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LUÍS GUANELLAPADRE MONTANHÊS

PAI DOS POBRES

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Textos

Vendramin FrancaVenerito Pino

Colaboradores

Cantaluppi GabrieleCarrera MarioPerego CesareRutigliano NicoValentini Antonio

Obrigado por sugestões

Aguado J. BautistaAntonelli AdelioBlanchoud CarlosBrugnoni UmbertoCecchinato MauroCrippa AlfonsoDe Bonis GustavoDieguez AlejandroFasana Silvia

Folonaro AdrianoFrigerio GiancarloGarcía AndrésGregga MarcoGottardi AngeloLain FrancoLorenzetti FabioMaisano SantinoMariani VittoreMartinez AlfonsoOggioni PaoloOmodei BattistaOprandi RemigioPasquali PietroPedagna CosimoRinaldo GiuseppeSaginario DomenicoStella Dino

Fotografias

Vendramin FlavioVismara Calimero, Archivo Servidella Carità, Como

Foto na capa: Pizzo Stella (mt 3163)

Tradução: Pe. Ciro Attanasio, sdc

© 2011 Editrice Nuove Frontieredella Provincia italiana dellaCongregazione dei Servi della CaritàOpera Don Guanella S.a.s.Vicolo Clementi, 41 - 00148 RomaTel. 06. 6575311 - Fax 06 65753126

ISBN 978-88-7501-084-3

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LUÍS GUANELLAPADRE MONTANHÊS

PAI DOS POBRES

Retrato de um santo

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Nós lembramos o humilde padre, o padre montanhês, como alguém aindahoje gosta chamá-lo, não se saberia se para caracterizar a sua evangélicasimplicidade ou melhor a sua tempera adamantina [...]. Olhava para oCéu e sorria para a terra, tipo singular de asceta e de apóstolo...O pobre padre montanhês, como gostava chamar a si mesmo, obstinada-mente contrariado quando era jovem, cheio de ardor para o sonhadoapostolado a fim de ganhar muitas almas para Deus, aliviando as misériashumanas, apenas a sua obra começou a dar seus primeiros frutos, foiamado,Superiores, Párocos, Bispos e até dos Sumos Pontífices.1

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APRESENTAÇÃO

“Em Cristo foi nos dada a novidade revolucionária do Evan-gelho: ou seja o amor que nos salva e nos faz viver uma anteci-pação de eternidade”. Estas palavras do Papa Bento XVIindicam que a pessoa santa oferece aos nossos olhos, às vezescansados e desanimados, o luminoso testemunho de um frag-mento do céu.

Esta publicação à vigília da canonização do Beato Luís Gua-nella quer ser uma tentativa de leitura dos passos que ele con-seguiu trilhar nos atalhos da santidade evangélica e umaproposta de reflexões para estimular a nossa sensibilidade mo-derna a fim de cultivar sementes de serenidade para o nossotempo.

Num encontro de estudo e de projetação (Roma, 6 de se-tembro de 2010), o Comitê para a Canonização, no qual par-ticipava também o Bispo de Como, Dom Diego Coletti,percebeu, entre tantos que enriquecem a poliédrica figura dosanto da região da Lombardia , aqueles aspectos que fazemresplandecer de atualidade e de profecia o seu carisma e a suaespiritualidade no mundo contemporâneo.

Os temas escolhidos, elaborados no presente subsídio, estãonuma sintonia contínua e se apresentam como desenvolvi-mento das coordenadas de pensamento que o Papa Paulo VIapresentou no discurso da beatificação no dia 25 de outubrode 1964.

O Papa perguntava-se qual pudesse ser a linha mestra dasantidade do padre montanhês; descobria que as suas realiza-ções caritativas eram fruto de uma energia vital que o susten-tava no seu incansável peregrinar entre os marginalizados. Aalma de sua santidade tecia “uma maravilhosa história da cari-

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dade operante na misericórdia”; o seu dinamismo era susten-tado por “uma grande piedade, por uma oração assídua, num es-forço de contínua comunhão com Deus”.

È este o princípio unificante de toda a atividade benéfica doPe. Luís Guanella e o repetia ele mesmo como síntese do cân-tico do Magnificat: “É Deus quem age”. É Ele que enche deideais a vida, é Ele que na incompreensão doa a coragem daperseverança, é Ele que no deserto da pobreza material “enchede bens os famintos” , é Ele que na incompreensão dos homensse mantém fiel à aliança do amor.

Esta publicação entende colocar-se a serviço daqueles que areceberão; apresenta uma urgência: recuperar a unidade dapessoa, porque só no mandamento evangélico do amor a vidaencontra a sua plenitude. Amar a Deus e amar ao próximo sãoos trilhos da comunhão. A nossa sociedade parece que des-carrilou. Em muitas partes do mundo se falou e se cantou a“morte de Deus” e, em muitos lugares da nossa sociedade sevive como se “Deus não existe”.

Com a morte de Deus está morrendo também o próximo eé próprio neste deserto que o santo percebe a necessidade dedar de novo a Deus a possibilidade de manifestar seu sonhode misericórdia para com os novos pobres no corpo e na alma.

Pe. Guanella esperou longamente que aparecesse no seu ca-minho uma estrela orientadora, que ele chamava “a hora da mi-sericórdia”. Esta hora era o sinal de partida, o convite a cortaras amarras para iniciar a grande aventura da caridade. E “ahora da misericórdia” soou quando tinha 40 anos. Naquelesanos, Deus mesmo, através de múltiplas experiências, alegrese sofridas, tinha plasmado a alma deste homem corajoso, tinhaconquistado o seu coração, a sua alma, todas as suas forças etoda a sua mente e daquela riqueza divina, em modo mais ra-dical, floresceu a paixão pelos pobres e pelos necessitados,que não são outra coisa que o mesmo rosto de Deus, escon-dido no sofrimento e no mau estar.

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A sua expressão: “Parar não se pode até quando há pobrespara socorrer” era fogo nas suas veias que o aproximava aos po-bres e o tornava destemido e corajoso diante das dificuldadesque encontrava. Não conhecia tibiez e mediocridade: “O queimporta ser encarcerado pelos pobres, pela causa dos pobres? Tor-nar-nos-íamos mártires!”

Percorrer com paixão os caminhos dos pobres marginaliza-dos o colocava entre aqueles que agiam sem critérios, entrandoem aventuras arriscadas. A amizade com o Beato André Fer-rari e o apoio paterno de São Pio X iluminaram os horizontesda sua ação caritativa e o fortificaram no caminho árduo dasantidade.

O Beato João Paulo II no limiar do Terceiro Milênio convi-dou a Igreja a desencalhar o barco e a lançar as redes paraáguas mais profundas assim que se sentisse o respiro domundo, sempre prontos “para dar as razões da esperança queestá em nós” ( 1ª Pd 3,15).

A nossa época vive com os olhos olhando para a terra, comhorizontes restritos; quando no coração das pessoas se apagaa saudade de Deus, definha também a fonte do amor e entãose torna urgente o desejo da beleza e da espiritualidade.

Aos Sacerdotes, aos Irmãos, às Irmãs e aos CooperadoresGuanellianos que elaboraram esta “crônica das maravilhas deDeus, como profecia para o nosso tempo, a gratidão de toda aFamília Guanelliana.

Eles quiseram descrever as coordenadas da santidade vividapor Pe. Guanella com a convicção que não pode ser traída co-locando o seu carisma e a sua missão na prateleira de uma bi-blioteca, mas é necessário que elas sejam encarnadas no nossotempo, se tornem um prolongamento dele em nós: nós, santoscomo ele!

A sua indagação toca pontos sensíveis do carisma guanel-liano nos dias de hoje.

Como resposta à ausência e ao empobrecimento da espiri-

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tualidade do nosso tempo é apresentada a figura de Pe. Gua-nella como “homem de Deus”.

A extensão da pobreza do mundo atual recebe uma conso-lação e uma esperança porque Pe. Guanella, “pai dos pobres”,nos impele a “deitar no nosso coração as misérias humanas a fimde socorrê-las”.

O fenômeno da globalização pode descobrir Pe. Guanella,“cidadão do mundo”, um modelo ao qual inspirar-se para che-gar ao verdadeiro bem comum, ao bem de todos.

A emergência educativa que caracteriza o nosso tempo podeaprender do testemunho de Pe. Guanella, “educador apaixo-nado”, energia e vigor para redescobrir que a educação é antesde tudo obra do coração.

São valores de ontem que valem para a complexidade dehoje, mas a milenária história da Igreja é marcada pela conti-nuidade do testemunho e da cultura cristã transmitida pelossantos.

O padre da região da Lombardia propunha “iluminar asmentes e robustecer os corações” e ajudar a recuperar a prima-zia de Deus e assim a pessoa pudesse retomar o centro do ce-nário na vida da comunidade, sentisse de ser aceita, amada,sustentada, compreendida e também perdoada. Cada seu gestode caridade tinha o selo da atenção à dignidade da pessoa, so-bretudo quando ferida nos seus direitos. Não foi um teóricodos direitos da pessoa, mas agiu concretamente em benefíciodo povo, usando eficazes percursos pedagógicos que criarambem-estar e alegria de viver também nas pessoas mais sofre-doras e marcadas pela doença, pela idade avançada, pela defi-ciência física ou psíquica.

Enxergava o pobre com uma clara visão de fé: cada criaturatem impressa nela a imagem e a semelhança do Criador: “Como acreditar que na fronte do pobre está impressa a imagemde Deus e não correr para ajudá-lo e servi-lo?”

Pe. Luís Guanella não é certamente um santo para ser co-

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locado num nicho, mas um padre de rua que nos provoca e in-terpela para estarmos atentos também aos fragmentos de bon-dade presentes naqueles que encontramos, porque aquelesfragmentos, reforçados pela graça divina e curados com pa-ciente e amorosa solicitude, podem revelar-se úteis para trans-formar as pessoas numa “catedral de Deus”

Entrando no terceiro milênio o Beato João Paulo II se per-guntava: “Se pode programar a santidade?” A santidade é ne-cessária como o respiro para viver; para o cristão receber obatismo significa encaminhar-se para a santidade, pôr no pró-prio caminho “ o radicalismo do discurso da montanha: Sejaisperfeitos como é perfeito o vosso Pai celestial”. (NMI, nº 31).

Ainda hoje Pe. Luís com o título de um de seu escrito ascé-tico nos repete: “ Vamos ao Pai”; percorrei sem medo e commuito amor a estrada das Bem-aventuranças evangélicas.

O título deste escrito, “Luís Guanella – padre montanhês, paidos pobres”, quis retomar as sugestões presentes no cartão ilus-trado que foi divulgado na ocasião dos ritos fúnebres dele epublicado nas páginas do boletim La Divina Provvidenza ( no-vembro 1915).

È entregue a todas as pessoas “de boa vontade” com o de-sejo que possa despertar neles o desejo de caminhar com maiorfervor nos atalhos da santidade, nas pegadas de Pe. Luís Gua-nella e possa favorecer sentimentos generosos para um cresci-mento civil e moral do povo de Deus, em modo que o futuropossa ser cheio de esperança e a as esperas dos pobres se tor-nem compreensíveis e realizáveis.

O Postulador geralPe. Mario Carrera- SdC

Roma, 21 de fevereiro de 2011 Consistório Ordinário Público

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PREFÁCIO

PE. GUANELLA, FILHO DA IGREJA DE COMO

Um após o outro acompanhamos com sincera atenção ospassos do caminho que levou à canonização do Bem-aventu-rado Luís Guanella, filha de Igreja de Como, primeiro santo daépoca moderna da nossa diocese.

A autorização concedida pelo Santo Padre Bento XVI che-gou como conclusão do Ano Sacerdotal e não me cansarei delembrar o quanto seja importante, para nós todos (sacerdotes,religiosos, leigos), olhar para a figura luminosa do Pe. LuísGuanella. É um exemplo a ser seguido, testemunha de umacaridade autêntica, de uma transparência do Evangelho vividono amor e na atenção gratuita nos confrontos dos próprios ir-mãos, especialmente os mais frágeis.

Na sua vida o santo foi capaz de fazer escolhas que fossem“para sempre” e neste período, em que viva é a atenção parao “desafio educativo”, me agrada evidenciar a sua capacidadede estar ao lado das pessoas, apoiando-as, ajudando-as no pró-prio caminho de busca rumo a alguma coisa que valesse a penaempenhar-se. Mesmo esta me parece uma feliz coincidência: acanonização do Pe. Luís propriamente no início do decênioem que a Igreja italiana dedica ao tema educativo, escolhendoum caminho bem preciso: “Educar para a vida segundo oEvangelho”. Uma obra na qual o Pe. Guanella tem muito anos dizer. Lemos isto no número 34 das Orientações pastoraisdo Episcopado italiano 2010-2020: “Na obra educativa da Igrejaemerge com evidência o papel primário do testemunho, porqueo homem contemporâneo escuta de bom grado mais as testemu-

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nhas do que os mestres, e se escuta os mestres o faz porque sãotambém testemunhas críveis e coerentes da Palavra que anun-ciam e vivem” (Evangelii nuntiandi, n. 41).

Eis o traço característico e a grandeza do Guanella: ser uma tes-temunha crível e coerente de uma Palavra que anunciou vivendo-a. Uma testemunha que escutamos e seguimos de bom grado. Comsuperabundante generosidade investiu tempo, capacidades e re-cursos para dar esperança aos irmãos e às irmãos que encontravacontemporaneamente e em qualquer situação. Com a sua própriavida ajudou os outros a mudar, ou melhorar a sua vida.

Para a Igreja de Como esta canonização é um momento degrande alegria e de grande satisfação. Pe. Luís viveu plena-mente o sentido da vida diocesana, em um território como onosso que ainda hoje – numa época em que mover-se, comu-nicar, encontrar-se é fácil e ao alcance de todos – não escondea sua riquíssima e ampla heterogeneidade. Mas para ele nãoexistiam distâncias, não havia diferença entre as pastagens eri-çadas do Valchiavenna, as áreas paludosas do Pian di Spagna,as zonas rurais da montanha e do outro lago ou a senhoril ci-dade de Como... Para ele contava o homem. Contava a pessoa,com a sua dignidade, o seu coração, a sua fé, as suas fragilida-des. Aos seus olhos todos eram iguais: o pobre e o rico, odoente e o sadio... Antes, como já dissemos, e como bem sa-bemos, perfeitamente encarnou o ensinamento de Jesus: aque-les que para os outros eram os últimos, para ele eram osprimeiros a serem privilegiados. Uma sensibilidade que o levoua elaborar respostas agudas e brilhantes às situações de difi-culdades e de desconforto: métodos formativos, caminhos rea-bilitativos, atividades e ocupações válidas ainda hoje e querepresentam uma contribuição preciosa e insubstituível aobem da sociedade.

Um homem de inteligência refinada e com muitíssimos in-teresses como nos dizem o seu envolvimento em favor da cons-trução do farol, sobre a colina de Brunate, em honra de

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Alexandre Volta; a amizade com o Pe. Gemelli; a capacidadede acender com o seu entusiasmo centenas de colaboradorese cooperadores; a paixão pela descoberta e pelo conhecimento:a sensibilidade para com as peregrinações (com um amor es-pecial pela Terra Santa, onde as Casas que levam o seu nomesão oásis de paz, diálogo, convivência, formação).

Um homem humilde, que sabia escutar quem estivesse aoseu lado (pensemos na Bem-aventurada Clara Bosatta e naIrmã Marcelina Bosatta).

Um homem moderníssimo que não conhece os limites domundo: significativo o fato de que o milagre que levou para asua canonização tenha acontecido nos Estados Unidos.

Olhemos para ele; para o seu exemplo; para a sua capaci-dade de oração, de escuta, de contemplação; para o seu con-fiar-se completamente a Deus na centralidade da Eucaristia;na sua devoção mariana.

Para a Igreja diocesana cabe a feliz e empenhativa respon-sabilidade de conservar, fazer crescer e conhecer a beleza e aprofundidade da mensagem guanelliana, feita de atos concre-tos de amor, antes ainda que de palavras.

+ Diego Colletti, bispo da Diocese de Como

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1ª PARTEPANO DE FUNDO

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Como, 18 de janeiro de 2011.Pe. Luís Guanella viveu a maior parte de sua vida na se-

gunda metade de 1800, tempo marcado por profundas trans-formações sociais que influíram no seu crescimento humano,sobre sue caminho de fé, sobre a vocação de servir os pobres.

É difícil delinear a personalidade e os aspectos originais doitinerário de sua santidade se não damos antes um olhar,mesmo que rápido e sintético, ao contexto histórico, social eeclesial no qual ele realizou o seu esplendido testemunho dehomem de Deus, pai dos pobres, cidadão do mundo e educa-dor apaixonado.

1. Contexto histórico

Luís nasceu no dia 19 de dezembro de 1842 em Fracíscio,uma pequena aldeia que tinha mais ou menos 240 habitantessituada no Vale Splügen, no Reino Lombardo-Vêneto, depen-dente do Império Austríaco. Hoje é um vilarejo da Prefeiturade Campodolcino, na Província de Sôndrio, na região da Lom-bardia (Itália).

Na tomada da Bastilha (Paris, 14 de julho de 1789), marcouo fim do poder absoluto dos reis e o início da “Revolução fran-cesa”, daquele fenômeno histórico que exercerá uma influên-cia muito grande sobre a história futura, não somente naFrança, mas em toda a Europa. Os históricos são do parecerque este evento mudou o curso da história porque marcou a

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afirmação dos direitos do homem, resumidos nas famosas pa-lavras “liberdade, fraternidade, igualdade” (Declaração dos di-reitos do homem e do cidadão 1789), e obrigou os governantesa transformar a organização dos estados, até aquele temposubstancialmente de cunho monárquico, dando início ao “es-tado constitucional”, um estado fundado numa “Constitui-ção”, uma carta dos direitos e dos deveres dos cidadãos, esobre a distinção entre os poderes legislativo, judiciário e exe-cutivo para melhor organizar a vida social.

Olhando as coisas com mais atenção, deve-se reconhecerque as ideias introduzidas e transmitidas pela Revolução Fran-cesa estavam já presentes na famosa “Declaração dos direitos”,firmada alguns anos antes em Filadélfia, nos Estados Unidos;todavia, ao contrário dos americanos que tinha tirados aquelesvalores do húmus do Evangelho de Jesus Cristo, na Françaaqueles mesmos valores foram apoiados sobre a razão humana.

As novas ideias de liberdade causaram relevantes mudançasnas estruturas da ordem geopolítica da Europa porque origi-naram sangrentas guerras civis em quase todos os estados e fo-mentaram uma aversão sempre mais crescente para com aIgreja, o Papa, a religião, em nome da razão positiva (a “deusa”Razão). Deriva daqui o secularismo, isto é, o afastamento dosvalores cristãos, fenômeno que caracteriza a civilização oci-dental europeia de hoje.

Passa assim o astro fulgente de Napoleão Bonaparte, ogrande protagonista da Revolução; os reis dos estados euro-peus se reuniram em Viena (Áustria) num histórico Congresso(outubro 1814 - junho 1815) para tentar “restaurar”, isto é, re-portar a situação geopolítica ao passado, e para suprimir as no-vidades revolucionárias, que eram uma ameaça à estabilidadesocial.

Criou-se, na realidade, um clima de equilíbrio entre as novase as velhas ideias políticas e sociais. Em particular, a relaçãoentre o Estado e Igreja de tornou ambivalente. O Estado con-

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trolava as nomeações dos Bispos, dando cada vez o Exequatur(nada obsta); considerava os párocos como próprios “funcio-nários”; classificava as Ordens religiosas como “úteis” e “nãoúteis” ao progresso social; defendia os privilégios do clero; as-sumia a organização da escola, embora que, de fato, esta per-manecia ainda nas mãos do clero2.

Esta mudança política, definida pelos históricos “Ressurgi-mento”, perdeu consistência e vigor com o passar dos anos eem toda a Europa refloresceram os ideais da Revolução Fran-cesa.

