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    I INTRODUO

    I.1 Urbanizao

    As primeiras cidades surgiram na Mesopotmia (atual Iraque), depois vieram as

    cidades do Vale do Nilo, do Indo, da regio mediterrnea e Europa e, finalmente, as

    cidades da China e do Novo Mundo .

    Embora as primeiras cidades tenham aparecido h mais de 3.500 anos a.C., o

    processo de urbanizao moderno teve incio no sculo XVIII, em conseqncia da

    Revoluo Industrial, desencadeada inicialmente na Europa. No Terceiro Mundo, a

    urbanizao um fato bem recente. Hoje quase metade da populao mundial vive

    em cidades havendo uma tendncia de aumento conforme se acelera o

    desenvolvimento .

    No sculo XX, aps a II Guerra Mundial, devido necessria reconstruo fsica

    a que se viram obrigadas algumas cidades, muitos pases importantes tomaram

    medidas para formalizar leis baseadas em princpios urbansticos .

    Na Era Moderna, a Inglaterra foi o primeiro pas do mundo a se urbanizar, tendo

    j em 1850 mais de 50% da populao urbana, no entanto a urbanizao acelerada da

    maior parte dos pases desenvolvidos industrializados s ocorreu a partir da segunda

    metade do sculo XIX. Alm disso, esses pases demoraram mais tempo para se

    tornar urbanizados que a maioria dos atuais pases em desenvolvimento. Portanto, em

    geral, quanto mais tarde um pas se torna industrializado tanto mais rpida sua

    urbanizao .

  • 2

    O Brasil conhece o fenmeno da urbanizao propriamente dita somente em

    meados do sculo XX. At ento, a vida urbana resumia-se, na maior parte do pas, a

    funes administrativas voltadas a garantir a ordem e coordenar a produo agrcola .

    Em fins do sculo XIX, o Brasil assiste ao crescimento do fenmeno de

    urbanizao do territrio. So Paulo, lder na produo cafeeira, inicia a formao de

    uma rede de cidades, envolvendo os estados do Rio Janeiro e de Minas Gerais. Mas,

    ser apenas em meados do sculo XX, quando ocorre a unificao dos meios de

    transporte e comunicao, que as condies se tornam propcias para uma verdadeira

    integrao do territrio. Modificam-se substancialmente os fluxos econmicos e

    demogrficos, conferindo um novo valor aos lugares 4.

    A evoluo da taxa de urbanizao no Brasil indica a importncia e a velocidade

    das transformaes. Em 1950 este ndice alcanava 36% sobre o total da populao

    do Pas. Em 1970 representava 57%, ou seja, mais da metade da populao, e em

    1990, chegava a 77%. A populao urbana no Brasil em 1991, 116 milhes de

    habitantes, se aproximava da populao total do Pas da dcada anterior 119

    milhes de habitantes em 1980 . Nessa dcada, o pas j contava com 142 cidades

    com mais de 100 mil habitantes e, em 1991, eram 187 4.

    Nos anos 90 constata-se uma elevao nas taxas de urbanizao das diversas

    regies do Pas. O Sudeste, pioneiro do moderno sistema urbano brasileiro,

    apresentava, em 1996, um ndice em torno de 88%, seguido pelo Centro-oeste, com

    81%, o Sul, com 74%, o Nordeste, com 61%, e, por fim, o Norte, com 58%. De

    modo geral, o fenmeno significativo e os diferentes ndices refletem diferenas

    qualitativas ligadas forma e ao contedo da urbanizao .

  • 3

    Nos ltimos duzentos anos, a populao humana residente nas cidades

    aumentou de 5% para 50%. As estimativas para 2030 so de mais de dois teros da

    populao mundial morando em centros urbanos. Tal mudana trouxe consigo vrias

    alteraes no estilo de vida, pois reflete o desenvolvimento industrial e tecnolgico

    exponencial que parece ser a maior razo individual para o aumento dos grandes

    centros urbanos 5.

    Todo esse fantstico crescimento foi possvel graas ao desenvolvimento

    cientfico e tecnolgico, especialmente por que propiciou a reduo da alta

    mortalidade por vrias doenas e permitiu o aumento da produo de alimentos, esse

    mediante a criao de novas variedades de plantas e o uso macio de agroqumicos

    na chamada revoluo verde dos anos 1960-70, que teve, porm, profundas

    implicaes ambientais negativas 6.

    A revoluo moderna da sade pblica comeou nas cidades Europias do

    Sculo XIX sob as presses da industrializao, pobreza crescente e superpopulao

    proporcionando uma vida urbana que se deteriorava a cada ano 5. At a metade do

    sculo XX, a principal causa de morte nas regies industrializadas era por doenas

    infecto-contagiosas. Entretanto, essa causa comeou a diminuir na segunda metade

    do sculo XIX, devido melhoria de fatores ambientais, principalmente saneamento

    bsico, assim como o aumento dos suprimentos alimentares. Outros fatores foram a

    melhoria das condies de moradia, da gua oferecida; a prtica da higiene

    domstica e a diminuio do analfabetismo. Alguns autores reforam a importncia

    das intervenes de sade pblica, incluindo engenharia sanitria e vacinao 5.

    Ao mesmo tempo em que a industrializao se intensificava, o ambiente era

    invadido por diferentes tipos de poluentes, sendo a poluio do ar a primeira a ser

  • 4

    relacionada com danos sade humana. Episdios de intensa poluio area

    ocorreram na Europa e Amrica do Norte na metade do sculo XX, tendo como

    exemplo mais marcante, o grande fog de Londres em 1952. Com isso, houve o

    advento de legislaes que obrigavam a diminuio da propagao de partculas

    pesadas e dixido sulfrico. No entanto, aumentou a concentrao de gs carbnico e

    outras partculas menores. Alm disso, outras formas de poluio surgiram com a

    falta de saneamento bsico e coleta de esgoto, poluindo guas fluviais e mananciais;

    o depsito irregular de resduos slidos, trazendo a poluio do solo e dos aqferos

    subterrneos 5.

    As cidades possuem uma funo ativa na modificao dos sistemas de

    reciclagem naturais que mantm o ecossistema em equilbrio por meio dos ciclos

    biolgicos, limpeza das guas e ar e reciclagem de nutrientes. Enquanto antigamente

    tais funes no eram valorizadas devido ao pequeno nmero de habitantes

    terrestres, hoje, as mudanas ocorrem de tal ordem que a populao mundial corre o

    risco de vrios problemas de sade. A mudana mais radical at o momento tem sido

    no clima, com o aumento da temperatura do planeta. O mundo urbanizado (um

    quinto da populao mundial) contribui com trs quartos das emisses de gases

    poluentes na atmosfera. Como conseqncia da mudana climtica haver

    diminuio de alimentos, de gua potvel e do controle de infeces 5.

  • 5

    I.2 Poluio

    Entende-se por poluio a introduo de substncia ou energia no meio ambiente,

    alterando suas condies naturais e gerando prejuzos sade e ao bem-estar humano.

    Emisso de resduos slidos, lquidos e gasosos, em quantidade superior capacidade

    de absoro do meio ambiente ou maior do que a quantidade existente no meio.

    Tambm causada pelo lanamento de substncias que no existem na natureza,

    como os inseticidas. A poluio interfere no equilbrio ambiental e na vida dos

    animais e vegetais 7.

    Desde quando o homem comeou a conviver em grandes comunidades, ele

    alterou a natureza de forma a assegurar a prpria sobrevivncia e lhe proporcionar

    conforto. A agricultura, a pecuria e a construo de cidades modificam diretamente

    a natureza transformando caractersticas geogrficas como vegetao,

    permeabilidade do solo, absortividade e refletividade da superfcie terrestre, alm de

    alterar as caractersticas do ar atmosfrico e das guas 8.

    Todos os tipos de poluio so freqentes nas grandes cidades, como a poluio

    do ar produzida pelas combustes das fontes industriais e, mais recentemente, dos

    veculos automotores, a poluio das guas, por resduos qumicos, esgoto industrial

    e domstico, a poluio do solo causada por depsito irregular dos resduos,

    domsticos e industriais, a poluio sonora, a visual, a luminosa e a mais moderna, a

    poluio eletromagntica provocada pelo aumento vertiginoso de novas tecnologias.

    Assim observa-se que a degradao ambiental urbana altera no apenas as

    condies locais, mas tambm agride o meio ambiente como um todo, poluindo-o de

    diversas formas e, ao ser humano que nele habita, resta conviver num ambiente

    inspito e muitas vezes responsvel pelos diversos males fsicos, mentais e sociais.

  • 6

    I.2.1 Poluio atmosfrica

    Desde os mais remotos registros da presena humana na superfcie da Terra, h

    aproximadamente um milho de anos, com o aparecimento dos primeiros homindeos

    na poro mais ao sul do continente africano, o homem tem atuado de forma

    transformadora e, muitas vezes, predatria sobre a natureza. A partir da descoberta

    do fogo, aproximadamente 800 mil anos antes de Cristo, o homem passou a

    contribuir de forma atuante, porm no consciente, para a deteriorao da qualidade

    do ar e a sofrer as conseqncias desse ato 9, 10.

    Originam-se em eras pr-crists as primeiras preocupaes com a qualidade do

    ar. Devido ao uso do carvo como combustvel, as cidades dessa poca j ostentavam

    ares com qualidade aqum do desejvel. Essa situao veio se agravando durante os

    primeiros sculos da histria ps-crist, at que os primeiros atos de controle de

    emisso de fumaa foram baixados na Inglaterra do final do sculo XIII 11.

    Vastas quantidades de poluentes resultantes de atividades humanas so lanadas

    na atmosfera. As refinarias de petrleo, indstrias qumicas e siderrgicas, fbricas

    de papel e cimento emitem xidos sulfricos e nitrogenados, hidrocarbonetos,

    enxofre, diversos resduos slidos e metais pesados (como chumbo, zinco e nquel).

    Aerossis e outros produtos liberam clorofluorcarbonos (CFCs), produtos qumicos

    sintticos. Os veculos automotores emitem gases como o monxido e o dixido de

    carbono, o xido de nitrognio, o dixido de enxofre e os hidrocarbonetos. As fontes

    de emisso de poluentes primrios e dos componentes secundrios podem ser as mais

    variadas 7.

    Nas plantas, os poluentes qumicos prejudicam o metabolismo, causando danos

    na membrana celular, interferindo no mecanismo de abertura e fechamento de

  • 7

    estmatos e corroso da cutcula das folhas e acculas. Quando as plantas esto

    sujeitas as altas concentraes de poluentes, sofrem danos agudos, com sintomas

    exteriormente visveis: despigmentao da clorofila, descolorao das folhas, necrose

    de reas de tecido e rgos ou a morte. Com baixas concentraes de poluentes, no

    h, de incio, nenhum envenenamento exteriormente visvel. Mas mudanas

    qumicas, bioqumicas, estruturais e funcionais podem ocorrer (entupimento dos

    estmatos, alteraes na fisiologia da planta), alm da susceptibilidade a pragas e

    doenas 12.

