IDEOLOGIA NA EDUCACAO

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Educação ideológica: que bicho é esse? Romualdo Tavares de Oliveira 1 Dina do Socorro Paiva Borges 2 Isabel Cristina dos Santos Oliveira 3 RESUMO: O presente trabalho procurou apresentar uma discussão a respeito do conceito de ideologia e educação e o seu aparecimento na sociedade, buscando estabelecer uma concepção sobre o que vem a ser educação ideológica e estabelecer uma discussão sobre este conceito e seus pilares de sustentação. Optou-se por uma abordagem qualitativa, onde se realizou uma pesquisa bibliográfica. Como resultado, percebeu-se que a escola ainda é um aparelho ideológico do Estado, e por isso, repassa em programas educacionais, ideologias para as classes menos favorecidas ou oprimidas. Palavra-chave: ideologia, educação ideológica e escola. Para iniciar a discussão... É importante frisar que renomados estudiosos como Louis Althusser, na França e José B. Libanio no Brasil, têm contribuído para a reflexão sobre o papel da ideologia para a sociedade e, especificamente, para a manutenção ou superação dos modelos educacionais. Assim, neste trabalho, a proposta é, de início, conceituar o que aqui se entende por ideologia, educação e educação ideológica. Em seguida, será abordado historicamente o surgimento desses conceitos nas sociedades. Como terceira parte deste trabalho, procurar-se-á desenvolver e discutir sobre a questão da educação ideológica e os seus pilares de sustentação, como: a família, a igreja, a escola, a mídia e qualquer lugar onde o Estado consegue, através dos seus aparelhos reprodutores ideológicos, repassar a sua ideologia, que hoje assombra a educação brasileira. Também, procurar-se-á debater sobre a questão dos modelos educacionais que visam o repasse da ideologia da classe dominante para as demais classes que compõem a sociedade por 1 Coordenador Pedagógico do colégio Amapaense (unidade escolar da rede pública do Estado do Amapá) e professor da Universidade Vale do Acaraú-UVA/AP. E-mail: [email protected]. 2 Professora de Literatura do Colégio Amapaense (unidade escolar da rede pública de ensino do Estado do Amapá) e professora da Universidade Vale do Acaraú-UVA/AP. E-mail: [email protected] 3 Graduanda do curso de Pedagogia do Instituto de Ensino Superior do Amapá-IESAP. E-mail: [email protected]

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Educação ideológica: que bicho é esse?

Romualdo Tavares de Oliveira 1 Dina do Socorro Paiva Borges 2

Isabel Cristina dos Santos Oliveira3

RESUMO:

O presente trabalho procurou apresentar uma discussão a respeito do conceito de ideologia e educação e o seu aparecimento na sociedade, buscando estabelecer uma concepção sobre o que vem a ser educação ideológica e estabelecer uma discussão sobre este conceito e seus pilares de sustentação. Optou-se por uma abordagem qualitativa, onde se realizou uma pesquisa bibliográfica. Como resultado, percebeu-se que a escola ainda é um aparelho ideológico do Estado, e por isso, repassa em programas educacionais, ideologias para as classes menos favorecidas ou oprimidas. Palavra-chave: ideologia, educação ideológica e escola. Para iniciar a discussão... É importante frisar que renomados estudiosos como Louis Althusser,

na França e José B. Libanio no Brasil, têm contribuído para a reflexão sobre o

papel da ideologia para a sociedade e, especificamente, para a manutenção ou

superação dos modelos educacionais.

Assim, neste trabalho, a proposta é, de início, conceituar o que aqui se

entende por ideologia, educação e educação ideológica. Em seguida, será

abordado historicamente o surgimento desses conceitos nas sociedades.