Na Itália começou o “Renascimento”, quer dizer aquele fe-nômeno histórico que levou à unificação política de muitos Es-tados em que era dividida e ao nascimento do Estado Italiano(1848-1870). Combateram-se muitas guerras e sangrentas deindependência para libertar as regiões do norte da ocupaçãoaustríaca e para unir o norte ao sul, até aquela época, separa-das geograficamente pelo Estado Pontifício. A primeira guerrade independência ocorreu em 1848 e a segunda (1859 – 1860)que levou ao nascimento do Estado Italiano. A terceira guerrade independência aconteceu no ano de 1870 e culminou coma tomada de Porta Pia3 e o fim do Estado Pontifício; marcou,isto é, o fim do poder temporal do Papa e o redimensiona-mento do Estado Pontifício às proporções do atual Estado doVaticano.

Ao longo destas guerras foram ceifadas muitas vidas huma-nas; se registraram violências, misérias, sofrimentos de todo otipo e graves problemas sociais.

Foi também um período de desorientação e confusão. Entreos católicos nasceram movimentos opostos em nível de pensa-mento e de ação: os “intransigentes”, que lutavam pelo podertemporal do Papa, e os “liberais”, que defendiam a autonomiado Estado em relação à Igreja4.

Nesta mudança rápida do cenário político italiano é para-digmática a própria família Guanella. O avô Tomaso nasceu

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na Suíça sob a dominação dos Grisões; o filho Lorenzo, pai doPe. Guanella nasceu na República Cisalpina do francês Napo-leão; os netos e também Luís Guanella, nasceram sob o Go-verno Austríaco, feita exceção de irmão Gaudêncio nascidono ano de 1849 numa pausa tumultuada da liberdade italiana;os bisnetos nasceram todos como cidadãos italianos. É raroque numa família aconteça que quatro gerações sucessivas nas-çam sob o sinal de bandeiras de diferentes países.

2. Contexto social

O surgimento do Estado Italiano foi proclamado no dia 17de março de 1861. Graves problemas os novos governantes ti-veram que enfrentar: unir as intenções de todos os italianos(“Unida a Itália, precisa unir os Italianos”) e dar desenvolvi-mento econômico, industrial e infra-estrutural em todo o ter-ritório do novo estado. Precisava combater a ignorância e oanalfabetismo; elevar as condições sociais dos cidadãos; cui-dar da saúde, que se tornou precária por causa de uma ali-mentação muitas vezes insuficiente e pelas carentes condiçõeshigiênico-sanitárias. Precisava eliminar a bandidagem presen-tes em vastas regiões da Itália; equilibrar o balanço do estado.Sobretudo precisava resolver a complexa “questão meridio-nal” do sul da Itália (como resolver a desastrosa situação eco-nômica que se criou nas regiões do sul após a unificação) e a“questão romana” (o poder temporal do Papa), que tinha for-tíssimas repercussões sobre a população italiana, muito ligadaà Igreja Católica.

A situação econômica se apresentava muito problemáticapor causa da grave crise agrária; fortíssimo era o fenômeno daemigração para as Américas (do ano 1861 até 1905 emigroupara a Inglaterra, os Estados Unidos e para a América do Sulcerca 20% da população italiana).

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A segunda metade dos anos 1800 foi caracterizada tambémda uma “grande” revolução industrial; nas fábricas e nos esta-belecimentos se instalaram máquinas a vapor que facilitaram emultiplicaram a produção dos bens. Este fenomenal progressotécnico, se de um lado acelerou o processo de industrialização,do outro, infelizmente, alimentou o desemprego porque o usodas máquinas diminuía progressivamente o trabalho braçal.Junto a outros fatores a revolução industrial provocou comoconsequência um profundo mal-estar nas massas dos traba-lhadores, que se organizaram para defender os próprios direi-tos. Começaram neste contexto os sindicados e os organismosde tutela dos direitos trabalhistas.

O progresso tecnológico e científico fez passos gigantescosdeterminando contínuas mudanças na vida diária dos italia-nos. Foram introduzidos novos meios de transportes: trens,navios, automóveis, aviões, bondes, trólebus (ônibus elétrico);com a descoberta da energia elétrica se mudou o sistema deiluminação das casas e das cidades (invenção da lâmpada).Apareceram os gramofones, o rádio, o aço, que revolucionouo sistema de construção dos edifícios e das pontes. Em rela-ção aos meios de transporte e das vias de comunicação regis-traram-se novidades relevantes: a abertura de canais, degalerias, de estradas tornou mais velozes o deslocamento depessoas e de mercadorias e, por consequência, também a trocade bens culturais. A comunicação tornou-se mais rápida coma invenção da máquina datilográfica, as impressoras gráficas, otelefone, o cinema.

Os governos dotaram as cidades com esgotos, de água po-tável, de rede elétrica, de serviços higiênicos, de coleta de lixo.As grandes cidades mudaram os seus planos urbanos: juntoaos grandes bairros burgueses se contrapuseram periferiasmuitas vezes miseráveis, pobres e de má fama.

Grandes invenções que transformaram a vida dos cidadãose alimentaram uma nova consciência da grandeza do homem,

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mas criaram também profundos desequilíbrios entre as clas-ses sociais. Não por acaso que próprio na segunda metade dosanos 1800 nascem, sobretudo na Itália, muitas congregaçõesreligiosas masculinas e femininas que se dedicam ao serviçodos pobres, dos marginalizados, nos diferentes campos de mis-são: a educação, a saúde, a instrução, o trabalho profissional,a família.

3. Contexto eclesial

Antes da unificação da Itália e ao longo do Renascimento, apolítica dos Sabóia5 para com a Igreja foi marcada por umaforte posição anticlerical, apoiada pelos liberais e pelos repu-blicanos. A política anticlerical, na verdade, foi o único pontocomum entre os grupos heterogêneos (liberais, mazzinianos,maçons, garibaldinos...). Foi lançado o slogan: “Igreja livre emEstado livre”; livres, porém, eram somente os indivíduos libe-rais, não a Igreja como comunidade, como “corpo”: foramproibidas todas as procissões religiosas públicas e toda formade propriedade de bens materiais por parte das entidades re-ligiosas às quais foi tirada a personalidade jurídica (lei do con-fisco dos bens eclesiásticos (1866-1867); lei da supressão dosInstitutos religiosos (1866).

Logo após a tomada da Porta Pia (1870) as relações entre aIgreja e o Estado italiano se tornaram muito difíceis e as cons-ciências dos católicos foram provadas duramente por leis im-populares, como por exemplo a abolição da isenção dosseminaristas do serviço militar (1875), a abolição do juramentoreligioso nos tribunais (1876), a supressão do ensino religiosonas escolas estatais (1877).

O Estado concedeu a liberdade de culto a todos os cida-dãos, introduziu o matrimônio civil (1866), suprimiu as imu-nidades eclesiásticas, ativou o registro civil da população e a

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obrigação escolar (1864). Impôs à Igreja a necessidade de re-ceber o Nada Obsta para a nomeação dos bispos e dos páro-cos. Estas escolhas levaram gradativamente à separação dasmassas católicas do governo liberal.

Por sua parte a Igreja proibiu aos católicos a participaçãoativa à política e às eleições (non expedit, isto é, não convém),mostrando assim um certo mal-estar frente às novidades quenos sucessivos anos seriam acolhidas também pelo mundo ca-tólico. O Papa Pio IX repudiou a Lei das (Guarentigie, isto é,Garantias)6 com a qual o Estado Italiano queria remendar orasgo com a Igreja após a tomada de Porta Pia, considerandoo fato unilateral; assim fez também o seu sucessor Leão XIII.

Assim mesmo, o mundo católico soube organizar-se e noano 1874 em Veneza deu início à Obra dos Congressos, isto é,a assembleia de todas as associações católicas que operavamno campo social, econômico e religioso, com a finalidade de tu-telar os direito da Igreja, promover as obras caritativas católi-cas, coordenar as atividades promovidas pelas mesmasassociações, solicitar a criação de sociedades operárias católi-cas de mútua ajuda de bancos rurais. Ideias que foram legiti-madas pelo Papa Leão XIII na encíclica Rerum Novarum(Coisas Novas - 1891).

4. Pe. Guanella e o seu tempo

Querendo resumir as influências que o Pe. Luís Guanellarecebeu do contexto histórico, social, cultural no qual ele cres-ceu e no qual realizou não somente as suas obras caritativas,mas a sua pessoal caminhada de santificação, se poderia dizerque:

- à tentativa de afastar Deus e a fé do coração humano (se-cularismo), ele contrapôs a firme certeza que Deus é para nósum Pai, que vigia os nossos passos e nos circunda de amor com

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a sua Providência;- ao anticlericalismo e ao clima de aversão à Igreja, reagiu

mostrando com uma caridade concreta que a Igreja é mãe so-lícita, perita em humanidade e sabe solidarizar-se com as ale-grias e as esperanças do homem;

- à confiança no progresso científico e tecnológico soubeunir uma sábia ação de sensibilização e de mente, com o in-tuito de mostrar que a dignidade humana do home reside antesde tudo no seu ser filho de Deus.

Destas luminosas certezas de fé surgiu a sua paixão pelospobres e a sua incansável ação em favor deles para promoversuas condições de vida, para garantir a todos Pão e Senhor, ar-regaçando as mangas e atuando “ante lítteram”, isto é, anteci-pando, assim, aquilo que em termos modernos chamamos deprincípio de subsidiariedade e de solidariedade.

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«O cume do teu monte é sublime, porque de lá contempla-se mais de perto obelo paraíso. O profundo dos teus vales é sagrado, porque no retiro da solidãoaprende-se a melhor amar ao Senhor, a melhor querer ao próximo dos ir-mãos...».

(L. Guanella, Il Montanaro, p. 987)

«Eis o suspiro do montanhês: “o meu povoado me é mais querido”. Custa-lhesuores de fadiga o seu povoado e por isso lhe é querido sobretudo».

(L. Guanella, Il Montanaro, p. 988)

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«O Pe. Luís quando zanga-se um pouco, diz logo com humildade e sorrindo:“Lembrai-vos que nasci perto da Rabbiosa”».

(L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, 16)

«Lembra-te de quando pastorzinho assistias ao rebanho; então o teu pensa-mento corria rápido ao pai e à casa doméstica... a mente apressava-se no en-calço do pai, o coração acumulava os seus afetos e as lágrimas irrompiam comoduas fontes dos olhos. Para estagná-las tu gritavas: “O pai está em casa... logoreverei eu mesmo o pai dileto”».

(L. Guanella, Andiamo al Padre, p. 113)

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«A Providência escolheu-nos e guiou-nos. Ela deu-me pais virtuosos que meinfundiram espírito de trabalho e de sacrifício: deles aprendi a sempre trabal-har».

(L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, 38, de 26 de maio de 1915)

«O Pe. Luís considerou no próprioentendimento que sua irmã fosse ainspiradora e a cooperadora nas suasobras de beneficência e estando emdificuldades contínuas e graves, pen-sava pelo menos confusamente nairmã e tinha com isto conforto espe-cial para prosseguir o caminho ini-ciado».(Luigi Guanella, Dichiarazione ine-dita, Roma 08-02-1909)

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«Meus concidadãos bem amados de Fraciscio... a nós São Roque recorda-nosa nossa igreja e o nosso sacerdote. São Roque representa o nosso povoado, ogrupo dos nossos montes, o nosso pequeno mundo e o afeto mais querido dapiedade, da fé, da paz doméstica. Rezai por mim que sou vosso irmão afei-çoado sacerdote Luís Guanella»

(L. Guanella, Quarto Centenario dalla traslazione del corpo di San Rocco, p. 429)

Fraciscio - Casa Natal

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Visão do velhinho em Campodolcino. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque deFraciscio.

Sobre a altura do Gualdera. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque de Fraciscio.

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Segunda ParteEm primeiro plano

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1. Sob as asas da Providência

Luís Guanella nasceu no dia 19 de dezembro de 1842 na al-deia de Fracíscio perto da cidade de Campodolcino, entremontanhas bonitas e ásperas, que o educarão desde pequenoa enfrentar as dureza da vida. Seus pais, Lourenço Guanella eMaria Bianchi, família camponesa da qual Luís é o nono detreze filhos. Entre os companheiros da infância um lugar àparte tem a torrente Rabbiosa (Raivosa) que corre na partemais baixa da aldeia; com Catarina, a irmã preferida, muitasvezes se afasta da casa e, mesclando barro nas tigelinhas, brincade “fazer sopa para os pobres”.7

Aos sete anos Luís tem uma visão que é quase uma prediçãodo caminho que seguirá por toda a vida; ao Aldo da igreja pa-roquial de Campodolcino, lhe aparece um velhinho que lhepede uns docinhos que tem na mão e em seguida desaparece.Esta visão cria nele pânico e amargura e o manterá como se-gredo que revelará somente muitos anos depois, perto da con-clusão de sua vida terrena.

Na primavera do ano de 1852, 8 de abril, dia de sua primeiraComunhão, na solidão da colina de Gualdera, ele tem umaoutra visão; esta vez é a bela Senhora, Maria, que lhe fala e lherecomenda de dedicar a sua vida aos necessitados.

Quando tinha 12 anos (1854) deixa Fracíscio e entra no Co-légio Gállio da cidade de Como aonde estuda por seis anos.Também se ao longo dos anos dirá palavras de agradecimento

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aos seus educadores e professores, os primeiros tempos do co-légio foram vividos com muita saudade pelas suas montanhase a casa paterna. Concluídos os estudos do liceu, entra no se-minário de Santo Abôndio para cursar a filosofia, em seguidaestudará teologia no Seminário Maior.

No dia 26 de maio de 1866 Dom Bernardino Maria Fras-colla, bispo de Fóggia, condenado pelo governo italiano ao cár-cere domiciliar na cidade de Como, o ordena sacerdote e oexorta “com palavras de fogo” à coragem e ao espírito em-preendedor. Alguns anos mais tarde, falando de si mesmo, noopúsculo “O montanhês” escreverá que o seu propósito da-quele dia solene foi “de ser uma espada de fogo no ministériosanto”.8

Alguns dias depois celebra a primeira Missa na Igreja deNossa Senhora da Assunção na cidade de Prosto; estavam pre-sentes os pais, irmãos e irmãs; no ano seguinte (1867) foi en-viado a desenvolver seu ministério sacerdotal no vilarejo deSavogno, a cerca de mil metros de altura, entre as montanhasdo vale Bregalha. Neste lugar, ajudado pela sua irmã Catarina,permaneceu oito anos. Gastando suas melhores energias noscuidados do seu povo, doando-se sem medida.

Em 1875 pede ao Bispo, e consegue, a permissão de ir juntoa Dom Bosco em Turim, para fazer “uma experiência relacio-nada com os seus projetos”.9 Dom Bosco lhe confia vários car-gos de responsabilidade e quis enviá-lo em missão na AméricaLatina, mas Pe. Luís tem em si o forte desejo de trabalhar embenefício do povo do seu vale, fundar um instituto, e compesar não aceita o convite do santo de Turim.

Deixados os Salesianos, em 1878 voltou para a sua Diocesee foi enviado à Traona, um povoado da baixa Valtelina; lá tra-balha três anos como vigário paroquial e inicia (1880) a um co-légio para meninos pobres do vale. Infelizmente o seu projetonão foi do agrado do pároco e do prefeito da cidade de Sôn-drio e assim teve que fechar o colégio (fevereiro de 1881).

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Em seguida a esta experiência, certamente traumática, nomês de agosto de 1881 Pe. Luís foi enviado pelo Bispo à pa-róquia de Olmo, um pequeno povoado do vale de São Tiago.Lá o Pe. Luís passa meses de solidão, de sofrimento,10 de pu-rificação interior e de oração na espera que a Providência apre-sentasse o caminho a ser percorrido para realizar algumainstituição,11 às quais se sente chamado por Deus “como fun-damento”.12

E, de fato, no outono o bispo o nomeia administrador daparóquia do vilarejo de Pianello Lário, onde permanece pornove anos e inicia suas obras de caridade. Os primeiros tem-pos, porém, não foram os melhores; encontra-se diante de ummuro de desconfiança: “Um pensamento me martelava: estásno caminho certo ou não? […] Não acreditam nele”.13

Um grupo de jovens consagradas tinha começado na cidade,com a ajuda de pároco Pe. Carlos Coppini, falecido nos pri-meiros dias de julho daquele mesmo ano, um asilo para idosose crianças abandonadas. Pe. Guanella gostaria de tomar contadeles, mas as consagradas eram tomadas por preconceitos: “Éuma cabeça quente! Cuidado!”. “Fiquem atentas!” Com opassar do tempo, a inicial desconfiança se transforma numasempre mais decisiva e profunda colaboração. Naquele grupoestão duas irmãs Clara e Marcelina Bosatta, pedras funda-mentais das instituições caritativas. Com elas, Pe. Luís iniciaráa sua missão em benefício dos pobres, dos anciãos doentes,das crianças pobres. Tinha soado, enfim, “a hora da misericór-dia”.14

De Pianello Lário no ano de 1886 um pequeno grupo deIrmãs e assistidas parte para ir a viver na cidade de Como einiciar, na rua Tomaso Grossi, a casa da Providência, que éainda hoje o coração da Obra Guanelliana. E de Como a Obrase ramifica em muitas instituições: Em Milão, na região do Vê-neto, na região da Romagna, na Suíça, em Nova Olônio, na ex-tremidade setentrional do lago de Como. Lá, num centro

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chamado Olônio São Salvador, instala no ano 1900 uma casade acolhida e de trabalho agrícola para os “bons filhos”, comoele chamava as pessoas com deficiência mental.

No ano 1902 participa de uma peregrinação à Terra Santa e,viajando entre o Líbano e a Galileia, reza a fim de que um diaa sua Obra possa colocar raízes também lá, nas terras que foipalco da vida de Nosso Senhor.

Retornando à Itália, trabalha para obter o reconhecimentopor parte da Santa Sé das suas instituições. É seu vivo desejoalcançar Roma e graças a coincidências favoráveis predispos-tas pela Providência Divina, à qual se abandona com con-fiança, o sonho se realiza. No ano 1903 entra na colôniaagrícola de Monte Mário; de lá após alguns anos (1907), com-pra uma parte do ex-convento anexo à Igreja de São Pancrá-cio na colina do Janículo e organiza uma casa por idosas e paraas “boas filhas” que dedica ao seu grande amigo e protetor, opapa São Pio X. Por este amparado, também economicamente,no ano 1909 chega ao Bairro Trionfale, aonde constrói umaIgreja em honra a São José e organiza obras educativas.

O ano 1908 é muito importante porque emite com outroscoirmãos a primeira profissão religiosa e dá início à Congre-gação dos Servos da Caridade, ainda que a aprovação oficial daSanta Sé chegará alguns anos mais tarde, no ano 1912.15 Nomesmo ano (1908) obtém do Vaticano a desejado reconheci-mento da Congregação feminina das Filhas de Santa Maria daProvidência.

Acolhendo o chamado da Providência Divina, abre outrasInstituições no sul da Itália, na cidade de Ferentino, de Lau-reana di Borrello na região da Calábria e na Valtelina, no norteda Itália.

No inverno de 1912 enfrenta uma difícil viagem de naviopara os Estados Unidos para preparar uma instituição em be-nefício dos emigrantes italianos e no ano seguinte envia umprimeiro grupo de Irmãs. Três anos depois vai ajudar as po-

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pulações afetadas por um terremoto na Mársica, região doAbruzzo, no sul da Itália. Na Igreja-Santuário São José noBairro Trionfale institui, com a aprovação do Papa Pio X, aPia União de Orações a São José pelos agonizantes, uma asso-ciação de fiéis que assume a tarefa de rezar pelos moribundosa fim de que possam encontrar-se serenamente com a Irmãmorte. É “o coroamento das suas Obras”.16

No mês de setembro de 1915 foi improvisamente afetado poruma paralisia que o levará à morte; são os seus últimos dias, maso seu espírito montanhês lhe dá força para encorajar ao trabalhoos padres e as suas irmãs sem poupar energias: “Caridade emtudo... parar não se pode enquanto houver pobres para socorrer enecessidades para prover... todo o mundo é vossa pátria”.

