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1RESUMO EXECUTIVO
12PRODUTO
Desafios e Oportunidades do Setor de Software
Industrial
12PRODUTO
Desafios e Oportunidades do Setor de Software
Industrial
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidente Michel Temer
MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS
Ministro
Marcos Jorge de Lima
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – ABDI
Presidente Luiz Augusto de Souza Ferreira
Diretor de Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico Miguel Antônio Cedraz Nery
Diretor de Planejamento
Walterson da Costa Ibituruna
Gerente de Desenvolvimento Produtivo e Tecnológico
Cynthia Araújo Nascimento Mattos
Gerente de Planejamento e Inteligência
Jackson De Toni
Coordenador de Planejamento e Inteligência Rogério Dias de Araújo
Coordenadora de Desenvolvimento Tecnológico Karen Cristina Leal da Silva
Equipe Técnica Ricardo Gonzga Martins Araujo (Responsável)
Ficha TécnicaFUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
Presidente
Carlos Ivan Simonsen Leal
Diretoria FGV Projetos Cesar Cunha Campos Ricardo Simonsen
Coordenação de Projeto Luiz Gustavo Medeiros Barbosa Marcel Levi
Especialista José Carlos Cavalcanti
Equipe Econômica e Estatística Ique Guimarães Everson Machado
Equipe Técnica André Meyer Coelho Erick Lacerda Fabíola Barros Luciana Vianna Saulo Rocha / Pesquisador Convidado Thays Venturim
Projeto Gráfico Café.art.br
Sumário
Resumo Executivo ...............................................................................................06
01 Introdução .........................................................................................................10 02 Indústria 4.0 e suas Características Principais ......................................14 2.1 O Software na Indústria 4.0 ................................................................................. 18 03 Desafios e Oportunidades para o Setor de Software Industrial no Brasil no Contexto da Indústria 4.0 ................................................................24 3.1 Antecedentes ...................................................................................................... 26
3.2 Breve Histórico do Desenvolvimento Industrial do Brasil ...................................27
3.3 Breve Histórico do Setor de TICs no Brasil e o Grande Desafio de sua Inserção no
Desenvolvimento Industrial ...................................................................................... 31
04 Oportunidades para a Construção de uma Nova Estratégia Nacional para o Setor de TICs ............................................................................................34
05 Oportunidades para Alavancar os Ecossistemas de Inovação de/com TICs ..........................................................................................................40
06 A Demanda Global por Produtos Industrializados Baseados em Recursos Naturais ...............................................................................................48
07 Instrumentos da Nova Política de TICs ....................................................52 08 Arquitetura para Construção da Iniciativa “Green Industry 4.0” no Brasil .................................................................................................................56 09 O Espaço de Oportunidades para Empresas Nacionais/Locais .......... 72 10 O Espaço de Oportunidades na Green Industry 4.0 ...............................78 Apêndice I A Indústria Global de TI ................................................................84 A Indústria Brasileira de TI ....................................................................................... 88 Apêndice II A Lei de Informática como Política Pública e Política Industrial ...............................................................................................................90
Apêndice III A Contribuição da Profª. Carlota Perez ...................................96
Apêndice IV Histórico Recente do Desenvolvimento do Setor de TICs.......................................................................................................100
Apêndice V Megatendências e Oportunidades para o Mercado Global de TI (e de Software em Particular) ................................................................... 106
Referências Bibliográficas ............................................................................... 112
6 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
7RESUMO EXECUTIVO
Resumo Executivo
8 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
Resumo ExecutivoEste documento apresenta o Produto 12.1 - Desafios e
Oportunidades do Setor de Software Industrial, correspon-dente a entrega única do Módulo 12 - Setor de Serviços de
Software Industrial, do Contrato nº 035/2016, celebrado en-tre a Fundação Getulio Vargas - FGV e a Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial - ABDI, assinado em 16 de dezembro de 2016, objeto do Termo de Referência, encami-nhado em 16 de novembro de 2016.
O projeto tem por objetivo a realização de estudos técni-
cos e pesquisas para subsidiar a elaboração de políticas
e projetos relacionados ao desenvolvimento produtivo e
a inovação, bem como para o desenvolvimento de ações
para o fomento ao desenvolvimento tecnológico e regio-
nal. Estes estudos deverão auxiliar a ABDI na definição das diretrizes estratégicas a serem seguidas, em nível nacional e regional, e no desenho de uma agenda de fortalecimento da competitividade da indústria brasileira.
9RESUMO EXECUTIVO
Em resumo, as principais observações colhidas a partir do estudo permitem indicar que:
1 O desenvolvimento de uma indústria de sof-tware industrial voltada para as necessida-des da Indústria 4.0 no Brasil encontra hoje um pequeno, mas significativo, conjunto de desafios: a indústria nacional vem perdendo tanto participação relativa na composição do PIB nacional quanto na geração de empre-gos (o fenômeno internacional denominado desindustrialização); o setor de tecnologias de informação e comunicação – TICs, que contempla o segmento de software indus-trial, não tem contribuído para o aumento da competitividade da economia em função dos seus crescentes déficits na balança comercial; e a capacitação das empresas e da força de trabalho no país não tem merecido o destaque necessário ao enfrentamento dos atuais e futuros desafios de uma economia cada vez mais globalizada e competitiva;
2 Apesar destes desafios, o país apresenta dois grandes conjuntos de oportunida-des para o desenvolvimento do setor de software industrial: a) antes considerado como um setor de baixo valor agregado e de baixa intensidade tecnológica, o setor de commodities primárias e de commodities industriais baseadas em recursos naturais (recursos esses que são uma das grandes vantagens comparativas do Brasil) é hoje percebido como intensivo em pesquisa, desenvolvimento e inovação - P&D&I, e representa a nova área de oportunidades para investimentos em TICs, com enorme potencial para aumentar a competitivida-de nacional, protagonizar uma cadeia de valor global, e garantir um crescimento econômico ambientalmente sustentável; b) o país conseguiu, a duras penas, constituir em seu território, ao lado do seu complexo de ciência e tecnologia, do seu complexo
de formação de profissionais de TICs, e do mercado de trabalho nesta área, importan-tes ecossistemas de inovação que devem ser preservados e alavancados, uma vez que eles serão os alicerces fundamentais para o processo de reindustrialização que o Brasil necessita, e para o sucesso do de-senvolvimento de uma indústria de software industrial competitiva e qualificada;
3 Para a superação dos desafios acima e para a conquista das oportunidades identificadas, este trabalho propõe o desenvolvimento da iniciativa inovadora denominada Green Industry 4.0. Esta iniciativa tem um duplo objetivo central: numa primeira etapa seria levar o estado da arte das TICs para as indústrias ligadas aos recursos naturais do país e do mundo, e, numa segunda etapa, seria utilizar os recursos oriundos/gerados dos produtos, tecnologias, processos da primeira etapa para tentar reverter o histó-rico déficit na balança comercial do setor baseado em ciência-engenharia-e-conhe-cimento, particularmente aquele vinculado ao setor de TICs e do setor de software industrial por decorrência; e
4 E para o desenvolvimento da iniciativa Green Industry 4.0, sugere-se o desenvolvimento de uma arquitetura institucional e tecnológica baseada no conceito de Trindade Essencial, apresentado no documento, e que conta com três pilares que são hoje centrais para o desenvolvimento de modernas estrutu-ras de organização econômica dos países desenvolvidos: ecossistemas (de empresas, organizações e instituições com papeis, in-terdependências e interações) + plataformas (de produtos, processos, serviços e modelos de negócios de escala global) + arquiteturas (industriais e de serviços baseadas em sofis-ticados modelos de negócios globais).
10 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
01
11RESUMO EXECUTIVO
Introdução
12 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
01. IntroduçãoO OBJETIVO DESTE
RELATÓRIO É
APRESENTAR UM
ESTUDO EXPLORATÓRIO
QUE IDENTIFICA UMA
ARQUITETURA DE
SISTEMAS ENVOLVIDOS
NA CONSTRUÇÃO DA
INDÚSTRIA 4.0 NO
PAÍS, A PARTIR DE UMA
ANÁLISE DE DESAFIOS
E OPORTUNIDADES ÀS
INDÚSTRIAS NACIONAIS
Por definição, revoluções são disruptivas, e a 4ª revolução industrial, ou indústria 4.0, não é uma exceção. De fato, espe-cialistas preveem que essa nova onda de revolução irá fomen-tar tantas mudanças quanto aquelas que vieram antes. No entanto, enquanto desenvolvimentos históricos trouxeram o engenho a vapor, a eletricidade e o maquinário digital, onde todos se baseavam em novas tecnologias, a Indústria 4.0 é diferente, uma vez que foca, ao invés, em como novas e atuais ferramentas podem ser usadas através de novas formas.
A Indústria 4.0 tem visto a emergência de robôs operando com trabalhadores de fábricas, e veículos autônomos rea-bastecendo suprimentos em linhas de produção. Tecnologias de redes de sensores e comunicações têm sido usadas para conectar projetistas com trabalhadores de fábricas, com máquinas inteligentes e software interagindo autonomamente através da nuvem computacional, e infraestruturas conecta-das em tempo real com fornecedores e clientes.
Tecnologias inteligentes, ou mais que isso, utilização de máquinas inteligentes, oferecem à indústria manufatureira
muito potencial. Engenheiros podem ter feedback instantâneo sobre previsões de custos e desempenho. Máquinas de fábricas e equipamentos de logística podem estabelecer processos de fábricas automaticamente. Sistemas de inteligência artificial baseados na nuvem podem comparar partes e processos para otimizar desempenho, e sistemas de computadores equipados com máquinas baseadas em algoritmos que aprendem capacitam sistemas robóticos a aprender e a operar com limitados insumos de operadores humanos.
Ademais, as smart factories - fábricas inteligentes - irão também capacitar as com-panhias a prever quando seus equipamentos estarão prestes a falhar e, portanto, tomarão medidas preventivas para fazer com que elas não falhem, ou informarão aos times de manutenção sobre o incidente de forma mais rápida, de modo que eles possam reagir mais aceleradamente.
13RESUMO EXECUTIVO
Isto tudo é a ponta de um iceberg muito grande e rapidamente em expansão, conforme nos aponta Crispin Andrews, em artigo para a E & T Maga-zine1 . Segundo ele, práticas como estas, acre-dita-se, tornarão as operações industriais mais flexíveis, melhorarão a produtividade e facilitarão novas, e mais eficientes práticas de negócios e enfoques empreendedores.
Não é que as companhias irão sair dos seus negócios
se elas não tirarem vantagens das novas tecnologias, afirma (no artigo de Crispin Andrews) Martin Strutt, Diretor de The Manufaturers̀ Organisation – EEF2. Mas será mais difícil para elas competirem com empresas que tirarão, complementa Strutt.
Um dos grandes propulsores destas transforma-ções é o avanço do setor de software na economia, e do software industrial em particular. Como de-clarado pelo capitalista de risco norte-americano Marc Andreessen3, nós estamos no meio de uma mudança tecnológica e econômica dramática e ampla, em que companhias de software estão pre-paradas para tomar grandes fatias da economia.
Desta forma, indaga-se: como o Brasil está posicionado para tirar vantagens dessas novas tecnologias, particularmente no setor econômico de software? De forma direta, quais são os desafios e oportunidades do setor de software no país, e, mais concentradamente, no software industrial?
O objetivo deste relatório é o de apresentar um estudo exploratório que identifica uma arquitetu-ra de sistemas envolvidos na construção da Indús-tria 4.0 no país, a partir de uma análise de desafios e oportunidades às indústrias nacionais, tais como a indústria do software, para uma efetiva inserção neste novo contexto, e para que seja possível, como, significativo resultado, a geração tanto de fornecedores nacionais quanto internacionais deste importante segmento econômico.
O relatório, além desta breve introdução, está divido em dez seções. Na seção dois é feito um rá-pido relato da Indústria 4.0 e suas características principais. A seção três tenta cobrir os desafios e oportunidades para o setor de software industrial no Brasil na era da Indústria 4.0. As seções quatro e cinco tratam de oportunidades que se descor-tinam para o setor de TICs nacional. A seção seis faz referência à demanda global por produtos in-dustrializados baseados em recursos naturais. Na seção sete apresenta elementos para uma nova política de TICs no país. A seção oito apresenta uma arquitetura institucional e econômica para a construção da iniciativa Green Industry 4.0. A se-ção nove ilustra o espaço de oportunidades para empresas nacionais/locais, e a seção dez aponta o espaço de oportunidades na Green Industry 4.0.
1. Disponível em: https://eandt.theiet.org, publicado em 10/07/2017.
2. Disponível em: www.eef.org.uk.
3. Em artigo publicado no dia 20/08/2011, em The Wall Street Journal: “Software Is Eating The World” (Software Está Comen-do O Mundo, em tradução literal).
14 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
02
15RESUMO EXECUTIVO
Indústria 4.0 e suas Características Principais
16 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
O mundo industrial, e o da automação industrial em particular, estão atravessando uma grande transformação. As tecnologias de computação avançada e comunica-ções atingiram tal nível de maturidade que fabricantes de máquinas estão fazendo mudanças dramáticas no modo como eles projetam seus produtos.
Uma grande mudança de mecanismos dedicados para os sistemas de mecatrônica, ou cyber-physical (ciber-físicos), significa que industriais e seus consumidores não estão mais limitados pelo projeto mecânico de uma máquina. Ao invés, máquinas em que os mecanismos de movimento são definidos por servo actuators (atuadores servos) e software de controle oferecem oportunidades significativas para manufa-
tura flexível, taxas de transferência adaptativas e gestão de energia do valor de tempo de vida da máquina. A economia de custos resultante e as vantagens competitivas são essenciais para a indústria de hoje, à medida que mais e mais industriais adotam estas tecnologias nos seus produtos de nova geração.
De fato, a evolução e a convergência, de muitas novas tecnologias – sistemas de mecatrônica, controladores, computação a bordo, big data, aprendizado de máquina e a Internet das Coisas Industrial (em inglês, Industrial Internet of Things – IIot) – estão guiando os líderes a falarem sobre a Próxima Revolução Industrial, ou Indústria 4.0.
Os industriais estão sendo forçados a desafiar suas próprias hipóteses quando se trata dos seus tradicionais processos de projetos e práticas. Eles não podem mais depender do enfoque build it tweak it (construa e ajuste) que tem caracterizado muitos dos projetos de design; ao invés, devem seguir um enfoque de systems-design (projeto de sistemas) que tem se provado ser uma parte essencial dos processos de design no seio das indústrias aeroespacial e automotiva por muitos anos. Através da gestão de requisitos formais, e do desenvolvimento de modelos dinâmi-
02. Indústria 4.0 e suas Características Principais
O CUSTO DE CRIAR
MODELOS DINÂMICOS
DE SISTEMAS
MULTIDISCIPLINARES
TEM CAÍDO
CONSIDERAVELMENTE
NOS ÚLTIMOS ANOS, E
ESTÁ BEM ADEQUADO
AOS ORÇAMENTOS DA
MAIORIA DOS PROJETOS
DE MÁQUINAS DE
MANUFATURA
17CAPÍTULO 02 | INDÚSTRIA 4.0 E SUAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
cos de alta-fidelidade usados em simulações do sistema, industrialistas podem validar o projeto contra os requisitos nos estágios mais prematuros do processo. O modelo de alta-fidelidade resul-tante deste processo é tipicamente referido como sendo The Digital Twin (o Gêmeo Digital).
Segundo Paul Goossens, em seu texto intitulado Industry 4.0 and the Power of the Digital Twin, pu-blicado em 2017 no site da empresa Maplesoft, o Gêmeo Digital é um conceito tomado emprestado dos programas espaciais. Nesta indústria, fre-quentemente quaisquer mudanças em qualquer dos sistemas de um veículo ou sonda durante uma missão, são testadas em uma simulação do sistema para assegurar que qualquer mudança produza o efeito desejado. Isso dá aos engenheiros a opor-tunidade de endereçar qualquer efeito indeseja-do antes de aplicar as mudanças ao sistema em operação. Num período não tão longo no passado, o Gêmeo Digital teria sido desenvolvido do zero, baseado nas especificações finais do sistema real.
No entanto, com o advento de ferramentas de modelagem de sistemas matemáticos fáceis de usar e poderosos (em outras palavras, softwares sofisticados), e rigorosos processos de projetos de sistemas, o Gêmeo Digital frequentemente vem como uma consequência natural de usar ferra-mentas de simulação para verificação funcional das taxas de transferência do processo de projeto.
Goossens afirma que a maioria das plataformas de automação industrial dá suporte à Functional
Mock-up Interface – FMI (Interface de Maquete Funcional) como um meio de integrar a implemen-tação em tempo real do Gêmeo Digital de modo que ele possa rodar em linha com a máquina real. Isso permite rápido planejamento de tarefas e tes-tes no mundo virtual antes de qualquer mudança no sistema seja feita para a máquina real.
O custo de criar modelos dinâmicos de sistemas multidisciplinares tem caído consideravelmente nos últimos anos, e está bem adequado aos orça-mentos da maioria dos projetos de máquinas de manufatura. Tem sido provado em muitos projetos que identificar e endereçar as questões de projeto o mais cedo possível no processo de projeto, poupa grandes custos e a disrupção associada para o prazo do projeto no seu estágio tardio, particularmente durante a prototipagem e além. Portanto, o retorno nos custos up-front (iniciais) para ferramentas e expertise para implementar este processo é muito rapidamente realizado.
Na indústria, o Gêmeo Digital oferece possibi-lidades ilimitadas além do processo de projeto. Por exemplo, um Gêmeo Digital in-line permite um operador treinar em uma máquina virtual até que ele tenha as habilidades e confiança neces-sárias para operar a máquina real, sem o gasto de um simulador dedicado de treinamento. Usando um Gêmeo Digital in-line acelera-se o processo de aprendizado e minimiza-se o risco de prejuízo para a máquina.
