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Rev. bras. paleontol. 9(3):355-364, Setembro/Dezembro 2006 © 2006 by the Sociedade Brasileira de Paleontologia PROVAS 355 NO LUGAR ERRADO, NA HORA ERRADA: ICNOFÓSSEIS DE METAZOÁRIOS NO PALEOPROTEROZÓICO DE MINAS GERAIS? LEONARDO MORATO CPGGeo, IG, UFRGS, Av. Bento Gonçalves 9500, 91501-970, Cx. P. 15001, Porto Alegre, RS, Brasil. [email protected] LUEDSON GUIMARÃES MANDUCA [email protected] ISMAR DE SOUZA CARVALHO Departamento de Geologia, IGEO, UFRJ, Cidade Universitária, Ilha do Fundão, 21940-940, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. [email protected] CARLOS ALBERTO ROSIÈRE & RICARDO DINIZ DA COSTA Departamento de Geologia, IGC, UFMG, Av. Antônio Carlos 6627, 31270-901, Belo Horizonte, MG, Brasil. [email protected], [email protected] RESUMO – Duas estruturas sedimentares comparáveis a icnofósseis de metazoários foram descritas em rochas do Paleoproterozóico da Formação Cercadinho, Supergrupo Minas do Quadrilátero Ferrífero, Estado de Minas Gerais. As estruturas são perturbações parabólicas na laminação, perpendiculares ao acamamento de metarenitos com estratificações plano-paralelas a cruzadas tangenciais e acanaladas. A primeira, uma escavação semelhante a Skolithos ou Arenicolites, atinge 1,4 cm de largura e cerca de 4,5 cm de altura, com paredes nítidas e laminação interna desordenada; a segunda é comparável a um icnito de escape, com até 1,7 cm de largura e 6,7 cm de altura. A idade da Formação Cercadinho é bem restringida, entre 2,1 e 2,4 Ga, por uma série de dados geocronológicos e estratigráficos. A hipótese de que tais estruturas tenham sido produzidas por metazoários durante o Paleoproterozóico é incongruente com os registros fósseis mais antigos desse grupo. Outra possibilidade seria a de que essas estruturas não tenham origem orgânica e os processos que as formaram ainda sejam desconhecidos. Entretanto, experimentos preliminares, efetuados em laboratório, revelam ser difícil a geração de feições semelhantes por processos abióticos. Palavras-chave: Icnofósseis, metazoários, biotas pré-cambrianas, Quadrilátero Ferrífero. ABSTRACT – WRONG TIME, WRONG PLACE: METAZOAN ICHNOFOSSILS IN THE PALAEOPROTEROZOIC OF MINAS GERAIS STATE? Two sedimentary structures comparable to metazoan ichnofossils are described in Palaeoproterozoic rocks of the Cercadinho Formation, Minas Supergroup of the Quadrilátero Ferrífero region, Minas Gerais state, Brazil. The structures are parabolic perturbations in the lamination, perpendicular to the bedding of metasandstones with tabular, tangential and parallel cross-laminations. The first one, similar to an Arenicolites-type burrowing, reaches 1.4 cm in width and about 4.5 cm in high, with sharp walls and disordered internal lamination; the second is comparable to an escape ichnite, up to 1.7 cm in width and 6.7 cm in high. The age of the Cercadinho Formation is well constrained between 2.1 and 2.4 Ga by a series of geochronological and stratigraphical data. A hypothesis that these structures are in fact of metazoan affinities in Palaeoproterozoic rocks is incongruent with the oldest records of metazoan fossils. Another possibility, more likely, is that the structures are not organic-related, and its genesis is so far unknown. Preliminary laboratory experiments, however, advocate the difficulty to generate similar structures by abiotic processes. Key words: Trace fossils, metazoan, Precambrian biotas, Quadrilátero Ferrífero. INTRODUÇÃO Os icnofósseis possuem diversas aplicações. Dependen- do do icnotáxon envolvido, podem ser indicadores paleocli- máticos, de ambientes de sedimentação ou de taxas de depo- sição, podem servir de referência de base e topo de camadas, além de delimitar paleopavimentos. Podem também ser regis- tros válidos da presença de um determinado táxon (geral- mente apenas em uma categoria superior, acima do nível de gênero) e de seus hábitos, e eventualmente serem utilizados

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    355

    NO LUGAR ERRADO, NA HORA ERRADA: ICNOFSSEIS DE METAZORIOS

    NO PALEOPROTEROZICO DE MINAS GERAIS?

    LEONARDO MORATOCPGGeo, IG, UFRGS, Av. Bento Gonalves 9500, 91501-970, Cx. P. 15001, Porto Alegre, RS, Brasil. [email protected]

    LUEDSON GUIMARES [email protected]

    ISMAR DE SOUZA CARVALHODepartamento de Geologia, IGEO, UFRJ, Cidade Universitria, Ilha do Fundo, 21940-940, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

    [email protected]

    CARLOS ALBERTO ROSIRE & RICARDO DINIZ DA COSTADepartamento de Geologia, IGC, UFMG, Av. Antnio Carlos 6627, 31270-901, Belo Horizonte, MG, Brasil.

