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IDENTIFICAÇÃO DE AREAS DESMATADAS NO CERRADO BRASILEIRO COM AVANÇO DA AGRICULTURA. IDENTIFICATION OF AREAS CLEARED IN ADVANCE WITH BRAZILIAN SAVANNAH AGRICULTURE SANTANA¹, Márcia Nayane ¹ Graduanda do Curso Tecnológico em Gestão Ambiental. [email protected] RESUMO O presente trabalho consiste em apresentar dados referentes às áreas desmatadas decorrentes do avanço das atividades da agricultura no decorrer das décadas de 1980 a 2009. Para tanto, estudos sobre a ocupação do cerrado enfatizando alguns aspectos sócio- econômicos e políticos que sugerem entendimento de como se deu a configuração territorial nessas áreas, e quais foram suas implicações mediante a inserção de políticas governamentais atreladas ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975), como o Programa para o Desenvolvimento do Cerrado (POLOCENTRO), Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER). Conseqüentemente, desde a década de 1970, os solos dos cerrados vêm passando por processo degratativos via implementação de técnicas importadas que foram sendo introduzidas na agricultura brasileira. Isso reduziu drasticamente as áreas de vegetação nativa, colocando em risco a sobrevivência de várias espécies, devido ao não uso sustentável de seus recursos naturais. Atualmente, o cerrado ainda vem sofrendo todo tipo de agressões provinientes das práticas antrópicas, induzidas pelo poder econômico, na procura de aumento de áreas para a expansão da agricultura. Metodologia utilizada consistiu em revisão da literatura que aborda sobre o assunto, na utilização de imagens de satélite, consulta eletrônicas a órgãos oficiais, programas computacionais tais como Word, Arcgis, Envi, Excell. Os dados obtidos foram catalogados, organizados e sistematizados e representados em tabelas e gráficos. Conclui-se que nas regiões sudeste, sudoeste e noroeste, onde são encontradas as áreas de maior representatividade territorial, quanto ao desmatamento e desenvolvimento agrário. Palavras-chave: Cerrado, Desmatamento, Agricultura Brasileira, Geoprocessamento. ABSTRACT The present work is to present data on deforested areas arising from the progress of the activities of agriculture during the decades from 1980 to 2009. Thus, studies on the occupation of some cerrado emphasizing socio-economic and political understanding as to suggest was the territorial configuration in these areas, and what were its implications on the integration of government policies linked to the National Development Plan II (1975) and the Program for the Development of the Cerrado (POLOCENTRO), Program for Japanese-Brazilian Cooperation for the Development of the Cerrado (PRODEC). Consequently, since the 1970s, the soils have been closed through the process degratativos track implementation of techniques that have been imported introduced in Brazilian agriculture. This drastically reduced the areas of native vegetation, placing at

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IDENTIFICAÇÃO DE AREAS DESMATADAS NO CERRADO

BRASILEIRO COM AVANÇO DA AGRICULTURA.

IDENTIFICATION OF AREAS CLEARED IN ADVANCE WITH BRAZILIAN SAVANNAH AGRICULTURE

SANTANA¹, Márcia Nayane ¹ Graduanda do Curso Tecnológico em Gestão Ambiental. [email protected] RESUMO O presente trabalho consiste em apresentar dados referentes às áreas desmatadas decorrentes do avanço das atividades da agricultura no decorrer das décadas de 1980 a 2009. Para tanto, estudos sobre a ocupação do cerrado enfatizando alguns aspectos sócio-econômicos e políticos que sugerem entendimento de como se deu a configuração territorial nessas áreas, e quais foram suas implicações mediante a inserção de políticas governamentais atreladas ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975), como o Programa para o Desenvolvimento do Cerrado (POLOCENTRO), Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER). Conseqüentemente, desde a década de 1970, os solos dos cerrados vêm passando por processo degratativos via implementação de técnicas importadas que foram sendo introduzidas na agricultura brasileira. Isso reduziu drasticamente as áreas de vegetação nativa, colocando em risco a sobrevivência de várias espécies, devido ao não uso sustentável de seus recursos naturais. Atualmente, o cerrado ainda vem sofrendo todo tipo de agressões provinientes das práticas antrópicas, induzidas pelo poder econômico, na procura de aumento de áreas para a expansão da agricultura. Metodologia utilizada consistiu em revisão da literatura que aborda sobre o assunto, na utilização de imagens de satélite, consulta eletrônicas a órgãos oficiais, programas computacionais tais como Word, Arcgis, Envi, Excell. Os dados obtidos foram catalogados, organizados e sistematizados e representados em tabelas e gráficos. Conclui-se que nas regiões sudeste, sudoeste e noroeste, onde são encontradas as áreas de maior representatividade territorial, quanto ao desmatamento e desenvolvimento agrário. Palavras-chave: Cerrado, Desmatamento, Agricultura Brasileira, Geoprocessamento. ABSTRACT The present work is to present data on deforested areas arising from the progress of the activities of agriculture during the decades from 1980 to 2009. Thus, studies on the occupation of some cerrado emphasizing socio-economic and political understanding as to suggest was the territorial configuration in these areas, and what were its implications on the integration of government policies linked to the National Development Plan II (1975) and the Program for the Development of the Cerrado (POLOCENTRO), Program for Japanese-Brazilian Cooperation for the Development of the Cerrado (PRODEC). Consequently, since the 1970s, the soils have been closed through the process degratativos track implementation of techniques that have been imported introduced in Brazilian agriculture. This drastically reduced the areas of native vegetation, placing at