    Sabe-se que episdios agudos de poluio esto relacionados com mortes por

    problemas respiratrios, portanto quanto mais poludo est o ar maior a chance de

    pessoas morrerem por problemas respiratrios 13.

    Se a poluio est relacionada com o aumento da mortalidade, est tambm

    relacionada com a maior morbidade que pode ser observada por meio do nmero de

    admisses hospitalares ou em pronto socorros, visitas ao mdico, declnio da funo

    pulmonar e aumento de sintomas respiratrios. Diversos estudos mostram que as duas

    faixas etrias mais afetadas pelos danos da poluio so os idosos e as crianas 14.

    Toda essa concentrao de poluentes est intimamente associada com o

    desenvolvimento e a crescente necessidade de produo de energia para a

    sobrevivncia e conforto da grande massa populacional aglomerada nos centros

    urbanos.

  • 8

    I.3 Energia

    "A energia trmica e luminosa liberada pelo fogo foi a primeira a ser controlada

    pelos ancestrais do homem, h 500 mil anos; a madeira era o principal combustvel

    utilizado na poca.

    As carroas movidas por animais surgem em 3.500 a.C. na Sumria, na mesma

    poca em que so inventados no Egito os botes com velas. A roda d'gua surge em

    3000 a.C, na Babilnia.

    A China adota o carvo como fonte de energia por volta de 1.000 a.C. medida

    que o carvo da superfcie escasseava, ele comeou a ser escavado, mas no

    conseguiu substituir a madeira.

    Em 1640, o petrleo extrado de um poo em Mdena, na Itlia, comea a ser

    utilizado na iluminao de rua. O uso do petrleo se estende como combustvel para

    a Romnia, em 1650.

    Em 1764, James Watt aperfeioa a mquina a vapor, que passa a ser usada em

    locomotivas a partir de 1804, motivando a criao das estradas de ferro, e em navios

    em 1807.

    A primeira usina de energia eltrica surgiu em Londres, em janeiro de 1881, e a

    segunda em Nova York, em setembro do mesmo ano. Forneciam energia para

    iluminao e usavam a corrente contnua.

    Em 1901, Pierre Curie descobriu que cada grama de rdio liberava 140 calorias

    por hora. A descoberta indicou a existncia da energia radioativa, que mais tarde

    seria chamada de energia atmica 15.

  • 9

    I.3.1 Energia eltrica

    A eletricidade um fenmeno associativo de partculas da matria com cargas

    positivas e negativas. As propriedades inerentes s cargas eltricas, que determinam

    a movimentao das partculas, contribuem para a ocorrncia do fluxo eltrico ou

    corrente eltrica. A concepo moderna da eletricidade est relacionada com o

    campo eltrico, ou seja, o espao que circunda a partcula carregada eletricamente.

    A eletricidade no uma fonte primria de energia, mas a forma mais refinada de

    utilizao energtica 16.

    O magnetismo que um fenmeno submetido a campos magnticos exerce

    efeitos sobre os materiais e se manifesta tambm na presena de cargas eltricas em

    movimento. Por essa razo ele sempre foi considerado parte integrante dos estudos

    sobre eletricidade 16.

    Na radiao eletromagntica, a energia se propaga atravs de um meio material

    ou espacial sob a forma de ondas (eletromagnticas). Essas decorrem da

    movimentao, oscilante e acelerada da energia eltrica, provocando uma alterao

    caracterstica que define a existncia de um campo magntico e de outro eltrico em

    propagao. Esta alterao em si que determina a onda eletromagntica (Figura 1).

    A faixa de variao, em que as ondas eletromagnticas se propagam, situa-se a partir

    de zero (0), at 1023 Hz (Hertz) 16.

  • 10

    Figura 1. Esquema representativo da propagao das ondas eletromagnticas.

    Fonte: http://webphysics.ph.msstate.edu/javamirror/ntnujava/emWave/emWave.htm

    Onde E representa o campo eltrico e B seu correspondente fluxo magntico

    Conforme a figura 2, diversos exemplos podem mostrar essa abrangente faixa

    do espectro eletromagntico.

  • 11

    Figura 2. O espectro eletromagntico e suas correspondentes faixas de

    freqncia e utilizaes.

    Fonte: educar.sc.usp.br/ otica/espectro.gif

    A utilizao da energia eltrica na forma convencional tem a sua mais

    importante parcela relacionada com o emprego da corrente alternada (CA). No

    Brasil, o sistema distribuidor da energia eltrica sob CA submete-se a uma

    freqncia de 60 Hz que a freqncia industrial, padro brasileiro 17.

    O lugar onde a energia gerada no , na maioria das vezes, aquele em que ela

    ser utilizada. Por esse motivo necessrio, em geral, efetuar a transmisso dessa

    energia adequadamente entre a fonte produtora e o consumidor. Por razes tcnicas,

    essa transmisso de energia efetuada por uma linha de transmisso (LT) ou linha

    eltrica e feita em alta tenso. A partir de certo ponto denominado, subestao

    abaixadora, a energia distribuda por meio de linhas de distribuio 17 (Figura 3).

  • 12

    Figura 3. Distribuio da energia eltrica sob responsabilidade da AES

    Eletropaulo na cidade de So Paulo.

    5.000.000 de LIGAES1.027.000 Postes15.000 Km area600 Km subterrnea

    CIRCUITOS SECUNDRIOSDE DISTRIBUIO 127/220 V

    185.000 TRANSFORMADORES

    DE DISTRIBUIO

    RESIDENCIAL

    USINAS

    COMERCIAL / INDUSTRIAL

    CIRCUITOS PRIMRIOSDE DISTRIBUIO 13.800 V.

    1.738 circuitos primrios17.732 Km de rede area970 Km de rede subterrnea

    LINHAS DE SUBTRANSMISS0 138.000 V. ou 88.000 V 1.500 Km areo170 Km subterrneo

    SUBESTAES140 ETDs

    INDSTRIA EM AT

    Linha de Transmisso maior que 230.000 V

    14 ETTs102 pontos de entrega

    CTEEP

    ETTs

    Consumidores de Mdia Tenso

    104 ETCs

    Fonte: Projeto Eletropaulo/Abricem

    Os campos eltricos so produzidos por cargas eltricas e sua intensidade se

    mede em Volts por metro (V/m) ou em Kilovolts por metro (KV/m). A intensidade

    das foras de atrao e repulso se denomina tenso eltrica ou voltagem e se mede

    em Volts (V). Os campos eltricos so mais intensos quanto mais prximos esto da

    sua fonte e diminuem com a distncia e com a presena de outros materiais como a

    madeira ou metal 18.

    Os campos magnticos so produzidos, em particular, quando as cargas eltricas

    esto em movimento, ou seja, quando h correntes eltricas. Sua intensidade se

  • 13

    mede em Ampres por metro (A/m), que pode ser expressa em funo da induo

    magntica que produz, medida em Teslas (T), militeslas (mT) ou microteslas (T).

    Em alguns pases, se utiliza o Gauss (G) (10.000G=1T; 1G=100T; 1mT=10G;

    1T=10mG). Todo circuito conectado a uma rede eltrica gerar em seu redor, se

    estiver ligado e com corrente circulante, um campo magntico proporcional

    quantidade de corrente que a fonte possui. A intensidade desses campos tanto

    maior quanto mais prximo se estiver do circuito eltrico, e diminui com a distncia,

    porm no so aparados por outros materiais 18.

    I.3.2 Campos eletromagnticos (CEM)

    Campos eltricos tm sua origem em diferentes voltagens: quanto mais elevada

    a voltagem, mais forte ser o campo resultante. Campos magnticos tm sua

    origem nas correntes eltricas: uma corrente mais forte resulta em um campo mais

    forte. Um campo eltrico no existe sem que haja corrente. Quando h corrente, a

    magnitude do campo magntico mudar com o consumo, porm a fora do campo

    eltrico decair igualmente 19.

    No meio em que vivemos, h campos eletromagnticos por toda parte, porm

    so invisveis para o homem. Campos eltricos so produzidos pela acumulao de

    cargas eltricas em determinadas zonas da atmosfera por efeito das tormentas. O

    campo magntico terrestre provoca a orientao das agulhas das bssolas em

    direo Norte-Sul e os pssaros e peixes o utilizam para orientar-se 18.

  • 14

    Alm das fontes naturais, no espectro eletromagntico h tambm fontes

    geradas pelo homem. A eletricidade que surge de qualquer tomada de corrente

    eltrica est associada a campos eletromagnticos de freqncia baixa. Alm disso,

    diversos tipos de ondas de rdio de freqncia mais alta so utilizadas para

    transmitir informao, seja por meio de antenas de televiso, estaes de rdio ou

    estaes rdio base de telefonia mvel 18.

    Uma das principais magnitudes que caracterizam um campo eletromagntico

    (CEM) sua freqncia e seu correspondente comprimento de onda. O efeito sobre

    o organismo dos diferentes campos eletromagnticos funo desta freqncia. A

    freqncia simplesmente descreve o nmero de oscilaes ou ciclos por segundo,

    enquanto que a expresso comprimento de onda se refere distncia entre uma

    onda e a seguinte. Por conseguinte, o comprimento de onda e a freqncia esto

    associados: quanto maior a freqncia, menor o comprimento de onda.

    O comprimento de onda e a freqncia determinam outra caracterstica

    importante dos campos eletromagnticos. As ondas eletromagnticas so

    transportadas por partculas chamadas quantum de luz. Os quantum de luz de ondas

    com freqncias mais altas (menor comprimento de onda) transportam mais energia

    do que o das ondas de menor freqncia (maior comprimento de onda). Algumas

    ondas eletromagnticas transportam tanta energia por quantum de luz que so

    capazes de romper as ligaes entre as molculas. Das radiaes que compem o

    espectro eletromagntico, os raios gama que emitem os materiais radioativos, os

    raios csmicos e os raios X tm essa mesma capacidade e so conhecidos como

    radiaes ionizantes. As radiaes compostas por quantum de luz sem energia

  • 15

    suficiente para romper as ligaes moleculares so conhecidas como radiaes no

    ionizantes.

    As fontes de campos eletromagnticos geradas pelo homem, constituem uma

    parte fundamental das sociedades industriais (a eletricidade, as microondas e os

    campos de radiofreqncia), esto no extremo do espectro eletromagntico

    correspondente a comprimentos de onda relativamente longos. Freqncias baixas e

    seus quantum de luz no so capazes de romper ligaes qumicas 18 (Figura 4).

    Figura 4. O espectro eletromagntico, suas aplicaes e relao com a sade.

