Igreja - GECoRPA - Grémio do Património · encosta na antiga linha de separação da cidade...

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Igreja ... s. - ' ituada no bairro da Mouraria de Lisboa, a meio da encosta na antiga linha de separação da cidade cristã e do arrabalde que D. Afonso Henriques destinou aos mouros vencidos, encontra-se a Igreja de S. Lourenço, cuja fundação recua, pelo menos, ao séc. XII. Do período gótico ficaram duas das cinco capelas que tinha a primitiva igreja, capelas essas postas a descoberto pelas campanhas de obras recentemente empreendidas. Separadas pelo que é hoje o corredor lateral de acesso à igreja (entrada do Largo da Rosa), terão sido bastante destruídas pelos sismos que abalaram a cidade, em especial o de 1531. Mais do que o de 1755, responsável pela queda de metade do tecto e de todo o coro, foi o abalo de 1531 aquele que maiores estragos produziu, como se pode inferir do pedido feito em 1611 a Filipe 11 por Lourenço Macedo de Fróis, Provedor das Capelas dos Orfãos, para que fossem executadas obras na igreja, em virtude de não se poder celebrar nela o ofício divind . Foi então lançado o dízimo sobre os moradores e os proprietários da freguesia, de modo a que se pudesse pagar os trabalhos necessários à sua reconstrução, no valor de 390$00 para a carpintaria, e de 2.000 cruzados para a pedraria3. Parte desses trabalhos pode, ainda hoje, ser observada na capela-mor e nos arcos de embrechados existentes no interior da igreja,bem como nos que foram transferidos para uma ala do contíguo Palácio da Rosa, consttuído também nesse período. O palácio ligar- se-ia à igreja, então, através de uma tribuna aberta na parede norte num espaço que, pela sua volumetria, sugere ter aproveitado uma das capelas góticas. Os numerosos vestígios ainda existentes mostram- nos que foram, sem dúvida, importantes as obras empreendidas sob o domínio filipino. Não menos importantes seriam os trabalhos do séc. XVIII, devidos não só à iniciativa de D. Tomás de Almeida (primeiro Patriarca de Lisboa, que teve aqui o seu primeiro cargo eclesiástico), mas também às já referidas campanhas empreendidas depois do sismo de I Arquitecta Mestre em História da Arte, Assistente e membro do Centro de Estudos Históricos da Universidade Aberta, colaboradora do Gabinete Local da Mouraria da Câmara Municipal de Lisboa. 2 A.N. T. T. - Chancelaria de Filipe 11,Livro XXVIII,fi. 62ve fi. 40. 3Ibidem

Transcript of Igreja - GECoRPA - Grémio do Património · encosta na antiga linha de separação da cidade...

Igreja...

s.

- ' ituada no bairro da

Mouraria de Lisboa, a meio daencosta na antiga linha deseparação da cidade cristã e doarrabalde que D. Afonso Henriquesdestinou aos mouros vencidos,encontra-se a Igreja de S. Lourenço,cuja fundação recua, pelo menos,ao séc. XII. Do período góticoficaram duas das cinco capelas quetinha a primitiva igreja, capelasessas postas a descoberto pelascampanhas de obras recentemente

empreendidas. Separadas pelo queé hoje o corredor lateral de acessoà igreja (entrada do Largo da Rosa),terão sido bastante destruídas pelossismos que abalaram a cidade, emespecial o de 1531. Mais do que ode 1755, responsável pela queda demetade do tecto e de todo o coro,foi o abalo de 1531 aquele quemaiores estragos produziu, comose pode inferir do pedido feito em1611 a Filipe 11 por LourençoMacedo de Fróis, Provedor dasCapelas dos Orfãos, para quefossem executadas obras na igreja,em virtude de não se poder celebrarnela o ofício divind . Foi então lançado

o dízimo sobre os moradores e osproprietários da freguesia, de modo aque se pudesse pagar os trabalhosnecessários à sua reconstrução, novalor de 390$00 para a carpintaria,e de 2.000 cruzados para a pedraria3.Parte desses trabalhos pode, aindahoje, ser observada na capela-mor enos arcos de embrechados existentesno interior da igreja, bem como nos queforam transferidos para uma ala docontíguo Palácio da Rosa, consttuídotambém nesse período. O palácio ligar-se-ia à igreja, então, através de umatribuna aberta na parede norte numespaço que, pela sua volumetria,sugere ter aproveitado uma dascapelas góticas. Os numerososvestígios ainda existentes mostram-nos que foram, sem dúvida,importantes as obras empreendidassob o domínio filipino.Não menos importantes seriam ostrabalhos do séc. XVIII, devidosnão só à iniciativa de D. Tomás deAlmeida (primeiro Patriarca deLisboa, que teve aqui o seuprimeiro cargo eclesiástico), mastambém às já referidas campanhasempreendidas depois do sismo de

