I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
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8/18/2019 I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
1/16
Lygm
l'agundes 1elles.
I
Bienal
do
Mu >eu
de
ne
Modemu* A
MaHhn R10 de
Jandro.
15 de
ju -
lho de 19Sl
1
Yulanda Penteado, op. dt. p 178 .
1
lconor A m ~ r a n t c : .
op.
dt..
p .
' Aracy
t\m.Jr,tl
, Blennl ou dn irn-
p n ~ l b l l i d a d C
dc: 11:tcr
u
t ~ m p o ,
art.
dt..
p
19
.
Pois
agora drC'gOII a I'CZ da
anC'.
Basta dC s t m r o ~
considerados apntas macumbeiros ou espenos
;ogaclorc >
dt' futebol. Agora sur mns apresentados
como
artrsta5.
Lygia Fagundt's Tellcs •
I Bienal do
Museu
de Arte Moderna de São Paulo
o esse mesmo titulo. o MAM de São Paulo lançaria a IB1enal hucmacional dl
Arte da América Latina. Idéia atribuída a Francisco Matarazzo Sobrinho, mecenas
criador do próprio Museu. Yolanda Pcmcado. á época casada com Ciccillo, conla
nos em sua autobiografia como a idéia de fazer uma Bienal de Arte surgiu
de uma
maneira completamente imprevista :
Um dia. o Cicdllo estava conversando com o Anuro Profili. c
me fez ~ s a
pergunta:
-
Vocc
não quer
cxpcri
memar
f a z ~ : r
uma Bienal
7
Fiquei
mwm espantada porque
nem
sabia direito o que era uma bienal
N
eles
me
disseram :
-
Jã
escrevemos a diversos paiscs
ugcrindo
essa idéia. mas
não
veio respo:.ta
Você
quer lrntar? .
Houve quem reivmdicasse para SI a autoria da idéia, como o antsta Danilo Dt
Prete, que. em 1979, conta em entrevista que teria sido ele a sugerir uma Bienal de
Arte
em
meados
de 1946. Assim
como houve quem atribuísse a idéia iníci;ll
à
própria Yolanda, como o critico argentino Romero
Brest
Mas em sua autobiogra
fia, Yolanda relata que a idéia partira de Cicdllo e a ela caberia a tarefa de fazer os
convites Internacionais, como veremos. ParaAraC) Amaral. Mpouco rmporta hoJe se a
idéta das Bienals foi-lhe assoprada por Danilo
Di
Prete. conforme recemememc se
levantou.
ou
se
resultou de uma 'competição' entre o
MAM-SP
e o Masp
de
Cha
teaubriand dirigido por Bardi, que lambem tena ideras s1milaresM·. pois OccJIIo
8 1 r o s I
37
-
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38
teria se proposto a ser o centro e a base
cfo
projeto das bienais Enm:tanto, a
imponância
do
"assessoramento" de Di Prcte e a proximidade emrc esse JlllllOr e o
mccenas talvez s1rvam para exphcar o ~ e n c a n t a m e n t o c a Mp;enerosidade" que a
Bit·nal teve para
com
esse pintor italiano ren:m-chcgado. Pms
e
falO
que as cons
tantes premiações dadas a
Di
Pretc dividiram a critica desde sempre.
s e ~ V i n d o
de
materia para debates c desconfianças.
Yolandajâ tmha v1agem marcada para a lndia, convidada por embaixadorrs de
lá
. Pensando nisso. Profili preparou um memorando que devia ser l(·vado pessoal
mente por
Yolçondcr que. ao l.mçar r:ruucisco Mnt.1razzo Sohrinho ;a ideia de levar o Museu
reali1ar uma Bienal. lu dus mni'> acirrados llllllSilore'>. Rcalucn• · o Museu Cl•rncçava.
Não uuso
recorrl'r
à
con,agrado
CJCpressão
mnl
l·omcç.tv:•"·
purqUl'
comc
'ui•;us :10 Bra.-.l. Dn
cum•·ntv
do Arqt11vo da A •·nal
-
8/18/2019 I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
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Ar Jcy
AmaraL "Bienal ou d:J im
pos,lhlhdade de noter
o
tempo",
Ml C:it.,
p
19.
" C . ~ n n de Franch,rl Mot..uazzo
Su
bnnho
Ou·ccu
fnrlloura.
de 13
d '
abril de
19 >1
, olfchando .:on
r m J ç ~ n t lt pmnlo à
l Bienal Uo
curm·nto
rh1
Antuivu
da
Bu:nnl
No inicio das bienais, é claro que a panicipação de Yolanda Penteado foi funda
mental. MMesrno apesar
de: :;un
tdentt frivolidade", segundo Aracy Amaral. da
garantia uma habilidade
e
um tr;insito permitido por sua familtaridadt
com
o meio
artislico no.tcional
e
mtemacwuul l,or exemplo, costumava viajar acompanhada da
escultora Maria Martins.
já
ba-,ta e 'oersada no meio artistico europeu, dentro do
qual viveu a maior
pane
d, sobretudo
nas duas primeiras btcnats.
