IEVVIGOTSKI o - midia.atp.usp.br · A inserção na cultui'a, pela intel'a-ção cona o outro via...

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IEVVIGOTSKI o lIGADo 111 POR N{ARIA TERESA l)E ASSUNÇÃO l;'RELVAS O computador e a internet não garantem a inovação no processo de aprendizagem escolar. Tudo depende da mediação do professor, que torna eficazes as duas outras mediações: a técnica e a simbólica o.je, diante do avanço das tec nologias digitais uma pei'junta sui'ge e dela não podemos esca- l)ai': E possível conlpl'eender o (omputaclol' e a iiltei'net como iilstl'linlellTos clilturais cle aprendizagem? Pei'- gunta que pode sel' respondida, ci'eio, com base na teoria psicológica de Vigotski, a l)artir dos sentidos que (lá aos termos z#zófr///nr/zZa. (rr//?//íl, e prr/zd/zage/7/. Apesttr de esse autor ter vivido em um tempo no qual conlputadoi' e internet eram ainda impensáveis, sua ol)ra l)ode se constituir colho uni olhai' teóx'ico cria- tivo sol)re essas tecnologias da (ontenlpol'a- neidade. A forma histórica, social, cultural c:omo pensou o homem permite ho.je o diá- logo, a partir cle sua teoria, com esses novos instrumentos culturais Vigotski tens uma concepção do conheci- mento que avança en] relação às teor'ias psico- lógicas subjeti\ estas e objetivistas que se apre- sentam fragmentadas e a-históricas, considerando o su.leito cle 6ornla absti'ata e descontextualizada Dessa fol'n)a, acentuam a natureza inda\ idual do homem) en] detrimento das circunstâncias sociais (]ue o envol\-ein. A insatisfação com esses dois modelos psicológicos fêz com que Vigotski bus- casse super'á-los llunla perspe(uva que, basean m HISTÓRIA DA PENA(;c)C;IA

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IEVVIGOTSKI o lIGADo 111

POR N{ARIA TERESA l)E ASSUNÇÃO l;'RELVAS

O computador e a internet não garantem a inovaçãono processo de aprendizagem escolar. Tudodepende da mediação do professor, que torna eficazesas duas outras mediações: a técnica e a simbólica

o.je, diante do avanço das tecnologias digitais uma pei'juntasui'ge e dela não podemos esca-l)ai': E possível conlpl'eender o(omputaclol' e a iiltei'net como

iilstl'linlellTos clilturais cle aprendizagem? Pei'-gunta que pode sel' respondida, ci'eio, combase na teoria psicológica de Vigotski, a l)artirdos sentidos que (lá aos termos z#zófr///nr/zZa.

(rr//?//íl, e prr/zd/zage/7/. Apesttr de esse autorter vivido em um tempo no qual conlputadoi'e internet eram ainda impensáveis, sua ol)ral)ode se constituir colho uni olhai' teóx'ico cria-tivo sol)re essas tecnologias da (ontenlpol'a-

neidade. A forma histórica, social, culturalc:omo pensou o homem permite ho.je o diá-logo, a partir cle sua teoria, com esses novosinstrumentos culturais

Vigotski tens uma concepção do conheci-mento que avança en] relação às teor'ias psico-

lógicas subjeti\ estas e objetivistas que se apre-sentam fragmentadas e a-históricas, considerando

o su.leito cle 6ornla absti'ata e descontextualizadaDessa fol'n)a, acentuam a natureza inda\ idual dohomem) en] detrimento das circunstâncias sociais

(]ue o envol\-ein. A insatisfação com esses doismodelos psicológicos fêz com que Vigotski bus-casse super'á-los llunla perspe(uva que, basean

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Como instrumen toin6ormáti('o, o (omputador éulti open'ador simbólico, poisseu pr(3prio f\incionamcntodepende dc símbolos

relação com o outro. Uma relaçãodialética entre sujeito e ob.teta, istoé, entre o sujeito e o meio histórico.E unia questão de base social, deuma relação não só com objetos, Diasprincipalmente lilna relação entrepessoas, entre sujeitos, como leillosem .4jormüção social da mente. " O ca-

minho do objeto até a criança e destaaté o objeto passa através de outrapessoa. Essa estnitura htimaiaa com-plexa é o produto de um processode desenvolvimento profundêimente

