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Primeiro beijo?!

Quem daria, alguma

vez, um primeiro

beijo ao

Sabe detudo!

O u um be i j o q ua l q u er?

B lhe c !

Não era b em e s t e D iár i o de Um Banana

q u e e u q u er i a .

O Ra fe é e s p e c i a l ?

Po i s ,t a l v ez no s

s o nho s de l e .

1.ºBEIJO

NOVO LE ISTO

OLHA PARAMIM!

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CAPÍTULO 1

ISTO NÃO É UM EXERCÍCIO

Desde que te conheço — passou quanto tempo? — que tenho sido perseguido de mil maneiras dife-

rentes. Ora bem, as perseguições acabam oficialmen-te aqui. Nesta página.

Antes do próximo ponto final.É por isso que esta podia ser a minha melhor his-

tória de sempre. Tenho uma tonelada de coisas para te contar. Mais do que alguma vez tive, na verdade. Durante algum tempo, pensei em chamar a este li-vro A Perseguição Acaba Aqui. Ou talvez Olha Para Mim, Sou Especial. Ou O Primeiro Beijo. Ou Rafe Khatchadorian: Artista e Agente Secreto.

Mas não lhe chamei nada disso. Caso não tenhas reparado, chamei a este livro Um Azar nunca Vem Só.

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E ainda que este título não soe como a coisa mais feliz-e-sortuda que já ouviste (e com razão), há uma série de coisas que acontecem neste livro que são espetaculares.

Uma delas é eu ser um herói do futebol americano. Sim, é verdade.Eu sei que futebol e Rafe Khatchadorian não com-

binam propriamente tão bem como ovo estrelado e salsichas. Mas era mesmo eu, a atravessar o campo com o equipamento dos Falcões da Escola Básica de Hills Village. Aconteceu mesmo de verdade.

Mesmo, mesmo.

Va i s e n t rar !

Boa s or t e !

Fo i b omconhe cer - t e .

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Não me interpretes mal. Não estou a dizer que esta história vai ser só sobre passes de futebol e líderes de claques a gritarem o meu nome. (Obviamente. Quer dizer, já viste o meu aspeto, não?)

O que quero dizer… bem, sabes que mais? Talvez seja melhor começar pelo princípio. E para tal acon-tecer temos de voltar um pouco atrás no tempo. E isso significa que vou precisar de fazer um bom flashback. E depois um flash-forward, e a seguir sabe-se lá que mais.

Por isso, apertem os cintos, malta. Vai ser uma viagem acidentada.

Todos prontos? Ótimo.Aqui vem o flashback!

POR AQUI!

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O FUTURO

oh ca , sa l oB! ra t imo v u o v e u q

AGOSTO

JA

NE

IRO

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O PA

SSADO

MA

IO

J U N H O

O U T

9

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CAPÍTULO 2

COMEÇO DIFÍCIL

Bem-vindo ao PASSADO! Não te preocupes, não fomos assim tão longe. Só voltámos três semanas

para trás, para ser mais exato.Estava na reta final de um verão bastante desa-

gradável, naquela que é suposto ser a melhor altura do ano para qualquer miúdo. Para mim, nem por isso. O Campo Wannamorra foi um desastre e o meu período no Programa das Montanhas Rochosas quase me matou de seis maneiras diferentes (sim, está bem, foi só de uma maneira, mas mesmo assim…).

No entanto, nada disso foi o pior. O pior aconteceu na sexta-feira antes do início das aulas, quando a mãe me levou à Escola Básica de Hills Village. Tínhamos uma reunião marcada com as professoras Stricker e Stonecase, para eu poder reinscrever-me lá.

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Lembras-te da Prof.ª Stricker, certo? E da Prof.ª Stonecase também? São a diretora e a subdiretora da escola. Também são irmãs — a sério. É como ter o dobro dos problemas por metade do preço. Já para não dizer que, se houvesse um Clube Mundial dos que Odeiam o Rafe Khatchadorian, elas também seriam as suas diretora e subdiretora.

Qua l q u er am i go do Ra f e não

é meu am i go .

O me smo q u e e l a .

GABINETE DA DIREC, A

~O

SE D E DE NO,S OD IAMOS O RAFE

NÃO AO

NÃO

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Continuando, assim que entrei na boca do lobo (quer dizer, que me sentei no gabinete da Prof.ª Stri- cker), atiraram-me para cima com duas toneladas de más notícias.

— Se o Rafe quiser voltar à Escola Básica de Hills Village no próximo outono — disse a diretora à minha mãe —, terá de se matricular como um aluno com necessidades especiais.