Enquanto
Yo
landa Penteado
.,e
encarregava dos
v i t e ~
imemacionais, Citdllo
Matarazzo se correspondia com mdusmats do seu meto e com ttuem mais
p u d e ~ s e
doar auxilio para as prenuações da Bienal.
Em cana
á diretoria
do
Rotary
CluiJ de
São Paulo, datada de agosto de
1950,
Cacei
o lembra que a unidade do Rotary Club
de Veneza costumava contribuir com
um
prêmio para a lienal de la. portanto
esperava que
a
entidack brasileira tamhérn o fizesse Alguns meses mnis tarde.
já
com algum a t r o c í n i o ~ c o n f i r m a d o ~ ele l.'scrcve
a
outros possivcas patrortnadores,
tendo mais argumentos a seu favor. Ao solicitar auxilio a Dtrceu Fonwura, ligado
à indústria de medic:tmemos. por exemplo. Matarazzo coml.'nta que a I cderaçào
d a ~ Indústrias e o Jorkcy OuiJ contribuiriam com prêmios no valor de
100
mil
cruzeiros cada um c uma granck companhia de seguros contribu iria com mais 50
mil
rn17eiros
o
mesmo valor que Ctcdllo solicita
a
Fontoura
10
Com
os ·in andamentos públicos e paniculares já confirmados c com a ces >ão
do terreno no Trianon para a constntção do abrigo provisório
p:1ra
a mostra. davul
gou-se então o regulamento da I Bienal do Museu
de .1\rte
Moderna de São Paulo.
cujo objetivo descrito no primeiro item ~ c r i a ..oferecer por via de uma
c;eleção
dl
o i J r a ~
de
anista >
nacionais e e:otrangeiros uma
vasão
de conjunto das mab significa
tivas tendências da
artL·
moderna': O regulamento previa também a realização
til'
outras
u ~
mostras •mernacaonais paralelas a Bienal, denominadas Expostção In
ternacional de Arquitetura e festival Internacional de
Cinem••·
s
normas para
a
panicipação na Bienal eram extremamente simples: os amsttl-"
nacionais ou l'Strangciro i que desejassem concorrer deveriam enviar
um
numero
maxamo de
três
obras
(de
fato, solicitava-se que fossem env1auas
as
obras originais
à sede da Bienal no Museu de Anc Moderna, Já emolduradas c em condições Ul'
:.ercm expostas. caso selecionados), que seriam submetidas ao júri de sell'\·ào.
Com
as obras. os anistas deveriam enviar uma ficha t lc inscrição
em
que especificariam
se elas estariam à venda, pois assim também podiam concorrer aos prêmios-aiJUi
sição"
Dob
tkmre os membros do júri de
~ e J e ç ã o
Sl'riam indicados pelos
a n í ~ t n l
inscritos. cuquamo os outros três seriam escolhido.>
pda
diretoria do Museu
de
•
39
-
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Arte Moderna e pelo presidente da Bienal. De maneira semelhante seriam eleitos
os membros do júri de premiação. Constavam do regulamento divulgado três
prêmios nac10nais e três prêmios estrangeiros nas categorias de pintura, escultura
e gravura- num total de 260 mil
cruzeiros-. enquanto
os demais prêm1os institut
dos haveriam de ser "prêmios-aquisição", ou seja. deveriam ceder ao Museu de Arte
Moderna de São Paulo a propriedade das obras. Porém. antes mesmo da inaugu
ração do evento, os jornais divulgavam que o valor total dos prêmios já passava
da cifra de um
mi
lhão de cruzeiros.
Ctccillo garantia o apoio financeiro entre seus amigos industriais, enquanto
outros estavam envolvidos na montagem da exposação. O grupo de montagem.
formado por Gwmar Morelo. Aldemir Martins, Frans Krajcberg, CarméJao Cruz e
Marcelo Grassmann, se desdobrava para organizar as obras no Trianon, onde al
guns deles figurariam como expositores
0
•
Morelo
conta que
chegava a dormir no
próprio Trlanon, pois como o pavilhão ainda não tinha portas. as obras poderiam
ficar desprotegidas por completo; Aldcmir Martins revezava em turnos com Morelo
a vigilãnciau.
A exposição do Trianon
No dia 20 de outubro de 1951, o pavilhão do Trianon, reformado e adaptado
pelos arquitetos Luis Saia e Eduardo Knee.se de Mello, recebia convidados em ceri
mônia restrita. para no dia seguinte abrir ao público em geral. a I Bienal do Museu
de
Ane Moderna, com
ce
rca de 1.800 obras de vinte países, hnvendo predominãn
caa
das tendências abstratas. Uma enormidade para a época, um verdadeiro "mar de
t e l a s ~ como assinalou o grande critico e artista Arnaldo Pedroso d'Horta. para
quem esta primeira
Baenal foi
"o mais sério acontecimento artístico
já
verificado no
Brasil" Mesmo isso sendo verdade, o critico, no calor da hora, podia
notar
que
havia uma enorme desoncntação do publico, que, ao adentrar o imenso salão, se
via perdido no tal mar de celas", sem ~ v r as praias pelas quais guiar-se"
13
•
Na
imprensa, a Bienal era sem dúvida o assunto principal - fosse a publicação
contra ou a favor da mostra ou do seu conteúdo. Alguns jornais publicavam
questionamentos innamados em relação à sua organização, a Ciccillo, aos Júris de
seleção e premiação, aos artistas participantes, às próprias obras, ao passo que
outros periódicos
se
concenuavam em divulgar, por vezes de forma minuciosa,
tudo o que s passava no Trianon- desde fotografias das celebridades e dos polí
ticos presentes à inauguração até a publicação de longos artigos e fascículos espe
ciais sobre a I Bienal.