Um Gêmeo Digital pode também ser usado para identificar questões potenciais com a máquina real contraparte. Imagine-se um cenário em que um modelo físico de alta fidelidade esteja rodando em paralelo com a máquina real e imediatamente identifica-se um mau funcionamento (ou potencial mau funcionamento) na máquina real. Qualquer desgaste excessivo em um componente seria indicado por uma derivação entre o desempenho da máquina e o comportamento do modelo, o qual pode ser rapidamente marcado. O modelo, que tem exatamente a mesma estrutura física que a máquina, poderia identificar a fonte da variação no modelo e prover indicadores para o operador onde a falha pode estar, poupando a vida da má-quina e custos de diagnóstico.
18 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
Tomando isso um passo à frente, se essa mesma falha não é catastrófica, seria possível usar o mo-delo para oferecer uma estratégia para compensar por um decréscimo em desempenho sem diminuir ou parar a produção. A emergência de controle ótimo e técnicas de controle de modelos preditivos, combinada com capacidades de aprendizado de máquina avançados, torna este cenário possível.
Com a habilidade dos sistemas em comunicar remotamente com o operador através de tecno-logias de IIoT, não será tão longe antes que nós vejamos crescente autonomia sendo implementada nas máquinas, tal como na indústria automotiva. As máquinas não somente estarão se comunicando com o operador, mas também um com outro ou mesmo entre elas! Um Gêmeo Digital incorporado proveria a base para crescer a autoconsciência da máquina, permitindo que ela otimize sua própria performance para dados ciclos de responsabili-dades, diagnose e compensações por falhas não catastróficas, e operação coordenada com outras máquinas com mínimo insumo do operador.
Como o software se faz presente na Indústria 4.0? As novas tecnologias digitais, marcadamente na área de software, estão causando rupturas e modificações em todos os setores da economia. Mas o que de fato estas tecnologias digitais estão deixando para trás?
Até recentemente era possível caracterizar facil-mente software em duas grandes categorias:
APPLICATION SOFTWARE (SOFTWARE APLICATIVO)
Designação geral de programas de computador que desempenha tarefas (processador de textos,
Todos os processos aqui descritos para o Gêmeo Digital obedecem a requisitos estabelecidos na literatura consagrada da engenharia de software que se estabeleceu no mundo, marcadamente a partir dos anos 80 do século passado. De forma particular, esses processos industriais utilizam os tradicionais padrões e frameworks de software product lines - linhas de produção de software, tal como preconizado por institutos de referência globais, tais como o Software Engineering Insti-tute, da Carnegie Mellon University, nos EUA, e que são indicativos de um processo tradicional da área de software denominado de Product Lifecy-
cle Management - PLM (Gestão do Ciclo de Vida do Produto4), a saber: product design (projeto de produto), process planning (planejamento de processo), layout (diagramação), process validation
(validação de processo), throughput optimization
(otimização de taxa de transferência), e manufac-
turing execution (execução fabril).
O Software na Indústria 4.0planilhas, etc.), ou tem um propósito específico (contabilidade, rotinas de caminhões, etc.); e
SYSTEM SOFTWARE (SOFTWARE DE SISTEMA)
Termo genérico que se refere a programas de computador usados para começar e rodar siste-mas de computador incluindo diversas aplicações de software (sistemas operacionais, compiladores, interpretadores, bibliotecas de programas, etc.).
Os softwares e serviços enquadrados nestas duas categorias eram facilmente evidenciados tanto na primeira etapa histórica do desenvol-
4. Para maiores informações, consultar: http://www.sei.cmu.edu/productlines/frame_report/rel_domains.htm.
19CAPÍTULO 02 | INDÚSTRIA 4.0 E SUAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
vimento da informática - quando se vivenciou a denominada “Primeira Plataforma” (para deta-lhes sobre essa e outras duas plataformas, ver Apêndice IV deste relatório), onde predomina-vam os grandes computadores (mainframes) e seus terminais - quanto nos primeiros momen-tos da emergência dos Personal Computers - PCs e da internet, quando surgiu a denominada “Segunda Plataforma”.
Surgiram comercialmente nestes dois momen-tos os chamados “software tradicionais”, tais como software “on-premises” (nos locais onde seriam utilizados), como processadores de texto, planilhas, os ERP´s - Enterprise Resource Planning, CRM - Customer Relationship Management, ECM - Enterprise Content Management, BI - Business
Intelligence, dentre outros.
Com o surgimento das redes de computadores (e mais proeminentemente a internet), e a era da telefonia móvel (seguida dos smartphones), dando surgimento à denominada “Terceira Plataforma”, uma nova onda de software e serviços complexos se fez surgir, trazendo consigo um novo conjunto de sofisticadas arquiteturas, tecnologias, pro-cessos e modelos de negócios totalmente novos, que vêm transformando a própria forma como as empresas (particularmente as industriais), orga-nizações e instituições são projetadas, estrutura-das, governadas e operadas.
Uma maneira de visualizar, de forma sistêmica, como tais novas tecnologias digitais podem ser identificadas (particularmente na indústria), é aquela de certa maneira padronizada pela em-presa Accenture, quando ela define seis áreas de capacidades críticas que estão moldando a Indústria 4.0, a saber: a) Orquestração do Ecossistema; b) PLM - Product Lifecycle Mana-
gement (Gestão do Ciclo de Vida do Produto); c) Analítica; d) Automação Industrial; e) Embed-
ded Software (Software Incorporado); e f) Tudo “As a Service” (Tudo “Como Um Serviço”). Cada
uma destas seis capacidades pode ser definida da seguinte maneira:
A - ORQUESTRAÇÃO DO ECOSSISTEMA
Mais do que em cadeias de valor tradicionais, vivemos hoje num mundo em que “empresas sem bordas” (bordless enterprises) devem orquestrar ecossistemas (conceito tratado mais à frente na seção oito) de fornecedores, consultores e con-tratantes, distribuidores, inovação de produto e consumidores, que fazem parte de uma simbióti-ca, porosa e complexa entidade. Tomando como exemplo os carros, muitos deles usam partes de centenas de diferentes fornecedores, cujo fluxo e estágios devem ser sincronizados para minimizar custos e maximizar a taxa de transferência de produção (production throughput). Enquanto a maioria das companhias tem feito ajustes finos ou mesmo reprojetado radicalmente os processos de produção centrais, poucas fizeram isso numa escala requerida para otimizar cadeias globais de suprimentos e de múltiplos e diferenciados canais de informação.
Logo, soluções de software operacional ajudam as companhias a estabelecerem os links entre o topo e a base (top-floor and show-floor) ao ofertarem soluções e arquiteturas (conceito visto mais à frente na seção oito) operacionais industrializadas que integram milhões de controles e sensores. Os fluxos de dados que estas soluções analisam ajudam a atingir uma maior, mais flexível e contí-nua colaboração entre empregados e máquinas, que possa resultar em tanto maior produtividade quanto maior qualidade dos produtos.
Felizmente, como assinala a Accenture5, não se espera que as companhias tenham todas ou mesmo a maioria destas capacidades in-house. Algumas têm, mas controles de automação de classe mundial, software e sensores, soluções de analítica e de PLM são todos disponíveis na base de um modelo “sob-demanda” denomina-
5. Disponível em www.accenture.com/us-en/insight-digital-industry-solutions.
20 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
do “As-a-Service” (“Como um Serviço”). Observar a “grande cena”, capacitan-do todo o ecossistema e trazendo tudo junto pode ser também um esforço colaborativo, um esforço desenvolvido por executi-vos da companhia trazendo discernimentos do pro-duto e dos consumidores junto com a expertise de processo e de tecnologia de especialistas externos à in-dústria, oriundos do espaço da Internet Industrial das Coisas (Industrial Internet
of Things - IIoT ), conceito popularizado pela empresa General Electric - GE6.
A oportunidade de criar novos, e inovadores, mo-
delos de negócios é certamente rara, o que torna a transformação de uma indústria tradicional em uma indústria digital algo excitante e assustador. E ainda, essa era digital oferece um mundo de opor-tunidades para aqueles que desejam conformá-la.
B - PLM - PRODUCT LIFECYCLE MANAGEMENT (GESTÃO DO CICLO DE VIDA DO PRODUTO)
Os fornecedores de software e serviços de Product
Lifecycle Management - PLM oferecem uma gama de serviços que cobrem a cadeia de valor de produto de ponta-a-ponta de uma ideia até o desenvolvimento do produto para sua manufatu-ra, e suporte de produto no mercado. Os serviços permitem que empresas fornecedoras de software ajudem seus clientes a criarem novas modelos de negócios geradores de receitas para projetarem operações eficientes de manufatura que podem entregar inovação de valor para o mercado a bai-
xos custos. De certa forma, as empresas fornece-doras fazem parcerias com clientes para explorar o valor da Industrial Internet of Things - IIoT como uma nova vantagem competitiva.
C - ANALÍTICA
A emergência da Indústria X.0 (tal como a Accen-ture conceitua) e da IIoT – baseada em comunica-ção máquina-a-máquina (M2M) e capacitada por uma web global de sensores – juntas com a rápida maturação da analítica de big data (para maiores detalhes sobre os conceitos de analítica e big data, ver Cavalcanti, 2016) - significa que a manufatura parece e se sente muito diferente hoje do que mesmo uma década atrás, e os produtos também parecem diferentes. Investimentos anteriores em informação e tecnologia operacional centraliza-vam dados, mas as companhias eram incapazes de materializar o potencial pleno deles.
As novas tecnologias podem ser usadas para reformatar os atuais modelos de negócios ou criar novos negócios inteiramente uma vez que um produto ou ativo físico é desenvolvido, e começa a gerar dados e é conectado a uma rede.
Imagine-se produtos que possam transmitir saúde, localização, desempenho e condição. Um industrial que não preenche estes dados para entender como seus produtos são usados, ou se comportam, irá estar em desvantagem em relação àqueles que estão aptos a empacotar estes discer-nimentos para os consumidores.
D - AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
Companhias industriais precisam maximizar o retorno nos seus investimentos em software industrial e automação porque elas estão inves-tindo pesadamente nestas áreas para melhorar a eficiência e flexibilidade dos seus processos e soluções, e estão levando produtos ao mercado mais rápida e mais eficientemente.
6. Disponível em: <http://www.creativante.com/new/index.php/2013-02-03-19-36-05/2013-02-04-18-19-49/185-a-inter-net-industrial-uma-grande-oportunidade>.
A OPORTUNIDADE
DE CRIAR NOVOS,
E INOVADORES,
MODELOS DE
NEGÓCIOS É
CERTAMENTE RARA,
O QUE TORNA A
TRANSFORMAÇÃO
DE UMA INDÚSTRIA
TRADICIONAL EM
UMA INDÚSTRIA
DIGITAL ALGO
EXCITANTE E
ASSUSTADOR
21CAPÍTULO 02 | INDÚSTRIA 4.0 E SUAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
Empresas de software e serviço usam suas habilidades para ajudar as companhias industriais nesta direção. Elas oferecem serviços para embedded software (visto mais à frente) que é amplamente usado em equipamento industrial e médico, automotivo, construções, logística e indústrias de transporte.
O software industrial é incorporado em máquinas, ferramentas e dispositivos conectados e pode melhorar a eficiência de processo e flexibilidade ao transfor-mar processos centrais em áreas tais como manufatura para fazer operações mais rápidas, inteligentes e mais adaptáveis.
A automação industrial oferece um portfólio de serviços de integração de sistemas para criação de processos automatizados e linhas de produção. Três principais áreas têm sido identificadas para dar suporte à companhias industriais: automação de fábricas, automação de processos e automação de laboratórios.
1 Serviços de projeto de automação de fábricas, construção e implantação de plantas de maquinários para linhas automatizadas de produção: As tecnolo-gias chave são Simatic IT HistorianSIMATIC TIA portal STEP 7 (V11-V12), WinCC, PCS7, MS-SQL, Oracle, ASP.net.
2 A automação de processos antecipa a adaptação das necessidades do controle de processo de diferentes sistemas tecnológicos. As tecnologias chave são SIMATIC TIA portal STEP 7 (V11-V12), WinCC, PCS7, MS-SQL, Oracle, ASP.net.
3 A automação de laboratórios provê suporte para desenvolver, integrar e customizar soluções específicas de software, tais como Siemens SIMATIC IT Unilab.
E - EMBEDDED SOFTWARE (SOFTWARE INCORPORADO)
Criar software incorporado para produtos no processo de desenvolvimento é essencial para guiar suas conectividades e inteligência para a Indústria 4.0 e para a IIoT. Isso requer tanto know-how de software e engenharia, quanto me-cânica e eletrônica, de forma a entender como o produto funciona e desenvolve o software de acordo.
Empresas de software industrial têm um papel no ecossistema industrial e podem ajudar os clientes a perseguirem novas oportunidades enquanto geren-ciam demandas atuais. Ao ajudarem no uso de software industrial e na manufa-tura digital a operarem negócios mais eficientemente, tais empresas permitem que seus clientes foquem em fortalecer inovação e automação. Os serviços prestados são organizados para oferecer uma solução ponta-a-ponta ou a acompanhar um simples elemento de um ecossistema industrial do cliente. A pré-integração com provedores industriais permite aos clientes implementarem soluções ao longo de plataformas (conceito visto mais à frente na seção oito) com grande velocidade e risco reduzido;
22 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
F - TUDO “AS A SERVICE” (COMO UM SERVIÇO)
A Indústria 4.0 sinaliza uma transição para mo-delos de negócios onde produtos intensivos em capital são vendidos como serviço. À medida que dispositivos industriais se tornam mais inteligen-tes e conectados, eles produzem grandes quanti-dades de dados. Estes dados podem formar a base de um completo leque de modelos de negócios baseados em serviço e novos dados. Para tornar isso possível, infraestruturas digitais e serviços necessitam ser desenvolvidas, as quais podem ser reconfiguradas em diferentes combinações para gerar novas cadeias de valor e redes.
As empresas de software e serviços podem ajudar os negócios a gerenciarem a transição de um foco em produtos para novos modelos de negócios baseados em serviços. Elas dão aos negócios uma vantagem competitiva ao juntar, analisar e interpretar acuradamente largos volumes de dados gerados pelo uso dos seus produtos. Por exemplo, a conectividade e os dispositivos inteligentes capacitaram o produtor de pneus Michelin a mudar completamente seu negócio para um baseado não em vender pneus, mas em prover mobilidade e segurança de pneus--como-um-serviço. Com sensores e inteligência incorporado aos pneus, o desempenho dos pneus é monitorado com uma rede de suporte disponível para assegurar que problemas possam ser endereçados. Manutenção preditiva asse-gura que caminhões operem tão custo-efetivo e seguro quanto possível, e com reduzidas paradas.
Tudo como um serviço está se tornando o para-digma onde combinações de produtos e serviços não serão mais adquiridos como propriedade. Ao
invés, eles serão simplesmente usados flexivel-mente como um serviço quando requerido.
Empresas de software e serviços podem criar plataformas de serviços (ver seção oito à frente) que são requisitos fundamentais para a formação e organização de ecossistemas digitais. Estes conectam diferentes fornecedores de produtos e ofertantes de serviços, permitindo completa-mente novos serviços serem colocados juntos. Eles são construídos em plataformas definidas por software que permitem sistemas cyber-físicos e produtos capacitados digitalmente a conectarem uns aos outros e trocarem dados. Ao conectá-los dessa foram, as empresas de software preenchem um hiato entre os mundos real e digital.
Plataformas de colaboração virtual têm como propósito aumentar a eficiência dos ecossistemas enquanto oferecem um ambiente de aprendizado para desenvolvimento de novas soluções. Cien-tistas de dados e especialistas técnicos capacitam companhias a achar novas soluções e a entrega--las como serviços. Isso ajuda a guiar um processo contínuo de melhoria que emprega dados de usuário e de operador a gerar novo conhecimento através do completo ciclo de vida do produto.
Para as plataformas de serviços se estabele-cerem, elas devem ser fáceis de acessar. As empresas de software e serviços podem criar plataformas de serviços capacitados por apli-cações que facilmente integrem os mundos de serviços digital e real. Usuários potenciais podem obter acesso aos serviços que os interessam via app stores (armazéns de aplicações), e podem empregar mobile apps para configurar direta-mente o conteúdo e especificação dos serviços a qualquer hora, de qualquer lugar.
23CAPÍTULO 02 | INDÚSTRIA 4.0 E SUAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
24 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
03
25RESUMO EXECUTIVO
Desafios e Oportunidades para o Setor de Software Industrial no Brasil no Contexto da Indústria 4.0
26 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
03. Desafios e Oportunidades para o Setor de Software Industrial no Brasil no Contexto da Indústria 4.0
AntecedentesA emergência da Indústria 4.0 pode ser caracterizada como estando associada a três movimentos globais que surgiram quase que simul-taneamente nos anos recentes em três importantes países, a saber: a Alemanha, os Estados Unidos da América e a China.
Percebendo a trajetória de decréscimo nas taxas da produtividade de sua economia, o governo da Alemanha visualizou que mantida essa traje-tória, a indústria manufatureira alemã entraria rapidamente em colapso. Foi neste sentido que em 2011 estabeleceu a iniciativa denominada Industry 4.07, cujo coração é a manufatura inteligente, i.e., aplicar as ferramentas das TICs na produção.
Os EUA lançaram, também em 2011, a iniciativa denominada Advan-
ced Manufacturing Partnership – AMP8, iniciativa aliada às medidas de reindustrialização desenvolvidas na primeira década deste século naquela economia. Finalmente, em 2015 o governo da China lançou o
7. Ver referências em: http://bit.ly/2qLmJ5S.
8. Referências em: http://bit.ly/2qLmJ5S.
27CAPÍTULO 03 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO BRASIL NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0
seu plano Made in China, uma iniciativa começa-da em 2013 para avançar, de forma compreensi-va, a indústria chinesa9.
E como o Brasil se posiciona diante dessas iniciati-vas? Infelizmente o Brasil ainda não detém uma ini-ciativa à altura dessas três acima relatadas. E isso se dá num contexto de grave crise da indústria nacional.
Segundo trabalho de técnicos do BNDES recente-mente resenhado pela empresa Creativante10:
A indústria brasileira está em crise. A produção industrial encontra-se em patamar equivalente ao obser-vado em janeiro de 2004. Trata-se, portanto, de mais uma década per-dida. Se confirmadas as atuais ex-pectativas de mercado para o cres-cimento industrial até 2021, ainda assim não será possível recuperar o tempo perdido.