    Fonte:

    Os campos eltricos so mais intensos quanto menor a distncia da carga ao

    condutor carregado que os gera e sua intensidade diminui rapidamente ao aumentar

  • 16

    a distncia. Os materiais condutores, como os metais, proporcionam uma proteo

    eficaz contra os campos eltricos. Outros materiais, como os de construo e as

    rvores, apresentam tambm certa capacidade protetora. Por conseguinte, as

    paredes, os edifcios e as rvores reduzem a intensidade dos campos eltricos das

    linhas de conduo eltrica situadas no exterior das casas. Quando as linhas de

    conduo eltrica esto enterradas no solo, os campos eltricos que geram quase no

    so detectados na superfcie. Igualmente aos campos eltricos, os campos

    magnticos so mais intensos nos pontos prximos sua origem e sua intensidade

    diminui rapidamente conforme aumenta a distncia desde a fonte. Os materiais

    comuns, como as paredes dos edifcios, no bloqueiam os campos magnticos 18.

    Os campos eletromagnticos, variveis no tempo que os circuitos eltricos

    produzem, so um exemplo de campos de freqncia extremamente baixa (Extremaly

    Low Frequency-ELF), com freqncias geralmente at 300 Hz. Outras tecnologias

    produzem campos de freqncia intermediria (FI), com freqncias de 300 Hz a 10

    MHz, e campos de radiofreqncia (RF), com freqncias de 10 MHz a 300 GHz. Os

    efeitos dos campos eletromagnticos sobre o organismo no s dependem de sua

    intensidade, mas tambm de sua freqncia e energia. As principais fontes de campos

    de ELF so a rede de abastecimento eltrico e todos os circuitos eltricos; as telas de

    computadores e os sistemas de segurana so as principais fontes de campos de FI e

    as principais fontes de campos de RF so o rdio, a televiso, as antenas de radares e

    telefones celulares e os fornos de microondas. Esses campos induzem correntes no

    organismo que, dependendo de sua amplitude e freqncia, podem produzir diversos

    efeitos como aumento da temperatura e choques eltricos. Os telefones mveis, a

    televiso e os transmissores de rdio e radares produzem campos de RF. Esses

  • 17

    campos so utilizados para transmitir informao a distncias longas e so a base das

    telecomunicaes, assim como a difuso de rdio e televiso em todo o mundo. As

    microondas so campos de RF de freqncias altas, da ordem de GHz 18.

    A transmisso de eletricidade a longa distncia se realiza mediante linhas

    eltricas de alta tenso. Essas altas tenses se reduzem mediante transformadores

    para a distribuio local a residncias e empresas. As instalaes de transmisso e

    distribuio de eletricidade, o cabeamento e os circuitos eltricos domsticos geram

    um nvel de fundo de campos eltricos e magnticos de freqncia de rede nas

    residncias. Naquelas que no esto situadas prximo de linhas de conduo eltrica

    a intensidade desse campo de fundo pode ser aproximadamente de 0,2 T. Os

    campos dos lugares situados diretamente abaixo das linhas de conduo eltrica so

    muito mais intensos. Dessa forma, a intensidade dos campos eltricos e magnticos

    se reduz ao aumentar a distncia das linhas eltricas. Entre 50 m e 100 m de

    distncia a intensidade dos campos normalmente equivalente a de zonas afastadas

    das linhas eltricas de alta tenso. Os campos eltricos de freqncia de rede mais

    intensos presentes normalmente no entorno so os dos lugares situados abaixo das

    linhas de transmisso de alta tenso. Ao contrrio, os campos magnticos de

    freqncia de rede mais intensos se encontram normalmente em pontos muito

    prximos a motores e outros circuitos eltricos, assim como em equipamentos

    especializados como aparelhos de ressonncia magntica, utilizados para gerar

    imagens no diagnstico mdico 18.

    Conforme mostra a tabela 1 os CEM esto presentes em todos os ambientes da

    vida moderna, tendendo a aumentar conforme o avano tecnolgico causando

    interferncias at mesmo nos sistemas biolgicos.

  • 18

    As autoridades cientficas e governamentais passaram a estudar e legislar sobre

    o tema para o melhor controle da disseminao deste moderno tipo de poluio, a

    fim de que no se torne mais um dos problemas de sade pblica devido a poluentes

    ambientais produzidos pela ao descontrolada do homem sobre seu ambiente.

    Tabela 1. Intensidades de campo eltrico tpicas, medidas em eletrodomsticos

    a uma distncia de 30 cm.

    Fonte: Oficina federal alem de segurana radiolgica (Bundesamt fr Strahlenschutz, BfS), 1999.

    Eletrodomstico Intensidade de campo eltrico (V/m)

    Receptor estereofnico 180

    Ferro 120

    Frigorfico 120

    Batedeira 100

    Torradeira 80

    Secador de cabelo 80

    Televisor colorido 60

    Cafeteira eltrica 60

    Aspirador 50

    Forno eltrico 8

    Lmpada 5

    Valor limite recomendado 5000

  • 19

    I.4 Legislao

    Levando em considerao o princpio da precauo que prioriza as aes no

    apenas pela ocorrncia de doenas e desastres acidentais, mas antecipando esses

    eventos pelo reconhecimento prvio dos riscos e dos contextos nocivos sade, em

    1974, a Associao Internacional de Proteo a Radiaes (IRPA) organizou um

    grupo de trabalho sobre radiao no ionizante (RNI) que se tornou a Comisso

    Internacional de Radiao No Ionizante - International Non-Ionizing Radiation

    Committee (INIRC) no Congresso da IRPA em Paris em 1977. Durante o Oitavo

    Congresso Internacional da IRPA (Montreal, 1992), foi criada uma nova

    organizao cientfica internacional independente - a Comisso Internacional de

    Proteo contra as Radiaes No-Ionizantes - International Commission on Non-

    Ionizing Radiation Protection (ICNIRP), com funo de investigar os perigos que

    podem ser associados s diferentes formas de RNI, desenvolver diretrizes

    internacionais sobre limites de exposio e tambm tratar de todos os aspectos da

    proteo a RNI. A base cientfica para essas diretrizes foram os estudos dos efeitos

    biolgicos relatados como resultantes da exposio a campos eltricos e magnticos

    estticos e de freqncia extremamente baixa (ELF) 20.

    O principal objetivo dessa publicao foi o de estabelecer as diretrizes para

    limitar a exposio aos Campos Eletromagnticos (CEM), de forma a proteger

    contra efeitos reconhecidamente adversos sade. Desse modo, as diretrizes

    apresentadas referem-se s exposies de carter ocupacional e pblico 20.

    Diretrizes referentes alta freqncia e aos CEM de 50/60Hz, foram emitidas

    pela IRPA/INIRC em 1988 e 1990, respectivamente, mas foram substitudas pelas

  • 20

    atuais, que abrangem a totalidade da faixa de CEM variveis no tempo (at 300

    GHz) 20.

    A conformidade com essa diretriz, porm, no garante que sejam evitadas

    interferncias ou efeitos em dispositivos mdicos, como prteses metlicas,

    marcapassos cardacos, desfibriladores e implantes cocleares. A exposio aos CEM

    variveis no tempo resulta em correntes internas no corpo e absoro de energia nos

    tecidos, que dependem dos mecanismos de acoplamento e da freqncia envolvida.

    Essas diretrizes so baseadas em efeitos na sade de carter imediato, em curto

    prazo, tais como estimulao dos nervos perifricos e msculos, choques e

    queimaduras causadas por tocar em objetos condutores e elevao de temperatura

    nos tecidos, resultante da absoro de energia durante exposio aos CEM. No caso

    dos efeitos potenciais da exposio em longo prazo, tais como aumento de risco de

    cncer, a ICNIRP concluiu que os dados disponveis so insuficientes para prover

    uma base para fixar restries exposio, embora uma pesquisa epidemiolgica

    tenha produzido evidncias significativas, mas no convincentes, de uma associao

    entre possveis efeitos carcinognicos e a exposio densidade de fluxo magntico

    de 50/60Hz em nveis substancialmente inferiores aos recomendados. Porm, essas

    diretrizes so periodicamente revisadas e atualizadas, assim que sejam feitos

    avanos na identificao de efeitos prejudiciais sade, devidos a campos eltricos,

    magnticos e eletromagnticos variveis no tempo 20.

    As tabelas 2 e 3 mostram os limites preconizados pela ICNIRP, aceitos at a

    presente data, para exposies ocupacionais e de pblico, de curto prazo e para

    efeitos trmicos. Deve-se observar que no h limites estabelecidos para exposies

    de longo prazo e seus efeitos atrmicos. Nessas tabelas destaca-se em negrito os

  • 21

    limites para campos eletromagnticos na freqncia (f) 60 Hz, respectivamente para

    exposio ocupacional e de pblico.

    Tabela 2. Nveis de referncia para exposio ocupacional a campos eltricos e

    magnticos.

    Faixas de Intensidade Intensidade Campo B Densidade de

    freqncia de campo E de campo H (T) potncia de

    (V.m-1) (A.m-1) onda plana

    equivalente

    Seq (W.m-2)

    At 1 Hz - 1,63 x 105 2 x 105 -

    1 8 Hz 20.000 1,63 x 105/f2 2 x 105/f2 -

    8 25 Hz 20.000 2 x 104/f 2,5 x 104/f -

    0,025 0,82 Hz 500/f 20/f 25/f -

    0,82 65 kHz 610 24,4 30,7 -

    0,065 1 MHz 610 1,6/f 2,0/f -

    1 10 MHz 610/f 1,6/f 2,0/f -

    10 400 MHz 61 0,16 0,2 10

    400 2000 MHz 3/f 0,008f 0,01f f/40

    2 300 GHz 137 0,36 0,45 50

    Referente Tabela 6 da ICNIRP

    Campo E = Intensidade de Campo Eltrico

    Campo H = Intensidade de Campo Magntico

    Campo B = Induo Magntica.

  • 22

    Tabela 3. Nveis de referncia para exposio do pblico em geral a campos

    eltricos e magnticos.

    Faixas de Intensidade Intensidade Campo B Densidade de

    freqncia de campo E de campo H (T) potncia de

    (V.m-1) (A.m-1) onda plana

    equivalente

    Seq (W.m-2)

    At 1 Hz - 3,2 x 104 4 x 104 -

    1 8 Hz 10.000 3,2 x 104/f2 4 x 104/f2 -

    8 25 Hz 10.000 4000/f 5000/f -

    0,025 0,8 kHz 250/f 4/f 5/f -

    0,8 3 kHz 250/f 5 6,25 -

    3 150 kHz 87 5 6,25 -

    0,15 1 MHz 87 0,73/f 0,92/f -

    1 10 MHz 87/f 0,73/f 0,92/f -

    10 400 MHz 28 0,073 0,092 2

    400 2000 MHz 1,375 f 0,0037 f 0,0046 f f/200

    2 300 GHz 61 0,16 0,20 10

    Referente tabela 7 da ICNIRP

    Na tabela 4 esto sumarizados os limites de campo eltrico e magntico

    considerando a exposio humana, empregados nos pases mais importantes de cada

    continente e os normalizados pelas principais organizaes internacionais.