Nada disso impediu, entretanto, que um "memorial-protesto" elaborado por
duzentos artistas acadêmicos ligados
à
Associação Paulista de Belas-Artes. consi-
P u o r t l a
• Leonor Amarante, op.c
li
., p.
8
.
" Ibidem p 19
A m ~ l d n Proroso d Horta. P ~ o q u e
nos
aspectos do grande problema
da arte lo
Vem
d Hona (org.)
olllo o
coi Scítnl'JD
São
l ~ u l
Imprensa do E. .t;1dn/EDUSP/S•"l'rc
taria de Estado
da
Cu ltura. 2000}
p.
7
-
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• Ueou
l'ignarari.
·oc:wio para o
( ' l l l l l ' r t ' ln
Follla
r
S Pmllo,
20
111• maio de 2001 .
L u r ~ \ arrins. "A
htauguraç lo
da
Olfnal"
o Esrruto r S Pa11/ú, J
dr
numhro
de
1951.
Amõnio
B ~ n t o "A
Bicrul
dl"
5;\o
Paulo"
Dwrio Carioro
1
de
ju -
nht•
· I ~ 1951
.
l.cnnur Am:mune,
op
. dr p. 19 .
'' CarniiXIü Bienal 50 Anos
-
19 11
-
JV I/
S.,u
J>aulu,
ftU1d.tçl1o
Bienal,
2001,
p.
derasse a mostra "falso credo anistico, anticristào.
: ~ n t i l a t i n o
e antibrasileiro". nem
que bancârios
em
greve trouxessem
às
portas da mostra no dia ck
c;ua
inauguração
canazt•.s dizendo "um charuto a menos para o tubarão, c um >ào a mais para o
bancário", em protesto contra a exposição c seu
l'USIO
elevado Dt:ntro da Bienal.
Ciccrllo
Matarazzo abria o t•v,·nto
com
um
discurso que. na opinião de
Oecio
Pígnatan
então jovem estudante.
foi
um estranho evento de derrisão e rlesprczo:
a i n t d l i g ~ m s r a
paulista. drincando no salão. rindo e conversando, sequer o ouviu. Ele sc \ rnganil,
longa e metodicamente" •
A
pan:c
os rnamfestos conservadores ou justas rctvlndicações elos trabalha
dores, uma crôntca publicada no ~ w d o d ~ 5. Plltllo ~ o h r e a Inauguração da mostra
nos
da uma idcia do e n U I ~ i a ~ m o paulistano em relação
à
iniciativa.
O
cronista du
jornal cornl·nta sua experiêrtcia em meio à multidão que aguardava para vishar a
exposição
na
avenida Paulbta:
A um
amtgo, um indivrdun
dizra
que ~ . . ~ c n t a
por ccnlll dactud.r
geme lod.t
fõrn
lá por
simples c u r i o ~ i d a d t c
csnobbmo.
E. sabiamente. o outro n.::.pondia c que t ~ · m ú. so?
Precisamos nos
convencer de 11uc o esnobe c um elemento Litil da sociedade.
Não
tlH
interessa ~ a b e r se ele vem aqui
para
achar l(r.u;u du q u ~ : não emende: o 11npurrante t
tJUC venha e que
raça
onda.
Como em
l ernl o
esnobe
c
ncu
(menos
1 11
que .;nu um csnobt
am.tdorl. pode fazer mais
pela
anc
rnudcma
do que cu ou voce - wmprnndo ( ..
Conforrnl' regulamentado. a delegação l.Jrasilcirn cr.r dh·idida em dob grupos
um grupo de artistas charmulos Mespontáneos", que
detuaram
inscrição e foram
aceitos pdo júri
de
seleção. c o grupo dos convidados. composto pnr arristas jã
famosos. Este último foi bastante criticado. pois os crirerios para os convites não
eram evidentes. Ciccillo foi questionado quanto ao convrre il escultora Mana
Martins - em reunião dl· divulgação da Bienal. realizada em JUnho de 1951. o
escultor .los" Pacheco confirma com Ciccillo qul' Maria Martins iria ligurar como
convidada da I Bienal, ao que completa: "Mas. a sra. Marrins não é anista .:·• .
Leonor Amar;mte lembra que, n e ~ s a primeira edição da mostra, tanto Yolanda Pen
teado como
Milri
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qual vão
se
desenhando formas diversas, an
im
adas
po
r um colorido imenso que
pode chegar a ser muito fino c sutil, estruturando-se como composições que a
pmtura propriamente dita quer obter mas não obtém .