Os representantes da indústria nacional têm se posicionado de forma discreta em relação tanto ao contexto da emergente Indústria 4.0 quanto da crise da indústria nacional. Em documento publicado em 2016, intitulado “Desafios para Indústria 4.0 no Brasil”, a Confederação Nacio-nal da Indústria - CNI reconhece a importância
dos desafios dessa nova etapa da indústria, seus impactos, mas apresenta uma agenda bastante tímida para o desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil, que, em suas dimensões prioritárias seriam: i) aplicações nas cadeias produtivas e desenvol-vimento de fornecedores; ii) mecanismos para induzir a adoção das novas tecnologias; iii) desen-volvimento tecnológico; iv) ampliação e melhoria da infraestrutura de banda larga; v) aspectos regulatórios; vi) formação de recursos humanos; e vii) articulação institucional.
O governo federal do Brasil, através de um Grupo de Trabalho criado pela Portaria N° 842/2017, lançou uma consulta pública em meados de 2017 para discussão pública sobre uma “Estratégia Brasileira para a Transformação Digital”. O docu-mento trata de vários aspectos relacionados com a temática deste relatório, dentre os quais o que denomina de “Manufatura 4.0”. No entanto, ainda é um documento em discussão.
Em parte, pode-se atribuir este caráter de timidez na proposição de políticas por parte dos represen-tantes da indústria e do governo pela atual lacuna de perspectivas para a consolidação de uma política industrial, bem como pelos resultados mal logrados que se estabeleceram na história econô-mica recente do país com tentativas de implemen-tação de políticas industriais.
Breve Histórico do Desenvolvimento Industrial do BrasilDesde o final da II Guerra Mundial o Brasil atravessou três grandes fases de desenvolvimen-to industrial com correspondentes regimes de políticas. A primeira onda durou até os anos 1980 e foi caracterizada pelo extensivo planejamento
indicativo estatal em área de desenvolvimento setorial (e.g., aço, petroquímica, e políticas de combustíveis renováveis) e proteção comercial (e.g., tarifas ad valorem - sobre o valor da merca-doria e lei de similares).
9. Referências em: http://bit.ly/2qLmJ5S.
10. Ver referência em: http://bit.ly/2vQL4Zs.
28 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
Durante os anos 1980s e 1990s a crise da dívida forçou os governos brasileiros a reduzirem suas intervenções de políticas industriais em favor de políticas de ajustes estruturais e de estabilização macroeconômicas (o Plano Real é o mais repre-sentativo desse período). Durante essa segunda fase, o número de regimes especiais de comércio e de impostos tarifários foi reduzido, e significati-vo número de empresas públicas foi privatizado. Esse período coincide também com a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, que promoveu um número de políticas de inovação, mas somente na segunda metade dos anos 1990s, tais como os Fundos Setoriais, Lei e Inovação, Lei do Bem, etc.
A terceira fase do desenvolvimento industrial e de políticas correspondentes começou em 2003, com a criação de várias políticas que se materia-lizaram até bem recentemente, a saber: Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior –
PITCE (entre 2003 e 2006); o Plano de Desen-volvimento Produtivo – PDP (de 2007 a 2010); Plano Brasil Maior (de 2011 a 2014); e Brasil Mais Produtivo (de 2015 em diante).
O que se pode resumir deste breve histórico é que as iniciativas recentes não foram capazes de atenuar a trajetória de diminuição da participação relativa da indústria nacional no Produto Interno Bruto - PIB do país (bem como do emprego da indústria no emprego total), fenômeno que é internacionalmente denominado de “desindus-trialização” (Figura 3.2.1), tampouco reverter a tendência que alguns especialistas chamam de “especialização regressiva” da economia brasileira, já que a mesma vem concentrando suas vendas externas no que esses autores denominam de “produtos considerados de baixo valor agregado e baixa intensidade tecnológica”11.
FIGURA 3.2.1
PARTICIPAÇÃO DO VALOR ADICIONADO DO SETOR MANUFATUREIRO NO PIB TOTAL A PREÇOS DE 1995, E SEU
EMPREGO NO EMPREGO TOTAL - ANOS SELECIONADOS (EM PERCENTAGEM)
Fonte: Nassif et. ali. (2017).
11. Ver referências em: http://bit.ly/2hGbBXc.
5
0
10
15
20
25
20,5
SHARE OF EMPLOYMENT IN THE MANUFACTURING SECTOR IN TOTAL EMPLOYMENT
SHARE OF THE MANUFACTURING SECTOR IN TOTAL VALUE ADDED (AT CONSTANT PRICES)
21,0 21,6
18,1
15,1
10,7
15,3
11,5 11,812,7
11,7
1980 1990 2000 2005 2010 2014 1st Sem 20151970
13,9
29CAPÍTULO 03 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO BRASIL NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0
A partir do trabalho de André Nassif, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Carmen Feijó, intitulado The
case of reindustrialisation in developing countries:
towards the connection between the macroecono-
mic regime and the industrial policy in Brazil, publi-cado no Cambridge Journal of Economics, 2017 [doravante Nassif et. ali. (2017)], é possível en-contrar na Tabela 3.2.1 à frente o que os autores chamam “aguda primarização das exportações brasileiras nas últimas décadas”. Como observa-do na tabela, entre 2000 e 2004 a participação dos produtos primários somados aos produtos manufaturados baseados em recursos naturais
(commodities industriais) aumentou de 40,3% para 62,5%. No mesmo período, houve uma sig-nificativa queda na participação exportações de ambos setores baseados em engenharia-ciência--e-conhecimento e de manufaturados intensivos em escala (de 32,2% para 23,2%).
A Tabela 3.2.1 também confirma que apesar do Brasil mostrar coeficientes de adaptação à eco-nomia mundial acima de 1 (um) para a o grupo de manufaturados intensivos em escala, os maiores coeficientes são relacionados aos bens primários e baseados em recursos naturais.
TABELA 3.2.1
COMPOSIÇÃO DAS EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE ACORDO COM O FATOR DE INTENSIDADE
E SOFISTICAÇÃO TECNOLÓGICA (EM PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL) E COEFICIENTE DE ADAPTAÇÃO DAS
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS À DEMANDA MUNDIAL
2000 2005 2010 2014
BRAZILIAN EXPORTS CLASSIFIED ACCORDING TO FACTOR
INTENSITY AND TECHNOLOGICAL SOPHISTICATION
PRIMARY PRODUCTS 8.0 7.7 10.5 16.4
NATURAL-RESOURCES-BASED MANUFACTURED GOODS
32.3 37.1 50.4 46.1
LABOUR-INTENSIVE MANUFACTURED GOODS
8.8 6.9 4.3 4.4
SCALE- INTENSIVE MAUFACTURED GOODS 32.2 33.3 25.0 23.2
SCIENCE-ENGINEERING-AND-KNOWLEDGE-BASED MANUFACTURED GOODS
18.7 15.0 9.8 9.9
TOTAL 100.0 100.0 100.0 100.0
WORLD IMPORTS CLASSIFIED ACCORDING TO FACTOR
INTENSITY AND TECHNOLOGICAL SOPHISTICATION
PRIMARY PRODUCTS 6.9 6.8 8.1 8.2
NATURAL-RESOURCES-BASED MANUFACTURED GOODS
12.1 14.8 16.1 17.2
LABOUR-INTENSIVE MANUFACTURED GOODS
8.1 7.3 6.6 6.7
SCALE- INTENSIVE MAUFACTURED GOODS 16.5 18.4 17.7 17.8
SCIENCE-ENGINEERING-AND-KNOWLEDGE-BASED MANUFACTURED GOODS
56.4 52.7 51.6 50.2
TOTAL 100.0 100.0 100.0 100.0
30 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
Uma tendência natural de alguns autores é inferir que, à luz do quadro de “primarização” acima descrito, a primeira conclusão a ser estabe-lecida seria que para “reverter a atual tendência de especialização regressiva, o país deveria adotar uma política industrial que priorize a diversificação de sua cesta de exportações em direção a um grupo de manufatura tecnologicamente mais sofisticado” (NASSIF et. ali., 2017).
No entanto, enquanto os autores acima percebem a questão da “pri-marização” como um problema, é possível avaliar que tal fenômeno representa uma oportunidade para o setor de TICs brasileiro (e de software em particular). E uma explicação para este argumento pode ser encontrada no item a seguir sobre a evolução do setor de TICs do Brasil.
Finalmente, é importante lembrar um aspecto que é fundamental em processos recentes de reindustrialização, como aqueles que estão ocorrendo em países desenvolvidos, como os EUA. De acordo com Gary P. Pisano e Willy C. Shih, em seu livro de 2012, intitulado Produ-
cing Prosperity: Why America Needs A Manufacturing Renaissance, pela Harvard Business Review Press, os processos de renovação indus-trial devem contemplar políticas para os setores onde a manufatura
industrial é parte integral do processo de inovação. E isso depende do conceito de grau de modularidade dos processos industriais (ou seja, da habilidade dos investimentos em Pesquisa e Desenvolvi-
mento - P&D e da manufatura industrial operarem independente-mente um do outro), e do conceito de maturidade da tecnologia do
processamento manufatureiro.
Fonte: Nassif et. ali. (2017).
2000 2005 2010 2014
COEFFICIENT OF ADAPTATION OF THE BRAZILIAN
EXPORTS TO THE WORLD DEMAND
FOR IMPORTS
PRIMARY PRODUCTS 1.16 1.12 1.30 1.99
NATURAL-RESOURCES-BASED MANUFACTURED GOODS
2.66 2.51 3.13 2.69
LABOUR-INTENSIVE MANUFACTURED GOODS
1.09 0.93 0.65 0.66
SCALE- INTENSIVE MAUFACTURED GOODS 1.95 1.81 1.41 1.31
SCIENCE-ENGINEERING-AND-KNOWLEDGE-BASED MANUFACTURED GOODS
0.33 0.29 0.19 0.19
31CAPÍTULO 03 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO BRASIL NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0
Breve Histórico do Setor de TICs no Brasil e o Grande Desafio de sua Inserção no Desenvolvimento IndustrialUm breve relato do que representou a evolução histórica do setor de TICs no Brasil foi produzido recentemente por Ezequiel Zylberberg, intitulado Redifining Brazil´s Role in Information and Commu-
nication Technology Global Value Chains. MIT/IPC Working Paper 16-003, June 2016, [doravante Zylberberg (2016)]. Segundo este autor:
... o setor de TICs do Brasil é um produto de uma longa história da industrialização via substituição de importações que começou nos anos 1970 e continuou até os dias atuais. Enquanto o regime de política indus-trial se afastou da meta de construir uma indústria nacional, verticalmen-te integrada, vestígios das aspirações passadas permanecem profunda-mente incorporadas na estrutura industrial do país até hoje.
O Brasil participa em quase todos os segmentos da agora dispersa e fragmentada cadeia global de valor (GVC - Global Value Chain, em in-glês), do projeto de semicondutores e fabricação, até a montagem final e logística reversa. No entanto, seu amplo engajamento tem sido raso – o país ainda tem que adentrar em funções mais complexas ou de maior valor adicionado em qualquer seg-
mento desta indústria global. Seja em hardware, software ou serviços, a indústria depende fortemente de importações, e a maior parte da produção doméstica é dirigida em direção ao mercado local. Décadas de crescimento insular, possibilita-das pelo amplo e dinâmico mercado do país, embotaram a motivação para as empresas locais competirem internacionalmente ao investirem em inovação.
O que este breve relato demonstra é que o Brasil, no que diz respeito ao desempenho de sua indús-tria de TICs, apesar de sua Lei de Informática [um dos mais importantes instrumentos de apoio governamental a esta indústria (no Apêndice I deste documento é dada uma breve visão geral do que representa a indústria de TICs no mundo e no Brasil, e no Apêndice II é feita uma breve descrição do que é essa lei)], seja em sua versão antiga (Lei N° 7.232, de 29/10/1984), seja na nova versão (Lei N° 8.248, de 23/10/1991) – e nas suas alterações subsequentes (Lei N° 10.176, de 11/01/2001; Lei N° 11.077, de 30/12/2004; e Lei N° 13.023, de 08/08/2014), bem como de suas políticas industriais complementares, foi incapaz, ao longo dos anos, de conquistar a com-petitividade desejada neste setor desde que esta lei foi idealizada na década de 1980.
32 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
A Tabela 3.3.1 dá um indicativo da trajetória do setor industrial de TICs na balança comercial do Brasil. Como pode ser visto na tabela, dentro do componente de bens manufaturados baseados
em ciência-engenharia-e-conhecimento, o seg-mento de materiais eletrônicos, equipamentos
de computação e produtos ópticos detinha um déficit na balança comercial entre o ano 2000 e o ano 2004 de US$ - 5.848,7 milhões, e este déficit aumentou, entre os anos de 2011 e 2014 para US$ - 24.988,9 milhões, ou seja, um incremento de 327% no período.
TABELA 3.3.1
BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA ANUAL POR GRUPOS DE PRODUTOS: 2000-2014 (EM MILHÕES DE US$)
Fonte: Nassif et. al. (2017).
MANUFACTURING PRODUCTS 2000-2004
2005-2010
2011-2014
2000-2014NATURAL-RESOURCES-BASED
MINERAL EXTRACTION 2813.9 12479.7 30955.1 14184.5
OIL EXTRACTION AND NATURAL GAS -2938.6 -2706.9 -2371.2 -2694.6
FOOD 10163.9 25447.0 37052.1 23447.3
BEVERAGES AND TOBACCO 904.4 1852.8 2139.9 1613.3
WOOD PRODUCTS 1895.1 2533.9 1833.0 2134.1
PAPER, CELLULOSE AND PAPER PRODUCTS 1657.1 3458.9 4868.1 3234.1
NON-FERROUS METALS 620.1 360.5 -312.0 507.7
SUM 15116.0 44026.0 74165.1 42426.4
LABOUR- INTENSIVETEXTILE 350.4 -129.9 -1171.8 -247.6
CLOTHING 162.2 -331.7 -2058.0 -627.4
FOOTWEAR AND LEATHER MANUFACTURES 2485.1 3076.4 2557.5 2741.0
METAL PRODUCTS -93.9 -518.6 -2208.1 -827.6
FURNITURE 530.5 651.7 117.9 468.9
SUM 3434.3 2747.9 -2762.6 1507.2
SCALE-INTENSIVECHEMICALS, PHARMACEUTICAL AND PETROLEUM REFINING -8952.0 -18739.5 -44998.0 -22479.3
RUBBER AND PLASTIC PRODUCTS -238.2 -779.5 -3049.4 -1204.4
IRON AND STEAL 5282.1 9528.5 9738.4 8169.0
MOTOR VEHICLES 4538.1 3734.5 -6984.7 1143.9
SUM 630.0 -6256.0 -45293.7 -14370.7
SCIENCE-ENGINEERING-AND-KNOWLEDGE-BASEDMACHINERY AND EQUIPMENT -2356.6 -5534.3 -14467.6 -6857.3
ELECTRICAL MACHINERY -1566.6 -1707.2 -5962.4 -2795.1
ELECTRONIC MATERIAL, COMPUTER EQUIPMENT AND OPTICAL PRODUCTS -5848.7 -14404.8 -24988.9 -14375.2
OTHER VEHICLES 1763.6 1104.7 1979.2 1557.6
SUM -8008.2 -20541.6 -43439.6 -22469.9
SUBTOTAL 11172.0 19976.3 -17330.8 7093.0
AGRICULTURAL PRODUCTS, FISHERY AND FORESTRY PRODUCTS 4283.2 12172.2 28533.8 13905.6
NON-CLASSIFIED -681.5 1485.9 681.6 549.0
TOTAL 14773.7 33634.4 11884.7 21547.6
33CAPÍTULO 03 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO BRASIL NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0
Mas qual seria então a explicação para este fato do setor de TICs apresentar um desempenho competitivo tão frágil? Uma parte da explicação pode residir na arquitetura de modelagem da Lei de Informática, particularmente a partir do seu formato novo, com a Lei N° 8.248, de 23/10/1991. O escopo da Lei foi de-masiadamente estreito, uma vez que privilegiou parte das empresas do merca-do global de TICs, ou seja, beneficiou preponderantemente produtores de TICs (ignorando as empresas usuárias de TICs), e, de forma mais significativa, os produtores estrangeiros. E dentro destes, atentou mais especificamente para as empresas produtoras de hardware (em detrimento das empresas produtoras de software e serviços complementares).
Outra parte da explicação, ainda dentro da arquitetura da Lei, pode ser encon-trada no perfil do investimento em P&D que a Lei estabeleceu para a concessão de seus benefícios. De acordo com alguns pesquisadores de centros de inova-ção públicos e privados no Brasil (entrevistados pela FGV), a Lei de Informática concentrou esforços na etapa de desenvolvimento do processo de inovação tecnológica das empresas beneficiárias, marcadamente no desenvolvimento de soluções de empresas de hardware estrangeiras, aquelas com maior poder de fogo (em termos de tamanho dos projetos) no âmbito da Lei. Segundo os entre-vistados, tanto a Lei quanto outros instrumentos de política pública não constitu-íram incentivos para o desenvolvimento das fases de identificação do problema e de concepção de soluções no processo de inovação tecnológica, a etapa onde a inovação se torna estratégica e adiciona mais valor.
Apesar de meritória, esta observação dos entrevistados reforça a ideia de que, principalmente em relação às empresas estrangeiras, não interessaria (a tais empresas) “entregar” essas etapas de identificação do problema e de concepção de soluções aos centros de P&D brasileiros porque elas fazem parte da core business strategy dessas mesmas empresas, e que “ceder” a parte de desenvolvimento representaria apenas uma estra-tégia de “barateamento” dessa etapa a partir de centros brasileiros de renomada qualidade, dentro de uma estratégia maior da atual tax competition no mercado global de P&D.