I Arquitecta Mestre em História da Arte, Assistente e membro do Centro de Estudos Históricos da

Universidade Aberta, colaboradora do Gabinete Local da Mouraria da Câmara Municipal de Lisboa.

2 A.N. T. T. - Chancelaria de Filipe 11, Livro XXVIII,fi. 62ve fi. 40.

3 Ibidem

1755 (concluídas em 1763) queconfeririam à igrej a o seuaspecto actual, revestindo asparedes da nave com azulejoshistoriados alusivos à vida de S.

Lourenço.Um século mais tarde, novacampanha de obras seriaresponsável por oubâs alteraçõesde menor importância. Já nesteséculo, as obras empreendidaspelo Marquês de Ponte doLima em consequência daabertura da rua homónima,provocariaI)1 consideráveistransformações, em especial nosespaços anexos à igreja (agoraligados a uma nova ala do palácioconstruída a sul), e, subindoconsideravelmente a cota da rua,o que implicou o desaparecimentoda escadaria de acesso à portaprincipal da igreja, registada numagravura de Gonzaga Pereira,em 18334.Em 1970 a família Castelo-Melhor venderia à CâmaraMunicipal de Lisboa o conjuntoformado pela igreja e palácio.

calda de cimento e cal nasparedes resinas hipóxidas nascantarias. A convite da S. IA.Eveio a Lisboa o Professor e EngfJLizzi (responsável pelaconsolidação de importantesmonumentos em Itália, tais comoPonte Vecchio em Florença, e oTemplo de Ceres em Paestum, sópara citar alguns) que, na própriaobra, nos aconselhou sobre osmétodos e técnicas a utilizar.As sondagens realizadas - picagemde paredes e verificação do estado. das fundações - implicaram a

necessidade de intervenção deuma equipa de arqueólogos doI.EP:A.R., que acompanharamtodos os trabalhos desta primeirafase. Essas sondagens revelaram-se de primordial importância umavez que, para além de nos teremdado algumas respostas aproblemas de ordem técnicaajudaram-nos, também, aconhecer melhor a história dopróprio edifício. Pudemos concluir,com efeito, que muitas daspatologias existentes resultavamda coexistencia de campanhas deobras e de materiais de épocasdiferentes completando, na prática,alguns dos conhecimentosadquiridos através da investigaçãohistórica.As importantes descobertasentão feitas, com especial relevopara as capelas de período gótico(F~ 3 e 4), obrigaram àreformulação da proposta inicialde simples consolidação estruturale de restauro, e à criação de umaequipa multidisciplinar que, ao

acompanhar ininterruptamentetodos os trabalhos, tem vindosempre a confrontar-se comnovas situações. Houve, assim,necessidade de adoptar umametodologia que estabelecessediferentes níveis de intervençãoe que, apesar do confronto entrevestígios de períodos diferentes,mantivesse a unidade formal doedifício. Essa mesma metodologiaobrigou a uma redefinição dosespaços e à adopção de diferentesníveis de intervenção (para o queé fundamental, do ponto de vistatécnico e formal, a análise

Metodologia de intervençãoIntegrada na Área deRecuperação e ReconversãoUrbanística do Gabinete Localda Mouraria a C.M.L. iniciaria,em 1989, os trabalhos para arecuperação da igreja, emvirtude do elevado estado dedegradação em que esta seencontrava. Inicialmente, estestinham por objectivo, apenas, asua consolidação estrutural, deacordo com as seguintespatologias detectadas:- fendilhação acentuada das

paredes mestras;- desligamento da fachada

principal;- alvenarias com elevadapercentagem de vazios;- cantarias desniveladas e

partidas;- nós estruturais fragilizados;- ataque de insectos xilófagos ede fungos nas madeiras.Ntnm primeira fase, ostrabalhos têm-se centrado nessamesma consolidação, feitaatravés da execução de micro-estacas (Fig.1), pregagem dafachada (Fig.2), injecções de 4 ln "Monumento" Sacros". Lisboa 1834.