  • 23

    Tabela 4. Limites de campo eltrico e densidade de fluxo magntico para

    exposio pblica e ocupacional nos principais pases e os

    normalizados pelas principais organizaes internacionais.

    Limites deCampo Eltrico (kV/m)

    Limites de Densidade deFluxo Magntico (T)

    Pas / Organizao Ocupacional Pblico Ocupacional Pblico

    Alemanha (1) - 5 (4) - 100 (4)

    Frana (1) - 5 (4) - 100 (4)

    Reino Unido (2) 10 10 1333 1333

    Itlia (1) - 5 e 10 (3) - 100 e 1.000 (3)

    Sucia - - - -

    Sua (1) - 5 (4) - 1 e 100 (4)

    Canad (2) 8,33 (4) 4,17 (4) 417 (4) 83 (4)

    Flrida EUA (2) - 2 - 8 e 10 - 15, 20 e 25

    Minesota-EUA (2) - 8 - -

    Montana-EUA (2) - 7 e 1 - -

    Nova Jrsei-EUA (2) - 3 - -

    Nova Iorque-EUA (2) - 11,8-11-7-1,6 - 20

    Oregon EUA (2) - 9 - -

    Japo 3 3 - -

    Continua

  • 24

    Continuao

    Limites deCampo Eltrico (kV/m)

    Limites de Densidade deFluxo Magntico (T)

    Pas / Organizao Ocupacional Pblico Ocupacional Pblico

    Rssia 25 - 1.000 -

    Coria do Sul (2) 8,33 (4) 4,17 (4) 417 (4) 83 (4)

    frica do Sul (2) 8,33 (4) 4,17 (4) 417 (4) 83 (4)

    Austrlia (2) 10 (3) 5 (3) 500 (3) 100 (3)

    Brasil (2) 25 5 (3) 1.000 -

    CENELEC (2) 25 8,33 1333 533

    IEC - - - -

    IEEE - - - -

    ACGIH (2) 25 - 1000 -

    ICNIRP (2) 8,33 4,17 417 83,33(1) Campos de 50 Hz (2) Campos de 60 Hz (3) Regulamentao em reviso(4) Adota recomendaes da ICNIRP - International Commission on Non-Ionizing Radiation

    Protection

    CENELEC - Comit Europen de Normalisation Electrotechnique

    IEC - International Electrotechnical Commission

    IEEE - Institute of Electrical and Electronics Engineers, Inc

    ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH)

    Pode-se observar que os limites de campo eltrico para exposio ocupacional

    esto na faixa entre 3 e 25 kV/m e para o pblico em geral entre 1 e 11,8 kV/m. Para

    a densidade de fluxo magntico os limites variam entre 417 e 1333 T (ou 4170mG

  • 25

    e 13330mG) para exposio ocupacional, e entre 1 e 1000 T (ou 10mG e

    10000mG) para a populao.

    A grande divergncia entre os valores deve-se s diferenas entre os fatores de

    segurana utilizados, aos locais de exposio em que esto sendo considerados os

    limites (faixas de segurana de linhas de transmisso, locais sensveis, creches,

    edifcios de escritrio) e, principalmente, aos fatores polticos, sociais, econmicos e

    geogrficos que so levados em considerao quando se aplicam medidas de

    precauo.

    Pode-se observar tambm que a maioria dos pases desenvolvidos segue as

    recomendaes da ICNIRP: 4 dos 6 pases europeus, 1 dos 2 pases norte-

    americanos, e 1 dos 3 pases asiticos. A ICNIRP a organizao que apresenta os

    valores mais conservativos e com os maiores fatores de segurana, dentre as

    organizaes normatizadoras que emitiram diretrizes baseadas em evidncias

    cientficas.

    No Brasil, no existe limite estabelecido para exposio do pblico em geral a

    campos magnticos de baixas freqncias. Para campo eltrico de 60 Hz, a ABNT,

    por meio da NBR 5422 - Projeto de Linhas Areas de Transmisso de Energia

    Eltrica -, estabeleceu 5 kV/m como limite para exposio da populao no limite

    das faixas de segurana de linhas de transmisso. Para exposio ocupacional, as

    Normas Regulamentadoras NR 9 e NR 15 do Ministrio do Trabalho e Emprego,

    estabelecem como limite os valores da ACGIH: 25 kV/m para campos eltricos e

    1.000 T para densidade de fluxo magntico.

  • 26

    I.5 Campos eletromagnticos e seres vivos

    Hoje em dia, todas as populaes do mundo esto expostas CEM, em maior

    ou menor grau e, conforme avana a tecnologia, o grau de exposio continuar

    crescendo. Por isso, at mesmo um pequeno efeito sobre a sade causado pela

    exposio CEM poderia produzir um grande impacto na sade pblica 18.

    Alguns estudos sugerem a possibilidade de que a exposio a campos

    magnticos de freqncias da rede eltrica (50/60 Hz), ou seja, de freqncia

    extremamente baixa, poderia produzir um incremento da incidncia de cncer em

    crianas e outros efeitos prejudiciais para a sade; os indcios procedem

    principalmente de estudos epidemiolgicos em zonas residenciais. Esses estudos

    sugerem que existe uma associao entre a exposio de crianas a campos

    magnticos de baixa freqncia e o aumento do risco de leucemia 18.

    Os campos de radiofreqncia (RF) so utilizados em numerosos mbitos da

    vida cotidiana, como a transmisso de rdio e televiso, as telecomunicaes (por

    exemplo, os telefones mveis), no diagnstico e tratamento de doenas e nas

    indstrias. Com a rpida introduo de dispositivos de telecomunicao mvel, entre

    a populao em geral, tem-se prestado especial ateno aos problemas associados

    com a exposio da cabea aos campos prximos de RF emitidos pela antena dos

    telefones mveis 18.

    Como parte de seu preceito de proteger a sade pblica e em resposta

    preocupao da populao sobre os efeitos da exposio aos CEM, a Organizao

    Mundial da Sade (OMS) criou em 1996 o Projeto Internacional CEM para avaliar

    as provas cientficas dos possveis efeitos sobre a sade dos CEM no intervalo de

  • 27

    freqncia de 0 a 300 GHz. O Projeto fomenta as investigaes dirigidas a

    preencher importantes lacunas do conhecimento e a facilitar o desenvolvimento de

    normas aceitveis internacionalmente que limitem a exposio aos CEM.

    Os objetivos do projeto so:

    1. Dar uma resposta internacional e coordenada s inquietudes que suscitam os

    possveis efeitos sanitrios da exposio aos CEM;

    2. Avaliar as publicaes cientficas e elaborar informes atuais sobre os efeitos

    sanitrios;

    3. Descobrir aspectos insuficientemente conhecidos por meio de uma

    investigao mais profunda, que permita avaliar melhor os riscos;

    4. Incentivar a criao de programas de investigao especializados e de alta

    qualidade;

    5. Incorporar resultados de investigaes em monografias da srie Critrios de

    Sade Ambiental da OMS, nas quais se avaliaro metodicamente os riscos

    sanitrios da exposio aos CEM;

    6. Facilitar o desenvolvimento de normas internacionalmente aceitveis sobre a

    exposio aos CEM;

    7. Fornecer, s autoridades, informao sobre a gesto dos programas de

    proteo contra os CEM, e em particular monografias sobre a percepo,

    comunicao e gesto dos riscos derivados dos CEM;

    8. Assessorar as autoridades sobre os efeitos sanitrios e ambientais dos CEM,

    e sobre as eventuais medidas ou atuaes de proteo necessrias.

  • 28

    Esse projeto tem previso de completar em 2007 as avaliaes dos riscos para a

    sade devido exposio aos CEM, j que se prev que as investigaes em curso

    proporcionaro, neste intervalo, resultados suficientes para avaliar os riscos para a

    sade de forma mais categrica 18.

    As suspeitas referentes a uma associao entre CEM e cncer surgiram quando

    Wertheimer e Leeper referiram (1979) 21 uma associao entre mortalidade por

    leucemia infantil e a proximidade de casas s linhas de distribuio de energia, o

    que os pesquisadores classificam como wire codes ou cdigo de configurao

    eltrica (wire code conceito que inclui dimenses, nmero, tipo e distncia da

    residncia e de condutores externos mesma). A hiptese bsica que emergiu do

    estudo original foi a de que a intensidade dos campos magnticos de 50/60 Hz, no

    ambiente residencial devido a fontes externas tais como linhas de transmisso,

    poderia estar relacionada ao risco de leucemia infantil.

    A partir desse, dezenas de outros estudos foram realizados sobre cncer na

    infncia e a exposio a campos magnticos de 50/60 Hz, devido a linhas de

    transmisso nas proximidades de residncias. Esses estudos estimaram a exposio

    ao campo magntico a partir de medidas de curto prazo ou com base na distncia

    entre a residncia e a linha de transmisso e, na maioria dos casos, a partir da

    configurao da linha; e outros estudos levaram em conta a carga da linha. Os

    resultados relacionados leucemia so os mais consistentes; de treze estudos

    publicados 21 - 33, oito apontaram estimativas de riscos relativos entre 1,5 e 3,0.

    Tanto as medies diretas dos campos magnticos, quanto as estimativas

    baseadas na proximidade de linhas de transmisso, so procedimentos imprecisos e

    insuficientes para avaliar a exposio que ocorreu em vrias situaes antes que

  • 29

    fossem diagnosticados os casos de leucemia. Tambm no claro qual dos dois

    mtodos de avaliao oferece a estimativa mais vlida de exposio. Embora os

    resultados sugiram que realmente o campo magntico possa estar associado ao risco

    de leucemia, h uma incerteza em funo do pequeno nmero de observaes e

    tambm dependncia entre o campo magntico e a proximidade s linhas de

    transmisso 34.

    Estudos que examinaram o uso de aparelhos eletrodomsticos, principalmente

    cobertores eltricos, em relao a cncer e outros problemas de sade, geralmente

    apontaram resultados negativos 35 - 39. Somente dois estudos caso-controle avaliaram

    o uso de eletrodomsticos em relao ao risco de leucemia na infncia. Um foi

    realizado em Denver 40 e sugeriu uma ligao com o uso pr-natal de cobertores

    eltricos, o outro, feito em Los Angeles 27, encontrou uma associao entre leucemia

    e crianas que usaram secadores de cabelo e assistiam televiso em receptores

    monocromticos.

