrumento adequado para a transformação da mensagem cientifica em mensagem educativa. Nota-se, ainda, que, nesse caso, o livro didático é não somente o instrumento adequado mas insubstituível, uma vez que os demais recursos não se prestam para a transmissão de um corpo de conhecimentos sistematizados como o é aquele que constitui a ciência produto (SAVIANI, 2007, p. 136).

Verifica-se, assim, a importância de que as pesquisas acadêmicas considerem em

seus estudos a compreensão de como o ensino de conteúdos relacionados às ciências

biológicas se delineiam na educação básica, seus desafios e conquistas, objetivando que

tais conhecimentos possam se tornar significativos e compreensíveis para os educandos,

contribuindo com o processo de construção de ideias e valores.

Desse modo, propõe-se a realização dessa pesquisa, visando conhecer as

principais abordagens presentes nos livros didáticos utilizados por escolas públicas de

ensino médio na cidade de Itajubá/MG, no que concerne ao conteúdo de zoologia.

Para tanto, apresenta-se a pesquisa realizada nos próximos capítulos. O capítulo 1

apresenta o percurso metodológico selecionado para essa investigação, seus objetivos,

métodos de coleta e análise dos dados, bem como uma breve caracterização das escolas

e dos livros didáticos analisados. Já o capítulo 2 apresenta a fundamentação teórica que

embasou o desenvolvimento dessa pesquisa. No terceiro capítulo procede-se à

apresentação e análise dos dados obtidos a partir dos livros didáticos e suas abordagens

suscitadas nesse processo. Por fim, as considerações finais e as referências

bibliográficas são apresentadas.

6

2. PERCURSO METODOLÓGICO

Diante desse quadro e considerando a importância do ensino de zoologia na

educação básica, questiona-se: Quais abordagens relacionadas ao ensino de zoologia

podem estar presentes nos livros didáticos? Qual a relação entre tais abordagens

relacionadas ao ensino de zoologia presentes nos livros didáticos e os valores atribuídos

aos animais por alunos do ensino médio?

Em busca da resposta de tais questões apresentadas, os objetivos da presente

investigação foram: analisar as principais abordagens relacionadas à área da zoologia e

sua relação com o ensino de zoologia nas escolas de ensino médio regular da cidade de

Itajubá/MG e verificar qual abordagem está mais presente nos livros e sua relação com a

compreensão da importância e função dos estudos da zoologia no ensino médio.

Para tanto, verificou-se qual abordagem está mais presente nos livros e sua

relação com a compreensão da importância e função dos estudos da zoologia no ensino

médio, já que a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica), Lei nº 9394/96

sessão IV artigo 35º parágrafo III cita que uma das finalidades do ensino médio é a

formação ética do cidadão, ou seja, contribuir para uma formação crítica do aluno, pois

durante sua formação, o aluno terá contato com os mais diversos métodos de ensino e

abordagens, sendo todo esse percurso de ensino-aprendizagem influenciado pelas

mesmas. Desse modo, verifica-se a importância de tal percurso formativo, uma vez que o

aluno constituirá, com a contribuição da educação escolar, seus valores e sua visão de

mundo sobre aquilo que o cerca.

A apreensão de conceitos e valores inadequados relacionados aos animais pode

acarretar dificuldades na compreensão das relações de interdependência e

desenvolvimento da vida no planeta Terra. O conteúdo de zoologia representa uma

formação indispensável ao aluno quando verificamos que a própria ideia de valorizar

apenas os animais que são “úteis” aos seres humanos pode ser disseminada por

abordagens inadequadas nesse conteúdo. O contrário se mostra significativo, pois

abordagens que apresentam ideias e valores que conduzem o aluno a compreensões que

valorizam conceitos evolutivos e ecológicos podem ser cruciais nesse processo.

Sendo assim, as abordagens presentes nos livros didáticos mostram-se

importantes para o processo de ensino-aprendizagem que o aluno vivenciará, além das

influências de tais abordagens na constituição de valores relacionados aos animais e até

mesmo em relação à natureza (BONOTTO, 2008).

7

Pode-se apontar, assim, que o ensino de zoologia necessita ser bem embasado e

analisado quanto ao seu conteúdo e formas de abordagens no ensino básico, já que

possui uma função fundamental na formação de conceitos e valores relacionados aos

animais.

Para tanto, foi proposto o desenvolvimento da presente pesquisa, que pode ser

compreendida como uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico. Segundo Severino

(2007), a pesquisa bibliográfica:

é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados (SEVERINO, 2007, p.123).

Assim, trata-se de uma análise documental e bibliográfica, cujo objetivo é a análise

de livros didáticos utilizados em escolas públicas de ensino médio da cidade de

Itajubá/MG no que se refere ao conteúdo de zoologia.

Quanto aos procedimentos metodológicos, foi estabelecido um contato com as

escolas que possuem ensino médio regular da rede pública de ensino da cidade de

Itajubá/MG e depois da indicação do livro de Biologia, no qual se encontrava o conteúdo

de zoologia (normalmente no 2º ano do ensino médio), e recolhido um exemplar do livro

didático para que o processo analítico fosse realizado. Não consta na pesquisa livros

didáticos destinados à educação de jovens e adultos (EJA).

O conteúdo de zoologia passou por uma leitura do tipo exploratória e reflexiva

acerca das abordagens utilizadas no livro, com a finalidade de discriminá-las e

problematizá-las. A partir dessa leitura foi delimitado o corpus documental.

De posse do corpus documental, iniciou-se o processo de análise dos dados. A

técnica selecionada para tal análise foi “Análise de Conteúdo” (BARIN, 1991) que pode

ser compreendida por técnicas sistêmicas que descrevem as mensagens e atitudes

atreladas ao contexto (CAVALCANTI et al., 2014).

Após a fase de definição do corpus documental, realizou-se a análise dos dados

segundo a proposta de Bardin (1991), que consiste em três fases: a pré-análise, a

exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação

(p.95).

A primeira etapa compreende a fase da leitura intensa do material, onde seu

contato inicial se chama “leitura flutuante”. Podendo haver formulação ou reformulação de

hipóteses relacionadas ao tema (CAVALCANTI et al., 2014).

8

Segundo Bardin (1991), a pré-análise:

[...] é a fase de organização propriamente dita. Corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise. [...] Geralmente, esta primeira fase possui três dimensões: a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final (BARDIN, 1991, p.95).

A exploração do material é a fase de análise onde ocorre “a administração

sistemática das decisões tomadas” (BARDIN, 1991, p.101), seguida do tratamento dos

resultados obtidos e interpretação que colocarão “em relevo as informações fornecidas

pela análise” (p.101).

O recorte utilizado se baseou em três abordagens presentes no ensino de

biologia/zoologia. Sendo elas: ECOLÓGICA, UTILITARISTA E EVOLUTIVA.

Neste momento procuraram-se frases, gravuras ou expressões que remetem ao

recorte utilizado para a pesquisa. Como Cavalcanti et al (2014) defende:

Durante a etapa da exploração do material, o investigador busca encontrar categorias que são expressões ou palavras significativas em função das quais o conteúdo de uma fala será organizado (CAVALCANTI et al., 2014,p.16)

Nesta etapa há a codificação dos dados adquiridos na pré-análise (SANTOS,

2012). Onde na presente pesquisa caracterizou-se com a configuração de tabelas e

organização dos excertos e imagens retiradas dos livros. A transcrição de cópia fiel foi

utilizada como método mais seguro para originalidade dos dados recolhidos. As

ilustrações foram escaneadas.