Como terceira parte deste trabalho, procurar-se-á desenvolver e discutir sobre

a questão da educação ideológica e os seus pilares de sustentação, como: a

família, a igreja, a escola, a mídia e qualquer lugar onde o Estado consegue,

através dos seus aparelhos reprodutores ideológicos, repassar a sua ideologia,

que hoje assombra a educação brasileira. Também, procurar-se-á debater

sobre a questão dos modelos educacionais que visam o repasse da ideologia

da classe dominante para as demais classes que compõem a sociedade por

1 Coordenador Pedagógico do colégio Amapaense (unidade escolar da rede pública do Estado do Amapá)

e professor da Universidade Vale do Acaraú-UVA/AP. E-mail: [email protected]. 2 Professora de Literatura do Colégio Amapaense (unidade escolar da rede pública de ensino do Estado do

Amapá) e professora da Universidade Vale do Acaraú-UVA/AP. E-mail: [email protected] 3 Graduanda do curso de Pedagogia do Instituto de Ensino Superior do Amapá-IESAP. E-mail:

[email protected]

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meio das escolas e seus projetos pedagógicos. E por fim, procuraremos fazer

uma reflexão acerca da ideologia na escola e nos modelos educacionais.

O que é ideologia e educação: do conceito ao consenso teórico.

De imediato, é preciso delimitar o que se entende por ideologia.

Dessa forma, pode-se dizer que ideologia é um sistema mais ou menos

coerente de imagens, idéias, princípios éticos, representações globais. Esse

sistema também exprime gestos coletivos, rituais religiosos, estruturas de

parentesco, técnica de sobrevivência e desenvolvimento. Implica expressões

artísticas, discursos míticos ou filosóficos. Refere-se à organização dos

poderes, das instituições e dos enunciados e das forças que estas colocam em

jogo. É um sistema que tem por fim regular, no seio de uma coletividade, de um

povo, de uma nação, de um Estado, relações que os indivíduos entretêm com

os seus, com os estrangeiros, com a natureza, com o imaginário, com o

simbólico, com os deuses, com as esperanças, com a vida e com a morte.

(CHATELET apud LIBÂNIO, 2004).

Para Chauí (2004), ideologia é um conjunto lógico, sistemático e

coerente de representações de idéias e valores e de normas ou regras de

conduta, que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem

sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Portanto,

para ela a ideologia é uma regra, uma norma, que tem a função de explicar a

divisão de classes na sociedade e suas diferenças culturais e econômicas, não

mostrando a verdadeira divisão da sociedade que é na diferença de produção

de riqueza econômica.

Sendo assim, percebe-se que tanto Libanio(2004) quanto Chauí (2004)

convergem para uma mesma concepção a respeito do que se pode denominar

por ideologia, quando afirmam que a ideologia se situa no imaginário de cada

membro da sociedade e que esta vai estabelecer os padrões que deverão ser

vivenciados por cada membro dessa coletividade social.

Segundo Libanio (2004), é través da ideologia que as pessoas vão

revelando como representam e pensam e/ou imaginam a realidade. Nesse

sentido, a ideologia pertence á maneira humana de pensar, porque somos

movidos por dois pólos interiores. De um lado, queremos ter visão geral de

tudo. E isso vale até para as coisas materiais. Por outro lado, por mais

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abragentes que queiramos ser, nossas visões de conjunto sempre se fazem a

partir de um ponto muito particular.

Logo, com a tomada de consciência explícita do termo ideologia, pode-

se definir agora o que se compreende por educação. Com a ajuda da

etimologia, isto é, o estudo da origem das palavras, poderar-se-á compreender

melhor esse termo. A palavra educação vem do Latim “educere” que significa

extrair, tirar, desenvolver. (BRANDÃO, 2001)

No dicionário da língua portuguesa educação significa: ato ou processo

de educar (se), qualquer estágio desse processo, aplicação de métodos

próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento resultante desse

processo: preparo. Desenvolvimento metódico de uma faculdade, de um

sentido, de um Órgão. Conhecimento e observação dos costumes da vida

social, civilidade, delicadeza, polidez e cortesia.