enraizado nas ligações entre históriaindividual e história social". Para ele,

a relação do sujeito com o conheci-mento não é, portanto, uma relação

direta, mas mediada. Essa tnediação

se processa via um outro, via instru-nletltos e signos

O conceito de n)ediação é centralein sua teoria e, para melhor colll-preendê-lo, é preciso partir do queVigotski considera colllo instru-mento. A noção de l zsZrz/nze/zfo nãopode ser considerada desvinculadoda perspectiva do desenvolvimentohumano visto colllo o entrelaçalllento do natliral, biológico com ocultural. Ao 6ormttlar o princípiogeral de sua teoria afirmando que asfunções mentais superiores especiâcomente humanas têm uma origemsocial, Vigotski está dizendo quena história do hoineiJI há uill duplonascimento: o biológico e o cliltural.

do-se na dialética marxista, pudessecotnpreender o homem real e con-creto. Ao empreender uma crítica da

psicologia de seu tempo, ele apre-sentou não uma terceira via para secompreender a construção do conhecimento. Foi mais longe do queisso. Promoveu um rompimento ao

elaborar tema proposta psicológicainovadora; a perspectiva histórico-cultural, parir a qual o collhecinientonão é adquirido, mas constrtlído na

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1] HISTÓRIA l)A PEDA(;0GIA

A inserção na cultui'a, pela intel'a-ção cona o outro via linguagem, é oque possibilita a criança se tornar,de um simples $el biológico, uni sercultural humano. Nesse sentido, deacoi'do c'on] .\ngel Pino en] .4s nzízr-

cízs do /??//'?.z/!a. a humanização doindivíduo contuncle-se cona o pro-cüsso de apropl'iação dessa cultura.Api'opriação que se pi'ocessa poi' umexel'cicio atix o da criança na relaçãocona o outrQ. E nesse contexto teó-

rico que Vigotski itl(lui a noção deinsti'ume: L] elaboi'ada a pai'tii' daconcepção de trabalho em Mitra eEngels. O trabalho. pal'a esses au-tores. aparec'e K)n]o un] processode homillização. pois. através dele,o holllem. ao cloininar a natureza,assume L] c'o:lcFolc de sua evolução,que, por sua vcz. é l)istói'ica. No tl-a-balho o hoi:len} utiliza instl'unlentos

pai'a etktuar rlltltlificaç'ões !lo objetoe, ao í'azê-lo. ulcldific8-sc a si nlesnlo.Assim. o u$ta de instrumentos étambém) uma :br:!la de humaniza-ção, pela cltJa: o l:olllenl tians6olmao cu].se cie $ua e'(istêt cia cle natui'al

para cu]tura].Vigotski L'Oll$:FÚI. a pai'tir dessa

ideia de iHStFU:DelITO material, umaanalogia par'a cllcgal- ao t'oH( eito cleinstFUDlcntc] psi':c''lógico ou signo,procul'alltlo r: ostr.!r cn: (lue eles sedistinguem: :\ di:;re:lça mais es-sencial entre }ic:lo c illstrumento,e a base cia tjivergê:a(ia real entre as

duas lin})as. c'o:l'is:. ::a$ clitbrentesHlcãllül1'8S CCalll CUc e'l.e< orlelltalll 0colllpoltan)ç:lt.~ !:lir: a:lo. .4 funçãodo inst[-un]c:aio é $cFvi« cnn]o un]condutor da inRuê:leia }lunlana so-bre o objeto da atix !dado: ele é orien-tado e.z-/p//i.l ?'rf ';;.: deve :letessaria-mente levar a muda::ças :los objetos.Constitui un] n:eiü pe:o dual a ati-vidade burla!:a c\:rF::2 é dirigidapara o (ontrole e o J.'=:frio da na-tul'eza. O signo. n,or c'l:cro lado. não

modifica em nada o objeto da opera-ção psicológica. Constitui um meioda atividade interna dirigido parao controle do próprio indivíduo; osigno é oi'tentado zlz/er//ame/z/e. Es-sas ati\ idades são tão diferentes uma

da outra, que a natureza dos tileiospor elas utilizados não pode sei amesma

Esses conceitos de instrumentomatei.ial ou técnico e instrumento

psicológico ou simbólico permitemcompreender que a mediação paraVigotski pode ser exercida pol' fer-ramentas e signos. Assim, é possíveldizer que há na sua obra três clas-ses de mediadores: ferramentas ma-teriais, feri'ementas psicológicas eoutros seres humanos. l)jante disso,