— COMO? — exclamei eu.Mas a Prof.ª Stricker ainda não tinha acabado.

Continuou a falar, como uma onda gigante de mal-dade, impossível de deter.

— Se ele vai conseguir acabar o Básico normal-mente ou se terá de repetir um ano ou dois (ou mais) nesta altura ainda não podemos ter a certeza — disse ela.

E eu:— COOOOOOOOOOOOMO????Não sei o que é que lhe chamam na tua escola. NEE. Necessidades Educativas Especiais. Circo

dos Três Palhaços com Argolas. Nesta escola, os alu-nos têm montes de nomes para dar a isso — daqueles que não se dizem quando os professores estão por perto.

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E agora era lá que eu estava.Tentei convencer a Prof.ª Stricker, a Prof.ª Stone-

case e até a mãe a não cometerem este terrível er-ro, mas elas não se comoveram. A mãe não estava a castigar-me nem nada disso. Sei que ela só quer o melhor para mim. Disse-me apenas para eu fazer uma experiência.

— Vamos ver como correm as coisas quando co-meçar o ano letivo — disse ela. — Talvez até acabes por gostar.

É uma frase mesmo à MÃE. Entretanto, se já estás a pensar que esta história

vai ser só sobre más notícias, não te preocupes. Tam-bém acontecem coisas fixes, como o tal primeiro beijo, e outras de que ainda nem sequer te falei.

Mas até aqui? O meu ano escolar estava a começar da pior maneira possível.

E ainda nem tinha começado.

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CAPÍTULO 3

ESPECIAL

O Natal é especial.Encontrar dinheiro no chão é especial.

Pizzas individuais com massa fofa e extra queijo são especiais.

Mas entrar num programa de «necessidades es-peciais», com aulas «especiais» e sem nenhuma ga-rantia de acabar o Básico num período considerado normal?

Não é nada especial.Nesse dia, antes de deixarmos a escola, eu e a mãe

ainda nos reunimos com o meu novo professor de «Ca-pacidades de Aprendizagem», o Prof. Edward Fanucci. O apelido pronuncia-se Fa-nu-tchi e a mim soa-me a qualquer coisa que se poderia comer com molho de tomate.

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— Rafe, bem-vindo de volta a esta escola — disse ele. — Fico contente por trabalharmos juntos este ano. Posso tratá-la por Jules, Sra. Khatchadorian?

— Sem problema — respondeu a mãe.O Prof. Fanucci reconheceu a mãe do restauran-

te onde ela trabalha — o Swifty’s, no Montgomery Boulevard. E ela até se lembrava de que ele gosta dos hambúrgueres de queijo bem passados e de que todos os domingos se senta sozinho ao balcão, para tomar o pequeno-almoço.

Na verdade, eles até estavam entretidos com uma grande conversa sobre hambúrgueres de queijo en-quanto eu continuava ali sentado, a pensar em como a minha vida estava prestes a tornar-se uma miséria.

O que significava tudo isto, afinal? Será que sou simplesmente burro? Poderia ter-me safado disto se ti-vesse estado mais atento nas aulas? Se tivesse comido mais legumes, quando a mãe mandou? Se não tivesse um amigo imaginário com quem estou sempre a falar?

Se não fosse tão esquisito?— Muito bem, Rafe — disse finalmente o Prof. Fa-

nucci —, só temos de rever o teu PEI. Depois, deixo-te ir e poderás aproveitar bem os teus últimos dias das férias do verão.

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Apetecia-me perguntar-lhe como é que ele achava que eu podia aproveitar alguma coisa com esta ques-tão sobre a minha cabeça, mas não disse nada. Só pen-sava: NÃONÃONÃONÃONÃONÃO NÃONÃONÃO!

Parece que PEI quer dizer Programa Educativo Individual. Mas, se queres a minha opinião, deviam chamar-lhe Intenso e Extremo Pavor (IEP).

Se ca l har não de v i a t e r c om ido o s e g u ndo don u t .

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O Prof. Fanucci deve ter reparado que eu estava tão entusiasmado como um miúdo na cadeira do den-tista, porque começou a mostrar-se todo camarada comigo.

— Acredites ou não, vais ficar contente por esta-res neste programa — disse ele. — Vai ajudar-te a seres melhor do que nunca na escola, como quando se põe gasolina aditivada num carro. Vais à maioria das aulas normalmente e farás os trabalhos de casa comigo. Depois, três vezes por semana, temos a nossa aula de Capacidades de Aprendizagem, com outros miúdos como tu, que precisam de um apoio especial.