    O fato dos resultados de estudos relacionando leucemia e proximidade entre

    residncias e linhas de transmisso mostrar relativa consistncia, levou o Comit da

    Academia Nacional de Cincias dos Estados Unidos (NAS) a concluir que crianas

    morando perto de linhas de transmisso parecem apresentar um maior risco de

    leucemia, porm devido s pequenas amostras, os intervalos de confiana dos

    estudos isolados so, em geral, amplos, aumentando o grau de incerteza. Quando

    considerados em conjunto, os resultados so consistentes, apontando um risco

    relativo de 1,5 41, o que evidencia um excesso de risco de 50% entre os expostos a

    campos eletromagnticos de baixa freqncia em relao aos no expostos. Em

    contraste, as medies de curto prazo do campo magntico, em alguns dos estudos,

  • 30

    no forneceram nenhuma evidncia de associao entre exposio a campos de

    50/60 Hz e risco de leucemia ou de outro tipo de cncer em crianas. O Comit

    ficou convicto de que os aumentos de risco reportados pudessem ser explicados pela

    exposio a campos magnticos, pois no houve nenhuma associao aparente

    quando a exposio foi estimada pela leitura de medidores de campos magnticos,

    tanto nas residncias de casos de leucemia, como nas residncias de controles. Foi

    sugerido que a explicao poderia estar na juno de algum outro fator de risco de

    leucemia na infncia, vinculado residncia e sua vizinhana s linhas de

    transmisso.

    Aps o Comit da NAS ter completado sua reviso, foram publicados os

    resultados de um estudo na Noruega 33 com mais de 500 casos de todos tipos de

    cncer infantil. A exposio de cada indivduo foi estimada pelo clculo do nvel do

    campo magntico produzido na residncia por linhas de transmisso na vizinhana,

    estimativa essa feita pela mdia do ano inteiro. No foi observada nenhuma

    associao entre leucemia e campos magnticos para residentes na poca do

    diagnstico. Distncia da linha de transmisso, exposio durante o primeiro ano de

    vida, exposio das mes durante a gravidez e exposio maior que a mediana do

    grupo de controle, no revelaram nenhuma associao com leucemia, cncer do

    crebro ou linfoma. Contudo, o nmero de casos expostos era reduzido.

    Foi tambm publicado um estudo feito na Alemanha, depois de concluda a

    reviso da NAS 31. Refere-se a um estudo caso-controle sobre leucemia na infncia,

    baseado em 129 casos e um grupo de controle de 328 indivduos. A avaliao da

    exposio compreendeu medies de campo magntico por mais de 24 horas no

    quarto de dormir da criana, na residncia em que ela havia morado por mais tempo

  • 31

    antes da data do diagnstico. Foi notado um elevado risco relativo (3,2) para campos

    mais intensos que 2 mG.

    Linet (1997) 32 publicou um longo estudo caso-controle realizado nos Estados

    Unidos (638 casos de leucemia e 620 indivduos como controles) para testar se a

    leucemia linfide aguda na infncia estaria associada exposio a campos

    magnticos de 60 Hz. As exposies a campos magnticos foram determinadas

    usando a mdia de medies, ponderadas pelo tempo, efetuadas durante 24 horas no

    quarto de dormir e medies de 30 segundos em vrios outros quartos. Tambm

    foram feitas medies nas residncias em que a criana havia morado por 70% dos 5

    anos anteriores ao ano do diagnstico ou o perodo correspondente para crianas do

    grupo controle. Para pares de casos e controles com residncia estvel, nos quais

    ambos no haviam mudado de residncia durante os anos anteriores ao diagnstico,

    foi avaliada a configurao dos condutores das linhas de distribuio (wire

    code), como forma indireta de avaliao da exposio. Essas determinaes

    puderam ser feitas para 416 pares. No houve nenhuma indicao de uma

    associao entre a configurao de condutores da linha e leucemia. Quanto s

    medies de campos magnticos, os resultados so mais intrigantes. Para o limite de

    2 mG, a anlise de risco comparando casos e controles, resultou em riscos de 1,2

    (anlise de regresso logstica no pareada) e 1,5 (anlise de regresso logstica

    pareada); ambos valores no significantes estatisticamente. Para o conjunto de

    exposies de 3 mG ou mais, o risco relativo estimado foi de 1,7 e estatisticamente

    significante; essa anlise foi baseada em 45 casos e 28 controles. Assim, os

    resultados de medies sugerem uma associao positiva entre os campos

    magnticos e o risco de leucemia. Esse estudo constitui uma contribuio importante

  • 32

    devido ao seu tamanho, nmero de indivduos em categorias de exposio elevada,

    perodo das medies dos campos eletromagnticos aps o diagnstico de leucemia

    linfoblstica aguda (geralmente dentro de 24 meses aps o diagnstico), outras

    medidas usadas para obter dados de exposio e qualidade da anlise, permitindo

    avaliar a presena de mltiplos fatores de confuso.

    Os resultados relacionando cncer em adultos e exposio residencial a campos

    magnticos so escassos 41. Nenhuma concluso pode ser extrada dos poucos

    estudos publicados at agora, j que todos foram compostos por um nmero muito

    pequeno de casos 26, 42 - 47.

    A International Commission for Non-Ionizing Radiation Protection (ICNIRP),

    reconhecida pela Organizao Mundial da Sade (OMS), entende que na ausncia

    de apoio em pesquisas experimentais, os resultados de pesquisas epidemiolgicas

    sobre exposio a campos magnticos e cncer, inclusive leucemia infantil, no so

    suficientemente seguros para servirem como base cientfica s diretrizes que

    estabelecem limites de exposio a campos eltricos e magnticos. Esta avaliao

    est de acordo com publicaes de outras instituies internacionais 48, 49.

    Em relao exposio ocupacional, um grande nmero de estudos

    epidemiolgicos tm sido realizado para avaliar as possveis ligaes entre

    exposio a campos de baixas freqncias e o risco de cncer entre trabalhadores do

    setor eltrico. O primeiro estudo deste tipo realizado por Milham (1982) 50, que

    utilizou uma base de dados fundamentada em atestados de bito, inclua tipos de

    trabalho e informaes sobre a mortalidade por cncer. Como mtodo para avaliar a

    exposio, considerado impreciso, Milham classificou os tipos de atividade de

    acordo com a exposio presumida a campo magntico. Assim, encontrou um

  • 33

    excesso de risco para a leucemia entre os trabalhadores do setor eltrico. Em outro

    estudo, Savitz e Ahlbom (1994) 51 utilizaram bases de dados similares; os tipos de

    cncer para os quais foram notados riscos elevados variaram nos diversos estudos,

    particularmente quando foram caracterizados por subtipos de cncer. Foram

    relatados aumento de risco para vrios tipos de leucemia e tumores de tecido

    nervoso, e em alguns casos, para cncer de mama feminino e masculino 52 - 55.

    Trs outros estudos tentaram superar algumas das deficincias em trabalhos

    anteriores, medindo a exposio a campos de baixa freqncia no local de trabalho e

    levando em conta a durao da jornada de trabalho 56 - 58. Foi observado um elevado

    risco de cncer entre os indivduos expostos, sendo que o tipo de cncer variou de

    um estudo para o outro. Floderus e col. (1993) 56, verificaram uma associao

    significativa com a leucemia; Theriault e col. (1994) 57 tambm notaram uma

    associao positiva, embora fraca e no significativa. Savitz e Loomis (1995) 58, no

    observaram nenhuma ligao. Para os subtipos de leucemia, houve uma

    inconsistncia ainda maior, mas o nmero de pacientes includos na anlise foi

    pequeno. Floderus e col. (1993) 56, acharam um excesso de glioblastoma

    (astrocitoma III-IV) no tecido nervoso, enquanto Theriault e col. (1994) 57 e Savitz e

    Loomis (1995) 58, acharam somente evidncias sugestivas de um aumento de glioma

    (astrocitoma I-II).

    As trs concessionrias de energia eltrica que participaram do estudo de

    campos magnticos realizado por Theriault e col. (1994) 57, tambm analisaram os

    dados relativos a campos eltricos. Comparando trabalhadores do grupo controle e

    trabalhadores com leucemia numa das concessionrias, notaram que esses ltimos

  • 34

    possivelmente teriam sido mais expostos a campos eltricos. A associao foi mais

    forte num grupo que havia sido exposto a uma combinao de campos eltricos e

    magnticos intensos 59. Numa segunda concessionria, os pesquisadores no

    encontraram nenhuma associao entre leucemia e exposio cumulativa a campos

    eltricos no local de trabalho, mas algumas das anlises mostraram uma associao

    com o cncer de crebro 60. Foi tambm relatada uma associao com o cncer de

    clon; porm, em outros estudos, com grande nmero de trabalhadores das

    concessionrias, no foi encontrado este tipo de cncer. Na terceira concessionria,

    no foi observada nenhuma associao entre campos eltricos intensos e cncer do

    crebro ou leucemia, mas este estudo foi pouco abrangente e com menor

    possibilidade para detectar pequenas alteraes, caso estivessem presentes 61.

    Estudos de coorte de trabalhadores de companhias eltricas examinaram a

    mortalidade por doena cardiovascular. O primeiro estudo 61 foi conduzido com

    20.000 trabalhadores de uma companhia eltrica em Quebec, no Canad. A

    exposio a campos eltricos e magnticos de 60 Hz foi avaliada por meio de uma

    matriz de exposio ocupacional. Entre os expostos, a taxa de mortalidade foi

    geralmente menor do que a taxa nos grupos de no expostos, incluindo a

    mortalidade por doenas cardiovasculares. Savitz e col. (1999) 62, acompanharam

    cerca de 139.000 trabalhadores de uma empresa fornecedora de energia. Os

    resultados revelaram que a mortalidade por doenas cardiovasculares e isquemia foi

    menor na coorte de estudo do que na populao americana, porm mortes por

    arritmias cardacas e infarto agudo do miocrdio foram relacionadas s exposies

    crescentes a campos eltricos e magnticos entre 5 e 20 anos anteriores morte.

  • 35

    Alguns estudos buscaram relacionar a exposio a campos eletromagnticos e

    distrbios psiquitricos, como suicdio 61, 63, 64, e depresso 65 - 70.

    Estudos epidemiolgicos sobre efeitos na gravidez em mulheres trabalhando

    com monitores de vdeo no tm fornecido nenhuma evidncia consistente 71 - 74. Por

    exemplo, estudos combinados, comparando mulheres grvidas que usam monitores

    de vdeo, com mulheres que no usam, no revelaram nenhum excesso de risco de

    aborto espontneo ou malformao congnita 72. Dois outros estudos concentraram-

    se em medidas reais dos campos eltricos e magnticos emitidos por monitores de

    vdeo: um estudo sugeriu uma associao entre campos magnticos de baixa

    freqncia e aborto 75, enquanto o outro no verificou tal associao 76. De um

    estudo que incluiu um grande nmero de casos, com alto ndice de participao e

    uma detalhada avaliao das exposies 77, resultou que nem o peso ao nascer, nem

    a taxa de crescimento intra-uterino tinham relao com qualquer exposio a

    campos de baixa freqncia. Conseqncias adversas no foram associadas aos

    nveis mais altos de exposio. As medies de exposio incluram a capacidade de

    corrente das linhas de transmisso fora das residncias, medies de exposio

    individual por 7 dias, medies nas residncias por 24 horas, relatrios individuais

    sobre o uso de cobertores eltricos, colches com gua aquecida e monitores de

    vdeo. As informaes, em sua maioria, no apiam uma associao entre exposio

    ocupacional a monitores de vdeo e efeitos nocivos reproduo 73, 74.

