III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) · PDF fileplural a[y]nim aramaico que significa...

4
III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) PRIMEIROS DISCÍPULOS (Pe. Ignácio dos padres escolápios) A GALILÉIA: Mas tendo ouvido que João fora entregue, ele retirou-se para a Galiléia. O início de Mateus indica que Jesus teve uma atuação de proclamação de seu evangelho na região da Judéia até o momento em que o Batista foi traído pois esta é a tradução do paredóthe grego. Originalmente significa entregar nas mãos de outro mas esta entrega se entende que é uma traição. Este versículo confirma o escrito no evangelho de S. João sobre uma suposta atividade de Jesus próxima de onde o Batista exercia seu ministério e que envolvia discípulos de Jesus batizando (Jo 3, 22-24), no tempo em que João ainda não fora encarcerado. Somente o encarceramento deste último o afastou da Judéia onde os fariseus tinham um poder especial de modo a ser a força social mais forte. Por isso dirá o quarto evangelho que quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e batizava mais que João – ainda que de fato, Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos - deixou a Judéia e retornou à Galiléia. Este trecho, uma repetição em parte do narrado no quarto evangelho no capítulo 3, 22-24 indica que houve uma grande animosidade por parte dos fariseus contra o Batista, pois este viu-se obrigado a modificar seu território saindo da Peréia, território de Herodes Antipas, a Enom perto de Salim, lugar mais ao norte e ao que parece perto de Citópolis ou Escitópolis [12 km ao sul] e dentro do território da Decápolis. A Decápolis era um conjunto de dez cidades helenistas que com a exceção de Escitópolis ou Citópolis estavam ao leste do Jordão e dentro do âmbito da autoridade do procurador da Síria. Se o Batista fugia de Herodes e dos fariseus nada melhor que Enom que estava fora da jurisdição do primeiro e do ambiente estritamente judaico e legalista dos segundos. No século II a confederação foi dissolvida quando Filadélfia e Gerasa se incorporaram à província romana da Arábia. Enom ou Ainon traduz o plural a[y]nim aramaico que significa olhos ou fontes; e efetivamente são oito mananciais que se unem para formar vãos importantes onde pode ser administrado o batismo de imersão que era o utilizado por João. Pelo quarto evangelho sabemos que o Batista batizou em dois lugares: primeiro em Betânia, no outro lado do Jordão (Jo 1, 28) e mais tarde em Enom ao lado de Salim, da cisjordânia do mesmo rio. Porque ali havia muita água, (Jo 3, 23)ou seja que era o período da seca. Segundo a peregrina Etéria (cerca 385) existia uma horta de nome S. João e um lago onde parece que João operava seu santo batismo. É provável que Jesus e seus discípulos iniciais (discípulos anteriores de João Batista) tomasse do Batista o lugar e os métodos, pois o anúncio inicial de Jesus coincidia com a proclamação do Batista: Metanoeite, convertei-vos porque o Reino dos Céus está próximo (Mt 4, 17 com Mt 3,2). E TENDO ABANDONADO NAZARÉ VEIO MORAR EM CAFARNAUM: Nazaré era a cidade onde desde a mais tenra infância foi criado, de modo a ser denominado como de Nazaré ou nazareno. Em grego a palavra é Nazaret. Daí o adjetivo e nome de Nazareno que em grego tem duas palavras semelhantes: Nazoraios <3480> que sai 14 vezes entre os evangelhos e os Atos; e Nazarenos <3479> que só sai 4 vezes e unicamente em Marcos e Lucas. Nazaré em tempos de Jesus era uma pequena aldeia situada a 4 km de Séforis a capital da Galiléia até a fundação de Tiberíades por Antipas nos anos 14 a 18. Inaugurada Tiberíades como capital de sua tetrarquia no ano 18 dC Antipas teve que trazer colonos pela força porque estava edificada sobre um antigo cemitério. Foram levados moradores dos arredores, mendigos, aventureiros, escravos libertos etc. Tal como vemos descrito na parábola do banquete (Lc14, 15-24). De Séforis sabemos que foi fortificada em 56 aC por Gabínio tornando-a capital da Galiléia e que Herodes fortificou. Com a morte de Herodes ela se tornou um ninho de revoltosos; por causa disso o governador da Síria, Varo, o general que mais tarde teve suas legiões desbaratadas na Alemanha, a destruiu e vendeu seus habitantes como escravos em 4 aC. Antipas a conquistou e reconstruiu no ano 6 dC e a cercou de muros. Sua população era predominantemente judaica, mas na guerra de 66-70 ficou do lado dos romanos. Nazaré seria no tempo de Jesus uma aldeia com 300 habitantes e cujas casas eram covas, escavadas na ladeira do morro onde está edificada. Durante a estação pluviosa as ladeiras ficam cobertas de flores; daí o nome, que significa florescer. O nome de Nazoraios ou Nazarenos deu lugar ao cumprimento de uma profecia de Isaías 11,1: Um ramo sairá do tronco de Jessé ; um rebento[nsr da mesma raiz de nazaré] brotará das suas raízes. Cafarnaum, cujo nome significava aldeia de naum ou da consolação era uma cidade de praia no noroeste do lago de Galiléia a 4km da desembocadura do rio Jordão. Por ser lugar fronteiriço, tinha nele um posto ou banca de arrecadação de impostos;