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risk the survival of many species due to non-sustainable use of natural resources. Currently, the cerrado is still suffering every kind of human aggression provinientes practice, influenced by the economic power in areas of increased demand for the expansion of agriculture. Methodology was to review the literature on the subject it addresses, the use of satellite images, consult the official electronic, computer programs such as Word, Arcgis, Envi, Excel. The data were cataloged, organized and systematized and represented in tables and graphs. It is concluded that in regions southeast, southwest and northwest, where they found the areas of territorial representation, as the deforestation and agricultural develompmente. Key words: Savannah, Deforestation, Brazilian Agriculture, Geoprocessing. INTRODUÇÃO

Os estudos sobre a ocupação dos cerrados enfatizam alguns aspectos sócio-

econômicos e políticos, que sugerem entendimento de como se deu a configuração da

região e quais foram suas implicações mediante a inserção de políticas governamentais,

principalmente na região central do pais, como o Polocentro – Programa para o

Desenvolvimento do Cerrado e o Prodecer – Programa de Cooperação Nipo-Brasileira

para o Desenvolvimento do Cerrado, além de projetos introduzidos de forma inadequada

e impostos a região, desconsiderando o seu potencial econômico natural,

descaracterizando a fragilidade da estrutura genética das espécies, ocasionando

degradações, muitas vezes, irreversíveis. Resultaram alterações significativas na

interação do homem e o meio.

O Cerrado é um dos ‘hotspots’ para a conservação da biodiversidade mundial.

Nos últimos anos mais da metade dos seus 2 milhões de km² originais foram degradados

para cultivos de pastagens plantadas e culturas anuais, o mesmo possui a mais rica flora

dentre as savanas do mundo (>7.000 espécies), com alto nível de endemismo. Contendo

uma grande riqueza de espécies de aves, peixes, répteis, anfíbios e insetos, embora a

riqueza de mamíferos seja relativamente pequena, mesmo assim as taxas de

desmatamento no Cerrado têm sido historicamente superiores às da floresta Amazônica e

o esforço de conservação do bioma é muito inferior ao da Amazônia: apenas 2,2% da

área do Cerrado se encontram legalmente protegida. Entretanto as principais ameaças à

biodiversidade do Cerrado são a erosões dos solos, as degradações dos diversos tipos de

vegetação presentes no bioma e a invasão biológica causada por gramíneas de origem

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africana. O uso do fogo para a abertura de áreas virgens e para estimular o rebrotamento

das pastagens também é prejudicial, embora o Cerrado seja um ecossistema adaptado ao

fogo. Mesmo assim á estudos que comprovam que uma alteração na cobertura vegetal

altera a hidrologia do bioma e afetam a dinâmica e os estoques de carbono no

ecossistema.

O clima dessa região é estacional, onde um período chuvoso, que dura de

outubro a março, é seguida por um período seco, de abril a setembro. A precipitação

média anual é de 1.500mm e as temperaturas, são geralmente amenas ao longo do ano,

entre 22°C e 27°C em média. Os remanescentes de Cerrado que existem nos dias de hoje

desenvolveram-se sobre solos muito antigos, intemperizados, ácidos, depauperados de

nutrientes, mas que possuem concentrações elevadas de alumínio (muitos arbustos e

árvores nativos do Cerrado acumulam o alumínio em suas folhas – Haridasan, 1982).