sua vez, diferentes níveis deintervenção, evitando oecletismo que resulta, na maiorparte das vezes, da necessidadede coexistência de elementos dediferentes períodos (todos elesigualmente importantes) emespaços não diferenciados.

atenta dos materiais), a quecorrespondem, também, zonasdistintas de intervenção.Iniciar-se-á, assim, uma segundafase dos trabalhos que terá por

objectivo (Fig.5):

1. - A par da consolidação dasestruturas, o restauro integralda igreja (nave, capela-mor,baptistério, sacristia e tecto, deque faz parte, ainda, o restaurodo altar-mor e altares laterais,aZulejos, telas e imaginária). Paratal, foram analisados todos osmateriais, nomeadamente osdiferentes tipos de argamassas,para que.os elementos agorautilizados tenham característicassemelhantes aos originais, demodo a evitar incompatibilidadesque possam provocar novas

patologias.

3 - Reposição integral de umadas capelas góticas (capelagótica principal), através doseu desentulhamento, e dorefechamento dos vãos abertosno séc. XVIll.

4 - Criação de uma áreamuseológica que integrará earticulará os espaços que, emvirtude das suas características,já não sejam passíveis de umrestauro integral, ou que nãotenham grande valorpatrimonial. Estão neste caso a

segunda capela gótica(bastante destruída pelosvários sismos), a antiga casado guarda e, no piso 3, a salasituada sobre as capelas góticas,que se destinarão a um espaçosimultaneamente de apoio àigreja e de exposições. Estaárea, além de integrar osvestígios arqueológicos jádescobertos (e que venham aser descobertos em futurascampanhas) integrará, ainda,uma exposição permanentecom o historial do edifício.

~ 2- Reformulação da área sul,~ anteriormente ocupada pelas'1 habitações do pároco e do,. guarda do palácio e que

correspondem, actualmente, àscapelas góticas descobertasdurante os trabafuos. As evoluções

i sofridas pela igreja ao longo dosséculos conduziu à transformaçãoda igreja gótica com capelaslaterais, numa igreja barroca erocócó de nave única, tendo essascapelas sidoadaptadas a serviçosautónomos em relação à próprianave. Esta situação permitiu, por

Direcção de obra: Arq~ Teresa deCampos Coelho.

Fiscalização: Arq~ Teresa deCampos Coelho e Eng!! ElizabethFigueiredo

Equipa projectista exterior:ArqQ Khol de Carvalho e En~Prada-Santos

Fotografia: Jorge Brilhante(Presidência da República)

Consolidação: S. T.A.r, OZ eCimeira.

Estudo dos materiais: S. IA.E eOZ.

Restauro de azulejo: Equipa doMuseu da Cidade da CoMoLo

Restauro de pintura: InstitutoJosé de Figueiredo.

Investigação histórica:- Arq~ Teresa de Campos Coelho

Arquitectura (UniversidadeAberta e Gab. Local da Mouraria)

- Prof. Doutor José CustódioVieira da Silva -ArquitecturaGótica (Dep. de História da Arteda Universidade Nova deLisboa)

- Prof. Doutor Vítor Serrão -Pintura (Dep. de História da Arteda Faculdade de Letras deLisboa)

1 - Entrada principal (Rua Marquês Ponte do Lima)2 - Entrada secundária (Largo da Rosa)A-NaveB - Capela-morC-SacristiaO - Sala de apoio à sacristia (piso 1)

Tribuna com ligação ao Palácio da Rosa (piso 2)E - BaptistérioF - Sala de apoio à igreja (actualmente, segiunda capela gótica)G - Antiga habitação do pároco (actualmente, segunda capela

gótica)H - Antiga casa do guarda do palácio (área actualmente integrada

no projecto da igreja) - José Meco - Azulejaria (Instituto

José de Figueiredo)

- Dr. Clementino Amaro

Arqueologia (Instituto Portuguêsde Arqueologia)