Hummel

1
Para não ficar à mercê das oscilações cambiais, indústrias estão buscando fornecedores nacionais para não perder competitividade no mercado brasileiro” Alexandre Kiss II Diretor-geral da Adecol Ainda que o câmbio não tenha efei- to relevante sobre o total da pauta de importação brasileira, algumas empresas já começam a se preparar para conter o aumento dos custos de produção por conta da desvalori- zação do real. Em alguns casos pon- tuais, foi iniciada substituição de componentes, insumos e matérias- primas importados por nacionais e, em outros, companhias se mobili- zam para, ao longo dos próximos meses, substituírem seus fornece- dores, já prevendo a alta dos preços dos importados. A Adecol, fabricante de colas e adesivos industriais, por exem- plo, é uma das empresas beneficia- das pela alta do dólar. Segundo Alexandre Kiss II, diretor-geral da companhia, houve um incre- mento de 4% no faturamento da empresa no período de junho a agosto, graças à conquista de no- vos clientes de grande porte, en- tre eles fabricantes de cadernos, fraldas e até montadoras. “Nor- malmente, essas empresas multi- nacionais ou transnacionais atuam no mercado com uma ca- deia internacional de fornecedo- res fechada. Mas para não ficarem à mercê das oscilações cambiais, essas indústrias estão buscando fornecedores nacionais para não perderem competitividade no mercado brasileiro”, afirma. Outro exemplo de empresa que está alterando sua rotina e redu- zindo importação é a Hummel Connector Systems, multinacio- nal alemã, com 12 anos de atuação no mercado brasileiro, fabricante e comercializadora de componen- tes para instalações elétricas para várias indústrias brasileiras. De acordo com Carlos Rottmann, ge- rente-geral da companhia, cerca de 65% dos componentes comer- cializado no Brasil são importados da matriz alemã. “Mas estamos apostando na nacionalização para concorrer no mercado. Nossa me- ta é reduzir a participação do pro- duto importado no nosso portfó- lio local para 50% até o fim do ano, com potencial de redução de preço final de até 30%”, afirma. A multinacional, que tem uma fábrica localizada no município paulista de Tatuí, tem o seu merca- do consumidor totalmente focado no Brasil. Apenas 3% dos seus pro- dutos são exportados para a Amé- rica Latina. Enquanto, 97% são co- mercializados no Brasil. Apesar da busca pela competi- tividade, Rottmann defende a pre- sença dos importados no mercado nacional. “Muitas vezes o produto importado é tido como vilão da economia, acusado de não gerar empregos no país e ainda concor- rer com o produto nacional. Mas precisamos defender que o gover- no faça intervenções no mercado de câmbio para manter a estabili- dade da cotação da moeda ameri- cana, o que seria bom para todo o segmento empresarial que pode- ria planejar melhor os seus gastos e investimentos”, diz. No ano, a moeda americana acu- mula valorização de 8,13%, o que gerou impacto no Índice de Preços ao Produtor (IPP) de agosto (esta- tística que mede o preço na porta de fábrica), que avançou 1,48%. Após 46 anos de atuação no mercado brasileiro e acostumada às oscilações do mercado cam- bial, a ACE Schmersal — multina- cional alemã fabricante de siste- mas de segurança para máquinas e de componentes para automa- ção — decidiu adotar uma política de nacionalização de sua produ- ção, substituindo a importação de produtos próprios da matriz. “To- mamos essa decisão há dez anos, não apenas por razões econômi- cas, mas também por razões so- ciais e de qualidade”, afirma Nil- son Lara, diretor de Operações da empresa. Com a redução das im- portações da companhia foi possí- vel garantir mais rapidez no aten- dimento aos clientes da empresa, além de reduzir custos e o preço fi- nal dos produtos. “Quando importamos a produ- ção da matriz, temos de embutir no preço o valor da mão de obra alemã, os valores dos tributos de importação, além do frete e do se- guro de transporte. Quando ado- tamos essa política de substitui- ção das importação e da naciona- lização da nossa produção, cerca de 40% dos produtos que comer- cializávamos eram importados da matriz alemã. Hoje, essa im- portação caiu para 15% e pode- mos dizer que apenas trazemos de fora os componentes eletrôni- cos”, afirma. Ao reduzir a participação dos importados, a companhia am- pliou o número de funcionários na fábrica localizada em Boituva (SP) em 50% nos últimos três anos. “Além disso, contratamos fornece- dores locais, participamos da evo- lução técnica deles, gerando em- pregos indiretos na região”, ressal- tou Lara. Patrycia Monteiro Rizzotto [email protected]r BRASIL São Paulo CÂMBIO Divulgação Empresas atuam para ampliar conteúdo local 8,13% Percentual de valorização do dólar no acumulado do ano, até a primeira semana de outubro. 1,48% Variação do Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, de agosto, influenciada pela alta da moeda norte-americana. Carlos Rottman, da Hummel Connector Systems, aposta na substituição gradual de insumos importados para melhorar a competitividade Companhias informam que substituição de importados será gradual nos próximos meses 6 Brasil Econômico Quarta-feira, 9 de outubro, 2013

description

 

Transcript of Hummel

Para não ficar à mercêdas oscilaçõescambiais, indústriasestão buscandofornecedoresnacionais paranão perdercompetitividade nomercado brasileiro”

Alexandre Kiss IIDiretor-geral da Adecol

Aindaqueo câmbio não tenhaefei-to relevante sobre o total da pautade importação brasileira, algumasempresas já começam a se prepararpara conter o aumento dos custosdeproduçãoporcontadadesvalori-zaçãodo real.Emalgunscasospon-tuais, foi iniciada substituição decomponentes, insumose matérias-primas importados por nacionaise,emoutros,companhiassemobili-zam para, ao longo dos próximosmeses, substituírem seus fornece-dores, já prevendo a alta dos preçosdos importados.