Transcript of III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) · PDF fileplural a[y]nim aramaico que significa...

Page 1: III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) · PDF fileplural a[y]nim aramaico que significa olhos ou fontes; e efetivamente são oito mananciais que se unem para formar vãos importantes

III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23)

PRIMEIROS DISCÍPULOS (Pe. Ignácio dos padres escolápios)

A GALILÉIA: Mas tendo ouvido que João fora entregue, ele retirou-se para a Galiléia. O

início de Mateus indica que Jesus teve uma atuação de proclamação de seu evangelho na região da Judéia até o momento em que o Batista foi traído pois esta é a tradução do paredóthe

grego. Originalmente significa entregar nas mãos de outro mas esta entrega se entende que é uma traição. Este versículo confirma o escrito no evangelho de S. João sobre uma suposta atividade de Jesus próxima de onde o Batista exercia seu ministério e que envolvia discípulos de Jesus batizando (Jo 3, 22-24), no tempo em que João ainda não fora encarcerado. Somente o encarceramento deste último o afastou da Judéia onde os fariseus tinham um poder especial de modo a ser a força social mais forte. Por isso dirá o quarto evangelho que quando Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele fazia mais discípulos e batizava mais que João –

ainda que de fato, Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos - deixou a Judéia e retornou à Galiléia. Este trecho, uma repetição em parte do narrado no quarto evangelho no

capítulo 3, 22-24 indica que houve uma grande animosidade por parte dos fariseus contra o Batista, pois este viu-se obrigado a modificar seu território saindo da Peréia, território de Herodes Antipas, a Enom perto de Salim, lugar mais ao norte e ao que parece perto de Citópolis ou Escitópolis [12 km ao sul] e dentro do território da Decápolis. A Decápolis era um conjunto de

dez cidades helenistas que com a exceção de Escitópolis ou Citópolis estavam ao leste do Jordão e dentro do âmbito da autoridade do procurador da Síria. Se o Batista fugia de Herodes e dos fariseus nada melhor que Enom que estava fora da jurisdição do primeiro e do ambiente estritamente judaico e legalista dos segundos. No século II a confederação foi dissolvida quando Filadélfia e Gerasa se incorporaram à província romana da Arábia. Enom ou Ainon traduz o plural a[y]nim aramaico que significa olhos ou fontes; e efetivamente são oito mananciais que se unem para formar vãos importantes onde pode ser administrado o batismo de imersão que

era o utilizado por João. Pelo quarto evangelho sabemos que o Batista batizou em dois lugares: primeiro em Betânia, no outro lado do Jordão (Jo 1, 28) e mais tarde em Enom ao lado de Salim, da cisjordânia do mesmo rio. Porque ali havia muita água, (Jo 3, 23)ou seja que era o período da seca. Segundo a peregrina Etéria (cerca 385) existia uma horta de nome S. João e um lago onde parece que João operava seu santo batismo. É provável que Jesus e seus

