Ia filosofia

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ESCOLA SECUNDÁRIA D. AFONSO SANCHES A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL TERÃO AS MÁQUINAS PENSAMENTO E RACIOCÍNIO? ATRAVÉS DAS TEORIAS E PERSPETIVAS DE ALAN TURING E JOHN SEARLE Alan Turing John Searle Para a disciplina de Filosofia, sob a tutela da Prof. Dr. Otília Rodrigues Manuel António Cerejeira Maia, nº 13 Renato Pinheiro Veiga, nº 23 11ºA

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ESCOLA SECUNDÁRIA D. AFONSO SANCHES

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

TERÃO AS MÁQUINAS PENSAMENTO E RACIOCÍNIO?

ATRAVÉS DAS TEORIAS E PERSPETIVAS DE ALAN TURING E JOHN SEARLE

Alan Turing John Searle

Para a disciplina de Filosofia, sob a tutela da Prof. Dr. Otília Rodrigues

Manuel António Cerejeira Maia, nº 13

Renato Pinheiro Veiga, nº 23

11ºA

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INTRODUÇÃO

Ao longo deste trabalho vamos tentar fundamentar a nossa resposta, que será

dada na conclusão, à questão introdutória.

Para isso, vamos percorrer um caminho lógico, começando pela definição de

Inteligência Artificial em si, referenciando de seguida um pouco da sua história e

posteriormente adaptando a Inteligência Artificial à realidade, ao mundo real. De

seguida, falaremos dos dois filósofos envolvidos com teorias nesta matéria:

começaremos com Alan Turing, referindo um pouco a sua biografia e focando-nos na

sua teoria proposta, o teste de Turing. Posteriormente, daremos conta da posição de

John Searle em relação a este teste. Finalmente, mostraremos o seu argumento que

refuta o teste de Turing, o argumento do quarto chinês, tocando nas suas objeções e na

sua resposta às próprias objeções.

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Inteligência Artificial (IA) é um ramo da computação que tem como objetivo

elaborar dispositivos que simulem a capacidade humana de raciocinar, perceber, tomar

decisões e resolver problemas, ou seja, a capacidade de ser inteligente.

A Inteligência Artificial é, por um lado, uma ciência, que procura estudar e

compreender o fenómeno da inteligência e, por outro lado, uma engenharia, que procura

construir instrumentos para apoiar a inteligência humana.

No entanto, a Inteligência Artificial continua a ser a procura do modo como os

seres humanos pensam, com o objetivo de modelar esse pensamento em processos

computacionais, tentando assim construir um conjunto de explicações algorítmicas dos

processos mentais humanos. É isto o que distingue a Inteligência Artificial dos outros

campos de saber, ela coloca a ênfase na elaboração de teorias e modelos da Inteligência

como programas de computador.

O avanço da tecnologia tem permitido que novos elementos se associem à

Inteligência Artificial. Falemos então um pouco da sua história.

HISTÓRIA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A pesquisa realizada em torno desta ciência iniciou-se na década de 40, com o

objetivo de procurar encontrar novas funcionalidades para o computador, que estava

ainda em projeto.

Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, surgiu a necessidade de

desenvolver tecnologia para poder ser aplicada nessa mesma guerra.

Com o avanço do tempo, foram surgindo várias linhas de estudo da Inteligência

Artificial; uma delas foi a biológica, que visava estudar o desenvolvimento de conceitos

que pretendiam imitar as redes neurais humanas.

Na verdade, a ciência “Inteligência Artificial” só recebeu esta alcunha nos anos

60 e foi nesta altura que os pesquisadores da linha biológica acreditaram ser possível

máquinas poderem realizar tarefa humanas complexas, como, por exemplo, raciocinar.

Após um período negro, em que poucas pesquisas foram realizadas, são

realizados novos estudos sobre redes neurais nos anos 80; porém é na década de 90 que

a linha biológica toma um grande impulso e se torna a base dos estudos da Inteligência

Artificial.

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA VIDA REAL

Nos dias de hoje, são várias as aplicações da Inteligência Artificial nas nossas

vidas, como, por exemplo, em jogos, programas de computadores, aplicativos de

segurança para sistemas informáticos, robótica, dispositivos para reconhecimento de

escrita à mão e de voz e programas de diagnósticos médicos.