Na fase seguinte, prosseguiu-se à Interpretação dos dados, fase na qual ocorre o

embasamento do referencial teórico articulado aos dados reunidos (SANTOS, 2012),

objetivando-se a compreensão e alcance dos objetivos delineados pela proposta de

investigação.

2.1 Relação das escolas e dos livros analisados:

Após a coleta dos livros didáticos nas escolas estaduais que possuem ensino

médio regular na cidade de Itajubá/MG, constatou-se que existem atualmente 4 obras de

livros didáticos adotados em utilização. Como demonstra a tabela 1:

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Tabela 1: Relação dos livros didáticos adotados e o número de escolas utilizando os mesmos

Livro Título Autor(es) Editora Ano Nº de escolas

utilizando a obra

1 Biologia Hoje Sérgio Linhares e

Fernando

Gewandsznajder

Ática 2013 3

2 Conexões com

a Biologia

Rita Helena

Brockelmann

Moderna 2013 1

3 Biologia 2 César & Sezar

Caldini

Saraiva 2014 2

4 Biologia Vivian L.

Mendonça

AJS 2013 2

Fonte: o autor.

Nesse processo, considera-se importante que as escolas investigadas sejam

conhecidas, já que tal entendimento pode auxiliar no processo de análise dos livros

utilizados. O livro 1 foi adotado por 3 escolas:

Escola 1) Escola periférica, possui 10 salas de aula, com o ensino médio no turno

de manhã e o ensino fundamental no turno da tarde. Aproximadamente 180 alunos

no turno da manhã divididos em 2 turmas de primeiro ano, 2 turmas de segundo

ano e 2 turmas de terceiro ano. Possui 57 funcionários entre faxineiros, secretários,

merendeiras e professores entre os dois turnos. Quanto à infraestrutura: Sala de

diretoria; Sala de professores; Laboratório de informática; Sala de recursos

multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE); Quadra de

esportes descoberta; Alimentação escolar para os alunos; Cozinha; Biblioteca;

Banheiro fora do prédio; Banheiro dentro do prédio; Banheiro adequado à alunos

com deficiência ou mobilidade reduzida; Dependências e vias adequadas a alunos

com deficiência ou mobilidade reduzida; Sala de secretaria; Banheiro com

chuveiro; Despensa; Auditório; Pátio descoberto; Área verde; Computadores

administrativos; Computadores para alunos; TV; Copiadora; Equipamento de som;

Impressora; DVD; Água filtrada; Água da rede pública; Energia da rede pública;

Esgoto da rede pública; Lixo destinado à coleta periódica; Acesso à Internet.

10

Escola 2) Escola central, possui 10 salas de aula, com o ensino médio e infantil no

turno da manhã e o ensino fundamental no turno da tarde. Aproximadamente 190

alunos no turno da manhã divididos em 2 turmas de primeiro ano, 2 turmas de

segundo ano e 2 turmas de terceiro ano e ensino infantil. Possuindo cerca de 50

funcionários entre faxineiros, secretários, merendeiras e professores entre os dois

turnos. Sendo dados de sua infraestrutura: Sala de diretoria; Sala de professores;

Laboratório de informática; Quadra de esportes descoberta; Alimentação escolar

para os alunos; Cozinha; Biblioteca; Banheiro fora do prédio; Banheiro adequado à

alunos com deficiência ou mobilidade reduzida; Sala de secretaria; Refeitório;

Computadores administrativos; Computadores para alunos; TV; Copiadora;

Equipamento de som; Impressora; Água filtrada; Água da rede pública; Energia da

rede pública; Esgoto da rede pública; Lixo destinado à coleta periódica; Acesso à

Internet.

Escola 3) Escola central, possui 16 salas de aula, com o ensino médio no turno da

manhã e o ensino fundamental no turno da tarde. Aproximadamente 230 alunos no

turno da manhã divididos em 3 turmas de primeiro ano, 2 turmas de segundo ano e

2 turmas de terceiro ano. Possuindo 56 funcionários entre faxineiros, secretários,

merendeiras e professores entre os dois turnos. Sendo dados de sua infraestrutura:

Sala de diretoria; Sala de professores; Laboratório de informática; Quadra de

esportes descoberta; Alimentação escolar para os alunos; Cozinha; Biblioteca;

Banheiro dentro do prédio; Sala de secretaria; Banheiro com chuveiro; Refeitório;

Auditório; Área verde; DVD; Antena parabólica; Copiadora; Retroprojetor;

Impressora; Fax; Câmera fotográfica/filmadora; Água filtrada; Água da rede pública;

Energia da rede pública; Esgoto da rede pública; Lixo destinado à coleta periódica;

Acesso à Internet.

Já o livro 2 foi adotado por uma escola de Itajubá:

Escola 4) Escola central, possuindo 14 salas de aula, com o ensino médio no turno

da manhã, ensino fundamental no turno da tarde e educação de jovens e adultos

(EJA) junto com pré vestibular no turno da noite. Aproximadamente 190 alunos no

turno da manhã divididos em 3 turmas de primeiro ano, duas turmas de segundo

ano e uma turma de terceiro ano. Possui aproximadamente 67 funcionários entre

11

faxineiros, secretários, merendeiras e professores entre os três turnos. Sendo seus

dados de sua infraestrutura: Sala de diretoria; Sala de professores; Laboratório de

informática; Laboratório de ciências; Alimentação escolar para os alunos; Cozinha;

Biblioteca; Banheiro dentro do prédio; Banheiro adequado à alunos com deficiência

ou mobilidade reduzida; Dependências e vias adequadas a alunos com deficiência

ou mobilidade reduzida; Sala de secretaria; Banheiro com chuveiro; Refeitório;

Despensa; Auditório; Pátio coberto; Pátio descoberto; Computadores

administrativos; Computadores para alunos; TV; Copiadora; Equipamento de som;

Impressora; Equipamentos de multimídia; Água filtrada; Água da rede pública;

Energia da rede pública; Esgoto da rede pública; Acesso à Internet.

O livro 3 foi adotado por 2 escolas:

Escola 5) Escola central, possuindo 16 salas de aula. Com o ensino médio no turno

da manhã e fundamental no turno da tarde. Aproximadamente 200 alunos no turno

da manhã, divididos em 4 turmas de primeiro ano, 3 de segundo ano e 2 de

terceiro ano. Possuindo cerca de 105 funcionários entre faxineiros, secretários,

merendeiras e professores entre os dois turnos. Sendo dados de sua infraestrutura:

Sala de diretoria; Sala de professores; Laboratório de informática; Quadra de

esportes coberta; Alimentação escolar para os alunos; Cozinha; Biblioteca;

Computadores administrativos; Computadores para alunos; TV; Copiadora;

Equipamento de som; Impressora; Equipamentos de multimídia; Água filtrada;

Água da rede pública; Energia da rede pública; Esgoto da rede pública; Lixo

destinado à coleta periódica; Acesso à Internet.