discípulos iniciais (discípulos anteriores de João Batista) tomasse do Batista o lugar e os métodos, pois o anúncio inicial de Jesus coincidia com a proclamação do Batista: Metanoeite,

convertei-vos porque o Reino dos Céus está próximo (Mt 4, 17 com Mt 3,2). E TENDO ABANDONADO NAZARÉ VEIO MORAR EM CAFARNAUM: Nazaré era a cidade

onde desde a mais tenra infância foi criado, de modo a ser denominado como de Nazaré ou nazareno. Em grego a palavra é Nazaret. Daí o adjetivo e nome de Nazareno que em grego tem duas palavras semelhantes: Nazoraios <3480> que sai 14 vezes entre os evangelhos e os Atos; e Nazarenos <3479> que só sai 4 vezes e unicamente em Marcos e Lucas. Nazaré em tempos

de Jesus era uma pequena aldeia situada a 4 km de Séforis a capital da Galiléia até a fundação de Tiberíades por Antipas nos anos 14 a 18. Inaugurada Tiberíades como capital de sua tetrarquia no ano 18 dC Antipas teve que trazer colonos pela força porque estava edificada sobre um antigo cemitério. Foram levados moradores dos arredores, mendigos, aventureiros, escravos libertos etc. Tal como vemos descrito na parábola do banquete (Lc14, 15-24). De Séforis sabemos que foi fortificada em 56 aC por Gabínio tornando-a capital da Galiléia e que Herodes fortificou. Com a morte de Herodes ela se tornou um ninho de revoltosos; por causa disso o

governador da Síria, Varo, o general que mais tarde teve suas legiões desbaratadas na

Alemanha, a destruiu e vendeu seus habitantes como escravos em 4 aC. Antipas a conquistou e reconstruiu no ano 6 dC e a cercou de muros. Sua população era predominantemente judaica, mas na guerra de 66-70 ficou do lado dos romanos. Nazaré seria no tempo de Jesus uma aldeia com 300 habitantes e cujas casas eram covas, escavadas na ladeira do morro onde está edificada. Durante a estação pluviosa as ladeiras ficam cobertas de flores; daí o nome, que significa florescer. O nome de Nazoraios ou Nazarenos deu lugar ao cumprimento de uma

profecia de Isaías 11,1: Um ramo sairá do tronco de Jessé ; um rebento[nsr da mesma raiz de nazaré] brotará das suas raízes. Cafarnaum, cujo nome significava aldeia de naum ou da consolação era uma cidade de praia no noroeste do lago de Galiléia a 4km da desembocadura do rio Jordão. Por ser lugar fronteiriço, tinha nele um posto ou banca de arrecadação de impostos;

Page 2: III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) · PDF fileplural a[y]nim aramaico que significa olhos ou fontes; e efetivamente são oito mananciais que se unem para formar vãos importantes

e um dos empregados era Levi ou Mateus (Mt 9,9). Estava bem situada na Via Maris. Em

Cafarnaum Jesus fez um grande número de milagres entre os quais destaca a ressurreição da filha de Jairo, o chefe da sinagoga (Mc 5, 22-32). Atualmente só ficam umas ruínas em Telhum de 1 Km de comprimento por 300m de largura. Existem evidências arqueológicas de que a aldeia foi estabelecida no início da dinastia dos Hasmoneus, pois as moedas mais antigas são do século II aC. Está propriamente num caminho transversal da rota comercial chamada Via Maris ou Beth-Shan, o caminho de Damasco, ao mesmo tempo que suficientemente longe dos grandes centros, especialmente de Tiberíades onde Antipas tinha sua capital. Assim Jesus foi capaz de

proclamar sua mensagem sem entrar em conflito imediato com os líderes políticos e religiosos. Por estar na rota comercial, havia um posto alfandegário e uma pequena guarnição romana, comandada por um centurião (Mt 8,5). A aldeia não participou das duas revoltas principais contra Roma e os escritos judaicos falam dos minim [sectários] que havia entre seus habitantes, referindo-se provavelmente aos cristãos, porque no final do século I, nos serviços da sinagoga se incluiu a bênção referente aos minim, acrescentada às Dezoito Bênçãos da prece diária. A