Este diagnóstico reforça a ideia de que as em-presas multinacionais estão se valendo hoje de estratégias de competição que também levem em conta diferenciais competitivos que podem ser conquistados a partir de benefícios tributários que determinados países possam oferecer a estas empresas para que as mesmas estabeleçam suas filiais (e processos) nos seus territórios.
O ESCOPO DA LEI FOI
DEMASIADAMENTE ESTREITO,
UMA VEZ QUE PRIVILEGIOU
PARTE DAS EMPRESAS DO
MERCADO GLOBAL DE
TICS, OU SEJA, BENEFICIOU
PREPONDERANTEMENTE
PRODUTORES DE TICS
(IGNORANDO AS EMPRESAS
USUÁRIAS DE TICS)
34 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
04
35RESUMO EXECUTIVO
Oportunidades para a Construção de uma Nova Estratégia Nacional para o Setor de TICs
36 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
04. Oportunidades para a Construção de uma Nova Estratégia Nacional para o Setor de TICs
Como visto no item anterior, apesar do Brasil ter constituí-do (através da Lei de Informática) uma política pública, que também é uma política industrial, para o setor de TICs, o país não conseguiu desenvolver um setor que contribuísse para incrementar a sua competitividade, apesar de ter ajudado a desenvolver um mercado nada desprezível, de cerca de US$ 155 bilhões (valores de 2015), que representa 4,5% da indústria de TICs global (para maiores informações consultar o Apêndice I deste relatório).
Diante do enorme desafio de uma indústria nacional que está perdendo pujança relativa, que está conformando um quadro de uma economia com um perfil que vem sendo
denominado de especialização regressiva, com um setor de TICs que vem apre-sentando déficits crescentes na sua balança comercial, impactando negativa-mente na competitividade nacional, qual seria então um novo papel do setor de TICs, e de forma particular o seu segmento de software (e especificamente o de software industrial)?
Para que seja enfrentado este grande desafio, faz-se necessário desenhar uma Nova Estratégia Nacional para o Setor de TICs. Essa estratégia parte de uma premissa cen-tral, a qual se contrapõe a uma visão estabelecida na Economia do Desenvolvimento.
PARA QUE SEJA
ENFRENTADO ESTE
GRANDE DESAFIO,
FAZ-SE NECESSÁRIO
DESENHAR UMA
NOVA ESTRATÉGIA
NACIONAL PARA O
SETOR DE TICS
37CAPÍTULO 04 | OPORTUNIDADES PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ESTRATÉGIA NACIONAL PARA O SETOR DE TICS
A Economia do Desenvolvimento tradicional-mente enxerga a produção de commodities, particularmente petróleo e gás (P&G), como uma atividade de limitado potencial para “elos para trás” (backward linkages), e para desenvolvimento industrial e inovação12.
Esta visão se coloca em visível contraste com a realidade de empresas como, por exemplo, as da indústria de P&G, a qual tem uma cadeia de valor complexa, global e de multi-camadas, e é intensi-va em P&D e inovação, particularmente à medida que as empresas de petróleo desenvolvem recursos mais desafiadores tais como pesquisas offshore em águas profundas e em reservatórios não convencionais (OLIVEIRA, 2016).
Esta premissa vista de um novo ângulo, ou seja, o de enxergar as “commodities” com “um novo olhar”, é aquela que hoje pode ser estendida aos produtos naturais (natural products) em geral e aos produtos manufaturados baseados em recursos naturais (manufacturing products natural resources-based). Tal premissa faz parte da essência da nova tese que vem sendo recentemente defendida, entre alguns profissionais, pela especialista em tecnologia e inovação, e internacionalmente reconhecida, Profª. Carlota Perez13. Este relatório contém um apêndice, Apêndice III, a respeito de uma importante contri-buição da Profª. Perez.
A Profª. Perez tem argumentado que as razões para não ver as indústrias de recursos naturais entre aquelas com altas oportunidades para a maior parte do século 21 são largamente históri-cas, e que o contexto mudou significativamente.
Segundo ela, as TICs, juntamente com o paradig-ma tecno-econômico (termo por ela estabeleci-do) que se desenvolveu como o caminho ótimo para usar seus potenciais (das TICs) ao máximo, estão mudando o espaço de oportunidade para inovação nos recursos naturais, que aumentam o
dinamismo tecnológico na rede completa de ativi-dades, upstream e downstream, do investimento inicial e exploração até o uso final.
Para ela, tomados em isolado, os dotes dos países em recursos ou capacidades são insufi-cientes. O que é crucial entender no contexto contemporâneo dos recursos naturais é a importância que as redes (particularmente as redes capacitadoras de TICs) desempenham no desenvolvimento.
Sendo assim, a Profa. Perez defende a necessi-dade de se estabelecer duas políticas comple-mentares e simultâneas: uma é a de um enfo-que top-down com o objetivo de crescimento econômico e posicionamento global, e a outra é uma estratégia bottom-up para assegurar o pleno emprego e o bem-estar para todos.
E como essa premissa/argumento se manifes-taria em uma nova política para o setor de TICs nacional? Em primeiro lugar, seria importante dar um nome à essa nova estratégia. Sendo assim, para fazer face ao slogan “Industry 4.0”, que se tornou uma marca da nova estraté-gia industrial dos países desenvolvidos, seria interessante o Brasil protagonizar no mundo a iniciativa denominada:
“Green Industry 4.0”Tomando emprestado o termo criado pela United Nations Industrial Development Organization - UNIDO, um organismo das Nações Unidas (https://www.unido.org/greenindustry/green-industry-i-nitiative.html), que significa colocar o desenvolvi-mento industrial sustentável no contexto dos novos desafios do novo desenvolvimento sustentável global, esta iniciativa seria a marca do processo de “renascença” da indústria no Brasil numa estratégia de levar sua indústria a um novo patamar (trazendo
12. Hirschman, 1958; Prebish, 1950, em Renato Lima de Oliveira, intitulado “Resource-Led Industrial Development in the Oil & Gas Supply Chain: The Case of Brazil “. MIT-IPC Working Paper 16-002, june, doravante Oliveira (2016).
13. Para maiores referências, ver página da Professora na web: http://www.carlotaperez.org.
38 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
para ela o estado da arte das TICs, daí o 4.0), só que agora (em forte contraste com o processo histórico de industrialização no país que degradou em muito a natureza) se baseando no desenvolvimento de um dos mais importantes dos seus ativos: seus recursos naturais!
Para tanto, o objetivo central da iniciativa seria duplo: inicialmente, uma pri-meira etapa seria levar o estado da arte das TICs para as indústrias ligadas aos recursos naturais do país e do mundo. Ou seja, levar, de forma radical, as atuais tecnologias, processos e modelos de negócio do mundo digital para os segmentos econômicos dos recursos naturais e dos produtos manufaturados baseados em recursos naturais.
Do ponto de vista da contabilidade nacional, seria levar as novas TICs aos setores da Tabela 3.3.1 denominados manufacting products natural-resources-based, labour intensive e agricultural products, fischery e forestry products, setores esses que historicamente vêm alcançando crescentes superávits na balança comercial (ou seja, são competitivos internacionalmente), e são setores que podem ser ala-vancados ainda mais, no mercado global, através do setor de TICs nacional, apoiado pelos ecossistemas de inovação que foram constituídos no âmbito do desenvolvi-mento da Lei de Informática no país.
Uma segunda etapa da iniciativa seria utilizar os recursos oriundos/gerados dos produ-tos, tecnologias, processos da primeira fase para tentar reverter o déficit histórico na balança comercial do setor baseado em ciência-engenharia-e-conhecimento, particu-larmente aquele vinculado ao setor de TICs, como pode ser observado na Tabela 3.3.1 deste relatório. A depender do sucesso da iniciativa na sua primeira fase, nada impede que haja simultaneidade de desenvolvimento da segunda fase.
Esse duplo objetivo pode ser materializado tanto no âmbito da atual Lei de Informática (ampliando seu escopo, para atender não somente os produtores de hardware, mas também software, serviços relacionados, e serviços de telecomunicações, bem como abrangência, ao incluir também os usuários de TICs) quanto fora do seu âmbito, caso seja entendido que ela, tal como foi concebida e como se desenvolveu, não atende mais aos objetivos dessa nova estratégia.
Finalmente, é importante assinalar que o espírito desta iniciativa já vem, de alguma forma, se delineando em iniciativas isoladas, mas que mesmo que não partam da mesma premissa, levam ao mesmo foco, como a Estratégia Nacional de IoT, prota-gonizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, e que vem sendo executada pelo consórcio liderado pela empresa McKinsey.
De acordo com um dos relatórios deste consórcio, o mesmo escolheu três frentes prioritárias e uma frente mobilizadora para o desenvolvimento da Internet das Coisas (Internet of Things – IoT) no Brasil. E, nestas três frentes, a da frente rural é aquela que converge para a questão dos recursos naturais como aqui defendido (Figura 4.1).
39CAPÍTULO 04 | OPORTUNIDADES PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ESTRATÉGIA NACIONAL PARA O SETOR DE TICS
FIGURA 4.1
FRENTES PRIORITÁRIAS E FRENTE MOBILIZADORA DE IOT PARA MANUFATURA
Fonte: McKinsey (2017).
DE
MA
ND
A
CAPACIDADE DE DESENVOLVIMENTO--
+
+
CASAS
INDÚSTRIAS DE BASE
LOGÍSTICA
LOJAS
VEÍCULOS
FÁBRICAS
CIDADES
SAÚDE
RURAL
IoT para manufatura
ESCRITÓRIOS
FRENTE PRIORITÁRIA FRENTE MOBILIZADORA
A MATRIZ DE PRIORIZAÇÃO DESTACOU TRÊS FRENTES PRIORITÁRIAS E UMA FRENTE MOBILIZADORA DENTRO DE IOT PARA MANUFATURA
Demanda x Capacidade de desenvolvimento x Oferta (tamanho do círculo)
40 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
05
41RESUMO EXECUTIVO
Oportunidades para Alavancar os Ecossistemas de Inovação de/com TICs
42 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
O diagnóstico do “fracasso” relativo do setor de TICs no âmbito da competi-tividade deve ser visto, no entanto, com cautela. A competição na economia acontece em dois níveis. A mais visível é a dos mercados de produtos em que as empresas competem. Uma segunda, e menos visível camada em que a competi-ção nacional ocorre, é a de mercados de fatores-insumos, que ofertam trabalho, capital e outros recursos necessários para operar. O mais importante destes mercados (para os propósitos da prosperidade social) é o mercado de trabalho onde pessoas competem por empregos.
Há claramente uma estreita conexão entre a competitividade das empresas e a competitividade dos trabalhadores no mesmo país. Se os trabalhadores não têm as
habilidades apropriadas para certo tipo de emprego, logo as empresas locais requerendo tais habilidades irão claramente estar em desvantagem contra empresas de outros lugares com acesso ao quadro de pessoal adequadamente habilitado.
Sob este prisma, um dos objetivos da política nacional de TICs, a partir da Lei de Informática, passou a ser a capacita-ção da força de trabalho. Deste modo, a atenção da Lei se voltou ao estímulo de investimentos nos centros geradores de conhecimento bem como naqueles promotores de ino-vação estabelecidos no país, dirigindo recursos da Lei para que eles pudessem alavancar o complexo de C&T&I nacional, especificado na Figura 5.1.
05. Oportunidades para Alavancar os Ecossistemas de Inovação de/com TICs
PARA QUE SEJA
ENFRENTADO ESTE
GRANDE DESAFIO,
FAZ-SE NECESSÁRIO
DESENHAR UMA
NOVA ESTRATÉGIA
NACIONAL PARA O
SETOR DE TICS
43CAPÍTULO 05 | OPORTUNIDADES PARA ALAVANCAR OS ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO DE/COM TICS
FIGURA 5.1
O COMPLEXO DE C&T&I NO BRASIL
Fonte: Newsletter da Creativante, 07/02/2011: http://bit.ly/1wU4eLU
No interior deste complexo, a Lei possibilitou o crescimento do complexo formador dos principais profissionais do setor de informática no país, como são os profissionais de hardwa-re, software e serviços relacionados, como mostra a Figura 5.2, que são formados por centros como o Centro de Infor-mática da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, dentre tantos outros.
COMPLEXO DO C&T&I
INFRA-ESTRUTURA E FOMENTO DE PESQUISA
CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
Instituições do Sistema
Nacional de C&T&I
Formaçãode Recursos
Humanosem C&T&I
Principal Mecanismo:
Lei de Informática:60% dos incentivos de P&D&I e 70% da renúncia fiscal em P&D&I.
Outros:
Fundos Setoriais, Lei de Inovação, Lei do Bem.
Principal Instrumentos:
Cursos de Graduação e Pós-Graduação, Bolsas de Inic, MSc e PhD, Suporte à Pesquisa.
44 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 5.2
O COMPLEXO FORMADOR DOS PROFISSIONAIS DE TICS
Fonte: Newsletter da Creativante, 07/02/2011: http://bit.ly/1wU4eLU.
Sendo assim, os investimentos canalizados pela Lei de Informática (juntamente com outros exis-tentes) proporcionaram a alavancagem do setor de TICs, levando a que o país hoje possa contar com uma indústria voltada para este segmento econômico em todos os seus ciclos (Figura 5.3). Hoje existem organizações como o Instituto Eldorado, o Centro de Estudos e Sistemas Avan-çados do Recife – C.E.S.A.R., o Instituto Atlân-
tico, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, dentre outros, que têm papel efetivo neste ecossistema inovador, desde o ciclo de vida de produtos e serviços, passando pelo ciclo de vendas, até chegar ao de negócios, onde se vê hoje em dia a geração, o crescimen-to, a fusão, a venda de empresas eminentemen-te neste setor.
COMPLEXO DA EDUCAÇÃO EM TICS
EE CC ES TI SI
EE -
CC -
ENGENHARIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA
ENGENHARIA DA COMPUTAÇÃO
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
ES -
TI -
SI -
ENGENHARIA ELÉTRICA E ELETRÔNICA
ENGENHARIA DA COMPUTAÇÃO
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO
HARDWARE SOFTWARE NECESSIDADESORGANIZACIONAIS
45CAPÍTULO 05 | OPORTUNIDADES PARA ALAVANCAR OS ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO DE/COM TICS
FIGURA 5.3
CICLOS DA INDÚSTRIA DE TICS
Fonte: Newsletter da Creativante, 07/02/2011: http://bit.ly/1wU4eLU.
Neste sentido, o Brasil foi capaz de criar (a partir dos mecanismos de incentivos de P&D da Lei de Informática – mas não exclusivamente), além do complexo de C&T&I e do complexo formador de profissionais de TICs, diversos relevantes ecossistemas de inovação ao redor de universi-dades e institutos públicos e privados (tais como o Porto Digital em Pernambuco), que ajudaram tanto a gerar capacitação tecnológica para as empresas, quanto o desenvolvimento de novas habilidades e competências para os mercados locais dentro do território nacional.
Esses ecossistemas de inovação de, e com, TICs, são formados a partir de um maduro mercado de trabalho para os profissionais de TICs. Como pode ser visualizado na Figura 5.4 à frente, o mercado de trabalho na indústria de TICs é estruturado a partir de níveis de habilidades e competências em capital humano, das dimensões da formação, e dos mercados de trabalho propriamente ditos.
INDÚSTRIA DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TICS
CICLO DE VIDA DE PRODUTOS
E SERVIÇOS
CICLO DE VENDASDE PRODUTOS
E SERVIÇOS
CICLO DE NEÇÓCIOSDE PRODUTOS
E SERVIÇOS
46 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 5.4
MERCADO DE TRABALHO NA INDÚSTRIA DE TICS
Fonte: Elaborado pela FGV.
ESTRATÉGIA DE FORMAÇÃO DECAPITAL HUMANO EM TICS
NÍVEIS DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DE CAPITAL HUMANO EM TICS
DIMENSÕES DA FORMAÇÃO EM TICS
MERCADOS DOS PROFISSIONAIS DE TICS
JAVALÓGICA
MODELAGEM .NET
Dimensãodo Negócio
NÍVEL TOP
NÍVEL INTERMEDIÁRIO
NÍVEL BÁSICO
Dimensão da Tecnologia
N3
N2
N1
MERCADOEMPREENDE
MERCADOIBSS
MERCADONIBSS
47CAPÍTULO 05 | OPORTUNIDADES PARA ALAVANCAR OS ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO DE/COM TICS
Os níveis são três: um primeiro nível – N1 (básico) que é aquele formado por profissionais com habilidades e competências mais técnicas, ou tecnológicas (como programadores e desenvolvedores); um nível intermediário – N2, que se estrutura a partir daqueles profissionais com perfil mais administrativo e geren-cial; e num último nível – N3, no topo da carreira, estariam aqueles profissionais com perfis mais de liderança ou de perfil empreendedor, que ousam abrir seus próprios negócios. Todos estes profissionais adquirem formações caracterizadas por duas dimensões: a dimensão do negócio, onde são passadas noções de lógica e modelagem de negócios, e a dimensão das tecnologias, onde são tratadas as fer-ramentas/ambientes centrais para o desenvolvimento de tecnologias, tais como Java, dot.Net, iOs, Android, Tizen, etc.
Mas é fora dos bancos acadêmicos que o mercado de trabalho se estrutura de fato. E nesses mercados podem ser observados três patamares distintos: um mercado de maior dimensão, constituído por aquelas empresas, organizações e instituições que são usuárias de TICs (e no caso brasileiro este mercado pode ser denominado como sendo o mercado NIBSS – Não Indústria Brasileira de Software e Serviços, nomenclatura da SOFTEX-Nacional); um mercado num patamar intermediário, composto por empresas, organizações e instituições desenvolvedoras de TICs (no Brasil IBSS - Indústria Brasileira de Software e Serviços); e num patamar no topo dos mercados estaria o mercado de profissionais desenvolvedores de TICs que constituem suas próprias empresas, ou “startups” (mercado EMPREENDE).
Em resumo, a Nova Estratégia Nacional de TICs deve também levar em conside-ração a necessidade da existência de mercados sofisticados de profissionais de TICs que se estruturam e se consolidam mais rapidamente a partir de ecossistemas maduros de inovação. Eles serão fundamentais para a reindustrialização que se deseja a partir da iniciativa Green Industry 4.0.