No dia 24 de outubro de 1915 na cidade de Como, Pe. LuísGuanella termina seus dias terrenos e volta à casa do Pai, sobcujas asas de Providência tinha, com docilidade e firmeza depropósitos, caminhado passo a passo, como verdadeiro filhoda montanha.

O papa Paulo VI declarou bem-aventurado o Pe. Luís Gua-nella no dia 25 de outubro de 1964 e o papa Bento XVI o de-clarou santo no dia 23 de outubro de 2011.

2. O ambiente em que nasceu e cresceu

Luís Guanella passou a sua infância e os primeiros anos doseu ministério sacerdotal, exceto o tempo que passou comDom Bosco, em pequenas aldeias de montanha. O ambiente tí-pico da montanha influenciou sua personalidade e por conse-quência o seu caminho rumo à santidade. Um montanhêsautêntico, pelas origens, pelo temperamento, pela sensibili-dade, linguajar, inquietações; apaixonado pela montanha, ficousempre apegado, com todo o coração, feliz de ter nascido e deter passado os primeiros anos de sua vida.

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Do ambiente montanhês Luís Guanella recebeu um magní-fico patrimônio cultural de pensamento e de valores, que teveo seu centro numa forte religiosidade e as suas característicasdominantes num grande espírito de sacrifício e de sobriedade,de treino à fadiga e ao trabalho, na constância do caminho,passo a passo, no apego às próprias tradições, num profundoespírito de família e um autêntico sentido de pertença à co-munidade.

Traços caracteristícos da santitade do Pe. Guanella

“Dizem que é muito difícil tornar-se santo. Mas não é verdade.Cada qual que queira pode tornar-se santo. Não se pedem coisasimpossíveis para que alguém fique santo. Basta somente que elefaça com santíssima intenção todas as obras do seu estado devida”.17

“Tu que desde muito tempo pede conselho para tornar-tesanto, reza para poder seguir em tudo a divina vontade, porqueisto basta para tornar-te santo”.18

Eram estas as sugestões que Pe. Guanella dava àqueles quedesejavam caminhar rumo à santidade, e pediam a ele um con-selho iluminado. Não há dúvida que eles reflitam uma expe-riência vivida pessoalmente. Cresceu em santidade até serproposto para ser cultuado em toda a Igreja, tendo unicamenteem vista o cumprimento da vontade de Deus em cada sua ati-vidade de cristão, de sacerdote e de religioso.

a) Introdução

Os Santos são páginas vivas do Evangelho de Jesus que seencarna de novo em cada época; são testemunhas críveis quesabem unir o anúncio da Palavra à concretude dos fatos. A raiz

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de sua santidade está na consciência de serem conhecido eamado por Deus no íntimo mais profundo do ser e em deixar-se dilatar o coração e a mente pela graça do Espírito que trans-parece da paixão dos ideais que movem seus passos.

No firmamento da santidade, cada astro brilha de uma sualuz refletida. Bento XVI na homilia da solenidade de Todos osSantos no ano de 2008 falou da Igreja como se fosse um “jar-dim botânico”, aonde o Criador colocou uma variedade decores da santidade no rosto luminoso dos santos. Com os olhosiluminados pela fé “o mundo se apresenta como um jardim ondeo Espírito de Deus – disse o Papa – suscitou com admirável cria-tividade uma multidão de santos e de santas, de toda idade e con-dição social, de toda língua, povos e culturas. Cada um édiferente do outro, com a singularidade da própria personalidadehumana e do próprio carisma espiritual”.

b) Um homem, um Santo

Diante da personalidade criativa e rica de Pe. Guanella, cap-tar o carisma espiritual e específico não é simples; mas pode-mos perceber as pegadas que levam ao coração da suasantidade. O ponto focal da sua santidade se encontra no seumodo de relacionar-se com a vida. Nele, como em todos mo-delos de santidade, se cruzam duas dimensões: uma vertical euma horizontal.

A dimensão vertical é representada pela sua relação comDeus: uma relação vivida no reconhecimento de sua paterni-dade e numa atitude filial, na convicção que “É Deus quemage”. Afirmava muito bem Paulo VI no dia de sua beatifica-ção: “Tudo é de Deus: a ideia, a vocação, a capacidade de agir, osucesso, o merecimento, são de Deus e não do homem”.

A dimensão horizontal, social, que entrelaça a trama da san-tidade guanelliana derivava do fato do que se sentia “colabo-

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rador de Deus” que o impeliu a relacionar-se com o próximonecessitado, praticada ao estilo do Bom Samaritano à luz e noespírito das bem-aventuranças evangélicas. Nenhuma condi-ção de fragilidade e de pobreza dos homens e das mulheres doseu tempo era estranha para ele, porque em cada um reco-nhecia a dignidade de filhos de Deus e de irmãos seus.

Paulo VI, no seu profundo e magistral discurso no dia dabeatificação, na filigrana da vida de Pe. Guanella destacouduas linhas mestras: um percurso íntimo, guardado compudor, e uma estrada mais visível enriquecida com o floresci-mento de suas obras de caridade. A linha religiosa o impeliu àluz da visão de Deus “a interpretar, a realizar e a honrar a von-tade de Deus”. Assídua foi a oração, a ascese constante, umacomunhão com Deus Pai sempre mais íntima, com profundoespírito de humildade até afirmar com verdade: “É Deus quemage. A Ele somente a honra e a glória”.

Desta procura de comunhão Paulo VI indicava os pulmõesdo seu respiro espiritual: “tensão” e “distensão”. A tensão eraa ânsia da difusão do Reino do Pai, que Paulo VI definiu como:“perseverança, tenacidade, energia, coragem, espírito de he-roísmo, de sacrifício”. A distensão era o respiro amplo e pro-fundo que abria as velas da alma ao vento do Espírito e sedeixava guiar com confiança por Deus; quando Deus é o ti-moneiro, então, afirmava Paulo VI: “nada impõe medo”,pode=se começar toda grande obra com “a certeza – até o risco– que a Providência não faltará”. No Pe. Guanella “a confiançaforte, positiva, amorosa” na Providência de Deus foi a fonte desua santidade e da sua extraordinária e fecunda operosidade.

Após estas reflexões introdutórias, chegou o momento deapresentar mais especificamente as características principaisdo caminho de santificação percorrido pelo Pe. Luís Guanella.Queremos fazer isso colocando-nos numa perspectiva parti-cular: narrar como se santificou; contar como realizou a santi-dade; pondo em destaque os aspectos que podem envolver

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também nós, que vivemos num contexto histórico um tantodiverso do seu, mas não totalmente diferente.

Antes, vamos propor exatamente aqueles aspectos que nosajudem a senti-los mais perto de nós, atual; aqueles aspectosque nos podem encorajar a percorrer suas pegadas, conforta-dos pelo seu testemunho, o nosso pessoal e comunitário cami-nho de santidade, no mundo e na Igreja de hoje.

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«Entrevistes um menino que tendo vindo diante do pai falou: “Eu quero serpadre... Sinto que Deus me chama...”. Anos depois aquele jovem entrou neo-sacerdote no seio da família e pastor de um povo... Olhai-o, na testa temescrito: “Santo para o Senhor”. O Senhor chamou-o e quer que seja todo seue de vós. Rezai pelo sacerdote de Deus».

(L. Guanella, Cinquanta ricordini delle sante missioni, p. 1119)

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Pe. Guanella nas margens do lago. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque de Fraciscio.

«O Guanella, não sei se nas viagens como clérigo ou como neo-sacerdote, lem-bra muito bem que, passando sobre o barco de Dervio a Olciasca, olhou aigreja de Pianello que ele não distinguia e pareceu-lhe advertir não sei qual luzde mente e aquele movimento de coração que lhe parecia dissessem: “Olha lá,porque naquele lugar terás trabalho e satisfação suave”».

(L. Guanella, Le vie della Provvidenza, p. 58)

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HOMEM DE DEUS

Pe. Guanella teve uma espiritualidade própria? É uma per-gunta que pressupõe uma clarificação: o que entendemos porespiritualidade? Tecnicamente se poderia dizer que espiritualé a pessoa que sabe realizar uma interação da natureza com osobrenatural, do humano com o divino. Em outras palavras: aespiritualidade é o modo concreto de como uma pessoa viveem relação a si mesmo, aos outros, ao mundo e a Deus.

Pe. Guanella foi um homem de Deus, teve uma sua espiri-tualidade, porque conformou o seu pensamento, o seu agir àvontade de Deus, cultivando uma profunda amizade com ossantos, e se sentia encorajado19 pelos exemplos deles. Foi suaconvicção que o homem é desde sempre objeto do amor porparte de Deus; por um dom especial dado por Deus (Rm 5,5),o amor divino (Ágape) está no coração do homem e se mani-festa na própria história pessoal. O centro de sua espirituali-dade é: a certeza de ser amados por Deus com o amor de umtenro paizinho (paternidade de Deus).

Deus foi por Pe. Guanella, desde os anos da infância, oponto constante de referência, o horizonte dos seus gestos, daspalavras e das ações. A fé constituía a rocha sobre a qual ba-seava sua vida diária, nos momentos alegres ou de provação.Uma fé com fortes características afetivas: “O Senhor te observacomo um pai que se alegra em fixar o olhar no rosto do seu únicofilho. Das feições do rosto o pai distingue os fatos passados e re-centes do filho. Algumas vezes prevê também as obras que fará

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no futuro. Deus Pai distingue em ti tudo isso perfeitamente,como num espelho limpo tu mesmo vês as feições do teu rosto”.20

A sua atenção era aquela de deixar-se educar por Deus-Papai, de conformar as suas ações à sua vontade: “Deus se re-laciona contigo com a ternura de um pai, que em todacircunstância educa o seu filho. Deus te educa através da SagradaEscritura. Deus te educa na santa oração... Coloca na tua almapensamentos saudáveis, no teu coração firmes propósitos debem... O Senhor te educa nas coisas mais úteis da vida”.21

Deixou-se educar tendo uma atitude de grande abertura edisponibilidade, a docilidade própria de quem se sente filhoternamente amado. A sua espiritualidade foi tipicamente umaespiritualidade filial; ele viveu “coração a coração” com DeusPai, se sentia envolvido pelo seu olhar: “O Senhor te observacom suspiros de amor, melhor que um pai que conta as batidas dacriança que dorme”.22 No discernimento diário a sua referên-cia era Deus: “Olha continuamente para o teu pai, espera que tedê pão para viver, enquanto isso sorri para ele com suave afei-ção”.23

Na Bíblia Pe. Guanella descobriu o verdadeiro rosto deDeus-Papai e à luz da Palavra de Deus formou a sua visão demundo, do homem e da história: “Quem estuda “os santos li-vros acontece como àqueles que escavam uma mina de ummonte. À superfície encontram veias de ouro; aos poucos quandoescavam mais encontram filões de ouro puríssimo”.24“Tinha umatão grande estima da palavra de Deus que nunca deixava deanunciá-la”, testemunhou o Venerável Dom Aurélio Bacciarininos processos canônicos para o reconhecimento das virtudeheróicas25 de Pe. Guanella. Aos seus religiosos e às suas reli-giosas recomendava de serem “sedentas o mais que podeis daPalavra de Deus. Não vos canseis nunca porque a Palavra deDeus faz muito bem, instrui a mente, fortifica o coração, impeleà ação. [...] Porque procurar riachos, quando tendes as fontesinesgotáveis da Sagrada Escritura?”.26

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Na Bíblia encontrava o alimento necessário para a sua con-templação: “Com mão respeitosa me aproximo dos livros da Es-critura. Dentro dela está a Palavra de Deus. Como somosafortunados! O Senhor nos seus livros sagrados nos envia suascartas e nos fala coração a coração como pai ao filho”.27 Con-templar, na Bíblia, é capacidade de ligar, unir e compor emunidade a complexidade dos fatos da vida; é capacidade de re-compor os eventos da história, pessoal e comunitária, numplano providencial de salvação que Deus tem solidamente emsuas mãos. Como Maria, a Virgem que escutava, também Pe.Guanella esforçava-se de viver em plena sintonia com a von-tade divina; guardava no seu coração as palavras que vinhamde Deus e, compondo-as como um mosaico, as compreendiamais a fundo.28

Como conclusão de seus longos dias de trabalho gostava depassar algum tempo diante do Santíssimo Sacramento paraavaliar a sua vida à luz do projeto de Deus e tomar fôlego parao caminho do dia seguinte; na oração que considerava indis-pensável como o respiro que nos faz viver,29 aprendia a com-preender Deus para conseguir depois compreender oshomens.30 Repetia: “É com o sopro dos lábios que se acende ereaviva o fogo material e é com o sopro espiritual da oração quese reaviva o fogo do zelo e da caridade”.31

Assim como jovem sacerdote na cidade de Traona, assimcomo Fundador na cidade de Como, aonde mandou abrir umajanelinha no seu quarto em modo que podia fixar o olhar di-retamente no sacrário. Esta sua dimensão contemplativa apa-rece em todo o seu esplendor sobretudo se nos aproximamosda figura da Beata Clara Bosatta,32 que ele guiou à perfeiçãoevangélica pelo caminho da oração e da mortificação, pelo ca-minho da cruz e pelo caminho do serviço da caridade. Encheo coração de admiração ao constatar que como fundamentodas instituições de caridade Deus colocou pessoas místicas.33

Pe. Guanella sabia tirar alimento e vigor da contemplação

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de Deus e de seu desígnio de salvação para testemunhar comcoragem sua fé, para defender os valores da mesma, para com-bater os erros, para desmascarar as hipocrisias de um “mundomentiroso”.34 Foi um “servo fiel” da Igreja, destemido defen-sor da missão do Papa; difundiu também através da imprensaescrita (livrinhos ascético-morais como aquelas, mais conheci-das, de Dom Bosco),35 a cultura católica, a visão cristã da vida,os valores do Evangelho de Jesus Cristo. Tinha muitíssima co-ragem; mas alguém pensava que sua coragem fosse teimosia,obtusidade, fechamento às novidades da história. Desde ostempos de Savogno, nos primeiros tempos do seu ministériosacerdotal, foi tachado como “obscurantista”, pessoa que seopunha à difusão do progresso e a toda forma de inovação so-cial e cultural; quem não o conhecia, pensava, inclusive algunsmembros da Igreja, que fosse até um homem “de cabeçaquente”, somente porque tinha a ideia fixa de fazer o bem atodos e também não podia aceitar que se atingisse a Igreja e oPapa. O seu corajoso testemunho ilumina as mentes e aqueceos nossos corações, homens e mulheres do XXI século, que vi-vemos mergulhados num clima de desconfiança em relação àmensagem cristã, à hostilidade mais ou menos camuflada emrelação à Igreja e ao Papa, de relativismo ético, de aversão emrelação a tudo o que o indivíduo não pode autonomamentedecidir.

Acontece assim a todos os homens de Deus, aos profetas,que no meio das adversidades da vida, sabem permanecer atéo fim fiéis a Ele, não traem o seu amor. Os profetas, pelo fatoque são iluminados pela palavra de Deus, são capazes de re-conhecer os sinais de sua presença também entre o barulho ea confusão, a dor e o sofrimento. Diante do mal que se alastranão se deixam tomar pela desorientação, mas sabem apelar àfidelidade de Deus, que nunca abandona o homem em poderdo próprio pecado. Sabem sempre suscitar esperança. Semea-dor de esperança foi Pe. Guanella com a sua vida que nunca

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pactuou com a banalidade, a superficialidade, a tibieza; com asua ação criativa envolvente, com o ministério da palavra.

Transparecia no seu rosto uma encantadora serenidade, sinalda paz do seu coração. Procurava de infundir também nos ou-tros aquela espiritual alegria, dizendo aos seus colaboradores,às suas Irmãs e aos seus sacerdotes, muitíssimas vezes: “Ale-grai-vos sempre no Senhor”.36

Era seu desejo estar em sintonia com a Providência Divina.O mundo está continuamente sob o olhar de Deus que não so-mente o sustenta na criação, mas o guia à realização do seuprojeto de amor.37 Esta benevolência “contínua” do Pai é aProvidência. Disso surge o convite dele para aprender a viverconsiderando que “Deus está presente como a criança conti-nuamente fixa seus olhos para o pai”, quer dizer, “Deus me vê.Deus providencia aos seus filhos”.38 Embalado nos braços pa-ternos de Deus Pai se abandonava neles com grande confiança.Este abandono em Deus Pai era para Pe. Guanella fazer ex-periência da Providência. Nos seus escritos compara a ternurade Deus, o seu amor providente, ao sol “que está no céu e, en-quanto isso, envia sua luz e seu calor tanto aos montes como àsplanícies, ao recife como ao mar, e olha a todos e ao mesmotempo envia seus raios para ti, como se tivesse que providenciarsomente a ti. Por isso em cada canto da terra o sol ilumina, assimdeves lembrar que em toda parte o Senhor do alto te vê e te so-corre”.39

Sentiu-se levado pela Providência de Deus ao longo de todasua existência terrena; não dava um passo a não ser que tivesseprofunda convicção de que fosse “chamado” por Deus. Pe.Leonardo Mazzucchi, primeiro biógrafo, lembra: “Em abrirObras sempre dizia de obedecer a um chamado divino, e tenhoainda vivo na minha mente que no mês de dezembro de 1912em que quis nos explicar os motivos de sua viagem à América doNorte terminou acrescentando: “E depois há o chamado!. E re-colheu-se em si mesmo sem dar outras explicações”.40 O cha-

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mado da Providência era o critério que o guiava em realizarsuas obras; não procurava o interesse pessoal nem queria rea-lizar seus sonhos. Declarava sem hesitação: “Se eu soubesse quea minha Obra não é querida por Deus, eu seria o primeiro a des-truí-la!”.41 Ao término da vida, volvendo o olhar aos anos desua infância, da sua juventude, dos seus primeiros anos de sa-cerdócio, dos fracassos de Traona, aos difíceis inícios de Pia-nello Lário, aos anos repletos de satisfações, reconhecia comhumildade que tinha sido guiado em tudo pela Providência.Quis intitular exatamente assim suas memórias autobiográfi-cas: “Os caminhos da Providência”.

O seu abandono confiante nas mãos de Deus não era umtipo de “quietismo”, mas exigia uma fé robusta porque – dizia:“A ajuda que Deus nos dá é proporcionada à fé com qual se reza,assim que, se tu elevas súplicas humildes e fervorosas logo obte-rás que Deus Pai venha logo em tua ajuda”.42 Uma fé profunda;estamos, então, bem longe de afetações e de sentimentalismos.O amor a Deus estava bem enraizado e baseado na consciên-cia que devia fazer a própria parte.: “Eu penso até meia noite,após a meia noite é Deus quem pensa”.43 Muitos são os seus en-sinamentos nesta linha: “O limite da força do cristão é marcadopela força e pela graça do Onipotente. Esta força e esta graçaDeus a concede em proporção à nossa cooperação”.44

Pe. Guanella foi um homem de visão ampla, aberto à reali-dade e aos valores “terrenos”. Em relação à criação foi oti-mista, porque a criação é fruto da paternidade de Deus. Masao mesmo tempo não foi ingênuo, conhecendo bem o coraçãohumano e sabendo que viciou a relação entre os outros seres eas coisas: “Tu nasceste frágil, porque és filho de pais feridos pelopecado. Todas as vezes que pecaste tu carregaste o teu espírito deaflição, o corpo o carregaste de chagas”.45 Em relação ao homemteve uma visão realista, mas sem cair no pessimismo, ficandosempre aberto à dimensão sobrenatural: o homem é pecador,mas foi redimido “recriado” pela Graça; pode cair no abismo

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do mal, mas pode elevar-se aos cimos excelsos das virtudes, ésempre capaz de fazer um bem extraordinário. Gostava repe-tir: “Pensa que o Senhor te tirou do nada. A tua bela alma asse-melha a Deus, como o querido rosto do filho se assemelha aorosto do seu pai”;46 “somente o Senhor é isento de pecado e semnenhum defeito. Para fazer um pouco de bem a si e aos outros éconveniente servir-se do homem com o ele é, isto é, pequeno, frá-gil, mortal”.47

Parece ser muito atual o seu pensamento relacionado com ascausas do decaimento da sociedade: “Lúcifer e os seus compa-nheiros nos céu eram sábios, lhes faltava porém o poder, por issodisseram: “Façamos guerra contra Deus e tornemo-nos seme-lhantes ao Altíssimo”.48 E é o orgulho do homem que se rebelacontra o seu Criador que torna o mundo “um fogo incessantede concupiscência..., trevas de interesses..., ar fedorento de so-berba e de vaidade; eis que o mundo se torna para o homem umaterra de iniquidade, um vale de lágrimas, por isso deve prestaratenção e temer continuamente os inimigos que o cercam”.49

Pe. Guanella tinha grande confiança nas capacidades dohomem, mas também clareza de ideias a respeito da necessi-dade da ascese. Para renovar o mundo a sociedade é precisorenovar a si mesmos, é preciso renascer a uma vida nova cadadia segundo Jesus Cristo: “No homem velho está o orgulho damente e a perversidade do coração. Ver as coisas como Deus as vê,fonte de luz e de caridade e imitar a semelhança, neste está ogrande e intenso trabalho dos dias, dos meses, dos anos, de todaa vida do cristão. É preciso não nunca cansar”.50 Desde jovemsacerdote exercitou-se na mortificação, nos sacrifício, tambémem formas severas de penitência (cilício); fazia parte do seuviver espiritual a convicção de que: “A primeira e mais impor-tante mortificação é a exata obediência à própria Regra e o tole-rar com paciência as cruzes da jornada, humilhar-se dos defeitospróprios e ter compaixão pelos outros”.51

Por este caminho guiou rumo à santidade muitas pessoas.