Escola 6) Escola central, possuindo 23 salas de aula. Com o ensino médio no turno

da manhã e fundamental no turno da tarde. Aproximadamente 250 alunos no turno

da manhã, divididos em 3 turmas de primeiro ano, 3 de segundo ano e 2 de

terceiro ano. Possuindo cerca de 130 funcionários entre faxineiros, secretários,

merendeiras e professores entre os dois turnos. Sendo dados de sua infraestrutura:

Sala de diretoria; Sala de professores; Laboratório de informática; Sala de recursos

multifuncionais para Atendimento Educacional Especializado (AEE); Quadra de

esportes coberta; Alimentação escolar para os alunos; Cozinha; Biblioteca;

Computadores administrativos; Computadores para alunos; TV; Copiadora;

Equipamento de som; Impressora; Equipamentos de multimídia; Água filtrada;

12

Água da rede pública; Energia da rede pública; Esgoto da rede pública; Lixo

destinado à coleta periódica; Acesso à Internet.

Por fim, o livro 4 foi adotado por 2 escolas:

Escola 7) Escola periférica, possui 11 salas de aula, com o ensino médio no turno

de manhã e o ensino fundamental no turno da tarde e programa EJA no turno da

noite. Aproximadamente 170 alunos no turno da manhã divididos em 2 turmas de

primeiro ano, 2 turmas de segundo ano e 2 turmas de terceiro ano. Possuindo

cerca de 55 funcionários entre faxineiros, secretários, merendeiras e professores

entre os dois turnos. Sendo dados de sua infraestrutura: Sala de diretoria; Sala de

professores; Laboratório de informática; Sala de recursos multifuncionais para

Atendimento Educacional Especializado (AEE); Quadra de esportes descoberta;

Alimentação escolar para os alunos; Cozinha; Biblioteca; Banheiro fora do prédio;

Banheiro dentro do prédio; Banheiro adequado à alunos com deficiência ou

mobilidade reduzida; Dependências e vias adequadas a alunos com deficiência ou

mobilidade reduzida; Sala de secretaria; Banheiro com chuveiro; Despensa;

Auditório; Pátio descoberto; Área verde; Computadores administrativos;

Computadores para alunos; TV; Copiadora; Equipamento de som; Impressora;

DVD; Água filtrada; Água da rede pública; Energia da rede pública; Esgoto da rede

pública; Lixo destinado à coleta periódica; Acesso à Internet.

Escola 8) Escola periférica, possui 12 salas de aula, com o ensino médio no turno

de manhã e o ensino fundamental no turno da tarde . Aproximadamente 220 alunos

no turno da manhã divididos em 3 turmas de primeiro ano, 2 turmas de segundo

ano e 2 turmas de terceiro ano. Possuindo 66 funcionários entre faxineiros,

secretários, merendeiras e professores entre os dois turnos. Sendo dados de sua

infraestrutura: Sala de diretoria; Sala de professores; Laboratório de informática;

Quadra de esportes descoberta; Fax; Alimentação escolar para os alunos; Cozinha;

Biblioteca; Banheiro fora do prédio; Banheiro dentro do prédio; Banheiro adequado

à alunos com deficiência ou mobilidade reduzida; Dependências e vias adequadas

a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida; Sala de secretaria; Banheiro com

chuveiro; Despensa; Auditório; Pátio descoberto; Área verde; Computadores

administrativos; Computadores para alunos; TV; Copiadora; Equipamento de som;

13

Impressora; DVD; Água filtrada; Água da rede pública; Energia da rede pública;

Esgoto da rede pública; Lixo destinado à coleta periódica; Acesso à Internet.

Depois de conhecer alguns dados das escolas de ensino médio da cidade de

Itajubá/MG, é importante assinar que, em alguns casos, a mesma obra está sendo

utilizada por mais de uma escola. Isso deve, dentre outros fatores, ao processo de

escolha dos livros pelos professores, o que pode coincidir em alguns casos.

Por fim, para a realização da presente pesquisa, é importante considerar que o

ensino de zoologia vem sendo, em alguma medida, objeto de estudos de pesquisadores

que buscam a compreender sua relação com a educação de forma mais abrangente.

Desse modo, torna-se fundamental conhecer e analisar o escopo teórico que embasa

essa pesquisa, para que seja possível, na sequência, compreender os dados obtidos a

partir dessa investigação.

14

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1) O LIVRO DIDÁTICO:

Na atualidade, a educação escolar formal contempla o ensino de biologia nos três

anos do ensino médio, sendo que tal formato de educação se baseia, normalmente, no

conteúdo presente em livros didáticos. Tal material está presente em diversas gerações,

fazendo parte da cultura e da memória visual e possui como função principal mediar os

processos de ensino-aprendizagem (FREITAS e RODRIGUES, 2008).

Ainda de acordo com Freitas e Rodrigues (2008), o livro didático deve ser estudado

por sua atuação em várias gerações e por ter a capacidade de influenciar o processo de

ensino-aprendizagem na educação básica.

A preocupação em pesquisá-lo leva em conta o fato de que o material didático tem uma importância grande na formação do aluno pelo mero fato de ser, muitas vezes, o único livro com o qual a criança entrará em contato. (FREITAS e RODRIGUES, 2008, p. 01).

Sua origem é datada do século XV na Europa, onde eram produzidos pelos

próprios estudantes e eram extremamente raros. No Brasil em 1938 o Decreto nº 1.006

de 30/12/1938 criou a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD) e a política de

legislação do livro didático. Porém tal comissão possuía mais cunho político-ideológico do

que didático (FREITAG et al., 1989).

Atualmente, afirma FREITAS (2004), o Programa Nacional do Livro Didático

(PNLD) substituiu o antigo PLIDEF (Programa do Livro Didático para o Ensino

Fundamental) em 1985, e nestas condições houve alterações significativas nos seguintes

pontos: a) garantia do critério de escolha do livro pelos professores; b) reutilização do livro

por outros alunos em anos posteriores, tendo como consequência a eliminação do livro

descartável; c) aperfeiçoamento das especificações técnicas para sua produção, visando

maior durabilidade e possibilitando a implantação de bancos de livros didáticos; d)

extensão da oferta aos alunos de todas as séries do ensino fundamental das escolas

públicas e comunitárias e e) aquisição com recursos do governo federal, com o fim da

participação financeira dos estados, com distribuição gratuita às escolas públicas.

Segundo Frison et al. (2009), esse recurso didático pode ser definido fisicamente,

como um livro com gravuras impressas e com uma finalidade didática. Porém, assume

importâncias diferenciadas de acordo com a condição, lugar e situação o qual é

15

empregado no ambiente escolar.

Além de ser carregado de conteúdo altamente didático, possui linguagem acessível

para os estudantes, de acordo com o ano de escolarização. O livro didático possui

também uma função cultural em sua essência politizada. Como defende FRISON et al.,

Embora professores e estudantes salientem que o livro didático contribui para a aprendizagem dos conteúdos percebe-se que ele não se restringe apenas aos seus aspectos pedagógicos e as suas possíveis influências na aprendizagem e no desempenho dos estudantes. Ele é importante por seu aspecto político e cultural, na medida em que produz valores da sociedade em relação a sua visão de ciência, da historia, da interpretação dos fatos e do próprio processo de transmissão do conhecimento (FRISON p. 05).