A grande unanimidade da premiação f 1 o suíço Max
Bill. com
a escultura Unida-
de
mpartida que hoje pertence ao acervo do Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo. A premiação ma1s criticada pelos jornais no período foi
referente à tela Limões de Danilo Di Prete. O publico estava decepcionado por não
ver premiados Segall, Portinari e Di Cavalcanti, c isso se somou ao fato de algWlS
considerarem Limões uma tela menor e, especialmente, de seu autor ser de naciona
lidade italiana . Até mesmo a irasóvel Patricia Galvão, a Pagu, num arngo divertido
e sutilmenre conservador em que desanca a Bienal e a arte abstrata, protesttlrá contra
c
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lconor
A r n a r a n t ~ .
op cít.,
p.
24
•
Murilo Mendes. -sugcstocs la
B t t n a l ~ Ditirio Cnriorn :
de
t ~ m b r o de: 1951 .
11
Mano Pedrosa. "Dcpolml'nto ~ o l l r l
o
MAM':
In Otflla Arantes (org.).
Poluico das
niTr S.
op. cu •
p.
JOO.
• ·cogita a Prctdtura da cessao do
'Trianon' por vlnll.'
a n u s ~ . ornal
N a u ~ n s
Rio
de
Janelro
JO
de:
OUIIIhro de
1951 .
anovíssima arte apresentada pelas delegações
de
cad;t
pa1s,
mesclavam-se nomes
de anistas de trajetória já consagr da no exterior. O resu tado era
''
que
se
tomava
evidente aos olhos de críticos e anistas, o vazio de
4llgumas
décadas nas artes
plãsnca.s brasileiras. Lconor Amarante cita declaraçiio de Danílo Oi Prl'te sobre n
"azeda" experiência de sua prerniH\'ào com a rela L i m õ r ~ na I Bienal. na q tal o
anista declarava, apc.spondia.LJ
Paul Klee. Morandi. Magnelli Sophie Tauber Arp Baumcister. Roger Chastl'i,
lét er. Max Bill com a sua escultura premiada -em tomo da qual, segundo Murilo
Mendes, o espectador poderia clrl·ular e circular e circular e ter a
mesma
>cnsação
surpreendente·
"o
mundo estava no Trianon"
1
\ parafraseando manchete
loohre
a
inauguração da mostra.
Nos
jornais. debates entre críticos de arte sobre o
nbsrracionismo; no Trianon, grandes obras
de
artistas consngrados c
de
novos ar
risras; nos bastidores, discussõl'.s inflamadas entre os organizadorrs - tudo
tsso
marcava c marcaria para o futuro ,J > bienais paulistana ..
Organizada pelo jovem diretor artístico Lourival Gomes Machado, segundo Mário
Pedrosa
foi
a ·'Bienal
do
ensaio, c i ~ improvisação, da experiência Que e l e s ~ sa1u
com galhardia da empreitada, todos o atestam" '.
Nem
todos. na verdade Pois
mal se innugurou a l Bienal e os jornais já noticiavam o pl·dido de demissão de l.ou
rival
Gumes
Machado devido a desentendimentos envolvendo o presidente
do
Museu,
Ciccillo Matarazz.o A favor do dm to r, artist;ls mandaram abaixo-;mar a
do
solte
tando a Ciccillo que recusasse o pedido de drmissào.
Mas a Bienal seguinte, em 195J,já não teria o jovem Lourival em seu comando
artístico. Em seu lugar estaria aquele que foi talvez o princ1pal intelectual do pm
jeto o crítico de arte. um dos pnncipais pensndorcs do Brasil naquele momento
(vindo diretamente da Semana de Arte Moderna). Sérgio M lltel, que já
t•ra
o secre
tário-geral da Bienal. Mas não cta apenas a que
as
cmsas mudariam O próprio
espaço p;ua a Bienal estava em questão. Jâ nessa época, 4l l'refeitura de São Pélulc>
cognou a cessão do Trtanon
a
Bil·nal por
ma1s
vinte anos para a conrrl nzação
da
mostran.
mas
a U Bienal encontraria abrigo ainda melhor no fim do ano dr 195J.
Absrração c figuração: esquerda e direita
no debate sobre a arte c a Guerra Fria
O que Pedrosa chamou de B i ~ n a l da improvisação", a artista Mnna Bonomi
definiu como "uma bem lubrificacia modeMa rephca da Bil'nal de Veneza ( .. ) < ~ r r e -
gada claramente dum
f o r t ~
sent1memo de 'olha,
isto
está existindo e nós \
arno-.
fazer também', foi adaptada a nossa realidade': De fato. continua ela.
B n a
-
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a J l r i t n e ~ r a Bienal oi
um
choqut• muilo grnndc pois ninguém imaginava que tais coisas
pudcraam csrar
c n d n kllas
no mundo
e
que u
Bras1l dm par.
a
rrenre
também pnderia
se
l'Unfrontar com c l < ~ ~ ( ..)
c
portanto porkna começar
a
produz1r m t ~ t e n i J · pan1
~ t e
confrnntn.
(Max
Bill,
Jackson
Pulluck c Pkasso
l e t s u ~
Di Covalca.nli
,.
lorrinari)" .