indago: é possível afirmar que com-putador e intenlet são instrumentosculturais? Como essas mediaçõesacima referidas podem ocos'l'cr nouso do computador e da interneto

dução humana e que essa produçãotem como fontes a vida e a ati\ idade

sociais do homem. Diz ainda que

esse conceito de cultura englobauma multiplicidade de coisas dife-rentes que têm em comum o fato dcserem constituídas dos dois compo-nentes que caracterizam as produ-ções humanas: a materialidade e asignificação. Isso permite entendera existência de dois subconjuntosde produções humanas Oll objetoscultui'ais. O pl'imeiro é resultado daação física do hon)em sobre a natu-reza, conferindo-lhe uma forma ma-terial que veicula uma significação.O segundo é formado pelas prodti-çõcs resultantes da atividade mental

do hoitiem sobre objetos simbólicos,colll o liso de meios simbólicos (di-ferentes tipos de linguagem) cujaexterior'ização(comlitlicação com osoutros) se faz por fbi'mas materiaisde expressão.

a diferença mais essenolal entre signo einstrumento, e â base da divergência realentre as duas linhas, oonsisle nas diferentesmaneiras com Que orientam o comportamento

Peilsanclo o conlplitador e a in-ternet coill o olllar da pcl'spectivahistórico-cultural, procuro inicial-naentc compreendi'r como, com basena ideia de cultura enl Vigotslíi,posso chanlá los de cultui'ais. Aquestão dit cultura está presente notodo da obi'a de Vigotski, mas nãohá uni texto específico a ela dedi-cado. Enx d cottstrução do pelLsamelLto

e da /z/iglíagem há uma pequena re-f'el.êilcia explicitando que: "culturaé o produto, ao mesmo tempo, da\ ida social e da atividade social do

homem". Partindo desse enunciado,Pino afirma que a cultura é uma pro-

Continuando suas reflexões,Pino afli'nla que "lHstFUH)entos esímbolos constituell] os dois meios

de produção da cultura. [...] Essesdois mrzos de natureza tão diferentetêm ell] coillun] o fato, .já apontado

por Vigotslíi, de sei'ein mediadoresda ação humana -- soba'e a natureza,no caso do instrumento, e sobre as

pessoas, no caso do símbolo. [...]ambos são já produto dessa iilesnlaação huiiiana. Ora, o quc define oprodz//o da ação humana é quc ela éa concretização da ideia que dirigea ação. [...J Todas as produções à/r-pzazzas, ou sqa, aquelas que reúnem

rllsTÓRIA DA PEDAGOGIA m

IEV VIGOTSKI O lEGaDO - HI

as características que Ihe conferemo sentido do À//ma/zo, são produçõesculturais e se caracterizan] por se-rem constituídas por dois compo-nentes: um material e outro simbó-lico, um dado pela nattiieza e outroagregado pelo homem'

Assina, vejo que a criação docomputador e, a partir dele, da in-ternet é o resultado de um esforçodo hoiilenl que, interferindo na rea-lidade cn] que vive, constrói essesobjetos culturais da contemporanei-dade, que são, ao mesmo tempo, uminstrumento material e um instru-mento simbólico.

Partindo da ideia de instrumento

técnico e simbólico em Vigotski,além de um instrumento técnico, ocomputador pode também ser con-siderado um instrumento simbólico.

O colllputador é um objeto físico, ohardware, mas ele tem também umadimensão simbólica, pois seu funcio-namento depende do s(#Zwízre, a pilrte

lógica que coordena suas operações.Como instrumento informático, ocomputador é liill operador simbó-lico, pois seu próprio fllilcionamctltodepende de símbolos. Seus progra-mas são construídos a pilrtir de lmlalitlguageiTI binária. Para acioli;l lo,

temos que seguir instrlições escri-tas na tela, movimentando o nlouseentre diferentes ícones ou usando o

teclado (com letras e números) pai'aredigir instruções e coloca-lo en]ação. A navegação pela internet étoda feita com base na leitura c na

escrita. E lendo/escrevendo qtic in-teraginlos com pessoas a distânciaatravés de e-lltail, ou de programas

de bate-papos em canais de r/zafs

ou participamos de comLmiditdescomo o Orkut, Facebook e outrosE lendo/escreve'ndo quc nax egamospor sitas da internet num traleto hi-pertextual en] busca de inforitiaçõesOI,i entretenin)ellto.