Para torná-los produtivos para fins agrícolas, aplicam-se fertilizante e calcário aos solos

do Cerrado. A pobreza dos solos, portanto, não se constituiu em obstáculo para a

ocupação de grandes extensões de terra pela agricultura moderna, especialmente a cultura

da soja, um dos principais itens da pauta de exportações do Brasil, e as pastagens

plantadas.

Portanto, o problema da degradação dos recursos naturais vem ocorrendo em

ritmo acelerado que algumas regiões já se encontram em estado caótico, apresenta a

destruição de ecossistemas naturais e, conseqüentemente, comprometendo a

biodiversidade, a qualidade de vida do próprio homem e o desenvolvimento econômico.

Desde da década de 70, a região do cerrados vêm passando por processos degradativos

via a implementações de técnicas importadas que foram sendo introduzidas na agricultura

brasileira e outras. Isto reduziu as áreas de vegetação nativa, colocando em risco prévio a

extinção de várias espécies nativas. Devido ao não uso-sustentável de seus recursos

naturais e outras atividades realizadas inadequadamente, comprometendo-o por inteiro.

E a região dos cerrados não foge desta dinâmica, pois atualmente, vem sofrendo todo tipo

de agressões provenientes das práticas antrópicas, devido ao poder econômico, na

procura de maiores extensões de áreas para as diversas atividades dentre eles agricultura

sem atestar para os grandes impactos ambientais posteriores.

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A temática ambiental vem tentando ao longo dos anos buscar alternativas com

intuito de conservar e preservar os recursos naturais. Tanto é que este processo muitas

vezes resulta em conflitos de interesses entre a conservação da natureza, a população

local e o próprio planos regionais, implementados por políticas públicas.

Ressalta-se que as atividades da agricultura intensiva brasileira iniciaram-se

nas regiões sul e sudeste e, que posteriormente essas regiões enfatizam em estado de

esgotamento de terras, as quais propiciaram essa atividade migrar para as áreas do

Centro-Oeste do País, caracterizadas por cerrado. Isto ocorreu devido tanta a sua posição

geográfica quanto a suas características físico-ambientais que propiciaram a expansão

agrícola moderna baseada na tecnologia da “Revolução Verde”.

Dessa forma, de modo geral, a proposta deste trabalho pretende mostrar de

maneira cartográfica as áreas desmatadas no cerrado devido ao avanço das atividades

agrícolas. Para tanto, procedeu-se de levantamento e revisão bibliográfica em livros,

revista e artigos científicos, alguns mapas do IBGE, imagens do satélite MODIS do ano

de 2002.

METODOLOGIA

Um estudo recente,que utilizou imagens do satélite MODIS do ano de 2002,

concluiu que 55% do Cerrado já foram desmatados ou transformados pela ação humana

(Machado et al., 2004a), o que equivale a uma área de 880.000km², ou seja quase três

vezes a área desmatada na Amazônia brasileira. As taxas anuais de desmatamento

também são mais elevadas no Cerrado: entre os anos de 1970 e 1975, o desmatamento

médio no Cerrado foi de 40.000km² por ano – 1,8 vezes a taxa de desmatamento da

Amazônia durante o período 1978–1988 (Klink & Moreira, 2002). As taxas atuais de

desmatamento variam entre 22.000 e 30.000km² por ano (Machado et al., 2004a),

superiores àquelas da Amazônia.

A partir da necessidade de se mapear a cobertura vegetal nativa do Cerrado,

foram utilizadas imagens de satélite do sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging

Spectroradiometer) que está instalado a bordo de dois satélites americanos lançados em

2000: Terra e Aqua. Esse sensor fornece imagens com resolução espacial de 250, 500 e

1.000 metros e com uma resolução espectral variando de 620 nanômetros a 14.385

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micrômetros, num total de 32 bandas. As imagens podem ser geradas com uma

freqüência quase que diária e cobrem uma vasta área geográfica (aproximadamente 2.300

x 2.300 km). Desta forma, apenas seis imagens cobrem toda a área central do Cerrado

(Figura 3 e Figura 4), o que torna essa fonte de informações espaciais muito atrativa para

o monitoramento de grandes regiões geográficas. Maiores detalhes sobre as

características do satélite, das imagens e da disponibilidade podem ser obtidas em

http://modis.gsfc.nasa.gov/.