O livro didático auxilia também na construção da visão que o aluno terá acerca do

mundo exterior, o que se torna fundamental para o ensino de zoologia, pois o contato com

animais não humanos se dá em toda parte no cotidiano, sendo necessário, assim, que o

livro didático estimule uma relação saudável entre o observador e o outro a ser observado

e conhecido. Como analisam Santos e Carneiro,

o livro didático assume essencialmente três grandes funções: de informação, de estruturação e organização da aprendizagem e, finalmente, a função de guia do aluno no processo de apreensão do mundo exterior. Deste modo, a última função depende de o livro permitir que aconteça uma interação da experiência do aluno e atividades que instiguem o estudante desenvolver seu próprio conhecimento, ou ao contrário, induzi-lo á repetições ou imitações do real. Entretanto o professor deve estar preparado para fazer uma análise crítica e julgar os méritos do livro que utiliza ou pretende utilizar, assim como para introduzir as devidas correções e/ou adaptações que achar conveniente e necessárias (SANTOS e CARNEIRO 2006, p. 206).

Desse modo, verifica-se que o livro didático representa um elemento fundamental

no processo de ensino e aprendizagem. Quando analisarmos o seu papel no ensino de

conceitos relacionados ao ensino de ciências e biologia, esse papel se torna ainda mais

importante, já que tal ensino ocorre a partir de terminologias e o trabalho com imagens

representa um recurso essencial na ilustração e compreensão dos organismos vivos e

suas relações.

3.1.1) PNLEM:

O Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio é o mecanismo de

escolha das obras dos autores de livros didáticos. Implantado em 2004, está vigente até

os dias atuais.

16

Um catálogo com três exemplares diferentes para a escolha do livro pelos

professores é enviado às escolas, na forma impressa. Após análise e discussões entre os

pares, os professores das escolas indicam as obras que escolheram em um programa na

internet. Segundo Rodrigues et al (2011), o PNLEM possui outras funções.

Segundo o Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio – PNLEM, o livro destinado ao Ensino Médio tem múltiplos papéis, entre os quais se destacam: (i) favorecer a ampliação dos conhecimentos adquiridos ao longo do Ensino Fundamental; (ii) oferecer informações capazes de contribuir para a inserção dos alunos no mercado de trabalho, o que implica a capacidade de buscar novos conhecimentos de forma autônoma e reflexiva e (iii) oferecer informações atualizadas, de forma a apoiar a formação continuada dos professores. Por essas razões, a escolha do livro deve ser criteriosa e afinada com as características da escola, dos alunos e com o contexto educacional em que estão inseridos (RODRIGUES et al., 2011, p. 70 ).

A duração viável do livro é de três anos, e nem sempre o livro escolhido pelo

professorado é o que efetivamente será enviado á escola. Lembrando que o professor, ao

escolher o livro, utiliza conceitos próprios relacionados à sua formação para tomar sua

decisão. Tal quadro confirma que o processo formativo a que o professor tem acesso é

fundamental para que ele possa fazer uma escolha consciente do material didático que

será utilizado em suas aulas.

Segundo Verceze e Silvino (2008), a seleção dos livros didáticos constitui uma

tarefa de grande valor para os processos de ensino e aprendizagem na escola e, por isso,

deve-se considerar a seriedade dos critérios para a seleção dos mesmos, principalmente

para garantir ao professor sua efetiva participação na escolha e avaliação dos livros

didáticos.

A participação dos professores é de extrema importância, pois eles devem saber das qualidades e limitações dos livros didáticos, para que possam repensar as práticas pedagógicas, conscientes de que o livro ainda apresenta conteúdos linguísticos e textos de apoio que apontam para realidades específicas e para problemáticas locais (VERCEZE e SILVINO, 2008, p.90).

Também é fundamental que o professor repense o papel do livro didático no

processo de ensino e aprendizagem. O ideal é que o professor considere o livro didático

como mais uma ferramenta entre tantas outras capazes de lhes propiciar condições de

ensinar um conteúdo de qualidade.

Assim, verifica-se que tanto a formação quanto a atuação do professor representa

fator de impacto no processo de ensino e aprendizado a ser conduzido em sala de aula,

17

nas mais diversas áreas do conhecimento, de forma tão importante quanto as outras, é

fundamental considerar tal processo no ensino de biologia.

3.2) O ENSINO DE BIOLOGIA E ZOOLOGIA:

No ensino médio, o ensino de biologia tem a função de identificar e contextualizar a

diversidade de organismos presentes e suas interações entre si e com o meio ambiente.

Um dos desafios a serem enfrentados no ensino de biologia é construir no aluno o

senso crítico para que o mesmo esteja preparado para entender e questionar conceitos

contemporâneos nos quais a biologia está presente, como por exemplo, assuntos de

interesse social que envolvem conceitos científicos e tecnológicos, como manipulação

genética, clonagem, terapias gênicas, extinção de espécies, problemas ambientais,

drogas, dentre outros. Porém, segundo alguns estudos, o ensino pode se tornar

distanciado do cotidiano da população (BRASIL, 2006).

Quando se analisa tal demanda, especificamente relacionada ao ensino de

zoologia, verificamos que a compreensão crítica também se mostra fundamental, uma vez

que, a partir de conceitos e valores trabalhados em zoologia os alunos podem

desenvolver uma percepção menos utilitarista e menos antropocêntrica em relação aos

demais animais e à natureza.

Essa perspectiva mostra-se de fundamental importância, sobretudo em tempos nos

quais vivenciamos graves problemas ambientais que demonstram uma crise na relação

que o ser humano (em sociedade) vem construindo historicamente com a natureza. Essa

relação, segundo muitos estudiosos, se apresenta fundamentada em valores

antropocêntricos e utilitaristas, que consideram o ser humano o ser mais importante e

proprietário dos demais seres e do planeta. As consequências desse processo são

destrutivas, cabendo à escola contribuir com a revisão de tais valores e o ensino de

zoologia pode auxiliar nesse sentido, pois existe a possibilidade de trabalhar de forma

menos utilitarista os conceitos e valores relacionados aos demais animais, abordando

inclusive a dimensão natural constituinte dos seres humanos.

Dentro da grande área da biologia, a zoologia está presente como conteúdo do

ensino médio e como disciplina contempla o estudo dos organismos do reino animal (POR

& POR 1985). Sua função é o estudo dos organismos de acordo com o seu parentesco

entre os demais e sua evolução. Como defende Oliveira (2013).

18

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) a história dos seres vivos deve ser abordada com o intuito de permitir aos estudantes o entendimento das relações de parentesco entre os organismos e que estes, por sua vez, são produto de um longo processo de evolução. Este enfoque pedagógico torna o Ensino de Zoologia mais dinâmico e interessante (OLIVEIRA, 2013 p. 02).

A zoologia, em sua essência didática, se baseia na classificação dos animais. Se

fundamentando em análises morfológicas, Coutinho et al. (2013) assume que:

Por tradição, grande parte dos currículos brasileiros encontra-se presa a esquemas de classificação biológica baseados em categorias que se fundamentam nas semelhanças morfológicas entre as espécies. Os seres vivos são apresentados a partir de agrupamentos da Sistemática (reinos, filos ou divisões, classes, gêneros etc.), enfatizando-se a descrição de sua morfologia e fisiologia (COUTINHO et al., 2013, p. 01).