Nesse sentido, é possível com-preender o papel mediador exercidopor esses instl'umentos que são,ao mesillo tempo, tecnológicos esimbólicos.

a mediação humana no usodo computador e da internet

Três ordens de mediações ocor-rem no uso do colTiputador e clêi in-tei'net. Ê a mediação da ferramentaillaterial: o computador enquantomáquina; a n)ediação selliiótica atra-vés da linguagem; e a mediação coii]os outros enqu;indo intcrlocutoj'es.Con[p[itador e internet int['odu/.cn]uma fbrnla de interação com as in-Hormaçõcs, cona o conhecimento ecom as outras pessoas, totalincntenova, diferente da quc aconteceem outros meios como a máquinade escrever ou o retroprqetor porc'xemplo. No uso clo computador eda internet a ação do sujeito se fazde foriiia interativa e enquanto lê/escreve, novos fatores intelectuaissão acionados; a memória (na orga-llização de bases de dados, hiperdo-

cunlentos, organização dc arquivos);a imaginação (pelas simulações); apercepção (a pai'tir das realidadesvirtuais, telepresença). Outros tiposde comunicação a6etam os usuáriospor val'ios canais sensoriais, com-binando texto, imagem, cor, saiu.movimento. Trata-se de uma novarilodalidade conltmicacional absolu-

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O noxro leitor não é uni lnec'oi'cceptor, mias intertêre,man ipttla. modifica, re-inven ta

m HISTÓiiIA DA PEI)ACOGIA

tangente difere

digital: a enternão é sintplesdisponibiliz'arções à interx çcomo diz \la4t{ {a l}2ter.i.

interativa adesafio pa-ztrada no paInstaul'a-:dado con!

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-senadorvar que os contatos entre os partici-pantes eni 6órtms ou listas de discus-são ou eill atividades em ambientes

virtuais de aprendizagem, como omoad/e, realizam-se via leitura e es-

crita. Nessas práticas discursivas épossível uma interação verbal \ iva,significativa, que desenvolve a }lr-guiiieiltação e leva, cotlsequente-inetlte, a uma maior apropriação dostemas em estudo. AÍ se realiza de

forma bem concreta a perspectiva da

aprcndizagt'm colaborativa propostapor Vigotski.

Refletindo sobre o trabalho portliinl desenvolvido en] pesquisas comprofessores eill foriiiação inicial oucontinuada, percebo a necessidadede se encontrarem estratégias parao desenvolvimento dessa aprendi-zagem de perspecti''.a social e cola-borativa na escola. A ]llarca de uma

Para Vigotski o conhecimento$e constrói nas relaçõesinterpessoais. Portanto, osujeito da conhecimento não éopQnns: atiça, H&s iRtQrattvo.c'ola o

:es ati-acoes

:: use t.i s.e's in-

:: J Siga .te-

.ais.cais

educação tradicional ou tecnicistaainda é muito forte nos meios educa-

cionais. A exposição didática, apesarde seus aspectos negati\os e criticá-veis, ainda hoje é predontinante emtodos os níveis de ensino, levandoo aluno a se defrontar com um co-

nhecimento neutro, já pronto, querecebe passivamente. Derrubam-sesobre os alunos informações, refe-rentes aos conteúdos das dihl'entesdisciplinas, que devem scr llleinori-zadas e depois reproduzidas. Esseprocesso mecânico exclui a reflexãopessoal sobre o material de' estudo,

HISTÓRIA DA PEDAGOGIA m

IEllllIG0'rSKI o IEoaoo-nl

as possibilidades de ci'cação e apro-priação pessoal. O que se vê é apenasuma identificação e não unia signifi-cação em relação ao que lhes é apre-sentado pelo professor. O que acon-tece, portanto, é uma compreensãopassiva que, de acordo com Bakhtin

interpessoal para depois acontecerno plano intrapessoal. Para ele, só háaprendizagem quando a pessoa in-ternaliza o que já âoi experienciadoextel'namente, api'opria-se, isto é,torna próprio o que 6oi construídocom um outro. Nesse processo, se-

isto é, num processo de comLmicaÇãocona eles. .Assim. a criança aprzzzde aatividade adequada. Pela sua funçãoeste processo é. portanto, um pro-cesso de educação'

