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    IHF TEXTO 3

    Prof. Marcos Aurlio Fernandes

    UnB Fil 2017.2

    II. EXERCCIOS INTERPRETATIVOS DE FRAGMENTOS DE

    ANAXIMANDRO, HERCLITO E PARMNIDES.

    II.1. O SURGIMENTO DA FILOSOFIA NO TEMPO AXIAL

    O tempo destes pensadores originrios do ocidente pertence ao que o filsofo

    Karl Jaspers chamou de tempo-eixo ou tempo axial (sc. VIII V)1. Este foi um tempo

    de crise e de passagem. As culturas do Egito e de Babilnia, que so as configuraes

    mais grandiosas das altas culturas dos tempos passados, declinam. Emergem as culturas

    dos povos que so decisivos para o futuro, tanto do oriente, quanto do ocidente. No

    oriente, erguem-se a China e a ndia. A experincia espiritual destes se condensa na

    figura do sbio. No mdio oriente, pe-se em primeiro plano as culturas dos persas e

    dos judeus. A experincia espiritual destes se condensa na figura do profeta. Na Grcia,

    oriente do ocidente, surge o pensamento como philosopha. A experincia espiritual dos

    gregos se condensa na figura do filsofo2.

    1 Jaspers, Karl. Origen y meta de la historia. Madrid: 1968, p. 20-21. 2 Esse vento trouxe novo alento humanidade. Na China surgem os sbios Confcio e Lao-Ts, meditam Mo-Ti e Chuang-Tzu. Na ndia surgem os Upanischades e vive Sidarta Gautama, o Buda. No oriente-mdio, mais precisamente na mesopotmia (Ir), Zaratustra ensina a sua doutrina do combate entre o bem e o mal. Na palestina, em Israel, aparecem os profetas, desde Elias e Eliseu, seguidos por Isaas e Jeremias e outros profetas, at Ageu e Zacarias (c. 515). E, na Grcia, entre os sculos VII e V, surgiram aqueles que chamaremos de os pensadores originrios, que antecederam aos filsofos decisivos para o ocidente, Scrates, Plato e Aristteles. Sbio, profeta e pensador-filsofo so figuras distintas da experincia do esprito nas humanidades do oriente e do ocidente. O sbio faz a experincia do esprito como o que est nele, na sua intimidade. A unidade de esprito e homem se chama, aqui, iluminao. O sbio o homem do caminho (Tao). Seu interesse se volta para o Nada. Privilegia o silncio. No dizer de Tsujimura, comentando um quadro que apresenta Sakyamuni descendo a montanha da iluminao: Seus olhos veem todo e cada visvel e ao mesmo tempo todo e cada invisvel eles atravessam com o olhar todas as coisas. Neste sentido, os seus olhos veem Nada. Somente neste ver do nada (genitivo objetivo) se manifesta a realidade de todo e de cada visvel e invisvel. No manifestar-se desta realidade o vidente ele

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    Este tempo de crise e de ruptura, mas, ao mesmo tempo, de irrupo do novo

    entre os povos, foi experienciado como um extraordinrio despertar do esprito

    humano. Foi como que o irromper de uma nova humanizao do homem: uma nova

    experincia e compreenso de ser. Karl Jaspers assim descreve este despertar:

    A novidade desta poca constitui no fato de que nos

    trs mundos o homem se eleva conscincia da totalidade

    do ser, de si mesmo e de seus limites. Sente a terribilidade

    do mundo e a prpria impotncia. Formula perguntas

    radicais para si prprio. Aspira, desde o abismo, libertao

    e salvao; enquanto toma conscincia de seus limites,

    prope-se a si mesmo as finalidades mais altas. E, enfim,

    chega a experimentar o incondicionado, tanto na

    profundidade do prprio ser, como na claridade da

    transcendncia. Isto resulta da reflexo. Um dia a

    conscincia se faz consciente de si mesma, o pensamento se

    volta para o pensamento e o faz seu objeto. Produzem-se

    combates espirituais pelo intento de convencer os demais

    mediante reflexes, raciocnios, experincias. Ensaiam-se as

    posies mais contraditrias. A discusso. A formao de

    partidos, a diviso do espiritual, cujas partes, no obstante,

    relacionam-se entre si na forma de contraposio, geram

    inquietude e movimento at lidar com o caos espiritual.

    mesmo se torna nada, no sentido de nenhum algo. Se o vidente permanece algo de determinado, ele no consegue ver esta realidade. Logo, o vidente mesmo , aqui, para dizer com uma palavra de meu amigo Ueda, o nada. O profeta faz a experincia do esprito divino como aquele que lhe sobrevm, que faz a sua vida dar um giro, uma guinada, que o avassala, e que o elege para ser seu porta-voz. Ele um vidente: na vigncia do presente percebe a vigncia do ausente, isto , do passado e do futuro, ao mesmo tempo. O profeta segue um chamado, que se dirige a ele, mas que, no raro, vai contra ele e contra o seu povo. Ele chamado a profetizar contra seu povo e contra o seu mundo. A estes ele aponta e faz notar as suas errncias e as suas iniquidades. Sua palavra clara, ardente e apaixonada, quer em denunciar as injustias, quer em anunciar a salvao que vem de Deus um Deus transcendente, criador do mundo e senhor da histria. A experincia proftica do esprito a do xtase: o homem lanado para fora de si mesmo2. Mas, desde o xtase, ele conduzido sempre de novo a se envolver com a destinao histrica dos homens. O pensador faz a experincia do esprito a partir da autonomia do pensar. Pensar quer dizer, aqui, viver a partir da prpria profundidade, criativamente. O pensar, do que proveio a filosofia, , porm, aqui, algo de diverso da atividade de conhecer objetos, de que proveio a cincia. Pensar quer dizer, originariamente, acolher o mistrio da realidade irrompendo nas realizaes do real e a ele corresponder. Desde que o pensar, porm, tornou-se filosofia, passou a se pr como a ousadia de perguntar pelo sentido de ser de tudo o que . E este perguntar estava a servio do prprio viver do homem.