Centremo-nos agora no lado mais filosófico desta questão e abordemos as

teorias e os argumentos propostos em relação a este tópico.

ALAN TURING

Alan Turing foi um cientista britânico, nascido a 23 de junho de 1912, em

Londres. É considerado um dos principais cientistas da computação e tido como um dos

responsáveis pela formalização do conceito de algoritmo, tendo desempenhado um

papel fundamental na criação do computador moderno.

Apesar de ter trabalhado durante muito tempo na espionagem, foi aos 24 anos

que se destacou ao projetar uma máquina capaz de fazer operações matemáticas,

demonstrando que uma máquina poderia construir sistemas complexos. Este e outros

projetos fizeram com que Turing fosse apelidado de “pai da ciência da computação”.

Este seu amplo conhecimento fez com que fosse chamado a trabalhar para o

serviço de inteligência britânico, durante a Segunda Guerra Mundial.

Após a guerra, viajou para os Estados Unidos, onde trabalhou num projeto de

transmissão de dados transatlânticos de forma segura.

Pouco tempo depois, Turing elaborou um dos seus projetos mais conhecidos,

chamado “teste de Turing”, que iremos abordar mais à frente.

Aos 40 anos, Turing sofreu um processo criminal devido à sua

homossexualidade, ato considerado ilegal na época no Reino Unido.

Pouco antes de completar 42 anos, Alan Turing foi encontrado morto em sua

casa, devido a um envenenamento por cianeto.

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TESTE DE TURING

Em 1950, na revista filosófica “Mind”, Alan Turing publicou um artigo chamado

“Computing Machine and Intelligence”. Neste artigo, Turing apresentou, pela primeira

vez, o que hoje é conhecido por teste de Turing. Com este, pretendia-se descobrir se

uma máquina pode ou não pensar.

O teste envolve duas pessoas e um computador e funciona da seguinte maneira:

um interrogador (humano) fará perguntas a duas entidades ocultas; uma é um humano e

a outra é um computador. A comunicação entre as entidades é feita de modo indireto

(pelo teclado, por exemplo). O interrogador tentará, através do “diálogo” realizado entre

ele e as entidades, descobrir e decidir qual dos dois é o humano e qual não é. O

computador será programado para se passar por humano e o humano responderá de

forma a confirmar a sua condição. Se no final do teste, o interrogador não conseguir

distinguir o humano do computador, pode-se concluir que o computador pode pensar,

segundo o teste de Turing.

Todos os anos, a Universidade de Cambridge - Inglaterra, organiza um teste de

Turing oficial, o Prémio Loebner. Funciona da seguinte maneira: dez pessoas são

escolhidas para serem juízes (interrogadores) e têm que conversar durante 15 minutos,

por e-mail, com alguém que tanto pode ser um humano como um computador.

Vejamos um exemplo de um desses testes:

Um dos diálogos abaixo é entre dois humanos e o outro é entre um humano e um

computador, especialista em conversar e vencedor do Prémio Loebner de 2000.

Diálogo 1:

Juiz - Eu tenho que decidir se você é um homem ou uma máquina. Imagino que, se eu

decidir que você é uma máquina, irá ser um golpe para o seu ego.

Candidato 1 – É verdade. Seria um pouco embaraçoso, mas daria uma boa história para

contar.

Juiz - Iria direto para um psicólogo.

Candidato 1 - Acho que não...

Juiz - Por que não?

Candidato 1 - Prefiro aconselhar-me com amigos.

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Diálogo 2:

Juiz - Qual é o seu nome?

Candidato 2 - Alice. E qual é o seu?

Juiz - Madonna.

Candidato 2 - Madonna, prazer em conhecê-la.

Juiz - Você já foi ao País das Maravilhas, Alice?

Candidato 2 - Já estive no mundo todo, pela internet.

Juiz - Qual é o seu lugar favorito?

Candidato 2 - Não tenho um lugar favorito. A minha cor favorita é o verde.

Podemos facilmente chegar à conclusão que o candidato 2 é o computador, visto

ele não responder diretamente às perguntas, desviando-se delas. É uma tática para que

possa responder, mesmo sem compreender o que o juiz pergunta.