Embora existam outras iniciativas de mapeamento da cobertura vegetal (Eva

et al. 2002, Hodges 2002) (Figura 5), esse trabalho representa uma das primeiras

iniciativas de mapeamento de um bioma específico de uma maneira mais precisa do que

os trabalhos globais.

Um mosaico de imagens MODIS obtidas entre abril e agosto de 2002 foi feito

para toda a área core do Cerrado (Figura 2). Um total de 9 imagens do tipo MOD43b4

(h12v9, h13v9, h14v9, h12v10, h13v10, h14v10, h12v11, h13v11, h14v11) foram

utilizadas na construção do mosaico, que tinha a resolução espacial de 1 km 1 km

(dimensão de cada célula da imagem). Apenas a área core de Cerrado foi considerada nas

análises. Por problemas no imageamento do sensor, a banda 5 (infra-vermelho médio) foi

substituída pelo NDVI (índice normalizado de vegetação) gerado com a combinação das

bandas 1 e 2 do MODIS. Uma vez que as imagens MODIS já vêm geo-referenciadas, nós

simplesmente reprojetamos o mosaico para o sistema lat/long.

Foram definidas seis classes temáticas baseadas na sensibilidade do sensor, no

conhecimento de campo e nas análises de imagens LANDSAT disponíveis. As classes

utilizadas foram: Áreas antrópicas sem cobertura de vegetação nativa; Áreas naturais em

terrenos nunca inundados; Áreas naturais em terrenos sazonalmente ou permanentemente

inundados; Água; Superfícies naturalmente sem vegetação nativa; Áreas não classificadas

A classificação do mosaico de imagens foi do tipo supervisionada (Mather

1987, Richards 1993), onde conjuntos de pixels (células) correspondentes às classes

citadas acima foram selecionados para a extração de alguns parâmetros estatísticos.

Utilizamos a rotina de classificação por máxima verossimilhança (MAXLIKE) e o

programa Imagine ERDAS (versão 8.6). Uma vez que não foram realizados trabalhos de

campo para a verificação da precisão da classificação, optamos simplesmente por fazer

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uma inspeção visual do resultado, comparando-o com imagens Landsat ETM disponíveis

para algumas regiões onde a Conservação Internacional tem atuação.

Figura 1. Mapa de vegetação do Brasil (adaptado de IBGE 1993) mostrando a área

central do bioma do Cerrado e encraves em outros biomas (na cor laranja) e as áreas de

tensão ecológica ou áreas de transição existentes nas áreas de contato dos biomas (na cor

cinza).

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Figura 2. Área central do Cerrado no Brasil. Adaptado de IBGE (1993).

Figura 3. Órbitas e passagens dos satélites Terra e Aqua no Brasil.

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Figura 4. Mosaico de imagens do sensor MODIS para o Brasil (composição bandas 6 –

canal vermelho, 2 – canal verde e 1 – canal azul). As imagens possuem uma resolução

espacial de 1 km e são de agosto de 2002.

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Figura 5. Mapeamento da cobertura vegetal realizada.

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Figura 6. Mapa resultante da classificação das imagens MODIS mostrando as áreas

desmatadas na parte central do Cerrado e os principais blocos remanescentes de

vegetação nativa.

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Figura 7. Representação da estimativa de cobertura vegetal nativa do Cerrado elaborada

por Mantovani e Pereira (1998). Cada quadrícula da figura significa uma cena do satélite

LandSat, onde estão representadas as variações na porcentagem de cobertura.

Figura 8. Evolução da produção e da área plantada de soja no Cerrado, de acordo com dados da

FNP Consultores – Agrianual 2003.

REERENCIAL TEORICO

O cerrado constitui o segundo maior sistema biogeográfico e

morfoclimático do Brasil e da América do Sul, que ocupava originalmente mais de 200

milhões de hectares e foi reduzido a cerca de 55%, estendendo atualmente fragmentado.

Esta fragmentação faz parte da diferença estabelecida no Código Florestal onde trata-se

os diferentes biomas brasileiros: enquanto é exigido que apenas 20% da área dos

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estabelecimentos agrícolas sejam preservadas como reserva legal no Cerrado, nas áreas

de floresta tropical na Amazônia esse percentual sobe para 80%.