Essa "matéria de que fala a artista se conveneu num
l o n ~ o
debate que cortou a
arte urasaleira c a história da Barnal em seus primeiros anos
de
maneira contunden
te
c com difcre.rnes dimerLc;ões kstétJcas l políticas)· o dchatt. solm a abstração e o
lugar da anc na comciência,
l'
na política, do mundo moderuo
Sobre esse assunto, e sob outro ponto de VISta, a criuca de
< ~ r t c
Maria Alice
Milliet acredita que
"a
abenura da mostra imernacional de
1951
marcou o
fim
do
dom111io incomestc dl Portinari e Di Cavalcanti e tornou
obsokta
a pintura que
faziam e o que representava: uma
cena
visilo de brasilidade"
Era
a
m a r c : : ~
dl'f1nili
va, e isso e incomestavcl, de um
11rocesso de
modemiz:ação da compreensão ptctó
rica no qual a
ane
urasileua, por a gum tempo. arleríu aos rigores do construrivismo
e na construção geométrica encontrou a essênCia da linguagem plástica (
..
) nas
Bienais consolidou-se definilivamente o
1110derno •
Mas
o que sena wo modem o
..
naqueles anos
ern
que o descnvolvimemismo
rln
"era
JK",
m novos projetos de industrialização e abertura mercados
t•
a Guerra Fria
davam
as
canas? Para Maria Bonomi, que
Foi
testemunha dessa epocn. em seu prOJl'lO
de fundação, a Bienal queria se tornar urna "grife", uma marca distintiva das outras
grandt' i
exposições
dt· :arte. P : ~ r a asso, ela
deveria
se
fundamentar
em
três
princap1os
basicos: um princ1pio voltado ao coll-tivo,
à
ma1or quantidade de público. de anis as,
de participantes; aposwr tudo no conceito de "novidade . e polêmica .. o cspontãnto da
vanguarda"; e centrar-se igualmente na idéia da multiplicidade e diversidade da arte
contemporânea, sempre que possivd em suas diferentes manifestações, na arquitetura,
no teatro. no cinema. na dança. na
mli.sica.
Enfim, surgir -como uma amostragem imernuva
mais do
qut
um simpiD corredor para exibição artistica""'.
A art1stn observa muito
hl·m
ttue esse projeto, "ao longo da maior parte dl' c;ua
existência( .. ) contou sempre com uma variedade de profissionais desvmculados
do mercado dt·
anc
atuando como dirl'tores ou como assessores d 1 diretoria, de
curadores nacional$ excelente'> que em sua
maion01
;i pilotaram t•om agilidade': E
que a Bienal,
em ua
or igem, quena ser polcmica "nws abena,
dt
preferência
democrática,
d i r i ~ 1 d a
ao poviio, aos que não viajavam" .
fruetuuto,
tende a
centrar
s s ~
elogio c o desenho desse projeto à figura de Ciccillo Matarazzo. cru
sua
wgcnialidade' ou ·personalidade", como e costl1mc até hoje em muitos co
memanstas, sobretudo do inicio das bienais, t r i b u i n d o ~ l
he
o que era mérito dos
primeiros grandes críticos c diretores tanto da Bienal quanto do
MAM
(como
Sêrg10 Milliet c M:ino Pcdrosa)
c o
P ; u I l a
Ma
na Bonumi "Bicn l
rl
rt
stn US
Silo l'
aulu.
o
52,
de
z
cmhrn
. j
anc1ru.
k n
rem1
.lOO I
.l0
02, p.
l l-2
.. M.1ria
Ali
ce Mllllct.
Blt:nal
I" r
u l ' o o ~ e pen:alçu,• Rr i'
ISI(l
USP
São Paulo, n• 51. d
cr
rmhro, ja
nclru. fevcrciru. 2
001
2002. I ·
94
" Mnna Bonom l. "Bienal
>cm(lrc
· ,
arl
ciL,
p.
32
' Ibidem, p. 32-l
-
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9/16
11
Rlc.Hdo
N a ~ d m r n t o Fabhrini
.
·rara uma histOria da B
irnal
de
S ~ o
PaulD.
an.
clt.,
p.
48
O grande resumo
d e s s a ~ p o l ~ m i
C lb c ~ t ~ em Aracv Amaral
rtr
pur q u ~
A
prrorupnção social
rrnnrrrbrnsi lrrra J9J0 19101Sllo
Pnulo, Nobel, 1984) p. 227
7l
u Marta Alice Milllt:t
"Birnnl:
pcr
(Ur>os
percalços" art. dt
,
p. 94.
" ALtl }
Amaral. "Bienal
ou d < ~ im
po,,lbilid,ldc
de
reter o
tempo·.
art
cit,
p.