Em 1950, Turing previu que, no ano 2000, as máquinas passariam facilmente

nesse teste. Errou. Até hoje nenhum computador sequer chegou perto de se passar por

humano – nenhum interrogador sequer foi enganado.

A POSIÇÃO DE JOHN SEARLE

John Searle, filósofo norte-americano, nascido em 1932, opõe-se ao teste de Turing,

assim como se opõe também à ideia de que a nossa mente é um programa de computador.

Para isto, Searle distingue duas “inteligências artificiais”, duas perspetivas: a

inteligência artificial forte, que diz resumidamente que é possível criar uma máquina com

consciência e pensamento, ou seja, afirma que as máquinas podem perfeitamente ter uma mente

e ter inteligência, desde que passem no teste de Turing, e a inteligência artificial fraca, que diz

resumidamente que por muito que as máquinas possam simular ações e pensamentos humanos,

assim como raciocínios e cálculos mentais, e por muito que nos ajudem a nós, seres humanos

pensantes e inteligentes, a compreender a nossa própria mente, isso não significa que tenham

uma mente, mesmo passando o teste de Turing.

Assim, John Searle critica a primeira, a inteligência artificial forte, e apoia a segunda, a

inteligência artificial fraca. Este filósofo diz que ninguém dirá que “uma simulação de um

furacão, da digestão ou de um ecossistema é, de facto, um furacão, a digestão de um alimento

ou um ecossistema”. De modo análogo, é então absurdo pensar que uma simulação

computacional da mente seja de facto uma mente.

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O ARGUMENTO DO QUARTO CHINÊS

Para melhor criticar a inteligência artificial forte, Searle usa o argumento do quarto

chinês. Ataca então duas proposições centrais da inteligência artificial, sendo elas:

“É lícito afirmar categoricamente que a máquina realmente compreende a história e é

capaz de prover respostas adequadas às perguntas que lhe são feitas”;

“A máquina e o seu programa são capazes de explicar a capacidade humana para se

entender uma história e responder às perguntas sobre a mesma”.

O argumento do quarto chinês é então formulado do seguinte modo: imagine-se um

certo indivíduo de uma nacionalidade qualquer (excluindo a nacionalidade chinesa, tomemos

como exemplo o português), que só percebe e fala português, neste caso, e que está trancado

num quarto (o “quarto chinês). Encontra então nesse quarto papéis com rabiscos estranhos,

escritos em chinês; apesar de nada perceber de chinês, tem acesso a “um livro com regras em

português para manipular esses rabiscos em função do aspeto visual”. O quarto tem também

uma pequena abertura na sua porta por onde chegam de vez em quando mais papéis escritos em

chinês. Quando isto acontece, o tal indivíduo observa-os, consulta o tal livro de regras em

português, vê o que deve fazer quando lhe são entregues determinados papéis e faz passar então

pela abertura um novo papel contendo mais uma sequência de hieróglifos chineses.

Sem que o indivíduo o saiba, os papéis que entram no quarto são perguntas formuladas

em chinês por uma pessoa que domina totalmente esta língua. De modo similar, as sequências

de rabiscos que ele reencaminha para o exterior do quarto são as respostas a essas mesmas

perguntas.

Assim, à pessoa que está no exterior do quarto parece que o indivíduo que se encontra

no interior percebe e fala perfeitamente chinês, mesmo sem isso de facto acontecer, limitando-se

apenas a manipular conjuntos de regras que lhe são fornecidas e mesmo sem saber que os tais

rabiscos têm algum tipo de significado.

Concluímos assim que o quarto chinês é uma representação hipotética de uma máquina

com inteligência artificial: “o livro de regras é o programa, o indivíduo é a unidade central de

processamento que faz com que esse programa se execute e os símbolos chineses que entram e

saem do quarto são, respetivamente, os inputs e os outputs”.

Segundo Searle, este argumento prova que a inteligência artificial forte tem de ser

rejeitada. Façamos agora um paralelismo necessário com o teste de Turing; vimos anteriormente

que um computador cujo programa passa no teste de Turing, terá tacitamente uma mente. Deste

modo, o quarto chinês passaria no teste de Turing, pois iria simular na perfeição a compreensão

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da língua chinesa. Contudo, o tal indivíduo que se encontrava dentro do quarto nada

compreendia de chinês. Assim, o teste de Turing não pode determinar a existência ou não de

uma mente e de inteligência nas máquinas, pois um dado sistema pode passar no teste e mesmo

assim, não ter mente, inteligência ou compreensão.