    A despeito do grande nmero de estudos empreendidos para descobrir os efeitos

    biolgicos dos campos eltricos e magnticos de freqncias extremamente baixas,

    poucos estudos sistemticos definiram os limiares para os campos que produzem

  • 36

    perturbaes significativas nas funes biolgicas. Est bem estabelecido que

    correntes eltricas induzidas podem estimular tecidos nervosos e musculares

    diretamente, desde que a densidade da corrente induzida exceda valores limiares 74,

    78, 79.

    Muitos estudos tm sugerido que a transferncia de sinais eltricos fracos na

    faixa de baixas freqncias, envolve interaes com a membrana celular,

    conduzindo a respostas bioqumicas citoplasmticas, que, por sua vez, implicam

    mudanas em estados funcionais e de proliferao das clulas. A partir de modelos

    simples do comportamento de clulas individuais em campos fracos, foi calculado

    que o sinal eltrico, na regio extracelular, deve ser maior que aproximadamente 10

    - 100 mV.m-1 (correspondente a uma densidade de corrente induzida de 2 20

    mA.m-2), para exceder o nvel de rudo endgeno fsico e biolgico, em membranas

    celulares 80. Evidncias tambm sugerem que vrias propriedades estruturais e

    funcionais das membranas, podem ser alteradas em resposta a campos de baixa

    freqncia induzidos, de valor igual ou abaixo de 100 mV.m-1 81, 82. Alteraes

    neuroendcrinas (por exemplo: supresso da sntese noturna de melatonina), foram

    observadas em resposta a campos eltricos induzidos de 10 mV.m-1, ou menos,

    correspondentes a densidades de corrente induzidas de aproximadamente 2 mA.m-2,

    ou menos 74, 83.

    Foi observado que campos eltricos e correntes induzidas em nveis excedendo

    aqueles de sinais endgenos bioeltricos presentes nos tecidos, causam numerosos

    efeitos fisiolgicos que aumentam em severidade quando a densidade de corrente

    induzida aumenta 74, 84. Na faixa de densidades de corrente de 10 a 100 mA.m-2, tem

  • 37

    sido relatados efeitos nos tecidos e mudanas nas funes cognitivas do crebro 41,

    85. Os limiares para estmulo neuronal e neuromuscular so excedidos quando a

    densidade da corrente induzida ultrapassa valores de 100 ou vrias centenas de

    mA.m-2, para freqncias entre 10 Hz e 1 kHz. As densidades de corrente limiares

    aumentam progressivamente nas freqncias abaixo de vrios hertz e acima de 1

    kHz. Finalmente, nas densidades de corrente extremamente altas, com valor acima

    de 1 A.m-2, podem ocorrer efeitos srios e potencialmente letais, tais como

    extrasstole cardaca, fibrilao ventricular, espasmo muscular e falha respiratria. A

    severidade dos efeitos sobre tecidos e a probabilidade de serem irreversveis

    aumentam com a exposio crnica a densidades de corrente induzidas acima do

    nvel de 10 a 100 mA.m-2 . Portanto, parece ser apropriado limitar a exposio

    humana a campos que induzem densidades de corrente no maiores que 10 mA.m-2

    na cabea, pescoo, e tronco, numa faixa de freqncias de poucos hertz at 1 kHz.

    Um aspecto importante na avaliao dos efeitos de campos eletromagnticos a

    possibilidade de efeitos teratognicos e no desenvolvimento, porm at o momento

    no h evidncias cientficas publicadas de que campos de freqncias baixas

    tenham efeitos adversos em mamferos, no seu desenvolvimento embrionrio ou

    logo aps o nascimento 74, 86, 87. Alm do mais, evidncias atualmente disponveis

    indicam que mutaes somticas e efeitos genticos no so resultados provveis da

    exposio a campos eltricos e magnticos de freqncias abaixo de 100 kHz 88.

    Existem numerosos relatos na literatura sobre efeitos in vitro de campos de

    baixas freqncias nas propriedades das membranas celulares (transporte de ons e

    interao de mitgenos com receptores superficiais em clulas) e mudanas em

    funes celulares e propriedades de crescimento (por exemplo, o aumento de

  • 38

    proliferao e alteraes no metabolismo, expresso gnica, biossntese de protena

    e atividades enzimticas) 74, 82, 83, 88, 89.

    Nascimento e col. (2003) 90, submeteram E.coli, em caldo glicosado, a campo

    eletromagntico de 5G, gerado por fonte de tenso alternada de 60 Hz, por 8 horas, e

    observaram menor valor de glicose residual e maior turbidez no grupo exposto,

    sugerindo estimulao do sistema de transporte de glicose, como a Difuso

    Facilitada ou por ressonncia ciclotrnica e o aumento do crescimento pelo

    encurtamento da lag phase e estimulao da log phase.

    Uma considervel ateno foi dirigida aos efeitos de campos de baixa

    freqncia sobre o transporte de Ca++ atravs de membranas celulares e a

    concentrao intracelular deste on 91 - 93; RNA mensageiro e padres de sntese de

    protena 94 - 98, e atividade de enzimas como ornitina descarboxilase (ODC) que so

    relacionadas proliferao de clulas e promoo de tumores 99 - 102.

    Os resultados de estudos em laboratrio projetados para detectar danos no DNA

    e em cromossomos, mutaes e aumento na freqncia de transformaes, no

    demonstraram nenhuma evidncia que campos de baixa freqncia causem alterao

    na estrutura do DNA e cromatina, e no so esperados efeitos mutacionais e de

    transformao neoplsica 74, 85, 103, 104. A falta de efeitos na estrutura dos

    cromossomos sugere que campos de baixas freqncias, se que tm algum efeito

    no processo de carcinognese, mais provvel que ajam como promotores do que

    como iniciadores, ocasionando a proliferao de clulas geneticamente alteradas,

    mais do que propriamente causando leso inicial em DNA ou cromatina. Uma

    influncia no desenvolvimento do tumor poderia ocorrer por meio de efeitos

  • 39

    epigenticos desses campos, tais como as alteraes nos caminhos de sinalizao

    celulares ou expresso gnica. O foco de estudos recentes tem sido, portanto, no

    sentido de descobrir possveis efeitos de campos de baixas freqncias sobre fases

    de promoo e progresso de desenvolvimento de tumores, aps seu incio,

    provocado por um carcingeno qumico. Estudos de crescimento de clulas de

    tumores in vitro e o desenvolvimento de tumores transplantados em roedores, no

    proporcionaram nenhuma evidncia significativa de possveis efeitos carcinognicos

    da exposio a campos de baixas freqncias 74.

    Diversos estudos, de aplicao mais direta a cncer humano, envolveram testes

    in vivo para determinar as atividades promotoras dos campos magnticos de

    baixas freqncias em tumores na pele, fgado, crebro e nas mamas de roedores.

    Trs estudos de promoo de tumor na pele 105 - 108, no demonstraram nenhum

    efeito da exposio contnua, ou intermitente, a campos magnticos de 50/60 Hz, em

    promover tumores induzidos quimicamente.

    Experincias sobre o desenvolvimento de focos neoplsicos no fgado iniciados

    por carcingeno qumico e promovido por ster de forbol em ratos parcialmente

    hepatectomizados, no revelaram nenhuma promoo ou efeito de co-promoo pela

    exposio a campos de 50 Hz variando em intensidade de 5 a 500 mG 109, 110.

    Estudos de desenvolvimento do cncer de mama em roedores tratados com um

    iniciador qumico, sugeriram um efeito de promoo de cncer pela exposio a

    campos magnticos de 50/60 Hz, com intensidades na faixa de 0,1 a 300 G 111 - 116.

    Estas observaes levaram hiptese de relacionar o aumento da incidncia de

    tumores nos ratos expostos a campos, com a supresso de melatonina pineal

  • 40

    induzida pelos campos e um conseqente aumento dos nveis de hormnios

    esterides e do risco de cncer de mama 117, 118.

    Para a International Agency for Research on Cancer (IARC), os resultados dos

    estudos para campos magnticos de freqncia extremamente baixa (ELF)

    evidenciam que uma associao entre campos eltricos e leucemia infantil

    inadequado para avaliao, ou seja, a avaliao dos estudos de qualidade

    insuficiente, no h consistncia ou poder estatstico que permita apresentar

    concluso de presena ou ausncia de associao causal entre exposio e cncer ou

    no h dados de cncer humano avaliveis. No entanto, classifica os Campos

    Magnticos de Freqncia Extremamente Baixa (ELF) como possivelmente

    carcinognicos para seres humanos (GRUPO 2B), ou seja, o agente possivelmente

    carcinognico para humanos 119.

    Perante tantas incertezas e falta de resultados significativos, faz-se necessrio a

    contnua investigao de possveis efeitos adversos ou danos potenciais a sistemas

    biolgicos, na tentativa de auxiliar estudos mais complexos.

    Deste modo, a utilizao de bioindicadores de poluio ambiental pode

    apresentar-se como uma ferramenta de grande utilidade na obteno de resultados que

    possam sinalizar respostas mais plausveis e de maior consistncia cientfica.

  • 41

    I.6 Bioindicadores de poluio ambiental

    Com o desenvolvimento industrial surgiram palavras novas em nosso

    vocabulrio. Algumas j tm seu significado incorporado em nosso dia-a-dia, como

    poluente e poluio. Entretanto, identificar e mensurar o efeito de poluentes no

    ambiente exige, na maioria das vezes, um esforo multidisciplinar. Avaliar o

    comportamento da poluio no ambiente, por meio do monitoramento da sua ao

    em organismos vivos um tpico novo nas cincias ambientais, que tem sido

    chamado de biomonitoramento ou bioindicao: um estmulo ambiental, assim

    como um estmulo produzido por um poluente, provoca reaes no organismo vivo

    e pode acarretar vrias alteraes em seu funcionamento. Nos mtodos da

    bioindicao, o comportamento do organismo perante a um poluente utilizado na

    avaliao da qualidade desse ambiente. O monitoramento feito por meio de mtodos

    fsico-qumicos aborda o tipo e a intensidade de fatores, inferindo eventualmente

    sobre os efeitos biolgicos. Na bioindicao so obtidas informaes sobre os

    efeitos desses fatores no sistema biolgico, podendo-se eventualmente inferir sobre

    sua qualidade e quantidade. A rea de monitoramento biolgico jovem, tendo a

    Europa como palco principal de desenvolvimento de estudos nessa rea, com

    enfoque na avaliao da poluio atmosfrica. No Brasil essa metodologia comea a

    despertar interesse para as questes referentes avaliao de impacto ambiental 120.