20
Dentro desse proJeto, tão generosamente descrito por Bonomi, s
polêmica..\
se
instalavam. A primeira deJas, e que marcaria a década de 1950, foi a que opõs os
defensores das formas figurativas (muitos delb vindos da tradição modcrntsta) àqu\:
lcs que
declaravam o lim dessas forn1as para investir no surgimemo e na radicalização
das formas e da pesquisa "abstrata':
As
primctras edtções da Bienal
foram
profunda
mente cortadas por polêmicas calorosas (e por vezes maniqueístas), sobretudo entn:
os criticas que atacavam os "formallsmos modernos", responsabilizando-os por e:>va
ziar o valor soctal e militante da ane. contra os
dcfensOrl-s
das novas
fom1as
de
intervenção e cone (st;ja na história da arte, seja. nos mms sofisttcados,
nn
propriil
percepção estética ou cultural). do abstracionismo, ·amo o geométrico quanto o for
mal - que, alias, lambem e s t < ~ v a m em confronto uns contra os nutros
11
• No meto
dessas batalhas, muitos iam caindo pelo raminho, como o "naturalismo ll(lifou os
· m o d e r n i s t a ~
oficiais, como Poninari e
Dt
Cavale1nu. qul' l'ntretant
>
nào dcixaram
de ter suas glórias em algumas bienais H. Mas essr debate transcendeu o terreno da
estética e incorporou duas qucsrões de ordem pollttca: o debate esquerd.1-direna c
os
"interesses" nane-americanos
na
divulgação
da
arte moderna.
No campo do debate entre a esquerda e a direita
(ou.
mais precisaml'ntc, da(JUI
Io que se constderava
ane
progressista ou não). havia uma subdtvisão
que
opunha
os defensores do abstracionismo construtivo,
ou
geométnco. e
os
pintores c
cnu
cos ligados
ao
abstracionismo informal.
ou
tachlsmo (como preJI:ria Mário Pedros.t) .
A questào
ia
além
de
paradigmas estéticos, dizia respeito ao ··controle
i d ~ o l ó g i c o
em
clíma de guerra
fria .
O construttvtsmo geométrico tomou força não apenas no
Brasil, mas também na Argentina. no Uruguai, na Venezuela e na Colõmbia. pauta
do na idéia de que os pressupostos construtivos seriam adl.'quados c nc:cessano-. as
sociedades em desenvolvimento. Por outro lado. o abstraciomsmo informal. cuJo
carro-chefe era a pmrura gestual dl' Pollock. promovida pelo MoMA sob as bên
çãos do Depanamenlo de Estado americano.
foi
apresentado como a mais legttima
expressão de liberdade individual. alheta a qualquer constrangimento social ou
politico. Aos olhos da esquerda, entretanto. essa pintura nilo passava dl' uma ilrte
alienada e
a l í ~ : n a n t e n .
Não
para
10da
a l'squerda.
é
claro.
Na I Bienal. jovens :-trthta.s de esquerda lançaram o "Manifesto Conscqtiénua",
no
qual acusavam a Bienal de não st·r
mais
do que uma "infame
propag
-
8/18/2019 I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
10/16
a Btcnal cnarn t•ntrc nos uma c l t b ~ c compmdora da art.: abstratn,
qucJà
aparrn· cntrc
us ~ t u b a r õ e s "
que
ligamm
seus
nomes oo:.
prcrnios.
Essa t•lassc
compraduru
c o govcmo
compn:l•nderc'io
a tmponanaíl
da chamada
art1.
moderna. Criarão um mcn:ado p.trn os
anisws que com tsso,
tcr:'10
seus problemas resolvidos. desde qu1.· pintem como cnm-
pradon..., desejam, isto d1.·sdc que punem l'Omo : Btcnal
\
Mano Pcdrosa.
um
cnttco tambêm de esquerda (na
verd&ldc,
um trotskiSta histô
rlco). responde imrdiaramt•ntc
ao ataque.
Em
anigo publicado
no
jornal nbuua r o
lmpre11sn intitluado Btcnal de São Paulo tos comunist
1s
·.contra-ataca.
ns cscnhas do stalinbrno nioulo,
flileira
na l ó g i c : ~ elos movtmcHtos :mís
ticos intcrnaetonais. definidos. enquanto idc:irlo. pda b u s ~ < l incessante da cxpcri
mt·mação formal"
Mas
a outra
~ q u e s t ã o
pohnca", at1uda que se rereria aos '·merc.sses am.:rica
nos".
tamo na Bienal quamo na arte abstrata. ainda estava nbena.
De
fato,
LSSes
interesses ex1stiam, e medir seu tamanho c significado ainda hoje é uma questão
complexa. F certo que as ligações e interesses
do
govcmo americano c de Ndson
Rockefeller são indissociáveis tanto da fundação
do
M.AM
-SP quando da Bienal.
Arney
Amaral cot ta que numa entrevista feita por ela corn Yolanda Peuteaôo. em
olrçO
P a u
c t
\'llanova . \ n i R ~ " -
",\
Blwal cx-
Jll'C'>':'I"
da dtc:tdcnna burgul'Sa•
Ho r, S ~ u
Paulu,
12 agn\lo
''
1
951
, . Cf Lt OIIor
A l l H l r ~ l l l l ' , up
C:lt
.
p.
16·7
1
Ricardo
Nasdmcntu
l'ahbrinl. "P.1r.1
uma
lt
i\ lurla
ela
Ri
-
8/18/2019 I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
11/16
A racy t \ m : ~ r n l ·sicna l ou da im
p o ~ ' l h l l l d a d c : de: r ~ 1 t r u tempo·,
an
l
,
p
..zo.
•
D.1hun
S.tla.