— Miúdos como eu? — repeti.— Sim — disse ele —, miúdos que aprendem de

maneira diferente.Que foi só outra forma de dizer ESPECIAIS. Bur-

ros. Rejeitados. Esquisitos. Anormais.Estás a ver, miúdos como eu.

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CAPÍTULO 4

A EMBOSCADA

Lembras-te de eu dizer que aquele dia foi o pior de todo o meu verão? Então espera aí, porque esse

dia ainda não acabou.Enquanto a mãe ficou a falar com o Prof. Fanucci,

pedi-lhe para ir esperar no parque de estacionamento. A última coisa que queria era que alguém me visse ao pé daquele gabinete e começasse a fazer perguntas.

Portanto, ali estava eu, sentado no capô do carro, a pensar no tipo de emprego que um desistente da escola básica poderia arranjar (resposta: NENHUM), quando o meu dia se tornou um pouco pior. Quando digo «um pouco pior», quero dizer muito pior.

— Alô, KhatchaSTÚPIDO! — gritou uma voz co-nhecida.

Levantei a cabeça e vi… imagina quem.

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Isso mesmo. O Miller, o Terrível.Pois. Um azar nunca vem só.Vinha na minha direção, com um grupo de tipos da

equipa de futebol flag da escola. Acho que já começa-ram os treinos desta época porque todos traziam o equi-pamento e dirigiam-se para o campo atrás da escola.

O que fazia com que eu estivesse mesmo no meio do caminho deles — como uma pequena cabana de palha exposta a um furacão.

Quando entrei pela primeira vez na Escola Básica de Hills Village, o Miller tornou a minha vida tão agradável como quando descobres que aquilo que pensavas serem saborosas passas são, afinal, cocós de coelho. Da última vez que nos enfrentámos, acabámos os dois cobertos de sangue. Essencialmente, porque ele ficou coberto com o meu sangue. Portanto, pode dizer-se que não somos exatamente grandes amigos.

— Que estás tu a fazer aqui? — perguntou o Mil-ler. — Não me digas que vais voltar cá para a escola?

— Está bem, não te digo isso — respondi.— Espera aí — disse ele, com aquele ar confuso,

habitual nele. — Então, vais mesmo voltar?O Miller não é «especial» como eu, mas também

não é propriamente brilhante.

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NÃO ALIMENTAR!

SOCORRO!Fooo… meee!

Ou v i s t e a q u i l o? A cho q ue e l e

d i s s e « fome» ! F i x e !

B i cho s

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— Isto vai ter piada — disse o Jeremy Savin, tro-cando um toque de punhos com o Bobby Davidson. Pela maneira como olhavam todos para mim, parecia que estava na hora de dar de comer aos gorilas do zoológico.

Se pudesse, tinha desaparecido dali para fora. Mas o que podia fazer, estalar os dedos e desaparecer? Dizer-lhe que tinha de ir à casa de banho? (Por acaso, tinha mesmo, mas isso não ajudava muito.)

E também não podia dizer ao Miller para ir pas-sear. Isso seria como meter um pau de dinamite na boca e dar-lhe um fósforo para o acender.

Acontece que, nessa altura, tive um momento de sorte. O treinador Shumsky apareceu no cimo das bancadas do campo e começou a gritar:

— Miller! Savin! Davidson! Vêm treinar hoje? Ou preferem ficar no banco no jogo inaugural desta época?

— Já vamos, treinador! — respondeu o Jeremy.— Agora mesmo, treinador! — disse o Miller, como

se estivessem no exército ou algo assim. Acreditem em mim, estes tipos levam muito a sério o seu futebol flag. Quando entrarem no Secundário, já vão jogar futebol americano a sério. Mas, entretanto, gostam de praticar as suas placagens em tipos como eu.

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— Isto ainda não acabou — disse-me o Miller, apon-tando um dedo a milímetros da minha cara. Até conse-gui cheirar o que ele tinha comido ao almoço: sandes de bolonhesa com mostarda picante e sumo de uva.

— O que é que não acabou? — perguntei. — Não há nada… começado.

Foi então que ele me deu um dos seus encontrões à Miller, com o peito. Se não tivesse ido contra o para-choques do carro da mãe, de certeza que tinha caído de rabo no chão. E não teria sido a primeira vez.

— Agora já começou — disse o Miller. Depois, ele e os seus gorilas correram para o campo.

Para dizer a verdade, nunca percebi porque é que o Miller me odeia tanto. A única razão por que eu o odeio… bem, é porque ele me odeia. Bem sei que, nesta altura, devia ter ficado de boca calada. Obvia-mente. Mas nem sempre sou muito bom no devia.

— Ei, Miller! — disse. — Afinal, qual é o teu pro-blema? O que é que tens contra mim?