    Os indicadores ou marcadores de efeito podem ser definidos como alteraes

    mensurveis, de natureza bioqumica e/ou fisiolgica, em um sistema biolgico

    qualquer, que, dependendo de sua magnitude podem ser consideradas como

  • 42

    sinalizadoras em potencial de um agravo sade, ou mesmo de uma doena j

    estabelecida. Essa definio compreende sinais bioqumicos ou celulares de

    disfuno tecidual, sinais fisiolgicos de disfuno em sistemas ou aparelhos

    orgnicos, ou at mesmo, sem ser considerado diretamente como um efeito adverso,

    representar e sinalizar um dano em potencial para a sade 121.

    O termo indicador, em ecologia, refere-se a um organismo cuja presena (ou

    ausncia) em determinada rea, serve como indicao da existncia de certas

    condies ambientais, como por exemplo, a poluio 122.

    Bioindicadores podem ser definidos como organismos ou grupo de organismos

    que respondem variao dos distrbios ambientais por meio de alteraes nas suas

    funes vitais ou composio qumica e podem ser usados para a avaliao da

    extenso das mudanas na atmosfera. O bioindicador um organismo, parte de um

    organismo ou uma comunidade, compreendendo um ou vrios itens de informaes

    sobre a qualidade do ambiente ou parte dele. Em contraste, o biomonitor um

    organismo, ou parte de um organismo ou uma comunidade, compreendendo um ou

    muitos itens de informaes sobre ambos, a quantidade e a qualidade da

    contaminao ambiental. Desta maneira, a avaliao ambiental por meio de

    bioindicadores, possui a caracterstica qualitativa baseada na resposta biolgica de

    um organismo vivo que revela a presena ou ausncia de contaminantes com a

    ocorrncia de sintomas ou respostas mensurveis 123.

    O uso de bioindicadores vegetais de genotoxidade parece representar uma

    alternativa simples, eficiente, rpida e de baixo custo para avaliar o potencial

    genotxico de agentes contaminantes ambientais, permitindo inclusive, a difuso de

  • 43

    tcnicas de biomonitoramento in situ e testes in vivo em locais que disponham

    apenas de condies bsicas de investigao. Alm disso, os bioensaios vegetais

    permitem avaliar a genotoxidade de substncias qumicas simples a misturas

    complexas, o que de suma importncia na avaliao da poluio atmosfrica

    urbana 124.

    Diversas espcies de vegetais superiores h muito vm sendo investigadas,

    sendo reconhecidamente sensveis a substncias genotxicas e adequadas para

    monitorizao ambiental 124, sendo recomendado seu uso pela Organizao Mundial

    de Sade 125 e pelo Programa de Genotoxidade da Agncia de Proteo Ambiental

    dos Estados Unidos 126.

    I.6.1 Tradescantia como bioindicador de poluio

    Plantas superiores proporcionam valiosos sistemas de ensaios genticos para

    screening e monitoramento de poluentes ambientais. So reconhecidos como

    excelentes indicadores de efeitos citogenticos e mutagnicos de contaminantes

    qumicos ambientais e so aplicveis para a deteco de mutagnese ambiental tanto

    para ambientes internos quanto externos. Comparaes entre sistemas de ensaios

    genticos com plantas e no-plantas, indicam que os ensaios genticos com plantas

    superiores tm alta sensibilidade 127.

    Dois ensaios considerados ideais para monitoramento in situ e testes de

    agentes mutagnicos no ar e na gua, so o ensaio do pelo estaminal com

    Tradescantia para mutao e o ensaio de microncleos com Tradescantia para

  • 44

    aberraes cromossmicas. Ambos os ensaios podem ser usados em testes in vivo

    e in vitro 127.

    Outros ensaios de genotoxicidade com plantas superiores que tm grande

    nmero de marcadores genticos ou dados e so tambm altamente convenientes

    para testar agentes genotxicos incluem Arobidopsis thaliana, Allium cepa,

    Hordeum vulgare, Vicia fava e Zea mays, s para destacar alguns exemplos.

    Desde os primrdios dos estudos da atividade gentica de compostos qumicos e

    agentes fsicos, vrias espcies e clones do gnero Tradescantia tm sido utilizados

    como organismos experimentais, em virtude de uma srie de caractersticas

    genticas favorveis. Apresentando apenas seis pares de cromossomos grandes e

    facilmente observveis, clulas de quase todas as partes da planta, da ponta da raiz

    ao tubo polnico em desenvolvimento, fornecem material excelente para estudos

    citogenticos 127.

    Como conseqncia do uso intenso de Tradescantia em estudos genticos,

    encontrou-se uma srie de caractersticas que permitem a deteco de agentes que

    afetam a estabilidade do genoma. Pelo menos quatro dessas caractersticas foram

    selecionadas como indicadores em bioensaios de avaliao de toxicidade gentica.

    Dois desses ensaios, o da mitose em ponta de raiz e o do tubo polnico, so ensaios

    de aberrao cromossmica nos quais se observam deformaes morfolgicas

    visveis nos cromossomos 128. Um terceiro, o ensaio da mutao para clula cor-de-

    rosa em pelo estaminal (Trad-SHM) 129, um teste de mutao mittica pontual que

    se baseia na expresso de um gene recessivo para a cor da flor em plantas

    heterozigotas. O quarto ensaio um teste citogentico que se baseia na formao de

  • 45

    microncleos (Trad-MCN) que resultam da quebra cromossmica nas clulas

    meiticas geradoras do plen 130.

    Essa quebra ocorre preferencialmente em locais prximos aos centrmeros,

    sugerindo que eventos mutacionais e tenses mecnicas durante a espiralao dos

    cromossomos durante a replicao, devam estar envolvidos 131, 132.

    Estudos sobre o genoma de Tradescantia iniciaram-se com os trabalhos

    pioneiros de Sax e Edmonds (1933) sobre o gametfito masculino de T. reflexa,

    quando foram descritas as vrias fases do desenvolvimento do micrsporo e

    determinados os perodos e o ritmo dos eventos meiticos. Primeiramente,

    determinou-se que cromossomos meiticos eram mais suscetveis quebra que

    cromossomos mitticos; e, mais importante, cromossomos em diviso eram ao

    menos dez vezes mais susceptveis que aqueles em repouso. Em segundo lugar, as

    quebras no se distribuam aleatoriamente nos cromossomos. Estes conceitos de

    temporalidade e sensibilidade tornaram-se extremamente importantes na seleo de

    bioindicadores para mutagnese, uma vez que a sincronia no desenvolvimento

    celular e a preciso nos perodos de recuperao aps os tratamentos foram dois

    fatores decisivos para o desempenho destes bioensaios. A maior suscetibilidade dos

    cromossomos meiticos quando comparados aos mitticos foi mais tarde

    confirmada em um estudo da influncia da falta de oxignio na meiose em

    T.paludosa 133. Esta pesquisa representou a primeira tentativa de observao de

    microncleos nas clulas me do plen como indicadores diretos de fragmentao

    cromossmica. Uma taxa espontnea de 0,87% de clulas contendo microncleos

    foi definida para T.paludosa, aumentando para 8,0% em clulas expostas a

    anaerobiose nos estgios iniciais da prfase 134.

  • 46

    O ritmo dos estgios da meiose foi ainda melhor caracterizado em um estudo da

    diferenciao das anteras de T.paludosa. Aproximadamente 24 horas se passaram

    para compleio do ciclo meitico, permitindo a definio do perodo de

    recuperao apropriado entre a exposio das inflorescncias a agentes txicos e sua

    fixao para anlise do nmero de microncleos, conseqentemente da atividade

    genotxica 135.

    O emprego do ensaio Trad-MCN para o monitoramento de agentes

    clastognicos ambientais foi primeiramente proposto aps estudos envolvendo

    agentes pr-mutagnicos (benzo--pireno) e localidades poludas. Uma grande

    vantagem percebida nestes estudos foi a de que nenhuma atividade enzimtica

    externa era necessria para ativar os agentes pr-mutagnicos, dado que o aparato

    enzimtico continuava totalmente funcional nos talos extrados das plantas e

    expostos aos tratamentos 136, 137.

    A abundante informao sobre a gentica e o desenvolvimento da Tradescantia

    oferece uma slida estrutura de suporte para seu uso como um bioindicador para

    ensaios de toxicidade gentica ambiental 127. Microncleos nas clulas me dos

    gros de plen so facilmente observveis, permitindo um baixo grau de incerteza

    nas avaliaes, e diminuindo a subjetividade presente no reconhecimento de

    aberraes cromossmicas; enquanto a induo de mutaes para rosa em clulas

    dos pelos estaminais oferece um indicador somtico sensvel de mutagnese.

    Adicionalmente, os ensaios com Tradescantia tm sido valiosos nos estudos de

    sinergismo entre agentes qumicos e entre estes e outros agentes genotxicos como

    radiaes ionizantes, uma propriedade valiosa de riscos genotxicos em vrios tipos

    de estudos 138.

  • 47

    II OBJETIVOS

    II. 1 Objetivo geral

    Testar a sensibilidade de um sistema biolgico exposio a campos

    magnticos.

    II. 2 Objetivos especficos

    Testar a sensibilidade da Tradescantia pallida como um bioindicador para

    exposio a campos magnticos de freqncia extremamente baixa;

    Testar o bioensaio Trad-MCN com a Tradescantia pallida frente a

    diferentes doses de campos magnticos de freqncia extremamente baixa e

    desta forma estabelecer uma curva dose-resposta.

  • 48

    III MATERIAL E MTODOS

    III. 1 Tradescantia pallida

    Nome Cientfico: Tradescantia pallida (Rose) D. R. Hunt cv. Purprea Boom.

    Angiospermae da Famlia Commelinaceae.

    Nomes populares: Trapoeraba roxa, Corao roxo e Trapoerabo, entre outros.

    uma planta herbcea, prostada, suculenta, de 15 a 25 centmetros de altura,

    com folhas e flores roxas e purbescentes, ornamental, nativa da regio da Amrica

    do Norte e Central (Mxico e Honduras) e classificada em 1975 139, 140.

    As folhas da T. pallida adquirem a tonalidade roxa caracterstica quando a

    planta cultivada em ambientes com boa incidncia de raios solares. Tambm

    apresenta pouca tolerncia a baixas temperaturas de inverno; multiplica-se por

    estacas e por diviso da planta; suas sementes no so utilizadas diretamente para

    multiplicao, mas, quando levadas por diversos agentes, podem germinar em

    lugares inesperados. utilizada como forrao e em macios, bem como em

    jardineiras como planta pendente com terra enriquecida e de boa fertilidade e com

    material orgnico, mantida mida 140.

    A T. pallida, particularmente, tem sido muito utilizada para estudos

    citogenticos, evidenciados por meio do teste do microncleo 141 - 151.