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Ele mesmo fez questão de escrever biografias destas pessoaspara a edificação do povo de Deus e para “impelir” a aberturade processos canônicos para a beatificação (Ir. Clara Bosatta,Ana Sucetti, Catarina Guanella, irmã dele, Alessandrino Maz-zucchi...). Uma página das memórias autobiográficas, escritasde próprio punho,52 nos permite colher a intensidade do em-penho ascético em que se exercitava e ao qual exortava: “Fun-damento das casas da divina Providência é para nós a letra Fquatro vezes repetida: fome, frio, fumaça, fastio. Esta letra, re-petida quatro vezes com a alma decidida a praticá-las segundo afé e a razão, constitui a base piramidal ao avesso que relembra aletra V, e esta letra V significa Vítima. É necessário vítimas emtudo e precisam especialmente vítimas conformes à grande ví-tima do Calvário, para construir torres de salvação pelas almas.

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PAI DOS POBRES

Consciente que Deus é honrado quando é devolvida a dig-nidade do homem. Pe. Luís Guanella, como “homem deDeus” tornou-se “pai dos pobres”, quer dizer, traduziu a es-piritualidade em ação, transformou a relação filial que tinhacom Deus em fraternidade solidária com os pobres. “Os tem-pos são difíceis e é preciso que surjam nas paróquias muitas ins-tituições para homens, para mulheres, para todo tipo denecessidade. São fermento; nelas está o espírito de Deus: produ-zem pequenas santidades que santificam e salvam”.53

O seu século encontrava novos caminhos para socorrer asmisérias humanas; na segunda metade do anos 1800 surgiramfamílias religiosas que se dedicaram ao apostolado da caridade.Também a sua resposta ao chamado de Deus tornou-se ope-rativa, multiforme e criativa: soube unir a paixão para comDeus à paixão para com os pobres. No ano 1892 editou o pri-meiro número do informativo da casa Mãe de Como: a “Di-vina Providenza”,54 em que ele afirma que “na casa há todo tipode pobres”. Deste momento em diante sua tarefa prioritária foiaquela de “mostrar com os fatos ao mundo que Deus é aqueleque providencia com solícito cuidado de pai aos seus filhos”.55

Cumpriu um longo caminho de discernimento da vontadede Deus e dos apelos do Espírito Santo, empenhando-se em“decifrar” os múltiplos sinais do chamado recebidos, de puri-ficar os propósitos de bem que levava no seu coração, de man-ter-se disponível em deixar-se guiar pela Graça. Foi muitaampla esta responsabilidade: com humildade, mas com sofri-

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mento, aceitou os fracassos, os passos errados quando “pen-sava de ter a Providência no bolso”;56 a espera, muito longa, atéos 40 anos, que “soasse a hora da Providência”. Através desteintenso trabalho interior, conseguiu clarear a si mesmo que ser-vir os pobres era um desejo do coração de Deus, antes que umpróprio projeto de vida, e que cumprindo o desejo do coraçãodo Pai teria satisfeito a sede de felicidade do próprio coração.

Pe. Guanella tirou da fé uma visão clara do homem (antro-pologia). O homem é obra de Deus.57 Criando o homem a pró-pria imagem e semelhança, Deus o quis colocar no cume dacriação. O homem não é fruto do acaso, mas uma obra mara-vilhosa da inteligência e da bondade de Deus:58 “O homem é“inteligência encarnada”,59 afirma num seu escrito. Por causadi pecado original o homem é ferido e continua a levar consigoas cicatrizes deste pecado. Toda a vida e a história da humani-dade estão sob a força rebelde e a ferida daquele primeiro pe-cado.60 À desobediência do homem, Deus responde com amisericórdia: envia seu Filho, Jesus Cristo, para salvá-lo damorte do pecado.61 A tendência para o mal permanece nohomem sob a forma de tentação, de paixões, de instintos, mas,ajudado pela Graça, ele pode escolher de estar ao lado deDeus. Jesus Cristo veio à terra para levar de novo a imagem e se-

melhança divina ao esplendor originário; revela ao homem odesígnio do Pai: um projeto de salvação.62 O homem é assimchamado a acolher este projeto-vocação e empenhar-se com asmelhores forças para vivenciá-lo.63 Coração da revelação tra-zida por Jesus Cristo é a filiação divina: Deus é Pai de uma ter-nura infinita, o homem pode recorrer a Ele como se recorre aum Paizinho. Antes, à semelhança de Jesus Cristo, o Filho pre-dileto do Pai, cada homem é chamado a encaminhar-se rumoao Pai, percorrendo o caminho da santidade, as Bem-aventu-ranças evangélicas. Este caminho em subida, cansativo e arris-cado, conduz à meta; se realizado, de mãos dadas com Cristo,

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que sempre nos encoraja: “Vamos ao Pai”.64 Neste guia ohomem deve confiar, como a um irmão e a um pai, sobretudoquando a subida se torna o caminho da cruz e comporta mor-rer a si mesmo para acolher a vida nova, a vida do espírito.

À luz da revelação cristã Pe. Luís amadureceu o seu aposto-lado em defesa da vida, de sua inviolabilidade, da concepçãoaté sua natural conclusão; teve um olhar capaz de ver a vida nasua profundidade e – parafraseando a Encíclica EvangeliumVitae ( Evangelho da Vida) – poderíamos dizer que não se ren-deu desanimado diante a quem estava na doença, no sofrimento,na marginalização e à beira da morte.65 Estava convicto que avida humana participa da mesma vida de Deus: “Eu vim paraque todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,19). Asua missão entre os pobres foi aquela de agir a fim de que nin-guém ficasse para trás no caminho da vida;66 que a vida na suamanifestação mais pobre, fosse preservada de qualquer agres-são, seja ela material ou ideológica. Àqueles que o seguiam, sa-cerdotes, irmãs e cooperadores leigos, indicava com firmeza:“Pão e Senhor não pode ser pouco, mas suficiente nas nossascasas”,67 querendo dizer que a pessoa humana precisa de um pãomaterial, de uma casa, de uma roupa, mas também de Deus.Sem Deus a vida da pessoa, mesmo que estivesse cheia de bensmaterial, ficaria vazia e sem sentido. A pessoa de fato, tem inatodentro de si o desejo de relacionar-se com Deus,68 segundo a ex-pressão de São Agostinho: “Senhor, tu nos fizeste para ti e o nossocoração não terá paz até que não repousar em ti”.69

Um dos pilares sobre os quais se apoiou a sua missão de ca-ridade é a consciência de que a ajuda que se dá ao pobre é feitaao próprio Deus, segundo o ensinamento de Jesus: “Todas asvezes que fizeram isto a um dos menores dos irmãos, o fizeram amim! (Mt, 25,40). Os seus olhos eram capazes de ver a Jesusnos pobres: “O mais abandonado entre todos, recolhei-o vós ecolocai-o à mesa com vocês e fazei-o vosso, porque este é Jesus”.70

Era “atraído” pelos sofredores, doentes, abandonados, indi-

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gentes e pelos que eram marcados pela não-beleza porque elescarregam as estigmas de Jesus Crucificado. Os chamava “te-souros”,71 os comparava à figura bíblica do Salmo 22 ao “eu seuum verme e não um homem”,72 quer dizer ao “Servo sofredor”de Isaías. ( Is 42; 49; 50; 52-52); e por consequência a Jesus nasua condição de vítima oferecida para a redenção do mundo.Os pobres maiormente marcados pelo sofrimento redimem omundo: uma intuição que lhes infunde uma dignidade verda-deiramente extraordinária. Por este motivo, o serviço da cari-dade que Pe. Guanella exercitava “em modo especial embenefício dos filhos pobres do povo, dos idosos pobres do povo”,73

foi o caminho privilegiado para sua santificação. O seu ser-viço aos pobres, manifestado em níveis sempre mais perto aoestilo de Deus, o santificou tornando-o imagem, frágil e fraca,mas sempre imagem d’Aquele que é Santo. O serviço da cari-dade foi por Pe. Guanella não só o lugar aonde a santidade semanifesta, mas também o lugar em que a santidade amadu-rece; a santidade cresce na e com a caridade. O coração grande de Pe. Guanella não fazia classificações,

não elaborava definições, mas “acolhia” o pobre assim comoele se apresentava; “percebia” a necessidade seja em nível ma-terial como em nível espiritual, com a sensibilidade e a intui-ção que somente um coração que ama pode ter. Visitando aspessoas com deficiência na Casa São José na Rua Aurélia An-tiga em Roma, no dia 28 de março de 1982, papa João PauloII pronunciou para os guanellianos estas comoventes palavras:“É necessária uma caridade especial, uma caridade heróica paraenamorar-se por estes necessitados, daqueles que sofrem atrasomental, dos paraplégicos, muitos destes estão nesta casa. É fácilse apaixonar pela beleza visível; é difícil enamorar-se na falta debeleza. Para descobrir a beleza quando falta, quando se vê a nãobeleza é necessária uma caridade particularmente aguda, pene-trante, especialmente grande e única. Esta é o caminho que per-correu Pe. Guanella, este é o vosso caminho.

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Não colocava limites em acolher, tanto que alguns não ces-savam de sugerir-lhe de “colocar ordem” naquela espécie dearca de Noé que era sua primeira fundação, a Casa da Provi-dência de Como. A ordem a fará do jeito dele, não limitandoa acolhida, mas organizando os pobres em grupos de “famí-lias”, a imitação do que tinha visto na bem conhecida “Pe-quena Casa da Providência” instituída em Turim por São JoséBento Cottolengo.

Além dos “tesouros”, ele gostava repetir que os pobres eramseus “patrões”, “sacramentos”, isto é, sinais da presença deJesus Cristo. No seu pensamento os pobres não são somenteimagem de Cristo sofredor mas também profecia em relaçãoao homem porque revelam a verdadeira grandeza e os valoressobre os quais se fundamenta a autêntica dignidade da pessoahumana. Um ser carente de riquezas - e muitas vezes carentede saúde, estima, beleza, inteligência, cultura – é todavia caroe precioso diante de Deus e lembra uma verdade fundamental:as pessoas valem pelo que são e não pelo que produzem.

Era sua profunda convicção que os pobres nos educam: oserviço feito a eles é, para todos, uma escola de humanidadeuma evangelização, no sentido que nos colocam na situação demelhor compreender a mensagem de Deus, que escolheu deestar ao lado dos fracos, dos pequenos. A consciência de suadignidade é determinante para construir uma sociedade real-mente à medida do homem e garante do acesso de todos e decada um à vida, à saúde, à família, ao trabalho, ao bem-estar, àfelicidade. De fato, reconhecendo e promovendo os pobres,os últimos, se reconhece e se promove a dignidade de todos ese tornam presentes em todos o amor e a justiça.74

No exercício do ministério sacerdotal, não se contentou deacolher o pobre que batia à porta de suas casas, mas foi pro-curá-los75 lá aonde viviam em situações de miséria;76 se preo-cupava com cada um, se solidarizava, o ajudava material eespiritualmente. Assim aprendeu a ver os problemas dos po-

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bres a partir de dentro e não do alto. O que ampliou os con-fins de sua mente e de seu coração foi o encontro com os “bonsfilhos”, como ele chamava as pessoas com deficiência mental.São criaturas que precisam de tudo e ele assumiu a responsa-bilidade de assisti-los, curá-los, ajudá-los também nas necessi-dades mais elementares. Entendeu que na mente deles um raiode inteligência, solicitada com amabilidade, é capaz de ilumi-nar as trevas deles.

Estamos em frente a um santo, Pe. Guanella, que foi umapaixonado pelo homem; um santo que soube levar a altosníveis a sensibilidade de estar perto do homem: não só foigrande no amor para com Deus, mas foi grande no amor paracom o homem, um perito em humanidade. Interessado, porvocação, para estar perto do homem, ao longo de toda a suavida estou a grandeza e a humildade, os cumes a as profun-didade do homem. Viveu uma caridade heróica, luminosa,esplendida para com o homem.77 A sua foi uma caridadevasta, criativa, que sabia encontrar soluções para cada tipode necessidade: pessoas com deficiência, idosos, crianças,emergências humanitárias (terremoto na Região da Mársicanos Abruzos), emigrantes...; provam tudo isso as suas nu-merosas iniciativas em benefício do homem, as tantas Obrasque iniciou e que os seus discípulos continuam e “criam” emmuitas partes do mundo.

A caridade, tirada da fornalha da intimidade com Deus, oimpelia a dar uma resposta autêntica às necessidades do pobre,uma resposta de amor especial tanto que aquele que a recebiasentia-se reconhecido na própria dignidade, se sentia reno-vado, colocado em condição de levantar-se: quando uma pes-soa de sente amada, de fato, refloresce nela o sentido da vida.Antes de ver o pobre como uma pessoa que precisava de ajuda,a caridade lhe fazia ver um irmão que devia ser amado. No seucoração “recolhia” as misérias humanas a fim de providenciara elas.78

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Em Jesus Bom Pastor (Jo 10,11-18) e piedoso Samaritano(Lc 10,25-37), que com a vida e a palavra anunciou ao mundoque Deus é Pai e cuida de todos os seus filhos, encontrou omodelo para caracterizar o seu ministério sacerdotal, tendocomo finalidade antes de tudo de restituir dignidade ao pobre,reconhecendo-o como sujeito capaz de relações de reciproci-dade. Um aspecto que qualificou a sua santidade foi aqueleque o levou a criar família, proximidade, reciprocidade comos pobres; garantiu-lhes, em modo especial aos mais abando-nados, não só alguma ajuda decente de suporte físico ou psi-cológico, mas um ambiente afetuoso e acolhedor de umafamília.

O espírito de família caracterizava as suas instituições; opobre era integrado na vida da casa porque considerado, tam-bém os mais maltrapilho, um dom enviado pela Providênciae, então, também uma “ajuda”, uma preciosa contribuiçãopara a realização da missão. Intuiu que era oportuno criar en-torno ao pobre um ambiente de família, sobretudo a partir daspessoas. Desde o início da sua experiência de fundador quiscircundar-se de “uma família” de colaboradores, que unidosentre si “com o vínculo da caridade”79 vivessem juntos aos po-bres, como uma “pequena comunhão dos santos”,80 como umafamília que junto crê, ama, espera e age, sob os olhares pater-nos de Deus Pai. No interior da família as relações são muitoimportantes; as relações que se concretizam através do serviçoda caridade podem não somente falar da ternura de Deus, mastambém sarar as pessoas, curá-las nas suas feridas, dar digni-dade à sua vida humana, “redimi-las”.

Pe. Guanella é uma carta que Deus enviou aos pobres, seusprediletos. O endereço desta carta tem como remetente Deuse como destinatários os pobres. O conteúdo desta carta cir-cunda os pobres de afeto, os chama a fazer parte de sua famí-lia e os acompanha com coração de pai. Convicto de que “ospobres mais de perto representam Jesus Cristo”,81 lembra tam-

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bém a nós que “quem dá alimento a um pobre receberá abun-dante recompensa, que qualquer tipo de bem se faça também aoúltimo, ou seja ao mais miserável dos próprios irmãos, é como sefosse feito a Jesus”.82 Anime também a nós, cidadãos do XXI sé-culo, o seu firme propósito: “Quero amar, a necessidade de amaré, para mim, indispensável como o respiro”.83

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«O Pe. Guanella tinha umaverdadeira veneração pelaMadre Superiora Ir. MarcelinaBosatta, que ele consideravaquase a fundadora das suasObras; e acho que nem a fun-dação dos Servos da Caridadeele tenha feito sem o conselhoe o beneplácito da Ir. Marce-lina».(Summarium super virtutibus,p. 206)

«Pedra preciosa da Casa divinaProvidência em Como e vítimapreciosa foi a Irmã Clara Bo-satta».(L. Guanella, Le vie della Prov-videnza, p. 70)

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«O Pe. Guanella pensava em transferir-se definitivamente para Como. Preci-sava procurar um ponto de apoio... Por último, alugou-se a casa e o terreno dosenhor Biffi. Pe. Guanella, estudante no Colégio Gallio, parecia pressentir maisde uma vez, subindo lá em passeio, que aquele terreno teria sido campo departiculares obras suas. Explique quem pode e como pode! Eu não ousariapronunciar-me!».

(L. Guanella, Le vie della Provvidenza, p. 66-67)

Pe. Guanella entre as vítimas do terremoto da Marsica. Afresco de Conconi.Igreja de S. Roque de Fraciscio.«O mundo, como terra vulcânica tem tremores e sacudidas que ameaçam tran-storná-lo, mas será salvo, todavia, pelo espírito de caridade».

(L. Guanella, La Divina Provvidenza, junho de 1910, p. 92)

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: «A Providência guiou-me em todas as partes. Não temi nem pelas dívidas,nem pela vida; a Providência é aquela que faz por nós, e não há, portanto, nadapara temer.

Também agora, nas atuais vicissitudes dolorosas e trepidantes, não temo: exi-ste a Providência que vigia sobre nós: tudo depende de mantê-la amiga con-fiando nela e tendo longe o pecado. É assim que são fortes as fundações daProvidência.

No entanto, para progredir, ocorre, repito, espírito de confiança na Providên-cia do Senhor, espírito de trabalho e de sacrifício, espírito de oração. Assim fez-se aquele pouco que se fez, e chegou-se a esta velha idade, e o Senhorcompadecerá os muitos defeitos e terá em conta o bem que se fez. Se se con-serva, se se aprende, se se difunde este espírito, a obra crescerá, prosperará».

(L. Guanella, La Divina Provvidenza – 1915, p. 85)

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«Ora, eis o nosso sacerdote! Nós estamos comovidos com isto até o íntimo docoração. Deixai-o fazer o sacerdote, porque ele trata os nossos interesses e dahumanidade com Deus. [...] E quando, curvo sob o peso dos anos, enfraque-cido na pessoa e tremente nos membros, apresetar-se-á diante dos nossos so-brinhos, ele dirá: “Amei-vos na carreira do meu viver, amo-vos agora quemorro. Eu não tenho família e não tenho parentes, exceto vós. A vós diletos,eu entrego o meu corpo e com o corpo todas as substâncias que Deus pôs nasminhas mãos”. Enquanto ele dirá isto, tantos corações estarão trepidantes, e noato que abençoando descerá na tumba, elevar-se-á um grito de pranto e gemi-dos que dizem: “Ó pai e pastor pio, por que nos deixaste órfãos e desolados?”.Mas ele não estará mais e olhar-vos-á desde o céu e ajudar-vos-á de luzes aindamais, e fará entender aquilo que ele é, ministro de paz, pais dos povos e sa-cerdote que salva as almas».