    [email protected], [email protected]

    RESUMO Duas estruturas sedimentares comparveis a icnofsseis de metazorios foram descritas em rochasdo Paleoproterozico da Formao Cercadinho, Supergrupo Minas do Quadriltero Ferrfero, Estado de MinasGerais. As estruturas so perturbaes parablicas na laminao, perpendiculares ao acamamento de metarenitoscom estratificaes plano-paralelas a cruzadas tangenciais e acanaladas. A primeira, uma escavao semelhante aSkolithos ou Arenicolites, atinge 1,4 cm de largura e cerca de 4,5 cm de altura, com paredes ntidas e laminaointerna desordenada; a segunda comparvel a um icnito de escape, com at 1,7 cm de largura e 6,7 cm de altura.A idade da Formao Cercadinho bem restringida, entre 2,1 e 2,4 Ga, por uma srie de dados geocronolgicose estratigrficos. A hiptese de que tais estruturas tenham sido produzidas por metazorios durante oPaleoproterozico incongruente com os registros fsseis mais antigos desse grupo. Outra possibilidade seria ade que essas estruturas no tenham origem orgnica e os processos que as formaram ainda sejam desconhecidos.Entretanto, experimentos preliminares, efetuados em laboratrio, revelam ser difcil a gerao de feies semelhantespor processos abiticos.

    Palavras-chave: Icnofsseis, metazorios, biotas pr-cambrianas, Quadriltero Ferrfero.

    ABSTRACT WRONG TIME, WRONG PLACE: METAZOAN ICHNOFOSSILS IN THEPALAEOPROTEROZOIC OF MINAS GERAIS STATE? Two sedimentary structures comparable to metazoanichnofossils are described in Palaeoproterozoic rocks of the Cercadinho Formation, Minas Supergroup of theQuadriltero Ferrfero region, Minas Gerais state, Brazil. The structures are parabolic perturbations in thelamination, perpendicular to the bedding of metasandstones with tabular, tangential and parallel cross-laminations.The first one, similar to an Arenicolites-type burrowing, reaches 1.4 cm in width and about 4.5 cm in high, withsharp walls and disordered internal lamination; the second is comparable to an escape ichnite, up to 1.7 cm inwidth and 6.7 cm in high. The age of the Cercadinho Formation is well constrained between 2.1 and 2.4 Ga by aseries of geochronological and stratigraphical data. A hypothesis that these structures are in fact of metazoanaffinities in Palaeoproterozoic rocks is incongruent with the oldest records of metazoan fossils. Another possibility,more likely, is that the structures are not organic-related, and its genesis is so far unknown. Preliminary laboratoryexperiments, however, advocate the difficulty to generate similar structures by abiotic processes.

    Key words: Trace fossils, metazoan, Precambrian biotas, Quadriltero Ferrfero.

    INTRODUO

    Os icnofsseis possuem diversas aplicaes. Dependen-do do icnotxon envolvido, podem ser indicadores paleocli-mticos, de ambientes de sedimentao ou de taxas de depo-

    sio, podem servir de referncia de base e topo de camadas,alm de delimitar paleopavimentos. Podem tambm ser regis-tros vlidos da presena de um determinado txon (geral-mente apenas em uma categoria superior, acima do nvel degnero) e de seus hbitos, e eventualmente serem utilizados

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    leste de sua sobreposio com o rio Paraopeba, na poronoroeste do Quadriltero Ferrfero.

    A estratigrafia do Quadriltero Ferrfero foi inicialmenteestabelecida por Dorr (1969), podendo ser subdividida emcinco unidades litoestratigrficas: terrenos granito-gnissi-cos, Supergrupo Rio das Velhas, Supergrupo Minas, intrusi-vas ps-Minas e Grupo Itacolomi (Figura 2).

    Tanto os terrenos granito-gnissicos como as rochasdo Supergrupo Rio das Velhas podem servir de embasa-mento para as unidades do Supergrupo Minas. Os terrenosgranito-gnissicos compem vrios complexos de rochascristalinas arqueanas, normalmente englobando gnaissestonalticos a granodiorticos migmatitizados. Terrenos gre-enstone arqueanos associados a rochas metassedimenta-res compem o Supergrupo Rio das Velhas, subdivididonos grupos Nova Lima, na base, e Maquin, no topo. Oprimeiro compreende seqncias metavulcnicas, com ba-saltos e komatiitos, alm de formaes ferrferas bandadasdo tipo Algoma, metapelitos e carbonatos, enquanto que osegundo corresponde a uma unidade clstica, onde predo-minam rochas quartzticas.

    A estruturao do Quadriltero Ferrfero definida peloarranjo de sinclinais orientados segundo as direes NE-SW, N-S e E-W onde afloram os sedimentos plataformais doSupergrupo Minas, determinando sua forma aproximadamentequadrangular. Essa seqncia se destaca no relevo, sendomais resistente ao intemperismo que as rochas dos terrenosgranito-greenstone subjacentes.

    como guias para algumas amplitudes temporais. Icnofsseiscomeam a ser abundantes no final do Proterozico, quandosurgem organismos complexos em profuso, capazes de re-trabalhar ativamente os sedimentos.