  • 49

    III. 2 Bioensaio de microncleo com Tradescantia pallida (Trad-MCN)

    O bioensaio Trad-MCN consiste em um conjunto de procedimentos de

    exposio de inflorescncias jovens de Tradescantia a agentes contaminantes, que

    culmina com a estimativa da freqncia de microncleos em clulas mes de gros

    de plen na forma de ttrades. Sua realizao permite, assim, a determinao do

    potencial clastognico de meios contaminados por tais agentes 137.

    Microncleos so fragmentos acntricos de cromossomos lesados na prfase I

    da meiose, durante a formao de gros de plen. Esses fragmentos so expulsos do

    ncleo e aparecem como pequenos ncleos visveis no citoplasma nas ttrades de

    gros de plen. A formao e a visualizao de microncleos ao longo do processo

    da meiose esto ilustradas na figura 5.

    Figura 5. Esquema da meiose em Tradescantia 152.

  • 50

    Nesse estudo foram utilizadas hastes de 15 centmetros de inflorescncias

    jovens, colhidas nos jardins da Faculdade de Medicina da Universidade de So

    Paulo, 24 horas antes do incio da exposio.

    Para cada exposio foram coletadas 50 hastes de inflorescncias jovens,

    imediatamente encaminhadas ao Instituto de Eletrotcnica e Energia da

    Universidade de So Paulo, situado no campus central na Cidade Universitria, onde

    uma sala do Laboratrio de Compatibilidade Eletromagntica havia sido

    previamente escolhida e preparada para o experimento. Nessa sala no havia

    nenhuma fonte de emisso de qualquer tipo de campo magntico que pudesse

    interferir no experimento, assegurando desta forma, que as doses de exposio

    foram emitidas somente pela aparelhagem eltrica especialmente montada para o

    experimento.

    Todo o experimento, ou seja, a aplicao das trs diferentes doses de CEM foi

    conduzido na mesma sala e nas mesmas condies pr-estabelecidas.

    Ao chegar ao local do experimento, as hastes foram divididas em dois copos

    bquer, imersas em gua deionizada, 25 hastes em cada copo, e permaneceram sob

    constante aerao produzida por uma bomba de aqurio simples, durante 24 horas

    para que se adaptassem ao meio ambiente do experimento, conforme figura 6.

  • 51

    Figura 6. Hastes de inflorescncias jovens em perodo de

    adaptao/recuperao, sob aerao.

    Arquivo prprio

    Aps o perodo de 24 horas de adaptao, a gua deionizada foi substituda por

    soluo nutritiva de Hoagland 1:3 (v/v), e um dos copos bquer com 25 hastes

    permaneceu no mesmo local como controle, e o outro foi transferido para o interior

    da bobina, na mesma sala onde ocorreram as exposies, por oito horas, conforme a

    figura 7.

  • 52

    Figura 7. Hastes prontas para a exposio, em copo bquer no interior da bobina.

    Arquivo prprio

    Foram definidas trs doses de exposio, de acordo com os limites

    estabelecidos pela norma ICNIRP 20 para exposio ao pblico e para exposio

    ocupacional. Os limites definidos para o estudo foram 416mG, metade da dose

    limite para exposio do pblico, 833mG, dose limite para exposio do pblico em

    geral e 4160 mG, dose limite para exposio ocupacional.

    As 25 hastes, pr-adaptadas, ficaram expostas a cada uma das diferentes doses

    durante oito horas. Nesse perodo, medidas de fluxo magntico eram tomadas

    periodicamente, tanto do interior da bobina, quanto em diferentes pontos da sala,

    para a certificao de que no estivesse havendo interferncias de outros CEM que

  • 53

    no os produzidos pela aparelhagem especialmente montada. Como a intensidade de

    fluxo magntico diminui com a distncia da fonte, todo o experimento pde ser

    alocado na mesma sala, porm com distncias seguras avaliadas por medies

    peridicas.

    Aps cada perodo de exposio a aparelhagem eltrica era desligada e as hastes

    transferidas para o local da adaptao, onde permaneciam outras 24 horas em

    recuperao, novamente em constante aerao, juntamente com as 25 hastes

    controle. Este perodo necessrio para que a meiose progrida e as clulas me dos

    gros de plen atinjam a fase de ttrade nos botes jovens das inflorescncias.

    Aps este perodo os botes florais foram destacados das hastes e fixados em

    soluo de cido actico e etanol 1:3 (v/v).

    Todas as amostras foram codificadas e transferidas para o Laboratrio de

    Poluio Atmosfrica Experimental do Departamento de Fisiopatologia

    Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo, a fim de

    serem tratadas conforme o protocolo proposto por Ma em 1981, conforme mostra a

    figura 8.

    As exposies foram realizadas em seis semanas, ou seja, as hastes foram

    colhidas s segundas-feiras pela manh, deixadas em adaptao por 24 horas,

    expostas s teras-feiras, durante 8 horas, deixadas em recuperao por mais 24

    horas e fixadas nos finais de tarde das quartas-feiras; as trs ltimas semanas

    serviram para a repetio do experimento a fim de aumentar o nmero de amostras e

    alcanar o tamanho estatisticamente desejado.

  • 54

    Figura 8. Esquema ilustrativo da tcnica de preparo da lmina com clulas na fase

    de ttrades 137.

    Para cada grupo de exposio e de controle foram selecionados botes de

    inflorescncias que continham anteras com gros de plen na forma de ttrades.

    Essa seleo foi feita em lmina de microscpio ptico num aumento de 100 X. As

    anteras destes botes foram separadas e maceradas sobre a lmina em soluo de

    corante aceto-carmin. Aps eliminao dos debris, colocou-se uma lamnula e

    aqueceu-se levemente em lamparina a lcool para fixao. O excesso de corante foi

    eliminado com uma leve presso sob folhas de papel absorvente.

    A seguir, o nmero de microncleos foi contado em um grupo aleatrio de 300

    ttrades por lmina, em microscpio ptico, sob aumento de 400 X. As freqncias

    de microncleos foram obtidas dividindo-se o nmero de microncleos pelo nmero

    total de ttrades contadas, sendo expressas em nmero de microncleos por 100

    ttrades. Todas as leituras foram feitas de maneira cega, ou seja, sem que o tcnico

    soubesse a codificao usada nos grupos de exposio.

  • 55

    III. 3 Aparelhagem eltrica utilizada para o experimento

    Para a gerao das diferentes doses de exposio dos campos magnticos na

    freqncia de 60 Hz foi confeccionada, pelos engenheiros do Laboratrio de

    Compatibilidade Eletromagntica do Instituto de Eletrotcnica e Energia da

    Universidade de So Paulo, uma bobina com armao quadrada, de madeira, de 40

    centmetros de lado, envolvida por 18 voltas de fio condutor de energia eltrica de 4

    milmetros de dimetro.

    Esta bobina foi ligada, em srie, a um Ampermetro (aparelho que mede a

    corrente eltrica em ampres (A)), a um gerador de corrente eltrica e a um Variac

    (aparelho transformador/variador de voltagem, tipo VME-366, monofsico com

    freqncia de 60 Hz e potncia mxima de 1,5 kVA) que estabelece uma tenso,

    utilizada para a gerao do campo magntico previsto. Conforme Figuras 9, 10 e 11.

    Esta aparelhagem foi alocada numa sala previamente escolhida para o

    experimento, assegurando assim, que nenhuma outra fonte de CEM pudesse

    interferir nas medidas desejadas.

    Tomou-se o cuidado de manter as luzes da sala sempre apagadas e todo o

    material utilizado para acomodar os equipamentos era de madeira, que um mal

    condutor de eletricidade.

  • 56

    Figura 9. Aparelhagem eltrica composta por um ampermetro (1), um gerador

    de corrente eltrica (2) e um Variac (3).

    Arquivo prprio

  • 57

    Figura 10. Aparelhagem eltrica (ampermetro, gerador e Variac) ligada em

    srie, por fio condutor, bobina contendo as hastes em exposio.

    Arquivo prprio

  • 58

    Ampermetro

    Bobina

    Transformador

    Variac

    Na rede de 110 V para B = 416,5 m G e B = 833 mG

    A

    Variac

    Transformador 1

    Transformador 2

    Ampermetro

    Bobina

    Na rede de 220 V para B = 4,165 GFonte de Tenso

    Fonte de Tenso

    A

    Figura 11a. Representao grfica da aparelhagem eltrica

  • 59

    Para a primeira exposio, codificado como Grupo 416, foi estabelecida uma

    tenso de 12,16 Volts no Variac, ligado ao gerador de corrente, que transforma a

    tenso em corrente eltrica, ligado ao ampermetro medindo 0,86 A. Este circuito,

    ligado em srie bobina, produziu uma dose de campo magntico de 416,5mG (

    3% do valor medido) conferido por um medidor isotrpico EFA-300 Wandel

    Goltermann (Figura 12).

    Figura 12. Medidor Isotrpico

    Arquivo prprio

  • 60

    Na segunda exposio, Grupo 833, foi estabelecida uma tenso de 24 Volts no

    Variac, o ampermetro mediu 1,73 A, para a produo de uma dose de campo

    magntico de 833mG ( 3% do valor medido).

    Finalmente, na terceira exposio, Grupo 4160, foi estabelecida uma tenso de

    165 Volts, com 8,50 A, para produo de uma dose de campo magntico de

    4160mG ( 3% do valor medido).

    Durante os perodos de exposio, os valores das doses dos campos magnticos

    foram medidos periodicamente, tanto no local onde as hastes estavam expostas, ou

    seja, no centro da bobina, quanto no local em que elas permaneceram como

    controles. Alm das medidas dos valores de exposio, tambm foram controlados

    os valores de campo em diferentes distncias da bobina e em diferentes pontos da

    sala.

    III. 4 Anlise estatstica

    Foi feita a anlise descritiva da freqncia de microncleos nos quatro grupos de

    exposio, avaliando a sua distribuio em relao as mdias, medianas, percentis e

    desvios-padro.

    O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para avaliar se os dados

    apresentavam uma distribuio normal. O teste de Levene foi usado para checar a

    homocedasticidade das variveis.

    Para investigar a diferena entre os grupos de exposio, foi aplicado o teste de

    Kruskal-Wallis e, para identificar o grupo de exposio que apresentou diferena, foi

    aplicado o teste de comparaes mltiplas de Tukey.

  • 61

    IV RESULTADOS

    A tabela 5 apresenta os tamanhos das amostras (N), as mdias, as medianas, os

    percentis 25 e 75, os desvios-padro, os valores mnimos e mximos dos Grupos

    Controle, 416mG, 833mG e 4160mG.

    Pela anlise descritiva pode-se observar que os valores mdios aumentam

    conforme aumenta a dose de exposio, sendo que o grupo de exposio com 4160

    mG apresentou uma mdia quase 100 % maior que os outros grupos. Em relao s

    medianas e percentis o comportamento foi semelhante.

    Tabela 5. Anlise descritiva dos grupos expostos s diferentes doses de campo

    magntico.

    Grupos (mG) Controle 416 833 4160