Como o Brasil em termos históricos não tem ampliado seus investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I), quando comparado a outras nações (de acordo com The Global Innovation Index 2016, produzido pela World Intelectual Property Organization – WIPO, dentre 128 nações o Brasil está na 69ª posição deste ranking; e de acordo com The Networked Readiness Index 2016, índice de prontidão das TICs do The Global Information Technology Report 2016, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, dentre 139 nações o Brasil está na 72ª posição neste ranking), e como em função da recessão recente muitos talentos estão deixando o país, a preservação dos atuais ecossistemas de inovação no país (com seus talentos), bem como seu incremento, são elementos centrais para o sucesso de iniciativas como a Green Industry 4.0.
48 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
06
49RESUMO EXECUTIVO
A Demanda Global por Produtos Industrializados Baseados em Recursos Naturais
50 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
06. A Demanda Global por Produtos Industrializados Baseados em Recursos NaturaisA estratégia Green Industry 4.0 não é uma proposta qualquer, sem fundamento mercadológico; ela é uma resposta substantiva a uma demanda global concreta e crescente de produtos naturais e produ-tos industrializados baseados em recursos naturais. E para que se justifique esta afirmativa, basta ob-servar a demanda futura de um dos mais importan-tes recursos naturais do planeta, os alimentos, que foram estudados em recente relatório produzido pelo Fórum Econômico Mundial, intitulado Shaping the Future of Global Food Systems: A Scenarios Analysis, em colaboração com a Deloitte Consul-ting LLP, publicado em janeiro de 2017.
Este relatório utilizou o método de cenários para responder a uma questão focal: “como os sistemas de alimentos irão alimentar nutricional e sustenta-velmente 8,5 bilhões de pessoas em 2030?”
Para tanto, os autores chegaram aos quatro cená-rios, contrastando como estarão os mercados e os padrões de consumo no futuro, explicitados a
seguir e apresentados na Figura 6.1:
1 Sobrevive o mais rico: em um mundo de consumo intensivo em recursos e mercados desconectados, há uma economia lenta e uma nítida divisão entre os “que têm” e os “que não têm”;
2 Consumo desmedido: com uma forte conectivi-dade no mercado e com um consumo intensivo em recursos, há um mundo de alto crescimento do PIB com alto custo ambiental;
3 Sustentabilidade open-source (código aberto): Um futuro de mercados altamente conectados e de eficiente consumo tem aumentado a cooperação internacional e a inovação, mas pode deixar algo para trás; e
4 O local é o novo global: Em um mundo de mercados locais fragmentados com consumo eficiente de recursos, países ricos em recur-sos focam em alimentos locais, enquanto re-giões dependentes de importação se tornam locais de fome.
51CAPÍTULO 06 | A DEMANDA GLOBAL POR PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS BASEADOS EM RECURSOS NATURAIS
FIGURA 6.1
OS CENÁRIOS: QUATRO POTENCIAIS MUNDOS FUTUROS
Em resumo, será pela pujança desta demanda global, neste tipo de produtos naturais ou em vários outros produtos industrializados basea-dos em recursos naturais, que será alavancada a demanda por produtos das novas TICs (marca-damente software industrial), tais como aqueles da Terceira Plataforma (conceito apresentado no Apêndice IV) que estão proporcionando a Trans-formação Digital (conceito também apresentado
no Apêndice IV), através dos seus quatro pilares (mobilidade, da cloud computing, big data/analy-tics e ferramentas de negócios sociais) e pelos “aceleradores de inovação”, dentre os quais se destacam hoje a próxima geração de dispositivos de segurança de dados, realidades virtual e au-mentada, internet das coisas, sistemas cogniti-vos, robótica, impressora 3D, etc.
Fonte: Forum Econômico Mundial (2017).
HIGH CONNECTIVITY
LOW CONNECTIVITY
RE
SOU
RC
E-I
NT
EN
SIV
E C
ON
SUM
PT
ION
RE
SOU
RC
E-E
FFICIE
NT
CO
NSU
MP
TIO
N
UNCHECKEDCONSUMPTION
SURVIVAL OFTHE RICHEST
OPEN-SOURCESUSTAINABILITY
LOCAL IS THENEW GLOBAL
MA
RKET
SDEMAND SHIFT
52 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
07
53RESUMO EXECUTIVO
Instrumentos da Nova Política de TICs
54 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
07. Instrumentos da Nova Política de TICs
Existem vários instrumentos que podem alavan-car uma Nova Política de TICs. A Lei de Informá-tica é apenas um deles. Dentre os instrumentos que poderiam ser mais acionados, um merece destaque especial: os ecossistemas de inovação existentes ou em formação.
Para que a indústria tenha uma efetiva renascen-ça, é preciso que ela conte, efetivamente, com o ferramental ofertado pelas instituições, organiza-ções e empresas que compõem os ecossistemas de inovação no território nacional.
Como já destacado anteriormente, inovação é uma atividade econômica de difícil definição,
quiçá de medição. Mas ninguém discute sua importância. Governos e iniciativas privadas se esforçam, em termos de recursos e iniciativas, para tornar o ambiente de negócio mais inovador. Um dos elementos de ativação da inovação, presente em diversas economias, são os chamados institutos ou centros de inovação. Financiados pela inicia-tiva privada, ou pelo governo, ou por um misto de governo e iniciativa privada, eles existem para fazer a ligação entre problemas existentes no mercado e novos conhecimentos, desenvolvidos em centros de pesquisa como as universidades.
No Brasil, os centros de inovação, comumente chamados de ICT, ou ICTP (Institutos de Ciência e Tecnologia, Privados), são as âncoras de ecossistemas de conhecimento e o principal destino da maioria dos recursos de fomento à inovação. A relevância do recurso empregado nos institutos para a economia e aumento de competitividade do país é, no entanto, largamente discutível. As diferentes formas de interação e diferentes tipos de entrega dos ICT e ICT(P) para as em-presas, torna a medição precisa da importância destes institutos para
UM DOS ELEMENTOS DE
ATIVAÇÃO DA INOVAÇÃO,
SÃO OS INSTITUTOS OU
CENTROS DE INOVAÇÃO.
FINANCIADOS PELA
INICIATIVA PRIVADA, OU
PELO GOVERNO, OU POR
UM MISTO DE GOVERNO
E INICIATIVA PRIVADA
55CAPÍTULO 07 | INSTRUMENTOS DA NOVA POLÍTICA DE TICS
a inovação, impraticável, ainda mais se considerar-mos o fato de que o retorno da inovação acontece, normalmente, no futuro.
No entanto, para que os ICT(P)s se relacionem com o mercado em níveis de complexidade de negócios, e, consequentemente, em relevância para a economia, 4 (quatro) formas/ níveis diferentes (formando um “modelo gradual de competências e habilidades”) devem ser mais observados e incentivados. Cada nível do modelo descreve o grau de maturidade e relevância de retorno do ICT(P) em termos de inovação para a economia. Esse modelo, desenvolvido pelo C.E.S.A.R., uma ICT(P) que faz parte do ecossistema de inovação ao redor do parque tecnológico Porto Digital (em Pernambuco), compõe-se dos seguintes níveis: 1 - Re-cursos, 2 - Capacidades, 3 - Soluções e 4 - Empreendi-mentos (aqui assumidos como Negócios Inovadores).
O entendimento desses níveis e o incentivo para que eles sejam efetivamente usados na implantação da Nova Política de TICs, é fundamental para o sucesso dessa iniciativa.
Do ponto de vista de funding, é importante relembrar que os setores denominados manufacting products natural-resources-based, labour intensive e agricul-tural products, fischery e forestry products além de serem superavitários no comércio internacional, são geradores de Imposto Sobre Produtos Industrializa-dos - IPI, o que, num upgrade da Lei de Informática representaria apenas um acréscimo de beneficiários.
Finalmente, em focando as empresas nacionais dos setores acima referidos (como propugnado na iniciativa Green Industry 4.0), será possível, eventu-almente através de uma Lei de Informática “expan-dida”, estabelecer investimentos em P&D nas fases mais relevantes de identificação do problema e de concepção de soluções referido no item 3.3.
56 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
08
57RESUMO EXECUTIVO
Arquitetura para Construção da Iniciativa “Green Industry 4.0” no Brasil
58 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
08. Arquitetura para Construção da Iniciativa “Green Industry 4.0” no Brasil
Assim como estabelecer um conjunto de ações voltadas para o desenvolvimento da Internet
das Coisas é uma iniciativa complexa, que envolve um amplo espectro de atividades que adotam múltiplas novas tecnologias, processos e modelos de negócios (vide exemplo recente do Consórcio BNDES/McKinsey no Brasil), o desenvolvimento de um novo paradigma indus-trial num país, tal como o da Indústria 4.0, é algo igualmente complexo.
O desenvolvimento de uma iniciativa como a Gre-
en Industry 4.0 é algo que tem um grau de com-plexidade equivalente ao do estabelecimento de um ecossistema de inovação de sucesso, como o do Vale do Silício, num país desenvolvido, ou um Porto Digital, num país em desenvolvimento.
No entanto, apesar de ninguém disputar sua fama internacional, ainda é pouco entendido porque o Vale do Silício origi-nou tantas inovações de ponta e grandes companhias. Uma visão reconhe-cida percebe que a presença de empresas de capital de risco em um cluster inovador abre potenciais interações específicas com outros agentes na
PARA UMA INDÚSTRIA DE ALTA
TECNOLOGIA TER SUCESSO
INTERNACIONALMENTE É
DETERMINANTE É O ECOSSISTEMA
DE EPRESAS E ORGANIZAÇÕES
SEJA LEVADO A DESENVOLVER
PLATAFORMAS GLOBAIS DE
PRODUTOS, PROCESSOS
E SERVIÇOS, E QUE ESSAS
PLATAFORMAS SEJAM BASEADAS
EM SÓLIDAS ARQUITETURAS
INDUSTRIAIS E DE NEGÓCIOS
59CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
rede (universidades, grandes empresas, labora-tórios) que determinam uma dinâmica particular de inovação. Nessa perspectiva, o que é distinti-vo sobre o Vale do Silício é seu completo e robus-to complexo sistema de inovação suportado por redes sociais de agentes econômicos interdepen-dentes em que as empresas de capital de risco têm uma função específica (que é caracterizada por cinco diferentes contribuições: financiamen-to, seleção, aprendizado coletivo, incorporação e sinalização; Cavalcanti, 2013).
Esta parece ser uma explicação razoável para descrever a capacidade inovadora complexa do Vale do Silício, bem como a heterogeneidade dos agentes e de seus laços. No entanto, se alguém deseja entender por que e como aqueles agentes do Vale do Silício (e outros clusters de alta tecno-logia) são organizados, e as razões de suas formas específicas de organização, tal explicação pode ser considerada necessária, mas não suficiente para levar em consideração um conjunto de ques-tões econômicas inerentes a esses clusters de alta tecnologia, tais como: “Por que e como algumas empresas emergentes (startups) escalam global-mente mais rapidamente do que outras?” “Por que e como algumas empresas cooperam e competem simultaneamente em mercados globais?” “Por que e como algumas empresas superam outras em indústrias de alta tecnologia?”
Para dar conta destas questões, Cavalcanti (2013) e Cavalcanti (2015) desenvolvem uma nova explicação de por que um cluster de alta tecnologia como o Vale do Silício é um sucesso econômico internacional. Segundo este autor, para uma indústria de alta tecnologia ter sucesso internacionalmente não é necessário apenas ter um ecossistema de empresas e organizações relacionadas; o que é determinante é que esse ecossistema seja levado a desenvolver platafor-
mas globais de produtos, processos e serviços, e que essas plataformas sejam baseadas em sólidas arquiteturas industriais e de negócios. E este é o conceito por ele denominado de “Trindade
Essencial”. E o que estes três conceitos combina-dos representam?
A observação das complexas indústrias de alta tecnologia (como as de IoT) dos dias atuais trouxe para o centro das discussões a ideia de que, em muitos casos, as indústrias podem ser mais e melhor analisadas como redes de empresas interconectadas ou ecossistemas de
empresas para tentar capturar a característica multidimensional e a complexidade das rela-ções das empresas (TEE and GAWER, 2009, em CAVALCANTI, 2015).
As plataformas industriais são blocos constru-tivos tecnológicos que agem como um alicerce em que uma série de empresas, organizadas em um grupo de empresas interdependentes, desenvolve um conjunto inter-relacionado de produtos, tecnologias e serviços (GAWER, 2009, em CAVALCANTI, 2015).
Uma arquitetura industrial foca nas formas em que as atividades ao longo de uma cadeia de valor são divididas entre os participantes da indústria, prestando atenção a papeis particulares da empresa, interdependências, e modos em que tais organizações tentam organizar a divisão do trabalho dentro da in-dústria (JACOBIDES et al. 2006, em CAVAL-CANTI, 2015). Em outras palavras, o conceito define o modo como as regras e os papeis são distribuídos entre as empresas que interagem. Sendo assim, a Trindade Essencial de uma indústria de alta tecnologia pode ser repre-sentada pela Figura 8.1.
60 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 8.1
TRINDADE ESSENCIAL
Os ecossistemas de empresas e organizações relacionadas podem ser definidos por múltiplos ecossistemas específicos, tais como o ecossis-tema Fintech, denominação das empresas de tecnologia que estão revolucionando o sistema fi-nanceiro internacional, como apontado na Figura 8.2. No limite, o que interessa a este trabalho é o entendimento de que, ao se tentar promover um
setor de software industrial, o que de fato está se tratando é de um modo de perceber uma forma de organização de um ecossistema complexo, tal como o da Internet das Coisas, como por exemplo, aquela sugerida pela empresa Gartner, como apon-tado na Figura 8.3.
Fonte: Cavalcanti (2013).
ECOSSITEMA PLATAFORMA
“TRINDADE ESSENCIAL”
ARQUITETURA
61CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
FIGURA 8.2
ECOSSISTEMA FINTECH
Fonte: http://www.businessinsider.com/fintech-ecosystem-and-financial-technology-research-and-business-opportunities-2016-2
PAYMENTS & TRANSFERS
FINANCIAL MANAGEMENT INSURANCE
RETAIL BANKING
MARKETS & EXCHANGES
LENDING & FINANCING
62 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 8.3
EXEMPLO DE ECOSSISTEMA DE IOT DO GARTNER
Fonte: https://pt.slideshare.net/MicheleNati/guildford-meet-up/9
As plataformas podem ser observadas sob diversas características e contextos. Gawer (2009) (em CAVALCANTI, 2015), por exemplo, apresenta uma interessante tipologia sobre as plataformas classificando-as como plataformas internas às empre-sas, plataformas de cadeias de suprimentos, plataformas de indústria, e plataformas de indústrias de múltiplos mercados, como pode ser visto nas Figura 8.4. A Figura 8.5 apresenta exemplos de plataformas tecnológicas a partir de sua base de usuários, ou da rampa de adoção.
IT IOT
COMMUNICATIONS SERVICES PROVIDERS
INFRASTRUCTURE / GATEWAY
OS SOFTWARE STACK MEGAVENDORS
HEALTHCARE TRANSPORTATION UTILITIES DESIGN
SMART HOME CONSUMER INDUSTRIAL
SEMICONDUCTORS ODM / EMS
PROFESSIONALSERVICES
DATACENTERPROVIDERS
COMMS
SOFTWARE
HARDWARE
IOTSTANDARDS
BODIES
63CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
FIGURA 8.4
TIPOLOGIA DE PLATAFORMAS
Fonte: Gawer (2009a) (em CAVALCANTI, 2015).
TYPE OF PLATFORM
INTERNAL PLATFORMS
SUPPLY CHAIN PLATFORMS
INDUSTRY PLATFORMS
MULTI-SIDED MARKETS OR PLATFORMS
CONTEXT WITHIN THE FIRM WITHIN A SUPPLY CHAIN
INDUSTRY ECOSYSTEMS INDUSTRIES
NUMBER OF PAR-TICIPANTS
One firm Several firms within a supply chain
Several firms who don’t necessarily buy or sell from each other, but those products/services must function together as part of a technological system
Several firms (or group of firms) who transact with each other, through the intermediary of a dou-ble-sided (or multi-sided) market
PLATAFORM OB-JETIVES
• To increase the produc-tive efficiency of the firm
• To produce variety at lower costs
• To achieve mass customization
• To enhance flixibility in the design of new products
• To increase the produc-tive efficiency along the supply chain
• To produce variety at lower costs
• To achieve mass customization
• To enhance flixibility in the design of new products
For the platform owner:
• To stimulate and cap-ture value from external, complementary innovation
For complementors:
• To benefit from the installed based of the platform, and from direct and indirect network effects complementary innovation
• Intefaces around the platform allow plugging--in of, and innovation on, complements
• To facilitate the tran-sactions between diffe-rent sides of the platform or market
DESIGN RULES
• Re-use of modular components
• Stability of system architecture
• Reuse of modular components
• Stability of system architecture
• Interfaces around the platform allow plugging--in of, and innovation on, complements
• Not usually adressed in the economics literature*
END-USE OF THE FINAL PRODUCT, SERVICE OU TECH-NOLOGY
• Is known in advance and defined by the film
• End-use is defined by the assembler/integrator of the supply chain
• End-use is known in advance
• Variety of end-uses
• End-uses may not be known in advance
• Not usually addressed in the economics literature*
KEY QUESTIONS ASKED IN THE LITERATURE
• How to reconcile low cost and variety within a firm?
• How to reconcile low cost and variety within a supply chain?
• How can a platform owner stimulate comple-mentary innovation while taking advantage of it?• How can incentives to create complementary innovation be embedded in the design of the platform?
• How to price the access to the double-sided (or multi-sided) market to the distinct groups of users, to ensure their adoption of the market as an inter-mediary?
64 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 8.5
PLATAFORMAS A PARTIR DE RAMPAS DE ADOÇÃO
Fonte: Gartner (2016).