    Nesse estudo so descritas estruturas sedimentares com-parveis a icnitos de metazorios, em rochas paleoprotero-zicas da Formao Cercadinho (Grupo Piracicaba, Super-grupo Minas) do Quadriltero Ferrfero, Estado de MinasGerais. Entretanto, a ocorrncia de icnofsseis em rochas toantigas muito improvvel, devido ausncia de evidnciasde vida de metazorios nesse tempo (ver, e.g., Fedonkin, 1990;Crimes, 1994; Narbonne, 2005; Peterson & Butterfield, 2005),o que abre um debate sobre o significado e gnese das estru-turas observadas. Portanto, alm de descrev-las, o objetivodeste trabalho discutir, a partir de diferentes cenrios hipo-tticos, a natureza de tais estruturas.

    CONTEXTO GEOLGICO

    O acesso ao afloramento que contm as estruturas se dprximo localidade de Fecho do Funil, entre as cidades deMrio Campos e Brumadinho, a menos de 42 km a sudoesteda capital do Estado (Figura 1). O afloramento se localiza nascoordenadas UTM Zona 23K 582.972E, 7.777.731N (datumCrrego Alegre), ao longo de um gasoduto da Petrobrs, nachamada serra dos Franceses. Essa feio fisiogrfica se en-contra no setor intermedirio do segmento ocidental da serrado Curral, a oeste da juno com o sinclinal da Moeda e a

    Figura 1. Mapa de localizao e acesso, indicando a posio do mapa geolgico da Figura 3.

    Figure 1. Situation map, showing the location of the geological map in Figure 3.

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  • 357MORATO ET AL. ICNOFSSEIS NO PALEOPROTEROZICO DE MINAS GERAIS?

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    Dorr (1969) subdividiu o Supergrupo Minas nos gruposCaraa, Itabira e Piracicaba. As unidades basais compreen-dem conglomerados e arenitos fluviais, passando a pelitosde ambiente marinho raso, que compem, respectivamente,as formaes Moeda e Batatal, do Grupo Caraa. O GrupoItabira apresenta na base formaes ferrferas bandadas dotipo Lago Superior, alm de corpos de hematita compacta efilitos, compondo a Formao Cau, seguindo-se por umaseqncia predominantemente carbontica, depositada emguas rasas, que determina a Formao Gandarela, cujo mem-bro intermedirio apresenta estromatlitos em hemisferideslateralmente ligados e onclitos. O contato superior com oGrupo Piracicaba se d por uma discordncia angular e erosi-va, podendo ocasionar a total supresso da Formao Gan-darela em algumas localidades.

    O Grupo Piracicaba subdividido em quatro formaes.A unidade basal a Formao Cercadinho, composta pormetarenitos e quartzitos ferruginosos, intercalados a filitossericticos. A Formao Fecho do Funil apresenta mrmoresdolomticos com vestgios de estruturas estromatolticas, almde filitos quartzosos e dolomticos. Seguem-se duas forma-

    es de pouca espessura, denominadas Taboes, com pre-domnio de ortoquartzitos, e Barreiro, com filitos grafitosos.

    Sobreposto a essas unidades ocorre ainda o Grupo Saba-r, definido como formao do Grupo Piracicaba por Dorr (1969),e composto por unidades de origem vulcnica e vulcanocls-tica de posio estratigrfica ainda incerta. Metassedimentosde composio arcosiana compem o Grupo Itacolomi, consi-derado uma seqncia molssica, embora sua ocorrncia, pre-dominantemente na forma de blocos alctones, dificulta o es-tabelecimento de seu posicionamento estratigrfico.

    Rochas intrusivas, incluindo pequenos veios pegmatti-cos e diques bsicos, podem cortar parte ou toda a seqncia.Alguns dos pltons granitides que cortam os complexos gra-nito-gnissicos podem ser tambm posteriores deposiodo Supergrupo Minas (Alkmin & Marshak, 1998). Silva et al.(2002) interpretam parte das rochas previamente referidas comode terrenos granito-gnissicos do embasamento ao sul e lestedo Quadriltero Ferrfero como produtos de magmatismos pr-a sincolisionais na estruturao da regio.

    As rochas do Quadriltero Ferrfero apresentam metamor-fismo de grau xisto-verde baixo a anfiboltico, tendo sidoafetadas ao menos pelos eventos transamaznico (~2,1 Ga) ebrasiliano (~0,6 Ga). Diversos autores (e.g., Romano, 1989;Babinski et al., 1995; Machado et al., 1996; Alkmim & Mar-shak, 1998; Silva et al., 2002) indicam que o primeiro eventoteria tido papel principal no metamorfismo regional, pormCaby (2000) sugere a formao de associaes minerais sin-metamrficas exclusivamente durante o evento brasiliano.

    Geologia da serra dos FrancesesNa regio da serra dos Franceses, o embasamento re-

    presentado pelas rochas do Gnaisse Souza Noschese, quefazem parte do Complexo Bonfim. Esse complexo compreen-de gnaisses e granito-gnaisses ortoderivados de composi-o grantica a granodiortica, cortados por diques pegmat-ticos e aplitos deformados. O contato com as rochas supra-crustais do Supergrupo Minas tectnico, com a presenade zonas de cisalhamento.

    O mapeamento da regio (Figura 3) revelou que o Super-grupo Minas est representado por quase toda a seqncia,composto pelos grupos Caraa, Itabira, Piracicaba e Sabar.Acima desses, o Grupo Itacolomi est ausente.