cidade foi seriamente danificada no terremoto em 746 e reconstruída a pequena distância, mais ao nordeste; e finalmente abandonada no século XI. No século XIII um viajante encontrou apenas as cabanas de sete pescadores pobres. O Lugar foi objeto de escavações encontrando-se

uma sinagoga e casas. NOS CONFINS DE ZEBULON E NEFTALI: Zebulon significa em hebraico moradia ou

habitação. Foi os sexto e mais novo filho de Lea (Gn 30, 20) e o décimo filho de Jacó. Seu território estava no norte da Palestina entre o mar Mediterrâneo e o lago da Galiléia. A tribo de

Neftali ocupava o norte da Galiléia; nos mapas logo acima da tribo de Zebulon. Nos tempos dos juizes, um deles foi Elon da tribo de Zebulon.(Jz 12, 11-12). Neftali era filho de Bala, escrava de Raquel. Seu nome significa minha luta. Quando Jacó morre, abençoa Nephtali como uma gazela veloz que tem formosas crias (Gn 49, 21). Nos juizes Barac é da tribo de Neftali (Jz 4, 6) e junto com Débora derrotou os Canaitas. Em 734 Teglat-Falasar conquistou as dez tribos de Israel que como reino do norte se tinham aliado contra Judá e Benjamim o reino do sul na guerra sírio-efraimita contra Acaz. Teglat-Falasar destruiu as forças aliadas, avançando contra os filisteus e

cortando qualquer ajuda egípcia. Virou-se em seguida contra Israel e saqueou toda a Galiléia e a Transjordânia. Deportou uma parte do povo e destruiu numerosas cidades. Este é o momento de desolação e conquista da Galiléia que o profeta Isaías proclama seu vaticínio: Não está mergulhada em trevas a terra que está em apertura? Como no passado ele menosprezou a terra de Zabulon e a terra de Neftali, assim no tempo vindouro cobrirá de glória o caminho do mar,

o além do Jordão , o distrito das nações. O Povo que andava nas trevas viu uma grande luz,

uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria como a da morte. (8, 23- 9,1). O comentário da bíblia de Jerusalém diz que estes versículos opõem para as regiões do norte da Palestina um glorioso porvir a um passado de humilhações e parece aludir às campanhas de Teglat-Falasar na Galiléia e a deportação de 732 (2Rs 15, 19). No oráculo que se segue, Isaías anuncia um dia de Javé que trará a libertação aos deportados; ele anuncia ao mesmo tempo o reinado pacífico de um menino de estirpe real, o Emanuel de 7, 14. O aparecimento do Messias na Galiléia dará a esta profecia sua plena realização. O distrito das nações [gelil ha-goym]

designa a Galiléia. VIA MARIS: [DEREK HÁ-YAM ou ‘E PARALIA] Como efeito da campanha de Teglat-Falasar

se constituiu a província assíria de Duru que comprendia a via maris de que fala Isaias e limitava ao norte com o reino dos sidônios tendo como fronteira meridional a cidade de Akko e ao sul se estendia até Nahr el ‘Auga. Segundo S. Jerônimo a via maris compreendia a região ao redor do lago de Genesaré. Os antigos documentos egípcios descrevem o itinerário desta via de comunicação. Desde Meguido a Damasco existiam dois caminhos : o mais curto passava pelo

corredor de Beisan [ou Citópolis] atravessando o rio Jordão e subia pelo Golão e o norte da

Batanéia . O mais largo passava pelo monte Tabor e a planície de Genesaré até as fontes do lago Hule, as fontes do Jordão para se unir lá às vias comerciais de Tiro e Sidon até Damasco. Este segundo é o que no ocidente era chamado Via Maris. Como vemos atravessa a Galiléia rodeando o mar de Genesaré ou Tiberíades. Na via maris existiam três cidades importantes:Hazor[Hasor] que custodiava uma estreita seção da rota nas montanhas do

Antilíbano que forma um vale entre as montanhas. Meguido no vale de Jezrael e uma das mais importantes cidades na antiguidade por ser a guardião dessa parte central do vale que foi cena de grandes batalhas. Finalmente Gezer[Gazer] perto de Acaron . As montanhas que cortam no meio Israel faziam extremamente difícil a passagem dos exércitos ou mercadorias entre o Este e