Para 'b'igotski. caberia à lingua-gem, por suas pl'opriedades formaise discursix as. esse papel mediador'que põe em relação o homem e sua

história, a cognição e seu exteriordiscursivo. .À n)ediação semióticaproposta poi' Vigotski mostra que,segundo Edwiges hIDrato, "[...] não

há possibilidades integrais de pen-saittc'nto ou de collteúdos cognitivosfora da linguagem nem possibilida-des integrais de linguagem cora deprocessos interativos humanos, con

Se não se der voz ao aluno, se ele não tivercondições e espaço libra ilizel impede-seseu lirocesso de comiireensão atava, oueliressuliõe uma interação verbal dialógica

elh Mar=is7tto e Fitos(!jü da Lingua-gem, exclui qualquer resposta pes-soal. Para ele, a compreensão deveser ativa e coi[ter, en] si n]esn]a, ogeritie de uma resposta. 'A cada pa-lavra da enunciação que estamos empl'acesso de compreender, fazemoscorresponder uma série de pala-vras nossas, formando uma réplica.Quanto n)ais numerosas e substan-ciais forem, mais profunda e real é anossa compreensão.

Se não se der voz ao aluno, se elenão tiver condições c espaço para di-zer, impede-se seu processo de com-preensão atiça. Aliás, esta supõe, deacordo com Bakhtin, uma interlocu-ção, uma interação verba] na qua] hásempre um falante e um ouvinte que

se alternam e que se engajan] em umprocesso discursivo dialógico. Nesseprocesso, que permite a contrapala-vra, a argumentação, é que se tornapossível uma aprendizagem, a qualse organiza em novas formas de pen-sar a partir dos objetos de estudo.Essa ideia de Bakhtin, de uma situa-ção compartilhada que favorece aaprendizagem, é defendida tambémpor Vigotski, em a Formação .So-czaZ da .4/e/zfe quando afirma que oprocesso de construção do conheci-mento acontece primeiro ilo plano

gundo Bakhtin, en 2 Esféfzca daCriação HeróaZ, as palavras alheiastornam-se palavras minhas, perdemas aspas Ao se referir à internali-zação do conhecimento, Leontievdiz que a apropriação é a I'eprodu-ção pelo inttivíduo das capacidadeshumanas formadas historicamente,através de sua própt'ia atividade. Pormeio do processo de interiorização,a realização da atividade, que eracoletiva e externa, convem'te-se emindividual, e os meios de sua orga-nização, em internos. Dessa forma,a atividade, seja externa ou interna,tem uma base matei.ial e um:t cons-trução socioindividual, colho querMana Sforni.

Fazendo menção ao processoeducativo no qual essa apropriaçãodeve acontecer, Leontie\ diz: 'Asaquisições do desenvolvimento his-tórico das aptidões humanas não sãosimplesmente dadas aos holTlens nosfenómenos objetivos da cultura ma-terial e espiritual que os encarnam,mas são aí apenas pos/as. Para seapropi'iar destes resultados, para fa-zer deles as szzas aptidões, 'os órgãosda sua individualidade', a criança, oser humano, deve entrar em relaçãocom os fenâlllenos do mundo cir-cundante através de outros homens,

m HISTÓRIA DA PEDAÇO(;IA

tingenciados socioculturalmente'Essa posição de Vigotski enfatiza,portanto, a relação do sujeito como conhecimento como uma intera-

ção entre sujeitos viabilizada pelalinguagem. Dessa forma, o conhe-cimento se constrói nas relaçõesinterpessoais- Portanto, o sugezfa doco//Ãer/pmnfo, para Vigotski, não éapenas atino, mas z/z&nnZzuo. A cons-trução index-idual é o resultado dasinterações entre index íduos mediados pela cultura.

Compreendo, pois, que, paraVigotski, as práticas culturais sãoconstitutivas do psiquismo. O en-sino formal $e constitui como uniaprática cultural, portanto tem um

papel formador em relação ao su

jeito. Daí, concordar com Sforni,que a escola, nas sociedades esco-larizados, ao possibilitar ao homemsua inserção na coletividade comocidadão, pode ser consideradacomo responsável pela construçãode bases para o desenvolvimentopsíquico. Mas, segtmdo Vigotski,não é qualquer ensino que possibi-lita esse desenvolvimento psíquico.Ele acredita que esse desenvolvi-mento pode ocorrer por meio da

aprendizagem elos próprios con-teúdos escolares, mediante a aqui-sição dos conceitos científicos. Éimportante pensar que, para ele,os conceitos científicos só se for-