Mill
ion
s o
f use
rs
Mill
ion
s o
f use
rs
Quarters after launchQuarters after launch
ANDROID
IOS
WII
XBOX 360
PS3
1.0001.000
100
10
1
0.1
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36
PLATFORM ADOPTION RAMPS (LINEAR SCALE)PLATFORM ADOPTION RAMPS (LOG SCALE)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 36 40 42 44
Android (Activations)iTunes Accounts (Active Accounts)iPodsiOSi-modeAOL
NetscapeWiiXbox 360PS3SymbianRiMWindows Mobile
Windows PhonePCFacebook (Active Accounts)Apple TVAsymco
65CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
Fonte: Gartner (2016).
Assim como as plataformas, as arquiteturas podem ser também observadas sob diversas características e contextos. Elas podem constituir arquiteturas genéricas, como é o caso daquela sugerida pelo Gartner para a IoT (Figura 8.6), ou podem ser arquiteturas de software (Figura 8.7), ou mesmo arquiteturas de dados, como aquelas das Figuras 8.8 e 8.9.
FIGURA 8.6
ARQUITETURA GENÉRICA DE IOT PARA RESULTADOS DE NEGÓCIOS
66 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 8.7
ARQUITETURA DE SOFTWARE
Fonte: http://cloud-computing.excellence.io/2016/02/23/what-i-would-want-in-an-iot-platform
CUSTOMER
CONNECTEDPRODUCT
CONTINUOUS INTEGRATION AND DELIVERY
OPERATIONS CENTER
CONNECTED PRODUCT
Firmware
Companion Mobile App
Sens
or
Actuator
• Customer engagement
• Product Performance monitoring
• Failure prediction
• Performance optimization
Data acquisition / control
Measurement / Event Data
Stream Data Processing
Billing/Commerce
ProductLifecycle Mgmt.
CRM/ CustomerSupport
InventoryMgmt.
FieldService
Maintenance
Microcontroller/ Processor
Networking
Gateway
67CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
FIGURA 8.8
ARQUITETURA GENÉRICA DE DADOS
Nota: A modern Data Architecture with Apache Hadoop integrated with existing data systemsFonte: Hortonworks (2014). A Modern Data Architecture with Apache™ Hadoop®: The Journey to Data Lake. White Paper, March.
AP
PLI
CATI
ON
SD
ATA
SY
STEM
SSO
URC
ES
StatisticalAnalysis
BI / Reporting,Ad Hoc Analysis
Interactive Web& Mobile Applications
EnterpriseApplications
RDBMS EDW MPP
Repositories
DataAccess
Gov
erna
nce
& In
tegr
atio
n
Secu
rity
Ope
rati
ons
DataManagement
OLTP, ERPCRM Systems
Documents& Emails
Web Logs,Click Streams
SocialNetworks
MachineGenerated
SensorData
Geo-locationData
DEV & DATATOOLS
Build& Test
OPERATIONTOOLS
Provision,Manage &
Monitor
68 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 8.9
ARQUITETURA ESTRATÉGICA DE DADOS
Fonte: Adaptação da apresentação do Prof. Paulo Adeodato (CIn/UFPE), Tech Day – C.E.S.A.R, 14/11/2015.
Levando em consideração que diversas destas arquiteturas podem ser desenvolvidas a partir da iniciativa Green Industry 4.0, qual seria então uma arquitetura estratégica básica através da qual policy makers encarregados de sua implantação e outros stakeholders (interessados) estariam se orientando para promover um setor de software industrial no Brasil?
Esta arquitetura estratégica básica para um novo setor de software industrial deve partir de algumas premissas centrais, que podem ser as seguintes:
1 A indústria nacional está em crise e precisa con-quistar um novo papel e uma nova direção;
2 Como o setor de serviços da economia desempenha hoje um papel estratégico em qualquer processo de reindustrialização, é fundamental estabelecer também um novo papel e uma nova direção para o setor de serviços; e
3 O principal canal de transmissão entre a indústria e os serviços são as mudanças que ocorrem na natureza dos bens manufatura-dos, que estão se combinando com os serviços através de uma relação cada vez mais sinérgica e simbólica para formar um terceiro produto, que nem é um bem industrial tradicional, nem tampouco um serviço convencional.
Portal
Integrador
Data MartBuilder
BI/MISSistema de
InformaçõesGerenciais
BPM / Workflow / Fluxo do processo Operacional
Camada de Persistência/ Cloud
Gateway
AcademiaMercado Internacional
DataMart
Base deConheci-
mento
ListaNegativa
ProcessosParâmetros
deOperação
SistemaEspecialista
SistemasInteligentes
AvaliaçãoHumana
FONTESINTERNAS
RELATÓRIOSOLAPOLAM
PROCESSOS
FONTESEXTERNAS
+
+
NECESSIDADE BRASILEIRA ATUAL
69CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
Sendo assim, considerando que:
1 Os Serviços já são parcela crescente do va-lor adicionado dos bens manufaturados, e que a crescente complementaridade entre a indústria e os serviços para criar e agre-gar valor requer que ambas as atividades sejam competitivas, para que elas possam se beneficiar uma da outra;
2 Os Serviços não têm sido contemplados nas políticas de desenvolvimento econômico recente (marcadamente quando se observa a registrada ênfase em políticas públicas industriais); e
3 Os setores de alta tecnologia como os que estarão voltados para a Green Industry 4.0 embutem um complexo elenco de tecnolo-
FIGURA 8.10
A ARQUITETURA ESTRATÉGICA BÁSICA PARA A GREEN INDUSTRY 4.0 NO BRASIL
gias, padrões, processos, regras, e modelos de negócios que no limite se caracterizam por Serviços Tecnológicos.
Entende-se, primeiramente, que o futuro da Green Industry 4.0 no Brasil estará fortemente atrelado ao setor de serviços da economia nacio-nal. Esta visão está delineada na Figura 8.10. Esta visão parte do fato de que o Setor de Serviços da economia brasileira representa mais de 70% do valor adicionado no país (precisamente 72% do PIB nacional), como pode ser visto na Tabela 8.1 à frente, e que ele pode e deve ser desenvolvido a partir Green Industry 4.0, com desdobramentos importantes para o restante da economia.
Fonte: Elaborado pela FGV.
PLATAFORMA
ECOSSISTEMAGLOBAL E LOCAL
GREEN INDUSTRY 4.0ARQUITETURA
+
+
Novos ServiçosBaseados em IoT
Serviços Relacionadosa Custos
Serviços queAgregam Valor
Serviços Relacionados a Indústria e Agribusiness
Produtos / Processos de Produção que serão
combinados com serviços
Problemas/ Oportunidadespra combinar Agribusiness
com serviços
SERVIÇOS 72,0%
INDÚSTRIA 22,7%
AGRIBUSINESS 5,2%
70 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
TABELA 8.1
PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DAS CLASSES E RESPECTIVAS ATIVIDADES NO VALOR ADICIONADO NO BRASIL
ENTRE 2000 E 2015
ESPECIFICAÇÃO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 (1) 2015 (1)
Agropecuária 5,5 5,6 6,4 7,2 6,7 5,5 5,1 5,2 5,4 5,2 4,8 5,1 4,9 5,3 5,2 5,2
Indústria 26,7 26,6 26,4 27,0 28,6 28,5 27,7 27,1 27,3 25,6 27,4 27,2 26,1 24,9 24,0 22,7
Indústria Extrativa 1,4 1,6 2,0 2,2 2,5 3,1 3,5 3,0 3,8 2,2 3,3 4,4 4,5 4,2 3,8 2,1
Indústria de Transformação
15,3 15,4 14,5 16,9 17,8 17,4 16,6 16,6 16,5 15,3 15,0 13,9 12,6 12,3 11,7 11,4
Prod. e distrib. de eletricidade, gás, água, esgoto e limp. urb.
3,1 3,3 3,4 3,3 3,5 3,4 3,2 3,0 2,6 2,7 2,8 2,7 2,5 2,0 1,9 2,8
Construção 7,0 6,3 6,5 4,6 4,9 4,6 4,3 4,6 4,4 5,4 6,3 6,3 6,5 6,4 6,6 6,4
Serviços 67,7 67,8 67,2 65,8 64,7 66,0 67,2 67,7 67,3 69,2 67,8 67,7 69,0 69,8 70,8 72,0
Comércio 8,1 8,3 7,7 9,5 9,9 10,8 11,2 11,7 12,3 12,7 12,6 12,9 13,4 13,5 13,0 12,3
Transporte, armazenagem e correio
3,7 3,6 3,7 3,4 3,5 3,5 3,4 3,7 4,0 3,8 4,3 4,5 4,5 4,5 4,4 4,2
Serviços de informação
4,3 4,6 4,3 4,1 4,5 4,6 4,3 4,4 4,4 4,3 3,8 3,7 3,6 3,5 3,4 3,2
Intermed. financeira, seguros, prev. complem. e serv. rel.
6,8 7,1 7,9 7,4 6,5 7,1 7,2 7,3 6,5 6,6 6,8 6,3 6,2 5,9 6,5 7,6
Atividades imobiliárias
12,2 11,4 10,7 9,9 9,5 9,3 8,9 8,8 8,4 8,7 8,3 8,5 8,9 9,3 9,5 9,9
Outros Serviços 16,9 16,2 16,4 15,4 15,1 14,8 15,8 15,5 15,2 16,0 15,7 15,9 16,4 16,7 17,0 17,1
Adm., saúde e educação públicas e seguridade social
15,7 16,4 16,5 16,0 15,6 16,0 16,3 16,3 16,5 17,1 16,3 16,1 16,0 16,4 17,0 17,7
Valor adicionado a Preços Basic
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Impostos sobre Produtos
16,3 17,4 17,2 16,,8 17,8 17,8 17,6 17,3 18,4 17,0 17,7 17,6 17,6 17,1 16,6 16,8
PIB a Preços de Mercado
116,3 117,4 117,2 116,8 117,8 117,8 117,6 117,3 118,4 117,0 117,7 117,6 117,6 117,1 116,6 116,8
(1) Resultados calculados a partir das Contas Nacionais Trimestrais, Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
71CAPÍTULO 08 | ARQUITETURA PARA CONSTRUÇÃO DA INICIATIVA “GREEN INDUSTRY 4.0” NO BRASIL
Em segundo lugar, o setor de serviços na economia é dividido entre dois segmentos: os serviços relacionados a custos e os serviços que contribuem para agregar valor. Neste sentido, a iniciativa vislumbrada neste relatório é a de que o ecossistema de Green Industry 4.0 (composto pelos seus atores globais e nacionais) possa se desenvolver no território nacional, a partir dos seus principais serviços, plataformas globais de produtos e serviços que tenham sólidas arquite-turas de negócios, como preconizado no conceito de Trindade Essencial aqui defendido.
Em síntese, o que este relatório propugna é que a iniciativa Green Industry 4.0 seja baseada em três pilares:
1 Consolidar um Ecossistema de Green Industry 4.0 no país que possa desenvolver Plata-formas de produtos e serviços globais no território nacional, e que estejam assentadas em sólidas Arquiteturas de padrões, tecnolo-gias e negócios;
2 Direcionar o foco da atenção, dos progra-mas, planos e projetos deste Ecossistema de Green Industry 4.0 para a combinação do Setor de Indústria com o Setor de Serviços da economia brasileira, identificando opor-tunidades e superando gargalos nos serviços habilitados por produtos que se relacionam com a indústria, a agropecuária e, retroativa-mente, com o próprio setor de serviços; e
3 Criar condições para que os novos negócios gerados pelo novo Ecossistema de Green Industry 4.0 no Brasil, por um movimento de trickle-down a partir de uma nova combina-ção de Indústria e Serviços, aumentem a pro-dutividade de todos os setores da economia.
72 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
09
73RESUMO EXECUTIVO
O Espaço de Oportunidades para Empresas Nacionais/Locais
74 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
09. O Espaço de Oportunidades para Empresas Nacionais/Locais
Diante do exposto até então, onde poderiam existir oportunidades para empresas nacionais/locais de software e serviços se inserirem na nova Indústria 4.0? A resposta mais imediata para esta questão pode ser encontrada a partir da atual configuração do mercado brasileiro de software e serviços associados.
De acordo com a Tabela 5 no Apêndice I, o setor de software e serviços no Brasil representava 20,8% do setor de tecnologias de informação e comunicação - TICs no Brasil em 2016. Quando se observa a Figura 9.1 à frente, constata-se que do total do software produzido no Brasil, apenas 22,5% é desenvolvido no país, sendo a maioria expressiva produzida no exterior (75,5%), e os
restantes 2% se destinam ao mercado de exportação. Quando se observa o setor de serviços associados ao software, percebe-se um quadro oposto, onde a grande maioria dos serviços (85,4%) é desen-volvida no país, complementado por 9,2% de serviços para software de encomenda, e apenas 0,7% é desenvolvido no exterior, restando 4,7% para o mercado de exportação.
O que estes números revelam é que o Brasil é um grande “mercado consumidor” para as empresas estrangeiras desenvolvedoras de sof-
tware e soluções de software, o qual destina às suas empresas nacio-
UMA EVENTUAL REVERSÃO
DA CONDIÇÃO DE MINOR
PLAYER PARA UMA DE
DOMINANT PLAYER PODERIA
SER VISLUMBRADA CASO O
PAÍS ADOTASSE UM OUSADO
ESPECTRO DE INOVAÇÕES NAS
EMPRESAS, NAS POLÍTICAS
PÚBLICAS E NAS POLÍTICAS
INDUSTRIAIS DO PAÍS
75CAPÍTULO 09 | O ESPAÇO DE OPORTUNIDADES PARA EMPRESAS NACIONAIS/LOCAIS
nais/locais apenas menos de ¼ (um quarto) deste mesmo mercado. Como no Brasil não são encontrados produtos, plataformas, soluções e marcas expressivas de âmbito global, é de se inferir que grande parte do que é desenvolvido no país tenha a ver com a integração dos softwares e soluções desenvolvidas no estrangeiro, adaptando-os às realidades das empresas que consomem estes produtos e serviços. Tal argumento é corroborado pela expressiva proporção dos serviços associados ao software desenvolvi-dos no país (85,4%), como indicado na Figura 9.1.
Diante deste quadro em que se coloca o setor de software e serviços rela-cionados no país, pergunta-se: é possível reverter esta condição de minor player no mercado nacional para uma de dominant player na nova Indústria 4.0? Esta não é uma tarefa simples de responder tampouco de empreen-der, dado o desenvolvimento histórico do setor de informática no Brasil, mas tudo depende de como o país irá se posicionar, daqui para frente, em termos de suas escolhas públicas.
Neste sentido, as empresas contratadas desenvolveram (em outro tra-balho, intitulado “Mudanças na Legislação de Incentivo à Informática no Brasil”, em 2017, não publicado) um estudo de cenários que aponta para possíveis rumos que venham a ser tomados pelo setor de informática no Brasil. Na metodologia estabelecida naquele trabalho, entre as incerte-zas assumidas, as consideradas como as mais relevantes foram a ampli-tude das inovações nas empresas, políticas públicas e políticas industrias do país, e o grau de flexibilidade operacional da governança institucional das leis de incentivo à inovação (principalmente para a indústria de informática) que deverá acompanhar o conjunto de inovações.
Essas duas incertezas definiram os seguintes quatro possíveis cenários fu-turos (Figura 9.2 à frente) no horizonte de 5 (cinco) anos: a)Transformação Digital (quadrante I); b) Informática Turbinada (quadrante II); c) Repressão Digital (quadrante III); e Governança Desconectada (quadrante IV).
Sendo assim, e sem aprofundar nos detalhes dos cenários imaginados, é possível argumentar que uma eventual reversão da condição de minor player para uma de dominant player (no mercado de software e serviços relacionados) poderia ser vislumbrada caso o país adotasse um ousado espectro de inovações nas empresas, nas políticas públicas e nas políticas industriais do país, bem como um amplo grau de flexibilidade operacional de sua governança institucional; ou seja, se o país perseguisse o cenário de Transformação Digital.
76 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 9.1
PRINCIPAIS INDICADORES DO MERCADO BRASILEIRO DE SOFTWARE E SERVIÇOS
Fonte: Adaptado de ABES (2017).
SOFTWARE
SERVIÇOS
22,5% 75,5% 2%
US$ 1.947 US$ 6.528 US$ 177
DESENVOLVIDONO PAÍS
DESENVOLVIDONO EXTERIOR
MERCADO DEEXPORTAÇÃO
85,4% 9,2% 0,7% 4,7%
US$ 9.167 US$ 989 US$ 70 US$ 499
DESENVOLVIDONO PAÍS
SOFTWARE SOBENCOMENDA
DESENVOLVIDONO EXTERIOR
US$19.378
MERCADO TOTALDE SOFTWARE
E SERVIÇOES(TOTAL COM
EXPORTAÇÕES)
MERCADO DEEXPORTAÇÃO
TOTAL: US$ 8.652 - 44,6%
TOTAL: US$ 10.726 - 55,4%
77CAPÍTULO 09 | O ESPAÇO DE OPORTUNIDADES PARA EMPRESAS NACIONAIS/LOCAIS
FIGURA 9.2
CENÁRIOS PARA OS MERCADOS DE TICS NO BRASIL (HORIZONTE DE 5 ANOS)
Fonte: Porto Marinho/Creativante.
No entanto, a realidade dos fatos aconselha um posicionamento mais cauteloso nas cenariza-ções, marcadamente no Brasil. Um dos fatores que dão suporte a este posicionamento diz respeito ao que se pode aqui denominar de “maturidade digital” da economia brasileira.
Em trabalho recente realizado pela empresa Capgemini Consulting, intitulado “Pesquisa sobre a Maturidade Digital no Brasil – 2016”, com o objetivo de avaliar o grau de maturidade digital das empresas brasileiras, observou-se que estas se encontram em diferentes estágios de transformação digital, com alguns setores mais avançados que outros.
Como conclusão, o estudo aponta que apesar de concordarem que a transformação digital
é essencial para o posicionamento estratégico do negócio, as empresas, em sua maioria, ainda precisam melhorar a maneira como a estão im-plantando. A introdução de novas tecnologias, por si só, não será suficiente. O importante não são as tecnologias em si, mas como usar as tecnologias digitais.