Abriga um rico patrimônio de recursos naturais renováveis que se adaptaram

às difíceis condições climáticas, edificas e hídricas que determinaram sua própria

existência. Entretanto, apesar de suas restrições à agricultura, nas últimas décadas às

diversas fitofisionamias do cerrado foram sacrificadas com a nova fronteira agrícola do

país, a ponto de já serem atualmente uma das maiores regiões produtoras de grãos do

Brasil e serem reconhecidas como a última grande fronteira agrícola do mundo. O

cerrado corresponde a uma das áreas prioritárias para a conservação (DIAS, 1996).

Com a ocupação do cerrado, no início da década de 70, com o incentivo

governamental e adoção de mecanização, a vegetação nativa começou a ser derrubada.

Essa ocupação proporcionou uma gradativa mudança de paisagem, principalmente na

cobertura vegetal (ALMEIDA, et al., 1998).

Essas modificações estão vinculadas ao processo de expansão das fronteiras

de ocupação no Brasil que tem se dado, predominantemente, através do deslocamento de

força trabalho, num movimento intensivo e desordenado que, infelizmente, não poupou a

região Central do Brasil, ao contrário, tornou-se e foi alvo de políticas governamentais

que incentivaram sua ocupação. A cobertura e o melhoramento das rodovias

proporcionaram um maior fluxo migratório para essa região, e conseqüentemente, a

morte de animais silvestres, vítimas de atropelamentos nas estradas e de reduções de sues

territórios, além de aumentar a demanda por terras, trabalho etc, que exerceram e ainda

exercem forte pressão sobre os remanescentes.

A utilização de insumos agrícolas permitiu o melhoramento do solo de áreas

antes consideradas improdutivas que chegou de forma intensiva por vezes interferindo

violentamente em ambientes complexos e poucos conhecidos. O aumento da população

refletiu-se no crescimento desordenado dos centros urbanos, que pela falta de

planejamento, não conseguiram evitar o lançamento in natura” do esgoto doméstico e

industrial, nos cursos d’água. O desmatamento desses ambientes acelerou a erosão e o

empobrecimento dos solos.

Em geral, a ocupação do cerrado considerando seus recursos naturais, aponta

como determinantes para o recente modelo de desenvolvimento adotado e também como

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potenciais para o de exploração, onde entre outros fatores, a diversificação da produção

com a valorização dos recursos naturais existentes, dentro de uma visão sistêmica, são

valorizados.

Rosa (1998) relata a pouca atenção que tem sido dispensado aos recursos

naturais esgotáveis onde o cerrado tem sido tratado apenas como uma área potencial para

produção de grãos, sem considerar as suas particularidades climáticas e do solo e a sua

diversidade florística e faunística, as quais, se melhor estudadas, poderiam apontar para

alternativas de exploração menos agressivas e mais interativas com o meio.

Assim, seja por sua extensão, sua importância como fronteira de exploração agropecuária

ou pela sua biodiversidade, o cerrado brasileiro ocupara lugar de destaque no cenário

nacional. Sua ocupação e exploração têm se dado de forma desordenada, muitas vezes

importando modelos tecnológicos que não consideram sequer a fragilidade desse

ecossistema pouco conhecido. A facilidade de investimento por parte de órgãos

governamentais e a intensa propaganda por parte de empresas nacionais ou

internacionais, com interesse na exploração intensiva das áreas, contribuíram para o tipo

de exploração existente na região (ROSA, 1998).

DISCUSSÒES e RESULTADOS

Considerando a resolução das imagens utilizadas (1 km x 1 km) e a falta de

verificação em campo, os resultados apresentados devem ser encarados com ressalva. Um

dos problemas que visualmente chamam a atenção é a tendência de superestimação das

áreas nativas, a despeito do cuidado tomado para a delimitação das áreas de treinamento

durante a fase inicial de classificação. Em algumas regiões do mapa resultante (Figura 6),

grandes blocos de vegetação nativa se destacam, em especial para as regiões central e

oeste do estado de Minas (na área da Serra da Canastra), no oeste da Bahia, norte de

Goiás, sul do Maranhão e Piauí e na região da Ilha do Bananal (estado de Tocantins). Em

outras situações, onde a ocupação humana é discreta ou a cobertura vegetal é muito

esparsa (como no leste do Mato Grosso do Sul e no Triângulo Mineiro), também houve

uma superestimação da cobertura vegetal. Assim, o resultado obtido com a classificação

das imagens MODIS pode ser encarado como um indicador de regiões ou localidades

onde há uma predominância da vegetação de cerrado.