    Caracterizado como uma seqncia clstica progradante,o Grupo Caraa apresenta as formaes Moeda e Batatal,embora ambas aflorem de forma descontnua. A seqnciafiltica de topo praticamente individualizada apenas por seusprodutos de alterao e formas de relevo associadas. NoGrupo Itabira, quartzoitabiritos e itabiritos anfibolticos (alte-rados) da Formao Cau afloram razoavelmente, marcandoa crista da serra. A ocorrncia da Formao Gandarela ates-tada por afloramentos de rochas dolomticas, de cor arroxea-da a esverdeada, embora seu contato com a Formao Cauno seja evidente: a gradao entre essas unidades pode sedar em uma ampla faixa. O contato foi determinado pelo desa-parecimento dos quartzoitabiritos e pelo rebaixamento dorelevo, provavelmente relacionado alterao dos itabiritosdolomticos da Formao Gandarela.

    Figura 2. Litoestratigrafia do Quadriltero Ferrfero (poro orien-

    tal, direita; poro ocidental, esquerda) e algumas idades radio-

    mtricas disponveis (modificado de Alkmin & Marshak, 1998).

    Figure 2. Lithostratigraphy of Quadriltero Ferrfero (eastern part

    at right, western part at left), and some available radiometric ages

    (modified of Alkmin & Marshak, 1998).

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    Essa situao tambm obscurece as relaes de contatoda Formao Gandarela com as rochas da Formao Cercadi-nho, base do Grupo Piracicaba, embora a passagem de umaunidade para a outra fique clara na variao do relevo. Asrochas mais competentes da Formao Cercadinho formamuma nova escarpa de serra. Situao semelhante ocorre emdiversas reas do Quadriltero Ferrfero (Dorr, 1969), mas deforma geral possvel inferir que ocorra uma discordnciaerosiva entre as duas unidades.

    A Formao Cercadinho apresenta metarenitos, quartzitose filitos ferruginosos. C. M. Noce (com. pess.) indica tambm aocorrncia de rochas carbonticas nessa Formao, no seg-mento ocidental da serra do Curral, podendo representar ativi-dade orgnica. Os metarenitos apresentam bandamento com-posicional com nveis quartzosos e hematticos, bem comovariao granulomtrica, podendo tambm apresentar estru-turas sedimentares preservadas, como estratificaes plano-paralelas e cruzadas tangenciais e acanaladas. A laminao marcada por nveis ferruginosos finos. Os quartzitos so ge-ralmente bem selecionados, de granulao fina a mdia, comclastos arredondados de quartzo, magnetita e hematita. J osfilitos so principalmente sericticos, de cor esverdeada, aflo-rando em vrios locais, pouco alterado, em camadas poucoespessas, intercaladas aos nveis arenosos.

    Na rea de estudo, as unidades superiores FormaoCercadinho se encontram bastante alteradas, ou se apresen-tam aflorantes de forma restrita. A Formao Fecho do Funilapresenta metassiltitos carbonticos bandados e filitos do-lomticos de cor cinza, muitas vezes alterados a solos aver-melhados em terrenos rebaixados. So encontrados aflora-mentos restritos de dolomitos macios, extremamente recris-talizados, de colorao arroxeada a esverdeada. A FormaoTaboes tem pouca espessura, no se destacando no rele-vo; ela composta predominantemente por quartzitos finos,puros, equigranulares, de colorao cinza-oliva a branca. Se-gue-se a Formao Barreiro, com filitos grafitosos de colora-o cinza-escuro, devido presena de material carbonoso.

    O Grupo Sabar ocorre indiviso, com littipos diversos.Ele apresenta quartzitos, grauvacas lticas com fragmentosde filitos, quartzitos ferruginosos, filitos e xistos, extrema-mente intemperizados.

    DESCRIO DAS ESTRUTURAS

    Durante os trabalhos de mapeamento geolgico da serrados Franceses, duas estruturas parablicas de dimenses cen-timtricas foram observadas em nveis distintos, separadaspor poucos metros uma da outra, em um mesmo afloramento

    Figura 3. Mapa geolgico local e seo N-S da serra dos Franceses.

    Figure 3. Local geological map and N-S section through the Franceses Hills.

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  • 359MORATO ET AL. ICNOFSSEIS NO PALEOPROTEROZICO DE MINAS GERAIS?

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    mento ativo durante seu deslocamento, em sedimentos semi-consolidados e recm-exumados no leito marinho. Entretan-to, a preservao dessas estruturas inferiores menos nti-da, e essa interpretao no conclusiva, uma vez que elaspoderiam tambm ser interpretadas como pseudondulos ouestruturas em bola-e-almofada e marcas de calha, associadasa estruturas de carga ou dobras convolutas, de origem abi-tica (ver Collinson & Thompson, 1989).

    DISCUSSO

    A gnese e significado de tais estruturas nas rochas doQuadriltero Ferrfero levam formulao imediata de trshipteses:

    Evidncias de vida macroscpica no ProterozicoA primeira hiptese parte do pressuposto que a origem

    das estruturas de fato biognica, bem como a idade dasrochas paleoproterozica. Assim, os supostos icnofsseis

    de metarenitos da Formao Cercadinho. Certamente as estru-turas no so mais jovens que a rocha, um problema que foinotado em alguns casos de icnofsseis propostos para ro-chas muito antigas (e.g., Cloud et al., 1980). Elas no foramcoletadas para permitir observaes posteriores, in loco.