Em resumo, o desafio brasileiro não é somen-te o de abrir oportunidades para empresas nacionais/locais se integrarem nos sistemas da Indústria 4.0, mas também fazer com que as empresas brasileiras como um todo sejam ca-pazes de usar as tecnologias digitais de forma adequada, e que contribua para o aumento de suas competividades.
INOVAÇÃO RADICAL
INOVAÇÃO INCREMENTAL
ME
NO
S F
LEX
IBIL
IDA
DE
OP
ER
AC
ION
AL M
AIS F
LEX
IBILID
AD
E O
PE
RA
CIO
NA
L
GOVERNANÇADESCONECTADA
REGRESSÃODIGITAL
TRANFORMAÇÃODIGITAL
INFORMÁTICATURBINADA
INO
VA
ÇÃ
OGOVERNANÇA
78 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
10
79RESUMO EXECUTIVO
O Espaço de Oportunidades na Green Industry 4.0
80 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
10. O Espaço de Oportunidades na Green Industry 4.0
Tendo delineado o espaço de oportunidades para as empresas nacionais/locais de software e serviços, é possível destacar qual seria então o espaço de oportunidades para essas empresas a partir de uma iniciativa como a aqui proposta da Green Industry 4.0.
Antes de tudo, é necessário apontar que a iniciativa não representa uma indústria “apartada” da indústria em geral. Ela se baseia em dois alicerces centrais. Primeiramente, ela traduz um forte foco da indústria voltado para o “sustainable development”, ou seja, um de-senvolvimento sustentável nos moldes defendidos pelo Prof. Jeffrey Sachs em seu livro “The Age of Sustainable Development”, de 2015, e cujos objetivos são a prosperidade econômica, inclusão social e coesão, sustentabilidade ambiental, e boa governança por grandes atores sociais, incluindo governos e negócios. E, em segundo lugar, ao usar o termo Green ao lado de Indústria 4.0, a iniciativa visa o uso das tecnologias, processos e modelos emergentes da Indústria 4.0 para aumentar, inicialmente, a competitividade internacional dos setores econômicos baseados em recursos naturais e daquelas indústrias de processamento de recursos naturais, para em seguida aumentar a competividade dos demais setores da economia.
Para ilustrar ainda mais o que se vislumbra com a “Green Industry 4.0”, basta que se observe os seguintes ciclos representativos da produção futura de bens e serviços num espectro das possibilidades de integra-ção tecnológica aos ramos econômicos com forte base em recursos naturais: a) From Farm to Fork; b) From Tire to Flier; c) From Eye to AI. A descrição destes ciclos (além das rimas que possibilita na língua inglesa) se dá da seguinte forma:
81CAPÍTULO 10 | O ESPAÇO DE OPORTUNIDADES NA GREEN INDUSTRY 4.0
A - FROM FARM TO FORK
As pesquisas acadêmica e industrial, bem como alguns desenvolvimentos em IoT aumentaram sensivelmente ao longo dos últimos anos. A IoT objetiva conectar objetos físicos à inter-net usando conectividade de baixo poder que é incorporada com sensores. A IoT envolve cidades inteligentes, casas, redes, transportes, agricultura e indústria 4.0. A cadeia de supri-mentos de alimentos neste contexto inclui a agricultura, o processamento de alimentos, o transporte e a distribuição diretamente para o atacado e o varejo, no que pode ser chamado da cadeia Farm to Fork (“da fazenda ao garfo”). A demanda por rastreamento e monitoramento de alimentos frescos se elevou à medida que preocupações sobre doenças trazidas pelos alimentos cresceram.
Neste sentido, soluções tecnológicas que incluem Radio Frequency Identification (RFID), Wireless Sensor Networks (WSN), Cloud Computing and Data Analytics passaram a ganhar destaque, ao lado de outras como o uso de informações sobre condições climáti-cas, de solo, que podem ser capturadas por geo-referenciamento e satélites. Agreguem-se a estas as aplicações móveis que fazem uso de conteúdo extraído das faunas e floras dos principais biomas;
B - FROM TIRE TO FLIER
Da mesma forma que a IoT possibilita um uso mais eficiente dos recursos agrícolas da Farm to Fork, a IoT também pode aperfeiçoar o uso de outros recursos naturais nos processos in-dustriais, tais como por exemplo, a cadeia que vai do From Tire to Flier (“do pneu ao avião”). Pneus são usados desde carros, caminhões até aviões. Como pode ser visto na Figura 10.1 à
frente, dos cinco grupos de insumos que com-põem a fabricação do pneu (borracha natural, borracha sintética, carbono preto e sílica, ca-bos metálicos e de reforço têxtil, e numerosos agentes químicos), os mais importantes advêm de recursos naturais. O uso racional desses recursos naturais é fundamental para que, por exemplo, a indústria aeronáutica possa produ-zir aviões cada vez mais potentes e seguros. E com a aplicação da IoT ao longo de toda a cadeia (do pneu até o avião) é possível rastre-ar qual é a produção de dados e informações produzidas por turbinas de aviões submetidas a diferentes condições de vôo. Uma aeronave A350 da Airbus possui 400.000 parâmetros de dados, quando comparados com somente 20.000 parâmetros do antigo A320, que per-mitem obter 250 GB de dados coletados por vôo. A complexidade e profundidade de dados coletados pela IoT é clara, mas como isso será traduzido em valor para os consumidores ainda está por ser definido completamente;
C - FROM EYE TO AI
O olho é o órgão da visão. Ele está presente em todos os humanos e na grande maioria dos animais. Ele tem um número de componentes que incluem, mas não estão limitados a córnea, íris, pupila, lentes, retina, mácula, nervo óptico, coroide e vítreos. Apesar de ser um dos recur-sos mais elementares da natureza, seu efetivo entendimento e potencial replicação são um dos maiores desafios da ciência e tecnologia contemporâneas. Neste sentido, a Visão Com-putacional, a ciência e tecnologia das máquinas que enxergam, desenvolve teoria e tecnologia para a construção de sistemas artificiais que obtém informação de imagens ou quaisquer dados multi-dimensionais. Exemplos de aplica-ções incluem o controle de processos (como robôs industriais ou veículos autônomos), de-
82 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
tecção de eventos, organização de informação, modelagem de objetos ou ambientes e intera-ção (atrelado a interação homem-máquina).
A visão computacional também pode ser des-crita como um complemento da visão biológica. Na visão biológica, a percepção visual dos hu-manos e outros animais é estudada, resultando em modelos em como tais sistemas operam em termos de processos fisiológicos. Por outro lado, a visão computacional estuda e descreve sistemas de visão artificial implementados por hardware ou software.
A visão computacional é parte relevante da hoje explosiva área de Artificial Intelligence –
AI (Inteligência Artificial), um termo geral que implica o uso de computador para modelar e/ou replicar comportamento inteligente. As técnicas de AI têm sido e continuam a serem aplicadas a um amplo leque de problemas que emergem em robótica, e-commerce, diagnósticos médicos, jo-gos, matemática, planejamento militar, e logística, para nomear algumas.
Em termos de aplicações para software e ser-viços, é possível incluir várias áreas, tais como teorias de estimação, mecanismos de mobili-dade, negociação multi-agentes, interfaces de linguagens naturais, aprendizado de máquina, e modelagem e integração de informação motora, visual, tátil e auditiva.
FIGURA 10.1
PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE PNEU
Fonte: https://www.michelinman.com/US/en/help/how-is-a-tire-made.html.
83CAPÍTULO 10 | O ESPAÇO DE OPORTUNIDADES NA GREEN INDUSTRY 4.0
FIGURA 10.2
AIRBUS A350 XWB
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Airbus_A350_XWB
84 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
85RESUMO EXECUTIVO
Apêndice I A Indústria Global de TI
86 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
I. Apêndice I A Indústria Global de TI
A indústria global de tecnologia de informação – TI ultrapassou U$ 3,4 trilhões em 2016, de acordo com a empresa de consultoria em pesquisas IDC. Se as expectativas de crescimento se materializarem, a indústria irá passar a marca de U$ 3,5 trilhões este ano (IDC).
A vasta maioria do gasto em TI se deve a compras feitas por ne-gócios ou empresas, com uma pequena proporção vinda de gastos das famílias. Com o crescente embaçamento do trabalho e da vida pessoal, especialmente no espaço do pequeno negócio, ao longo com o fenômeno do BYOD – bring your own device, é difícil classi-ficar certos tipos de compras de tecnologia como sendo puramente negócio ou somente consumidor.
O mercado dos EUA representa 28% do total mundial, ou pou-co acima de U$ 1 trilhão. O próximo maior mercado é a região da Ásia-Pacífico, a qual abrange Japão, China, Austrália, Índia, e países vizinhos. A participação da Ásia-Pacífico tem crescentemen-te representado uma larga porção da torta global de TI. Isto vem basicamente ocorrendo devido a um mercado da Europa Ocidental crescendo a uma taxa lenta, e, portanto, reduzindo sua participação ao longo do tempo (Figura 1).
Quebrando o mercado global de TI em seus principais componentes de TI (Figura 2), o hardware, software e categorias de serviços repre-sentam 59% do total global. O quarto elemento, os serviços de teleco-municações, representa os 41% remanescentes.
87APÊNDICE I | A INDÚSTRIA GLOBAL DE TI
FIGURA 1
DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DOS GASTOS DE TI
Fonte: IDC.
FIGURA 2
COMPOSIÇÃO GLOBAL DA INDÚSTRIA DE TI
Fonte: IDC.
8%
7%
34%23%
28%
GLOBAL ITINDUSTRY
IT SERVICES
19%
HARDWARE
27%
SOFTWARE
13%
TELECOMSERVICES
41%
• Planning & strategy
• Implementation
• Support
• Operations management
• Training
• Personal computers
• Servers
• Storage
• Smartphones
• Tablets
• Network equipment
• Printers & peripherals
• Applications
• System infrastructure
• Fixed voice
• Fixed data
• Wireless voice
• Wireless data
88 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
A alocação dos gastos tende a variar de país para país. Alguns mercados podem ser relati-vamente imaturos nas categorias tradicionais de computadores e software, e mesmo assim relativamente avançados nas áreas de mobilida-de e comunicação sem fio.
O mercado dos EUA configura uma larga base instalada de hardware, software e serviços. Não que os serviços de telecomunicações não sejam importantes nos EUA, mas os gastos nas categorias mencionadas são maiores relativos ao benchmark global. No mercado dos EUA, os
serviços de TI e software capturam grandes fatias comparadas ao mercado global: 25% versus 19% e 21% versus 13% respectivamente.
Quando se analisa o mercado de TI, é impor-tante notar que outros setores estão paula-tinamente incorporando mais elementos de tecnologias de informação em seus produtos e serviços, embaçando as linhas entre o setor de TI e outras indústrias. Em alguns setores, o uso de tecnologia tem se tornado tão preva-lente que termos tais como FinTech, EdTech, AdTech e FarmTech têm emergido.
A Indústria Brasileira De TiSegundo dados mais recentes da Associação Brasileira das Empresas de Software, o mercado doméstico de Tecnologia da Informação, que inclui hardware, software e serviços, movimentou cerca de 155 bilhões de dólares em 2015 (Tabela 1), representando 8,6% do PIB brasileiro e 4,5% do total de investimentos de TI no mundo, um resultado praticamente igual às participações apontadas no ano anterior. Deste valor, 12,3
bilhões vieram do mercado de software e 14,3 bilhões do mercado de serviços, sendo que a soma destes dois segmentos representou 44% do mercado total de TI, mantendo a tendência de passagem do país para o grupo de economias com maior grau de maturidade, que privilegiam o desenvolvimento de soluções e sistemas.
TABELA 1
MERCADO TOTAL DE TIC NO BRASIL – 2015 (US$ MILHÕES)
Fonte: ABES (2016).
SEGMENTAÇÃO MERCADO
MERCADO DOMÉSTICO
MERCADO EXPORTAÇÃO
MERCADO TOTAL
SOFTWARE 12.337 245 12.582
SERVIÇOS 14.300 680 14.980
HARDWARE 33.386 267 33.653
SUBTOTAL TI 60.023 1.192 61.215
TELECOM 93.715 - 93.715
TOTAL TIC 153.738 1.192 154.930
89APÊNDICE I | A INDÚSTRIA GLOBAL DE TI
Estes valores sofreram um grande abalo em 2016, em função da crise iniciada no país em 2015, mas que foi agravada no ano seguinte, como mostra a comparação da Tabela 1 com a Tabela 2. Por ser um ano atípico, fugindo da curva história de tendência crescente, apresenta-se este comparativo para caracte-
rizar a dramaticidade do quadro de crise no país em 2016.
A distribuição regional do mercado brasileiro de TI é mostrada na Figura 3, apontando para uma grande concentração deste mercado na região sudeste do território nacional.
TABELA 2
MERCADO TOTAL DE TIC NO BRASIL – 2016 (US$ MILHÕES)
Fonte: ABES (2017)
FIGURA 3
DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DO MERCADO BRASILEIRO DE TI
Fonte: ABES (2016).
NORTE
4,24%
CENTRO-OESTE
10,64%
SUL13,95%
NORDESTE
10,72%
SUDESTE
60,44%
Nota: Os valores
referem-se aos mercados
internos do país, não sendo
considerados os montantes
de exportação.
SEGMENTAÇÃO MERCADO
MERCADO DOMÉSTICO
MERCADO EXPORTAÇÃO
MERCADO TOTAL
SOFTWARE 8.475 177 8.652
SERVIÇOS 10.227 499 10.726
HARDWARE 19.844 349 20.193
SUBTOTAL TI 38.546 1.025 39.571
TELECOM 51.344 - 51.344
TOTAL TIC 89.890 1.025 90.915
90 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
91RESUMO EXECUTIVO
Apêndice II A Lei de Informática como Política Pública e Política Industrial
92 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
II. Apêndice II A Lei de Informática como Política Pública e Política Industrial
O Tribunal de Contas da União – TCU publicou em 2014 um rela-tório diagnóstico intitulado “Auditoria na Lei de Informática”. Este é um dos principais documentos de crítica à Lei de Informática dentro do país. A Auditoria teve como objetivo examinar as condições dis-poníveis para que os gestores públicos avaliem os resultados da Lei N° 8.248/1991 (Lei de Informática).
Segundo a Auditoria, a Lei de Informática é a política pública há mais tempo em vigor para o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Calcada em uma renúncia fiscal anual superior a R$ 4 bilhões (dados de 2014), a Lei N° 8.248/1991 nasceu como uma tentativa de substituir a antiga Política Nacional de Informática - PNI, instituída pela Lei N° 7232, de 29/10/1984, que transformou a reserva de mercado da informática em lei.
Constatou-se na Auditoria que a etapa inicial do ciclo das políti-cas públicas (Planejamento e Formulação) não conta com suporte metodológico para a confecção de artefatos mínimos que auxiliem a compreensão da política, especialmente a sistematização dos objeti-vos pretendidos e sua correlação com indicadores. Também não são estabelecidas metas para avaliação dos indicadores.
Como consequência das falhas de planejamento, a etapa de moni-toramento não se traduz em um acompanhamento dos indicadores, utilizados para aferir se os objetivos estão sendo atendidos. Notou--se que a atividade de análise dos Relatórios Demonstrativos Anuais (RDAs), nos quais as empresas prestam contas de suas atividades de
93APÊNDICE II | A LEI DE INFORMÁTICA COMO POLÍTICA PÚBLICA E POLÍTICA INDUSTRIAL
pesquisa e desenvolvimento (P&D), é feita de forma intempestiva, muitas vezes anos após a execução dos projetos, também como consequ-ência da tentativa de analisar todos os anos os relatórios de todas as empresas, sem a utilização de critérios de materialidade, risco e relevância.
Para os auditores, a etapa de Avaliação tam-bém apresentou problemas, especialmente quanto à ausência de avaliação própria dos gestores sobre as considerações apontadas pelas avaliações externas da política. Em outros termos, os gestores receberam diagnóstico e conjunto de sugestões dos avaliadores mas não utilizaram o conteúdo do documento para a proposição de melhorias nos dispositivos da política, o que subsidiaria uma etapa de revisão e completaria o ciclo das políticas públicas.
Desta forma, como resultados dos trabalhos do TCU, foram encontrados oito achados de auditoria, a saber: ineficiências no processo estabelecido de concessão de benefícios; ine-ficiências no processo de análise dos relatórios demonstrativos anuais; deficiências no suporte tecnológico de gestão; ausência de supor-te metodológico para a gestão de políticas
públicas; falhas no processo de monitoramento e avaliação dos dispositivos de P&D; falhas no processo de avaliação dos dispositivos do Pro-cesso Produtivo Básico (PPB); falhas no proces-so de avaliação ex-post da Lei de Informática; e falhas na gestão intrassetorial das políticas públicas relacionadas a TICs.
Embora não tenha sido objetivo avaliar os resultados da Lei de Informática, a Auditoria do TCU notou que o quadro acima descrito pode comprometer o êxito da política e, pior, impedir que as falhas atuais sejam corrigidas com base na melhor percepção da realidade, a qual deveria ser calcada em monitoramento consistente dos dispositivos da lei, com aferição de indicadores, em atendimento dos objetivos propostos e com o devido suporte tecnológico e metodológico.
Na Auditoria foram identificados pontos que merecem reflexão, relacionados aos resultados observáveis: crescente déficit comercial do setor incentivado; baixo valor de exportações; exigên-cia de produção local concentrada nas etapas menos nobres da cadeia de valor (montagem e soldagem); ausência de tratamento para os casos de empresas que realizam as etapas mais
94 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
nobres da cadeia de valor, mas preferiram, por razões econômicas, produzir no exterior; tratamento homogêneo ao conjunto heterogêneo de empresas bene-ficiadas; possibilidade de estrutura inadequada de governança dos institutos de pesquisa; e opção por convênios com universidades fortemente correlacionada a exigências legais.