lilail] a partir da palavra, da lin-guagem, na interação com o outroVigotski vê ainda que há uma relação dialética entre os conceitos es-pontâneos e os collceitos científicos.Um conceito científico só é pos-sível de ser construído com base

eili llin conceito espolltâneo. Porsua vez, o conceito espontâneo seexpande e se enriquece à medidaque é alimentado pelo científico. Eisso que ele chama de movimentoascendente e descendente dos con-ceitos. Esse movimento dialéticonão acontece individual e interna-mente apenas, Dias, antes de tudo, éum movimento do outro para o eu/do eu para o outro. Para Vigotski,portanto, há aprendizagem quandose internaliza o que foi vivenciadona relação com o outro. A interna-lização acontece a partir das sig-nificações construídas no processointerativo às quais o sujeito con-fere lim sentido pessoal

A partir das proposições deLeolltiev- feitas em Unha Co zZrzóz/zç;ão

à Teoria do Desettooluime?tto da Psique/Ilha z/zé de que o sujeito se apro-pria da cliltllra como uin ser ativo,podemos compreender que seu de-senvolvinlerlto cognitivo pode serdesencadeado ao participar de umaltividade coletiva que Ihe traz no-vas necessidades e exigências denovos modos de ação. Assim, oensino e a aprendizagem signiflcativos podem se tornar possíveisquando a escolhi favorece a inserçãodo aluno nesse tipo de atividadeUma atividade que supõe indivídtlosem interação, sendo o conhecimento

I'oda ênfase clc'\-e scl' coloca(lalo ensinar/api'c'ntlei' colholim })]'o('osso único do (lealparticipam iguajme'ntc'l)i'ofbssoi'('s c' }ilttilos

hiSTÓRiA DA PEDAGOciIA llil

IEVVIGOTSKI o IEÜBno-HI

visto de forma compartilhada. Alu-nos e professores participam de lmla

construção partilhada do saber. A.ss\m,o conhecimento não se restringe auma construção individual, mas sim-- realizando-se no coletivo -- comoz/ma ro/zsfrz/ção socZaZ. Na sala de aula

não deve haver lugar para o ensinare o aprender de forma isolada. Todaênfase deve ser colocada no e7zszzzar/

abre zder como um processo único doqual participam igualmente profes-sores e alunos.

Na sala de aula o professor éaquele que, detendo mais expe-riência, pode funcionar intervindo emediando a relação do aluno com oconhecimento. Assim, ele está, em

seu esforço pedagógico, procurandocriar Zonas de DesenvolvimentoProximal, isto é, atuando como ele-

mento de ajuda, de intervenção, tra-balhando junto com o aluno numaconstrução compartilhada do conhe-cimento. Dessa maneira, o desenvol-vimento é olhado prospectivamente:o que importa são os processos que,embora ainda não estejam consoli-dados, existem embrionariamenteno indivíduo. O desenvolvimentoreal é o conhecimento que já estáconstruído no sujeito, o desenvol-vimento já consolidado. O armo

vimento Proximal o professor atuade forma explícita interferindo nodesenvolvimento proxinial dos alu-nos, provocando avanços que nãoocorreriaíil espontaneamente. Issoé aprendizagem colaborativa, com-partilhada. Não é possível, dessa

Vigotski, com essa perspectivade aprendizagem promotora do de-senvolvimento, resgata a importamcia da escola e do papel do profes-sor como agente indispensável doprocesso de ensino-aprendizagemO que ocorre na escola; a ação doprofessor e sua ajuda através de explicaçõe$ demonstrações, exentplos,orientações, instruções, forneci-mento de pistas, problematização desituações provocação de arguilien-tações e de reflexões críticas, são ingredientes importantes do processode ensino que podem levar o alunoao desenvolvimento

É assim que Vigotski, ao con-siderar a aprendizagem coillo lml

processo essencialmente social, queocorre na interação com adultos ecompanheiros mais experientes,destaca que as funções psicológicashumanas são construídas na apro-

Oomliutador e internet estimulam aaprendizagem lior liermilirem o acessoa um8 infinidade de informações e llorliolenoializarem novas formas de liensâi ienlo

chega ao novo conhecimento pelamediação de un] outro (professorou colega mais experiente), queage em seu campo de possibilida-des, construindojullto com ele paraque, depois, ele possa construir so-zinho. Assim, na Zona de Desenvol-

forma, pensar na apren(lizagemcomo algo só interno que se ex-ternaliza, mas numa rede dialógicaque parte do externo, internaliza-se e se expressa colllo ideias pro-duzidas no confronto cona outrasideias e pessoas.