(L. Guanella, Il Montanaro, p. 1002)

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CIDADÃO DO MUNDO

Desde a infância Luís foi levado a sentir-se parte integranteda comunidade social de Fracíscio, aldeia em que vivia juntoao papai Lourenço, à mãe Maria e aos irmãos e irmãs.

Já pelo mesmo fato de viver numa família numerosa o pre-dispôs a relações abertas, entrelaçadas de encontros e con-frontos, de alianças, de afinidades, de ternura, de respeito pelacapacidade de cada um, de emulação, de estímulos. O sentidode pertença se desenvolveu nele em modo quase natural, por-que todos em família se sentiam responsáveis pelo bom anda-mento da casa, se colaborava praticando o ditado “comei etrabalhai!”84 O pai para integrar os recursos econômicos, nosmeses frios descia no vale para trabalhar como destilador degraspa; a mãe e as irmãs ajudavam nos trabalho da lavora; ospequenos ajudavam nas tarefas da casa e nos trabalhos da es-trebaria; os maiores durante o verão deixavam a própria camaaos turistas que subiam à aldeia para respirar o ar das monta-nhas e a casa se transformava assim num pequeno pensio-nato.85 Bastava um cochicho e cada um se organizava parapreparar os ambientes em ordem e em silêncio quando papaiLourenço, temperamento firme, “sacerdote e rei”86 da família,voltava para casa.87 E na ocasião da festa da aldeia, São Roque,era muito significativo aquele ritual quando se preparava a pa-nela de arroz para os hóspedes, os amigos,88 os da casa e paraos pobres da aldeia. “Aonde tu não consegues fazer, eu con-sigo”, “todos por um e um por todos”: não há mais nada para

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dizer, o ambiente familiar constituiu para o pequeno Luís umabonita aprendizagem.

O ambiente típico da montanha o educou à solidariedade eao sentido do bem comum; numa pequena aldeia todos se aju-dam para o bom andamento da vida familiar e social, todoscompartilham das alegrias e dos sofrimentos dos outros. Se forpreciso colocar no curral o feno recolhido, todos colaboram:um corre à Igreja para tocar o sino para recordar o empenhode invocar a bênção de Deus; um outro bate a neve no longodo atalho a fim de que o feno possa descer com facilidade; umoutro ainda sobe ao morro e colabora; outro enfim cuida ospontos críticos do atalho para comunicar imediatamente se háalgum perigo à vista.

Deste modo Luizinho recebeu ensinamentos que não es-queceu ao longo de toda a sua vida. Um dele, em especial, me-rece ser lembrado. Luís tinha sete ou oito anos. Tinha cuidado,enquanto pastavam, as vacas de outros pastores da aldeia, queno final do dia o recompensavam com uma gorjeta; imediata-mente foi comprar alguns doces. O fato chegou aos ouvidosdo pai Lourenço que chamou a atenção dele na frente dos pas-tores por ter aceito uma gorjeta em troca do favor recebido eo obrigou a restituir o que tinha sobrado, acrescentando pes-soalmente o resto que foi gasto pela compra dos doces.89 O en-sinamento não podia ser mais claro: é preciso ser generosos esolidários com aqueles que precisam ser ajudados, e que é pre-ciso renunciar também às legítimas satisfações. Somente sobreesta rocha do dom de si generoso e gratuito, sem esperar ne-nhuma recompensa, é possível construir uma sociedade soli-dária, unida, pacífica, propositiva.90

Era “filho do prefeito” da cidade e também este aspectoparticular o ajudou a viver uma cidadania ativa. Papai Lou-renço foi o administrador de Campodolcino por mais de vinteanos, antes como prefeito, em seguida como vereador e, até amorte, como vereador suplente. “Mais do que ninguém tinha

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uma visão ampla da realidade. Era sempre o último a falar e a úl-tima palavra era a sua também em relação às autoridades pro-vinciais, porque sabia de estar seguro e justo nas suaspropostas”.91 Palavras profundas com as quais Pe. Luís refereuma experiência que marcou sua vida. Muitas vezes terá assis-tido aos encontros entre o pai e a gente da cidade que recla-mava por um ou outro motivo, ou porque apresentava umaproblemática de interesse privado, mas que estava relacionadacom o bem comum, como por exemplo cortar a lenha dos bos-ques que pertencia à prefeitura, o uso de uma fonte de águapara o uso dos animais, ou a recuperação de atalhos inutiliza-dos pela chuva ou pela neve, ou também a construção de umcapitel...

Não era assistente passivo, mas cultivava o sentido de res-ponsabilidade, isto é, se organizava para dar a sua pequenacontribuição a fim de que as coisas melhorassem. Certa vez,indo da aldeia de Fracíscio à cidade de Madésimo, ao longodo atalho Pe. Luís encontrou uma fonte. Estudou suas carac-terísticas e concluiu: “Esta água poderia ser canalizada e lavadaaté à aldeia facilitando a vida dos aldeões”. Falou disso ao pai,que usando de sua autoridade de prefeito, tornou a feliz ideiauma realidade.92

Para realizar suas atividades de prefeito pai Lourenço ape-lava não só à sua inteligência, às suas capacidades, à experiên-cia e ao fato que era “pessoa consciência reta”, como lhe tinhaensinado o avô Tomaso,93 mas também á sua fé cristalina etransparente. Era de fato uma pessoa que ia todos os dias àmissa, rezava o terço, lia a Bíblia e a estas fontes hauria luz eforça na procura do bem comum dos seus concidadãos.

Educado por estas experiências vivida em família e na al-deia, ao longo de sua infância, Pe. Luís amadureceu uma sem-pre mais profunda pertença ao povo e um forte empenho paramelhorar as condições de vida material e espiritual. E nãopodia ser diferentemente porque, como já dissemos, era um

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homem de Deus, um homem que acreditava firmemente nomistério de Deus que se fez carne, se fez homem e veio habi-tar entre nós. É preciso sublinhar este aspecto peculiar de suasantidade, isto é a atenção à dimensão secular do homem, à di-mensão social, que encontra sua razão de ser exatamente nomistério da encarnação do Filho de Deus.

Pe. Luís se sentia fortemente interpelado da realidade hu-mana; não só da condição dos pobres, mas também daqueladas pessoas ricas, que também frequentava que igualmentesentia necessitadas de uma boa palavra, de apoio espiritual emoral, de encorajamento para uma vida segundo a mensagemcristã.94 Ia na casa deles não somente porque esperava de con-seguir pela amizade para com eles algum proveito econômico,o dinheiro necessário para levar à frente suas Obras, mas por-que despertando as consciências deles aos valores evangélicostinha certeza de que estava dando uma válida contribuiçãopara construir uma nova humanidade, uma humanidade en-raizada e fundada sobre a caridade; estava convencido, de fato,que “o mundo será salvo pela caridade”.95

Diante das condições miseráveis da gente que encontravanão se perdia em vazias ações de protesto e em estéreis la-mentações, mas arregaçava as mangas para promover o bem-estar, a qualidade de vida deles, deixando-se guiar por uminato otimismo e um sadio realismo. Ousava. Tinha a coragemde tomar iniciativas. Era animado pela vontade de fazer logo,de fazer muito e de impelir a fazer porque eram muitas as ne-cessidades. Dizia: “Eu fui feito para suscitar: os outros colocarãoem ordem e completarão”.96

De fato, o Espírito de Deus o guiou a suscitar na Igreja umamplo movimento de pessoas – consagradas ou não – que am-pliassem o seu apostolado de caridade temporal e geografica-mente, até os confins do mundo. Hoje as duas Congregaçõesreligiosas das Filhas de Santa Maria da Providência e os Servosda Caridade continuam a sua missão de caridade me 21 na-

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ções, impelidos pelo desejo do Fundador: “Todo o mundo évossa pátria”.97

Particularmente significativo foi a relação que ligou a IrmãMarcelina Bosatta,98 co-fundadora da família religiosa das Fi-lhas de Santa Maria da Providência. Irmã Marcelina foi o seubraço direito, sábia e “prática” conselheira, a fiel dispensadorado tesouro e do espírito dele; esteve perto de Pe. Luís não so-mente para estar atenta e cuidar das necessidades materiais,muitas vezes por ele relegados em segundo plano, mas tam-bém e, sobretudo, para encorajá-lo, apoiá-lo, sugerir perspec-tivas ou mostrar-lhes um diferente ponto de observação darealidade. Graças a esta franqueza, filha da liberdade no Espí-rito Santo, as suas relações de colaboração nunca deram pro-blemas.

Teve o cuidado em promover os leigos como preciosos co-laboradores de suas iniciativas benéficas: “Os leigos podem sermais úteis do que os padres, porque podem entrar em qualquerlugar e insinuar-se. […] É preciso ter o coração repleto de cari-dade. […] Se conseguirá com muitos frutos, quando perceberãoque tudo se realiza por amor a Deus e ao próximo. Pouco a pouco,sem perceber, convertereis muitas pessoas. Pouco a pouco sensi-bilizareis a opinião pública”.99 Levados pelo seu exemplo, tam-bém hoje as religiosas e os religiosos da Obra se empenham,nos diferentes contextos sociais em vivem e operam, na for-mação dos leigos, sustentando-os e acompanhando-os na mis-são caritativa. O Movimento Laical Guanelliano os reúne e oscoordena; ele é “a casa comum de todos os homens de boa von-tade que, atraídos pela espiritualidade de Pe. Guanella, se preo-cupam com os pobres e desejam que cresçam no mundo a culturada solidariedade e do amor”.100 Entre os leigos, especial é a con-tribuição dos Cooperadores Guanellianos, Associação de fiéisreconhecida pela Igreja.101

Desde os tempos em que como jovem sacerdote foi enviadoa Savogno teve como característica viver a responsabilidade pas-

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toral assumiu totalmente a pessoas. Naquela aldeia de montanhafez um pouco de tudo, “ajudante de pedreiro, pintor, pedreiro”,102

a fim de dar àquela gente melhores condições de vida: amplioua praça e a igreja; construiu o telhado do lavadouro para que asmulheres pudessem defender-se das intempéries do tempo; deuaula para crianças e adultos, de manhã e de noite; construiu o ce-mitério fora da aldeia; construiu capelinhas votivas para as pro-cissões que da aldeia sobem para os montes ou para outrasaldeias; defendeu seus paroquianos das prepotências de algunsadministradores.103 Escreveu também um livro para ajudar asfamílias a amadurecer uma consciência correta em relação àsmudanças políticas e sociais (“Ensaio de admoestações para todos,mas em especial para o povo camponês”); cuidou da formaçãocristã deles com pregações muito simples, sólidas, contínua atéo ponto que alguém afirmou: “Circundai Savogno de muros evocês terão um convento”.104 Nunca se sentiu um simples “dis-tribuidor” de serviços, mas doou totalmente si mesmo, “enri-quecido da máxima pobreza de seus paroquianos”.105

Quando estudava no seminário, passando pelo Pian diSpagna, na região do alto lago de Como, tinha visto que haviamuitos terrenos não cultivados e perguntou a si mesmo: “Osnossos camponeses sofrem para tirar dos nossos montes um fio degrama e aqui há tanto terreno que se poderia bonificar, trazendotanta gente”.106 Levou consigo esta intuição juvenil até que,após alguns anos, chamando a colaborar agrônomos famosos,camponeses do lugar e empenhando os seus “bons filhos” dacasa de Como, levou a termo as obras de bonificação daquelespântanos. Construiu uma igreja, umas casas, procurou traba-lho, melhorou as condições sanitárias daqueles camponeses.Recebeu assim uma medalha do Governo italiano.

É preciso também lembrar a sua grande atenção para comos migrantes. Quando era pequeno tinha sofrido muita pelapartida para a América da tia Maria Úrsula; quando era jovemseminarista, junto ao tio Pe. Gaudêncio Bianchi, nas de férias

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de verão muitas vezes ia visitar os moradores dos vales que pormotivos de trabalho tinham idos na Suíça. Nos anos da matu-ridade fundou “capitéis” para a assistência espiritual dos ca-tólicos em Vicosoprano e Promontogno, no vale Bregalha, emSplügen, Dorf e Andéer, no vale do Reno; nos últimos anos desua vida enviou as suas Irmãs entre os imigrantes italianos dosUSA, enfrentando, cansados pelos anos, as fadigas de umalonga viagem em navio para preparar o ambiente.

Pe.Guanella viveu como cidadão ativo e solidário, inspi-rando-se nas palavras de Jesus: “Vocês estão no mundo, masnão são do mundo” (Jo 17,1-26). Sensível às situações sociaisdo povo, particularmente atento às condições de vida dos po-bres, mas capaz também de ler a realidade com os olhos da fé:“Eis aqui a nossa política: Pai nosso...!107 Quando Deus reinano coração do homem, quando a sua palavra é aceita comobase de pensar e do agir, quando a caridade se torna regra devida e das relações humanas assim que nos leva a nos respeitartodos como filhos do mesmo Pai e irmãos entre nós, quando“a partilha dos bens e dos recursos não é procurada somente atra-vés do progresso técnico ou relações de conveniência, mas é fun-damentada sobre o amor que sabe vencer o mal com o bem esabe-se abrir à reciprocidade das consciências e das liberdades”,108

então, e somente então, pode acontecer um autêntico desen-volvimento da humanidade. Pe. Guanella estava firmementeconvencido de que sem a abertura a Deus nem o homem podeconseguir seu desenvolvimento nem a sociedade pode ser fra-terna e autenticamente solidária. Pensamentos que recente-mente papa Bento XVI lembrou com firmeza ao homemcontemporâneo como caminho que é preciso percorrer parapromover o desenvolvimento dos povos.109

Pe. Luís soube tecer, mesmo que nasceu numa remota al-deia de montanha, relações fecundas com o mundo da culturae das Associações católicas, (foi um convicto sustentador daObra dos Congressos),110 com mundo da ciência, da tecnolo-

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gia, da arquitetura, da medicina, particularmente daquela quese ocupava para melhorar as condições da assistência e a curadas pessoas com deficiência.

Desde jovem tinha se apaixonado pela botânica e pelos es-tudos da história, convicto que “quem quiser conhecer o futurodeve estudar o passado das pessoas e das coisas”.111 Ao longo dotempo que viveu em Savogno “explicava nas palestras e na es-cola durante o inverno aos paroquianos a História do Contado deChiavenna do escritor Crollalanza”112 Entre os livrinhos ascéti-cos e morais que escreveu no tempo que estava em Pianello,um dele tem caráter histórico: “De Adão a Pio IX”.113

Por ocasião das celebrações do centenário da invenção dapilha elétrica (1899), organizou um comitê para a realizaçãode um monumento a Alessandro Volta; com o qual ele queriapor em destaque não somente a grandeza do cientista, mastambém o seu belo testemunho de fé.114

Confiou à nobre escritora Madalena Albini Crosta115 a dire-ção do informativo “A Divina Providência” por ele muito de-sejado a fim de fazer conhecer as suas obras de caridade, tercontatos com seus benfeitores, educar aos valores da fé.116

Para as obras de bonificação dos terrenos pantanosos dePian di Spagna117 se assessorou com ilustres engenheiros: Gio-vanni Batista Cerletti e Giovanni Sartirana; com este ficou sem-pre em contato para manter-se atualizado a respeito dodesenvolvimento da agricultura a fim de dar sugestões aos co-laboradores das várias colônias agrícolas118 que tinha organi-zado. Ligou-se com uma sincera amizade com AristidesLeonori, estimado arquiteto e católico fervoroso,119 a ele pediude projetar a igreja de São José no bairro Trionfale em Roma.

Encontrou-se, apesar do parecer negativo de alguém da Dio-cese de Como, com Josué Carducci, maçom e anticlerical,poeta e escritor ao ápice da glória, “que lhe foi muito cordial”.120

E como não mencionar a sua amizade com o grande médico,Pe. Agostino Gemelli que o confirmou na própria vocação?121

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A sua capacidade de universalidade está numa visão cultu-ral ampla, mas também e, sobretudo, porque sabia individuaros valores universais do homem, tendo atenção para cada pes-soa em particular e à pequena aldeia porque era a expressão davida do mundo. Seria bonito ver nas suas cartas o interesse quemostra para com as pessoas dos padres e irmãos da Congre-gação, para os amigos: também nos anos em que é responsávelde uma grande organização ele não perde nunca de vista a pes-soa em si e dá sugestões e pede conselhos.

Hoje percebemos o quanto seja urgente que nós católicossaibamos com paixão e inteligência, como fez Pe. Guanella,viver uma cidadania ativa e responsável, capazes de dar a pró-pria contribuição para que a dignidade da pessoa humana sejasempre salvaguardada de qualquer tentativa de instrumentali-zação; e também quanto seja importante “fazer cultura” teste-munhando com coragem e promovendo os valores da fé.

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EDUCADOR APAIXONADO

Pe. Guanella foi educador solícito e apaixonado. Impelidopelo vento do Espírito que agia nele, esta paixão para o cres-cimento e a melhora das pessoas mais fracas, frágeis e sofre-doras, não lhe faltou. Paixão nascida no seu ânimo desde amais terna idade (brincadeira da sopa para os pobres junto coma irmã Catarina...) e que, na idade adulta, se caracterizou emamor especial para com as pessoas marginalizadas. Como eraum homem muito prático, transformou tal paixão e com-pai-xão, isto na arte de caminhar com aqueles que sofrem, procu-rar entendê-los, consolá-los, mas sobretudo amá-los e ficarcom eles como Maria ficou com Jesus de pé junto à cruz. Estapaixão se traduziu então em amor concreto, como capacidadede assumir os outros, de todo o seu mundo, de criar laços queaquecem o coração e dão esperança.

Intuiu que a educação é, sobretudo e especialmente, obrado coração e que cada relação interpessoal, em modo especialaquela educativa, nasce do coração e deve percorrer os cami-nhos do coração. “Baseia-se e se desenvolve sobre as faculda-des afetivas e volitivas mais do que sobre as outras capacidadesda pessoa e se expressa mediante atitudes internas e compor-tamentos externos que transmitem toda a riqueza de senti-mentos de quem por amor quer o bem do próximo”.122

Lembrava nas suas memórias autobiográficas que “havia na-queles tempos em todas as casas educativas um sistema dema-siado rígido que educava os corações mais ao temos que aoamor”.123 Era ao invés sua convicção que seguir os caminhos do

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coração fosse o modo mais delicado e ao mesmo tempo maiseficaz para alcançar as profundidades da alma e estimulá-lo aobem e ao crescimento. Este era para ele o fundamento e o pré-requisito para qualquer caminho que se queira chamar educa-tivo, porque torna possível a educação também aonde nãoparece realístico esperar resultados ou até parece um trabalhoimpossível e inútil. De fato ele disse: “As necessidades dos po-bres é preciso mais entendê-las pelo afeto do coração do que peloestudo especulativo da mente”.124

Por isso podemos afirmar que “a visão guanelliana da relaçãoeducativa tem alguns princípios firmes: a) a educação é uma re-lação amigável, querida e desejada: o amor é a alma do seu sis-tema educativo; b) o primeiro princípio fundamental é “circundarde afeto”, porque a relação educativa se desenvolve pelos “cami-nhos do coração” e a atitude interior que a expressa é a benevo-lência; c) o critério operativo é “a primazia do coração sobre atécnica”; d) educar tem como fim a capacidade de amar, de ser so-lidários, de comunicar-se”.125

Colocar em primeiro plano estes elementos tornou cons-tantemente presente nele como educador a confiança e o oti-mismo. A confiança que gera confiança e que coloca emmovimento as melhores energias; dizia, de fato: “Os inválidosdevem ser encorajados a fazer algum trabalho útil...”.126 Con-fiança não somente nas pessoas, em suas energias e recursos,mas também e sobretudo confiança na força do amor e naforça misteriosa da graça de Deus, com a consciência que estaforça e potência operavam com ele, eram suas aliadas. O oti-mismo não nascia nele do sentimentalismo, mas da convicçãoque o bem é maior do que o mal. Este otimismo o ajudou avencer os medos, a ver e valorizar os recursos dos outros, amanter viva a esperança. Estas convicções lhe permitiram atrairmuitos a si; dizia: “Pessoas boas e alegres atraem muita gente asi”.127

A vida e as diferentes circunstâncias não lhe permitiram de

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refugiar-se em denguices ou devaneios; de fato experimentouna própria pele o peso do sofrimento e do limite, amadure-cendo a consciência do valor do trabalho, do empenho e do es-forço. Esta sensibilidade caracteriza também a visão docaminho educativo dele que não visa construir pessoas “frou-xas e desmioladas”, mas visa chegar a metas altas tendo emconta o empenho, a fadiga e a constância. Dizia: “Nada se fazsem esforço”; e ainda: “Nas obras do Senhor é preciso confiartanto em Deus como Ele fizesse tudo e nós nada, mas, no mesmotempo, trabalhar tanto como se tudo dependesse de nós e nadade Deus”.128

Em relação à aprendizagem intelectual destacava a necessi-dade de “encontrar caminhos para tirar deles o melhor possível”,“encontrar meios para aliviar continuamente os enfermos”129.Convidava os seus colaboradores a este empenho: “Não se devenunca desistir em promover o aperfeiçoamento próprio ealheio”.130 Não desistia nem diante de situações muito compli-cadas, como, por exemplo, aquelas de pessoas em deficiênciasgraves. Dizia: “São pessoas com deficiência, mas muitas vezessão capazes de alguma melhora”.131

À base destas solicitações está a sua firme convicção da edu-cabilidade do ser humano sempre e em qualquer maneira, emqualquer condição e momento da vida. Esta convicção abre àesperança e impele à ação e ao empenho.