Então, pode-se entender que educação é um ato de aprendizagem

formal e informal, que acontece de maneira didática e espontânea, levando o

indivíduo a uma percepção de memória e dos sentidos. Também, ela ocorre

em todos os espaços de interação social do homem, sendo o meio pelo qual

este mesmo homem vai se apropriar dos valores, das crenças, das normas e

as idéias que foram construídas historicamente pela coletividade e/ou parte

dela..

Para Freire (1983), a educação é o fator mais importante para se

alcançar à felicidade. Já para Freitas (1986), ela é uma filosofia de vida, uma

concepção de sociedade concreta, que se dá através de instituições

específicas como: família, comunidade, mídia e escola, que são as porta -

vozes de uma nova pedagogia pós-moderna.

Portanto, pode-se afirmar que educação ideológica nada mais é do que

uma forma pedagógica de desenvolver e/ou manter as concepções e idéias

daqueles que estão no domínio de um determinado grupo social. Daí a

necessidade de atentarmos para o alerta de Libanio (2004), quando afirma que

é necessário que se trabalhe a consciência ideológica, buscando levar as

pessoas a perceberem a enorme diferença que existe entre a maneira como

elas imaginam a realidade e como esta se constrói de fato.

Assim, é imprescindível que os educadores da base do processo de

formação da coletividade social ressignifiquem as suas práticas pedagógicas,

procurando abolir da escola o papel de agente reprodutor da ideologia

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dominante. Até porque, segundo Altusser apud Luckesi (1994), a escola tem

atuado em duas direções:

� Procura ensinar a ler, escrever, a contar, ou seja, aquilo que ele nomeia

como “saberes práticos”. Dessa forma, Prepara a maior parte de uma

mesma sociedade para o serviço braçal;

� Na outra direção, trabalha à disposição daqueles que irão ser os futuros

capitalistas e seus servidores, ensinando-lhes a mandar bem, a falar

bem àqueles que serão os futuros operários. A escola também os

ensina as regras dos bons costumes, do comportamento, da moral, da

consciência cívica, profissional e a redigir bem.

Para Luckesi (1994), A escola é o principal aparelho ideológico do

Estado. Ela, através dessa prática educativa, perpassa a vida das pessoas da

infância à maturidade, deixando uma forte marca na personalidade de cada

um, produzindo, assim, a força de trabalho.

Se pudéssemos ilustrar com uma frase de impacto o que é educação

ideológica, poderíamos, então, citar: “Cada massa que fica pelo caminho está

praticamente recheada da ideologia que convém ao papel que ela deve

desempenhar na sociedade (LUCKESI, 1994:47)”.

Educação e ideologia: o aparecimento na coletividade social.

Para entender o surgimento do conceito de ideologia, deve-se retroceder

na história. Pois, bem antes de, entre nós, se travarem batalhas ideológicas, a

Europa já tinha assistido à ascensão da classe burguesa, a primeira a içar a

bandeira ideológica na luta de interesses entre classes. A classe burguesa

nasceu predominantemente nas cidades, em oposição aos senhores feudais,

que eram donos de terras e tinham a seu serviço os “servos”, dedicando-se

fundamentalmente à guerra e ao gozo dos rendimentos produzidos pelos

servos.

A classe burguesa constitui-se na primeira e autêntica classe social,

sendo responsável pelo surgimento da ideologia nesse sentido mais restrito.

Até então, os grupos sociais, aristocracia (bellatores, guerreiros e nobres),

clero (oratores, rezadores) e servos (laboratores, trabalhadores), entendiam-se

como segmentos fixos, camadas naturais, verdadeiras “ordens” da sociedade.

Cada indivíduo acreditava pertencer a uma determinada camada desde o

nascimento, por ordem divina. Pouco a pouco essa ordem foi rompida, os

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indivíduos passaram a constituir grupos sociais. Por exemplo, a maior mudança

foi sentida nos servos, que começaram a se tornar independente dos senhores

feudais em virtude das atividades artesanais, comerciais e agropecuárias.