Page 3: III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) · PDF fileplural a[y]nim aramaico que significa olhos ou fontes; e efetivamente são oito mananciais que se unem para formar vãos importantes

o Oeste. Quem controlasse o caminho nos seus pontos estratégicos, controlava o comércio

internacional e o domínio das terras. GALILÉIA DOS GENTIOS: O exílio dos habitantes da Galiléia por Teglat-Falasar foi devido

a que existia a experiência de que os habitantes conquistados esperavam sempre momentos oportunos para se rebelar contra os conquistadores. Por isso o exílio dos mesmos se considerou necessário substituindo suas populações por forâneas mais dóceis e confiáveis. Os novos habitantes substituíam os deuses pátrios anteriores pelos próprios e assim sucedeu na Galiléia no ano 723. Daí que essa região foi considerada como pagã ou terra de goim pelos puristas de

Jerusalém. A LUZ: o Messias seria luz das nações e glória de seu povo Israel (Lc 2, 32). Jesus se

declarou ser a luz do mundo(Jo 8, 12). Zacarias aparentemente com voz profética dirá do Messias que é o Astro das alturas que nos visita para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte( Lc 1, 78-79). Tem tudo isto algum fundamento bíblico ou tradicional além da profecia de Isaías que estamos comentando? Luz é um nome com o qual é conhecido o Messias

no V T. Em Daniel 2, 22 o profeta afirma que Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas e com ele mora a luz. No Salmo 43,3 lemos: Envia tua luz e a tua verdade para que me guiem e me levem ao teu santo monte e aos teus tabernáculos. Rabi Aba Serungia

comenta: A luz mora com ele. Isso é próprio do rei Messias. E Rabi Sol Jarchi: envia tua luz significa o Messias que segundo o salmo 132, 7 seus dias são aqueles em que preparei uma lâmpada para meu Ungido. E estes dias começaram na terra de Zabulon que segundo Filon de Alexandria era o símbolo da luz, pois seu nome significa a natureza da noite (?); mas removida a

noite e uma vez acabada, necessariamente surge a luz. Mateus está pois, por dentro de uma tradição contemporânea às expectativas do Messias e estes detalhes indicam que seu evangelho transmite fielmente os sentimentos do tempo.

O ANÚNCIO: Desde então Jesus começa sua pregação. É lógico que segundo Lucas Jesus pregou pela primeira vez em Nazaré (4, 16) antes de fixar sua residência em Cafarnaum como narra Mateus, que não acostuma ser muito acurado em suas afirmações gerais: Pregava Jesus nas sinagogas. Mas existe um outro problema que devemos antes solucionar. O anúncio inicial

de Jesus era o mesmo que o feito por João: Convertei-vos porque o reino dos céus está às portas. (comparar Mt 3,2 com Mt 4, 17). Isto quer dizer que houve um momento de atuação dos seguidores de Jesus antes da formação do verdadeiro discipulado ou do que se tem chamado colégio apostólico, em que definitivamente os doze são escolhidos no capítulo 10 em Mateus e 3 em Marcos que Lucas recolhe no capítulo 6, em que definitivamente estes entram a

formar parte da missão do mestre. Isso tudo explicaria o relato do quarto evangelho sobre o

batismo dos discípulos numa semelhança ao do Batista antes da sua apresentação na Galiléia. Na realidade o último evangelho traz mais e maior pormenorizados, os fatos de Jesus na Judéia, comparando-os com os que realiza na Galiléia. O significado do Metanoeite e do Reino pode ser consultado no III Domingo do Advento Mt 1,1-12 deste mesmo ano litúrgico em presbiteros. com.br.