Searle defende então que não basta seguir um conjunto de regras e ordens formais para

manipular um certo número de símbolos, temos de interpretá-los e dar-lhes significado. Como

um programa de computador não o faz, apenas se limita a seguir as tais instruções formais, não

tem nem nunca terá capacidade de raciocinar nem ter inteligência.

AS OBJEÇÕES AO ARGUMENTO DO QUARTO CHINÊS

Este argumento proposto por John Searle foi intensamente debatido, tendo sido

formuladas duas principais críticas/ objeções:

A objeção do sistema;

A objeção do robot.

A objeção do sistema refere que a pessoa que nada compreende de chinês é apenas uma

pequena parte do sistema. Temos então o livro das regras e os papéis com os rabiscos, que são

também parte integrante do sistema. O argumento de Searle não funciona, pois por muito que o

indivíduo não entenda de todo chinês, o sistema completo, em si, compreende.

Já a objeção do robot diz que se implantarmos um programa para entender chinês

dentro de um robot, ele começará a interagir “causalmente” com o mundo exterior: caminhar,

sentar-se, etc, inclusive a falar e compreender chinês. Assim, desde que o robot relacione as

palavras e as frases com o mundo real, nada mais se poderá exigir em termos de compreensão.

A RESPOSTA DE SEARLE ÀS OBJEÇÕES

Searle, perante estas objeções, riposta dizendo em relação à objeção dos sistemas que se

o tal indivíduo memorizar todas as regras do livro e todos os símbolos (memorizando assim

todos os elementos dos sistema) e posteriormente fazendo os cálculos de cabeça, conseguirá

falar chinês. No entanto, mesmo se assim fosse, o indivíduo continuaria a nada compreender

nem a perceber chinês. Já em relação à objeção do robot diz que “acrescentar capacidades

«percetivas» e «motoras» nada acrescenta à compreensão”, ou seja, o robot nada compreende a

mais do que a manipulação de símbolos formais, pois apenas se move devido aos seus circuitos

elétricos constituintes.

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CONCLUSÃO

Na nossa opinião, as máquinas não têm nem pensamento, nem raciocínio nem

qualquer outro tipo de inteligência. Com base nas pesquisas e investigações que

realizámos, tanto o teste proposto por Turing como o argumento do quarto chinês

permite-nos perceber que as máquinas, os computadores ou qualquer outro tipo de

aparelho que tenha uma suposta inteligência artificial não tem então pensamento nem

mente. Com isto, queremos dizer que nenhuma máquina pode pensar, pois apenas segue

uma espécie de protocolo formal, um conjunto de regras, e que sem elas não conseguia

simular nenhum tipo de ações e pensamentos humanos, assim como raciocínios e cálculos

mentais.

Queremos ter a ousadia de acrescentar que mais uma vez as máquinas não têm

pensamento nem raciocínio pois não são capazes de ter sentimentos, nem de ter perceções.

Todos sabemos que nós guiamos a nossa mente através das situações que vão surgindo na nossa

vida. Doravante, se não temos essas perceções e esse tipo de sentimentos não podemos ter

inteligência no verdadeiro sentido da palavra, apenas uma inteligência ilusória, guiada por

regras e não pela nossa mente.

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WEBGRAFIA:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Inteligência_artificial

http://duvida-metodica.blogspot.pt/2012/03/o-argumento-do-quarto-chines.html

http://mentecerebrociencia.blogspot.pt/2008/09/quarto-chins.html

http://www.filosofia.ufc.br/argumentos/pdfs/edicao_3/06.pdf

http://www.slideshare.net/guestbdb4ab6/inteligncia-artificial-filosofia

http://www.din.uem.br/~ia/maquinas/turing.htm

http://www.dct.ufms.br/~mzanusso/mestrado/Prova_de_Turing.html

BIBLIOGRAFIA:

- ALMEIDA, A.; TEIXEIRA, C.; MURCHO, D.; MATEUS, P.; GALVÃO, P. A Arte

de Pensar: Filosofia 11º ano. 2ª/5ª edição. Lisboa: Didática Editora, Junho de 2008