Num primeiro momento a burguesia não tinha um projeto próprio; ou

seja; não tinha ideologia estava mais preocupada em garantir a aquisição de

títulos de nobreza e por isso não tinha ainda uma consciência ideológica. Por

outro lado, a monarquia entrou em choque com os interesses da burguesia e

como esta não tinha seu próprio projeto ideológico, foram esmagados. Mas a

burguesia conseguiu elaborar uma visão própria da sociedade em que defendia

seus interesses.

Com a visão mais clara, racional, dos próprios interesses com os outros

grupos, a primeira ideologia que apareceu na história foi a “ideologia

burguesa”. Ela esteve na base da Revolução Francesa, em 1789.(LIBANIO,

2004)

Vale salientar que o conceito de ideologia vem do francês “ideologie”

(1796). Filosoficamente é a ciência que estuda a origem das idéias humanas e

as percepções sensoriais do mundo externo. Esse conceito nasceu com o

filósofo francês Destutt de Tracy no século XVIII. (Idem)

Por outro lado, o conceito de educação surge nas sociedades primitivas,

quando o trabalho que produz os bens e quando o poder que reproduz a ordem

são divididos e começam a gerar hierarquias sociais, também o saber das

tribos. (BRANDÃO, 2001)

Assim, percebemos que os dois conceitos têm uma relação muito

estreita com o desenvolvimento das relações sociais, pois é na sociedade que

os grupos irão revelar e desenvolver as suas ideologias.

Educação ideológica e os seus pilares de sustentação...

É importante frisar que não iremos falar aqui nesse estudo dos governos

neoliberais ou progressistas e nem de partidos de direita ou de esquerda,

iremos falar sobre educação ideológica, pois é isso que mantém um sistema de

governo seja ele conservador ou progressista no poder.

A educação ideológica é usada pelo Estado para manter o poder de

Estado, e isso, é uma premissa de qualquer tipo de governo em qualquer parte

do mundo.

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Vivemos num mundo globalizado onde a fronteira que separa as classes

sociais está cada vez mais forte e a suas diferenças acentuadas de maneira

que a luta que já era histórica, tornou-se também desumana.

Na busca por uma educação livre da ideologia das classes dominantes

deparamos com a tentativa de divulgação da ideologia das classes oprimidas,

essa luta histórica e antagônica no âmbito filosófico e político é ao mesmo

tempo alienadora, pois busca o domínio do Estado através de uma educação

ideológica.

Não se quer condenar essa ou aquela ideologia, nem defender uma

educação livre de qualquer ideologia, o que se quer é buscar uma escola

transformadora, na qual, haja uma pedagogia neutra, que terá em sua filosofia

a busca por uma ideologia elaborada pelos alunos e alunas, e professores e

professoras, livres do domínio do Estado ou de qualquer outro tipo de domínio.

A educação é o passaporte para um mundo novo, para um homem e

uma mulher novos autônomos e acima de tudo humanista/dialéticos.

Esperamos contribuir para o debate sobre o momento histórico em que

vive a educação, contribuindo de maneira neutra e livre dos dogmas

ideológicos, que encontramos na educação hoje.

Contribuindo para a formação do ser através do conviver e do conhecer,

fazendo desse movimento à maneira de fazer o pensar reflexivo objetivo e

subjetivo do individuo na sua formação inicial, a fim de torná-la capaz de

transformar e construir tudo a sua volta.

Buscar uma escola transformadora, humanista e criativa é o grande

desafio da educação brasileira nesse inicio de século XXI.

Também é bom lembrar que conceito educacional dos conservadores e

dos marxistas hoje, generaliza o sujeito que atua e o que conhece, a um

formato de sujeito ativo na construção da vida social que acham correta para

os seus interesses.

Falam em democracia, mas silenciam o povo o que é uma farsa, dão ao

povo “comprimidos pedagógicos” como solução imediata e apaziguadora do

sofrimento do saber. Comprimidos de conhecimentos ideológicos partidários.

Todo o sistema educacional se justifica, através de uma base de

argumentações, que oscilam entre uso da educação, como fator importante

para a correção do sistema socioeconômico e cultural, e outro, que defende a

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educação como papel principal para a transformação do modelo de sociedade

em que vivemos.