"Arquivo
de
Arte
da
I undaçM Bknal dr Silo Paulo",
nn. p. 126·7,
1982. sobre os interesses políticos norre-:1mericanos no comcxro da Guerra Fna
em
financiar
a
"arte moderna" no Brasil ,
a
esposa de Cicdllo deixava rxr,lícito essl'
cálculo político:
Ela
n: >pondcu-me com
simplicidade que
era
cvidcnrc
que
hawndo
um
muc:eu
aqUJ
un
plantadu
que tr.rria cxpusiçõcs
intcrnacwnais da
mais alta
t diversa
quahdadt·. abruuJo
jande
projeto estava afinado com o tntercsst:' da poliuca de Fstado norll.: americana no
contexto da Guerra l nn.
Na
atuação desses ''bastidores",
D
-
8/18/2019 I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
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queles
que-
adoraram o pais para viver e trabalhar) e de anistas que fossem "lideres
seus a m p o s ~ · · . Quando deixou o Brasil. segundo demonstra Dalton Sala a partir
de documento do acervo do Arquivo de Anc da Fundação Bienal de São Paulo.
d'Hamoncourt
já
podia
di;oer
que aqui contava. terreno artislico, com colabo
radores ..•. Ainda que ele se referisse a "colaboradores no sentido de organizadores
de grandes exposições. a ambigüidade do trrmo era idêntica à dos interesses e
posturas envolvido >
Se
era descabido i m ~ i n r que Milliet, Antomo Candido. Lourival Gomes Ma
chado ou Mário Pedrosa pudes.)em ser "colaboradores" do Departamento de Estado
norte-americano
1
, c
cerro que os interesses de CicciUo Matarazzo e o depoimento
de Yolanda Penteado só corrobora o óbvio). o "bom burguês nacional'', se cm7a-
vam com de nossa
cultura"' . Se
isc;o
era inegavelmente parte da verdade, os preconceitos arraigados
na
cullura brasileira tnmbém mostravam sua verdade nessas crittcas ferrenhas
e,
também elas, ambíguas. Por exemplo.
em
um artigos a Bienal é
acusada
de promo
ver
a
"ane degenerada" e a "loucura·:
Ou
seja, o critico aproxima-se do mesmo
discurso
(ou
da visão de cultura) do qual se uttlizou o nazismo, duas décadas antes,
para perseguir e banir a arte modema de seu tdeall' "higiêmco" Estado autoritario
e "ariano
.
Outras mostras na I Bienal de Arte
Alem da grande exposição de arte, a I Bienal incluiu urna Exposição Interna
cional
de
Arqunetura, um Festival internacional
de
Cinrma, um Salão Nacional de
Cerâmica
e
promoveu ainda
um
concurso
de
~ o n t s
para vtolino
c
piano, ck auto
res nacionais. A Bienal, em seu mtcio, era muito mats ampla e aberta aos vários
setores da cultura e das artes plasucas do que seria em seu futuro.
A Bienal
do N
Centenário
A artista plâstica Maria Bonomi conta uma ótima história sobre a chegada a São
Puulo da
Guemica,
de Picasso (que pencncia ao acervo
do
MoMA de Nova
York),
a grande "estrela·· da HBienal, que dá conta também de mostrar o quanto a jovem
Bienal era improvisada e dependente dos ânimos e paixões dos poucos envolvidos
com
o mundo das artes
na
cidade do inicio da década de 1950:
48
C
o
I
t
ç
O
P ;
u
I
I
c
l l
"' Ver Rrné d'll tmoncoun. "E\Iildu'
Unido:>.
In Cntdlog
da I B·cnol
do A1usl u de rte ModC rnn dr
Siir1
f>ntrlo. 1951
'
1
Citado
m1
Daltou
Sala.
"Arquivo
dr Arte da Fundação Bienal de
Silo
P:tulo". art. clt . p. 127.
E r e r l ~ o lembrar cmprc qur a
prúprla c ~ q u c r d a ~ r a dlvldld .
tamhém quanto
a
conrt'p\"' io
arte e cuJwrn. c qul' e s s e ~ nolavds
mle.lcctuais ·inham
1amhém
' eus
npushores. para os qunb ch:s dl
v
ligavam ·uma
ar
I<
Cl'l
m n ~
l(t'tn
(:
a
n e ~ n r ; â o dn
\
hl .
. N,\u c
~ i ~ n l n : H i v o
que n
d c l c n , o r c ~
d ~ arte
no
Brasil tj;un
u\ 0\-
valdo dr Andrade. os fl;tvio dr
Carvalho. Sérgio Mlllicl?",
l -
tTt \ Cll um l1:rto Aydano tlo
Co111u
fcrraz
num
artigo intitulado • A
Bienal Propaganda l t l ~ o l 6 g i t
do Imperialismo", dt: 1951 .
f
Dalton Sala "Àrquivo dr
ArtC'
da
Fumlaçâu Bienal dt·
Silo
Pau
to•,
nn . cit
.
p. 127.
-
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'
M.ula
Bonoml. Bienal 'ernrtre".
art. cll.,
p.
.
'
Mnrio rroro'i.l. ·o rncunrnru 1rthll-
In Olilla Ar.Uih:' rorg.) , cndê·
miros
r
modrmos
op. clt., p 2•11 .
"' Ibidem, p.