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A despeito dessa situação, as imagens MODIS representam atualmente o meio

mais rápido e mais barato (as imagens são distribuídas gratuitamente) para se mapear

grandes extensões, aspecto que também era objeto de avaliação desse estudo.

Com base nos resultados, calculamos que a área já desmatada para o Cerrado até

o ano de 2002 era de 54,9% da área original (cerca de 1,58 milhões de hectares). Apesar

do problema da superestimação mencionado acima, pode-se perceber que as áreas com os

mais expressivos blocos de vegetação nativa correspondem às seguintes regiões: Serra do

Espinhaço, no centro-leste do estado de Minas Gerais; Serra da Mesa em Goiás e norte

do Distrito Federal; Região da Ilha do Bananal, na planície do rio Araguaia; Oeste do

estado da Bahia e Sul dos estados do Piauí e Maranhão

As três primeiras regiões citadas acima correspondem àqueles locais onde as

características do terreno (grande declividade, solos pouco profundos ou sujeitos à

inundação periódica) representam um impeditivo à implantação de grandes projetos de

agricultura que, como será visto mais adiante, representam uma grande ameaça

atualmente ao Cerrado. As duas últimas regiões destacadas acima (oeste da Bahia e sul

do Piauí e Maranhão) representam aqueles locais onde existem boas condições de

ampliação das áreas de agricultura, mas a falta de infra-estrutura básica ainda é um fator

impeditivo.

Por outro lado, as grandes áreas desmatadas que se destacam no mapeamento

realizado correspondem ao estado de Goiás, leste do Mato Grosso do Sul, centro do

Tocantins, extremo oeste da Bahia e Triângulo Mineiro. Nessas regiões a ocupação

humana já está bastante consolidada e aparentemente foi motivada pela implantação de

pastagens para a criação de gado de corte, conforme sugerido por Dias (1994).

Segundo (MACHADO, 2004) Talvez a primeira tentativa de avaliar o tamanho da

área perdida do Cerrado tenha sido compilada por B.F. Dias (Dias 1994), quando foram

organizados dados de fontes diversas (IBGE, IBAMA e INCRA). Os dados utilizados

indicaram que em 1985, a área do Cerrado convertida em paisagem antropizada chegava

a 37% da área original do bioma. As estimativas de Dias (1994) também sugeriam que

um total de 56% do Cerrado correspondia a ‘paisagens naturais manejadas’, sendo que

nessa categoria enquadra-se com maior importância a criação extensiva de gado de corte.

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Naquela época, as áreas extensivas de plantio (excluindo-se as áreas de reflorestamento)

representavam apenas 7,4% da área desmatada.

Em 1998, o Ministério do Meio Ambiente - MMA com o apoio do Banco Mundial

- GEF iniciou a realização de uma seqüência de seminários voltados para a identificação

das áreas e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira (MMA

2002). O Cerrado foi o primeiro bioma brasileiro a ser avaliado de uma forma global com

o objetivo de elaborar um diagnóstico da sua situação. Com o advento do Seminário,

Mantovani e Pereira (1998) elaboraram um estudo preliminar objetivando a identificação

do estado da cobertura vegetal nativa no Cerrado.

O estudo foi baseado na análise de imagens Landsat que cobriram todo o Cerrado e

Pantanal, num total de 144 cenas (Figura 7). Cada uma dessas cenas, que cobrem uma

área de 185x185 km, foi dividida em 100 quadrículas (com um tamanho aproximado de

34.000 ha), para que fosse realizada uma inspeção visual da situação das áreas

remanescentes. Foi adotada uma escala de percentagem de cobertura, incluindo as classes

‘não cerrado’ (áreas desmatadas), ‘cerrado não antropizado’ (áreas nativas em bom

estado de conservação), ‘cerrado antropizado’ (áreas nativas com algum grande de

alteração ambiental) e ‘cerrado fortemente antropizado’ (áreas nativas muito alteradas).

Nessa escala de porcentagem vemos que as áreas desmatadas ou não cerrados são de

49,11%, cerrado não antropizado 16,77%, cerrado antropizado 17,45%, fortemente

antropizado 16,72.