    A primeira estrutura (Figura 4) apresenta-se como umaescavao perpendicular em relao ao plano de acamamen-to. Suas paredes externas so bem delimitadas, verticais esubparalelas no topo, convergindo-se na base, gerando umcontorno parablico. No se observam ramificaes, nemestruturas equivalentes a spreite em seu interior: a laminaointerna geralmente desordenada, a no ser por algumaslminas tnues prximas base, que acompanham o contor-no externo, sugerindo um tubo em forma de U de preenchi-mento passivo. Toda a estrutura atinge at 1,4 cm de largurae cerca de 4,5 cm de altura, mas o dimetro dos tubos indivi-duais seria prximo dos 4 mm, medido no vrtice da estrutu-ra, embora por efeito de corte os tubos verticais no pareamter muito mais que 2 mm de largura. Essa descrio enquadra-se, em diversos aspectos, na diagnose do icnognero Areni-colites Salter, 1857, considerado como estruturas biognicasde habitao ou alimentao, embora as dimenses reporta-das sejam menores que as de diversos espcimes fanerozi-cos reconhecidos (ver Abreu et al., 1993; Netto, 2002; Fer-nandes et al., 2002; McIlroy & Garton, 1994; Fernandes &Carvalho, 2006).

    A segunda estrutura (Figura 5) uma escavao verticalretilnea, talvez cilndrica, perpendicular ao plano de acama-mento, sem lineaes de bordo ou ramificaes. Atinge at1,7 cm de largura e 6,7 cm de altura, sendo registrada comouma srie de perturbaes parablicas em forma de chevronna laminao, com concavidades voltadas para cima, de am-plitude cada vez menor em direo ascendente, e apresentamcontinuidade com a estratificao ao redor. As estruturasrepresentam colapso de material sedimentar durante a depo-sio, e so compatveis com estruturas de fuga de organis-mos (ver Abreu et al., 1993; Bromley, 1996; Fernandes et al.,2002), preservadas como endichnia (Martinsson, 1970). Osmeniscos na laminao mostram espaamento irregular, po-rm acompanham a distribuio das camadas. Mesmo queessa irregularidade algumas vezes possa refletir uma modifi-cao comportamental de um organismo, provavelmente re-sultante de uma reao no homogeneidade do sedimento(Frsich, 1974), esse no parece ser o caso. A reduo daamplitude das concavidades na laminao, visvel na partesuperior das estruturas descritas, parece indicar tambm umareduo do espao disponvel para o material sedimentarposterior, ou taxas de sedimentao mais rpidas, que podemestar associadas tambm ausncia de um organismo nofinal da sedimentao.

    Abaixo de ambas as estruturas, ocorrem ainda outras es-truturas de revolvimento na laminao, em nveis mais ci-mentados por xidos de ferro. Em seo, elas se apresentamcomo concavidades delimitadas por lminas ferruginosas maisespessas, como um revestimento peletoidal, associadas apequenas ondulaes. Essas perturbaes podem ser asso-ciadas atividade escavatria de organismos, com preenchi-

    Figura 4. Fotografia de campo (A) e desenho esquemtico (B) de

    uma escavao semelhante a Arenicolites preservada em seo

    perpendicular ao acamamento. A seta aponta outras estruturas

    associadas, possivelmente um pseudondulo acompanhado de

    pequenas dobras convolutas. Escala = 2,7 cm de dimetro.

    Figure 4. Field photography (A) and schematic drawing (B) of an

    Arenicolites-like excavation, preserved in a section perpendicular

    to bedding plane. Arrow points to associated structures, possibly

    a pseudo-nodule with small convolute folds. Scale = 2.7 cm in

    diameter.

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    da Formao Cercadinho seriam o mais antigo indcio de vidamulticelular e/ou macroscpica com mobilidade. Essa hip-tese, entretanto, incongruente com o registro fssil globale com as teorias de origem dos metazorios.

    Icnofsseis com idades semelhantes so raros e polmi-cos. Hofmann (1967) descreveu estruturas que julgou comode origem orgnica em rochas de cerca de 2,2 Ga do Canad,mas posteriormente reconsiderou essa interpretao (Hof-mann, 1971). Outras ocorrncias possveis, embora isoladase discutveis, iro ocorrer apenas no Meso- a Neoproterozi-co do Canad, Nambia e ndia (e.g., Arya & Rao, 1979; Hof-mann & Aitken, 1979; Killick, 1983; Seilacher et al., 1998). Osicnofsseis apresentam um aumento em diversidade e abun-dncia apenas prximo ao limite entre o Proterozico e o Fa-nerozico (Crimes, 1994; Jensen, 2003).

    Poucos so os possveis organismos macroscpicos co-nhecidos com idade similar da Formao Cercadinho, e seuregistro ainda bastante discutido. Um exemplo recorrente Grypania spiralis (Walcott) Walter, Oehler & Oehler, 1990.Corresponde a filamentos septados, de largura entre 0,5 e 2,1mm e atingindo vrios centmetros de comprimento. A formamais comum de preservao espiralada, com um dimetro

    mximo de 3,2 cm, mas pode se apresentar reta, curva, ou atmesmo formando um anel circular. Han & Runnegar (1992)reportaram espcimes com 2,1 Ga, na Formao Ferrfera Ne-gaunee, em Michigan, Estados Unidos.