A experiência e a reflexão a respeito deste conceito de edu-cabilidade, impeliu Pe. Guanella bem longe, até afirmar que háno homem um potencial que Deus lhe colocou dentro: uma“semente de toda bela virtude”,132 um vislumbre de capacidadeou também de conhecimento. E não somente um potencial detalentos, de dons (muitos ou poucos), de qualidades, mas umpotencial como força que lhe permite de desenvolver o quetem. “O Senhor que deu ao ramo da videira a força de produzirfrutos saborosos, Ele mesmo colocou no teu coração a força deproduzir boas ações. Esta força é de tipo diferente. Uma te dá a

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prosperidade para esta terra, e a outra te dá as bênçãos para océu”.133

Assim é conformado e sublinhado um dos elementos fun-damentais do processo educativo, que quer dizer, o mesmo su-jeito é co-autor do próprio caminho de crescimento. “Educarsignifica construir a pessoa a partir de dentro dela e não plasmá-la a partir de fora; [...] o crescimento das pessoas não é um fatoexterno, mas acontece sempre através da apropriação pessoal dosconhecimentos e dos valores”.134 Com uma imagem significa-tiva, Pe. Guanella diz que “o coração da pessoa é como terra dehorta e de jardim que, cultivada, produz flores e frutos”,135 sig-nificando assim que educar é empenhar-se a tornar os indiví-duos artífices do próprio crescimento.

Neste caminho de promoção das pessoas, solicitado tam-bém pela influência do pensamento de Dom Bosco e da expe-riência vivida junto a ele, Pe. Guanella considerava comopressuposto necessário o método preventivo.136 Tal atitude, sepor uma parte se concretiza em ajudar as pessoas a não cairem situações e experiências negativas e em não sofrer involu-ções, doutra parte significa reforçar e manter os recursos psi-cológicos, físicos e morais que impedem de aderir ao mal.Prevenir é então a capacidade de dar atenção, de prever, deacompanhar intensamente com confiança nas pessoas e nopoder da graça de Deus.

Determinante foi a sua infância tendo vivido numa famílianumerosa com pais presentes e atentos. A profundidade e asensibilidade desta experiência o impeliu a afirmar que cadacaminho educativo deve realizar-se num contexto que seja ca-racterizado por um clima de família. Entendia com isso refe-rir-se àqueles valores, àquela intencionalidade e àquelescomportamentos universalmente válidos que caracterizam umaboa família, ou seja, o cuidado e a defesa da vida, o afeto recí-proco que une os vários membros, a participação correspon-sável de cada um para o bem comum, saber amavelmente

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perdoar-se e cuidar uns aos outros. À luz destes elementos é claro que Pe. Guanella, como edu-

cador, propondo seu modelo pedagógico, tem presente osgrandes horizontes que abraçam o homem como um todo, nasua integridade: a sua alma, a sua mente e o seu corpo. Escre-via: “Está no alfabeto uma letra inicial, que, repetida três vezes,dá o que de melhor se pode desejar na vida terrena: esta letra éo S, que é a inicial da palavra santidade, da palavra saber, da pa-lavra saúde. A santidade é importante para aperfeiçoar o ser cris-tão do homem religioso. O saber é importante para aperfeiçoaras capacidades intelectuais do homem. A saúde é importante parao desenvolvimento do corpo. O que um pai pode desejar de me-lhor aos seus filhos? Um filho alegra quando é sadio, satisfazquando é sábio, consola quando é santo. Feliz aquele pai que,cuidando ao máximo, obtém que o filho cresça enriquecido detodos estes dons”.137 Em síntese expressava este conceito coma fórmula: dar a todos “Pão e Senhor”.

Meta final de toda e verdadeira educação é, segundo Pe.Guanella, a santidade. “Uma só coisa é necessária: salvar a alma.Quanto ao resto: vida longa, vida breve, o que importa? O queimporta ser rico ou pobre? Sadio ou doente, muito estimado oupouco estimado junto aos homens? Quem nos deve julgar é Deussomente”.138

Pe. Guanella colocou as bases para uma verdadeira peda-gogia guanelliana, com intuições que podem ser desenvolvidascomo projeto, que se podem realizar e concretizar. Os conti-nuadores da sua Obra (religiosas, religiosos, cooperadores, lei-gos guanellianos) elaboraram esta pedagogia no “DocumentoBase para Projetos Educativos Guanellianos”,139 proposto e di-vulgado em todos os continentes e aplicado com inteligência eempenho nos vários campos de educação. Elaboraram tam-bém um livrinho para os funcionários e professores que atuamnas casas guanellianas: “Com Fé, amor e competência. Perfildo operador guanelliano”.140

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Há uma circunstância providencial: o Pe. Guanella vem ca-nonizado no início de um decênio (2010-2020) que a Igreja ita-liana dedica ao educar. A Conferência Episcopal Italiana,reconhecendo na arte delicada e sublime da educação um de-safio cultural e um sinal dos tempos e, antes ainda, uma di-mensão constitutiva e permanente da missão da Igreja, pedeprincipalmente às comunidades cristãs, mas também a todos oshomens de boa vontade de “reapoderarem-se” do importantepapel de “Educar para a vida boa do Evangelho”.141

«Alma da educação, como da vida inteira, pode ser só uma es-perança confiável»142 e a fonte desta esperança é uma só: JesusCristo, ressuscitado dos mortos. Para formar pessoas sólidas,capazes de colaborarem com os outros e de darem um sentidoà própria vida, ocorre partir daqui, do encontro com JesusCristo e o seu Evangelho. Anunciar Cristo, verdadeiro Deus everdadeiro homem, significa levar à plenitude a humanidade e,portanto, semear cultura e civilização. A tarefa do educadorcristão é difundir a boa notícia que o Evangelho pode trans-formar o coração do homem, restituindo-lhe razões de vida ede esperança; é testemunhar a consciência de que «sem Deuso homem não sabe aonde ir e não consegue nem sequer com-preender quem ele seja».143

É precisamente percorrendo estes caminhos que a sociedadepoderá resolver positivamente a situação de “emergência edu-cativa” na qual se debate, porque estes percursos contrastameficazmente a falsa idéia de autonomia que está atrás do fenô-meno da emergência, a idéia «que induz o homem a conceber-se como “eu” completo em si mesmo, lá onde, ao invés, ele setorna “eu” na relação com o “tu” de Deus e com o “nós” dos ir-mãos».144

Entre as prioridades sobre as quais os Bispos italianos con-sideram urgente apostar no curso do decênio, a fim de dar im-pulso e força à tarefa educativa da Igreja, está «o dar novoimpulso à vocação educativa dos institutos de vida consagrada,

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das associações e dos movimentos eclesiais. Trata-se de repropora tradição educativa de realidades que deram muito à formaçãode sacerdotes, religiosos e leigos. É preciso, por isso, que as pa-róquias e os outros sujeitos eclesiais desenvolvam uma pastoralintegrada e missionária, em particular nos âmbitos de fronteirada educação».145

Na mensagem enviada por ocasião da 15ª Jornada mundialda vida consagrada, os Bispos reconhecem «o compromisso es-pecífico de tantos institutos de vida consagrada no campo da edu-cação, segundo o carisma próprio, cuja fecundidade étestemunhada pela presença de numerosos educadores santos» eafirmam que: «a vida consagrada recorda-nos que a educação éverdadeiramente “coisa do coração”: não um amontoado de emo-ções, mas síntese pessoal, a partir da qual se orientam as esco-lhas e as decisões de cada um. Todo o povo de Deus espera queesta riqueza, que deixou marca de si em tantas instituições esco-lares e no cuidado de itinerários de vida espiritual, reforce-se e re-nove-se».146

Conclusão...

Tomando emprestadas as palavras do papa Bento XVI, po-demos dizer, para concluir estas reflexões, que “a santidade éo objetivo do cristão. Na vida dos santos é óbvio que quem se di-rige para Deus não se distancia dos homens, mas se aproximaverdadeiramente a eles”. (Homilia na solenidade de Todos osSantos, 2010).

Na carta apostólica “Novo millennio ineunte”, o Beato JoãoPaulo II, escreveu: “Os caminhos da santidade são múltiplos, eaptas à vocação de cada um... Os caminhos da santidade são pes-soais, e exigem um verdadeira e própria pedagogia da santi-dade, que seja capaz de adaptar-se aos ritmos de cada pessoa. Eladeverá integrar as riquezas da proposta dada a todos com as for-

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mas tradicionais de ajuda pessoal e de grupo... (n 31).Procuramos descrever a bonito testemunho de santidade de

Pe. Luís Guanella para oferecer um ulterior estímulo; entretantos aspectos que caracterizaram a sua experiência, talvezhaja alguém que posse nos ajudar, pode nos sustentar no nossocaminho pessoal de santidade: como ele também nós!

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Pe. Guanella sobre o leito de morte. Afresco de Conconi. Igreja S. Roque deFraciscio.«Creio que esta minha doença tenha-a mandado para mim a Providência deDeus, para fazer chover sobre a Casa graças extraordinárias: padecimentos ex-traordinários, graças extraordinárias. ... Ó, entendo-me com o Senhor pelo In-stituto, por vós: não desisto de dizer a Deus palavras de fogo! ... Deus pensaráem vós. Ninguém aqui embaixo é necessário. Existe a Providência que vos aju-dará! Morrer! Paraíso! Eu estou “in manu Domini” ... Querei todos seguir-me cumprindo este programa: Rezar e padecer!».

(L. Guanella, La Divina Provvidenza – outubro de 1915, p. 150)

«A oração de tantos abandonados – acompanhe para o seio de Deus – a almamansa e forte – do Pe. Luís Guanella – apóstolo de cristã beneficência – aquifalecido santamente aos 73 anos de idade – e a imagem doce e pia – reviva-see perpetue-se nos Servos da Caridade – e nas Filhas da Providência – aos quaislegava os seus exemplos – o seu coração».(Inscrição sobre a porta do Santuário do S. Coração – Como, in La Divina Prov-videnza – novembro de 1915, p. 195)

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Um testemunhoPara uma lembrança do Pe. Guanella

«O jornal “L’Ordine” de Como e depois “Italia” de Milão publicaram, nosprimeiros dias depois dos funerais, um artigo “Para uma lembrança do Pe. Gua-nella”, que com ânimo de esperança aqui transcrevemos.O comendador Leonori, íntimo amigo do saudoso fundador das Obras da Pro-vidência, escreve: “O Pe. Guanella não é uma figura de homem que deve ser re-cordado às gerações futuras com vazios e inúteis monumentos: o seu monumentofalante está nas multíplices obras de caridade por ele fundadas, e que estou seguroque se desenvolverão sempre mais agora que têm um especial santo Protetor amais no Céu. Por isto eu proporia abrir logo uma pública subscrição para a con-strução de um pavilhão novo para o asilo dos pobres velhos abandonados – por-ção predileta do grande coração do Pe. Luís Guanella – para erigir-se na casaonde aconteceu a sua santa morte, da qual será o mais prático e o mais queridomonumento”. O comendador Leonori inicia a subscrição com a quantia de milliras. Outras ofertas menores já chegaram à Casa de Como. E é justo: a pro-posta não é daquelas destinadas a ficar sem resposta. É justo... é de dever queo Pe. Guanella seja lembrado com um monumento que transmita o seu espí-rito de caridade, a sua paixão ardente de socorrer aqueles que sofrem. À pro-posta, portanto, todo aplauso e aplaudimos com todo o coração».

(La Divina Provvidenza – novembro de 1915, p. 199-200)

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«Sufrágios e honras ao Cônego Luis Guanella – gema do Clero de Como – Paidos miseráveis e abandonados – Apóstolo de evangélica caridade – rezemos –para que tanta chama aqui na terra não se apague – mas vivifique-se e perpe-tue-se – em obras santas e fecundas – como as almejava – uma mente eleita, umcoração generoso».(Inscrição sobre a porta da Catedral de Como no dia dos funerais do Pe. Gua-nella, em La Divina Provvidenza – novembro de 1915, p. 196)

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Parte IIIComo Moldura

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O caminho para a canonização

Pe. Luís Guanella estava profundamente convencido de queo leme da história seja nas mãos de Deus que age normalmentenos caminhos ordinários do cotidiano. Algumas vezes age comalgumas exceções, mas o Pe. Guanella gostava mais da chuvi-nha fecunda do que das chuvaradas. Era um homem concretoe sabia que Deus se encontra com os sentidos, sustentados eacompanhados pelos sentimentos do coração.

Nos seus numerosos escritos de ordem pastoral a palavra “mi-lagre” está presente pelo menos duzentos e cinquenta vezes, masé sempre relacionada com Jesus, a algum fato do Antigo Testa-mento ou a um santo. Mesmo que os seus escritos conservemuma alma apologética, quando escreve sobre os milagres é sem-pre no sentido de elevar o sentido da fé para ser encarnada navida diária.

Deve-se afirmar que o sobrenatural nunca é algo externocomo se fosse “um chapéu colocado na cabeça”, mas vive no in-terior da natureza humana sempre em tensão superando os li-mites da condição humana. Blaise Pascal escrevia que “o homemultrapassa infinitamente o homem”, porque “Deus nos criou à suaimagem e semelhança”, a fim de que pudéssemos compartilhara sua natureza, apropriando-nos daqueles fragmentos divinosque cada criatura traz no coração.

Entre o ordinário e o sobrenatural existe “uma afinidade ele-tiva” que o homem não consegue destruir. Na sociedade atualaumentou esta ruptura e também a pessoa de fé percebe o malestar. Ontem a formação religiosa era alimentada pelo fascíniodo “extraordinário”, que não era um mundo de fáceis milagres,mas tinha a consciência que a existência é acompanhada por Al-guém que pensa e que ama. O exasperado rigor científico de

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hoje, que aceita só o que é codificado pelas leis presentes na na-tureza, escondeu a dimensão do “mistério” que envolve a vidade toda a criatura humana. Hoje está acontecendo este fenô-meno: junto com o rigor científico muitas vezes acompanhadoda negação de Deus, aparece um florescente interesse pelo “ex-traordinário” procurado na astrologia, nos horóscopos, nosmagos; “a arte da adivinhação” parece atrair muitos seguidores.

Devemos admitir que também no mundo cristão o “extraor-dinário” desperta uma grande atenção tanto que suscita algumapreocupação: de fato “santarrões” e “ curandeiros”, apariçõese mensagens divinas fora do mundo da bíblia têm uma grandecapacidade de atração.

Desde sempre, sobretudo em Jesus, o milagre é oferecidocomo suporte à fé que se transforma num “florescimento celes-tial” que frutifica nas virtudes evangélicas. É este “florescimentocelestial” que origina um processo de canonização. O desejo dever glorificado pela Igreja uma pessoa nasce precisamente dasqualidades extraordinárias que iluminaram sua vida.

Um dos requisitos indispensáveis para iniciar um “processode canonização” é a fama de santidade que circunda a vida e amorte de uma pessoa. Esta fama de santidade consiste em cons-tatar a abundância de frutos evangélicos amadurecidos da se-mente divina enxertada no dia do batismo. Quando o cristão saida fonte batismal é já santo tem todas as características paraviver na terra as virtudes evangélicas trazidas por Jesus. O santoé aquele que vive estas virtudes em modo heróico.

Os processos canônicos

Nas semanas precedentes à morte de Pe. Guanella toda aigreja peregrina em Como por desejo do bispo rezava a Deuspelo Pe. Guanella. O dia dos funerais de Pe. Guanella, perso-nalidades religiosas e civis quiseram render homenagem ao pro-feta da caridade evangélica participando numerosos às exéquiaspresididas pelo cardeal Carlo Andréa Ferrari, arcebispo de

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Milão e amigo cordial deste “Servo da Caridade”.147 Naquele diade “adeus” estavam lá os pobres que choravam o “pai dos ór-fãos”.

A persistente fama de santidade impeliu as Congregações dosServos da Caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência,fundados pelo Pe. Guanella, a pedir ao bispo para abrir umaenquete informativa seja a respeito da fama de santidade comodo poder de intercessão do candidato à glorificação.

A fama de santidade não foi um fogo fátuo, mas permaneceuviva. Floresceu a devoção e muitos necessitados encontraram naintercessão de Pe. Guanella um auxílio de suas necessidades.

A pouco menos de oito anos da morte, as Congregações dosServos da Caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência,fundadas pelo Pe. Guanella, fizeram um pedido ao bispo deComo, Dom Alfonso Archi, para iniciar o processo informativosobre a sua fama de santidade como sobre o seu poder de in-tercessão.

O processo iniciou em 1923 e foi encerrado em 1929. Apre-sentaram-se para dar seu testemunho quarenta e quatro pessoas,das quais quarenta e duas testemunharam a respeito de fatos vis-tos diretamente (de visu) e duas por ter ouvido falar dele (ex au-ditu).

O mesmo pedido foi feito também ao arcebispo de Milão,cardeal Eugênio Tosi. O processo iniciou sempre no ano 1923 eencerrou no ano 1930.

O número das testemunhas foi de quarenta e quatro tambémem Milão. Quarenta de visu, três ex auditu e um pela cura ob-tida. A maioria dos testemunhos confluiu no processo apostólicoa respeito das virtudes teologais (fé, esperança e caridade) e arespeito das virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza, tem-perança) que foram relatadas por pessoas que estiveram em con-tato o Pe. Luís Guanella, por pelo menos 30 anos: umconhecimento consolidado pelo tempo e pela experiência. Juntoaos dois processos ordinários aconteceram também três pro-cessos rogatoriais: o primeiro na diocese de Arezzo, um outro na

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diocese de Adria e o terceiro na diocese de Pisa. Numerosos car-deais, arcebispos e bispos enviaram a Roma ao papa Pio XI “car-tas postulatórias” a fim de que avançasse felizmente o curso doprocesso. Pela crônica: foram dez cardeais, cinquenta e oito osarcebispos e cento e vinte e quatro bispos.

A 12 de junho de 1932 foi emitido o Decreto sobre os Escri-tos. A 15 de março de 1939 Pio XII assinou o decreto para a In-trodução da Causa, à qual seguiu a celebração do ProcessoApostólico.

A 6 de abril de 1959 foi publicado o Decreto sobre as virtu-des heróicas. A 15 de junho de 1964 foi anunciado o Decretocom o qual se aprovaram dois milagres atribuídos à intercessãodo venerável Servo de Deus. A 25 de outubro do mesmo ano, oPapa Paulo VI o elevou às honras dos altares.

OS MILAGRES

Para a beatificação

Dois foram os milagres decisivos para a beatificação: a cura deMaria Uri e da cura de Teresa Pighin.