A Adecol, fabricante de colas eadesivos industriais, por exem-plo, é uma das empresas beneficia-das pela alta do dólar. SegundoAlexandre Kiss II, diretor-geralda companhia, houve um incre-mento de 4% no faturamento daempresa no período de junho aagosto, graças à conquista de no-

vos clientes de grande porte, en-tre eles fabricantes de cadernos,fraldas e até montadoras. “Nor-malmente, essas empresas multi-nacionais ou transnacionaisatuam no mercado com uma ca-deia internacional de fornecedo-res fechada. Mas para não ficaremà mercê das oscilações cambiais,essas indústrias estão buscandofornecedores nacionais para nãoperderem competitividade nomercado brasileiro”, afirma.

Outro exemplo de empresa queestá alterando sua rotina e redu-zindo importação é a HummelConnector Systems, multinacio-nal alemã, com 12 anos de atuaçãono mercado brasileiro, fabricantee comercializadora de componen-tes para instalações elétricas paravárias indústrias brasileiras. Deacordo com Carlos Rottmann, ge-rente-geral da companhia, cercade 65% dos componentes comer-cializado no Brasil são importadosda matriz alemã. “Mas estamosapostando na nacionalização para

concorrer no mercado. Nossa me-ta é reduzir a participação do pro-duto importado no nosso portfó-lio local para 50% até o fim doano, com potencial de redução depreço final de até 30%”, afirma.

A multinacional, que tem umafábrica localizada no municípiopaulista de Tatuí, tem o seu merca-do consumidor totalmente focadono Brasil. Apenas 3% dos seus pro-dutos são exportados para a Amé-rica Latina. Enquanto, 97% são co-mercializados no Brasil.

Apesar da busca pela competi-tividade, Rottmann defende a pre-sença dos importados no mercadonacional. “Muitas vezes o produtoimportado é tido como vilão daeconomia, acusado de não gerarempregos no país e ainda concor-rer com o produto nacional. Masprecisamos defender que o gover-no faça intervenções no mercadode câmbio para manter a estabili-dade da cotação da moeda ameri-cana, o que seria bom para todo osegmento empresarial que pode-

ria planejar melhor os seus gastose investimentos”, diz.

No ano,amoedaamericanaacu-mula valorização de 8,13%, o quegerou impacto no Índice de Preçosao Produtor (IPP) de agosto (esta-tística que mede o preço na portade fábrica), que avançou 1,48%.

Após 46 anos de atuação nomercado brasileiro e acostumadaàs oscilações do mercado cam-bial, a ACE Schmersal — multina-cional alemã fabricante de siste-mas de segurança para máquinase de componentes para automa-ção — decidiu adotar uma políticade nacionalização de sua produ-ção, substituindo a importação deprodutos próprios da matriz. “To-mamos essa decisão há dez anos,não apenas por razões econômi-cas, mas também por razões so-ciais e de qualidade”, afirma Nil-son Lara, diretor de Operações daempresa. Com a redução das im-portações da companhia foi possí-vel garantir mais rapidez no aten-dimento aos clientes da empresa,além de reduzir custos e o preço fi-nal dos produtos.

“Quando importamos a produ-ção da matriz, temos de embutirno preço o valor da mão de obraalemã, os valores dos tributos deimportação, além do frete e do se-guro de transporte. Quando ado-tamos essa política de substitui-ção das importação e da naciona-lização da nossa produção, cercade 40% dos produtos que comer-cializávamos eram importadosda matriz alemã. Hoje, essa im-portação caiu para 15% e pode-mos dizer que apenas trazemosde fora os componentes eletrôni-cos”, afirma.

Ao reduzir a participação dosimportados, a companhia am-pliou o número de funcionários nafábrica localizada em Boituva (SP)em 50% nos últimos três anos.“Além disso, contratamos fornece-dores locais, participamos da evo-lução técnica deles, gerando em-pregos indiretos na região”, ressal-tou Lara.

Patrycia Monteiro [email protected]

BRASIL

São Paulo

CÂMBIO

Divulgação

Empresas atuam paraampliar conteúdo local

8,13%Percentualdevalorizaçãododólarnoacumuladodoano,atéaprimeirasemanadeoutubro.

1,48%VariaçãodoÍndicedePreçosaoProdutor(IPP),do IBGE,deagosto,influenciadapelaaltadamoedanorte-americana.

CarlosRottman,daHummelConnectorSystems,apostanasubstituiçãogradualdeinsumosimportadosparamelhoraracompetitividade

Companhias informam que substituição de importados será gradual nos próximos meses

6 Brasil Econômico Quarta-feira, 9 de outubro, 2013