Outro aspecto interessante da Auditoria do TCU foi sua descrição de uma visão geral da Lei de Informática, que aqui se considera importante reproduzir, nos parágrafos seguintes, para os fins deste trabalho:
- A Lei 8.248, de 23/10/1991, conhecida como Lei de Informá-tica, conforme seu preâmbulo dispõe sobre a capacitação e a competitividade dos setores de informática e automação;
- A Lei de Informática é, portanto, uma política pública, mais especificamente uma política industrial, uma vez que os be-neficiários diretos são as empresas produtoras dos bens elen-cados no Anexo I do Decreto 5.906/2006, que regulamenta a lei (posteriormente modificado pelo Decreto N° 7010, de 16/11/2009). Em consequência disso, os benefícios (como re-dução do IPI- Imposto de Produtos Industrializados) são conce-didos aos produtos que se inserem no rol dos beneficiados, não à empresa indistintamente.
Para fazer jus à renúncia fiscal em tela, as empresas devem se-guir duas exigências associadas aos produtos beneficiados: aten-der ao Processo Produtivo Básico (PPB) estabelecido e investir recursos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D);
- O PPB é o conjunto mínimo de operações em estabeleci-mento fabril que caracteriza a efetiva industrialização de um produto. Os PPBs são estabelecidos por ato conjunto dos Mi-nistérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), podendo ser alterados sempre que fatores técnicos ou econômicos in-dicarem essa necessidade;
- É importante mencionar que os PPBs também são utilizados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (ZFM) para obtenção dos benefícios concedidos pelo Decreto-Lei 288/1967 e alterações. É possível, portanto, escolher se um determinado bem de informática será produzido em Manaus com os benefí-cios da ZFM (regulamentados pelo Decreto 6.008/2006) ou em
95APÊNDICE II | A LEI DE INFORMÁTICA COMO POLÍTICA PÚBLICA E POLÍTICA INDUSTRIAL
outra localidade do país, com os benefícios da Lei de Informática. Embora um mesmo produto possua uma portaria para bens produzidos na Zona Franca e outra para o restante do país (incentivados pela Lei de Infor-mática), na prática, nota-se que o conteúdo de ambas é idêntico, para a maioria dos casos;
- Frisa-se, todavia, que o Anexo II do Decreto 5.906/2006 estabeleceu um conjunto de bens que, embora incluam tecnologia digital, não são consi-derados bens de informática e automação e são, portanto, estimulados à produção em Manaus. Estes bens são essencialmente dos segmentos de áudio/vídeo, lazer e entretenimento, como televisores, pro-jetores e câmeras fotográficas.
- A outra grande exigência da Lei 8.248/1991 (art. 4º, caput) é o investimento em atividades de pesquisa e desenvolvimento, que, na definição dada pelo Decreto 5.906/2006, constituem-se em amplo leque de possi-bilidades, incluindo capacitação de recursos humanos, desenvolvimento de produtos, programas de computa-dor (software) e seus aperfeiçoamentos.
- Os recursos depositados no FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico se desti-nam, exclusivamente, à promoção de projetos estra-tégicos de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da informação, inclusive em segurança da informação (art. 11, III). Por terem aplicação específica, com crité-rios de avaliação distintos, os recursos do FNDCT não foram abordados neste trabalho.
96 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
97RESUMO EXECUTIVO
Apêndice III A Contribuição da Profª. Carlota Perez
98 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
III. Apêndice III A Contribuição da Profª. Carlota Perez
A Profa. Carlota Perez tem uma longa e importante contribuição ao estudo das tecnologias e inovações. Em recentes anos ela vem sen-do muito citada por importantes personalidades ligadas ao mundo das TICs, particularmente pelos capitalistas de risco, tais como Marc Andreeseen, Fred Wilson e Jerry Neumann.
Ela estudou as grandes revoluções tecnológicas desde a revolução industrial e como elas foram impactadas e como impactaram os mercados de capital. O que ela encontrou foi que há duas fases em cada revolução tecnológica, a fase de instalação, quando a tecno-logia vem ao mercado e a infraestrutura é construída (trilhos para as estradas de ferro, linhas de montagem para os carros, infraes-trutura de redes e servidores para a internet) e a fase de implan-tação, quando a tecnologia é amplamente adotada pela sociedade (o desenvolvimento da parte oeste dos EUA na era das ferrovias, a criação dos subúrbios, dos centros de compras, do fast food na era do automóvel, e a adoção os iPhones, Facebook, e dos compartilha-mentos da era da internet móvel).
E o “ponto de mudança” entre as duas fases é quase sempre marcado por um crash financeiro e recuperação. Ver a Figura 1 retirada do seu livro de 2002, intitulado Technological Revolutions and Financial Capital: The Dynamics of Bubbles and Golden Ages, publicado pela Edward Elgar Pub.
99APÊNDICE III | A CONTRIBUIÇÃO DA PROFª. CARLOTA PEREZ
FIGURA 1
CICLOS DE SURGIMENTO TECNOLÓGICO DE CARLOTA PEREZ
Fonte: http://avc.com/2015/02/the-carlota-perez-framework/.
DE
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GESTATIONB
MATURITY A
GESTATIONPERIOD C
BIG BANGB
20 - 30 years 20 - 30 years
COLLAPSE RECOVERY BIG BANGC
1. Creative Destruction2. New Paradigm vs. Old
paradigm3. Financial Capital Leads4. Bubble Creation
1. Creative Construction2. Widespread3. Application of
New Paradigm4. Production Capital Leads
01. IRRUPTION
INSTALLATION
02.FRENZY
03.SYNERGY
04.MATURITY
DEPLOYMENT
TIME
TURNINGPOINT
100 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
101RESUMO EXECUTIVO
Apêndice IV Histórico Recente do Desenvolvimento do Setor de TICs Desenvolvimento do Setor de TIC
102 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
IV. Apêndice IV Histórico Recente do Desenvolvimento do Setor de TICs
A área de informática, ou TICs como é mais chamada nos dias atuais mudou muito ao longo das últimas décadas. Nos últimos 50 (cinquenta) anos vivenciamos cinco ondas de inovação digital, como nos recorda o Prof. Silvio Meira a partir da Figura 1. Mas outra forma também reveladora de como representar esses avanços é aquela defendida pela empresa IDC através dos conceitos de “Plataformas” (Figura 2) e de “Transformação Digital” (Figura 3).
Fonte: Silvio Meira (2016, 2017). Vários slides de palestras.
70’s 80’s 90’s 00’s 10’s• HARDWARE • SOFTWARE • CONECTIVIDADE
• REDES
• SOCIAL
• MÓVEL
• BIGDATA
• COISAS
FIGURA 1
ONDAS DE INOVAÇÃO DIGITAL
103APÊNDICE IV | HISTÓRICO RECENTE DO DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE TICS DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE TIC
Fonte: IDC, 2013.
FIGURA 2
AS 3 PLATAFORMAS DE TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO PARA INOVAÇÃO NOS NEGÓCIOS
MILLIONS of Users
THOUSANDS of Apps
HUNDREDSOF MILLIONS of Users
TENS OFTHOUSANDS of Apps
BILLIONS of Users
MILLIONS of Apps
PLATFORM
3rd
PLATFORM
2nd
PLATFORM
1st
LAN/Internet Client/Server
Big Data/Analytics
Mainframe Terminal
Cloud
Mobility Social/Business
INNOVATIVE INDUSTRY SOLUTIONS
104 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
FIGURA 3
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
Fonte: IDC, 2013.
Big Data/Analytics
Cloud
Mobility
Social
PLATFORM
3rd
INNOVATION ACCELERATORS
D
EVELOPERS INDUSTRY CLOUDS
Next GenSecurity
Augmented &Virtual Reality
Internetof Things
Cognitive/AI
Robotics
3D Printing
105APÊNDICE IV | HISTÓRICO RECENTE DO DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE TICS DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE TIC
Pela Figura 2 vê-se que numa primeira etapa histórica do desenvolvimento da informática (Tecnologias de Informação - TI, ou Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs), vivencia-mos a denominada “Primeira Plataforma”, onde predominavam os grandes computadores (main-frames) e seus terminais. Nessa época, havia milhões de usuários e milhares de aplicações.
Depois, com a emergência dos Personal Com-puters - PCs e da internet, surgiu a “Segunda Plataforma”, com centenas de milhões de usuários e dezenas de milhares de aplica-ções. Hoje estamos diante de uma “Terceira Plataforma”, onde predominam quatro pilares (como defendido pela IDC), que se referem às questões da mobilidade, da cloud computing, do big data/analytics e das ferramentas de negócios sociais. Nela convivem bilhões de usuários e milhões de aplicações.
A atual “Terceira Plataforma” está possibilitando que praticamente todas as empresas e organi-zações passem pelo que está sendo chamado de “Transformação Digital”. Ou seja, os quatro pilares acima citados (mobilidade, cloud, big data/analytics e ferramentas de negócios so-ciais) estão proporcionando o que a IDC chama de “aceleradores de inovação”, dentre os quais se destacam hoje a próxima geração de disposi-tivos de segurança de dados, realidades virtual e aumentada, internet das coisas, sistemas cogni-tivos, robótica, impressora 3 D, etc.
A Nova Estratégia Nacional do Setor de TICs, portanto, necessariamente deverá levar em conta as diversas implicações decorrentes deste novo cenário das tecnologias, serviços e modelos de negócios, não somente da indústria global de TICs, mas também do mercado global de TICs (que en-globa, além dos seus produtores, os seus usuários).
106 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
107RESUMO EXECUTIVO
Apêndice V Megatendências e Oportunidades para o Mercado Global de TI (e de Software em particular)
108 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
V. Apêndice V Megatendências e Oportunidades para o Mercado Global de TI (e de Software em particular)
Este texto cobre aquelas megatendências que se espera venham a ter um forte impacto no mercado global de TI. Elas foram compiladas primariamente visando especificar as megatendências para os sistemas de ciência, tecnologia e inovação, de acordo com o relatório OECD Science, Technology and Innovation - STI Outlook 2016. No entanto, elas podem muito bem representar as megatendências que afetarão o mercado global de TI.
Elas cobrem oito áreas temáticas, tais como descrito no decorrer deste apêndice. Enquanto o horizonte de tempo adotado para o STI outlook foi de 10-15 anos, várias projeções apresentadas à frente cobrem um período mais longo no futuro. Isto em parte reflete a disponibilidade de dados. Também reflete o fato de que grandes mudanças discerníveis para algumas megatendências são vistas, de forma melhor, ao longo de um período de tempo mais longo de 20 ou mais anos. Independentemente do horizonte de tempo adotado, há implicações para políticas de TI hoje.
109APÊNDICE V | MEGATENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES PARA O MERCADO GLOBAL DE TI (E DE SOFTWARE EM PARTICULAR)
Num breve panorama, algumas das megatendên-cias cobertas incluem as seguintes:
1 Demografia: A população mundial irá con-tinuar a crescer no século 21 e espera-se atingir a marca de 10 bilhões na metade do século. A África representará mais da meta-de deste crescimento, que vai gerar signifi-cativos grupos de jovens. Em outros lugares, incluindo muitos países em desenvolvimento, as populações irão envelhecer significati-vamente, e aqueles acima de 80 anos irão representar em torno de 10% da população mundial em 2050, um incremento de 4% em relação a 2010. Com uma percentagem de-clinante da população no trabalho, os países em envelhecimento enfrentarão uma batalha para manter seus padrões de vida. Migra-ção internacional de países com populações jovens podem contrapor este declínio. Ao mesmo tempo, tecnologias que fortaleçam capacidades físicas e cognitivas podem per-mitir que pessoas mais velhas trabalhem por mais tempo, enquanto a crescente automa-ção pode reduzir a demanda por trabalho;
2 Recursos naturais e energia: Uma crescente população, acoplada com crescimento eco-nômico, irá colocar considerável carga sobre os recursos naturais. Stress severo sobre a água é provável em muitas partes do mundo, enquanto insegurança alimentar persistirá em muitas regiões, predominantemente pobres. O consumo de energia irá também subir fortemente, contribuindo ainda mais para a mudança climática. A biodiversidade global irá ficar sob crescente ameaça, especialmente em países pobres densamente povoados;
3 Mudança climática e o ambiente: A mitiga-ção, em considerável extensão e impactos, da mudança climática irá requerer alvos am-biciosos para redução das emissões de gás do efeito estufa e de reciclagem de resíduos, implicando uma grande mudança em direção à “economia circular” de baixo carbono na metade do século. Esta mudança irá afetar todas as partes da economia e da sociedade, e irá ser possibilitada por inovação tecnoló-gica e adoção em economias desenvolvidas e em desenvolvimento;
4 Globalização: O centro de gravidade da economia mundial irá continuar para o leste e sudeste, e novos players irão adquirir mais poder, alguns deles serão Estados, alguns deles serão atores não-Estado (tais como empresas multinacionais e ONGs), e outras megacidades emergentes. A globalização está dirigindo e facilitando muitas dessas mudanças em poder e influência. Mas a globalização irá enfrentar inevitavelmente contracorrentes e ventos, tais como instabi-lidade política, possíveis conflitos armados e novas barreiras ao comércio;
5 Papel do governo: Governos irão ser com-pelidos a responder a muitos grandes desa-fios emergindo no futuro em um contexto marcado por acumulada pressão fiscal, erodindo a confiança pública no governo e a contínua transição para um mundo mul-tipolar, com o consequente potencial para instabilidade crescente;
6 Economia, empregos e produtividade: Tec-nologias digitais irão continuar a ter grandes impactos em economias e sociedades. Ao longo dos próximos 15 anos, empresas irão se tornar predominantemente digitaliza-das, possibilitando projeto, manufatura e processos de distribuição serem altamente integrados e eficientes. Os custos de equi-pamentos e de computação irão continuar a cair, enquanto o crescimento de práticas de desenvolvimento open source irão criar mais comunidades de desenvolvedores. Haverá mais oportunidades para entrantes – incluin-do indivíduos, empresas de fora e empre-endedores – para ter sucesso em novos mercados. Ao mesmo tempo, a queda nos custos de poder computacional e avanços em aprendizado de máquina e inteligência artificial irão continuar, e irão ter implicações importantes para os mercados de trabalho, como um em cada dez empregos nos países da OECD com riscos de serem automatiza-dos nas próximas duas décadas;
7 Sociedade: O futuro verá marcantes mudan-ças em estruturas de famílias e de lares nos países da OECD com significativos aumentos em famílias de uma só pessoa e casais sem crianças. Acesso à educação e aquisição de
110 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
habilidade serão uma das mais importan-tes chaves para melhorar as chances de vida. O crescimento na matrícula feminina em todos os níveis da educação, e irá ter importantes implicações para os mercados de trabalho e vida familiar. A população global irá ser crescentemente urbana, com 90% deste crescimento ocorrendo na Ásia e África. A urbanização poderá trazer vários benefícios para os países em desenvolvimento, incluindo melhor acesso à eletricidade, água e saneamento. Mas ela poderá trazer também extensiva formação de favelas com consequências negativas para a saúde humana e o ambiente;
8 Saúde, desigualdade e bem-estar: O trata-mento das doenças infecciosas que afetam o mundo em desenvolvimento despropor-cionalmente irá ser mais comprometido pela resistência antibacteriana. Doenças não comunicáveis e neurológicas estão projetadas para crescer rapidamente em linha com o envelhecimento demográfico e a globalização de estilos de vida não saudáveis. Desigualdades irão crescer em muitos países desenvolvidos, assim como as taxas de pobreza e os perfis daqueles em risco de pobreza;
9 Neste mundo mutante, as TIs podem trabalhar como uma “faca de dois gumes”. Por um lado, os avanços tecnológicos têm o potencial de reforçar os efeitos desestabili-zadores de muitas das megatendências aqui descritas. Por outro, elas têm o potencial de melhorar as resposta da humanidade a muitos dos desafios globais que o planeta enfrenta. De qualquer forma, elas irão ter uma grande influência, frequentemente de maneiras inesperadas;
10 A Tecnologia está preparada para promover disrupções nas sociedades, com resultados incertos. Futuros desenvolvimentos em STI podem acelerar, intensificar ou reverter dinâmicas de megatendências. Mas esses desenvolvimentos também têm o potencial de oferecer soluções para os desafios que enfrentamos. Por exemplo, a globalização irá ser ainda mais intensificada pelos avanços em tecnologias de comunicações e trans-
portes; o crescimento da renda será guia crescentemente pelos desenvolvimentos em STI; reduções em emissões de CO2 irão depender do desenvolvimento de novas tecnologias de energia limpa; e resultados de saúde melhorada e crescente expectativa de vida irão depender fortemente de inovação tecnológica em saúde; e
11 Por outro lado, tecnologias emergentes con-duzem vários riscos e incertezas, e muitas levantam importantes questões éticas tam-bém. Desenvolvimentos em STI podem exa-cerbar desigualdades sem uma difusão ampla de inovação e aquisição de habilidades. Desenvolvimentos em inteligência artificial e robótica levantam preocupações em torno de empregos futuros; a Internet das Coisas e analítica de big data em torno de privacida-de; impressora 3D em torno de privacidade e propriedade intelectual; biologia sintética em torno de biossegurança; e neurociências em torno da dignidade humana.
Ainda, espera-se que tecnologias emergentes tenham um amplo impacto em vários campos de aplicação e irão frequentemente depender de ou-tras tecnologias capacitadoras para seus desenvol-vimentos e exploração. Convergência de tecnologia e combinação podem ser ainda mais ajudadas por arranjos de trabalhos interdisciplinares e treina-mento de habilidades.
Em resumo, são várias oportunidades que se abrem no campo da STI e que certamente serão também oportunidades para o desenvolvimento das TICs em geral, e para o desenvolvimento de software em particular (especificamente de software industrial).
111APÊNDICE V | MEGATENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES PARA O MERCADO GLOBAL DE TI (E DE SOFTWARE EM PARTICULAR)
112 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
113RESUMO EXECUTIVO
Referências Bibliográficas
114 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
11. Referências BibliográficasABES – Associação Brasileira de Empresas de Software (2016). “Mercado Brasileiro de Software: Panorama e Tendências”.
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115REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
118 PRODUTO 12.1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO SETOR DE SOFTWARE INDUSTRIAL
BRASÍLIA–DFSetor de Indústrias Gráficas (SIG)
Quadra 04 - Bloco BCep.: 70.610-440
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