Verifica-se assim, que o modo como o ensino de zoologia se desenvolve precisa

ser objeto de análises e questionamentos. Uma das formas de se realizar tal análise é a

compreensão dos modos pelos quais as abordagens utilizadas pelos livros didáticos na

educação básica se configuram.

As abordagens presentes no ensino de biologia/zoologia no ensino básico são as

mais diversas. Elas podem ser caracterizadas como um sistema de premissas teóricas

que representam a forma com que se abordam as questões presentes no currículo, se

caracterizando tanto nas práticas pedagógicas quanto nas interações entre o professor,

aluno e seu objeto de estudo (PERES, et al., 2014).

São várias as formas como o conteúdo de zoologia pode ser abordado nos livros

didáticos utilizados no ensino básico. Dentre elas, destacam-se três: a EVOLUCIONISTA,

a ECOLÓGICA e a UTILITARISTA.

A abordagem evolucionista defende que ao longo dos anos, os organismos foram

sofrendo mutações e se adaptando às condições ambientais regidas pela seleção natural.

Esta abordagem utiliza a sistemática filogenética como ferramenta de ensino, sendo que

esta se caracteriza por um método de pesquisar o parentesco evolutivo entre os

organismos (OLIVEIRA, 2013). Tal abordagem contribui para o estudo da diversidade de

organismos e linhagens que participaram e participam no ciclo de vida do nosso planeta. A

evolução biológica é a chave para o entendimento desta diversificação dos seres vivos

(COUTINHO e SANTOS 2013).

Com a sistemática sendo a peça principal na abordagem evolucionista, os animais

são vistos de forma equitativa quanto ao grau de importância, já que em algum momento

todos descendem de um ancestral comum. E, seguindo esta linha de raciocínio, Oliveira

19

(2013) especula que, a sistemática ajuda no entendimento da biodiversidade dos animais

e suas características compartilhadas. Além de ser uma chave importante para conectar a

história dos organismos com sua diversidade (COUTINHO e SANTOS, 2013).

A dificuldade de tal abordagem é que os livros didáticos de Biologia do ensino

médio apresentam os grupos de animais em capítulos distintos com suas características

específicas negligenciando os aspectos evolutivos dos grupos (AMORIM, 1999). Além

disso, é importante considerar ainda os possíveis conceitos criacionistas relacionados a

esse processo e o peso da qualidade da formação do professor que trabalhará com tais

conceitos. Complementa Oliveira (2013):

No cenário atual da escola brasileira, citam-se alguns problemas relacionados ao professor que interferem na qualidade do Ensino de Zoologia entre eles: a prevalência de ideias criacionistas e concepções religiosas que se misturam com os conhecimentos científicos; a formação inicial deficitária do professorado que não fornece suporte adequado para trabalhar o assunto; o desinteresse na socialização de conhecimentos científicos e na ausência de utilização de recursos didáticos (OLIVEIRA, 2013 p. 02).

Outra abordagem utilizada no ensino de zoologia é a abordagem ecológica. Tal

abordagem se baseia na interação entre os indivíduos, da mesma espécie ou não.

Manzanal e Jimenez (1995) afirmam que o valor ecológico se dá por se basear em

elementos básicos para o entendimento do ser humano e sua relação com o meio.

Nesse sentido, Motokane e Trivelato (1999) apresentam diferentes abordagens

ecológicas, de acordo com o quadro abaixo:

Figura 1: Diferentes abordagens ecológicas MOTOKANE, T.M.; TRIVELATO, S.L.F apud MANZOCHI (1994)

Fonte: MOTOKANE e TRIVELATO (1999).

A abordagem ecológica apresenta consequências quando utilizada. Motokane e

Trivelato (1999) citam que a mesma pode criar um vínculo afetivo com os demais seres

vivos, tornando a base para o respeito com os demais organismos. Além do entendimento

20

dos fenômenos naturais e seus mecanismos. Ademais, a abordagem ecológica influencia

no entendimento do que há ao redor, na forma de conscientização.

O segundo aspecto, levantado por Lacreu, é que quando se tem uma abordagem ecológica no ensino de ciências naturais é possível aparecer em maior ou menor grau de explicitação um alerta diante dos produtos da tecnologia que contribuem para contaminar e deteriorar o ambiente. Em particular costuma-se fazer referência a problemáticas como a chuva ácida ou o buraco na camada de ozônio (MOTOKANE e TRIVELATO, 1999 p. 04).

Ceccatto e Santana (2003) também apontam a existência de uma reciprocidade

dentro desta abordagem, já que entre o ambiente físico e os seres vivos há uma interação

que pode alterar as questões ambientais. E sobre as questões ambientais, Avila e Lingnau

(2015) argumentam o quanto o ensino de biologia é importante, pois quando o homem é

desvinculado deste eixo, apenas existirá o conhecimento superficial sobre a problemática.

Quando o ensino de Biologia acontece tendo como base de entendimento da problemática ambiental apenas os males que vem sendo causados à natureza ao longo do processo civilizatório, desvinculando o homem do meio natural, colocando-o em um patamar de superioridade em relação aos seus semelhantes e aos demais elementos naturais, tem-se a formação de um conceito superficial sobre essa temática (AVILA e LINGNAU, 2015, p. 145).

A terceira abordagem é a utilitarista, presente no ensino de biologia/zoologia, e se

diferencia por destacar a “utilidade” que os demais animais possuem para os seres

humanos. O ideal utilitarista é antigo, e se caracteriza pela desvalorização dos demais

animais, relegando-os a coisas, “res extensa”, como defendia René Descartes (1596-

1650) (RANZERA et al., 2007). E até nos dias de hoje, o utilitarismo é uma tendência

implícita. O ensino de Zoologia ainda se encontra baseado em pressupostos antigos:

influenciado por uma visão antropocêntrica e utilitarista e pela supervalorização do uso de

classificações (AMORIM, 2002).

A problemática de tal abordagem é a segregação do ser humano em relação aos

demais animais, como se o mesmo não fizesse parte de um complexo mecanismo global

e natural.

Outro ponto importante a ser levantado nessa Zoologia bancária é a forte relação utilitarista e antropocêntrica que reforça uma dicotomização do homem enquanto animal, pois dificilmente existe interesse, dá tempo ou aborda-se, durante as aulas o Ser humano, presente dentro do contexto zoológico de forma equivalente aos demais organismos viventes na atualidade. Assim, implanta-se no aluno, uma visão hostil, estranha e

21

perigosa da natureza, a qual ele não faz parte, precisando ser controlada enquanto propriedade da humanidade (ROCHA et al., 2013, p.184).

Desse modo, a compreensão acerca de conceitos relacionados ao ensino de

zoologia pode variar de acordo com a abordagem utilizada, reforçando o argumento

acerca da importância de que tais abordagens sejam estudadas e analisadas objetivando

revisões e o aperfeiçoamento do ensino de zoologia na escola de ensino básico.

22

4. O ENSINO DE ZOOLOGIA E SUAS PRINCIPAIS ABORDAGENS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE BIOLOGIA

Após a análise bibliográfica dos livros didáticos, pôde-se verificar que todos eles

apresentam as três abordagens destacadas nesta pesquisa. A diferença entre eles é a

quantidade com que cada abordagem está presente nas obras. Como podemos destacar

na Tabela 2.