Com a analise deste trabalho e de outros autores como (Dias 1994, Mantovani e

Pereira 1998) veremos que as estimativas entre o período de 1985 e 1993 (considerando a

data das imagens utilizadas por Mantovani e Pereira 1998), a perda da área do Cerrado

foi, em média 1,5% ao ano. A essa taxa de conversão, seria esperado que o Cerrado

venha a perder aproximadamente 3 milhões de hectares ao ano, se considerarmos a área

original de 2,045 milhões de quilômetros quadrados.

Entre o período de 1993 e 2002, a taxa média de desmatamento do Cerrado foi um

pouco menor, com uma média de 0,67% ao ano. Com esse valor, a perda anual do

Cerrado seria de 1,36 milhões de hectares ao ano, também se considerando uma área

original de 2,045 milhões de quilômetros quadrados. Uma estimativa mais conservadora

seria obtida quando se utiliza uma taxa que representa a média dos dois períodos

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considerados (entre 1985 e 1993 e entre 1993 e 2002). Essa taxa média seria de

aproximadamente 1,1% ao ano, um numero que representa uma perda anual de 2,2

milhões de hectares para o Cerrado, caso as políticas públicas continuem sendo

conduzidas de forma antagônica.

Com isso a perspectiva, a conservação do Cerrado fica quase impossível, pois por

um lado o Ministério do Meio Ambiente - MMA trabalha para que o porcentual de áreas

protegidas no Cerrado aumente para um patamar maior (hoje as unidades de conservação

representam 2,2% da área original do Cerrado (Rylands et al., no prelo), o Ministério da

Agricultura trabalha com uma perspectiva de utilização de aproximadamente 100 milhões

de hectares adicionais para a expansão da agricultura.

Baseando nisso pode, considerar uma retirada anual de 2,215 milhões de hectares

(assumindo uma taxa conservativa de 1,1% ao ano), considerando a existência de 34,22%

de áreas nativas remanescentes (baseado na estimativa dada por Mantovani e Pereira

[1998] para as classes ‘cerrado não antropizado’ e cerrado ‘antropizado’) e considerando

que as unidades de conservação (que representam 2,2% do Cerrado) e as terras indígenas

(que representam 2,3% do Cerrado) serão mantidas no futuro, seria de se esperar que o

Cerrado desaparecesse no ano de 2030.

CONCLUSÃO

Conforme foi descrito no presente trabalho a degradação do Cerrado teve

diversas origens, mas a sua principal fonte de degradação foi os planos de

desenvolvimento imposto pelo governo na década de 70, isso ocasionou diversas

maneiras de ocupação do solo e ameaça a biodiversidade do bioma.

Nesse pretexto a agricultura tornou-se a grande vilã, principalmente o cultivo

de soja no Cerrado revela-se em grande destaque de acordo co a figura 8 vemos que a

evolução de área plantada de 1995 a 2002 chega a ser surpreende o aumento da plantação

para acompanhar a produção.

Dados obtidos no banco de dados do IBGE (Sidra – disponível em

http://www.ibge.gov.br) indicam que a área ocupada pela cultura da soja tem aumentado

enormemente no país (Figura 9). De acordo com o anuário estatístico do agronegócio

(Agrianual de 2003), mesmo considerando que a tecnologia tem aumentado a

Page 17: IDENTIFICAÇÃO DE AREAS DESMATADAS NO CERRADO … · central do bioma do Cerrado e encraves em outros biomas (na cor laranja) e as áreas de tensão ecológica ou áreas de transição

produtividade, que passou de aproximadamente 2,5 toneladas por hectare em 1995 para

2,9 toneladas por hectare em 2002 , a área plantada tem aumentado em uma proporção

muito maior. A área destinada ao plantio da soja praticamente dobrou de tamanho,

indicando que o bom momento do mercado pode estar atraindo cada vez mais

empreendedores para a atividade.

Essa tendência de aumento pode ser vista também em regiões localizadas na

fronteira agrícola. Nessas áreas percebe-se que a introdução da soja pode mudar em

pouco tempo a realidade local.De forma que, culturas tradicionais como a mandioca,

tipicamente associada a pequenas propriedades, tem decaído ao longo do tempo. O dado

ilustra que as culturas tradicionais devem estar cedendo lugar para modernas culturas

mecanizadas como a soja, algodão, milho, milheto, sorgo e girassol.