142
.
numa madrugada
(de
1953) fomos convocados
às
duas horas da manhã para cof I Cr a
Brenal porque haviam chegado umas
catxac;
de cerra imporTância e profissionms
da
àrea com muita energia
e
discrição deveriam plantar suas tendas
e
acampar para
um
piquete norumo de proteção
c
manipulação
du
que havia
>Ido emb rc do Não
se con
tava
ssim de
repente com
m ~ c ó l u g o s
c
cum
o p c c i a l C . t a ~ .
mas sim com ess;c, pessu;c,
que de boa vontade arrcgaça\'am as mangas c ~ q u c c i m o proprio nome. Guemíca
havia chegado. Como contorno, Mareei Duchamp, George Braque c Paul
Klcc••
.
Esse5
eram certamente
os
galardões da alta cultura - e eles eram muito bem
vindos Mas a
l i
Bienal do Museu de Art(' Moderna de São Paulo. para mais uma
ve7.
negar o maniqueismo ou a visão curta dos seus critico.s stalinistas. apresentou
também obras o( artistas
rio
Paraguai a Cuba. da Indonésia aIugoslávia, do Egito
à
Noruega
Como
nunca ames. nesse momento praticamente roda a complexidade da
cultura contemporânea na forma da arte podia ser vista no Brasil.
01.' fmo. as coisas no mundo da arte estavam mudando e llaviarn mudado ainda
mais depois da primeira edição da Bienal de São Paulo. Em abril de 1952, o Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro elaborou uma grande mostra de arte nacional
chamada de Exposição de Artistas Brasileiros Era a primeira vez que uma mostra
de arte brasileira de grandes proporções acontecia depois do impacto rla I Bienal
Ainda que poucos meses separassem a mostra carioca da Bienal paulistana. trata
vn-se de um momento em llue se poderia medir s conseqi.lências, no calor da hora,
do furacão da Bienal sobre a produção nacional.
De
fato. Mário Pedrosa notou essa
oportunidade no texto que escreveu para o catalogo da cxpoc;tção. Em momento
artístico , Pcdrosa comprova que já se podiam notar os primeiros efeitos do im
pacto do grande certame internacional sobre os pintores e escultores do pah '\
O crüico aponta esses efeitos
1
os
j o v e n ~
artistas. sobrentdo a partir de certa
perda de pudor. uma salutar irreverência para
com
os vdhos . os anistas já
bc:m
estabelecidos. Antes
rla
Bienal,
os
jovens artistas sofriam de timidez c falta de
nudácia : eram reverentes demais para com os
velho':
Pedrosa demonstra qul' o
impacto da
1
Bienal teve um caráter afirmativo, quase de ltbcrtaçào para as inova
ções no campo estético c comportamental : o ambiente arttstico está em
c:fcrvc.scência.
Sumiu-se a modorra asfixiante. Os artistas começam a brigar por
suas idéias, suas convtcções estéticas Excelente , bradava empolgado o grande
critico. Porque a partir de então serta possível fazer uma espécit de rccenst'amen
to do que há, depois do marco divisorio que foi a nossa pnme1ra B i e n a l ·
De
fato.
pouco antes da l Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, ainda no
Rio
de
Janeiro. em 20 dejaneJro de
1953 f01
inaugurada a I Expostção Internacional de Artt>
Absrrata, no Horel Quirand.inha. essa exposição, sinal dos novos tempos e das novas
estéticas, teve Mário Pcdrosa
em
seu júri.
B I l
n a 19
-
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14/16
Ma'>
o que e'>tava anunciado
não
era apl'llas morivo de júbilo. Poil. o que viria
cmão
~ t · r i
um dos mai'> cerrados e apaixonados debates da história da am· (no
mundo c. especialmente. no Bra.,il): a querela entre 0 ;mistas (t•
critico >)
que
defendiam a figur.u;ão na
ane
moderna contra os abstracionistas. Pt:drosa, romo se
abe,
tomava
panido
destes úllimos. Foi mesmo
Sl'U
maior
pona-vol.
Já
na
Fxposi
çào
de
i\nLc;tas Brasileiro'> defencll' os abstratos- aqueles para os quais
-a
arte serve
para liiR•nar o homem. t•rguê-Jo acima do cotidiano·· -
contra
os pmpont:ntes da
pt•rmanência da rl'presentaçào figurativa -
q u e k ~
que. st•gundo u critico,
mnce
hem a ane como
'"
um nohre instrumento de edu(·nção. despido de
autono
mia-n. Ct•rto ou t'rr.Hio, a questão da aulOnomia da anc (inll'macional ou nacional),
'>t'u
caráter utópico e
sua'>
pULcncialidadt·'> transformadoras
da
pern•pçào esl
-
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15/16
Ctttillo
Matarazzo
c
G1uho
Baradcl
l n ~ c t o r Geral da Btenal Veneza).
Functonanos do useu le irtt
M o d ~ : r n a
obserV
-
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16/16
ViSJt3 les observ m
obra r
Abraham Palatmk
(Bras1l)
Oan
1o
D1
Prt tl
[Brasil), ümões
1
95
1.
Virtor
BrcchercL (Brasil I milo t a Suossuopora 1951