Tabela 2: Relação entre os livros analisados com a quantidade em que a abordagem está presente

Livro Abordagem

Utilitarista

Abordagem

Evolutiva

Abordagem

Ecológica

Livro 1 + - +

Livro 2 + + -

Livro 3 + - +

Livro 4 + + -

Fonte: O autor

A partir desse ponto, as análises dos livros são apresentadas, tomando por base

cada uma das abordagens: utilitarista, ecológica e evolutiva.

4.1) ABORDAGEM UTILITARISTA

A abordagem utilitarista esteve presente de forma expressiva na maioria dos livros.

Podemos observar, em todos os excertos transcritos e figuras escaneadas a seguir, uma

visão econômica ou alimentícia relacionada aos animais, associando-se assim a uma

abordagem utilitarista.

Tal abordagem presente no livro didático pode transmitir a mensagem de que os

animais estão aqui para alguma serventia aos seres humanos. Santos e Bonotto (2012)

defendem que plantas e animais não humanos, em muitos casos, são apenas valorizados

por sua adequação às necessidades humanas.

Essa visão dos animais como alimentos, meios de transporte, fins terapêuticos, ou

seja, com utilidade ao ser humano deve ser evitada (OLIVEIRA e SOUZA 2014), pois

23

pode conduzir os estudantes a construírem processos de interação com os animais

apenas por aquilo que os mesmos podem representar enquanto utilidade.

Outro ponto que se relaciona à abordagem utilitarista presente nos livros se refere

à visão prejudicial advinda do contato com determinados animais. Podemos observar tal

perspectiva no excerto (G) onde se é atribuída uma reputação negativa aos insetos

(tab.4).

Outra perspectiva decorrente da abordagem utilitarista é a dicotomização do

homem em relação aos demais animais, que tem conexão com a ideia de cisão,

separação do ser humano em relação aos demais animais, colocando-o em um patamar

acima, como um ser superior dentre outros seres inferiores. Nesse modo de compreender

e como consequência dele, tudo há de ser útil e adequado para os seres humanos. Caso

contrário, o animal é apresentado como inútil ou nocivo.

Tal abordagem pode ser observada nos excertos A, B, C, relativos ao Livro 1

(Tabela 3).

Tabela 3: Excertos transcritos do livro 1.

Abordagem Utilitarista: Livro 1

A- “As esponjas produzem substâncias tóxicas como forma de defesa contra predadores. A partir desses produtos, têm sido obtidos vários medicamentos” (p. 126).

B- “As pérolas cultivadas são produzidas inserindo-se, artificialmente, em ostras produtoras de pérolas entre o manto e a concha” (p. 151).

C- “A carne do peixe é rica em proteínas: um filé de 100g contém cerca de 20g de proteínas; 100 g de peixe equivalem ao valor proteico de uma coxa de galinha ou três ovos” (p.185).

Fonte: Sérgio Linhares e Fernando Gewandsznader.

Já os excertos D, E, F e G referem-se à abordagem utilitarista presente no Livro 2

(Tabela 4).

Tabela 4: Excertos transcritos do livro 2.

24

Abordagem Utilitarista: Livro 2

D- “Os moluscos são utilizados na alimentação em diversas partes do mundo. Grande parte do que conhecido popularmente como frutos do mar é molusco, como lulas, polvos, vieiras, ostras e mariscos. Esses invertebrados são importantes fontes de renda e de nutrientes para populações ribeirinhas e caiçaras. O sururu, por exemplo, é um marisco muito consumido no nordeste brasileiro, e o mexilhão é encontrado em toda costa do país. O escargot é um prato francês que também leva moluscos. Seu ingrediente principal são gastrópodes do gênero Helix Outra importância econômica dos moluscos está relacionado ao fato de serem produtores de pérolas, muito apreciadas para a confecção de joias” (p 138).

E- “O chamado húmus de minhoca, que corresponde ás fezes desse animal, é rico em matéria inorgânica (nitrogênio, fósforo e potássio) e orgânica decomposta, por isso é muito usado como fertilizante” (p 141).

F- “Alguns dos representantes do grupo são lagostas, caranguejos e camarões. Ocupam principalmente ambientes aquáticos, marinhos e de água doce, mas existem espécies terrestres. São muito utilizados na alimentação, principalmente em regiões litorâneas” (p 144).

G- “Por outro lado, muitos prejuízos podem ser causados pelos artrópodes. Diversas

pragas de lavoura são insetos, além de parasitas de animais criados para

consumo humano, como o gado” (p 144).

Fonte: Rita Helena Brocklmann.

Por sua vez, os excertos H e I foram retirados do Livro 4 (Tabela 5).

Tabela 5: Excertos transcritos do livro 4.

Abordagem Utilitarista: Livro 4

H- “Por serem as minhocas as representantes mais conhecidas e pela importância econômica que têm, vamos usá-las para conhecer um pouco mais a respeito dos oligoquetos” (p 201).

I- “Diversos cuidados precisam ser tomados para o estabelecimento de uma fazenda de ostras” (p 204).

Fonte: Vivian L. Mendonça.

25

Figura 2: Gravura mostrando animais capturados em uma rede de arrasto seguida de um breve

texto sobre o cultivo de crustáceos

Fonte: Livro 1

26

Figura 3: Gravura mostrando peixes abatidos na praia do forte (BA), seguido de um texto sobre a

quantidade de proteínas presentes nos peixes.

Fonte: Livro 1

27

Figura 4: Gravura seguida de um breve texto sobre esponjas de banho.

Fonte: Livro 2

Figura 5: Gravura seguida de um breve texto sobre o uso de certas esponjas do mar para banho.

Fonte: Livro 3

Figura 6: Gravura seguida de um breve texto sobre a importância dos moluscos na alimentação e finalizando com danos econômicos domésticos e parasitoses que podem ser causados por caracóis

28

Fonte: Livro 3

Figura 7: Texto introdutório seguido de imagem onde se é discutido a piscicultura.

Fonte: Livro 3

29

Figura 8: Gravura mostrando comércio de esqueletos de esponjas na região mediterrânea

Fonte: Livro 4

Figura 9: Breve texto abordando os equinodermos na alimentação humana seguido de imagem onde representa um pepino-do-mar.

Fonte: Livro 4

30

Figura 10: Texto breve abordando o antigo valor comercial das pérolas seguido de imagens de botões de pérolas e uma ostra perlífera.

Fonte: Livro 4

Verifica-se, em tais excertos e figuras, que muitos livros ainda empregam em seus

conteúdos a abordagem utilitarista. Segundo Rocha (2013) as consequências desse

processo podem ser verificadas, tanto ao que se refere à utilidade associada aos animais

quanto à dicotomização do ser humanos em relação aos demais animais.

Esse isolamento temático faz se nas questões trabalhadas tanto no que cerne a resolução das atividades como na introdução e compreensão das mesmas, o que leva a uma visão fragmentada da Ciência e da Zoologia. As atividades abordam especificamente a temática zoológica e sua relação com o homem, no sentido de que ao aluno cabe entender os agrupamentos animais para diferenciá-los morfologicamente, focando nas possibilidades de interação utilitarista entre homem e animal (ROCHA 2013, p.166).