A educação não está doente, porque nunca houve um sistema

educacional verdadeiro proposto pelos governos, por isso, não precisa de

remédios, precisa sim de uma proposta que una a educação: familiar, social,

global e intelectual.

A educação neoliberal, mesmo sendo moderna, não tem força para

esconder as diferenças de classes e seus interesses antagônicos históricos.

A educação progressista de cunho ideológico marxista é a

incompetência dos governos de esquerda, pois é fanática e remota a um

pensamento marxista-stalinista ou, até mesmo, a uma utopia cubana cheia de

clichês e de controvérsias, já que busca a conquista do poder, manipulação

das massas populares e uma inversão cultural.

"O socialismo realista", conforme o professor Paulo Freire, nunca foi

socialista, pois é desfacelada e tem como excelência intelectual um conhecer

sem compreender e, especialmente, sem sentimento e paixão.

Na escola, se percebem a divulgação e reprodução de uma ideologia

que domina o conjunto de idéias, concepção e conhecimento sobre um ponto

de discussão. Podemos ter duas visões para o mesmo assunto e, também,

dois posicionamentos ideológicos: um liberal (neoliberal) outro marxista, que

acarretara uma ação efetiva no sentido de organização ideológica da escola.

Há também a ideologia da igualdade de oportunidade escolar:

tratamento, gratuidade, obrigatoriedade, neutralidade, religiosidade, currículos

e de métodos, igualdade de competição escolar. A ideologia nas escolas divide

o sistema único em duas redes: uma inferior e outra superior, instruindo e

selecionando em duas versões: uma técnica e outra superior (PINSKY, 1999).

A escola como instituição para reproduzir o domínio de classe vigente de

poder de Estado ou do equilíbrio social, já que ela possui as ferramentas para o

desenvolvimento da ideologia da classe de poder de Estado, pois ela tem as

funções instrutivas e as educativas.

A ideologia educacional vem com a obrigação, nesse caso, de ocultar

essa divisão, formando um corpo de sentimento único e coeso, que tem a

função de apoiar a estrutura atual, não permitindo a mudança ou até mesmo

um princípio de mudança que venha tirar a ordem social do momento.

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É importante dizer que o Estado sempre manteve a sociedade sobre os

domínios dos aparelhos repressivos, tais como: administração, polícia, exército,

tribunais, que constituem os aparelhos repressivos de Estado, esses aparelhos

estão ligados a um sentido de violência, o Estado se impõe através da violência

que, às vezes, chega a ser até física.

O pensador marxista italiano Antonio Gramsci afirmara que o Estado

não possui só aparelho repressivo, existem também as instituições da

sociedade civil, que formam os aparelhos ideológicos do Estado. Essas

instituições, em sua maioria, são instituições privadas como: os sindicatos, as

escolas, as igrejas, as famílias.

São esses aparelhos que funcionam através da ideologia, por isso, não

precisam ser públicos e nem privados. Os aparelhos ideológicos do Estado são

múltiplos, distintos e com certa autonomia, oferecem um campo vasto de

contradições ora ampla, ora limitada, para as lutas de classes.

Nesses aparelhos, o Estado exerce o seu poder através da ideologia,

diferente dos aparelhos repressivos, em que ele; (o Estado) exerce o seu poder

pela força física.

No início da década de setenta, o filósofo francês Louis Althusser

afirmou que a escola é um aparelho ideológico do Estado, causando com isso

um verdadeiro furor entre os intelectuais da época. Alguns professores

acordaram para a questão de serem peças num tabuleiro de jogo ideológico.

Os problemas educacionais estão no conceito de que a escola reproduz

desigualdade social, na medida em que contribui para a reprodução da

ideologia das classes dominantes e mesmo para a reprodução das próprias

classes sociais.

A dominação de classe se dá em primeiro momento no econômico, é a

luta histórica, que expressa na política, na luta ideológica e na hegemonia. O

Estado usa os aparelhos ideológicos e reprodutores de ideologia, para manter

a dominação sobre a classe menos favorecida. São concepções de mundo e

crenças sedimentadas historicamente.