O Miller só olhou para mim uma vez, encolheu os ombros e continuou a andar.

— Assim que eu me lembrar, serás o primeiro a saber — respondeu. — Vemo-nos na escola, palerma.

Pois, era mesmo isso que eu receava.

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CAPÍTULO 5

SEM COMENTÁRIOS

Quando chegámos a casa, a avó Dotty estava a fazer uma panela enorme de almôndegas para

o jantar. A avó e a mãe cozinham as duas imenso, o que é bom porque eu normalmente também consigo comer imenso.

Mas não hoje. Pela primeira vez na vida, não tinha fome, embora toda a casa cheirasse como se fosse uma deliciosa e enorme almôndega.

— Como é que correu, miúdo? — perguntou a avó.— Não quero falar sobre isso — respondi.— Porquê? — perguntou a minha irmã Georgia.

— O que aconteceu?Assim que pressente qualquer má notícia que te-

nha a ver comigo, a Georgia parece que se torna um cão de caça. Não desiste enquanto não caçar a presa.

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— Já disse que não quero falar sobre isso! — res-pondi. — Muito menos contigo.

— Comigo? Mas o que é que eu fiz? — perguntou ela, mas eu já ia a caminho do meu quarto.

Ainda assim, ela não desistiu.— Que aconteceu? — ouvi-a perguntar à mãe.

— O Rafe está em sarilhos? Porque está tão zangado? O que disse a stora Stricker?

Foi aí que eu explodi.— CALA-TE! — gritei lá para baixo. — POR UMA

VEZ NA VIDA, CALA ESSA BOCA METEDIÇA!A mãe nem me mandou descer e ir pedir desculpa.

A última coisa que ouvi, antes de atirar com a porta do quarto, foi a Georgia a dizer:

— Boca metediça? Isso nem sequer faz sentido.A mãe respondeu apenas:— Deixa-o acalmar-se durante um bocado. Parece

que o Rafe teve um dia difícil hoje.A verdade é que a minha irmã mais nova era a úl-

tima pessoa com quem eu queria falar disto. A Geor-gia não está muito atrás de mim na escola básica e é superinteligente. O que aconteceria se ela saltasse um ano para a frente? Ou se eu continuar a estragar tudo, como até agora?

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É perfeitamente possível que a minha irmã mais nova venha a andar no mesmo ano que eu! Ou pior… MUITO PIOR… E se a minha irmã mais nova acabar o Básico antes de mim???

O CÉREBRO QUE COMEU DETROI T

E s t o u cada

vez ma i s

i n t e l i g e n t e !B I B L I O T E C A

DURANTE

O QUE

COMEU25

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Por isso é que não me apetecia contar à Georgia o que tinha acontecido na escola.

E também não me apetecia comer.E não me apetecia, de certeza, começar as aulas

naquela segunda-feira.Não só agora era «especial», como também voltara

ao mesmo ponto com o Miller. Não demoraria muito até que ele descobrisse que eu estava nas aulas de Capacidades de Aprendizagem. E nem quero pensar no que poderá acontecer nessa altura.

A mãe está sempre a dizer-me que «o normal é uma seca», e que eu sou um artista, e que tenho o meu talento especial, e blá-blá-blá. Mas nada disso me levou a lado nenhum a não ser a uma prateleira de rejeição, com um monte de outros miúdos como eu.

Seja lá o que for que isso queira dizer.Quanto mais pensava nisso, mais zangado ficava.

Queria bater em qualquer coisa. Queria partir qual-quer coisa. Queria armar-me em estrela de rock no meu quarto e escavacar tudo à minha volta.

Mas não o fiz. Mantive-me calmo e fiz a única coisa que me acalma quando estou enervado. A única coisa em que sou minimamente bom.

Peguei no meu caderno e comecei a desenhar.

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FALHADOOlá , e u s o u o

Fa l hado.E e u s o u o Leo , o S i l e n c i o s o . S o u

b om em t udo .

E u não s o u b om em NADA.

Não é v erdade. Tu sabes desenhar.

EM QUE FANTOCHADA,

FANTOCHE !E

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Po i s é ! Pe l o meno s , i s s o s e i

f azer .

Vê s?

Bo l a s ! Nem i s t o f a ç o

b em !

SPLOCH!

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E s p era um m i n u t o…

Tu és f ixe, Falhado.Não t e

c r i t i q u e s t a n t o .

E n tão p orq ue é q u e me s i n t o s empre o ma i or

fan t o che do mundo?

Hãn…

Porq ue e s t á s a

demorar tan t o

a re s p o nder?

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