    As afinidades biolgicas desse morftipo so controver-sas. Originalmente, Grypania foi interpretado como uma trilhade metazorios, pertencente ao icnognero Helminthoidichni-tes Fitch, 1850, mas tambm j foi considerado como um anel-deo, cianobactria ou mesmo uma alga eucaritica megascpica(Kumar, 1995). A maior parte dos registros de organismos ma-croscpicos anteriores ao Neoproterozico parecem ser relacio-nados com floras, como algas planctnicas. Mesmo que a ocor-rncia de formas espiraladas e retilneas possa sugerir movi-mento, como ocorre com Grypania, essas feies tambm po-dem resultar da decomposio dos organismos, e no represen-tar capacidade de escavao ativa de sedimentos.

    As mais antigas e diversificadas faunas de fsseis demetazorios megascpicos so ediacarianas, presentes en-tre 542 e 575 Ma (Narbonne, 2005) e representadas predomi-nantemente por criaturas de forma discide (medusides) oupinulada. Nelas podem estar presentes formas ancestrais decnidrios, aneldeos e artrpodes (Glaessner, 1984), embora

    Figura 5. Fotografia de campo (A) e desenho esquemtico (B) de uma estrutura de escape preservada em seo perpendicular ao

    acamamento. A seta aponta outra estrutura associada, possivelmente uma marca de calha. Escala = 2,7 cm de dimetro.

    Figure 5. Field photography (A) and schematic drawing (B) of an escape structure preserved in a section perpendicular to bedding plane.

    Arrow points to associated structure, maybe a gutter cast. Scale = 2.7 cm in diameter.

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  • 361MORATO ET AL. ICNOFSSEIS NO PALEOPROTEROZICO DE MINAS GERAIS?

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    essa interpretao seja criticada (e.g., Seilacher, 1992; Brasier& Antcliffe, 2004). Apesar de no haverem muitos vestgiosanteriores, certamente os metazorios se originaram anterior-mente a essas faunas, e sua origem relacionada ao declniodas comunidades de estromatlitos, a partir de 1 Ga, e inten-sificado entre 800 e 700 Ma (Walter & Heys, 1985). Seu surgi-mento deve ser condicionado tambm pela disponibilidadede oxignio na Terra, embora haja evidncias para um sbitoaumento das presses de O

    2 no intervalo entre 2,2 e 1,8 Ga

    (Knoll & Holland, 1995).

    A idade da Formao CercadinhoA segunda hiptese surge como conseqncia natural

    das observaes anteriores: as rochas que contm as estru-turas tidas como biognicas teriam idade mais nova que aconsiderada anteriormente. A Formao Cercadinho (ou par-te dela) e unidades sobrejacentes poderiam ser talvez crono-correlatas ao Grupo Bambu (de idade neoproterozica, verBabisnki et al., 1993b; Babinski, 2005), com um hiato de maisde 1,5 Ga entre essas unidades e o topo do Grupo Itabira.

    Entretanto, existe uma grande variedade de empecilhos paraesse cenrio. Algumas limitaes, por exemplo, so de ordemestratigrfica. O Grupo Itacolomi, que se sobrepe ao Supergru-po Minas, geralmente correlacionado com o Supergrupo Espi-nhao, cuja deposio se inicia no final do Paleoproterozico ese estende durante o Mesoproterozico. Mas esse problemapode ser contornado, uma vez que o Grupo Itacolomi no temexposio na serra do Curral e, portanto, nesse aspecto, partedas unidades mapeadas nessa rea como Formao Cercadinhopoderia representar um sistema mais jovem.

    O Grupo Sabar representa uma unidade de difcil posici-onamento estratigrfico, mas geralmente considerado comotopo do Supergrupo Minas. O padro de idades para zircesdetrticos desse grupo apresenta semelhanas com o do Gru-po Itacolomi e Supergrupo Espinhao (Machado et al., 1989,1993; Machado & Noce, 1993), sugerindo que as mesmaspartes de embasamento estariam disponveis como reas-fon-te para essas unidades. Ainda, Machado et al. (1989, 1992),baseados em dataes U/Pb de zirces detrticos, interpreta-ram a idade mxima de deposio dessa unidade em 2.125 4Ma, impondo-a como limite de deposio para as formaesinferiores, incluindo a Formao Cercadinho.

    Rochas carbonticas das unidades estratigraficamenteadjacentes Formao Cercadinho, as formaes Gandarelae Fecho do Funil, tambm foram datadas (Babinski et al.,1993a, 1995). As idades mnimas obtidas por iscronas Pb/Pb(2.420 19 e 2.110 110 Ma, respectivamente) corroboram osdados anteriores de zirces detrticos, e restringem a deposi-o da Formao Cercadinho nesse intervalo. A FormaoGandarela intimamente relacionada com as formaes ferr-feras, e sua idade vinculada correlao desses depsitosem diversos locais do mundo. Babisnki et al. (1993a) assu-mem uma idade de deposio mxima para a Formao Cauem cerca de 2,5 Ga, concordante com as idades de outrasformaes ferrferas na frica do Sul e Austrlia.