Pondera-se assim, que a escola tem um papel crucial no trabalho com tais

conceitos e valores junto aos alunos. Quando o livro didático apresenta tais conceitos,

pode reforçar o papel utilitarista atribuído aos animais. É importante frisar que a escola

pode exercer um papel fundamental no percurso da construção de conhecimentos e

31

valores relacionados aos demais animais e também em relação ao meio ambiente. Santos

e Bonotto (2012) defendem que:

com relação aos animais não humanos, podemos considerar que a escola, entre outras instâncias sociais, representa um instrumento de transmissão de valores utilitaristas, concebendo os animais não humanos a partir de suas aplicações úteis ao desenvolvimento da vida humana, ou seja, a partir de uma valorização utilitarista dos mesmos (SANTOS e BONOTTO 2012, p.13 ).

Pode-se indicar assim, que todos os livros apresentaram esta abordagem (seja na

forma escrita ou com imagens). Sendo o livro 1 (adotado por três escolas) e livro 2

(adotado por uma escola) os que mais apresentaram esta abordagem em seu conteúdo.

Porém, o livro 3 (adotado por 2 escolas) e o livro 4 (adotado também por 2 escolas) não

estão livres desta abordagem, e ela também se mostra frequente em seu conteúdo.

Indica-se, portanto, a necessidade de uma revisão de conceitos e perspectivas de

abordagem tanto dos autores e editores que produzem os livros didáticos quanto dos

professores que escolhem tais livros, pois como já discutimos, a mesma se torna nociva

para o ensino de zoologia e para a relação animal humano – animal não humano ao

construir o conceito de que os animais não humanos estão neste planeta para de alguma

forma servir aos animais humanos. Logo, o aluno ao aprender desta forma, este conceito

poderá influenciar sua construção social, reforçando sentimento de desigualdade,

desrespeito e falta de empatia para com alguns animais não humanos.

4.2) ABORDAGEM EVOLUTIVA

A abordagem evolutiva foi detectada nos livros didáticos com diferentes graus de

incidência. Alguns deles utilizaram o cladograma com embasamento na filogenética ou

simplesmente contando a história evolutiva com gravuras dos grupos dos mais diferentes

animais.

Pode-se observar, a seguir, que as figuras 11, 12, 13 e 14 apresentam imagens de

grupos que existiram no passado, denotando a ideia de diversidade. É fundamental

destacar que a evolução é um mecanismo que contribui para um melhor entendimento

sobre a diversidade biológica existente em nosso planeta (AMORIM, 2001). Pode-se

compreender tal elemento quando há o embasamento da evolução no ensino

32

Pode-se analisar toda a diversidade biológica existente, graças ao processo

evolutivo, desde as mudanças no espaço físico até o momento da especiação. Trabalhar

esse conceito em sala de aula se torna muito enriquecedor por poder contribuir com o

senso crítico dos alunos ampliando seu poder de análise.

As imagens a seguir foram retiradas dos livros 1 e 2. Elas apresentam a

abordagem evolutiva em suas propostas de compreensão conceitual.

Figura 11: Breve texto seguido de imagem sobre a evolução dos anfíbios

Fonte: Livro 1

33

Figura 12: Reconstrução artística do período Triássico.

Fonte: Livro 1

Figura 13: Texto breve seguido de gravura sobre a evolução das aves

Fonte: Livro 2

34

Figura 14: Texto breve seguido de gravura sobre a evolução dos anfíbios.

Fonte: Livro 1

O uso da sistemática filogenética no Ensino Médio contribui diretamente para o

ensino dos seres vivos, como na Zoologia e Botânica como se pode observar nas figuras

15, 16, 17 e 18 que apresentam cladogramas. Porém, outros tópicos poderiam ser

abordados, tais como a evolução do comportamento e a evolução dos sistemas do corpo

relacionado ao meio (RODRIGUES et al., 2011). Como pode ser observada no excerto J

(Tabela 6).

Tabela 6: Excerto transcrito do livro 4

Abordagem Evolutiva: Livro 4

J- “Na evolução dos animais, a partir dos platelmintos, todos os animais passaram a apresentar corpo formado a partir de três folhetos germinativos” (p. 175).

Fonte: Vivian L. Mendonça

Também é possível verificar a abordagem evolutiva nas Figuras 15 e 16 que

apresentam a relação filogenética entre os principais grupos dos animais.

Figura 15: Relação filogenética que o autor defende dos principais grupos dos animais

35

Fonte: Livro 2

Figura 16: Relações evolutivas entre os craniados e outros grupos atuais

Fonte: Livro 2

36

Figura 17: Cladograma do filo Chordata

Fonte: Livro 3

Figura 18: Cladograma representando alguns filos do reino animal

Fonte: Livro 4

37

Já as figuras 17 e 18 demonstraram exemplos de cladogramas utilizados no ensino

de zoologia.

A figura 19 retrata a embriologia e a evolução como conteúdos integrados. No

corpo do texto pode-se observar que a biologia molecular e genética são citadas como

fontes de discussões atuais. Assim como Madureira defende:

Avanços recentes no campo da biologia molecular levaram à aplicação de técnicas sofisticadas que são agora amplamente usadas no estudo de problemas diversos, como regulações gênicas da morfogênese expressas temporais e regionais de genes específicos, e como células se tornam comprometidas para formar as várias partes do embrião (MADUREIRA, 2012, p.37).

Figura 19: Discussão sobre a biologia evolutiva do desenvolvimento embrionário

Fonte: Livro 4

38

Logo, pode-se observar que o livro 2 (adotado por uma escola de Itajubá) seguido

do livro 4 (que é adotado por duas escolas) apresentaram maior contexto evolutivo. Já o

livro 1 (adotado por 3 escolas), seguido do livro 3 (adotado por 2 escolas) são os que

menos apresentaram tal abordagem.

A abordagem evolutiva traz para o ensino de biologia um conteúdo mais atualizado

e científico, auxiliando também na construção de uma ideia sobre diversidade e equidade

entre os animais, já que todos dividiram em algum momento um ancestral comum. E, não

havendo distinção sobre um “grau de importância” entre eles, a falta desta abordagem em

um livro didático pode comprometer tal processo de compreensão, além de trazer para o

aluno uma construção de senso crítico, destinado a observar, comparar e criticar tudo em

sua volta com mais embasamento.

E por fim, é importante ressaltar que a compreensão adequada e,

consequentemente, o trabalho de forma eficiente pode representar ao professor um

desafio, caso ele não tenha tido acesso a uma formação adequada e de qualidade para

saber utilizar, por exemplo, os cladogramas e o conceito de evolução durante suas aulas.

Isso se mostra fundamental para que não haja a construção de conceitos errôneos sobre

esta abordagem.

4.3) ABORDAGEM ECOLÓGICA

Em todos os excertos sobre esta abordagem pode-se observar que os animais são

descritos como parte de todo um meio existente e inter-relacionado. A importância de

construir um conceito sobre complexas redes se dá pelo fato de mostrar para o aluno a

importância ecológica de todos os seres vivos, onde qualquer desequilíbrio em qualquer

parte desta rede pode provocar um efeito que se sucede em cadeias, podendo acarretar

consequências em todos os demais.

O excerto M (Tabela 7) identifica um desequilíbrio provocado pela possível extinção

dos insetos. Brando (2010) fomenta que o estudo da Ecologia reforça o pensamento

sistêmico e, dessa forma, os organismos vivos podem ser vistos como complexas redes

de interações.