Para Bourdieu e Passerou apud Libanio (2004), a escola é de certa

forma, uma maneira de perpetuar as relações de força de uma sociedade

classista”. A arma de uma escola é a sua ideologia; um sistema de verdade

universal.

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Antonio Gramsci dizia que era preciso distinguir os conceitos de

ideologia orgânica da ideologia arbitrária, pois são diferenciadas no seu

contexto histórico, já que a orgânica serve para organizar as forças sociais e

para os homens e mulheres tomarem consciência de sua posição de luta. Para

Gramsci, a ideologia é, no primeiro momento, o cimento do alicerce da

estrutura social (NOSELLA, 1992).

Na ideologia arbitrária, o pensamento ideológico é imposto de maneira

alienada, com um domínio pelo poder de Estado do repasse e divulgação da

doutrina.

A maneira de pensar e agir ou na ação e reflexão, é uma dicotomia que

separa a sociedade no âmbito escolar. Uma parcela da sociedade se dedica ao

trabalho intelectual e outra ao trabalho técnico, a uma divisão do trabalho. Uma

classe pensa e manda; outra classe não pensa, logo, só obedece.

A leitura de mundo, na pedagogia transformadora é a liberdade, o papel

importante na vontade de ação na transformação social, mas como alcançar

essa liberdade presa a uma ideologia.

As ideologias não são estáticas, permanentes, elas funcionam de

maneira hegemônica e se reformulam a todo o momento, sem perder a sua

essência principal. A um confronto nesse processo, entre os intelectuais

tradicionais, os orgânicos e a práxis da sociedade.

O Estado cria uma escola pobre de cultura, tendo como fins a

profissionalização e a busca por empregos para as classes menos favorecidas.

Com isso, o ensino superior fica restrito cada vez mais à elite que controla a

ideologia e o poder de Estado.

Segundo Nosella (1992), Antonio Gramsci utiliza o termo ideologia como

referencia a hegemonia de classe, que se impõem com o significado de ação

sutil, de tal modo, que as ações de uma sociedade venham contribuir para

justificar a situação atual.

A escola como aparelho ideológico do Estado, vem a serviço da

dominação de uma classe sobre a outra, através de um processo de

hegemonia ideológica, mediante a uma conscientização alienante.

Perpetuando uma relação de produção e distribuição social do poder de

Estado.

Qualquer filosofia ou qualquer modelo de sociedade democrática

necessita ser consciente de que a ideologias é algo, que precisa ser conhecida.

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É também importante saber, que cada ideologia tem sua liturgia, sua técnica e

suas tácticas de persuasão.

Antonio Gramsci utiliza o termo Hegemonia Ideológica, para se referi a

ideologia que se impõem de maneira significativa, e que, possibilite uma ação

de maneira sutil, de tal modo, que inclusão de formas de organização e de

atuação de uma sociedade, em que contribuam a manter a situação de

injustiça, seja a ser percebida como inevitáveis, naturais, sem possibilidade de

modificação (NOSELLA,1992).

A dominação de uma classe sobre a outra se dá, através da produção

eficaz de uma hegemonia ideológica, mediante a criação de uma consciência e

de um consentimento espontâneo dos membros da classe social submetida ao

poder de Estado.

Então, voltamos a dizer que escola é a ponte entre a sociedade civil e o

Estado, entre o consenso e a força política. A escola assumi o papel de

dominante na luta de classe e representa a maior força política e ideológica do

Estado.

Ideologia na escola: o que estamos vivenciando hoje?

Qual é o melhor modelo educacional para o povo? Ou melhor, qual o

projeto educacional que trará a verdadeira liberdade às classes oprimidas?

O que estamos vendo hoje é uma busca não pela verdadeira pedagogia

da transformação e da cidadania, mas sim, por uma pedagogia dos

comprimidos, que propõe uma carapuça ideológica no problema educacional

brasileiro.