    Anlises de istopos estveis das rochas carbonticas doQuadriltero Ferrfero (Sial et al., 2000) apresentam correlaes

    que tambm so coerentes com as dataes Pb/Pb. As rochasda Formao Fecho do Funil, especificamente, apresentaramdados compatveis com a anomalia positiva de 13C Lomagundi,tpica no Paleoproterozico. Entretanto, anomalias positivas demagnitude semelhante tambm ocorrem em diversos picos noperodo entre 500 e 750 Ma (Hoffman et al., 1998).

    Dataes LA-ICPMS 207Pb/206Pb em zirces detrticos daprpria Formao Cercadinho (Machado et al., 1996), de amos-tras do segmento oriental da serra do Curral, apresentaramidades similares s dos zirces do Grupo Caraa, que suge-rem reas-fonte similares, do Arqueano. Os dados para osgrupos Sabar e Itacolomi apresentam padres distintos, comuma contribuio de detritos derivados de terrenos forma-dos durante o evento transamaznico. Esses dados tambmesto de acordo com uma idade paleoproterozica para aFormao Cercadinho.

    Veios pegmatticos que cortam o Supergrupo Minas nun-ca foram datados, mas corpos similares no embasamentoapresentaram idades U/Pb em monazitas de 2,06 Ga (Noce,1995). Dataes de rochas que efetivamente cortam toda aseqncia foram provenientes de um dique mfico, localiza-do na regio central da serra do Curral, e datado em 1,714 Ga(Silva et al., 1995).

    Baseados nos dados Rb/Sr para o metamorfismo das ro-chas do embasamento cristalino, alguns autores (e.g. Corda-ni et al., 1980) argumentam que a deposio do SupergrupoMinas necessariamente deve ter ocorrido antes do principalevento metamrfico, de idade transamaznica (~2,1 Ga), queafetou regionalmente o Quadriltero Ferrfero. Muito emboraas rochas arenceas da Formao Cercadinho na serra dosFranceses apresentem estruturas sedimentares muito bempreservadas, a ocorrncia de filitos deformados e rochas car-bonticas recristalizadas nas proximidades atestam o meta-morfismo na regio. Romano (1989), em estudo abrangendo aporo ocidental da serra do Curral, confirma metamorfismona fcies xisto-verde, expresso no desenvolvimento de seri-cita, identificando ainda almandina em quartzitos da Forma-o Cercadinho. Segundo ele, no possvel identificar oevento brasiliano, sendo esse metamorfismo produto do even-to transamaznico, e talvez tendo alguma influncia de umevento mesoproterozico (Uruauano).

    Origem abitica: uma nova estrutura sedimentar?A terceira hiptese sobre o significado dessa ocorrncia

    que poderiam se tratar de estruturas sedimentares inorg-nicas. A interpretao de processos geradores fica parcial-mente prejudicada por se conhecerem as estruturas apenasem duas dimenses.

    Descarta-se que as relaes de base e topo das camadasonde as estruturas se encontram tenha sido equivocada, e quesejam perturbaes ascendentes ao invs de representar co-lapso de material. Tais relaes so atestadas pelas estratifica-es tangenciais e pela granodecrescncia ascendente nosestratos onde so encontradas as estruturas, alm de concor-darem com a estratigrafia local. Por esses fatos, a disposiodas estruturas as torna bem distintas de diversas feies abi-ticas de deformao sedimentar reconhecidas, geradas nor-

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    malmente por fluxos liquefeitos, fluidizao ou carga, como,por exemplo, as estruturas em chama, prato, pilar, vulces deareia e diques clsticos (Pettijohn & Potter, 1964; Lowe & Lo-Piccolo, 1974; Allen, 1984; Fritz & Moore, 1988; Collinson &Thompson, 1989), todas geralmente ascendentes. De fato, se afluidizao tivesse sido um processo responsvel pela gera-o das estruturas da Formao Cercadinho, seria esperadoum nmero maior de estruturas semelhantes preservadas. Con-tudo, feies de fluidizao reconhecveis, assim como estra-tos macios e estruturas de piping, no foram observadas emnenhuma camada no afloramento.

    As estruturas tambm no devem ser conseqncia de fei-es de carga ou de choque ssmico, que poderiam gerar espaopara colapso, incluindo estruturas do tipo bola-e-almofada emarcas de calha (Pettijohn & Potter, 1964, Allen, 1984; Fritz &Moore, 1988; Collinson & Thompson, 1989; Bhattacharya &Bandyopadhyay, 1998), que no so registradas associadas atubos colapsados na vertical. Escape de gs tambm pode,eventualmente, produzir estruturas de colapso de sedimentosobre as cavidades deixadas, mas essas so estruturas de muitomenor porte (Allen, 1984; Fritz & Moore, 1988). Por fim, a falta decontinuidade vertical das estruturas nas camadas tambm umimpedimento para tentar explic-las a partir de pequenos movi-mentos tectnicos, como microfalhamentos.