OS PRIMEIROS DISCÍPULOS: Os eruditos modernos falam de três diferentes estágios no chamado de Jesus: o primeiro é um conhecimento inicial em que André e um outro discípulo são

iniciados no seguimento de Jesus por indicação do Batista. Pedro, Filipe e Natanael se somam a este acompanhamento que passará por Caná.(Jo 1, 35-2,2). Uma segunda rodada é esta da margem do lago em que se declara o ministério novo de pescadores que se empregam num ofício material para, numa metánoia espetacular, abandonar tudo e se dedicar a um labor espiritual só confiando na convocação do Mestre. Mais tarde, no capítulo décimo, a escolha é para a missão imediata com poderes extraordinários que revelariam o poder espiritual e poderes que estariam completos definitivamente após a ressurreição. Os quatro de hoje são Simão,

forma abreviada de Simeão [famoso] que mais tarde receberia o nome, com o qual é conhecido,

ao colocá-lo na frente dos doze: Kefas ou Petros, que significa rocha. Seu irmão André[varão ou varonil]nome grego que supõe a mistura de etnias da cidade. Os outros dois irmãos são Jacob [suplantador] comumente chamado de Tiago, uma corrupção de Sanc(ti-Jaco)b e João[favor de Deus]. Ambos eram filhos do Zebedeu [Javé deu] aos que Jesus mais tarde apelidará de filhos do trovão por sua impetuosidade(Mc 3, 17).

AS CURAS: nesta nova incursão de Jesus no anúncio do Reino temos duas novidades: Jesus escolhe as sinagogas e confirma sua palavra com curas que indicam a vontade divina de ajudar os menos afortunados, como a visível presença de Deus no Reino.

PISTAS: 10 Vemos como os evangelhos passam de um Jesus-Messias- Reino nos sinóticos tudo o qual indica tempos e idéias anteriores aos anos setenta a um Jesus-Logos-

Page 4: III DOMINGO DO TEMPO COMUM (Mt 4, 12-23) · PDF fileplural a[y]nim aramaico que significa olhos ou fontes; e efetivamente são oito mananciais que se unem para formar vãos importantes

Transcendência de João que não esconde a face humana de época posterior em que tanto os

gnósticos como os docetas necessitavam um evangelho diferente. 2) Se realmente queremos saber em que consiste a Metânoia, devemos olhar para a

conduta dos primeiros chamados. Pescadores materiais em que a quantia, o preço e o lucro movia determinados homens, são transformados em pescadores de homens, como testemunhas de um mundo novo em que o amor de Deus forma o homem e substitui o amor do dinheiro. Se realmente queremos nos converter devemos aprender a amar no nosso trabalho mais o homem a quem servimos que o dinheiro que pretendemos ganhar. Essa será nossa particular resposta

ao chamado da metânoia divina. 3) Vemos como a escolha do mais escuro e desprezível é uma Constante nos planos

divinos. Sua justiça é como canta Maria é fixar seu olhar na insignificância de suas criaturas para escolher as mais abandonadas. Por isso escolhe pescadores e não letrados.

4) O reino está unido à justiça divina. Por nossa parte consiste em corresponder fielmente aos planos de Deus: Estes planos serão revelados por Jesus e exigem dois mandatos

principais:amor a Deus e amor ao próximo. EXEMPLO: Há um filme controvertido de título O Julgamento. Nele um tal de Macalousso,

que é chamado de Lúcifer tem unificado o mundo transformando-o num mundo sem violência

[aparente] e de paz. Ele é o dono. Mas os cristãos são perseguidos e intitulados de amantes do ódio(?) por não se conformarem com as normas laicistas do dono do mundo. O julgamento de um deles se transforma no julgamento de Cristo. Ele não existe, ele é um mito. O advogado defensor mostra um revólver que só tem uma bala e pergunta: qual de vocês seguidores e

adoradores de Lúcifer estaria disposto a uma roleta russa por amor a esse dono? Pois bem esse Jesus que dizeis não ser mais do que um mito tem muitos que estão dispostos a morrer por ele e que neste momento vocês querem condenar. Quem é maior, Lúcifer de carne e osso, ou Cristo invisível mas presente na vida de seus mártires? A promotora Vicky, não conforme com o insulto do defensor Kendrick, pega o revólver e dispara a única bala matando o advogado e terminando o julgamento. Nestes tempos modernos o discipulado de Cristo nos chama a perder muitas oportunidades imediatas na vida porque esperamos a única oportunidade que Cristo nos

oferece: a vida eterna.