O primeiro milagre: a cura de Maria Uri

Maria Uri, nascida em Gravedona (Itália) no dia 10 de outu-bro de 1921, entrou com a idade de nove anos no Instituto DonGuanella em Como-Lora, foi curada pela intercessão do Pe.Guanella no mês de maio de 1932. O processo apostólico acon-teceu no Tribunal da diocese de Como. Após ter sofrido por al-guns dias por causa de dores abdominais, no dia 27 de maio de1932 não passando as dores foi chamado o médico que encon-trou a menina em gravíssimas condições. Na mesma noite dodia 28, estando à beira da morte, foram iniciadas orações pela in-tercessão do Servo de Deus Pe. Luís Guanella e foi colocadauma relíquia no peito da menina. A doente permaneceu gravís-

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sima até meia noite, depois adormeceu num sono tranquilo e seacordou às 6 da manhã completamente curada.

A consulta médica manifestou por unanimidade o seguintediagnóstico: “Peritonite aguda hipertóxica e etiopatogênese nãodeterminável”. A cura foi “instantânea, perfeita e duradoura”.

O segundo milagre: a cura de Teresa Pighin

O segundo milagre aconteceu em benefício de Tereza Pighin,nascida no dia 22 de julho de 1898 em Zóppola (Údine) Itália,Diocese de Concórdia. O processo aconteceu na diocese de Vit-tório Vêneto.

A mulher, casada e mãe de quatro filhos, trabalhava no campoe sempre gozou de ótima saúde até fevereiro de 1929, quando semanifestaram os primeiros sintomas da doença. Internada numhospital, o progresso da tuberculose ficou, de certa forma pa-rado, mas surgiram graves atrofias musculares. Tratava-se domal de Pott que é um tipo de tuberculose localizada nas vérte-bras. A doença começa a se desenvolver numa vértebra especí-fica para difundir-se nas outras, enquanto se desenvolve adistância das vértebras se reduz sempre mais até colapsar, porisso é necessária uma rápida intervenção.

Imobilizada na cama por mais de dois anos, a 30 de novem-bro de 1943 as irmãs da casa “Pio X” de Cordignano, onde elaera atendida, deram para a Teresa uma relíquia do Pe. Guanellae iniciaram uma segunda novena para a sua cura.

Na manhã de 2 de dezembro a doença despertou improvisa-mente por todo o corpo, acompanhada por uma sensação debem-estar geral. Teresa sentiu lhe retornarem as forças, desapa-receram as dificuldades respiratórias e se deu conta que as per-nas não lhe eram pesadas. Levantou-se e caminhou pelo quartoda enfermaria sem dificuldade e sem ajuda.

O processo apostólico foi instituído somente oito anos de-pois 9 de novembro de 1942 a março de 1943) e certificou que

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se tratou de cura “instantânea, perfeita, duradoura, absolutamenteinexplicável pelas leis da natureza”.

Para a canonização

A cura de William Glisson.

O milagre relacionado com a canonização aconteceu emmarço de 2002 na diocese de Philadelphia. Na tarde de 15 demarço de 2002, William Glisson estava patinando com o seuamigo na avenida Baltimore Pike de Springfield em alta veloci-dade e sem capacete. Por causa de um pequeno buraco caiu paraatrás com um pulo de cerca 2 metro e meio de altura e distantequatro metros, tendo como consequência um forte traumatismona região occipital. Foi levado imediatamente com a ambulân-cia inconsciente ao hospital “Crozer-Chester Medical Center”,aonde foi diagnosticado um estado de coma classificado GCS 7-8-9. Tendo aparecida uma agitação psicomotora foi sedado e en-tubado para ajudar na respiração. Um diagnóstico exato comum linguajar médico-científico permite entender a importânciado milagre.

Logo foi feito um exame de TAC do encéfalo (tomografiacomputadorizada) constatou uma grave contusão frontal es-querda com hematoma epidural, um hematoma subdural pa-rietal esquerdo, uma contusão fronte-temporal direita, umahemorragia sub aracnóide pós-traumática, um efeito massa comdeslocamento das estruturas medianas e uma fratura da basecraniana estendida ao occipital direito.

Submetido à intervenção neurocirúrgica, foi realizada umacraniotomia frontal direita com extração de um hematoma epi-dural e subdural direito, ressecção da contusão frontal direita,implante de sistema para a sua avaliação da pressão intracra-niana (PIC). A 16 de março a PIC se mantém elevada com va-lores de 43, para descer a 17 depois da infusão de manitol e sobede novo a 36.

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Um exame de TAC releva a presença de hematoma epidurale subdural frontal direito, de um fungo cerebral edemígenofrontal esquerdo e sinais radiológicos de hérnia cerebral trans-tentorial. Os médicos, pela gravidade do caso, decidem efetuaruma segunda intervenção neurocirúrgica por meio de cranioto-mia fronte-temporal direita e cranioectomia sub-temporal, comextração do hematoma fronte-temporal subdural direito. No diaseguinte o valor da PIC é de 18 e a avaliação GCS (GlasgowComa Scale) é de 6.

Um exame de TAC do dia 18 de março revela a persistênciade hematomas frontais com hemorragia intraventricular e sub-aracnóide.

A 19 de março, festa de São José, a doutora Noreen M. Yoder,amiga da família, entrega para a mãe de William duas relíquiasdo Beato, que ela própria coloca sobre o corpo do filho. Nomesmo dia é posicionado um filtro cavale de Greenfield e umaTAC cerebral realizada a 20 de março que evidencia uma he-morragia sub-aracnóide difusa com massiva encefalomalacia bi-lateral. No dia 22 se faz uma traqueostomia e pelo aparecimentode um grave quadro de hidrocefalia se efetua uma ventriculos-tomia externa urgente.

Nos dias sucessivos a hidrocefalia não se compensa e se pro-cede a 28 para a implantação de um sistema de derivação ven-trículo-peritoneal direita. Até a alta de 9 de março de 2002 orestabelecimento neurológico e clínico global foi lento e pro-gressivo, com a indicação de um programa de re-educação fun-cional neuromotora.

A 23 de setembro de 2002, a última intervenção de cranio-plastia bilateral para a substituição dos retalhos ósseos retira-dos, e durante a convalescência se manifestaram crises epiléticastônico-clônicas. No EEG (eletroencefalografia) apareceram ano-malias difusas na ausência de focos epileptogênicos e taxa deavanço no nível da craniotomia. Um exame TAC mostrou a hi-podensidade frontal direita com pequena retenção epidural, semsinais de sangramento.

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Oitos meses depois do acidente voltou a trabalhar na empresado pai. Um exame RMN (Ressonância Magnética Neuráxis) de14 de janeiro de 2003 evidenciou uma hiperdensidade frontaldireita de um provável pequeno infarto venoso, e uma normali-dade na parte lombar cervical.

Uma relação clínica de 21 de dezembro de 2004 atesta que aúltima crise epilética foi de outubro de 2002 e a necessidade decontinuar a terapia anti-convulsionante. O exame neurológico énegativo; não há déficit cognitivos e/ou neuropsíquicos. Perfeitaa reinserção sócio-relacional.

Tal quadro clínico foi confirmado pelos dois peritos neurolo-gistas “ab inspectione” que em 2006 visitaram o Sr. WilliamGlisson.

William não somente voltou a trabalhar, mas em 2008 secasou muito felizmente.

Depois do processo canônico conduzido na diocese norte-americana, da relativa documentação, foi levada à Congrega-ção para a Causa dos Santos em Roma e depois dos pareceresfavoráveis da comissão médica (12 de novembro de 2009), daconsulta dos teólogos (30 de janeiro de 2010) e da Congrega-ção ordinária dos Cardeais e dos Bispos (20 de abril de 2010),no dia primeiro de julho de 2010 o Papa autorizou a Congre-gação da Causa dos Santos a promulgar o relativo Decreto.

No Consistório Ordinário Publico do dia 21 de fevereiro docorrente ano o Papa Bento XVI estabeleceu a data da canoni-zação: domingo, dia 23 de outubro de 2011, na Praça de SãoPedro em Roma.

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O Bispo de Como durante o reconhecimento canônico

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Filhas de S. Maria da Providência e Servos da Caridade no dia do reconheci-mento canônico.

Procissão com os restos mortais do “Servo de Deus”.

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... com Pe. Ezio Cova, Servo da Caridade, Postulador geral.

Paulo VI e Madre Angela Cettini, Superiora Geral das FSMP no dia da Bea-tificação.

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... com o sobrinho Ir. Lorenzo Guanella, jesuíta.

... com S.E.R. Dom Felice Bonomini, Bispo de Como.

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«É Deus quem faz!... Tudo é de Deus: a idéia, a vocação, a capacidade de agir, osucesso, o mérito, são de Deus e não do homem». (Paulo VI, Discurso da Beati-ficação)

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Instantânea e perfeita cura de Maria Uri de peritoniteaguda difusa

Teresa Pighinmilagrosa-

mente curadade espondilite

tubercular emorbo de Pott

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No centro da foto – William Glisson, o jovem curado em virtude do milagre

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«Saúdo-te, ó bom montanhês. Escuta! O Espírito do Senhor tirou da solidãodo monte e dos vales, em todos os tempos, alguns dos seus filhos mais diletose os fez beatos. Tu és filho dos santos, alegra-te. Torna-te sempre mais mere-cedor! Eu abraço-te em espírito e acompanho-te para a maior felicidade queestá no céu beato».

(L. Guanella, Il Montanaro, p. 987)

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Notas

1 A. Mondelli De Marzi, l’Ordine della domenica di Como, 5 giu-gno 1910 in L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere didon LuigiGuanella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 55;

Maddalena Albini Crosta in La Divina Provvidenza – novembre1915, p. 192.

2 A este respeito é Sintomática a experiência do Pe. Guanela. Noperíodo em que foi a ficou em Savogno (1867-75), não obstante aLei Casati sobre a instrução escolar obrigatória tivesse entrado emvigor em 1864, todavia o serviço público não tinha sido ainda ati-vado e o Pe. Guanella teve que enfrentar com a própria iniciativa.

3 Porta Pia era um importante acesso à cidade de Roma, que se si-tuava no começo da Via Consular Nomentana. Se a tinha juntadopor Michelangelo Buonarroti aos muros Aurelianos, que corriam aoredor da cidade para defendê-la dos assaltos dos inimigos. O exér-cito do Reino da Itália a 20 de setembro de 1870 abriu uma passa-gem e entrou na cidade.O Pe. Guanella se colocou do lado do grupodos “Intransigentes”, apegados ao Papa; defendeu a autoridade delecom os escritos ascéticos e morais.

4 O Pe. Guanella se colocou do lado do grupo dos “Intransigen-tes”, apegados ao Papa; defendeu a autoridade dele com os escritosascéticos e morais.

5 Um papel primordial no projeto de unificação das várias regiõesda Itália num único Estado tiveram os soberanos do Reino do Pie-monte-Sardegna, os Sabóia; os vários descendentes tiveram o títulode “Rei da Itália” (monarquia constitucional) até o dia 2 de junho de1946, quando com um referendum os italianos escolheram a formapolítica da “República”.

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6 Guarentigie significa Garantias; o Estado Italiano garantia aoPontífice a inviolabilidade da pessoa, as honras soberanas, o direitode ter a serviço próprio guardas armados para defesa dos paláciosVaticanos, do Latrão, da Chancelaria e da casa de Castel Gandolfo.Tais imóveis eram submetidos a regime de extra-territorialidade queos isentava das leis italianas e assegurava liberdade de comunica-ções postais e telegráficas e o direito de representações diplomáticas.Enfim garantia uma ajuda anual para a manutenção do Pontífice,do Sagrado Colégio e dos palácios apostólicos. A lei regulamentavatambém as relações entre o Estado e a Igreja Católica, garantindo aambos a máxima pacífica independência. Além do clero era reco-nhecida ilimitada a liberdade de reuniões e os bispos eram isentosde juramento ao Rei. A Lei conservava, porém, o placet governativopara a nomeação dos bispos e dos párocos.

7 Cfr. L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove

Frontiere, Roma 2003, p. 14.8 L. Guanella, Il montanaro, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi

Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1992, p. 1002. O Pe.Guanella escreveu este livrino em 1886 para homenagear e confor-tar a população de Tartano e Talamona, vilarejos da Valtellina, atin-gidos por uma inundação no mês de setembro de 1885, que tinhadeixado vítimas fatais e grandes danos.

No livrinho ele exalta os valores humanos, morais e religiosos dopovo montanhês; na verdade aparecem as lembranças da sua infân-cia, as experiências vividas em família, os seus sentimentos... O li-vrinho é, a partir deste ponto de vista, muito preciosos paraconhecer o ambiente no qual ele nasceu e cresceu.

9 A expressão não é do Pe. Guanella, mas do historiador salesianoPedro Stella, citado por M. CARROZZINO, Dom Guanella e DomBosco. História de um encontro e de um confronto, Saggi storici – 1,II, Ed., Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma2010, p. 131. Nas memórias autobiográficas, o Pe. Guanella afirma:“Sinto em mim que a Divina Providência me chama a Turim e será oque Deus quiser”. In L. GUANELLA, Os caminhos da Providência,Editora Nuove Frontiere, Roma, 2003, p. 46; mais adiante, quandojustifica a decisão de deixar Dom Bosco, afirma: “Considero sorte

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grandíssima ter vindo de junto de Dom Bosco, mas o meu coração sen-tiria um vazio por toda a vida porque, não parecerá verdadeiro, mascontinua em mim o pensamento de fabricar algum ‘ciabotto’ na minhapátria (ciabotti Dom Bosco chamava as suas fundações”, p. 49.

10 O Pe. Luís se resignou facilmente à ideia de não poder reabriro colégio de Traona; buscou apoio por todo lugar para vencer a hos-tilidade do Prefeito. O Bispo era de um parecer bem diferente; es-tava convicto de que o Pe. Guanella não teria conseguido adespontá-la e portanto encontrando-o nos locais paroquiais de Cam-podolcino, num momento de impaciência, dirigiu ao Pe. Guanellapalavras de fogo: “Não posso lhe suspender porque não tenho argu-mentos, mas o faria, se pudesse”. Se sentiu amargurado... E tudo logoterminou ali”. In L. Guanella, Le vie della Provvidenza, EditoraNuove Frontiere, Roma 2003, p. 56.

11 Carta do Pe. Guanella a Dom P. Carsana, escrita de Olmo, ou-tubro de 1881, Arquivo Guanelliano Como.

12 Carta do Pe. Guanella a Dom P. Carsana de 20 de maio de 1878,Arquivo Guanelliano Como.

13 L. Guanella, Non ritornerà più dunque Suor Chiara fra noi?,Nuove Frontiere Editora, Roma 1982, p. 26-27.

14 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere,Roma 2003, p. 58.

15 Cfr. Decretum laudis “Humanis miseriis sublevandis”.16 Cfr. La Divina Provvidenza – dezembro de 1926, p. 244. O De-

creto de ereção é de 23 de fevereiro de 1913; com o Decreto doSanto Ofício de 23 de abril sucessivo a Associação foi enriquecidade indulgências; a 1 de junho, foi elevada a Associação Primária. Fi-nalmente, com carta apostólica de 14 de fevereiro do ano seguinte,o Papa Pio X, recomenda a difusão dela em todo o mundo católico.Cfr. La Divina Provvidenza – maio de 1913, p. 69-72.

17 L. Guanella, Il pane dell’anima – Primo corso, Opera Omnia,Vol. I, Centro Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora,Roma 1992, p. 367.

18 L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, CentroStudi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 140.

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19 Com os santos o Pe. Guanella teve uma “relação” especial e, emparticular, com os “santos da caridade”; entre aqueles que exerce-ram sobre ele um grande fascínio citamos: Santa Teresa de Ávila,São Francisco de Assis, (tornou-se Terciário Franciscano), São JoséBento Cottolengo e São João Bosco, São Jerônimo Emiliani, SãoCaetano de Thiene, São Camilo de Lélis...

20 L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Cen-tro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 453.

21 L. Guanella, In tempo sacro, Opera Omnia, Vol. I, Centro StudiGuanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1992, p. 835.

22 L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Cen-tro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 447.

23 Cfr. Ibidem, p. 462 s.24 L. Guanella, Il pane dell’anima – Secondo corso, Opera Omnia,

Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma1992, p. 409.

25 A. Bacciarini, Positio super virtutibus, I, Roma 1937, ArchivioGuanelliano Como, p. 259.

26 L. Guanella, Regolamento FsMP – 1911, Opera Omnia, Vol.IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988,p. 614.

27 La Divina Provvidenza – ottobre 1914, p. 159.28 Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 33.29 L. Guanella, Il fondamento, Opera Omnia, Vol. III, Centro

Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 877: “Ocoração é a vida do corpo, a oração é vida da alma cristã”.

30 L. Guanella, Regolamento SdC – 1905, Opera Omnia, Vol. IV,Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.1159: “Para se entender justamente com os homens, é preciso antes detudo saber se entender com o Senhor, que é caminho, verdade e vida”.

31 L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.1339.

32 Dina Bosatta (1858-1887) como religiosa assumiu o nome de

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Clara; juntamente com a irmã Marcelina e outras jovens de PianelloLário constituiu o núcleo fundamental da nascente Congregaçãodas Filhas de Santa Maria da Providência. Foi dotada pela Graçade uma alma mística que a levou a buscar a união esponsal do amorcom Deus, entre muitas provações e sofrimentos físicos. Com so-mente 29 anos levou termo, sob a orientação sábia do Pe. Guanella,o seu caminho pessoal de santificação. João Paulo II a elevou àhonra dos altares a 21 de abril de 1991. Para aprofundar o conhe-cimento: L. Guanella, Dono di giovinezza – Vita di Chiara Bosatta,Editora Nuove Frontiere, Roma 2009; P. Pellegrini – M. L. Oliva, Lastoria di Chiara, Nuove Frontiere Editora, Roma 1991; Chiara Bo-satta – Scritti e documenti, a cura di E. Soscia e F. Bucci, CentroStudi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 2002.

33 “Ficamos maravilhados: nos encontramos diante de uma santi-dade de caráter contemplativo colocada por Deus como pedra funda-mental de uma instituição que se baseia simplesmente na insígnia damisericórdia”. In A. Beria, Vita di suor Chiara scritta da don Gua-nella, Nuove Frontiere Editora, Roma 1983, p. 5. “Podemos deduzircomo a Ir. Clara, correspondendo com fidelidade, generosidade e per-severança à graça e aos dons de Deus, soube harmonizar muito bem adimensão contemplativa com a ativa. E é surpreendente como Deustenha querido conceder a um instituto nascente limitas especifica-mente caritativos e apostólicos uma alma mística” In Sacra Congre-gatio pro Causis Sanctorum, Comensis Canonizationis Servae DeiClarae Bosatta sororis professae Instituti SS. Maria a Providentia,Relatio et Vota Congressus Peculiaris, Roma 1988, Arquivo Guanel-liano Como, p. 93.

34 L. Guanella, Il pane dell’anima – Terzo corso, Opera Omnia,Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma1992, p. 633.

35 O Pe. Guanella escreveu entre 1872 e 1889, 45 livrinhos ascé-tico-morais; foram recolhidos e publicados pelo Centro de EstudosGuanellianos. O indicamos como Opera Omnia.

36 A. Bacciarini, Positio super virtutibus, I, Roma 1937, ArchivioGuanelliano Como, p. 305.

37 Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, Livraria Edi-tora Vaticana, 2005, n. 55.

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38 L. Guanella, Il pane dell’anima – Primo corso, Opera Omnia,Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, 1992, p.312.

39 L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, CentroStudi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 126.

40 L. Mazzucchi, Positio super virtitibus, I, Roma 1937, ArchivioGuanelliano Como, p. 303.

41 L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Gua-nella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 443.

42 L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, CentroStudi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 126.

43 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere,Roma 2003, p. 78.

44 L. Guanella, Il pane dell’anima – Terzo corso, Opera Omnia,Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma1992, p. 655.

45 L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Cen-tro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 470.

46 L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III,

Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999,

p. 446.47 L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,

Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.1261.