39

Tabela 7: Excertos transcritos do livro 1

Abordagem Ecológica: Livro 1

K- “As minhocas são importantíssimas para a fertilidade do solo” (p.156).

L- “Não podemos esquecer que a reprodução de muitas plantas depende do transporte do grão de pólen feito por insetos [...]” (p.165).

M- “É fácil perceber, portanto, que a extinção de espécies de insetos provocaria gravíssimos desequilíbrios ecológicos” (p. 166).

Fonte: Sérgio Linhares e Fernando Gewandsznader.

Motokame e Trivelato (1999) citam que o enfoque ecológico vai além da sala de

aula, pois possui o propósito de romper barreiras e recuperar espaços não formais para o

ensino e aprendizagem. E, por sua vez, vai além da ecologia em si, pois a abordagem

evolutiva pode ser entendida como união entre elas (ecologia e evolução), como podemos

observar na figura 20, que aborda a biodiversidade. Defendendo que a ausência da

evolução, o ensino ecológico fica prejudicado.

A falta de uma ênfase maior no ensino de Evolução mostra que o entendimento da Teoria Evolutiva é de extrema importância para a compreensão da estrutura e função dos ecossistemas e para que os estudantes não tenham uma visão antropocêntrica das relações entre organismos de um ambiente (MOTOKAME e TRIVELATO 1999, p.8).

Conforme se pode verificar nos excertos das Tabelas 8 e 9. Também é possível

analisar a abordagem ecológicas nas Figuras 20, 21, 22 e 23 apresentadas a seguir.

Tabela 8: Excertos transcritos do livro 2

Abordagem Ecológica: Livro 2

N- “Pelo modo de vida subterrâneo e de locomoção, as minhocas são agentes essenciais na aeração do solo’’ (p 141)”.

O- “Além disso, um grande número de larvas e artrópodes adultos são animais detritívoros, promovendo a ciclagem de nutrientes’’ (p 147).

Fonte: Rita Helena Brocklmann.

40

Tabela 9: Excerto transcrito do livro 4

Abordagem Ecológica: Livro 4

P- “O conhecimento da polinização por abelhas, principalmente para as regiões

tropicais, ainda é limitado. No Brasil, por exemplo, a caatinga, a floresta amazônica

e a mata atlântica são áreas pouco estudadas [...] ’’ (p 225).

Fonte: Vivian L. Mendonça.

Figura 20: Conteúdo introdutório sobre os cordados abordando a biodiversidade e conservação

Fonte: Livro 3

41

Figura 21: Discussão sobre o papel ecológico das minhocas

Fonte: Livro 3

Figura 22: Infográfico dos animais no meio ambiente

Fonte: Livro 3

42

Na análise da abordagem ecológica pode-se verificar que a mesma auxilia no

ensino de zoologia de acordo com três grandes vertentes.

A primeira vertente seria a ideia de biodiversidade, a qual junto ao contexto

evolutivo auxilia no ensino de zoologia ao demonstrar a diversidade de formas de vida

existentes em seus mais diversos habitats, pois a relação entre estes organismos com o

meio representa uma peça de um grande ecossistema, onde denota-se a ideia de que

todas as peças são importantes para o bom funcionamento do ecossistema.

A segunda vertente se refere à ideia de paridade valorativa entre os animais. Assim

como na abordagem evolutiva, a ecológica também desconstrói o conceito de que os

seres humanos seriam superiores em relação aos demais animais, dado seu intelectual

ou nível de civilização. Contribuindo, assim, com um ensino de zoologia mais coerente e

justo, pois esta abordagem propõe a reflexão de que o equilíbrio da vida depende uma

teia complexa e diversa, na qual um minúsculo inseto ou até um mamífero de grande

porte estão em equidade e o desequilíbrio gerado em qualquer parte causará danos de

forma direta ou indireta a todos desta teia de vida.

A terceira vertente é a da conscientização, já que no ensino de zoologia, através

desta abordagem, propicia o trabalho com questões relacionadas à necessária tomada de

consciência sobre os problemas ambientais, como caça predatória e ameaças de

extinção. Além de deixar o aluno ciente do tráfico de animais exóticos existentes por todo

o mundo.

Sendo assim, o livro 1 (adotado por três escolas de Itajubá) e o livro 3 (adotado por

duas escolas da mesma cidade) foram os que mais apresentaram a abordagem

ecológica.

A falta ou escassez desta abordagem em um livro didático, como visto nos livro 2

(utilizado em uma escola de Itajubá) e o livro 4 (utilizado em duas escolas de Itajubá),

compromete esta visão de equilíbrio e equidade dentre os seres humanos e demais seres

vivos, além de privar os estudantes da construção de um senso integrador e de

conscientização sobre às relações presentes no mundo a sua volta.

43

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, pode-se concluir que o livro didático no

decorrer da história sofreu várias modificações de acordo com o contexto político-cultural

do momento, alterando sua finalidade com o tempo, desde formar professoras e donas de

casa até um cidadão crítico.

O ensino de biologia também sofreu mudança em sua finalidade e abordagens, já

que no passado havia uma perspectiva sanitarista muito evidente e atualmente esta

abordagem já não é vista com tanta frequência. Logo, pode-se concluir que o modo como

o ensino e os recursos empregados para atingir seus objetivos são diretamente

influenciados por contextos políticos-culturais relacionados ao momento de sua

implantação.

Desse modo, é fundamental compreender que algumas abordagens, como a

utilitarista apontada nesta pesquisa, podem se tornar prejudiciais ao processo de

construção do conhecimento do aluno. Isso pelo fato de que, como visto nessa

investigação, a abordagem mais empregada nos livros de biologia no que concerne ao

conteúdo de zoologia é a utilitarista, presente de modo expressivo nos quatro livros

analisados.

Porém outras abordagens, como a ecológica e a evolucionista apontadas nesta

pesquisa, podem se tornar promissoras no processo de construção conceitual e valorativa

dos estudantes, seja ajudando a pensar de forma crítica em sua formação, ou

promovendo um processo de desconstrução de conceitos inadequados.

E, dessa forma, evidencia-se a ideia de que o professor possui um papel central

neste processo, desde a escolha do livro didático a ser adotado pela escola, até o

planejamento e a execução de suas aulas. Vale lembrar que a formação dos professores

também se apresenta intimamente relacionada a esse processo, já que um professor com

uma formação de baixa qualidade, que, por exemplo, não teve contato com um

cladograma em seu processo de formação, terá dificuldades em empregá-los em suas

aulas, podendo assim, utilizar a abordagem evolutiva de forma equivocada ou insuficiente.

E o mesmo se aplica na abordagem ecológica.

A desconstrução de conceitos e valores inadequados é fundamental para o atual

contexto social que o Brasil se apresenta. Precisa-se cada vez mais de pessoas que

possuam uma formação crítica e que saibam reagir de forma adequada diante do

diferente, pois é através da educação que se inicia todo um processo de mudança de um

44

país.

E por fim, espera-se que esta pesquisa possa contribuir com dados para as demais

pesquisas nesta área, pois infelizmente há pouco referencial quando se trata de analisar e

refletir sobre as abordagens presentes no ensino de zoologia.

45

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