A escola é um aparelho ideológico do Estado, e por isso, repassa em

programas educacionais, ideologias para as classes menos favorecidas ou

oprimidas. É uma violência simbólica que proíbe os homens e mulheres de ser.

É a violência ideológica que explora e mantém um "stato quo" na sociedade.

A luta de classes sempre existiu e é histórica, e essa busca pela

liberdade também é histórica e dolorosa, pois há um medo do novo, do homem

e da mulher, que irão nascer com a liberdade, autênticos e humanistas, com

uma nova leitura de mundo.

O professor Paulo Freire (1983) nos diz que esta pedagogia não pode

ser elaborada nem praticada pelos opressores, os opressores citados são os

que dirigem os poderes do Estado. Quando uma classe assumi o poder e

Page 11: IDEOLOGIA NA EDUCACAO

passa a desenvolver uma educação ideológica, ela passa de oprimida a

opressora, pois não desenvolve uma pedagogia livre da superestrutura, ao

contrário, torna os alienadores da, já alienada, sociedade dos oprimidos.

O ensino público, hoje, no Brasil, ensina a submissão dos alunos e

alunas, com uma prática ideológica alienante. A concepção de projeto

educacional progressista está centrada em definições acabadas, em que o

diálogo é apenas mera verbalização alienante e na qual não se pode denunciar

a falta da democracia educacional. É um ativismo que nega a práxis

pedagógica verdadeira, reduz a reflexão a tudo o que já foi pensado e decido

pelos intelectuais orgânicos desse sistema que aí está posto.

Não é novidade para aqueles que estão no “chão” da escola, ou seja, no

batalhão de frente, que um dos grandes problemas na educação brasileira é a

falta de compromisso dos programas e projetos pedagógicos governamentais

com uma cultara livre da imoralidade das bandeiras partidárias que infectam as

escolas com programas assistencialistas, cujo objetivo sutil é causar a

dependência das massas e a sua escravização intelectual.

Todos os projetos educacionais brasileiros trazem consigo uma ligação

com o governo. A tônica do discurso é sempre a mesma: Tudo pelo povo, mas

nem tudo para o povo. Acham que o povo não é capaz de decidir qual o

modelo educacional é melhor para o seu processo de formação e

humanização, justificando tal pensamento com o discurso de que o Estado é

soberano e tem poder e condições melhores para tomar tal decisão. Assim,

como sempre, assiste-se aos que na prática pedagógica do dia-a-dia

protagonizam o processo de ensino aprendizagem, tornarem-se meros

receptores de tal ação.

A grande questão, hoje, é se algum dia, os iluminados das autarquias

governamentais irão consultar os que compõem a escola, antes de lhes

empurrarem, goela abaixo, doses de comprimidos educacionais, cujo efeito é

de possantes tranqüilizantes. Uma prova do que se fala neste texto, são as

ações dos sistemas educacionais que têm priorizado um conhecimento

acabado em detrimento de um aprendizado dialético. E dessa forma, a

ideologia da classe dominante impregna a prática pedagógica de professores

das diversas áreas do saber, sem que estes tomem consciência de que estão a

serviço das idéias, valores e normas daqueles que detêm o poder.

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No Brasil, podem-se ver projetos dados como verdadeiras obras primas

da pedagogia moderna, ser desfeitos por completo ou parcialmente, depois da

troca de governo.

Projetos como o Centro Integrado de Atenção à Criança - CIAC, escolas

de tempo integral, inspirada nos Centros Integrados de Educação - CIEP’s do

Governo de Leonel Brizola, enquanto esteve no governo do Estado do Rio de

Janeiro. E, diga-se de passagem, este projeto do governo Brizola, foi um dos

poucos que trouxeram benefícios pedagógicos a população das escolas

públicas do Rio de Janeiro.

Já os CIAC’s foi um projeto do, então, Presidente da República

Fernando Collor de Melo, que tinha como meta inicial atender 6 milhões de

crianças e jovens e 500 mil adultos na alfabetização no período noturno. É

importante, aqui, frisar que esse projeto do governo Collor estava orçado em

900 milhões.