HISTÓRIA DA PEDAGOGIA

7

A plasticidade interativaprópria das tecnologiasdigitais permite aconstrução de diversospercursos de aprendizagem

atento, via interatividade, de que fala

Vigotski. Estinlulatn i\ovas 6oriilasde peilsainellto no ellfrentameiltocom a hipertextualiclade neles presente pela interpelação de diversosgêneros textuais cxpressados pordiversas linguagens(sons, imagensestáticas e dinâllticas, textos). A plas-ticidade interativa própria drs tec-

nologias digitais trazidas pelo com-putador e internet permite, ainda, aconstrução dc divel'sos percursos deaprendizagem através da atividadedo sujeito que interage com o outroe com o objeto do conhecinlellto.

Finalizando, computador e inter-t\et não são, por si sós, garantias deuma inovação no processo de aprcn-dizagelli escolar. Tudo depende danlalleira como são usados, da media-ção do professor. Ê essa mediaçãoque faz. toda a diferença, pois é elaque torna eficaz as duas outras me-diações: a técnica e a simbólica. Nessesentido, é inlportantc considerar queé insustentável o receio de que a pre-sença do computador e da interlletila escola torne o professor deslleces-sário. Ao contrário, acentua-se, cadavez mais, a importância de sua pre-sença, de sua mediação humana

O diálogo com Vigotski esti-mula-tios, portanto, a acreditar cadavez mais na instauração de espaçosreflexivos na escola que possibili tc maos professores a construção dc uniaposição responsável e consequentediante da incorporação llo ambienteescolar desses instrumentos cultu-

rais de aprendizagem.

focou alguiTlas indagações. Colhoa escola pode ajudar os altmos a se

constituírem como sujeitos peilsan-tcs, capazes dc pensar c lidar comconceitos, argumentar, resolver pro-blemas, para se defrontarem com di-lemas e problemas que a sociedadeda informação e comunicação de

hoje lhes coloca?Para se adequar às necessidades

contemporâneas que pedem novasfolhas de aprendizagem, espt'cial-nlente àquele\s i'elacionadas ao uso docomputador e dt} intenlet, a 6onllaçãoinicial e coi)tinuada de professoresprecisa instaurar a reHexão sobre opapel mediador do professor na pre-paração dos alunos para o pensar.

pnaçaomentor

Essasconlplemdov, paraconferir(dar aos afora)açõea oi'iei'i ta r-:na inforn)zc àtios Upas a.traindo core

Apoiado :vídov. José Cique as cria=ç:para aprerclezar os nle

preender o =Para isso, ésela, estm)u.clociiilo ecapacidade r:

A leitura

.n }] eci. Um novo ambienteile aprendizagem

Por tudo que disse até aqui,considero que computador e inter-net são instrumentos tecnológicosconstruídos pelo llomcm que não scconfigurttnl como meras máquinas.Eles vão rlluito além disso. São defato mediadores do conhecimentoenqu;luto fêrranlenta material, lhas,principalmente, são mediadores doconhecimento, enquanto um instni-nlcnto simbólico, e pei'matem a me-diação com o outro. Computador einternet abrcin novas possibilidadesde aprendizageill por perlllitirenl oacesso a unia infinidade de infbrma-çõcs, pelas fonlias de pensamentoquc são por.eles potencializados, pe-las interaçõcs possibilitadas e pelainteratividade que proporcionam.Portallto, eles possibilitam a cons-trução compartill)ada dc conheci-

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Mana Teresa de Assunção Frestas é doutoraem Educação (PUC- RJ), professora doPrograi)la de Pós-Graduação cill Educação daUtlivei'cidade 1%dcral de .Juiz de F'ora. ondetaillbém exerce a f\unção de Pró-Reitora de Pós-Gt'acltiação. Publicou, entre outros trai)alllos,Tbgotski e Baklitill --Psicotogi.a e Educação: ltn!lttelte=to thüct\J9 9), O Pettsanteltto de l/ygotskir Ba#/2fzpz ?zo /gr'a.rz/(Papiros, 2002) e ('zóerf?z/fl/?'ne.»I'///«çã. deprq#es.,ore,, (Autêntica, 2009).Dro-

HISTÓI{IA DA PEDAGOGIA Rn