    Embora, com exceo de icnofsseis, no tenha sido pos-svel encontrar at o momento nada semelhante na literatura,poderamos estar lidando com uma estrutura de gnese ain-da desconhecida. A partir de experimentos de sedimentaosimples, efetuados em laboratrio, tentou-se reproduzir asestruturas, simulando processos que poderiam ocorrer deforma abitica, ou que no dependessem de organismos commobilidade, podendo envolver uma clula macroscpica, es-cape de gs ou ainda a formao de cavidades revestidas porlminas peletoidais, posteriormente rompidas. Foi utilizadoum aqurio com 40 cm de comprimento, 20 cm de altura e 3 cmde largura, com gua at a borda. Nele foram depositadascamadas de areia e argila, que por suspenso formaram estra-tos aproximadamente plano-paralelos. Estruturas levementesemelhantes primeira descrita (Figura 6A) foram geradasapenas com escavaes ativas do sedimento, abrindo-seespao na areia com uma chapa metlica. Entre as tentativaspara se gerar a segunda estrutura, foi posicionada na basedo aqurio uma pequena bolsa plstica, preenchida de gs,que foi rompida por uma haste metlica que atravessava osedimento at a superfcie. O colapso de sedimento s foiobtido quando a haste era removida, o que permitia que ogs escapasse, e as estruturas geradas no possuam pare-des bem marcadas, com a laminao se assemelhando mais auma curva senoidal, sem quebras em chevron (Figura 6B).Esses experimentos, embora preliminares, sugerem a dificul-dade de se gerar estruturas semelhantes de forma abitica.

    CONSIDERAES FINAIS

    Aparentemente, a hiptese de que as estruturas desco-bertas na Formao Cercadinho se tratem de feies sedi-mentares abiticas parece ser a mais provvel. Essa situa-

    o, contudo, resulta muito mais dos empecilhos apresenta-dos s outras proposies que de argumentos prprios. Ne-nhuma das hipteses levantadas pode ser descartada defini-tivamente sem recorrer a consideraes preconcebidas, e nocaso de tentar se provar que as estruturas possuem origemabitica, novos mecanismos geradores e processos preci-sam ser propostos e testados.

    A proposio de que parte do Supergrupo Minas teriaidade mais jovem que a atualmente considerada ainda podeser mais detalhadamente averiguada, incluindo novas data-es. Muitos dados devero ser revistos e amostragens efe-tuadas, em especial ao redor do segmento ocidental da serrado Curral. Algumas das anlises efetuadas anteriormente,feitas em outros segmentos do Quadriltero Ferrfero, foramampliadas para toda a regio, em uma simplificao que podeesconder relaes temporais muito mais complexas.

    Por outro lado, abre-se um novo leque de consideraesa serem feitas, se confirmada a idade e a origem bitica des-sas estruturas. Elas teriam sido produzidas por organismosainda no identificados no registro sedimentar, e tentar con-ceb-los ainda apenas matria de especulaes.

    Embora muitos estudos geolgicos tenham sido efetua-dos no Quadriltero Ferrfero, provavelmente os mapeamen-tos mais detalhados se concentraram nos depsitos de min-rio, dando menor nfase s demais unidades do SupergrupoMinas. Alm disso, pela idade estimada das rochas da Forma-o Cercadinho, os estudos realizados nesses depsitos pro-vavelmente nunca tiveram por objetivo buscar evidncias ma-croscpicas de vida, e mesmo estruturas semelhantes podemter passado desapercebidas. fundamental, pois, encontrarnovas ocorrncias dessas estruturas na Formao Cercadi-nho, para uma anlise mais acurada sobre sua gnese.

    Figura 6. Exemplos de estruturas obtidas em experimentos de

    sedimentao, efetuados em laboratrio: estrutura provocada por

    escavao ativa de sedimento (A) e colapso de sedimentos indu-

    zido por escape de gs (B).

    Figure 6. Examples of sedimentary structures obtained in labora-

    tory experiments: structure produced by active burrowing (A) and

    collapse of sediments induced by gas scape (B).

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  • 363MORATO ET AL. ICNOFSSEIS NO PALEOPROTEROZICO DE MINAS GERAIS?

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    AGRADECIMENTOS

    As estruturas foram descobertas durante o mapeamen-to geolgico da serra dos Franceses, trabalho realizado paraa Ferteco Minerao S.A., Companhia Vale do Rio Doce, edesenvolvido em parceria com a Universidade Federal deMinas Gerais. O autor snior grato ao CNPq por conces-so de bolsa. Agradecemos a Thomas R. Fairchild (IGc/USP),Antnio Carlos S. Fernandes (MN/UFRJ), Leonardo Borghi(IGEO/UFRJ), Renata G. Netto (UNISINOS), Eduardo A. M.Koutsoukos (Petrobrs/CENPES), Carlos Maurcio Noce(IGC/UFMG), Antnio Wilson Romano (IGC/UFMG), Ant-nio Carlos Pedrosa Soares (IGC/UFMG), Michael Holz (IG/UFRGS) e dois revisores annimos por sugestes e crticas.Jlio Seara e Marcelo Rossi (Ferteco S.A.) nos apoiaram emcampo. Finalmente, agradecemos a Rafael Emlio Lopes, queauxiliou na construo do aqurio utilizado nos experimen-tos. Este trabalho foi uma contribuio ao XIX CongressoBrasileiro de Paleontologia/VI Congresso Latino-america-no de Paleontologia, ocorrido em Aracaj, SE, em agosto de2005.

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