Com a inauguração do primeiro Centro Integrado de atenção à Criança -

CIAC, em outubro de 1992, educadores de todo o país desejavam ser

contemplados com uma unidade educacional do CIAC em seu Estado, visto a

proposta pedagógica que este projeto defendia a princípio. No entanto, essa

esperança durou muito pouco e bem menos do que se esperava.

Em Ceilândia, a enorme procura dos alunos pela proposta da educação

integral, acabou superlotando o colégio, que precisou trabalhar com o rodízio

de turmas. Nessa escola, por exemplo, só foram construídas 12 salas de aulas

para 18 turmas formadas. De início os CIAC’s ofereciam almoço completo com

frutas legumes e carne. Pouco tempo depois, acaba-se a lua-de-mel do CIAC

com a educação e só restou a miséria.

Apelando para a memória política e econômica deste país, é importante

recobrar que o abandono completo do programa ocorreu por razões políticas,

técnicas e, principalmente, econômicas. Em janeiro de 1995, o Presidente

Fernando Henrique Cardoso extinguiu a Secretaria Especial do Ministério da

Educação que gerenciava a implementação dos CIAC’s nas unidades

federativas. Desse modo, todos os CIAC’s passaram aos domínios dos

governos estaduais e municipais. A maioria desses governos não preservou a

proposta inicial, apenas aproveitaram a estrutura física para abrigar alunos no

sistema convencional de educação. É importante informar que em nenhuma

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das esferas governamentais a educação integral foi oferecida continuamente

durante os 15 anos que se passaram.

Neste processo do “jogo” ideológico, é pouco provável que muitos

educadores que atuam no Estado do Amapá, saibam explicar o que são os

Centros Integrados de Atenção à Criança - CIAC’s. Mesmo porque, o Amapá

ficou de fora desse programa que, na maioria das vezes, vêm sempre em

pacotes prontos, sem uma discussão prévia com aqueles que estão a frente do

trabalho educativo. É relevante que esses pacotes (políticas para a educação),

quase sempre, são de impressionar até o mais cético educador desse país.

Podería-se abrir, aqui nesse texto, um ou dois parágrafos para também falar de

muitos programas governamentais que “não pegaram”, o que seria uma grande

redundância do que se quer ilustrar. Pode-se afirmar, então, que estamos

vivendo a era do anacronismo ideológico: mudam-se os governos, mas não se

mudam as idéias opressoras. Em síntese: ainda estamos passando por um

processo de educação ideológica.

Assim, a educação sofre por acabarem com o projeto original e o

refazerem com outra metodologia, ou melhor, com outra ideologia.

A pedagogia dos comprimidos, que ainda hoje se assiste no Brasil é a

prova da doença ideológica que os nossos governantes estão sofrendo. E essa

doença é repassada para as massas populares de forma violenta: às vezes

simbólica, às vezes repressiva.

Ela é simbólica quando acontece através das ideologias do Estado, que

domina os aparelhos ideológicos como: escola, uma parte considerada da

igreja, os meios de comunicação e o MEC.

É repressiva quando o Estado usa a polícia e todos os aparatos de

segurança para impor suas idéias e manter a "ordem".

Historicamente, tanto os governos conservadores como progressistas

usam os aparelhos quando se sentem ameaçados pelos movimentos da

sociedade organizada. Mas é na escola, que acontece o encontro entre a

educação e as violências simbólica e repressiva. A escola, nesse momento,

torna-se um teatro de discussão ideológica, como se fosse um grande palco

que exibe uma peça de teatro, em que os atores são: educadores e

educandos, uns fingindo que ensinam e outros fingindo que aprendem.

Page 14: IDEOLOGIA NA EDUCACAO

Na platéia, a sociedade fingindo (ou sendo induzida) que acredita no

sistema e o Estado como o grande produtor da obra, financiando a custo baixo

uma educação classista, ideológica, arcaica, deformadora de consciência.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

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