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    Nesta poca constituem-se as categorias com as quais

    pensamos, e se iniciam as religies mundiais das quais vivem

    os homens ainda hoje. Em todos os sentidos, os homens se

    pem de p no universal. Em virtude deste processo, as

    concepes, os costumes, as situaes so submetidas a

    exame e prova, postas em questo, dissolvidas. Tudo cai no

    vrtice. O que da substncia transmitida tradicionalmente

    estava vivo at ento na realidade foi esclarecido em suas

    manifestaes e de modo transmudado3.

    O que comumente chamamos de filosofia grega surge e se desdobra do sculo

    VII a. C. at o sculo VI d. C. A envergadura de seu arco, portanto, encobre cerca de mil

    anos4.

    A filosofia grega uma experincia de Pensamento.

    Mas no a nica experincia de pensamento. Outra

    experincia grega de Pensamento o Mito e a Mstica. Uma

    outra, so os deuses e o extraordinrio. Ainda uma outra a

    Poesia e a Arte. Ainda outra a Plis e a Politea. A ltima,

    por ser no fundo a primeira experincia grega de

    Pensamento, a vida e a morte, ros e thnathos5.

    Vamos nos deter, aqui, porm, apenas na experincia de pensamento da

    filosofia. E, mesmo assim, apenas em parte da histria da filosofia grega. Vamos nos

    deter no perodo que vamos chamar de originrio e no perodo clssico. Isso quer dizer:

    vamos nos ater a um lapso de tempo que vai de fins do sculo VII a. C. ao sculo IV a. C.

    A filosofia grega uma experincia de Pensamento.

    Mas no a nica experincia de pensamento. Outra

    experincia grega de Pensamento o Mito e a Mstica. Uma

    outra, so os deuses e o extraordinrio. Ainda uma outra a

    Poesia e a Arte. Ainda outra a Plis e a Politea. A ltima,

    3 4 A filosofia medieval tambm tem esta longa durao, de cerca de mil anos (do sc. V ao sculo XV). A filosofia moderna, por sua vez, tem se estendido por cerca de 500 anos at agora. 5 Leo, E. C. Filosofia Grega Uma introduo. Terespolis: Daimon, 2010, p. 11.

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    por ser no fundo a primeira experincia grega de

    Pensamento, a vida e a morte, ros e thnathos6.

    II.2. A DIFICULDADE DO ACESSO AO PENSAMENTO DOS PENSADORES

    ORIGINRIOS

    Vamos nos deter, aqui, porm, apenas na experincia de pensamento da

    filosofia7. Queremos nos relacionar, de modo pensante, com o pensamento dos

    primrdios desse pensamento, nas figuras de Anaximandro, Herclito e Parmnides.

    Uma dificuldade, porm, se nos impe: o acesso ao pensamento destes

    pensadores dos primrdios, a quem vamos chamar de pensadores originrios. Quase

    sempre ns achegamos a eles pelo caminho de Plato e de Aristteles. Eles so,

    comumente, vistos a partir do prisma e do espelho de ambos os pensadores. So

    interpretados a partir da identidade comum e da diferena entre ambos. Os discursos

    de Plato e de Aristteles a respeito deles, porm, no servem como documentos e

    6 Leo, E. C. Filosofia Grega Uma introduo. Terespolis: Daimon, 2010, p. 11. 7 Na Grcia, do sculo VII ao V a.C., surgem os primeiros pensadores: na Jnia, aparecem, em Mileto, Tales (624-546 a.C.), Anaximandro (610-545 a.C), Anaxmenes (588-528 a.C.), e em feso, Herclito (540?-480?); de Samos, veio Pitgoras (580/70-480); e em Elia, na Magna Grcia, surgem Parmnides (c. 515-450 a.C.) e Zeno ( c. 490-430 a.C.). J no sculo VII haviam comeado os jogos olmpicos. No sculo VI, Slon, o primeiro poeta tico, tornando-se arconte de Atenas (594 a.C.), promulga uma constituio, cujas leis inauguram a democracia. No sculo VII, surge a poesia lrica. A ilha de Lesbos oferece a poetisa Safo e o poeta Alceu. No sculo VI, de Tebas vem Pndaro. Em 534 a. C., no festival de Dionsio, em Atenas, por obra de Tspis, nasce o drama, com a celebrao das primeiras tragdias. Abrem-se os caminhos para os poetas trgicos do sculo V: squilo, Sfocles e Eurpedes. O sculo V o sculo de Pricles, que procura retomar a