48 L. Guanella, Andiamo al paradiso, Opera Omnia, Vol. III, Cen-tro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1999, p. 470.

49 L. Guanella, Il pane dell’anima – Primo corso, Opera Omnia,Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma1992, p. 351s.

50 L. Guanella, Regolamento SdC -1910, Opera Omnia, Vol. IV,Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1988, p.1297.

51 L. Guanella, Breve Statuto delle Figlie del S. Cuore chiamate

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Crocine in Como – 1893, Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Gua-nelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma, 1988, p. 90.

52 As memórias autobiográficas, Le vie della Provvidenza, foramditadas pelo Pe. Guanella a ser escritas por pessoas, por sorte du-rante o inverno do ano de 1913 ou 1914, exceto algumas passagens“importantes” escritas de próprio punho. A página em questão é oinício do artigo XIII, intitulado “A constituição moral da Casa da Di-vina Providência em Como”, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003,p. 69.

53 L. Guanella, Settimana con Dio, in L. Mazzucchi, La vita,lo spi-rito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere,Roma 1999, p. 480.

54 Do número de dezembro de 1895 a hoje o cabeçalho do bole-tim é La Divina Provvidenza.

55 L. Guanella, Regolamento SdC – 1905, Opera Omnia, Vol.

IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma1988, p. 1148.

56 Iluminador foi a este respeito a experiência do falimento emTraona. Quando Dom P. Carsana lhe comunica de ir a Traona, o Pe.Guanella “acreditava ter finalmente a Providência no bolso”, pensavaque finalmente podia considerar fechada a fase da busca da sua vo-cação de fundador. In L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Edi-tora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 52.

57 “Por fim Deus pensou de criar o homem. Reuniram-se então emconselho as pessoas da Augustíssima Trindade e disseram: “Façamos ohomem à nossa imagem e semelhança”. Moisés depois concluiu ex-pressamente: “ Deus criou o homem à sua semelhança, à semelhançade Deus o criou”. L. Guanella, Da Adamo a Pio IX – I, Opera Omnia,Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma1995, p. 20.

58 “A obra por excelência de Deus aqui em baixo é o homem, criadopara que seja o filho vivo da Igreja santa”. L. Guanella, Le glorie delpontificato, Opera Omnia, Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, Edi-tora Nuove Frontiere, Roma 1995, p. 954.

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59 “Um médico pagão ao considerar a estrutura do corpo humano ex-clamou: “Não é um livro isto que eu fiz, mas um hino que cantei emhonra da divindade”. O homem é ereto em atitude de comando, é reido universo, todos os animais lhe obedecem, na estatura tem as pro-porções com as coisas criadas ao redor. “O homem – diz Santo Am-brósio – é uma imagem do universo”. L. Guanella, Da Adamo a PioIX – I, Opera Omnia, Vol. II/1, Centro Studi Guanelliani, EditoraNuove Frontiere, Roma 1995, p. 20.

60 “Ora, esta de Adão foi culpa, mas de fragilidade”. Ibidem, p. 22.61 O Pe. Guanella reporta uma frase de Santo Tomás: “O homem

depois do pecado necessita da graça divina para se curar”. Ibidem, p.22.

62 “Deus não maldisse a Adão e Eva. Mas não deixou de castigá-lospermitindo que um flagelo do sentido, a concupiscência, o tormen-tasse continuamente. E mostrando-se em ato mais de patrão do que dePai,os expulsou de paraíso terrestre e lá, para vigiar a entrada, colocouum querubim armado de espada chamejante. Todavia o Senhor, sem-pre bom, vendo-os miseráveis, confusos e trepidantes, colocou nelesuma veste de pele de animais e depois com bondade imensa continuaa dizer: “Uma mulher esmagará a cabeça da serpente. De tal mulhernascerá alguém que será o salvador de todos. E vós e os outros se acre-ditais naquele que o enviou, sereis ainda salvos. L. Guanella, DaAdamo a Pio IX – I, Opera Omnia, Vol. II/1, Centro Studi Guanel-liani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1995, p. 23-24.

63 “Oh, se também tu ao lado de Jesus sepultasses o homem velhoda concupiscência, acredite que tu mesmo sacudirias do teu redor omundo que te circunda!”. L. Guanella, Il fondamento, Opera Omnia,Vol. III, Centro Studi Guanelliani, Eidtora Nuove Frontiere, Roma1999, p. 872-873.

64 L. Guanella, Andiamo al Padre, Opera Omnia, Vol. III, CentroStudi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 143.

65 João Paulo II, Evangelium Vitae, 1995, n. 85.66 Aa.vv, Documento Base para projetos educativos guanellianos,

Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 74.67 L. Guanella, Lettera circolare ai Servi della Carità – 20 ottobre

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1913, Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, EditoraNuove Frontiere, Roma 1988, p. 1411.

68 Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, Livraria Edi-tora Vaticana, 2005, n. 2.

69 Cfr. Aa.vv, Documento Base para projetos educativos guanellia-nos, Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 19.

70 L. Guanella, Vieni meco – 1913, Opera Omnia, Vol. IV, CentroStudi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 795.

71 L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Arquivo Guanel-liano Como, art. XXVI n. 2.

72 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Frontiere,Roma 2003, p. 92.

73 L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontier, Roma 1988, p.1232.

74 Cfr. “Tornar a caridade o coração do mundo” – Documento Base doMovimento Laical Guanelliano, Roma, 2010, n. 16. Vide também LaDivina Provvidenza – fevereiro de 1913, p. 27: “Obra eminente de re-denção, de apostolado, de benemerência social, de cooperação santa à açãode Jesus Salvador é aquela que se consagra a apagar a dupla ordem dosmales, a dar de novo a dupla felicidade do espírito e do corpo: o nosso mi-nistério tem por finalidade a salvação, o bem, a santificação das almas;tem também por finalidade, e é um bom meio como primeiro fim o alíviodas necessidades corporais, a reabilitação dos abandonados e necessitados,por que o mundo não tem alegria e sequer um sorriso”. Vide também Aa.VV, Documento Base para projetos educativos guanellianos, EditoraNuove Frontiere, Roma 1994, n. 14.

75 Aa.vv, Documento Base para projetos educativos guanellianos,Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 13.

76 Um dia viu em Prosto um menino em condições lamentáveis.O amou, o tratou como bom amigo, depois lhe deu uma grandeprova de fraternidade: se interessou por ele, procurou para ele umlugar gratuito na Pequena Casa da Divina Providência em Turim eele mesmo o conduziu para lá. Cfr. L. Guanella, Le vie della Prov-videnza, Editora Nuove Frontiere, Roma 2003, p. 40.

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77 “A arte e a religião, a ciência e a fé, eis aí as boas irmãs que se dãoa mão para elevar o homem de uma baixeza terrena a uma grandezacelestial”. L. Guanella, Quarto centenario di Andrea da Peschiera,Opere, Vol. II/2, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 1997, p. 504.

78 “Tu cumpres obra de misericórdia, o Filoteia, quando no teu co-ração vens acolhendo as humanas enfermidades a fim de aliviá-las”. L.Guanella, Il fondamento, Opera Omnia, Vol. III, Centro Studi Gua-nelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 975.

79 L. Guanella, Massime di spirito e metodo d’azione 1888-1889,Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora NuoveFrontiere, Roma 1988, p. 22.

80 L. Guanella, Vieni meco – 1913, Opera Omnia, Vol. IV, CentroStudi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 799.

81 L. Guanella, Regolamento interno FsC – 1899, Opera Omnia,Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma1988, p. 993.

82 L. Guanella, Regolamento SdC – 1910, Opera Omnia, Vol. IV,Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p.1233.

83 L. Guanella, Nel mese dei fi ori, Opera Omnia, Vol. I, CentroStudi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1992, p. 950.

84 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 37.

85 P. Pellegrini, Don Guanella inedito, Editora Nuove Frontiere,Roma 1993, p. 35.

86 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 12.

87 L. Sterlocchi, Vita di Caterina Guanella, Como, Scuola Tipo-grafica Casa Divina Provvidenza, Como 1911, p. 10.

88 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 37.

89 L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanel-liano Como, art. XXIV n. 1.

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90 Aa.vv., Documento Base per Progetti Educativi Guanelliani, Edi-tora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 75-77.

91 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 11-12.

92 L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanel-liano Como, art. XLVI n. 3.

93 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 38; cfr. anche L. Mazzucchi, Fragmenta vitae etdictorum, Archivio Guanellliano Como, art XXX n. 1: «In tutto eanche in Consiglio diceva sempre: “Badiamo alla coscienza”».

94 Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio GuanellianoComo, art. II n. 11.

95 Cfr. La Divina Provvidenza – giugno 1910, p. 92-94.96 L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanel-

liano Como, art. II n. 26.97 L. Guanella, Vieni Meco – 1913, Opera Omnia vol. IV, Centro

Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988, p. 788.98 Marcelina Bosatta (1847-1934), irmã mais velha da Bem-aventu-

rada Clara, ficou ao lado do Pe. Guanella em toda a sua obra de ca-ridade; foi conselheira sábia e confidente desde os inícios em PianelloLário, onde já era superiora da pequena comunidade de Ursulinassuscitadas pelo Pe. Carlos Coppini. Foi a primeira Superiora Geraldas Filhas de Santa Maria da Providência. Depois da morte do Pe.Guanella, a Ir. Marcelina ficou fiel guardiã do seu espírito e dos seusensinamentos, continuando a guiar a Congregação até 1925. Passouos últimos anos em retiro e oração na casa mãe de Como-Lora.

99 L. Guanella, La settimana con Dio, in L. Mazzucchi, La vita, lospirito e le opere di don Luigi Guanella, Editora Nuove Frontiere,1999, p. 481.

100 “Tornar a Caridade o Coração do Mundo”, Documento Base doMovimento Laical Guanelliano, Roma 2010, n. 6.

101 A Associação foi reconhecida como “Obra própria da Famíliareligiosa guanelliana” pelo Pontifício Conselho para os Leigos comDecreto de 22 de maio de 2003.

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102 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 41.

103 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 45; V. Lucarelli, Don Guanella. Un “contempo-raneo”affascinante, Edizioni Paoline, 1991, p. 61.

104 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 43.

105 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 42.

106 Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio GuanellianoComo, art. XXVIII n. 2.

107 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma, 2003, p. 108-109.

108 Bento XVI, Caritas in Veritate, Libreria Editora Vaticana,2009, n. 9.

109 Bento XVI, Caritas in Veritate, Libreria Editora Vaticana,2009, n. 19.

110 Vedi G. Vecchio, Giovanni Acquaderni, Davide Albertario, Fi-lippo Meda, Giuseppe Toniolo: cristiani per la Chiesa e per la società,in Saggi Storici – 16, Centro Studi Guanelliani, Editora NuoveFrontiere, Roma, 2000, p. 175s.

111 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 79.

112 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 41.

113 L. Guanella, Da Adamo a Pio IX, in Opera Omnia, Vol. II/1,Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1995,pp. 1s.

114 L. Guanella, Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma 2003, p. 78-79.

115 Descendente de uma antiga família lombarda, MadalenaCrosta casou o patrício urbano Francisco Albini Riccioli. Terciáriafranciscana, foi autora de livrinhos formativos, devocionais e de tes-tes teatrais para a infância; Papa Leão XIII a enriqueceu com di-

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versas honrarias pela sua obra de escritora crista. A colaboração como Pe. Guanella iniciou em Milão em 1896: dirigiu o boletim “La Di-vina Provvidenza” por um decênio, o ajudou na redação definitivado amplo Regulamento das Filhas de Santa Maria da Providência, im-presso em 1911, e escreveu Flor de Céu, a primeira biografia com-pleta sobre a Ir. Clara Bosatta, publicada em 1910.

116 O primeiro número do boletim “La Divina Providenzza” foiiniciada no mês de dezembro de 1892. Desde então a publicaçãocontinua até os nossos dias.

117 Era a zona do alto lago de Como; após a bonificação iniciadapor Dom Guanella, a zona foi completamente recuperada; surgiramnovos centros habitados (Nuova Olônio, Dubino...)

118 Cfr. G. Rossi, L’istruzione agraria in Italia tra Ottocento e No-vecento: la colonia agricola di Monte Mario a Roma, in Saggi Storici– 18, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma,2000, p. 165-199; vedi anche A. Robbiati, Le colonie agricole: il casodi San Salvatore in Piano di Spagna, in “L’Opera di don Luigi Gua-nella. Le origini e gli sviluppi nell’area lombarda”, Atti del Conve-gno di studi per il centenario della Casa della Divina Provvidenza,Como 1988, p. 173-216; A. Folonaro-L. Trussoni, La “Nuova” Olo-nio SS. Salvatore, Meroni Editora , Cassano com Albese (CO) 2000.

119 Muitos ainda em vida, o indicavam com o apelativo de “enge-nheiro santo”. À sua morte foi aberto o processo canônico para o re-conhecimento da sua santidade. Tem o título de “Servo de Deus” edesde 1960 está a caminho a causa da sua beatificação; era inscrito,como também o Pe. Guanella, entre os Terciários Franciscanos.

120 L. Mazzucchi, Fragmenta vitae et dictorum, Archivio Guanel-liano Como, art. XVI n. 5.

121 L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Gua-nella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 560-561. AgostinhoGemelli, na vida civil Eduardo (1878-1959), em 1907 estava atra-vessando uma profunda crise espiritual, provocada por fortes su-gestões do “modernismo”. Foi aconselhado pelo Papa Pio X de seconfiar ao Pe. Guanella: “Abre-lhe a tua alma e faz o que ele te dis-ser como se eu mesmo te comandasse”. À objeção de que o Pe. Gua-nella não era um teólogo e nem sequer estava a par dos problemas

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levantados pelo modernismo, o Papa lhe respondeu: “Já não te que-braste a cabeça com os teólogos? Tu precisas de um santo e o Pe. Gua-nella é um Santo”. O Gemelli encontrou o Pe. Guanella e superou acrise. Testemunhou no processo canônico: “Parece-me de poder atestarque se da grave crise eu saí ileso, isto se deve não somente à grande ca-ridade do Pe. Guanella, mas à simplicidade do seu espírito”.

122 Aa.vv., Documento Base per Progetti Educativi Guanelliani,Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 140.

123 L. Guanella Le vie della Provvidenza, Editora Nuove Fron-tiere, Roma, 2003, p. 19.

124 L. Guanella, Regolamento Interno FsMP – 1899, OperaOmnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere,Roma 1988, p. 301. Reportamos o belo testemunho do Padre Agos-tinho Gemelli na comemoração do Pe. Guanella que ocorreu naIgreja de São José ao Trionfale a 25 de novembro de 1915: “O Pe.Guanella recolhe estas criatura que a própria ciência rejeita porquenão vê nelas a possibilidade de desenvolver atividades espirituais, e asrecolhe, antes, algumas vezes contra as pretensões de certa ciência queconsidera semelhante obra estéril e vã. Mas, conduzido pelo amor aopróximo, o Pe. Guanella, humilde e simplesmente, supera as precon-ceitos orgulhosos dos homens e, acolhendo, os “dejetos” não somentecumpre uma missão de fé e de cidadania, mas consegue obter resulta-dos que os próprios psiquiatras não teriam nem imaginado”. L. Maz-zucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Guanella, EditoraNuove Frontiere, Roma 1999, p. 560.

125 Aa.vv., Con fede amore e competenza. Perfil do operador gua-nelliano, Editora Nuove Frontiere, Roma 2000, n. 26-31.

126 L. Guanella, Regolamento Interno FsC – 1899, Opera Omnia,Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma1988, p. 1006.

127 L. Guanella, Massime di spirito e metodo d’azione – 1888/89,Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora NuoveFrontiere, Roma 1988, p. 43.

128 L. Guanella, Regolamento FsMP – 1911, Opera Omnia, Vol.IV, Centro Studi Guanelliani, Editora Nuove Frontiere, Roma 1988,p. 431.

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129 L. Guanella, Massime di spirito e metodo d’azione – 1888/89,Opera Omnia, Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Editora NuoveFrontiere, Roma 1988, p. 50.

130 Ibidem, p. 30.131 L. Guanella, Regolamento Interno FsC – 1899, Opera Omnia,

Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora , Roma1988, p. 1007.

132 L. Guanella, Il Fondamento, Opera Omnia, Vol. III, CentroStudi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora , Roma 1999, p. 963.

133 M. Carrozzino, Visione dell’uomo ed educabilità in don Gua-nella, in aa.vv., Il rapporto educativo in stile guanelliano, EditoraNuove Frontiere, Roma, 1989, p. 159.

134 AA.VV., Documento Base per Progetti Educativi Guanelliani,Editora Nuove Frontiere, Roma 1994, n. 85.

135 Ibidem, p. 38.136 L. Guanella, Regolamento interno FsC – 1899, Opera Omnia,

Vol. IV, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora , Roma1988, p. 1029; Regolamento SdC – 1905, Ibidem, p. 1147: “Se chamasistema preventivo de educação e de conveniência aquele método de ca-ridade, de uso, de conveniência, graças ao qual os superiores circundamde afeto paterno os próprios dependentes e os irmãos envolvem de so-licitude os próprios irmãos, para que nos trabalhos da jornada nin-guém seja surpreendido por qualquer tipo de mal e no caminho da vidacheguem à meta feliz. Este é o sistema que mais se aproxima à exem-plar vida da Sagrada Família de Jesus, Maria e José... No caso práticoo sistema preventivo precisa 1) possuí-lo no coração e na mente,2)exercitá-lo com os iguais, 3) com os inferiores, 4) com os superiores, 5)em cada circunstância e sempre”.

137 L. Guanella, O Padre! O Madre! – Secondo corso, OperaOmnia, Vol. I, Centro Studi Guanelliani, Nuove Frontiere Editora, Roma 1992, p. 90.

138 M. Carrozzino Visione dell’uomo ed educabilità in don Gua-nella in aa.vv., Il rapporto educativo in stile guanelliano EditoraNuove Frontiere, Roma, 1989, p. 160.

139 Cfr. nota n. 66.

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140 Aa.Vv., Con fede, amore e competenza – Profi lo dell’operatoreguanelliano, Editora Nuove Frontiere, Roma 2000.

141 CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA, Educare alla vita buona delVangelo. Orientamenti pastorali dell’episcopato italiano per il decen-nio 2010-2020, EDB, 2010.

142 BENEDETTO XVI, Lettera alla Diocesi e alla città di Roma sulcompito urgente dell’educazione, in EV 25/55.

143 BENEDETTO XVI, Caritas in Veritate, 78.144 CONFERENZA EPISCOPALE ITALIANA, Educare alla vita buona del

Vangelo, EDB, 2010, 9.145 Ibidem, 55.146 COMMISSIONE EPISCOPALE PER IL CLERO E LA VITA CONSACRATA,

Messaggio per la 15ª Giornata mondiale della vita consacrata, Roma6 gennaio 2011.

147 L. Mazzucchi, La vita, lo spirito e le opere di don Luigi Gua-nella, Editora Nuove Frontiere, Roma 1999, p. 559.

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ÍNDICE

Apresentação. Postulador geral ........................... Pág. 9Prefácio. Bispo de Como ...................................... » 15

PARTE I PANO DE FUNDO

Contexto histórico................................................ » 21Contexto social .................................................... » 24Contexto eclesial ................................................. » 26Pe. Guanella e o seu tempo.................................. » 27

PARTE IIEM PRIMEIRO PLANO

Sob as asas da Providência................................... » 37O ambiente em que nasceu e cresceu ................. » 41Traços caracteristícos da santitade do Pe. Guanella 42

a) Introdução ................................................ » 42b) Um homem, um Santo.............................. » 43

Homem de Deus .................................................. » 49Pai dos pobres ..................................................... » 57Cidadão do mundo ............................................. » 69Educador apaixonado ........................................ » 79Conclusão ........................................................... » 85

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PARTE III COMO MOLDURA

O caminho para a canonização .......................... » 93Os processos canônicos ...................................... » 94Os milagres ......................................................... » 96

Para a beatificação ....................................... » 96Para a canonização ...................................... » 98

Note .................................................................... » 109

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Impresso maio 2011 do GESP - Città di Castello (PG - Itália)

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